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2 BEATRIZ AZEVEDO PACHECO CARDOSO OS ENFRENTAMENTOS VIVIDOS PELOS ADULTOS JOVENS HEMODIALISADOS NO PROCESSO DE TRANSIÇÃO SAÚDE-DOENÇA: UMA ABORDAGEM DO CUIDADO NA PERSPECTIVA ADAPTATIVA DE ROY. Orientador: Prof o . Dr. Mauro Leonardo Salvador Caldeira dos Santos Niterói 2016 Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado da Saúde, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Enfermagem.

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BEATRIZ AZEVEDO PACHECO CARDOSO

OS ENFRENTAMENTOS VIVIDOS PELOS ADULTOS JOVENS

HEMODIALISADOS NO PROCESSO DE TRANSIÇÃO SAÚDE-DOENÇA:

UMA ABORDAGEM DO CUIDADO NA PERSPECTIVA ADAPTATIVA DE

ROY.

Orientador:

Profo. Dr. Mauro Leonardo Salvador Caldeira dos Santos

Niterói

2016

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora do Curso de Mestrado

Acadêmico em Ciências do Cuidado

da Saúde, da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial

para a obtenção do título de mestre

em Enfermagem.

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BEATRIZ AZEVEDO PACHECO CARDOSO

OS ENFRENTAMENTOS VIVIDOS PELOS ADULTOS JOVENS

HEMODIALISADOS NO PROCESSO DE TRANSIÇÃO SAÚDE-DOENÇA:

UMA ABORDAGEM DO CUIDADO NA PERSPECTIVA ADAPTATIVA DE

ROY.

Aprovada em 07 de dezembro de 2016.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________

Profo. Dr. Mauro Leonardo Salvador Caldeira dos Santos

Orientador

________________________________________________________________

Profa. Dra. Lina Márcia Migueis Berardinelli

1a Examinadora

________________________________________________________________

Profa. Dra. Alessandra Conceição Leite Funchal Camacho

2a Examinadora

________________________________________________________________

Profa. Dra. Patrícia dos Santos Claro Fuly

Suplente

________________________________________________________________

Profa. Dra. Patrícia Maria de Azevedo Pacheco

Suplente

NITERÓI

2016

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

do Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências

do Cuidado da Saúde, da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial para a

obtenção do título de mestre em Enfermagem.

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À Deus, autor da vida.

À Benes Quintanilha, com quem divido a vida ofertada por Deus.

À meus pais, que ainda hoje não medem esforços para que meus objetivos sejam

alcançados.

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AGRADECIMENTOS

- À Deus pelo dom da vida.

- Ao meu esposo Benes Quintanilha que me apoiou durante toda essa trajetória.

- Aos meus pais Amilton e Ana Cláudia Cardoso pelos inúmeros anos de dedicação e

amor.

- À minha família, tios e avós que estão sempre prontos a colaborar.

- Aos que, carinhosamente, chamo de anjos na terra, meus amigos.

- Aos clientes que gentilmente colaboraram para que este estudo pudesse ser concluído

com êxito.

- Ao querido orientador Mauro Leonardo Salvador Caldeira dos Santos, por mais este

trabalho concluído em parceria.

- A todos que, de alguma forma, colaboraram para mais esta conquista em minha vida.

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“A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão

exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor;

pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo

vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se ia dizer, a mais bela

das artes!”

Florence Nightingale

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RESUMO

A doença renal crônica é uma doença crônica não transmissível, progressiva e fatal caso

não seja tratada. Em seu último estágio, quando já é classificada com terminal, exige do

cliente a opção por uma das modalidades de terapia de substituição renal, tratamento

crônico que abala a qualidade de vida do indivíduo. Nos últimos anos é crescente o

número de adultos jovens submetidos a hemodiálise. Este estudo teve como objetivo

geral: Compreender os enfrentamentos vividos no processo de transição saúde-doença

do adulto jovem com Insuficiência Renal Crônica em hemodiálise. E como objetivos

específicos: 1. Identificar os modos de adaptação propostos por Callista Roy nos adultos

jovens hemodialisados. 2. Analisar a relação entre os enfrentamentos vivenciados pelos

clientes e os cuidados de enfermagem frente ao processo adaptativo do jovem renal

crônico. Estudo qualitativo descritivo, com produção de dados realizada por meio de

entrevista semi-estruturada em duas unidades satélites de hemodiálise nos munícipios de

Araruama e Itaboraí, ambos no interior do Estado do Rio de Janeiro, entre os meses de

outubro de 2015 e julho de 2016, após aprovação do comitê de ética em pesquisa do

Hospital Universitário Antônio Pedro – UFF, sob parecer consubstanciado de número

1.118.390. Foram entrevistados oito clientes portadores de doença renal crônica

terminal, em programa regular de hemodiálise há, no mínimo três meses, com idade

entre 18 e 24 anos, transplantados ou não e que não tenham sido submetidos à

tratamento conservador anteriormente. A análise dos dados foi feita por meio da técnica

de análise temático-categorial de conteúdo de acordo com Bardin. Foi possível

apreender pelas unidades de significado duas categorias: problemas adaptativos,

composta pelos modos fisiológico, autoconceito e de função de papel; e adaptação

positiva, composta pelo modo da interdependência, modos adaptativos estes propostos

pela Teoria da Adaptação de Sister Callista Roy. A partir da compreensão de respostas,

e equipe de enfermagem poderá moldar seu planejamento de cuidados buscando auxiliar

a busca por melhorias. Adentrar na subjetividade desses clientes e percebê-los em suas

múltiplas dimensões propiciou compreender as adversidades por eles vividas, e a

maneira pela qual eles buscam extrair das situações da vida elementos que contribuam

para a sua adaptação e fortalecimento.

Descritores: Falência renal crônica, diálise renal e teoria de enfermagem.

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ABSTRACT

Chronic kidney disease is a chronic non-transferable , progressive and fatal if not

treated. In its last stage, when it is classified as terminal, it requires the customer to opt

for one of the forms of renal replacement therapy, chronic treatment that undermines the

individual's quality of life. In recent years an increasing number of young adults

undergoing hemodialysis. This study is qualitative and descriptive and has the objective:

to describe confrontations experienced, from Roy Theory, in the young adult

transitional health -disease process with chronic renal failure on hemodialysis. Data

collection was conducted through semi -structured interviews in two hemodialysis

satellite units in the municipalities of Araruama and Itaboraí , both in the State of Rio de

Janeiro , between the months of October 2015 and July 2016 , after approval ethics in

research committee of the University Hospital Antônio Pedro - UFF. Carriers were

customers of chronic ESRD interviewed in regular hemodialysis program for at least

three months, aged 18 and 24, transplanted or not and have not been submitted to

conservative treatment previously. It was possible to apprehend by the units of meaning

two categories: adaptive problems, composed by the physiological, self-concept and

role functions; And positive adaptation, composed by the mode of interdependence,

these adaptive modes proposed by Sister Callista Roy's Theory of Adaptation. From the

understanding of these responses, and nursing staff can shape your planning care

seeking help search for improvements . Enter the subjectivity of these customers and

perceive them in their multiple dimensions led to understand the hardships they lived,

and the way they seek to extract from life situations elements that contribute to its

adaptation and strengthening.

Keywords: chronic renal failure, renal dialysis and nursing theory.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO, p. 12

1.1 Objetivos do estudo, p. 15

1.2 Justificativa do estudo, p. 16

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Doença renal crônica terminal, p. 19

2.2 Diálise peritoneal, p. 28

2.3 Hemodiálise, p. 32

2.4 Transplante renal, p. 41

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Aspectos adaptativos da teoria da adaptação de Sister Callista Roy, p. 43

4. METODOLOGIA, p. 49

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO, p. 54

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 78

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p. 81

8. APÊNDICE

8.1 Diagrama: Resumo das categorias temáticas extraídas dos discursos, p. 87

8.2 Roteiro de entrevista, p. 88

9. ANEXOS

9.1 Cuidados com o uso de agentes farmacológicos em pacientes com DRC e agentes

com potencial nefrotoxicidade renal, p. 89

9.2 Parecer consubstanciado do comitê de ética em pesquisa, p.92

9.3 Termo de consentimento livre e esclarecido, p. 96

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Fluxograma para avaliação da Doença Renal Crônica, p. 24.

Figura 2 – Cateter de Tenckhoff, p. 30.

Figura 3 – Esquema prático da diálise peritoneal ambulatorial contínua, p. 30.

Figura 4 – Diálise peritoneal automatizada, p. 31.

Figura 5 – Hemodiálise, p. 33.

Figura 6 – Esquema de hemodiálise, p. 34.

Figura 7 – Fístula arteriovenosa, p.36.

Figura 8 – Fístula arteriovenosa autóloga x enxerto, p. 37.

Figura 9 – Cateter venoso central para hemodiálise p. 38.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação da Doença Renal Crônica, p. 23.

Tabela 2 - Informações sociodemográficas dos jovens hemodialisados nos municípios

de Araruama e Itaboraí, RJ, Brasil, 2015-2016, p. 55.

Tabela 3 – Categorização temática das entrevistas, p. 56.

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1. INTRODUÇÃO

A motivação para a realização deste trabalho está baseada na minha trajetória no

campo profissional durante o período de um ano, como estagiária de um centro de

tratamento dialítico e posteriormente, num longo período, como enfermeira supervisora

neste e em outros serviços de mesma natureza.

A partir do contato com o cliente submetido à hemodiálise, um leque de

questões relacionadas ao tema me inquietou, como a ocorrência de tentativas de

suicídios, a falta de assiduidade dos pacientes jovens, a resistência por parte dos clientes

em adotar as orientações sobre o tratamento, o que incitou-me à busca por respostas,

que alcancei com a realização deste estudo.

A partir da observação assistemática, constatei que um vasto volume de

pacientes, por serem portadores insuficiência renal crônica, são inseridos em programa

de hemodiálise para sobreviverem. Na maioria das vezes, esses clientes são

surpreendidos pelo diagnóstico e tratamento, não assimilando as informações que lhes

são oferecidas naquele momento. Com o início do tratamento, sofrem com sentimentos,

insegurança, falsas concepções e profundas mudanças na qualidade de vida.

Pacientes renais apresentam uma redução da sua percepção de saúde e um

aumento dos estados de depressão e ansiedade, com autoimagem prejudicada e

sentimentos pessimista, além de queixas fisiológicas como distúrbio do sono, alterações

de apetite e peso, diminuição de interesse sexual, entre outros (FERREIRA, 2011).

Smeltzer e Bare (2012, p. 154) elucida que o tratamento das condições crônicas

inclui aprender a viver com os sintomas e/ou incapacidades e chegar a um denominador

comum com as alterações de identidade provocadas por estas condições. Também

consiste em realizar as alterações do estilo de vida e regimes que se destinam a manter

os sintomas sob controle e a evitar as complicações.

É de fundamental importância ressaltar que independente de todas as alterações

provocadas pela doença, o adulto jovem sofre profundas mudanças durante essa fase da

vida que envolvem diferentes aspectos. De acordo com Oliveira (2012, p. 928), a

construção do projeto de vida é contínua na existência do indivíduo. Entretanto, entre o

grupo de adultos jovens essa construção apresenta intensidade mais marcante do que em

outras fases, já que a passagem para a vida adulta geralmente apresenta um caráter

desafiador, em função da necessidade de aquisição de autonomia e de inserção em uma

atividade produtiva.

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Segundo Daugirdas et al (2008, p. 425),

pacientes em diálise levam uma vida bastante anormal. Aqueles

submetidos à hemodiálise, diálise peritoneal cíclica contínua ou

diálise peritoneal intermitente noturna são ligados a uma máquina

para uma extensão jamais vista na história da tecnologia médica.(...)

Todos os pacientes em diálise encontram-se servilmente dependentes

de um procedimento, de um recurso médico ou da equipe médica e

estão expostos também a outras condições estressantes.

Segundo Iser (2012, p. 2344), o crescimento da magnitude das doenças crônicas

não transmissíveis (DCNT) na morbimortalidade populacional nos últimos anos gerou

uma preocupação mundial em torno do impacto destas doenças na qualidade de vida e

desenvolvimento econômico dos países.

De acordo com as Diretrizes Clínicas Para o Cuidado ao Paciente com Doença

Renal Crônica no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2014), as doenças crônicas não

transmissíveis (DCNT) foram responsáveis, em 2014, por cerca de 60% das causas das

mortes em todo o mundo, afetando cerca de 35 milhões de pessoas por ano e, para a

próxima década, espera-se que haja aumento de 17% na mortalidade causada por estas

patologias.

Doença Renal Crônica (DRC) é um termo geral para alterações heterogêneas

que afetam tanto a estrutura, quando a função renal, com múltiplas causas e múltiplos

fatores de prognóstico. Trata-se de uma doença de curso prolongado, insidioso e que, na

maior parte do tempo de sua evolução, é assintomática (BRASIL, 2014). A DRC é

caracterizada através da diminuição da Taxa de Filtração Glomerular (TGF) associada

por danos estruturais e funcionais do rim, por um período igual ou superior a três meses

(FRAZÃO, 2014)

No Brasil, a insuficiência renal crônica (IRC), também conhecida por Doença

Renal Crônica Terminal (DRCT), que é a fase mais avançada a DRC, foi responsável

por 2.949 mortes em 2015, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do

Sistema Único de Saúde (SUS), fornecidos pelo Ministério da Saúde. Os homens

representam 58,6% do total de óbitos no período, enquanto as mulheres são 41,4% do

montante. Os números mostram ainda que, em relação a 2011, o número de mortes

aumentou 9,3% entre os homens. Já os números femininos apontam crescimento de

8,8% (ABCDT, 2016).

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A Doença Renal Crônica Terminal (DRCT) tem recebido atenção global

enquanto problema de saúde pública, uma vez que aumentam a incidência e prevalência

de pessoas em programas de substituição renal. Estimativas da Sociedade Brasileira de

Nefrologia indicam que no Brasil, em 2013, já haviam cerca de 91.314 pacientes em

hemodiálise, com um aumento de 114,4% no número de casos de 2000 a 2011

(CAVALCANTE, 2013). A nível nacional, o número de pacientes em Terapia Renal

Substitutiva (TRS) cresce a taxas de 8% ao ano (NASCIMENTO, 2012).

A pessoa que vivencia um desequilíbrio em seu estado de saúde, como a

Insuficiência Renal Crônica (IRC), vê-se constantemente em perigo de perder sua

integridade tanto física como psíquica, ou seu lugar na família e na sociedade, em

decorrência das alterações em suas funções orgânicas (CARREIRA, 2013). O impacto

da IRC sobre a qualidade de vida decorre de vários fatores: convívio com a doença

irreversível, esquema terapêutico rigoroso que provoca modificações alimentares, de

hábitos, das atividades sociais e de trabalho, utilização de vários medicamentos e

dependência da máquina (SANTOS, 2011).

Pacientes que evoluem para doença renal crônica terminal necessitam de algum

tipo de Terapia Renal Substitutiva (TRS), sendo as modalidades disponíveis: a

hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante renal (BRASIL, 2014). A qualidade de

vida em pacientes com DRCT é influenciada pela modalidade de TRS empregada

(YUSOP et al, 2013).

Cattai (2011, p. 461) refere ainda, que, as diferentes formas de tratamento

causam forte impacto na vida dos pacientes, uma vez que a alimentação, a vida social, a

condição física e mental e também os valores que os orientam são alterados pelo

tratamento e pela própria doença, podendo vir a comprometer outras dimensões da vida.

O número insuficiente de rins disponíveis para o transplante, o convívio com a perda de

companheiros de hemodiálise e o medo constante de infecções tornam ainda mais

problemáticos esses aspectos.

De acordo com Yusop et al (2013, p. 8), pacientes que foram submetidos à

transplante renal possuem melhor qualidade de vida do que pacientes que são

submetidos às diferentes modalidades de diálise.

A hemodiálise correponde à extração das substâncias nitrogenadas tóxicas do

sangue e na remoção de um a quatro litros de fluÍdos no período médio de quatro horas

durante três vezes por semana (FRAZÃO, 2014).

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A diálise impõe mudanças físicas, psicológicas e sociais que exigem adaptações

a uma nova forma de viver, para a qual a pessoa precisa autorregular seu estado

emocional diante desta nova situação. Sabe-se que as pessoas que dialisam têm alta

prevalência de ansiedade e depressão, vivem com um elevado nível de estresse e têm

uma percepção deteriorada da qualidade de vida (RETAÑA et al, 2013).

Segundo Saled et al (2012, p. 946), a depressão tem sido largamente

reconhecida como o problema psiquiátrico mais comum em pacientes com doença renal

terminal e é considerada a segunda co-morbidade mais comum neste grupo de

pacientes, perdendo apenas para a hipertensão.

As estratégias de enfrentamento fazem referência aos mecanismos habituais que

o indivíduo faz uso para enfrentar o estresse e os problemas cotidianos. As estratégias

concretas se desenvolvem em diferentes contextos e podem mudar de acordo com a

situação presente em cada momento. Em doentes renais, o enfrentamento interfere na

adaptação e na aderência ao tratamento (MONTILLA, 2012).

As mudanças físicas, psicológicas e sociais requeridas dos portadores de doença

renal crônica terminal são influenciadas pela forma de enfrentamento de cada indivíduo,

podendo conduzir a não-adesão ao tratamento e, consequentemente, a uma ampla gama

de complicações (FRAZÃO et al, 2014).

Neste contexto, o enfermeiro pode atuar na identificação das necessidades

físicas e psicológicas da sua clientela, proporcionando cuidados que visem uma melhor

adesão ao tratamento, baseando seu plano de cuidados no Modelo Adaptativo de Sister

Callista Roy (FRAZÃO et al, 2014). Trata-se de uma Teoria de Enfermagem que realça

a pessoa como um sistema adaptável afetada, no seu interior, pelo mundo a sua volta. O

meio ambiente é composto de múltiplos estímulos que, juntos, criam o nível de

adaptação, a pessoa cria uma resposta, que pode ser adaptável ou ineficaz (ROY, 2001).

1.1. Objetivos do estudo

O objetivo geral do estudo:

Compreender os enfrentamentos vividos no processo de transição saúde-doença

do adulto jovem com Insuficiência Renal Crônica em hemodiálise.

E como objetivos específicos:

1. Identificar os modos de adaptação propostos por Callista Roy nos adultos

jovens hemodialisados.

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2. Analisar a relação entre os enfrentamentos vivenciados pelos clientes e o

cuidado de enfermagem frente ao processo adaptativo do jovem renal crônico.

1.2. Justificativa do estudo:

Neste sentido, a partir da compreensão de todos esses aspectos relacionados a tal

clientela, por meio deste estudo, tornar-se-á possível, pela enfermagem, a alavancagem

de conhecimento e a elaboração de um plano de cuidados transicional, baseado nos

modos adaptativos propostos por Callista Roy, buscando minimizar os problemas dos

clientes, adapta-los ao tratamento em harmonia com as suas condições de vida e

aprimorar a qualidade da assistência prestada aos mesmos no processo de transição

saúde-doença, beneficiando a população de adultos jovens em tratamento hemodialítico,

motivo pelo qual esta pesquisa se faz relevante.

Trata-se de temática atual, de prioridade na Agenda Nacional de Pesquisa em

Saúde, de grande relevância científica e social, em especial para área de Enfermagem. O

estudo encontra-se afinado à Política Nacional ao Portador de Doença Renal, organizada

pelo Ministério da Saúde e as Secretarias Municipais de Saúde, o que certamente trará

novas contribuições às pessoas com Insuficiência Renal Crônica e inovação para o

cuidado na perspectiva de Roy.

É um problema real que as doenças crônicas e terminais como a doença renal

crônica terminal afetam a qualidade de vida das pessoas, já que influenciam diversas

esferas da sua vida (GUERRERO, 2012). A equipe de saúde deve intervir não só no

suporte social, mas também no psicológico e físico para melhorar a qualidade de vida

destes pacientes, já que a realização de novas abordagens terapêuticas, as quais

ultrapassem as tecnologias das máquinas de diálise, contribui para diferentes modos de

assistir e cuidar de um paciente crônico (FERREIRA, 2011).

Diante do exposto, o presente estudo se insere nos estudos que abordam o

paciente portador de Insuficiência Renal Crônica em tratamento hemodialítico, estando

correlacionado, portanto, com a linha de pesquisa “O cuidado em seu contexto sócio

cultural”.

O presente estudo aponta como objeto a “O cuidado ao adulto jovem

hemodialisado e seus enfrentamentos na transição saúde-doença”, abrangendo suas

concepções, expectativas, sentimentos, dificuldades e outros aspectos que possam ser

desvendados com o evoluir da pesquisa e que venham a influenciar na qualidade de vida

do mesmo. Portanto, inserido à linha de pesquisa mencionada acima visto que busca

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descrever a presença da patologia no ciclo de vida de cada cliente e o emprego da

tecnologia terapêutica por meio de depoimentos dos próprios clientes, ou seja, por meio

da subjetividade de cada um deles e analisar seus comportamentos diante a teoria

adaptativa proposta por Roy.

As bases conceituais visam abordar os principais conceitos que trarão

sustentação a este estudo. Para tal, foram analisados estudos publicados na forma de

artigos, livros e documentos que tratam do tema.

Os artigos foram localizados por meio de pesquisa on-line na Biblioteca Virtual

em Saúde, baseados nos descritores “falência renal crônica, hemodiálise, adulto jovem e

teoria de enfermagem”. As bases de dados estão sendo investigadas a partir da

combinação dos descritores acima citados, hora empregando um descrito ou outro, hora

somando mais de um descritor. Bases de dados como Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval

System Online (MEDLINE), Saúde de Adolescente e Jovem no Brasil (ADOLEC), Base

de Dados de Enfermagem (BDENF), Literatura em Ciências Saudáveis (CidSaúde),

Literatura do Caribe em Ciências da Saúde (MEDCARIB) e Scientific Eletronic Libray

On Line (SciELO) foram pesquisadas, com resultados positivos na SciELO, LILACS,

MEDLINE e BDENF.

Foram utilizados como critérios de inclusão na busca pelos artigos: ano de

publicação (entre 2011 e 2016), o emprego dos descritores: falência renal “and”

hemodiálise “and” adulto jovem “and” teoria de enfermagem, idioma de publicação:

português, inglês ou espanhol.

Ao final da busca foram selecionados 75 artigos que tratavam da temática e que

contribuíram para que o preenchimento de parte da lacuna de conhecimento existente no

que diz respeito às vivências experimentadas pelo adulto jovem em hemodiálise e sua

relação com a Teoria do Modelo Adaptativo de Callista Roy.

Os critérios de busca e etapas da seleção dos artigos estão descritos no

fluxograma apresentado a seguir.

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Busca ativa realizada no período entre agosto de 2015

e junho de 2016 por artigos publicados entre 2011 e

2016.

Descritores:

Falência renal “and” hemodiálise “and” adulto jovem

“and” teoria de enfermagem.

LILACS

20 artigos

MEDLINE

27 artigos ADOLEC

0 artigos

BDENF

19 artigos

MEDCARIB

0 artigos

SciELO

95 artigos

Leitura e análise dos títulos dos artigos e seleção dos que

se adequavam a temática do estudo (121 artigos).

Seleção dos artigos que disponibilizavam texto

completo em português, inglês ou espanhol (116

artigos).

Leitura e análise minuciosa do conteúdo do texto

completo de cada um dos artigos selecionados (75

artigos).

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2.0. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Doença renal crônica terminal (DCRT)

Nas últimas décadas, medidas sanitárias específica como o controle e

erradicação de grandes epidemias, saneamento básico, avanço da antibioticoterapia e da

quimioterapia resultaram em acentuada redução da mortalidade por causas infecciosas e

parasitárias, contribuindo para o aumento da esperança de vida e envelhecimento da

população. Simultaneamente, as doenças crônico degenerativas vêm assumindo posição

de destaque no cenário da saúde em geral, visto mudanças nos hábitos de vida, em

particular, o progressivo aumento da industrialização e urbanização (XAVIER, 2014).

A adaptação às condições de uma doença crônica pode ser considerada mais

difícil do que a uma doença aguda que exige apenas temporária aceitação da condição

de estar doente e dependente da ajuda externa (NEPOMUCENO, 2014).

Os pacientes com doenças crônicas dependem de tratamentos de longa duração

que lhes impõem limitações, e alterações de grande impacto que repercutem em suas

vidas. O desempenho das tarefas específicas do trabalho, por exemplo, pode ser

dificultado ou até mesmo, impossibilitado por limitações físicas, cognitivas, dor e

fadiga, fato que torna a taxa de emprego das pessoas com doenças crônicas, um pouco

ou consideravelmente inferior às das pessoas saudáveis (OLIVEIRA, 2012).

Com a inversão da pirâmide etária e o consequente envelhecimento

populacional, a influência de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), como a

hipertensão arterial e o diabetes mellitus, é considerado fator determinante para o

desenvolvimento da insuficiência renal crônica, justificando o aumento crescente de

indivíduos em tratamento dialítico (TAKEMOTO, 2011).

A Insuficiência Renal Crônica (IRC) ou Doença Renal Crônica (DRC) é uma

deterioração progressiva e irreversível da função renal, na qual a capacidade do corpo

para manter a homeostasia metabólica e hidroeletrolítica falha, resultando em uremia,

que é definida pela retenção de uréia e outros produtos nitrogenados no sangue

(MOREIRA, 2013).

A DRC é considerada um problema de saúde pública em todo o mundo

(STASIAK, 2014). A patologia vem assolando, de maneira indistinta, homens e

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mulheres, em faixa etária cada vez mais baixa, isto é, numa fase da vida na qual o

cidadão é considerado ativo e produtivo (XAVIER, 2014).

De acordo com as Diretrizes clínicas para o cuidado ao paciente com doença

renal crônica – DRC no sistema único de saúde (BRASIL, 2014), os indivíduos sob o

risco de desenvolver DRC são:

a) Pessoas com diabetes (quer seja do tipo 1 ou do tipo 2): o diagnóstico do diabetes

deve ser realizado de acordo com o nível sérico da glicemia de jejum acima de 126

mg/dL, ou acima de 200 mg/dL 2 horas após a ingestão de 75g de glicose, ou qualquer

valor de hiperglicemia, na presença de sintomas clássicos, como poliúria, polidipsia ou

polifagia;

b) Pessoa hipertensa, definida como valores de pressão arterial acima de 140/90 mmHg

em duas medidas com um intervalo de 1 a 2 semanas;

c) Idosos;

d) Portadores de obesidade (IMC > 30 Kg/m²);

e) Histórico de doença do aparelho circulatório (doença coronariana, acidente vascular

cerebral, doença vascular periférica, insuficiência cardíaca);

f) Histórico de DRC na família;

g) Tabagismo;

h) Uso de agentes nefrotóxicos (no anexo I encontram-se descritos os principais agentes

nefrotóxicos, bem como as medicações que necessitam ajustes em pacientes com

alteração da função renal).

Nas fases iniciais da IRC, quando as manifestações clínicas e laboratoriais são

mínimas ou ausentes, o diagnóstico pode ser sugerido pela associação de manifestações

inespecíficas (fadiga, anorexia, emagrecimento, prurido, náusea ou hemólise,

hipertensão e edema). Outras alterações fisiológicas frequentes são: a poliúria (urinar

acima de 2,5 litros por dia associado a um aumento na frequência urinária, que pode ser

noturna) e a hematúria (existência de sangue na urina). Com o progresso da doença,

ocorre o acúmulo de substâncias no sangue e algumas toxinas não eliminadas podem

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afetar o organismo de diversas maneiras, resultando em um quadro de uremia, devido ao

acúmulo de uréia (COSTA, 2014).

Indivíduos com pouca ou nenhuma função renal estão propensos a desenvolver

hipercalemia, que é caracterizada por manifestações clínicas como parestesias, fraqueza

muscular e paralisia, bradicardia, hipotensão arterial, fibrilação e até arritmia cardíaca

(BEUTER, 2013).

As pessoas podem sobreviver com apenas 10% da função renal, o que contribui

para que os sintomas da DRC demorem muito para ser notados (COSTA, 2014). Os

primeiros sintomas da patologia podem demorar anos para surgir, fato determinante

para a característica do curso clínico da enfermidade. Entretanto, com um diagnóstico

precoce da doença o tratamento deve ser iniciado (XAVIER, 2014). O tratamento da

DRC requer medidas terapêuticas, como tratamento conservador, com o uso de

medicamentos e dieta rigorosa para retardar a piora da função renal, reduzir os sintomas

e prevenir as complicações ligadas a insuficiência renal crônica (MIETO, 2014).

Segundo Moreira (2013, p. 257), à medida que a função renal diminui, os

produtos finais do metabolismo proteico, normalmente excretados através da urina,

acumulam-se no sangue. A uremia desenvolve-se e afeta de maneira adversa todos os

sistemas do corpo. Mieto (2014, p. 461) esclarece que, quando a filtração glomerular

corresponde a uma faixa inferior a 15 ml/min/1,73 m2 são necessárias terapias de

suporte renal, como diálise peritoneal (DP), hemodiálise (HD) ou transplante renal. Esta

fase também pode ser denominada como Doença Renal Crônica Terminal (DRCT).

Em todo o mundo, incluindo países em desenvolvimento, a prevalência da

DRCT tem aumentado consideravelmente nos últimos anos (ALVARES, 2013). O

número de pacientes com doença renal crônica terminal tratados com Terapia Renal

Substitutiva (TRS) cresce mundialmente a uma taxa de, aproximadamente, 7% ao ano.

Essa taxa excede a taxa de crescimento da população (TEIXEIRA, 2015).

Os recursos diagnósticos utilizados para identificar o paciente com DRC são a

Taxa de Filtração Glomerular (TFG) utilizando fórmulas baseadas na creatinina sérica,

o exame sumário de urina (EAS), onde observa-se alterações parenquimatosas e

albuminúria e um exame de imagem, preferencialmente a ultrassonografia dos rins e

vias urinárias (BRASIL, 2014).

Uma vez diagnosticada a insuficiência renal crônica, o cliente deve ser

submetido o mais precocemente possível a tratamento, seja conservador ou dialítico. O

tratamento é caracterizado como uma experiência difícil e dolorosa, mas essencial para

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a manutenção da vida da pessoa com DRC (SILVA, 2016). O diagnóstico e tratamento

têm impacto muito grande sobre o cliente e a família (MOREIRA, 2013).

Para melhor estruturação do tratamento dos pacientes com DRC, bem como para

estimativa de prognóstico, é necessário que, após o diagnóstico, todos os pacientes

sejam classificados. Essa classificação tem estreita relação com prognóstico, levando-se

em consideração principalmente os principais desfechos da DRC: doença

cardiovascular, evolução para TRS e mortalidade. Por haver uma relação estreita entre o

estágio da DCR com os desfechos, conforme mencionado acima, o cuidado clínico no

controle dos fatores de progressão da DRC devem ser sempre intensificados, de acordo

com a evolução da DRC (BRASIL, 2014).

Tabela 1. Classificação da DRC

Estágio TFG (ml/min/1,73m2)

1 ≥ 90

2 60-89

3a 45-59

3b 30-44

4 15-29

5 <15

Fonte: Diretrizes clínicas para o cuidado ao paciente com doença renal crônica – drc no sistema único de saúde (2014).

Além disso, a classificação deve ser aplicada para tomada de decisão no que diz

respeito ao encaminhamento para os serviços de referências e para o especialista. Para fins

de organização do atendimento integral ao paciente com DRC, o tratamento deve ser

classificado em conservador, quando nos estágios de 1 a 3, pré-diálise quando 4 e 5-ND

(não dialítico) e TRS quando 5-D (diálitico). O tratamento conservador consiste em

controlar os fatores de risco para a progressão da DRC, bem como para os eventos

cardiovasculares e mortalidade, com o objetivo de conservar a TFG pelo maior tempo de

evolução possível. A pré-diálise, para fins dessa diretriz, consiste na manutenção do

tratamento conservador, bem como no preparo adequado para o início da TRS em paciente

com DRC em estágios mais avançados. A TRS, como definida anteriormente, é uma das

modalidades de substituição da função renal: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante

renal (BRASIL, 2014).

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O tratamento da DRC tem como objetivo conservar a função renal pelo maior

prazo possível. Para tal consiste em detecção e tratamento das causas reversíveis da

insuficiência renal (controle de diabetes e hipertensão); regulação da dieta; tratamento

de condições associadas para melhorar a dinâmica renal (anemia, acidose, hipercalemia,

retenção de fosfato); diálise de manutenção ou transplante renal quando os sintomas não

podem mais ser controlados com tratamento conservador (NETTINA, 2011).

A intervenção dietética é um cuidado aplicado em qualquer fase da DRC e não

apenas visa o controle da sintomatologia urêmica e dos distúrbios hidroeletrolíticos, mas

também atua em doenças correlatas como o hiperparatireoidismo secundário, a

desnutrição energético-proteica, nas várias alterações metabólicas (SANTOS, 2011).

As restrições alimentares e hídricas são fundamentais para o sucesso do

tratamento e para o bem-estar do indivíduo portador da DRC. No entanto, geram

descontentamento e não aceitação, por imporem privações severas, que envolvem até

mesmo restrições sobre a quantidade de água a ser ingerida pelo paciente. Com isso, o

tratamento é permeado por consequências, que tendem a ser consideradas como difíceis,

árduas e repletas de restrições (COSTA, 2014).

Terapias de Substituição Renal (TRS)

De acordo com Xavier (2014, p. 317), as modalidades de Terapia de

Substituição Renal (diálise peritoneal, hemodiálise e transplante renal) empregam

tecnologias avançadas, envolvendo acompanhamento de profissionais de saúde com

periodicidade obrigatória e custos elevados.

Embora alguns clientes tenham uma preferência média ou social por alguma

modalidade de tratamento, uma grande proporção dos que iniciam a TRS pode ser

tratada com sucesso em qualquer uma. A escolha é uma decisão complexa, em que

fatores clínicos, não clínicos e, em especial, a qualidade de vida, devem ser levados em

consideração (ALVARES, 2013).

Algo a ponderar, é o fato de que a maioria dos clientes é pega de surpresa

quando iniciam uma Terapia de Substituição Renal (TRS). Muitas vezes a DRC é

diagnosticada já em estágio avançado, por não exibir sintomas importantes em suas

fases iniciais. Isso tem obrigado os clientes a iniciarem uma terapia de substituição

renal, quase sempre a hemodiálise, de maneira súbita, sem o devido tempo e condição

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de conhecer e optar pela modalidade de tratamento que mais lhe parecer conveniente

e/ou apropriado (XAVIER, 2014).

A diálise refere-se à difusão de moléculas de soluto através de membrana

semipermeável, passando do lado de concentração mais elevada para o de concentração

mais baixa. A finalidade da diálise é manter a vida e o bem-estar do paciente. É um

substituto para algumas funções excretoras renais, mas não substitui as funções

endócrina e metabólica dos rins (NETTINA, 2011).

Qualidade de vida x Terapias de Substituição Renal

De acordo com Abreu (2014, p. 601), Qualidade de Vida Relacionada à Saúde

(QVRS) se traduz pela necessidade de medir as repercussões de uma determinada

doença e seu tratamento, segundo a percepção das pessoas sobre o quanto esses fatores

interferem em sua capacidade de desenvolver suas potencialidades.

A partir das investigações desenvolvidas sobre qualidade de vida, torna-se

possível o aprofundamento de fatores subjetivos que conduzem ao bem-estar da

população, grupos e indivíduos, explicando os processos que levam as pessoas à sua

satisfação moral, bem-estar e felicidade bem como os mecanismos de enfrentamento e

de defesa relacionados com a doença (NEPOMUCENO, 2014).

A doença renal crônica acarreta uma série de limitações na qualidade de vida,

como no caso das outras doenças crônicas, e gera uma incidência maior de

psicopatologias do que na população geral (ANDRADE, 2015).

Os pacientes que realizam a TRS estão sujeitos à diminuição da qualidade de

vida em relação à população em geral e maior prevalência de transtornos de humor. A

relação entre a qualidade de vida é inversamente proporcional

à prevalência de ansiedade e depressão. Essa condição pode representar aumento da

mortalidade e morbidade nos pacientes em diálise, assim como comprometer a

aderência à terapêutica e modular a sua situação imunológica e nutricional, tanto pelos

sintomas associados, perda da motivação, distúrbios do sono, fadiga, humor depressivo

e dificuldade de compreender informações (STASIAK, 2014). Ainda há de se relacionar

a perda da autonomia, a dificuldade em lidar com uma doença irreversível e incurável, o

problema em se deslocar diariamente ou semanalmente para hospitais, a queda dos

níveis de vitalidade, a limitação para a realização das atividades da vida diária e, em

muitos casos, a falta de suporte familiar (LOPES, 2014).

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Abreu (2014, p. 603) destaca ainda que a DRC altera toda a rotina familiar e o

convívio social do cliente, uma vez que exige necessidades dietéticas específicas,

compromisso com os horários do tratamento dialítico, realização de procedimentos

invasivos, uso constante de medicamentos específicos e frequentes hospitalizações

devido a alterações clínicas.

A escolha da modalidade de terapia renal substitutiva influencia diretamente a

qualidade de vida do cliente. Clientes transplantados tem melhores índices de qualidade

de vida que pacientes em hemodiálise ou em diálise peritoneal (ALVARES, 2013).

Apesar a qualidade de vida ser afetada tanto na hemodiálise quanto na diálise

peritoneal, há diferenças entre elas. Clientes em HD possuem maiores taxas de

depressão em comparação aos clientes em DP, isto porque o cliente tem que ficar

continuamente ligado a máquina de HD, restringindo sua atividades diárias e sua

independência. Além disso, as taxas de suicídio nos clientes em HD são maiores. Já os

clientes em DP têm mais autonomia, controle e flexibilidade, com menos restrições em

sua dieta e na vida social (STASIAK, 2014).

Existem muitos fatores que exercem representativa interferência na qualidade de

vida dos clientes em HD, tais como idade, fatores socioeconômicos, comorbidades,

anemia, taxa de filtração glomerular, sexo, depressão, entre outros. Entretanto, a

qualidade de vida varia de acordo com a vulnerabilidade e as formas de enfrentamento

adotadas pelo indivíduo (SANTOS, 2014).

A DRC e seu tratamento desencadeam uma série de situações de conflito, que

afetam o cotidiano dos indivíduos e suas famílias, exigindo-lhes adaptações e mudanças

no estilo de vida. Neste sentido, é necessário que os profissionais de saúde analisem e

compreendam os fatores relacionados à adesão em terapia dialítica e baseiem também

neste sentido a assistência prestada (BEUTER, 2013).

O processo de transição saúde-doença

As pessoas com DRC estão imersas em diversos processos de mudanças que

condicionarão sua forma de pensar e também de agir. As crenças expressas em relação

à doença contribuem para que o indivíduo vivencie o adoecimento de modo singular e

possa gerir seus cuidados. Além disso, essa experiência da enfermidade traz novas

incumbências a quem emitir um julgamento acerca de como encarar e conviver com os

problemas (CAMPOS, 2015).

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Mais importante que o tipo de tratamento, é a sua evolução, as características da

personalidade do cliente e como ele lida com o adoecer. Com isso, não se questiona os

benefícios de uma ou outra modalidade, mas destaca-se a importância dos recursos

adaptativos dos clientes e de estar sendo bem sucedido seu tratamento, seja qual for a

opção terapêutica adotada (ANDRADE, 2015).

Ser resiliente é adaptar ou modificar sua realidade cada vez mais imprevisível e

agir adequadamente e rapidamente. É vista como explicação para o porquê de

indivíduos, mesmo passando por situações adversas, conseguirem sobreviver e alcançar

bem-estar em suas vidas, enquanto que outros, nas mesmas situações, não são capazes

(SILVA, 2016).

De acordo com Beuter (2013, p. 3559), a definição de adesão é o grau de

concordância entre a conduta e a orientação recebida pelo cliente. A adesão aos regimes

de tratamento é um fenômeno dinâmico e multidimensional de longo prazo determinado

pela interação de fatores: socioeconômico, relacionados ao cliente, doença, tratamento e

cuidados de saúde. O fato de aderir ou não está relacionado com as particularidades de

cada paciente.

O processo de conviver com uma doença crônica leva as pessoas a centralizarem

suas atividades em torno da enfermidade e do tratamento, pois o regime terapêutico de

diálise (HD ou DP), necessário para garantir condições fisiológicas adequadas, requer

periodicidade. Constitui-se, portanto, um fenômeno de preocupação e enfrentamentos

diários. Fato esse que também leva a pessoa à incorporação de saberes manifestos na

forma de um conjunto dinâmico, alicerçado em crenças e percepções (CAMPOS, 2015).

O impacto do diagnóstico de DRCT na vida dos clientes e o grau de aderência ao

tratamento diferem de acordo com a idade. Para idosos a diálise é normalmente vista

como a possibilidade de se manter vivos, logo a adesão ao tratamento é maior. Já os

indivíduos jovens, por terem condições clínicas e melhor tolerância aos sintomas, nem

sempre seguem as orientações relativas ao tratamento, uma vez que valorizam mais suas

atividades sociais do que as condições impostas pela terapia dialítica. O conhecimento e

a compreensão destes aspectos, ajuda os profissionais de saúde a desenvolver uma

assistência segura (BEUTER, 2013).

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2.2. Diálise peritoneal (DP)

A diálise peritoneal é o método de tratamento de substituição renal usado por

mais de 100.000 pacientes em todo o mundo. Em particular, desde a implantação da

diálise peritoneal ambulatorial contínua (DPAC), sua popularidade tem aumentado

enormemente, principalmente devido a sua simplicidade, conveniência e custo

relativamente baixo (DAUGIRDAS, 2008).

Aproximadamente 10% da população brasileira em diálise utiliza diálise

peritoneal (DP) como forma de tratamento de substituição renal (VELOZO, 2012).

Em essência, a diálise peritoneal envolve o transporte de solutos e água através

de um de uma membrana que separa dois compartimentos que contêm líquidos. Esses

dois compartimentos são o sangue no capilar peritoneal, o qual na insuficiência renal

contém um excesso de uréia, creatinina, potássio e outros; e a solução de diálise na

cavidade peritoneal, a qual tipicamente contém sódio, cloreto e lactato e é convertida

em hiperosmolar pela inclusão de uma alta concentração de glicose (DAURGIDAS,

2008).

Na DP o peritônio é utilizado como membrana de troca. Este método oferece

níveis semelhantes de efetividade e segurança quando comparado à hemodiálise. Os

pacientes são devidamente treinados para realizarem o procedimento e não necessitam

do aparato tecnológico disponível em unidades de hemodiálise. Realizam rotineiramente

três a quatro procedimentos de troca por dia, podendo fazê-los em sua residência

(NETO, 2014). Para tanto, um cateter flexível é implantado cirurgicamente no abdôme e

o cliente e/ou seus familiares fazem a substituição periódica de uma solução de diálise

que, em contato com a membrana peritoneal, promove a remoção das escórias

sanguíneas indesejadas e da água (SANTOS, 2013).

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Figura 2. Cateter de Tenckhoff

Fonte: http://www.nursing-help.com/2012/06/peritoneal-dialysis-transfer-set-change.html

Na DPAC a solução de diálise está constantemente presente no abdome. A

solução é trocada tipicamente quatro vezes ao dia, com uma variação de três a cinco

vezes dependendo das necessidades individuais do paciente. A drenagem do dialisato

“usado” e a infusão de uma nova solução de diálise são realizadas manualmente,

utilizando-se a gravidade para mover o líquido para dentro e para fora da cavidade

peritoneal (DAUGIRDAS, 2008).

Figura 3. Esquema prático da diálise peritoneal ambulatorial contínua

Fonte: http://doencarenal.com.br/doencas-renais/dialise-peritoneal-conheca-a-dialise-feita-em-casa/

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Na diálise peritoneal automatizada (DPA), o paciente mantém ou não a solução

de diálise na cavidade abdominal durante todo o dia, mas não realiza as trocas nem

permanece conectado ao equipo de transferência. Na hora de dormir, o paciente

conecta-se a uma cicladora automatizada, que fará as trocas da solução de diálise em

seu abdome três ou mais vezes durante a noite. Na manhã seguinte o paciente

desconecta-se da cicladora e fica livre para suas atividades diárias (DAUGIRDAS,

2008).

Figura 4. Diálise Peritoneal Automatizada

Fonte: http://www.diaverum.com/pt-PT/Tratamento/Tipos-de-tratamento/Dialise-peritoneal-

automatica/

Por ser um método passível de realização no domicílio, a DP suscita uma série

de adequações no ambiente que irá acomodar a esta terapia, bem como o envolvimento

e a participação ativa de familiares e pessoas próximas ao cliente que apresenta DRC

em fase dialítica (SANTOS, 2013).

Nesta modalidade, o paciente ou familiar é responsável pelo próprio tratamento

em domicílio. Entretanto, esta autonomia permite ao paciente realizar modificações em

seu tratamento, com risco de falhas na aplicação da técnica. Entre elas, destaca-se a

inadequada higienização das mãos no momento de realizar as trocas de bolsa (líquido de

diálise). Ao longo do tempo, o compromisso do paciente com o tratamento prescrito e

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com o protocolo de procedimentos é fundamental para reduzir as complicações

(SIQUEIRA, 2012).

A DP, em razão de as trocas se realizarem mais lentamente, causa menor

instabilidade hemodinâmica do que a hemodiálise e oferece maior conforto ao paciente,

que não necessita deslocar-se para a unidade de diálise. Pacientes sem acesso vascular,

diabéticos, crianças, com doença cardiovascular grave, idosos e pacientes que residem

em locais distantes possuem indicações clássicas dessa modalidade (NETO, 2014).

Excluídas algumas situações excepcionais, como a perda da função peritoneal,

aderências que limitam o fluxo de dialisato, defeitos mecânicos incorrigíveis, falta de

auxílio na realização da técnica quando necessário e doenças intestinais inflamatórias, a

diálise peritoneal e a hemodiálise têm as mesmas indicações clínicas. A sobrevida dos

pacientes em DP é maior do que a de pacientes em HD nos dois primeiros anos de

tratamento, tornando-se semelhante após. Além disso, pacientes em DP relatam menos

dor do que pacientes em HD, não havendo justificativa para sua baixa utilização

(RAMOS, 2015).

As complicações infecciosas - peritonite, infecção de local de saída e do

túnel - são ainda o “Tendão de Aquiles” da DP. As vias de contaminação que levam

à peritonite podem ser: intraluminal (erro na técnica de conexão de

bolsas/lavagem das mãos), periluminal (infecção de local de saída e túnel),

transmural (diarréia/constipação), hematogênica e transvaginal. Os germes de

maior prevalência nas peritonites são Staphylococcus aureus e Staphylococcus

epidermidis, oriundos do tegumento e causa de contaminação intraluminal ou

periluminal (SIQUEIRA, 2012).

A peritonite continua sendo a causa mais comum de retirada de cateter,

transferência de pacientes para hemodiálise e uso de antibióticos, sendo que ocorre mais

frequentemente devido à técnica inadequada durante o manuseio da bolsa ou conexão

com o cateter. A peritonite danifica a membrana peritoneal, interferindo na ultrafiltração

e adequação da terapia, o que pode ser uma condição temporária ou permanente

(FIGUEIREDO, 2013).

A Diálise Peritoneal vem sendo apontada como uma modalidade de Terapia

Renal Substitutiva (TRS) que favorece o retorno e a manutenção do paciente com DRC

terminal ao mercado de trabalho em função de maior autonomia para o autocuidado, da

flexibilidade para a realização do tratamento no domicílio com retorno ao ambulatório

apenas uma vez ao mês (OLIVEIRA, 2012).

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2.3. Hemodiálise (HD)

A hemodiálise (HD) é um processo de limpeza do sangue de produtos de

desgaste (escória) acumulados. É utilizada para pacientes com insuficiência renal em

estágio terminal ou agudamente doentes que necessitam de diálise de curta duração

(NETTINA, 2011).

Dentre os tratamentos disponíveis para a DRC em seu estágio terminal, a

hemodiálise é o mais utilizado, o qual demanda adaptações na vida do cliente, pois

consiste num tratamento associado a diversas restrições e que compromete suas

atividades diárias. As dificuldades impostas pelo tratamento, muitas vezes, influenciam

na adesão do doente renal, sendo necessária a utilização de artifícios que auxiliem no

processo de adaptação e manutenção da terapia (PESSOA, 2015).

Segundo Andrade (2015, p. 57), a taxa de mortalidade entre clientes renais

crônicos em hemodiálise é vinte vezes maior do que a da população geral.

A sobrevida dos pacientes com doença renal terminal em diálise depende

principalmente das suas condições na época que a diálise foi iniciada.

Consequentemente é importante ter atenção ao controle da pressão arterial, da anemia,

da ingestão de cálcio e de fósforo, bem como a confecção e o tempo adequado para uso

de uma fístula arteriovenosa (DAUGIRDAS, 2008).

A hemodiálise não é uma prática curativa e é geralmente realizada por períodos

aproximadamente 4 horas diárias, com necessidade de ser realizada três vezes por

semana em unidades especializadas (MIETO, 2014).

A HD tem como objetivo extrair as substâncias nitrogenadas tóxicas do sangue e

remover o excesso de água; é realizada por meio de um sistema extracorpóreo. O fluxo

sanguíneo é impulsionado por uma máquina para o sistema de circulação extracorpórea

até o dialisador (capilar), onde ocorrem as trocas entre o sangue e o banho de diálise ou

dialisato (MOREIRA, 2013).

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Figura 5. Hemodiálise

Fonte: http://www.institutoendovascular.com.br/doencas-vasculares/fistula-para-hemodialise/

Segundo Mieto (2014, p. 465), na hemodiálise, a transferência de solutos ocorre

entre o sangue e a solução de diálise através de uma membrana semipermeável artificial

(dialisador ou capilar) por três mecanismos: a difusão, que é o fluxo de soluto de acordo

com o gradiente de concentração, isso depende do peso molecular e características da

membrana; a ultrafiltração, que é a remoção de líquidos através de um gradiente de

pressão hidrostática, e pela convecção, que é a perda de solutos durante a ultrafiltração,

quando ocorre o arraste de soluto na mesma direção do fluxo de líquidos através da

membrana.

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Figura 6. Esquema de Hemodiálise

Fonte: https://depacienteparapaciente.wordpress.com/2011/03/12/98/

O regime medicamentoso varia de acordo com as necessidades de cada paciente

e, geralmente, inclui várias drogas, tais como quelantes de fósforo, vitaminas, anti-

hipertensivos, insulina, eritropoietina humana recombinante, diuréticos, entre outros. A

variedade, quantidade e efeitos colaterais dos medicamentos pode influenciar na adesão

ao tratamento (BEUTER, 2013).

A dieta para indivíduos submetidos a HD é bastante restritiva, tendo que ser

adaptada para devido aporte e controle de proteínas, lipídios, carboidratos, fluidos,

sódio, cálcio, fósforo, potássio, ferro e vitaminas, baseada em exames laboratoriais e

estado clínico de cada cliente. Os indivíduos submetidos à diálise apresentam

significante prevalência de desnutrição, o que pode varias de leve a moderada e grave.

A causa da desnutrição é multifatorial e inclui ingesta alimentar deficiente, distúrbios

hormonais e gastrointestinais, restrições dietéticas, uso de medicamentos que podem

influenciar na absorção de nutrientes, diálise insuficiente e presença constante de

enfermidades associadas (OLIVEIRA, 2012).

Recomenda-se que o ganho de peso entre as sessões de HD seja inferior a 5% do

peso seco (peso corporal ideal). O ganho de peso interdialítico é derivado da ingestão de

líquidos, tais como água, sopa, sucos. Um ganho de peso excessivo pode levar a

manifestações e complicações, tais como dispneia, mal-estar, edema pulmonar agudo e

insuficiência cardíaca congestiva. A remoção do excesso de líquido durante a

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hemodiálise pode causar hipotensão, cãibras musculares, náuseas, vômitos e dor de

cabeça, entre outros (BEUTER, 2013).

Clientes jovens, metabolicamente mais ativos, tendem a apresentar maior

consumo alimentar e hídrico, fatores determinantes para o ganho de peso interdialítico.

Grande parte dos clientes tem ganho interdialítico exagerado, o que pode ser

consequência de anúria e dificuldade de controlar a ingestão de sódio e líquidos. Isso

pode ocorrer com mais frequência nos fins de semana, quando o período entre uma

sessão e outro é maior (FERRAZ, 2015).

O paciente renal crônico refere sentir diferentes tipos de dor, de intensidade e

localização variáveis. Essa queixa associa-se a elevada incidência de doença óssea, a

perda progressiva de massa muscular, a incidência de doenças crônicas debilitantes

como o diabetes mellitus, a doenças neurológicas e a obstruções vasculares. Ademais,

durante a hemodiálise podem ocorrer intercorrências relacionadas ao tratamento, que

causam dor, como as cãibras, normalmente antecedidas por hipotensão arterial, que

provocam fortes dores devido a contraturas musculares involuntárias,

predominantemente nos membros inferiores, na segunda metade da sessão de

hemodiálise (MARQUES, 2016).

Acesso Vascular para hemodiálise

A hemodiálise exige que os pacientes tenham um acesso vascular. Este pode Ser

feito por fístulas arteriovenosas (FAV), utilizando-se veias autógenas ou próteses, ou

por cateteres venosos centrais (CVC). Cada uma dessas alternativas de acesso tem suas

próprias indicações e restrições de uso (JUNIOR, 2013).

De acordo com Cruz (2015, p. 2170), o acesso vascular ideal deve fornecer fluxo

sanguíneo adequado, permitir longas horas de sessão dialítica, tolerar utilização

frequente, possuir a capacidade de resistir por um longo período de tempo e estar

associado a um baixo índice de complicações (trombose, infecção e aneurisma).

Fístula Arterionenosa (FAV)

A fístula arteriovenosa é o acesso venoso mais adequado, pois constitui no

acesso de longa permanência que viabiliza a diálise efetiva com menor número de

intervenções. Este acesso pode ser confeccionado ainda durante o tratamento

conservador, quando a previsão de necessidade de hemodiálise é dentro do período de

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um ano, visto que a FAV necessita de um tempo de maturação até seu uso (PESSOA,

2015).

Uma das maiores causas de morbidade associada ao tratamento dialítico

corresponde à incapacidade dos acessos vasculares em atender aos quesitos mínimos

para o sucesso da terapia. Entre as principais causas de internação, a vigência de

complicações no acesso vascular figura como causa de maior relevância (CRUZ, 2015).

A FAV é conhecida como acesso permanente, criado por meio de uma cirurgia

ao unir a artéria a uma veia. O ramo venoso da fístula dilata-se e sua parede se torna

mais espessa, permitindo repetidas punções. As agulhas são inseridas no vaso com a

finalidade de obter fluxo sanguíneo adequado para passar através do dialisador

(MOREIRA, 2013).

As fístulas distais nos membros superiores são a primeira opção, como a

radiocefálica, deixando as proximais para uma eventual necessidade de um novo acesso

(JUNIOR, 2013).

Figura 7. Fístula arteriovenosa

Fonte: http://www.institutoendovascular.com.br/doencas-vasculares/fistula-para-hemodialise/

Duas agulhas de grosso calibre são introduzidas no sistema venoso dilatado (a

partir da pressão arterial do ramo da anastomose), pode-se, então, obter o sangue e

passá-lo através do dialisador. A extremidade arterial é empregada para o fluxo arterial

e a extremidade distal para a reinfusão do sangue dialisado (NETTINA, 2011).

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O tempo mínimo de maturação da fístula arteriovenosa autóloga é de 30 dias. A

punção prematura do acesso pode resultar no aumento da incidência de infiltração e

compressão da anastomose, acarretando a perda permanente da FAV. Vários fatores

estão associados ao insucesso da FAV: tipo de material utilizado para a confecção do

acesso vascular (autólogo ou protético), localização distal ou proximal, idade do cliente,

história de tabagismo, uso de cateter venoso central no momento da confecção da FAV,

presença de comorbidades como a síndrome metabólica e o diabetes mellitus (CRUZ,

2015).

Outro acesso que pode ser utilizado é enxertoarteriovenoso, que consiste na

inserção subcutânea de um tubo em alça, feito da veia safena autóloga ou de

politetrafluoroetileno (PTFE), curvo ou reto entre uma artéria e uma veia do membro. O

custo de um enxerto é cerca de quatro vezes maior que a confecção de uma FAV e tem

menor sobrevida e maior risco de infecção, trombose e estenose (MENDES, 2015).

Figura 8. Fístula arteriovenosa autóloga x enxerto

Fonte: http://www.castedovascular.com.br/acessos_fistulas.html

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Apesar de constituir o melhor acesso para HD, a FAV está suscetível a diversas

complicações como hipofluxosanguíneo, tromboses, estenoses, aneurismas, infecções,

isquemia da mão, edema de mão e sobrecarga cardíaca. A prevenção dessas

complicações pode ser realizada por meio de emprego de cuidados adequados, como

uso de compressas mornas e geladas, poupar o membro do acesso de maiores esforços

ou evitar a compressão pelo ato de dormir sobre a FAV, não permitir que outros

profissionais de saúde fora do serviço de diálise puncionem a FAV, não aferir pressão

arterial no membro da FAV, fazer a compressão adequada para hemostasia após a

diálise. A responsabilidade das ações envolvidas é da equipe de saúde e do paciente

renal crônico, o qual precisa ser orientado acerca do autocuidado no período de

confecção e no manejo do seu novo acesso vascular (PESSOA, 2015).

Cateter Venoso Central

Os cateteres venosos centrais são indicados nos casos de hemodiálise de

urgência ou nos casos em que não é possível a realização de FAV, podendo ser duplo ou

triplo lumen. Estão relacionados a maiores taxas de infecção, internação e

morbimortalidade dos pacientes dialíticos. Devem ser implantados, preferencialmente,

nas veias jugulares, local em que as complicações são menores. A segunda escolha fica

entre as veias femorais e subclávias. Rotineiramente, após seu uso, os cateteres venosos

centrais são preenchidos com heparina, evitando a formação de trombos em seu interior

e, em consequência, minimizando as taxas de infecção e oclusão dos mesmos (JUNIOR,

2013).

Figura 9. Cateter venoso central para hemodiálise

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Fonte: http://www.grupoizi.com.br/2012/01/cateteres-para-hemodialise-e.html

O uso de cateteres não tunelizados e, portanto, sem manguito, conhecidos como

de curta permanência, não é recomendado por mais de três semanas por resultar em taxa

alta de infecções, devendo ser utilizados em situações de indicação emergencial de

diálise ou enquanto ocorre a maturação do acesso vascular. Os cateteres com manguitos

de feltro ou dacron reduzem a incidência de complicações infecciosas e mecânicas e

devem ser utilizados sempre que for previsto o uso prolongado de um cateter

(MENDES, 2015).

No entanto, há complicações mecânicas e infecciosas relacionadas ao uso de

cateter venoso central permanente, com impacto significativo na morbimortalidade dos

pacientes e no custo do manejo e tratamento dessas complicações, como internação, uso

de drogas, principalmente trombolíticos e antimicrobianos e o implante de novo cateter.

As complicações mecânicas mais comuns relacionadas aos CVCp são oclusão e

hipofluxo e podem ocasionar inadequação da dose dialítica e mudanças frequentes dos

locais de cateter, que, por sua vez, levam à eliminação de sítios vasculares (MENDES,

2015).

Complicações

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A hemodiálise é uma forma indefinida de prolongar a vida, visto que não altera a

evolução natural da doença renal subjacente, nem substitui por completo a função renal,

por isso, o cliente está sujeito a inúmeros problemas e complicações (MOREIRA,

2013).

Adequar-se a um tratamento a longo prazo, como a hemodiálise, não é fácil, pois

tem limitações e mudanças diárias que afetam a liberdade do paciente. Ao longo dos

anos, os indivíduos em hemodiálise apresentam diversas complicações associadas a

doença. Isso pode estar relacionado com a perda da função renal residual, alterações no

metabolismo do cálcio e fósforo, problemas de acesso vascular, doença cardiovascular,

mal nutrição, infecção, anemia, entre outros. Isso demonstra que muitos clientes cansam

das imposições e restrições vinculadas não tratamento ao longo dos anos (BEUTER,

2013).

A não adesão dietética contribui, juntamente com outros fatores de risco como

hipertensão, dislipidemia, sedentarismo, tabagismo e diabetes mellitus para a ocorrência

de doenças cardiovasculares em clientes com DRCT em hemodiálise. Nesses

indivíduos, a mortalidade cardiovascular é 10 a 20 vezes maior quando comparada à da

população geral de mesmo sexo, idade e raça. A doença cardiovascular está presente

desde as fases precoces da DRC e atinge em torno de 30 a 44% dos pacientes iniciando

hemodiálise (BURMEISTER, 2014).

Complicações a curto prazo envolvem eventos adversos durante a sessão de

hemodiálise como embolia gasosa, ultrafiltração inadequada ou excessiva, hipotensão,

cãibras, vômitos, extravasamentos sanguíneos e contaminações no acesso. Portanto,

durante a hemodiálise, o paciente, o dialisador e o dialisato precisam de constante

monitorização e avaliação pela enfermagem (MOREIRA, 2013).

De acordo com Guimarães (2014, p. 623), além de uma vasta gama de

complicações, os clientes com DRCT em hemodiálise são os mais predispostos à

contaminação de infecções virais pela rota hematogênica, por serem submetidos a uma

série de procedimentos invasivos e transfusões sanguíneas. Neste contexto, destacam-se

as infecções pelo vírus da hepatite tipo B (HBV) e tipo C (HCV) e o vírus da

imunodeficiência humana (HIV).

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2.4. Transplante renal

Dentre as possíveis modalidades terapêuticas para portadores de DRCT, o

transplante renal é a que propicia menores índices de morbidade, menor mortalidade e

melhor qualidade de vida (ANDRADE, 2015).

No Brasil, a prevalência de pacientes mantidos em terapias de substituição vem

aumentando consideravelmente nos últimos anos. O número de transplantes renais, por

sua vez, não acompanha esse crescimento (SIVIERO, 2014).

No período recente, o Brasil possui o maior sistema público de transplantes de

órgãos do mundo e ocupa o segundo lugar (atrás apenas dos Estados Unidos) no número

(absoluto) de cirurgias desse porte, com destaque para o transplante renal (COSTA,

2014). O transplante renal é a modalidade de transplante de órgão mais realizada no

país. Apesar do volume de transplantes renais a espera por um rim é muito longa,

podendo chegar de um ano até 11,1 anos (KNIHS, 2013).

Xavier (2014, p. 320) ressaltou que, pacientes que afirmam conhecer as

diferentes formas de tratar a patologia, não mencionaram o transplante renal. Sobre esse

aspecto, percebe-se o fato de que no imaginário de clientes com DRCT, frequentemente,

o transplante emoldura-se como cura e/ou resolução definitiva do problema, e não como

mais uma modalidade de tratamento que mais lhe parecer conveniente e/ou apropriada.

A doença crônica não pode ser curada e a cura almejada pode se transformar em

mito perigoso. Quando em momentos de desespero, desânimo e descrença o paciente

muitas vezes idealiza e gera inúmeras expectativas acerca da possibilidade do

transplante (KNIHS, 2013).

Atualmente, com o aprimoramento da técnica cirúrgica e da terapia

imunossupressora, o transplante renal é considerado o tratamento padrão para o paciente

com DRCT, resultando em redução da mortalidade, melhor qualidade de vida e sendo

mais custo-efetivo em relação ao tratamento dialítico (SOUZA, 2012).

Apesar das inúmeras vantagens advindas deste procedimento, o transplantado

depara-se com diversos desafios relacionados a sua nova condição clínica. O tratamento

após o transplante renal engloba muitas recomendações, como: uso contínuo da

medicação imunossupressora, prevenção de infecções em função do declínio da função

imunológica, visitas clínicas periódicas, orientações dietéticas e atividade física

contínua (BRITO, 2015).

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Ao mesmo tempo que significa a libertação da máquina de HD e de um

cotidiano enclausurante, o transplante renal também produz incertezas em relação ao

sucesso do enxerto e os riscos inerentes à cirurgia. Pacientes em tratamento

hemodialítico e seus familiares percebem a realização do transplante renal como a única

possibilidade de voltarem a vivenciar uma vida normal (MIETO, 2014).

O cliente submetido a transplante renal deve ser orientado a reconhecer sintomas

de rejeição do enxerto, como febre, calafrios, cansaço, hipertensão, sudorese, ganho de

peso, edema periférico e diminuição no débito urinário. O mesmo deve estar preparado

para uma possível necessidade de diálise de manutenção caso a rejeição ocorra

(NETTINA, 2011).

Diversos obstáculos têm sido observados em relação ao transplante renal, como

insuficiência de doadores; dificuldades na notificação de morte encefálica; iniquidade

na distribuição de órgãos; não utilização do critério de tempo na distribuição de rins;

ausência de controle social sobre as Centrais de Notificação, Capacitação e Distribuição

de Órgãos; concentração dos centros transplantadores nas regiões Sul e Sudeste do país

e acompanhamento pós-transplante inadequado (MACHADO, 2011).

Durante a espera pelo novo rim, o paciente necessita dar continuidade ao

tratamento por meio da diálise peritoneal ou hemodiálise. Essa espera é marcada pela

expectativa de liberdade e esperança de que a qualquer momento possa ser agraciado

com um telefonema informando que foi identificado um doador compatível. Assim, essa

pessoa convive, por longos anos, mesmo em condições limitadas de saúde e qualidade

de vida, idealizando uma nova realidade (KNIHS, 2013).

Portanto, transplante e diálise não podem ser analisados separadamente. Um

programa de transplante de sucesso requer uma terapia dialítica eficiente, que dá ao

paciente suporte para a cirurgia e o recebe em caso de perda do enxerto (ALVARES,

2013).

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

Buscando a compreensão dos aspectos vividos no processo de transição saúde-

doença do adulto jovem com Insuficiência Renal Crônica em hemodiálise, adotou-se

para este estudo o Modelo Adaptativo proposto por Callista Roy. Esta teoria de

enfermagem elucida o processo de adaptação de uma pessoa (indivíduo ou comunidade)

à uma determinada situação de modo que a enfermagem possa atuar na promoção de

uma melhor resposta adaptativa.

Aspectos adaptativos da Teoria da Adaptação de Sister Callista Roy

Sister Callista Roy, membro da Congregação de Irmãs de Saint Joseph de

Carondelet, nasceu em 14 de outubro de 1939, em Los Angeles, Califórnia. Em 1963,

recebeu o título de Bacharel de Artes na Enfermagem, pela Escola de Mount SaintMary,

em Los Angeles e, em 1966, o título de Mestre de Ciências na Enfermagem pela

Universidade da Califórnia, Los Angeles. Após concluir o curso de Enfermagem,

estudou Sociologia e recebeu, em 1973, o título de Mestre em Sociologia e, em 1977, o

de Doutora em Sociologia, pela mesma Universidade (ROY, 2001).

A formação da base dos pressupostos científicos do seu modelo é atribuída por

Roy aos trabalhos de von Bertalanffy sobre a teoria geral de sistemas e de Harry Helson

sobre a teoria da adaptação. Inspirou-se ainda, em Dorothy Johnson, como motivação

para desenvolver suas concepções, sendo que os pressupostos filosóficos provêm do

humanismo (ROY, 2001).

A Teoria de Roy permite reconhecer que as pessoas, mediante estímulos, podem

desencadear respostas, ora positivas ora negativas, em situações estressantes. Cabe,

portanto, ao enfermeiro implementar ações de cuidado que favoreçam respostas

adaptativas e assim contribuir para adesão ao tratamento e melhor qualidade de vida dos

clientes (MOURA, 2013).

Roy (2001, p. 16) define nível de adaptação como um ponto de mudança que

representa a capacidade da pessoa em responder positivamente em uma determinada

situação. As respostas adaptáveis são aquelas que promovem a integridade em termos

de objetivos do sistema humano (sobrevivência, crescimento, reprodução e domínio) e o

comportamento é o conjunto de ações internas ou externas e reações em circunstâncias

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específica. As respostas ineficazes, por sua vez, são respostas que não contribuem para a

integridade em termos de objetivos do sistema humano.

Roy (2001, p. 19) salienta os elementos essenciais de seu modelo de adaptação:

1. A pessoa que é receptora do cuidado de enfermagem;

2. O ambiente;

3. A saúde;

4. A enfermagem.

A pessoa

É o ser cuidado, que pode ser a família, a comunidade ou a sociedade, sendo que

cada um é considerado pelo enfermeiro como um sistema adaptativo holístico. Como

sistemas vivos, as pessoas estão em constante interação com seu ambiente, em que

ocorre uma troca de informações, matéria e energia (MEDEIROS et al, 2015).

O termo adaptável é um conceito integral nos pressupostos científicos

subjacentes ao modelo e significa que o sistema humano tem a capacidade de se ajustar,

efetivamente, às mudanças no meio ambiente e, por sua vez, afeta o meio ambiente

(ROY, 2001).

Sistema Humano

Respostas da

pessoa,

comportamento; é

uma função dos

estímulos de

entrada e do nível

de individual de

adaptação.

• Mecanismo regulador

(respostas fisiológicas);

• Mecanismo cognitor

(sentimentos e mobilizações

emocionais).

Entrada

Processos de

resposta e controle

Estímulos:

Externos –

meio ambiente;

Internos – eu.

Saída

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Roy (2001, p. 21) realça que a pessoa é um sistema adaptável que é afetado pelo

mundo à sua volta e no seu interior. No sentido mais amplo, este mundo é chamado de

meio ambiente. Neste modelo de adaptação, o meio ambiente é mais especificamente

conhecido como estímulos: focais, contextuais e residuais. É a junção deste estímulos

que cria o nível de adaptação, a pessoa cria uma resposta, que pode ser adaptável ou

ineficaz.

O estímulo focal é o estímulo interno ou externo que mais imediamente confronta

a pessoa; o objeto ou acontecimento que atrai a atenção de alguém. Estímulos

contextuais são todos os outros estímulos presentes na situação que contribuem para o

efeito do estímulo focal, ou seja, são fatores ambientais que se apresentam à pessoa, a

partir do interior ou exterior, mas que não são o centro da atenção. Os estímulos

contextuais influenciam na forma como a pessoa lida com o estímulo focal. Por fim, os

estímulos residuais são fatores ambientais dentro e fora da pessoa, cujos efeitos na

situação atual não são centrais. A pessoa pode não ter consciência da influência destes

fatores, ou poderá não ser claro para o observador que eles estão surtindo efeito (ROY,

2001).

O nível de estímulos e adaptação serve como uma entrada para a pessoa enquanto

sistema adaptável. Depois de processar esta entrada através dos mecanismos de controle

a pessoa cria uma resposta. O Modelo de Adaptação de Roy sugere uma forma

particular de ver estas respostas. No âmbito do modelo, as respostas não estão limitadas

aos problemas, mas, pelo contrário, o modelo integra todas as respostas do sistema

adaptável. Estas respostas são chamadas de comportamento (ROY, 2001).

Em seu modelo adaptativo, Roy (2001, p. 28) esclarece que os comportamentos

que resultam do mecanismo regulador e cognitivo podem ser observados em quatro

categorias ou modos adaptáveis:

- Modo adaptativo fisiológico – respostas físicas aos estímulos do ambiente que

envolvem, segundo Roy, cinco necessidades básicas: oxigenação, nutrição, eliminação e

equilíbrio entre atividade e repouso. A enfermeira se depara, muitas vezes, com pessoas

durante o tratamento de uma doença, uma consideração importante relativa à este modo

adaptativo é a presença da fisiopatologia da doença.

- Modo do autoconceito – aspectos sociais e psicológicos da pessoa. Está diretamente

relacionado à integridade psíquica da pessoa. É composto de crenças e sentimentos que

uma pessoa tem de si própria, seja em relação ao seu aspecto físico ou emocional. O

modo do autoconceito possui dois componentes: o eu físico, incluindo a sensação do

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corpo e a imagem do corpo e o eu pessoal que engloba a autoconsciência, o auto-ideal,o

eu moral, ético e espiritual.

- Modo de função do papel – incide sobre os papéis que a pessoa ocupa na sociedade.

Está diretamente relacionado à integridade social, ou seja, a necessidade de saber quem

se é em relação aos outros, para que se possa agir. Os papéis podem ser primários,

secundários ou terciários.

Primário – determina a maioria dos comportamentos de uma pessoa durante um

determinado período da vida e está ligado a idade, sexo e a fase de desenvolvimento.

Por exemplo, um homem jovem de 20 anos.

Secundários – são aqueles que uma pessoa assume para poder realizar as tarefas

associadas com a fase de desenvolvimento e o papel primário, e requerem o

desempenho de um papel específico. Por exemplo, um homem jovem de 20 anos que

assume o papel de universitário.

Terciários – estão relacionados aos secundários em que a pessoa preenche

atividades relacionadas ao papel. São atividades temporárias eleitas pelo livremente

indivíduo, como clubes e que, por vezes, têm que ser alterados quando a pessoa é

confrontada por circunstâncias especiais. Por exemplo, um homem jovem de 20 anos,

universitário, em tratamento hemodialítico.

- Modo da interdependência – é onde as necessidades afetivas são preenchidas,

identificando os padrões de valor humano, afeição, amor, respeito e afirmação, em um

processo chamado adequação emocional.

O ambiente

“Todas as condições, circunstâncias e influências que circundam e afetam o

desenvolvimento e o comportamento de pessoas e grupos” (ROY, 2001).

O ambiente é o segundo maior conceito principal do modelo de enfermagem e é

entendido como o mundo interior e exterior da pessoa. Está constantemente em

mudança e apresenta novos desafios (ROY, 2001).

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Ambiente

De acordo com Roy (2001, p. 52), as mudanças no cenário ambiental podem ter

grande efeito no estado de adaptação da pessoa. Estas mudanças tendem a afetar os

sentidos do indivíduo e incluem estímulos como as mudanças de temperatura, os

diferentes níveis de barulho, ou uma dieta anormal. A presença de pessoas estranhas, ou

a ausência de pessoas conhecidas, pode constituir uma parte da mudança ambiental.

Igualmente relacionados com o cenário ambiental estão as drogas, o álcool e o tabaco,

cuja utilização tem um efeito distinto no ambiente interno da pessoa.

A saúde

Roy define saúde como “um estado e um processo de ser e de tornar-se uma

pessoa total e integrada” (ROY, 2001). Diante disto, cabe ao enfermeiro promover a

saúde da pessoa oportunizando respostas adaptativas dos indivíduos em relação ao seu

tratamento.

A enfermagem

O objetivo da enfermagem é contribuir para o objetivo global dos cuidados de

saúde, isto é, para promover a saúde dos indivíduos e da sociedade. Cabe a Enfermagem

a promoção de respostas adaptativas em relação aos quatro modos adaptativos:

fisiológico, autoconceito, função do papel e interdenpendência (ROY, 2001).

A capacidade de enfrentamento varia com o estado da pessoa em ocasiões

diferentes. O cuidado de enfermagem é delineado como aquele que promove as

respostas adaptativas em situações de saúde e de doença. São ações que visam controlar

os estímulos focais, contextuais ou residuais que estão sobre uma pessoa. O enfermeiro

age preparando a pessoa para as mudanças antecipadas através do fortalecimento dos

mecanismos de enfrentamento regulador e cognitivo. As ações de enfermagem

sugeridas por este modelo incluem a abordagem visando à manutenção da resposta

adaptativa que sustenta os esforços da pessoa para o uso criativo de seus mecanismos de

enfrentamento (BRANDALIZE, 2011).

Estímulos Internos Estímulos externos

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Desta forma, o objetivo da enfermagem é a promoção da adaptação nos quatro

modos, contribuindo, através disso, para a saúde da pessoa, qualidade de vida e morte

com dignidade (ROY, 2001).

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4. METODOLOGIA

O presente estudo baseou-se nos fundamentos da pesquisa qualitativa, onde “a

pesquisa qualitativa surge diante da impossibilidade de investigar e compreender por

meio de dados estatísticos alguns fenômenos voltados para a percepção, a intuição e a

subjetividade. Está direcionada para a investigação dos significados das relações

humanas, onde suas ações são influenciadas pelas emoções e/ou sentimentos aflorados

diante das situações vivenciadas no dia-a-dia” (MINAYO, 2010).

“Muitos autores entendem a pesquisa qualitativa com uma ‘expressão

genérica’. Isto significa, por um lado, que ela compreende atividades

de investigação que podem ser denominadas específicas. E, por outro

lado, que elas podem ser caracterizadas por traços comuns”

(Triviños, 1987. p. 120).

O método empregado foi a pesquisa-cuidado. Esta, segundo Zagonel e Neves

(2010, p. 75), por estar alicerçada na subjetividade humana e ter ênfase no cuidado,

possibilita uma aproximação entre o ser pesquisador e o ser pesquisado, em um

encontro genuíno de cuidado como presença, articulando a teoria, a pesquisa e a prática.

A pesquisa-cuidado busca a conexão entre método e cuidado, não oferecendo ao

método o foco central da interação, mas ao sujeito pesquisado em sua total essência; é

uma arte que não se restringe apenas ao seguimento de passos sistemáticos

estabelecidos em uma determinada metodologia (BRANDALIZE, 2011). Para realizar a

pesquisa-cuidado o enfermeiro, ser pesquisador, precisa estabelecer uma relação de

cuidado, sem a qual os dados não emergem de forma autêntica (PONTE, 2014).

De acordo com Maas (2010, p. 42), a pesquisa-cuidado percorre etapas as quais

são efetivadas à medida que se processa o encontro entre pesquisador-cuidador e ser

pesquisado-cuidado em um movimento de entrelaçamento em que as etapas se sucedem

em um continuum de apreensão. Desta forma, descreve-se a seguir as etapas da

pesquisa-cuidado.

1. Aproximação com o objeto de estudo – nesta fase o pesquisador-cuidador

define a metodologia a ser empregada. É fundamental que a revisão de literatura esteja

configurada, planejada, o que auxilia a delimitar o objeto do estudo e oferece segurança

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ao pesquisador para certificar-se de seus propósitos e favorece encontrar as lacunas do

conhecimento na área ou tema que está sendo investigado.

2. Encontro com o ser pesquisado-cuidado – nesta etapa é definido o local onde

ser realizará o estudo, os sujeitos que comporão a amostra, a opção de técnica de coleta

de informações e o delineamento dos princípios éticos.

3. Estabelecimento das conexões de pesquisa, teoria e prática – é o momento de

interação entre o ser pesquisador-cuidador e o ser pesquisado-cuidado, onde este último

expressa verbalmente ou em expressões não-verbais suas necessidades, que devem ser

captadas pelo pesquisador-cuidador de forma a traçar a estratégia de cuidados que será

adotada. O cuidado pode se estabelecer de diferentes formas, ouvindo, olhando, estando

presente, tocando, respeitando comportamentos e atitudes, estabelecendo

relacionamento de confiança, indicando caminhos, facilitando o enfrentamento de

situações novas e difíceis (ZAGONEL, 2010).

4. Afastamento de ser pesquisador-cuidador e ser pesquisado-cuidado – fase que

exige sensibilidade de ambos para indicar o término do encontro, considerando sua

finalidade. O término dos encontros deve ser trabalhado durante toda a trajetória da

interação, para que, tão logo possa acontecer, se inicie a fase posterior da pesquisa.

5. Análise do apreendido – é a fase de compreensão dos dados, interpretando o

significado das respostas obtidas, tendo como objetivo buscar significados à vivência de

determinado fenômeno.

Segundo Zagonel (2010, p. 77),

O processo de cuidar e o processo de pesquisar andam juntos, pois ao

mesmo tempo em que se desenvolvem as etapas sistematizadas e

organizadas do processo de cuidar em enfermagem (conhecer o

cliente, detectar problemas, implementar medidas de cuidado e

avaliar) se seguem rigorosamente os passos do método de pesquisa

escolhido.

A pesquisa envolveu a participação de seres humanos, assim as exigências

estabelecidas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde foram atendidas,

tendo sido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro, da

Universidade Federal Fluminense, tendo sido aprovada por meio de Parecer

Consubstanciado de n. 1.118.390, em 22/06/2015.

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Devido a atuação da autora como enfermeira supervisora em hemodiálise em

uma unidade satélite de tratamento hemodialítico ambulatorial localizada no município

de Araruama, a pesquisa foi realizada na referida unidade, bem como, em uma outra

unidade, localizada no município de Itaboraí, ambas no estado do Rio de Janeiro.

Optou-se por unidades pertencentes a uma mesma empresa para garantir a uniformidade

de processos de tratamento. A coleta de dados apenas foi iniciada após aprovação do

Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade

Federal Fluminense.

Foram adotados como participantes da pesquisa oito clientes de ambos os sexos,

independente da patologia de base apresentada, que se enquadraram nos seguintes

critérios de inclusão: 1. ser portador de insuficiência renal crônica; 2. estar em

tratamento hemodialítico há no mínimo três meses; 3. ter entre 18 e 24 anos de idade; 4.

não ter sido submetido a transplante renal no passado; 5. aceitar participar da pesquisa,

como voluntário, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;

6. Ter condições cognitivas para a compreensão da pesquisa.

Foi considerado como único critério de exclusão: 1. ter iniciado em programa de

hemodiálise após acompanhamento ambulatorial para tratamento conservador de

insuficiência renal crônica.

Os dados foram coletados no período entre outubro/2015 e julho/2016, por meio

de entrevista semi-estruturada, baseada em um roteiro elaborado pela autora. Segundo

Marconi e Lakatos (2015, p. 80), a entrevista “é um encontro entre duas pessoas, a fim

de que uma delas obtenha informações a respeito de um determinado assunto, mediante

uma conversação de natureza profissional”.

No roteiro da entrevista semi-estruturada elaborado pela autora constaram seis

questões relativas à identificação do sujeito da pesquisa, as quais englobam:

pseudônimo, idade, gênero, religião, escolaridade e profissão. No bloco seguinte, o

entrevistado respondeu a quatro questões relativas aos dados do tratamento, são eles:

tempo em programa de hemodiálise, frequência do tratamento, duração de cada sessão e

acesso vascular utilizado no momento. No terceiro e último bloco, oito questões tratam

dos enfrentamentos dos sujeitos da pesquisa diante do diagnóstico de insuficiência renal

crônica terminal e tratamento hemodialítico.

As entrevistas foram realizadas na unidade satélite onde o entrevistado é

submetido ao tratamento, em locais onde houvessem condições de guardar a

confidencialidade do entrevistado, que escolheu seu pseudônimo tomando como

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referência um personagem de desenho animado, e das informações fornecidas, antes ou

depois da sessão de hemodiálise conforme foi acordado com o mesmo, tendo durado em

torno de 25 minutos. A fala do entrevistado foi registrada por meio de gravador de voz e

posteriormente transcrita pelo pesquisador para análise. Ao iniciar o encontro, o sujeito

da pesquisa foi informado sobre a pesquisa e assinou, sendo essa a sua vontade, o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, podendo o mesmo se retirar da pesquisa a

qualquer momento, mesmo depois da entrevista.

Na unidade satélite localizada no município de Itaboraí, foram entrevistados

cinco clientes que se enquandraram nos critérios de inclusão de um total de 235 clientes

em programa regular de hemodiálise, destes 47 clientes de uma unidade satélite

interditada temporariamente em um município vizinho. Nesta unidade três clientes se

recusaram a participar da pesquisa. Na unidade satélite localizada no município de

Araruama, foram entrevistados três clientes que se enquadraram nos critérios de

inclusão do total de 148 pacientes em programa regular de hemodiálise no momento das

visitas.

A análise dos dados foi feita por meio da técnica de Análise de Temática-

Categorial de Conteúdo que, segundo Bardin (2011, p. 73) é um conjunto de técnicas de

análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetos de

descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores que permitam a inferência de

conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das mensagens.

O primeiro momento da Análise de Conteúdo (AC) refere-se à pré-análise,

quando são definidos os documentos e protocolos a serem analisados, as hipóteses e os

objetivos delineados e os indicadores de critério de análise que serão utilizados. O

segundo momento, chamado de codificação, reporta-se à transformação do dado bruto

em estrutura traduzida de manifestação do dado. Nessa etapa, a AC vale-se de três

índices para a organização da análise; são eles: recorte, agregação e enumeração. No

recorte, são definidas as unidades de análise como, por exemplo, os recortes semânticos

(temas) ou os linguísticos (palavras/frases). Em seguida, a agregação determina qual a

natureza das unidades de registro que foram aglomeradas em torno de categorias

distintas. Por fim, a regra de enumeração indica o tipo de gradiente e aritmética aplicado

aos referentes do material analisado (CASTRO, 2011).

O orçamento para a realização da pesquisa, que terá financiamento próprio por

parte do pesquisador, prevê custos com insumos de escritório (para impressão do roteiro

de entrevista, transcrição das falas e demais atividades) e deslocamento do pesquisador

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até as unidades satélites de hemodiálise onde serão coletados os dados, o que totaliza

um valor de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais).

O risco associado a pesquisa proposta é que, diante da exposição da sua relação

com o diagnóstico e tratamento, o sujeito da pesquisa apresente sensações e sentimentos

que intensifiquem seu comportamento não-adaptativo, ainda que, mesmo tendo sido

esclarecido a respeito da pesquisa e assinado o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido o mesmo possa se retirar da pesquisa a qualquer momento. Caso a situação

descrita ocorra, o participante será orientado a buscar o serviço de psicologia da unidade

de tratamento.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A caracterização dos participantes foi constituída por oito clientes de um total de

onze clientes que atendiam aos critérios de inclusão/exclusão, sendo que três deles se

negaram a participar da pesquisa. Dos oito que compuseram a amostra, seis eram

homens e duas mulheres.

Tabela 2: Informações sociodemográficas dos jovens hemodialisados nos municípios

de Araruama e Itaboraí, RJ, Brasil, 2015-2016.

% Anos

Média de idade --- 20,8

Sexo Masculino 75 ---

Feminino 25 ---

Não frequentam escola 62,5 ---

Residem com os

progenitores/cuidadores

62,5 ---

Possuem religião 75 ---

Média de tempo em hemodiálise --- 4,8

Acesso venoso no momento da pesquisa Fístula arterio-

venosa

87,5 ---

Cateter venoso

central

12,5 ---

Dos pacientes incluídos nenhum completou o ensino fundamental e não

desenvolve atividade laboral. Com relação aos dados de programa de hemodiálise, o

tempo em programa variou de 6 a 84 meses, sendo a média de 57,75 meses.

Nos depoimentos ficou evidenciado que eles descobriram a doença renal a partir

do surgimento de sintomas intensos e repentinos, tendo iniciado em hemodiálise de

urgência após o choque emocional do diagnóstico de Doença Renal Crônica Terminal.

Em sua Teoria Adaptativa, Roy (2001, p. 25) sugere uma forma particular de ver

as respostas apresentadas mediante os estímulos. No âmbito do modelo, as respostas não

estão limitadas aos problemas, mas, pelo contrário, o modelo integra todas as respostas

do sistema adaptável. Portanto, agrega os enfrentamentos descritos como problemas

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adaptativos com os enfrentamentos descritos como adaptação positiva. Os problemas

adaptativos são respostas ineficazes, que não promovem a integridade nem sequer

contribuem para os objetivos da adaptação. A adaptação positiva é um conjunto de

respostas adaptáveis, que promovem a integridade da pessoa em termos de objetivos de

adaptação: sobrevivência, crescimento, reprodução e domínio.

O que foi constatado neste estudo é que o mesmo cliente pode apresentar as duas

categorias de enfrentamento, porém os problemas adaptativos predominam no cotidiano

do jovem adulto submetido regularmente a hemodiálise.

Depois de uma primeira leitura das entrevistas a analisar, pretendeu-se codificar

(salientar, classificar, agregar e categorizar) trechos das entrevistas transcritas, que

passamos a apresentar em forma de tabela.

Na coluna Unidade de Registo encontram-se os fragmentos de texto que se

tomam por indicativo de uma característica (aqui, sub-categoria e categoria). Por fim, na

coluna Unidade de Contexto encontram-se os fragmentos do texto que englobam a

unidade de registo e que, assim sendo, contextualizam a respetiva unidade de registo no

decurso das entrevistas.

Tabela 2: Categorização temática das entrevistas

Categoria Modo

Adaptativo

N

citações

Sub-categoria Unidade de

Registro

Unidade de Contexto

Problemas

Adaptati-

vos

Modo

Adaptativo

Fisiológico

e Modo

Adaptativo

do

Impacto de um

diagnóstico

desconhecido

Medo do

desconhecido

Eu nem fazia idéia do

que era isso, achei uma

palavra até difícil, mas

eu estava muito mal e o

médico disse que só

tinha esse jeito então eu

chorei muito!!!

Autoconcei-

to

Medo da

morte

8

Impacto de um

diagnóstico

conhecido

Imaginar-se na

mesma

situação de

alguém que viu

sofrer

Fiquei morrendo de

medo porque meu primo

já fazia hemodiálise e

ele passa muito mal, e

passa até hoje!

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Perceber-se

como um

indivíduo

doente

Sentimento de

morte

iminente.

Desde o primeiro dia

não entendi muita coisa,

mas o médico falou

‘terminal’ e isso me deu

muito medo.

Problemas

Adaptati-

vos

Modo

Adaptativo

da Função

de Papel

Incompatibilida

de de horários

Tratamento,

trabalho e

estudo em

horário

simultâneos

Dizem que para me

trocarem tem que mexer

com outro paciente e

que eu tenho que trocar

o horário da escola,

mas lá não tem vaga de

manhã na minha série.

Trabalho e

estudo

6

Condições

clínicas

Intercorrências

pós-HD que

dificultam

atividades

laborais e

educativas

Eu faltava quando não

estava me sentindo bem

depois da diálise e meu

patrão sempre

reclamava.

Autoestima x

frustração

Não trabalhar

significa

sentimento de

frustração,

inutilidade e

depressão.

Se eu pudesse trabalhar

não ia ter tempo de

pensar as besteiras que

às vezes penso.

Problemas

Adaptati-

vos

Modo

Fisiológico

Restrição

hídrica

Controle

hídrico rígido

Beber? A gente nem

pode beber nada! Na

verdade nem comer! É

complicado porque tudo

tem líquido entendeu?

Dieta 8

Atuação da

equipe de

Orientação

quanto ao

Elas (equipe de

enfermagem) ficam

regulando o quanto a

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enfermagem ganho

interdialítico

gente bebe. Tem que se

pesar todo dia.

Problemas

Adaptati-

vos

Modo

Fisiológico

Punção de FAV

Emprego da

FAV a cada

nova sessão de

HD.

O problema da fístula é

que tem que furar toda

vez.

Dor

8

Complicações

da FAV

Síndrome do

roubo e

hematoma.

Quando a fístula é nova

dói mais para botar a

agulha e tem mais risco

de fazer hematoma, aí

que dói mesmo.

Complicações

intradialíticas

Cãimbras E as cãimbras? Não dá

para explicar!

Adapta-

ção

Positiva

Modo da

Interdepen-

dência

Fé e

Religiosi-

dade

4

Deus como

fonte de força

A fé é

promotora de

adaptação

positiva

Peço a Deus para me

dar forças, porque têm

dias que a gente fica

cansado disso tudo

aqui, mas depois passa.

Só por Deus mesmo!

Adapta-

ção

Positiva

Modo da

Interdepen-

dência

Apoio

familiar

5

Família como

agente de

proteção e

cuidado

Círculo

familiar como

porto seguro

Nem sei como seria se

não fosse minha família.

Até minha avó veio para

minha casa no início.

Adapta-

ção

Positiva

Modo da

Interdepen-

dência

Vínculo

cliente –

6

Confiança na

equipe de

enfermagem

Enfermagem

como

promotora de

cuidados na

unidade de

A equipe é igual mãe

né?! O papel deles é

puxar nossa orelha

porque bebemos líquido

demais, brigar porque

faltamos uma sessão de

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enferma-

gem

tratamento diálise, porque não

trouxemos o remédio.

Considerando as cinco etapas do método de pesquisa-cuidado, foram realizados

recortes semânticos dos discursos dos sujeitos da pesquisa, de onde extraiu-se, a partir

da repetição de idéias, duas categorias temáticas, sendo problemas adaptativos,

composta por: medo da morte, trabalho/estudo, dieta, dor. A segunda categoria é a

adaptação positiva, onde elencamos os seguintes aspectos: fé e religiosidade, apoio

familiar, vínculo cliente/enfermagem. A partir da análise temático-categorial, as

categorias foram classificadas de acordo com os modos adaptativos propostos por Roy

(modo fisiológico, modo do autoconceito, modo de função do papel e modo da

interdependência) de maneira a facilitar o entendimento e a identificação das respostas

adaptativas (positiva ou não) dos sujeitos desta pesquisa. A partir da compreensão

destas respostas, e equipe de enfermagem poderá moldar seu planejamento de cuidados

a fim de auxiliar na busca por melhorias.

Deve-se reconhecer que o completo bem-estar físico, mental e social, a

compreensão comum da otimização da saúde não é possível para todas as pessoas. Cabe

à enfermagem promover a adaptação em situações de saúde e doença. Os

comportamentos ineficazes constituem uma preocupação, na medida em que o objetivo

da enfermagem é promover a integração, auxiliando o cliente a tornar seus

comportamentos ineficazes em comportamentos adaptáveis, que devem ser mantidos

(ROY, 2001).

A primeira etapa da pesquisa-cuidado se dá com a aproximação com o objeto de

estudo, neste caso, o cuidado ao adulto jovem hemodialisado e seus enfrentamentos no

processo saúde-doença. Durante esta etapa foi possível analisar o meio ambiente e os

estímulos externos que poderiam estar atuando na adaptação dos sujeitos da pesquisa.

Nas duas etapas consecutivas, encontro com o ser pesquisado-cuidado e

estabelecimento de conexões de pesquisa, teoria e prática, se deu a coleta dos dados,

discursos dos sujeitos, base para a extração das categorias construídas a partir da

repetição de idéias nos diferentes discursos.

A seguir houve o afastamento do ser pesquisador-cuidador e do ser pesquisado-

cuidado e a análise do apreendido, cumprindo assim cada etapa proposta pelo método.

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Diagrama 1: Categorias temáticas extraídas dos discursos

Categorias Temáticas

Adaptação Positiva Problemas adaptativos

1. Medo da morte.

2. Trabalho/estudo.

3. Dieta.

4. Dor

1. Fé e religiosidade.

2. Apoio familiar.

3. Vínculo cliente/enfermagem.

Modo Fisiológico

Modo do autoconceito

Modo da função de papel

Modo da interdependência

- Modo adaptativo Fisiológico

Respostas físicas

- Modo do autoconceito

Aspectos sociais

e psicológicos

- Modo da função de papel

Papéis sociais

- Modo da interdependência

Necessidades afetivas

Integridade Física

Integridade Psíquica

Integridade Social

Fonte: CARDOSO, 2016.

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A partir deste ponto, cada categoria deve ser analisada cuidadosamente e

isoladamente para que seja possível a compreensão dos comportamentos adaptativos e o

cuidado de enfermagem.

CATEGORIA: PROBLEMAS ADAPTATIVOS

Medo da morte

A hemodiálise é representada com base em sentimentos ambíguos de amor e

ódio por pessoas que precisam deste tratamento para sobreviver, uma vez que se trata de

uma terapêutica que lhes assegura a vida, mas torna-as dependentes da tecnologia. Por

causa disso, identifica-se, entre os elementos simbólicos atribuídos à hemodiálise, um

binômio que expressa a relação ambivalente de vida e morte, presente em seu cotidiano

(COSTA, 2014).

Ao receber o diagnóstico de Doença Renal Crônica Terminal e a informação que

dependerão de uma terapia de substituição renal o cliente se sente invadido por um

sentimento de insegurança. A hemodiálise é a terapia adotada para os casos de urgência,

como ocorreu com os sujeitos deste estudo. A insegurança se torna presente tanto pelo

desconhecimento do tratamento proposto.

Tive muito medo quando o médico me falou (que teria que iniciar a

hemodiálise). Eu nem nunca tinha ouvido falar e ele me disse que teria que

botar um cateter no pescoço e ir para a máquina naquele dia mesmo. (Super

man).

Eu nem fazia idéia do que era isso, achei uma palavra até difícil, mas eu

estava muito mal e o médico disse que só tinha esse jeito então eu chorei

muito!!! Muito mesmo!! Botei o cateter e fui para a máquina chorando! Eu tinha

medo de morrer na máquina, mas saí mais tranquila. (Senhora Incrível).

Tive muito medo de fazer hemodiálise, o médico não falou pra mim,

falou pra minha mãe e ela que me contou e ainda chorando! Então coisa boa

não era né?! Na verdade naquele dia eu só fiz porque minha mãe não deixou eu

ir embora do hospital, porque eu queria ir! Fui pra máquina apavorado de

medo de morrer! (Homem Aranha).

Situação oposta também foi constatada quando alguns clientes relataram terem

se sentido inseguros com relação ao tratamento justamente por conhecê-lo através da

experiência vivida por alguém próximo.

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Fiquei morrendo de medo porque meu primo já fazia hemodiálise e ele

passa muito mal, e passa até hoje! Então quando eu via ele passando mal eu

pensava que se fosse eu não aguentaria, aí vem o médico e diz que eu tenho que

fazer também?! Eu fui embora! Mas voltei três dias depois de cadeiras de rodas

porque era impossível respirar. Aí não teve jeito né?! (Batman).

Desde o primeiro dia não entendi muita coisa, mas o médico falou

‘terminal’ e isso me deu muito medo. Também porque lembrei de um vizinho de

quando eu era pequeno que fazia diálise e quando ele saia da van lá na rua

sempre era carregado porque não conseguia nem andar direito. (Thor).

O medo da morte está diretamente relacionado ao surgimento de sintomas

decorrentes da DRCT e também a um tratamento permanente e invasivo. Portanto, esta

categoria está ligada ao modo adaptativo fisiológico, uma vez que as cinco necessidades

básicas preconizadas por Roy (oxigenação, nutrição, eliminação e equilíbrio entre

atividade e repouso) encontram-se alteradas no quadro clínico do paciente.

No modo fisiológico descrito no Modelo de Adaptação de Roy está associado à

forma como a pessoa responde fisicamente aos estímulos provenientes do ambiente. O

comportamento neste modo é uma manifestação da atividade fisiológica de todas as

células, tecidos, órgãos e sistemas que compreendem o corpo humano (ROY, 2001).

O modo do autoconceito também é observado. O cliente passa a ver a si próprio

como alguém doente, necessitado de cuidados e limitado pela doença e pelo tratamento.

O que pode ou não mudar a medida que os sintomas são amenizados pela terapia.

A necessidade básica que está subjacente ao modo do autoconceito foi

identificado como integridade psíquica, ou seja, a necessidade de saber quem se é para

que se possa existir com um sentido. A percepção do eu tem um papel importante em

tudo que a pessoa faz. O modo do autoconceito é uma manifestação do comportamento

e nível de adaptação relativo às crenças e sentimentos das pessoas sobre si próprias

(ROY, 2001).

No início eu me via com um doente que morreria logo. Com o passar do

tempo fui me acostumando e percebendo que se eu fizesse tudo direitinho

poderia ter uma vida melhor... Normal não né?! Mas melhor sim! (Senhora

Incrível)

Considerando os elementos propostos no Modelo Adaptativo de Roy, que são a

pessoa, o ambiente, a saúde e a enfermagem, o que se observa no contexto do medo da

morte é a saúde em situação de descompensação devido a IRC. O medo da morte é uma

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resposta do mecanismo cognitivo (sentimentos e mobilizações emocionais) do cliente

para estímulos internos (sintomas da doença) e externos (o diagnóstico, a modalidade de

tratamento, o ambiente onde o tratamento é desenvolvido). Sentir-se doente promove no

cliente a sensação de morte iminente.

CATEGORIA: PROBLEMAS ADAPTATIVOS

Trabalho/estudo

O trabalho para o cidadão representa um importante marco de sua existência,

possibilitando sua autorelação profissional, bem como a autonomia financeira para a

sustentação da instituição familiar, sobretudo para os adultos. Assim sendo, sobreleva-

se que a DRCT e seu tratamento não caracterizam impedimento direto e absoluto ao

trabalho. Todavia, causam algumas limitações significativas às pessoas, muitas vezes

acarretando afastamentos e/ou aposentadorias precoces e indesejáveis (XAVIER, 2014).

Estar inserido no mercado de trabalho, sendo considerado pela sociedade como

cidadão ativo e repentinamente ter que lidar com um diagnóstico de doença crônica e

afastamento da sua ocupação pode ser traumático para o cliente. A atividade laboral

pode ser considerada como estímulo residual na situação de afastamento e como tal,

interfere diretamente no mecanismo cognitor do cliente, gerando como resposta

sentimentos de impotencialidade, inutilidade e depressão.

Os entrevistados apontaram uma dificuldade de conciliar trabalho e estudo com

as sessões de hemodiálise. A maioria deles (75%) manifestou vontade de trabalhar, e

também esta mesma maioria já abandonou os estudos. O trabalho é visto não apenas

como fonte de renda, mas como uma forma de, perante a sociedade, não transparecer

impotência devido a patologia.

Neste contexto, a enfermagem (agente promotor do cuidado) deve tentar

minimizar as condições impeditivas para a atividade laboral, como por exemplo,

adequação de horários e dias de tratamento de acordo com o turno de trabalho, de modo

que o cliente (descrito como a pessoa no Modelo Adaptativo de Roy) esteja mais

confortável na adequação trabalho x tratamento e o ambiente contribua para a saúde do

mesmo.

Alguns estímulos internos, como sintomas pós-diálise como a hipotensão,

cãibras, náuseas e vômitos podem ser minimizados se o cliente seguir as orientações

sobre a ingestão de líquidos e alimentação, pois, na maioria das vezes, essas

complicações são decorrentes de uma ultrafiltração muito intensa para a remoção do

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excesso de líquidos ingerido no intervalo dialítico. Estes sintomas são frequentemente

citados como impeditivos ou dificultadores das atividades laborais.

Eu já tentei trabalhar. Era recepcionista, mas não deu certo. Eu faltava

quando não estava me sentindo bem depois da diálise e meu patrão sempre

reclamava, até que disse que tentou me ajudar, mas não dava mais. Não é só

pelo dinheiro sabe? É para me sentir útil! (Senhora Incrível)

Eu comecei um lava-jato porque conseguir emprego de carteira assinada

não dá. Quem vai contratar alguém que está sempre tendo problemas de saúde?

Só que não me mudaram para segundas, quartas e sextas (turno da diálise) e eu

faltava sábado porque era o dia que mais dava movimento. Fiquei internado

duas vezes e parei. (Robin)

Os clientes que possuem vínculo com trabalho são, geralmente, mais

independentes e possuem maior autoestima e autorrealização, e assim manifestam maior

satisfação com a convivência e suporte de amigos e familiares. Em contrapartida,

aqueles que não conseguem estabelecer e/ou manter um vínculo com trabalho tendem a

experimentar sensações de frustração, impotência e insatisfação com o tempo e apoio

que recebem de pessoas próximas (XAVIER, 2014).

Eu trabalhava na obra com meu pai, ajudava em casa. Mas quando

fiquei doente parei, parei até de ir à escola. Todo mundo lá ficava perguntando

muito e eu não queria responder aí não fui mais, já estava todo atrasado

mesmo. Só que agora como vou trabalhar? Não pode pegar peso (devido a

fístula arteriovenosa em membro superior direito)! (Homem de Ferro).

Clientes que não exercem atividade laboral apresentam mais sintomas de

depressão do que clientes que trabalham. O trabalho, quando gerador de sentido

existencial, tem estreita relação com o autoconceito e a autopercepção do papel social

(ANDRADE, 2015), como observado na fala a seguir.

Ahhh, às vezes eu choro. Imagina você novo ficar doente! Se eu pudesse

trabalhar não ia ter tempo de pensar as besteiras que às vezes penso. (Clover)

São fundamentais as ações que estimulem nas unidades de diálise a flexibilidade

dos horários de clientes que fazem hemodiálise, visando a permanência dessas pessoas

no mercado de trabalho para que seu papel profissional continue intacto na sociedade

(SANTOS, 2014).

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Uma das ações mais recorrentes nas falas dos entrevistados foi a impossibilidade

de ajustar seus horários de diálise com horários escolares ou de trabalho, o que os

ajudaria a manter-se ativos e minimizaria os danos ao cotidianos já impostos pela

doença e tratamento.

Dizem que para me trocarem tem que mexer com outro paciente e que eu

tenho que trocar o horário da escola, mas lá não tem vaga de manhã na minha

série. Eu falto dois dias na semana, mas os professores já sabem. (Batman)

Quando uma pessoa, que sustenta a família, é acometida pela doença renal,

ocasiona interferência no trabalho, tendo que se afastar dele, alguns muitas vezes sem a

qualidade de segurado pela previdência social, e fica a mercê, tendo que ser sustentado

por familiares.

Segundo Beuter (2013, p. 3562), 60,7% dos clientes em HD recebem subsídio de

doença ou aposentadoria. Os doentes em HD têm dificuldade em manter sua ligação

com trabalho, devido ao tempo dedicado ao tratamento e as limitações físicas e clínicas.

Essas situações podem ocasionar a saída do mercado de trabalho e a aposentadoria.

Apesar da pouca idade, todos os entrevistados recebem subsídio de doença ou

aposentadoria. Quando menores de idade recebiam auxílio de uma Organização Não

Governamental que distribui cestas básicas às famílias de menores de idade que estão

em programa de diálise. Atualmente, a renda dos benefícios é a forma como podem

ajudar a família.

O Modo Adaptativo de Função do Papel está diretamente relacionado a esta

categoria. Principalmente no que tange os papéis secundários, estes clientes são ceifados

de atuarem na sociedade como estudantes e/ou mão de obra ativa no mercado de

trabalho. Cabe a enfermagem observar e buscar colaborar na devida relação entra

trabalho/escola x tratamento.

Considerando-se que as pessoas interagem em grupos e sociedades, a adaptação

social deve ser uma preocupação da enfermagem tanto quanto a adaptação psicológica e

fisiológica. Os problemas relativos ao papel social exercem efeitos sobre a capacidade

de adaptação e manutenção da saúde. Assim como, as experiências de saúde e doença

afetam o desempenho de um papel social. Roy (2001, p. 51) destaca, ainda, que fatores

como idade, sexo e hereditariedade influenciam o comportamento da pessoa,

especialmente no que diz respeito ao modo de função de papel na vida real.

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CATEGORIA: PROBLEMAS ADAPTATIVOS

Dieta

Os pacientes com DRCT em programa regular de HD enfrentam um regime

terapêutico complexo e muitos deles têm dificuldade em gerir as restrições de líquidos e

da dieta, problema que está associado ao aumento do risco de mortalidade e ao

acréscimo de custos dos cuidados de saúde (CRISTÓVÃO, 2015).

Um dos grandes desafios para os pacientes em hemodiálise é seguir a dieta oral,

especialmente em razão das mudanças nos hábitos alimentares e do padrão

comportamental de cada um. Em muitos casos, é necessário restringir a ingestão de seus

alimentos favoritos, substituindo-os por outros, não tão agradáveis ao paladar (COSTA,

2014).

A dieta está diretamente relacionada aos sintomas das DRCT, ou seja, à

estímulos internos. Estes estímulos promovem respostas a partir tanto do mecanismo

regulador (que promove respostas fisiológicas) quanto ao mecanismo cognitor (que

promove respostas emocionais). A não adesão à dieta conduz o cliente a quadros de

hipertensão arterial, hipervolemia, hiperfosfatemia, hiperpotassemia, anemia, ou seja,

mesmo com a realização do tratamento hemodialítico, o quadro clínico permanece

descompensado. As respostas fisiológicas estão diretamente relacionadas à adesão ou

não à dieta recomendada. Porém, o que se observa é que as respostas promovidas pelo

sistema regulador são positivas quando há adesão à dieta e, nesta mesma situação, as

repostas promovidas pelo mecanismo cognitor são negativas. O cliente sente-se limitado

aos prazeres alimentares e, por vezes, relata ser este um dos piores aspectos

relacionados à DRCT.

A adesão á dieta está relacionado ao Modo Adaptativo Fisiológico proposto por

Roy, visto que uma das cinco necessidades básicas descritas nesse modo é a nutrição.

Roy (2001, p. 103) destaca a nutrição como uma série de processos através dos quais a

pessoa ingere e assimila o alimento necessário para a manutenção do funcionamento

orgânico, promoção do crescimento e substituição dos tecidos danificados. O nível de

nutrição de uma pessoa influencia todas as fases do metabolismo e desempenha um

papel primordial na saúde geral de todas as pessoas.

A dieta é um dos grandes desafios do cliente renal. Os sujeitos deste estudo

salientaram o quanto é difícil aderir e às recomendações principalmente no que tange

ingesta hídrica e de sódio.

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Beber? A gente nem pode beber nada! Na verdade nem comer! É

complicado porque tudo tem líquido entendeu? Arroz, feijão, fruta, tudo tem

líquido e conta com o que a gente bebe também! E ainda não pode comer sal,

tem que evitar umas coisas que tem fósforo... (Homem Aranha)

O equilíbrio da água dentro do corpo está relacionado com a ingestão e saída. A

água é introduzida no corpo sob a forma de bebidas e comida úmida e é um produto do

metabolismo. A água é perdida através da excreção da urina e das fezes, suor e

respiração. O mecanismo na sede regula a ingestão e a saída é regulada pelos rins

(ROY, 2001). Portanto, o cliente portador de DRCT deve ter um controle rígido de

ingestão líquida, uma vez que o mecanismo de excreção deste só é eficaz durante o

tempo de sessão de hemodiálise, ou seja, quatro horas a cada dois dias. O acúmulo de

volume hídrico no organismo é comum em clientes não adaptados à dieta, levando a

hipervolemia, que à curto prazo pode ocasionar edema agudo de pulmão e à longo prazo

hipertrofia cardíaca.

Melhorar a adesão deverá ser um desafio permanente, visto que, quanto mais o

cliente aderir a dieta, ter ganho de peso interdialítico igual ou inferior a 5% do peso

seco, mantiver níveis de potássio e fósforo controlados, reduzirá as complicações da

doença e do tratamento, resultando em melhor expectativa e qualidade de vida

(BEUTER, 2013).

A hipervolemia é umas das complicações mais frequentes aos clientes não

adeptos da dieta. A medida que o volume hídrico circulante aumenta, as trocas gasosas

são dificultadas e um quadro de dispnéia se instala. Desta forma, uma outra necessidade

básica descrita no modo fisiológico é afetada, a oxigenação. Segundo Roy (2001, p. 90),

a oxigenação dos tecidos corporais é um requisito prioritário para a adaptação

fisiológica da pessoa.

O ganho interdialítico acima de 5% do peso seco (peso ideal) é um dos fatores

predisponentes para uma série e complicações transhemodiálise, como a hipotensão

arterial, náuseas, vômitos, devido a síndrome do desequilíbrio, ou seja, a extração de

volume hídrico elevado em curto intervalo de tempo.

Elas (equipe de enfermagem) ficam regulando o quanto a gente bebe.

Tem que se pesar todo dia. Mas nesse calorão, perto da praia, como que não

bebe nada? Eu bebo mesmo! Às vezes até bebo cerveja com os amigos, mas sei

que vou chegar aqui igual um balão e passo mal. (Super Man)

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Algumas complicações como a hipotensão, caimbras, náuseas e vômitos podem

ser minimizados se o cliente seguir as orientações sobre a ingestão de líquidos e

alimentação, pois, na maioria das vezes, essas complicações são decorrentes de uma

ultrafiltração muito intensa para a remoção do excesso de líquidos ingerido no intervalo

dialítico.

Alguns clientes buscam maneira de se adaptarem de forma a não sofrerem com

as complicações do ganho de peso interdialítico, que normalmente são hipotensão,

náuseas, vômitos. Além disso, são orientados para os danos cardíacos provocados a

longo prazo pelo aumento do volume sanguíneo circulante.

A dieta é a parte ruim demais, tem partes ruins, mas essa é ruim demais.

Eu tenho uma garrafinha, encho de manhã e é ela que posso tomar o dia inteiro.

Mas aí não posso café, não posso sopa, não posso suco. Se tomar alguma coisa

tenho que ir lá e jogar um pouquinho da água da garrafinha fora. (Clover)

Eu chupo gelo, uma pedrinha por vez, aí a agua fica mais tempo na

boca. (Senhora Incrível)

Um dos papéis da equipe de enfermagem é atuar permanentemente na adesão ao

tratamento, o que inclui a dieta. Os entrevistados reconhecem a enfermagem como

atuante nesta função, porém alguns se queixam por julgarem que estão sendo

“invadidos” na autonomia do tratamento.

Eu sei que as enfermeiras tem que falar isso, mas fala uma vez que a

gente entende! Querer fazer já é outra estória! Elas explicam, a gente sabe que

faz mal, que não devemos fazer, mas eu escolho se faço ou não. É chato vir pra

cá e ficar recebendo bronca! (Super Man)

A não aderência ao regime dietético, que se reflete mais agudamente no excesso

de líquidos, interfere no equilíbrio hídrico do cliente, podendo causar desde edema

agudo de pulmão até a morte.

A adesão à dieta está inserida em um conjunto de fatores relacionados ao

autocuidado. Cristóvão (2015, p. 1155) define autocuidado como uma atividade

autoiniciada e realizada pelo indivíduo para manter a vida, a saúde e o bem-estar. O

apoio de enfermagem implica suprir as necessidades de saúde da pessoa que não é

capaz, não sabe, não pode, ou não deseja realizar os requisitos de autocuidado.

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As restrições alimentar e hídrica são fundamentais para o sucesso do tratamento

e para o bem-estar do indivíduo, mas podem ser fonte de frustração por modificar

hábitos do cotidiano e impor diversas privações.

CATEGORIA: PROBLEMAS ADAPTATIVOS

Dor

A dor é mais do que um sintoma, é uma experiência ou sensação, que pode estar

associada à lesão real ou potencial nos tecidos, tem uma interpretação subjetiva e

pessoal e compreende aspectos sensitivos, afetivos, autonômicos e comportamentais. A

dor resulta em alterações biológicas, psicossociais e sofrimento, que se manifestam na

qualidade do sono, trabalho, deambulação, humor, concentração, relação familiar e

atividade sexual. Dessa forma, a dor também induz limitações físicas que comprometem

a execução de atividades diárias e repercutem negativamente na qualidade de vida

(MARQUES, 2016).

Nesse contexto, sabe-se que o paciente renal crônico refere sentir diferentes tipos

de dor, de intensidade e localização variáveis. Essa queixa associa-se a elevada

incidência de doença óssea, a perda progressiva de massa muscular, a incidência de

doenças crônicas debilitantes como o diabetes mellitus, a doenças neurológicas e a

obstruções vasculares. Ademais, durante a hemodiálise podem ocorrer intercorrências

relacionadas ao tratamento, que causam dor (SILVA, 2013).

A dor envolve a estimulação de certos receptores sensoriais e merece

consideração especial, devido ao fenômeno das pessoas que experimentam a dor ser

umas das áreas mais significativas na prática da enfermagem (ROY, 2001). A

enfermagem, como agente promotor do cuidado, deve estar atenta às condições que

promovam estímulos internos ou externos que levarão a dor. No âmbito do setor de

hemodiálise, este cuidado pode envolver estímulos ambientais, como a temperatura

ambiente, o calibre da agulha a ser utilizada, a prescrição médica de ultrafiltração; ou

estímulos internos, como a condição de acesso venoso a ser utilizado.

Quando eu sento naquela cadeira (poltrona de hemodiálise) já fico nervoso, só

de saber que as agulhas estão chegando. Chego suar! (Clover)

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A dor é considerada um estímulo interno e focal, visto que, na situação em que

ocorre é o principal estímulo para promoção de respostas. Considerando o sistema

humano proposto no Modelo de Adaptação de Roy, a dor promove respostas tanto no

mecanismo regulador, como por exemplo, contração muscular, náuseas, vômitos; como

no mecanismo cognitor, como depressão, irritabilidade.

A dor é um fator importante e recorrente no cotidiano do cliente submetido a

hemodiálise. O acesso venoso permanente, a fístura arteriovenosa, deve ser puncionada,

no mínimo duas vezes, a cada sessão de hemodiálise, no entanto não é raro uma terceira

ou até mais punções. Também é a fístula a maior responsável pelas queixas de dor

mesmo nos momentos fora da sessão de hemodiálise, principalmente quando há

complicações como trombose ou hipofluxo para as extremidades. A dor é um fator

associado ao Modo Adaptativo Fisiológico.

A proteção é um importante fator relacionado ao modo fisiológico, sendo a

função principal da pele. A pele funciona como mecanismo de proteção para o corpo

humano, através do fornecimento de uma barreira física contra a infecção e matérias

estranhas (ROY, 2001, p.178). Para que seja possível a sessão de hemodiálise, é

necessário que a barreira física da pele seja rompida pelas agulhas, que abrem portas

entre o meio externo e a corrente sanguínea do paciente. Esse processo de punção

venosa, por agulha de grosso calibre, própria para fornecer fluxo adequado de sangue

para hemodiálise é descrito como fonte de dor intensa.

O problema da fístula é que tem que furar toda vez. E eu já criei até

problema com a enfermeira porque a gente se acostuma com uma pessoa

furando ela vai lá e troca. (Super Man)

Eu queria que inventassem uma coisa que não precisasse furar toda vez.

Dói muito! E ainda tem o risco de fazer hematoma e doer mais ainda! A fístula

dói desde sempre, desde quando faz até o dia que não for dialisar mais. (Clover)

Eu queria ter ficado com o cateter, o cateter não dói, mas não pode

molhar o curativo, é ruim de tomar banho e dá infecção. O problema da fístula é

que dói, eu já saio de casa pensando na agulha e na hora da diálise nem pisco

para não precisar furar de novo. (Thor)

Geralmente, as pessoas com uma dor aguda mostram sinais visíveis de

sofrimento. A ansiedade está quase sempre presente, o semblante assume uma

expressão rígida, músculos tensos, aumento da pressão sanguínea e dos ritmos cardíacos

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e outras manifestações comportamentais individualizadas relacionadas ao desconforto

podem ser observadas (ROY, 2001).

A dor está diretamente relacionada ao cuidado do cliente com a fístula

arteriovenosa (FAV). As FAVs com mais tempo de uso costumam doer menos o que

leva o cliente a evitar que um novo procedimento cirúrgico seja necessário para a

confecção de um novo acesso e o processo ser reiniciado.

Eu não pego peso com esse braço não, já pensou fazer outra fístula?

Começar tudo de novo!!! Essa aqui dói para furar, mas no início doía muito

mais! Acho que se essa aqui parar de funcionar eu fico até uns dias sem fazer

diálise! (Homem Aranha)

Eu cuido muito do meu braço porque se perder essa fístula tem que botar

cateter e fazer outra. Quando a fístula é nova dói mais para botar a agulha e tem

mais risco de fazer hematoma, aí que dói mesmo. (Homem de Ferrro)

Outra complicação frequente no paciente em hemodiálise são as cãimbras,

normalmente antecedidas por hipotensão arterial, que provocam fortes dores devido a

contraturas musculares involuntárias, predominantemente nos membros inferiores, na

segunda metade da sessão de hemodiálise (FRAZÃO, 2014).

As câimbras são, juntas a hipotensão, as complicações mais frequentes durante

as sessões de hemodiálise e estão diretamente relacionadas à condição de hipervolemia.

E as cãimbras? Não dá para explicar! Fica até dolorido depois! Basta

eu abusar no líquido que sei que vou ter câimbras. (Super Man)

Tenho muita cãimbra, principalmente no final da diálise. Quando

começo a sentir câimbras eu fico contando os minutos para acabar a diálise e

eu ir embora! (Senhora Incrível)

Diante disso, considera-se importante que o enfermeiro que atua em unidade

renal auxilie o paciente na identificação dos tipos de dor, com o objetivo de elencar

estratégias, farmacológicas ou não, para o seu alívio. Torna-se necessária atenção às

manifestações de dor apresentadas por esse grupo de pacientes, com emprego de novos

procedimentos para seu tratamento.

Dentre as sensações dolorosas comuns a pacientes em tratamento hemodialítico,

a dor óssea é frequentemente referida e resulta em limitações físicas com

comprometimento nas atividades do cotidiano, com repercussões negativas na qualidade

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de vida (SILVA, 2013). Neste estudo, porém, a dor óssea não foi referida em nenhum

dos discursos, o que nos induz a conclusão que, por se tratarem de jovens, a DRCT

ainda não estava manifesta por período de tempo suficiente para causar danos ósseos.

CATEGORIA: ADAPTAÇÃO POSITIVA

Fé / religiosidade

A religião e a espiritualidade são constructos que recebem cada vez mais ênfase

na assistência à saúde, na medida em que são comumente percebidos como uma forma

de atribuir sentido à vida, de ter esperança e estar em paz em meio a acontecimentos

graves, como a doença crônica (JUNIOR, 2015).

A religião pode ser compreendida como uma expressão parcial da própria

espiritualidade, praticada por meio de tradições, cerimônias e leituras sagradas. A

religião é transmitida por meio da cultura e é acompanhada de dogmas e doutrinas;

enquanto a espiritualidade, pode ser entendida como a essência de uma pessoa, como

uma busca de significado e propósito em sua vida.

Na esfera do Modelo Adaptativo proposto por Roy, a fé é um estímulo focal

interno que promove, por meio do mecanismo cognitor, sentimentos como segurança,

conforto, acolhimento, amor. Por meio da fé e religiosidade o cliente promove

mobilizações emocionais que o conduzem a melhor aceitação do diagnóstico e

tratamento e uma adaptação eficaz.

Ao empregar recursos religiosos como alternativa de enfrentamento às condições

adversas de saúde, o paciente está utilizando coping religioso, que pode ser definido

como uso das crenças religiosas para compreender e lidar com os agentes estressores da

vida (VALCANTI, 2012).

Ahhh a gente chora sim, somos humanos! Mas minha mãe sempre diz

que Deus não nos dá uma cruz que não consigamos carregar e eu acredito

nisso! Eu não vou a igreja com ela mas eu faço minhas orações e acredito em

Deus sim. Isso ajuda bastante. (Clover)

Eu vou a igreja sim, gosto de ir. Meus amigos de lá são os que mais me

apoiam até hoje. Peço a Deus para me dar forças, porque têm dias que a gente

fica cansado disso tudo aqui, mas depois passa. Só por Deus mesmo! (Homem

de Ferro)

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A fé pode ser classificada como comportamento adaptativo, visto que pode ser

um instrumento adotado pelo cliente para minimizar o impacto da doença e do

tratamento em sua vida, promovendo a integração e a totalidade dos objetivos do

sistema humano. Fé e religião nem sempre estão interligadas, porém a presença da fé,

independente da presença regular em um templo, permite ao cliente buscar forças para

enfrentar as adversidades impostas pela patologia.

Estudiosos, dedicados a avaliar e documentar os efeitos da espiritualidade e da

religião na saúde têm apontado uma relação positiva entre vários aspectos do bem-estar

físico e mental, bem como, têm considerado que essas podem funcionar como um

suporte diante de situações difíceis, de eventos traumáticos e/ou de estresse

(VALCANTI, 2012). Nesse contexto, tanto a espiritualidade como a religiosidade

podem ser compreendidas como importantes estratégias de enfrentamento de doenças.

A religiosidade é considerada uma variável que apresenta efeitos positivos nos

aspectos biopsicossocial, espiritual, ambiental e na saúde dos indivíduos, sendo

reconhecida como possível fator de prevenção ao desenvolvimento de comorbidades,

pois é utilizada pelos indivíduos em situação de adoecimento como forma de buscar

melhora e força para o enfrentamento da doença, podendo, assim, desempenhar uma

função importante na melhoria da qualidade de vida do cliente (NEPOMUCENO,

2014). Desta forma, a fé está incluída no Modo Adaptativo da Interdependência, onde o

cliente busca por meio de sentimentos e afetos a energia para manter uma boa qualidade

de vida mesmo diante de adversidades.

Segundo Roy (2001, p. 51), os sistemas de crenças, como componente da

cultura, envolvem crenças espirituais, práticas e filosofias e podem influenciar todos os

aspectos da vida da pessoa. Tal como pode ser o maior sistema de apoio para a pessoa,

tendo influência específica nas práticas médicas e na adaptação.

Júnior (2015, p. 616-617) destaca ainda que a religião tem levado conforto aos

familiares, além de ser uma forma de apoio, visto que a comunidade religiosa estimula o

envolvimento entre seus membros, facilitando compartilhar experiências. A religião

também promove interação social e apoio entre a família e os demais membros da

sociedade. Portanto, vê-se que, além do paciente, a associação entre religião e

espiritualidade é igualmente benéfica aos familiares que convivem com o portador de

DRCT.

É importante que profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros que estão

constantemente ao lado do paciente, compreendam o significado da espiritualidade e da

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religião para este e como a doença renal crônica pode influenciar na forma com que

lidam com tal experiência, para que, na prática clínica, tais fenômenos possam ser

realmente parte do cuidado holístico.

CATEGORIA: ADAPTAÇÃO POSITIVA

Apoio familiar

As repercussões da DRCT ocorrem tanto na própria vida do doente quanto na do

seu grupo familiar, afetando as várias dimensões do ser humano, sejam elas de ordem

física, psicológica, econômica ou social. A família precisa se reorganizar e também se

adaptar, pois o paciente necessita de cuidados. Os papéis e funções devem ser

repensados e distribuídos de forma que se auxilie o paciente na elaboração de

sentimentos confusos e dolorosos, provocados pelo processo do adoecer.

O círculo familiar é um estímulo ambiental externo que atua diretamente no

mecanismo cognitor do cliente portador de DRCT. Como resposta o que se observa é o

cuidado mútuo entre cliente e família e uma adaptação eficiente de todo esse círculo.

A família é o principal agente cuidador ao portador de doença renal terminal

crônica e também um estímulo influenciador externo muito frequente, considerando sua

estrutura o papel associado a cada membro. Mesmo nas terapias que não dependem

diretamente do cuidado domiciliar, como a hemodiálise, a família é o principal porto

seguro do doente. Diferentes aspectos foram descritos como cuidado pelos

entrevistados, porém todos convergindo a um denominador comum que é o afeto e amor

envolvido.

Nem sei como seria se não fosse minha família. Até minha avó veio para

minha casa no início. Hoje em dia minha mãe faz comida separada para mim,

fica comigo quando chego passando mal da diálise, às vezes é até chata! (risos)

Porque toma conta do que eu bebo, do que eu como, mas eu sei que é cuidado.

(Senhora incrível)

Minha família me apoia muito. Meus pais fizeram até exame para saber

se podiam me doar um rim. Meu pai paga a pensão do meu filho porque eu não

posso trabalhar e ainda não consegui me aposentar. Minha mãe até tenta me

fazer seguir a dieta mas eu não sou muito obediente não... (risos) (Thor)

É importante salientar que a família pode servir como fonte para o

enfrentamento da doença e de suas conseqüências, uma vez que ela faz parte do

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contexto no qual o indivíduo está inserido. Muitas vezes, a experiência do adoecimento

leva ao fortalecimento das relações familiares.

Beuter (2013, p. 3564) destaca a importância do apoio da família, que tem a

responsabilidade social de proteção e socialização de seus membros. Na condição de

portador de uma doença crônica, a busca pelo apoio familiar se intensifica. A equipe de

saúde deve incentivar o envolvimento e comprometimento da família na assistência, de

maneira a possibilitar uma aderência mais eficaz, atendendo às necessidades específicas

do cliente.

Eu fiquei até mais próximo da minha mãe. Quando eu fiquei doente era

adolescente, que não quer muito obedecer mãe né?! Mas quando eu fiquei

internado ela deixou meus irmãos com a vizinha para ficar lá comigo e ela para

tudo! Hoje em dia a gente briga de vez em quando, por causa da dieta sempre!

Mas sem ela ia complicar! (Homem Aranha)

A família é apontada como um baluarte no acompanhamento aos locais de

tratamento, no auxílio financeiro para a compra de medicamentos e na doação de rins

destinada a transplantes dos pacientes (COSTA, 2014), de maneira que, se insere no

Modo Adaptativo da Interdependência proposto por Roy.

O modo de interdependência centra-se nas interações relacionadas com dar e

receber amor, respeito e valor através das relações com outros indivíduos significativos

e com sistemas de opoio, como grupos de amigos. A necessidade básica deste modo

adaptativo é relacionar-se com um sentimento de segurança em alimentar relações, o

que denomina-se de adequação afetiva (ROY, 2001).

Eu nem sei o que dizer da minha mãe. Ela me adotou e eu fiquei doente e

ela cuida mais de mim do que dos meus irmãos que nasceram dela! Ela me traz

e fica me esperando lá fora toda diálise! Ela que ajuda com a escola, eu só

comecei a estudar mesmo depois que fui morar com ela e meu pai. Eles até

tentaram me doar um rim sabia? (Clover)

Até meu irmão pequeno disse que queria me dar um rim, aí eu disse que

tinha que fazer operação e ele disse que então não! (risos) Eu sei que ele não

podia me dar porque o rim dele é de criança, mas eu fiquei feliz porque ele

queria me ajudar. (Robin)

No que diz respeito à família, a sua participação em todo o processo do

tratamento torna-se essencial, uma vez que o paciente se sentirá apoiado e seguro para

dar continuidade ao tratamento.

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CATEGORIA: ADAPTAÇÃO POSITIVA

Vínculo cliente / enfermagem

O apoio profissional é fundamental para que o indivíduo e sua família possam

assimilar e responder melhor à vivência da doença crônica e ao tratamento. A equipe de

enfermagem é um fator importante na adesão ao tratamento do cliente renal crônico.

Cabe à enfermagem, além de observar os aspectos clínicos do tratamento, orientar,

supervisionar, ensinar e buscar melhores maneiras de proporcionar condições de

adaptação cliente-tratamento. Os constantes encontros entre equipe e cliente (que vai a

unidade de diálise no mínimo três vezes na semana) inevitavelmente cria um vínculo

entre as partes, o que é valorizado pelos pacientes.

Um dos elementos propostos no Modelo Adaptativo de Roy é a enfermagem. Ela

é o agente promotor de cuidados e tem como responsabilidade atuar juntos aos demais

elementos (ambiente, saúde e pessoa) para que as respostas apresentadas diante aos

estímulos (interno e externos) configurem uma adaptação positiva.

Roy (2001, p. 34) define o objetivo da enfermagem como sendo a promoção da

adaptação nos quatro modos, contribuindo, através disso, para a saúde da pessoa,

qualidade de vida e morte com dignidade.

A equipe é igual mãe né?! O papel deles é puxar nossa orelha porque

bebemos líquido demais, brigar porque faltamos uma sessão de diálise, porque

não trouxemos o remédio... Eu fico rindo, brinco com elas, gosto delas. E

também dependo delas, elas que botam nossas agulhas, que mexem nas

máquinas, que socorrem quando passamos mal. (Robin).

Algumas enfermeiras são minhas amigas mesmo! Conto várias coisas

para elas durante as quatro horas que passo lá dentro. Gosto muito delas! Até

para me dizer que abusei no líquido elas tem um jeitinho. Falam sorrindo

porque aí a gente fica até sem graça... Sei que elas gostam de mim também!

(Homem de Ferro).

Os depoimentos demonstram a importância da equipe de saúde para os usuários

na prestação de um atendimento efetivo, contribuindo para proporcionar segurança, na

medida em que há um real investimento nas relações interpessoais.

Cada pessoa lida de forma diferente com as mudanças no seu estado de saúde, e

é de responsabilidade da enfermagem auxiliar as pessoas a adaptarem-se a estas

mudanças. Ela deverá ser capaz de identificar o nível de adaptação e as capacidades de

resistência, identificar dificuldades e intervir para promover a adaptação (ROY, 2001).

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O vínculo existente entre a equipe de enfermagem e o cliente torna-se intenso,

pois o tratamento hemodialítico é contínuo. Este vínculo por vezes se torna facilitador

para a assistência quando ampliamos nossa capacidade de observação, tanto para os

aspectos objetivos relativos ao procedimento técnico, como para os aspectos subjetivos

da clientela relativos à singularidade da comunicação corporal (MOREIRA, 2013).

A gente cria uma amizade. E eu sei que sou importante para elas. Elas

ficam felizes quando não venho pesado, me dão parabéns, mas isso é raro! Ás

vezes quando esqueço o remédio, elas conseguem emprestado... Mesmo eu não

seguindo muito o que elas falam, gosto delas... Mas eu gosto mesmo de ver a

briga que é quando eu trago uma sacola de jambo! (risos) Todas me agradecem!

(Super Man)

Assim como nas duas categorias anteriores, também esta está relacionada ao

Modo Adaptativo da Interdependência, sendo o afeto, desta vez, uma associação entre

equipe de enfermagem e cliente. De acordo com Roy (2001, p. 439), a adequação

afetiva incorpora a necessidade de ser cuidado, incluindo necessidades pessoais de

cuidados e atenção, afirmação, aprovação e compreensão.

As três categorias inseridas no Modo Adaptativo da Interdependência descrevem

respostas positivas, enquanto as demais são compostas por problemas adaptativos.

IDENTIFICANDO OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DA TEORIA ADAPTATIVA DE

CALLISTA ROY

A partir da análise dos dados e considerando o Modelo Adaptativo proposto por

Callista Roy, identificou-se cada elemento essencial da Teoria de Roy dentro da esfera

em que o estudo foi realizado. Sendo assim, o elemento pessoa, que Roy define como

“o ser cuidado” neste contexto, é o adulto jovem em programa regular de hemodiálise.

O ambiente, que na teoria de Roy se define como “todas as condições,

circunstâncias e influências que circundam e afetam o desenvolvimento e o

comportamento de pessoas”, neste contexto, é composto pelo ambiente físico onde é

realizado o tratamento, além de todas as vivências experimentadas pelo cliente.

A saúde (terceiro elemento essencial da teoria de Roy), no contexto do jovem

adulto em hemodiálise representa o equilíbrio fisiológico e psicológico entre a

patologia, o tratamento e a qualidade de vida do cliente.

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Por fim, temos o último elemento essencial, a enfermagem, promotora de

cuidados e de adaptação nos quatro modos adaptativos propostos nesta teoria (modo

fisiológico, modo do autoconceito, modo da função de papel e modo da

interdependência).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo tratou do cuidado na abordagem de Callista Roy ao adulto jovem

hemodialisado e seus enfrentamentos na transição saúde-doença. Objetivou descrever os

enfrentamentos vividos no processo de transição saúde-doença do adulto jovem com doença

renal crônica terminal em hemodiálise, identificar os modos de adaptação propostos por

Callista Roy nesta população e compreender a relação entre os enfrentamentos vivenciados

e o cuidado de enfermagem frente ao processo adaptativo do jovem em hemodiálise.

Os objetivos propostos forma alcançados a partir da participação de oito sujeitos da

pesquisa, que atendiam aos critérios de inclusão/exclusão, em duas unidades satélites de

hemodiálise no interior do estado do Rio de Janeiro, submetidos à entrevista semi-

estruturada, tomando como base o método de pesquisa-cuidado.

Os dados foram tratados por meio da análise temático-categorial de Bardin e

tomando como base conceitual o Modelo de Adaptação de Callista Roy.

A partir da análise dos dados e atendendo às cinco etapas propostas no método da

pesquisa-cuidado, foram extraídas sete categorias, analisadas considerando os aspectos

adaptativos propostos por Callista Roy em seu modelo.

Diante da classificação de cada categoria temática foi possível identificar os modos

adaptativos propostos por Roy nos adultos jovens hemodialisados e compreender como sua

significação, de forma a considerá-las durante a adequação ao tratamento, buscando guiá-las

em direção à adaptação positiva.

O Modelo Adaptativo de Roy permite a identificação dos estímulos e a associação

dos mesmos com mecanismos de respostas, o que nos leva a compreender de maneira mais

clara como podemos atuar para que a resposta a determinado estímulo possa ser uma

adaptação positiva.

A partir deste ponto, foi possível analisar os enfrentamentos vivenciados pelos

clientes (medo da morte, trabalho/estudo, dieta, dor, fé/religiosidade, apoio familiar, vínculo

cliente/enfermagem) e os cuidados da equipe de enfermagem frente ao processo adaptativo,

de forma a facilitar a inclusão de cuidados que não tangem apenas a esfera clínica do

cliente.

Adentrar na subjetividade desses clientes e percebê-los em suas múltiplas dimensões

propiciou compreender as adversidades por eles vividas, e a maneira pela qual eles buscam

extrair das situações da vida elementos que contribuam para a sua adaptação e

fortalecimento.

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Após iniciarem o tratamento, a vida social dos pacientes se altera de tal forma

que ficam impedidos de viajar devido ao tratamento, deixam de visitar amigos e

vizinhos, sentem-se inválidos e muitas vezes sem assunto, a não ser falar de sua própria

doença.

Alguns estudos analisam positivamente a participação da família e da equipe

assistencial, as quais são consideradas como medidas de suporte nas estratégias de

enfrentamento adotadas pelos clientes. Além disso, a fé, a religião e a resiliência podem

ser utilizadas como medidas para lidar e compreender os agentes estressores.

Salienta-se que o desafio configurado no cuidar do indivíduo com doença renal

crônica terminal em terapia renal substitutiva caracteriza-se, também, pela atenção à

complexidade de seu quadro clínico e emocional, normalmente presentes. Alerta-se para

uma imperiosa necessidade de construção e apropriação de novos conhecimentos,

visando nortear caminhos alternativos, pautados nas carências de cuidado da pessoa e na

busca da promoção de seu bem-estar.

A partir da compreensão das experiências e expectativas do adulto jovem em

hemodiálise, a equipe de enfermagem é capaz de introduzir em seu plano de cuidados

atenção holística ao paciente, buscando atender suas demandas clínicas, sociais,

emocionais, laborais e outras que por ventura surgirem, o que torna este estudo de

extrema relevância tanto para a clientela quanto para a equipe de enfermagem.

Infelizmente, ainda existem muitos profissionais de saúde, ao invés de

direcionarem sua atenção para a pessoa doente, focalizam a doença da pessoa,

perpetuando assim o reducionismo do modelo biomédico. É um desafio libertar os

profissionais da saúde dessa preocupação mórbida em relação aos processos do corpo e

da visão técnica reducionista e desumanizante do tratamento.

Cada vez mais observa-se a necessidade dos profissionais de saúde

compreenderem os pacientes em programa de hemodiálise, como um tratamento

considerado inevitável, inadiável e que tem consequências diretas por toda a vida do

paciente, evitando assim serem agentes desencadeadores de novos conflitos e tensões.

Neste contexto a Teoria do Modelo Adaptativo de Roy, atrelada às vivências desta

população pôde, neste estudo, esclarecer aspectos influenciadores na adaptação dos

clientes ao tratamento e basear o cuidado de enfermagem na promoção de

comportamentos adaptativos.

Convém destacar que o cliente com doença renal crônica terminal se depara com

inúmeras perdas, geralmente o emprego, o vigor físico, tendo que se habituar com

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restrições alimentares e comparecer à clínica para dialisar três vezes por semana. Além

disso, enfrenta uma lista de espera por um transplante renal. Acerca dessas questões a

equipe de saúde deve estar preparada, dialogando entre si e com os clientes para,

conjuntamente, estabelecer planos de ação a curto, médio e longo prazos, que

oportunizem um satisfatório enfrentamento da doença e do tratamento.

A partir deste primeiro passo dado, novos estudos poderão ser realizados

tomando este já concluído como base, de forma que, o cuidado ao adulto jovem

portados de Insuficiência Renal Crônica seja cada vez mais holístico e eficiente, estando

cada vez mais presente na esfera científica do cuidado.

Apesar de não se tratar da temática central deste estudo, durante os anos de

prática profissional na assistência ao adulto jovem hemodialisado, pude observar a

ocorrência de casos de suicídios nesta população, o que sugere que esta população

também deve ser alvo de estudo da saúde mental, com contribuições essenciais ao

cuidado holístico à este público.

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87

8. APÊNDICE

8.1 Diagrama 2: Resumo das categorias temáticas extraídas dos discursos

Problemas

Adaptativos

Medo da morte

Modo Fisiológico

Modo do Autoconceito

Trabalho / estudo Modo da Função

de Papel

Dieta Modo Fisiológico

Dor Modo Fisiológico

Adaptação

Positiva

Fé / religiosidade Modo da

Interdependência

Apoio familiar Modo da

Interdependência

Vínculo cliente

/ enfermagem

Modo da

Interdependência

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8.2 Roteiro da entrevista

Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa - EEAAC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS DO CUIDADO EM SAÚDE – MACCS

Projeto de Pesquisa: Os enfrentamentos vividos pelo jovem hemodialisado no processo de transição

saúde-doença: Uma abordagem do cuidado na perspectiva adaptativa de Roy.

ROTEIRO DA ENTREVISTA

1. Identificação

1.1. Pseudônimo (personagem desenho animado):

1.2. Idade:

1.3. Gênero:

1.4. Religião:

1.5. Escolaridade:

1.6. Profissão:

2. Dados do tratamento

2.1. Tempo em programa de hemodiálise:

2.2. Frequência do tratamento:

2.3.. Duração da sessão de hemodiálise:

2.4. Acesso para hemodiálise atual:

3. Dados da pesquisa

3.1. Quais foram os seus sentimentos ao receber a informação que deveria fazer hemodiálise?

3.2. Alguém mais na sua família faz hemodiálise?

3.3. Você já tinha ouvido falar em hemodiálise antes de iniciar o tratamento?

3.4. Desde que você começou a hemodiálise, o que mudou na sua vida?

3.5. Qual é a sua maior dificuldade com relação à hemodiálise?

3.6. Como ficou sua relação com a sua família depois que você iniciou o tratamento?

3.7. Você acredita que exista alguma coisa que possa ser feita para melhorar a vida de quem

precisa fazer hemodiálise?

3.8. Qual é a importância do trabalho da equipe de saúde que te atende no seu tratamento?

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9. ANEXOS

9.1.Cuidados com o uso de agentes farmacológicos em pacientes com DRC e

agentes com potencial nefrotoxicidade renal.

Agente Cuidados específicos na DRC

1. Anti-hipertensivos e medicações

para doenças cardíacas.

IECA / BRA, antagonista da aldosterona,

inibudores diretos da renina

- Evitar em pacientes com suspeita de

estenose da artéria renal;

- Iniciar com doses menores do que as

habituais em pacientes com TFG < 45

ml/min;

- Avaliar TGF e potássio sérico após a

sua introdução;

- Suspender temporariamente nos casos

de exames contrastados, preparo para

colonoscopia, grandes cirurgias;

- Não suspender, rotineiramente, se TFG

< 30 ml/min

Beta-bloqueadores

- Reduzir a dose em 50% nos pacientes

com TFG < 30 ml/min

Digoxina

- Reduzir a dose baseada em nível sérico

2. Analgésicos

Anti-inflamatórios não hormonais

- Evitar em pacientes com TFG < 30

ml/min;

- Terapia prolongada não é recomendada

em pacientes com TFG < 60 ml/min;

- Não devem ser usadas em pacientes

utilizando Litium;

- Evitar em pacientes usando IECA /

BRA.

Opióides

- Reduzir a dose se TFG < 60 ml/min;

Uso com cautela se TFG < 15 ml/min.

3. Antibióticos

Penicilina

- Risco de cristalúria com altas doses se

TFG < 15 ml/min;

- Risco de neurotoxicidade com altas

doses de Benzilpenicilina se TFG < 15

ml/min.

Aminoglicosídeos

- Reduzir a dose ou aumentar os

intervalos se TFG < 60 ml/min;

- Nesses casos, monitorar o nível sérico;

- Evitar uso concomitante com

Furosemida.

Macrolídeo - Reduzir a dose em 50% se TFG < 30

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ml/min

Fluorquinolona - Reduzir a dose em 50% se TFG < 15

ml/min

Tetraciclinas - Reduzir a dose quando TFG < 45

ml/min

Antifúngicos

- Evitar anfotericina, a menos que não

haja outra opção, quando TFG < 60

ml/min;

- Reduzir dose de manutenção de

Fluconazol e, 50% se TFG < 50 ml/min.

4. Agentes para tratamento de

Diabetes

Sulfoniluréias

- Evitar glibenclamida se TFG <

30ml/min;

- Reduzir a dose em 50% da glicazida se

TFG < 30 ml/min;

Insulinas

- Pode necessitar de redução de dose

quando TFG < 30 ml/min

Metformina

- Evitar quando TFG < 30 ml/min;

- Rever o uso quando TFG < 45 ml/min.

5. Redutores de colesterol

Estatinas - Não há recomendação de ajuste de

dose

Fenofibrato - Pode aumentar o nível de creatinina

sérica após o seu início. Deve-se ter

cautela quando introduzido em pacientes

com TFG < 30 ml/min.

6. Quimioterápicos

Cisplatina - Reduzir a dose quando TFG < 60

ml/min;

- Evitar se TFG < 30ml/min.

Melfalan - Reduzir a dose se TFG < 60 ml/min.

Metotrexate

- Reduzir a dose se TFG < 60 ml/min;

- Evitar, se possível, se TFG < 15

ml/min.

7. Anticoagulantes

Heparina de baixo peso molecular

- Considerar heparina convencional (não

fracionada) se TFG < 30 ml/min

Warfarina

- Aumenta o risco de sangramento se

TFG < 30 ml/min;

- Utilizar baixas doses e monitorizar

mais frequentemente se TFG < 30

ml/min.

8. Radiocontraste

- Pacientes com TFG < 60 ml/min

devem:

- Evitar agentes com alta osmolaridade;

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- Usar baixas doses, se possível;

- Descontinuar outros agentes

nefrotóxicos antes do exame

contrastado, se possível;

- Adequar hidratação antes e após a

exposição ao contraste;

- Medir a TFG após o contraste.

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9.2 – Parecer consubstanciado de aprovação pelo Comitê de Ética em

Pesquisa

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9.3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido