2 - apostila caracteristicas

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  • (Verso Preliminar Alterada) por Ana Beatris Souza de Deus Brusa

    Outubro 2008 1

    Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia

    Departamento de Hidrulica e Saneamento

    MATERIAL DE APOIO A DISCIPLINA: CARACTERSTICAS QUALITATIVAS HDS 1002 ABASTECIMENTO E TRATAMENTO DE GUA

    Verso Preliminar Outubro 2008 Profa. Ana Beatris Souza de Deus Brusa

    Eng. Civil, Dra. Recursos Hdricos e Saneamento Ambiental

    1 - Distribuio das guas no Planeta Terra A seguir apresentada de forma resumida, a situao dos recursos hdricos, porm, as questes ambientais levantadas esto presentes no somente no Brasil, mas em todo mundo, demonstrando a crise da gua em quantidade e qualidade existente.

    A quantidade total de gua no Planeta Terra no aumenta nem diminui: sempre o mesmo. Na natureza, a gua e a umidade se encontram em contnua circulao, atravs do Ciclo Hidrolgico (Figura 1). As guas dos oceanos, rios, lagos, da camada superficial dos solos e das plantas evaporam-se por ao dos raios solares. O vapor formado vai constituir as nuvens que, em condies adequadas, condensam-se, precipitando-se em forma de chuva, neve ou granizo.

    Figura 1 Representao esquemtica do Ciclo Hidrolgico. Fonte: von Sperling, 1996.

    Quando ocorre a precipitao (chuva), uma parte da gua escorre superficialmente, alimentando os rios, lagos (lagoas) e oceanos; outra se infiltra no solo e uma ltima parte volta a

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    formar nuvens, regressando atmosfera atravs da evaporao. um ciclo sem fim. Assim como a esponja absorve a gua, os solos fazem o mesmo durante a infiltrao, constituindo o que chamamos de guas subterrneas. As guas so armazenadas em diferentes profundidades e essas reservas so alimentadas por rios, lagoas, canais e guas provindas de degelo. Cerca de 97,5% de toda a gua do planeta se encontra nos oceanos e mares; 1,5% concentra-se nas geleiras e calotas polares; 0,64% corresponde s guas subterrneas e somente 0,36% em lagos, lagoas, rios e arroios. Sendo que do volume total de guas doces (2,5%), nem toda gua realmente aproveitada devido inviabilidade tcnica e financeira. A quantidade de gua considerada de fcil acesso para satisfazer todas s necessidades do homem de 14 mil km3/ano. Segundo dados de 1998 o volume de gua doce, a nvel mundial, correspondia a, aproximadamente, 41% do potencial hdrico utilizvel (estimado em 14 mil km3/ano). Entretanto, a demanda tem duplicado a cada 21 anos (Maia Neto, 1997). Em 1996, o consumo mundial previsto de gua era de 5.692 km3/ano contra uma oferta de 3.745 km3/ano, ou seja, o volume de gua cobre somente 66% da demanda para os usos mltiplos dos recursos hdricos. Alm disso, a gua no est igualmente distribuda entre os continentes e muito menos entre os pases. Muitas regies apresentam dficit de quantidade e qualidade, bem como conflitos entre bacias hidrogrficas transfronteirias. A escassez hdrica j atinge pases como Arbia Saudita, Arglia, Barbados, Blgica, Burundi, Cabo Verde, Cingapura, Egito, Israel, Jordnia, Kuwait, Lbia, Tailndia e, futuramente, podendo ocorrer nos Estados Unidos, Etipia, China, Hungria, ndia, Mxico, Sria e Turquia. Conforme o Relatrio do Banco Mundial (Banco Mundial, 1992), em 22 pases, os recursos hdricos no chegam a 1.000 m3/hab/ano, valor este considerado como um indicador de grave escassez, atingindo mais de 250 milhes de pessoas. Outros 18 pases tm em mdia menos do que 2000 m3, nvel considerado de risco nos perodos de pouca precipitao.

    A populao mundial, mais de 5 bilhes de habitantes, bem com outros seres vivos, necessitam de gua diariamente. O desenvolvimento do ser humano est associado diretamente quantidade e qualidade da gua disponvel. As disponibilidades hdricas distribudas por vrias regies mundiais, demonstrando que a mdia mundial de 7.700 m3/hab./ano garante gua em quantidade suficiente ao atendimento da populao, porm em regies como Oriente Mdio e Norte da frica, a situao de escassez hdrica grave, considerando-se que 53% da populao possui menos de 1.000 m3/hab./ano, valor considerado crtico em termos de sade. O Brasil considerado um pas privilegiado com relao disponibilidade hdrica. Possui, cerca de 8.160 km3/ano (19,7% do total mundial). Entretanto, a distribuio destas guas tambm irregular, alm disso, a maior disponibilidade ocorre em regies onde a demanda bastante reduzida, como pode ser observado no Quadro 1. No pas, existem reas localizadas em pequenas e mdias bacias hidrogrficas de vrios municpios brasileiros com conflitos de

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    quantidade, qualidade e dficit de oferta hdrica.

    Quadro 1 Distribuio da disponibilidade e demanda hdrica por regio do pas. Regio Disponibilidade Hdrica Demanda Hdrica

    Sul, Sudeste e Nordeste. 11% 91% Norte e Centro Oeste 89% 9%

    De acordo com Rebouas (1997) a crise da gua que atinge alguns estados e regies do pas [...] resulta da falta de sintonia entre disponibilidade, demanda, distribuio, agregando-se aes degradativas. [...] O pas est condenado no pela falta de gua em si, mas pela forma irracional do uso dessa gua, desordenada e pouco tica.

    2 - Usos das guas A gua o recurso natural de maior importncia, apresentando usos intensivos e diversificados, denominados de usos mltiplos (Figura 2), podendo ser mencionados o abastecimento domstico e industrial, a dessedentao de animais, a irrigao de culturas, a criao de espcies aquticas, a gerao de energia, a navegao, a diluio de esgotos domsticos e efluentes industriais, a preservao e manuteno da comunidade aqutica, as atividades de lazer.

    gua: Usos Mltiplos

    Indstria

    Urbano

    Turismo e Lazer Gerao de

    Energia Eltrica

    Navegao

    Piscicultura

    Pesca

    Agricultura e Pecuria

    Irrigao

    Comunidades Rurais

    Figura 2 Usos mltiplos das guas superficiais.

    2.1 - Usos Consuntivos e No Consuntivos Os usos da gua so tradicionalmente considerados em duas categorias; os que

    consomem parte da gua captada do manancial (usos consuntivos) e os que apenas usam a gua e ela retorna ou permanece no corpo de gua (usos no consuntivos), disponibilizando-a para outros propsitos. Os trs principais usos consuntivos da gua so: uso nas moradias (consumo domstico), na dessedentao de animais e na produo de alimentos.

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    Uso dos Recursos Hdricos Usos Consuntivos no Mundo Usos Consuntivos: Abastecimento Domstico Abastecimento Industrial e Comercial Irrigao de Culturas Dessedentao Animal Usos No Consuntivos: Recreao Aqutica Pesca Comercial e Esportiva Produo de Energia Navegao Escoamento de Cheias Afastamento de Dejetos Proteo da Comunidade Aqutica

    70% - Agricultura 23% - Indstria 8% - Domstico

    Usos Consuntivos no Brasil 72,5% - Agricultura 18% - Indstria 9,5% - Domstico

    O gerenciamento (ou gesto) da gua visa a harmonizar a oferta com as necessidades de gua, para atender os usos consuntivos e no consuntivos, sem que haja o risco de conflitos, nem reduo da quantidade ou deteriorao da qualidade devido gua de retorno, lanamento de resduos nos cursos dgua e, tambm, atender as necessidades dos ecossistemas.

    3 Os Sem Saneamento 3.1 Consideraes Iniciais Inicialmente so apresentados alguns conceitos bsicos do saneamento. Meio Ambiente:

    A lei no 6.938, de 31/08/81, que dispe sobre a Poltica Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao no Brasil, define: Meio ambiente o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Saneamento:

    O controle de todos os fatores do meio fsico do homem que exercem efeito deletrio sobre seu bem-estar fsico, mental ou social (OMS, 1980) ou o conjunto de medidas, visando a preservar ou modificar as condies do ambiente com a finalidade de prevenir doenas e promover a sade. Saneamento Ambiental:

    o conjunto de aes scio-econmicas que tm por objetivo alcanar nveis de Salubridade Ambiental, por meio de abastecimento de gua potvel, coleta e disposio sanitria de resduos slidos, lquidos e gasosos, promoo da disciplina sanitria de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenas transmissveis e demais servios e obras especializadas, com a finalidade de proteger e melhorar as condies de vida urbana e rural. Salubridade Ambiental:

    o estado de higidez em que vive a populao urbana e rural, tanto no que se refere a sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrncia de endemias ou epidemias transportadas

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    atravs do meio ambiente, como no tocante ao seu potencial de promover o aperfeioamento de condies favorveis ao pleno gozo de sade e bem estar. Saneamento Bsico:

    a soluo dos problemas relacionados estritamente com abastecimento de gua e disposio dos esgotos de uma comunidade. H quem defenda a incluso do lixo e outros problemas que terminaro por tornar sem sentido o vocbulo 'bsico' do ttulo do verbete. As atividades do saneamento bsico so:

    a) abastecimento de gua; b) esgotamento sanitrio (domsticos, industriais); c) acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e/ou disposio final dos resduos slidos

    (lixo); d) saneamento dos alimentos; e) controle da poluio ambiental (gua, ar, solo, acstica e visual); f) controle de artrpodes e de roedores de importncia em sade pblica; g) saneamento da habitao, dos locais de trabalho, de educao e de recreao e dos

    hospitais; h) saneamento e planejamento territorial; i) saneamento dos meios de transporte; j) saneamento em situao de emergncia; k) aspectos diversos de interesse no saneamento do meio (cemitrios, aeroportos, ventilao,

    iluminao, insolao, etc.). Sade:

    o completo bem-estar fsico, mental e social e no apenas a ausncia de doenas e infeces (OMS). Sade Pblica:

    a cincia e a arte de promover, proteger e recuperar a sade, atravs de medidas de alcance coletivo e de motivao da populao. A sade pblica cumpre, principalmente, as funes de educar e prevenir. A sade pblica tem como principais colaboradores medicina preventiva e social e o saneamento.

    3.2 Saneamento no Mundo Texto originalmente extrado do site www.pnud.org.br, Notcia de 20/03/2006.

    2,4 bilhes no mundo no tm acesso a saneamento bsico A ONU (Organizao das Naes Unidas) alerta que, se a quantidade de pessoas com

    condies sanitrias bsicas no crescer logo, meta na rea ambiental no ser alcanada. Cerca de 2,4 bilhes de pessoas no tm condies bsicas de saneamento, o que

    multiplica o nmero de mortes por causas evitveis, como diarria e malria, apontam dados

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    preliminares do segundo relatrio das Naes Unidas sobre os recursos hdricos no mundo gua, uma responsabilidade compartilhada.

    O estudo, coordenado pela UNESCO (Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura) e elaborado por 24 agncias da ONU (incluindo PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento), governos e organizaes no-governamentais, demonstrou que gestes equivocadas, recursos limitados e mudanas climticas podem fazer com que a sustentabilidade ambiental, um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milnio (ODM), no seja alcanada at 2015.

    Uma das metas consiste em reduzir pela metade a proporo da populao do planeta sem acesso a gua potvel. De acordo com o relatrio, atualmente 1,1 bilho de pessoas no mundo, o equivalente a um quinto da populao, ainda no dispem de gua potvel e 40% no tm condies sanitrias bsicas.

    A precariedade de saneamento reflete na situao da sade global. Segundo a UNESCO, enfermidades relacionadas diarria e malria foram, em 2002, a causa da morte de mais de 3 milhes de pessoas, sendo que 90% eram crianas com menos de cinco anos. Aproximadamente 1,6 milho de vidas poderiam ser salvas anualmente com o fornecimento de gua potvel, saneamento bsico e higiene, destaca a UNESCO.

    Os problemas precisam ser solucionados rapidamente porque a demanda por gua e saneamento vai aumentar nos prximos anos. Em 2030, prev o relatrio, dois teros da populao mundial estar vivendo em cidades, e perto de 2 bilhes residiro em favelas ou assentamentos irregulares, configurando-se, assim, parte da populao urbana que, geralmente, sofre com a falta de gua potvel e saneamento.

    O estudo tambm apontou uma grave crise, cada vez mais numerosa, devido em grande parte a problemas de governabilidade que determina qual, quando e como distribuda a gua e decide quem tem direito ao recurso e outros servios adjacentes. A publicao dos dados completos ser disponibilizada em 22 de maro de 2006, pela UNESCO.

    3.3 Saneamento no Brasil Em relao ao Brasil seguem alguns comentrios sobre a situao atual (dados de 2000 e 2002) dos servios de saneamento bsico. a) Abastecimento Domstico:

    Aproximadamente, 18 milhes de pessoas, dos que no tm acesso gua encanada nas reas urbanas moram em habitaes precrias ou em pequenos municpios, principalmente, no semi-rido. Entre os atendidos por abastecimento de gua, boa parte convive com servios prestados de forma precria. Nas metrpoles, ter uma ligao domiciliar no significa dispor de gua potvel diariamente;

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    A intermitncia no abastecimento afeta 20% dos distritos abastecidos, obrigando a populao a recorrer a outras fontes nem sempre seguras, com risco sade, prejuzos e deteriorao precoce das redes de distribuio, aumentando as perdas;

    A gua oferecida populao carece de melhor controle de qualidade. Muitos pequenos sistemas distribuem gua sem tratamento (38% dos distritos abastecidos), um nmero ainda maior no adiciona flor gua (63% dos distritos abastecidos) e apenas em 47% dos distritos abastecidos a gua objeto de vigilncia da Secretaria Estadual de Sade. No meio rural, 14 milhes no tem acesso a gua prximo de sua residncia.

    b) Esgotamento Sanitrio: Cerca de 83 milhes de brasileiros que vivem nas cidades no dispem de esgotamento

    sanitrio adequado, destes mais de 36 milhes esto nas regies metropolitanas; Muitos domiclios no possuem um banheiro (na rea urbana e rural). A distribuio desta

    demanda se concentra nas reas mais pobres do pas; Mais de 93 milhes de pessoas que vivem nas cidades e tm ou deveriam ter seus esgotos

    coletados por rede pblica (uma parte pode ser servida por fossas spticas) no tm seus esgotos tratados;

    Quase todo o esgoto sanitrio coletado nas cidades despejado in natura na gua ou no solo. A poluio dos rios em torno das maiores cidades brasileiras compromete em alguns casos os mananciais de abastecimento.

    c) Drenagem Pluvial: Nos ltimos dois anos, cerca de 1.200 municpios sofreram inundaes; Um levantamento nacional mostrou que 78% dos municpios tm servio de drenagem

    urbana, destes 85% dispem de rede para captao e transporte das guas de chuva. Uma parte dessas redes, 22%, recebe tambm esgoto.

    d) Resduos Slidos: Entre os servios de saneamento, a coleta de lixo foi o servio que mais cresceu nos ltimos

    anos. Atualmente, 94% da populao urbana atendida por coleta domiciliar, mas cerca de 8 milhes de pessoas nas cidades continuam sem atendimento;

    Quem no dispe dos servios so os mais pobres. Nos municpios de mdio e grande porte, que contam com um sistema de coleta convencional podem atender a 100% da populao, no so atendidos adequadamente os moradores da cidade informal (as favelas, invases e os bairros populares de infraestrutura viria precria);

    A coleta seletiva de lixo, a qual contribui de forma significativa para a reduo da quantidade de resduos a serem dispostos em aterros sanitrios, feita em menos de 10% dos municpios brasileiros de maneira formal;

    Se a coleta de lixo domiciliar relativamente ampla, o mesmo no ocorre com os resduos de servios de sade: apenas 63% dos municpios realizam coleta dos resduos spticos de forma diferenciada dos demais resduos, o que constitui um agravamento das possibilidades

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    de contaminao ambiental e um risco permanente aos catadores que entram em contato direto com agentes patognicos nos lixes em que trabalham;

    Diferentemente do que ocorre com a coleta, o panorama nacional da destinao final do lixo alarmante, particularmente nas cidades mdias e pequenas a disposio a cu aberto (lixes) representam 59% das unidades identificadas, seguida do aterramento controlado,16,8%; os vazadouros em reas alagadas correspondem a 0,6%; os aterros sanitrios representam 12,6%, os aterros de resduos especiais 2,6%; as usinas de reciclagem totalizam 2,8%, as usinas de compostagem 3,9% e as de incinerao 1,8% das unidades de destinao final de resduos utilizadas pelos municpios no Pas (PNSB, 2000);

    Dos 5.507 municpios existentes poca da pesquisa (PNSB, 2000), 4.026, ou seja, 73,1%, tinham populao at 20.000 habitantes. Nesses municpios, 68,5 % dos resduos gerados so vazados em lixes e em alagados, mostrando, portanto, que necessitam, mais do que as cidades maiores, de apoio neste setor;

    4 - Impurezas da gua A gua quando circula da pela biosfera provoca a lixiviao e a dissoluo de rochas, restos de vegetais e animais, bem como de poluentes gerados pela ao do homem. Estes elementos ao serem incorporados podem conferir gua caractersticas prprias que variam de acordo com as situaes geolgicas e climatolgicas locais. Estes diferentes constituintes genericamente chamados de "impurezas" se distribuem na massa lquida segundo seu tamanho de partcula, sendo: solveis (dp 1m). A Figura 3 mostra a distribuio destas partculas conforme as suas dimenses.

    Figura 3 Impurezas presentes em guas e suas dimenses.

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    As impurezas solveis (dissolvidas) so aquelas que realmente se encontram em soluo, podendo ser simples tomos ou compostos moleculares complexos, por exemplo, sais (clcio, magnsio, sdio, ferro) e gases (oxignio, dixido de carbono, nitrognio, sulfdrico). Essas substncias no podem ser removidas da gua, sem que haja alguma mudana de fase, tal como a destilao (para a fase gasosa), precipitao (para a fase slida), adsoro (reaes com partculas slidas) e na extrao lquida. As impurezas dissolvidas no podem ser removidas por meios fsicos, como a filtrao, sedimentao ou centrifugao.

    As impurezas suspensas apresentam dimenso maior, sedimentam podendo ser removidas por filtrao ou centrifugao.

    As impurezas coloidais apresentam um tamanho intermedirio entre as impurezas dissolvidas e as sedimentveis. Como exemplos destas impurezas podemos citar as substncias vegetais (corantes), argila, bactrias e vrus. Essas partculas podem ser removidas por meios fsicos tais como centrifugao intensa ou filtrao atravs de membranas de baixa porosidade, no entanto, so muito pequenas para serem removidas por sedimentao ou pelo processo normal de filtrao. O Quadro 2 apresenta as principais impurezas encontradas em mananciais superficiais.

    Quadro 2 - Impurezas encontradas em mananciais superficiais.

    Impurezas Estado Conseqncias Areia Suspenso Turbidez Silte Suspenso Turbidez Argila Suspenso Turbidez Bactrias Suspenso Doenas e prejuzo s instalaes Microrganismos Suspenso Turbidez, cheiro e cor Resduos industriais Suspenso Poluio Resduos domsticos Suspenso Poluio Corantes vegetais Coloidal Cor, sabor e acidez Slica Coloidal Turbidez Bicarbonatos e carbonatos de clcio e magnsio Dissolvidos Alcalinidade e dureza

    Sulfatos de clcio e magnsio Dissolvidos Dureza Cloretos de clcio e magnsio Dissolvidos Dureza e corroso em caldeiras Bicarbonato e carbonatos de sdio Dissolvidos Alcalinidade Sulfatos de sdio Dissolvidos Ao laxativa Fluoretos de clcio Dissolvidos Ao sobre os dentes Cloretos de clcio Dissolvidos Sabor Ferro Dissolvidos Sabor, cor Mangans Dissolvidos Cor Oxignio Dissolvidos Corroso

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    5 - Classificao dos Cursos dguas Superficiais A Resoluo CONAMA no 357, de 17 de maro de 2005 divide as guas superficiais, do territrio nacional, em guas doces (Salinidade 0,5 ), guas salobras (0,5 < Salinidade < 30 ) e guas salinas (Salinidade 30 ). Estas foram sub-divididas em treze classes de qualidade. Ests guas so classificadas, segundo a qualidade requerida para os seus usos preponderantes, em treze classes de qualidade.

    5.1 - guas Doces (Salinidade 0,5 ) Os usos preponderantes das classes relativas gua doce foram subdivididos em cinco classes, onde a classe especial pressupe os usos mais nobres, e a classe 4 os menos nobres. a) Classe Especial: guas destinadas:

    Abastecimento para consumo humano, com desinfeco; Preservao do equilbrio natural das comunidades aquticas; Preservao dos ambientes aquticos em unidades de conservao de proteo integral.

    b) Classe 1: guas que podem ser destinadas: Abastecimento para consumo humano, tratamento simplificado; Proteo das comunidades aquticas; Recreao contato primrio, Resoluo CONAMA no 274/2000; Irrigao de hortalias e frutas-rentes ao solo, cruas, casca; Proteo das comunidades aquticas em Terras Indgenas.

    c) Classe 2: guas que podem ser destinadas: Abastecimento para consumo humano, tratamento convencional; Proteo das comunidades aquticas; Recreao de contato primrio, Resoluo CONAMA no 274/2000; Irrigao de hortalias, plantas frutferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer,

    tal que o pblico possa ter contato direto; Aqicultura e atividade de pesca.

    d) Classe 3: guas que podem ser destinadas: Abastecimento para consumo humano, tratamento convencional ou avanado; Irrigao de culturas arbreas, cerealferas e forrageiras; Pesca amadora; Recreao de contato secundrio; Dessedentao de animais.

    e) Classe 4: guas que podem ser destinadas: Navegao; Harmonia paisagstica.

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    5.2 - guas Salinas (Salinidade > 30 ) Os usos preponderantes das classes relativas gua salina foram subdivididos em quatro classes, onde a classe especial pressupe os usos mais nobres, e a classe 3 os menos nobres. a) Classe Especial: guas destinadas:

    Preservao dos ambientes aquticos em unidades de conservao de proteo integral; Preservao do equilbrio natural das comunidades aquticas.

    b) Classe 1: guas que podem ser destinadas: Recreao de contato primrio, Resoluo CONAMA no274/2000; Proteo das comunidades aquticas; Aqicultura e atividade de pesca.

    c) Classe 2: guas que podem ser destinadas: Pesca amadora; Recreao de contato secundrio;

    d) Classe 3: guas que podem ser destinadas: Navegao; Harmonia paisagstica.

    5.3 - guas Salobras (0,5 < Salinidade < 30 ) Os usos preponderantes das classes relativas gua salobra foram subdivididos em quatro classes, onde a classe especial pressupe os usos mais nobres e a classe 3 os menos nobres. a) Classe Especial: guas destinadas:

    Preservao dos ambientes aquticos em unidades de conservao de proteo integral; Preservao do equilbrio natural das comunidades aquticas.

    b) Classe 1: guas que podem ser destinadas: Recreao de contato primrio, Resoluo CONAMA no274/2000; Proteo das comunidades aquticas; Aqicultura e atividade de pesca; Abastecimento para consumo humano, tratamento convencional ou avanado; Irrigao de hortalias e frutas-rentes ao solo, cruas, casca; Irrigao de parques, jardins, campos de esporte e lazer, tal que o pblico possa ter contato

    direto. c) Classe 2: guas que podem ser destinadas:

    Pesca amadora; Recreao de contato secundrio.

    d) Classe 3: guas que podem ser destinadas: Navegao; Harmonia paisagstica.

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    A cada uma dessas classes corresponde uma determinada qualidade a ser mantida no corpo dgua. Alm dos padres de qualidade dos corpos receptores, a Resoluo CONAMA no 357/2005 apresenta ainda padres para o lanamento de efluentes. A Resoluo CONAMA n 274, de 29 de novembro de 2000 apresenta o padro de balneabilidade, de modo que a sade e o bem-estar humano no sejam afetados pelas condies do meio.

    6 - Padres de Qualidade para Consumo Humano A qualidade da gua destinada ao consumo esta associada aos antecedentes ou "vida anterior" da gua (ex.: condies do manancial), nvel do tratamento e da distribuio da gua, finalidade a que se destina a gua (ex.: bebida, recreao), entre outros. Sendo assim, existe a necessidade de que os rgos responsveis pela sade e bem estar do homem estabeleam os teores aceitveis para as impurezas contidas nas guas, de acordo com o fim a que as mesmas se destinam. No caso da gua se destinar ao consumo domstico so fixados os padres de potabilidade, que indicam as condies que a gua deve apresentar para poder servir e ser utilizada como bebida e na preparao de alimentos e outros fins domsticos, isto , para que seja considerada uma gua potvel. Padres de potabilidade ou de gua potvel so as quantidades limites que, com relao aos diversos elementos, podem ser toleradas nas guas de abastecimento, quantidades estas fixadas, geralmente por decretos, regulamentos ou especificaes. Estes podem ser estabelecidos, exigidos, adotados ou recomendados pelos diferentes organismos relacionados sade pblica, usualmente com pouca variao nas faixas dos valores limites tolerveis.

    Antes da promulgao da Constituio Federal de 1988, o decreto federal n 79.367 de 9/3/1977 atribua ao Ministrio da Sade a competncia para elaborar normas sobre o padro de potabilidade da gua, a serem observadas em todo o territrio nacional.

    A legislao vigente que estabelece os procedimentos e responsabilidades relacionadas ao controle e vigilncia da qualidade da gua para consumo humano a Portaria de Potabilidade no 518, de 24/5/2004 do Ministrio da Sade.

    6.1 - Portaria de Potabilidade A Portaria de Potabilidade no 518/2004 trouxe diversos avanos em relao Portaria no

    36GM/90, destacando-se: a incorporao do princpio da descentralizao das aes do SUS; viso sistmica da qualidade da gua; definio clara de deveres e responsabilidades de cada esfera de governo e dos responsveis pela produo e distribuio de gua e principalmente a garantia ao consumidor do direito informao sobre a qualidade da gua a ele oferecida, seja pelos sistemas e solues alternativas de abastecimento de gua ou pelo setor sade.

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    Esta Portaria atribui deveres e obrigaes para diferentes nveis governamentais, sendo que as secretarias municipais de sade tm o papel de exercer a vigilncia da qualidade da gua. Ou seja, responsabilidade da secretaria de sade do municpio verificar, continuamente, se a gua fornecida populao atende aos padres de qualidade.

    7 - Caractersticas da gua e sua Qualidade As impurezas presentes nos mananciais superficiais podem alterar positiva ou negativamente seu aspecto fsico, qumico e biolgico, sendo assim, a qualidade da gua definida atravs de suas caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas, avaliadas pela interpretao das anlises de parmetros fsicos, qumicos e biolgicos.

    7.1 - Caractersticas Fsicas das guas Superficiais As caractersticas fsicas esto diretamente relacionadas s propriedades organolpticas da gua, principalmente com o aspecto esttico da gua, exemplificando, se ela atraente do ponto de vista do consumidor. Estas caractersticas so determinadas atravs de parmetros fsicos de avaliao, entretanto, o resultado das anlises no deve ser interpretado separadamente de outros exames e anlises.

    7.1.1 - Slidos Totais, Slidos Suspensos e Slidos Dissolvidos, Slidos Sedimentveis Todas as impurezas da gua, com exceo dos gases dissolvidos so consideradas como

    slidos presentes nos cursos dgua. Os slidos podem causar danos aos peixes e vida aqutica. Eles podem se sedimentar

    no leito dos rios destruindo organismos que fornecem alimentos, ou tambm danificar os leitos de desova de peixes. Podem reter bactrias e resduos orgnicos no fundo dos rios, promovendo a decomposio anaerbia. Altos teores de sais minerais, particularmente sulfato e cloreto, esto associados tendncia de corroso em sistemas de distribuio, alm de conferir sabor s guas.

    Classificao dos Slidos Os slidos podem ser classificados segundo seu tamanho e caractersticas qumicas.

    a) Quanto ao Tamanho: Os slidos so classificados em sedimentveis, suspensos, colides e dissolvidos. Na

    prtica, a classificao adotada a de dois grandes grupos: suspensos e dissolvidos. Slidos Suspensos: dividem-se em sedimentveis e no sedimentveis. Slidos Sedimentveis: so os slidos que se depositam quando uma amostra de gua fica em

    repouso durante uma hora. Slidos No Sedimentveis: so os slidos que no se depositam quando uma amostra de gua

    fica em repouso durante uma hora. Slidos Dissolvidos: formados pelos colides e os efetivamente dissolvidos.

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    b) Quanto a Caracterizao Qumica Os slidos podem ser classificados em volteis e fixos.

    Slidos Volteis: so os que se volatilizam a temperaturas inferiores a 550-600C. Geralmente, os slidos volteis esto associados como resduo orgnico, no entanto, h resduos minerais que se volatilizam a essas temperaturas.

    Slidos Fixos: so os resduos que permanecem na cpsula mesmo aps colocao em estufa a temperaturas de 550-600C.

    A Figura 4 mostra a classificao dos slidos da amostra. No laboratrio so determinados os slidos totais (A), slidos suspensos (B), slidos fixos (E), slidos suspensos fixos (G) e os slidos sedimentveis (J). As demais fraes so determinadas por diferena.

    J

    J

    Figura 4 - Classificao dos slidos.

    Definies das Diversas Fraes Slidos Totais (Resduo Total) (ST): Resduo restante na cpsula aps a evaporao em

    banho-maria de uma poro de amostra e posterior secagem em estufa a 103-105C at peso constante (ver Figura 5).

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    Figura 5 Determinao de slidos totais.

    Slidos Suspensos (Resduo No Filtrvel) (SS): a poro dos slidos totais que fica retida no filtro, so as partculas de dimetro maior ou igual a 1,2 m (ver Figura 6).

    Slidos Dissolvidos (Resduo Filtrvel) (SD): a poro dos slidos totais que passa pelo filtro, so as partculas de dimetro menor que 1,2 m (ver Figura 6).

    Figura 6 Determinao de slidos em suspenso e dissolvidos.

    Slidos Volteis (Resduo Voltil) (SV): a poro dos slidos (totais, suspensos ou dissolvidos) que se perde aps a calcinao da amostra a 550-600C, durante uma hora para slidos totais ou dissolvidos volteis ou 15 minutos para slidos em suspenso volteis, em uma mufla (ver Figura 7).

    Slidos Fixos (Resduo Fixo) (SF): a poro dos slidos (totais, suspensos ou dissolvidos) que resta aps a calcinao a 550-600C aps uma hora (slidos totais ou dissolvidos fixos) ou 15 minutos (slidos em suspenso fixos) em uma mufla (ver Figura 7).

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    Figura 7 Determinao de slidos volteis e fixos.

    Slidos Sedimentveis (SSed): a poro dos slidos em suspenso que se sedimenta sob a ao da gravidade durante um perodo de uma hora, a partir de um litro de amostra mantida em repouso em um Cone Imhoff (ver Figura 8).

    Figura 8 Determinao de slidos sedimentveis.

    Os slidos em suspenso esto relacionados com o parmetro turbidez. Quanto maior o teor de SST maior a turbidez prejudicando aspectos estticos da gua e a produtividade do ecossistema pela diminuio da penetrao de luz.

    Em amostras de guas superficiais, com o teor de SDT podemos determinar as taxas de desgaste das rochas por intemperismo. Em regies com altos ndices pluviomtricos e com rochas insolveis como o granito, o escoamento superficial apresenta baixos valores de SDT. A salinidade a parte fixa dos slidos dissolvidos. Excesso de SDT na gua pode causar alteraes de sabor e problemas de corroso. Em guas de abastecimento o teor mximo pra SDT de 500 mg/l (Resoluo CONAMA n 357/2005).

    Os Quadros 3 e 4 apresentam os teores de SDT para animais e guas de irrigao.

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    Quadro 3 Classificao das guas para consumo animal.

    Animal Slidos Totais (1)(mg/l) Slidos Dissolvidos Totais (2)(mg/l) Cavalos bebem bem 5.000 6.250 Suportvel por cavalos 6.250 7.800 6.435 Suportvel pelo gado (leite) 7.800 9.375 7.180 Suportvel por ovelhas 9.375 15.605 12.900 Nenhum herbvoro bebe 15.605 Aves 2.860 Porcos 4.200 Gado (corte) 10.000

    Fonte: (1)Bateman apud Costa, 1979; (2) Mackee e Wolf, 1966.

    Quadro 4 Classificao das guas para irrigao de culturas. guas para Irrigao de Culturas Slidos Dissolvidos Totais (mg/l)

    gua sem nenhum efeito prejudicial observado < 750 < 500 gua pode ter efeito prejudicial em culturas sensveis 750 1.500 500 1.000 gua pode ter efeitos diversos em muitas culturas; requer prticas cuidadosas de utilizao 1.500 3.000 1.000 2.000 gua pode ser usada em plantas tolerantes em solos permeveis com prticas cuidadosas de uso 3.000 7.500 2.000 5.000

    7.1.2 - Surfactantes O principal inconveniente dos surfactantes (detergentes) em mananciais superficiais est

    relacionado com os fatores estticos, devido formao de espumas em ambientes aerbios. Por ser um agente modificador da tenso superficial interfere com a transferncia de oxignio dissolvido (OD) e pode dissolver as graxas e leos de penas de aves aquticas.

    7.1.3 - Sabor e Odor O sabor e o odor resultam da presena, na gua, de alguns compostos qumicos (ex.: sais

    dissolvidos produzem sabor salino; gases podem causar odores) ou de substncias, tais como a matria orgnica em decomposio, ou ainda, de algas. Estes parmetros esto associados s impurezas qumicas ou biolgicas da gua, bem como a percepo de cada pessoa.

    7.1.4 - Cor A cor resultante da existncia na gua, de substncias coloridas dissolvidas e coloidais. Esta caracterstica acentuada quando da presena, na gua, de matria orgnica, de minerais como o ferro e o mangans, ou de despejos coloridos contidos em esgotos industriais. As guas superficiais podem parecer altamente coloridas ou apresentar turvao devido matria corante em suspenso. A cor causada por matria em suspenso designada por "cor aparente" e diferenada da cor devida aos extratos vegetais ou orgnicos que so coloidais e que constituem a "cor verdadeira". Em anlise de gua importante distinguir entre cor "aparente" e cor "verdadeira", pois parte da "aparente" pode ser removida por coagulao-floculao-sedimentao, enquanto a cor "verdadeira" mais difcil de ser removida pelos processos convencionais.

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    A cor determinada por comparao visual da amostra com solues coloridas de concentraes conhecidas. Tambm se pode fazer a comparao com discos de vidro coloridos, que tenham sido convenientemente calibrados. O mtodo normal para a medida da cor o do "platino-cobalto" e a unidade de cor dada em mg/l ou uH. A tonalidade deste padro de cor , em geral, satisfatria para comparao com a cor das guas naturais. Em laboratrio se utilizam os aparelhos colormetros (Figura 9), para auxiliar na medio da cor da gua.

    7.1.5 - Turbidez A turbidez da gua atribuda principalmente s partculas slidas em suspenso que

    diminuem a claridade e reduzem a transmisso da luz ao meio. Pode ter sua origem associada ao plncton, algas, detritos orgnicos e de outras substncias (zinco, ferro, composto de mangans e areia) resultantes do processo natural de eroso ou adio de despejos domsticos e industriais. Quanto maior a turbidez da gua menor ser o grau de penetrao da luz no ambiente.

    A gua lmpida importante quando seu destino o consumo humano uma vez que, nas guas com turbidez podem estar adsorvidos metais, agrotxicos, organismos patognicos e outras substncias. Quanto aos organismos aquticos a transparncia da gua importante, pois facilita a penetrao da luz, essencial para o processo fotossinttico.

    A reduo da taxa fotossinttica ocasiona a diminuio do oxignio e conseqentemente de algas e vegetao submersa, eliminando espcies e alterando outras. Alm disso, o material em suspenso pode sedimentar, alterando toda biocenose, pois, elimina locais de desova e o habitat de diversos invertebrados, por exemplo.

    A determinao da turbidez feita atravs de um processo de nefelometria, ou seja, atravs de uma fotoclula (turbidmetro, Figura 10) que compara a intensidade de luz dispersa pela amostra,sobre condies definidas com a intensidade de luz dispersa por uma soluo de referncia padro (polmero de formazina), sobre as mesmas condies. O mtodo d resultados em unidades nefelomtrica de turbidez (NTU ou UNT ou UT).

    7.1.6 - Condutividade Especfica A condutividade especfica uma expresso numrica da capacidade de uma gua

    conduzir a corrente eltrica, sendo dependente das concentraes inicas e da temperatura. Ela fornece uma boa indicao das modificaes na composio de uma gua, especialmente na sua concentrao mineral, mas no fornece nenhuma indicao das quantidades relativas dos vrios componentes. medida que mais slidos dissolvidos so adicionados, a condutividade especfica da gua aumenta. A condutividade no serve para indicar a presena de matria orgnica, contudo, quando esta estiver mineralizada (completamente oxidada ou decomposta), haver um aumento substancial da condutividade. Altos valores podem indicar caractersticas corrosivas da gua.

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    O mtodo empregado para determinao da condutividade o do condutivmetro, que compreende um ponte de Wheatstone e uma cela de condutividade, para medir a resistncia da amostra. A unidade do parmetro o microsiemens ou micromhos/centmetros (mho/cm) e deve ser referida a uma dada temperatura. Exemplos de condutividade: gua pura (25 oC) - 5,5 x 10-2 mho/cm gua potvel (25 oC) - 50 a 1500 mho/cm gua chuva (18 oC) - 1,28 mho/cm gua mar (25 oC) - 5,0 x 104 mho/cm

    Figura 9 Exemplos de Colormetros Figura 10 Exemplo de Turbidmetro.

    7.1.7 - Temperatura A temperatura um parmetro que influncia as propriedades fsicas, qumicas e

    biolgicas da gua, bem como a dinmica, o tratamento e certos usos industriais e agrcolas. Nos lagos e reservatrios, os fenmenos cclicos de estratificao trmica exercem papel importante na circulao de substncias dissolvidas. O aumento da temperatura, que uma forma de poluio, intensificando a decomposio da matria orgnica, acelera o metabolismo microbiano. , portanto, um fator de desoxigenao da gua.

    A variao da temperatura em corpos hdricos resultado de fenmenos climticos naturais ou da introduo de efluentes industriais, como descargas de torres de resfriamento e efluentes de destilarias, atravs da construo de represas, do desvio de gua para irrigao, da alterao do meio ambiente, dentre outras. Ela influencia as velocidades de reaes qumicas e bioqumicas, tendo influncia na flora e fauna e na mudana de parmetros de qualidade da gua,como por exemplo, na concentrao de

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    saturao de oxignio dissolvido; na desoxigenao e decomposio de matria orgnica; na densidade e viscosidade da gua; na fotossntese, na estratificao trmica, na reduo de bactrias; e no tratamento de gua e esgoto.

    7.1.8 - Transparncia A transparncia esta relacionada com a penetrao de luz na gua. guas muito

    transparentes permitem que se vejam imagens at profundidades bastantes significativas e quanto maior a limpidez, maior a produtividade do ecossistema.

    O disco Secchi (Figura 11) utilizado para medir a transparncia de um corpo dgua e consiste de um disco de 20 cm de dimetro, dividido em quatro partes com cores preto e branco.

    Mergulha-se o disco na gua at que no seja mais possvel enxerg-lo: esta a profundidade Secchi, importante parmetro no estudo de lagos por indicar a profundidade na qual j se extinguiu 95% da luz que penetra na gua.

    Admite-se que a zona euftica, isto , a zona de luz onde a fotossntese possvel, corresponde a 3 vezes a profundidade Secchi, aproximadamente.

    Figura 11 - Disco de Secchi.

    7.2 - Caractersticas Qumicas das guas Superficiais As caractersticas qumicas possuem a finalidade determinar os teores qualitativos e quantitativos de certas substncias, que embora no sejam nocivas at certos limites, devem ser conhecidas para verificar ou melhorar o processo de tratamento da gua visando torn-la potvel, ou ainda, no caso de uma gua de origem desconhecida, alertar sobre a viabilidade do uso desta para fins domsticos.

    7.2.1 - Potencial de Hidrognio (pH) O pH o logaritmo negativo da concentrao de on hidrognio por virtude do qual se

    expressa o grau de acidez ou alcalinidade de um lquido. Podendo ser representado por:

    A faixa do pH representada por uma escala de 0 a 14, na qual o pH 7 indica a absoluta neutralidade (no nem cido nem base). Quanto mais cida uma substncia, menor valor de pH ter, mas, em contrapartida, quanto mais bsica (ou alcalina), maior valor de pH lhe corresponder.

    Este um parmetro de grande importncia em ambientes aquticos, estando associado causa de muitos fenmenos qumicos e biolgicos, no entanto, pode ser conseqncia de uma ou

    pH= - log (H+) ou pH = log 1/(H+)

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    mais fenmenos. O pH por definir o carter cido, bsico ou neutro de uma soluo, deve ser considerado, pois os organismos aquticos esto, geralmente, adaptados s condies de neutralidade e, em conseqncia, alteraes bruscas do pH da gua podem acarretar o desaparecimento dos seres nela presentes.

    Valores fora das faixas recomendadas podem alterar o sabor da gua e contribuir para corroso dos sistemas de distribuio de gua, ocorrendo com isso, uma possvel extrao do ferro, cobre, chumbo, zinco e cdmio, e dificultar a descontaminao das guas.

    O pH alcalino responsvel por uma maior porcentagem de amnia no ionizada presente na gua, mas este mesmo pH pode ser o resultado de uma ou outra srie de fatores, tais como a abundncia de fitoplncton nos tanques de cultivo de peixe.

    Figura 12 Exemplos de pHmetros. 7.2.2 - Acidez

    A maioria das guas naturais so tamponadas por um sistema composto de dixido de carbono (CO2) e bicarbonatos (HCOO-3).

    A acidez das guas pode ser do tipo natural ou mineral. A acidez natural: ocorre devido presena do cido carbnico (H2CO3), formado a partir da reao da gua com o dixido de carbono (CO2) que pode ter sido absorvido da atmosfera por fenmenos de superfcie ou ser resultado de processos de oxidao biolgica da matria orgnica.

    O cido carbnico um cido fraco, que logo aps a sua formao (CO2 + H2O -> H2CO3) poder sofrer dissociaes formando ons, bicarbonato e carbonato responsveis por outra caracterstica que a alcalinidade. As formas predominantes destes ons esto fundamentalmente relacionadas com o pH do meio.

    guas com pH entre 4,5 e 8,0 podem apresentar acidez mineral devido presena de CO2 na forma de H2CO3. A soma das diferentes formas de CO2 presentes no meio aqutico chamado de carbono inorgnico total: CO2 + H2CO3 + HCO-3 + CO2-3.

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    A acidez natural tem pequena significncia do ponto de vista sanitrio e nenhum efeito nocivo atribudo ao CO2. A acidez mineral ocorre devida principalmente a lanamento de despejos industriais. Para ilustrar, podemos citar o exemplo da drenagem de minas abandonadas que contm quantidades significativas de enxofre, sulfetos e piritas. Estes materiais quando expostos ao ar (condies aerbicas) so convertidos atravs da ao de bactrias oxidantes de enxofre a cido sulfrico (H2SO4) e sulfato (SO4), que so drenados at os cursos d'gua prximos a mina. As guas que contm acidez mineral so usualmente to desagradveis (impotveis) que no existem registros de problemas relacionados ao consumo humano. Porm so de interesse sanitrio devido as suas caractersticas corrosivas e ao custo envolvido para remover ou controlar as substncias que promovam a corroso.

    A acidez mineral ocorre em guas com pH abaixo de 4,5. O mtodo de determinao titulomtrico e medido em mg/l CaCO3, indicando a capacidade de neutralizao de bases.

    7.2.3 - Alcalinidade A alcalinidade a capacidade da gua em receber prtons, ocorrendo, destacadamente, devido a presena de carbonatos, bicarbonatos e hidrxidos de metais alcalinos e alcalinos terrosos. O bicarbonato e os carbonatos so resultado da dissociao do cido carbnico.

    A forma bicarbonatada (HCO-3) ir predominar em guas com pH entre 6,5 e 10,3. A partir de pH, 10,3 o on dominante o carbonato (CO3)-. Em guas no poludas a alcalinidade devida, principalmente, presena de bicarbonatos, sendo que nestas o valor do pH, em geral, no excede a 8,3.

    Em guas poludas ou anaerbias sais de cidos fracos (ex.: cido actico, cido propinico) podem ser gerados e tambm contribuir para a alcalinidade. Ainda que muitos materiais possam contribuir com a alcalinidade da gua, a maior parte deve-se aos hidrxidos, carbonatos e bicarbonatos. Para fins prticos, a alcalinidade devida a outros materiais insignificante e pode ser ignorada.

    A alcalinidade no tem significado sanitrio, a menos que seja devido a hidrxidos ou que contribua na quantidade de slidos totais, mas uma das determinaes mais importantes no controle da gua, estando associada com o processo de coagulao, reduo de dureza e preveno de corroso nas tubulaes. O conhecimento da alcalinidade da gua utilizada para o abastecimento domstico importante, pois ela afeta a quantidade de substncias qumicas a serem adicionadas no processo de coagulao e no controle da corroso dos sistemas de distribuio. O mtodo de determinao titulomtrico e a medida feita em mg/l CaCO3, indicando a quantidade de lcalis na gua.

    H2CO3 H+ + HCO-3 HCO-3 H+ + CO2-3

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    7.2.4 - Dureza A dureza devida, principalmente, aos sais de clcio e magnsio presentes na gua, sob a

    forma de bicarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos. A concentrao total de ons de metais divalentes (fundamentalmente Ca++ e Mg++),

    expressos em mg/l de equivalentes de CaCO3, denominado Dureza Total da gua. A dureza devido a carbonatos (carbonatos e bicarbonatos de clcio e magnsio) denominada de Dureza Temporria, podendo ser removida pela ebulio. A dureza devido a no-carbonatos (sulfatos, cloretos e nitratos de clcio e magnsio) chamamos de Dureza Permanente.

    Se a dureza total for superior a alcalinidade, porque a gua contm dureza de carbonatos e no-carbonatos; se a dureza total igual alcalinidade, significa que existe apenas a dureza temporria; e quando a dureza total menor que a alcalinidade, a gua possui somente dureza temporria, sendo o excesso de alcalinidade devido a carbonatos e bicarbonatos de sdio (Na+) e potssio (K+).

    Quadro 5 Classificao das guas quanto ao grau de dureza.

    Concentrao Tipo 0 75 mg/l Branda ou mole 75 150 mg/l Moderadamente dura 150 300 mg/l Dura Acima de 300 mg/l Muito dura

    As guas duras, ricas em clcio e magnsio, reduzem o nmero de consumidores com doenas cardiovasculares, uma vez que estes elementos removem o sdio o qual responsvel pela hipertenso.

    7.2.5 - Matria Orgnica A matria orgnica presente na gua, alm de ser responsvel pela cor, odor e turbidez, entre outros parmetros, resulta no consumo do oxignio dissolvido no lquido, devido estabilizao ou decomposio biolgica. Os principais componentes de matria orgnica encontrados na gua so protenas, aminocidos, carboidratos, gorduras, alm da uria, surfactantes e fenis.

    A matria carboncea divide-se nas seguintes fraes: (a) no biodegradvel (em suspenso e dissolvida) e (b) biodegradvel (em suspenso e dissolvida). Em laboratrio, muitas vezes difcil determinar os diversos componentes da matria orgnica em guas residurias, devido s diversas formas e compostos em que a mesma pode se apresentar. Logo, normal utilizar mtodos indiretos para a quantificao da matria orgnica, ou do seu potencial poluidor. As principais categorias so:

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    a) Medio do Consumo de Oxignio: Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO) e Demanda Qumica de Oxignio (DQO);

    b) Medio do Carbono Orgnico: Carbono Orgnico Total (COT).

    7.2.6 - Oxignio Dissolvido um dos parmetros mais importantes para o exame da qualidade da gua, pois revela a

    possibilidade de manuteno de vida dos organismos aerbios, por exemplo, os peixes. Durante a estabilizao da matria orgnica, as bactrias fazem uso do oxignio nos seus processos respiratrios, podendo vir a causar uma reduo da sua concentrao no meio. Dependendo da magnitude deste fenmeno, podem vir a morrer diversos seres aquticos, inclusive os peixes. Caso o oxignio seja totalmente consumido, tm-se condies anaerbias (ausncia de oxignio), com gerao de maus odores.

    Figura 13 Reduo do teor de OD devido estabilizao da matria orgnica.

    A quantidade de oxignio que um curso dgua pode conter pequena devido a sua baixa solubilidade (9,2 mg/l, 20oC). O Quadro 6 apresenta alguns valores das concentraes de OD para gua doce e do mar, para diferentes temperaturas e presso constante de uma atmosfera. Quando a atividade fotossinttica comea a aumentar gradativamente (primeiras horas da manh) o OD tambm tem um incremento. O valor mximo de OD, muitas vezes, superior ao nvel de saturao pode ser observado ao entardecer. noite, a atividade fotossinttica diminui rapidamente dando lugar aos processos de respirao (consumo de oxignio) causando a reduo do OD no manancial.

    Apesar de ser considerado o gs mais nobre para a vida humana e para o meio ambiente, em geral, o oxignio est associado aos efeitos de corroso em ferro e ao, principalmente em sistemas de distribuio de guas, caldeiras e em turbinas de hidroeltricas.

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    O consumo de OD utilizado para calcular a DBO (Demanda Bioqumica de Oxignio). A determinao do OD pode ser realizada atravs do oxmetro (em campo) ou pela anlise de laboratrio (mtodo de Winkler).

    Quadro 6 - Concentrao de OD na gua, segundo a temperatura. Temperatura da gua (C) OD Sat (mg/l) Temperatura da gua (C) OD Sat (mg/l)

    0 14,60 16 10,00 1 14,20 17 9,70 2 13,80 18 9,50 3 13,50 19 9,40 4 13,10 20 9,20 5 12,80 21 9,00 6 12,50 22 8,80 7 12,20 23 8,70 8 11,90 24 8,50 9 11,60 25 8,40 10 11,30 26 8,20 11 11,10 27 8,10 12 10,80 28 7,90 13 10,60 29 7,80 14 10,40 30 7,60 15 10,20

    7.2.7 - Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO) A DBO uma medida indireta da quantidade de matria orgnica biodegradvel atravs do consumo de oxignio dissolvido, pela respirao dos microorganismos. definida como a quantidade de oxignio dissolvido na gua, necessria para oxidao bioqumica das substncias orgnicas presentes na gua durante um perodo de tempo (quantidade de O2 requerida pelas bactrias para estabilizar a matria orgnica "decomponvel" sobre condies aerbicas).

    A DBO retrata a quantidade de oxignio requerida para estabilizar, atravs de processos bioqumicos, a matria orgnica carboncea. uma indicao indireta, portanto, do carbono orgnico biodegradvel. As reaes oxidativas envolvidas nos testes de DBO so resultantes de atividades biolgicas e a taxa pela qual as reaes processam-se governada, principalmente, pela populao de microorganismos e a temperatura adequada (200C, que mais ou menos um valor mdio da maioria dos corpos d'gua).

    A estabilizao completa demora, em termos prticos, vrios dias (cerca de 20 dias ou mais para esgotos domsticos). A esta DBO denominamos de Demanda ltima de Oxignio (DBOu). Tendo por objetivo evitar que o teste de laboratrio fosse sujeito a uma grande demora e permitir a comparao com outros resultados, optou-se por padronizar o mtodo: convencionou-se proceder anlise no 5 dia. Para esgotos domsticos tpicos, esse

    consumo do quinto dia pode ser correlacionado como o consumo total final (DBOu);

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    determinou-se que o teste fosse efetuado temperatura de 20C, j que temperaturas diferentes interferem no metabolismo bacteriano, alterando as relaes entre DBO de 5 dias e a DBO ltima.

    A partir das consideraes acima, optou-se por denominar de DBO padro aquela expressa por DBO520 (DBO de 5 dias a 200C)

    Resumindo, o teste da DBO pode ser entendido da seguinte maneira: no dia da coleta, determina-se o teor de (OD) da amostra. Cinco dias aps, com a amostra mantida em um frasco fechado e incubada a 20C, determina-se o novo teor, j reduzida, devido ao consumo de oxignio durante o perodo. A diferena entre o teor de OD no dia zero e no dia 5 representa o oxignio consumido para a oxidao da matria orgnica, sendo, portanto, a DBO5.

    7.2.8 - Demanda Qumica de Oxignio (DQO) a quantidade de oxignio necessria para oxidar quimicamente a matria orgnica. O mtodo consiste em oxidar a matria orgnica da amostra com um agente oxidante mais forte possvel (dicromato de potssio) em meio cido (cido sulfrico) a quente. Uma das grandes vantagens da DQO sobre a DBO que permite respostas em tempo muito menor: 2 horas utilizando o mtodo do dicromato. Alm disso, o teste de DQO engloba no somente a demanda de oxignio satisfeita biologicamente (como a DBO), mas tudo que susceptvel de demandas de oxignio, em particular os sais minerais oxidveis. Por isto mesmo a DQO prefervel a DBO para anlises de despejos industriais. A principal diferena com relao ao teste da DBO neste ocorre uma oxidao bioqumica da matria orgnica, realizada inteiramente por microrganismos, enquanto que DQO corresponde a uma oxidao qumica da matria orgnica, obtida atravs de um forte oxidante (dicromato de potssio) em meio cido.

    7.2.9 - Grupo Nitrognio Os compostos de nitrognio so de grande interesse para a engenharia sanitria devido

    importncia deste parmetro nos processos vitais de todas as plantas e animais. O ciclo do nitrognio na biosfera alterna-se entre vrias formas e estados de oxidao. No meio aqutico o nitrognio pode ser encontrado nas formas de: nitrognio molecular (N2) (escapando para atmosfera), nitrognio orgnico (dissolvido e em suspenso), amnia (livre: NH3 e ionizada: NH4+), nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-). O nitrognio orgnico no esgoto domstico est, principalmente, na forma de protena. O crescimento no teor do nitrognio orgnico indcio de poluio da gua com esgoto ou resduo industrial. O nitrognio orgnico inclui materiais naturais como protenas, peptdeos, cido nuclico e uria, e inmeros compostos orgnicos sintticos.

    DQO > DBO e DQO = DBO + Matria Orgnica no biodegradvel

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    Figura 14 Aporte de nitrognio ao meio aqutico e o desenvolvimento do processo de Eutrofizao.

    Considera-se como nitrognio amoniacal, aquela frao de nitrognio com on amnio no equilbrio: NH4 NH3 + H+. O nitrognio amoniacal ou amnio est presente naturalmente nas guas superficiais e esgotos. A concentrao de amnia nas guas varia de menos de 10 mg/l em algumas guas naturais, superficiais e profundas, a mais de 30 mg/l em guas residurias.

    A amnia existe em soluo tanto na forma de on (NH4+) como na forma livre, no ionizada (NH3). A distribuio relativa assume a seguinte forma em funo dos valores de pH:

    O nitrito, junto com o nitrato, constitui o nitrognio total oxidado. O nitrognio sob a forma de nitrito pode ter origem na reduo do nitrato como na oxidao de amnia. Tais processos podem ocorrer em plantas de tratamento de esgotos, sistemas de distribuio de guas (reduo de nitratos de ferro, zinco e chumbo nos condutos) e nas guas naturais. O cido nitroso, o qual formado a partir de nitritos em soluo acidificada, pode reagir com aminas secundrias para formar nitrosaminas muitas das quais so conhecidas como carcinognicos. O nitrito pode entrar nos sistemas de abastecimento pblico como conseqncia do uso como inibidor de corroso em guas de processos industriais. O nitrito muito raramente aparece em concentrao superior a 1 mg/l, mesmo em afluente de estao de tratamento de esgoto. Sua concentrao em guas superficiais ou profundas sempre inferior a 0,1 mg/l, pois o nitrito instvel em presena do oxignio em gua, em condies aerbicas praticamente nulo o seu teor.

    Distribuio entre as formas de amnia: pH < 8............ Praticamente toda a amnia na forma de NH4+ pH = 9,5......... Aproximadamente 50% NH3 e 50% NH4+ pH > 11.......... Praticamente toda a amnia na forma de NH3

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    A presena de nitrato na gua uma indicao da ltima etapa da oxidao da matria nitrogenada. Ele pode indicar poluio com resduos animais, antes da poluio vegetal, uma vez que os cidos animais so mais ricos em nitrognio que os vegetais, alm da decomposio animal ser mais fcil. As guas de chuva carregam uma quantidade considervel de nitrognio ntrico (NO3) da atmosfera. As guas superficiais de boa qualidade geralmente so pobres em nitratos, porque este nion pode ser facilmente absorvido pela vegetao em crescimento, embora atinja altos nveis em guas profundas. Em quantidades excessivas o nitrato, pode desenvolver em crianas a doena conhecida como metahemoglobinemia (cianose), por isso o limite mximo de 10 mg/l em guas de consumo. O nitrato encontrado em pequenas quantidades em esgotos domsticos frescos. Nos efluentes industriais de tratamento biolgico, o nitrato pode ser encontrado em concentraes superiores a 30 mg/l.

    Nos esgotos domsticos brutos, as formas predominantes so o nitrognio orgnico e a amnia. Estes dois, conjuntamente, so determinados em laboratrio pelo mtodo Kjeldahl, constituindo o assim denominado Nitrognio Total Kjeldahl (NTK). As demais formas de nitrognio so usualmente de menor importncia nos esgotos efluentes a uma estao de tratamento. Em resumo, tem-se:

    NTK = Amnia + Nitrognio Orgnico...(forma predominante nos esgotos domsticos) NT = NTK+ NO2- + NO3-.... .................................. (nitrognio total)

    Atravs das anlises das formas de nitrognio verificamos o grau de estabilizao da matria nitrogenada na gua, podendo assim indicar a "idade" de ocorrncia da poluio orgnica (ver Quadro 7).

    Quadro 7 - Distribuio relativa das formas de nitrognio segundo distintas condies Condio Forma Predominante do Nitrognio

    Esgoto bruto Nitrognio orgnico Amnia Poluio recente em curso dgua Nitrognio orgnico Amnia

    Estgio intermedirio da poluio em curso dgua

    Nitrognio orgnico Amnia Nitrito (em menores concentraes) Nitrato

    Poluio remota em um curso dgua Nitrato Efluente de tratamento sem nitrificao Amnia Efluente de tratamento com nitrificao Nitrato Efluente de tratamento com nitrificao /desnitrificao

    Teores mais reduzidos de todas as formas de nitrognio

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    7.2.10 - Fsforo A importncia do fsforo associa-se principalmente aos seguintes aspectos: o fsforo um

    nutriente essencial para o crescimento dos microrganismos responsveis pela estabilizao da matria orgnica. Usualmente os esgotos domsticos possuem um teor suficiente de fsforo, mas este pode estar deficiente em certos despejos industriais; o fsforo um nutriente essencial para o crescimento de algas, podendo por isso, em certas condies, conduzir a fenmenos de eutrofizao de lagos e represas. O fsforo na gua apresenta-se principalmente nas formas de ortofosfatos, polifosfatos e fsforo orgnico.

    Os ortofosfatos so diretamente disponveis para o metabolismo biolgico sem necessidade de converses a formas mais simples. As principais fontes de ortofosfatos na gua so o solo, detergentes, fertilizantes, despejos industriais e esgotos domsticos (degradao da matria orgnica). A forma em que os ortofosfatos se apresentam na gua depende do pH. Tais incluem PO43-, HPO42-, H2PO4-, H3PO4. Em esgotos domsticos tpicos a forma predominante o HPO4-2.

    Os polifosfatos so molculas mais complexas com dois ou mais tomos de fsforo. Os polifosfatos se transformam em ortofosfatos pelo mecanismo de hidrlise, mas tal transformao usualmente lenta.

    O fsforo orgnico normalmente de menor importncia nos esgotos domsticos tpicos, mas pode ser importante em guas residurias industriais e lodos oriundos do tratamento de esgotos. No tratamento de esgotos e nos corpos dgua receptores, o fsforo orgnico convertido em ortofosfatos.

    7.2.11 - Sulfatos A quantidade de ons sulfatos na gua devida s reaes da gua com rochas sulfatadas

    e oxidao bioqumica de sulfetos e outros compostos de enxofre. Podem originar-se tambm em numerosas descargas industriais. O aumento na concentrao de sulfatos pode ser relacionado com a poluio de corpos d'gua por guas pluviais, que contm relativamente grandes quantidades de compostos orgnicos e minerais de enxofre. Em condies anaerbicas, so os responsveis por problemas de odor e corroso de coletores, devido formao de gs sulfdrico e cido sulfrico (meio mido).

    7.2.12 - Cloretos Os cloretos ocorrem em todas as guas naturais e sua presena deve-se a percolao da

    gua nos solos com depsitos minerais, ao contato direto ou indireto com gua do mar, a poluio por esgotos domsticos (em particular a urina humana) e industriais e pelas guas de retorno dos sistemas de irrigao agrcolas.

    No Brasil, as guas superficiais de rios e poos apresentam baixos nveis de cloretos (5 a 25 mg/l). Sabe-se que alguns audes do Nordeste, devido ao processo de evaporao intensa,

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    sofrem uma salinizao crescente, tornando suas guas salobras. Cloretos em elevadas concentraes podem ser uma desvantagem em guas domstica e ou industriais, porque aceleram a corroso em tubulaes metlicas, caldeiras e outras instalaes.

    O aumento de sua concentrao pode servir como um dos sinais de poluio fecal. Sua presena torna-se objetvel quando acima de 250 mg/l devido ao gosto salino (cloreto de sdio), porm teores at 1000 mg/l de clcio e magnsio podem no dar gosto. Os cloretos so usados, tambm, como indicadores de poluio por esgotos sanitrios.

    7.2.13 - Fenol O fenol aparece nas guas principalmente devido a resduos de refinarias, queima do carvo, indstrias qumicas, algumas algas e vegetao. A presena nas guas pode ocasionar gosto e odor quando submetidas a clorao, mesmo em teores inferiores a 0,001 mg/l. Os fenis so compostos orgnicos que, geralmente, no ocorrem naturalmente nos corpos d'gua. A presena dos mesmos se deve principalmente aos despejos de origem industrial. So compostos txicos aos organismos aquticos, em concentraes bastante baixas, e afetam o sabor dos peixes e a aceitabilidade das guas, por conferir sabor e odor extremamente pronunciados, especialmente os derivados do cloro. Para o homem o fenol considerado um grande veneno trfico, causando efeito de cauterizao no local em que ele entra em contato atravs da ingesto. Os resultados de intoxicao so nuseas, vmito, dores na cavidade bucal, na garganta e estmago, entre outros. Inicialmente, h uma excitao seguida de depresso, e queda na presso arterial, seguida de desenvolvimento de coma, convulso e endemia dos pulmes.

    7.2.14 - Metais A presena de metais na gua apresenta efeitos diversos que vo desde efeitos benficos, passando por efeitos incmodos e indo at efeitos perigosamente txicos. Alguns metais so essenciais (ex.: cobre), outros podem afetar adversamente os consumidores (chumbo, cdmio, mercrio, cromo). Alguns metais podem ser benficos ou txicos, dependendo de suas concentraes (ferro, mangans, zinco). O Quadro 8 apresenta alguns efeitos de metais txicos. Os metais podem ser determinados satisfatoriamente pelo mtodo de espectrofotometria de absoro atmica (EAA) ou por mtodos colorimtricos.

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    Quadro 8 Metais pesados, fontes e efeitos na sade. Elemento Fonte Efeitos Alumnio Abundante na crosta terrestre Txico s plantas Berlio Carvo, ind. nuclear, minerao Envenenamento agudo e crnico, cncer Cdmio Carvo, minerao de zinco, lonas de freio, fumaa de cigarro Doenas cardiovasculares, hipertenso Chumbo Descarga de tubos Dano ao crebro, convulses Cobre Tubos d'gua, controle de algas, indstria Danos ao fgado, txico s plantas Cromo Acabamento de metais, curtumes Possvel carcinognico Mangans Minerao e metais Relativamente no txico Mercrio Carvo, baterias eltricas, outras indstrias Danos ao sistema nervoso, morte

    Selnio Carvo, petrleo, enxofre Cncer em ratos e cries em animais Zinco Acabamento de metais, minerao, carvo Efeitos no pulmo

    7.3 - Caractersticas Biolgicas das guas Superficiais Uma parcela do material em suspenso presente na gua possui "vida" so os

    microorganismos que tambm contribuem para a formao das impurezas. Estes microorganismos podem ser tipicamente aquticos ou introduzidos na gua a partir de uma contribuio externa. Eles desenvolvem na gua suas atividades biolgicas de nutrio, respirao, excreo, entre outras, causando alteraes de carter qumico e ecolgico no prprio ambiente aqutico.

    A diversidade de espcies no meio aqutico depende das condies fsicas e qumicas que propiciam a sobrevivncia dos microorganismos, formando a cadeia alimentar.

    Os microorganismos de origem externa (microorganismos patognicos introduzidos na gua junto com material fecal) normalmente, no se alimentam ou se reproduzem no meio aqutico, tendo um carter transitrio no ambiente.

    O Quadro 9 mostra os principais organismos presentes nas guas superficiais. Devido grande variedade de microorganismos patognicos podem estar contidos na

    gua, dificultando, portanto, a sua determinao. No entanto, a sua existncia avaliada atravs de indicadores da presena de matria fecal na gua.

    As bactrias utilizadas como indicadores de poluio da gua por matria fecal so os coliformes, os quais vivem, normalmente, no organismo humano (existem em grande quantidade nas fezes). A presena de bactrias do grupo coliformes na gua indica somente que a mesma recebeu matria fecal e pode, portanto, conter microorganismos patognicos. Entre as bactrias do grupo coliformes, a mais importante como indicadora da poluio fecal a Escherichia Coli.

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    Quadro 9 Principais microorganismos presentes nas guas superficiais. Microrganismo Descrio

    Bactrias Organismos unicelulares; de formas e tamanhos variados; principais responsveis pela estabilizao da matria orgnica; algumas bactrias so patognicas, causando principalmente doenas intestinais

    Algas Organismos autotrficos; fotossintetizantes; possuem clorofila; importantes na produo de oxignio nos corpos dgua e em alguns processos de tratamento de esgotos; em lagos e represas, podem proliferar em excesso, causando uma deteriorao da qualidade da gua

    Fungos Organismos aerbios; multicelulares; no fotossintticos; heterotrficos; importantes na decomposio da matria orgnica; podem crescer em condies de baixo pH

    Protozorios Organismos unicelulares; maioria aerbia ou facultativa; alimentam-se de bactrias, algas e outros microorganismos; so essenciais no tratamento biolgico para a manuteno de um equilbrio entre os diversos grupos; alguns so patognicos

    Vrus Organismos parasitas; formados pela associao de material gentico (DNA ou RNA) e uma carapaa protica; causam doenas e podem ser de difcil remoo no tratamento de gua ou do esgoto

    Helmintos Animais superiores; ovos de helmintos presentes nos esgotos podem causar doenas Fonte: Silva e Mara (1970), Tchobanoglous e Schroeder (1985), Metcalf & Eddy (1991).

    A escolha do grupo coliforme como indicador da presena de patognicos de origem fecal nas guas superficiais est justificada nos itens seguintes: Esto presentes em grande nmero, na matria fecal e em nenhum outro tipo de matria

    orgnica poluente, logo, so indicadores especficos de matria fecal; Algumas das bactrias pertencentes ao grupo (Escherichia Coli, por exemplo) no se

    reproduzem na gua ou no solo, mas exclusivamente no interior do intestino (ou em meios de cultura especial temperatura adequada), ou seja, somente so encontradas na gua quando introduzidas atravs da matria orgnica fecal e a sua quantidade proporcional concentrao da matria orgnica;

    Apresentam um grau de resistncia ao meio ( luz, oxignio, cloro e outros agentes destruidores de bactrias) compatvel ao que apresentado pelos principais patognicos intestinais que podem ser veiculados pela gua, dessa forma, reduz-se muito a possibilidade de existirem patognicos fecais quando j no se encontram coliformes na gua;

    A caracterizao e a quantificao so realizadas por mtodos relativamente simples;

    8 - A gua na Transmisso de Doenas A gua e a sade da populao so duas coisas inseparveis. A disponibilidade de gua

    de qualidade condio indispensvel para a prpria vida e, mais do que qualquer outro fator, a qualidade da gua condiciona a qualidade da vida. (OPAS/OMS gua e Sade, Washington, D.C., 1998).

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    Segundo dados da Organizao Mundial de Sade (OMS): Cerca de 80% das doenas que ocorrem nos pases em desenvolvimento so ocasionadas

    pela contaminao da gua e 25% dos leitos hospitalares do mundo esto ocupados por enfermos, cujas doenas esto relacionadas com a gua;

    A cada ano, 15 milhes de crianas de 0 a 5 anos morrem, devido falta ou deficincia dos sistemas de abastecimento de guas e esgotos; e

    Aproximadamente, 30% da populao mundial tem garantia de gua tratada e os 70% restantes dependem de poos, cacimbas, gua da chuva e outras fontes de abastecimento passveis de contaminao.

    A relao entre a qualidade da gua e as doenas, intuitivamente suspeitada ou admitida desde a antiguidade, s ficou comprovada cientificamente em meados do sculo XIX com a epidemia de clera em Londres, em 1854. O fator quantidade de gua tem tanta ou mais importncia que a qualidade, na preveno de algumas doenas. A escassez da gua dificulta o asseio corporal e do ambiente, permitindo a disseminao de enfermidades associadas falta de higiene. A incidncia de diarrias, do tipo shigelose, varia inversamente quantidade de gua disponvel "per capita", mesmo que essa gua seja de qualidade muito boa. A tracoma, que ocorre na zona rural do Brasil, tem como uma das bases de sua profilaxia, o abastecimento dgua no domiclio, em quantidades suficientes para permitir o asseio corporal satisfatrio. Algumas doenas cutneas e infestaes por ectoparasitas, como os piolhos, podem ser evitadas ou atenuadas quando existe conjugao de bons hbitos higinicos e quantidade de gua suficiente. A Figura 15 mostra os diversos modos de transmisso de doenas ao homem.

    Figura 15 Modos de transmisso de doenas.

    8.1 - Doenas Hdricas

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    As doenas hdricas, de acordo com o seu mecanismo de veiculao, podem ser classificadas em doenas de transmisso hdrica e doenas de origem hdrica. A Figura 16 apresenta as principais vias de transmisso de microorganismos patognicos.

    Figura 16 Principais vias de transmisso de microorganismos patognicos.

    8.1.1 - Doenas de Transmisso Hdrica A gua um importante veculo de transmisso de doenas, principalmente, do aparelho intestinal. Os microrganismos patognicos responsveis por essas doenas chegam gua com as excretas de pessoas ou de animais infectados, ocasionando as denominadas doenas de transmisso hdrica. Em geral, os microrganismos (bactrias, vrus, vermes e protozorios), presentes na gua tm seu "habitat" nas guas de superfcie ou so carreados pelas guas de enxurradas ou podem ser oriundos de esgotos domsticos e outros resduos orgnicos dispostos inadequadamente no curso dgua. O Quadro 10 mostra as principais doenas transmitidas por microorganismos patognicos atravs da urina, fezes e esgotos. Nas guas de abastecimento, o maior perigo est na possibilidade de que est tenha sido contaminado recentemente por guas residurias ou por excretas humanas ou de animais. No caso contaminao recente possvel que os microorganismos patognicos estejam vivos na gua e com o consumo desta poder surgir novos casos.

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    Quadro 10 - Doenas causadas por microrganismos patognicos e helmintos atravs da urina, fezes e esgotos domsticos.

    Agente Patognico Doena Urina Fezes Esgoto

    Bactrias

    Escherichia Coli Diarria X X X Leptospira Interrogans Leptospirose X Salmonella Typhi Febre Tifide X X X Shigella spp Shigelose X Vibrio Cholerae Clera X

    Vrus Poliovrus Poliomielite X X Rotavrus Gastroenterite X Protozorios,

    Amebas Entamoeba Histolytica Amebase X X Girdia Giardase X X

    Helmintos, Ovos de Parasitas

    Ascaris Lombricides Ascaridase X X Fasciola Heptica Distomiase Heptica X Ancylostoma Duodenale Ancilostomose X X Necator Americanus Ancilostomose X X Schistosoma spp Esquistossomose X X X Taenia spp Teanase X X Trichuris Trichiura Tricocefalose X X

    8.1.2 - Doenas de Origem Hdrica Os poluentes qumicos encontrados nos recursos hdricos podem causar prejuzos sade

    da populao tendo origem: Natural: substncias minerais e orgnicas dissolvidas ou em suspenso e gases provenientes

    da atmosfera. A gua, atravs do seu ciclo hidrolgico, est em permanente contato com os constituintes da atmosfera e da crosta terrestre, dissolvendo muitos elementos e carreando outros em suspenso;

    Artificial: substncias resultantes do tratamento da gua (sulfato de alumnio, cal, etc.); do uso de agrotxicos e fertilizantes; lixvias de aterros sanitrios e de lixes; efluentes industriais in natura ou parcialmente tratados; emisso de gases no tratados atravs das chamins.

    Existem doenas de origem hdrica, como por exemplo, a ancilostomase e a ascaridase, em que a gua, eventualmente, pode tambm atuar como veculo de certos casos. Alm disso, a gua imprescindvel ao ciclo biolgico de muitos vetores responsveis por graves doenas, entre eles, os mosquitos que transmitem a malria e a febre amarela, os quais possuem uma fase larvria, obrigatoriamente, em meio aqutico. Doenas como a malria, indiretamente, esto relacionadas com a gua. Neste caso, a gua no atua como veiculo, mas o mosquito transmissor se procria nas colees de gua.

    O Quadro 17 relaciona a presena de substncias na gua e a doena de origem hdrica correspondente.

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    Quadro 17 - Presena de substncias qumicas em guas. Impurezas Conseqncias

    Flor Fluorose Dentria (> 1,5 mg/l). Para prevenir a crie (0,60 a 1,5 mg/l) Nitratos Cianose (> 50 mg/l) Fenis Morte (> 1,5 mg/l). Causa cor, sabor e odor (> 0,001 mg/l) Cloretos Sabor (> 100 mg/l). Problemas de presso Arterial e cardacos Ferro Cor, Sabor (> 0,50 mg/l) Iodo Carncia (Bcio) Cromo Hexavalente Envenenamento (> 2 mg/l) Cobre Envenenamento Cdmio Doena Itai-itai Chumbo Efeito Txico (Saturnismo) Selnio Incrustaes (Caldeiras) Magnsio Consumo de Sabo Mangans Doena do Manganismo Mercrio Doena de Minamata Nquel Dermatites e problemas nos nervos cardacos e respiratrios Sulfatos Efeito Laxativo

    9 - Referncias Bibliogrficas Consultadas Barros, Raphael T.V. et al. Manual de Saneamento e Proteo Ambiental para os Municpios.

    1991. UFMG/DESA, Vol.2, 221p. Braile, Pedro Mrcio. Cavalcanti, Jos Eduardo W.A.. Manual de Tratamento de guas

    Residurias Industriais. So Paulo: CETESB, 1979. 764p. : il. ; 22cm. Branco, S. 1986. Hidrobiologia Aplicada Engenharia Sanitria, Ed. CETESB. So Paulo/SP.

    620p. Dacach, Nelson Gandur. Sistemas Urbanos de gua. 1975. 388p. Dersio, Jos Carlos. Introduo ao Controle de Poluio Ambiental. So Paulo: CETESB, 1992.

    201p. 1a ed. FUNASA: Fundao Nacional da Sade. Ministrio da Sade. Manual de Saneamento. 1999. 3a

    edio, 372p. Mota, S. Urbanizao e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 1999. 352 p.. Mota, S. Introduo a Engenharia Ambiental. Rio de Janeiro: ABES, c1997. 280 p.. Mota, S. Preservao e Conservao dos Recursos Hdricos. Rio de Janeiro: ABES, 1995. 187 p.. OMS. Guias para la Calidad del Agua Potable: Recomendaciones. Spain, v.1, 1995. Von Sperling, M. Introduo Qualidade das guas e ao Tratamento de Esgotos. Belo Horizonte:

    UFMG/DESA, 1995. 240p. (Princpios do Tratamento Biolgico de guas Residurias; v. 1).