1991 - carta de adilson cabral

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Antes tarde do que nunca Participar do Movimento Estudantil — em suas mais variadas formas — é um fator fundamental para a formação da consciência do estudante em relação ao seu curso. Atualmente significa saber que o seu curso está bem distante do esperado lutar pelas bandeiras principais de nossa identificação com a sociedade: a comunicação popular e a democracia nos meios de comunicação de massa. Aprender e se acostumar a trabalhar com o coletivo é uma atividade bastante compensatória. Os frutos, quando bem colhidos, levam à construção de um movimento consciente de seus objetivos. A confiança mútua é um elemento fundamental para a consolidação do movimento. Além disso, se somos levados a entrar no movimento estudantil por insatisfação com o curso e pelos nossos ideais, também entramos para o movimento Estudantil por prazer. Prazer, confiança mútua, garra, determinação, dinamismo são apenas palavras jogadas no vento sem a sinceridade da construção do movimento no cotidiano. Descrenças nos estudantes que não participam do Movimento estudantil só vez equivocada e descrença de si mesmo quando se vê lutando contra uma malosca que, a1ém de se recusar a participar, dando aulas àqueles que participam. Aos que participam do Movimento Estudantil duas qualidades são imprescindíveis: vontade e competência. São duas palavras que parecem tão fascistóides quantos às outras que trazem muito dentro de si. A vontade de construir o Movimento Estudantil convêm justamente da frustração com seu curso e com a manipulação do Movimento Estudantil no Brasil. É preciso mantê-1a, mesmo sabendo que estamos trabalhando com pessoas de pensamentos diferentes e nem sempre coerentes com as posições do MECOM. O fundamental é levar pelo seu ponto de vista. A competência se observa nos mínimos atos: na reunião que começa no horário, nas tarefas que são cumpridas nos encontros, nos intercâmbios e até no interesse de novas essências em participar do Movimento Estudantil. Em resumo a vontade leva a competência.

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Carta enviada por Adilson Cabral (Daco-UFF) em 1991, falando sobre movimento estudantil e a situação da Secune na época.

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Page 1: 1991 - Carta de Adilson Cabral

Antes tarde do que nunca

Participar do Movimento Estudantil — em suas mais variadas

formas — é um fator fundamental para a formação da consciência do

estudante em relação ao seu curso. Atualmente significa saber que o seu

curso está bem distante do esperado lutar pelas bandeiras principais de

nossa identificação com a sociedade: a comunicação popular e a democracia

nos meios de comunicação de massa.

Aprender e se acostumar a trabalhar com o coletivo é uma

atividade bastante compensatória. Os frutos, quando bem colhidos, levam

à construção de um movimento consciente de seus objetivos. A confiança

mútua é um elemento fundamental para a consolidação do movimento. Além

disso, se somos levados a entrar no movimento estudantil por insatisfação

com o curso e pelos nossos ideais, também entramos para o movimento

Estudantil por prazer.

Prazer, confiança mútua, garra, determinação, dinamismo são

apenas palavras jogadas no vento sem a sinceridade da construção do

movimento no cotidiano. Descrenças nos estudantes que não participam do

Movimento estudantil só vez equivocada e descrença de si mesmo quando se

vê lutando contra uma malosca que, a1ém de se recusar a participar, dando

aulas àqueles que participam. Aos que participam do Movimento Estudantil

duas qualidades são imprescindíveis: vontade e competência. São duas

palavras que parecem tão fascistóides quantos às outras que trazem muito

dentro de si.

A vontade de construir o Movimento Estudantil convêm justamente

da frustração com seu curso e com a manipulação do Movimento Estudantil

no Brasil. É preciso mantê-1a, mesmo sabendo que estamos trabalhando com

pessoas de pensamentos diferentes e nem sempre coerentes com as posições

do MECOM. O fundamental é levar pelo seu ponto de vista.

A competência se observa nos mínimos atos: na reunião que

começa no horário, nas tarefas que são cumpridas nos encontros, nos

intercâmbios e até no interesse de novas essências em participar do

Movimento Estudantil. Em resumo a vontade leva a competência.

Page 2: 1991 - Carta de Adilson Cabral

“Shave it up, baby”- Um breve balanço da Secune

Depois da introdução filosófica vamos ao tema principal. A Secune

foi criada no Enecom de Sao Luís em 1.990 e tem como objetivo final ser

referência nacional das lutas do MECOM. Passados seis meses de criação

ela ainda está engatinhando, muito trabalho se vê pela frente e não

se bolou o bloco na rua. Um dos motivos para essa queda de ritmo foi

a maneira conforme as discussões foram cumpridas do ENECOM para lá.

Votando—se assuntos importantes sem o devido esclarecimento e com uma

certa ansiedade de ver as coisas acontecerem.

A nítida impressão que se tem da Secune que ela não existe. O

que existe na verdade é uma comissão Pró-Secune que dará as diretrizes

básicas para a próxima gestão. Talvez o quadro pudesse ser diferente caso

os participantes da primeira gestão não estivessem tomados de uma falta

de vontade coletiva e alguns participantes dela tenham acumulado funções

dentro da diretoria para suprir deficiências (atitude patenalista, porém

necessária para manter o sopro de vida que ainda resta na Secune).

Para os próximos seis meses, a esperança é de que a vontade

reapareça para que com ela venha a competência e a Secune possa ser

divulgada em todo o Brasil a fim de levarmos todas as nossas vo1úpias à

rua.

Para a próxima gestão espera-se daqueles que se propuserem

bastante vontade de bancar o movimento, porque o trabalho é grande,

porém saudável. Participar da chapa, respeitando as diferenças de visão

do MECOM. Que não devem se transformar em atruco. A1ém disso, devem

significar compromisso consigo mesmo, por participar de um espaço onde

possa defender suas bandeiras e lutar por um curso e por condições

sociais melhores,

São Paulo, 8 de Janeiro de 1.991

Adilson Cabral — D.A. Co —UFF —RJ