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  • Adilson Marques

    EDUCAO APS A MORTE:

    PRINCPIOS DE ANIMAGOGIA COM SERES INCORPREOS

    EDIO REVISTA E AMPLIADA

    So Carlos maro de 2009

  • SUMRIO

    APRESENTAO .............................................................................................................. 03

    PARTE I A ANIMAGOGIA E O LIVRO DOS ESPRITOS ....................................................08

    CAPTULO 1 - A FUNO DAS CINCIA S DO ESPRITO E O ESPIRITISMO ................................ 09

    CAPTULO 2 DEUS: INTELIGNCIA SUPREMA E CAUSA PRIMRIA DE TODAS AS COISAS . .12

    CAPTULO 3 OS DOIS ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO........................................................... 15

    CAPTULO 4 O OBJETIVO DAS ENCARNAES................................................................................17

    CAPTULO 5 A ESCOLHA DO GNERO DE PROVAS E O LIVRE-ARBTRIO..................................24

    CAPTULO 6 A INFLUNCIA DOS ESPRITOS NO MUNDO MATERIAL..........................................27

    PARTE II - TEORIA E MTODO DA ANIMAGOGIA.......................................................32

    CAPTULO 7 - A NECESSIDADE DO PEDIDO DE AUXLIO E AS TCNICAS

    POSSVEIS PARA O ESCLARECIMENTO ESPIRITUAL..........................................................33

    CAPTULO 8 - A APOMETRIA COMO TCNICA ANIMAGGICA OU DE LIBERTAO DO EGO.36

    PARTE III - ESTUDOS DE CASO...................................................................................40

    CAPTULO 9 - ESCLARECENDO SUICIDAS......................................................................41

    CAPTULO 10 - DESCOBRINDO A MORTE DO CORPO FSICO, A COMUNICAO MEDINICA E OVALOR DA PRECE..........................................................................................................46

    CAPTULO 11 - O EFEITO DA EUTANSIA EM SERES MATERIALISTAS ............................50

    CAPTULO 12 - DIALOGANDO COM OS FALSOS PROFETAS ........................................53

    CAPTULO 13 - ALGUNS DESAFIOS E A BUSCA DO AUTODOMNIO ................................56

    CONCLUSES.............................................................................................................61

    Anexo: voc est preparado para morrer?............................................................73

  • APRESENTAO

    Espiritistas, budistas, ocultistas, terapeutas de vidas passadas, entre outros estudiosos, procuramdemonstrar que a reencarnao um fato, faz parte das Leis numinosas (divinas) ou naturais que regema vida na Terra. Excluindo os materialistas que, por convico, no podem conceber a existncia de umprincpio no material no ser humano, as correntes religiosas ou espiritualistas que no aceitam a lei dareencarnao costumam utilizar passagens bblicas para legitimar suas convices. Assim, para,teoricamente, afirmar que os Espritos (mortos) no podem fazer nada de til (como ajudar encarnados)ou prejudic-los, recorrem ao Salmo 145:4. Para afirmar que a alma morre junto com o corpo fsicobuscam argumento em Ezequiel (18:4). No caso da comunicao com os desencarnados, prtica realizadapor mdiuns espiritistas ou de outras correntes medianmicas, assim como por xams, orculos, etc.,buscam em Isaas (8:19) argumentos para mostrar que se trata do demnio1 se passando pelo Espritode um morto, apesar de tambm acreditarem que Samuel conversou com o rei Saul atravs de umapitonisa, fato narrado no livro Samuel 1, no captulo 28.

    No o nosso objetivo nessa pesquisa analisar as inmeras experincias e obras que afirmamcomprovar a existncia da vida aps a morte e a naturalidade com que se reveste a comunicao comos seres incorpreos (Espritos). Sobre o assunto, recomendo aos leitores o estudo da chamada literaturamedinica (ou seja, escrita pretensamente por Espritos) e dos estudos com enfoque cientfico (psicologiatranspessoal, terapia de vidas passadas etc.). Por exemplo, as pesquisas realizadas por Hernani GuimaresAndrade ou por Stanislav Grof trazem uma quantidade expressiva de dados que podero, em breve,levar os cientistas, antes mesmo do que os espiritualistas em geral, a aceitarem que a reencarnao, avida aps a morte e o intercmbio entre encarnados e seres incorpreos so fatos naturais no processoevolutivo do ser humano na Terra, ou pelo menos considerar essa hiptese como plausvel.

    Este estudo, provavelmente o primeiro e nico trabalho acadmico realizado no Brasil para oestudo dos processos de educao aps a morte, sem proselitismo ou tentativa de fazer doutrinao,reconhece que existe a crena na comunicao com os seres incorpreos e as pessos que realizam esseintercmbio o fazem de forma sria e compenetrada, acreditando que esto ajudando seres incorpreosiludidos pelo chamado Ego. Assim, ao elaborarmos essa pesquisa em 2003 como um projeto de ps-doutorado que, infelizmente, no foi aceito por vrias instituies de pesquisas, seja no campo dasCincias Sociais ou da Pedagogia, se transformou em uma pesquisa independente, que resultou em umpequeno livro no ano de 2004.

    Passados cinco anos da primeira edio, resolvi revisar e aprofundar este estudo que buscacompreender como se processa os chamados trabalhos de desobsesso ou de evangelizao deseres incorpreos, prtica comum tanto em centros espiritistas, em terreiros de umbanda e centrosuniversalistas, espalhados por todo o pas. Por centro espiritista estamos entendendo apenas os locaisque realizam intercmbio medinico seguindo as teorias formuladas por Allan Kardec, no sculo XIX.Por terreiros umbandistas, entendemos os locais que dizem seguir as orientaes transmitidas peloesprito Sete Encruzilhadas, atravs do mdium Zlio Fernandino de Moraes, apesar de sabermosque h outras linhas de Umbanda que seguem outras orientaes, sacrificando animais ou cobrandopelo servio prestado aos consulentes. E, por fim, por centros universalistas, compreendemos os gruposespiritualistas que realizam intercmbio medinico, seguindo as orientaes do Esprito Ramats, dopreto-velho pai Joaquim de Aruanda, entre outros, buscando realizar uma espcie de sntese entre osensinamentos espiritistas e os advindos das filosofias orientais. A pesquisa abaixo foi realizada em umcentro localizado na cidade de So Carlos que, dentro do exposto acima, poderia ser classificado comouniversalista, no qual espritos de pretos-velhos, ndios e outros que costumam ser estigmatizados

  • ou proibidos de se manifestarem nas mesas kardecistas do comunicao ao lado dos mdicos,padres, literatos , filsofos e outros que, naturalmente, so aceitos nos chamados centros espiritistaspor serem, em tese, Espritos superiores.

    Mas, se a reencarnao uma lei natural, o que, segundo estes grupos, acontece com o Espritono perodo entre uma encarnao e outra?

    Levantando informaes e dados sobre o assunto, notamos uma significativa convergnciaentre as comunicaes medinicas coletadas por escritores espiritistas e umbandistas, pelostranscomunicadores instrumentais (que contatam os mortos atravs de aparelhos eletrnicos) e dadosempricos coletados por terapeutas de vidas passadas em suas sesses de psicoterapia. Em todos oscasos, a informao que nos chega a de que os Espritos trabalham, estudam e planejam suas futurasencarnaes, escolhendo seus gneros de prova. Porm, nem sempre o Esprito vive, imediatamente,esse momento sublime. H relatos de Espritos que antes de recuperar sua conscincia espiritual plena,penam com a dor, o frio ou o calor insuportveis; um sofrimento que, segundo as narrativas, pareceeterno. Em suma, a impresso que nos chega a de que o ser incorpreo apenas deixou sua vestimentamaterial (o corpo fsico), mantendo seus ideais, sentimentos, angstias, etc. como qualquer um de ns.Por isso, um Esprito pode continuar humanizado (ligado ao Ego, a personalidade que viveu na Terra)apesar de no estar mais encarnado (preso ao corpo fsico), dizem os universalistas.

    Felizmente, nestas narrativas, parece que ningum queima eternamente no fogo do inferno,mas, por alguma razo, h os que passam uma temporada em algum lugar similar criado dentro de suaprpria mente, como acontece conosco durante um sonho. Este fato narrado como sendo uma formade expiao para o Esprito que no aproveitou a encarnao para fazer o Bem.

    Um dos livros mais interessantes que descreve fragmentos da vida no plano espiritual o NossoLar, escrito supostamente pelo Esprito Andr Luiz, uma obra psicografada pelo mdium mineiroChico Xavier. Apesar de, atualmente, ser um clssico do espiritismo brasileiro, sua publicao naprimeira metade do sculo XX causou estranheza inclusive no meio espiritista. Muitos seguidores deKardec, os kardecistas, acusaram o mdium de fantasiar ou de inventar as histrias narradas na obra,pois, at aquele momento, no havia referncias ou comunicaes medinicas que apresentassem deforma to explcita o mundo errante dos desencarnados. Para boa parte dos espritistas, aquela obraseria no-doutrinria. Somente com o passar do tempo, quando o mdium se tornou famoso, aqueleautor incorpreo passou a ser idolatrado no meio espiritista brasileiro e sua obra passou a ser classificadatambm como doutrinria ou complementar s obras bsicas, aquelas escritas por Kardec. E esseprocesso aconteceu sem que houvesse a necessidade de passar pelo hipottico controle universal,uma regra criada por Kardec no sculo XIX para estabelecer quais comunicaes dos Espritos deveriamser levadas a srio e quais deveriam ser descartadas como mistificao.

    O aceitar que o mundo astral ou dos Espritos pode ser ativo ou que o ser incorpreo trabalha aoinvs de ficar eternamente esperando pelo Juzo Final no faz parte do imaginrio das principaisreligies Ocidentais, o que as levam a valorizar muito mais o mundo material ou ao imaginrio de quesomos seres humanos que eventualmente passamos por experincias espirituais. Nesse sentido, asatividades religiosas, com seus ritos e preceitos, costumam ser apenas um evento rotinizado no cotidiano.Porm, podemos notar que mesmo as religies medianmicas brasileiras, analisando suas prticas evalores, demonstram dar mais importncia a vida material do que a vida espiritual, apesar de afirmaremque esta mais importante que a primeira. Esse um aspecto fundamental que as diferenciam dastradies orientais, nas quais fica evidente que, em Tese, seramos Espritos eternos vivenciando umaexperincia humana provisria, e no o contrrio.

  • Realmente, necessrio um exerccio mental hercleo para conceber e aceitar que o Espritoexiste independente do nosso corpo fsico, pelo menos para ns Ocidentais, sejamos ateus ou religiosos.Da a dificuldade tambm em aceitar que o Esprito antecede nossa existncia corporal.

    Para os reencarnacionistas, uma homologia fartamente difundida a de imaginar que o nossocorpo fsico similar roupa especial que o astronauta necessita para sua aventura/misso fora daTerra. Sabemos que o astronauta, antes de viajar para o espao, prepara-se muito bem, planejandovrios detalhes da misso. No espao, necessita de roupa especial, projetada para aquelas condiesambientais. Porm, tal roupa ser abandonada assim que voltar para a Terra, uma vez que ela deixou deser necessria. Com a encarnao aconteceria o mesmo. Antes de voltar para a Terra, o Esprito planejariacom seus amigos e mentores o que faria, com quem se relacionaria, que Espritos viriam para seremcuidados como seus filhos, etc. Tudo bem planejado para que possa lapidar sua alma eterna.

    Porm, para que esse jogo cooperativo possa ser vivido com mais intensidade, a regra clara:ao encarnar, apaga-se, momentaneamente, a lembrana dos erros e acertos do passado. Tambmno nos lembraramos do gnero de provas escolhido para vivenciar na Terra e, sem saber o que vaiacontecer durante nossa humanizao, teramos a oportunidade de viver essa experincia com amor,felicidade e f ou, ao contrrio, alternando momentos de euforia e desespero, de acordo com asvicissitudes experimentadas.

    Nessa Tese, no seramos frutos de um acaso ou de um destino cego, pois, aps a encarnao,teramos o livre-arbtrio2 no mbito dos sentimentos, ou seja, das atitudes. A ao material seria frutoda Lei de causa e efeito, e os acontecimentos seriam pr-programados em funo das escolhas feitas noperodo entre as encarnaes, mas todos sempre teriam livre-arbtrio para amar ou se revoltar, ser felizou infeliz diante das vicissitudes da vida humanizada.

    Isso explicaria porque, em vrios livros religiosos, encontramos o ensinamento de que Deusjulga a inteno e no o fato. Essa idia constante na Psicosofia de Lao-Ts (Tao Te Ching) e deKrishna (Baghavad Gita) e tambm, de forma espordica, no Antigo Testamento e at em O livro dosEspritos, de Allan Kardec. E os estudos de caso apresentados neste livro, recolhidos em um centrouniversalista, parecem demonstrar a veracidade e o sentido profundo da afirmao de Paulo de Tarso:Pois aquilo que o homem semear, isso tambm ceifar (Glatas, 6:7). Na tica universalista estesemear no plano do sentimento, na atitude, e no necessariamente nos atos materiais, como jsalientamos acima. a conscincia do Esprito que parece ser o prprio algoz, sem que Deus ou Jesusprecisem julgar ou punir. A idia de um Deus castigador e cruel, como aparece no Antigo Testamento,no est presente, de forma geral, nas narrativas dos Espritos que, em Tese, sofrem no plano invisvel.

    Nas reunies medinicas que acompanhamos, h um forte indcio de que a prpria conscinciaque age como o algoz do Esprito arrependido por sua fracassada encarnao, levando-o a ter a sensaode que sofre eternamente quando retorna sua condio natural, ou seja, a de um ser incorpreo.Apesar de no mais terem o corpo fsico, muitos Espritos relatam que sentem dor ou que sofremtorturas, sobretudo morais.

    Assim, Deus (ou o nome que queiramos dar para essa fora muito sublime e pura) ofereceriaquele que no soube aproveitar sua passagem pela Terra outras oportunidades de aprendizagem e deaprimoramento. por isso que reencarnar no visto pelos reencarnacionistas como punio ou castigodivino, mas como a expresso da justia e do amor numinoso para com aqueles que se perderam nocaminho, que se arrependeram de no emanar amor em seus atos materiais e que desejam saldar seusdbitos, no com Deus, mas com sua prpria conscincia.

  • Voltado ao livro Nosso Lar, em tese, um livro escrito por um desencarnado, por vias medinicas,nele encontramos a organizao e a gerncia de uma colnia espiritual localizada acima do territriodo Estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Trata-se de uma colnia para onde so encaminhados Espritosque atingiram um mediano nvel vibracional. Portanto, embora no sejam mais Espritos primitivos,segundo a nomenclatura de Allan Kardec, tambm no atingiram o grau em que poderiam ser chamadosde anjos. Para l so encaminhados os Espritos que ainda necessitam de novas encarnaes noschamados mundos de provas e expiaes, como ainda seria a Terra.

    Na colnia descrita no livro, h hospitais, educandrios, reas de lazer etc. Os Espritoscompreendem suas faltas, seu estado evolutivo e planejam com os mentores suas prximas encarnaes.Porm, como salientamos, vo para as colnias os Espritos que j atingiram determinado estgioevolutivo. E o que acontece com os Espritos que desencarnam, mas que ainda se mantm presos aoslaos da matria densa ou que cometeram erros graves que lhes pesam na conscincia?

    Com base em pontos de contato entre a literatura esprita e a de correntes que procuram estudara vida espiritual sem um enfoque religioso, h consenso de que o Esprito, ao romper com os laosmateriais, no ter autorizao para contemplar e vivenciar todas as moradias de Deus existentes noplano astral, formadas por matria mais sutil e que so invisveis aos olhos do encarnado.

    Os Espritos menos esclarecidos, ou seja, que ainda se mantm unidos ao Ego ou que aindapossuem fortes apegos materiais, sentimentais ou culturais, raramente conseguem enxergar os Espritosmais libertos ou esclarecidos, cuja vibrao eletromagntica seria mais sutil. Muitas vezes, dependendodo grau evolutivo desse Ser, nem alguns encarnados ele seria capaz de enxergar3 .

    O contrrio, porm, aconteceria. Os Espritos mais esclarecidos seriam capazes de enxergaraqueles que se encontram nos degraus mais baixos da escala evolutiva e, em Tese, podem auxili-los. aqui que entramos, de fato, no assunto deste livro. Nem todos os Espritos estariam em condies deingressar nos educandrios do plano espiritual sem o auxlio de um grupo de encarnados, organizadospara realizar esse trabalho de educao espiritual (que chamaremos aqui de Animagogia).

    Assim, para aqueles que no aproveitaram o estgio na carne para lapidar um pouco mais seuEsprito, diferentes centros, seguidores de diferentes doutrinas reencarnacionistas e tcnicas medinicas,praticam uma Animagogia, ou seja, uma atividade educativa para ajudar desencarnados iludidos peloEgo. E esta educao necessita, para ser realizada, daquelas pessoas que, em Tese, servem deintermedirios entre o plano invisvel e o visvel, os hermes da ps-modernidade: os mdiuns.

    No caso da educao de seres incorpreos, os educadores so, ao mesmo tempo, os Espritosesclarecidos (os bodhissatvas das filosofias budistas, tambm chamados de entidades na Umbanda) evrios encarnados (mdiuns ou no). Esse trabalho de educao espiritual consiste, basicamente, emorientar e esclarecer esses seres que retornaram ao plano astral, mas cujas mentes e coraes estoainda presos ao mundo denso da matria. Por isso a afirmao dos Universalistas de que so aindaespritos humanizados apesar de estarem, no momento, desencarnados. Em Tese, para encarnar, necessrio se humanizar, ou seja, ligar-se a um Ego. Porm, a desencarnao nem sempre suficientepara o Esprito readquirir, imediatamente, sua conscincia espiritual, permanecendo, por algum tempo,ainda humanizado, ou seja, preso ao Ego que criou antes de sua ltima aventura encarnatria. O EspritoRamats chama o Ego de personalidade e a conscincia espiritual de Individualidade, no livro Samadhi,psicografado pelo mdium Norberto Peixoto.

    Acredita-se que alguns se mantm presos ao Ego por terem vivenciado experincias comoateus ou intelectuais materialistas4 (apegos culturais), outros por excesso de dio, paixo ou cime(apego sentimental), ou por terem cometido suicdio5 (orgulho, egosmo, falta de f em Deus) etc.

  • Como j salientamos, este livro pretendia ser o fruto de uma pesquisa de ps-doutorado.Infelizmente, este tema ainda no adquiriu cidadania acadmica. Ainda predomina no meio acadmicobrasileiro a idia de que a mediunidade est associada com loucura ou com fraude.

    Porm, independentemente dos percalos, acredito que o mesmo um estudo original,descrevendo e interpretando um trabalho realizado com seres incorpreos em uma instituio que seconsidera universalista, localizada na cidade de So Carlos, entre os anos de 2003 e 2006. Se tudo oque assistimos for verdade e no loucura ou delrio coletivo, podemos afirmar que so muitos os quenecessitam de orientao e esclarecimento em relao vida aps a morte e que a ressurreio7 nemsempre um processo simples e sem complicaes, como poderemos constatar pelos casos aquiapresentados.

    importante salientar, novamente, que este livro no possui finalidade doutrinria, nem voltado para a prtica do proselitismo. Apesar de no termos conseguido auxilio das instituies depesquisa para o transformar em um projeto de Ps-doutorado, ele foi realizado de acordo com ospadres e procedimentos acadmicos, prprios das cincias humanas, onde se permite o estudo domarxismo, dos contos de fadas, do inconsciente coletivo etc., mas que, infelizmente, ainda nopermite o estudo da mediunidade como uma das prticas scio-culturais humanas mais antigas doplaneta.

    Talvez agora, com o surgimento dos cursos de Graduao e tambm de ps-graduao emCincias da Religio, desde que estes cursos no se transformem em campo para o doutrinismo catlicoe evanglico, possa o tema da mediunidade gozar de cidadania acadmica e, quem sabe, se tornar temade discusso no Ensino Religioso Escolar, atualmente, uma disciplina optativa no ensino fundamentale mdio.

  • PARTE IA ANIMAGOGIA E O LIVRO DOS ESPRITOS

    inteligente quem conhece os outros; sbio quem se conhece a si mesmo.

    Lao Ts

  • CAPTULO 1A FUNO DAS CINCIAS DO ESPRITO E O ESPIRITISMO

    Neste primeiro captulo se faz mister abordar a relao entre o que estou chamando de Cinciasdo Esprito (ou Espiritologia), uma disciplina acadmica para se estudar sem finalidades doutrinriasou proselitismo as possveis relaes entre o mundo material e o espiritual, e o Espiritismo, a doutrinafilosfica criada por Allan Kardec, no sculo XIX, e base para a prtica medianmica que acontece noschamados centros espiritistas. Ao contrrio destes que consideram os livros de Kardec uma verdadeabsoluta, tratando-os de forma dogmtica; na Espiritologia os estudos de Kardec possuem o mesmopeso que os escritos por outros autores encarnados ou desencarnados. Por exemplo, j salientamosque, hoje em dia, os livros psicografados por Chico Xavier so considerados doutrinrios, mas esseprocesso no foi consensual no meio espiritista brasileiro. Atualmente, so os livros escritos por umEsprito que se identifica como Ramats que so estigmatizados e tratados como no-doutrinrios.Ou seja, as bancas ou livrarias espritas so proibidas de venderem livros desse Esprito por ele noser considerado um esprito esprita. Um outro exemplo que nos ajuda a entender essa diferena seriaa relao diante de um Esprito de preto-velho. Enquanto o espiritismo afirma que um preto-velhono pode se manifestar em um trabalho medinico, a Espiritologia se pergunta: por que o Esprito semanifesta dessa forma?.

    por isso que necessrio diferenciar a Espiritologia enquanto disciplina acadmica e oEspiritismo, atualmente um movimento scio-religioso brasileiro que possui dogmas e valores prprios.Isto, porm, no significa que no devamos estudar profundamente a obra de Kardec, pois ela a basepara qualquer trabalho de Animagogia com os seres incorpreos, como veremos adiante.

    O Livro dos Espritos foi escrito em 1857, por Allan Kardec, pseudnimo do pedagogo HippolyteLon Denizard Rivail (1804-1869) e tem uma histria singular. Supostamente, o autor entrevistou oEsprito Verdade, atravs da mediunidade de vrios sensitivos. O livro apresenta cerca de 50 ensinamentosespiritualistas, aprofundados e discutidos ao longo das mais de mil questes que Kardec formulou aosuposto Esprito. Existem duas hipteses no meio espiritista brasileiro sobre este Esprito. Algunsafirmam que seria a manifestao de Jesus Cristo, enquanto outros afirmam que se trata de umacoletividade de Espritos superiores que, sob a ordem de Jesus, respondeu as perguntas formuladaspor Kardec.

    Em relao ao chamado intercmbio medinico, no resta dvida que, excluindo as fraudes eos diversos tipos de charlatanismo, o verdadeiro mdium, aps entrar em um estado alterado deconscincia, capaz de manifestar informaes que o prprio mdium desconhece em seu estado deviglia. Temos inmeros dados coletados ao longo dos ltimos 10 anos de pesquisa que nos do indcios,apesar de no provar, que o mdium manifesta atravs de seu corpo e de sua fala a opinio de conscinciasincorpreas, mas no descartamos a hiptese de que o mesmo pode estar manifestando informaesprovenientes de um suposto inconsciente coletivo, algo tambm nada cientfico, mas que ganhouesse status entre os que no aceitam, nem como hiptese, a possiblidade de comunicao com osmortos ou a reencarnao.

    Na introduo de O Livro dos Espritos, Kardec esclarece que nem todos os espiritualistas, ouseja, aqueles que acreditam na existncia dos Espritos, aceitam que possvel estabelecer comunicaescom o mundo invisvel. Assim, para designar aqueles que acreditam, Kardec empregou o termo espritaou espiritista e definiu o Espiritismo como o estudo das relaes entre o mundo material e o esprituale do papel ativo dos Espritos no mundo invisvel. Nesse sentido, Kardec reservou palavraespiritualismo sua acepo prpria, ou seja, a de oposto do materialismo. Assim, todo aquele queacredita haver em si outra coisa que a matria, espiritualista. Porm, espiritistas, seriam os que acreditam

  • na possibilidade do esprito se manifestar e se relacionar com o mundo material.A partir da definio proposta por Kardec, podemos dizer que o espiritista (aquele que acredita

    nas manifestaes dos Espritos) tambm espiritualista, mas nem todos os espiritualistas so espiritistas,como o caso dos catlicos e evanglicos. Porm, pela definio de Kardec, tambm deveriam serchamados de espiritistas os Umbandistas e os Universalistas, por exemplo, pois eles acreditam nasmanifestaes dos Espritos e fazem reunies medinicas, mesmo que seja com aqueles Espritosestigmatizados e proibidos de se manifestarem atravs de mdiuns kardecistas por serem consideradosinferiores, mistificadores ou selvagens.

    por isso que O Livro dos Espritos classificado por Kardec como um livro de filosofiaespiritualista, pois considera o Espiritismo uma das faces do espiritualismo, sem negar a importnciadas outras (Budismo, Catolicismo, Hinduismo etc.), como se pode perceber com a leitura da questo628 de O livro dos Espritos.

    Outro dado importante que o Espiritismo, na definio de Kardec, seria uma cinciaexperimental que derivaria, necessariamente, em uma filosofia de cunho moral. Em outras palavras,seria uma cincia que, em Tese, estudaria a existncia da vida aps a morte, a reencarnao como leinatural e que sistematizaria as formas possveis de intercmbio com os seres incorpreos atravs dofenmeno denominado mediunidade.

    Em suma, para Kardec, que possua um olhar cientificista, o Espiritismo seria uma disciplinacom o objetivo de estudar toda e qualquer manifestao de Espritos, sejam elas fsicas ou intelectuais,buscando compreender a relao entre o mundo material e o espiritual. Mas esse processo deixou deser aplicado no meio kardecista brasileiro. Por exemplo, tenho acompanhado a vidncia de uma mdiumpaulista desde 2003. Ela, ao entrar em uma igreja evanglica, costuma descrever o trabalho dos Espritosdando passes nos freqentadores, quando estes oram e colocam as mos em recipientes com guaque os pastores dizem que para curar, mesmo que os pastores acreditem que os Espritos dormemaps a morte, esperando pelo dia do juzo final.

    Da mesma forma, ao adentrar em uma casa holstica que aplica Reiki (uma tcnica de tratamentobioenergtico criada pelo monge budista Mikao Usui no incio do sculo XX, e similar ao passeesprita), ela enxerga e descreve a equipe de mdicos desencarnados utilizando diferentes recursos detratamento como fitoterapia, cromoterapia etc. e at enfermeiros fazendo curativos nos pacientes,invisveis para ns que no temos esse potencial psquico, mas que esto plasmados no paciente. importante salientar que a maioria dos adeptos dessa tcnica tambm no acreditam na interveno dosdesencarnados durante suas sesses.

    Outro fato curioso que essa mdium vidente j me descreveu foi que, durante uma aula deYoga, ela observou a presena de vrios espritos levitando sobre coloridas almofadas e pulverizandonos praticantes diferentes luzes coloridas (verdes, douradas, lilases etc.) no momento em que estes seencontravam meditando.

    Em outras palavras, todos esses fenmenos que essa mdium vidente capaz de descrever,mesmo em seu estado de viglia, e que so chamados de alucinao pela neurocincia tambm no soconsiderados pelos espiritistas como fatos espritas. Para vrios espiritistas, as informaes que eladescreve so elementos estranhos ao espiritismo, pois no haveria relao entre Espiritismo e Yogaou Espiritismo e Reiki, apesar de Kardec escrever que os Espritos esto em todos os lugares observandoo que fazemos e intervindo no mundo material como uma das foras da natureza.

    Em suma, se o potencial psquico dessa mdium no interessa para os espiritistas, se faz mister,urgentemente, a criao das Cincias do Esprito, uma cincia que tenha instrumentos para estudaressa forma de vidncia. Em suma, se o Espiritismo no mais se interessa pelas manifestaes dosEspritos , pois no busca mais compreender a relao que existe entre o mundo espiritual e o material,precisamos de um cientista do esprito, algum que seja to inquiridor como foi Kardec, no sculo

  • XIX. Ou seja, esse cientista se faz necessrio para estudar todas as manifestaes espritas (ou dosespritos), sem idolatrar ou criticar qualquer religio, manifestao medinica ou prtica espiritualista.

    importante salientar que a mediunidade um fenmeno conhecido desde a Antiguidade e foiatravs dela que Kardec sistematizou a Doutrina Esprita, ou seja, a filosofia espiritualista ensinadapelos Espritos, no sculo XIX. Porm, cabe s cincias do esprito o estudo de todo e qualquer fatoesprita, ou seja, as manifestaes latentes e patentes dos Espritos. Nesse sentido, operaes espritas(realizadas por desencarnados atravs de mdiuns) no Espiritismo, mas um objeto de estudoprivilegiado das Cincias do Esprito; da mesma forma, as mensagens psicografadas em um centroespiritista ou a manifestao de um Esprito na forma de preto-velho em um terreiro de Umbanda,tambm no Espiritismo, mas cabe s Cincias do Esprito estudar estes fenmenos imparcialmente,assim como estudar a Apometria, a Transcomunicao Instrumental e tantos outros fenmenos nosquais a manifestao de Espritos acontece, mas que so considerados elementos estranhos aoEspiritismo.

    Enfim, as Cincias do Esprito possui uma infinidade de temas e fenmenos para observar eestudar, sempre com o objetivo de compreender as aes que os Espritos exercem, em Tese, tantosobre o mundo moral como sobre o mundo fsico, pois, segundo os pressupostos kardequianos, elesagem sobre a matria e sobre o pensamento, constituindo-se em uma fora da natureza.

    Kardec afirmou que os Espritos so a causa de uma multido de fenmenos, at agorainexplicados ou mal explicados, e que s encontram uma soluo racional atravs do Espiritismo.Porm, como j salientamos, h muito tempo os espiritistas abandonaram as pesquisas e transformaramos livros de Kardec numa espcie de Bblia, idolatrando-os e os cultuando irracionalmente.

    importante tambm salientar que a filosofia transmitida pelos Espritos para Kardec no podeser alvo de pesquisas cientificas, mas filosficas. Da no fazer sentido dizer que o Espiritismo seriacientfico. No temos, por exemplo, como comprovar se antes de encarnar escolhemos um gnero deprovas ou se no morreremos antes da hora, no importando o perigo. Estes so alguns dos ensinamentosda filosofia esprita presentes em O livro dos Espritos. Podemos aceit-los ou no, mas no temoscomo realizar pesquisas e comprovar se so verdadeiros. No mximo, podemos fazer pesquisascientificas sobre a mediunidade, comparando suas diferentes formas ou manifestaes.

    Obviamente que esses ensinamentos espiritualistas podem ser utilizados para fins educativosou animaggicos. Mas, no momento, no podem ser comprovados empiricamente por ns, apesar defazerem parte do discurso ou da narrativa de inmeros Espritos, nas reunies medinicas kardecistas,de Umbanda e Universalistas.

    Para concluir esse captulo, podemos afirmar que as Cincias do Esprito precisa ser instituidanas Universidades para estudar cientificamente a vida aps a morte (o sobrevivencialismo) e elaborarteorias que possam compreender as relaes possveis entre o mundo espiritual e o material, ou seja,no se importando se tais relaes acontecem dentro de um centro espiritista, em um terreiro de Umbanda,em uma igreja evanglica, em uma casa mal-assombrada etc. O seu papel o de revelar ou no a aode uma inteligncia e de uma vontade que saem do domnio puramente fsico, explicando aqueles fatosque a cincia materialista no capaz de explicar por no levar em considerao a existncia ativa domundo espiritual e sua influncia sobre a matria. E tal cincia feita, basicamente, atravs da observaodos fenmenos, diretamente ou atravs de sensitivos, e tambm atravs do intercmbio medinico,evocando e entrevistando os Espritos.

    Por sua vez, o Espiritismo, enquanto uma filosofia ensinada pelos Espritos, sem dvida umdos pilares da Animagogia, como veremos nos captulos seguintes, mas a Animagogia tambm umdos campos privilegiados de estudo da chamada Cincias do Esprito ou Espiritologia e no,necessariamente, do Espiritismo.

    Nos captulos seguintes vamos analisar e compreender os ensinamentos espiritualistas

  • transmitidos pelos espritos para Kardec, presentes em O livro dos Espritos, no qual se encontraformulada a Doutrina Esprita e que formam a base epistemolgica de praticamente todo e qualquertrabalho de auxilio aos seres incorpreos, chamado aqui de Animagogia, no importando se o mesmoacontece em um centro espiritista, de umbanda ou universalista.

  • Captulo 2Deus: inteligncia suprema e causa primria de todas as coisas

    A pergunta que abre O livro dos Espritos bem polmica: o que Deus?A resposta transmitida pelos Espritos parece simples, mas d margem para muitas interpretaes.

    Ser que inteligncia suprema significa o mesmo que oniscincia? E causa primria de todas as coisas?Ser que tal expresso sinnima de onipotncia? Possivelmente sim, se estudarmos atentamente asrespostas posteriores fornecidas pelos Espritos para Kardec.

    Apesar dos Espritos afirmarem na questo 10 que os encarnados no possuem o sentidonecessrio para compreender Deus, deixam transparecer que, ao afirmarem que Deus a causa primriade todas as coisas, esto se referindo tanto s coisas que nos agradam como tambm quelas que nosdesagradam. E as coisas que nos desagradam so permitidas por Deus no para nos punir ou comocastigo, mas apenas para que aprendamos a purificar o corao, amando incondicionalmente. Ou seja,compreendendo que Deus a causa primria de todas as coisas, os Espritos nos ensinam a no julgarou culpar um outro Esprito humanizado (encarnado) pelo que nos acontece. Da mesma forma, nossoorgulho e vaidade tambm diminuem quando sabemos que aquilo que conquistamos na vida (casa,emprego etc.) tambm foi fruto da permisso divina.

    Da mesma forma, tambm deixamos de lamentar ou de nos fazer de vtimas quando algo queno est de acordo com a nossa vontade acontece. Ao invs de acusar o governo, a religio rival, ospais, o bandido etc. de no terem feito a coisa certa, j que Deus a causa primria de todas as coisas,buscamos perdoar, no se ofender e compreender aquele que nos fez algum mal, pois, mesmoinconscientemente, o nosso algoz no deixa de ser um instrumento nas mos de Deus.

    Mahatma Gandhi, por exemplo, costumava dizer que Deus estava em todas as coisas, tanto naarma de um bandido, como no bisturi de um mdico, mas quem mataria ou salvaria uma vida seriaDeus e no o bandido ou o mdico. E como ningum morre antes da hora, segundo a Doutrina Esprita,ensinamento presente na questo 853 de O livro dos Espritos, podemos compreender que somenteDeus tem permisso para tirar a vida de algum. Assim, a arma do bandido vai matar se estiver nahora daquela pessoa morrer e o mdico vai salvar aquele paciente que ainda precisa permanecerencarnado, pois sua hora de partir da Terra ainda no chegou.

    Em outras palavras, com bases na Psicosofia (sabedoria espiritual) do Esprito Verdade, se nomerecermos sofrer uma determinada ao, ela no acontecer conosco. E no importa se um atopositivo ou negativo. Para que ele acontea, um instrumento se faz necessrio. Em suma, a justiadivina acontece a cada segundo, onde cada um recebe o que necessita e merece de acordo com o gnerode provas que escolheu antes de encarnar, como veremos com mais detalhes no captulo 4 deste livro.

    Segundo a Doutrina Esprita, todos ns, antes de encarnarmos, escolhemos um gnero de provaspara vivenciarmos na Terra. E, com base em outras respostas fornecidas pelos Espritos, vamoscompreender que o mundo material, segundo a Doutrina Esprita, um mundo de intencionalidade eno de ao. Freqentemente, o Esprito Verdade responde para Kardec que Deus julga a inteno eno os fatos (questo 747).

    Curiosamente, hoje em dia, com o esfacelamento da crena positivista na materialidade domundo, e com a cincia holonmica aceitando que a realidade material ilusria, s existindo emnossas mentes, podemos aceitar que sobra como Real apenas a inteno, ou seja, os sentimentos comos quais esse mundo ilusrio vivenciado por ns. Nesse sentido, o Bem passa a significar a vivnciado amor universal, enquanto o mal o agir motivado pelo egosmo. Alis, o Esprito Verdade diz queo maior dos males da humanidade o egosmo, na questo nmero 913 de O livro dos Espritos.

  • Assim, a Doutrina Esprita, por enfatizar a inteno e no os fatos, centraliza suas foras contrao egosmo, pois no adianta atacar o efeito (aborto, assassinato, vcios etc.) deixando a causa livre parase manifestar por outros caminhos. Uma lei humana pode at proibir o aborto, o uso de armas etc., maso egosmo continuar a se manifestar enquanto ele for o sentimento predominante na alma humana.

    Em outras palavras, os atos exteriores no so bons ou maus, pois tudo depender sempreda inteno como eles foram vividos. Por exemplo, um prato de comida pode ser dado para quem passafome tanto com amor ou com o desejo de aparecer, de se mostrar caridoso etc. Em Tese, Deus j sabia,antecipadamente, quem daria o prato de comida e quem receberia, mas nos deixa livre para escolher aintencionalidade, o sentimento com o qual vivenciaremos esse ato: o amor ou o egosmo. Mas essaquesto ser aprofundada, como j dissemos, nos prximos captulos, quando falarmos do Livre Arbtrio,segundo a Doutrina Esprita.

    O importante, nesse momento, compreender que o Bem e o mal no se encontram nomundo exterior, pois este criado por Deus, a causa primria de todas as coisas, mas se encontra dentrode cada um de ns. Na questo nmero 04, por exemplo, o Esprito Verdade diz para Kardec que seprocurarmos a causa de tudo o que no seja obra do homem encontraremos Deus. E o que o homempode fazer como co-criador do Universo?

    Se Deus a causa primria de todas as coisas, justamente para no acontecer injustias, nocabe aos homens criar os atos materiais, mas emanar a essncia energtica de toda criao. Em suma,cabe ao homem, ao Esprito humanizado, emanar sentimentalmente amor ou no-amor em seus atos.Por isso, segundo a Doutrina Esprita, como j salientamos, a inteno que Deus julgar e no osfatos. E para aqueles que a afirmam que os ensinamentos dos Espritos no se coadunam com a Bblia,comparemos o que dissemos acima com o ensinamento presente em Provrbios 16.9: o corao dohomem traa o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos. Ou seja, em funo do sentimentoemanado pelo corao (esprito), Deus criar os atos materiais necessrios. Se eu emano amor, Deusvai canalizar esse amor para quem merece receb-lo; e se emano dio, Deus tambm vai direcion-lopara quem o merecer. E Deus est castigando? Em hiptese alguma, pois tudo o que emanamos para oUniverso, volta necessariamente para ns. Como diz Paulo, a plantao livre, mas a colheitaobrigatria. Assim, cada um s recebe aquilo que necessita e merece, a partir da energia (sentimento)que emanou de seu corao.

    Isso explicaria os famosos resgates crmicos, uma vez que s vivemos uma nica vez, poiss existe uma nica Vida, a do Esprito, mas esta, segundo os reencarnacionistas, se processa ao longode vrias existncias. O ser humano existe, mas o Esprito . Assim, uma energia no amorosa emitidaem outra existncia pode voltar para o mesmo Esprito na atual. A colheita sempre obrigatria, noimporta o momento que ela ocorra, acreditam os que no aceitam a idia de acaso.

    Assim, colocar amor ou no em seus atos o papel que cabe ao homem na co-criao do mundoilusrio, pois todo o resto fruto do trabalho de Deus, que no pra um s segundo de criar e no assinanenhuma de suas obras, afirmam vrios Universalistas. Em suma, se os nossos atos sempre seroguiados por Deus para que cada um possa receber, a cada segundo, o que necessita e merece, positivaou negativamente, seremos sempre um dos instrumentos necessrios para que Deus possa criar aprova de uma outra pessoa. Mas teramos sempre a opo de escolher ser um instrumento amoroso ouno, de acordo com a inteno que manifestarmos em nosso corao.

    E como encontramos na questo nmero 9 de O Livro dos Espritos: quaisquer que sejam osprodgios realizados pela inteligncia humana, essa inteligncia tem, ela mesma, uma causa, e quantomais o que ela realiza grande, mas a causa primeira deve ser grande. Esta inteligncia a causaprimeira de todas as coisas, qualquer que seja o nome sob o qual o homem a designe.

    Em suma, no importa se o que o homem realiza uma casa, um computador, um foguete ouat mesmo uma guerra; a inteligncia, causa primeira desse prodgio, ser Deus. Em outras palavras,

  • Deus utiliza cada um de seus filhos para criar a iluso da vida material, no existindo o certo ou oerrado, mas apenas o fluxo da justia e da sabedoria providencial se manifestando tanto nas menorescomo nas maiores coisas, numa ao contnua, mesmo quando no conseguimos perceber ou concebertal Realidade8 , pois nos falta, como afirma o Esprito Verdade, na questo 10, um sentido para quepossamos compreender a natureza ntima de Deus.

    Esse ensinamento espiritualista (Psicosofia) aproxima a Doutrina Esprita dos ensinamentos deBuda, que tambm afirmava que no tinhamos como racionalmente compreender qualquer coisa sobreDeus. Essa fala de Buda levou muitos interpretes a dizer que o budismo seria ateu, uma grande inverdade.Buda apenas se limitou a dizer que tudo aquilo que falarmos sobre Deus criao humana, ilusria,pois no temos como compreender todos os seus atibutos.

  • Captulo 3Os dois elementos gerais do Universo

    A confiana nos desgnios de Deus aumenta quando entendemos que, segundo a DoutrinaEsprita, s h dois elementos gerais no Universo, o assunto do captulo II de O Livro dos Espritos,principalmente, a partir da questo 27. Um deles o principio material, o chamado fluido csmicouniversal, hoje em dia chamado de energia csmica universal. O outro elemento formado peloprincpio inteligente do universo, de onde se originam os Espritos. E, acima de tudo, Deus, o criadorde todas as coisas.

    Em outras palavras, se pudssemos nos desligar momentaneamente dos rgos de percepoque criam as formas materiais e as sensaes, deixaramos de enxergar todos os objetos que nos rodeiame os ditos espaos vazios, para enxergarmos apenas energia. Essa j uma hiptese aceita pelacincia materialista, aps a famosa descoberta de Albert Einstein: E=MC (energia igual a massavezes a velocidade da Luz ao quadrado).

    Como salientamos, hoje em dia, a cincia j aceita que a energia a base de toda matria queexiste, no importando a forma como ela se manifesta. O Espiritismo, porm, vai alm dessa hiptesee afirma que imersos nesse campo energtico se encontram os Espritos, tanto os encarnados como osdesencarnados. Eles formariam o principio inteligente do Universo e manipulariam esta energia atravsdo pensamento e do sentimento.

    Porm, o que os diferencia cada Esprito que, enquanto alguns se encontram nesse campo deenergia pulsando amor, outros se encontram no mesmo lugar pulsando outros sentimentos. Em funodessa emanao de sentimentos, podemos encontrar um desencarnado acreditando que est dentro deuma linda colnia espiritual (Cu), o outro se vendo no mais ftido umbral (inferno). Em suma, ambosestariam lado a lado vivenciando as formas materiais que s existem dentro de suas prprias mentes.O Cu e o inferno so criaes mentais, so estados de sentir e pensar.

    E o mesmo acontece com o Esprito encarnado, ou seja, conosco. Todo o mundo material quenos rodeia, incluindo as florestas, as construes etc. no passariam de miragens nesse cenrio uniformede energia csmica. Isso se torna evidente, na questo 32, quando Kardec pergunta: diante disso, ossabores, os odores, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos no seriam mais que as modificaesde uma s e mesma substncia primitiva? E a resposta do Esprito Verdade : sim, sem dvida, e queno existem seno pela disposio de rgos destinados a perceb-los.

    Em suma, podemos compreender que os Espritos transmitem para Kardec ensinamentosbudistas, com outras palavras, obviamente. Buda, h mais de dois mil e quinhentos anos, ensinava aosseus discpulos que o Ego composto por cinco atributos responsveis pela criao do mundo materialilusrio. O Ego seria uma espcie de conscincia provisria responsvel em fazer com que o Espritoencarnado tenha percepes de algo que, na essncia, no existe: os sabores, os odores, as formas, assensaes, as percepes etc. O mesmo afirma hoje a cincia quntica ou holonmica.

    Assim, como tudo o que existe na paisagem material no passa de uma miragem, considerarqualquer coisa como bela ou feia, agradvel ou desagradvel no passa tambm de uma ilusocriada em nossa prpria mente, e o que pior: causa de sofrimento, pois nossa tendncia a de seapegar quilo que consideramos agradvel, querendo que tal situao permanea eterna, e costumamoster averso a tudo o que acreditamos ser desagradvel, esquecendo que at as vicissitudes negativas davida no so permanentes.

    Porm, como ensinam os Espritos, tudo est em tudo (questo 33). Essencialmente, como jsalientamos, o Bem e o mal, o belo e o feio existem dentro de ns e no fora, onde tudo nopassa de ondas e vibraes energticas.

  • Assim, todo o mundo exterior est em nossa mente, na forma como nosso Ego foi programadopara enxergar a manifestao daquela energia csmica universal. Existem, portanto, as decodificaescoletivas (caso contrrio um enxergaria mesa onde o outro enxergaria cadeira) e as decodificaesindividuais (fruto do gnero de provas que cada um escolheu para passar), o que vai fazer com que unsno tenham medo de sangue e outros desmaiem ao ver o menor sinal desse lquido, por exemplo.

    por isso que o Esprito Verdade diz na questo 22 que existe matria em estados que nopercebemos. Existe matria que no produz nenhuma impresso em nossos sentidos. No seria poressa razo que no enxergamos a vida em outros planetas do sistema solar, por exemplo, e tambm osEspritos?

    Na questo 55, os Espritos afirmam que nenhum mundo est despovoado, ou seja, sem Espritosvivendo suas experincias humanizadas. Assim, por que no enxergamos a vida que se desenrola naLua ou em Marte? A resposta simples: porque no temos em nosso Ego a programao necessriapara enxergar o que nestes mundos, tambm ilusrios9 , est acontecendo nesse exato momento. Talveza sonda que anda no solo de Marte consiga captar informaes que nosso crebro no se encontra aptopara processar na forma de imagem e acreditamos piamente que l s h terra seca. Possivelmente,enquanto o astronauta da Terra andava sobre a Lua, maravilhado com aquela faanha, ele estava, semperceber, sendo uma atrao para os habitantes da Lua que assistiam s suas peripcias, caso o Ego doluntico tenha sido programado por Deus para ver os Espritos que habitam a Terra.

    Em suma, ingnuo, do ponto de vista holonmico, aquele que acredita que a realidade consistesomente naquilo que o seu olho capaz de enxergar. Alis, o olho apenas recebe luz, pois quem criaas imagens que vemos o crebro. E por mais maravilhoso que seja o crebro humano, esse pedao decarne, que no passa tambm de energia csmica, foi programado por Deus para decodificar algumasondas visuais, olfativas e sonoras que criam aspectos da realidade e no a Realidade. Assim, segundoos Universalistas, presos ao Ego, ns acreditamos que a forma como a vida vivenciada na Terra anica realidade possvel no sistema Solar, esquecendo que essa realidade s existe dentro de nossamente, em funo do que o nosso crebro consegue processar. Em outras palavras, se nada enxergamosem outros planetas e nem os Espritos que nos rodeiam porque nosso Ego no foi programado paracriar tais percepes. Em relao aos Espritos, na questo 23 de O livro dos Espritos eles dizem quepara ns, os encarnados, eles no so nada, pois so impalpveis. E na 88, afirmam que eles variam decor, do escuro ao brilho do rubi.

    Essencialmente, a Doutrina Esprita admite que existe um nico mundo, o espiritual, e este dividido em dimenses energticas. Ou seja, nesse exato momento vrias realidades diferentes podemestar se processando no espao ilusrio ocupado por uma cidade. A quadra esportiva de uma casa, porexemplo, pode, em outra dimenso, ser uma zona umbralina, cheia de Espritos dementados, presosainda s iluses do Ego. Os moradores daquela casa podem at passar mal quando usam a quadra, semimaginar que tal situao uma influncia extrafsica. Como encontramos na questo 87, os Espritosesto por toda a parte e h aqueles que esto ao nosso lado nos observando e atuando sobre ns.

    Alm disso, como encontramos na questo 91, a matria no constitui obstculo aos Espritos.Estes penetram em tudo: o ar, as guas e mesmo o fogo lhes so igualmente acessveis. Ou seja, para aDoutrina Esprita, aquilo que chamamos de mundo material uma iluso ou uma miragem criada porDeus para nossas provas e expiaes enquanto permanecermos encarnados, pois, como afirma a questo85, o mundo esprita, ou seja, o mundo dos espritos, preexiste e sobrevive ao mundo material. E, o que mais importante, mesmo em uma encarnao no aproveitvel, o Esprito jamais degenera. Ele podeestacionar, mas nunca retrogradar (questo 118). E Deus, a causa primria de todas as coisas, ama atodos do mesmo modo, inclusive os extraviados (questo 126). Esse tambm a Psicosofia de Krishna,presente no clssico Baghavad Gita.

  • Captulo 4O objetivo das encarnaes

    Compreendendo que no somos seres humanos tendo experincias espirituais espordicas, masque somos espritos vivenciando uma experincia humana ou uma encarnao, a questo que nos vm mente costuma ser a seguinte: por que necessitamos encarnar? Por que no ficamos no mundo dosEspritos eternamente?

    A resposta, segundo a Doutrina Esprita, est na questo 115 de O Livro dos Espritos: para onosso aperfeioamento espiritual.

    E se o objetivo o aperfeioamento espiritual, o mundo fenomnico passa a ser o palco desseaperfeioamento. Ou seja, antes de encarnar estudaramos o que precisaramos aprender. No planoespiritual se encontrariam as escolas. E a encarnao serviria para colocar em prtica o que foi estudado.A encarnao seria, portanto, o momento das provas.

    Vamos exemplificar! O Esprito no vai se aperfeioar se ele encarnar para estudar medicina,aprender uma lngua estrangeira ou passar a vida pintando quadros ou escrevendo livros. Tudo isso nopassaria de coisas materiais. Porm, se tudo isso for feito com amor e no por vaidade, por exemplo, asim o Esprito se aperfeioaria. Esse aperfeioamento, que nas tradies orientais chamado deiluminao acontece quando colocamos amor em nossos atos e no outros sentimentos consideradosnegativos (cime, inveja, dio etc.).

    Enfim, vai se dedicar medicina quem se preparou antes de encarnar para essa atividade. Assimcomo vai se interessar por arte quem se preparou para ter uma personalidade ou um Ego artstico.Porm, o Esprito que encarna para viver o papel de mdico ou de artista vai se aprimorar espiritualmentede acordo com o grau de amor que colocar em suas atividades. O amor o termmetro que mede oaprimoramento do Esprito. Como j salientamos, o mdico vai salvar quem merece ser salvo e no vaiconseguir salvar aquele que est na hora de desencarnar, pois Deus a causa primria de todas ascoisas. Porm, o Esprito que vivencia o papel de mdico tem o livre arbtrio para exercer sua profissocom amor (servindo a Deus) ou visando apenas dinheiro (servindo a Mammon, ao Ego).

    Nessa mesma questo, o Esprito Verdade diz que passamos por provas que Deus nos impe. E,enquanto alguns Espritos aceitam essas provas com equanimidade e amor, outros as suportammurmurando, permanecendo distanciados da perfeio, segundo a Doutrina Esprita. tambm nessesentido que, na questo 117, o Esprito Verdade comenta como o Esprito apressa o seu progresso:sendo submisso vontade de Deus. Se amarmos a situao vivida, no importando se a mesma prazerosa ou no, agradvel ou desagradvel, alegre ou triste, estaremos nos aprimorando espiritualmente.Porm, importante sempre salientar que Deus no cria situaes desagradveis por sadismo, mas porrespeitar o gnero de provas que ns mesmos escolhemos antes de encarnar. Ou seja, o Esprito escolheum gnero de provas e Deus cria as provas, usando sempre o sentimento emanado por outros Espritoshumanizados para que todos sempre recebam o que necessitam e merecem, a cada momento de suaexistncia.

    Por isso, lamentar, culpar o outro, blasfemar etc. so atitudes10 que no purificam o corao eno promovem a reforma ntima. Enfim, se Deus programou um encontro amoroso que satisfaz onosso Ego, no devemos ficar eufricos; da mesma forma, se Deus programou uma traio amorosa,no devemos entrar em desespero. E se Ele programou o recebimento de uma herana, de nada aindapara o nosso aperfeioamento espiritual agir com atitudes egosticas, mas se Ele programou um assaltoa nossa casa, lamentar ou culpar o outro apenas nos distncia da perfeio e da felicidade prometida,que no para uma vida futura, mas para ser vivida desde j, no momento presente.

    Em nenhum momento os ensinamentos dos Espritos fazem apologia do sofrimento. Em nenhummomento afirmam ser necessrio sofrer hoje para ser feliz amanh. Porm, tambm no dizem quenascer em uma favela, ser pobre ou ganhar na loteria uma contingncia, ou seja, fruto do acaso. Todas

  • essas vicissitudes, positivas ou negativas, so criadas por Deus a partir do gnero de provas escolhidopelo prprio Esprito antes de encarnar. Mesmo assim, podemos ser felizes, no importando o queacontea em nossa vida humanizada, desde que aprendamos a ser submissos s vontades de Deus11 .

    Alguns anos atrs, uma propaganda de TV feita para uma escola de ingls mostrava um rapazinternado em um hospital e seu irmo entrando no quarto com uma camiseta que trazia os seguintesdizeres: no importa o que acontecer, a culpa no minha. Em suma, isso mesmo. No devemosnos culpar por nada que acontecer, desde que no tenhamos agido com a inteno de prejudicar o outro,segundo a Doutrina dos Espritos.

    Como j salientamos, o mundo de provas e expiaes, como ainda o caso da Terra, segundoa Doutrina Esprita, um mundo de intencionalidade. Ou seja, somos julgados por nossas intenes ouatitudes (aes interiores) e no pelos atos exteriores praticados, pois os fatos que so criados porDeus. Por isso, aquele que praticar o mal, ou seja, agir motivado por egosmo, colher, mais cedo outarde, nesta ou em outra encarnao, o fruto dessa intencionalidade e ter que aprender tambm a serbenevolente ou a no culpar o outro, aquele que ser o instrumento da ao que ele merecer viverainda nesta existncia ou em outra.

    Por isso, como diz o Esprito Verdade, o Esprito encarna para se aprimorar. E no faz o menorsentido acreditar que vamos nos aprimorar adquirindo conhecimentos do mundo material, que subordinado ao espiritual. Assim, fazer uma faculdade, tornar-se mdico, engenheiro etc. pode atservir para o nosso aprimoramento espiritual, se nossa inteno servir ao prximo. Se a inteno foregostica, tanto esforo no ter valor ao Esprito. Alis, costuma se aprimorar espiritualmente quemdoa a verdade aos outros, inclusive queles que acreditam que vo evoluir intelectualmente absorvendoos conhecimentos da Terra (que para Deus loucura, como afirmou o apstolo Paulo).

    Em suma, para se aprimorar espiritualmente devemos praticar a vivncia do no-saber, umadas virtudes ensinadas por Lao-Ts, discutida com mais profundidade em nosso livreto A animagogiado Tao Te Ching. Mas podemos aqui salientar que o objetivo do no-saber trazer simplicidade aocorao, abandonando as dicotomias certo e errado, bem e mal e todo desejo de lutar porverdades ilusrias.

    Assim, nos aprimoramos espiritualmente quando deixamos de saber (de acreditar) que somoshomens ou mulheres, negros ou brancos, ricos ou pobres, brasileiros ou alemes, espritas ou catlicos,que estamos certos e os outros errados etc. para vivermos toda e qualquer vicissitude com o maisnobre dos sentimentos: o amor.

    por isso que, no mito de Ado, quando o ser humano come a fruta do conhecimento, ou seja,adquire a capacidade de julgar o certo e o errado, ele passa a viver sob o domnio da Lei de ao ereao, Lei csmica que s existe nos chamados mundos de provas e expiaes. Assim, quando agecom amor, purifica o corao; quando age com egosmo, permanece estacionado. A energia emanadana inteno com que um determinado ato foi vivido definir o retorno energtico que o Esprito merecerreceber, mais cedo ou mais tarde. o famoso dando que se recebe da Orao de So Francisco.Porm, enquanto acreditar nas verdades criadas em seu Ego, mas difcil a prtica do amor incondicionale mais tempo o Esprito perde nos mundos de provas e expiaes, deixando de se aprimorar, afirmamos Universalistas.

    E toda essa reflexo nos leva a pensar tambm na caridade que, para muitos consiste em darcomida ou roupa para pobres, acreditando que o Esprito humanizado que possui casa, comida e trabalhono precisa tambm de caridade. Porm, a Doutrina Esprita, na questo 886 de O livro dos Espritosafirma que caridoso ser benevolente para com todos, indulgentes para com as imperfeies alheias eperdoar as ofensas.

    Em suma, a Doutrina Esprita no afirma que devemos dar um prato de comida para um mendigo(que na verdade foi Deus, a causa primria de todas as coisas, que deu, apesar de nos escolher como

  • instrumento para aquela ao) e criticar o governo, as classes dominantes ou quem quer que seja pelafome daquele Esprito humanizado.

    Se no formos indulgentes, no amamos incondicionalmente. Dar comida para o mendigo ecriticar o que no ajuda satisfaz apenas o nosso Ego e no serve para nos aprimorar espiritualmente,pois continuamos vendo erro na ao do outro. Ou seja, toda nossa atitude permanece sendo baseadano egosmo e no no amor.

    por isso que todos os verdadeiros mestres espirituais de todos os tempos afirmaram quedevemos sempre fazer o Bem pelo Bem, ou seja, desinteressadamente. Porm, como ainda somosimperfeitos, costumamos fazer o Bem pelo mal, ou seja, motivados pelo orgulho, pela vaidade etc.Em suma, at acreditar que fora da caridade no h salvao, nos leva a ajudar os outros por interesse:o de ser salvo!

    Sobre essa questo, encontramos na Psicosofia de Krishna, presente no clssico BaghavadGita, que aquele que desconhece o ensinamento que cada um s recebe o que necessita e merece,acredita que ele quem faz os atos materiais e, por isso, sente prazer por algo que no foi ele o realartfice. Em suma, quando aquele ato que j estava escrito para acontecer se realiza, e o vivenciamosinteriormente com vaidade, com o desejo de receber uma recompensa, seja na Terra ou no Cu etc., noo aproveitamos para o nosso aprimoramento espiritual, segundo quase todas as escolas espiritualistas.

    Enfim, sendo Deus a causa primria de todas as coisas, s vamos nos aprimorar quando amamoso papel que Deus escolheu para representarmos naquele momento. Enquanto estivermos iludidos peloEgo, ao invs de amar a situao, ou seja, emanarmos amor incondicionalmente, ns sentiremos prazerou vamos nos lamentar, culpando algum ou nos fazendo de vtimas.

    por isso que Krishna ensina que o senhor da mente aquele que pelo poder do Espritoalcana perfeito domnio sobre seus atos externos, ficando internamente desapegado deles. Este sabeque a fonte dos atos Deus e realiza os atos que precisa realizar sem apego ou interesse. Porm,aqueles que trabalham por lucro pessoal (motivados pelo Ego) procedem mal e colhero o fruto dosseus maus atos. Ou seja, sero instrumentos inconscientes de Deus para que ao carmtica que ooutro precisa vivenciar acontea.

    Esta questo aprofundada no livreto A animagogia do Baghavad Gita, no qual assinalamosque todo aquele que no tem essa conscincia, no purifica seu corao. Assim, iludido por Maya,deixa de amar a Deus, a causa primria de todas as coisas, para sentir prazer ou regozijo quandoacontece algo que lhe agrada, ou sente desprazer quando algo que lhe desagrada acontece.

    E podemos compreender que tudo, no mundo exterior, j est pr-programado, ao analisarmosa questo 243 de O livro dos Espritos, quando Kardec questiona se os Espritos conhecem o futuro e oEsprito Verdade afirma que Deus j sabe o que vai acontecer no futuro e os Espritos mais prximos aEle o entrevem. Assim, se Deus j sabe tudo o que vai acontecer, porque j est pr-programado. Ouseja, eu no tenho como saber se amanh eu terei o que comer, mas Deus j sabe. Enfim, por sermosainda imperfeitos, s saberemos o que estava escrito para acontecer depois que o fato realmente acontece.Por isso, depois que algo aconteceu, de nada adianta querer encontrar culpados, lamentar, acusar, sefazer de vtima etc., ensina a Doutrina Esprita.

    Assim, mesmo que todos os fatos no tenham sido programados antes da encarnao, nadaacontece por acaso ou por imprudncia, pois at o Esprito imprudente no deixa de ser um instrumentonas mos de Deus. Se algo acontece por acaso, ento podemos afirmar que Deus no Onisciente, poisEle no sabia que aquele fato aconteceria. Pode parecer imprudncia ou acaso do nosso ponto de vista,mas obviamente que temos o livre-arbtrio no mbito das atitudes, ou seja , da inteno. Esse ensinamentoest presente, por exemplo, no livro Ao e Reao, de Andr Luis, psicografado por Chico Xavier. Emum determinado momento, um desencarnado comenta que foi assassinado por seu irmo porque mereciapassar por aquela expiao, mas que o seu irmo era o responsvel pelo ato. Ou seja, apesar de ter sido

  • escolhido por Deus para ser o instrumento daquela ao carmtica, como teve a vontade de assassinaro irmo, contraiu um dbito espiritual. Assim, podemos compreender que h alguns fatos pr-programados antes da encarnao do Esprito e que so de seu conhecimento e outros programadosdurante a encarnao, mas que contemplam o gnero de provas que o mesmo escolheu e que Deus,antecipadamente, j sabia que aconteceriam.

    Em suma, se Deus conhece o futuro e alguns Espritos tambm, apesar de no terem sempreautorizao para o revelar, como afirma o Esprito Verdade, porque nosso destino no mundo material inexorvel, apesar de sermos os responsveis por ele no plano das intees, pois a energia que emitirmospara o Universo, voltar para ns com a mesma intensidade. Existiria, assim, uma relao oximornicaentre a liberdade e a necessidade, ou seja, entre o livre-arbtrio e a fatalidade. Assim, o melhor caminhoseria o de se entregar e confiar em Deus, com pureza de inteno, no se importando o que acontece nomundo fenomnico12 .

    At agora apresentamos e falamos que a encarnao serve para nosso aperfeioamento. Mascomo isso feito? Segundo a Doutrina Esprita, atravs da expiao. E o que o Esprito Verdadeentende por expiao? Na questo 132, ele diz: passar pelas vicissitudes da existncia corporal.

    Muitos espiritualistas interpretam a palavra vicissitude como sinnima de fatos ou situaesdesagradveis da vida humanizada. Assim, costumam interpretar que a expresso passar porvicissitudes sinnima de sofrer. Porm, se atentarmos definio que os dicionrios trazem para apalavra vicissitude, vamos compreender que ela significa apenas alternncia. Ou seja, vicissitude seriaa alternncia entre os altos e baixos da vida, entre os momentos alegres e tristes, entre osmomentos de prazer e de desprazer.

    Diante dessa definio, expiar no sofrimento, mas o ato de passar pelos altos e baixos davida humanizada. Nesse sentido, qual seria a melhor maneira de passar pelas vicissitudes?

    A resposta est em praticamente todos os mestres do oriente: com equanimidade, ou seja, comigualdade de nimos. assim que tanto Lao-Ts, como Krishna e Buda ensinaram seus discpulos.Aquele que consegue vivenciar com equanimidade as vicissitudes da vida est muito mais preparadopara ser feliz, uma vez que a felicidade um estado de esprito que no precisa ser condicionado a nadaexterior. No precisamos de nada, absolutamente nada, para sermos felizes. Para ser feliz, basta ser.

    E como j ensinava Buda, a felicidade no se confunde com a alegria ou com a euforia. Felicidade o estado de paz interior, uma sensao de plenitude ou de graa vivido interiormente. justamente oque Buda chamou tambm de Nirvana.

    Nesse sentido, quando conseguimos passar pelas vicissitudes com equanimidade, no h motivospara sofrimento quando uma situao for desagradvel ou dolorosa, e nem motivos para ficarmoseufricos quando o fato for agradvel e alegre. Em suma, como afirma o Esprito Verdade, vamos nosaprimorar passando pelas vicissitudes da vida. Porm, no basta apenas passar, preciso saber comopassar: amando cada situao e sendo feliz, no importando se estamos diante de vicissitudes positivasou negativas.

    Em outras palavras, no encarnamos para transformar a Terra em um lugar melhor para seviver, uma vez que ela j perfeita para o objetivo para o qual foi criada: ser o palco de provas eexpiaes, pelo menos por enquanto, at que se transforme em mundo de regenerao, segundo aDoutrina Esprita.

    Nossa encarnao na Terra acontece para que possamos vencer nossas imperfeies, que nascemtodas do egosmo: a inveja, o cime, a avareza, a vitimizao etc., ou seja, os tormentos que nosfazem sofrer quando passamos por vicissitudes negativas e podemos dizer tambm que o orgulho, avaidade, a ambio etc. tambm so tormentos egocntricos que nos fazem esquecer que foi graasa Deus, a causa primria de todas as coisas, que passamos por vicissitudes positivas em nossa existncia.

    Enfim, se encarno para vencer a inveja, eu preciso passar por experincias que estimulem em

  • mim a inveja; se eu encarno para vencer o cime ou o orgulho, idem. E assim com todas as demaisimperfeies. Por isso, eu no terei condies de vencer a inveja, ou o desejo de possuir o que ooutro possui, se eu tenho condies de comprar tudo, se tenho os dotes fsicos para ficar com o gal daescola etc. Nesse sentido, podemos compreender que o Esprito escolhe um gnero de provas, mas ocriador das provas Deus, a causa primria de todas as coisas, e para tanto, necessita usar os sentimentospositivos ou negativos dos demais Espritos encarnados e desencarnados para gerar as provas de cadaum. Na questo 87, o Esprito Verdade diz que Deus, para o cumprimento de seus desgnios, utiliza osEspritos como instrumentos.

    Se no existir uma situao que me leve a sentir inveja do outro, no tenho como vencer essatentao e ser feliz incondicionalmente, mesmo no tendo aquilo que meu Ego deseja e acredita que importante tambm ter.

    por isso que no significa que aquele que nasceu branco, rico ou em um pas do primeiromundo seja, necessariamente, um Esprito superior; e no quer dizer que estamos diante de umEsprito inferior s porque ele encarnou negro, pobre e nasceu em um pas que vive em conflito.Segundo a Doutrina Esprita, tudo depender do gnero de provas que cada um escolheu. Assim, cadasituao scio-econmica e cultural fornece aquilo que o Esprito precisa para vivenciar sua expiao,prova ou misso. O importante sempre o Esprito e no o palco criado para sua encarnao.

    E alm de passar por vicissitudes, outro objetivo da encarnao tambm discutido na questo132: colocar o esprito em condies de cumprir sua parte na obra da criao. E como isso acontece?O Esprito Verdade responde: Tomando um aparelho em harmonia com a matria essencial dessemundo, cumprindo a, daquele ponto de vista, as ordens de Deus, de tal sorte que, concorrendo para aobra geral, ele prprio se adianta.

    Ns j salientamos como isso se processa. Todos ns somos instrumentos de Deus. A partir doconjunto de verdades relativas que est gravado em nosso Ego, em nossa conscincia provisria, vamosapresentar uma forma singular de perceber, sentir e pensar o mundo e, assim, estabelecer nossas relaescom outros Espritos humanizados.

    Apesar de dirigidos pelos nossos sentimentos e pensamentos, nossos atos sero guiados porDeus, pois somente assim poderemos cumprir Suas ordens, fazendo aquilo que precisa ser feito, sendoum instrumento (consciente ou no) da prova que o outro precisa vivenciar. por isso que encontramosna questo 159 que, ao desencarnar o Esprito se sente envergonhado se fez o mal com a inteno(desejo) de o cometer e, na questo 244, o Esprito Verdade deixa claro que quando uma coisa no deveser feita ou uma palavra no deve ser dita, uma fora superior impede tanto os Espritos como ns, osencarnados, de fazermos ou falarmos. Em suma, s podemos fazer ou falar o que Deus permitir, emfuno do merecimento daqueles que sofrero o impacto, positivo ou negativo, das nossas aes.

    Vamos tomar um exemplo. Um esprito tem o Ego programado para sempre fazer o bemmaterial, dando comida, roupa e banho em quem precisa. Porm, cobra dos outros que faam o mesmo,sofrendo quando algum se nega a fazer. Assim, ele vive lamentando, e acredita que s ele faz oBem, que s ele caridoso e que s ele ser salvo.

    Esse um exemplo hipottico de uma encarnao que corre srio risco de falhar. Ou seja, esteEsprito ao desencarnar tomar conscincia que no se aprimorou. E isso acontecer no por causa dosatos exteriores praticados, uma vez que por serem criados por Deus, j estava definido quem receberiaa comida ou a roupa, quem receberia o banho etc. Porm, interiormente, no plano das intenes, oEsprito permaneceu julgando, vendo erro no mundo, criticando ou condenando os outros. por issoque o bom samaritano, da metfora do Cristo, aquele que ajuda o que foi agredido, no critica o queno ajuda e ainda estende a mo ao agressor. O bom samaritano aquele que ama incondicionalmente,sem esperar nada dos outros, pois sabe que Deus a causa primria de todas as coisas.

    No exemplo acima, esta pessoa s praticou boas aes, mas no amou. Ao se ver no mundo

  • dos Espritos vai sentir vergonha. O mesmo acontece com aquele que faz o mal, mas com inteno.Por isso a reencarnao, como diz o Esprito Verdade, na questo 178, somente para aqueles

    que falharam em suas misses ou provas. E como o Esprito pode falhar em sua misso ou em suaprova? Em funo do que j apresentamos at aqui, no pode ser por este ou aquele fato, mas pelainteno com a qual vivenciou suas vicissitudes.

    Assim, segundo a Doutrina Esprita, falha o Esprito quando deixa de amar o que lhe aconteceuou quando tirou vantagens (egosmo) de um ato em que foi um mero instrumento de Deus para a provade um outro Esprito encarnado. Ou seja, falha no sentimento, no mundo interior, na atitude e no nosatos exteriores. Falha-se quando no se sabe vivenciar com equanimidade aquilo que Deus criou emsua vida humanizada. Por isso o ser humanizado no um autmato. Pode no haver livre arbtrio noato, mas, no aspecto moral (mundo interior) somos livres para decidir amar ou agir com egosmo.

    Kardec, demonstrando que compreendia os ensinamentos espiritualistas que estava recebendo,pergunta ao Esprito Verdade, na questo 196, o seguinte: os Espritos no podendo melhorar-se,seno suportando as tribulaes da vida corporal, seguir-se-ia que a vida material seria uma espciede cadinho ou depurador, pelo qual devem passar os seres do mundo esprita para atingirem a perfeio?E a resposta, obviamente, a seguinte: sim, bem isso. Eles se melhoram nessas provas, evitando omal e praticando o bem.

    Fica evidente na pergunta de Kardec que as tribulaes da vida corporal, outro nome para asvicissitudes, acontecem independentemente da nossa vontade. E o nosso papel o de suport-las, oumelhor, passar por elas evitando o mal e praticando o Bem. Ou seja, evitando o egosmo (nocriticar, no julgar, no condenar o outro, no ver erro na ao do outro) e exercendo plenamente oamor incondicional (amar tudo que lhe acontece e todos que aparecem em seu caminho, no importandoo que este faa ou deixe de fazer).

    Este ensinamento do Esprito Verdade semelhante ao que Lao-Ts chamou de no-lutar, umadas virtudes ensinadas por ele. Ou seja, no-lutar reagir a todas as aes do mundo exterior semprecom atitude amorosa, com benevolncia, sendo indulgente e perdoando. Em suma, nunca criticando ouvendo erro na ao alheia. E o no-lutar deve ser colocado em prtica no apenas nos momentospositivos, mas, sobretudo, naqueles em que nossa tendncia e a de se passar por vtima ou comoalgum injustiado.

    E como salientamos anteriormente, ningum encarna para aprender o que quer que seja, j queos estudos so realizados no mundo espiritual. Na questo 224, encontramos a informao de que osEspritos podem prolongar o perodo entre as encarnaes para continuarem seus estudos, pois isso spode ser feito com proveito no estado de Esprito, afirmou o Esprito Verdade.

    Em outras palavras, somente quando nos encontramos com o domnio pleno de nossa conscinciaespiritual que podemos escolher o que estudar e podemos planejar nossas encarnaes futuras. Porisso, como vamos aprofundar no captulo seguinte, o nosso livre arbtrio j foi exercido na espiritualidade,ao escolhermos o gnero de nossas provas. Aqui na Terra, nesse mundo de provas e expiaes,vamos provar se aprendemos ou no as lies anteriormente estudadas, o que est evidente na questo230, quando o Esprito Verdade diz: na existncia corporal que colocaremos em prtica as novasidias adquiridas na espiritualidade. Em suma, ningum vem para a Terra para passear ou para estudar.O estudo j foi feito, e aqui estamos para provar, no para Deus ou para Jesus, mas para ns mesmos seconseguimos amar ou no dentro de determinadas situaes impostas pela vida humanizada.

    Em suma, se aprendi no mundo espiritual que o cime um sentimento negativo que nosdistancia do amor universal, posso pedir uma encarnao para colocar em prtica se consigo me libertardesse sentimento. Dessa forma, terei um Ego ciumento e vou conviver com pessoas que seroinstrumentos dessa provao, criando os atos que eu preciso vivenciar para me libertar do cime. Emoutras palavras, o cime no est nos atos do outro, mas em minha mente. Eu no preciso mudar o

  • outro, mas vencer a tendncia em sentir cime, fato que me leva a sofrer.Da mesma forma, se eu quero vencer a vaidade, Deus pode criar para mim um Ego de artista.

    Assim, a minha prova no vir Terra para aprender a cantar afinado ou interpretar bem, mas vencera vaidade que a minha profisso estimula em meu ser.

  • Captulo 5A escolha do gnero de provas e o livre arbtrio

    Como j salientamos, segundo a Doutrina Esprita, o livre arbtrio foi exercido antes daencarnao ao escolhermos um gnero de provas. Aps a encarnao, a escolha moral e no material.Ou seja, podemos escolher entre o Bem (amor) e o mal (egoismo). A questo que melhor traduzesse ensinamento a de nmero 258, na qual o Esprito Verdade responde para Kardec que o livrearbtrio consiste em escolher um gnero de provas para ser vivenciado na Terra.

    Podemos compreender que o livre arbtrio exercido sempre pelo Esprito (a individualidade),ou seja, quando gozamos de nossa plena conscincia. Dessa forma, no faz sentido acreditar que o serhumanizado, ou seja, o Esprito ligado a um Ego (a personalidade) para uma nova encarnao tenhalivre arbtrio. Normalmente, o ser humano, motivado pelo egosmo, o sentimento que nutre os planetasde provas e expiaes, tende a escolher vivenciar uma situao diferente ou oposta quela escolhidaquando se encontrava livre, com sua conscincia espiritual desperta. Na questo 266, Kardec perguntase no natural o Esprito escolher provas no penosas e ouve como resposta: para vs (encarnados),sim; para o Esprito, no. Quando ele est liberto da matria, cessa a iluso, e a sua maneira de pensar diferente.

    por isso que sempre o Esprito Verdade afirma que Deus julga a inteno e no os fatos ou,ento, afirma que o mal s prejudicial ao Esprito quando praticado com o desejo de o cometer. Secada um de ns deve receber somente aquilo que necessita e merece, o livre arbtrio aps a encarnaono pode estar nos atos materiais, mas na forma como os mesmos sero vivenciados. Aps a encarnao,o livre arbtrio est no sentimento, no mundo interior, nas atitudes morais.

    por isso que o Esprito Verdade afirma ainda na questo 258: se um perigo vos ameaa, nofostes vs que criastes, mas Deus; contudo, pela prpria vontade, a ele vos expondes porque vedes ummeio de adiantar-vos e Deus o permitiu.

    No ensinamento acima, temos a informao de que o perigo criado por Deus e que Ele permiteaos Espritos participarem dele. Porm, atravs da vontade de nos aprimorar, no como seres humanos,mas como Espritos, que vamos nos expor a esse perigo. Em suma, o mundo em que vivemos , aomesmo tempo, fatalista e livre. Temos a liberdade de escolher um gnero de provas, porm, para quetudo acontea de forma sincronizada e perfeita, os atos materiais, perigosos ou no, sero criados porDeus, a inteligncia suprema e causa primria de todas as coisas.

    Mas importante salientar que esse perigo no material. Os perigos so as tentaes morais:a vaidade para o artista, o orgulho para o mdico, o apego s verdades para o professor etc. Assim, seaps a encarnao (humanizao), o Esprito optar pelo Bem (o amor incondicional) vai se aprimorar;se optar pelo mal (o egosmo), permanecer estacionado.

    Para melhor entendermos esse processo, ou seja, como os perigos da vida humanizada socriaes de Deus, em funo do gnero de provas escolhido pelo prprio Esprito, vamos tomar oseguinte exemplo. Um Esprito quer passar pela prova de vencer o vcio. Assim, para que a prova deleacontea, Deus ter que criar um Ego sedento por bebidas alcolicas, drogas, sexo ou qualquer outracoisa que vicie. Em outras palavras, temos que compreender que o Esprito em si no viciado, mas oseu Ego (a conscincia provisria) foi programado para o Esprito vivenciar essa provao.

    Ao encarnar, este Esprito ter as condies necessrias para provar a si mesmo e a mais ningumse consegue ser mais forte que o Ego, que a matria, resistindo tentao por bebidas, drogas, sexo etc.

    Esse processo nos ajuda a entender o porqu de muitos desencarnados permanecerem viciados,como se l rotineiramente nos romances espritas. Trata-se de desencarnados ainda presos ao Ego quevivenciaram na Terra. Eles ainda no recuperaram sua real conscincia. por isso que o desencarne (olibertar-se da carne) no suficiente para libertar imediatamente o Esprito da conscincia provisria

  • criada para ele vivenciar na Terra e passar por determinados gneros de prova.E a escolha do gnero de provas, como est explicito na questo 259, sempre de ordem moral,

    nunca material. Por exemplo, o Esprito no escolhe como prova ser um bom cantor, mas ele pode serum bom ou mau cantor se sua prova consiste em vencer o orgulho, a vaidade etc.

    Vamos tomar mais um exemplo polmico. O Esprito no escolhe, necessariamente, ter umEgo homossexual porque ele um Esprito promscuo, mas se ele escolhe como gnero de provasvencer o sentimento de rejeio, a probabilidade de encarnar com um Ego homossexual aumenta,ainda mais se os Espritos que foram escolhidos para serem os seus pais escolheram como gnero deprovas vencer o preconceito.

    Podemos notar que o teatro est prontinho. Um Esprito escolhe vencer o sentimento de rejeioe um outro o sentimento de preconceito. Deus aproxima os dois e cria a prova: nasce naquela famliaum filho com Ego homossexual. Em suma, um se torna o instrumento para a provao do outro, poisDeus respeita sempre o gnero de provas escolhido por cada um antes da encarnao.

    Como j salientamos anteriormente, ao mesmo tempo, passamos por nossas expiaes(vicissitudes) e somos instrumentos para o carma alheio, cumprindo a, daquele ponto de vista, asordens de Deus.

    E como tambm j salientamos, o aprimoramento espiritual acontece quando conseguimos serfelizes e amamos incondicionalmente o outro, no importa a forma que ele tenha. No exemplo acima,o Esprito que encarnou como filho vai se aprimorar se for feliz, mesmo sendo rejeitado pela famlia eamar incondicionalmente o pai; j o outro Esprito vai se aprimorar quando viver seu papel de paiamando incondicionalmente o filho homossexual e sendo feliz.

    Aps todas essas reflexes baseadas nos ensinamentos que formam a Doutrina Esprita, vouabordar um assunto que polmico no meio espiritista brasileiro, e que aparece na questo 259, na qualo Esprito Verdade afirma que nem tudo o que acontece na vida humanizada do Esprito estava escrito,ou seja, havia sido planejado antes da encarnao.

    Para entender essa explicao do Esprito Verdade precisamos compreender que ao escolherum gnero de provas, o Esprito j prev os grandes momentos de provao moral, porm, os pequenosatos do cotidiano sero criados em funo da natureza das coisas, e como Deus a causa primria detodas as coisas, s podemos concluir que Deus tambm o responsvel pelos pequenos atos, inclusivea telha que cai, por acaso, na cabea do Esprito humanizado.

    Ou seja, apesar do Esprito no ter programado ou previsto que em determinado momento desua vida humanizada uma telha lhe cairia na cabea, esse fato tambm est relacionado ao gnero deprovas escolhido. Assim, uma telha pode cair na cabea de algum sem que aquilo tivesse sidoprogramado por ele antes de encarnar, mas foi escrito por Deus, por alguma razo que desconhecemos,como parte da prova daquele Esprito.

    Se esse ato material fosse desnecessrio, ele teria merecimento para que um Esprito o intussepara se desviar ou at mesmo ver a telha caindo e parar de caminhar antes que ela o atingisse na cabea.

    O problema aqui, como acontece no estudo de outros textos espiritualistas, como o caso daBblia, tomar uma passagem isolada, sem a relacionar com o conjunto dos ensinamentos. Porm, nocaptulo seguinte, ao discorrermos sobre a influncia dos espritos no mundo material, dirigindo,freqentemente, como afirma a Doutrina Esprita, nossos pensamentos e atos, vamos tomar conscinciaque uma telha no cai na cabea de algum por acaso ou por contingncia, como acreditam certosespiritistas.

    Segundo a Doutrina Esprita, o Esprito liberto dos liames que o prendem ao Ego da encarnaoanterior planeja sua futura encarnao. Com seus mentores e instrutores planeja os grandesacontecimentos morais de sua existncia humanizada. E Deus, como causa primria, criar os fatosmateriais que iro gerar a prova do esprito. Porm, outros fatos materiais de menor importncia tambm

  • iro acontecer, mesmo que o Esprito no tenha conhecimento deles e nem os planejado antes, taiscomo a telha que cai na cabea, o dedo que se queima, o chute em uma pedra etc.

    Porm, todos esses pequenos desgostos na vida humanizada no vo alterar em nada o rumo daatual encarnao. Eles podem ter sido escritos para servir de alerta, informando que algo nos pensamentose sentimentos emanados precisa mudar. Estes pequenos desgostos podem acontecer para mostrar aoEsprito que ele deixou de emanar amor em algum momento ou mesmo para alert-lo que no se devesentir prazer nos atos em que somos o instrumento para a prova de um outro esprito humanizado.

    Vamos exemplificar o que estamos dizendo. Imaginemos um torcedor do time que o vencedorde um determinado torneio. O prazer que ele sente quando o seu time vence no pode ser chamado defelicidade, pois a felicidade s existe quando um sentimento universal. O prazer que se sente quandoum time campeo s possvel em funo do desprazer que passa os torcedores dos times rivais.Nesse sentido, o prazer sentido naquele momento vai gerar, necessariamente, um momento de desprazerde mesma intensidade energtica, que pode ser vivenciado, se Deus permitir, ainda na atual encarnao.

    Em outras palavras, para se harmonizar com o Universo, a energia de no-amor universal,emanada pelo esprito no ato de sentir prazer com o time campeo, gerou a necessidade de uma vicissitudenegativa na vida dele. E tal vicissitude negativa pode ser a telha que cai na cabea, por exemplo,mesmo que isto no tivesse sido escrito antes pelo Esprito.

    Essa questo nos lembra dos ensinamentos de Lao-Ts quando afirma que a alegria contm asemente da tristeza, assim como o prazer traz em si a semente do desprazer. a interao e o equilbrioentre o yin e o yang. por isso que os ensinamentos orientais afirmam que a melhor forma depassar pelas vicissitudes, tanto as negativas como as positivas, sempre com equanimidade, sem sentirprazer ou desprazer. Ou seja, sem se apegar aos frutos do trabalho realizado, sejam eles agradveis oudesagradveis, do ponto de vista do Esprito humanizado.

  • Captulo 6A influncia dos espritos no mundo material

    Do ponto de vista da Doutrina Esprita, ningum, esteja encarnado ou desencarnado, consegueinterferir na encarnao de um outro Esprito, sem que este merea. Em outras palavras, somos sempreinstrumentos, conscientes ou no, para a provao dos demais Espritos humanizados, mas no podemosinterferir na prova do outro. Ao dizer que no podemos, estamos compreendendo que, mesmo querendo,no iremos conseguir fazer isso.

    Por exemplo, se um Esprito foi escolhido para uma determinada misso que acontecer quandoele completar sessenta anos de idade, ele no ter seu corpo fsico gerado por uma me que far umaborto. Deus onisciente e sabe com antecedncia o que vai ou no ocorrer. Caso contrrio, Ele deixariade ser Deus e no seria justo, ou seja, no respeitaria o livre arbtrio dos Espritos. Na questo 336, porexemplo, o Esprito Verdade afirma que uma criana, quando deve nascer para viver, tem sempre umaalma predestinada. Ou seja, s ser abortado quem precisar passar por essa experincia. Mas, se ospais tiverem a inteno de interromper uma gravidez, eles sero culpados devido atitude (aosentimental interior), mas no pelo fato, pois se era para a criana viver, Deus utilizaria como instrumentospara gerar o corpo fsico daquele Esprito pais que no fariam um aborto voluntrio.

    Nesse sentido, at mesmo aqueles Espritos que chamamos rotineiramente de obsessores soinstrumentos (na maior parte das vezes inconscientes) para a provao daquele que est sendo a vtima,ou seja, o obsediado. Em outras palavras, a obsesso, a magia negra ou qualquer outra coisa que possaprejudicar algum s acontece se Deus o permitir, caso esse fato contemple o gnero de provasescolhido e o merecimento daquele Esprito que ser a vtima.

    Isso est evidente na questo 274 de O livro dos Espritos quando o Esprito Verdade afirmaque irresistvel a autoridade dos Espritos superiores sobre os inferiores. Ou seja, se a DoutrinaEsprita afirma que tal autoridade irresistvel, s podemos concluir que qualquer ato dos Espritosditos inferiores s acontece com a permisso daqueles que se dizem superiores. Assim, se um Espritoobsessor faz mal a algum porque os Espritos superiores a ele esto permitindo que isso acontea.Por alguma razo, naquele momento, eles no vo interferir no processo enquanto o Esprito humanizadoque estiver sendo a vtima precisar dessa provao, dessa expiao ou ter merecimento negativo paraser obsediado. Em outras palavras, ningum inocente ou coitadinho nessa histria.

    Em suma, at o Esprito mau utilizado como instrumento, mesmo que isso aconteainconscientemente, para a provao de um outro. Ele pode at achar que est fazendo sua prpriajustia, como normalmente se l nos livros psicografados, nos quais Espritos trevosos escravizamoutros e os usam em trabalhos de magia negra, por exemplo. Porm, quando a vtima j possuimerecimento para ser auxiliada, de uma forma ou outra a ajuda vir, no importando se ela acontecerem um centro espiritista, em um terreiro de umbanda, em um trabalho de apometria ou atravs deprticas de exorcismo em uma igreja catlica ou em uma sesso de descapetamento em uma igrejaevanglica.

    Enfim, como Deus a causa primria de todas as coisas, Ele encaminhar aquele que possuimerecimento para obter uma cura espiritual para o lugar que esteja de acordo com o grau de compreensodaquele Esprito humanizado.

    Porm, ao mesmo tempo em que o Esprito humanizado recebe o auxilio para libertar-se daobsesso, Deus cria uma nova prova para todos os envolvidos. Por exemplo, ao ser socorrido, o ex-obsediado vai idolatrar o lugar que o curou ou vai agradecer e amar a Deus, a causa primria de todasas coisas? Os que participaram do trabalho, vo acreditar que possuem poder para curar, fortalecendoainda mais o Ego, ou vo agradecer e amar a Deus, a causa primria de todas as coisas, portanto, o

  • nico responsvel pela cura daquela obsesso?Nesse sentido, importante saber que at os trabalhos espirituais no acontecem por mrito

    daqueles que foram os instrumentos do ato na Terra, mas pela autoridade irresistvel dos Espritossuperiores que fazem o obsessor libertar-se da iluso, pois ainda se encontrava preso aos valores doltimo Ego que vivenciou sobre a Terra. Por isso, no faz sentido brigar por verdades, dizendo que adesobsesso kardecista melhor que a apometria, o culto evanglico ou a gira de umbanda, e viceversa. Se tudo criao de Deus, todas as prticas espiritualistas foram permitidas por Ele para que osmais diferentes casos fossem atendidos e, no fim das contas, sempre Deus quem cura ou liberta oesprito humanizado da obsesso.

    Enquanto acreditarmos que fazemos alguma coisa, no nos aprimoramos espiritualmente.Quando acreditamos que somos capazes de fazer o que quer que seja, deixamos de amar a Deus paraamar nosso Ego, acreditando que temos poder ou conhecimento para fazer isso ou aquilo, e deixamosde amar o prximo, pois passamos a acreditar que a tcnica adotada em nossa casa espiritualista maiseficiente que a da outra casa ou religio13 .

    Indo alm nessa reflexo, na questo 466, o Esprito Verdade comenta o fato de Deus permitirque os espritos maus (presos ao egosmo) nos excitem. Segundo afirma: os Espritos imperfeitosso instrumentos destinados a experimentar a f e a constncia dos homens no bem. Novamente oEsprito Verdade afirma que eles so tambm instrumentos dos quais Deus se utiliza para nos provar.Em suma, nada, absolutamente nada, acontece sem a permisso de Deus. At a obsesso vai