19303_ulfc091326_tm_tese_julia.pdf

240
i AGRADECIMETOS À Professora Doutora Maria de Fátima Chorão Sanches, pela orientação interessada, atenta e disponível que me facultou durante este trabalho, pelas sugestões e críticas e por todo o apoio que sempre manifestou, nunca me deixando desistir nos momentos mais difíceis. Aos professores da parte curricular do Mestrado, pelas bases que me deram e pelo enriquecimento científico e profissional que me fez crescer como Professora e Investigadora. Aos membros da comunidade educativa da Escola Amarela, em especial ao Conselho Executivo, pela disponibilidade e colaboração demonstradas, fazendo votos que este trabalho lhes venha a ser útil. A todos os meus colegas e amigos que tanto me ajudaram com palavras de conforto, no período difícil que atravessei durante estes dois anos. À Lisete e à Fátima pela amizade que sempre demonstraram, estando sempre disponíveis para ajudar em qualquer situação e pela força que me incutiram. À minha mãe, mulher de coragem e de trabalho, que sempre me ensinou a ir mais além e me ajudou incondicionalmente a ultrapassar todas as dificuldades porque passei. Ao Carlos, companheiro e amigo que partilha comigo os caminhos da vida, por sempre ter acreditado em mim e nas minhas capacidades, dando-me força para continuar em frente. Aos meus filhos, Néu e Xana, que dão todo o sentido à minha vida, pois sem as suas presenças na minha vida eu não seria quem sou. È um pouco por eles que consegui terminar este trabalho, fruto de muitas lutas. A todos, obrigado por me terem apoiado nesta longa travessia e por me terem dado coragem para seguir em frente.

Upload: conceicao-gomes

Post on 10-Sep-2015

237 views

Category:

Documents


12 download

TRANSCRIPT

  • i

    AGRADECIMETOS

    Professora Doutora Maria de Ftima Choro Sanches, pela orientao

    interessada, atenta e disponvel que me facultou durante este trabalho, pelas sugestes e

    crticas e por todo o apoio que sempre manifestou, nunca me deixando desistir nos

    momentos mais difceis.

    Aos professores da parte curricular do Mestrado, pelas bases que me deram e

    pelo enriquecimento cientfico e profissional que me fez crescer como Professora e

    Investigadora.

    Aos membros da comunidade educativa da Escola Amarela, em especial ao

    Conselho Executivo, pela disponibilidade e colaborao demonstradas, fazendo votos

    que este trabalho lhes venha a ser til.

    A todos os meus colegas e amigos que tanto me ajudaram com palavras de

    conforto, no perodo difcil que atravessei durante estes dois anos.

    Lisete e Ftima pela amizade que sempre demonstraram, estando sempre

    disponveis para ajudar em qualquer situao e pela fora que me incutiram.

    minha me, mulher de coragem e de trabalho, que sempre me ensinou a ir

    mais alm e me ajudou incondicionalmente a ultrapassar todas as dificuldades porque

    passei.

    Ao Carlos, companheiro e amigo que partilha comigo os caminhos da vida, por

    sempre ter acreditado em mim e nas minhas capacidades, dando-me fora para

    continuar em frente.

    Aos meus filhos, Nu e Xana, que do todo o sentido minha vida, pois sem as

    suas presenas na minha vida eu no seria quem sou. um pouco por eles que consegui

    terminar este trabalho, fruto de muitas lutas.

    A todos, obrigado por me terem apoiado nesta longa travessia e por me terem

    dado coragem para seguir em frente.

  • ii

    RESUMO

    O direito Educao um direito de todas as crianas e jovens. Para que todos

    os alunos possam obter Educao, sucesso e se promova nas escolas a incluso,

    necessria vontade poltica mas tambm individual da parte dos actores educativos, no

    sentido de todos colaborarem activamente na implementao de prticas inovadoras que

    previnem e solucionem o insucesso e o abandono escolar. Partindo da problemtica da

    igualdade de oportunidades, insucesso, excluso e abandono escolar, este estudo

    analisou o processo de implementao de um projecto de percursos curriculares

    alternativos numa turma do 6 ano, numa escola do Distrito de Lisboa. Pretendeu-se

    compreender e analisar os processos decisrios subjacentes s dinmicas

    organizacionais no combate ao insucesso e abandono escolar.

    O estudo de caso envolveu trs professores que fizeram parte da elaborao,

    implementao e desenvolvimento do projecto e seis alunos de uma turma de percurso

    curricular alternativo. Recolheram-se dados atravs de documentos da escola e de

    entrevistas a todos os participantes. A anlise de contedo foi realizada de forma a

    encontrar os significados e as compreenses que os participantes lhes atriburam.

    Os resultados do estudo diversificaram-se em funo das dimenses do

    problema e com base nas questes levantadas no inicio do estudo, as quais se repartem

    pelos seguintes aspectos: Noo de incluso no discurso dos actores das escolas; a

    escola, a incluso e a igualdade de oportunidades; a importncia da liderana da escola

    na prtica da incluso; a flexibilidade curricular na promoo do sucesso e preveno do

    abandono escolar; projectos curriculares alternativos como caminham para o sucesso.

    Discutem-se os resultados luz do quadro conceptual e concluses de outros estudos.

    Incluem-se as limitaes do estudo e proposta de investigao futura.

    Palavras-chave: Incluso; Insucesso; Abandono Escolar; Currculo; Percurso Curricular

    Alternativo; Igualdade de Oportunidades.

  • iii

    ABSTRACT

    The right to Education is fundamental to all children and adolescents, so that all

    be entitled to success and inclusion at school. Having in mind problems, such as

    equality of opportunities, failure, exclusion and school dropout, this study focused on

    the implementation process of an alternative curriculum project / programme for a

    group of pupils from a 6th class in one school from the district of Lisbon. The purpose of

    this case study was to understand and analyze the pedagogical and organizational school

    dynamics in terms of dealing with school failure and dropout.

    Three teachers participated in the research to the extent they were involved in

    the curricular design, development and implementation of this alternative programme.

    Data was collected from school documents and interview done to all participants of the

    study, students, teachers and program coordinators. The contents analysis was

    performed in order to capture the meanings and understandings that each participant

    attributed to the program.

    The results of this study pointed out the following components: the meaning of

    inclusion in the educators discourse; the school, inclusion and equality of

    opportunities; importance of school leadership role in the development of inclusion

    practices; curriculum flexibility contribution to the promotion of success and prevention

    of school dropout.

    These results are discussed considering the conceptual framework and conclusions

    of other empirical studies. It also includes the limitations of the study and suggestions

    for future research.

    Key words: Inclusion, failure and school dropout, alternative curriculum projects equality of opportunities

  • iv

    DICE AGRADECIMENTOS...i RESUMO.ii ABSTRACT.iii

    ndice de Figuras.vii ndice de Quadros..viii Siglas e Abreviaturas.x

    CAPTULO I.1

    INTRODUO.1 Objectivos e Definio do Problema de Investigao. 6 Estrutura do trabalho......9

    CAPTULO II.10

    ENQUADRAMENTO TERICO10 Polticas de Combate ao Insucesso e Abandono escolar 16 Escola Inclusiva e a (Des)igualdade de Oportunidades..27 (Des)igualdades em Educao ...31

    Incluso e Sucesso Versus Excluso e Abandono Escolar.. 36 (In)sucesso Escolar .....................38

    Abandono Escolar.39 Gesto e Flexibilidade Curricular . . 42

    Currculo 44 Flexibilidade Curricular 49

    CAPTULO III ...52

    REVISO DA LITERATURA...52 Estudos Internacionais.52 Estudos Realizados em Portugal.57

    CAPTULO IV ...65

    METODOLOGIA65 Opes Metodolgicas65 O Estudo de Caso66 O Desenho do Estudo. 66 Contexto e Caracterizao da Escola Amarela67 'egociao de Entrada. 67 Os Participantes.68 O Agrupamento de Escolas.69 Contexto Fsico e Social.69

    O Agrupamento69 A Escola Amarela. . 70 Os Actores da Comunidade Educativa ...70 A Populao Discente..70 Corpo Docente ... 71

  • v

    Pessoal no Docente ...71 O Projecto Educativo do Agrupamento . 72 Finalidades Orientadoras do Projecto Educativo. 73 Projecto de Percursos Curriculares Alternativos.74 Alteraes aos Planos Curriculares Vigentes.75 Os Alunos da Turma de Percursos Curriculares Alternativo.76 Os Professores 79 A Avaliao do Projecto Curricular Alternativo.80 Recolha de Dados... 81 A Entrevista. 81 Os Documentos... 83 Processos de Anlise e Validao de Dados84 Anlise de Contedo e Validao... 85

    CAPTULO V. 87

    RESULTADOS DO ESTUDO... 87 Representaes da Escola: A Perspectiva dos alunos.87 Funo da Escola88 Vivncias na Escola ... 89 Organizao da Escola... 90 Perspectivas 'egativas sobre a Escola. 92 Perspectivas Positivas sobre a Escola ... 95 O Abandono Escolar96 Razes para Continuar na Escola...96 Razes para Abandonar a Escola97 Consequncias do Abandono Escolar.99 Natureza das Interaces...100 Resoluo de Problemas Pessoais.100 Auto-imagem.101 Relacionamento com Amigos e Colegas101 Perspectivas dos Participantes sobre os Professores.104 Imagem dos Professores104 'oo de Bom Professor e de Mau Professor...105 Estudo e Aprendizagem.107 'oo de Bom Aluno.107 Interaco com o Estudo.. 108 Relacionamento Positivo e 'egativo com os Estudo 108 Importncia do Sucesso na Escola....110 Vivncias na Famlia ... 111 Relaes Pessoais com a Famlia.111 A Famlia e a Escola.113 Percursos Curriculares Alternativos 114 Apreciao dos Alunos sobre o Projecto Curricular Alternativo. 114

    Envolvimento e Participao no Projecto Curricular Alternativo116 Benefcios, Satisfao e Importncia do Projecto Curricular Alternativo.. 120 Projectos de Futuro126 A Perspectiva dos Professores...128 Ser Professor.128 A Profisso de Professor. 128

  • vi

    Interaces Profissionais 130 Insucesso e Abandono Escolar 130

    Escola e Insucesso: misso impossvel. 134 A Famlia e o Insucesso.136 Polticas de Incluso. 138 As Mudanas Polticas...138 Autonomia Relativa e Actuao da Escola face s Polticas. . 141 As Prticas da Escola145 Projecto de Percursos Curriculares Alternativos...153 Razes da Implementao do Projecto.154 Elaborao e Implementao do Projecto156 Dificuldades na Implementao e Desenvolvimento do Projecto.160 A Coordenao do Projecto. 164 As Especificidades Diferenciais do Projecto.166 Avaliao: dimenses de eficcia e sucesso do projecto. 169

    CAPTULO VI. 174

    CONCLUSES, DISCUSSES E IMPLICAES DO ESTUDO. . 174

    Noo de Incluso no Discurso dos Actores da Escola.174 Escola, Incluso e Igualdade de Oportunidades176 Importncia da Liderana da Escola na prtica da Incluso. 179 Flexibilidade Curricular para a Promoo do Sucesso e Preveno do Abandono Escolar...180 Projectos Curriculares Alternativos: Um Caminho para o Sucesso. 182 Limitaes do Estudo e Sugestes para Investigao Futura187

    ANEXOS . 189

    Anexo A Protocolo da Investigao...190

    Anexo B Pedido de Autorizao aos encarregados de educao, para entrevistar os alunos...193

    Anexo C Protocolo da entrevista dos alunos da Turma de P.C.A.195

    Anexo D Protocolo da entrevista Coordenadora da Turma de P.C.A. 201

    Anexo E Grelhas sntese da anlise de contedo da entrevista da aluna Susana206

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.218

    REFERNCIAS LEGISLATIVAS . 229

  • vii

    ndice de Figuras

    Figura 1 Guio da Investigao 8

  • viii

    ndice de Quadros

    Quadro 1 Caractersticas da Educao e do Currculo em Portugal 15 Quadro 2 Taxas de Abandono e Insucesso Escolar em Portugal Continental 40 Quadro 3 - O abandono escolar no perodo 1996 2006 .. 40 Quadro 4 - Categorias Referentes Relevncia da Escola. 88 Quadro 5 - Categorias Referentes s Vivncias na Escola..89 Quadro 6 - Categorias Referentes Organizao da Escola...91 Quadro 7 - Perspectivas Negativas sobre a Escola. 93 Quadro 8 - Categorias Descritivas das Perspectivas Positivas sobre a Escola95 Quadro 9 - Categorias Referentes s Razes para Continuar a ir Escola.97 Quadro 10 - Categorias Referentes s Razes do Abandono Escolar.97 Quadro 11- Categorias Referentes s Consequncias do Abandono Escolar.99 Quadro 12 - Categorias Referentes Resoluo de Problemas Pessoais. 100 Quadro 13 - Viso do Prprio101 Quadro 14 - Categorias Referentes ao Relacionamento com Amigos, Colegas, Professores e Funcionrios102 Quadro 15 - Imagem dos Professores ...104 Quadro 16 - Categorias Descritivas da Noo de Bom Professor e de Mau Professor.106 Quadro 17 - Categorias Descritivas da Noo de Bom Aluno. 108 Quadro 18 Categorias Descritivas da Interaco com o estudo.108 Quadro 19 - Relacionamento Positivo e Negativo com o Estudo.109 Quadro 20 - Categorias Referentes Importncia do Sucesso na Escola.110

  • ix

    Quadro 21 - Categorias Referentes s Relaes Pessoais com a Famlia 112 Quadro 22 - Categorias Referentes Relao Famlia e Escola...113 Quadro 23 - Categorias Referentes Implementao do Projecto Curricular: Razes e Especificidade115 Quadro 24 - Categorias Referentes Motivao e Aco dos Professores no Projecto curricular Alternativo117 Quadro 25 - Satisfao e Importncia do Projecto Curricular...121 Quadro 26 - Categorias Descritivas das Perspectivas Pessoais e Familiares sobre o Futuro.127 Quadro 27- Categorias Referentes Profisso de Professor.129 Quadro 28 - Categorias Relativas aos Referentes das Interaces Profissionais..130 Quadro 29- Categorias Referentes aos Factores Gerais de Insucesso...131 Quadro 30 - Categorias Referentes ao Papel da Escola em termos de Insucesso Escolar...135 Quadro 31 - A Famlia e o Insucesso136 Quadro 32 - Categorias Referentes s Mudanas Polticas...139 Quadro 33 Categorias Referentes Actuao da Escola Face s Polticas... 142 Quadro 34 - Categorias Referentes s Prticas da Escola.147 Quadro 35 - Categorias Referentes s Razes do Projecto...155 Quadro 36 - Categorias Referentes Elaborao e Implementao do Projecto..156 Quadro 37 - Categorias Referentes s Dificuldades na Implementao do Projecto160 Quadro 38 - Categorias Referentes Coordenao do Projecto...165 Quadro 39 - Categorias Referentes s Diferenas do Projecto..168 Quadro 40 - Categorias Referentes Eficcia e Sucesso do Projecto...170

  • x

    Siglas e Abreviaturas AAE Auxiliares de Aco Educativa.

    APA American Psychological Association.

    BE/CRE Biblioteca Escolar / Centro de Recursos.

    CEF Cursos Educao Formao.

    CPCA Coordenadora do Percurso Curricular Alternativo.

    CPCJ Comisso de Proteco de Crianas e Jovens.

    DEB Departamento de Educao Bsica.

    DGFV Direco Geral de Formao Vocacional.

    DGIDC Direco Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular.

    DREs Direces Regionais de Educao.

    DREL Direco Regional de Educao de Lisboa.

    EAS Entrevista Aluno Susana.

    EAM Entrevista Aluno Madalena.

    EAN Entrevista Aluno Nuno.

    EAJM Entrevista Aluno Jos Maria.

    EAJF Entrevista Aluno Joaquim.

    EAR Entrevista Aluno Rodrigo.

    ECPCA Entrevista Coordenadora do Percurso Curricular Alternativo.

    EE Encarregados de Educao.

    EM Educao Musical.

    EUROSTAT Gabinete de Estatsticas da Unio Europeia.

    EPCE Entrevista Presidente do Conselho Executivo.

    EVPCE Entrevista Vice-presidente do Conselho Executivo.

    EVT Educao Visual e Tecnolgica.

    HGP Histria e Geografia de Portugal.

    IEFP Instituto de Emprego e Formao Profissional.

    INED Instituto Nacional de Estudos Demogrficos.

    INEP Instituto Nacional de Pesquisa de Educao.

    LBSE Lei de Bases do Sistema Educativo.

    NEE Necessidades Educativas Especiais.

    NICE Ncleo de Interveno na Comunidade Educativa.

    OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico.

  • xi

    PCA Percurso Curricular Alternativo.

    PCE Presidente do Conselho Executivo.

    PEPT Programa de Educao Para Todos.

    PIPT Programa Interveno e Preveno da Toxicodependncia.

    PIPSE Programa Interministerial de Promoo do Sucesso Educativo.

    QI Quociente de Inteligncia.

    RCEB Reorganizao Curricular do Ensino Bsico.

    SASE Servio de Apoio Social Escolar.

    SIQE Sistemas de Incentivos Qualidade da Educao.

    SPO Servio de Psicologia e Orientao.

    TEIP Territrio Educativo de Interveno Prioritria.

    UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

    VPCE Vice-presidente do Conselho Executivo.

  • 1

    CAPTULO I

    ITRODUO

    Vivemos numa poca em que as fronteiras fsicas e humanas vo perdendo

    muito do seu sentido, sendo a sociedade de hoje cada vez mais confrontada com a

    diferena, com a diversidade e com a multiculturalidade. Assumir a exigncia e a

    importncia do exerccio pleno de cidadania, em sociedades marcadas pela diversidade,

    requer do ponto de vista educacional, polticas educativas, investigao e

    implementao de prticas de sala de aula direccionadas para o investimento em escolas

    mais inclusivas, isto , de escolas que respondam s diferenas existentes entre todos os

    alunos que as frequentam. Falar da escola implica pens-la como instituio cuja misso

    principal servir os cidados, complementando a funo educativa das famlias.

    importncia social crescente que dada escola corresponde uma maior exigncia e

    uma maior expectativa social, pretendendo-se que a educao seja um dos pilares

    essenciais da formao de todas as crianas e adolescentes. Alm disso, o facto de se

    considerar a instituio escolar como um instrumento de equidade e de igualdade social,

    em termos de igualdade de oportunidades, aumentou a diversidade e a complexidade do

    meio escolar. So muitos os alunos que no conseguem acompanhar a escola regular

    orientada para o aluno mdio, no satisfazendo as exigncias do processo educativo e

    acabando em insucesso. Durante os ltimos anos, as sociedades tm reunido esforos e

    criado legislao no sentido de melhorar a educao e o sucesso educativo de todos os

    alunos. Mas at que ponto essas medidas recentes tm tido os resultados pretendidos? O

    presente estudo, situando-se na problemtica complexa do abandono escolar, tem em

    conta estas questes gerais que sero desenvolvidas em captulos subsequntes.

    Apesar de Portugal ter uma Constituio e uma das Leis de Bases do Sistema

    Educativo (Lei n 46/98) consideradas das mais avanadas da Unio Europeia e que

    proclamam, entre outros aspectos, o direito educao de todos os cidados, assim

    como a rejeio de qualquer tipo de segregao e de descriminao, a incluso de

    alunos no ensino regular no tem sido uma questo fcil. No basta legislar para incluir,

    muito menos quando o nmero de anos de escolaridade obrigatria aumentou, passando

    assim, a escola a ter que dar resposta a um maior nmero de alunos, quer em termos

    sociais, econmicos, culturais e ticos, como ainda em termos individuais,

    nomeadamente a nvel dos projectos de vida, das suas motivaes, dos seus estilos e

  • 2

    ritmos de aprendizagem. Para dar resposta heterogeneidade vivida nas escolas, tornou-

    se necessrio flexibilizar os currculos, diversificar, adequar estratgias, materiais e

    espao educativos de forma a promover a possibilidade de sucesso educativo a todas as

    crianas e facilitar o seu desenvolvimento enquanto pessoas capazes de intervir de

    forma responsvel e informada na sociedade de que fazem parte (Sanches, 1996).

    Desde a Constituio da Republica Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n

    46/98), passando pelo regime de Autonomia das Escolas (Decreto-Lei 115-A /98) e pela

    Reorganizao Curricular (Decreto-Lei 6/2001), a inmeros outros documentos legais

    que tm sido produzidos mais recentemente, afirma-se oficialmente e de forma bem

    explcita, a importncia de garantir aos cidados igualdade de oportunidades face

    educao. De facto, maior nmero de crianas, adolescentes e jovens de grupos

    socioculturais diversificados entram e permanecem no sistema educativo. No entanto,

    podemos referir que essa igualdade de acesso, traduzida no mandato da escola para

    todos, no geralmente acompanhada de uma igualdade de sucesso dos alunos que a

    frequentam. Tempos houve em que a escola e a educao eram direito e privilgio s de

    alguns, impondo-se hoje, na maioria dos pases como direito de todos. Todavia, o facto

    de actualmente se encarar a escola como um potencial espao de igualdade e

    oportunidade social acarretou aumento de diversidade e complexidade. So muitos os

    alunos que no conseguem acompanhar a escola regular, pelo que no basta ter acesso e

    direito escola, preciso ter sucesso atravs da escola.

    Actualmente, em Portugal, as polticas educativas esto a originar mudanas

    num contexto mais global, a nvel econmico, poltico e social. Para a educao assumir

    um papel relevante na dinmica social, necessrio adoptar poltica educativas

    diversificadas, de modo a encaminhar para o sucesso e manter no sistema educativo

    todos os alunos que andam afastados ou em risco de abandono. Essas polticas

    educativas permitem que haja uma reestruturao nas escolas, no sentido destas

    conseguirem que a generalidade dos alunos, independentemente das suas diferenas,

    tenha sucesso nas suas aprendizagens, facilitando-lhes uma melhor compreenso de si

    prprios e do mundo que os rodeia, ou seja, que consigam atingir metas individuais e

    sociais de acordo com as suas aspiraes. Como referido na Declarao de Salamanca

    (1994),

    todos os alunos devem de aprender juntos, sempre que possvel, independentemente das dificuldades e das diferenas que apresentem. As escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vrios estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nvel de educao para todos atravs de currculos adequados, de

  • 3

    uma boa organizao escolar, de estratgias pedaggicas, de utilizao de recursos e de uma boa cooperao com as respectivas comunidades (pp.21-22). Em congruncia com esta orientao, importa que as escolas garantam e

    flexibilizem dispositivos de organizao e gesto do currculo, destinados a alunos que

    revelem insucesso escolar repetido, problemas de integrao na comunidade educativa e

    risco de abandono escolar de modo a promover a incluso e o sucesso. Nesse sentido, ao

    longo dos tempos, tem surgido legislao variada, como o Despacho Normativo n

    1/2006, que regulamenta a constituio, o funcionamento e a avaliao de turmas com

    percursos curriculares alternativos, o tema sobre o qual vai incidir este estudo. Estas

    turmas destinam-se a grupos de alunos at aos 15 anos de idade e que se apresentem nas

    seguintes situaes: (1) ocorrncia de insucesso escolar repetido; (2) existncia de

    problemas de integrao na comunidade; (3) ameaa de risco de marginalizao, de

    excluso social ou abandono escolar; (4) registo de dificuldades condicionantes da

    aprendizagem, nomeadamente: forte desmotivao, elevado ndice de absteno, baixa

    auto-estima e falta de expectativas relativamente aprendizagem e ao futuro, bem como

    o desencontro entre a cultura escolar e a cultura de origem. Neste Despacho Normativo

    afirma-se ainda que ao ensino bsico compete garantir uma formao geral comum a

    todos os cidados que inter-relacione o saber e o saber fazer, a teoria e a prtica, a

    cultura escolar e a cultura do quotidiano. Por sua vez, a escola caracteriza-se por ser

    um espao plural do ponto de vista social e cultural, em que as motivaes, os interesses

    e as capacidades de aprendizagem dos alunos so muito diferenciadas, ou seja, uma

    escola inclusiva e que promova o sucesso.

    Para responder aos desafios da escola inclusiva, h que repensar a escola no seu

    todo. Segundo Mittler (2003), a incluso implica mudanas nas escolas em termos de

    lideranas, de currculo, avaliao, pedagogia e formas de gesto da sala de aula. Ela

    tem fundamento em sistemas de valores que fazem com que todos se sintam bem-

    vindos; se combata atitudes preconceituosas em relao diferena; se possa adequar os

    currculos diversidade dos alunos; e haja aceitao dessa diversidade por todos os

    elementos da comunidade educativa. Face s dificuldades inerentes a esta mudana,

    Ainscow (2000) prope que se adoptem, de entre outras, as seguintes medidas: (1)

    valorizao profissional dos professores, (2) aperfeioamento das escolas, no sentido de

    lhes proporcionar meios capazes de fomentar a educao para todos, o que envolve

    necessariamente a consciencializao que a organizao tem de si prpria e do ambiente

    em que se situa. Tornar possvel esta consciencializao e estruturar o ambiente capaz

  • 4

    de a fomentar, urge que as escolas, no entender deste autor, reestruturem os seguintes

    aspectos da governao da escola: (1) a liderana, no s do presidente do Conselho

    Executivo, mas uma liderana da escola, que seja distribuda e democratizada; (2)

    envolvimento da equipa de profissionais, alunos e comunidade nas orientaes e

    decises da escola; (3) planificao realizada colaborativamente; (4) estratgias de

    coordenao; (5) focalizao da ateno nos benefcios da investigao e da reflexo;

    (6) uma poltica de valorizao profissional de toda a equipa educativa.

    Estas mudanas daro sentido escola do sculo XXI que, segundo Lawton

    (1998), dever estar orientada para a viso de uma instituio cultural centrada em

    valores e baseada num currculo focado nas competncias e nos processos. Assim,

    promover-se- uma aprendizagem holstica, autonomia e trabalho colaborativo, entre

    alunos e entre professores, integrando as vertentes acadmicas e vocacionais e

    fomentando a aprendizagem ao longo da vida. Nesta perspectiva, ser possvel

    contribuir para o enriquecimento cognitivo dos alunos, de competncias e valores,

    construindo uma escola inclusiva que permita, na prtica, evidenciar e concretizar a

    ideia fundamental que todas as crianas devem aprender juntas, com dificuldades ou

    diferenas. Mais ainda, visar-se- acomodar a diversidade de estilos e ritmos de

    aprendizagens, independentemente das condies fsicas, intelectuais, sociais,

    emocionais, lingusticas ou outras, de modo a haver uma igualdade de oportunidade

    autntica para todos os alunos.

    A problemtica da igualdade de oportunidades do sucesso e da incluso tem tido

    eco nas preocupaes, investigao e formao dos professores, no sentido de encontrar

    caminhos inovadores e lanar novos desafios s comunidades educativas. A evoluo

    dos estudos sobre currculo e sobre a incluso mostra que estes problemas ganharo

    fora se forem enquadrados numa perspectiva de ruptura com as crenas que

    dominaram a modernidade nomeadamente, a crena iluminista no poder da razo para

    produzir verdades universais e a convico de que um contnuo progresso cientfico

    conduziria emancipao do homem (Fernandes, 2000a p. 27). Com efeito, o

    conhecimento encontra-se em constante mutao; vive-se numa sociedade do

    conhecimento, que Hargreaves (2003) prefere chamar sociedade de aprendizagem, onde

    a importncia da formao ao longo da vida surge como uma forma de capacitar os

    indivduos para os constantes desafios e mutaes em termos sociais e culturais.

    Em convergncia com esta perspectiva, a anlise de Freitas (2000) sobre a ps-

    modernidade enfatiza a era da globalizao, da comunicao total, da interpenetrao

  • 5

    de culturas, como a aceitao do que dantes era inaceitvel (p.40). Por outro lado, neste

    contexto, s resta comunidade educativa pensar a educao e o currculo como praxis

    social que se move cada vez mais em clima de indeterminao (Sanches, 2005, p. 40).

    A escola torna-se, assim, um palco privilegiado de interaces nas quais se joga a

    diversidade social e cultural dos seus actores. Esta condio ps-moderna

    (Hargreaves, 2000) veio originar novas concepes no campo da educao. Neste

    sentido, a escola , agora, vista como uma organizao dinmica e portadora de sentido

    com autonomia e o professor como um profissional capaz de reflectir sobre as suas

    prticas questionando-as criticamente. Em consequncia, como nota Fernandes (2000b),

    ao professor tambm compete flexibilizar o currculo de modo a torn-lo adequado a

    todos os alunos.

    O Currculo Nacional do Ensino Bsico (M.E., 2001) tem como base terica o

    construtivismo que encara a aprendizagem como um modelo processual de colaborao

    alargada, baseado em projectos que constituam verdadeiros desafios comunidade de

    aprendizagem onde se envolvem professores, sujeitos da aprendizagem e todos os

    outros participantes deste processo, desde os pais aos especialistas (Pinto, 2002, pp.

    293-294). Com fundamento nesta concepo scio-construitivista da aprendizagem,

    como afirma Alonso et al (2001), atribuir-se- ao aluno um papel central na construo

    activa e interactiva do conhecimento. Em oposio perspectiva tecnolgica do

    currculo pronto-a-vestir (Formosinho, 1983b), e ainda segundo esta perspectiva

    construtivista, prope-se um currculo dinmico, aberto, flexvel, contextualizado e em

    construo. Currculo em aco, cuja organizao se entende como processo flexvel

    que tem em conta inmeros factores, nomeadamente, o contexto de trabalho, os recursos

    disponveis, a tomada de decises apropriadas e os alunos. Mais ainda, neste sentido,

    conceptualiza-se o currculo como projecto, de forma a dar respostas adequadas s

    diversas necessidades e caractersticas de cada aluno, grupo de alunos, escola ou regio

    (Abrantes, 2000, p.6).

    A democratizao da escola na sua vertente de igualdade de oportunidades para

    a diversidade, implica fazer da escola uma escola de todos e para todos. Mas para que

    essa transformao ocorra na escola, importa reformular o seu funcionamento. Como

    alguns autores e Roldo (1999a) propem, essas alteraes/transformaes no abarcam

    apenas a dimenso organizacional da escola. Abrange tambm a prtica profissional

    dos professores que so quem exerce a actividade pela qual a escola responsvel

    ensinar, isto , fazer aprender" (p.17). So dimenses fundamentais ao nvel de escola; a

  • 6

    primeira, associada estrutura organizativa da escola e a segunda associada forma de

    trabalhar dos docentes. Estes so os pilares da cultura escolar existente em cada

    estabelecimento de ensino. Sabe-se hoje, contudo, que no basta alterar um deles. O

    esforo tem de ser duplo e integrado, na medida em que mudar as estruturas formais

    no o mesmo que mudar normas, valores, convices numa palavra: a cultura

    escolar dominante (Bolvar, 1997, p.171).

    A reorganizao curricular, aliada autonomia das escolas na construo do seu

    Projecto Educativo e Projecto Curricular, constitui ferramenta nova que permite reforar

    o papel do professor como elemento decisor e construtor do currculo. Com efeito, nas

    palavras de Abrantes (2000), os professores so profissionais que identificam e

    interpretam problemas educativos e procuram solues para esses problemas no quadro

    das orientaes curriculares nacionais (p.6). Tornar as escolas mais aptas para

    responder diversidade de necessidades dos alunos levanta vrias questes relacionadas

    no apenas com a organizao e gesto dos servios, mas principalmente com as

    prticas educativas e com as atitudes dos professores e outros actores educativos, pois,

    s sendo um projecto conjunto e assumido por todos pode tornar a escola um local de

    sucesso e incluso. As escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas

    dos seus alunos, adaptando-se aos vrios estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a

    garantir um bom nvel de educao para todos atravs de currculos adequados, de uma

    organizao escolar mais dinmica e de uma cooperao activa entre as respectivas

    comunidades.

    Objectivos e Definio do Problema de Investigao

    Este estudo prope-se conhecer como esto as escolas a conceptualizar possveis

    alternativas ao currculo, no sentido de o flexibilizar, contextualizar e reconstruir face

    diversidade dos alunos e abandono precoce da escola. Especificamente, pretende-se

    conhecer como, face ao currculo nacional, esto a ser postos em prtica os projectos de

    turmas de percursos curriculares alternativos, ao abrigo do Despacho Normativo n

    1/2006. E, ainda, compreender como as escolas e os professores esto a assumir a

    construo/gesto do currculo numa perspectiva de autonomia curricular. Neste

    sentido, considerando os elevados nveis de insucesso, de excluso e de abandono

    escolar, um problema central com que a escola e os professores se debatem, pretende-se

    identificar os processos de construo do projecto de Percursos Curriculares

  • 7

    Alternativos de uma determinada escola, neste estudo designada por Escola Amarela.

    Olhar-se- para a realidade da escola com uma atitude reflexiva face ao problema da

    incluso/excluso, tendo ainda em conta que, na legislao que regulamenta os

    percursos curriculares alternativos (Despacho Normativo n 1/2006), se afirma que o

    ensino bsico deve garantir e flexibilizar dispositivos de organizao e gesto do

    currculo destinados a alunos que revelem insucesso escolar repetido, problemas de

    integrao na comunidade educativa e risco de abandono escolar. Considerando os

    nveis de insucesso, de excluso e de abandono escolar, uma das situaes mais

    complexas com que os professores se debatem, e as regulamentaes implicadas nas

    polticas curriculares recentes, o problema mais amplo desta investigao

    consubstancia-se na seguinte questo: Como entendida a escola inclusiva e como se

    expressa nas prticas dos actores escolares respeitantes ao caso particular dos percursos

    curriculares alternativos? neste questionamento geral que se torna pertinente

    investigar como esto a ser elaborados e aplicados os projectos de constituio de

    turmas de percursos curriculares alternativos, regulamentados pelo Despacho

    Normativo n 1/2006, de 6 de Janeiro. Trata-se de uma problemtica complexa que

    envolve campos diversos, do nvel macro da definio das medidas polticas at ao nvel

    micro das decises e aco dos actores nas escolas. Neste sentido, considera-se

    relevante caracterizar os processos que ocorrem nas escolas conducentes

    conceptualizao, estrutura e desenvolvimento dos projectos de percursos curriculares

    alternativos, para os alunos em situao de risco de abandono do sistema educativo. Em

    paralelo pretende-se conhecer como os professores encaram e se envolvem neste tipo de

    projectos.

    Sendo um estudo de caso de uma turma numa s escola, delimitou-se o campo

    de anlise, definindo questes de investigao mais especficas: (1) Como

    conceptualizada a noo de incluso, no discurso oficial e no discurso dos actores nas

    escolas? (2) Que influncia tem a liderana da escola nas medidas e prticas de incluso

    implementadas na escola? (3) At que ponto, ao adaptarem os currculos alternativos, as

    escolas promovem o sucesso acadmico e previnem o abandono escolar? (4) Em que

    medida a organizao de turmas de percursos curriculares alternativos representa um

    caminho eficaz para o sucesso dos alunos a que se destinam esses currculos?

    Sendo o foco de estudo o processo de constituio de turmas com percursos

    curriculares alternativos, contextualizado na perspectiva da autonomia das escolas e da

    flexibilizao do currculo, o conceito de integrao e incluso que perpassa no discurso

  • 8

    sobre a igualdade de oportunidades adquire especial relevncia. A anlise crtica desse

    discurso cruza-se com a anlise das interpretaes e das aces dos actores, bem como,

    com a anlise das contradies e ambiguidades, o que permitir um entendimento mais

    concreto da forma como esses actores adoptam ou resistem s prticas de incluso. Com

    base nestes pressupostos, especificam-se os seguintes os objectivos articulados com as

    dimenses orientadoras do estudo, sistematizadas na Figura1, funcionando como guio

    para a investigao.

    Guio Orientador da Investigao

    Qu

    e co

    nce

    p

    es d

    e es

    cola

    incl

    usi

    va s

    e ex

    pre

    ssam

    nas

    pr

    tica

    s d

    os

    acto

    res

    esco

    lare

    s, r

    esp

    eita

    nte

    s ao

    cas

    o p

    arti

    cula

    r d

    os p

    ercu

    rsos

    cu

    rric

    ula

    res

    alte

    rnat

    ivos

    ?

    Questes de investigao

    Objectivos

    1 - Como conceptualizada a noo de incluso, no discurso oficial e no discurso dos actores nas escolas? 2 - Que influncia exerce a liderana da escola, nas medidas e prticas de incluso implementadas na escola? 3 - At que ponto, ao adoptarem os currculos alternativos, as escolas promovem o sucesso acadmico e previnem o abandono escolar? 4 - Em que medida a organizao de turmas de percursos curriculares alternativos representa um caminho eficaz para o sucesso dos alunos a que se destinam esses currculos?

    1 - Compreender e analisar as concepes e princpios tericos, subjacente s prticas dos diversos actores no combate ao insucesso e abandono escolar. 2 - Compreender e analisar os processos decisrios subjacentes s dinmicas organizacionais no combate ao insucesso e abandono escolar. 3 - Analisar as dinmicas curriculares e organizacionais que se desenvolveram entre os actores de uma escola, ao longo do processo de implementao de um programa de percurso curricular alternativo.

    Figura 1.Guio de Investigao

    Assim, especificamente, o presente estudo emprico pretendeu dar a conhecer,

    com profundidade e abrangncia, como uma Escola Bsica construiu e implementou,

    numa turma do 6 ano do Ensino Bsico, o projecto de um Percurso Curricular

    Alternativo contribuindo, desta forma, para o enriquecimento do conhecimento sobre

    esta temtica atravs da descrio, anlise e interpretao de um caso.

  • 9

    Estrutura do Trabalho

    O presente trabalho estrutura-se em cinco captulos. No captulo I, que

    corresponde introduo, apresenta-se de forma sinttica a temtica, dando-se uma

    viso geral dos contedos do estudo emprico. Justifica-se a pertinncia da investigao,

    identifica-se e especifica-se a problemtica, assim como as questes de investigao e

    os objectivos da mesma. No captulo II, apresenta-se a conceptualizao terica que

    suporta a problemtica e a anlise dos normativos referentes ao objecto de estudo. Este

    enquadramento foi fundamental para a investigao, uma vez que permitiu aprofundar o

    campo terico e orientar a recolha, a anlise e interpretao dos resultados. Este captulo

    permite-nos olhar o fenmeno que se investigou, do ponto de vista terico e que se

    desenvolveu atravs das seguintes reas especficas: (1) Programas de combate ao

    Insucesso e Abandono Escolar no contexto educativo portugus; (2) A Escola Inclusiva

    e a (des) igualdade de oportunidades; (3) A Incluso e o Sucesso Versus Excluso e

    Abandono Escolar; (4) Gesto e Flexibilidade Curricular. No captulo III, procedeu-se

    reviso da literatura, analisando-se alguns estudos empricos sobre a problemtica do

    insucesso e abandono escolar. No captulo IV, mencionam-se e justifica-se as opes

    metodolgicas tomadas ao longo do estudo/investigao, nomeadamente, o facto de ser

    uma investigao qualitativa que utiliza como estratgia o estudo de caso, identificando-

    se e caracterizando-se o contexto da investigao. Abordam-se as opes tomadas ao

    nvel da recolha de dados, das estratgias e instrumentos utilizados na anlise desses

    mesmos dados. No captulo V, apresenta-se a discrio dos resultados organizados em

    funo das questes estruturantes da investigao. No captulo VI, cruzam-se aspectos

    mais relevantes dos resultados com o quadro terico que suportou a investigao e

    tiram-se concluses, respondendo s questes de investigao de acordo com os

    objectivos que nortearam o estudo de caso. A terminar, elaboram-se algumas

    consideraes finais e apontam-se algumas linhas para futuras investigaes nesta vasta

    rea da incluso e do insucesso e abandono escola. Incluem-se ainda uma seco de

    Anexos onde figuram os guies de entrevistas aplicados, a grelha parcial da sntese da

    anlise de contedo e outra seco de referncias bibliogrficas, onde so enumeradas,

    de acordo com as normas adoptadas na American Psychological Association conhecidas

    como 'ormas APA (citadas em Azevedo, 2003), as obras e os artigos consultados e

    referenciados no corpo do trabalho.

  • 10

    CAPTULO II

    EQUADRAMETO TERICO

    A escola precisa, mais do que nunca, de despertar conscincias, incentivar

    saberes e competncias, recusar a facilidade e, acima de tudo, saber o que , o que quer

    e para onde vai (Martins, 1991). E, porque os tempos so de incerteza, chegada a

    altura de (re)estruturar e de (re)pensar a escola (Benavente, 1990). sobretudo, segundo

    (Perrenoud, 1990), tempo de contribuir para saber o que a escola e faz a fim de se

    elucidar sobre os seus sucessos, insucessos e abandonos, bem como saber o que precisa

    fazer para projectar e garantir um futuro melhor para os seus alunos. Partindo destas

    premissas e para melhor compreender a situao em que a escola e a educao em geral,

    actualmente se encontra, no que se refere ao insucesso e abandono escolar, bem como,

    constituio e flexibilizao dos curricula, apresenta-se, com brevidade, alguma

    informao evolutiva sobre as polticas educativas, no sentido de compreender algumas

    das razes que condicionaram e talvez ainda condicionem o seu desenvolvimento num

    caminho mais inclusivo.

    O sistema educativo tem sofrido ao longo dos anos vrias vicissitudes que

    produziram avanos e recuos na educao em Portugal. Com a implantaro da

    Repblica em 1910, as taxas de analfabetismo em Portugal rondavam os 75,1%, sendo

    as mulheres as que menos frequentavam a escola, o nmero de mulheres analfabetas

    rondando os 81,2%, o que nos afastava da realidade educativa da maioria dos pases

    europeus (Proena, 1998). Para o Partido Republicano, a educao era um dos meios

    para reformar a mentalidade dos portugueses e tentar conseguir a igualdade social e o

    desenvolvimento socioeconmico do pas, pelo que apresentaram, como objectivos

    prioritrios do seu programa de aco a alfabetizao, a valorizao da profisso

    docente tanto no ponto de vista pedaggico e cientifico como do ponto de vista

    econmico. Em 1911, na Constituio, garantido o ensino primrio com a durao de

    3 anos, obrigatrio e gratuito. Para concretizar esse objectivo so criadas escolas mveis

    para que a educao chegue a todos os alunos do meio rural.

    Com o fim da 1 Republica e a instaurao do Estado Novo desvalorizada a

    modernizao do ensino bem como as medidas tomadas anteriormente, o ensino sofre

    alteraes e passa a ser organizado com a finalidade de propagandear as ideias

    defendidas pelo estado, de evitar a propagao de outras ideologias que pusessem em

  • 11

    causa o Estado e de limitar certos nveis de ensino s classes sociais para que, atravs do

    aumento da escolaridade no possam contribuir para uma ameaa ao sistema. O

    analfabetismo deixa de ser uma preocupao e na Constituio de 1933 o Estado liberta-

    se da responsabilidade de garantir a escolaridade bsica obrigatria (Proena, 1998).

    Na dcada de 60, a situao econmica e poltica do pas comea a mudar

    verificando-se um importante desenvolvimento econmico e um aumento da populao

    urbana principalmente nas cidades de Lisboa e do Porto. Com o aparecimento da

    televiso, com o desenvolvimento de turismo e com a emigrao surge uma maior

    abertura ao mundo exterior, alteram-se atitudes e comportamentos, assumem-se novos

    valores. A escolaridade obrigatria o passa a ter um papel primordial, uma vez que se

    considera que a escolarizao andaria a par com o progresso econmico. Vive-se uma

    poca de optimismo e de mudana tentando criar-se a iluso que a abertura da escola a

    todos pode transformar a sociedade. Em 1964 a escolaridade obrigatria passa para 6

    anos surgindo nessa altura a telescola para possibilitar s crianas dos meios rurais essa

    mesma escolaridade. Nesta poca, como refere Pinto (1995), a escola era vista como um

    instrumento de que a sociedade dispunha para assegurar a igualdade de oportunidades.

    A escola era vista como via de igualdade de oportunidades e de ascenso social.

    Nos anos 70, acreditava-se que a educao era a base do desenvolvimento

    econmico, social e cultural, pelo que s sendo assegurado um ensino bsico acessvel a

    todos, se conseguiria uma democracia social e a construo de uma sociedade de

    progresso e de bem-estar social. Com a Reforma do Sistema Educativo (Lei 5/73, de 25

    de Julho) assinada pelo ministro Veiga Simo, pretendeu-se introduzir modificaes que

    visavam tornar a escola mais acessvel aos mais desfavorecidos. Esta Lei visava no seu

    essencial a democratizao do ensino, numa sociedade autoritria monoltica e de

    carcter classista. A escolaridade obrigatria aumentou de 6 para 8 anos e decreta que

    no domnio da aco educativa, incube ao Estado, (1) assegurar a todos os Portugueses

    o direito educao, mediante o acesso aos vrios graus de ensino e aos bens da cultura,

    sem outra distino que no seja a resultante da capacidade e dos mritos de cada um,

    (2) tornar efectiva a obrigatoriedade de uma educao bsica generalizada como

    pressuposto indispensvel da observncia do principio fundamental da igualdade de

    oportunidades para todos (Lei 5/73).

    Nesta poca a concepo de currculo estava associado ao conjunto de

    disciplinas e que se concretizava pelos contedos expressos nos manuais escolares.

    Segundo Leite (2003), prevalecia em Portugal uma orientao curricular baseado no

  • 12

    paradigma tradicional de racionalismo acadmico, o currculo limitava-se ao conjunto

    de matrias a ensinar e estrutura organizativa dessa transmisso, considerando o

    conhecimento como nico e universal, ignorando os diferentes pontos de partida dos

    alunos, desvalorizando todas as manifestaes culturais diferentes da cultura-padro

    vigente.

    Com a revoluo de 25 de Abril de 1974, vivem-se tempos conturbados e um

    perodo de grande instabilidade poltica e governamental. A reforma de Veiga Simo

    no tivera tempo suficiente para ser levada a cabo, mas as ideias e os princpios

    definidos mantm-se e acabam por ser concretizados mais tarde. Neste perodo de

    liberdade, a escola encarada como um meio de renovao ideolgica e de construo

    de uma nova sociedade mais igualitria. Mas esta liberdade de pensamento e esta

    democratizao da educao no foi fcil, como refere Bettencourt (1999).

    Em 1974, o nmero de analfabetos era de cerca de 40%. A evoluo do ensino e

    a expanso do acesso criaram problemas ao nvel dos edifcios escolares e dos

    equipamentos que no conseguiram dar respostas adequadas, apesar de significativos

    investimentos. Criam-se situaes de sobrelotao, degradao dos equipamentos,

    desumanizao dos ambientes escolares, contrariando de certo modo o expresso na

    Constituio da Repblica Portuguesa de 1976 no seu artigo 73, no qual refere uma

    filosofia de educao que contribua para a igualdade de oportunidades, a superao das

    desigualdades econmicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do

    esprito de tolerncia, de compreenso mtua, de solidariedade e de responsabilidade,

    para o progresso social e para a participao democrtica na vida colectiva. Neste

    contexto em 1986 foi publicada a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), lei n

    45/86, de 14 de Outubro. Esta Lei vem regulamentar e disciplinar as escolas e definir

    orientaes para a sua gesto. Cria uma nova estrutura do sistema educativo com a

    integrao da educao pr-escolar, a educao escolar, universal, obrigatria e gratuita,

    de 9 anos, organizada em trs ciclos, o 1 ciclo de 4 anos, o 2 ciclo de dois anos e o 3

    ciclo de 3 anos. Fora da escolaridade obrigatria, o ensino secundrio, de 3 anos,

    dividido em cursos orientados para o prosseguimento de estudos e para cursos

    orientados para a vida activa. regulamentado tambm a educao extra-escolar que

    envolvem actividades de alfabetizao, educao de base, aperfeioamento e

    actualizao cultural e cientifica e a iniciao reconverso e aperfeioamento

    profissional. Esta Lei vai ainda mais longe, criando o ensino recorrente para todos os

  • 13

    alunos que no quiseram ou no tiveram a oportunidade de cumprir a escolaridade

    obrigatria, na altura considerada prpria.

    Os ideais democrticos que acompanharam a revoluo de Abril de 74 vm

    gerar mudanas nos processos de desenvolvimento do currculo, mais a nvel

    pedaggico do que a nvel estrutural. Os nmeros do insucesso e do abandono escolar

    so elevadssimos e o currculo tinha que romper com a tradio para promover o

    princpio do direito de todos educao. Pretendia-se individualizar o ensino,

    correspondendo aos interesses e diferenas dos alunos de modo a conseguir uma escola

    mais justa, onde todos aprendessem aquilo que a escola tinha para ensinar. No entender

    de Leite (2003), acreditava-se que o alargamento da formao escolar a alunos de

    classes sociais, at ai, afastados da escola teria consequncias positivas na mobilidade

    social, justificando-se adaptaes curriculares s necessidades da sociedade quer nas

    questes pedaggicas do currculo, quer no recurso a medidas de compensao de modo

    a promover a igualdade de oportunidades e favorecessem a aprendizagem escolar.

    Investe-se na formao de professores e adopta-se uma pedagogia nova com o

    objectivo de criar condies para os alunos se motivarem para aprenderem os contedos

    dos programas escolares. Em termos do currculo, a opo permaneceu na valorizao

    das disciplinas tradicionais apesar da inteno de se caminhar no sentido da articulao

    entre as disciplinas e da valorizao das experincias dos alunos. Como refere ainda

    Leite (2003), esta situao pode justificar-se pela oscilao da reforma educativa entre

    o eixo de Estado - providncia que pretendia caminhar para o alargamento da

    igualdade de oportunidades escolares e o eixo neoliberal que o retraa (p.76). O

    ensino continua a focalizar-se num conjunto de contedos abstractos e de aprendizagens

    artificiais, explicando-se o sucesso e o insucesso pelo handicap sociocultural dos

    alunos, apesar de na Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei 45/86) estar expresso o

    princpio da igualdade de oportunidades de acesso e de sucesso e de se colocar a tnica

    numa cultura em que se tornava necessrio promover essa igualdade e esse sucesso s

    crianas de todos os grupos sociais e de se adoptar os processos de ensino s sociedades

    onde as escolas se inserem, tendo em conta as especificidades de cada um.

    Apesar de no se terem verificado grandes alteraes a nvel da organizao

    curricular, no final dos anos 80 que se comea a dar maior ateno ao currculo e a

    aprofundar e reflectir sobre a inadequao de um currculo construdo em funo apenas

    do aluno mdio, de uma classe social mdia e instruda e a viver em ambientes sociais

    familiarizados com a escola.

  • 14

    A partir da dcada de 90, introduz-se o discurso da escola inclusiva, surge a

    preocupao de criar escolas mais inclusivas e de promover o sucesso escolar

    generalizado no ensino bsico. A educao multicultural insere-se tanto no discurso

    acadmico como no poltico, devido ao aparecimento nas escolas de alunos filhos de

    emigrantes africanos e das populaes regressadas das ex-colnias, situao que fez

    aumentar muito as taxas de insucesso. A investigao desenvolveu estudos que

    relacionavam o sucesso educativo com a ateno dada s especificidades de cada aluno

    nas quais figuravam as diferenas culturais. Desenvolveram-se polticas no sentido de

    inverter o insucesso que acompanhava as crianas de grupos culturais e tnicos

    minoritrios introduzindo medidas discriminatrias positivas com a criao dos

    Territrios Educativos de Interveno Prioritria, (TEIP), a introduo de currculos

    alternativos e a publicao da Lei-quadro da Educao Pr-Escolar (Lei 5/97, de 10 de

    Fevereiro) que define este grau de ensino como a primeira etapa da Educao Bsica

    num processo de educao ao longo da vida.

    A pertena de Portugal ao Conselho da Europa e a adeso Comunidade

    Europeia influenciaram a institucionalizao de algumas das medidas polticas tomadas

    desde a, nomeadamente o Projecto de Reflexo Participada sobre os Currculo do

    Ensino Bsico, levado a cabo no mbito do Departamento da Educao Bsica (DEB), o

    Projecto de Gesto Flexvel do Currculo e a Reorganizao do Ensino Bsico. No

    entanto no fcil implementar essas polticas, continuando-se a verificar mudanas de

    discursos e no de prticas. Como Benavente (1991) refere, no se muda uma

    instituio sem mudar as prticas que a produzem no dia-a-dia. Alm disso, a

    mudana de prticas de ordem e de lgica diferentes da mudana legislativa; um

    processo complexo que envolve os professores e no resulta nem da simples vontade

    destes, nem decorre mecanicamente de qualquer interveno exterior (p.178).

    relativamente consensual que a escola hoje para todos os que nela convivem,

    crianas e jovens pertencentes a diferentes grupos sociais e de diferentes etnias, mas

    essa escolarizao comum no s por si garante de sucesso e de uma comunicao

    intercultural. Segundo Leite (2003) uma escola para todos e em que todos so

    diferentes, exige dos professores a capacidade e a flexibilizao para inovar na linha de

    um paradigma que proporcione o xito e a mudana, sem despersonalizar e aculturar.

    (p.85). Desde Abril de 1974 mltiplas tem sido as reformas e polticas educacionais no

    sistema educativo Portugus, no entanto continuam a no dar uma resposta pertinente

    aos problemas que vm afectando as escolas em particular, no que se refere ao

  • 15

    insucesso e abandono escolar. Pode-se sintetizar as caractersticas da educao e do

    currculo desde 1974 aos anos 90, no Quadro 1, com informao extrada de Leite (2003

    pp.61,72,79,86).

    Quadro 1 Caractersticas da Educao e do Currculo em Portugal

    Caractersticas da Educao e do Currculo em Portugal

    Antes de Abril

    de 74

    Revoluo Abril de 74 Anos 80 Anos 90

    Orientaes

    curriculares

    -paradigma tradicional

    de racionalismo

    acadmico.

    -coexistncia de correntes

    pedaggicas e curriculares opostas;

    -paradigma pedaggico e

    humanista-social a par de um

    paradigma tcnico;

    -o domnio ainda, da didctica

    geral;

    -relao triangular:

    objectivos/contedos/mtodos.

    -reforma curricular assente

    na modernizao das

    disciplinas;

    -predomnio do paradigma

    tcnico/recurso a processos

    de planificao detalhados e

    estruturados em torno de

    objectivos especficos.

    -reconhecimento da

    inadequao de um

    currculo construdo em

    funo apenas do aluno

    mdio-tipo;

    -currculo nacional

    flexvel para

    territorializao local.

    Papel da

    Escola e dos

    Professores

    -transmitir saberes e

    preparar para a vida

    futura.

    -romper com a educao

    bancria;

    -contribuir para uma insero futura

    dos alunos na sociedade.

    -Professor tcnico /

    professor consumidor de

    currculo;

    -recurso a procedimentos

    que favorecem a

    aprendizagem dos contedos

    dos programas escolares

    -a Escola local de

    deciso;

    -Professor investigador

    e professor reflexivo;

    -Professor configurador

    do currculo;

    -contribuir para a justia

    social.

    Organizao

    do Currculo

    -currculo centrado em

    disciplinas, numa

    orientao

    multidisciplinar.

    -centrado em disciplinas e recursos

    prticos de pluridisciplinariedade

    ou, mesmo, de interdisciplinaridade.

    -dialctica entre tradio e a

    modernidade;

    -discurso da

    interdisciplinaridade mas

    prticas na lgica de um

    currculo de coleco.

    -discurso e desejo de

    integrao e de currculo

    global, mas prticas que

    se limitam, muitas vezes,

    mera

    pluridisciplinaridade e/ou

    disciplinaridade cruzada.

    Ateno a

    questes de

    ordem cultural

    -tese da neutralidade do

    conhecimento;

    -o conhecimento

    considerado nico e

    universal;

    -tese da

    meritocracia/igualdade

    de oportunidades de

    acesso e a cada um

    segundo o seu mrito;

    -tese da cultura-

    padro/assimilacionism

    o;

    -principio do

    isolamento/rejeio do

    estrangeirismo e do

    discurso internacional.

    -discurso assente no direito de todos

    educao;

    -viso funcionalista da democracia;

    -havia que adquirir o conhecimento

    escolar para se alcanar posies de

    maior estatuto social;

    -recurso a medidas de

    compensao;

    -situaes de diversidade olhadas,

    quase s, na ptica da diferena

    social.

    -discurso assente no direito

    de todos educao;

    -discurso da valorizao de

    experincias de vida

    diversificada;

    -principio da igualdade de

    oportunidades de acesso mas

    tambm de sucesso escolar;

    -explicao do

    sucesso/insucesso escolar

    pela teoria do handicap

    sociocultural;

    -aceitao passiva/

    benigna da

    multiculturalidade.

    -criao do Secretariado

    Coordenador de

    Programas de Educao

    Multicultural/Entrecultur

    as (1991);

    -existncia de projectos

    diversos de educao

    intercultural;

    -prioridade, na formao

    de professores,

    educao face

    multiculturalidade;

    -principio da educao

    para e no exerccio de

    uma cidadania crtica;

    -discurso da necessidade

    de um currculo contra-

    hegemnoco.

  • 16

    Polticas de Combate ao Insucesso e Abandono Escolar

    Numa sociedade democrtica e de liberdade de expresso surge a preocupao

    em reduzir as desigualdades sociais democratizando-se o acesso escola. O pas hoje

    est a mudar e a educao e a cultura tornam-se num trampolim importante para que a

    sociedade portuguesa possa enfrentar novos desafios, embora estas mudanas sejam

    lentas e difceis. Para combater o insucesso escolar e prevenir o absentismo e o

    abandono escolar, principalmente a nvel do ensino bsico, os vrios governos tm, nas

    ltimas dcadas, desenvolvido polticas educativas que visam a promoo do sucesso e

    a igualdade de oportunidades. De uma forma sintetizada, apresentam-se algumas dessas

    polticas, terminando com a perspectiva crtica de alguns autores.

    Escolas de Interveno Prioritria abrangidas pelo Decreto-Lei n 35/88, de 4

    de Fevereiro. Segundo o n 6 do artigo 4 do referido Decreto consideram-se escolas de

    interveno prioritria as que se por se situarem em zonas de diferenciados estratos

    sociais ou diversificadas etnias, ou assim definidas em funo de programas especficos,

    determinam a aplicao de medidas igualmente especficas. Por sua vez, nesse mesmo

    ano, e para melhor esclarecer o conceito de interveno prioritria surge o Despacho

    119/ME/88, de 30 de Junho, que designa como escolas de interveno prioritria as que

    apresentem as seguintes caractersticas: (1) As situadas em zonas degradadas ou em

    localidades cujo isolamento dificulta a fixao dos professores; (2) As frequentadas por

    nmero significativo de crianas com dificuldades de aprendizagem, inadaptadas ou

    portadoras de deficincia; (3) Nas que se verifique um insucesso escolar sistemtico; (4)

    Nas abrangidas pelo programa de promoo do sucesso escolar.

    Em 1993, surge novo Despacho Conjunto n 3 I/SEEBS/SERE/93, de 13 de

    Julho, que define como critrios para a seleco das escolas de interveno prioritria,

    por parte das Direces Regionais de Educao, os seguintes: (1) Implantao da escola

    em rea socialmente carenciada; (2) Existncia de um nmero significativo de crianas

    com necessidades educativas especiais (com deficincia moderada e leve ou sem

    deficincia), sem apoio das equipas de educao especial; (3) Necessidade de integrar

    um nmero significativo de alunos de outras etnias; (4) Existncia de situaes de

    graves carncias econmicas.

    Com esta legislao e regulamentaes mltiplas, em termos prticos, cria-se a

    possibilidade da reduo do nmero de alunos por turma, diminuindo o ratio de um

    professor para vinte e cinco alunos, para um professor para vinte alunos.

  • 17

    Programa Interministerial de Promoo do Sucesso Educativo (PIPSE) que

    surge pela Resoluo do Conselho de Ministros de 10 de Dezembro de 1987 (C.M de

    87/12/10 D.R.II Srie -88/1/21). Previsto para um horizonte de trs anos, envolvendo

    responsveis polticos e servios oficiais com competncia para actuar ao nvel do apoio

    social, este programa abrange cerca de 60 concelhos e tem como finalidade reforar a

    aco e os meios educativos em zonas prioritrias caracterizadas por ndices muito

    elevados de insucesso e numa tentativa de criar condies para uma total escolarizao

    ao nvel do 1 ciclo do ensino bsico. O principal objectivo deste programa inverter a

    tendncia que se vinha acentuando para o insucesso escolar e visava intervir em reas

    como os cuidados sade, alimentao, transporte, fornecimento de material escolar,

    animao de tempos livres, formao de professores e reestruturao da rede escolar.

    Desenvolvia-se, procurando a renovao da relao ensino aprendizagem bem como a

    preparao dos pais e encarregados de educao, professores, autarcas, representantes

    dos interesses sociais, econmicos e culturais da regio para a assuno de novos

    papis, no mbito da gesto escolar.

    Programa Educao Para Todos (PEPT) que surge atravs da Resoluo do

    Conselho de Ministros n 29/91 e de acordo com as recomendaes da Conferncia

    Mundial sobre Educao Para Todos, realizada em Maro de 1990 em Jomtien e da

    Conferncia de Ministros da Educao, realizada em Novembro de 1990 em Paris. O

    principal objectivo deste programa era mobilizar vontades e rentabilizar recursos para

    o efectivo cumprimento da escolaridade de 9 e 12 anos, criando uma cultura de

    escolarizao prolongada e qualificante, propiciadora em dcadas vindouras da

    formao de cidados melhores dotados para enfrentar, com competncia,

    responsabilidade e civismo, os desafios postos pelas sociedades modernas. No

    programa ainda se refere que O Programa Educao Para Todos concretizado em

    duas etapas complementares, decorrendo a primeira, centrada no cumprimento da

    escolaridade obrigatria de nove anos, at ao ano lectivo 1994/1995, e a segunda,

    orientada para o acesso e frequncia generalizada de ensino ou formao de nvel

    secundrio ou equivalente, at ao ano lectivo de 1999/2000 (D.R. n 182, I-B Srie,

    9.8.1992).

    Projecto de Educao Intercultural, aplicado atravs do Despacho n

    170/ME/93, de 6 de Agosto. Este projecto visava aumentar as condies de sucesso em

    escolas do ensino bsico, situadas em reas urbanas e suburbanas onde existiam uma

    grande concentrao de populaes pertencentes a minorias tnicas e culturas diversas

  • 18

    com elevada percentagem de insucesso escolar. A coordenao do projecto estava a

    cargo do Secretariado Entreculturas e apresentava como objectivos gerais: (1) Incentivar

    uma educao intercultural que permita desenvolver atitudes de maior adaptao

    diversidade cultural da sociedade portuguesa; (2) Dinamizar a relao entre a escola, as

    famlias e as comunidades locais; (3) Incrementar a igualdade no acesso e usufruto dos

    benefcios da educao, da educao e da cincia; (4) Considerar e valorizar os

    diferentes saberes e culturas das populaes servidas pelas escolas abrangidas pelo

    projecto; (5) Criar ou intensificar a oferta de, pelo menos, um ano de pr-escolaridade s

    crianas na rea servida pelas escolas; (6) Apoiar social e psicologicamente os alunos e

    as famlias; (7) Promover a qualificao do pessoal docente e no docente no mbito da

    educao intercultural; (8) Criar um sistema permanente de apoio aos rgos de

    direco e de gesto pedaggica das escolas para o diagnstico, concepo, realizao e

    avaliao de projectos de interveno intercultural.

    Previsto para durar cerca de dois anos, este projecto iniciou com 30 escolas,

    alargando-se a 52 escolas pblicas dos trs ciclos do ensino bsico e prolongou-se por

    mais dois anos tendo envolvido cerca de 100 professores e 2000 crianas nas reas

    metropolitanas de Lisboa, Porto e no Algarve. Foi dado como encerrado num Seminrio

    em 4 de Julho de 1997, tendo sido publicado em Dezembro, um livro com os relatrios

    finais de execuo (Martins et. al., 2002) e os relatrios de avaliao externa (Alaiz et.

    al., 1998) onde se salientam algumas limitaes e dificuldades na implementao do

    projecto. Situaes de fome de alguns alunos, tremendas desigualdades de

    oportunidades entre a populao escolar, salas de aulas, do pr-escolar, equipadas pelas

    autarquias mas que no funcionavam por falta de colocao de educadores de infncia,

    dificuldade de fixao dos professores ao projecto.

    Ainda em 1993 foi criado o Servio de Psicologia e Orientao (SPO) cujo

    principal objectivo assegurar o acompanhamento dos alunos ao longo do processo

    educativo e apoiar o desenvolvimento do sistema de relaes interpessoais na escola e

    entre esta e a comunidade. Tambm em 1993, com a publicao do Despacho n

    113/ME/93 surgem os Sistemas de Incentivos Qualidade da Educao (SIQE) que tm

    como uma das finalidades apoiar as escolas mais carenciadas atravs de projectos

    educativos e pedaggicos desenvolvidos numa perspectiva de discriminao positiva, de

    modo a corrigir simetrias e potenciar, o mais possvel, a igualdade de oportunidades.

    Territrios Educativos de Interveno Prioritria (TEIP) que surgem atravs do

    Despacho n 147-B/ME/96, de 8 de Junho, e posteriormente complementado pelo

  • 19

    Despacho Conjunto 73/SEAE/SEEI/96, de 10 de Julho. Segundo o prembulo do

    Despacho de criao, este projecto tem como finalidade o desenvolvimento e a

    formao de todos os cidados em condies de igualdade de oportunidades e no

    respeito pela diferena e autonomia de cada um, criando-se condies que, permitam

    garantir a universalizao da educao bsica de qualidade e promover o sucesso

    educativo de todos os alunos. Com os TEIP pretende-se proporcionar melhores

    condies de trabalho para as escolas nomeadamente atravs de uma diminuio do

    nmero de alunos por turma e do reforo de meios humanos, materiais e financeiros de

    modo a melhorar o ambiente educativo reforando as aprendizagens dos alunos.

    Segundo Benavente (2001) os TEIP tm como objectivo integrar os trs ciclos da

    escolaridade obrigatria articulando-os com a educao pr-escolar e com a formao,

    criando condies para a ligao da escola vida activa e coordenando as polticas

    educativas numa dimenso geogrfica mais alargada e adequada s comunidades locais.

    No primeiro ano de implementao foram definidos 34 Territrios de

    Interveno Prioritria, distribudos pelas cinco Direces Regionais de Educao, no

    ano lectivo 1997/1998 os TEIP aumentaram para 45, integrando vrias escolas dos

    diversos ciclos do Ensino Bsico e da Educao pr-escolar. Com esta legislao

    pretende-se que estes estabelecimentos escolares sejam geradores de novas dinmicas

    de gesto integrada de recursos e de novas interaces com a comunidade escolar e com

    o meio envolvente. Nos TEIP envolvidos criaram-se vrios projectos inovadores

    nomeadamente a criao e a animao de mediatecas e bibliotecas, o desenvolvimento

    de atelis de tempos livres para o acompanhamento e ocupao das crianas e dos

    jovens, nomeadamente no campo artstico, incentivo ao desporto escolar, flexibilidade

    ao nvel organizacional e flexibilizao da avaliao dos alunos, o que de certo modo

    dava uma certa autonomia aos estabelecimentos de ensino.

    Currculos Alternativos ao abrigo do Despacho 22/SEEI/96, de 19 de Junho,

    criados por parte da Secretaria de Estado da Educao e da Inovao. Esta legislao

    destinada a alunos com insucesso escolar repetido e/ou problemas de integrao na

    comunidade escolar, assim como a alunos em risco de abandono da escolaridade bsica

    e/ou com dificuldades condicionantes da aprendizagem. O principal objectivo era dar

    aos estabelecimentos escolares as condies para o desenvolvimento de pedagogias

    diferenciadas. A constituio das turmas de currculos alternativos no deviam exceder

    quinze alunos e os professores e formadores dispunham de duas horas semanais

    coincidentes, assinaladas nos horrios para coordenarem as actividades de ensino -

  • 20

    aprendizagem e a avaliao. As escolas interessadas tinham que enviar propostas de

    projecto, para os servios regionais e centrais do Ministrio da Educao a fim de serem

    analisadas e aprovadas. Segundo Benavente (2000), em 1999/2000 constituram-se a

    nvel nacional, 497 turmas, frequentadas por cerca de 6000 alunos e o sucesso educativo

    foi de 82% (p.115). Com a criao dos currculos alternativos vrias foram as vozes a

    favor, vrias foram as crticas, havendo quem considerasse esta, uma medida

    discriminatria, temendo-se a criao de escolas de segunda categoria e por

    consequncia a excluso em vez do sucesso. Num artigo publicado na internet, Cosme

    (1997) insurge-se contra esta poltica afirmando:

    uma das medidas mais recentes adoptadas pelo Ministrio da Educao para combater tal excluso, os malfadados currculos alternativos, devam ser sujeitos a uma avaliao cuidada e sria, quer porque nada nos garante que no possam ser geridos numa perspectiva que, em vez de promover a incluso, potencie a excluso, correndo-se ento o risco de se desencadear o efeito DDT, ou seja, alcanar-se a salvao morrendo-se da cura, quer porque podem constituir um primeiro passo para se compreender as possibilidades de construo de uma opo curricular alternativa cultura curricular vigente no ensino bsico, a nica questo que afinal importa compreender quando discutimos o problema da excluso escolar (p.1). Em contraste, Pacheco (2000) refere num estudo sobre currculos alternativos

    que os projectos de currculos alternativos no so discriminatrios, so instrumentos

    vlidos para a concluso da escolaridade obrigatria, so uma alternativa vlida ao

    abandono e excluso escolar, mas no ao ensino regular.

    Projecto de Gesto Flexvel do Currculo, que surge durante o ano lectivo

    1996/1997 aps o culminar do Projecto Reflexo Participada sobre os Currculo do

    Ensino Bsico, levado a cabo no mbito do Departamento da Educao Bsica (DEB).

    A situao educativa apresentava dificuldades, principalmente ao nvel da escolaridade

    Bsica, no sentido de que a obrigatoriedade de um ensino de nove anos no estaria a ter

    o sucesso pretendido. O 1 ciclo apresentava uma rede escolar desarticulada, com

    muitas escolas isoladas e deficientes condies de funcionamento, enquanto no 2 e 3

    ciclo continuavam a verificar-se taxas elevadas, quer de insucesso quer de abandono

    escolar. A Secretaria de Estado da Educao e Inovao publica o Despacho 4848/97 (2

    srie) onde se estabelecem as condies em que as escolas se podem candidatar

    apresentao de projectos de Gesto Flexvel do Currculo. De acordo com o DEB

    (1999) por Gesto Flexvel do Currculo entende-se a possibilidade de cada escola,

    dentro dos limites do currculo nacional, organizar e gerir autonomamente todo o

    processo de ensino/aprendizagem. Este processo dever adequar-se s necessidades

    diferenciadas de cada contexto escolar, podendo completar a introduo no currculo de

    componentes locais e regionais (p. 7). Com este projecto pretendia-se: (1) Contribuir

  • 21

    para a construo de uma escola de qualidade, mais humana, criativa e inteligente, com

    vista ao desenvolvimento integral dos seus alunos; (2) Promover uma nova prtica

    curricular, assumida, gerida e avaliada pelas escolas, no contexto de um currculo

    nacional que enquadre as competncias necessrias; (3) Proporcionar aos alunos uma

    diversidade de percursos de aprendizagem garantindo a coerncia entre os objectivos

    estabelecidos e as competncias a desenvolver; (4) Estimular a concepo de estratgias

    e actividades diversificadas que criem condies para a transferabilidade das

    aprendizagens inter e intradisciplinares, numa perspectiva de desenvolvimento das

    competncias de sada do ensino bsico; (5) Incentivar a adopo de estruturas de

    trabalho de equipa entre professores de diferentes reas disciplinares e de diferentes

    ciclos; (6) Contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores, alargando e

    reconhecendo a sua capacidade de deciso em reas chave do currculo; (7) Favorecer

    uma maior interaco entre os diversos parceiros da comunidade educativa na

    concepo e realizao do projecto educativo de escola; (8) Contribuir para uma

    avaliao contnua e reguladora que equacione os objectivos propostos, as

    aprendizagens efectuadas e as competncias desenvolvidas, tendo em conta alunos,

    professores e encarregados de educao; (9) Criar novos espaos curriculares no

    disciplinares que favoream a articulao dos diversos saberes e a realizao de

    aprendizagens significativas; (10) Encorajar a reflexo sobre a natureza e funes das

    diversas tarefas escolares, e, em particular, dos trabalhos de casa, questionando os

    factores de desigualdade e as responsabilidades que efectivamente cabem escola. (p.

    7-8).

    Em 1999 publicado o Despacho n 9590/99, de 14 de Maio que vem actualizar

    os princpios que regulamentam e orientam os projectos de gesto flexvel do currculo,

    clarificando o que se entende por gesto do currculo, alterando o grau e amplitude do

    envolvimento das escolas, dando orientaes para a forma como elaborar o desenho

    curricular nos 2 e 3ciclo, definido o nmero de professores que leccionam as reas

    curriculares no disciplinares e flexibilizando as cargas horrias das disciplinas.

    Em 1997/1998 foram 10 os projectos apresentados pelas escolas, em 1998/1999

    cerca de 34, em 1999/2000 passam para 93 e em 2000/2001, 184 escolas que

    desenvolveram e aplicaram processos de gesto curricular no mbito de trs grandes

    preocupaes: a diferenciao, a adequao e a flexibilizao do currculo, de acordo

    com alunos e contextos concretos com que os professores trabalham no dia-a-dia.

  • 22

    Com o corolrio da apresentao e reflexo dos resultados e dos debates que

    foram suscitados ao longo do desenvolvimento destes projectos o Departamento de

    Educao Bsica (DEB) apresentou uma proposta devidamente estruturada, em Maro

    de 2000 que veio dar origem a uma nova reorganizao curricular, a partir do ano

    lectivo 2001/2002.

    Reorganizao Curricular do Ensino Bsico, promulgada atravs do Decreto-lei

    6/2001, de 18 de Janeiro, que veio permitir, no s uma diferenciao pedaggica mas

    tambm a adequao e a flexibilizao associadas gesto curricular. Esta nova

    legislao, no seu artigo 3, apresenta como princpios orientadores, (1) Coerncia e

    sequencialidade entre os trs ciclos do ensino bsico e articulao com o ensino

    secundrio; (2) Integrao do currculo e da avaliao, assegurando que esta constitua o

    elemento regulador do ensino e da aprendizagem; (3) Existncia de reas curriculares

    disciplinares no disciplinares, visando a realizao de aprendizagens significativas e a

    formao integral dos alunos, atravs da articulao e da contextualizao dos saberes;

    (4) Integrao, com carcter transversal, da educao para a cidadania em todas as reas

    curriculares; (5) Valorizao das aprendizagens experimentais nas diferentes reas e

    disciplinas, em particular, e com carcter obrigatrio, no ensino das cincias,

    promovendo a integrao das dimenses terica e prtica; (6) Racionalizao da carga

    horria lectiva semanal dos alunos; (7) Reconhecimento da autonomia da escola no

    sentido da definio de um projecto de desenvolvimento do currculo adequado ao

    contexto e integrado no respectivo projecto educativo; (8) Valorizao da diversidade

    de metodologias e estratgias de ensino e actividades de aprendizagens, em particular

    com recurso a tecnologias de informao e comunicao, visando favorecer o

    desenvolvimento de competncias numa perspectiva de formao ao longo da vida; (9)

    Diversidade de ofertas educativas, tomando em considerao as necessidades dos

    alunos, de forma a assegurar que todos possam desenvolver as competncias essenciais

    e estruturantes definidas para cada um dos ciclos e concluir a escolaridade obrigatria.

    Adapta-se, a partir desta legislao, uma noo ampla de competncia, que

    integra conhecimentos, capacidades e atitudes e que pode ser entendida como saber em

    aco ou em uso.. Com a publicao do documento, Currculo Nacional do Ensino

    Bsico, so definidas um conjunto de competncias consideradas essenciais no mbito

    do currculo nacional, numa natureza holstica e integradoras do saber, saber fazer e

    saber ser e que inclui 10 competncias de carcter geral a desenvolver ao longo de todo

    o ensino bsico, bem como competncias especficas a serem tratadas no quadro de cada

  • 23

    disciplina ou rea disciplinar, no conjunto dos trs ciclos e em cada um deles. No

    quadro de um currculo nacional estabelecem-se as aprendizagens, as competncias

    fundamentais e o tipo de experincias educativas que devem ser proporcionadas a todos

    os alunos, surgindo como principal novidade a introduo de trs novas reas

    curriculares no disciplinares, a rea Projecto, o Estudo Acompanhado e a Formao

    Cvica.

    Com a Reorganizao Curricular do Ensino Bsico tambm a avaliao dos

    alunos sofre algumas alteraes, surgindo o Despacho Normativo 30/2001, de 19 de

    Julho que, para alm de reforar a nfase no carcter essencialmente formativo da

    avaliao, e de uma avaliao contnua nas diversas reas, faz sentido uma avaliao

    global no fim do ensino bsico. A avaliao ser ainda apoiada por formas de avaliao

    externa, nomeadamente provas nacionais de aferio.

    Cursos de Educao e Formao (CEF) com a publicao do Despacho

    Conjunto n 453/04 de 07 de Julho 2004, objecto de rectificao n 1673/04 em 07 de

    Setembro de 2004. Estes cursos, de nveis de qualificao I, II e III, so destinados a

    jovens fora da escolaridade obrigatria, com idade igual ou superior a 15 anos, que no

    tenha, concludo os, 1, 2 ou 3 ciclos do ensino bsico ou qualquer curso do ensino

    secundrio. Quando as situaes o aconselham poder ser autorizado a frequncia a

    jovens com idade inferior aos 15 anos. Os cursos enquadrados pelo Despacho

    constituem uma resposta formativa alternativa ao ensino regular e tm como inteno

    permitir a alunos com insucesso escolar repetido ou em risco de abandono escolar

    precoce, a concluso do respectivo ciclo de escolaridade e que, em simultneo,

    obtenham uma qualificao profissional.

    Esta legislao surge de uma parceria do Ministrio da Educao com o

    Ministrio da Segurana Social e do Trabalho, com vista a desenvolver iniciativas nas

    reas da orientao escolar e profissional e da insero profissional, bem como do

    domnio das medidas de educao e formao, como via privilegiada de transio para a

    vida activa. Os jovens que concluam o curso com a idade legalmente permitida, podem

    ingressar no mercado de trabalho, os outros com idade inferior, devem obrigatoriamente

    prosseguir estudos. Os cursos devem respeitar os referenciais das componentes de

    formao sociocultural e cientfica, definidos pelo Ministrio da Educao, atravs da

    Direco Geral de Formao Vocacional (DGFV) e da Direco Geral de Inovao e

    Desenvolvimento Curricular (DGIDC) e ainda as componentes de formao tecnolgica

  • 24

    definidas pelo Ministrio da Segurana Social e do Trabalho, atravs do Instituto do

    Emprego e Formao Profissional (IEFP).

    Os percursos que integram estes cursos privilegiam uma estrutura curricular

    acentuadamente profissionalizante, tendo em conta a especificidade das respectivas

    reas de formao e compreendendo as componentes de formao sociocultural, a

    componente de formao cientifica, a componente de formao tecnolgica e a

    componente de formao prtica. Visa a aquisio de competncias no mbito das

    lnguas, cultura e comunicao, cidadania e sociedade e das diferentes cincias

    aplicadas numa lgica transdisciplinar e transversal no que se refere s aprendizagens de

    carcter instrumental e na abordagem aos temas relevantes para a formao pessoal,

    social e profissional, em articulao com as componentes de formao tecnolgica e de

    formao prtica, numa perspectiva de um desenvolvimento equilibrado e harmonioso

    dos jovens em formao, de uma aproximao ao mundo do trabalho e da empresa, de

    uma sensibilizao s questes da cidadania e do ambiente e de um aprofundamento das

    questes de sade, higiene e segurana no trabalho.

    Os Cursos de Educao e Formao proporcionam aos alunos uma qualificao

    profissional e a equivalncia ao 6, 9 ou 12 ano de escolaridade, podendo ingressar no

    mercado de emprego ou prosseguir estudos. Segundo dados do Ministrio da Educao

    no ano lectivo 2006/2007 existiam em funcionamento cerca de 2090 cursos, mais de

    800 do que no ano anterior com cerca de 32000 novos alunos.

    Percursos Curriculares Alternativos (PCA) ao abrigo do Despacho Normativo

    n 1/2006 de 06 de Janeiro de 2006, promovem uma oferta educativa dirigida a alunos

    que, encontrando-se dentro da escolaridade obrigatria, apresentam insucesso escolar

    repetido ou risco de abandono precoce. Os Percursos Curriculares Alternativos

    destinam-se a alunos at aos 15 anos, inclusive que se encontrem em qualquer das

    seguintes situaes: (1) Ocorrncia de insucesso repetido; (2) Existncia de problemas

    de integrao na comunidade escolar; (3) Ameaa de risco de marginalizao, de

    excluso social ou abandono escolar; (4) Registo de dificuldades condicionantes da

    aprendizagem, nomeadamente: forte desmotivao, elevado ndice de absteno, baixa

    auto-estima e falta de expectativas relativamente aprendizagem e ao futuro, bem como

    o desencontro entre a cultura escolar e a sua cultura de origem.

    O programa de Percurso Curricular Alternativo concebido com base na

    caracterizao do grupo de alunos que o vai frequentar, no diagnstico das

    competncias essenciais a desenvolver para o cumprimento do ciclo de escolaridade do

  • 25

    ensino bsico e nas habilitaes de ingresso. A estrutura curricular deve ter como

    referncia os planos curriculares constantes do Decreto-lei n 6/2001, de 18 de Janeiro

    de 2001, com as alteraes introduzidas pelo Decreto-lei n 209/2002, de 17 de Outubro

    de 2002, acrescida de uma formao artstica, vocacional, pr-profissional ou

    profissional que permita uma abordagem no domnio das artes e ofcios, das tcnicas ou

    das tecnologias em geral. Esta matriz curricular deve assegurar a aquisio de

    competncias essenciais definidas para o ciclo de ensino a que se reporta o percurso

    alternativo, nomeadamente em Lngua Portuguesa e Matemtica, permitindo a

    permeabilidade entre percursos e a consequente transio para outras modalidades de

    formao, bem como o prosseguimento de estudos.

    Atendendo especificidade do pblico-alvo e necessidade de promover um

    processo de aprendizagem mais individualizado, a constituio das turmas podem ter

    como nmero mnimo 10 alunos, devendo os professores reunir quinzenalmente para

    definio de estratgias de ensino e aprendizagem e acompanhamento da evoluo dos

    alunos. Aos alunos que venham a concluir o 9 ano de escolaridade, atravs de um

    percurso curricular alternativo pode prosseguir os seus estudos num Curso de Educao

    e Formao (CEF), do secundrio, se pretender prosseguir no ensino secundrio regular,

    s possvel se o aluno realizar exames nacionais nas disciplinas de Lngua Portuguesa

    e de Matemtica.

    Cabe ao Conselho Pedaggico de cada escola, o acompanhamento pedaggico e

    a avaliao do funcionamento das turmas de Percursos Curriculares Alternativos (PCA).

    Cabe s Direces Regionais de Educao (DREs) o acompanhamento e avaliao dos

    projectos das turmas de PCA da respectiva rea de interveno e compete Disseco

    Geral de Inovao e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC) elaborar, anualmente, um

    relatrio global de mbito nacional para apresentar ao Ministro(a) da Educao.

    Segundo dados do Ministrio da Educao, neste primeiro ano de implementao do

    Despacho, s na rea Educativa de Lisboa apresentaram projectos de Percursos

    Curriculares Alternativos 34 escolas para 46 turmas, 19 turmas do 5 ano de

    escolaridade, 11 turmas do 6 ano, 12 do 7 ano 2 do 8 ano e 2 do 9 ano.

    Perspectivas crticas. Vrias tem sido as tentativas de modificar e melhorar as

    desigualdades da educao, mas a escola continua em crise na medida em que a

    instituio escolar foi, progressivamente, tornando-se o nico ponto de referncia de

    toda a aco educativa (Canrio, 2006, p.13). A instituio escolar tem sofrido vrias

    mutaes ao longo do tempo passando, segundo Canrio (2006), de um modelo de

  • 26

    certezas para um modelo de promessas e, finalmente, para um modelo marcado pelas

    incertezas.

    Na vida da escola, desenvolvem-se lutas pelo poder e situaes de conflito, o

    que faz com que seja necessrio haver processos de negociao para as tomadas de

    deciso. Esta viso poltica da organizao assenta, essencialmente, em interesses,

    conflitos, poderes e negociaes. A clarificao da aco colectiva e a partilha de

    valores, so hoje grandes desafios que se pem aos lderes, na operacionalizao das

    suas tarefas, pois so eles os principais responsveis por uma viso de futuro, por

    indicar o caminho e/ou a direco a seguir com vista a desenvolver um projecto

    educativo coerente com a aco educativa da cultura organizacional que representa e,

    todos estes desafios assentam em lgicas de aco decisionria. Quando falamos de

    lgicas de aco referimo-nos a um conceito dinmico que designa uma relao entre

    um contexto e uma aco. Tal como referenciado por Sarmento (2000), supem a

    existncia de uma certa racionalidade que no definida anteriormente. So sempre

    construdas durante a aco, vo sendo expressas como explicao/justificao para a

    aco sendo depois reconstitudas. J para Cabin (citado em Simes, 2005), as lgicas

    de aco so um paradigma que d conta da diversidade de interpretaes possveis

    dos fenmenos observados e que funciona como postura heurstica que permite

    combinar diversos modelos tericos (p.34).

    As lgicas de aco consideram contextos individuais e da organizao, sendo

    flexveis e instveis no tempo. No entender de Sarmento (2000) e com base na sua

    investigao emprica, as lgicas de aco reflectem-se na totalidade da aco

    educativa, atravs do encadeamento entre as diversas actividades organizacionais e

    pedaggicas, afirmam-se na redundncia dos elementos interpretativos da aco na

    totalidade dos domnios da organizao, e podem coexistir no plano sincrni