19303_ulfc091326_tm_tese_julia.pdf
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AGRADECIMETOS
Professora Doutora Maria de Ftima Choro Sanches, pela orientao
interessada, atenta e disponvel que me facultou durante este trabalho, pelas sugestes e
crticas e por todo o apoio que sempre manifestou, nunca me deixando desistir nos
momentos mais difceis.
Aos professores da parte curricular do Mestrado, pelas bases que me deram e
pelo enriquecimento cientfico e profissional que me fez crescer como Professora e
Investigadora.
Aos membros da comunidade educativa da Escola Amarela, em especial ao
Conselho Executivo, pela disponibilidade e colaborao demonstradas, fazendo votos
que este trabalho lhes venha a ser til.
A todos os meus colegas e amigos que tanto me ajudaram com palavras de
conforto, no perodo difcil que atravessei durante estes dois anos.
Lisete e Ftima pela amizade que sempre demonstraram, estando sempre
disponveis para ajudar em qualquer situao e pela fora que me incutiram.
minha me, mulher de coragem e de trabalho, que sempre me ensinou a ir
mais alm e me ajudou incondicionalmente a ultrapassar todas as dificuldades porque
passei.
Ao Carlos, companheiro e amigo que partilha comigo os caminhos da vida, por
sempre ter acreditado em mim e nas minhas capacidades, dando-me fora para
continuar em frente.
Aos meus filhos, Nu e Xana, que do todo o sentido minha vida, pois sem as
suas presenas na minha vida eu no seria quem sou. um pouco por eles que consegui
terminar este trabalho, fruto de muitas lutas.
A todos, obrigado por me terem apoiado nesta longa travessia e por me terem
dado coragem para seguir em frente.
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RESUMO
O direito Educao um direito de todas as crianas e jovens. Para que todos
os alunos possam obter Educao, sucesso e se promova nas escolas a incluso,
necessria vontade poltica mas tambm individual da parte dos actores educativos, no
sentido de todos colaborarem activamente na implementao de prticas inovadoras que
previnem e solucionem o insucesso e o abandono escolar. Partindo da problemtica da
igualdade de oportunidades, insucesso, excluso e abandono escolar, este estudo
analisou o processo de implementao de um projecto de percursos curriculares
alternativos numa turma do 6 ano, numa escola do Distrito de Lisboa. Pretendeu-se
compreender e analisar os processos decisrios subjacentes s dinmicas
organizacionais no combate ao insucesso e abandono escolar.
O estudo de caso envolveu trs professores que fizeram parte da elaborao,
implementao e desenvolvimento do projecto e seis alunos de uma turma de percurso
curricular alternativo. Recolheram-se dados atravs de documentos da escola e de
entrevistas a todos os participantes. A anlise de contedo foi realizada de forma a
encontrar os significados e as compreenses que os participantes lhes atriburam.
Os resultados do estudo diversificaram-se em funo das dimenses do
problema e com base nas questes levantadas no inicio do estudo, as quais se repartem
pelos seguintes aspectos: Noo de incluso no discurso dos actores das escolas; a
escola, a incluso e a igualdade de oportunidades; a importncia da liderana da escola
na prtica da incluso; a flexibilidade curricular na promoo do sucesso e preveno do
abandono escolar; projectos curriculares alternativos como caminham para o sucesso.
Discutem-se os resultados luz do quadro conceptual e concluses de outros estudos.
Incluem-se as limitaes do estudo e proposta de investigao futura.
Palavras-chave: Incluso; Insucesso; Abandono Escolar; Currculo; Percurso Curricular
Alternativo; Igualdade de Oportunidades.
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ABSTRACT
The right to Education is fundamental to all children and adolescents, so that all
be entitled to success and inclusion at school. Having in mind problems, such as
equality of opportunities, failure, exclusion and school dropout, this study focused on
the implementation process of an alternative curriculum project / programme for a
group of pupils from a 6th class in one school from the district of Lisbon. The purpose of
this case study was to understand and analyze the pedagogical and organizational school
dynamics in terms of dealing with school failure and dropout.
Three teachers participated in the research to the extent they were involved in
the curricular design, development and implementation of this alternative programme.
Data was collected from school documents and interview done to all participants of the
study, students, teachers and program coordinators. The contents analysis was
performed in order to capture the meanings and understandings that each participant
attributed to the program.
The results of this study pointed out the following components: the meaning of
inclusion in the educators discourse; the school, inclusion and equality of
opportunities; importance of school leadership role in the development of inclusion
practices; curriculum flexibility contribution to the promotion of success and prevention
of school dropout.
These results are discussed considering the conceptual framework and conclusions
of other empirical studies. It also includes the limitations of the study and suggestions
for future research.
Key words: Inclusion, failure and school dropout, alternative curriculum projects equality of opportunities
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DICE AGRADECIMENTOS...i RESUMO.ii ABSTRACT.iii
ndice de Figuras.vii ndice de Quadros..viii Siglas e Abreviaturas.x
CAPTULO I.1
INTRODUO.1 Objectivos e Definio do Problema de Investigao. 6 Estrutura do trabalho......9
CAPTULO II.10
ENQUADRAMENTO TERICO10 Polticas de Combate ao Insucesso e Abandono escolar 16 Escola Inclusiva e a (Des)igualdade de Oportunidades..27 (Des)igualdades em Educao ...31
Incluso e Sucesso Versus Excluso e Abandono Escolar.. 36 (In)sucesso Escolar .....................38
Abandono Escolar.39 Gesto e Flexibilidade Curricular . . 42
Currculo 44 Flexibilidade Curricular 49
CAPTULO III ...52
REVISO DA LITERATURA...52 Estudos Internacionais.52 Estudos Realizados em Portugal.57
CAPTULO IV ...65
METODOLOGIA65 Opes Metodolgicas65 O Estudo de Caso66 O Desenho do Estudo. 66 Contexto e Caracterizao da Escola Amarela67 'egociao de Entrada. 67 Os Participantes.68 O Agrupamento de Escolas.69 Contexto Fsico e Social.69
O Agrupamento69 A Escola Amarela. . 70 Os Actores da Comunidade Educativa ...70 A Populao Discente..70 Corpo Docente ... 71
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Pessoal no Docente ...71 O Projecto Educativo do Agrupamento . 72 Finalidades Orientadoras do Projecto Educativo. 73 Projecto de Percursos Curriculares Alternativos.74 Alteraes aos Planos Curriculares Vigentes.75 Os Alunos da Turma de Percursos Curriculares Alternativo.76 Os Professores 79 A Avaliao do Projecto Curricular Alternativo.80 Recolha de Dados... 81 A Entrevista. 81 Os Documentos... 83 Processos de Anlise e Validao de Dados84 Anlise de Contedo e Validao... 85
CAPTULO V. 87
RESULTADOS DO ESTUDO... 87 Representaes da Escola: A Perspectiva dos alunos.87 Funo da Escola88 Vivncias na Escola ... 89 Organizao da Escola... 90 Perspectivas 'egativas sobre a Escola. 92 Perspectivas Positivas sobre a Escola ... 95 O Abandono Escolar96 Razes para Continuar na Escola...96 Razes para Abandonar a Escola97 Consequncias do Abandono Escolar.99 Natureza das Interaces...100 Resoluo de Problemas Pessoais.100 Auto-imagem.101 Relacionamento com Amigos e Colegas101 Perspectivas dos Participantes sobre os Professores.104 Imagem dos Professores104 'oo de Bom Professor e de Mau Professor...105 Estudo e Aprendizagem.107 'oo de Bom Aluno.107 Interaco com o Estudo.. 108 Relacionamento Positivo e 'egativo com os Estudo 108 Importncia do Sucesso na Escola....110 Vivncias na Famlia ... 111 Relaes Pessoais com a Famlia.111 A Famlia e a Escola.113 Percursos Curriculares Alternativos 114 Apreciao dos Alunos sobre o Projecto Curricular Alternativo. 114
Envolvimento e Participao no Projecto Curricular Alternativo116 Benefcios, Satisfao e Importncia do Projecto Curricular Alternativo.. 120 Projectos de Futuro126 A Perspectiva dos Professores...128 Ser Professor.128 A Profisso de Professor. 128
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Interaces Profissionais 130 Insucesso e Abandono Escolar 130
Escola e Insucesso: misso impossvel. 134 A Famlia e o Insucesso.136 Polticas de Incluso. 138 As Mudanas Polticas...138 Autonomia Relativa e Actuao da Escola face s Polticas. . 141 As Prticas da Escola145 Projecto de Percursos Curriculares Alternativos...153 Razes da Implementao do Projecto.154 Elaborao e Implementao do Projecto156 Dificuldades na Implementao e Desenvolvimento do Projecto.160 A Coordenao do Projecto. 164 As Especificidades Diferenciais do Projecto.166 Avaliao: dimenses de eficcia e sucesso do projecto. 169
CAPTULO VI. 174
CONCLUSES, DISCUSSES E IMPLICAES DO ESTUDO. . 174
Noo de Incluso no Discurso dos Actores da Escola.174 Escola, Incluso e Igualdade de Oportunidades176 Importncia da Liderana da Escola na prtica da Incluso. 179 Flexibilidade Curricular para a Promoo do Sucesso e Preveno do Abandono Escolar...180 Projectos Curriculares Alternativos: Um Caminho para o Sucesso. 182 Limitaes do Estudo e Sugestes para Investigao Futura187
ANEXOS . 189
Anexo A Protocolo da Investigao...190
Anexo B Pedido de Autorizao aos encarregados de educao, para entrevistar os alunos...193
Anexo C Protocolo da entrevista dos alunos da Turma de P.C.A.195
Anexo D Protocolo da entrevista Coordenadora da Turma de P.C.A. 201
Anexo E Grelhas sntese da anlise de contedo da entrevista da aluna Susana206
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.218
REFERNCIAS LEGISLATIVAS . 229
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ndice de Figuras
Figura 1 Guio da Investigao 8
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ndice de Quadros
Quadro 1 Caractersticas da Educao e do Currculo em Portugal 15 Quadro 2 Taxas de Abandono e Insucesso Escolar em Portugal Continental 40 Quadro 3 - O abandono escolar no perodo 1996 2006 .. 40 Quadro 4 - Categorias Referentes Relevncia da Escola. 88 Quadro 5 - Categorias Referentes s Vivncias na Escola..89 Quadro 6 - Categorias Referentes Organizao da Escola...91 Quadro 7 - Perspectivas Negativas sobre a Escola. 93 Quadro 8 - Categorias Descritivas das Perspectivas Positivas sobre a Escola95 Quadro 9 - Categorias Referentes s Razes para Continuar a ir Escola.97 Quadro 10 - Categorias Referentes s Razes do Abandono Escolar.97 Quadro 11- Categorias Referentes s Consequncias do Abandono Escolar.99 Quadro 12 - Categorias Referentes Resoluo de Problemas Pessoais. 100 Quadro 13 - Viso do Prprio101 Quadro 14 - Categorias Referentes ao Relacionamento com Amigos, Colegas, Professores e Funcionrios102 Quadro 15 - Imagem dos Professores ...104 Quadro 16 - Categorias Descritivas da Noo de Bom Professor e de Mau Professor.106 Quadro 17 - Categorias Descritivas da Noo de Bom Aluno. 108 Quadro 18 Categorias Descritivas da Interaco com o estudo.108 Quadro 19 - Relacionamento Positivo e Negativo com o Estudo.109 Quadro 20 - Categorias Referentes Importncia do Sucesso na Escola.110
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Quadro 21 - Categorias Referentes s Relaes Pessoais com a Famlia 112 Quadro 22 - Categorias Referentes Relao Famlia e Escola...113 Quadro 23 - Categorias Referentes Implementao do Projecto Curricular: Razes e Especificidade115 Quadro 24 - Categorias Referentes Motivao e Aco dos Professores no Projecto curricular Alternativo117 Quadro 25 - Satisfao e Importncia do Projecto Curricular...121 Quadro 26 - Categorias Descritivas das Perspectivas Pessoais e Familiares sobre o Futuro.127 Quadro 27- Categorias Referentes Profisso de Professor.129 Quadro 28 - Categorias Relativas aos Referentes das Interaces Profissionais..130 Quadro 29- Categorias Referentes aos Factores Gerais de Insucesso...131 Quadro 30 - Categorias Referentes ao Papel da Escola em termos de Insucesso Escolar...135 Quadro 31 - A Famlia e o Insucesso136 Quadro 32 - Categorias Referentes s Mudanas Polticas...139 Quadro 33 Categorias Referentes Actuao da Escola Face s Polticas... 142 Quadro 34 - Categorias Referentes s Prticas da Escola.147 Quadro 35 - Categorias Referentes s Razes do Projecto...155 Quadro 36 - Categorias Referentes Elaborao e Implementao do Projecto..156 Quadro 37 - Categorias Referentes s Dificuldades na Implementao do Projecto160 Quadro 38 - Categorias Referentes Coordenao do Projecto...165 Quadro 39 - Categorias Referentes s Diferenas do Projecto..168 Quadro 40 - Categorias Referentes Eficcia e Sucesso do Projecto...170
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Siglas e Abreviaturas AAE Auxiliares de Aco Educativa.
APA American Psychological Association.
BE/CRE Biblioteca Escolar / Centro de Recursos.
CEF Cursos Educao Formao.
CPCA Coordenadora do Percurso Curricular Alternativo.
CPCJ Comisso de Proteco de Crianas e Jovens.
DEB Departamento de Educao Bsica.
DGFV Direco Geral de Formao Vocacional.
DGIDC Direco Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular.
DREs Direces Regionais de Educao.
DREL Direco Regional de Educao de Lisboa.
EAS Entrevista Aluno Susana.
EAM Entrevista Aluno Madalena.
EAN Entrevista Aluno Nuno.
EAJM Entrevista Aluno Jos Maria.
EAJF Entrevista Aluno Joaquim.
EAR Entrevista Aluno Rodrigo.
ECPCA Entrevista Coordenadora do Percurso Curricular Alternativo.
EE Encarregados de Educao.
EM Educao Musical.
EUROSTAT Gabinete de Estatsticas da Unio Europeia.
EPCE Entrevista Presidente do Conselho Executivo.
EVPCE Entrevista Vice-presidente do Conselho Executivo.
EVT Educao Visual e Tecnolgica.
HGP Histria e Geografia de Portugal.
IEFP Instituto de Emprego e Formao Profissional.
INED Instituto Nacional de Estudos Demogrficos.
INEP Instituto Nacional de Pesquisa de Educao.
LBSE Lei de Bases do Sistema Educativo.
NEE Necessidades Educativas Especiais.
NICE Ncleo de Interveno na Comunidade Educativa.
OCDE Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico.
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PCA Percurso Curricular Alternativo.
PCE Presidente do Conselho Executivo.
PEPT Programa de Educao Para Todos.
PIPT Programa Interveno e Preveno da Toxicodependncia.
PIPSE Programa Interministerial de Promoo do Sucesso Educativo.
QI Quociente de Inteligncia.
RCEB Reorganizao Curricular do Ensino Bsico.
SASE Servio de Apoio Social Escolar.
SIQE Sistemas de Incentivos Qualidade da Educao.
SPO Servio de Psicologia e Orientao.
TEIP Territrio Educativo de Interveno Prioritria.
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.
VPCE Vice-presidente do Conselho Executivo.
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CAPTULO I
ITRODUO
Vivemos numa poca em que as fronteiras fsicas e humanas vo perdendo
muito do seu sentido, sendo a sociedade de hoje cada vez mais confrontada com a
diferena, com a diversidade e com a multiculturalidade. Assumir a exigncia e a
importncia do exerccio pleno de cidadania, em sociedades marcadas pela diversidade,
requer do ponto de vista educacional, polticas educativas, investigao e
implementao de prticas de sala de aula direccionadas para o investimento em escolas
mais inclusivas, isto , de escolas que respondam s diferenas existentes entre todos os
alunos que as frequentam. Falar da escola implica pens-la como instituio cuja misso
principal servir os cidados, complementando a funo educativa das famlias.
importncia social crescente que dada escola corresponde uma maior exigncia e
uma maior expectativa social, pretendendo-se que a educao seja um dos pilares
essenciais da formao de todas as crianas e adolescentes. Alm disso, o facto de se
considerar a instituio escolar como um instrumento de equidade e de igualdade social,
em termos de igualdade de oportunidades, aumentou a diversidade e a complexidade do
meio escolar. So muitos os alunos que no conseguem acompanhar a escola regular
orientada para o aluno mdio, no satisfazendo as exigncias do processo educativo e
acabando em insucesso. Durante os ltimos anos, as sociedades tm reunido esforos e
criado legislao no sentido de melhorar a educao e o sucesso educativo de todos os
alunos. Mas at que ponto essas medidas recentes tm tido os resultados pretendidos? O
presente estudo, situando-se na problemtica complexa do abandono escolar, tem em
conta estas questes gerais que sero desenvolvidas em captulos subsequntes.
Apesar de Portugal ter uma Constituio e uma das Leis de Bases do Sistema
Educativo (Lei n 46/98) consideradas das mais avanadas da Unio Europeia e que
proclamam, entre outros aspectos, o direito educao de todos os cidados, assim
como a rejeio de qualquer tipo de segregao e de descriminao, a incluso de
alunos no ensino regular no tem sido uma questo fcil. No basta legislar para incluir,
muito menos quando o nmero de anos de escolaridade obrigatria aumentou, passando
assim, a escola a ter que dar resposta a um maior nmero de alunos, quer em termos
sociais, econmicos, culturais e ticos, como ainda em termos individuais,
nomeadamente a nvel dos projectos de vida, das suas motivaes, dos seus estilos e
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ritmos de aprendizagem. Para dar resposta heterogeneidade vivida nas escolas, tornou-
se necessrio flexibilizar os currculos, diversificar, adequar estratgias, materiais e
espao educativos de forma a promover a possibilidade de sucesso educativo a todas as
crianas e facilitar o seu desenvolvimento enquanto pessoas capazes de intervir de
forma responsvel e informada na sociedade de que fazem parte (Sanches, 1996).
Desde a Constituio da Republica Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n
46/98), passando pelo regime de Autonomia das Escolas (Decreto-Lei 115-A /98) e pela
Reorganizao Curricular (Decreto-Lei 6/2001), a inmeros outros documentos legais
que tm sido produzidos mais recentemente, afirma-se oficialmente e de forma bem
explcita, a importncia de garantir aos cidados igualdade de oportunidades face
educao. De facto, maior nmero de crianas, adolescentes e jovens de grupos
socioculturais diversificados entram e permanecem no sistema educativo. No entanto,
podemos referir que essa igualdade de acesso, traduzida no mandato da escola para
todos, no geralmente acompanhada de uma igualdade de sucesso dos alunos que a
frequentam. Tempos houve em que a escola e a educao eram direito e privilgio s de
alguns, impondo-se hoje, na maioria dos pases como direito de todos. Todavia, o facto
de actualmente se encarar a escola como um potencial espao de igualdade e
oportunidade social acarretou aumento de diversidade e complexidade. So muitos os
alunos que no conseguem acompanhar a escola regular, pelo que no basta ter acesso e
direito escola, preciso ter sucesso atravs da escola.
Actualmente, em Portugal, as polticas educativas esto a originar mudanas
num contexto mais global, a nvel econmico, poltico e social. Para a educao assumir
um papel relevante na dinmica social, necessrio adoptar poltica educativas
diversificadas, de modo a encaminhar para o sucesso e manter no sistema educativo
todos os alunos que andam afastados ou em risco de abandono. Essas polticas
educativas permitem que haja uma reestruturao nas escolas, no sentido destas
conseguirem que a generalidade dos alunos, independentemente das suas diferenas,
tenha sucesso nas suas aprendizagens, facilitando-lhes uma melhor compreenso de si
prprios e do mundo que os rodeia, ou seja, que consigam atingir metas individuais e
sociais de acordo com as suas aspiraes. Como referido na Declarao de Salamanca
(1994),
todos os alunos devem de aprender juntos, sempre que possvel, independentemente das dificuldades e das diferenas que apresentem. As escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vrios estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nvel de educao para todos atravs de currculos adequados, de
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uma boa organizao escolar, de estratgias pedaggicas, de utilizao de recursos e de uma boa cooperao com as respectivas comunidades (pp.21-22). Em congruncia com esta orientao, importa que as escolas garantam e
flexibilizem dispositivos de organizao e gesto do currculo, destinados a alunos que
revelem insucesso escolar repetido, problemas de integrao na comunidade educativa e
risco de abandono escolar de modo a promover a incluso e o sucesso. Nesse sentido, ao
longo dos tempos, tem surgido legislao variada, como o Despacho Normativo n
1/2006, que regulamenta a constituio, o funcionamento e a avaliao de turmas com
percursos curriculares alternativos, o tema sobre o qual vai incidir este estudo. Estas
turmas destinam-se a grupos de alunos at aos 15 anos de idade e que se apresentem nas
seguintes situaes: (1) ocorrncia de insucesso escolar repetido; (2) existncia de
problemas de integrao na comunidade; (3) ameaa de risco de marginalizao, de
excluso social ou abandono escolar; (4) registo de dificuldades condicionantes da
aprendizagem, nomeadamente: forte desmotivao, elevado ndice de absteno, baixa
auto-estima e falta de expectativas relativamente aprendizagem e ao futuro, bem como
o desencontro entre a cultura escolar e a cultura de origem. Neste Despacho Normativo
afirma-se ainda que ao ensino bsico compete garantir uma formao geral comum a
todos os cidados que inter-relacione o saber e o saber fazer, a teoria e a prtica, a
cultura escolar e a cultura do quotidiano. Por sua vez, a escola caracteriza-se por ser
um espao plural do ponto de vista social e cultural, em que as motivaes, os interesses
e as capacidades de aprendizagem dos alunos so muito diferenciadas, ou seja, uma
escola inclusiva e que promova o sucesso.
Para responder aos desafios da escola inclusiva, h que repensar a escola no seu
todo. Segundo Mittler (2003), a incluso implica mudanas nas escolas em termos de
lideranas, de currculo, avaliao, pedagogia e formas de gesto da sala de aula. Ela
tem fundamento em sistemas de valores que fazem com que todos se sintam bem-
vindos; se combata atitudes preconceituosas em relao diferena; se possa adequar os
currculos diversidade dos alunos; e haja aceitao dessa diversidade por todos os
elementos da comunidade educativa. Face s dificuldades inerentes a esta mudana,
Ainscow (2000) prope que se adoptem, de entre outras, as seguintes medidas: (1)
valorizao profissional dos professores, (2) aperfeioamento das escolas, no sentido de
lhes proporcionar meios capazes de fomentar a educao para todos, o que envolve
necessariamente a consciencializao que a organizao tem de si prpria e do ambiente
em que se situa. Tornar possvel esta consciencializao e estruturar o ambiente capaz
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de a fomentar, urge que as escolas, no entender deste autor, reestruturem os seguintes
aspectos da governao da escola: (1) a liderana, no s do presidente do Conselho
Executivo, mas uma liderana da escola, que seja distribuda e democratizada; (2)
envolvimento da equipa de profissionais, alunos e comunidade nas orientaes e
decises da escola; (3) planificao realizada colaborativamente; (4) estratgias de
coordenao; (5) focalizao da ateno nos benefcios da investigao e da reflexo;
(6) uma poltica de valorizao profissional de toda a equipa educativa.
Estas mudanas daro sentido escola do sculo XXI que, segundo Lawton
(1998), dever estar orientada para a viso de uma instituio cultural centrada em
valores e baseada num currculo focado nas competncias e nos processos. Assim,
promover-se- uma aprendizagem holstica, autonomia e trabalho colaborativo, entre
alunos e entre professores, integrando as vertentes acadmicas e vocacionais e
fomentando a aprendizagem ao longo da vida. Nesta perspectiva, ser possvel
contribuir para o enriquecimento cognitivo dos alunos, de competncias e valores,
construindo uma escola inclusiva que permita, na prtica, evidenciar e concretizar a
ideia fundamental que todas as crianas devem aprender juntas, com dificuldades ou
diferenas. Mais ainda, visar-se- acomodar a diversidade de estilos e ritmos de
aprendizagens, independentemente das condies fsicas, intelectuais, sociais,
emocionais, lingusticas ou outras, de modo a haver uma igualdade de oportunidade
autntica para todos os alunos.
A problemtica da igualdade de oportunidades do sucesso e da incluso tem tido
eco nas preocupaes, investigao e formao dos professores, no sentido de encontrar
caminhos inovadores e lanar novos desafios s comunidades educativas. A evoluo
dos estudos sobre currculo e sobre a incluso mostra que estes problemas ganharo
fora se forem enquadrados numa perspectiva de ruptura com as crenas que
dominaram a modernidade nomeadamente, a crena iluminista no poder da razo para
produzir verdades universais e a convico de que um contnuo progresso cientfico
conduziria emancipao do homem (Fernandes, 2000a p. 27). Com efeito, o
conhecimento encontra-se em constante mutao; vive-se numa sociedade do
conhecimento, que Hargreaves (2003) prefere chamar sociedade de aprendizagem, onde
a importncia da formao ao longo da vida surge como uma forma de capacitar os
indivduos para os constantes desafios e mutaes em termos sociais e culturais.
Em convergncia com esta perspectiva, a anlise de Freitas (2000) sobre a ps-
modernidade enfatiza a era da globalizao, da comunicao total, da interpenetrao
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de culturas, como a aceitao do que dantes era inaceitvel (p.40). Por outro lado, neste
contexto, s resta comunidade educativa pensar a educao e o currculo como praxis
social que se move cada vez mais em clima de indeterminao (Sanches, 2005, p. 40).
A escola torna-se, assim, um palco privilegiado de interaces nas quais se joga a
diversidade social e cultural dos seus actores. Esta condio ps-moderna
(Hargreaves, 2000) veio originar novas concepes no campo da educao. Neste
sentido, a escola , agora, vista como uma organizao dinmica e portadora de sentido
com autonomia e o professor como um profissional capaz de reflectir sobre as suas
prticas questionando-as criticamente. Em consequncia, como nota Fernandes (2000b),
ao professor tambm compete flexibilizar o currculo de modo a torn-lo adequado a
todos os alunos.
O Currculo Nacional do Ensino Bsico (M.E., 2001) tem como base terica o
construtivismo que encara a aprendizagem como um modelo processual de colaborao
alargada, baseado em projectos que constituam verdadeiros desafios comunidade de
aprendizagem onde se envolvem professores, sujeitos da aprendizagem e todos os
outros participantes deste processo, desde os pais aos especialistas (Pinto, 2002, pp.
293-294). Com fundamento nesta concepo scio-construitivista da aprendizagem,
como afirma Alonso et al (2001), atribuir-se- ao aluno um papel central na construo
activa e interactiva do conhecimento. Em oposio perspectiva tecnolgica do
currculo pronto-a-vestir (Formosinho, 1983b), e ainda segundo esta perspectiva
construtivista, prope-se um currculo dinmico, aberto, flexvel, contextualizado e em
construo. Currculo em aco, cuja organizao se entende como processo flexvel
que tem em conta inmeros factores, nomeadamente, o contexto de trabalho, os recursos
disponveis, a tomada de decises apropriadas e os alunos. Mais ainda, neste sentido,
conceptualiza-se o currculo como projecto, de forma a dar respostas adequadas s
diversas necessidades e caractersticas de cada aluno, grupo de alunos, escola ou regio
(Abrantes, 2000, p.6).
A democratizao da escola na sua vertente de igualdade de oportunidades para
a diversidade, implica fazer da escola uma escola de todos e para todos. Mas para que
essa transformao ocorra na escola, importa reformular o seu funcionamento. Como
alguns autores e Roldo (1999a) propem, essas alteraes/transformaes no abarcam
apenas a dimenso organizacional da escola. Abrange tambm a prtica profissional
dos professores que so quem exerce a actividade pela qual a escola responsvel
ensinar, isto , fazer aprender" (p.17). So dimenses fundamentais ao nvel de escola; a
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primeira, associada estrutura organizativa da escola e a segunda associada forma de
trabalhar dos docentes. Estes so os pilares da cultura escolar existente em cada
estabelecimento de ensino. Sabe-se hoje, contudo, que no basta alterar um deles. O
esforo tem de ser duplo e integrado, na medida em que mudar as estruturas formais
no o mesmo que mudar normas, valores, convices numa palavra: a cultura
escolar dominante (Bolvar, 1997, p.171).
A reorganizao curricular, aliada autonomia das escolas na construo do seu
Projecto Educativo e Projecto Curricular, constitui ferramenta nova que permite reforar
o papel do professor como elemento decisor e construtor do currculo. Com efeito, nas
palavras de Abrantes (2000), os professores so profissionais que identificam e
interpretam problemas educativos e procuram solues para esses problemas no quadro
das orientaes curriculares nacionais (p.6). Tornar as escolas mais aptas para
responder diversidade de necessidades dos alunos levanta vrias questes relacionadas
no apenas com a organizao e gesto dos servios, mas principalmente com as
prticas educativas e com as atitudes dos professores e outros actores educativos, pois,
s sendo um projecto conjunto e assumido por todos pode tornar a escola um local de
sucesso e incluso. As escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas
dos seus alunos, adaptando-se aos vrios estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a
garantir um bom nvel de educao para todos atravs de currculos adequados, de uma
organizao escolar mais dinmica e de uma cooperao activa entre as respectivas
comunidades.
Objectivos e Definio do Problema de Investigao
Este estudo prope-se conhecer como esto as escolas a conceptualizar possveis
alternativas ao currculo, no sentido de o flexibilizar, contextualizar e reconstruir face
diversidade dos alunos e abandono precoce da escola. Especificamente, pretende-se
conhecer como, face ao currculo nacional, esto a ser postos em prtica os projectos de
turmas de percursos curriculares alternativos, ao abrigo do Despacho Normativo n
1/2006. E, ainda, compreender como as escolas e os professores esto a assumir a
construo/gesto do currculo numa perspectiva de autonomia curricular. Neste
sentido, considerando os elevados nveis de insucesso, de excluso e de abandono
escolar, um problema central com que a escola e os professores se debatem, pretende-se
identificar os processos de construo do projecto de Percursos Curriculares
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Alternativos de uma determinada escola, neste estudo designada por Escola Amarela.
Olhar-se- para a realidade da escola com uma atitude reflexiva face ao problema da
incluso/excluso, tendo ainda em conta que, na legislao que regulamenta os
percursos curriculares alternativos (Despacho Normativo n 1/2006), se afirma que o
ensino bsico deve garantir e flexibilizar dispositivos de organizao e gesto do
currculo destinados a alunos que revelem insucesso escolar repetido, problemas de
integrao na comunidade educativa e risco de abandono escolar. Considerando os
nveis de insucesso, de excluso e de abandono escolar, uma das situaes mais
complexas com que os professores se debatem, e as regulamentaes implicadas nas
polticas curriculares recentes, o problema mais amplo desta investigao
consubstancia-se na seguinte questo: Como entendida a escola inclusiva e como se
expressa nas prticas dos actores escolares respeitantes ao caso particular dos percursos
curriculares alternativos? neste questionamento geral que se torna pertinente
investigar como esto a ser elaborados e aplicados os projectos de constituio de
turmas de percursos curriculares alternativos, regulamentados pelo Despacho
Normativo n 1/2006, de 6 de Janeiro. Trata-se de uma problemtica complexa que
envolve campos diversos, do nvel macro da definio das medidas polticas at ao nvel
micro das decises e aco dos actores nas escolas. Neste sentido, considera-se
relevante caracterizar os processos que ocorrem nas escolas conducentes
conceptualizao, estrutura e desenvolvimento dos projectos de percursos curriculares
alternativos, para os alunos em situao de risco de abandono do sistema educativo. Em
paralelo pretende-se conhecer como os professores encaram e se envolvem neste tipo de
projectos.
Sendo um estudo de caso de uma turma numa s escola, delimitou-se o campo
de anlise, definindo questes de investigao mais especficas: (1) Como
conceptualizada a noo de incluso, no discurso oficial e no discurso dos actores nas
escolas? (2) Que influncia tem a liderana da escola nas medidas e prticas de incluso
implementadas na escola? (3) At que ponto, ao adaptarem os currculos alternativos, as
escolas promovem o sucesso acadmico e previnem o abandono escolar? (4) Em que
medida a organizao de turmas de percursos curriculares alternativos representa um
caminho eficaz para o sucesso dos alunos a que se destinam esses currculos?
Sendo o foco de estudo o processo de constituio de turmas com percursos
curriculares alternativos, contextualizado na perspectiva da autonomia das escolas e da
flexibilizao do currculo, o conceito de integrao e incluso que perpassa no discurso
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sobre a igualdade de oportunidades adquire especial relevncia. A anlise crtica desse
discurso cruza-se com a anlise das interpretaes e das aces dos actores, bem como,
com a anlise das contradies e ambiguidades, o que permitir um entendimento mais
concreto da forma como esses actores adoptam ou resistem s prticas de incluso. Com
base nestes pressupostos, especificam-se os seguintes os objectivos articulados com as
dimenses orientadoras do estudo, sistematizadas na Figura1, funcionando como guio
para a investigao.
Guio Orientador da Investigao
Qu
e co
nce
p
es d
e es
cola
incl
usi
va s
e ex
pre
ssam
nas
pr
tica
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arti
cula
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ercu
rsos
cu
rric
ula
res
alte
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ivos
?
Questes de investigao
Objectivos
1 - Como conceptualizada a noo de incluso, no discurso oficial e no discurso dos actores nas escolas? 2 - Que influncia exerce a liderana da escola, nas medidas e prticas de incluso implementadas na escola? 3 - At que ponto, ao adoptarem os currculos alternativos, as escolas promovem o sucesso acadmico e previnem o abandono escolar? 4 - Em que medida a organizao de turmas de percursos curriculares alternativos representa um caminho eficaz para o sucesso dos alunos a que se destinam esses currculos?
1 - Compreender e analisar as concepes e princpios tericos, subjacente s prticas dos diversos actores no combate ao insucesso e abandono escolar. 2 - Compreender e analisar os processos decisrios subjacentes s dinmicas organizacionais no combate ao insucesso e abandono escolar. 3 - Analisar as dinmicas curriculares e organizacionais que se desenvolveram entre os actores de uma escola, ao longo do processo de implementao de um programa de percurso curricular alternativo.
Figura 1.Guio de Investigao
Assim, especificamente, o presente estudo emprico pretendeu dar a conhecer,
com profundidade e abrangncia, como uma Escola Bsica construiu e implementou,
numa turma do 6 ano do Ensino Bsico, o projecto de um Percurso Curricular
Alternativo contribuindo, desta forma, para o enriquecimento do conhecimento sobre
esta temtica atravs da descrio, anlise e interpretao de um caso.
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Estrutura do Trabalho
O presente trabalho estrutura-se em cinco captulos. No captulo I, que
corresponde introduo, apresenta-se de forma sinttica a temtica, dando-se uma
viso geral dos contedos do estudo emprico. Justifica-se a pertinncia da investigao,
identifica-se e especifica-se a problemtica, assim como as questes de investigao e
os objectivos da mesma. No captulo II, apresenta-se a conceptualizao terica que
suporta a problemtica e a anlise dos normativos referentes ao objecto de estudo. Este
enquadramento foi fundamental para a investigao, uma vez que permitiu aprofundar o
campo terico e orientar a recolha, a anlise e interpretao dos resultados. Este captulo
permite-nos olhar o fenmeno que se investigou, do ponto de vista terico e que se
desenvolveu atravs das seguintes reas especficas: (1) Programas de combate ao
Insucesso e Abandono Escolar no contexto educativo portugus; (2) A Escola Inclusiva
e a (des) igualdade de oportunidades; (3) A Incluso e o Sucesso Versus Excluso e
Abandono Escolar; (4) Gesto e Flexibilidade Curricular. No captulo III, procedeu-se
reviso da literatura, analisando-se alguns estudos empricos sobre a problemtica do
insucesso e abandono escolar. No captulo IV, mencionam-se e justifica-se as opes
metodolgicas tomadas ao longo do estudo/investigao, nomeadamente, o facto de ser
uma investigao qualitativa que utiliza como estratgia o estudo de caso, identificando-
se e caracterizando-se o contexto da investigao. Abordam-se as opes tomadas ao
nvel da recolha de dados, das estratgias e instrumentos utilizados na anlise desses
mesmos dados. No captulo V, apresenta-se a discrio dos resultados organizados em
funo das questes estruturantes da investigao. No captulo VI, cruzam-se aspectos
mais relevantes dos resultados com o quadro terico que suportou a investigao e
tiram-se concluses, respondendo s questes de investigao de acordo com os
objectivos que nortearam o estudo de caso. A terminar, elaboram-se algumas
consideraes finais e apontam-se algumas linhas para futuras investigaes nesta vasta
rea da incluso e do insucesso e abandono escola. Incluem-se ainda uma seco de
Anexos onde figuram os guies de entrevistas aplicados, a grelha parcial da sntese da
anlise de contedo e outra seco de referncias bibliogrficas, onde so enumeradas,
de acordo com as normas adoptadas na American Psychological Association conhecidas
como 'ormas APA (citadas em Azevedo, 2003), as obras e os artigos consultados e
referenciados no corpo do trabalho.
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CAPTULO II
EQUADRAMETO TERICO
A escola precisa, mais do que nunca, de despertar conscincias, incentivar
saberes e competncias, recusar a facilidade e, acima de tudo, saber o que , o que quer
e para onde vai (Martins, 1991). E, porque os tempos so de incerteza, chegada a
altura de (re)estruturar e de (re)pensar a escola (Benavente, 1990). sobretudo, segundo
(Perrenoud, 1990), tempo de contribuir para saber o que a escola e faz a fim de se
elucidar sobre os seus sucessos, insucessos e abandonos, bem como saber o que precisa
fazer para projectar e garantir um futuro melhor para os seus alunos. Partindo destas
premissas e para melhor compreender a situao em que a escola e a educao em geral,
actualmente se encontra, no que se refere ao insucesso e abandono escolar, bem como,
constituio e flexibilizao dos curricula, apresenta-se, com brevidade, alguma
informao evolutiva sobre as polticas educativas, no sentido de compreender algumas
das razes que condicionaram e talvez ainda condicionem o seu desenvolvimento num
caminho mais inclusivo.
O sistema educativo tem sofrido ao longo dos anos vrias vicissitudes que
produziram avanos e recuos na educao em Portugal. Com a implantaro da
Repblica em 1910, as taxas de analfabetismo em Portugal rondavam os 75,1%, sendo
as mulheres as que menos frequentavam a escola, o nmero de mulheres analfabetas
rondando os 81,2%, o que nos afastava da realidade educativa da maioria dos pases
europeus (Proena, 1998). Para o Partido Republicano, a educao era um dos meios
para reformar a mentalidade dos portugueses e tentar conseguir a igualdade social e o
desenvolvimento socioeconmico do pas, pelo que apresentaram, como objectivos
prioritrios do seu programa de aco a alfabetizao, a valorizao da profisso
docente tanto no ponto de vista pedaggico e cientifico como do ponto de vista
econmico. Em 1911, na Constituio, garantido o ensino primrio com a durao de
3 anos, obrigatrio e gratuito. Para concretizar esse objectivo so criadas escolas mveis
para que a educao chegue a todos os alunos do meio rural.
Com o fim da 1 Republica e a instaurao do Estado Novo desvalorizada a
modernizao do ensino bem como as medidas tomadas anteriormente, o ensino sofre
alteraes e passa a ser organizado com a finalidade de propagandear as ideias
defendidas pelo estado, de evitar a propagao de outras ideologias que pusessem em
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causa o Estado e de limitar certos nveis de ensino s classes sociais para que, atravs do
aumento da escolaridade no possam contribuir para uma ameaa ao sistema. O
analfabetismo deixa de ser uma preocupao e na Constituio de 1933 o Estado liberta-
se da responsabilidade de garantir a escolaridade bsica obrigatria (Proena, 1998).
Na dcada de 60, a situao econmica e poltica do pas comea a mudar
verificando-se um importante desenvolvimento econmico e um aumento da populao
urbana principalmente nas cidades de Lisboa e do Porto. Com o aparecimento da
televiso, com o desenvolvimento de turismo e com a emigrao surge uma maior
abertura ao mundo exterior, alteram-se atitudes e comportamentos, assumem-se novos
valores. A escolaridade obrigatria o passa a ter um papel primordial, uma vez que se
considera que a escolarizao andaria a par com o progresso econmico. Vive-se uma
poca de optimismo e de mudana tentando criar-se a iluso que a abertura da escola a
todos pode transformar a sociedade. Em 1964 a escolaridade obrigatria passa para 6
anos surgindo nessa altura a telescola para possibilitar s crianas dos meios rurais essa
mesma escolaridade. Nesta poca, como refere Pinto (1995), a escola era vista como um
instrumento de que a sociedade dispunha para assegurar a igualdade de oportunidades.
A escola era vista como via de igualdade de oportunidades e de ascenso social.
Nos anos 70, acreditava-se que a educao era a base do desenvolvimento
econmico, social e cultural, pelo que s sendo assegurado um ensino bsico acessvel a
todos, se conseguiria uma democracia social e a construo de uma sociedade de
progresso e de bem-estar social. Com a Reforma do Sistema Educativo (Lei 5/73, de 25
de Julho) assinada pelo ministro Veiga Simo, pretendeu-se introduzir modificaes que
visavam tornar a escola mais acessvel aos mais desfavorecidos. Esta Lei visava no seu
essencial a democratizao do ensino, numa sociedade autoritria monoltica e de
carcter classista. A escolaridade obrigatria aumentou de 6 para 8 anos e decreta que
no domnio da aco educativa, incube ao Estado, (1) assegurar a todos os Portugueses
o direito educao, mediante o acesso aos vrios graus de ensino e aos bens da cultura,
sem outra distino que no seja a resultante da capacidade e dos mritos de cada um,
(2) tornar efectiva a obrigatoriedade de uma educao bsica generalizada como
pressuposto indispensvel da observncia do principio fundamental da igualdade de
oportunidades para todos (Lei 5/73).
Nesta poca a concepo de currculo estava associado ao conjunto de
disciplinas e que se concretizava pelos contedos expressos nos manuais escolares.
Segundo Leite (2003), prevalecia em Portugal uma orientao curricular baseado no
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paradigma tradicional de racionalismo acadmico, o currculo limitava-se ao conjunto
de matrias a ensinar e estrutura organizativa dessa transmisso, considerando o
conhecimento como nico e universal, ignorando os diferentes pontos de partida dos
alunos, desvalorizando todas as manifestaes culturais diferentes da cultura-padro
vigente.
Com a revoluo de 25 de Abril de 1974, vivem-se tempos conturbados e um
perodo de grande instabilidade poltica e governamental. A reforma de Veiga Simo
no tivera tempo suficiente para ser levada a cabo, mas as ideias e os princpios
definidos mantm-se e acabam por ser concretizados mais tarde. Neste perodo de
liberdade, a escola encarada como um meio de renovao ideolgica e de construo
de uma nova sociedade mais igualitria. Mas esta liberdade de pensamento e esta
democratizao da educao no foi fcil, como refere Bettencourt (1999).
Em 1974, o nmero de analfabetos era de cerca de 40%. A evoluo do ensino e
a expanso do acesso criaram problemas ao nvel dos edifcios escolares e dos
equipamentos que no conseguiram dar respostas adequadas, apesar de significativos
investimentos. Criam-se situaes de sobrelotao, degradao dos equipamentos,
desumanizao dos ambientes escolares, contrariando de certo modo o expresso na
Constituio da Repblica Portuguesa de 1976 no seu artigo 73, no qual refere uma
filosofia de educao que contribua para a igualdade de oportunidades, a superao das
desigualdades econmicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do
esprito de tolerncia, de compreenso mtua, de solidariedade e de responsabilidade,
para o progresso social e para a participao democrtica na vida colectiva. Neste
contexto em 1986 foi publicada a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), lei n
45/86, de 14 de Outubro. Esta Lei vem regulamentar e disciplinar as escolas e definir
orientaes para a sua gesto. Cria uma nova estrutura do sistema educativo com a
integrao da educao pr-escolar, a educao escolar, universal, obrigatria e gratuita,
de 9 anos, organizada em trs ciclos, o 1 ciclo de 4 anos, o 2 ciclo de dois anos e o 3
ciclo de 3 anos. Fora da escolaridade obrigatria, o ensino secundrio, de 3 anos,
dividido em cursos orientados para o prosseguimento de estudos e para cursos
orientados para a vida activa. regulamentado tambm a educao extra-escolar que
envolvem actividades de alfabetizao, educao de base, aperfeioamento e
actualizao cultural e cientifica e a iniciao reconverso e aperfeioamento
profissional. Esta Lei vai ainda mais longe, criando o ensino recorrente para todos os
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alunos que no quiseram ou no tiveram a oportunidade de cumprir a escolaridade
obrigatria, na altura considerada prpria.
Os ideais democrticos que acompanharam a revoluo de Abril de 74 vm
gerar mudanas nos processos de desenvolvimento do currculo, mais a nvel
pedaggico do que a nvel estrutural. Os nmeros do insucesso e do abandono escolar
so elevadssimos e o currculo tinha que romper com a tradio para promover o
princpio do direito de todos educao. Pretendia-se individualizar o ensino,
correspondendo aos interesses e diferenas dos alunos de modo a conseguir uma escola
mais justa, onde todos aprendessem aquilo que a escola tinha para ensinar. No entender
de Leite (2003), acreditava-se que o alargamento da formao escolar a alunos de
classes sociais, at ai, afastados da escola teria consequncias positivas na mobilidade
social, justificando-se adaptaes curriculares s necessidades da sociedade quer nas
questes pedaggicas do currculo, quer no recurso a medidas de compensao de modo
a promover a igualdade de oportunidades e favorecessem a aprendizagem escolar.
Investe-se na formao de professores e adopta-se uma pedagogia nova com o
objectivo de criar condies para os alunos se motivarem para aprenderem os contedos
dos programas escolares. Em termos do currculo, a opo permaneceu na valorizao
das disciplinas tradicionais apesar da inteno de se caminhar no sentido da articulao
entre as disciplinas e da valorizao das experincias dos alunos. Como refere ainda
Leite (2003), esta situao pode justificar-se pela oscilao da reforma educativa entre
o eixo de Estado - providncia que pretendia caminhar para o alargamento da
igualdade de oportunidades escolares e o eixo neoliberal que o retraa (p.76). O
ensino continua a focalizar-se num conjunto de contedos abstractos e de aprendizagens
artificiais, explicando-se o sucesso e o insucesso pelo handicap sociocultural dos
alunos, apesar de na Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei 45/86) estar expresso o
princpio da igualdade de oportunidades de acesso e de sucesso e de se colocar a tnica
numa cultura em que se tornava necessrio promover essa igualdade e esse sucesso s
crianas de todos os grupos sociais e de se adoptar os processos de ensino s sociedades
onde as escolas se inserem, tendo em conta as especificidades de cada um.
Apesar de no se terem verificado grandes alteraes a nvel da organizao
curricular, no final dos anos 80 que se comea a dar maior ateno ao currculo e a
aprofundar e reflectir sobre a inadequao de um currculo construdo em funo apenas
do aluno mdio, de uma classe social mdia e instruda e a viver em ambientes sociais
familiarizados com a escola.
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A partir da dcada de 90, introduz-se o discurso da escola inclusiva, surge a
preocupao de criar escolas mais inclusivas e de promover o sucesso escolar
generalizado no ensino bsico. A educao multicultural insere-se tanto no discurso
acadmico como no poltico, devido ao aparecimento nas escolas de alunos filhos de
emigrantes africanos e das populaes regressadas das ex-colnias, situao que fez
aumentar muito as taxas de insucesso. A investigao desenvolveu estudos que
relacionavam o sucesso educativo com a ateno dada s especificidades de cada aluno
nas quais figuravam as diferenas culturais. Desenvolveram-se polticas no sentido de
inverter o insucesso que acompanhava as crianas de grupos culturais e tnicos
minoritrios introduzindo medidas discriminatrias positivas com a criao dos
Territrios Educativos de Interveno Prioritria, (TEIP), a introduo de currculos
alternativos e a publicao da Lei-quadro da Educao Pr-Escolar (Lei 5/97, de 10 de
Fevereiro) que define este grau de ensino como a primeira etapa da Educao Bsica
num processo de educao ao longo da vida.
A pertena de Portugal ao Conselho da Europa e a adeso Comunidade
Europeia influenciaram a institucionalizao de algumas das medidas polticas tomadas
desde a, nomeadamente o Projecto de Reflexo Participada sobre os Currculo do
Ensino Bsico, levado a cabo no mbito do Departamento da Educao Bsica (DEB), o
Projecto de Gesto Flexvel do Currculo e a Reorganizao do Ensino Bsico. No
entanto no fcil implementar essas polticas, continuando-se a verificar mudanas de
discursos e no de prticas. Como Benavente (1991) refere, no se muda uma
instituio sem mudar as prticas que a produzem no dia-a-dia. Alm disso, a
mudana de prticas de ordem e de lgica diferentes da mudana legislativa; um
processo complexo que envolve os professores e no resulta nem da simples vontade
destes, nem decorre mecanicamente de qualquer interveno exterior (p.178).
relativamente consensual que a escola hoje para todos os que nela convivem,
crianas e jovens pertencentes a diferentes grupos sociais e de diferentes etnias, mas
essa escolarizao comum no s por si garante de sucesso e de uma comunicao
intercultural. Segundo Leite (2003) uma escola para todos e em que todos so
diferentes, exige dos professores a capacidade e a flexibilizao para inovar na linha de
um paradigma que proporcione o xito e a mudana, sem despersonalizar e aculturar.
(p.85). Desde Abril de 1974 mltiplas tem sido as reformas e polticas educacionais no
sistema educativo Portugus, no entanto continuam a no dar uma resposta pertinente
aos problemas que vm afectando as escolas em particular, no que se refere ao
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insucesso e abandono escolar. Pode-se sintetizar as caractersticas da educao e do
currculo desde 1974 aos anos 90, no Quadro 1, com informao extrada de Leite (2003
pp.61,72,79,86).
Quadro 1 Caractersticas da Educao e do Currculo em Portugal
Caractersticas da Educao e do Currculo em Portugal
Antes de Abril
de 74
Revoluo Abril de 74 Anos 80 Anos 90
Orientaes
curriculares
-paradigma tradicional
de racionalismo
acadmico.
-coexistncia de correntes
pedaggicas e curriculares opostas;
-paradigma pedaggico e
humanista-social a par de um
paradigma tcnico;
-o domnio ainda, da didctica
geral;
-relao triangular:
objectivos/contedos/mtodos.
-reforma curricular assente
na modernizao das
disciplinas;
-predomnio do paradigma
tcnico/recurso a processos
de planificao detalhados e
estruturados em torno de
objectivos especficos.
-reconhecimento da
inadequao de um
currculo construdo em
funo apenas do aluno
mdio-tipo;
-currculo nacional
flexvel para
territorializao local.
Papel da
Escola e dos
Professores
-transmitir saberes e
preparar para a vida
futura.
-romper com a educao
bancria;
-contribuir para uma insero futura
dos alunos na sociedade.
-Professor tcnico /
professor consumidor de
currculo;
-recurso a procedimentos
que favorecem a
aprendizagem dos contedos
dos programas escolares
-a Escola local de
deciso;
-Professor investigador
e professor reflexivo;
-Professor configurador
do currculo;
-contribuir para a justia
social.
Organizao
do Currculo
-currculo centrado em
disciplinas, numa
orientao
multidisciplinar.
-centrado em disciplinas e recursos
prticos de pluridisciplinariedade
ou, mesmo, de interdisciplinaridade.
-dialctica entre tradio e a
modernidade;
-discurso da
interdisciplinaridade mas
prticas na lgica de um
currculo de coleco.
-discurso e desejo de
integrao e de currculo
global, mas prticas que
se limitam, muitas vezes,
mera
pluridisciplinaridade e/ou
disciplinaridade cruzada.
Ateno a
questes de
ordem cultural
-tese da neutralidade do
conhecimento;
-o conhecimento
considerado nico e
universal;
-tese da
meritocracia/igualdade
de oportunidades de
acesso e a cada um
segundo o seu mrito;
-tese da cultura-
padro/assimilacionism
o;
-principio do
isolamento/rejeio do
estrangeirismo e do
discurso internacional.
-discurso assente no direito de todos
educao;
-viso funcionalista da democracia;
-havia que adquirir o conhecimento
escolar para se alcanar posies de
maior estatuto social;
-recurso a medidas de
compensao;
-situaes de diversidade olhadas,
quase s, na ptica da diferena
social.
-discurso assente no direito
de todos educao;
-discurso da valorizao de
experincias de vida
diversificada;
-principio da igualdade de
oportunidades de acesso mas
tambm de sucesso escolar;
-explicao do
sucesso/insucesso escolar
pela teoria do handicap
sociocultural;
-aceitao passiva/
benigna da
multiculturalidade.
-criao do Secretariado
Coordenador de
Programas de Educao
Multicultural/Entrecultur
as (1991);
-existncia de projectos
diversos de educao
intercultural;
-prioridade, na formao
de professores,
educao face
multiculturalidade;
-principio da educao
para e no exerccio de
uma cidadania crtica;
-discurso da necessidade
de um currculo contra-
hegemnoco.
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Polticas de Combate ao Insucesso e Abandono Escolar
Numa sociedade democrtica e de liberdade de expresso surge a preocupao
em reduzir as desigualdades sociais democratizando-se o acesso escola. O pas hoje
est a mudar e a educao e a cultura tornam-se num trampolim importante para que a
sociedade portuguesa possa enfrentar novos desafios, embora estas mudanas sejam
lentas e difceis. Para combater o insucesso escolar e prevenir o absentismo e o
abandono escolar, principalmente a nvel do ensino bsico, os vrios governos tm, nas
ltimas dcadas, desenvolvido polticas educativas que visam a promoo do sucesso e
a igualdade de oportunidades. De uma forma sintetizada, apresentam-se algumas dessas
polticas, terminando com a perspectiva crtica de alguns autores.
Escolas de Interveno Prioritria abrangidas pelo Decreto-Lei n 35/88, de 4
de Fevereiro. Segundo o n 6 do artigo 4 do referido Decreto consideram-se escolas de
interveno prioritria as que se por se situarem em zonas de diferenciados estratos
sociais ou diversificadas etnias, ou assim definidas em funo de programas especficos,
determinam a aplicao de medidas igualmente especficas. Por sua vez, nesse mesmo
ano, e para melhor esclarecer o conceito de interveno prioritria surge o Despacho
119/ME/88, de 30 de Junho, que designa como escolas de interveno prioritria as que
apresentem as seguintes caractersticas: (1) As situadas em zonas degradadas ou em
localidades cujo isolamento dificulta a fixao dos professores; (2) As frequentadas por
nmero significativo de crianas com dificuldades de aprendizagem, inadaptadas ou
portadoras de deficincia; (3) Nas que se verifique um insucesso escolar sistemtico; (4)
Nas abrangidas pelo programa de promoo do sucesso escolar.
Em 1993, surge novo Despacho Conjunto n 3 I/SEEBS/SERE/93, de 13 de
Julho, que define como critrios para a seleco das escolas de interveno prioritria,
por parte das Direces Regionais de Educao, os seguintes: (1) Implantao da escola
em rea socialmente carenciada; (2) Existncia de um nmero significativo de crianas
com necessidades educativas especiais (com deficincia moderada e leve ou sem
deficincia), sem apoio das equipas de educao especial; (3) Necessidade de integrar
um nmero significativo de alunos de outras etnias; (4) Existncia de situaes de
graves carncias econmicas.
Com esta legislao e regulamentaes mltiplas, em termos prticos, cria-se a
possibilidade da reduo do nmero de alunos por turma, diminuindo o ratio de um
professor para vinte e cinco alunos, para um professor para vinte alunos.
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Programa Interministerial de Promoo do Sucesso Educativo (PIPSE) que
surge pela Resoluo do Conselho de Ministros de 10 de Dezembro de 1987 (C.M de
87/12/10 D.R.II Srie -88/1/21). Previsto para um horizonte de trs anos, envolvendo
responsveis polticos e servios oficiais com competncia para actuar ao nvel do apoio
social, este programa abrange cerca de 60 concelhos e tem como finalidade reforar a
aco e os meios educativos em zonas prioritrias caracterizadas por ndices muito
elevados de insucesso e numa tentativa de criar condies para uma total escolarizao
ao nvel do 1 ciclo do ensino bsico. O principal objectivo deste programa inverter a
tendncia que se vinha acentuando para o insucesso escolar e visava intervir em reas
como os cuidados sade, alimentao, transporte, fornecimento de material escolar,
animao de tempos livres, formao de professores e reestruturao da rede escolar.
Desenvolvia-se, procurando a renovao da relao ensino aprendizagem bem como a
preparao dos pais e encarregados de educao, professores, autarcas, representantes
dos interesses sociais, econmicos e culturais da regio para a assuno de novos
papis, no mbito da gesto escolar.
Programa Educao Para Todos (PEPT) que surge atravs da Resoluo do
Conselho de Ministros n 29/91 e de acordo com as recomendaes da Conferncia
Mundial sobre Educao Para Todos, realizada em Maro de 1990 em Jomtien e da
Conferncia de Ministros da Educao, realizada em Novembro de 1990 em Paris. O
principal objectivo deste programa era mobilizar vontades e rentabilizar recursos para
o efectivo cumprimento da escolaridade de 9 e 12 anos, criando uma cultura de
escolarizao prolongada e qualificante, propiciadora em dcadas vindouras da
formao de cidados melhores dotados para enfrentar, com competncia,
responsabilidade e civismo, os desafios postos pelas sociedades modernas. No
programa ainda se refere que O Programa Educao Para Todos concretizado em
duas etapas complementares, decorrendo a primeira, centrada no cumprimento da
escolaridade obrigatria de nove anos, at ao ano lectivo 1994/1995, e a segunda,
orientada para o acesso e frequncia generalizada de ensino ou formao de nvel
secundrio ou equivalente, at ao ano lectivo de 1999/2000 (D.R. n 182, I-B Srie,
9.8.1992).
Projecto de Educao Intercultural, aplicado atravs do Despacho n
170/ME/93, de 6 de Agosto. Este projecto visava aumentar as condies de sucesso em
escolas do ensino bsico, situadas em reas urbanas e suburbanas onde existiam uma
grande concentrao de populaes pertencentes a minorias tnicas e culturas diversas
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18
com elevada percentagem de insucesso escolar. A coordenao do projecto estava a
cargo do Secretariado Entreculturas e apresentava como objectivos gerais: (1) Incentivar
uma educao intercultural que permita desenvolver atitudes de maior adaptao
diversidade cultural da sociedade portuguesa; (2) Dinamizar a relao entre a escola, as
famlias e as comunidades locais; (3) Incrementar a igualdade no acesso e usufruto dos
benefcios da educao, da educao e da cincia; (4) Considerar e valorizar os
diferentes saberes e culturas das populaes servidas pelas escolas abrangidas pelo
projecto; (5) Criar ou intensificar a oferta de, pelo menos, um ano de pr-escolaridade s
crianas na rea servida pelas escolas; (6) Apoiar social e psicologicamente os alunos e
as famlias; (7) Promover a qualificao do pessoal docente e no docente no mbito da
educao intercultural; (8) Criar um sistema permanente de apoio aos rgos de
direco e de gesto pedaggica das escolas para o diagnstico, concepo, realizao e
avaliao de projectos de interveno intercultural.
Previsto para durar cerca de dois anos, este projecto iniciou com 30 escolas,
alargando-se a 52 escolas pblicas dos trs ciclos do ensino bsico e prolongou-se por
mais dois anos tendo envolvido cerca de 100 professores e 2000 crianas nas reas
metropolitanas de Lisboa, Porto e no Algarve. Foi dado como encerrado num Seminrio
em 4 de Julho de 1997, tendo sido publicado em Dezembro, um livro com os relatrios
finais de execuo (Martins et. al., 2002) e os relatrios de avaliao externa (Alaiz et.
al., 1998) onde se salientam algumas limitaes e dificuldades na implementao do
projecto. Situaes de fome de alguns alunos, tremendas desigualdades de
oportunidades entre a populao escolar, salas de aulas, do pr-escolar, equipadas pelas
autarquias mas que no funcionavam por falta de colocao de educadores de infncia,
dificuldade de fixao dos professores ao projecto.
Ainda em 1993 foi criado o Servio de Psicologia e Orientao (SPO) cujo
principal objectivo assegurar o acompanhamento dos alunos ao longo do processo
educativo e apoiar o desenvolvimento do sistema de relaes interpessoais na escola e
entre esta e a comunidade. Tambm em 1993, com a publicao do Despacho n
113/ME/93 surgem os Sistemas de Incentivos Qualidade da Educao (SIQE) que tm
como uma das finalidades apoiar as escolas mais carenciadas atravs de projectos
educativos e pedaggicos desenvolvidos numa perspectiva de discriminao positiva, de
modo a corrigir simetrias e potenciar, o mais possvel, a igualdade de oportunidades.
Territrios Educativos de Interveno Prioritria (TEIP) que surgem atravs do
Despacho n 147-B/ME/96, de 8 de Junho, e posteriormente complementado pelo
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Despacho Conjunto 73/SEAE/SEEI/96, de 10 de Julho. Segundo o prembulo do
Despacho de criao, este projecto tem como finalidade o desenvolvimento e a
formao de todos os cidados em condies de igualdade de oportunidades e no
respeito pela diferena e autonomia de cada um, criando-se condies que, permitam
garantir a universalizao da educao bsica de qualidade e promover o sucesso
educativo de todos os alunos. Com os TEIP pretende-se proporcionar melhores
condies de trabalho para as escolas nomeadamente atravs de uma diminuio do
nmero de alunos por turma e do reforo de meios humanos, materiais e financeiros de
modo a melhorar o ambiente educativo reforando as aprendizagens dos alunos.
Segundo Benavente (2001) os TEIP tm como objectivo integrar os trs ciclos da
escolaridade obrigatria articulando-os com a educao pr-escolar e com a formao,
criando condies para a ligao da escola vida activa e coordenando as polticas
educativas numa dimenso geogrfica mais alargada e adequada s comunidades locais.
No primeiro ano de implementao foram definidos 34 Territrios de
Interveno Prioritria, distribudos pelas cinco Direces Regionais de Educao, no
ano lectivo 1997/1998 os TEIP aumentaram para 45, integrando vrias escolas dos
diversos ciclos do Ensino Bsico e da Educao pr-escolar. Com esta legislao
pretende-se que estes estabelecimentos escolares sejam geradores de novas dinmicas
de gesto integrada de recursos e de novas interaces com a comunidade escolar e com
o meio envolvente. Nos TEIP envolvidos criaram-se vrios projectos inovadores
nomeadamente a criao e a animao de mediatecas e bibliotecas, o desenvolvimento
de atelis de tempos livres para o acompanhamento e ocupao das crianas e dos
jovens, nomeadamente no campo artstico, incentivo ao desporto escolar, flexibilidade
ao nvel organizacional e flexibilizao da avaliao dos alunos, o que de certo modo
dava uma certa autonomia aos estabelecimentos de ensino.
Currculos Alternativos ao abrigo do Despacho 22/SEEI/96, de 19 de Junho,
criados por parte da Secretaria de Estado da Educao e da Inovao. Esta legislao
destinada a alunos com insucesso escolar repetido e/ou problemas de integrao na
comunidade escolar, assim como a alunos em risco de abandono da escolaridade bsica
e/ou com dificuldades condicionantes da aprendizagem. O principal objectivo era dar
aos estabelecimentos escolares as condies para o desenvolvimento de pedagogias
diferenciadas. A constituio das turmas de currculos alternativos no deviam exceder
quinze alunos e os professores e formadores dispunham de duas horas semanais
coincidentes, assinaladas nos horrios para coordenarem as actividades de ensino -
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aprendizagem e a avaliao. As escolas interessadas tinham que enviar propostas de
projecto, para os servios regionais e centrais do Ministrio da Educao a fim de serem
analisadas e aprovadas. Segundo Benavente (2000), em 1999/2000 constituram-se a
nvel nacional, 497 turmas, frequentadas por cerca de 6000 alunos e o sucesso educativo
foi de 82% (p.115). Com a criao dos currculos alternativos vrias foram as vozes a
favor, vrias foram as crticas, havendo quem considerasse esta, uma medida
discriminatria, temendo-se a criao de escolas de segunda categoria e por
consequncia a excluso em vez do sucesso. Num artigo publicado na internet, Cosme
(1997) insurge-se contra esta poltica afirmando:
uma das medidas mais recentes adoptadas pelo Ministrio da Educao para combater tal excluso, os malfadados currculos alternativos, devam ser sujeitos a uma avaliao cuidada e sria, quer porque nada nos garante que no possam ser geridos numa perspectiva que, em vez de promover a incluso, potencie a excluso, correndo-se ento o risco de se desencadear o efeito DDT, ou seja, alcanar-se a salvao morrendo-se da cura, quer porque podem constituir um primeiro passo para se compreender as possibilidades de construo de uma opo curricular alternativa cultura curricular vigente no ensino bsico, a nica questo que afinal importa compreender quando discutimos o problema da excluso escolar (p.1). Em contraste, Pacheco (2000) refere num estudo sobre currculos alternativos
que os projectos de currculos alternativos no so discriminatrios, so instrumentos
vlidos para a concluso da escolaridade obrigatria, so uma alternativa vlida ao
abandono e excluso escolar, mas no ao ensino regular.
Projecto de Gesto Flexvel do Currculo, que surge durante o ano lectivo
1996/1997 aps o culminar do Projecto Reflexo Participada sobre os Currculo do
Ensino Bsico, levado a cabo no mbito do Departamento da Educao Bsica (DEB).
A situao educativa apresentava dificuldades, principalmente ao nvel da escolaridade
Bsica, no sentido de que a obrigatoriedade de um ensino de nove anos no estaria a ter
o sucesso pretendido. O 1 ciclo apresentava uma rede escolar desarticulada, com
muitas escolas isoladas e deficientes condies de funcionamento, enquanto no 2 e 3
ciclo continuavam a verificar-se taxas elevadas, quer de insucesso quer de abandono
escolar. A Secretaria de Estado da Educao e Inovao publica o Despacho 4848/97 (2
srie) onde se estabelecem as condies em que as escolas se podem candidatar
apresentao de projectos de Gesto Flexvel do Currculo. De acordo com o DEB
(1999) por Gesto Flexvel do Currculo entende-se a possibilidade de cada escola,
dentro dos limites do currculo nacional, organizar e gerir autonomamente todo o
processo de ensino/aprendizagem. Este processo dever adequar-se s necessidades
diferenciadas de cada contexto escolar, podendo completar a introduo no currculo de
componentes locais e regionais (p. 7). Com este projecto pretendia-se: (1) Contribuir
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para a construo de uma escola de qualidade, mais humana, criativa e inteligente, com
vista ao desenvolvimento integral dos seus alunos; (2) Promover uma nova prtica
curricular, assumida, gerida e avaliada pelas escolas, no contexto de um currculo
nacional que enquadre as competncias necessrias; (3) Proporcionar aos alunos uma
diversidade de percursos de aprendizagem garantindo a coerncia entre os objectivos
estabelecidos e as competncias a desenvolver; (4) Estimular a concepo de estratgias
e actividades diversificadas que criem condies para a transferabilidade das
aprendizagens inter e intradisciplinares, numa perspectiva de desenvolvimento das
competncias de sada do ensino bsico; (5) Incentivar a adopo de estruturas de
trabalho de equipa entre professores de diferentes reas disciplinares e de diferentes
ciclos; (6) Contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores, alargando e
reconhecendo a sua capacidade de deciso em reas chave do currculo; (7) Favorecer
uma maior interaco entre os diversos parceiros da comunidade educativa na
concepo e realizao do projecto educativo de escola; (8) Contribuir para uma
avaliao contnua e reguladora que equacione os objectivos propostos, as
aprendizagens efectuadas e as competncias desenvolvidas, tendo em conta alunos,
professores e encarregados de educao; (9) Criar novos espaos curriculares no
disciplinares que favoream a articulao dos diversos saberes e a realizao de
aprendizagens significativas; (10) Encorajar a reflexo sobre a natureza e funes das
diversas tarefas escolares, e, em particular, dos trabalhos de casa, questionando os
factores de desigualdade e as responsabilidades que efectivamente cabem escola. (p.
7-8).
Em 1999 publicado o Despacho n 9590/99, de 14 de Maio que vem actualizar
os princpios que regulamentam e orientam os projectos de gesto flexvel do currculo,
clarificando o que se entende por gesto do currculo, alterando o grau e amplitude do
envolvimento das escolas, dando orientaes para a forma como elaborar o desenho
curricular nos 2 e 3ciclo, definido o nmero de professores que leccionam as reas
curriculares no disciplinares e flexibilizando as cargas horrias das disciplinas.
Em 1997/1998 foram 10 os projectos apresentados pelas escolas, em 1998/1999
cerca de 34, em 1999/2000 passam para 93 e em 2000/2001, 184 escolas que
desenvolveram e aplicaram processos de gesto curricular no mbito de trs grandes
preocupaes: a diferenciao, a adequao e a flexibilizao do currculo, de acordo
com alunos e contextos concretos com que os professores trabalham no dia-a-dia.
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Com o corolrio da apresentao e reflexo dos resultados e dos debates que
foram suscitados ao longo do desenvolvimento destes projectos o Departamento de
Educao Bsica (DEB) apresentou uma proposta devidamente estruturada, em Maro
de 2000 que veio dar origem a uma nova reorganizao curricular, a partir do ano
lectivo 2001/2002.
Reorganizao Curricular do Ensino Bsico, promulgada atravs do Decreto-lei
6/2001, de 18 de Janeiro, que veio permitir, no s uma diferenciao pedaggica mas
tambm a adequao e a flexibilizao associadas gesto curricular. Esta nova
legislao, no seu artigo 3, apresenta como princpios orientadores, (1) Coerncia e
sequencialidade entre os trs ciclos do ensino bsico e articulao com o ensino
secundrio; (2) Integrao do currculo e da avaliao, assegurando que esta constitua o
elemento regulador do ensino e da aprendizagem; (3) Existncia de reas curriculares
disciplinares no disciplinares, visando a realizao de aprendizagens significativas e a
formao integral dos alunos, atravs da articulao e da contextualizao dos saberes;
(4) Integrao, com carcter transversal, da educao para a cidadania em todas as reas
curriculares; (5) Valorizao das aprendizagens experimentais nas diferentes reas e
disciplinas, em particular, e com carcter obrigatrio, no ensino das cincias,
promovendo a integrao das dimenses terica e prtica; (6) Racionalizao da carga
horria lectiva semanal dos alunos; (7) Reconhecimento da autonomia da escola no
sentido da definio de um projecto de desenvolvimento do currculo adequado ao
contexto e integrado no respectivo projecto educativo; (8) Valorizao da diversidade
de metodologias e estratgias de ensino e actividades de aprendizagens, em particular
com recurso a tecnologias de informao e comunicao, visando favorecer o
desenvolvimento de competncias numa perspectiva de formao ao longo da vida; (9)
Diversidade de ofertas educativas, tomando em considerao as necessidades dos
alunos, de forma a assegurar que todos possam desenvolver as competncias essenciais
e estruturantes definidas para cada um dos ciclos e concluir a escolaridade obrigatria.
Adapta-se, a partir desta legislao, uma noo ampla de competncia, que
integra conhecimentos, capacidades e atitudes e que pode ser entendida como saber em
aco ou em uso.. Com a publicao do documento, Currculo Nacional do Ensino
Bsico, so definidas um conjunto de competncias consideradas essenciais no mbito
do currculo nacional, numa natureza holstica e integradoras do saber, saber fazer e
saber ser e que inclui 10 competncias de carcter geral a desenvolver ao longo de todo
o ensino bsico, bem como competncias especficas a serem tratadas no quadro de cada
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disciplina ou rea disciplinar, no conjunto dos trs ciclos e em cada um deles. No
quadro de um currculo nacional estabelecem-se as aprendizagens, as competncias
fundamentais e o tipo de experincias educativas que devem ser proporcionadas a todos
os alunos, surgindo como principal novidade a introduo de trs novas reas
curriculares no disciplinares, a rea Projecto, o Estudo Acompanhado e a Formao
Cvica.
Com a Reorganizao Curricular do Ensino Bsico tambm a avaliao dos
alunos sofre algumas alteraes, surgindo o Despacho Normativo 30/2001, de 19 de
Julho que, para alm de reforar a nfase no carcter essencialmente formativo da
avaliao, e de uma avaliao contnua nas diversas reas, faz sentido uma avaliao
global no fim do ensino bsico. A avaliao ser ainda apoiada por formas de avaliao
externa, nomeadamente provas nacionais de aferio.
Cursos de Educao e Formao (CEF) com a publicao do Despacho
Conjunto n 453/04 de 07 de Julho 2004, objecto de rectificao n 1673/04 em 07 de
Setembro de 2004. Estes cursos, de nveis de qualificao I, II e III, so destinados a
jovens fora da escolaridade obrigatria, com idade igual ou superior a 15 anos, que no
tenha, concludo os, 1, 2 ou 3 ciclos do ensino bsico ou qualquer curso do ensino
secundrio. Quando as situaes o aconselham poder ser autorizado a frequncia a
jovens com idade inferior aos 15 anos. Os cursos enquadrados pelo Despacho
constituem uma resposta formativa alternativa ao ensino regular e tm como inteno
permitir a alunos com insucesso escolar repetido ou em risco de abandono escolar
precoce, a concluso do respectivo ciclo de escolaridade e que, em simultneo,
obtenham uma qualificao profissional.
Esta legislao surge de uma parceria do Ministrio da Educao com o
Ministrio da Segurana Social e do Trabalho, com vista a desenvolver iniciativas nas
reas da orientao escolar e profissional e da insero profissional, bem como do
domnio das medidas de educao e formao, como via privilegiada de transio para a
vida activa. Os jovens que concluam o curso com a idade legalmente permitida, podem
ingressar no mercado de trabalho, os outros com idade inferior, devem obrigatoriamente
prosseguir estudos. Os cursos devem respeitar os referenciais das componentes de
formao sociocultural e cientfica, definidos pelo Ministrio da Educao, atravs da
Direco Geral de Formao Vocacional (DGFV) e da Direco Geral de Inovao e
Desenvolvimento Curricular (DGIDC) e ainda as componentes de formao tecnolgica
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definidas pelo Ministrio da Segurana Social e do Trabalho, atravs do Instituto do
Emprego e Formao Profissional (IEFP).
Os percursos que integram estes cursos privilegiam uma estrutura curricular
acentuadamente profissionalizante, tendo em conta a especificidade das respectivas
reas de formao e compreendendo as componentes de formao sociocultural, a
componente de formao cientifica, a componente de formao tecnolgica e a
componente de formao prtica. Visa a aquisio de competncias no mbito das
lnguas, cultura e comunicao, cidadania e sociedade e das diferentes cincias
aplicadas numa lgica transdisciplinar e transversal no que se refere s aprendizagens de
carcter instrumental e na abordagem aos temas relevantes para a formao pessoal,
social e profissional, em articulao com as componentes de formao tecnolgica e de
formao prtica, numa perspectiva de um desenvolvimento equilibrado e harmonioso
dos jovens em formao, de uma aproximao ao mundo do trabalho e da empresa, de
uma sensibilizao s questes da cidadania e do ambiente e de um aprofundamento das
questes de sade, higiene e segurana no trabalho.
Os Cursos de Educao e Formao proporcionam aos alunos uma qualificao
profissional e a equivalncia ao 6, 9 ou 12 ano de escolaridade, podendo ingressar no
mercado de emprego ou prosseguir estudos. Segundo dados do Ministrio da Educao
no ano lectivo 2006/2007 existiam em funcionamento cerca de 2090 cursos, mais de
800 do que no ano anterior com cerca de 32000 novos alunos.
Percursos Curriculares Alternativos (PCA) ao abrigo do Despacho Normativo
n 1/2006 de 06 de Janeiro de 2006, promovem uma oferta educativa dirigida a alunos
que, encontrando-se dentro da escolaridade obrigatria, apresentam insucesso escolar
repetido ou risco de abandono precoce. Os Percursos Curriculares Alternativos
destinam-se a alunos at aos 15 anos, inclusive que se encontrem em qualquer das
seguintes situaes: (1) Ocorrncia de insucesso repetido; (2) Existncia de problemas
de integrao na comunidade escolar; (3) Ameaa de risco de marginalizao, de
excluso social ou abandono escolar; (4) Registo de dificuldades condicionantes da
aprendizagem, nomeadamente: forte desmotivao, elevado ndice de absteno, baixa
auto-estima e falta de expectativas relativamente aprendizagem e ao futuro, bem como
o desencontro entre a cultura escolar e a sua cultura de origem.
O programa de Percurso Curricular Alternativo concebido com base na
caracterizao do grupo de alunos que o vai frequentar, no diagnstico das
competncias essenciais a desenvolver para o cumprimento do ciclo de escolaridade do
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ensino bsico e nas habilitaes de ingresso. A estrutura curricular deve ter como
referncia os planos curriculares constantes do Decreto-lei n 6/2001, de 18 de Janeiro
de 2001, com as alteraes introduzidas pelo Decreto-lei n 209/2002, de 17 de Outubro
de 2002, acrescida de uma formao artstica, vocacional, pr-profissional ou
profissional que permita uma abordagem no domnio das artes e ofcios, das tcnicas ou
das tecnologias em geral. Esta matriz curricular deve assegurar a aquisio de
competncias essenciais definidas para o ciclo de ensino a que se reporta o percurso
alternativo, nomeadamente em Lngua Portuguesa e Matemtica, permitindo a
permeabilidade entre percursos e a consequente transio para outras modalidades de
formao, bem como o prosseguimento de estudos.
Atendendo especificidade do pblico-alvo e necessidade de promover um
processo de aprendizagem mais individualizado, a constituio das turmas podem ter
como nmero mnimo 10 alunos, devendo os professores reunir quinzenalmente para
definio de estratgias de ensino e aprendizagem e acompanhamento da evoluo dos
alunos. Aos alunos que venham a concluir o 9 ano de escolaridade, atravs de um
percurso curricular alternativo pode prosseguir os seus estudos num Curso de Educao
e Formao (CEF), do secundrio, se pretender prosseguir no ensino secundrio regular,
s possvel se o aluno realizar exames nacionais nas disciplinas de Lngua Portuguesa
e de Matemtica.
Cabe ao Conselho Pedaggico de cada escola, o acompanhamento pedaggico e
a avaliao do funcionamento das turmas de Percursos Curriculares Alternativos (PCA).
Cabe s Direces Regionais de Educao (DREs) o acompanhamento e avaliao dos
projectos das turmas de PCA da respectiva rea de interveno e compete Disseco
Geral de Inovao e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC) elaborar, anualmente, um
relatrio global de mbito nacional para apresentar ao Ministro(a) da Educao.
Segundo dados do Ministrio da Educao, neste primeiro ano de implementao do
Despacho, s na rea Educativa de Lisboa apresentaram projectos de Percursos
Curriculares Alternativos 34 escolas para 46 turmas, 19 turmas do 5 ano de
escolaridade, 11 turmas do 6 ano, 12 do 7 ano 2 do 8 ano e 2 do 9 ano.
Perspectivas crticas. Vrias tem sido as tentativas de modificar e melhorar as
desigualdades da educao, mas a escola continua em crise na medida em que a
instituio escolar foi, progressivamente, tornando-se o nico ponto de referncia de
toda a aco educativa (Canrio, 2006, p.13). A instituio escolar tem sofrido vrias
mutaes ao longo do tempo passando, segundo Canrio (2006), de um modelo de
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certezas para um modelo de promessas e, finalmente, para um modelo marcado pelas
incertezas.
Na vida da escola, desenvolvem-se lutas pelo poder e situaes de conflito, o
que faz com que seja necessrio haver processos de negociao para as tomadas de
deciso. Esta viso poltica da organizao assenta, essencialmente, em interesses,
conflitos, poderes e negociaes. A clarificao da aco colectiva e a partilha de
valores, so hoje grandes desafios que se pem aos lderes, na operacionalizao das
suas tarefas, pois so eles os principais responsveis por uma viso de futuro, por
indicar o caminho e/ou a direco a seguir com vista a desenvolver um projecto
educativo coerente com a aco educativa da cultura organizacional que representa e,
todos estes desafios assentam em lgicas de aco decisionria. Quando falamos de
lgicas de aco referimo-nos a um conceito dinmico que designa uma relao entre
um contexto e uma aco. Tal como referenciado por Sarmento (2000), supem a
existncia de uma certa racionalidade que no definida anteriormente. So sempre
construdas durante a aco, vo sendo expressas como explicao/justificao para a
aco sendo depois reconstitudas. J para Cabin (citado em Simes, 2005), as lgicas
de aco so um paradigma que d conta da diversidade de interpretaes possveis
dos fenmenos observados e que funciona como postura heurstica que permite
combinar diversos modelos tericos (p.34).
As lgicas de aco consideram contextos individuais e da organizao, sendo
flexveis e instveis no tempo. No entender de Sarmento (2000) e com base na sua
investigao emprica, as lgicas de aco reflectem-se na totalidade da aco
educativa, atravs do encadeamento entre as diversas actividades organizacionais e
pedaggicas, afirmam-se na redundncia dos elementos interpretativos da aco na
totalidade dos domnios da organizao, e podem coexistir no plano sincrni