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SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOS ANO XCIX | N.º 4779 | 19 DE MARÇO DE 2020 | 0,75 € visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt O tema do momento é o COVID-19. Importa, por isso, também a partir da perspetiva eclesial, fazer algu- ma iluminação sobre o mesmo. Não vamos deter- -nos no cancelamento de inúmeras atividades religiosas ou nos constrangimentos litúrgicos; os muitos Comuni- cados dos diferentes organismos e, particularmente, o do nosso Bispo, dizem o que tem de ser dito. Mas, para além dos comunicados, o tema e o momento exigem uma re- flexão mais profunda e universal, a partir também da fé, um serviço que nos foi prestado, de modo excelente, pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, numa Mensagem do Card. Peter Turkson, que o Correio de Coimbra traduz na íntegra para os nossos leitores. Esta Mensagem constitui até ao momento a mais alta reflexão da Igreja Universal sobre a pandemia, e logo a partir do epicentro da mesma na Europa (Itália). P ublicamos também uma entrevista com o Grupo Mateus 25. Sem entrar pela entrevista em si, gosta- ria de deixar sobre o tema duas palavras. A primei- ra, para lembrar que cada preso tem uma história de vida que antecede a sua “prisão” e outra história de vida que, previsivelmente, lhe sucede. Há um antes, um durante e um depois. Por isso, a obra de misericórdia que consiste em visitar os presos é uma exigência da caridade cristã em termos também de uma cultura de integração social e equilíbrio pessoal, antes da prisão, para a evitar, e depois, se não puder ter sido evitada. A segunda palavra é para continuar a lembrar à Justiça que a pena de prisão não é a única, quiçá nem a melhor, solução punitiva e reintegra- tiva. Aliás, a nossa Diocese, pelo Colóquio promovido pela Comissão Diocesana Justiça e Paz (15 de maio de 2019), já foi uma voz clara disso mesmo. O último parágrafo é para a Festa. Fizemos ontem 98 anos; entramos no 99º ano de Correio de Coim- bra! Resistimos, mesmo em condições gerais que toda a gente sabe que não são fáceis. Mas, muito mais do que resistir, construímos. Construímos a parte que nos cabe construir da Igreja e da sociedade, com a colabora- ção, sabedoria, generosidade e entusiasmo de tantos co- laboradores e os ecos gratos de tantos leitores. Sabemos que continuamos a cumprir um papel impossível de ser substituído integralmente por qualquer outro instrumen- to. Um papel com muitas faces, das quais, hoje, gostaria de destacar uma, através da imagem do espelho: o Correio é como que a oferta, semana após semana, de um espelho da Igreja diocesana a si mesma, no qual ela se pode autor- rever, se pode espelhar. Função tão bela. E é essa face que credibiliza o slogan “Amo a Igreja, leio o seu jornal”. ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES O papel de espelho “Convido-vos ainda ao gesto de caridade de toda a Igreja de Coimbra: oferecer a renúncia quaresmal em favor do «Grupo Mateus 25», o voluntariado organizado para o trabalho com os reclusos na nossa Diocese”, escreveu o Bispo de Coimbra na sua Mensagem para a Quaresma deste ano. Mas ‘quem’ é o Grupo Mateus 25? O Correio de Coimbra esteve a conversar com três dos seus membros. > centrais EM DIA DE GRANDE FESTA FAMILIAR CONFIGURADOS NA OCULTAÇÃO COM O PAI NA FAMÍLIA DE NAZARÉ Em Dia de São José, esposo e pai, o Correio de Coimbra deixa uma saudação a todos os pais, a quem a hora difícil do momento presente mais pede e mais dignifica. SEM CELEBRAÇÕES COMUNITÁRIAS É TEMPO DE VIVER O SENTIDO MAIS PROFUNDO DA IGREJA DOMÉSTICA Bispo de Coimbra propõe a oração e meditação, a leitura e o diálogo, o Rosário, a leitura orante da Palavra de Deus, a leitura espiritual e a catequese na família. > Página 2 7 ANOS COM O PAPA FRANCISCO Uma leitura do atual Pontificado por Fernando Taveira da Fonseca. > Página 7 VOLUNTARIADO CRISTÃO NA PRISÃO Quem é o Grupo Mateus 25?

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Page 1: 19 DE AÇO DE 22€¦ · - celebração dos sacramentos do Batismo e do Matrimónio a seja realizada essencialmente com a família; – celebrações penitenciais comunitárias do

SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOSANO XCIX | N.º 4779 | 19 DE MARÇO DE 2020 | 0,75 €

visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt

O tema do momento é o COVID-19. Importa, por isso, também a partir da perspetiva eclesial, fazer algu-ma iluminação sobre o mesmo. Não vamos deter-

-nos no cancelamento de inúmeras atividades religiosas ou nos constrangimentos litúrgicos; os muitos Comuni-cados dos diferentes organismos e, particularmente, o do nosso Bispo, dizem o que tem de ser dito. Mas, para além dos comunicados, o tema e o momento exigem uma re-flexão mais profunda e universal, a partir também da fé, um serviço que nos foi prestado, de modo excelente, pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, numa Mensagem do Card. Peter Turkson, que o Correio de Coimbra traduz na íntegra para os nossos leitores. Esta Mensagem constitui até ao momento a mais alta reflexão da Igreja Universal sobre a pandemia, e logo a partir do epicentro da mesma na Europa (Itália).

Publicamos também uma entrevista com o Grupo Mateus 25. Sem entrar pela entrevista em si, gosta-ria de deixar sobre o tema duas palavras. A primei-

ra, para lembrar que cada preso tem uma história de vida que antecede a sua “prisão” e outra história de vida que, previsivelmente, lhe sucede. Há um antes, um durante e um depois. Por isso, a obra de misericórdia que consiste em visitar os presos é uma exigência da caridade cristã em termos também de uma cultura de integração social e equilíbrio pessoal, antes da prisão, para a evitar, e depois, se não puder ter sido evitada. A segunda palavra é para continuar a lembrar à Justiça que a pena de prisão não é a única, quiçá nem a melhor, solução punitiva e reintegra-tiva. Aliás, a nossa Diocese, pelo Colóquio promovido pela Comissão Diocesana Justiça e Paz (15 de maio de 2019), já foi uma voz clara disso mesmo.

O último parágrafo é para a Festa. Fizemos ontem 98 anos; entramos no 99º ano de Correio de Coim-bra! Resistimos, mesmo em condições gerais que

toda a gente sabe que não são fáceis. Mas, muito mais do que resistir, construímos. Construímos a parte que nos cabe construir da Igreja e da sociedade, com a colabora-ção, sabedoria, generosidade e entusiasmo de tantos co-laboradores e os ecos gratos de tantos leitores. Sabemos que continuamos a cumprir um papel impossível de ser substituído integralmente por qualquer outro instrumen-to. Um papel com muitas faces, das quais, hoje, gostaria de destacar uma, através da imagem do espelho: o Correio é como que a oferta, semana após semana, de um espelho da Igreja diocesana a si mesma, no qual ela se pode autor-rever, se pode espelhar. Função tão bela. E é essa face que credibiliza o slogan “Amo a Igreja, leio o seu jornal”.

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES

O papel de espelho

“Convido-vos ainda ao gesto de caridade de toda a Igreja de Coimbra: oferecer a renúncia quaresmal em favor do «Grupo Mateus 25», o voluntariado organizado para o trabalho com os reclusos na nossa Diocese”, escreveu o Bispo de Coimbra na sua Mensagem para a Quaresma deste ano. Mas ‘quem’ é o Grupo Mateus 25? O Correio de Coimbra esteve a conversar com três dos seus membros. > centrais

EM DIA DE GRANDE FESTA FAMILIARCONFIGURADOS NA OCULTAÇÃO COM O PAI NA FAMÍLIA DE NAZARÉEm Dia de São José, esposo e pai, o Correio de Coimbra deixa uma saudação a todos os pais, a quem a hora difícil do momento presente mais pede e mais dignifica.

SEM CELEBRAÇÕES COMUNITÁRIASÉ TEMPO DE VIVER O SENTIDO MAIS PROFUNDO DA IGREJA DOMÉSTICABispo de Coimbra propõe a oração e meditação, a leitura e o diálogo, o Rosário, a leitura orante da Palavra de Deus, a leitura espiritual e a catequese na família. > Página 2

7 ANOS COM O PAPA FRANCISCO

Uma leitura do atual Pontificado por

Fernando Taveira da Fonseca.

> Página 7

VOLUNTARIADO CRISTÃO NA PRISÃO

Quem é o Grupo Mateus 25?

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CORREIO DE COIMBRA

2DioceseCOMUNICADO DA DIOCESE DE COIMBRA

Viver com Esperança e Responsabilidade

A vida é um enorme dom que temos de agradecer e cuidar. Um dom de Deus partilhado com todos.A responsabilidade social da Igreja e o seu firme compro-

misso com a defesa da vida exige que se viva este tempo com esperança, com ousadia e confiança em Deus.Nas circunstâncias atuais, a Igreja de Coimbra quer expressar a sua solicitude junto dos cristãos e pessoas de boa vontade desta diocese, nomeadamente os profissionais de saúde e to-dos os que estão envolvidos na segurança e cuidado das po-pulações. Não podemos deixar de rezar também por todas as pessoas infetadas e por todas as famílias que estão afetadas diretamente por esta pandemia.

Desejamos que este tempo seja visto como uma oportunidade e um desafio a assumir a nossa vivência cristã e o nosso compro-misso social, confiados em Deus Trindade.Neste sentido, para além das medidas de prevenção anterior-mente indicadas pela Direção Geral da Saúde (DGS) e pela Confe-rência Episcopal Portuguesa (CEP), decidiu-se que:– os sacerdotes suspendam a celebração comunitária da Santa

Missa;- a celebração dos sacramentos do Batismo e do Matrimónio

seja realizada essencialmente com a família;– as celebrações penitenciais comunitárias do sacramento da

Reconciliação fiquem adiadas para tempo oportuno, salva-guardada sempre a possibilidade da celebração individual em contexto de atendimento pessoal;

- a celebração das Exéquias, incluindo o velório, seja essencial-mente com a família;

- se suspendam as manifestações públicas de piedade popular (procissões, vias sacras e outras);

– se acompanhem os doentes com a Eucaristia e a Santa Unção observando com especial cuidado todas as precauções indica-das pelas autoridades de saúde.

Vivamos este tempo como um ‘tempo favorável’ que nos é dado, um tempo quaresmal que nos conduz à Páscoa, um tempo de deserto que nos conduz às fontes da água viva que é o Senhor.

É tempo para concretizarmos o sentido mais profundo da Igreja doméstica, para celebramos em família a vida, para rezarmos mais profundamente a nossa condição de peregrinos do eterno.Aproveitemos, portanto, para a oração e meditação, a leitura e o diálogo, a oração do Rosário, a leitura orante da Palavra de Deus (Lectio Divina), a leitura espiritual e a catequese na família. Es-tas propostas devem ser complementadas com as ofertas cele-brativas que existem na televisão, rádio e internet.Esperamos que esta situação de emergência seja rapidamente superada para podermos retomar a vida normal.Convido-vos a todos a elevar preces a Deus, pela intercessão da Virgem Santa Maria.Para todos invoco a bênção de Deus.

Coimbra, 13 de Março de 2020,Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra

PUBPROPRIEDADESeminário Maior de CoimbraContr. n.º 500792291 | Registo n.º 101917Depósito Legal n.º 2015/83

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DIRETOR ADJUNTOCarlos Neves (T.E. 1163)

ADMINISTRAÇÃO Communis Missio - Instituto Diocesano de ComunicaçãoCentro Pastoral Diocesano CoimbraRua Domingos Vandelli, nº 23004-547 Coimbra

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PAGINAÇÃOFrederico Martins

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ESTATUTO EDITORIALwww.correiodecoimbra.pt

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“Foi a minha Eucaristia, em comunhão com o meu Bispo, em união à

nossa Diocese e em oração pe-las comunidades que sirvo”, es-creveu o Pe. Fernando Carvalho nos comentários à transmissão em direto, via página facebook da Diocese de Coimbra, da Mis-sa do último domingo, celebra-da por D. Virgílio Antunes na capela da Casa Episcopal.

Numa celebração marcada pela simplicidade e transmis-são discreta, D. Virgílio Antunes apresentou a Deus a situação provocada pelo COVID-19, tendo em particular atenção os doen-tes, os profissionais de saúde, as pessoas em quarentena e os familiares. Na homilia, muito curta [com transcrição do Cor-reio de Coimbra], disse:

“A liturgia deste domingo con-vida-nos de modo especial a es-cutarmos a voz do Senhor: não fechemos o nosso coração! O Se-nhor fala-nos de muitas formas: por meio dos diferentes aconte-cimentos da nossa vida, pelos outros, pela vida do mundo. E, nesta Quaresma de Graça, mas ao mesmo tempo de tribulação, fala-nos de um modo especial por meio das dificuldades que toda a humanidade e também nós estamos a sentir. Pode haver [à nossa volta] diferentes formas de entender essa mensagem que o Senhor nos quer transmitir.

Também, de acordo com o texto da primeira Leitura, que narra os acontecimentos difíceis, trá-gicos, do povo de Israel no meio do deserto, depois da saída do Egito, o povo pergunta: “Ele está ou não está no meio de nós?”. E o Senhor tem, em primeiro lu-gar, uma palavra que nos quer transmitir, uma certeza que nos quer dar; a resposta de Deus, pelo boca do profeta, é clara: O Senhor está no meio de nós.

Neste tempo de tribulação que a humanidade está a viver, nós somos chamados, a partir da fé, a acreditar que o Senhor está efetivamente no meio de nós. E, depois, numa atitude de anún-cio e comunicação da Esperan-ça, a fazer sentir aos nossos irmãos que mesmo nestas cir-cunstâncias - sobretudo nestas circunstâncias - o Senhor está

no meio de nós. Está no meio de nós para salvar! Como dizia o texto do Evangelho, referindo--se a Jesus, ‘Este é verdadeira-mente o Messias! Nós vimos. Nós ouvimos. Não acreditamos somente pelo que tu [samarita-na] disseste, mas porque estive-mos com Ele, porque ouvimos as suas palavras, sentimos os seus sentimentos, cruzámos o nosso olhar com o seu olhar. Ele é verdadeiramente o Messias, o Salvador, Aquele que traz água viva – a água que sacia todas as ânsias e todas as sedes. Ele é Aquele que abre as portas de vida eterna, para ultrapassar os confins da debilidade e do peca-do. Ele é Aquele que nos assiste e nos oferece os horizontes da alegria e da esperança, a que chamamos vida eterna.

Que neste domingo todos nos possamos abrir à palavra que Ele disse: “não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus”. Que nos possamos abrir à Palavra, porventura no ambiente fami-liar, no silêncio, na meditação, na tranquilidade das nossas ca-sas, uma vez que somos convi-dados a permanecer recatados, sem nos expormos e expormos os outros a dificuldades que pos-sam advir de um contágio. Que este domingo seja, de facto, um tempo de graça, um tempo de escuta, um tempo de interioriza-ção, um tempo de abrir o cora-ção à voz de Deus; um tempo de contemplarmos a realidade bela que nos cerca, e de vermos tam-bém as dificuldades que povoam o nosso mundo. Um domingo porventura diferente de todos os outros, pelas circunstâncias, mas um domingo rico de escuta, de amor, de esperança, de diá-logo com Deus e com os outros; um domingo que, no meio deste ‘calvário’ em que todos de algum modo nos encontramos, seja também de abertura, para que vislumbremos já a esperança e a alegria da Ressurreição.

EUCARISTIA DE D. VIRGÍLIO ANTUNES NO FACEBOOK DA DIOCESE

Tempo de escuta, de amor, de esperança e de diálogo com Deus e em família

“Esta foi a minha Eucaristia, em comunhão com o meu Bispo, em união à nossa Diocese e em oração pelas comunidades que sirvo.

O Bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, volta a celebrar este domin-

go, 22 de março, a partir do ora-tório da Casa Episcopal, às 9h00. A celebração pode ser acompa-nhada em https://www.face-book.com/Diocese.de.Coimbra.

MISSA DESTE DOMINGO

Bispo de Coimbra no Facebook da Diocese

19 DE MARÇO DE 2020

AMO A IGREJA, LEIO O SEU JORNAL98 anos de presença semanal de informação,

formação e reflexão crítica - um contributo inestimável para a edificação da Igreja de Coimbra.

Procure o Correio de Coimbra na sua paróquia, ou faça-se assinante.

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CORREIO DE COIMBRA

33Igreja a caminho

Um mês, dois meses, três meses? Não sabe-mos. O que sabemos é

que estamos no início de uma grande quaresma, de um tem-po duro que vai exigir o me-lhor de cada um.

Um dos maiores problemas dos caminhos longos é o abas-tecimento e o reabastecimen-to. Quanto combustível temos no nosso depósito? Sobretudo, onde poderemos abastecer?

Esta quaresma que, de re-pente, passa a conjugar-se com quarentena, é um tempo de enormes desafios e que vai precisar de soluções corajosas e de horizontes de interajuda e de esperança.

A grande pergunta é: como podemos viver esta quaresma com olhos de Páscoa? Como podemos pedir a graça da ressurreição neste calvário? Como podemos encontrar so-luções pastorais criativas e lu-minosas neste tempo de ‘noite escura’?

Não bastar umas palavras, nem podemos fazer o mesmo de sempre...

Alguém imaginava que al-guma vez as igrejas ficassem fechadas? Que não pudésse-mos celebrar a fé uns com os outros? Como manter a fé em tempo de igrejas fechadas?

Um pequeno vírus provoca toda uma sociedade. Um vírus inverte todas as lógicas. Impe-de-nos de abraçar e de aproxi-mar, coloca-nos fechados em casa e instala-nos o medo.... O que há poucos dias era loucu-ra e ficção, hoje é realidade e desafio.

Em tempos de crise, precisa-mos de encontrar ‘novas solu-ções’, novos modos de celebrar a fé, outras maneiras de se fa-zer próximo de quem é esque-cido e abandonado.

Diz o comunicado da nossa diocese: “É tempo (...) para re-zarmos mais profundamente a nossa condição de peregri-nos do eterno. Aproveitemos, portanto, para a oração e me-ditação, a leitura e o diálogo, a oração do Rosário, a leitura orante da Palavra de Deus (Lec-tio Divina), a leitura espiritual e a catequese na família. Estas propostas devem ser comple-mentadas com as ofertas cele-brativas que existem na televi-são, rádio e internet”.

Os cristãos não estão de fé-rias, os padres não vão de reti-ro, Cristo não foi dar uma volta. Cada comunidade tem de pedir a graça do Espírito para conti-nuar a celebrar a fé e a viver da esperança do evangelho.

Como manter a fé em tempo de igrejas fechadas?Nuno Santos

“Um mês, dois meses, três meses? Não sabemos. O que sabemos é que estamos no início de uma grande quaresma, de um tempo duro que vai exigir o melhor de cada um.

Neste tempo quaresmal e de emergência, ao ce-lebrarmos o Dia do Pai,

temos consciência de que não somos donos da vida. Basta um vírus para a colocar em risco.

Queremos, antes de mais, en-viar a todos os pais uma men-sagem de gratidão, conforto e esperança no meio das amea-ças que, inexoravelmente, to-dos sofremos. Fazemos votos de que, no fim deste período de sobressalto, o mundo esteja melhor e a vida de cada pessoa mais valorizada.

Com as crianças e adolescen-tes em casa, vão ser precisos “superpais e supermães” para reinventar a convivência fami-liar, pois a atividade social terá de estar reduzida ao mínimo, como a prudência recomenda.

Quem sabe se não será opor-tunidade para diálogo familiar sobre a beleza e sentido da vida: esse bem superior a todas as ilusões do bem-estar, da rique-za, da economia, dos negócios, do consumo, da rivalidade, da superioridade…? Na realidade, somos todos limitados e ansio-sos por algo ou Alguém que não passe com uma pandemia!

Quem sabe se não pode ser um tempo para “recomeçar” em pontos essenciais da vida pessoal, de casal e de família, melhorando a qualidade dos relacionamentos?

Contava, há dias, um pai que, depois de algumas dificuldades da vida em casal e algum tem-po separados, conseguiu vol-tar a ler a sua própria história à luz de Deus e dar um passo mais decisivo no casamento. Deus voltou a dar-lhe a esposa e os filhos e, juntos, decidiram abraçar com mais força a vida de família. Ser pai é, se neces-sário, ter a humildade de “pedir perdão e recomeçar”!

Quem sabe se não é oportunidade para acom-panhar, nem que seja à

distância, quem está mergulha-do no drama da doença, da soli-dão ou de outro género?

No dia 19 de março, a Igreja faz memória de S. José, espo-so da Virgem Maria e pai adotivo de

Jesus. É modelo de pai e de todos os pais! Dele, não se co-nhece qualquer palavra, pois os quatro Evangelhos não rela-tam qualquer diálogo. Homem silencioso, soube garantir a estabilidade necessária à mais extraordinária família sobre a terra. Viveu para que Maria de Nazaré e Jesus tivessem uma casa, um lar carinhoso, o con-forto e a proteção necessária.

Para fazer bela a família, mesmo no meio das ameaças de uma pandemia, como a que vivemos, não são precisas mui-tas palavras, basta que cada

uma seja rico em amor para o outro. “Não tenhas medo!”

ouviu José numa mensa-gem que vinha do “Alto”, no momento das dúvi-das existenciais que o assaltavam. Foi um pai fiel à voz de Deus e foi pai forte sempre que

teve de mudar de local para proteger a família.Que S. José ilumine to-

dos os pais num perío-do em que estarão mais tempo com os filhos. Que saibam inventar novas formas de conví-vio, de trabalho e de passatempo em família. Pro-vavelmente vão fazer coisas que nunca fizeram, ter conversas que não te-riam, orações

em família que nunca fariam, pro-jetos que juntos não sonhariam!Como sugere a

imagem que o Papa Francisco tem no

seu quarto, até a dor-mir, um pai como S.

José continua a velar! Confiemo-nos a ele, con-

fiemos os nossos filhos, famílias, amigos e este belo

mundo doente. Todos somos importantes! Podemos conta-

giar com o coronavírus ou tudo curar com o remédio mais

eficaz, o do amor.Muitos parabéns para todos os pais!

MENSAGEM PARA O DIA DO PAI - 19 DE MARÇO

Pais Cuidadores da Saúde e da VidaComissão Episcopal do Laicado e Família

“Há que dar todo o apoio aos grupos mais vul-neráveis, como os ido-

sos, evitando de todos os modos que eles tenham que se expor a riscos (fazendo compras por eles, por exemplo). Que um dos efeitos desta pandemia seja o reforço da consciência coletiva de que so-mos todos diferentes, que muitos são mais pobres e necessitados do amor do próximo, ou seja, ca-rentes de cada um de nós”, lem-

bra a Comissão Nacional Justiça e Paz em comunicado do dia 16 de março sobre o Covid-19, sob o tí-tulo “Uma pandemia, um desfio à solidariedade”.

A CNJP apela à solidariedade, temendo dois perigos que descor-tina no presente contexto: “uma pandemia faz correr o risco de ver no outro uma ameaça, al-guém que nos pode contaminar”; “também há o perigo do reforço da xenofobia, quando se enca-

ra o estrangeiro como potencial transmissor”. Ora, pelo contrá-rio, continua o texto, “só unidos poderemos superar o desafio”, pelo que “o combate à pandemia exige uma consciência mais apu-rada do bem comum”.

Por isso, considera aquela Co-missão que se impõe “superar uma mentalidade individualis-ta”. E acrescenta: “Não há que pensar apenas nos perigos que corro, que serão maiores ou menores, mas nos riscos que correm outros, as pessoas mais vulneráveis. Não há que pensar tanto na contaminação de que eu possa ser vítima, mas na con-taminação que eu, sem o saber, possa provocar noutros”.

COMISSÃO NACIONAL JUSTIÇA E PAZ

Muitos são mais pobres e necessitados do amor

Na tarde de 15 de março, entre as 16h e as 17h30, o Papa Francisco deixou

o Vaticano e deslocou-se a pé à Basílica de Santa Maria Maior e à Igreja de São Marcelo, em pere-grinação de oração particular, in-vocando “o fim da pandemia que assola a Itália e o mundo, im-plorando a cura para os muitos doentes, recordando as muitas vítimas destes dias, e pedindo a Deus para que os seus familiares e amigos encontrem consolo”. A informação é do gabinete de im-prensa da Santa Sé, cujo diretor, Matteo Bruni, acrescenta que o Papa rezou também pelos “agen-

tes de saúde, médicos, enfermei-ros e quantos nestes dias com o seu trabalho garantem o funcio-namento da sociedade”.

O ícone da Virgem Salus Po-puli Romani, custodiado e vene-rado na Basílica de Santa Maria Maior, é tido como libertador dos romanos de pestes e catástrofes. Já o famoso Cristo Milagroso, da igreja de São Marcelo, é tido como tendo salvo Roma da peste, em 1522. Os cronistas da época regis-tam que houve então uma procis-são penitencial a pedir a proteção de Deus, durante 16 dias, sendo que a peste parava nos lugares por onde a cruz tinha passado.

FRANCISCO EM SANTA MARIA MAIOR E SÃO MARCELO

Papa reza junto dos ícones dos defensores das pestes

19 DE MARÇO DE 2020

A ECONOMIA DE FRANCISCOAdiada a iniciativa do Papa que vai reunir jovens de 115 paísesNova data: 21 de novembro

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CORREIO DE COIMBRA

4 Grande Plano

CORREIO DE COIMBRAA renúncia quaresmal da diocese de Coimbra, este ano reverte, para o “Grupo Mateus 25”. Como poderia apresentar este grupo?

RUI AMADOÉ um grupo católico, de volun-tários que começaram por ser colaboradores do capelão do Estabelecimento Prisional de Coimbra. O Padre Branco em 1979 indicou ao Senhor Bispo o nome de alguns leigos e religiosos (por exemplo, as Irmãs Adorado-ras) para colaborarem com ele alargando, assim, a ação pasto-ral a partir da liturgia. O Grupo passou a desenvolver também diferentes projetos de solidarie-dade sendo a “visita solidária” o que mais caracteriza a nossa atividade. Quanto à composição do grupo: somos 18 voluntários, de ambos os sexos e, apesar, do grupo se designar de “católico”, tem pessoas de diferentes cren-ças ou mesmo sem elas cuja ida-de varia dos 23 aos 94 anos.

Quem pode ser voluntário?

CRISTINA NOVOÉ um voluntariado que pressu-põe um convite ou uma mani-festação de vontade sujeita a va-lidação pois implica um processo moroso e difícil de formação es-pecífica. Por vezes estamos mui-tos meses à espera do cartão para poder finalmente entrar no Esta-belecimento. É importante que o potencial voluntário reflita sobre a sua capacidade de aceitar o de-safio que lhe foi proposto porque a prisão não é um lugar para “ir lá experimentar, e depois ver…”.

RUI AMADOImporta referir também o papel das entidades promotoras. No caso do Grupo Mateus 25, a enti-dade promotora é a Cáritas Dio-cesana de Coimbra, que assegura o enquadramento institucional exigido e um seguro específico para a atividade do Grupo. A re-gular este tipo de voluntariado existem dois diplomas legais que

definem as obrigações e direitos dos voluntários e cujo conheci-mento é essencial. A formação é feita pelos elementos veteranos do Grupo e assenta numa parti-lha de experiencias. Os novos vo-luntários quando iniciam a ativi-dade dentro do estabelecimento prisional vão sempre acompa-nhados de um voluntario mais antigo. Conhecimento adquirido com voluntários experientes e combinado com regras de bom senso, é a fórmula seguida.

Qual a orgânica do Grupo?

RUI AMADOTemos um núcleo executivo com-posto de três pessoas que, em articulação com o assistente es-piritual, faz a planificação das ati-vidades, dinamiza novos projetos, promove a discussão alargada de todos os assuntos que justifiquem uma reflexão mais ponderada e reúne com a Direção do Estabele-cimento Prisional. Como a ativi-dade principal do grupo é a “visita

solidária”, e esta é resulta de um encontro semanal entre visitador e recluso, não se justifica haver muitas reuniões que envolvam todos os membros do Grupo, ain-da que apontemos para uma pe-riodicidade trimestral.

CRISTINA NOVOAlguns voluntários participam na missa dominical. De facto, o nosso ‘carisma fundamental’ tem duas vertentes: “visitar” e “acompanhar o capelão”. Rela-tivamente à segunda é impor-tante a participação nas cele-brações litúrgicas bem como a ida a todas as celas, incluindo as disciplinares, duas vezes por ano, no Natal e na Pás-coa. No Natal levamos uma lembrança simbólica que po-derá ser um par de meias, um pacote de bolachas, um sabo-nete, acompanhados de uma mensagem escrita; na Páscoa, com as tradicionais amêndoas anunciamos a Ressurreição do Senhor.São cerca de 550 pessoas, mui-tas das quais não têm nada; outras nunca receberam um sinal de afeto. Nesse contacto damo-nos a conhecer e mos-tramo-nos disponíveis para os visitar, para estabelecer laços com as famílias, com o mundo cá de fora...

Cristina Novo, Maria Eugénia Jardim e Rui Amado, em entrevista ao Correio de Coimbra, falam do voluntariado do Grupo Mateus 25 junto do Estabelecimento Prisional de Coimbra. Um grupo de voluntariado nascido em anos antigos em torno da capelania e que, sem perder essa ligação, assume agora como elemento central a visita e o apoio na saída, tendo como Entidade Promotora a Cáritas Diocesana de Coimbra.

DA PRISÃO À REINTEGRAÇÃO

Muitos presos nunca recebem um

sinal de afeto

“São cerca de 550 presos, muitos dos quais não têm nada; outros nunca receberam um sinal de afeto. Mostramo-nos disponíveis para os visitar, para estabelecer laços com as famílias, com o mundo cá de fora...

19 DE MARÇO DE 2020

“Gostaria de rezar hoje pelos pastores que devem acompanhar o povo de Deus nesta crise: que o Senhor lhes dê a força e a capacidade de

escolher os melhores meios para ajudar.”(Papa Francisco, Missa em Santa Marta, 13 de março)

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CORREIO DE COIMBRA

5Grupo Mateus 25MARIA EUGÉNIA JARDIMGostava de acrescentar ainda a forma como somos recebidos pelos reclusos. É um momento de uma grande vivência espiri-tual e humana, quando nós va-mos de cela em cela e lhes en-tregamos uma lembrança tão singela: o sorriso, as lágrimas, um abraço! Momentos impor-tantes para eles e para nós.

RUI AMADOMas importa sublinhar que existe uma diferença entre a as-sistência espiritual e o trabalho de voluntariado. Uma diferença legal, que nós respeitamos. A assistência espiritual é da res-ponsabilidade do Frei Paolo, e em Coimbra funciona segundo as diretrizes próprias do Estabe-lecimento Prisional. A visita so-lidária e os outros projetos que desenvolvemos são do âmbito do voluntariado e trabalhados nesse contexto.

Falaram em famílias. As famílias também são acompanhadas?

MARIA EUGÉNIA JARDIMAcaba por ser um processo na-tural. Cada voluntário visita um ou vários reclusos – chama-mos-lhe “visita solidária” – no mesmo dia, à mesma hora, du-rante muitos meses e anos. Por exemplo, um dos homens que visito, já o faço há cerca de doze anos. Ao longo deste tempo, cria-se uma ligação que se alar-ga naturalmente às famílias, o que é solicitado sobretudo pelos próprios visitados. Esse contato com a família concretiza-se em encontros, telefonemas, etc. E é um trabalho muito importante, porque, quando eles saem em liberdade condicional ou de li-cença precária, temos a família connosco....

O Grupo Mateus 25 apoia a reintegração das pessoas privadas de liberdade na sociedade?

MARIA EUGÉNIA JARDIMTemos, de facto, vários casos em que ajudámos as pessoas a refa-zer a sua vida, a reintegrarem-se nas famílias ou a constituírem a sua própria, a encontrar traba-lho. Estamos muito atentos, so-bretudo a partir da ligação mais estreita de cada visitador com a pessoa visitada. É um trabalho de retaguarda, que às vezes se pro-longa por muito tempo... porque alguns já não têm famílias ou as famílias não têm condições fi-nanceiras ou não os aceitam.

CRISTINA NOVOTemos casos de pessoas que nas saídas precárias ou em liberdade condicional não têm nem para onde ir nem recursos para fazer face às necessidades diárias, dor-mida, alimentação, transportes e até renovação de documentos que entretanto caducaram. Estas despesas são muitas vezes supor-tadas pelo voluntário.

RUI AMADOÉ evidente que há situações mui-to diferentes. Mas o número de reclusos sem resposta familiar ou institucional é relativamente elevado. Mesmo com as respos-tas dos Serviços – alojamento à saída, encaminhamento para cursos profissionais, acesso ao rendimento social de inserção – há quem fique desamparado, por várias razões, por exemplo, por falta de um fiador exigido para arrendar um quarto. Nós, se conhecemos essa pessoa e temos alguma confiança, po-demos nalguns casos assumir essa responsabilidade; também podemos recomendar um ex--recluso a um empregador…

MARIA EUGÉNIA JARDIMHá uma dimensão do nosso apoio, que designamos por “serviço do coração”, e que é estarmos à porta do EPC - normalmente dois ele-mentos do Grupo – para recebê--los quando saem. E é curioso que às vezes estamos quase a apoiá--los no passeio, porque perderam a capacidade de andar na rua. Ba-lançam, quase que tropeçam…E o desejo mais imediato de tomar um ‘bom’ pequeno almoço - 4 ou 5 bolas-de-berlim - porque foi o sonho que acalentaram durante mais de dez anos...

Como é o dia-a-dia de um recluso?

RUI AMADODepende muito dos próprios re-clusos, desde aqueles que conse-guem estruturar horários, desen-volver atividades programadas, trabalhar, instruir-se, cuidar-se…aos que ficam a vegetar na cela.

CRISTINA NOVOMas há pouco trabalho para eles fazerem sendo cada vez maior o número de reclusos que querem trabalhar apesar da remuneração

ser irrisória. Há algumas empre-sas que pagam um pouco melhor, mas são muito poucos os casos.

RUI AMADOAlgum desse trabalho entra na ló-gica da formação profissional mas mesmo esse abrange muito pou-cas pessoas. Não há uma política consistente de ocupar os reclusos com trabalho remunerado e útil. E isso é uma falha incompreensível do próprio sistema prisional que tem como consequência tornar mais difícil o próprio processo de reinserção social do recluso.

Mas há casos de ‘reabilitação’?...

RUI AMADOClaro que sim! Há gente que entrou para lá, pouco mais que analfabeta e dependente de estupefacientes, e muitos deles, lá dentro, retoma-ram os estudos, numa lógica de aprenderem, de aumentar as suas habilitações escolares e de adquirir competências. Dentro dos 18 volun-tários do Grupo, há vários professo-res aposentados, que têm também dado a sua ajuda neste aspeto. E há muitas outras situações. Quem tem uma pena de prisão para cum-prir, de 18, 20 ou 22 anos, tem mui-to tempo: pode desperdiçá-lo, mas também pode aproveitá-lo para en-trar no ensino superior, licenciar--se e sair com mais recursos...

MARIA EUGÉNIA JARDIMEstamos a falar de casos reais, e que são também, um pouco, fruto da ajuda dos voluntários à própria reconstrução da autoestima, que muitas vezes, no início, está com-pletamente destruída. É muito importante ajudá-los a reconhe-cerem a sua dignidade humana, o direito que têm a essa dignidade porque, a partir daqui, e à medida que vão ganhando confiança ne-les próprios, redescobrem-se.

CRISTINA NOVOE, depois, passam eles próprios a ajudar outros tornando-se agen-tes de transformação.

MARIA EUGÉNIA JARDIMVale a pena lembrar que, para além da “visita solidária”, temos outros projetos, como o bridge na prisão, a meditação, projetos de história, poesia e arte, que desen-volvemos em conjunto, exatamen-te com este objetivo de recuperar a sua autoestima e dignidade.

Percebemos que é um trabalho articulado com os Técnicos Superiores de Educação.

CRISTINA NOVORecordo-me que, há muitos anos, o nosso trabalho não era bem entendido pelos elementos que compõem a orgânica do Estabe-lecimento Prisional. Hoje, a si-tuação alterou-se porque o cami-nho faz-se caminhando. Contam connosco e percebem que a nos-sa atividade é benéfica para os reclusos com proveito evidente em termos das atitudes, contri-buindo assim para um ambiente interno mais desanuviado.

MARIA EUGÉNIA JARDIME tem havido nos últimos anos uma interação constante entre os Técnicos Superiores de Edu-cação e os voluntários. Temos todos o mesmo e único objetivo: reinserção humana, mais nada!

RUI AMADOJá agora, noutra perspetiva, gos-taria de dizer que acabamos por ser também o rosto da Pastoral Penitenciária da Diocese. A Cá-ritas, ao facultar a cada um dos 550 reclusos uma lembrança, pelo Natal, e um pacote de amên-doas, pela Páscoa, e a mensagem de esperança e comunhão que os acompanha, escrita pelo nosso capelão, dá esse cunho eclesial. Já houve um abraço humano à volta da prisão promovido por movimentos católicos da dioce-se... A celebração de uma missa na capela da prisão pelo Bispo de Coimbra, no Natal ou na Páscoa - algo iniciado por D. Albino Cleto, e que então levantou reservas - é hoje uma prática seguida por D. Vergílio Antunes que gera uma profunda alegria nos reclusos.

A esse propósito de “rosto diocesano”, como vai ser canalizado o dinheiro da renúncia quaresmal?

CRISTINA NOVOTemos alguns projetos em cur-so. Por exemplo, o projeto “Bem para ser, para bem parecer”, que visa oferecer roupa, calçado e, pontualmente, próteses dentá-rias ou óculos. Muitos dos re-clusos não têm nada e precisam de comprar artigos de higiene pessoal, sabão para lavar a rou-pa, café, cartões telefónicos para ligar à família, etc. As principais necessidades são roupa e calça-do, nomeadamente sapatilhas.Quando saem da prisão para regressar a casa, necessitam, como já acima referimos, de di-nheiro para transportes, dormi-da e refeições pois, por vezes não têm apoio familiar.

MARIA EUGÉNIA JARDIME também é necessário muito material para os projetos que rea-

lizamos de poesia, arte, literatura: telas, tintas, pincéis e outros. Até agora foram os voluntários que tiveram que pagar todo o mate-rial dispensado, e não foi pouco quanto isso. Depois, quando saem em liberdade condicional ou li-berdade total, nós continuamos a apoiá-los financeiramente com recursos próprios.

Para além da renúncia quaresmal, que outros sinais têm do ‘carinho’ da Diocese para com o vosso trabalho?

RUI AMADOO nosso Bispo tem mostrado sensibilidade para a questão pri-sional, e sempre que é convida-do para se deslocar ao Estabele-cimento, aceita sem hesitar. Em termos de maior sensibilização, a primeira grande iniciativa foi a decisão sobre a renúncia desta quaresma. Ficou patente: existe este grupo. Vamos ajudar! Va-mos apoiar! E ainda hoje mes-mo estivemos (eu e o Frei Pao-lo) num interessante encontro com “os padres novos” (aqueles que têm menos de dez anos de ordenação”) e alguns sentiram a existência deste grupo como desafio também para a pastoral das suas comunidades.

E que resposta é que vocês lhes deram?

RUI AMADOUma coisa que as paróquias podem fazer é a sensibilização para a realidade prisional, por exemplo na preparação para o Crisma, na catequese de adul-tos, em encontros de oração, podendo contar com a nossa própria presença. Importa sen-sibilizar para que a prisão não seja olhada como um depósito de criminosos, mas como um lugar em que vivem pessoas. Outra coisa, pode ser o lança-mento de campanhas espe-cíficas de ajuda material, por exemplo “Vamos dar vinte pa-res de sapatilhas aos reclusos”. Uma terceira coisa é a inclusão de uma oração pelos reclusos na oração familiar e litúrgica.

CRISTINA NOVO As paróquias também podem colaborar apoiando a reinser-ção dos reclusos e suas famí-lias. Neste âmbito poderia haver uma colaboração com as Confe-rências Vicentinas.

MARIA EUGÉNIA JARDIME tem de haver todo um traba-lho de sensibilização da socie-dade, não só da Diocese, mas de outros organismos, para preve-nir comportamentos que levam à permanência durante anos dentro de um estabelecimento prisional. Há todo um trabalho de prevenção que não está a ser feito. Neste sentido, vamos ten-tar sensibilizar a comunidade escolar. Tínhamos agendada uma primeira ação numa Es-cola Secundária, mas tivemos de adiá-la por causa da situação pandémica que estamos a viver.

“Temos casos de pessoas que nas saídas precárias ou em liberdade condicional não têm nem para onde ir nem recursos para fazer face às necessidades diárias, dormida, alimentação, transportes e até renovação de documentos que entretanto caducaram. Estas despesas são muitas vezes suportadas pelo voluntário.

“Para além da “visita solidária”, temos outros projetos, como o bridge na prisão, a meditação, projetos de história, poesia e arte, que desenvolvemos em conjunto, exatamente com este objetivo de recuperar a sua autoestima e dignidade.

19 DE MARÇO DE 2020

“Hoje gostaria de pedir uma oração especial pelas famílias, para que não percam a paz neste momento e prossigam a sua vida familiar com fortaleza e alegria”.(Papa Francisco, Missa em Santa Marta, 14 de março)

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CORREIO DE COIMBRA

6 Liturgia

Estamos em plena Qua-resma, fazendo a subida para a Páscoa... Esta Qua-

resma de 2020, é muito especial! Porquê? É a que estamos a vi-ver!... nada de novo!...

Quantas vezes temos ouvido diariamente: “estou...” “estão...” “estaremos..” de quarentena?! Como sabemos, apesar de o número ‘40’ estar muito rela-cionado com a Quaresma, não é este o motivo das expressões anteriores, mas sim o novo co-ronavírus, que causa a doença COVID-19, um ‘bichinho’ tão, tão minúsculo, que não somos ca-pazes de observar, como tantos outros e tantas outras realida-des, no entanto não deixa de nos estar a afetar muitíssimo...

Nós que temos o imenso pri-vilégio de sermos pessoas de fé, precisamos de olhar para esta realidade com os ‘olhos’ que a fé nos dá, ou seja, não podemos olhar com angústia, ansiedade, medo... Como nos diz o nosso Bispo, no comunicado que en-viou à Diocese, temos de ser res-

ponsáveis, cheios de esperança e confiança em Deus que não fa-lha nem nos abandona.

É oportuno parar e perguntar--me: como estou atento e que valor dou às coisas pequenas, simples e tantas vezes invisíveis que me acontecem no dia a dia? Tomo consciência de que a mi-nha vida é dom de Deus? Como e quando Lhe agradeço os dons com que me agracia?

A Deus também não O vemos, mas se paramos a olhar interior-mente sentimos constantemen-te a Sua ação em nosso favor.

Que cada um de nós veja se está a fazer tudo o que está ao seu alcance para evitar a pro-pagação do COVID-19... Não nos poupemos a esforços para com a pequena colaboração que possa-mos dar: animar, agradecer... a todos os que no terreno estão a dar o seu melhor para combater este flagelo.

Nesta Quaresma ainda volta-remos a este assunto...

Desafio que, unidos aos Bis-pos da Europa, rezemos ao lon-

go destes dias a oração que nos oferecem:

Deus Pai, Criador do mun-do, omnipotente e mise-ricordioso, que por nosso

amor enviaste o Teu Filho Jesus Cristo ao mundo como médico das pessoas, olha para os Teus filhos que neste momento difícil de desorientação e consternação em muitas regiões da Europa e do mundo se voltam para Ti em busca de força, salvação e alívio.

Livra-nos da doença e do medo, cura os nossos doentes, conforta os seus familiares, dá sabedoria aos nossos governantes, ener-gia e recompensa aos médicos, enfermeiros e voluntários, vida eterna aos defuntos.

Não nos abandones neste mo-mento de provação, mas livra--nos de todo o mal.

Tudo isto Te pedimos, ó Pai, que, com o Filho e o Espírito San-to, vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amén.

Santa Maria, Mãe da saúde e da esperança, roga por nós.

Este Evangelho apresenta--nos a dura realidade da morte e a alegria extraor-

dinária da Ressurreição que Je-sus nos vem oferecer.

Encontramos três irmãos, Marta, Maria e Lázaro. Amigos de Jesus. Uma comunidade de irmãos que acolhem Jesus e ce-lebram com Ele o Dom da vida e da amizade. Como é belo con-templar este quadro de fraterni-dade e de união com a ternura de um amor verdadeiro que vem de Deus. Esta comunidade de ir-mãos em Cristo pretende repre-sentar a Igreja. Os nossos laços de fraternidade em Cristo são tão fortes que estamos juntos na alegria e na tristeza.

Jesus comove-se profunda-mente com a morte do seu ami-go Lázaro. A realidade da morte entra aqui tão profundamente que encontra esta comoção inte-rior de Jesus que é a Sua Miseri-córdia infinita.

Jesus vai ao encontro desta realidade. Marta e Maria profes-sam a sua fé em Jesus Messias, Senhor da Vida e todo-poderoso no Seu Amor. Jesus apresenta--se vencedor da morte, omnipo-tente, Senhor e dador de Vida.

A morte física é uma realidade inevitável na nossa condição fi-nita de criaturas. É consequência

da nossa fragilidade de sermos criados, mas é também a nossa passagem para a Vida em Deus. Podemos dizer que a nossa morte unida à morte de Cristo na Cruz

é a nossa Pás-coa para a Vida Eterna.

Lázaro apenas tinha o seu corpo no sepulcro pois o seu ser partici-pa na vida de Cristo. Esta é a men-sagem de Jesus dada a Marta e a Maria. Elas acreditaram. A nossa realidade física e material de um corpo fica na morte, sem vida. Em Cristo Ressuscitado adquiriremos um corpo Espiritual Glorioso se-melhante ao Corpo ressuscitado de Cristo. É esse corpo transfor-mado pelo Espírito Santo que dará forma à nossa alma que participa no ser de Deus para sempre. A ac-ção de Jesus em favor de Lázaro pretende transmitir a mensagem de que Jesus na Cruz dará vida e ressuscitará todos aqueles que nele acreditarem.

Somos convidados a viver nesta esperança. Santificamos a nossa vida terrena em Cristo presente nos Sacramentos que celebramos e recebemos na nos-sa comunidade de irmãos que se reúnem. O mundo necessita desta esperança, pois vive cen-trado somente nesta dimensão terrena, frágil e finita. Ter o co-ração nesta esperança maior dá sentido pleno à nossa existência.

Jesus continua a fazer a mes-ma pergunta que fez a Marta: “Acreditas nisto?” Que sejamos capazes de dar-lhe a mesma resposta sincera de Marta: “Sim acredito que tu és o Messias…”

ESPIRITUALIDADE

Coisas pequenas, invisíveis...Fernando Pascoal

NEM SÓ DE PÃO | COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

O mundo necessita da esperança que Jesus dáFernando Carvalho

LEITURA DA PROFECIA DE EZEQUIEL Ez 37, 12-14Assim fala o Senhor Deus: «Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar, ó meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel. Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e deles vos fizer ressuscitar, ó meu povo. Infundi-rei em vós o meu espírito e revivereis. Hei de fixar-vos na vossa terra e reconhecereis que Eu, o Senhor, digo e faço».

LEITURA DA EPÍSTOLA AOS ROMANOS Rom 8, 8-11Irmãos: [...] Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO Jo 11, 3-7. 17. 20-27. 33b-45Naquele tempo, as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus: «Se-nhor, o teu amigo está doente». Ouvindo isto, Jesus disse: «Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem». Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro. Entretanto, depois de ouvir dizer que ele es-tava doente, ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava. De-pois disse aos discípulos: «Vamos de novo para a Judeia». Ao chegar lá, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias. Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: «Se-nhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ain-da que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?». Disse-Lhe Marta: «Acredi-to, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo». Jesus comoveu-Se profundamente e perturbou-Se. De-pois perguntou: «Onde o pu sestes?». Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor». E Jesus chorou. Diziam então os judeus: «Vede como era seu amigo». Mas alguns deles observaram: «Então Ele, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito que este homem não morresse?». Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo. Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada. Disse Je-sus: «Tirai a pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias». Disse Jesus: «Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?». Tiraram en-tão a pedra. Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste». Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora». O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Disse-lhes Jesus: «Desligai-o e deixai-o ir». Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria, ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.

ENTRADASalvai-nos, Senhor, nosso Deus | CEC I 23

Sede a rocha do meu refúgio | CEC I 33Por Vossa imensa bondade | CEC I 41

APRESENTAÇÃO DOS DONSJesus, nossa Redenção | NCT 567

Cremos em Vós, ó Deus | NCT 692Um novo cração me dá, Senhor | XVII ENPL

COMUNHÃOPai, pequei contra o Céu e contra Ti | NCT 499

Alegremo-nos porque o nosso irmão | CEC I 92Vinde a Mim vós todos | CEC II 74

PÓS-COMUNHÃOSenhor, quanta alegria é encontrar-te | NCT 744

Saciaste o Vosso povo | CEC II 90Quando Te encontro | CEC II 221

É preciso renascer | CT 306 SUGE

STÃO

DE

CÂN

TICO

SDOMINGO V DA QUARESMA

29 de março de 2020

19 DE MARÇO DE 2020

CONGRESSO EUCARÍSTICO INTERNACIONALUma grande reflexão sobre a Eucaristia, sob o

tema “Todas as minhas fontes estão em Ti”, em Budapeste, de 10 a 20 de setembro de 2020.

Inscrições em: www.liturgia.pt

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CORREIO DE COIMBRA

7Opinião

A13 de Março comple-taram-se sete anos do pontificado de Francis-

co. Na noite da sua primeira bênção ‘à cidade e ao mundo’, o novo papa apresentou-se re-vestido da batina branca, mas sem a murça vermelha debrua-da a arminho nem a rica esto-la bordada; saudou a multidão com um familiar ‘boa noite’; pediu a todos que rezassem por ele – como se quisesse ser abençoado antes de abençoar – e proferiu, em seguida as pa-lavras da bênção. Recolheu-se a Santa Marta, a sua residên-cia durante o conclave, a casa onde, a partir de então, celebra regularmente a missa matinal, toma as suas refeições e repou-sa. O gesto simbólico de ‘aban-donar’ o palácio barroco, mora-da habitual do ‘sumo pontífice’ – que Francisco justifica com a necessidade de não se sentir isolado – tem o alcance de uma

atitude profética. Para Marcello Neri, trata-se da percepção his-tórica – e incómoda – “do fim de alguns processos seculares e do início de outros que trazem consigo transformações pro-fundas da sociedade humana e da antropologia [da época] moderna”. A modernidade – abrangendo um arco temporal que vai do século XVI ao XIX – caracterizou-se pela europei-zação do mundo e forneceu o contexto que possibilitou ao “catolicismo latino (aquele que se propagou por todo o orbe) construir um aparato concei-tual, institucional canónico e pastoral que podia formal-mente furtar-se ao confronto directo com as Escrituras tes-temunhais […] A decisão de Francisco é esta exactamente: apoiar a saída da Igreja Católi-ca da luta contra os moinhos de vento da modernidade, reacti-vando, no coração institucional

da Igreja, a dinâmica original da notícia evangélica de Deus”. O que implica, comenta Andrea Grillo, a “reescrita” da tradição, “uma tradição que renuncia a alguns dos ‘clichés’ moder-nos, que depois de Trento se ti-nham imposto a tal ponto que se identificaram com a própria essência da fé”. Esta reescrita da tradição – ou a sua leitura dinâmica – vai contra a ideia de que “a Igreja só podia encon-trar a tradição no seu passado, despojando-se de toda a autori-dade sobre o novo […] A resis-tência e a oposição a Francisco durante estes sete anos pode ser entendida como a inércia de uma visão eclesial na qual o “controlo do espaço” exclui a relevância do tempo e na qual a “defesa da ideia” imuniza da realidade. Ter dado novas pro-vas aos “sinais dos tempos” e à “força do real” no anúncio do Evangelho é a primeira fi-

gura de qualificação no exercí-cio do Magistério nos últimos sete anos”. A ‘forma magis-terial’, de negativa (condenar proposições erróneas, embo-ra deixando um amplo campo de liberdade quanto ao resto) tornou-se prevalentemente po-sitiva (afirmar o verdadeiro) com os dois concílios do Vati-cano: e a partir do segundo deu origem a uma quase exclusivi-dade da autoridade pontifícia. Francisco assume um magisté-rio positivo, interpretado com nova liberdade, mas também o negativo, não já no sentido da condenação ou da ausên-cia de autoridade, mas como atenção a outras autoridades (o que é evidente em Amoris Lae-titia ou Querida Amazónia). 16 de Dezembro de 2015: uma se-nhora, de confissão cristã não católica, pergunta a Francisco se pode acompanhar o marido, católico, na comunhão. Fran-cisco explica: um só Senhor, uma só fé, um só baptismo. E interroga-se: a eucaristia é pré-mio para os justos ou viático da nossa fraqueza? Para concluir: esta é uma questão para os teó-logos. Não é da minha compe-tência. Não ouso permitir-lhe o

que pede. É o convite ao discer-nimento, à procura. Tal como em Querida Amazónia. Quan-do se pensava numa decisão sobre a ordenação sacerdotal de viri probati (homens com provas dadas), sem a exigência do celibato, Francisco chama a atenção para o essencial: “o modo de configurar a vida e o exercício do ministério dos sacerdotes não é monolítico, adquirindo matizes diferentes nos vários lugares da terra […] Nas circunstâncias específicas da Amazónia, especialmen-te nas suas florestas e lugares mais remotos, é preciso encon-trar um modo para assegurar este ministério sacerdotal […] …é oportuno rever a fundo a estrutura e o conteúdo tanto da formação inicial como da for-mação permanente dos pres-bíteros, de modo que adqui-ram as atitudes e capacidades necessárias para dialogar com as culturas amazónicas. Esta formação deve ser eminente-mente pastoral e favorecer o crescimento da misericórdia sacerdotal”. Para Francisco, a misericórdia é uma categoria fundamental, um dos nomes de Deus.

1Os fortes indícios de abuso de poder e violação do dever de exclusividade que levaram à

instauração, por parte do Conse-lho Superior, de processos disci-plinares a três juízes desembar-gadores do Tribunal da Relação de Lisboa – e parece que o quadro não fica por aqui –, é uma vergonha para a magistratura portuguesa. Mas é ainda, sobremaneira, uma vitória para a democracia e para o Estado de direito que, também assim, nos funda.

2Oliveira e Costa, antigo pre-sidente do BPN (ao contrá-rio de tantos outros ban-

cários e políticos a aguardarem o desenrolar de megaprocessos, ali-mentados por fundos infindáveis, que continuam sem julgamento à vista), entretanto condenado a quinze anos de prisão por falsi-ficação de documentos, fraude fiscal, burla, branqueamento de capitais e abuso de confiança, morreu sem cumprir a pena. A fazer recordar a intervenção do Presidente da República quando, na recente abertura no ano judi-cial, tinha apelado a uma maior rapidez dos casos, para se evitar que “a justiça humana seja tão lenta, tão lenta” que possa “om-brear com a justiça divina”.

3Ditado pelo natural re-ceio de contágio, seguin-do ainda recomendações

dos responsáveis políticos e da

saúde (todos temos de ser ab-solutamente exemplares), dei-xámos de nos cumprimentar com um beijo, aperto de mão ou abraço, para passarmos a fazê--lo, agora delicadamente, com cordiais toques de cotovelo ou de pé. Acho bem. Enquanto con-tribuímos para o indispensável estancar do novo coronavírus, sem darmos largas à expressão de crescente egoísmo, exacerba-do individualismo...que trata os outros à cotovelada e a pontapé. Tenhamos esperança de que a situação extrema nos leve a me-lhores amanhãs.

4Aquando da questão do internamento hospitalar, no Japão, de um cida-

dão português que integrava a tripulação do navio de cruzei-ro Diamond Princess, a quem fora diagnosticado o novo coro-navírus, Santos Silva disse-se agradecido aos nipónicos, por igual, referindo-se aos quadros do ministério dos Negócios Es-trangeiros, e cito, “aos meus funcionários”. E eu a pensar que os serviços do Palácio das Ne-cessidades eram do país, não do cidadão que seja – melhor diria esteja – titular da pasta. Tiques de socialista...

5Fui criado no respei-to pelos animais que sempre nos rodearam.

Pelo que não admito, sequer, a

existência de maus tratos que, sabe-se, lhes continuamos a in-fligir. Contudo, alguma tendên-cia política atual de legislativa para um radical agravamento de sanções, por exemplo, para quem matar (uma pena de três anos de prisão, a mesma, ini-maginável, para o homicídio por negligência, como sublinhava Isabel Moreira) cão ou gato, pa-rece absolutamente excessiva. Sobretudo quando atribuímos a tantos portugueses pensões de miséria com as quais não se so-brevive de forma minimamente digna, não será antes tempo de os senhores deputados se preo-cuparem, primeiro – e tanto tra-balho há a fazer – com os seus concidadãos? Depois, quando já não houver razões para preocu-pações em relação ao homem, cuidem lá, talvez até com “fun-damentalismos insustentáveis”, afetuosamente mesmo, do bem--estar dos animais.

6Num tempo já com tan-tas, tão diversas e pro-fundas dificuldades po-

líticas, económicas e sociais internas, quando a Turquia abre as suas fronteiras com a Grécia para deixar passar milhares de cidadãos sírios que fogem aos horrores no seu país, provocan-do novas vagas de emigrantes (um “novo desastre humanitá-rio”, chamam-lhe os Médicos Sem Fronteiras), a Europa vê-se

confrontada com a atitude de Donald Trump que, na prosse-cução da sua abjeta adminis-tração para “ tornar a América de novo grande”, proíbe os voos com origem no Velho Continen-te (exceção feita para a Ingla-terra do seu amigo e comparsa Boris Johnson, mas entretanto anulada) a título da proteção contra o Covid 19. De facto, com aliados assim, para que precisa-mos nós de inimigos...

7Depois da super terça--feira, e dos últimos re-sultados nas primárias

dos Estados Unidos, o mode-rado Joe Biden, que aparente-mente iniciou a corrida para as presidenciais numa posição de derrotado, surge agora, tam-bém apoiado por um crescente número de outros candidatos, como o previsível nomeado pelo partido democrata para defron-tar, nas próximas eleições de no-vembro, o todo poderoso Trump, que os republicanos vão tentar reconduzir. E sobre os ombros do mais temido dos possíveis adversários do presente líder – não nos esqueçamos da origem do processo de impeachment que a maioria conservadora do Senado americano anulou, não pelos valores da justiça mas dos interesses partidários – repou-sam agora todas as esperanças do mundo, notoriamente can-sado dos desconchavos políticos do atual morador da influente Casa Branca.

8A situação política na Guiné-Bissau, sobremo-do por questões religio-

sas, étnicas e tribais, mantém-

-se absolutamente confusa depois das últimas eleições, com os dois candidatos mais vota-dos a dizerem-se vencedores, a serem simbolicamente empos-sados, a litigar nas instâncias escrutinadoras, a acusarem-se de ilegalidades, sei lá que mais. Tudo enquanto Umaro Embaló, autoproclamado presidente, ga-rantia não ter havido um golpe de estado no país. E talvez não. Porque – lamentavelmente para aquele povo que “sofreu muito e continua a sofrer” –, simples-mente, ali, não há Estado. E lembrarmo-nos nós, tamanha contradição, de que ainda há pouco, na respeitável BBC, um painel de historiadores coloca-va Amílcar Cabral, ideólogo da independência guineense, ao lado de Churchill ou de Lincoln, na lista dos 20 maiores líderes mundiais de todos os tempos...

9No Iraque, na Síria, tam-bém na Terra Santa, os cristãos, minoritários,

afetados pela instabilidade e o islamismo radical, estão a aban-donar o Médio Oriente. Dos cerca de 1,5 milhões em 2003, só res-tam, em terras iraquianas, não mais de 300 mil, enquanto pros-segue, leio ainda no Figaro, com origem em Bethléem ou Alep, uma inexorável emigração para a América do Sul, Estados Uni-dos, Canadá ou Austrália. Num século, os cristãos passaram, ali, de 20% da população para uns residuais dois ou três por cento. Entretanto, por cá, quan-tos de nós nos damos conta de tão importantes fluxos, sobretu-do das causas – as perseguições, resumamos – que os motivam?

Aqui e AlémCabral de Oliveira

NÃO ESTAMOS SÓS

Os sete anos de FranciscoFernando Taveira da Fonseca

19 DE MARÇO DE 2020

ADORAÇÃO EUCARÍSTICA NA IGREJA DE SÃO TIAGOUma hora semanal de adoração ao Santíssimo, tendo em intenção as vocações de consagraçãoMais informações junto de M. Teresa, 965751235

Page 8: 19 DE AÇO DE 22€¦ · - celebração dos sacramentos do Batismo e do Matrimónio a seja realizada essencialmente com a família; – celebrações penitenciais comunitárias do

CORREIO DE COIMBRA

Última

Estamos a viver dias de grande preocupação e crescente ansiedade, dias

em que a fragilidade humana e a vulnerabilidade da técni-ca, presumida como segura, são postas em causa em todo o mundo pelo Coronavírus (CO-VID-19), diante do qual estão a ceder todas as atividades mais importantes, como a economia, o empreendedorismo, o traba-lho, viagens, turismo, desporto e até o culto, e o contágio limi-ta significativamente a liber-dade de espaço e movimento. O Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano In-tegral une-se à voz do Santo Pa-dre, renovando a proximidade da Igreja, através da pastoral da saúde, a todos os que sofrem com o contágio do COVID-19, às vítimas e a suas famílias, bem como a todos os trabalhadores da saúde, envolvidos na linha da frente, que estão a dar o seu melhor no tratamento das pes-soas afetadas e a proporcionar--lhes o alívio possível.

Tendo no pensamento parti-cularmente os países mais afe-tados pelo contágio, unimo-nos a eles, tendo presente na nossa oração o trabalho das autorida-des civis, dos voluntários e das pessoas empenhadas em impe-dir o contágio, minorando o ris-co para a saúde pública e o medo desenfreado que a epidemia está a alimentar. Encorajamos tam-bém as estruturas e organiza-ções nacionais e internacionais de saúde, civis e católicas, a continuarem a dar a assistência necessária às pessoas e popula-ções, de maneira sinérgica, e a implementar todos os esforços necessários para encontrar uma solução para a nova epidemia, de acordo com indicações da OMS e das autoridades políticas nacionais e locais.

Na atual circunstância, o Santo Padre e vários chefes de Estado mostraram a sua solida-riedade com os países mais afe-tados, doando produtos médico--sanitários e ajuda financeira. Esperamos que todos possam continuar a dar este apoio, uma vez que, diante de uma emer-gência como esta, muitas na-ções, sobretudo aquelas com sistemas de saúde mais débeis, poderão vir a sentir-se sobrecar-regadas pelos efeitos do vírus e incapazes de responder às ne-cessidades de cuidado e proxi-midade com as suas populações. Que este momento de grande necessidade possa ser - assim o desejamos – um tempo propício para fortalecer a solidariedade e proximidade entre os Estados e a amizade entre as pessoas. Este é a altura de promover a solidarie-dade internacional, partilhando ferramentas e recursos.

Na verdade, esta incidên-cia do vírus, como qual-quer outra situação de

emergência, põe em evidência as profundas desigualdades que caraterizam os nossos sistemas socioeconómicos. Desigualdades patentes nos recursos económi-cos, na prestação dos serviços de saúde, na qualificação das pessoas e na pesquisa científica. Diante destas desigualdades, a família humana é desafiada a sentir e viver verdadeiramente como uma família interconecta-da e interdependente. A incidên-cia de coronavírus demonstrou essa relevância global, atin-gindo inicialmente apenas um país, mas difundindo-se logo de seguida por todo o mundo.

Para cada pessoa humana, crente ou não, este é um mo-mento oportuno para entender o valor da fraternidade, do estar ligado um ao outro de maneira

indissolúvel; um tempo em que, no horizonte da fé, o valor da so-lidariedade, que flui do amor que se sacrifica pelos outros, “nos ajuda a ver o «outro» — pessoa, povo ou nação — não como um instrumento qualquer […], mas como um nosso «semelhante», um «auxílio» (cf. Gén 2, 18. 20), que se há de tornar participante,

como nós, no banquete da vida, para o qual todos os homens são igualmente convidados por Deus “(SRS 39.5). O valor da solida-riedade também precisa de ser incorporado. Estamos a pensar no vizinho, no colega do escri-tório, no amigo da escola, mas, acima de tudo, nos médicos e enfermeiros que correm o risco de contaminação e infeção para salvar os infetados. Esses profis-sionais vivem e mostram-nos o significado do mistério da Pás-coa: doação de si e serviço.

Já o Papa Francisco, na sua Mensagem para a Quaresma de 2020, nos exorta a contem-plar com um coração renovado o mistério da Páscoa, o misté-rio da morte e ressurreição de Jesus, e a acolher livre e gene-rosamente a sua entrega: o seu sofrimento até à morte como um presente do amor de Deus pela humanidade. O abraço de sofrimento de Jesus, diz-nos o Papa Francisco, torna-se abraço de todo o sofrimento do mundo, incluindo o de todos aqueles que são afetados pelo COVID-19. Eles são hoje a expressão de Cristo que sofre e, tal como na parábo-la do bom samaritano, precisam de gestos concretos de proximi-dade por parte da humanidade. As pessoas que sofrem, seja por contágio seja por qualquer outra razão, constituem um “laborató-rio da misericórdia”; de facto, a natureza multifacetada do sofri-mento requer diferentes formas de misericórdia e cuidado.

Neste tempo da Quares-ma, para muitos privado de sinais litúrgicos co-

munitários, como a celebração da Eucaristia, somos chamados a uma vivência ainda mais en-raizada naquilo que alimenta a vida espiritual: oração, jejum e caridade. O esforço para conter a disseminação do coronavírus tem de ser acompanhado pelo compromisso de cada um dos fiéis, por si mesmo, por um bem maior: a reconquista da vida, a derrota do medo, o triunfo da esperança. Às comunidades mais afetadas, recomendamos não ver em tudo uma privação. Se não pudermos reunir-nos nas nossas assembleias para viver juntos a fé, como costumamos fazer, Deus continua a oferecer--nos a possibilidade de nos enri-quecermos por nós mesmos, de descobrir novos paradigmas e de encontrar novos caminhos de relação pessoal com Ele. Jesus

lembra-nos: “Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais se-creto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há de recompensar-te” (Mt 6,6). Quantas vezes o Papa Francisco nos convidou a man-ter as Escrituras à mão! A oração é a nossa força, a oração é o nos-so recurso. Aqui está o momen-to favorável para redescobrir a paternidade de Deus e o facto de sermos filhos: “Imploramos em nome de Cristo: reconciliai--vos com Deus” (2 Cor 5:20), diz São Paulo, e é a Mensagem que o Papa Francisco nos deu para a Quaresma deste ano. Que providência!

Portanto, oremos a Deus Pai para aumentar a nossa fé, aju-dar os doentes na cura e apoiar os profissionais de saúde na sua missão. Vamos esforçar-nos para evitar o estigma das pes-soas afetadas: a doença não co-nhece fronteiras ou cor da pele; em vez disso, ela fala a mesma língua. Cultivemos a “sabedoria do coração”, que é uma “atitude inspirada pelo Espírito Santo” naqueles que sabem como se abrir ao sofrimento dos seus ir-mãos e reconhecer neles a ima-gem de Deus. Assim, poderemos afirmar, como Job, que “eu era a vista para o cego, eu era o pé para os coxos” (Jó 29.15). Desta forma, poderemos servir os que sofrem, acompanhá-los da melhor ma-neira e ser solidários com os ne-cessitados sem os julgar.

Pedimos às autoridades políticas e económicas que não negligenciem a

justiça social e o apoio à eco-nomia e à pesquisa, agora que o vírus está a criar, infelizmen-te, uma nova “crise económi-ca”. Continuaremos a apoiar de todas as maneiras possíveis os esforços dos profissionais de saúde e das estruturas médico--sanitárias nas diferentes par-tes do mundo, especialmente naquelas mais remotas e difí-ceis, confiando também na so-lidariedade ativa de todos.

Pedimos ao Espírito Santo que ilumine os esforços de cientis-tas, trabalhadores de saúde e go-vernantes e confiamos todas as populações afetadas pelo contá-gio à intercessão da Virgem Ma-ria, Mãe da humanidade.

[ Mensagem com data de 11 de março.

Tradução do Correio de Coimbra ]

DICASTÉRIO PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL

Mensagem do Cardeal Peter Turkson a propósito da situação provocada pelo Coronavírus (COVID-19)Aos Presidentes das Conferências Episcopais,Aos Bispos encarregados da pastoral da saúde,Aos profissionais de saúde e agentes da pastoral,Às autoridades civis,Aos doentes e suas famílias,Aos Voluntários e a todas as Pessoas de boa vontade,A paz esteja com todos vós!

“O valor da solidariedade também precisa de ser incorporado. Estamos a pensar no vizinho, no colega do escritório, no amigo da escola, mas, acima de tudo, nos médicos e enfermeiros que correm o risco de contaminação e infeção para salvar os infetados. Esses profissionais vivem e mostram-nos o significado do mistério da Páscoa: doação de si e serviço.

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19 DE MARÇO DE 2020

“É tempo para concretizarmos o sentido mais profundo da Igreja doméstica, para celebramos em família a vida, para rezarmos mais profundamente a nossa condição de peregrinos do eterno.”(Comunicado da Diocese de Coimbra, Viver com Esperança e Responsabilidade, 13 de março de 2019)