180359553 schorske carl pensando com a historia

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  • :a r l e . s c h o r s k e

    Pensando com a histriaIndagaes na passagem para o modernismo

    Traduo -

    Pedro Maa Soares

    C o mpanhia vsLEfRA S

  • 3. A idia de cidade no pensamento europeu; de Voltaire a Spengler

    r

    Durante dois sculos febris de transformao social, o problema da ddade*rf~;T-^

    pressonou sem cessar a conscincia dos pensadores e artistas europeus. A rea-

    ^ o dos intelectuais a essa presso foi infmitamente variada, pois as mudanas-^i^T^rr:

    sociais trouxeram consigo transformaes em idias e valores maisprotic^l3Q^4'|?f*

    que as alteraes na prpria sociedade. ' %. f;.

    Ningumpensaacidadeemisolam enfirmtico.Forma-seumaimagem ' ^

    dela por meio de um ftro da percepo derivado da cultura herdada'e transfor- - 4^

    mado pela experincia pessoal. Dessa forma, a mvestigao das idias dos in te - /

    lectuais sobre a cidade nos conduz inevitavelmente para fora de seu enquadra-:

    mento prprio, pondo ejii jogo miriades de conceitos e valores sobre a natureza

    do iiom em , da sociedade e da cultura. Mapear em seu con texto^ rp rio as

    mudanas de pensamento sobre a cidade desde 0 sculo xviii transcende em

    muito os limites do possvel num ensaio curto. No posso fazer mais.do que

    apresentar algumas linhas de pensamento, na esperana de que a amostra^resi J -

    tante possa sugerir caminhos de aprofundamento da questo.

    Creio que se podem discernir trs avaliaes amplas da cidade nos ltir^os

    duzentos anos: a cidade como virtude, a cidade com o vicio e a cidade para alm

    d bem e do mal. Essas atitudes aparecem em pensadores e artistas em sucesso

  • iL-inp(ir.i!,C^ sccuio x\iii dcscinoivcu,a uarUr da niosofiii do lh)ni:n:,snin,;i vi.sfio

    a lkKuIc cnsiiu virUidc. A liulu.striiizaao do conico do sculo X!X Irouxc

    lnii uma coiicepao oposta; a cstladc cunu) vciu. Por fim, rio Cf)iUcxlo dc unia

    nova cultuni subiclivjsta nascida na mc?at: do sccuiu xix, suryiu unia alitude

    nMcicclual que colocava a csdadcpara alem du bcin c dt) mal. Ncniuinui fase nova

    dcsiruiu sua predeccssora. Cada uma delas sobrevsveu dentro das tases que a

    sucederam, mas coiii sua vtalitade enfraquecida,seu brilho empanado. As dife

    renas lU) desen\-oivimento nacional, tanto social com o intelectual, em baam a

    claridade dos lemas. Alm di.sso, a metiida que as dcadas passam, linhas de pen

    sam ento que eram vistas com oantuticasse fundem para formar novos pontos

    de partida para o pensamento sobre a cidade. Na h isna da idcia da cidade,

    com o em outros ramos da histria, o novo rutifica a partir do velho com mais

    freqncia do que o destri.

    Com certeza, a grande classe mdia do secuio xix supunha taciainente que

    a cidade era o centro produtivo das atividades humanas mais valiosas; indstria

    e alta cultura. Essa suposio, herana do sculo anterior, era to poderosa que

    pre^i^ainos dedicar alguma ateno ao seu carter. Trs fllios influentes du Ilu-

    mnusni Voltaire, Adam Smith eFichte haviam fornuiladoa viso da cida

    de com o virtude civilizada cm term os adequados a suas respectivas culturas

    naciunais.

    V ohaire cantou seus prim eiros iouvores da cidade no a Pans, mas a

    Londres. A capital inglesa era a Atenas da Europa moderna; suas virtudes eram a

    liberdade, o com rcio e a arte. Esses trs valores poltico, econm ico e cultu

    ral brotavam de uma nica fonte; o respeito da cidade pelo taiento.

    0/j Londrcsl Rivi dc Atenas! Terra feliz!

    Q iicjiinto cotn os tiranos soneste expulsar

    Os precouccios vis que tc nsscdiavani.

    U tudo sc diz, tudo se reconpcusa;

    ,\:o SC despreza n arte, o sucesso sc ouva.'

  • a :

    /

    i\ira VoUiurc.i.uiHlrc.s craa tiKic promotor;! da mobilidade soci.ii,coFitra n socic- ^

    dade hicrrquica tlxa. .

    As virtudes que enconirou ciii .^ndrcs, e!e iogo ^cneralizana para a cidade \\5^ i :*" i -niodcrna como tal. Sua cuiicepu ilc cjdade com pe um capu!') alrasado na ' '

    Uataiha dos Livros, de Antigos ir/'5/5iMdcrnus. Volluire empunhava seu flore*

    ic com agilidade contra os dccnsores de um passado desaparecido, da poca dc

    I ouro da Grcia e do jardim do den cristo. Por que a humanidade devena exal

    tar os gregos, vitimas da pobreza? Ou Ado e Eva, com seus cabelos emaranha

    dos e unhas quebradas? Faltavam-lhes indstria e prazer: e isso virtude? No,

    pura ignorncia.

    K .

    LA

    .ivnd ijstria e prazer: essas duas buscas distinguiam a vida urbana para . Jut'

    , Voltaire; juntas, elas produziam a 'civilizao. 0 contraste urbano entre ricos e K I pobres, longe de ser causa de terror para o philosophe, proporcionava a prpria

    ' base do progresso. Seu modelo de homem rsco no era o capito de indstria,

    \r~

    I rnas o aristocrata perdulrio que (cvava uma vida de ocio na cidade, um verda-

    ' deu o filho do pnncipio do prazer. Voltaire descrevia seu itcl inondam rococ e ^

    luxuoso, com seu exterior ornamentado pela admirvel indstria de mil mos.'

    Saboreava a ronda dirra do hom em rico, sua vida dc sensualidade refinada: o

    nwncanitrvessa Jiuma bela carruagem dourada as praas imponentes da cida

    de para se encontrar com uma atriz, depois vai opera e a um lantar prdigo.

    Com seu rnodo sibaritico dc viver, esse perdulrio Uut, vjvi/j cria trabalho para mcontveis artesos. No som enle proporciona emprego para os pobres, como

    se torna um modelo a imitar. Ao aspirar vida de cio civilizado de seus superlo-

    res, os pobres so estimulados diligencia e parcimnia e, dessa forma, m elho

    ram sua Situao. Graas a essa feliz simbiose de ricos e pobres, ocio eiegante e

    indstria florescente, a csdade estimula o progresso da razo e do gosto e, assim,

    aperfeioa as artes da civilizao.^

    Apesar de sua nfase um tanto burguesa na cidade com o fora para a m obi

    lidade social, Voltaire considerava a aristocracia o agente crucial do progresso

    dos costumes. A remoo dos nobres para a cidade, especialmente durante o rei

    nado de Luis xfv, trouxe uma vida mais doce para o citadino inculto. As gracio

    sas esposas dos fidalgos criaram escolas de politess\ que afastaram os /ovens

    urbanos da vida da taverna e introduziram a boa conversao e a leitura.^ Voltaire

    via assim a cultura da cidade nova de uni modo um pouco semelhante forma

  • coiiio hojc j.cwis Mumord c outros icni visto o.sconccilo.s dc plaiKMamenUu]ue

    .1 ii'i.spir,iranv. t.on\o unu\ cxlcnsao do paicio. No enlanio , onde iVluniford

    enconirou despotismo barroco uma uonibina^-;lo csErnnha dc "poder c pra

    zer, uma (,)rdcni abslrala severa c uma sensualidade fulguranlc", junto com uma

    delcriora(,'{) da vida para as massas ,Voltaire vjn progresso social. No a dcs-

    iruii;ao da conuinldadc, mas a difuso da razo e do bom gosto para indivduos

    de todas as classes: essa era a funo da cidade para eie.

    ll com o \'oltaire. Adam Snmh atribula a origem da cidac ao trabalho dos

    monarcas. Numa era feudal seiva^cm c barbara, as cidades, por necessidade dos

    rc!S, oram criadas com o centros de liberdade e ordem. Desse modo, a cidade

    estabeleceu os alicerces do progresso tanto da indstria com o da cultura;

    Q uando los hom ensi esto seguros de usufruir os frutos de sua indstria,

    escreveu S m ith ,cies a empregam naturalmente para melhorar sua condio e

    adquirir no somente as coisas necessrias, mas tambcm a.s convenincias e c-

    gancras dn vida.' Para Voltaire. o advento da nobreza civilizou as cidadcs; para

    Sm iih, a cidade civilizou a nobreza rural e, ao mesmo tempo, desiruiu a autori

    dade feudal. Os nobres, tendo vendido seus direitos hereditrios, no com o

    Rsau, por ujn prato de sopa em tempo de fome e necessidade, mas por bugigan

    gas e quinquilharias no capricho da abundncia l..,l> se tornaram to insignifi

    cantes quanto qualquer burgus ou com erciantesubstanciaUia csdade ''A cida

    de m\elou nobres e burgueses para produzir uma nao ordeira, prspera e livre.

    Dessa form a, a dinm ica da civilizao est na cidade, tanto para Voltaire

    co m o para S m iih . Mas co m o econom ista e moralista, Srnuh c o m p ro m eteu -se

    m enos com o urbanism o do que Voltaire. Defendia a cidade apenas em sua rela

    o com o cam p o. A troca entre m atn as-p rim as e manutatura, entre ca m p o e

    cidade, formava para ele a espinha dorsal da prosperidade.Os ganhos de am b o s

    s a o n n i iu o se rc c ip ro c o s . Sm ith ,cantu d ,consd erav aocap ita ! niovel essencial-

    m cn c ;ns:.;\ cl e, do {>onto de vista de qualquer sociedade, no confivel. { U m |

    muitv) f!! far com que io com erc iante ou nidustriuil iransfiia de

    u v. p.'.!-. 'fX;ra o u iro seu capital e i . t toda a mdstria que eie susten:i . Pode-se

    di/ci' ijiiv ncniiu m a parte dola pertence a algum pais cm pailicul-u', ntc c;ue tcnh.'Sj\-;il'p.ido pca superricc desse pas, seja cm prcdios ou em m eioram cntos

    das icrras. * O capaaiista urbano c um nm adc antip atriou co .

    1-mbor.! a ciciade melhore o campo ao proporcionar um mercado c ben.s manu-

  • t

    fa irad o s .a !n d ;u ]u c ciu!quv.'(,a a !unn.i)iK>uii.-au u i d k u nos.sivci a Iran.scciulcn-

    cia das necessidadcs aniiais . scils habiiante.s cniprccndcdorc)' ,so socialm cntc

    istvcis c no confiavcis.

    Outros VCIOS dc unia .>.spccic mais suiil acom panham a5 virtudes urbanas:

    " inaturalidadc c dcpondcnca. .Smiti sustcniava que"cu it ivar o solo era o desti

    no natural do h o m c n i. For mUTOsse c por stnUnicnlo, o honicni tendia n voltar

    a terra. O trabalho e o capitai yraviiavam nalurahiicnk* em torno do cam po rela

    tivamente livre de nscos. Mas, acuna dc tudo, as satisfaes psiquicas do agncui-

    ttir superavam as do comerciante ou industrial urbano. Aqui, Sm Uh revela-se um

    mgis p re-rom ntico ; ' 'A beleza do cam po, 1. . . 1 os prazeres cia vida campestre, a

    tranqilidade mental que promete e, onde quer que a iniustia das leis hum anas

    no a p erturbe , a independncia que ela realmente perm ite tm encantos que

    mais ou m enos atraem a todos A cidade estimulava, o c am p o satisfazia.

    Smith insistia em seus preconceitos psicolgicos at mesmo custa de sua

    gica cconm ica, quando afirmava que o fazendeiro se considerava um homem

    independente, um senhor, enquanto o artFice urbano se sentia sempre depen

    dente de seu cliente e, assim, no livre." A virtude da cidade era a do estmulo ao

    progresso econm ico e cultural, mas ela no oferecia o sentim ento de seguran

    a e liberdade pessoal da vida do campo. 0 modelo de Adam Sm ith para o regres

    so natural de hom ens e capital para a terra era a Am erica do Norte, onde o

    direilo da pnm ogenitura no restrmgia a liberdade pessoal, nem o progresso

    V econm ico.'* Som ente a cidade e campo mantinham uma relao realmente

    ^ I apropriada. A cidade estimulava a economia, a riqueza e o engenho; desse modo,proporcionava ao artfice os meios para voltar terra e realizar-se finalmente

    com o um agricultor independente. Assim, at mesmo esse grande defensor do

    taisscz-fairce d o papel histnco da cidade expressava aquela nostalgia pela vida

    rural que iria caracterizar tanto o pensamento mgls sobre a cidade durante o

    sculo XiX.

    Os intelectuais alemes interessaram-se pouco pela cidade at o com eo do

    seculo X!X. Sua indiferena eru compreensvel. .\^ o seculo xviii, a Alemanha no

    tinha uma capital dominante que correspondesse a Londres ou Paris. Suas cida

    des pertenciam a dois tipos oasicos; de um lado, sobreviviam cidades medievais,

    tais com o Lbeck e Frankfurt, que ainda eram centros de vida econm ica, mas

    com uma cultura burguesa tradicional um tanto sonolenta; de outro, havia

    i

  • iun-ij;-; ceniros politicu.s barrocos,^i.s ;Lssini chamada.s Risuknzi(it,com o Berlim

    c Knrlsruhc. Pnri.s c Londrc.s )iavi;iii] coiuciurado o puder iioilico. econm ico e

    cuhurai cm suas mos, reduzindo as outras cidades da Frana e da Inglaterra a

    um status provinciano. Na Aemanha dividida.as muUascapUai.s polucascom -

    cidiam pouco com os muitos cenlros econm icos ou culturais. A vida urbana

    alema era, ao mesmo tempo, mais indolente e mais vartegada do que a uigesa ou

    a francesa.

    A gerao de grandes inieecluais alemes t\ue surgju no final do scuo XVH!

    elaborou suas idias de liberdade contra o poder arbitrrio dos principes e a con-

    vencionalidade estultificane da velha classe dos burgos. Em nenhuma dim en

    so de suas preocupaes estava o papel da cidade com o elemento ativo do pro

    gresso. C ontra o im pacto atom izador e desum anizador do poder do Estado

    despotico, os humanistas germnicos radicais e.xalavam o ideal com unitrio da

    cidade-estado grega.

    Durante as guerras napoleonicas, iohann Gottlieb Fichte rompeu com o

    ideal clssico para form ular uma viso da cidade que governou boa parte do pen

    sam ento alemo do sculo xi.x. Fichte adotou dos pensadores ocidentais a noo

    da cidade com o agente form ador de cultura por e.xcelncia. Mas enquanto

    Voliatre e Sm ith atribuiam o desenvolvimento da cidade liberdade e proteo

    concedida a ela pelo prncipe, Fichte interpretava a cidade alein com o uma cria

    o pura do Volk. As tribos germnicas que caram sob o dom nio de Roma se

    tornaram vitm iasda raison Wfnfocidental. Aquelas que perm anccerani intoca

    das na Alemanha aperfeioaram suas virtudes pnniivas 'lealdade,probida

    de i f/erferteirl, honra e simplicidade nas cidades mediev;us.Nessas (cida

    des escreveu Fichte,cada ramo da vida cultural transform ou-se rapidamente

    na mais linda flor. '^ Aos ramos da cultura registrados positivamente por Voltaire

    e Sm ith com rcio, arte e m stituies livres , Fichte acrescentou outro:

    moralidade com unitria. Precisamente nesse ltimo, e.'cpressa\'a se a alma do

    povo germamco. Os habitantesdos burgos, na vi.so dele, produziam 'tudo o que

    ainda e digno de honra entre os alemes. Eles no foram civilizados por ariso-

    cr;ias e m onarcas esclarecidos, como na viso de Voltaire, nem m otivados pelo

    in tercsse pessoal, com o na concepo de Smith. Inspirados por piedade, mods

    tia. honra e, sobretudo, por um sentim ento de com unidade, eles eram sem e

    lhantes em sacrifcio pelo bem-estar com um . Os moradores dos burgos alemes

  • ' - .rr

    -l

    iiio-Sti aram duranlc .sccdIos que a Alemanha cra a nica nao cia nuropacapaz

    tic supuriar uma CDnsluuo rcpublicana. 1'av.ciH um nuvo usu da husloria,

    Fichte chamou a poca da cidadc medieval ycrmnica de o sonho juvenii da

    nao de suas proezas futuras,} . . . 1 a proiocia do que seria, uma vez que houves

    se aperfeioado sua fora."

    Dessa forma, efu sua gloriiicao da cidade como agenie civilizador, Fichte

    acrescentou vnas dimenses novas. Em sua viso, a cidade se tornou democr-

    Uca e com unitria em espirito. A csdade medieval assumiu as caractersticas

    sociocuUurais atribudas por outros pensadores alemes Schiller, Hoiderlin e

    ojovem Hegel />y//5grega. Fichte fortaleceu assim a conscincia desi mesma

    da burguesia alem em sua luta pelo nacionalism o e a dem ocracia com um

    modelo concreto de sua prpria historia, um paraso perdido de sua prpria

    criao a ser recuperado. E. com ele, in tmigos a combater: os principesco Estado

    imoral. O florescimento da cidade fora "destrudo pela tirania e a avareza dos

    principes, I 1 sua liberdade, pisoteada, at que a Alemanha mergulhasse em

    sua mar mais baixa na poca de Fichte, quando a nao sofreu a imposio do

    jijgo napolenic.* Embora no desvalorizasse o papei da cidade no comrcio,

    Fichte rejciiava, em Snnth, as teorias defraudadoras sobre |.. . | manufaturar

    para 0 mercado mundial, considerando-as um instrumento de poder estrangei-

    r' ro e corrupo."' Fichte no tinha o apreo de Votaire pelo papel do fausto aris-

    : f tocrtico na construo da cultura urbana, nem o medo de Smith da falta de rai-

    - - 1 zes dos empreendedores urbanos. Ao exaltar a cidade burguesa com o modelo de

    : I comunidade etica,eie introduzm padres sdeais para a crtica posterior da cida

    de do sculo XiX como centro do individualismo capitalista,

    A sobrevivncia mais forte na sociedade alem permitiu que Fichte desen-

    \ volvesse noes que diferiam, em sua significao histrica, das idias da cidadesustentadas por seus predecessores na Frana e na Inglaterra. Para Voltaire e

    Smith, que pensavam a histria como processo, a cidade possua virtudes que

    contribuam para o progresso social; para Fichte, a cidade com o comunidade

    encarnava a virtude numa forma sociai. O pensador alemo podia usar o passa

    do para formular um objetivo idea! para o futuro, mas no tmha noo de como

    o ideai se relacionava a um processo para sua realizao.

    -.0

  • ,\ n.icia u.i ckKuIccuU) vu lutlc ;iiih > i-stnva cni clabor;)v'.H> nu .sccuk' xviu

    c j,i luna MCD Tcnlc coiiici;ava a sv ia/.cr sentir: a idcia cio citlade com o vicio,

    ivitlcnicincnic, a cuiatic cuniu m.-cc da inujtdadc cra liigar-conuim do profetas

    c nioraliilas religiosos dt\sde Sutonia e lom orra. Mas no scculo WHi. mleiec-

    iuais sccuiarcs comearam a Icvajilar novas lormas decntica. < ' l^iver Gokisnutli

    (.lepiorava a desUuiCso du cam pesinato uiyis a medida que o capuai iiiuvcl

    estendia seu dom uiio.sbreocainpo. At^conirno de Adam Sm ilh.eio via a acu-

    nniiavao da nque/a produ/jr iop.iens decadentes. Os lsiocratas francese.s. cuias

    noes de bem -estar eci>nniico estavam centradas na ni.ixuui/.ao da produ

    o agrcola, viam a cidade coni suspeUa. Mercier de ia Kiviere, um de seus lide

    res, apresentou o que parece ser uma iransiorm ao deliberada do cavaUieiro

    urbano de Vullaire mdo alegremente ao seu eucontro am oroso:'As rodas am ea

    adoras do rico arroganie passam rapidamente sobre as pedras manchadas pelo

    sangue de suas infelizes vtimas A preocupao sociai com a prosperidade do

    cam pons proprietrio trazia o antiurbam sm o em suas guas, no menos na,

    Europa de Mercier do que nn America de lefferson. Outras correntes intelectuais

    apenas reforaram as dvidas que cresciam sobre a cidade com o agente civili

    zador: o cuito pr-rom ntico da natureza com o substituta de um Deus pessoal

    e o sentim ento de alienao que se espalhou entre os mteiectuais medida que

    as leaidades sociais tradicionais se atrofiavam.

    No final do sculo xvui, o nco perdulno e os artesos indu stnosos de

    Votaire e Sm ith se transform aram nos fazedores de fortunas e gastadores de

    W ordsworth, igualmente desperdiando suas energsas, igualmente alienados da

    natureza.* A racionalidade da cidade planejada, to valorizada porV oltaire ,

    im punha, para W illiam Biake, agemas forjadas pela m ente natureza e ao

    hom em . Q uo diferente o poem a London de Blake do hino de louvor de Voltaire:

    t:ni aui nuj tnapeada,

    Perto iio Tniisn esnn corrcutezi,

    E )ww cn ca

  • - :'"

    Anics que lochi.s as conscijcKias tia idusnalizav!) ficasscin manifestas

    na Cidade, d,s itilelcciuass ja haviani

  • v/f ()>.%() iiiinlo, os rcic.s criUcas a ccna urbaii;'. sadusEnai nodcni .ser cla.ssi-

    ilcatia.s civi arcaizaiics e itun.sias. Ambas as reaes rel]eUa:n uma conscincia

    agvula da i-iislna com a nieio da vida social, coiii o presente localizado numa tra

    jetria de mudana. Os arcnistas abandonariam a cidadc: os futuristas a relor-

    m anani. Os arcaistas, com o Coleridge, Ruskui, os pre-ralaciilas, Gustav l*re)'tag

    na Alemanha, Dosijcvsk e 'Iblstoi rejeitavam com firmeza a idadc da maquina

    e sua megaipoie moderna. Cada um a sua maneira, todos buscavam u.ma volia

    sociedade agrria ou das pequenas cidades. Os socialistas utpicos da Frana,

    com o Fourter e seus falanstnos, e at os smdicalislas mostravam traos anti-

    urbanos similares. Para os arcaizantes, era siniplesm cnte mipossivel ter uma

    vida boa na cidade moderna. Eles reviviam o passado comunitrio para criticar

    o presente competitivo e opressivo. Sua viso do futuro compreendia, em grau

    m aior ou menor, a retomada de um passado pr-urbano.

    Tenho a impresso de que o fracasso da arquitetura urbana do sculo ;ux cm

    desenvolver um estilo autnom o refletiu a fora da corrente arcaizante, mesmo

    entre a burguesia urbana. Se pontes ferrovirias e fbricas podiam ser constru

    das em estilos utilitrios novos, por que os prdios domsticos e representativos

    eram concebidos exclusivamente em idiomas arquitetnicos anteriores ao scu

    lo x\ iil? Em Londres, ate mesmo as estaes de trem tinham puse arcaica; a esta

    o Euston buscava, em sua fachada, fugir para a Grcia aniiga,S. Pancras, para

    a idade M dia, Paddington, para a Renascena. Esse h istoncisn io vitoriano

    e.xpressava a incapacidade dos habitantes da cidade de aceitar o presente ou de

    conceber o futuro seno com o ressurreio do passado. Os construtores da nova

    cidade relutavam em encarar diretamente a realidade de sua prpria cnao, no

    encontravam formas estticas para afirm-hi. Isso quase veidade para a Paris

    e Napoleo iiKcom sua forte tradio de continuidade arquitetnica controla

    da, assim com o para a Londres vitoriana e a Berm guilhermina, com seus ecle-

    tism os histricos mais floreados. O dinheiro procurou se redimir vestindo a

    mascara de um passado pr-m dusnal.

    Por iroma, os verdadeiros rebeldes arcaistas contra a cidade, ossem estticos

    ou eticos, viram os estilos medievais que deendiam caricaturados nas fachadas

    das m etropoles. ohn Ruskin e VVilliam M orris carregaram essa cruz. Ambos

    foram do esteticism o arcaizante para o socialismo, das classes para as massas, na

    busca de uma soluo mais promissora para os problemas do homem urbano

    62

  • iiulustria!, fazc-it), reajciliarain-.scdeaiyunn iorniaconi a Hulustnali/.au

    niocicrna c com n ccladc. Hlcs tnissarani lo arca-snit) para o uluri.snK).

    Os crticos fuLurustas da cidade oram, cm larga medida, rcformisias sociais

    ou socialistas. Fillios du lluminisniu, viram sua fc na cidade cuniu agente civiliza

    dor severamente abalada pelo espetculo da misena urbana, mas seu impulso

    nieliorstn os levou a satar sobre o abismo da dvida. 0 pensamento dc Marx c

    i',ngels mostra, na sua brma mais complexa, a adaptao mtelectual da viso pro

    gressista era da urbanizao industrial. Eni seus primeiros escntos, ambos reve

    lam uma nostalgia fichteana do arteso medieval, dono de seus meios de produ

    o e criador de seu produto mtejro. Em 1845, o /ovem Engels, em sua obra A

    sttuao da classe trabalhadora na n^atcrra, descreveu o fado do homem pobre

    urbano em termos pouco distintos daqueies utilizados pelos reformadores urba

    nos de classe mdia, romancistas sociais e membros de comisses parlamentares

    da dcada de 1840. Engels descrevia realisucamen te a cidade industrial e acusava-

    a cucamente, mas no oferecia soiuoes serias para seus problemas. Porem, nem

    ele nem Marx sugeriam que o relgio fosse atrasado, nem apoiavam as solues

    do tjpo comunidnde-modeJo, to ao gosto dos utopistas do sculo xi.x.

    Depois de quase trs dcadas de silncio sobre o problema urbano, Engels

    deu-lhe novamente ateno em 1872, tratando-o ento no contexto da teoria

    marxista madura. Embora amda rejeitasse cxistencialmente a cidade indus

    trial, agora a afirmava histoncamente. .Argumentava que, enquanto o trabalha

    dor domstico, dono de sua casa, estava preso a um determinado lugar com o

    vtima de seus exploradores, o trabalhador industrial urbnno era livre mesmo

    se sua liberdade fosse a de uni 'proscnto livre. Hnges desdenhava o lacrim oso

    olhar retrgrado do proudhontsmo para a indstria rura de pequena escaia,

    que produzia apenas almas servis. I . , . ! O proletariado ingls de 1872 esi numa

    ? situao infim lam enle m elhor do que o tecelo rural de 1772, com seu lar e

    . I famlia. A retirada dos trabalhadores do lar pela mdstna e pela agricultura

    ? capitalista no era, na viso de Engels, retrocesso, mas e.xatamente a primeira

    condio Cz sua emancipao m teectuar Somente o proletariado 1... I reuni

    do nas grandes cidades est em posio de realizar as grandes transform aes

    sociai que poro um fim a toda explorao e dominao de ciasse,*'

    63

    ; 5 l

  • A iiliiULicdc Eiigeis cui rclais. Marx rc)ci-

    tava o capitalismo do ponto de vista etico, por sua explorao do trabalhador, e

    aiirniavv uo ponto de vista Is.-ilrico, por socializar os modos dc produ4;'o. Da

    mesma formn, tngcls acusava a cidade mdusirjal de ser o cenrio da opresso do

    raballiador, mas a afirmava historicamente com o teairo por excelncia dn liber

    tao proletria. Assim com o na luta entre o grande capilui e o pequeno

    empreendimento, Marx defendia o primeiro eomo sendo a forcrinecessana'e

    progressisUi, na lula entre produo rural e urbana, Engels era a favor da ctda-

    dc industrial vH)r ser o purgatrio do campons e do arteso cados, onde ambos

    se livrariam do servilismo e iriam desenvolver a conscincia proletria,

    Que lugar ocuparia a cidade nu fuluro socuista? Engels fugm dos planos

    concretos. Contudo, estava convencido de que era preciso com ear a 'abolir o

    contraste entre cidade e campo que foi levado ao seu ponto extrem o pela socie

    dade capitalista atuar." No final de sua vida, Enges ressuscttou na discusso da

    cidade do futuro a viso antim egalopolitana dos socialistas utopicos. Viu nas

    com unidades-modelos de Owen e Fourier a sntese de campo e cidade e enal

    teceu essa siniese que sugeriria a essncia social, embora no a forma, da unidade

    de subsistncia do futuro. Sua posio contra a megalpole era clara: Ouerer

    resolver a questo da m oradia e ao mesmo tem po desejar m anter as grandes

    cidades modernas um absurdo. Porem, essas cidades sero abolidas somente

    com a abolio do modo de produo capitalista.-' Sob o socialismo, a "conexo

    ntim a entre produo agrcola e industrial e a d istribuio to uniform e

    quanto possvel da populao por todo o pais t . . . 1 iro i . . . 1 libertar a populao

    rural do isolam ento e da letargia e trazer as bnos da natureza para a vida

    urbana.-^ Engels recusou-se a especificar com mais preciso suas idias sobre

    centros populacionais, mas todo o seu argumento sugeria uma fore afinidade

    com o ideLi! de c;dade pequena comum aos reformadores urbanos desde o final

    du scculo X!.\.

    r^iidc .'\dam Smith, com base na teoria do desenvolvimento urbano e rurai

    rev.ip\!co, \ !ra a roa/.ao d

  • ;c;u) clica ih cidadc inodcriia, pda anrinau hisurica dc sua luiivio libcriadora,

    para unra ir;ui,SLcndcnc).i dti dcbaic rural-inbano uina ruT.spcciva uiuiMca: a

    sintcse da Ki/Zirurlvanac da No/urrurai na culadc do futuro socialista. Embora

    extremamente crtico da cidadc auilcn^pornea, Unu,o!s resgatou a idcia da ciua-

    dc ao iitegrar scu.s vicio.s ao seu processo histnco de saivac^o sticial.

    Uma iiova gerai;;o de escritores europeus expressou ria dcada de ! 890 con

    cepes no muito distantes das de tngeis. Au cuntrano dos romancistas mglescs

    da dcada de 1840, no achavam a vida pre-mdustnai uma felicidade nem as solu

    es tico-cnsis para o urbanismo moderno viveis, limile Zoa, cm sua trilogia

    Trais villcs, pintou Parts como um antro de imquidade. A mensagem crist estava

    fraca e corrom pida demais para regenerar a sociedade moderna: nem Lurdes,

    nem Roma podiam ajudar.A cura deveria ser encontrada no centro da doena; na

    metrpole moderna. Ali. a partir da prpria degradao, surgiria n moral hum a

    nista e 0 esprito cientifico para construir uma nova sociedade. mile Verhaeren,

    um socialista auvo e poeta de vanguarda, mostrava as modernas viles tentncuat-

    rts sugando o sangue vital do campo. Compartilhava com os arcaistas um senti

    mento forte a favor da vida de aldeia, mas a horrenda vitalidade da cidade trans

    formara o sonho arcaizante no pesadelo da atualidade moderna de intolerncia e

    vacuidade que dominava a vida rural. O ltimo ciclo de sua tetralogia potica

    intitulada Aurora mostrava que as energias industriais que, durante cem anos,

    arrastaram o hom em para a opresso e a feiura eram tam bm a chave para a

    redeno. A luz vermelha das fbricas anunciava a aurora do homem regenerado.

    A revoluo vermelha das massas realizaria a transformao.'"

    Estavam ento os arcaistas mortos no final do sculo? No. Entretanto, flo-

    resciam de forma mais proftica, com suas/?t2r5

  • us;u'a .scii nuiLlclo .ircaico para dcniocrazara vida poltica uicin,seus succ.sso-

    rcs o empregavam para uma rcvuluvao dc rancor cojilra t) liberalismo, a demo-

    cracia c o socialism o. Fichte talava para uma ciassc mdia cm ascenso; seus

    sucessores prolonazistas, para uma pequena burguc.sia que c sentia em queda,

    esmagada entre o grande capUal e o grande prolelarsado. Fichte e.xaltava a cida

    de com u nitana contra a Rcsdcnzlad! desptica; seus sucessores, contra a

    m etropoie moderna. Em suma, enquanto Fichte escrevia com a esperana de um

    racionalisla com unitrio, os protonazistas escreviam com a frustrao dos rra-

    cionalistas encarniados.

    A segunda onda de arcasmo pode ser facilmente distinguida da pnm eira

    por sua falta de simpatia peio hom em da cidade com o vtima. Em 1900, a atitu

    de com preensiva passara, em larga medida, para os futuristas, os reformistas

    sociais ou revolucionrios'que aceitavam a cidade com o um desafio social e

    esperavam capitalizar suas energias. Osarcaistas remanescentes no viam a cida

    de e seus habitantes com lgrimas de piedade, mas com dio rancoroso,

    Com o se compara a idia da cidade com o vicio de 1900 com aquela da cida

    de coHK) virtude de cem anos antes? Para os futuristas de 1900, a cidade possua

    vicios, assim com o possua virtudes para Voltaue e Smith, Mas eles acreditavam

    que esses vicios podam ser superados pelas energias sociais nascidas da propna

    cidade. Em contraste, os neo-arcastas invertiam totalmente os valores de Fichte;

    para o filosofo, a cidade encarnava a virtude numa forma social que deveria ser

    miitada; para eles, ela encarnava o vicii.) e deveria ser desti uida.

    Por volta de 1850, surgm na Frana uma nova maneira de pensar e sentir

    que lenta e inexoravelm ente estendeu seu dom nio sobre a conscincia do

    Ocidente. Ainda no existe acordo sobre a natureza da grande mudana oceni

    ca introduzida em nossa cultura por Baudelaire e os impressiorastas ranceses c

    'om nilad a filosoficam ente por Nietzsche. Sabem os apenas que os pioneiros

    dessa nuidana desafiaram explicitamenre a validade da morai, do pensam ento

    e Ua ;'rte tradicionais. A primazia da razo no hom em , a estrutura racio

    nal da natureza e o sentido da histria foram levados ao tribunal da experincia

    psicolgica pessoal para mlgamento. Essa grande reavaliao mcluiu mevitavel-

    6 ; '

    I

  • nientca titia cia cicliulc. Com o virtude e vicio, progresso e re^rcsst) perderain

    clareza de seiiudu, a cidde lui Situaua para aicm du cin e do iVlal.

    O que moderno? Os uuekcUia.s irunsavaiadores dcrani iiovu

    queso. No perguntavam: O que boni e o que e runii na vida moderna?" e

    sm ^O que ca vida moderna? O que c verdadeiro, o que {aso?. Knire as verda

    des que encontraram eslava a Cidade, com iodas as suas glrias e seus horrores,

    suas belezas e sua feira, com o base esscnciai da existencia moderna. O objetivo

    dos novi/Onnc5 da cultura moderna tornou-sc no juig-la do ponto de vista

    tico, mas experimcnt-la em sua plenitude pessoalmente.

    Talvez possamos dislmgur com mais facilidade a atitude nova e m odernis

    ta das mais antigas examinando o lugar da cidade na ordem do tempo. Antes, o

    pensamento urbano situava a cidade moderna numa fase da histria; entre um

    passadode trevas e um futuro rseo (a viso do Ilum im sm o),ou com o uma trai

    o de um passado ureo fa viso anliintuslnni). Comparauvami-nte, para a

    nova cultura, a cidade no tmha um oais temporal estruturado entre passado e futuro, e sim um atributo temporal. A cidade moderna oferecia um Inc ct nunc eterno,cu|0 contedo era a transitoriedade. mas cu;a transitoriedade era perma

    nente. A cidade apresentava uma sucesso de momentos variegados, fugazes, e

    cada um deles deveria ser saboreado em sua passagem da inexistencia ao esque

    cimento. Para essa viso, a experincia da multido era fundamental: todos os

    indivduos desarraigados, mcos, todos umdos por um m om ento antes de par

    tirem cada um para o seu lado.

    Baudclaire, ao afrm arseu prpno desenraizamento, ps a cidade a servio i

    de uma potica dessa acitude da vida moderna. Ele abriu panoramas para o habi- ;

    tanteda cidade que arcaistas lamentadores e futuristas reformadores ainda no ]

    haviam descoberto. "M ulido e solido; lesse.s soi s termos que um poeta ;

    ativo e frtil pode tornar iguais e intercambiveis" escreveu ele.-'' l'oi o que fez. \Baudeiaire perdeu sua identidade, com o o homem da cidade, mas ganhou um

    mundo de experincia vastamente ampliada. Ele desenvolveu a arte especial a j

    que chamou de banhar-se na multido''* A cidade proporcionava uma orgia j

    bbada de vitalidade, deleites febns que estaro sempre barrados ao egosta. _

    Considerava o potico habitante da cidade primo da prostituta no mais u

    objeto de aesprezo moralista. O poeta, tal com o a prostituta, alciiinca-se com |-:

    todas as profisses, os regozijos e as misenas que as circunsiancias pem dian

    te dele O que o hom em chama de amor e uma coisa minto pctjuena, restrita e '

  • tlObil conuvanula com essa urjjia inclvcl, cs-S pru.slituivo sagrada de uma alma

    tjuc SC entrega lolainientc.coni U)t!a a sua ptic.sia ccarid aiic ,a iK iu cc(n crgc mcs-

    pcratiam eiitc, au dcsconhccido que passa

    Para Bauticlairc c .seus seguidores eslelus e decadentes do ilm iK) secuio, a

    cidade iornava possivc! o que Wailer Palcr chanu')u de "a conscincia acelerada,

    nuilti[-iicac((ni;(un aimnais como inadcirn cecadette L consoineiu tticontaveis nn^ cs por jiada.'

    ' Uiit ciiies Si-'ck icirou n,not olhcrs'good:/tlieydra-^ali v.iih icm m thcirheadlonghaste./Thcy up Lininials like lioHow w ood/ and countlc;.s naions ihcv urn up k)r v.vitc.

    6iS

  • iilc tntia-se iircso nas g;irni.s pcircu.s da cidade c d rcsulindd era aagstia,

    "a angsti prolunda do crcscim cnlo monstruo.so d;i.s cidadc.s. Para e lc.a cida-

    (,!l\embora ni)estivesse para alm do (-.(..n e

  • du. O nu (ro blaktwnu do p o e m a dc Lc Callicnnc s c n a snlcncional?

    reieinhra a Londres rotuicira de B{akc,a lraisiv;o hsstrica uir/cnla do dia bri-

    ih an if de Voltairc para a noue cspaihafaiosa de U* Gatlienne. 0 loroscim cnto

    iiotLinui dc Londres In! co m o .c Gailicnnc niosirou que conhccta, cm uul-

    ros poem as era uma flor do mal. Ma.s num mundo urbano tornado fatalida

    de, u m a (]or amda c u m a flor. For que algum no deveria coih-ia? O prmcipio

    do pra/.er dc Voltaire ainda eslava vivo no una do sculo XIX, em bora sua fora

    moral eslivc.sse esgotada.

    Por mais marcantes que fossem suas diferenas na re.sposla pessoal, os tran-

    savaiiadores subietivjstas coincidiam na aceitao da m egaipolc,com seus ter

    rores e alegrias, com o um fato, o terreno inegvel da e.xistncia moderna. Eles

    baniram a m em ria e a esperana, tanto o passado com o o futuro. Dotaram seus

    sentim entos de forma esttica para substituir os valores sociais. Embora a crti

    ca socia continuasse, s vezes, forte, com o em Rilke, todo o sentido de domnio

    sociai se atrofiou. O poder esttico do indivduo substituiu a viso social com o

    fonte de ajuda diante do destino. Enquanto os futuristas sociais buscavam a

    redeno da cidade mediante a ao histrica, os fatalistas a redimiam diaria

    m ente, revelando a beleza na prpria degradao urbana. O que consideravam

    inalterve tornaram suportvel, numa postura estranham ente com posta de

    estoicism o, hedonismo e desespero.

    Baudeiaire e seus sucessores m odernistas contriburam inc|uestionavcl-

    m ente para uma nova apreciao da cidade com o cenario da vida humana. A

    revelao csttica deles convergiu com o pensamento socia! dos futuristas para

    pr cm circulao idias mais construtivas sobre a cidade em nosso sculo. Uma

    vez que essa forma de pensamento geralmente conhecida, vou encerrar com

    outra sntese intelectual mais som bria, que levou s lum as conseqncias a

    idia que venho discutindo: a cidade para alm do bem e do mal. Essa idia

    com seu equivalente histrico, a cidade com o fatalidade alcanousua form u

    lao teonca mais plena no pensam ento de Oswald Spengler e sua realizao

    pratica nas mos dos nacional-socialistas alemes.

    Em sua viso geral da civilizao, Spengler reuniu de forma niuilo sofistica

    da vrias das idias da cidade que revimos neste ensaio, Para ele, a cidade era a

  • t f, ' ' 1 agcuc;:-. ccntral ctvili/.auura. ni coniu -ichtc. c(Mi,suicrav.i-;i uma cna^ru) (rii^i-

    V, nai du povo. Tal com o Voltairc,c!ianiava-a dcconsum adura da civilizao raciu-

    - ? nal.Ta! convi Mrhacrcn,ub,scrvou-a suyar a vida du canipu, Accilandu a.s anli-

    i sos psicoigica,':- de Baudclairc, Rilkc c U- Galicnnc, considerava a humanidade

    urbana moderna neonomadc, dependente do espetculo da cena urbana sem

    pre cm transforma\'o para precncher u vazio de uma cun.scincia dessucializa-

    da e desisltricizada. Com iodas essas afinidades com seus prcdecessores,

    Spengicr ra/.ia, porem, uma diferena essencjal: iransfurniava Iodas as afirm a

    es deles em negaes. Esse brliante histnnador da cidade odiava seu objeto

    com a paixo amarga dos neo-arcastas do final do sculo, os direitistas antide

    mocrticos e frustrados da classe media baixa. Apresentava a cidade com o fata

    lidade. mas saudava claramente sua e.Ktino,

    Os nazistas alemes com partilhavam as atitudes de Spengler. mas certa

    mente sem sua nqueza de saber. O exemplo de suas polticas urbanas ilumina as

    conseqncias da fusodeduasdasnhasquediscutim os: valores neo-arcaizan-

    tesea noo da cidade com o fatalidade para alm do bem e do mal.

    Ao traduzir as noes neo-arcaizantes em polticas pblicas, os nazistas

    1 comearam seu governo com uma poltica aiiva de fazer voltar a populao urba

    na pnra o solo sagrado germnico. Tentaram o reassentamento de trabalhadores

    urbanos na terra e a educao de jovens urbanos no servio rurai.-* Mas esse

    1 anliurbanismo no se estendeu s queridas cidades medievais de Fichte. Embora

    houvesse se originado numa Rciulcuziaiii Munique ,o movmiento nazistaescolheu a Nureniberg medieval para sede de seu congresso anual. Entretanto, as

    demandas do Estado industrial moderno so podiam ser satisfeitas num cenano

    urbano. Os nazistas, ao mesmo lempo que denunciavam a literatura de calada"

    dos anos 20 e acusavam a arte urbana de decadente, ressaltavam na sua constru

    o da cidade todos os elementos que os crticos urbanos haviam condenado com

    mais veemncia. A cidade era responsve pela mecanizao da vida? Os nazistas

    cortaram as arvores do Tiergarten de Berlim para construra rua mais larga e mais

    I tediosamente mecnica do mundo: a Achse,onde jOvens ruralmente regenerados

    i podiam passar montados em motocicletas ruidosas, em form ao de uniformes

    j pretos.A .idade era 0 cenrio da multido solitaria? Os nazistas construram pra-

    I as imensas nas quais a multido podia se inebriar. O hom em citadino se tornaraI

    I desarraigado e atomizado? Os nazistas o transformaram no dente de uma imen-

    1

  • sa engrenagem. A hipcr-raconalidade qne o.s nco-isrcaisins
  • i