16o domingo do tempo comum

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16 o DOMINGO DO TEMPO COMUM (Jr 23,1-6; Sl 22; Ef 2,13-18; Mc 6,30-34) Em 2013 o Santo padre o Papa Francisco escreveu uma exortação a todos os cristãos batizados, chamada Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho). No texto, o papa exorta a todos os católicos a um envolvimento mais concreto com Cristo, que vá além das formalidades religiosas que muitas vezes podem ser confundidas com fé, mas que não são. O santo padre afirmava, logo no início dizendo que “alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo renasce, sem cessar a alegria”(EG1). De fato, podemos intuir que era isso que as pessoas que conviveram e ouviram os ensinamentos de Jesus experimentavam. Uma alegria nova, uma libertação, uma nova perspectiva. E por isso o seguiam em todos os lugares, conforme nos informa Marcos no seu Evangelho: “saindo de todas as cidades, corriam a pé até ele”(Mc 6, 33). Algo os encantava, os atraía, a ponto de não medir cansaço para estar com ele onde ele estivesse. O texto que ouvimos hoje do Evangelho segundo São Marcos demonstra que o povo estava sedento, ávido de um líder confiante como Jesus. E por isso iam até ele. Jesus não os engana, não os reprimia, dizia as verdades que precisavam ser ditas, mas era um homem verdadeiro. Há algo no texto de Marcos que pode nos passar desapercebido numa leitura rápida, mas creio ser importante retomar: o olhar de Jesus. Diz Marcos que quando ele e seus discípulos, já em outro lugar desceram do barco, viram uma grande multidão! E o autor faz uma comparação: “pareciam ovelhas que não tem pastor” e por isso Jesus teve compaixão deles. Jesus conhecia muito bem os anseios de seu povo, sabia que acorriam atrás, as vezes até cegamente de qualquer um que desse um pouco de alívio perante a situação que viviam. Aí morava o perigo. Por vezes as pessoas podem, em momentos de crise, confundir um salvador com um aproveitador. Aconteceu no tempo de

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reflexão em torno de temas bíblicos

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16o DOMINGO DO TEMPO COMUM(Jr 23,1-6; Sl 22; Ef 2,13-18; Mc 6,30-34)

Em 2013 o Santo padre o Papa Francisco escreveu uma exortao a todos os cristos batizados, chamada Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho). No texto, o papa exorta a todos os catlicos a um envolvimento mais concreto com Cristo, que v alm das formalidades religiosas que muitas vezes podem ser confundidas com f, mas que no so. O santo padre afirmava, logo no incio dizendo que alegria do Evangelho enche o corao e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por ele so libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo renasce, sem cessar a alegria(EG1). De fato, podemos intuir que era isso que as pessoas que conviveram e ouviram os ensinamentos de Jesus experimentavam. Uma alegria nova, uma libertao, uma nova perspectiva. E por isso o seguiam em todos os lugares, conforme nos informa Marcos no seu Evangelho: saindo de todas as cidades, corriam a p at ele(Mc 6, 33). Algo os encantava, os atraa, a ponto de no medir cansao para estar com ele onde ele estivesse. O texto que ouvimos hoje do Evangelho segundo So Marcos demonstra que o povo estava sedento, vido de um lder confiante como Jesus. E por isso iam at ele. Jesus no os engana, no os reprimia, dizia as verdades que precisavam ser ditas, mas era um homem verdadeiro. H algo no texto de Marcos que pode nos passar desapercebido numa leitura rpida, mas creio ser importante retomar: o olhar de Jesus. Diz Marcos que quando ele e seus discpulos, j em outro lugar desceram do barco, viram uma grande multido! E o autor faz uma comparao: pareciam ovelhas que no tem pastor e por isso Jesus teve compaixo deles. Jesus conhecia muito bem os anseios de seu povo, sabia que acorriam atrs, as vezes at cegamente de qualquer um que desse um pouco de alvio perante a situao que viviam. A morava o perigo. Por vezes as pessoas podem, em momentos de crise, confundir um salvador com um aproveitador. Aconteceu no tempo de Jesus. Muitos aproveitadores da misria humana iludiram o povo com promessas falsas. Aconteceu na histria ocidental, talvez o caso mais famoso seja de Adolf Hitler. Pode acontecer hoje tambm. Sabendo disso, Jesus esquecia-se do cansao, da fome, do sono, e, diz So Marcos, ensinava-lhes muitas coisas. A compaixo de Jesus pode muito bem ser expressada pela boca do profeta Ezequiel (34) que dizia, 600 anos antes: no povo de Deus existe ovelhas sem pastor: ovelhas fracas que ningum conforta; ovelhas enfermas que ningum cura; ovelhas feridas que ningum ajuda. H tambm ovelhas desgarradas das quais ningum se aproxima e ovelhas perdidas que ningum procura. Jesus tornava estas palavras uma realidade.Pois bem, na mesma exortao Evangelii Gaudium, o Papa disse, agora dirigindo-se ao clero, que o pastor precisa ter cheiro de ovelha. Ou seja, no possvel ser um bom pastor se no me aproximo das pessoas, se no as conheo pelo nome, se me ausento nos momentos difceis, se negligencio no cuidado. Foi um puxo de orelha a muitos de ns que estvamos acostumados a ser pastoralistas de escritrio, vivendo numa bolha a prova de povo. Era to bvio o que ele falou que demorou cair a fixa. De fato, por vezes aquilo que o essencial muitas vezes passa despercebido. Desde ento, h na Igreja uma retomada desse ideal evanglico que Jesus, h dois mil, j vivia. O rosto da Igreja, o rosto do pastor, precisa ser o rosto de Cristo. No de uma instituio fria e distante da realidade das pessoas, isenta do sofrimento e aflio que ataca, principalmente os mais pobres. No foi isso que Jesus nos ensinou. Mas no devemos fazer isso por competio, porque na Igreja tal o pastor de l at lava os ps dos seus fiis. No pode ser por competio, precisa ser por compaixo, como Jesus. Porque ele soube se colocar no lugar deles e por isso viu sua necessidade. Sem sair do escritrio dificilmente veremos algo. Jesus caminhava no meio do povo, vivia com eles, no se diferenciava nem pela roupa. Ele e seus discpulos no usavam um uniforme para serem vistos pelo povo. O que mais importa nos tempos de hoje, a todos ns cristos, quem sabe, este olhar de Jesus que via. Perceber as necessidades dos que sofrem com a misria que for, seja ela material ou espiritual. O papa diz que precisamos nos aproximar das periferias humanas e geogrficas. Precisamos olhar diferente, renovado, seno corremos o risco de no sermos reconhecidos como discpulos de Cristo. Diz so Paulo, na segunda leitura, que em Cristo no h mais classes, nem melhores e piores, porque Ele nos fez homens e mulheres novas. Ele derrubou o muro da separao. Ele criou o homem novo. Que este olhar de Jesus possa ser o nosso olhar ao sairmos desta celebrao hoje.Que o senhor Jesus, cheio de misericrdia e de amor, nos ensine a amar como ele amou. Nos ensine a perceber que frente ao sofrimento do outro eu no posso me esquivar. Nos ensine a construir uma igreja verdadeiramente evanglica, que tenha como centro o prprio Cristo e como mensagem o Reino de Deus. nos ensine a sentir o que Jesus sentia, sorria como sorria, e quem sabe, ao chegar o fim do dia, a gente possa descansar feliz e satisfeito de ter cumprido nossa misso.