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Página | 1 A PARÁBOLA DA FIGUEIRA ESTÉRIL Lucas 13.6-9 Introdução Quantas vezes você já ouviu alguém dizer: "Paciência tem limite". Quando diz isso, a pessoa está afirmando que a paciência vai acabar e então ela tomará providências. Essa frase funciona como um sinal amarelo para quem está incomodando. Porém, uma coisa que não atentamos é que a paciência de Deus também tem limite. Seria uma tremenda falta de senso supor que a paciência de Deus com o pecador se estenderá infinitamente. Ao contrário, quando a medida da iniquidade de uma pessoa ou até mesmo de um povo se enche (Gn 15.16), Deus executa seu juízo contra os que não obedecem a sua vontade (SI 99.4; 146.9; Ez 39.21). Nesse contexto, Jesus contou uma parábola que nos instrui quanto à misericórdia de Deus, dando-nos uma dimensão exata dela. Tal dimensão lança por terra tudo aquilo que pode servir de base para a irresponsabilidade humana, quanto a sua resposta à salvação graciosa de Deus. Essa parábola é conhecida como a parábola da figueira estéril. 1 - ENTENDENDO A PARÁBOLA Mais uma vez, Jesus usa algo do contexto rural palestino, para aplicar as verdades do reino. Dessa vez, ele usa uma figueira, uma árvore de grande valor em Israel, sendo descrita como símbolo de fartura e de esperança futura (lRs 4.25, Mq 4.1-4). Era comum ter uma figueira plantada em casa. Na parábola, Jesus diz que "certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha" (Lc 13.6). Porém, ao contrário do que se esperava, aquela figueira nunca havia produzido fruto algum (vs. 6,7). A Lei Mosaica A lei mosaica ensinava que toda a árvore plantada pelo povo teria seus frutos vedados ao consumo nos três primeiros anos. No quarto ano, os frutos seriam consagrados ao Senhor e apresentados como oferta. Somente no quinto ano os frutos poderiam ser consumidos pelo povo (Lv 19.23-25). www.maxmode.blogspot.com

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A PARÁBOLA DA FIGUEIRA ESTÉRIL

Lucas 13.6-9

IntroduçãoQuantas vezes você já ouviu alguém dizer: "Paciência tem limite". Quando diz isso, a pessoa está afirmando que a paciência vai acabar e então ela tomará providências. Essa frase funciona como um sinal amarelo para quem está incomodando.

Porém, uma coisa que não atentamos é que a paciência de Deus também tem limite. Seria uma tremenda falta de senso supor que a paciência de Deus com o pecador se estenderá infinitamente.

Ao contrário, quando a medida da iniquidade de uma pessoa ou até mesmo de um povo se enche (Gn 15.16), Deus executa seu juízo contra os que não obedecem a sua vontade (SI 99.4; 146.9; Ez 39.21).

Nesse contexto, Jesus contou uma parábola que nos instrui quanto à misericórdia de Deus, dando-nos uma dimensão exata dela. Tal dimensão lança por terra tudo aquilo que pode servir de base para a irresponsabilidade humana, quanto a sua resposta à salvação graciosa de Deus. Essa parábola é conhecida como a parábola da figueira estéril.

1 - ENTENDENDO A PARÁBOLAMais uma vez, Jesus usa algo do contexto rural palestino, para aplicar as verdades do reino. Dessa vez, ele usa uma figueira, uma árvore de grande valor em Israel, sendo descrita como símbolo de fartura e de esperança futura (lRs 4.25, Mq 4.1-4). Era comum ter uma figueira plantada em casa.

Na parábola, Jesus diz que "certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha" (Lc 13.6). Porém, ao contrário do que se esperava, aquela figueira nunca havia produzido fruto algum (vs. 6,7).

A Lei MosaicaA lei mosaica ensinava que toda a árvore plantada pelo povo teria seus frutos vedados ao consumo nos três primeiros anos. No quarto ano, os frutos seriam consagrados ao Senhor e apresentados como oferta. Somente no quinto ano os frutos poderiam ser consumidos pelo povo (Lv 19.23-25).

O prazo de três anos já havia se cumprido, e aquela árvore não tinha dado sequer um fruto, para a indignação do dono da vinha. Ele ponderou acerca do seu prejuízo, afinal, aquela figueira estava ocupando inutilmente a terra que poderia ser usada para ampliar com outras plantas.

Por isso, sua ordem ao empregado foi que cortasse a figueira (v.7). O empregado contestou a ordem do seu senhor, pedindo mais um ano. Durante esse período, ele se comprometeu a revolver a terra ao redor da figueira e adubá-la, a fim de que pudesse produzir (v.8). Porém, se ao fim desse ano a figueira não produzisse fruto algum, então seria cortada (v.9).

Os primeiros ouvintes da parábola, por certo, entenderam o significado da parábola perfeitamente, principalmente quanto à sentença proferida contra a figueira. Como dissemos, a figueira era símbolo de prosperidade, mas o seu corte era uma sentença divina contra o pecado do povo (Jr 8.13; Os 2.12; J11.1-13).

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Se observarmos o contexto da parábola, veremos Jesus tratando com o povo acerca do pecado. Algumas pessoas falavam com Jesus sobre duas tragédias históricas entre os judeus, que foi o assassinato de galileus durante um sacrifício, por ordem de Pilatos (Lc 13.1) e a queda da torre de Siloé sobre dezoito pessoas.

Costumeiramente, catástrofes e calamidades são consideradas retribuição ao pecado. Contudo, Jesus nega que aqueles que sofreram mortes tão atrozes eram mais pecadores do que os que estavam falando com ele.

O que Jesus queria ensinar com a parábola? O ensino central dessa parábola é que Deus trata os homens com paciência, mas o tempo da misericórdia tem limite. Em outras palavras, a paciência divina tem limite e o dia do juízo virá.

Segundo Simon Kistemaker1, "Jesus afirmou a seus ouvintes que a paciência de Deus resulta em julgamento se o pecador não se arrepende”. Portanto, há uma necessidade de arrependimento, enquanto Deus sustenta a sua paciência e misericórdia sobre os pecadores, bem como sobre o seu povo.

Logo, o ensino dessa parábola aponta para duas implicações.

2 – A PACIÊNCIA DE DEUS TEM LIMITEEm 8 de julho de 1741, uma igreja na cidade americana de Enfield, foi impactada por um sermão pregado por Jonathan Edwards, intitulado "Pecadores nas mãos de um Deus irado".2 Enquanto Edwards pregava, muitos se agarravam às colunas da igreja, como que sentindo o próprio inferno os sugando.

Eis algumas partes desse sermão:

"A espada da justiça divina está o tempo todo erguida sobre suas cabeças, e somente a mão de absoluta misericórdia e a mera vontade de Deus podem detê-la".3

"O arco da ira de Deus já está preparado, e a flecha ajustada ao seu cordel. A justiça aponta a flecha para vosso coração, e estica o arco. E nada, senão a misericórdia de Deus - um Deus irado! - que não se compromete e a nada se obriga, impede que a flecha se embeba agora mesmo do vosso sangue."4

Para os cristãos do século 21 tal sermão é politicamente incorreto. Não faz sucesso algum dizer que a paciência de Deus tem limite. Ao contrário, faz muito sucesso dizer que Deus é amor, que Deus se importa com os seus problemas financeiros, emocionais e etc.

Assim, a mensagem anunciada em muitos púlpitos e por muitas pessoas tem apenas o propósito de liberar o ouvinte de suas tensões. Os pecadores ouvem algo do evangelho, sem sequer serem confrontados com seu pecado.

Pedro, em seu sermão no Pentecostes, confrontou a multidão com o evangelho, expondo a eles quem era Jesus. Ele não deixou de confrontar seus ouvintes com seus

1 Kistemaker, Simon. As Parábolas de Jesus. São Paulo. Editora Cultura Cristã. 1992, p. 209.2 Edwards, Jonathan. Pecadores nas mãos de um Deus irado. São Paulo. PES. 1980.3 Ibid. p. 44 Ibid., p. 13.

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pecados (At 2.22,23). Ao ponto, de muitos perguntarem: "que faremos, irmãos" (At 2.37).

A resposta de Pedro foi: "Arrependei- vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo" (At 2.38).

E preciso dizer aos pecadores que o tempo da oportunidade está chegando ao fim, e que hoje é o dia do arrependimento (Hb 4.7 cf. SI 95.7,8). Deus está próximo de executar sua justiça. Porém, em sua longanimidade, ele deseja sinceramente que o pecador se arrependa (Ez 18.23,24,27,28).

Cabe aos cristãos, que já passaram pela experiência do arrependimento, expressar em alto e bom som as palavras do apóstolo Paulo: "Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos" (At 17.30,31).

3 - CUIDADO COM A IRA DE DEUSA parábola da figueira estéril também tem uma implicação na vida dos cristãos. Seria imprudente pensar que o fato de sermos salvos por Cristo impede que experimentemos seu juízo.

Não quero dizer que o cristão perde a salvação como reflexo do juízo do Senhor, mas que ele terá que dar explicações a Deus acerca dos seus atos.

O autor de Hebreus deixou isso bem claro ao escrever: "... importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade" (Hb 2.1-4).

Comentando o verso 3, João Calvino admite que tanto o que rejeita quanto o que negligencia o evangelho é merecedor de severo castigo. Ele também afirma que "Deus quer que valorizemos seus dons de acordo com sua importância. Quanto mais preciosos são eles, mais abjeta é nossa ingratidão, caso não conservemos para nós mesmos seu valor intrínseco".5

Não podemos ser cristãos acomodados. Tal comodismo negligencia o que Cristo fez. Toda vez que dizemos que algo é difícil (ex.: "evangelizar é difícil", "amar o próximo é difícil", etc.) e por causa da dificuldade deixamos de fazer o que deveríamos, estamos desvalorizando a salvação concedida por Deus.

Portanto, minha vida enquanto cristão deve produzir frutos como resposta à graça de Deus. Paulo entendeu bem essa verdade, ao ponto de dizer: "ai de mim se não pregar o evangelho!" (ICo 9.16). Ele continua: "Por isso, se eu faço o meu trabalho por minha própria vontade, então posso esperar algum pagamento. Porém, se faço como um dever, é porque é um trabalho que Deus me deu para fazer" (ICo 9.17 NTLH).

5 Calvino, João. Hebreus. São Paulo. Edições Paracletos. 1997, p. 53.

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Ao escrever a Tito, Paulo deixa claro cano deve ser o comportamento dos cristãos. Ele escreve: "...vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras" (Tt 2.12-14).

Destaco nesse texto a vida de piedade e o zelo de boas obras. Creio que são respostas satisfatórias à graça de Deus. Viver piedosamente é mais do que ler a Bíblia Implica em aplicar as verdades do evangelho na vida diária.

Logo, a piedade levará às boas obras. Não há obra realmente boa sem piedade, como também não há verdadeira piedade sem obras, pois foi para isso que fomos salvos (Ef 2.10; Tt 3.8; Tg 2.14-26).

Deus tem sido paciente também com cristãos relapsos e irresponsáveis com suas obrigações. Para esses, a mensagem da parábola é: a paciência de Deus tem limite. Pois como profetizou Isaías: "Mantende o juízo e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, prestes a manifestar-se" (Is 56.1).

CONCLUSÃODeus trata os homens com longanimidade. Baseado nela Deus tem suportado determinadas pessoas por mais algum tempo (Rm 9.22). Mesmo sendo longânimo, Deus não inocenta o culpado (Nm 14.18).

Um erro muito grande é confundir longanimidade e paciência no tratamento com pecadores, com misericórdia ou graça salvadora. Isso seria o mesmo que acreditar numa espécie de universalismo, ou sej a, que todos serão salvos no final.

Deus, a seu tempo, trará o juízo sobre a raça humana. O grande julgamento se aproxima. Cabe aos cristãos viverem de maneira pronta e vigilante, usando o tempo que lhes resta para fazer a vontade de Deus.

Parte dessa vontade é avisar aos incautos que o tempo vem, onde a longanimidade e a paciência darão lugar ao juízo e a justiça de Deus. De maneira que, no dia do juízo, o Senhor não terá por inocente o culpado.

Hoje é o tempo da oportunidade. A figueira ainda tem tempo para dar fruto. Em breve, não será mais assim.

Aplicação Como cristão, uma vez salvo e remido pelo sangue de cristo, terei que dar

conta dos meus atos a Deus no dia do juízo? No que deve consistir a vida diária do cristão? Quais as duas implicações que a parábola da figueira estéril nos ensina? Como

aplicá-las em nosso dia-a-dia? 

AUTOR: REV. GLADSTON PEREIRA DA CUNHA

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