15 coisas que as crianças devem saber sobre dinheiro - seu dinheiro

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Educação financeira 12/01/2011 06:30 15 coisas que as crianças devem saber sobre dinheiro Poupar, investir, evitar empréstimos, empreender - o que os pais devem ensinar a seus filhos antes que eles cresçam Julia W iltg en , de EXAME.com  São Paulo - Ed ucação f inanceira dev e começar cedo, de preferência na infância, a partir do momento em que a criança começa a ganhar sua mesada. Porém, muitos pais ficam perdidos na hora de falar sobre dinheiro com seus filhos, sem saber a hora certa de introduzir a mesada, o cartão de crédito, de falar de trabalho ou de abrir mão da “corujice” para que os jovens conquistem sua independência. Pensando nisso, a edu cadora financeira Silv ia Al ambert, diretora do programa “The Money Camp” no Brasil, elaborou 15 regras de ouro que pais e filhos devem saber sobre dinheiro. 1) Som ente gaste dinh eiro depois de pagar a si mesmo. Em outras palavras, antes de gasta r, poupe u ma parcela do que rec ebeu e guarde-a no porquinh o como forma de “remuneração a si mesmo”. Para as crianças, o ideal é sempre separar 10% da quantia recebida, já que a cifra redonda facilita o cálculo dos mais jovens. O percentual pode crescer à medida que a renda aumenta e, no futuro, essa poupança pode ser investida. “A melhor época para se poupar bastante é a juventude, quando não existem compromissos como filhos e longos financiamentos”, arremata Silvia Alambert. 2) O dinheiro é apenas uma ferramenta para se alcançar sonhos. Quando as crianças começarem a pedir coisas, é hora de considerar a introdução da mesada, pois significa que elas já entenderam a função social do dinheiro. Para definir o valor ideal, uma dica é sondar com outros pais do convívio social quanto seus filhos recebem. “O valor não pode ser tão alto que sobre muito, nem tão baixo que a criança se sinta excluída de seu grupo”, diz Silvia Alambert. Seja qu al for o valor, o mais im portan te é qu e ele caiba com f ol ga no orçamen to da família e ac omp anhe o aumento dos preços e do padrão de consumo das crianças ao longo dos anos. Para que a mesada cum pra o obj etivo de ensinar as c rianças a gerenciar o dinh eiro, é essencial qu e os pais nu nca faltem com o pagamento. 3) Quem administra bem 1 real saberá administrar 1.000.000 de reais. Se j a qual for o valor da mesada, ela d ev e durar por todo o mês ou semana, depen de ndo da periodicidade adotada pela família. Se o dinheiro acabar antes do tempo, os pais não devem ceder. Nada de dar ou emprestar dinheiro. “Essa não é a realidade da vida adulta. A criança precisa entender que dinheiro é um recurso finito. Se você tem, pode gastar. Se não tem, não pode”, aconselha a edu cado ra. Mais do qu e isso, as crian ças não devem se acostumar a recorrer a emprést im os, para não levarem esse mau hábito para a vida adulta. “Recorrer aos bancos é apenas para quem já entende bem como as coisas funcionam, e deve ser encarado como exceção”, ressalva. 4) Seu conhecimento é o que o levará a gerar riqueza. Compartilhar as tarefas de casa faz parte do bom convívio f am ili ar.

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Educação financeira 12/01/2011 06:30

15 coisas que as crianças devem saber sobre dinheiro

Poupar, investir, evitar empréstimos, empreender - o que os pais devem ensinar a seusfilhos antes que eles cresçamJulia Wiltgen, de EXAME.com

 

São Paulo - Educação financeira deve começar cedo, de preferência na infância, a partir do momentoem que a criança começa a ganhar sua mesada. Porém, muitos pais ficam perdidos na hora de falarsobre dinheiro com seus filhos, sem saber a hora certa de introduzir a mesada, o cartão de crédito, defalar de trabalho ou de abrir mão da “corujice” para que os jovens conquistem sua independência.Pensando nisso, a educadora financeira Silvia Alambert, diretora do programa “The Money Camp” noBrasil, elaborou 15 regras de ouro que pais e filhos devem saber sobre dinheiro.

1) Somente gaste dinheiro depois de pagar a si mesmo.

Em outras palavras, antes de gastar, poupe uma parcela do que recebeu e guarde-a no porquinho comoforma de “remuneração a si mesmo”. Para as crianças, o ideal é sempre separar 10% da quantiarecebida, já que a cifra redonda facilita o cálculo dos mais jovens. O percentual pode crescer à medidaque a renda aumenta e, no futuro, essa poupança pode ser investida. “A melhor época para se pouparbastante é a juventude, quando não existem compromissos como filhos e longos financiamentos”,arremata Silvia Alambert.

2) O dinheiro é apenas uma ferramenta para se alcançar sonhos.

Quando as crianças começarem a pedir coisas, é hora de considerar a introdução da mesada, poissignifica que elas já entenderam a função social do dinheiro. Para definir o valor ideal, uma dica ésondar com outros pais do convívio social quanto seus filhos recebem. “O valor não pode ser tão altoque sobre muito, nem tão baixo que a criança se sinta excluída de seu grupo”, diz Silvia Alambert. Sejaqual for o valor, o mais importante é que ele caiba com folga no orçamento da família e acompanhe oaumento dos preços e do padrão de consumo das crianças ao longo dos anos. Para que a mesadacumpra o objetivo de ensinar as crianças a gerenciar o dinheiro, é essencial que os pais nunca faltemcom o pagamento.

3) Quem administra bem 1 real saberá administrar 1.000.000 de reais.

Seja qual for o valor da mesada, ela deve durar por todo o mês ou semana, dependendo daperiodicidade adotada pela família. Se o dinheiro acabar antes do tempo, os pais não devem ceder.Nada de dar ou emprestar dinheiro. “Essa não é a realidade da vida adulta. A criança precisa entenderque dinheiro é um recurso finito. Se você tem, pode gastar. Se não tem, não pode”, aconselha aeducadora. Mais do que isso, as crianças não devem se acostumar a recorrer a empréstimos, paranão levarem esse mau hábito para a vida adulta. “Recorrer aos bancos é apenas para quem já entendebem como as coisas funcionam, e deve ser encarado como exceção”, ressalva.

4) Seu conhecimento é o que o levará a gerar riqueza. Compartilhar as tarefas de casa faz

parte do bom convívio familiar.

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Ganhar mesada não deve implicar ajudar em casa e vice-versa. Segundo Silvia, a mesada é umaferramenta educacional, e não um salário. Por outro lado, ajudar nas tarefas de casa deve serobrigação de todos os membros da família, sem necessidade de remuneração. “É um grande erroassociar as tarefas domésticas à mesada. Os filhos podem começar a cobrar para fazer as coisas, ouentão deixar de cumprir suas obrigações quando não estiverem precisando de dinheiro”, explica aeducadora. Os filhos devem entender que não é trabalhar em troca de uma recompensa que faz alguémenriquecer, mas sim a forma como a pessoa aplica seu conhecimento sobre finanças e trabalho no seudia a dia.

 

5) Se precisar de orientação sobre o bom uso do dinheiro, estou aqui.

Os pais não devem impor o que os filhos devem fazer com o dinheiro, nem proibir seus gastos. Umaboa maneira de ensinar sobre o que é importante e o que é supérfluo é fazer com que os filhos paguemda própria mesada seus gastos extras, como a pizza do meio da semana ou a ida a uma lanchonete naúltima sexta-feira do mês. A ideia não é classificar certas despesas como “inúteis”, mas sim incentivaras crianças a pensarem bem antes de gastar o dinheiro com itens que não sejam essenciais.

6) Estude para se tornar um bom empregador.

Aos 13 anos de idade, é bom que as crianças já comecem a pensar em maneiras de ganhar dinheiroquando tiverem 16, idade mínima para se começar a trabalhar no Brasil. Isso não significa que elasterão, necessariamente, que arrumar um emprego formal, mas devem, pelo menos, buscar fontes derenda alternativas à mesada. E aí, vale usar a criatividade: criar brechós para vender roupas, livros eoutros itens que não sejam mais usados, alugar os próprios games pela internet, fazer bijuteria paravender, e assim por diante. Para Silvia Alambert, os pais devem ensinar a ideia de que o dinheiro vemdo trabalho e do empreendedorismo. “No mercado, hoje em dia, há muita pressão. Não se deve maispensar em ser empregado, mas em se tornar um bom empregador quando adulto”, afirma.

7) Aproveite para quebrar enquanto você ainda é jovem.

Muita gente quebra quando consegue o primeiro emprego e começa a usar recursos como cheque,cartão de crédito e outras formas de endividamento. Mas se a pessoa tiver que quebrar para aprender,o melhor é que isso aconteça ainda na infância ou na adolescência. “Os pais devem deixar o filhoquebrar e resistir a suas queixas quando ele estiver em casa no fim de semana porque gastou demais.Essa dor será inesquecível, e quando chegar o primeiro cartão de crédito, ele vai lembrar”, diz Silvia.

8) Não mate a sua “galinha dos ovos de ouro”.

Não se deve gastar mais do que a metade do que foi poupado. A outra metade deve continuar noporquinho. Os pais devem ensinar que é essencial sempre deixar um dinheiro de reserva paraemergências e para evitar endividamento em horas de dificuldade.

9) O melhor investimento é também o de maior risco.

A partir dos dez anos de idade, as crianças já tem capacidade de entender como funciona umaempresa, quais são suas estratégias para crescer, o que são ações, quem são os gestores e osclientes. É claro que tudo vai depender da maneira como o assunto for abordado, mas essa é a faseideal para ensinar aos filhos sobre o funcionamento, os riscos e os benefícios do mercado de ações.Uma boa ideia é usar exemplos reais e em pequena escala: levar os pequenos para visitar uma loja docomércio local e ouvir a história de empreendedorismo do comerciante é uma alternativa.

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10) Usar cartão de crédito é o mesmo que usar dinheiro que não é seu. Se o pagamento

atrasar, será preciso dar ainda mais dinheiro a quem lhe emprestou.

Em tempos de comércio virtual, o cartão de crédito se tornou um item quase essencial. O problema éque muitos pais concedem essa facilidade aos filhos sem que eles tenham idade ou informaçãosuficiente para usá-lo com responsabilidade. Para Silvia Alambert, a melhor idade para se introduzir ocartão de crédito é aos 14 anos. Antes disso, a mesada deve ser concedida sempre em espécie, paraque a criança aprenda a manusear o dinheiro. “O grande problema das pessoas com o cartão decrédito é o fato de elas não verem o dinheiro, o que torna mais fácil passar dos limites”, explica aeducadora.

O mais importante, porém, é explicar que o cartão de crédito é uma forma de empréstimo, e que atrasaro pagamento implica pagar juros. Se mesmo assim o adolescente extrapolar os limites, deve haver umapunição. Por exemplo, se o saldo for excedido uma vez, o jovem perde o cartão por uma semana. Se oexcesso acontecer de novo, perde o cartão até que a dívida seja totalmente quitada. E assim pordiante.

 

11) “Investir” em coisas que perdem o valor não é inteligente. Inteligente é investir em coisasque fazem mais dinheiro por você.

Investimentos são mais inteligentes que longos financiamentos para comprar bens que perdem valor aolongo do tempo. Em vez de parcelar em dezenas de vezes um celular de última geração, ou mesmo umcarro, o melhor é poupar, aplicar o dinheiro e fazer a compra à vista ou em um menor número deparcelas, pagando menos juros.

12) Fazer o bem faz bem.

Os pais devem ensinar aos filhos a se sentirem bem ao doar para os mais necessitados, desde quetambém se planejem para isso. Quem se sente bem doando dinheiro pode separar uma parcela de seusrendimentos – digamos, 5% - especialmente para essa finalidade. Quem prefere doar seu tempo e suaatenção pode também reservar seu horário semanal ou mensal para um trabalho voluntário, porexemplo. Para Silvia Alambert, a doação deve estar incorporada à rotina de quem tem uma vidaconfortável. “Se eu tenho dinheiro, por que não fazer bem ao próximo? Educação financeira não é sópara o nosso próprio bem, mas para o bem de todos à nossa volta”, acredita.

13) Não há mágica. A vida financeira futura é feita das escolhas no presente.

Para realizar nossos sonhos no futuro, precisamos fazer sacrifícios no presente. E alguns sonhosdevem ser encarados como objetivos coletivos, pelos quais a família inteira deve batalhar unida.Mandar os filhos para a faculdade, comprar uma casa própria ou até mesmo um carro para a famíliasão sonhos de maior porte e que precisam de mais planejamento. Por eles, toda a família deve estardisposta a se sacrificar e cortar despesas.

14) Riqueza não é uma questão de status e vai além das coisas materiais que podemos

conquistar.

Os conceitos de pobreza e riqueza variam de acordo com o ponto de vista e a capacidade de cada umde realizar seus sonhos. Essas definições devem ser trabalhadas de maneira a não tornar as crianças“escravas” de bens materiais, evitando que elas associem o sucesso a ter dinheiro.

15) Em algum momento seu filho deverá ser avisado que o “Banco do Papai e da Mamãe”

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encerrou as atividades.

Muitos pais reclamam que seus filhos estão adultos e nem pensam em sair de casa, mas incentivá-losnesse sentido também é sua responsabilidade. Um jovem de vinte e poucos anos que ganha seusalário, mas não ajuda nas despesas da casa dificilmente vai querer morar sozinho. E se os pais nãodisserem nada, ele certamente não irá entender que já é hora de sair. “Os pais devem despertar nacriança o desejo de criar asas para voar quando estiverem adultas. Assim que o jovem começa aganhar um salário, mesmo que em um estágio, ele já pode começar a ajudar em casa. Só assim eleterá, no futuro, desejo de buscar sua independência”, finaliza Silvia Alambert.