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    REDESCOBRINDO O BRASIL

    500 anos depois

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    Leia tambm:

    Geografia: Conceitos e TemasOrganizao de

    In Elias de Castro / Paulo Cesar C. Gomes /Roberto Lobato Corra

    Geografia e ModernidadePaulo Cesar C. Gomes

    Brasil: Uma Nova Potncia Regionalna Economia-Mundo

    Bertha K. Becker / Claudio A. G. Egler

    O Mito da NecessidadeIn Elias de Castro

    Brasil: Questes Atuais da Reorganizao do TerritrioOrganizao de

    In Elias de Castro / Paulo Cesar C. Gomes /Roberto Lobato Corra

    In Elias de CastroMariana Miranda

    Claudio A. G. EglerOrganizao

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    REDESCOBRINDO O BRASIL

    500 anos depois

    Apoio:FAPERJ

    Copyright 1998, todos os autores da Obra

    Capa: Simone Villas Boas

    Editorao: Art Line

    1999Impresso no Brasil

    Printed in Brazil

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    SUMRIO

    APRESENTAO 9

    INTRODUO 11Por um redescobrimento do BrasilBertha K. Becker

    PARTE I INTEGRAO ECONMICA ENOVOS RECORTES DO TERRITRIO

    Globalizao, urbanizao da economia e expanso metropolitana 27Carlos A. de Mattos

    O macroeixo So PauloBuenos Aires e a gesto territorializada de governos subnacionais 41Geraldo Mller

    Elos entre espaos municipais e a dinmica global: o Rio Grande do Sul na perspectiva da integrao econmica 57Neiva Otero Schffer

    Dinmica regional brasileira nos anos noventa:rumo desintegrao competitiva 73

    Tnia Bacelar

    Uma pauta para reflexo sobre o urbano e oregional no Brasil dos anos 90 93

    Csar Ajara

    Pelo retorno da regio: desenvolvimento emovimentos sociais no Nordeste contemporneo 101

    Jos Borzacchiello da SilvaPARTE II DESAFIOS GESTO DO TERRITRIO

    Poltica e territrio na democracia institucional:os desafios da representao 117

    Wanderley M. Costa

    Desigualdades regionais, cidadania e representaoproporcional no Brasil 123

    In Elias de Castro

    Fronteiras em mutao. Deletando a memria? 137

    Gervsio Rodrigo Neves

    A definio das novas fronteiras martimas do Brasil 149Dieter Muehe

    O ambiente marinho sob a perspectiva do espao e do lugar 159Gilberto Mitchell

    Legislao e gesto do territrio 173

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    Claudio Antonio de Mauro et alii

    A ingovernabilidade do Rio de Janeiro algumaspginas sobre conceitos, fatos e preconceitos 181

    Marcelo Jos Lopes de Souza

    Oportunidades e limites da gesto municipal doterritrio: reflexes a partir do caso do Recife 195

    Jean Bitoun

    PARTE III AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO

    Novas tendncias do agribusiness internacional 211Ana Clia Castro

    A questo agrria em sua nova configurao scio-econmica, poltica e territorial 223

    Bernardo Manano Fernandes

    Nova configurao da poltica agrria nos anos 90 eo processo de globalizao 233

    Guilherme C. DelgadoDesenvolvimento rural sustentvel: desafios na questo ecolgica, econmica e social da grande empresa rural no Brasil 241Vera Lcia Salazar Pessoa

    Agricultura, recurso florestal e desenvolvimentosustentvel na Amaznia brasileira 251

    Maria Clia Nunes Coelho

    Elis de Arajo Miranda

    Gesto do territrio e alternativas para a produo

    agrcola familiar 263Maria Aparecida S. Tubaldini

    PARTE IV ESPAO E TCNICA

    Tcnica, trabalho e espao: as incisivas mudanas emcurso no processo produtivo 277

    Jlia Ado Bernardes

    Ao e seleo social: impulsos globais em contextos metropolitanos 291Ana Clara Torres Ribeiro

    Espao, tcnica e saber: labirintos da qualificao

    do trabalho 301Catia Antonia da Silva

    PARTE V REFLEXES EPISTEMOLGICAS

    Do contexto ao relato: revisitar a modernidade 315Vincent Berdoulay

    Geografia, prticas discursivas e ambincia ps-moderna 323

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    APRESENTAO

    O final do milnio e a passagem do ano 2000 significam, para os brasileiros, mais uma oportunidade de reflexo e deredescobrimento do Brasil atual, porm nos contextos de instabilidade, de transformaes rpidas e incertas. Que se entende

    por redescobrimento? Redescobrir olhar o mundo a partir do Brasil, de dentro para fora, pois os processos mundiais operamaqui dentro, enquanto muitos outros problemas so internos e tm sua possibilidade de soluo tambm aqui dentro.Redescobrir olhar o passado com uma viso do futuro, rever e repensar nossas potencialidades e nossas limitaes, que tmconcretude no territrio, como afirma a Professora Bertha Becker em seu texto introdutrio.

    O resultado deste repensar conjunto de diferentes especialistas, brasileiros e estrangeiros, gegrafos em sua maioria, etambm economistas, socilogos, ambientalistas, historiadores, polticos etc., encontra-se reunido neste livro. Aspreocupaes acadmicas e prticas, apesar de enfocarem como problema fundamental o territrio brasileiro e sua novadinmica frente aos impactos recentes da reestruturao econmica e poltica global, desdobram-se numa ampla temticaarticulada com os desafios do pas para a renovao do conhecimento sobre si mesmo, como a arma mais eficaz para ocombate aos seus persistentes desequilbrios espaciais e sociais.

    Problemas do territrio, da sociedade, do homem, do ambiente e da poltica brasileira so aqui tratados sob diferentesperspectivas e pontos de vista. Discusses terico-conceituais e pesquisas empricas encontram-se lado a lado,complementando-se e moldando um rico e profundo painel das diversas facetas da realidade brasileira. A necessria

    articulao entre matrizes tericas distintas e os olhares de diferentes especialistas permite visualizar os meandros, sinuosos,mas nem sempre muito claros, da lgica que preside a organizao do espao nacional.A integrao econmica e os novos recortes do territrio so tratados na Parte I. Os formatos desta integrao, impostos

    pela globalizao da economia, refletem-se nas interdependncias, que redesenham fronteiras e regies, redimensionam oespao urbano e afetam as agendas da gesto poltica. A regio volta ao centro do debate e os espaos municipais ressurgemcomo recortes consistentes para anlises variadas. As metrpoles so aqui abordadas como plos de integrao e dereorganizao do espao das demandas sociais.

    Como maiores desafios gesto do territrio, temtica dos trabalhos reunidos na Parte II, encontram-se a compreensodo fato poltico-institucional como um vetor territorial da maior relevncia e as fronteiras, percebidas agora mais comoinstrumento de regulao e de ampliao das trocas do que linhas de possibilidades restritivas. Sob o vis da poltica soabordados o problema concreto da representao proporcional, seus efeitos e suas limitaes, na escala nacional, e aspossibilidades e dificuldades da governabilidade em dois casos concretos na escala local: Recife e Rio de Janeiro. Com relaos fronteiras, o Mercosul e o Oceano Atlntico constituem as novas linhas privilegiadas de interface e abertura do pas para

    o mundo, desde o mais prximo ao mais distante.Tratando-se de um territrio amplo e diferenciado, com importantes plos de desenvolvimento agrcola em bases

    tecnolgicas e uma eterna questo agrria que resulta em pobreza urbana e insuficincia alimentar para parte da populao,as transformaes e resistncias da agricultura, suas inovaes e seus conflitos interferem profundamente na vida nacional. AParte III enfrenta o desafio de debater as dimenses econmicas, sociais e polticas da agricultura brasileira, incorporando osnovos eixos do desenvolvimento sustentvel e do vetor tecnolgico e articulando contextos de interesses, internos e externos,diferenciados e muitas vezes excludentes.

    Os impulsos decorrentes do novo paradigma da globalizao possuem um contedo tcnico particular, cujas mediaese conseqncias tm que ser analisadas. As transformaes recentes do territrio decorrentes das inovaes tecnolgicasincorporadas a diferentes dimenses do conhecimento e da prtica so abordadas na Parte IV.

    Finalmente, as diferentes matrizes conceituais que balizam as recentes pesquisas da Geografia e de outras reas, cujoconhecimento ajuda a compreender a complexidade do espao, em geral, e do territrio brasileiro, em particular, constituemum conjunto bem articulado de textos que, na Parte V, debatem sobre os diferentes modos de se organizar a agendageogrfica da contemporaneidade. As prticas discursivas, as possibilidades analticas do pensamento geogrfico, o problemado mtodo e a articulao necessria entre escalas so abordagens que contribuem para definir percursos intelectuais erecortes significativos para pesquisa.

    In Elias de Castro

    Mariana Miranda

    Claudio A. G. Egler

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    PARTE I

    INTEGRAO ECONMICA E NOVOS RECORTES DO TERRITRIO

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    GLOBALIZAO, URBANIZAO DAECONOMIA E EXPANSO METROPOLITANA

    Carlos A. de Mattos*

    INTRODUOO fracasso da planificao centralizada, a crise do Estado de Bem-estar e o esgotamento do modelo fordista, o abandono

    das estratgias de corte keynesiano, a afirmao de um novo paradigma tcnico-cientfico, o incontido avano damundializao do capital, a aplicao generalizada das estratgias de radical liberao econmica, aparecem como os marcoscentrais das profundas mudanas que tm afetado o mundo inteiro durante as ltimas duas dcadas. Conjuntamente, estasmudanas definem a direo para uma nova fase da evoluo do capitalismo, cujos traos tm importantes diferenas com osque haviam caracterizado a fase precedente.

    Prematuramente, quando estas transformaes comearam a se esboar, muitos analistas previram que havia iniciado ocaminho at uma maior convergncia das rendas per capita internacionais e inter-regionais e at uma efetiva reverso dapolarizao. Estas previses basearam-se em fundamentos tanto terico-ideolgicos (previses de modelos neoclssicos ento

    dominantes) como empricos (resultados de anlises para pases onde, no incio dos processos de reestruturao, efetivamentese observou certo desdobramento territorial produtivo-demogrfico).Na medida em que essas tendncias a disperso territorial seguem, manifestando-se no interior de alguns pases que se

    encontram dando seus primeiros passos em matria de reestruturao e de insero competitiva na economia-mundo, insiste-se que estaria a caminho de uma maior convergncia internacional e inter-regional. Desta maneira, percebe-se que, durante osperodos de recesso ou de crise econmica, geralmente se produz uma maior disperso territorial das atividades econmicase da populao e, conseqentemente, uma certa atenuao das desigualdades inter-regionais, sendo que nos perodos derecuperao econmica tal comportamento tende a reverter-se.

    De fato, as tendncias observadas nos pases que tm mostrado maiores avanos em sua reestruturao e inserocompetitiva na economia-mundo no avalizam tais previses. Com efeito, na medida em que os crescentes rendimentos e acompetncia oligoplica marcam mais fortemente sua presena no novo regime de acumulao, a divergncia de ritmos decrescimento entre pases e entre regies parece retomar seu carter congnito da prpria dinmica capitalista. Assim, osresultados de investigaes realizadas para pases desenvolvidos distintos fornecem elementos prudentes para questionar as

    previses de convergncia.Neste sentido, pergunta sobre qual seria a caracterstica mais proeminente da distribuio geogrfica da atividade

    econmica, Krugman (1992: 11) concludente: A resposta mais breve seguramente sua concentrao. Neste contexto,tambm cabe observar os prognsticos sobre reverso da polarizao e sobre a crise das grandes cidades e do crescimentometropolitano. A este respeito, por exemplo, Veltz (1996: 22), depois de analisar casos como os da Frana, Inglaterra e Japo,conclui que [...] a metropolizao da economia se afirma como a principal tendncia do decnio. Por sua vez, Chinitz eMoran (1996: 1), ao estudarem as tendncias observadas no perodo 1980-1990 nos Estados Unidos, comprovaram que,dentro de todas as regies, a tendncia tem sido sempre em direo s maiores aglomeraes metropolitanas.

    Tendncias nesta direo comeam a esboar-se nas economias emergentes mais avanadas da rea latino-americana.Em qualquer caso, trata-se de processos de reestruturao que, no entanto, se encontram em fase intermediria, e ondesomente possvel observar indcios da marcha at a aludida remetropolizao. No entanto, previsvel que naqueles pasesque atingem maiores avanos em termos de terceirizao e urbanizao econmica, este tipo de comportamento deveracentuar-se. Por outro lado, j existem diversos estudos que consideram este tipo de evoluo para AMP to importante comoa Cidade do Mxico (Delgado, 1992; Hiernaux, 1996), Buenos Aires (Blanco, 1996), Santiago do Chile (de Mattos, 1996), entreoutros.

    Desta maneira, depois de alguns anos de relativo otimismo, nos quais se acreditou que as novas modalidades deorganizao e distribuio da produo levariam a uma maior convergncia inter-regional e paralisao do crescimentometropolitano, a intensificao da concentrao produtiva num nmero limitado de lugares tornou a apresentar-se comotendncia predominante no novo mapa mundial.

    Este trabalho se prope a analisar e explicar esta tendncia na distribuio territorial das atividades produtivas e dapopulao, em particular do crescimento metropolitano no caso dos pases latino-americanos que mais tm avanado em seusprocessos de reestruturao e modernizao. A anlise se desdobrar em torno da seguinte seqncia causal: materializao

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    setorial-territorial dos fluxos de capital estruturao/desestruturao dos mercados de trabalho concentrao e/ou disperso territorial

    da populao.

    Com tal propsito, foram considerados os seguintes aspectos: a) qual a orientao predominante dos fluxosinternacionais e inter-regionais de capital na economia globalizada; b) quais so os lugares preferidos para sua cristalizaoem termos de acumulao nacional, regional e/ou local; c) quais so os fatores de localizao que tm maior incidncia nalocalizao dos setores mais influentes no surgimento ou na desapario, na dinamizao ou no estancamento, dos

    respectivos mercados de trabalho; e d) que conseqncias tiveram essas mudanas no crescimento metropolitano.

    GLOBALIZAO, LIBERALIZAO, DESREGULAMENTAO E MOVIMENTOSDO CAPITAL

    Para tentar uma explicao para esta tendncia, necessrio partir das principais transformaes que, sob o impulsosimultneo e inter-relacionado da consolidao de um novo paradigma tcnico-cientfico e do aprofundamento daglobalizao do capital, afetaram a dinmica de acumulao medida que pases e empresas iam saindo da crise, queterminou em meados da dcada de 70.

    A evoluo observada nestes anos foi marcada pelo prestgio ascendente da idia de que, tanto para as naes comopara as empresas, a possibilidade de acumular e crescer no mbito da nova dinmica econmica encontra-se condicionadapela sua capacidade de aumentar a competitividade. Sob este prestgio, um crescente nmero de pases optou porimpulsionar mudanas radicais na orientao de suas estratgias e polticas macroeconmicas, entendendo-se que as

    condies gerais para melhorar a competitividade devem ser estabelecidas ab initio no mbito nacional.1Desta maneira, no mbito da gesto pblica nacional, a reestruturao nasceu associada, essencialmente, a uma radical

    liberalizao econmica, entendida como condio necessria para restituir ao mercado as funes reguladoras que, sob oapogeu das idias keynesianas, haviam sido fortemente constrangidas durante vrias dcadas. Subjaz nesta concepoterico-ideolgica a certeza de que, ao soltar as foras do mercado, seria possvel melhorar as condies para a valorizaoprivada do capital e, por esta via, se dinamizariam a acumulao e o crescimento. Por sua vez, num ambiente representadopelo aumento da incerteza e dos riscos, as empresas se viram compelidas a realizar profundas mudanas na organizao deseus processos produtivos, a fim de modificar as bases estruturais de sua competitividade e poder ganhar espao na economiaglobalizada.

    No novo cenrio que vem se perfilando, a desregulamentao e a globalizao do capital aparecem como processoscomplementares que se retroalimentam reciprocamente e, ao faz-lo, contribuem para o aprofundamento da nova dinmicaeconmica: enquanto a globalizao requer maior liberalizao e abertura no funcionamento das economias distintasnacionais, a desregulamentao apresenta-se como condio inevitvel para que uma economia nacional possa melhorar suainsero na dinmica globalizada. Dessa dinmica tem emergido um conjunto de transformaes estruturais, das quais, paraa anlise deste trabalho, destacam-se:

    a) a crescente autonomizao do capital, tanto no que diz respeito s indicaes pblicas, como as suas relaes com omaterial, resultado lgico das condies gerais estabelecidas pela desregulamentao. Assim, enquanto, por um lado,observa-se uma progressiva perda da capacidade dos Estados nacionais para a gesto dos movimentos do capitalque, cada dia com maior fora, tendem a sobrepassar as regras e as fronteiras nacionais, atrs dos destinos setoriaisou territoriais percebidos como os mais rentveis, por outro lado, como expresso do mesmo processo, o mercadomonetrio paulatinamente vem se divorciando das mercadorias, de maneira que o fluxo internacional de capitaisvem perdendo relao com o volume do comrcio mercantil, numa seqncia de progressiva automatizao docomponente financeiro (Menzel, 1995: 8-12). Por sua vez, esta automatizao suporta dois epifenmenos adicionaisde suma importncia para a anlise da questo da convergncia/divergncia internacional e/ou inter-regional: i) a

    intensificao da tendncia secular conglomerao do capital, num quadro onde as fuses, aquisies, joint-ventures etc.adquiriram o carter de fatos cotidianos no noticirio da economia mundial; e ii) a progressiva debilitao das razesterritoriais do capital, conseqncia lgica da formao, expanso e consolidao de vastas estruturas empresariaismultinacionais e multi-regionais.

    b) a paulatina transformao da morfologia organizacional das empresas, derivada da necessidade de aumentar suacompetitividade no cenrio globalizado, mediante formas de organizao que permitam maior flexibilidade paraenfrentar as incessantes mudanas do mercado (Caravaca e Mendez, 1995: 717). Numa situao em que se foiimpondo uma transio, desde uma competncia de custos at uma competncia por meio da diferenciao dasmercadorias (Veltz, 1996), a organizao em rede constitui-se num tipo de resposta habitual.

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    c) a intensificao da terceirizao do aparato produtivo, num processo em que a composio interna deste setor mostraimportantes mudanas qualitativas, basicamente como conseqncia do impacto da microeletrnica e das novastecnologias da informao. Com estas novas condies, boa parte das grandes empresas industriais tende a externarum elevado nmero de atividades que, desde ento, so contabilizadas como servios. De fato, a consolidao dareestruturao de pases e de empresas culminou no crescimento da participao do setor tercirio na gerao deempregos, com o conseqente efeito de urbanizao da economia e de maior crescimento dos mercados urbanos de

    trabalho.

    Na nova e emergente dinmica econmica destas transformaes, as perspectivas em matria de acumulao ecrescimento para as naes ou regies estimuladas pelas condies estabelecidas pela liberalizao/desregulamentaodependem, a cada dia e em maior grau, das estratgias e das decises de estruturas empresariais, organizadashierarquicamente escala mundial.

    MOVIMENTOS DO CAPITALE ATIVIDADE TERRITORIAL

    Para onde se dirigem, preferencialmente, os capitais que se movem praticamente sem restries? Quais so os atributosque explicam o porqu desses capitais adotarem tal comportamento? No que diz respeito a seu destino territorial, a evidncia

    emprica disponvel concludente ao mostrar que o capital no se dirige aos lugares mais desregrados e de salrios maisbaixos, e sim aos territrios considerados de menor risco e mais rentveis,2 que possuam maior fertilidade relativa, segundo aproposio de Kampetter (1995). Vale dizer que, amparado nas condies estabelecidas pelas polticas de liberalizao edesregulamentao, o capital tende a dirigir-se de preferncia at os setores, atividades e lugares que lhe resultem maisatrativos, em funo das possibilidades que ali encontra para germinar mais rpida e vigorosamente.

    De que depende a atratividade de um determinado territrio? Essencialmente poderia afirmar-se que esta condiodepende da presena (ou ausncia) de um conjunto de atributos, configurados ao longo da histria produtiva especfica doterritrio em questo. Tanto na escala internacional como na nacional, a maior ou menor presena destes atributos determinante nas decises dos proprietrios do capital sobre localizao/deslocalizao de suas inverses e condiciona asperspectivas de acumulao e de crescimento neste territrio.

    Andreff (1996: 32) aponta que numa ampla viso, a atratividade tende a englobar todas as vantagens e desvantagensdo pas anfitrio, compreendidas as vantagens comparativas, o clima de inverso, o risco-pas e a qualidade das empresaslocais recomprveis pelas multinacionais. Coincidentemente, as explicaes proporcionadas pelas novas teorias docrescimento (Romer, Lucas, Barro etc.) indicam que os lugares de mais elevado potencial endgeno seriam aqueles quecontam com maior acumulao inicial de capital fsico, capital humano e conhecimentos.

    Que evidente importncia tm, efetivamente, estes atributos na realidade concreta? Sem dvida, um importanterespaldo emprico. Efetivamente, os proprietrios do capital outorgam crucial importncia a estes fatores, ao adotaremdecises a respeito de onde investi-lo, o que sustenta o fato de que as medies de risco-pas e de competitividade consideramhabitualmente fatores desta natureza para elaborar as respectivas tabelas.3

    possvel concluir, portanto, que a situao inicial de cada territrio, configurada pela consolidao de atributos, comoos assinalados, impe um papel decisivo na distribuio territorial tanto no plano internacional como no interior de cadaespao nacional das atividades produtivas e dos respectivos mercados de trabalho. Em outras palavras, seria a incidnciamancomunada destes atributos que possibilitaria os ritmos de acumulao e crescimento de cada pas, assim como de cadaregio, no novo cenrio globalizado.

    A prpria lgica inerente desta dinmica desencadeia processos de carter acumulativo, desde que os territrios com

    maior nvel relativo inicial de acumulao de capital fsico, capital humano e conhecimentos, dadas as externalidadespositivas destes fatores, constituam-se em focos de atrao para novas inverses, aumentando assim, de perodo em perodo,o nvel de acumulao. Neste processo, vantagens vo se estabelecendo para aqueles territrios, cuja histria produtiva lhestem permitido avanar em maior grau na sua reestruturao e modernizao e, portanto, alcanar mais prematuramente umcenrio macroeconmico atrativo. Vale afirmar, a dotao inicial desigual dos atributos que caracterizam a atratividade decada lugar configura as bases sobre as quais se reproduzem estruturas territoriais hierarquizadas, desenhando um mapa(internacional, inter-regional e intra-regional) onde o crescimento divergente, a concentrao e a desigualdade esto situadoscomo traos congnitos. Neste sentido, a realidade observada justifica plenamente a afirmao de Krugman (1992: 15) de que

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    a economia em que vivemos est mais prxima da viso de Kaldor, a de um mundo guiado por processos acumulativos doque a do modelo tpico de rendimentos constantes de escala.

    CRESCIMENTO DA INDSTRIA E DOS SERVIOS E CONCENTRAO PRODUTIVA METROPOLITANA

    A que tipo de atividades so predominantemente dirigidos fluxos de inverso? L onde a reestruturao das economiasnacionais e das empresas alcanaram avanos significativos e culminaram os processos de urbanizao da economia, os fluxosinternacionais de inverso estrangeira direta (IED) tendem a orientar-se preferentemente em direo indstria e, emespecial, dirigindo-se aos servios de produo (bancrios e financeiros, seguros, servios imobilirios, engenharia earquitetura, servios contbeis e legais, entre outros servios profissionais). A inverso nacional parece seguir padres delocalizao anlogos aos da IED, particularmente realizada pelas empresas mais integradas dinmica da globalizao.Importa, ento, tratar de estabelecer quais os principais fatores considerados tanto pela indstria quanto pelos servios,quando escolhem seu lugar de implantao, cabendo propor a anlise em trs nveis.

    O primeiro nvel refere-se localizao das sedes corporativas e dos comandos das empresas que do forma cpula donovo poder econmico devido aos importantes efeitos que suas decises e aes tm sobre boa parte das atividadesprodutivas restantes ao seu redor. Nesse caso, observa-se uma forte preferncia pelos lugares que dispem: i) de melhores emais rpidos sistemas de comunicaes, capazes de permitir contatos cotidianos correntes com empresas em lugares distintos

    do contexto global (aeroporto internacional de primeiro nvel, rede integrada de comunicaes com o exterior etc.); ii) do quese poderia denominar como a presena do outro, isto , a proximidade fsica de outros atores de equivalente classehierrquica, uma vez que para as cpulas das grandes empresas um importante handicap ter uma localizao distante dolugar de onde se concentra a maioria do mesmo nvel; iii) finalmente, e no menos importante: que a localizao escolhidapermita a comunicao direta cotidiana, formal e informal, mais fluida, entre as pessoas que desenvolvem as tarefas maiscriativas e inovadoras do novo aparato produtivo, potenciando o que Reich denomina de benefcios criativos daproximidade (Reich, 1991: 236). Tudo isto incide decisivamente no comando das principais empresas que operam em mbitonacional, para se localizarem nas reas metropolitanas de maior hierarquia.

    Num segundo nvel devem-se observar as preferncias de locao das principais atividades produtivas do setorindustrial, cujo caso, contrariamente ao que anteciparam muitos analistas, somente dispersou-se territorialmente de formaseletiva, pesando, neste sentido, as possibilidades que lhes oferecem as novas tecnologias da informao.4 verdade quemuitos processos manufatureiros dispersaram-se para outras localidades de cada territrio nacional, situando-se prximosdos recursos naturais ou da mo-de-obra barata, ou para aproveitar polticas locais de estmulo. A maior parte das atividadesmais dinmicas e inovadoras tem mostrado uma clara preferncia locacional pelas reas metropolitanas principais (AMPs).

    No se trata, portanto, do renascimento das tendncias concentrao territorial generalizada que caracterizou aindstria substitutiva latino-americana do perodo anterior, porm de um comportamento diferenciado que afeta de formadesigual distintos segmentos do novo aparato manufatureiro. Como destacam Caravaca e Mndez (1992: 21): [...] o que seprope agora a idia de que a grande cidade passa de uma fase de crescimento extensivo a uma fase de crescimentointensivo, em que se refora a especializao em atividades intensivas em capital ou conhecimento, tanto na indstria comono tercirio avanado.

    Tal comportamento locacional pode ser explicado, levando-se em conta as condies gerais de incerteza e riscoinerentes ao cenrio ps-fordista, onde a competitividade de cada empresa e de cada produto constitui-se num requisitoincontestvel para sua sobrevivncia. A eleio de uma localizao adequada tambm constitui-se no aspecto crucial de umagesto que tem como um de seus objetivos bsicos minimizar a incerteza e os riscos (Veltz, 1996: 233). Nessa situao, e mais aatratividade do entorno geral, a indstria especialmente a mais moderna e inovadora tende a orientar-se em direo aos

    lugares que oferecem vantagens em termos de mercados de trabalho, mercados para seus produtos, contingentes de talento einovao, complexidade dos tecidos industriais, infra-estrutura (especialmente na rea das comunicaes) e disponibilidadede servios avanados especializados, vantagens que, em seu conjunto, somente podem ser encontradas nas grandes reasmetropolitanas preexistentes. Neste sentido, Veltz (1996: 238) destaca que: [...] a dimenso metropolitana oferece sobretudouma garantia frente ao imprevisto e ao imprevisvel, que parece muito superior quela de outros tipos de territrio.

    Finalmente, num terceiro nvel, relativo s decises sobre a localizao dos servios e, em especial, dos serviosavanados, observe-se que os fatores que mais incidem so similares aos considerados pela indstria, mas onde a presenadesta se constitui por si s num fator de atrao adicional. Bailly e Coffey (1994) afirmam que os trs fatores de maiorincidncia na localizao dos servios seriam: i) necessidade de mo-de-obra qualificada, j que numerosos servios

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    dependem da competncia de seus empregados e da qualidade das relaes interpessoais; ii) necessidade de aproximao decriadores de conhecimentos, de informao e de tcnicas; iii) proximidade do mercado, porque os servios tendem a localizar-se nas metrpoles, isto , na proximidade direta das sedes sociais e dos escritrios nacionais das empresas, j que so estas asque adotam decises sobre compras.

    Uma vez que a maioria das economias emergentes latino-americanas no dispe de uma pluralidade de lugaresdotados destes atributos, so principalmente as AMPs herdadas da fase precedente os lugares que tendem a localizar-se

    majoritariamente: a) as funes de direo, gesto, coordenao e controle das principais estruturas empresariais(conglomerados econmicos e financeiros, empresas multinacionais, grandes empresas) que comandam a dinmica deacumulao, assim como a articulao com a economia global; b) as atividades bsicas do tercirio avanado como serviosfinanceiros (em especial bolsa de valores), servios ao produtor, servios educacionais de ponta, servios vinculados aosprodutos e atividades globais, atividades culturais de maior nvel etc.; c) o ncleo mais dinmico e inovador da novaindstria; d) o mercado para a parte mais relevante dos produtos globais.

    Por outro lado, simultaneamente com a expanso destas metrpoles, tambm se observa o crescimento de um nmeroimportante de cidades mdias. Trata-se de cidades, cujos mercados de trabalho tm cobrado dinamismo em funo dodesenvolvimento de certas atividades produtivas, geralmente vinculadas s vantagens comparativas vis--vis dos mercadosexternos no marco da globalizao, muitas vezes relacionadas com a utilizao de recursos naturais e/ou de mo-de-obrabarata. Contudo, no possvel inferir que estejamos na presena do crescimento das cidades mdias em geral, como s vezesse tem sustentado, mas de algumas cidades mdias, vinculadas a um nmero limitado de processos ou reas produtivasdinmicas.

    CONCENTRAO PRODUTIVA METROPOLITANA E MERCADOS URBANOS DE TRABALHO

    Desde as origens da formao das economias nacionais latino-americanas que as principais cidades se constituram nocorao, tanto de seus respectivos processos de integrao econmico-territoriais, como de sua articulao com a economia-mundo. Contudo, sua plena consolidao somente chegou com a intensificao da urbanizao da economia sob os impulsosda industrializao substitutiva, oportunidade em que aumentou rapidamente seu nvel de concentrao produtiva edemogrfica. E justo nesse momento, quando os pases mais industrializados da regio comearam a desencadear processosde expanso metropolitana incontrolveis em torno da maioria delas. Ao se generalizarem as estratgias de abertura externadurante os ltimos anos, muitas destas AMPs constituram-se em marcos para a convergncia de seus entornos nacionais nasredes de comunicao financeira, comercial, produtiva, cultural etc., passando a assumir uma nova funo no mundo dascidades globais (Sassen, 1991). Assim, nos pases onde foram mais intensos os efeitos da reestruturao produtiva e daglobalizao, estas aglomeraes vieram se afirmando em qualidade de modos secundrios da rede de cidades estruturada escala global .O aumento de sua capacidade para assumir as funes que intensificam a sua internacionalizao lhes permitiu potenciar suapresena nessa rede de cidades e, com ele, melhorar o nvel de insero e tambm a posio da respectiva economia nacionalna nova dinmica globalizada.

    A localizao, nestas metrpoles, do conjunto de funes e atividades, antes mencionado, determina que nelas seestruturem os mercados de trabalho de maior envergadura e mais diversificados e dinmicos de cada espao nacional. Apartir das atividades acumuladas em cada um destes subsistemas ao longo de sua histria e das externalidades que desdeali se propagam gera-se um set extraordinariamente diversificado e complexo de atividades, justamente, o que outorgaespecificidade aos mercados metropolitanos de trabalho. Somadas as novas funes e ocupaes inerentes sua progressivaterceirizao, coexiste, nestes mercados, imbricada por inumerveis canais, uma multiplicidade de tipos de trabalho, desdeaqueles a que correspondem as melhores remuneraes de cada mbito nacional, at um nmero muito elevado de ocupaesmarginais e/ou perifricas, incluindo uma variada gama de empregos precrios, com remuneraes pauprrimas. Emqualquer caso, a existncia desta diversidade de segmentos trabalhistas o que permite a estas aglomeraes oferecerempossibilidades de sobrevivncia nos espaos nacionais e manterem a continuidade de seu potencial de atrao.

    EXPANSO PRODUTIVO-DEMOGRFICA, ESTRATGIAS PRIVADAS E METROPOLIZAOEXPANDIDA

    Como se materializam estes processos de concentrao metropolitana? Talvez o trao mais relevante para caracterizaras AMPs da poca da globalizao e da desregulamentao seja sua incontrolvel tendncia suburbanizao e/ouperiurbanizao a partir dos ncleos urbanos originais, em um processo no qual a mancha metropolitana se expande de

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    forma incessante, ocupando as reas rurais que encontra, transbordando os limites urbanos definidos no momento anterior5.Assim, a rea urbana herdada no perodo de desenvolvimento, cujos limites apareciam desenhados de forma relativamentemais precisa e ntida, vai dando lugar a uma metrpole-regio6 de fronteiras difusas, em contnua expanso, configuradas comoverdadeiros arquiplagos urbanos (Ferrao, 1992; Dollfus, 1994).

    Esta modalidade de expanso urbana que comea a predominar no mundo inteiro adquire manifestaes especficasnas cidades de economias emergentes perifricas, onde diversos centros urbanos, at ento autnomos, so absorvidos pela

    mancha urbana em expanso ou, simplesmente, incorporados sistematicamente dinmica metropolitana. Assim, em casoscomo o de So Paulo e Cidade do Mxico, o arquiplago resultante estende-se tentacularmente por uma enorme extenso, quetermina afetando outras reas metropolitanas prximas. Nestas estruturas predominantemente urbanas, suburbanizadas epolicntricas, o modelo de cidade europia, que se constituiu no referencial obrigatrio das origens, nos momentos de maioresplendor da cidade latino-americana, cedeu lugar a um modelo onde Los Angeles aparece como o mais provvel paradigma.

    Em qualquer caso, esta modalidade de expanso urbana no pode ser considerada como um fenmeno inteiramentenovo, mas como a previsvel e lgica cumulao de um trao inerente urbanizao capitalista, que j se avizinhava noperodo de desenvolvimento. A novidade uma forma de metropolizao expandida, onde certos processos produtivos, emespecial os mais tradicionais, assim como tambm a populao, j no exigem concentrar-se numa rea compacta, masmostrando em qualquer caso sua preferncia por uma razovel proximidade entre si e com o lugar onde se encontram asmaiores economias de aglomerao.

    O que permitiu e estimulou essa modalidade de concentrao expandida? Basicamente a convergncia de dois tipos defatores: um de natureza tecnolgica e o outro de ordem scio-econmica. No que diz respeito aos fatores de tipo tecnolgico,

    importa destacar a generalizao do uso de trs tipos de produtos, cuja difuso foi uma conseqncia natural do avano daglobalizao e da desregulamentao:

    a) o automvel e os diferentes tipos de transporte automotor. O vertiginoso aumento da taxa de motorizao registrada nestespases e, em particular, em suas regies metropolitanas, gerou uma crescente demanda por infra-estrutura urbana,com o que as estradas e rodovias constituram-se nos eixos que guiam a expanso metropolitana;

    b) as novas tecnologias da informao e a comunicao, cuja adoo generalizada reduziu significativamente a distnciacomo fator limitante para a localizao de empresas e famlias, tambm estimulou um progressivo aumento dotrabalho no lugar de residncia;

    c) a televiso, tanto aberta como a cabo e satlite, cuja explosiva difuso em todos os setores sociais favoreceu um maiorestabelecimento cotidiano em lugares situados a distncias relativamente maiores que as que prevaleciam na cidademais concentrada do passado.

    No que diz respeito a fatores de ordem scio-econmica, o que vale destacar o que a liberalizao econmica atingiu,essencialmente, ou seja, a abertura do caminho para a afirmao de uma lgica estritamente capitalista na produo ereproduo metropolitanas, ao permitir uma operao totalmente desregulada (ou, no melhor dos casos, escassamenteregrada) de dois tipos de estratgias sociais:

    a) as estratgias empresariais, que utilizam o espao metropolitano para o desenvolvimento de um tipo especfico deatividade produtiva urbana, vinculada construo civil e aos negcios imobilirios. Este resulta do fato de que estasmetrpoles-regio, receptoras da parte mais moderna e dinmica do aparato produtivo do respectivo mbitonacional, configuram um meio privilegiado e insubstituvel para a valorizao privada do capital.

    b) as estratgias privilegiadas ou familiares de um acmulo de atores que, em funo de preferncias pela habitaounifamiliar, excedem reiteradamente as diversas disposies estabelecidas com o propsito de regular o crescimentoe o funcionamento urbanos. De um lado, as estratgias habitacionais dos setores mais solventes que, em boa parte

    dos casos, respondem ao desejo de evadir-se de problemas (contaminao, congesto, delinqncia etc.) que tendema piorar na parte central destas AMPs e buscam refgio em lugares escolhidos de sua periferia. De outro, os setoresdespossudos, em luta permanente por lugares de residncia, tendem a ocupar terras marginais, muitas vezes deforma ilegal, onde geralmente proliferam casas precrias e sem servios, que tambm contribuem para empurrar afronteira urbana, mesmo quando em outras direes.

    Pode-se afirmar ento que os negcios imobilirios, com a cumplicidade ativa da populao urbana, impem um papelfundamental nas tendncias atuais suburbanizao metropolitana. A confluncia destas estratgias tem como resultado umametrpole-regio que se constri e reconstri, que se configura e reconfigura cotidiana e caoticamente, pelo que, longe de ser

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    um projeto desenhado e controlado pelo homem, converteu-se numa realidade que escapa a seu controle (Naredo, 1994:234).

    Tendo em vista o alcance dos fatores que contribuem para intensificar a expanso metropolitana, lgico afirmar quequalquer inteno de regular o funcionamento dessas cidades e atenuar sua expanso exigiria um esforo deliberado e orientado para o

    controle de um sem-nmero de atores e para restringir (e/ou impedir) uma infinidade de negcios. bvio que, alm de um enormepoder poltico e ideolgico, ele requeriria um manejo altamente autoritrio. As perspectivas de uma gesto urbana racional e

    efetiva parecem mais distantes a cada dia que passa, enquanto perdurarem as orientaes que atualmente regem a gestopblica.

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    NOTAS E REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    1. Uma importante concluso da investigao de Porter sobre as vantagens competitivas das naes que as diferenas de escala nacionalem estruturas econmicas, valores, culturas, instituies e histrias contribuem profundamente para o xito competitivo. O papel da

    nao parece ser to forte como antes, ou ainda mais forte que nunca (Porter, 1990: 45).2. A informao disponvel para os ltimos 25 anos mostra que esta tendncia se acentuou medida que o processo de globalizao foi seintensificando. A esse respeito, Hatem (1995: 84) destaca que o impulso dos fluxos de IED beneficiou, a partir de 1985, todos os pasesdesenvolvidos. Estes receberam, entre 1985 e 1990, 85% dos fluxos acumulados, contra somente 72% entre 1980 e 1984.

    3. Assim, por exemplo, pode-se mencionar que Standard & Poor avaliam a situao de cada pas em funo de seu risco poltico (sistemapoltico, ambiente social, relaes internacionais) e do risco econmico (posio financeira externa, flexibilidade da balana depagamentos, estrutura e crescimento econmico, conduo econmica, perspectivas econmicas) (Standard & Poor, Emerging Markets,maro, 1995).

    4. Neste sentido, Ascher (1995: 153) afirma que [...] as novas tecnologias de transportes e de comunicaes participam das recomposiesdos espaos urbanos e rurais, mas no engendram uma disperso generalizada dos homens e das atividades.

    5. Uma recente investigao sobre duas grandes city-regions, entre as quais incluram-se duas latino-americanas (So Paulo e Santiago),concluiu que: em todas estas cidades, o modelo predominante de crescimento fsico tem sido a disperso desde o centro histrico e osanis interiores adjacentes at longnquos espaos abertos e terra agrcola(Lincoln Institute, 1996: 3).

    6. Diversas denominaes esto sendo utilizadas para denominar esse novo tipo de configurao urbana, tais como reas metropolitanas,regies urbanas, cidades-regio, megalpoles, cidades globais, metrpoles (Ascher, 1995).

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