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ÍNDICE

A edição 14 da revista Crítica inclui artigos sobre conjuntura europeia (as di-ficuldades da zona euro, o Orçamento europeu, o Brexit) e o orçamento por-tuguês (o debate sobre as rendas elétricas e o impacto da descida das taxas de juro). O tema da desigualdade é tratado em três artigos, sobre o relatório mundial sobre desigualdade, publicado pela equipa de Alvaredo, Saez, Piketty e outros, e sobre alguns dos seus impactos.

Finalmente, incluímos três estudos, um de Nuno Serra sobre os salários e con-dições de trabalho da Função Pública, outro de Eugénio Rosa sobre a política fiscal e outro de Ernesto Figueiredo sobre regionalização, concluindo uma série que inclui dois outros textos publicados em edições anteriores da Crítica.

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ÍNDICE

Europa, ano de riscoO fim da linha para a zona euro?, Ricardo Cabral ....................................................... 05

O deslumbramento faz bem à saúde, Francisco Louçã ............................................... 07

Brexit: Drama com “intermezzo” feliz?, Ricardo Cabral ............................................. 08

Execução OrçamentalA contribuição que nunca viu a luz, Mariana Mortágua .............................................. 10

A continuada descida da taxa de juro da República, Ricardo Cabral ....................... 11

DesigualdadeA Economia Política dos muito ricos (e dos impostos que pagam) Ricardo Paes Mamede ................................................. 14

Tanto caminho por fazer, Alexandre Abreu .................................................................. 16

Vá lá, não se façam de novas, Francisco Louçã .......................................................... 17

EstudosDos «privilégios» da função pública face ao emprego no privado, Nuno Serra .................................................................................................. 19

Ordenamento Sub-Rgional do Espaço Continental Português, Ernesto Figueiredo ............................................... 21

É necessária uma política fiscal que respeite a Constituição e não crie mais injustiças e distorções Eugénio Rosa, ............................................. 34

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RICARDO CABRAL

Finalmente, após um longo período de estagnação, a zona euro está a crescer e os fantasmas da crise parecem pertencer ao passado. Mas, na realidade, sopram nuvens negras sobre o futu-ro da zona euro como se deduz das reformas propostas que estão em cima da mesa.

Donald Tusk, o polaco que é presidente do Conselho Europeu – conselho de chefes de Estado e de Governo da União Europeia – “deu um recado” sobre o que o Conselho Europeu espera do novo Presidente do Eurogrupo, Mário Centeno: dar prioridade à União Bancária e à transfor-mação do Mecanismo de Estabilidade Europeu num Fundo Monetário Europeu que concederia empréstimos, com condicionalidade estrita, aos países em dificuldade. Tanto uma como outra dessas reformas são defendidas pela Alemanha.

As propostas de criação de uma capacidade orçamental comum e de alteração das regras do Tratado Orçamental – mais polémicas por enfrentar a resistência da Alemanha e por servirem melhor o interesse dos países devedores – ficariam para depois, segundo o presidente do Con-selho Europeu.

Jens Weidmann, Presidente do Bundesbank e provável futuro presidente do BCE, num discurso no final de Novembro, foi claro sobre as reformas que entende necessárias para a zona euro, bem como sobre aquilo que considera as actuais “deficiências” da zona euro.

Numa analogia infeliz, compara a dívida com a pesca, considerando que da mesma forma que há pescadores que pescam a mais, com a dívida na zona euro, se nada for feito, haverá países (do sul) que se endividam a mais à custa dos restantes (do norte) e é necessário evitar isso.

O FIM DA LINHA PARA A ZONA EURO?

EUROPA, ANO DE RISCO

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02. EUROPA, ANO DE RISCO

Considera preocupante que os mercados não estejam a diferenciar o risco dos soberanos e que, por conseguinte, é necessário que a banca da zona euro trate de forma diferenciada a dívi-da de países soberanos, da mesma forma que ocorre com a dívida privada: dívida soberana de países com menor rating e maior risco deveria exigir mais capital bancário. Note-se que testes de stress à banca já impõem esta restrição pela porta dos fundos, mas é provável que tais exi-gências passem a entrar pela porta principal, no âmbito das novas reformas da União Bancária.

Não é coisa pequena. A banca de toda a zona euro passaria a ter um incentivo a aumentar as aquisições de dívida pública de países como a Alemanha e a reduzir as aquisições de dívida pú-blica de países como Portugal e Itália. Este tipo de medidas, aparentemente inofensivas, pode bem levar os países do sul à bancarrota.

Weidmann refere ainda que a Comissão Europeia é demasiado política e que não foi capaz de aplicar as regras do Tratado Orçamental de forma objectiva. Defende, por isso, que as regras e sua implementação deveriam ser controladas por uma organização independente. Parece argumentar que deveria ser o Mecanismo Europeu de Estabilidade, futuro Fundo Monetário Europeu, o árbitro, o juiz e o executor das regras do Tratado Orçamental.

A transformação do Mecanismo Europeu de Estabilidade no Fundo Monetário Europeu (FME) suscita preocupações. Weidmann defendeu nessa intervenção uma proposta do Bundesbank, de acordo com a qual, se um país pedisse um resgate ao FME, este imporia a reestruturação da sua dívida soberana, através de uma extensão automática das maturidades, que poderia mais tarde ser seguida por redução da taxa de juro e/ou do capital em dívida. Ora, esse tipo de me-canismo de reestruturação de dívida soberana teria implicações no mercado de dívida de paí-ses devedores. E, não faz sentido que seja uma instituição (o FME), que representa os credores e que é ela própria credora, a definir os moldes da reestruturação de dívida de um país devedor.

Estas propostas, a serem implementadas, tornariam a zona euro, cada vez mais, num clube de credores. Mas sobretudo, tornariam a desintegração da zona euro cada vez mais provável e próxima…

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM

https://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2017/12/27/o-fim-da-linha-para-a-zona-euro/

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O deslumbramento faz bem à saúde

FRANCISCO LOUÇÃ

Como todas as paixões, o deslumbramento faz bem à saúde. Anima a circulação, eleva o espíri-to, compõe a alma. Tudo coisas boas. No entanto, há um problema: o deslumbramento, curati-vo de tantas maleitas, também tolda a visão, pois o ser amado ocupa todo o universo, a sua voz enfeitiça os passarinhos, os seus passos moldam o tempo. Para os comentadores, a doença dá mais grave: como alguém lembrava, deixam de ver o que está à frente do seu nariz. Creio que é o que se passa com o deslumbramento Centeno e o maravilhamento europeu, agora renascido, logo que há alguma coisinha para oferecer, um presidente simpático no Eurogrupo.

Fazia falta, o défice tem sido tremendo nos últimos anos, com a crise dos refugiados e o acordo com a Turquia, os muros no centro da Europa, o Brexit, as eleições desbaratadas, a incapaci-dade de relançamento económico, a bolha financeira, a teimosia das “reformas estruturais” para baixar salários, tudo retratos da desagregação europeia. Agora, a pergunta é: e Centeno que pode? Desconfio que ele próprio e o primeiro-ministro terão resposta mais prudente e que sabem que os maravilhadores se estão a esticar.

Um bom critério é olharmos para o que está à frente do nosso nariz, os sinais importantes des-ta semana na União. O primeiro é que foi votado o Orçamento europeu no Parlamento. Nunca um Orçamento tinha sido aprovado nestas condições: menos de metade dos votos a favor (295, havendo 154 contra e 197 abstenções) e pela primeira vez os socialistas não o apoiaram, rompendo uma tradição de sempre (aprovaram no Conselho e abstiveram-se no Parlamento, a política tem razões que a razão desconhece). As críticas são substanciais: o Orçamento é em termos reais menor do que nos anos anteriores, continuando uma trajectória de desmantela-mento das políticas sociais e económicas comuns. Mais, corta a ajuda ao desenvolvimento, desguarnece a Europa na resposta aos refugiados, não responde nem aos riscos nem à realida-de. O Orçamento não vê a Europa à frente do nariz, para usar a mesma metáfora. Os maravi-lhadores podiam começar a falar dos factos.

Mas talvez o segundo sinal seja ainda mais expressivo, porque demonstra o desarranjo das ins-tituições, ou o cansaço e a desorientação dos mandantes. A Comissão Europeia apresentou as suas propostas para a “reforma do euro” e outros grandes desígnios. Já é pelo menos a terceira versão: houve os cinco cenários para proporem “a Europa a duas velocidades”, houve depois um sexto cenário que Juncker desencantou, há agora este mapa. Como era de esperar, ocupa--se mais do poder da própria Comissão do que da Europa: quer que o tal ministro das finanças europeu seja o comissário da pasta e vice-presidente da Comissão. Lá sairia Centeno meio do mandato, reduzido a um funcionário de transição. Depois, tudo o resto é mercearia: não há subsídio de desemprego europeu, não há transferências, não se passa nada.

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02. EUROPA, ANO DE RISCO

Teresa de Sousa, europeísta encartada, constatou a óbvia “indiferença” com que os gover-nos receberam as propostas da Comissão, entendendo-as como “ruído desnecessário”, ou até como desespero na defesa dos seus poderes. Assis, que nem por isso deixou de pedir a Costa que aproveitasse o embalo para uma “clarificação” (“clarificação” é o termo para eleições an-tecipadas por quem tem pudor de o dizer), também deitou água na fervura. Eles, que olham para a frente do nariz, notam que o que se está a passar é o empastelamento da decisão, exac-tamente como nos últimos anos.

Será assim? Cuidado. O chamado Tratado Orçamental, uma manigância de 2012 para con-sagrar as normas ajustativas e recessivas, entrará na ordem jurídica europeia pela porta do cavalo dentro em pouco. A máquina move-se. E não é uma maravilha, não é Centeno quem comanda, é a nossa velha conhecida, a austeridade.

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM

https://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2017/12/08/o-deslumbramento-faz-bem-a-saude/

Brexit: Drama com “intermezzo” feliz?

RICARDO CABRAL

Após o que só pode ter sido um período horribilis, em que esteve exposta a críticas crescentes, a primeira-ministra inglesa Theresa May conseguiu negociar um acordo de princípio sobre quatro matérias fundamentais para o Brexit: a situação dos cidadãos do Reino Unido (RU) e da UE que residem na UE e no RU, respectivamente; os termos gerais em que se fará a transição do poder jurídico do Tribunal Europeu para os Tribunais do RU; a solução a adoptar em relação à fronteira terrestre entre a Irlanda e a Irlanda do Norte; e o acordo financeiro. Das quatro ma-térias, afigura-se que a mais sensível era a questão monetária.

O acordo está a ser celebrado como um bom acordo e uma enorme vitória política para There-sa May e de facto assim parece.

Nas quatro matérias o acordo parece sensato.

Estabelece que os cidadãos da UE/RU que residem no RU/EU deverão poder tornar-se re-sidentes permanentes no país em que actualmente residem com acesso aos benefícios do

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respectivo Estado Social.

Quanto à factura de saída, o acordo é muito complexo definindo princípios gerais e procedi-mentos para determinar o valor dos pagamentos a realizar pelo RU. Neste contexto, dificil-mente alguém pode sequer quantificar a factura para o RU com suficiente precisão. Ou seja, ninguém tem realmente a certeza sobre quem ganha ou perde e quanto.

O RU estima que a conta de saída fique entre 40 e 45 mil milhões de euros. A União Europeia estima que seja de cerca de 60 mil milhões de euros, mas aceita as estimativas do RU como razoáveis. Contudo, não foi divulgada a metodologia adoptada para calcular essas estimativas, pelo que as temos de aceitar quase sem poder fazer quaisquer comentários sobre o seu rea-lismo.

Em negociações entre duas economias tão grandes – o PIB do RU em 2016 era de quase 2,4 biliões de euros, o PIB da União Europeia sem RU em 2016 era 5 vezes maior, i.e., 12,5 biliões de euros – diferenças de 20 mil milhões de euros nas estimativas são quase erros de arredon-damento (0,8% do PIB do RU).

O RU contribuirá para o orçamento da União Europeia durante quase mais dois anos – 2019 e 2020 -, como se continuasse a pertencer à UE, presume-se, derivando também os benefícios dos programas da UE.

Por conseguinte, a solução encontrada tem a vantagem de não implicar ajustamentos bruscos ao Orçamento da União Europeia.

O Reino Unido era um contribuinte líquido para o Orçamento da UE. No ano fiscal de 2016/2017 estima-se que a contribuição líquida, não contabilizando os benefícios derivados pelo sector privado britânico, seria de 9,2 mil milhões de euros. Mas dado que o sector privado da econo-mia britânica é muito competitivo internacionalmente, nomeadamente no acesso aos fundos europeus para a inovação (Horizon 2020), a contribuição líquida global do RU deverá ser sig-nificativamente inferior.

Na perspectiva da UE, este também é um bom acordo de princípio. Resolve o problema do Orçamento da UE durante os próximos três anos, período em que se espera venham a ser im-plementadas as novas reformas para a União Europeia que se deverão traduzir, por um lado, num pequeno reforço do Orçamento comum e, por outro, em transferências orçamentais um pouco mais elevadas dos países ricos para os países pobres da UE.

Depois de tanto drama, o fumo branco afigura-se pragmático e razoável. Surpreendente!

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM

https://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2017/12/10/brexit-drama-com-intermezzo-feliz/

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03. EXECUÇÃO ORÇAMENTAL

A CONTRIBUIÇÃO QUE NUNCA VIU A LUZ

MARIANA MORTÁGUA

O que estava em causa era a votação de uma proposta do Bloco para criar uma contribuição de solidariedade, a incidir sobre os produtores de energias renováveis, altamente subsidiados por contratos e regras decididas no passado. São estas as regras que permitem à EDP Renováveis, uma das maiores beneficiárias, ter apenas 12% da sua atividade em Portugal, mas obter aqui 27% dos lucros. Feitas as contas, no total, se esta energia fosse vendida em Portugal ao preço médio que a EDP Renováveis pratica noutros países, e não ao preço subsidiado, os consumido-res pagariam menos 400 milhões de euros ao ano. Era uma pequena parte deste sobrecusto que o Bloco de Esquerda propunha compensar com a criação de uma contribuição sobre estas empresas. O resultado seria a redução da dívida tarifária e, em consequência, da conta da luz, com benefícios óbvios para famílias e empresas.

Apesar da medida ter sido negociada com o Governo, e aprovada na especialidade na sexta--feira, o Partido Socialista avocou-a ontem a plenário e, na repetição da votação, alterou o seu voto, impedindo a contribuição de ver a luz do dia (CDS também votou contra e PSD absteve--se).

A alteração do sentido de voto do Partido Socialista é a prova da força do lobby da energia em Portugal. A mesma força que explica a criação das rendas e a incapacidade de qualquer gover-no, de PS, PSD ou CDS, para as enfrentar de forma definitiva. É o retrato de um poder político que cede perante a ameaça e força do poder económico, e que muitas vezes foi cúmplice desse mesmo poder. E é também o melhor argumento para explicar porque é que a EDP não deveria ter sido nunca privatizada.

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O Bloco de Esquerda cumpriu o seu compromisso e levou a sua proposta até ao fim. Este pro-cesso é, só por si, muito revelador. Mas a verdade é que o país perdeu uma oportunidade única para combater os privilégios que há anos nos custam centenas de milhões de euros.

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM

https://www.jn.pt/opiniao/mariana-mortagua/interior/a-contribuicao-que-nunca-viu-a-luz-8948065.html

A CONTINUADA DESCIDA DA TAXA DE JURO DA REPÚBLICA

RICARDO CABRAL

A subida do rating da República de Portugal em dois níveis, da classe “lixo” para a classe “in-vestimento” pela segunda das três principais agências de rating, a Fitch, é uma boa notícia, que, pelo menos, sustentará as taxas de juro aos níveis actuais. É mesmo possível que possa resultar numa redução adicional da taxa de juro da dívida pública portuguesa.

Note-se que a descida das taxas de juro da dívida pública portuguesa no último ano é sur-preendente. Por exemplo, a taxa de juro da dívida a 7 anos caiu quase 2,1 pontos percentuais desde Dezembro de 2016 (vide figura). Cerca de metade desta redução ocorre após a subida de rating para classe investimento pela S&P (a 17 de Setembro de 2017), em resultado da ex-pectativa de que as duas outras principais agências de rating subiriam também o rating para a classe investimento.

A taxa de juro média da dívida directa do Estado contraída no passado (taxa de juro implí-cita média) era de 3,2% em 2016. Actualmente toda a dívida com maturidades até 30 anos transacciona-se a taxas de juro inferiores, o que significa que a despesa com juros e a taxa de juro implícita da dívida directa do Estado estão numa tendência de forte queda, o que é muito positivo para as contas públicas, para as contas externas e para a economia portuguesa.

Considerando apenas parte dessa dívida – a dívida de médio e longo prazo, na sua maior parte Obrigações do Tesouro –, é de notar que a maturidade residual média dos 15,1 mil milhões de euros de dívida de médio e longo prazo emitida em 2017 é de 7,8 anos. As Obrigações do

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Tesouro com essa maturidade teriam actualmente uma taxa de juro de cerca de 1,4%, muito inferior à taxa de juro implícita média das Obrigações do Tesouro que, no final de 2016, era de cerca de 4%. Assim, quando a dívida que vence (ou dívida ao FMI) é substituída por nova dívida de médio e longo prazo emitida às taxas de juro actuais resultam enormes poupanças, de cerca de 400 milhões de euros por ano, por cada 15 mil milhões de euros de dívida antiga que é substituída por nova dívida.

Se as actuais taxas de juro se mantivessem durante vários anos, a despesa pública com juros tenderia a cair para menos de metade do nível registado em 2016 (8,2 mil milhões de euros, em contabilidade pública), criando uma folga orçamental crescente no Programa de Estabilida-de de Portugal e contribuindo para uma redução mais acelerada da dívida pública.

F: INVESTING.COM

É possível que as taxas de juro continuem a cair, o que é surpreendente porque já estão muito baixas para um país cuja dívida pública representará cerca de 127% do PIB no final de 2017. Isto ocorre porque, com a subida do rating para classe investimento por duas das três principais agências de rating, muitos investidores institucionais e fundos passivos (fundos que investem de forma automática simplesmente de acordo com índices financeiros, com o objectivo de minimizar os custos de gestão do património) serão obrigados a comprar a dívida pública por-tuguesa de forma automática, independentemente do seu preço.

Ora não existe no mercado muita dívida pública portuguesa transaccionável em resultado: dos empréstimos contraídos junto do sector oficial (UE e FMI); das compras de dívida pelo BCE e BdP ao abrigo do PSPP; da preferência dos aforradores a retalho portugueses; e da política de gestão de dívida adoptada pelo IGCP.

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O saldo global de Obrigações do Tesouro, no final de Outubro de 2017, era de 116 mil milhões de euros, 9,6 mil milhões de euros superior ao observado em Dezembro de 2010 antes do pe-dido de resgate. Desses 116 mil milhões de euros, 30,5 mil milhões de euros eram detidos pelo BCE e BdP no âmbito do programa alargado de compras de activos do BCE (PSPP). A Seguran-ça Social detém títulos de dívida pública com um valor de mercado actual de cerca de 15 mil milhões de euros e o BCE ainda deterá aproximadamente 6-7 mil milhões de euros de dívida pública no âmbito do programa SMP.

Ou seja, o stock de Obrigações do Tesouro verdadeiramente transacionável em mercado será presentemente de cerca de 64 mil milhões de euros (33,6% do PIB), pouco mais de 60% do nível registado em 2010.

E a dívida pública de curto, médio e longo prazo que se transacciona nos mercados, excluindo dívida adquirida por BCE, BdP e Segurança Social, representa “apenas” 48% do PIB. É quase como se, no presente, esse fosse o nível de dívida pública de Portugal.

Acresce que o BCE e o BdP continuarão a adquirir, até Setembro de 2018, potencialmente cerca de 600 milhões de euros de dívida pública por mês. E que o IGCP planeia amortizar 6,7 mil milhões de euros de dívida que chega à maturidade em 2018.

Deste modo, se o IGCP mantiver a sua política, considerando as emissões previstas em 2018 no valor de 15 mil milhões de euros, o stock de obrigações do Tesouro transaccionáveis nos mercados poderá aumentar apenas 3 a 5 mil milhões de euros em 2018.

Por outro lado, também atendendo a que a descida da despesa com juros será mais expressiva do que o esperado, o défice público, tanto em 2017 como em 2018, deverá ser inferior aos va-lores previstos pelo Governo, respectivamente, 1,4% e 1,1%. Ou seja, as necessidades públicas de financiamento poderão vir a ser mais baixas.

Perspectiva-se pois, no mercado de dívida directa do Estado, um designado “short-squeeze” em que os preços da dívida sobem (e a taxa de juro cai), porque o mercado é pouco líquido e a oferta de Obrigações do Tesouro não deverá ser suficiente para fazer face às ordens de compra que, previsivelmente, irão ser feitas por diferentes grupos de investidores.

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM

https://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2017/12/17/a-continuada-descida-da-taxa-de-juros-da-republica/

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04. DESIGUALDADE

TANTO CAMINHO POR FAZER

ALEXANDRE ABREU

Fonte: AMECO

Não é possível discutir devidamente a economia política da crise e da retoma em Portugal sem ter em conta a questão da repartição funcional do rendimento. Entre o início do século e 2015, e em especial nos anos de chumbo do governo da direita, a parte dos salários no rendi-mento nacional caiu de forma muito significativa, o que quer dizer que a par da contracção da economia como um todo ocorrida nos últimos anos, teve lugar uma enorme transferência dos rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital.

Esta redução da parte das remunerações do trabalho no rendimento deveu-se a vários factores.

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O elevado desemprego decorrente da crise – e da resposta política à crise – foi um deles, na medida em que aumentou a pressão sobre os trabalhadores para aceitarem cortes salariais e sobre os desempregados à procura de emprego para aceitarem salários mais baixos. Outros incluíram as medidas adoptadas no sentido da extensão do tempo de trabalho, os efeitos direc-tos e indirectos dos cortes e congelamentos na função pública ou o congelamento do salário mínimo. E outros ainda passaram pelas alterações da legislação laboral no sentido do aumento da vulnerabilidade e atomização dos trabalhadores na sua relação com as entidades emprega-doras, aliás com uma eficácia e rapidez tremendas no que diz respeito ao desmantelamento da contratação colectiva e à facilitação dos despedimentos.

A solução governativa saída das eleições de Outubro de 2015 permitiu, felizmente e final-mente, alterar o rumo político e reverter muitas das nefastas medidas introduzidas nos anos anteriores, o que não só teve consequências muito positivas ao nível do desempenho macroe-conómico agregado como permitiu deter o acelerado declínio da parte das remunerações do trabalho no rendimento. Mas como é possível ver no gráfico que acompanha este post, ainda mais não fizeram de que começar a inverter timidamente esse declínio. É ainda muito o cami-nho que falta fazer para repor uma situação próxima do equilíbrio que existia há apenas alguns anos.

Isto sugere que a questão da legislação laboral, aquela em que este governo ainda não come-çou a corrigir o que foi feito nos últimos anos, é mesmo a questão-chave: não para a evolução do emprego e desemprego, que depende fundamentalmente da evolução da procura e não de outra coisa, mas para a determinação da repartição do rendimento – aliás tal como confirmado ainda ontem pelos representantes patronais, ao elegerem o congelamento da legislação labo-ral nos seus termos actuais como contrapartida para avalizarem o aumento do salário mínimo para 580€. É de saudar a indisponibilidade do governo para aceder a esta pretensão. Agora falta usar a margem de acção política sensatamente preservada. Será esta a prova dos nove para avaliar até que ponto este é um governo verdadeiramente de esquerda.

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM

http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2017/12/tanto-caminho-por-fazer.html

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04. DESIGUALDADE

A ECONOMIA POLÍTICA DOS MUITO RICOS

(E DOS IMPOSTOS QUE PAGAM)

RICARDO PAES MAMEDE

A desigualdade tem vindo a aumentar nas últimas décadas na generalidade dos países do mundo e Portugal não é excepção. Há vários factores que explicam esta evolução, incluindo factores tecnológicos, económicos e políticos. Estes factores são em larga medida interdepen-dentes: a política regula a economia e a tecnologia, mas a correlação de forças entre os actores relevantes é influenciada pelas condições económicas e tecnológicas.

Por exemplo, é sabido que a progressividade dos sistemas fiscais afecta a distribuição dos ren-dimentos. Porém, quanto mais poder têm os muito ricos, mais bem-sucedidos são em garantir que a política fiscal não os penaliza.

Tendo isto presente, o gráfico anexo (retirado daqui) diz-nos muito do que se tem passado no mundo – e em particular em Portugal. Mostra-nos que os países que mais reduziram o valor máximo da taxa marginal de imposto (i.e., aquela que incide sobre os rendimentos mais eleva-dos) são tendencialmente aqueles onde o peso dos mais ricos na economia mais aumentou. Portugal surge neste gráfico muito mais próximo dos EUA e do Reino Unido do que a maioria dos países do continente europeu.

Isto ajuda-nos a perceber não apenas como evoluiu a desigualdade em Portugal, mas também quem tem visto reforçado o seu poder político. Ajuda-nos também a perceber que não é po-liticamente fácil assegurar a existência de um sistema fiscal fortemente progressivo (isto é, que exige contribuições proporcionalmente maiores a quem tem mais rendimentos). Mas é certamente necessário.

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VÁ LÁ, NÃO SE FAÇAM DE NOVAS

FRANCISCO LOUÇÃ

Ninguém notou, quanto em 2004 uma investigação do Senado norte-americano sobre a for-tuna do ditador chileno Augusto Pinochet identificou as dependências das Ilhas Caimão e da Florida do BES como veículos para a ocultação dos dinheiros e fuga ao fisco? Vá lá, toda a gente notou. O BES fez mesmo um comunicado de imprensa contra quem, como este cronista que aqui assina, chamou a atenção para as conclusões do relatório.

Ninguém notou quanto em 2009 o BCP português foi forçado pelas autoridades a revelar os seus movimentos em sociedades offshore? Vá lá, isso foi tema de comissão de inquérito e a administração do banco foi substituída logo a seguir.

Ninguém leu as notícias quando o consórcio de jornalistas de investigação revelou em 2013 o que se chamou de Offshore Leaks? Eram 100 mil empresas fictícias criadas para ocultar capi-tais. A Google transferiu em 2013 dez mil milhões de dólares para as Bermudas, conseguindo assim pagar sobre todos os seus lucros uma taxa efectiva de 2,4%.

E, vá lá, ninguém deu conta em 2104 do Luxleaks, a revelação do engenhoso esquema do go-verno do Luxemburgo para albergar empresas multinacionais e garantir assim que pagavam um IRC insignificante? Sim, foi assaz evidente: o primeiro ministro luxemburguês entre 1995 e 2013 chama-se Jean Claude Juncker e, sendo presidente da Comissão Europeia, teve de se justificar perante uma comissão de inquérito, que foi logo afogada pelo bloco central do parla-mento europeu. A Irlanda e a Holanda, aliás, fazem o mesmo que o Luxemburgo.

E depois vieram, em 2016, os Panamá Papers, com a revelação dos segredos de uma grande firma de advogados. Desta vez eram 214 mil empresas. Só o Crédit Suisse e a UBS, respeitáveis bancos suíços, criaram 25 mil cada um. Vá lá, não se notou?

E agora, em 2017, soube-se dos Paradise Papers, um esquema de registo de empresas em offshores nas Bermudas e em Singapura. A rede era usada por Isabel II, curiosamente desde que a crise financeira de 2007 levou a perdas da sua fortuna, mas também pela Apple, Nike, Whirlpool, pelas ligações russas da Casa Branca, pela família angolana Dos Santos e por mais jet-set. E a UE decidiu investigar pelo mesmo motivo a Ilha de Man, de sua Majestade britânica, e Malta.

Vá lá, ninguém notou?

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04. DESIGUALDADE

Nota-se mesmo. Devin Nunes, um orgulhoso luso-descendente que é deputado republicano e foi presidente da comissão parlamentar sobre tributação, e depois foi responsabilizado por Trump por gerir a sua equipa de transição para a posse, declarava que queria “tornar a Amé-rica o maior paraíso fiscal do mundo”. O estado norte-americano do Delaware já tem 945 mil empresas registadas para não pagarem imposto.

Os paraísos fiscais não são portanto uma extravagância, umas repúblicas das bananas dis-postas a rondarem o crime a troco de uns dólares ou euros. São o coração do nosso sistema financeiro. As suas sociedades, agências e veículos (o nome é delicioso) financeiros são gera-das pelos maiores bancos, pelos mais refinados campeões, e amparados pelos governos mais respeitáveis – na Europa, além da Suíça é o Reino Unido quem alberga maiores volumes de ca-pitais escondidos, alguns legalmente, muitos em evasão fiscal e outros em ocultação de crime (a OCDE calcula pagamentos anuais de um bilião de dólares em subornos).

O resultado é a perda de receitas e portanto a crise fiscal do Estado. Quando ouvir falar em res-trições orçamentais, em falta de dinheiro para pagar a enfermeiras ou técnicas de diagnóstico ou para construir um novo hospital, lembre-se sempre que a evasão fiscal em países como a Alemanha pode andar pelos 160 mil milhões de euros, em França por 120, em Espanha por 73 (cálculos da Tax Research, Reino Unido) e em Portugal alguns estudos apontam para 20 mil milhões. Vá lá, nota-se mesmo.

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM

https://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2017/11/22/va-la-nao-se-facam-de-novas/

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DOS «PRIVILÉGIOS» DA FUNÇÃO PÚBLICA FACE AO EMPREGO NO PRIVADO

NUNO SERRA

No contexto da discussão do OE de 2018 e do descongelamento das carreiras da administra-ção pública, o setor mais sacrificado pelo «ajustamento», ressurgiu o discurso sobre os privilé-gios dos funcionários públicos face aos do privado. A propósito dos professores, por exemplo, Lobo Xavier, referiu-se à existência de «dois sistemas»: o sistema «onde as pessoas podem fazer greve, fechar as escolas e pedir que o decurso do tempo lhes acrescente vencimentos» e o das «pessoas que sofrem desemprego (...) e que só progridem por mérito». Na mesma linha, Marques Mendes considerou que «para o país ligado ao Estado, parece que a austeridade aca-bou», ao contrário do «outro país, o do setor privado, dos trabalhadores por contra de outrem, dos trabalhadores independentes», que não viam «essa melhoria».

Um primeiro equívoco tem que ver, como mostra o gráfico, com a evolução do mercado de trabalho nos últimos anos. Ao contrário do que Marques Mendes supõe (ou prefere pensar), o setor público encolheu bastante mais que o privado. No período mais pesado do «ajustamen-to» (2011 a 2013, em valores homólogos para o 4º trimestre), o emprego na administração

ESTUDOS

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pública caiu -7,3%, bem acima da redução registada no privado (-3,8%). O mesmo sucede nos dois anos seguintes de vigência do anterior Governo, isto é, entre 2013 e 2015: enquanto o em-prego privado regista já uma recuperação de +2,9%, o emprego público permanece em queda (-2,3%). E se analisarmos a variação homóloga para a média dos três primeiros trimestres, entre 2015 e 2017, a recuperação do emprego é mais significativa no privado (+5,5%) que no público (+1,9%). Não por acaso, aliás, a percentagem de emprego público no total da popula-ção empregada passa de 18,5% em 2012 para 16,4% em 2017.

Um segundo mito sobre os «privilégios da função pública» tem que ver com a ideia de que no privado se verificam menos progressões e promoções que na administração pública. Ora, um estudo recente do INE sobre empresas privadas mostra que, em 2016, 56% promoveram trabalhadores sem funções de gestão e que 45% das empresas atribuíram prémios de desem-penho (metade a mais de 80% dos trabalhadores com funções de gestão e também metade a mais de 60% dos trabalhadores sem funções de gestão). Isto num ano em que as progressões da função pública e a materialização dos resultados das avaliações de desempenho continua-vam congeladas. Tratando-se de um inquérito inédito, não sabemos o que terá acontecido no setor privado em anos anteriores, mas não é despropositado considerar que se tenham regis-tado valores idênticos (pelo menos em 2015).

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As diferenças salariais são uma terceira ideia de senso comum sobre o alegado desfavoreci-mento do setor privado face ao público. Nesses termos, os trabalhadores do Estado, tendo me-lhores salários (e sendo esses salários pagos por todos os contribuintes), sairiam injustamente beneficiados («vivendo à custa do privado», para usar a linguagem da mesa de café ou daque-les programas em que o Camilo Lourenço participa, sempre sem contraditório). Sabemos, po-rém, que os patamares salariais em Portugal refletem, em ampla medida, os diferentes níveis de qualificação escolar. Em 2015, por exemplo, a remuneração média de um trabalhador com o ensino superior era muito próxima dos 2 mil euros, sendo a de um trabalhador com o ensino secundário quase metade e a de um trabalhador com o ensino básico inferior a metade. Ora, considerando estes valores, e comparando a distribuição das qualificações no público e no pri-vado (gráfico aqui em cima), percebe-se melhor a razão de ser das ditas «diferenças salariais».

Não se pense contudo que estes dados devem servir para colocar os trabalhadores do setor privado contra os do público (ou vice-versa). Essa é a lógica da direita que nos governou e que está hoje na oposição. E quanto a ela, não deixem de ler o recente artigo de Pacheco Pereira, sobre «o amor da direita radical pelos trabalhadores do setor privado». Perceberão melhor porque é que a ideia é sempre a de «puxar para baixo» (aproximando os padrões laborais do emprego público aos do privado), e porque é que esta direita - que não é social-democrata nem democrata-cristã - se opõe sempre, todos os anos, à subida do salário mínimo nacional.

ORDENAMENTO SUB-REGIONAL DO ESPAÇO CONTINENTAL PORTUGUÊS, VISANDO A COESÃO TERRITORIAL E A DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

ERNESTO FIGUEIREDO

I) INTRODUÇÂO

Orientemo-nos para uma apreciação dos 8 mapas que se expõem abaixo: Mapa-1 das 6 regiões estruturais do Continente, já conhecido, doravante considerado como de referência, Mapa-2 das 6 sub-regiões do Douro-Minho, Mapa-3 das 4 sub-regiões de Trás-os-Montes e Beira Interior, Mapa-4 das 4 sub-regiões da Beira Litoral, Mapa 5 das 4 sub-regiões da Estremadura, Mapa-6 das 3 sub-regiões do Alentejo, Mapa-7 das 2 sub-regiões do Algarve e, ainda, Mapa-8 contendo o conjunto das 23 sub-regiões (em simultâneo) do Continente.

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05. ESTUDOS

As 6 regiões estruturantes do espaço continental (Mapa-1) já foram objeto de investigação em estudos anteriores. O Douro-Minho, Trás-os-Montes e Beira Interior, Beira Litoral, Estremadura, Alentejo e Algarve, em definições espaciais originais, serviram de base às circunscrições administrativas do estado medievo até 1836, no seguimento da Revolução Liberal (1822). Estas regiões foram resilientes aos sucessivos estados centralizados, incluindo os do pós-25 de Abril de 1974.

A estrutura regional definida pelas 6 regiões, assente em povos comunitários identificados com as respetivas regiões, ainda hoje permanece viva na alma popular e foi recuperada (recentemente) por investigadores dedicados à veracidade histórica, económica e social. Os critérios que habilitam o estatuto regional, [cultura, produto, ecologia (meio ambiente) e dimensão], encontram-se todos lá, o que significa que nem tudo se perdeu, por obra e ação das populações atuais residentes.

Os Mapa-2, 3, …, 7 abaixo exibem (em plano de pormenor aumentado) as sub-regiões inventariadas por acompanhamento de métodos estatísticos de aplicação em ensaios experimentais antecedentes. Os requisitos de subespaços alargados (de auto sustentação), pretensamente homogéneos dentro de si-mesmos (mais do que entre si) e de respeitar, de alguma forma, níveis de riqueza acumulada e de bem-estar social, estão entre as preocupações mais fortes a que se procurou dar resposta.

As sub-regiões propostas constituem inovação da teoria regional e foram conseguidas com métodos multivariados, aplicados a uma base de dados constituída por 102 indicadores socioeconómicos. Em vez de pesquisar (durante anos a fio) informação atinente espalhada pelos quatro cantos do País (bibliotecas e depósitos legais), dirigimo-nos ao portal da internet, designado por Base de Dados de Portugal Contemporâneo (acr. PORDATA), da autoria da Fundação Francisco M. dos Santos, de vocação filantrópica assumida. Aí, encontramos informação suficiente, em estatísticas secundárias, o que facilitou enormemente o trabalho.

Os métodos estatísticos aplicados podem ser referidos pela sequência implícita no desenho experimental montado, i. é, primeiro, recolha (transferência e acumulação) dos dados (indicadores por municípios); segundo, extração dos coeficientes de correlação entre todos os pares de indicadores; terceiro, construção de uma tabela simples de frequências de correlacionamento; quarto, ordenamento por ordem de grandeza das frequências obtidas; quinto, eliminação dos indicadores afetados de redundâncias informativas (correlações extremamente significantes); sexto, extração de componentes principais (CPs) não triviais em cada matriz regional de dados (em um total de 6); sétimo, identificação e seleção de grupos de CPs com valores explicativos elevados; oitavo, aplicação do mesmo método de classificação (método de Ward) para obter de 10 a 2 clusters nos diversos subconjuntos de CPs selecionados; nono, construção de tabelas de frequências simples das classificações e identificação das maiores alterações; décimo, construção de mapas resultantes (das diferentes especificações) para suportar as identificações de clusters feitas atrás.

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II) REORDENAMENTO SUBREGIONAL DO DOURO-MINHO

A região situada a noroeste do Continente dá pelo nome de Douro-Minho, que tem idiossincrasias muito próprias, p. ex., clima de influência atlântica, propriedade minifundiária, indústria difusa com clusters de tecnologias relativamente avançados, produtos agrícolas que apenas se encontram nesta região, usos, costumes e subculturas que também a identificam de forma consensual. Pela informação reunida dos diversos ensaios delimitadores realizados, optou-se por uma subestrutura de seis sub-regiões.

A elevada densidade populacional do Douro-Minho, por contraste com outras regiões, explica a origem e prática de surtos migratórios dos seus habitantes, ao longo dos tempos. Na base desta população abundante está a introdução de culturas agrícolas (milho miúdo e batata, na idade média) e da abundância em pluviosidade e recursos hídricos. A água doce que aqui corre livremente e alimenta a vegetação em uma agricultura intensiva, poderia facilmente ser canalizada para sul que racionalmente a cobiça, sob regime de rega gota a gota (agricultura extensiva). Esta será talvez a sua maior riqueza inexplorada.

A capital económica regional de Douro-Minho, o Porto, apesar do esvaziamento de órgãos do aparelho do estado e deslocação de sedes de empresas que se concentraram em Lisboa nas últimas décadas, permanece como polo de influência incontestada em toda a região. O Grande Porto une as duas margens do Douro e estende-se a sul. O vale do Douro constitui o espaço mais enformado pela sua influência direta. O Baixo Minho, do quadrilátero urbano de Braga, Guimarães, Barcelos e Vila Nova de Famalicão, oferece-lhe a maior disputa competitiva em termos de crescimento socioeconómico.

Como foi possível utilizar o conhecimento de que o Alto Minho, a zona serrana da Peneda-Gerês, o Baixo-Minho, o Grande Porto, a Bacia do Douro e o Entre Vouga e Douro constituem unidades (Mapa-2) que não se excluem mutuamente e se integram em um espaço integrador que antigamente foi designado por Entre-Douro e Minho e, em tempos ainda mais recuados, denominado complexo Galaico Duriense, sentimo-nos suficientemente elucidados quanto à opção tomada de 6 estratos sub-regionais.

O Alto-Minho constitui-se dos 10 municípios de Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Valença, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira. Com Viana do Castelo à cabeça, faz interface com a Galiza, de parentesco comprovado. A zona montanhosa da Peneda Gerês, a nordeste, é formada pelos 9 municípios de Vila Verde, Terras de Bouro, Amares, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Fafe, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto e Mondim de Basto. Esta será a sub-região mais deprimida da região em escrutínio.

O espaço geográfico dos vales do Cávado e Ave (Baixo-Minho), no centro litoral, abrange os 7 municípios de Esposende, Barcelos, Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Esta sub-região relativamente pequena mas forte, disputa o urbanismo ao grande Porto. A Área Metropolitana do Porto (ou Grande Porto), no sul litoral do Douro-Minho, abrange a concentração maior de 12 municípios da Trofa, Santo Tirso, Matosinhos,

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05. ESTUDOS

Maia, Valongo, Porto, Gondomar, Vila Nova de Gaia, Espinho, Vila da Feira, S.J. da Madeira e Ovar.

O espaço geográfico dos vales do Tâmega e Sousa, no vale do Douro (margem direita), associa os 8 municípios de Paredes, Penafiel, Paços de Ferreira, Lousada, Felgueiras, Marco de Canaveses, Amarante e Baião. O distrito do Porto (de má memória) estendia-se por este espaço sub-regional natural. O espaço do Entre Douro e Vouga, a sudeste da região de pertença, integra os 8 municípios de Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra, Arouca, Castelo de Paiva, Cinfães do Douro, S. Pedro do Sul, Castro Daire e Resende. Aqui, observa-se a supremacia económica da Vila de Oliveira de Azeméis.

III) REORDENAMENTO SUBREGIONAL DE TRÁS-OS-MONTES E BEIRA INTERIOR

A segunda região definida no Continente, situada no nordeste transmontano e na Beira Interior (Alta e Baixa) é seguramente a região mais deprimida, de entre as seis regiões escrutinadas. A circunstância desta região (como a definimos) estar espartilhada pelas 2 circunscrições territoriais das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDRs) das Regiões Norte e Centro, contribui claramente para explicar o seu estado de depressão, abandono e desertificação, que vem de tempos mais recuados.

Vem a propósito referir que a associação feita das duas circunscrições provinciais antigas, de Trás-os-Montes e Alto Douro, por um lado, com a Beira Interior (parte da província das Beiras), por outro, deve-se a que, embora sirvam de espaços sociais a populações (comunidades regionais) distintas, se aproximam pelo grau de semelhança dos níveis de riqueza acumulada e do bem-estar usufruído. O atraso socioeconómico sofrido tornou-as algo semelhantes, sugerindo que a propedêutica poderia vir a ser comum.

Porque as causas do atraso são as mesmas e as políticas regionais (para resolução do problema conjunto) ganham em eficiência por aumento da escala de atuação, entendeu-se ser preferível (de quase todos os pontos de vista) considerar as duas comunidades em associação territorial única, a fim de melhor reverter o atraso acumulado. Há muitas décadas que as comunidades do interior têm vindo a ser assediadas (para se deslocarem para o litoral), nomeadamente, pelos mercados do trabalho e do lazer.

Pode dizer-se que o maior crescimento económico ocorrido na faixa litoral gerou (como consequência induzida) maior abandono do interior. Esta constatação bem fundamentada explica a razão pela qual, nem Trás-os-Montes e Alto-Douro deveriam fazer parte da Região Norte (em simultâneo com a região do Douro-Minho), nem a Beira Interior deveria estar alocada à Região Centro (em simultâneo com a Beira Litoral). As diferenças dos respetivos desenvolvimentos acumulados são abissais.

Portanto, a região híbrida aqui considerada, fazendo jus aos preceitos da doutrina regionalista,

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em etapa mais avançada (no futuro do percurso desenvolvimentista experimentado), poderá muito bem agradecer a boleia conjunta usufruída e autonomizar-se nos dois congéneres. Tal emancipação não infunde temor nem causa retrocesso, antes, pode considerar-se como objetivo a alcançar a prazo temporal, exigido pelo desenvolvimento auto sustentável.

Fica-nos a ideia construída de que a região de Trás-os-Montes e Beira Interior, de espaço de ocupação muito vasto (pela extensão que lhe foi alocada), surge como relativamente fácil de ordenar em quatro sub-regiões de integração. Mais homogéneo do que heterogéneo no seu todo (tal como o Alentejo), o Mapa-3 ilustra a combinação congeminada de 4 sub-regiões: duas a par (de transversalidade) a norte e duas seguidas (de orientação norte sul) a sul.

A primeira sub-região exibida (ver Mapa-3), designada Alto Douro, fica situada a noroeste da região e estende-se na direção norte-sul, melhor dito, na direção nor-noroeste-sul-sudeste. Começando na raia galega, estende-se (por um lado) encostada ao Douro-Minho e (por outro) à sub-região de Trás-os-Montes, até ultrapassar (para sul) o rio Douro que não separa, antes une, as duas margens. Este critério orientador era interpretado ao invés no passado.

Os municípios que integram a sub-região do Alto Douro são 16 em número, a saber, Boticas, Montalegre, Ribeira de Pena, Vila Pouca de Aguiar, Alijó, Armamar, Carrazeda de Ansiães, Lamego, Mesão Frio, Murça, Peso da Régua, Sabrosa, Sta Marta de Penaguião, São João da Pesqueira, Tábua e Vila Real. Nesta sub-região não restam dúvidas de que a capital económica estará representada por Vila Real, a grande distância de Lamego, também com pergaminhos advindos da história.

A segunda sub-região, a nordeste de Trás-os-Montes e Beira Interior, agrega 13 municípios extensos, situando-se (pela extensão fronteiriça) mais dentro de Espanha do que em Portugal, com os nomes de Chaves, Valpaços, Freixo de Espada à Cinta, Torre de Moncorvo, Alfândega da Fé, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Vila Flor, Vimioso e Vinhais. Nesta associação de municípios, pontuam mais fortemente os de Chaves e Bragança.

A terceira sub-região, a Beira Alta, situada ao centro da região, abarca os 17 municípios de Moimenta da Beira, Penedono, Sernancelhe, Tarouca, Vila Nova de Foz Côa, Aguiar da Beira, Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo, Sátão, Vila Nova de Paiva, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Forna de Algodres, Mêda, Pinhel e Trancoso. Trata-se de um subconjunto de municípios que, embora não polarizados por algum forte centro urbano (Viseu liga-se mais ao litoral), se revelam coesos.

A sub-região da Beira Baixa (situada a sul) incorpora na quase totalidade o complexo da Serra da Estrela como marco delimitador entre regiões e entre sub-regiões. Apresenta-se relativamente heterogénea pela composição municipal que integra, a saber, Belmonte, Covilhã, Fundão, Gouveia, Guarda, Manteigas, Sabugal, Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Penamacor. É uma sub-região dinâmica, de forte progresso com polos como a Guarda, Covilhã e Castelo Branco.

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MAPA-1: AS 6 REGIÕES

ESTRUTURAIS

MAPA-2: AS 6 SUB-REGIÕES DO DOURO-MINHO

MAPA-3: AS 4 SUB-REGIÕES DE

TRÁS-OS-MONTES E BEIRA INTERIOR

MAPA-4: AS 4 SUB-REGIÕES DA BEIRA

LITORAL

IV) REORDENAMENTO SUBREGIONAL DA BEIRA LITORAL

Existem, decorrente no nome, diversas Beiras, sem dúvida. Não admira, já que por elas se passa de um norte idiossincrásico para um sul que o não é menos. A atestá-lo, pode referir-se a incontornável aceitação das duas entidades regionais a sul, quando a norte (conjunturalmente) se agregam duas comunidades regionais (Douro-Minho e Trás-os-Montes) antigas (históricas) em circunscrição administrativa única, dita Região Norte, na verdade área de atuação da CCDRN ou NUT II norte. É caso para dizer que se colocaram na mesma capoeira a raposa e as galinhas.

Observe-se que o espaço territorial definidor da Beira Litoral, embora pareça relativamente menor do que o de outras regiões, tem a característica de possuir uma elevada densidade, nomeadamente, muitos municípios pequenos em área, tal como acontece no Grande Porto e subúrbios de Lisboa. Na verdade, esta região é aquela que integra maior número de municípios, a saber, 64 em 278, ou seja, 23% no Continente. Deste ponto de vista, é a maior região.

Na nossa ótica, mais parcimoniosa do que redundante, dir-se-ia, consideramos que 4 sub-regiões preenchem e compõem (à medida) a região da Beira Litoral. A primeira associação de municípios, a norte da região, abrange 18 municípios, a saber: Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira do Bairro, Sever do Vouga, Vagos, Mira, Mortágua, Carregal do Sal, Oliveira de Frades, Santa Comba Dão, Tondela, Viseu e Vouzela.

A segunda sub-região, ao centro da Beira Litoral, abrange 18 municípios encabeçados por Coimbra, com as designações de Arganil, Cantanhede, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Góis,

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Lousã, Mealhada, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela, Soure, Tábua, Vila Nova de Poiares e Seia. Tanto esta sub-região, como a sub-região de Aveiro, como a Beira Alta, renunciam a incorporar o complexo da Serra da Estrela.

A terceira sub-região (de Leiria) da Beira Litoral, a sul da região, compõe-se dos 16 municípios de Alcobaça, Nazaré, Alvaiázere, Ansião, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal, Porto de Mós, Alcanena, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Ourém, Tomar, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha. A cidade de Leiria constitui naturalmente o polo mais forte desta associação de municípios, que não se mostra das mais homogéneas dentro da região mãe em escrutínio, mas é dotada de forte atividade económica.

A quarta e última associação de municípios da Beira Litoral, situa-se a sul-sudeste, no interior, em cercanias do Ribatejo, que não do Baixo Tejo. Compõe-se de 11 municípios, assim identificados: Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande, Oleiros, Proença-a-Nova, Vila Velha de Ródão, Abrantes, Constança, Mação, Sardoal, Sertã e Vila de Rei. Esta sub-região ocupa o centro geométrico continental e apresenta-se homogénea face a outras delineadas.

V) REORDENAMENTO SUBREGIONAL DA ESTREMADURA

Devido ao seu enorme poder de atração sobre as outras regiões, que o mesmo é dizer, sobre o resto do País, a sub-região mais urbana de Lisboa tem vindo a expandir-se para uma metrópole (ou cidade mãe), em percurso dirigido à formação de uma megalópole conurbada aos seus subúrbios. A pressão de concentração urbana (para além de um nível que apelidaríamos de razoável), nem sempre obteve sucesso, quando examinado ao longo da história das cidades.

A região da Estremadura (pela enformação assumida) compõe-se de duas partes distintas: Lisboa e Vale do Tejo e a orla marítima alentejana. O termo alentejana não tomado à letra (alem do rio), dado que o Tejo (na gestão sustentável dos recursos hídricos) diz respeito à unidade de conservação integral que é a sua bacia hidrográfica. Daí, dizer-se que os rios unem e não separam os territórios que banham e aos quais fornecem sustentação. Mas, tal conceção foi de separação e fronteira, em tempos que já lá vão.

Das 4 sub-regiões demarcadas na região da Estremadura, Mapa-5, a primeira, a norte e a oeste (litoral), compreende 15 municípios, a saber, Caldas da Rainha, Rio Maior, Óbidos, Peniche, Bombarral, Cadaval, Lourinhã, Torres Vedras, Alenquer, Azambuja, Mafra, Sobral Monte Agraço, Arruda dos Vinhos, Vila Franca de Xira e Sintra. É correntemente apelidada de sub-região do Oeste pelas culturas agrícolas que a especializam e à qual não nos opomos, antes, convergimos na designação.

A segunda sub-região, chamemos-lhe do Baixo Tejo (por demarcação da sub-região do Ribatejo já identificada), situa-se no interior norte da região mãe. Esta sub-região faz fronteira com o

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05. ESTUDOS

Alentejo mais extenso e mais genuíno, do qual se separa pela transição da bacia hidrográfica do Tejo para o Alentejo propriamente dito. Compõe-se dos 8 municípios seguintes: Santarém, Cartaxo, Alpiarça, Almeirim, Chamusca, Salvaterra de Magos, Coruche e Benavente. Sem padecer da pressão urbanística lisboeta, situa-se estrategicamente próxima das suas vantagens.

A sub-região metropolitana de Lisboa e arredores abrange os 12 municípios de Loures, Odivelas, Amadora, Lisboa, Oeiras e Cascais (na margem direita do estuário do Tejo) e Almada, Seixal, Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete (na margem sul). É a sub-região mais urbanizada da região da Estremadura e do País inteiro. A pressão demográfica experimentada aqui (tal como em torno do Porto do Douro-Minho) deu como resultado administrações locais mais segmentadas em área.

Finalmente, a quarta sub-região situada no litoral sul da região-mãe, entrando pelo Alentejo adentro, abrange os 7 municípios de Sesimbra, Setúbal e Palmela (fazendo parte da península de Setúbal) e Alcácer do Sal, Grândola, Sines e Santiago do Cacém (do Litoral Alentejano). Apesar do menor número de municípios envolvidos, ocupa uma área relativamente extensa. Os portos de Sines e de Setúbal imprimem-lhe forte dinâmica económica nacional e sub-regional.

Existe mais diversidade no espaço geográfico a norte (mais húmido e planáltico), digamos, do Vale do Tejo para norte, do que do Vale do Tejo para sul. A maior uniformidade do espaço geográfico a sul responde por regiões (e sub-regiões) mais extensas e em menor número do que a situação descrita que observámos nos territórios já elencados. A sul, é sobretudo o Portugal mediterrâneo que se faz sentir, em contraste às feições atlântica e peninsular, a norte, cf. O. Ribeiro (1945).

MAPA-5: AS 4 SUB-REGIÕES DA ESTREMADURA

MAPA-6: AS 3 SUB-REGIÕES DO

ALENTEJO

MAPA-7: AS 2 SUB-REGIÕES DO

ALGARVe

MAPA 8: AS 23 SUB-REGIÕES DO

CONTINENTE

VI) REORDENAMENTO SUBREGIONAL DO ALENTEJO

O grande Alentejo apresenta-se relativamente fácil de ser ordenado em sub-regiões, devido ao

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facto narrado de estar associado a largos subespaços de homogeneidade em torno, sobretudo, dos dois polos, formatando o Alto e Baixo Alentejos sem erros de classificação. Acontece que, dado o poder local desejar estar próximo das administrações regionais (o que depende dos municípios incluídos), melhor se estrutura o espaço (objeto de estudo) em Alto, Médio e Baixo Alentejo.

As sub-regiões do Alto, Médio e Baixo Alentejo correspondem aos antigos distritos administrativos de Portalegre, Évora e Beja, com alterações ocorridas no extensíssimo Baixo Alentejo atual, permitindo-lhe acesso à orla do litoral. Se fosse pretendido a qualquer preço, manter ou integrar a sub-região do Alentejo Litoral na grande região alentejana, para tal subtraindo-a à região da Estremadura em que foi integrada, então, poder-se-lhe-ia acrescentar o extenso município de Odemira.

O Mapa 6 procura racionalizar a informação (oferecida por outros mapas considerados) julgada mais relevante e, por esta via de síntese, evitar cometer erros crassos de unir o que deve estar separado ou separar o que deve estar unido. A informação utilizada ajuda-nos, assim, a fortalecer a estratégia de unir o que deve estar unido e separar o que deve estar separado. É a adoção do princípio básico que qualifica uma boa tomada de decisão.

O Alto Alentejo encontra-se situado a norte, preenche um subespaço no interior do País (relativamente deprimido) entre o Vale do Tejo e Espanha. Ocupa o espaço geográfico do antigo distrito de Portalegre, há altura com funções centralizadoras que não se podem doravante repetir, agregando 15 municípios, assim designados: Alter do Chão, Arronches, Avis, Campo Maior, Castelo de Vide, Crato, Elvas, Fronteira, Gavião, Marvão, Monforte, Nisa, Ponte do Sor, Portalegre e Sousel.

O Médio Alentejo (ou Alentejo Central), também situado na charneca do interior, é formado pelos municípios que se ordenam em torno de Évora como polo de desenvolvimento mais influente, com as seguintes 14 designações: Alandroal, Arraiolos, Borba, Estremoz, Évora, Montemor-o-Novo, Mora, Mourão, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Vendas Novas, Viana do Alentejo e Vila Viçosa. Dentro do Alentejo, trata-se da sub-região de maior desenvolvimento sustentável.

O Baixo Alentejo, de área muito elevada (para os municípios que congrega) situa-se a sul da região em escrutínio, fazendo fronteira com o Algarve através da serra algarvia. É uma sub-região de grandes potencialidades de desenvolvimento que se encontra relativamente deprimida. Os 14 municípios que a compõem são: Odemira, Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Ourique, Serpa e Vidigueira.

O Alentejo como região é (de todas) aquela que possui maior capacidade de desenvolvimento sustentável. Do seu espaço territorial, nomeadamente, o espaço rural é intensamente mercadejado e ocupado por parte de empreendedores investidores, sobretudo famílias estrangeiras, sendo também a região mais apreciada e escolhida para fixação de europeus. É onde as condições naturais se mostram mais benevolentes e onde as espectativas criadas são mais elevadas.

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05. ESTUDOS

VII REORDENAMENTO SUBREGIONAL DO ALGARVE

O Algarve tem pergaminhos históricos que estão à altura das 5 primeiras regiões ordenadas. Apesar de ser relativamente menor em área geográfica, satisfaz todos os critérios exigidos pelo estatuto de região, na aceção moderna do termo, no âmbito das ciências económicas e administrativas, a saber: cultura própria, produção natural e industrial, meio ambiente com clima unificador e dimensão de sustentabilidade. Há regiões menores muito mais desenvolvidas.

O Algarve situa-se a sul do Continente, entre as serras que o separam do Baixo Alentejo, a saber, Espinhaço de Cão, Monchique e Caldeirão, e o mar do Algarve. Ao longo do litoral existem municípios que se revelam muito semelhantes e com circunscrições espaciais completamente diferentes das circunscrições dos municípios ocupando o interior montanhoso, de densidade populacional muito baixa. A diferença entre litoral e interior é, assim, claramente reconhecida.

Seria de suspeitar que, dada a clara diferenciação entre litoral a sul e o interior montanhoso a norte, a parcela de território a ocidente (designada por Barlavento) fosse algo parecida com a parcela a oriente (dita Sotavento), no retângulo alongado que é o Algarve. Não é assim, a heterogeneidade espacial encontrada entre o Atlântico (a oeste) até ao rio Guadiana (a este) é também muito fácil de apreender. Ao Algarve não falta diversidade mais oculta em outras regiões.

A região do Algarve (antigo reino dos Algarves) é a região continental dotada de clima mais ameno e benigno (expoente máximo de atração), com gastronomia, praias e portos de embarcações de pesca e de recreio, para além de infraestruturas logísticas e atividades económicas regionais que colocam a procura pelo Algarve, (nas instâncias turísticas internacionais de topo), em níveis de quase saturação. Sobretudo em tempos de épocas balneares e de instabilidade mediterrânea.

Sob o regime distrital, centralista e cerceador das liberdades democráticas, o Algarve foi administrado como parcela única, independentemente das suas sensibilidades sub-regionais. Foi o tempo do Estado Nação absoluto, da uniformidade administrativa aplicada a todo o espaço nacional. Entendemos que (nos tempos que correm) se ajusta melhor uma administração pública apoiada nas duas sub-regiões do Barlavento e do Sotavento.

O Mapa-7 acima exibe a opção de considerar as duas sub-regiões no Algarve regional. Há uma partição dos municípios que se mostra quase simétrica, com o mesmo número de municípios nas duas metades, contribuindo para a descentralização, maior aproximação do poder local e, por esta via, dos cidadãos. O processo de democratização não termina aqui, no entanto. É nas administrações das freguesias que se jogam os trunfos mais valiosos da democracia participativa.

A sub-região do Barlavento (do lado de onde e para onde sopra o vento), a oeste, de maior diversidade e mais acidentada, compreende os 8 municípios seguintes: Albufeira, Aljezur, Lagoa, Lagos, Monchique, Portimão, Silves e Vila do Bispo. A sub-região do Sotavento (do lado oposto ao de onde vem o vento), a este, de menor diversidade e menos acidentada, compõe-

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se dos 8 municípios restantes: Alcoutim, Castro Marim, Faro, Loulé, Olhão, S. B. de Alportel, Tavira e V. R. de S. António.

VIII) ALGUMAS CONCLUSÕES

As 23 sub-regiões identificadas (Mapa 8, ver abaixo) constituíram o objetivo maior deste estudo. Pretende-se, ainda, dar ênfase ao facto de ter sido inventariado um número de 23 sub-regiões que se apresenta algo acima do número dos 18 distritos, decapitados mas vivos. Consideremos as suas designações citadinas e urbanas (que não regionais no conceito moderno do termo, nem provinciais). Não se vislumbra sentido em associar os distritos com políticas regionais, porque não aderem.

Torna-se hoje claro, à luz dos ensinamentos obtidos do passado, que o facto real dos portugueses sentirem uma identificação nacionalista, em nada subtrai ao racional sentimento de aproximação (patriótico, matriótico ou fraternal) às comunidades de povos regionais douro-minhotos, transmontanos, beirões, estremenhos, alentejanos ou algarvios. Ao invés, com mais e melhor informação, criam-se naturalmente as condições da reformação do velho estado (ainda vigente) por forma a que se torne democrático e de direito.

As 23 sub-regiões que apresentamos, para além de se integrarem nas 6 regiões identitárias, são de natureza mais flexível que elas, em permanente reorganização de suporte às políticas regionais e sempre em articulação estreita com as administrações municipais. A fim de se respeitarem as identidades (instituições) regionais, é verdade que se desfizeram distritos, nomeadamente, aqueles invadindo espaços de duas ou mais regiões e outros. Citem-se os casos de Vila Real, Aveiro, Viseu, Santarém e Castelo Branco. Mas a estruturação regional não foi violada.

MAPA-1: AS 6 REGIÕES ESTRUTURAIS MAPA 8: AS 23 SUB-REGIÕES DO CONTINENTE

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05. ESTUDOS

Há que contrastar as Regiões, as Sub-regiões, as Áreas Metropolitanas (AMP e AML, em vigência), as Comunidades Intermunicipais (CIMs) e a trama dos Distritos Administrativos (comnomes de cidades) e confirmar o que pode (eventualmente) estar oculto ou dissimulado: 1º) as Áreas Urbanas (CIMs e AMs) constituem dimanações dos Distritos; 2º) se os Distritos não respeitam as identidades regionais, as Áreas Metropolitanas também não; 3º) as Sub-regiões são hierarquicamente dependentes das Regiões; 4º) as Regiões são hierarquicamente dependentes do Estado Central, tornando-o democrático e de direito.

Apesar das Sub-regiões serem em número de 23, tantas quantas as 23 Áreas Urbanas, pode constatar-se uma diferença abissal entre um e outro tipo de instituições. O primeiro faz e satisfaz um ordenamento regional e outro sub-regional. O segundo não faz nem satisfaz uma coisa nem outra. Remate-se com o facto das 28 NUTS III surgirem neste contexto como espécie de assuntos privados, sem respeito da ética intelectual que assiste à investigação aplicada, nomeadamente, do ordenamento espacial e do desenvolvimento.

O objetivo alcançado com este estudo de investigação e inventariação foi duplo: por um lado, deduziu-se e confirmou-se a consistência da tipologia regional (de primeira ordem) que serve os intentos do desenvolvimento regional; por outro lado, deduziu-se uma sub-regionalização própria (de cada região continental) que desempenha um papel crucial, ainda que seja instrumental (de segunda ordem), na aproximação das administrações regionais aos municípios e às freguesias.

As associações de municípios (ou sub-regiões) servem ainda de referência às suas congéneres situadas dentro das circunscrições municipais, ou seja, as associações de freguesias hão-de vir a desempenhar a função de subsidiariedade (dentro da sua esfera de competências), em homologia às sub-regiões e outros órgãos de níveis hierárquicos superiores. Para tal, torna-se necessário fortalecer as freguesias (por ação da descentralização administrativa) que constituem o escalão mais próximo dos cidadãos.

A assim designada política de municipalização, muito na moda de executivos governamentais atual e anteriores, pretende desconcentrar para os municípios, para as freguesias, para as Comunidades Intermunicipais (CIMs) e para as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto (AML AMP) tarefas de responsabilidades que são próprias das autarquias. As CIMs e as AMs não o são, nem se prevê que o venham a ser, de tal forma seria forçada, como foi a junção das freguesias. Trata-se aqui de funções que (em primeira mão) estarão na alçada das autarquias regionais.

O centralismo instalado, só por alguma revolução democrática será passível de ser erradicado e substituído pelo modelo por nós apresentado ou outro equivalente. Mesmo que sejam outras as fronteiras definidas para as regiões, o seu número deverá manter-se na meia-dúzia. Observe-se que, nesta proposta oferecida, tem-se o Douro-Minho com 55 municípios, Trás-os-Montes e Beira Interior com 57, Beira Litoral com 64, Estremadura com 43, Alentejo com 43 e Algarve com 16. E sendo eles (os municípios, como as freguesias) resultantes de processamentos históricos, não nos suscitam questionamento sobre o direito à sua existência

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ou sobre o estatuto autonómico e autárquico de que devem auferir.

Sabe-se (por experiência adquirida) que as zonas espaciais situadas (em torno das fronteiras regionais delimitadas) constituem zonas de transição e, portanto, é sempre possível lidar com alguma elasticidade acomodativa no arrumo espacial consertado, se tal se mostrar incontornável. Por exemplo, a baixa dimensão (pequenez) de espaços fregueses, municipais ou regionais (em situação de isolamento) pode originar soluções de aglutinação a espaços institucionais da vizinhança, que poderá violar alguns princípios da coesão territorial, mas cuja resolução não têm outra solução.

Observe-se que, sendo as regiões estruturantes muito mais estáveis e resilientes do que as sub-regiões estruturadas, resulta deste facto óbvio, que a execução de uma regionalização efetuada a sul se torna mais fácil e consensual (de ser levada a bom termo) do que a norte. Não é só pelo facto das populações envolvidas reagirem de formas adversas ou opostas. O ordenamento territorial, em si, torna-se menos determinista a norte, por ser de heterogeneidade relativa superior.

As seis regiões estruturais acima expostas (Mapa-1) divergem ou convergem com outras regiões encontradas e construídas com metodologias diferentes. Estas regiões integradas ou, dito de outra forma, o Continente diferenciado em seis estratos regionais interpreta bem a realidade nacional (diversa e regional). As 23 sub-regiões derivadas das 6 regiões (Mapa 8) ou, equivalentemente, as 23 sub-regiões que se integram para inclusão nas 6 regiões, interpretam bem as realidades, sobretudo locais, sublocais e de cidadania participativa.

Foi em torno destes dois mapas que (verdadeiramente) se desenvolveu o estudo reportado. Mapas destes dois tipos proliferaram, sobretudo no pós-25 de Abril, cada um com as suas idiossincrasias: uns, respeitando preceitos regionais, (do ordenamento espacial), apresentando-se relativamente homogéneos; outros, de construção empirista (não respeitando o ordenamento territorial) resultando em recortes pouco aderentes à realidade. Na verdade, há imensas formas de proceder e é por isso mesmo que se tão importante haver uma estratégia de trabalho.

Para terminar a exposição que não é nenhuma dissertação, diga-se que se ela for publicada, lida e entendida por leitores que a divulguem a outros leitores e estes a outros, estamos convictos de que valeu a pena ter sido redigida e ter-se-á iniciado um processo em cadeia que (com elevada probabilidade) conduzirá a modificações sociais da maior relevância. E, citando Eugénio de Castro Caldas (1988), “mais adiado ficará o imperativo constitucional da regionalização, se o não for”.

IV) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERBERG, M.R., Cluster Analysis for Applications, Academic Press, 1973.

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05. ESTUDOS

CALDAS, E. C., Loureiro, M. S. e outros, Regiões Homogéneas no Continente Português., Fundação Calouste Gulbenkian,Lisboa,1966.

FIGUEIREDO, E. V. S., Portugal: Que regiões?, Instituto Nacional de Investigação Científica (INIC), 1988.

LOPES, A. S., Desenvolvimento Regional, Vol. I/Problemática, Teoria, Modelos, Fundação Calouste Gulbenkian,Lisboa,1978.

OLSEN, S. M., Regional Analysis, vol. II, Social Systems, autores vários, Ed. Carol A. S., Academic Press,1976.

RIBEIRO, O., Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, Coimbra Editora, 1945.

WARD, J. H. Hierarchical grouping to optimize an objective function, Journal of the American Statistical Association, v. 58, p. 236 – 244. Mar. 1963.

É NECESSÁRIO UMA POLITICA FISCAL QUE RESPEITE A CONSTITUIÇÃO E NÃO CRIE MAIS INJUSTIÇAS E

DISTORÇÕES

EUGÉNIO ROSA

O aumento enorme de impostos realizado pelo governo PSD/CDS agravou não só a injustiça fiscal mas também criou fortes distorções. O disposto no nº 1 do art.º 103º da Constituição da República – “ O sistema fiscal visa …. uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza” - e tam-bém o nº 1 do art.º 104 – “O imposto sobre o rendimento pessoal visa a diminuição das desigualda-des …” – foram ostensivamente ignorados para não dizer mesmo violados. O quadro 1, revela de uma forma sintética e quantificada, os efeitos da politica fiscal no período 2012/2015

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QUADRO 1 – VARIAÇÃO DAS RECEITAS DOS DIVERSOS IMPOSTOS NO PERÍODO DA “TROIKA” E DO GOVERNO PSD/CDS COM O OBJETIVO DE REDUZIR O DÉFICE ORÇAMENTAL

Entre 2012 e 2015, as receitas fiscais aumentaram 19,9% (+6.509 milhões €) mas as receitas de IRS cresceram 37,1% (+3.461 milhões €), o que representou 53,2% do aumento das receitas fiscais totais deste período. Pode-se dizer com propriedade que o IRS foi o instrumento preferi-do utilizado pelo PSD/CDS e pela “troika” para obter receita e assim reduzir o défice orçamen-tal. E, segundo dados divulgados pela Autoridade Tributária, 92% dos rendimentos declarados para efeitos de IRS são rendimentos do Trabalho e pensões.

O aumentos das taxas de IRS e a redução dos escalões, que reduziu significativamente a pro-gressividade do IRS, foi uma das medidas escolhidas. A análise da subida das taxas por esca-lões revela, por um lado, que os rendimentos mais baixos e os rendimentos médios foram os mais sacrificados e, por outro lado, os rendimentos mais elevados foram poupados. O quadro 2, em que se teve de repartir os 5 escalões de 2015 por mais escalões para as taxas poderem ser comparadas com as dos 7 escalões que vigoravam em 2011, revela claramente uma politica fiscal de classe em que as classes de rendimentos mais baixos foram sacrificadas e as de ren-dimentos mais elevados poupadas.

QUADRO 2- ESCALÕES E TAXAS DE IRS QUE VIGORAVAM EM 2011 E 2015

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05. ESTUDOS

Enquanto a taxa do escalão mais baixo aumentou 26,1%, a do mais elevado subiu apenas 3,2%. Se mais não existisse, isto já seria suficiente para caraterizar a politica fiscal deste período.

O aumento enorme da receita de IRS que se verificou entre 2012 e o 2015, também foi conse-guido à custa de um corte significativo nas despesas essenciais das famílias – saúde, educação e formação, habitação e com lares – que se verificou neste período. O quadro 3 mostra a di-mensão dos cortes impostos pelo governo do PSD/CDS nas despesas dedutíveis na coleta, o que contribuiu para o enorme aumento de impostos que se verificou neste período.

QUADRO 3-– VARIAÇÃO DAS DEDUÇÕES NO IRS DE DESPESAS SAÚDE, EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO, HABITAÇÃO (JUROS DE CREDITO À HABITAÇÃO, RENDAS) E LARES ENTRE 2011 E 2015

Entre 2011 e 2015, as deduções no IRS (imposto a pagar) de despesas essenciais das famílias – saúde, habitação, educação e formação, e apoio social a familiares – diminuíram de 1.626 milhões € para 881 milhões €, ou seja, sofreram um corte 745 milhões €, o que significou um aumento do IRS a pagar pelas famílias neste montante só por este motivo. O Ministério das Finanças ainda não divulgou dados de anos mais recentes para se poder fazer uma avaliação dos resultados das alterações feitas nesta área pelo governo PS, mas é de prever, como resulta da análise que mais adiante se fará, que os efeitos ainda sejam reduzidos. A acrescentar a tudo isto, de quem ninguém fala, há ainda o congelamento da dedução especifica no rendimento de Trabalho e pensões, que se mantém inalterável – 4.104€ - desde 2010 e que, por isso, determina um au-mento automático e “invisível” da carga fiscal todos os anos sobre os rendimentos do trabalho e pensões.

A REVERSÃO QUE ESTÁ A SER FEITA PELO GOVERNO PS ESTÁ SUBORDINADA À NECESSIDADE DE AUMENTAR A RECEITA FISCAL PARA REDUZIR O DÉFICE

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A reversão da politica do governo PSD/CDS e da “troika” que está a ser feita pelo gover-no PS encerra grandes limitações pois, por um lado, quer evitar a perda de receita para poder reduzir o défice orçamental de acordo com os ditames da Comissão Europeia e, por outro lado, procura atenuar os aspetos mais agressivos da politica anterior, mas sem reduzir a receita conseguida com o enorme aumento de impostos feito por Victor Gaspar. Tal inteção, por um lado, impede a reversão real da politica fiscal anterior e, por outro lado, cria distorções e injustiças. O quadro 4 mostra isso com clareza.

QUADRO 4 – VARIAÇÃO DAS RECEITAS DE IMPOSTOS DIRETOS E IMPOSTOS INDIRETOS NO PERÍODO 2012/2015

Sob o ponto de vista de politica fiscal, os impostos diretos são mais justos que os im-postos indiretos. E isto porque, em principio, com os primeiros – impostos diretos - paga mais quem ganha mais (o imposto depende do rendimento do contribuinte), enquanto nos segundos – os impostos indiretos – quando se adquire um bem ou serviço paga-se o mesmo de imposto seja rico ou pobre (o imposto não tem em conta o rendimento do contribuinte).

O que tem sucedido com o governo PS é que o peso dos impostos indiretos tem aumen-tado, enquanto o dos impostos diretos tem diminuído, portanto precisamente o contrário do que devia acontecer. Como revela o quadro 4, entre 2015 e 2018, as receitas fiscais que têm como origem os impostos diretos diminuíram de 46,6% para 42,2% das receitas fiscais totais, enquanto as que têm como origem os impostos indiretos aumentaram, no mesmo período, de 53,4% para 57,8% das receitas fiscais totais.

A questão que imediatamente se coloca é a seguinte: Por que razão sucedeu isto? E a resposta é simples e clara: como este governo continua com a obsessão de reduzir rapidamente o défice orçamental para assim contentar a comissão europeia e os princi-pais países do euro (por não se sentir com força para o fazer, ou até por convencimento próprio) , e como não pode deixar de satisfazer minimamente o forte anseio dos portugueses de redução do enorme aumento de impostos feito pelo governo do PSD/CDS, reduz no míni-mo o IRS, mas troca a receita que assim perde com aumento de receita de impostos indiretos, conseguindo desta forma até obter mais receita e reduzir o défice como exige a Comissão Europeia. “Manda a justiça fiscal às urtigas”, como o povo diz. Entre 2015 e 2018, até prevê que a receita fiscal total aumente em 10,1% (+3.950 milhões €). Esta politica tem o inconveniente,

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05. ESTUDOS

por um lado, de não determinar uma reversão real do enorme aumento de impostos feito pelo governo PSD/CDS e , por um lado, de criar mais distorções e injustiças, como mostra o quadro 5.

QUADRO 5- TAXAS GERAIS DE IRS DE 2015 E 2018

Para se poder fazer comparações entre a Tabela de IRS de 2015 e a de 2018, teve-se antes de desdobrar a Tabela de 2015, que tinha 5 escalões, numa tabela de 8 escalões; e a de 2018, que tem 7 escalões, em 8 escalões.

A simples observação das diferenças existentes entre as duas tabelas leva a conclusão imedia-ta que ela não tem como base um critério de coerência e de preocupação de justiça fiscal, em-bora pareça que tal preocupação esteja subjacente. Por exemplo, é de difícil compreensão que o escalão mais baixo (até 7.091€), que era aquele (pelo menos uma parte) que tinha sofrido o maior aumento de taxa com o governo PSD/CDS não tenha qualquer alteração, e que a taxa de IRS que incide sobre os rendimentos tributáveis, entre os 36.856€ e 40.0522€/ano, sofra um aumento na taxa que varia entre 21,6% e 24,1%. É evidente que as preocupação de não perda de receita, para que a redução do défice orçamental seja cumprida, acabam por distorcer as alterações feitas na Tabela de taxas gerais de IRS.

Mas esta obsessão de redução do défice, que impede a diminuição real da carga fiscal, está presente também nas deduções de rendimento e na coleta. O quadro 6, com as principais alterações feitas deduções nos rendimentos do Trabalho e nas pensões, que consta da Lei do Orçamento do Estado para 2018, confirmam esse facto que está a condicionar fortemente, para não dizer mesmo impedir, a implementação de uma politica fiscal democrática, de maior justiça, e de combate às desigualdades, como dispõe a própria Constituição da República.

Taxa Marginal

Taxa Média

Taxa Marginal

Taxa Média

Taxa Marginal

Taxa Média

Menos de 7.000€ 14,500% 14,500% Menos de 7.091€ 14,500% 14,500% 0,0% 0,0%De 7.000 a 10.700€ 28,500% 23,600% De 7.091€ a 10.700€ 23,000% 17,367% -19,3% -26,4%De 10.700€ a 20.000€ 28,500% 23,600% De 10.700€ a 20.261€ 28,500% 22,621% 0,0% -4,1%De 20.261€ a 25.000€ 37,000% 30,300% De 20.261€ a 25.000€ 35,000% 24,967% -5,4% -17,6%De 25.000€ a 36.856€ 37,000% 30,300% De 25.000€ a 36.856€ 37,000% 28,838% 0,0% -4,8%De 36.856€ a 40.000€ 37,000% 30,300% De 36.856€ a 40.522€ 45,000% 37,613% 21,6% 24,1%De 40.000 a 80.000€ 45,000% 37,613% De 40.522€ a 80.640€ 45,000% 37,613% 0,0% 0,0%Superior a 80.000 48,000% Superior a 80.6400 48,000% 0,0%

TAXAS EM VIGOR 2015

TAXAS A VIGORAR EM 2018

VARIAÇÃO TAXAS 2015/2018ESCALÕES DE

RENDIMENTO TRIBUTÁVEL ANUAL

ESCALÕES DE RENDIMENTO

TRIBUTÁVEL ANUAL

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QUADRO 6 – AS ALTERAÇÕES VERIFICADAS NAS PRINCIPAIS DEDUÇÕES NO PERÍODO 2011-2018 - CIRS

Portanto, em 2018, mantêm-se os enormes cortes feitos pelo governo PSD/CDS nas despe-sas com a saúde, com a educação e a formação, com a habitação e com os lares que podem ser deduzidas no IRS, nomeadamente dos agregados com rendimentos coletáveis superiores a 7.091€ até 66.045€ que até 2011 não estavam sujeitos a qualquer limite máximo global; a partir daquele ano, com o governo do PSD/CDS é estabelecido um limite máximo global muito baixo para a soma daquelas deduções na coleta com despesas de saúde, educação e formação, habitação e lares do agregado (entre 1.250€ e 0€) que contribuiu também para o aumento enorme de impostos.

As alterações feitas pelo governo do PS nestes limites máximos globais continuam a ser ma-nifestamente insuficientes (em relação aos agregados não sujeitos a este limite máximo, o valor da matéria coletável apenas sobe de 7.000€ de matéria coletável para 7.091€, e para agregados com rendimentos tributáveis entre 7.091€ e 66.045€, que até 2011 não tinham limites, agora os limites passam a variar em 2.500€ e 1.297,7€). É a manutenção desta situação de injustiça que tem per-mitido também ao atual governo reduzir o défice orçamental na dimensão que tem realizado.

O IRS retido mensalmente nas remunerações e pensões, que não tem a dedução daquelas despesas, registou um aumento muito grande entre 2011 e 2015, que ainda não é revertido em 2018 conforme mostra o quadro 7.

DEDUÇÕES 2011 2015 (entrou em vigor em 2013 e mentem-se com o governo PSD/CDS)

2018 (mantém-se com o governo PS)

A) DEDUÇÕES NO RENDIMENTO A.1 - Trabalho dependente 4 104 € 4 104 € 4 104 €

A.2- Pensões 6 000 € 4 104 € 4 104 €B) DEDUÇÕES NA COLETA (Imposto)

B.1 Despesas de saúde (artº 82, atual 78ºC do CIRS)

30% das despesas de saúde isentas de IVA ou sujeitas à taxa de 6%

15% das despesas de saúde isentas de IVA ou sujeitas à taxa

de 6% com o limite 1000€

15% das despesas de saúde isentas de IVA ou sujeitas à taxa de 6% com

o limite 1.000€/anoB.2 Despesas de educação e

formação (artº 83, atual 78º-D do CIRS)

30% das despesas ddas despesas com a educação e de formação com limite de

160% do valor do IAS

30% das despesas das despesas com a educação e de formação

com limite de 800€/ano

30% das despesas das despesas com a educação e de formação com

limite de 800€/ano

B.3 Despesas com lares (apoio a familiares- artº 84, CIRS)

25% dos encargos com lares, apoio domiciliário e instituições de poio à 3ª idade

para pessoas com rendimento inferior ao RMMG com o limite de 85% do IAS

25% dos encargos com lares, apoio domiciliário e instituições de poio à 3ª idade com o limite

403,75€

25% dos encargos com lares, apoio domiciliário e instituições de poio à

3ª idade com o limite 403,75€

B.4 Encargos imóveis (credito de habitação, rendas- artº 85, atual 78º-E doCIRS)

30% dos encargos com limite 574€ 15% dos encargos contratos até 31/12/2011 com limite de 296€

15% dos encargos contratos até 31/12/2011 com limite de 296€

DEDUÇÕES NA COLETA (IRS a pagar)

ATÉ 2011 2015 (entrou em vigor em 2013 aprovado pelo governo PSD/CDS)

2018 (Governo PS)

Sem limite para rendimentos coletáveis até 66.045€

Sem limite apenas até 7.000€ de rendimento coletável

Sem limite apenas até 7.091€ de rendimento coletável

Mais de 66.045€ até 153.300€ de rendimento coletável, 1,666% do rendimento coletável

com o limite de 1.100€

Mais de 7000€ até 20.000€ de materia coletável o limite

máximo de todas as deduções é 1.250€

Superior a 153.300€ de matéria coletável limite maximo 1.100€

De 20.000€ até 40.000€, o limite máximo das deduções é 1.000€De 40.000€ até 80.000€, o limite máximo das deduções é 500€

Superior a 80.000€ de rendimento coletável o limite é

ZERO

Superior a 80.640€ de rendimento coletável o limite máximo de

dedução é 1000€

B.1 Limites máximos

2º LIMITE: EM RELAÇÃO AS DEDUÇÕES NA COLETA DE DESPESAS COM SAÚDE, EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO, E COM ENCARGOS COM LARES E IMÓVEIS , A SUA SOMA NÃO PODE ULTRAPASSAR OS SEGUINTES LIMITES MÁXIMOS

1º LIMITE NA DEDUÇÃO DESPESAS NO IRS

DEDUÇÃO NO RENDIMENTO ANTES DO CÁLCULO DO IRS (dedução especifica)

NOTA: Limites máximos de 2015 eram majorados em 10% por cada filho e, em 2018, nos agregados com 3 ou mais filhos os limites máximos são majorados em 5% por cada dependente

Para agregados com rendimento tributável superior a 7.091€ e

inferior a 80.640€, o limite máxido de dedução é igual a 1000€ mais (2500€ -1000€) x ((valor do ultimo

escalão - Rendimento coletável do agregado)/(80.640€ - 7.091€))

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05. ESTUDOS

QUADRO 7 – VARIAÇÃO DAS RETENÇÕES MENSAIS DE IRS ENTRE 2011 E 2018

Como rapidamente se conclui dos dados quadro, a esmagadora maioria dos trabalhadores quer do setor privado quer da Função Pública não serão beneficiados em 2018 com a elimina-ção da sobretaxa de IRS pois, já em 2017, não tiveram de a pagar, pois os seus ganhos eram já inferiores aos que ainda pagaram neste ano. Por outro lado, e como o quadro revela, a reversão do aumento enorme IRS que se verificou em 2015, ainda não é revertida em 2018 (+34,9% contra -9,5%; e +21,5% contra -4,6%).

Finalmente, interessa salientar que aumento real do IRS que sofreram os portugueses durante o governo PSD/CDS, relativamente ao que efetivamente pagavam, e que é calculado pela Au-toridade Tributária com base na declaração de IRS feita no ano seguinte, e onde depois são abatidas todas as deduções, o que não acontece na retenção mensal do IRS, é muito superior à que consta do quadro 7 (há situações em que a alteração da Tabela de IRS conjugada com o corte nas despesas dedutíveis no IRS, determinou aumento de mais de 90% no IRS a pagar pelo contrin-buinte trabalhador). E isto porque estas deduções sofreram um enorme corte, como mostramos anteriormente que, em grande parte, ainda não foram revertidas por este governo como se provou.

Portanto, apesar da inversão verificada em 2016, em 2017 e previsivelmente em 2018, con-tinua por se fazer uma verdadeira reforma do sistema fiscal e dos impostos em Portugal que, para além de dar as receitas que o Estado precisa para poder funcionar, seja coerente e firma no combate às desigualdades, e que contribua verdadeiramente para uma maior justiça na repartição dos rendimentos e na riqueza, como dispõe a própria Constituição da República.

SETORES GANHOS MÉDIOS MENSAIS POR TRABALHADOR Ano 2011 Ano 2015 Ano 2017 ( E ) Ano 2018 (P) 2018-2015GANHO MENSAL MEDIO POR TRABALHADOR 1 085,00 € 1 096,70 € 1 118,70 € 1 129,90 € 3,0%

Retenção mensal de IRS por trabalhador 97,65 € 138,18 € 140,96 € 135,59 € Retenção mensal referente sobretaxa de IRS 13,41 € 11,65 € 0,00 € 0,00 €TOTAL RETENÇÃO (IRS + Sobtetaxa IRS) 111,06 € 149,83 € 140,96 € 135,59 € -9,5%

Variação TOTAL RETENÇÃO- Em % 34,9% -5,9% -3,8% -9,5%GANHO MEDIO MENSAL POR TRABALHADOR 1 601,90 € 1 619,00 € 1 689,00 € 1 689,00 € 4,3%

Retenção mensal de IRS por trabalhador 248,29 € 309,23 € 324,29 € 315,84 € Retenção mensal referente sobretaxa de IRS 24,23 € 21,93 € 0,00 € 0,00 €TOTAL RETENÇÃO (IRS + Sobtetaxa IRS) 272,52 € 331,16 € 324,29 € 315,84 € -4,6%

Variação TOTAL RETENÇÃO- Em % 21,5% -2,1% -2,6% -4,6%

PORTUGAL - Média dos ganhos dos trabalhadores do setor privado - MTSSS

FUNÇÃO PÚBLICA - Média dos ganhos de todos os trabalhadores da Função

Pública - DGAEP