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ANO 139 NÚMERO 3049 MENSÁRIO PREÇO €0,50 PORTE PAGO CABO RUIVO - TAXA PAGA Fundado em 11 de outubro de 1879 pelos operários manipuladores do tabaco NOVEMBRO-DEZEMBRO 2017 DIRETOR DOMINGOS LOBO JORNAL REGIONAL DA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA a Voz do Operário Plano de atividades d’A Voz do Operário 2018 OE 2018 Avanços Limitados Trabalhadores em luta saem à rua O Plano de atividades d’A Voz do Operário lança as bases para o ano que aí vem. O Plano aposta “no bom nível de atividade, mantendo uma elevada qualidade do serviço educativo e do apoio social, valorizando e rentabilizando o património, prosseguindo a publica- ção regular do Jornal, e promovendo iniciativas cul- turais diversificadas.” pág. 6 O Orçamento para 2018 está aprovado. O caminho da reposição de direitos continua a ser trilhado. Medidas como a eliminação da sobretaxa no IRS, reposição in- tegral dos salários, avanços no combate à precarieda- de na Administração Pública e do Sector Empresarial do Estado são medidas muito importantes, no entan- to é preciso ousar ir mais longe. págs. 12 e 13 Nas últimas semanas, diferentes setores de atividade saíram à rua por melhores salários e contra a pre- cariedade, entre outras reivindicações. Na manifes- tação de 18 de novembro, convocada pela CGTP-IN, que encheu a Avenida da Liberdade, em Lisboa, a central sindical anunciou que a luta não vai parar. págs. 14 e 15 Entrevista Romão Lavadinho Lisboa tornou-se uma cidade para turistas. O direito a nela residir é quase residual face ao preço das rendas e das vendas. A Estamo, empresa detida a 100% pelo Estado, vende imóveis, para instalar condomínios de luxo; o alojamento local substituiu, com vantagens fiscais, o mercado de arrendamento. págs. 8 e 9 Em 2017, comemoram-se os cem anos da revolu- ção bolchevique. Um acontecimento que signifi- cou um salto gigante na história da humanidade. Uma revolução que trouxe, em 1917, direitos que os trabalhadores em Portugal só viriam a con- quistar com a sua própria revolução em 1974. Fa- lamos de direitos como férias pagas, subsídio de desemprego, licença de parto e maternidade, en- tre tantos outros. Foi ali o primeiro exercício pro- longado, no tempo, de pôr fim à exploração e hu- milhação dos trabalhadores. É este exercício, que tantas conquistas trouxe não só para os povos da União Soviética como para o resto da humanidade que importa comemorar. suplemento Revolução de Outubro A Revolução que transformou o mundo

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ANO 139 NÚMERO 3049 MENSÁRIO PREÇO €0,50 PORTE PAGO CABO RUIVO - TAXA PAGA

Fundado em 11 de outubro de 1879 pelos operários manipuladores do tabaco

NOVEMBRO-DEZEMBRO 2017 DIRETOR DOMINGOS LOBO JORNAL REGIONAL DA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA

a Voz do Operário

Plano de atividadesd’A Voz do Operário 2018

OE 2018Avanços Limitados

Trabalhadores em lutasaem à rua

O Plano de atividades d’A Voz do Operário lança as bases para o ano que aí vem. O Plano aposta “no bom nível de atividade, mantendo uma elevada qualidade do serviço educativo e do apoio social, valorizando e rentabilizando o património, prosseguindo a publica-ção regular do Jornal, e promovendo iniciativas cul-turais diversificadas.” pág. 6

O Orçamento para 2018 está aprovado. O caminho da reposição de direitos continua a ser trilhado. Medidas como a eliminação da sobretaxa no IRS, reposição in-tegral dos salários, avanços no combate à precarieda-de na Administração Pública e do Sector Empresarial do Estado são medidas muito importantes, no entan-to é preciso ousar ir mais longe. págs. 12 e 13

Nas últimas semanas, diferentes setores de atividade saíram à rua por melhores salários e contra a pre-cariedade, entre outras reivindicações. Na manifes-tação de 18 de novembro, convocada pela CGTP-IN, que encheu a Avenida da Liberdade, em Lisboa, a central sindical anunciou que a luta não vai parar. págs. 14 e 15

EntrevistaRomão LavadinhoLisboa tornou-se uma cidade para turistas. O direito a nela residir é quase residual face ao preço das rendas e das vendas. A Estamo, empresa detida a 100% pelo Estado, vende imóveis, para instalar condomínios de luxo; o alojamento local substituiu, com vantagens fiscais, o mercado de arrendamento. págs. 8 e 9

Em 2017, comemoram-se os cem anos da revolu-ção bolchevique. Um acontecimento que signifi-cou um salto gigante na história da humanidade. Uma revolução que trouxe, em 1917, direitos que os trabalhadores em Portugal só viriam a con-quistar com a sua própria revolução em 1974. Fa-lamos de direitos como férias pagas, subsídio de

desemprego, licença de parto e maternidade, en-tre tantos outros. Foi ali o primeiro exercício pro-longado, no tempo, de pôr fim à exploração e hu-milhação dos trabalhadores. É este exercício, que tantas conquistas trouxe não só para os povos da União Soviética como para o resto da humanidade que importa comemorar. suplemento

Revolução de Outubro

A Revolução que transformou o mundo

Page 2: 139 3049 MENSÁRIO €0,50 NOVEMBRO-DEZEMBRO 2017 … · Trabalhadores em luta saem à rua ... central sindical anunciou que a luta não vai parar. págs. 14 e 15 Entrevista ... 2

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Foi aprovado na Assembleia da República o Orçamento do Estado para 2018 o qual, embora de uma forma ainda claramente insuficiente, contempla um conjunto de elementos que vão no sentido da recu-peração de rendimentos, nomeadamente por parte das pessoas mais carenciadas, consolidando as medidas adotadas nos últimos dois anos e incorporando novos passos na defesa, reposição e conquista de direitos dos trabalhadores.

De entre as medidas adotadas, salien-te-se a descida do IRS, o aumento das pensões, o reforço do apoio social aos desempregados (acabou-se com o corte de 10% no subsídio de desemprego e alar-gou-se a medida extraordinária de apoio aos desempregados de longa duração), às crianças e às pessoas com deficiência, estendeu-se a gratuitidade dos manuais escolares, repôs-se o direito à progressão nas carreiras e o pagamento por inteiro do trabalho extraordinário e noturno, são apoiadas as pequenas empresas, os agri-cultores e os pescadores.

A realidade mostra que se poderia (e deveria) ter ido mais longe e que só uma política que tenha em conta as pessoas poderá levar ao desenvolvimento do País criando mais riqueza e distribuindo-a com maior justiça.

A aposta na política de recuperação de rendimentos, embora sem a dimensão necessária, teve os efeitos esperados no crescimento económico e nos outros indi-cadores macro, provando à sociedade que o caminho anteriormente seguido pelo Governo PSD/CDS, ao serviço do grande capital e da ingerência da UE, não tinha como objetivo a recuperação económica do país, mas sim o acumular da riqueza por parte de uns tantos, agravando de for-ma nunca antes vista a diferença entre o punhado dos mais ricos e a restante po-pulação.

Enquanto governaram, PSD e CDS as-sentaram o seu discurso na ideia de que os direitos eram privilégios. Atacaram os di-reitos sociais, liquidando uns e transfor-mando outros em prestações de caridade, com o objetivo de transformar cidadãos com direitos em gente à sua mercê, sujei-ta a todo o tipo de discricionariedade.

Indo ao encontro do interesse do gran-de patronato em acabar com os subsídios e querendo o Governo PSD/CDS disfarçar o enorme aumento de impostos que apli-cou aos trabalhadores, tomaram a decisão

Foi assim que o repórter norte-americano John Reed batizou a centená-ria Revolução de Outubro que encheu, na época, as páginas de jornais operários de todos os continentes. Depois da primeira tentativa com a Comuna de Paris, os trabalhadores russos protagonizaram, então, o feito de tomarem o céu de assalto e de encetarem uma nova página sob a consigna de paz, pão e terra. A gesta histórica capitaneada pelos bolcheviques que conquistou, entre outros, a admiração de uma parte importante do operariado português conduziu em todo o mundo ao re-conhecimento de direitos que jamais haviam sido consagrados. Muitos deles com a Revolução de Abril, quase 60 anos depois, é que viriam a ser reconhecidos em Portugal.

Cem anos depois, numa época em que os avanços tecnológicos e científicos permitiriam fazer da pobreza um anacronismo, os grandes grupos económicos e financeiros têm a desigualdade como regra. Não é por acaso que a CGTP-IN recebeu centenas de sindicalistas numa con-ferência internacional realizada em Lisboa. Os valores da Revolução de Outubro são milenares e intemporais. O fim da exploração do homem pelo homem é tão válido hoje como ontem. A justiça social, o progresso e a paz são incompatíveis com o capitalismo.

O ano que agora termina é a prova disso mesmo. Das mais peque-nas às grandes lutas, a defesa, a recuperação e a conquista de direitos são fruto da intervenção de quem trabalha no nosso país por melhores condições de vida. Assistimos ao protesto de diferentes camadas da po-pulação e dos trabalhadores de diversos sectores ao longo de 2017. Por melhores salários, contra a precariedade, pelo direito à habitação, por serviços públicos de qualidade. Ao mesmo tempo, agravou-se a conjun-tura internacional com o desrespeito pela soberania dos povos e pelo seu direito a determinar o seu próprio futuro. As sucessivas ingerências e agressões militares patrocinadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia semeiam guerras em diferentes regiões do globo.

É justamente a luta pela paz e pela justiça social que deve continuar a agitar as nossas consciências. Sejamos, pois, capazes de caminhar também em 2018 rumo a esse horizonte.

de suspender a legislação laboral e de di-luir os subsídios em duodécimos de forma a que nunca mais ninguém se lembrasse da sua existência.

A aprovação do pagamento por inteiro dos subsídios no momento em que é de-vido, constitui um marco importante na defesa dos subsídios de férias e de Natal como direito dos trabalhadores.

Não deixando de relevar as medidas aprovadas, nomeadamente o aumento do IRC sobre as empresas com lucros su-periores a 35 milhões de euros e a baixa do IRS, ainda há muito a fazer no ca-minho da recuperação da justiça fiscal, deixando de penalizar tantos os rendi-mentos do trabalho em detrimento dos rendimentos do capital, contrariando a política de direita das últimas dezenas de anos, em que apesar de os rendimentos de capital terem aumentado substancial-mente, baixou o seu peso nos impostos cobrados (fruto da redução das taxas e dos muitos benefícios fiscais ao capital), enquanto os impostos sobre o trabalho foram fortemente agravados.

Uma maior justiça fiscal passa igual-mente pelo fim dos paraísos fiscais, que foram criados exatamente para aliviar os impostos dos mais poderosos e ao mes-mo tempo lhes permitir branquear o di-nheiro obtido de formas ínvias, muitas vezes criminosas. A este título refira-se que, segundo dados oficiais, só em 2016 saíram do país 8,6 mil milhões euros para os offshores.

Por outro lado, é necessário prosseguir o reforço da componente de recuperação de rendimentos por parte das famílias, designadamente a fixação do salário mí-nimo nacional em 600 euros bem como dar especial atenção à melhoria do serviço público prestado à população, incluindo a componente investimento, passando na-turalmente pelo fim das PPPs que são um sorvedouro dos dinheiros públicos, em benefício dos privados e com um resulta-do muito deficiente no serviço prestado.

Neste período de festas natalícias, for-mulo votos de Boas Festas e que em 2018, com o papel decisivo e insubstituível da luta dos trabalhadores e das populações (como o confirmam os avanços verifica-dos no Orçamento do Estado) prossiga a concretização da melhoria das condições de vida.

Manuel Figueiredo,Presidente da Direção

Membro daAssociação da

ImprensaNão-Diária

PROPRIEDADE E EDIÇÃO SIB A Voz do OperárioRua da Voz do Operário, 13, 1100 – 620 LisboaTelefone: 218 862 155. E-mail: [email protected] Domingos LoboCHEFE DE REDAÇÃO Ana GoulartDESIGN E PAGINAÇÃO Ana Ambrósio, Diogo JorgeFOTOGRAFIA Nuno AgostinhoCOLABORADORES André Levy, Bruno Carvalho, Cátia Rodrigues, Carlos Moura, Domingos Lobo, Eugénio Rosa, Lina Seabra-Diniz, Luís Caixeiro, Manuel Figueiredo, Rego MendesREDAÇÃO Rua da Voz do Operário, 13, 1100 – 620 LisboaIMPRESSÃO Empresa Gráfica Funchalense, SARua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, n.º 50 – Morelena, 2715 – 029 Pêro PinheiroN.º DE REGISTO NA ERC 107759DEPÓSITO LEGAl 6394/84PERIODICIDADE MensalTIRAGEM 4.000 exemplaresESTATUTO EDITORIAL www.vozoperario.pt

Associação Portuguesa da Imprensa

Regional

Editorial

Os dias que abalaram o mundo

Orçamento do Estado para 2018

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1ª Gala de Fado d’A Voz do Operário

Uma tarde que fica para a históriaNo dia 12 de novembro o Salão de Festas de A Voz do Operário encheu-se de pes-soas para celebrar o Fado.

A ligação entre a Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário e o Fado remonta à sua criação, no final do século XIX. Ao longo da nossa história, inúmeras foram as personalidades do mundo do fado que nos ajudaram a manter viva uma ati-vidade regular, através de sessões de fado realizadas ou apoiadas pela nossa insti-tuição. De igual modo, as páginas do nos-so jornal foram um espaço sempre aberto para muitos autores lá registarem os seus poemas e defenderem o fado enquanto ex-pressão cultural das classes trabalhadoras. É esta relação indissociável que quisemos celebrar, com a realização de uma grande gala anual de Fado d’A Voz do Operário, or-ganizada em parceria com a Música Unida. Esta iniciativa teve também como um dos seus principais objetivos a recolha de fun-dos para a reabilitação do nosso Salão de Festas, sendo que todos os artistas partici-param de forma solidária para alcançarmos este objetivo. Contámos também com o apoio das seguintes entidades: Altum, Grill Porto, Global Segurança, J.F SÃO Vicente, Lusitango, Turismo de Lisboa, J.F Santa Maria Maior, Madeira Pura, Time Out, Mu-seu do Fado, Cena-STE, ACCL.

A Gala teve a apresentação de Vítor de Sousa, Diamantina Rodrigues e José Nobre e contou com um elenco composto de gran-des nomes da cena do Fado: Ana Maurício; António Pinto Basto; Augusto Ramos; Ci-dália Moreira; Conceição Ribeiro; Emma;

Filipe Duarte; Hélder Moutinho; Jorge Baptista da Silva; Luís Matos; Maria da Nazaré; Vanessa Alves; António Parreira; Manuel Gomes; Fernando Gomes; Gui-lherme Carvalhais; Fernando Costa; Nuno Lourenço.

Além do elenco fixo houve ainda espaço para entrega de prémios. Foram eles: Artes e Espetáculo – Madrinha da Gala: Maria da Nazaré; Carreira: Maria Amélia Proença e António Rocha; Compositor: mestre An-tónio Parreira e Vital d’Assunção; Divul-gação: Grupo Sportivo Adicense; Lisboa: Anita Guerreiro; Poesia e Literatura: Má-

rio Raínho e Fernando Campos de Castro; Popular: José António Garcia; Revelação: Beatriz Felizardo e Pedro Junot; Solidarie-dade: Carlos do Carmo; Todos os fadistas homenageados, à exceção de Carlos do Car-mo que devido a problemas de saúde não

pôde estar presente, cantaram também. Maria da Nazaré foi a madrinha da Gala e a partir da sua imagem foram construídos todos os materiais gráficos, o cenário, a estatueta prémio e ainda um quadro que esteve a leilão pintado pelo artista Bruno Netto, que doou o seu trabalho à Voz do Operário. Maria da Nazaré confessou ter

ficado muito agradada com a homenagem e disse ainda que não estava à espera. A fa-dista afirmou que esta “foi uma experiên-cia extraordinária.” E acrescentou, “já não pisava este palco há uns 50 anos. Agradeço muito este convite e toda a homenagem que me fizeram.”

No salão, contámos com cerca de 500 pes-soas e através do direto do facebook conse-guimos alcançar cerca de 8000 pessoas.

Rosa Mestre, uma das pessoas que veio assistir, disse ao jornal que quando era miúda vinha muitas vezes aos espetáculos n’A voz e voltou agora, com muita emoção, passados 40 anos.

Para José Martinez, outro membro do público, a experiência não poderia ter sido melhor: “a relação d’A Voz do Operário ao Fado é uma realidade e A Voz do Operário está de parabéns. É uma forma de lançar novos artistas e de fazer jus à memória dos que ainda são grandes artistas”

A tarde ficou marcada por grandes atuações e dois dos momentos altos vivi-dos foram a comoção de Anita Guerreiro, com a homenagem que lhe foi prestada e o momento em que Cidália Moreira cantou à capela levando a sala ao rubro.

Durante o evento, através das contri-buições, que alguns daqueles que foram assistir deixaram, angariámos cerca de 500 euros. Assim aproveitamos para exortar todos os nossos sócios e amigos para que possam contribuir para este grande pro-pósito de reabilitação de um dos espaços mais nobres da cidade de Lisboa: o Salão de Festas d’A Voz do Operário.

a Voz do OperárioNOVEMBRO-DEZEMBRO 2017

Lançamento em 2018

Os 135 anos d’A Voz do Operáriocontados em livroEm 2018, o ano em que a Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário celebra 135 anos, sairá a publicação mais completa sobre a História da Instituição, produzida até à data. Resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e escrita de Alberto Franco, o livro reunirá o vasto espólio de um percurso singular, nas suas mais amplas di-mensões - associativa, educativa, cultural, social - e colocá-lo-á ao dispor da comunidade. O livro será lançado em fevereiro de 2018, aquan-do do aniversário da Sociedade, com um preço de

35 euros. Porém, a reserva e compra antecipada poderá ser feita pelo valor de 30 euros. Esta com-pra antecipada tem um caráter solidário, pois representa um contributo essencial à edição da obra, que pela sua exigência representa um pesa-do investimento. Para adquirir antecipadamente um exemplar con-tacte o número de telefone 218862155, o email [email protected], ou dirija-se a qual-quer um dos equipamentos educativos de A Voz do Operário.

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Com a chegada do outono, os alunos da escola da Gra-ça d’A Voz do Operário quiseram celebrar mais esta passagem de estação. Numa festa organizada pelos alunos de 1.º e 2.º ciclo, com a ajuda de professores e auxiliares, houve espaço para coreografias e cantigas interpretadas em português e inglês, acompanhadas à

Sendo o dia 1 de outubro o dia do idoso, já é habitual que se dedique o mês inteiro aos idosos. Este ano, à semelhança do que tem vindo a acontecer nos últimos anos, A Voz do Operário preparou uma série de ativi-dades dedicadas a este público. No dia 25 de outubro, A Voz do Operário, juntamente com a Associação Portu-guesa Para a Defesa do Consumidor (Deco), promoveu um workshop de direitos dos consumidores seniores. Tendo em conta que a população idosa é sujeita a técni-cas de venda agressiva, informação falsa ou enganosa, o workshop procurou informar os utentes no sentido de estarem preparados para enfrentar este tipo de prá-ticas e ficarem esclarecidos quantos aos seus direitos. Outra iniciativa muito importante foi a “Lisboa em Rodinhas” feita em parceria com a Santa Casa da Mi-sericórdia – UDIP Colinas, Mais Proximidade Melhor Vida e ASEL. No dia 26 de outubro realizámos uma atividade inédita: um “tuk tuk paper”, que só foi pos-sível por se ter juntado os recursos de várias institui-ções. Convidámos os nossos utentes com menos mo-bilidade, a quem prestamos serviços ao domicílio e, juntamente com utentes das outras instituições men-cionadas, criámos equipas mistas (equipa da marcha; equipa da sardinha; equipa do fado; equipa do elé-trico 28) que levámos a um passeio na cidade através de um tuk tuk. Nesse passeio foram-se fazendo várias

viola. No final as crianças montaram uma quermesse com venda de produtos alimentares, enfeites de de-coração e bijuteria, cuja receita reverteu a favor da escola. É importante destacar o envolvimento que os alunos tiveram em todo o processo de criação e orga-nização do evento.

paragens, nomeadamente no Miradouro Senhora do Monte, no Panteão Nacional, na Sé de Lisboa e no Mu-seu do Fado. Em cada uma dessas paragens foi-lhes dada uma peça de puzzle, que servia para poderem construir um puzzle no final do passeio e servia ao mesmo tempo de pista, que lhes permitia avançar para o próximo local. Estas peças só eram obtidas se os participantes soubessem a resposta às pergun-tas que lhes iam sendo colocadas, tais como “De que porta de Lisboa saem as noivas de Santo António?” O ponto final desta viagem foi o “Espaço Santa Casa” onde os participantes puderam então construir um puzzle com todas as peças que tinham recolhido pelo caminho. No “Espaço Santa Casa” estes utentes de mobilidade reduzida juntaram-se a todos os utentes dos centros de dia e de convívio das várias institui-ções e puderam participar numa aula de dança, lan-char e sobretudo conviver. No final, houve ainda um momento de entrega de diplomas de participação, em que os participantes receberam “tuk tuks” em minia-tura com bombons no seu interior, construídos pelas crianças da creche do Castelo da Santa Casa. Os diplo-mas foram entregues por Vítor Agostinho, diretor de A Voz do Operário, e por Etelvina Ferreira, diretora da direção do desenvolvimento e intervenção de proxi-midade da Santa Casa da Misericórdia.

Escola da Graça

O Outono chegou à escola da Graça d’A Voz do Operário

Centro de Convívio d’A Voz

Mês do idoso n’A Voz do Operário

“A janela da Voz” é o novo café a funcionar nas insta-lações de A Voz do Operário. Tem gestão própria e pro-gramação independente, embora possa haver parcerias em determinados momentos entre o café e a institui-ção. O café continua a funcionar no mesmo espaço, no edifício sede, mas foi agora melhorado e renovado. Esta grande sala foi pensada originalmente, no século XIX, como sala de teatro, onde chegou mesmo a funcionar um grupo de teatro, mas foi posteriormente convertida no bar da associação, tendo ao longo dos anos funcio-nado com várias gestões diferentes.

Catarina Barreiros, uma das sócias e a pessoa à fren-te da cozinha, diz ao jornal que quer manter o espírito de grupo vivido n’A Voz do Operário mas trazer tam-bém novas propostas: “queremos que seja uma sala de estar onde as pessoas se sintam em casa e a comida

vai ser um reflexo disso mesmo. Dos petiscos durante a tarde, aos almoços durante a semana e brunchs ao sábado é tudo caseiro e feito com extra carinho.”

Numa homenagem aos ideais d’A Voz do Operário, esta nova gestão convidou Mariana, a miserável, uma das mais conhecidas ilustradoras portuguesas, a dese-nhar um mural que simbolizasse os valores duma casa construída por operários tabaqueiros ainda no século XIX. Para Mariana o mural que desenhou representa “uma visão poética dum grupo de pessoas a trabalhar no mesmo sentido e a lutar contra tudo e todos por aqueles que não têm voz”

Se não houvesse já mais do que motivos suficientes para “ser feliz na Voz do Operário” agora tem mais um.

Café “A Janela da Voz”

Uma nova janela n’A Voz do Operário

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No passado mês de outubro realizou-se, em Sochi, na Russia, o 19º Festival Mundial da Juventude e dos Estu-dantes (FMJE). Um festival que se destaca na luta pela paz entre os povos e pela luta contra o imperialismo. Um festival que junta jovens de todo o mundo num es-pírito de solidariedade, de fraternidade e de amizade, sem nunca abdicar da combatividade com que se forja o futuro que só aos povos pode pertencer. Temas como a educação, a saúde, a precariedade laboral, o anti-fas-cismo, a autodeterminação dos povos ou a ingerência imperialista em todo o mundo, serviram de base para as mais amplas discussões sobre figuras históricas do combate ao imperialismo tais como Fidel Castro, Che Guevara, Robert Mugabe e Mohamed Abdelaziz. No pano de fundo de todo o Festival esteve a comemora-ção do centenário da Revolução de Outubro, momento maior da história da hu-manidade.

A Voz do Operário mar-cou presença pela segun-da vez no FMJE, fazendo assim parte da delegação portuguesa, composta por cerca de 40 jovens, perten-centes a diferentes orga-nizações que representam e defendem a juventude e a classe trabalhadora.

Na vivência desta ex-periência única estiveram também bem presentes as inevitáveis contradições inerentes à realização de um FMJE num país que atualmente se caracteriza enquanto uma potência capitalista, em tudo dis-tante do seu passado, o mesmo que permitiu criar, construir e forjar os alicerces do próprio Festival.

Na cerimónia de abertura, realizada na arena despor-tiva Bolshoi, com capacidade para aproximadamente 12 mil pessoas foram enunciados temas de pertinência glo-bal como a poluição, a inclusão social de pessoas com necessidades educativas especiais, ciência e tecnologia, educação, saúde, meios de comunicação e internet, as-sim como a história do festival. Ainda na cerimónia de abertura pôde assistir-se a um intenso espetáculo de luzes e cores. No entanto, o espetáculo teve essencial-mente um cunho oportunista, característico do show-o-ff burguês, transformando em produtos mercantilizá-veis valores como a solidariedade para com o planeta e o próximo. Um dos aspetos mais fortes desta perspectiva dominante na sessão de abertura foi o enfoque de prá-ticas benéficas para o mundo, centradas no indivíduo, sempre retratadas como heróis e heroínas, modelos, re-presentantes de uma lógica social centrada numa mu-

Porque a solidariedade é uma das marcas fundamen-tais do Festival, realizaram-se várias sessões de solida-riedade com os povos de diferentes países, que lutam de diferentes formas contra as agressões imperialistas. Um exemplo desta solidariedade ímpar foi a sessão de-dicada a Fidel Castro onde esta perspectiva ganhou uma dimensão diferente e única. O presidente da FMJE, en-quanto membro da mesa, destacou a solidariedade de Cuba e de Fidel para com o Festival. Após o fim da URSS e com os retrocessos sociais, morais e civilizacionais que se seguiram, o FMJE esteve em sério risco de desapare-cer. Nicolas Papademetrious, na qualidade de presidente da Federação fez questão de homenagear e agradecer a Fidel e ao povo cubano a corajosa decisão de, enquanto atravessavam o mais duro período e as mais graves con-sequências do bloqueio americano, acolher o festival,

de forma a garantir que um dos eventos de maior espírito solidário e frater-no a nível internacional, não se extinguisse. Foram partilhadas palavras de Fi-del acerca da importância da unidade enquanto for-ça maior na luta contra o imperialismo e enquanto apoiante permanente de todos os festivais. Nesta sessão salientou-se ainda que um festival de carác-ter anti-imperialista não poderá jamais abdicar dos seus princípios e que Cuba, representada por uma delegação totalmente eleita, tudo fará para que assim continue.

O tribunal anti-impe-rialista manteve o seu destaque no festival enquanto espaço de discussão ampla e democrática e de denúncia e condenação dos crimes imperialistas.

O balanço de uma semana de solidariedade, de com-panheirismo, de contradições mas também de esperan-ça, reforçou a necessidade da continuação, sob quais-quer condições, da luta dos povos contra o capitalismo e o imperialismo, por uma sociedade sem classes, sem exploradores nem explorados, o socialismo. Um cami-nho que A Voz do Operário, pela sua história e pela sua natureza de classe, jamais poderá abdicar ou abandonar. Porque só a conquista do poder pelos trabalhadores e pelos povos poderá concretizar os mais ambiciosos so-nhos que guiam a chama da esperança, tantas vezes erguida pela juventude. E porque, como disse um dia o Che, “a juventude é a argila fundamental da nossa obra”.

Ivo SerraDirector Pedagógico e Sócio d’A Voz do Operário

O autor não observa as regras do novo acordo ortográfico

dança, fruto da bondade e consciências individuais. Uma estratégia cuja função principal foi a de omitir o papel central e decisivo dos povos, na batalha contra o siste-ma que perpetua os crimes internacionais que originam os problemas associados aos temas focados nesta mes-ma sessão, o sistema capitalista, nomeadamente na sua etapa mais elevada, o imperialismo. Durante a sessão de abertura, a intervenção do presidente da Federação Ni-colas Papademetrious foi o único momento em que os milhares de jovens puderam assistir a uma intervenção representativa do espírito do Festival. Foi precisamente nesta intervenção que a juventude que enchia a arena mais vibrou ao ouvirem-se nomes e marcos históricos como Che Guevara, Fidel Castro ou Revolução de Ou-tubro. Todos os esforços para destruir a essência do fes-tival esbarraram sempre, uma e outra vez, na força da

juventude. A cerimónia contou ainda com a presença de Vladimir Putin como forma de dar as boas vindas às de-legações do Festival.

Os debates em que A Voz do Operário esteve presente caracterizaram-se pela ampla participação de várias de-legações e por uma forte perspectiva de classe dos mem-bros das respectivas mesas. Foi disso exemplo a sessão acerca do papel da URSS na derrota do nazi-fascismo, onde foram discutidas as condições propícias ao surgi-mento dos governos fascistas ao longo da história, a pre-paração da URSS para o confronto com as forças nazis, a natureza fascista de vários governos actuais no Médio Oriente, muitas vezes caracterizados como governos de base religiosa, a importância de Stalin enquanto líder soviético no decurso da grande guerra patriótica e na contínua tentativa de diminuir o papel decisivo da URSS na derrota total do nazismo, ao mesmo tempo que se cria a ideia de comunismo e fascismo enquanto “opostos que se tocam”.

Pela paz, solidariedade e justiça social

A Voz do Operário no Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes

a Voz do OperárioNOVEMBRO-DEZEMBRO 2017

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No dia 23 de novembro, em Assembleia Geral, foi aprovado por unanimidade o Plano de atividades d’A Voz do Operário para 2018.

Para 2018, A Voz do Operário prevê um “reforço da atividade, acompanhado da melhoria das receitas provenientes do apoio às famílias pelas das entidades públicas”.

Ainda que a associação seja cuidadosa na gestão do seu orçamento esta não descura “a realização de importantes investimentos, sem os quais não seria possível manter (e melhorar) a elevada qualidade do serviço prestado.” No ano de 2017, foram feitos importantes investimentos no património de A Voz do Operário e é este o caminho que a direção pretende seguir em 2018 também. Estes investimentos abrangem não só os diferentes espaços educativos, como outro tipo de património detido pela SIB, nomeadamente o imóvel situado na Calçada Agostinho de Carvalho, onde decorre uma obra de total reabilitação do edifício, que no futuro irá constituir uma fonte de rendimento para A Voz do Operário.

Ainda no âmbito do patrinómio, um dos grandes objetivos para o ano seguinte é a reabilitação do Salão de Festas, nomeadamente a sua insonorização.

O Plano de Atividades e Orçamento para 2018 que foi apresentado aos sócios aposta “no bom nível de atividade, mantendo uma elevada qualidade do serviço educativo e do apoio social, valorizando e rentabilizando o património, prosseguindo a publicação regular do

Fado, que a direção espera que “possa vir a superar o sucesso alcançado este ano”.

Como nos anos anteriores, a educação continuará a ser a atividade de maior amplitude n’A Voz do Operário. “Com as alterações introduzidas na estrutura orgânica da Instituição, a direção tem no Conselho de Escolas o órgão privilegiado para acompanhar o desenvolvimento da ação educativa da Instituição. A atividade pedagógica propriamente dita continua a merecer um olhar privilegiado, sendo ele acompanhado de perto pela direção da Instituição. Para o ano de 2018 traçam-se cinco campos de ação: melhorar a informação e a oferta de formação interna, apoiar a reorganização necessária para acompanhar a diferenciação pedagógica assumida, acompanhar a implementação da monitorização do projeto educativo, finalizar os instrumentos de gestão do trabalho pedagógico decorrendo do projeto educativo e relacionar mais explicitamente o trabalho do pessoal não docente ao projeto educativo, sempre que se justifique.”

Com um orçamento já superior a cinco milhões de euros, mais de duas centenas de trabalhadores e cerca de 1250 utentes, A Voz do Operário é hoje uma grande instituição do sector social e em 2018 a associação espera ocupar um lugar ainda maior no dinamismo da cidade de Lisboa, bem como na margem sul onde também está presente através de diversos espaços educativos.

O Plano de Atividades para 2018 está disponível na íntegra no site www.avozdooperario.pt.

Jornal, mantendo atualizado o nosso site, promovendo iniciativas culturais diversificadas, reforçando a oferta existente a nível desportivo e participando ativamente no movimento associativo.”

Além destes objetivos gerais A Voz do Operário continua empenhada em completar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido na catalogação da biblioteca “com vista à possibilidade da abertura ao público de uma parte do seu acervo, incluindo a procura de apoios financeiros para a concretização do projeto, bem como o estabelecimento de parcerias externas, designadamente com autarquias, escolas, universidades, centros de investigação, associações culturais e sociais e bibliotecas e arquivos.”

É em 2018 que se comemora o 135º aniversário e para assinalar a data vai-se publicar um livro de grande folgo que compilará toda a história de A Voz do Operário. Outras iniciativas neste âmbito estão também a ser preparadas.

A personalidade do ano a ser homenageada será Júlio Isidro.

A Voz continuará a participar nas atividades do movimento associativo, “designadamente nas comemorações do 25 de Abril e do 1º de Maio”, bem como nas festas de Lisboa, com a marcha infantil e os arraiais populares, que de novo constituirão um ponto de encontro e convívio.”

No ano de 2018, A Voz do Operário espera também reforçar o seu nível de atividade no âmbito da promoção de eventos culturais com destaque para a 2ª Gala de

Sociedade A Voz do Operário

Plano de atividades para 2018:Um ano de crescimento

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voz 7a Voz do OperárioNOVEMBRO-DEZEMBRO 2017

No dia 24 de novembro a Associação de Coletividades do Concelho de Lisboa, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa, prestou uma homenagem ao diretor-geral de A Voz do Operário, Vítor Agostinho.

O dirigente afirmou que foi apanhado de surpresa pela primeira vez na sua vida e foi com grande carinho e emoção que recebeu esta homenagem, enquadrada numa grande noite de fados promovida pela ACCL.

Aqui fica o texto de homenagem:“Em 1951, nascia em Lisboa no Bairro Alto o nosso

homenageado, hoje com 65 anos e todo um percurso de vida ligado ao movimento associativo, tarefa que abraça com muito carinho e dedicação.

Desde muito novo entendeu que o seu lugar era do lado da população e decidiu tomar partido, tornando-se militante do Partido Comunista Português, o que fez que, com apenas 18 anos, fosse preso pela PIDE por se manifestar contra o regime fascista de Salazar.

Após a revolução de Abril participou em comissões de moradores do Bairro Alto, foi dirigente de várias coletividades e associações tais como “Rio de Janeiro”, pertenceu à Liga dos Amigos dos Hospitais, foi diretor do Jornal da Voz do Operário, da Caixa Económica Ope-rária, do Operário Futebol Clube de Lisboa, fez parte da ANAFRE ou da CNIS. E continua a ser sócio de outras tantas associações, confederações e coletividades.

Mas o seu serviço à população não ficou por aqui. Em 1974, começa o seu trabalho autárquico na Junta de Fre-guesia da Encarnação e ali permaneceu enquanto eleito na Assembleia de Freguesia até assumir a presidência

da Junta de Freguesia de São Vicente de Fora até 2013.Aqui, enquanto presidente de junta, desenvolveu um

trabalho que tinha como parceiro estratégico o movi-mento associativo, elevando as coletividades a um esta-tuto de destaque.

Neste momento, além de continuar muito ativo no mundo do movimento associativo popular é Diretor-Geral da Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do

Operário, onde, através do cargo que ocupa, consegue ser o pilar de muitas associações e coletividades e de-senvolver um trabalho de cooperação fundamental para a sobrevivência das mesmas.

O movimento associativo popular corre-lhe nas veias e esperemos que assim continue por largos anos.

O homenageado desta noite é um amante da nossa Lis-boa, um apaixonado pela vida e da cidade, Vítor Agostinho!”

Celebração

Homenagem surpresa ao diretor-geral d’A Voz do Operário, Vítor Agostinho

A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria apresentou em outubro um filme de Tiago Pereira: Os Cantadores de Paris. Este documentário retrata um grupo de Cante Alentejano formado por pessoas de vários países a viver em Paris. O documentário mostra a trajetória destes cantores que não são portugueses. Através do filme vemos o que significam as letras e o sentimento transmitido por este género musical e vemos ainda uma viagem do grupo a Portugal e a sua aceitação no meio dos cantadores tradicionais.

Sobre o documentário, Tiago Pereira afirmou ao jornal: “O cante Alentejano tem uma coisa incrível que é o seu lado de confessionário, os homens másculos, bem constituídos cantam sobre as flores e os passarinhos e as mulheres quando não imitam os motes dos homens cantam segredos femininos e lamentam-se por estar casadas. As pessoas usam o cante como escape do que de outra forma não seria bem visto em sociedade. Isto é uma análise possível, a minha neste caso.” O

realizador disse ainda que “o documentário quer-se nesse tom de confissão: não é uma reportagem. O que importa é mostrar, não é narrar. Não é um filme de entrevistas; os intérpretes usam a câmara como espelho, como algo que está lá no camarim ou na rua e falam com ela, podem-se vestir ou pintar em frente a ela mas também usá-la como

confessionário, confessam-se, falam dos seus medos, da dificuldade do cantar em português, do que o cante os faz pensar e sentir.”

O documentário contou com o apoio de A Voz do Operário, que tem como um dos seus objetivos a promoção da cultura popular portuguesa.

Apoio d’A Voz do Operário

Os cantadores de Paris, documentário que valoriza o cante alentejano

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Lisboa tornou-se uma cidade para turistas. O direito a nela residir é quase residual face ao preço das rendas e das vendas. A Estamo, empresa detida a 100% pelo Estado, vende imóveis, para instalar condomínios de luxo; o alojamento local substituiu, com vantagens fiscais, o mercado de arrendamento. Romão Lavadinho, presidente da Associação de Inquili-nos Lisbonenses (AIL), enumera as muitas propostas dirigidas ao atual Governo, umas tidas em conta outras não. A AIL reclama mais. Em nome do direito e do direito a viver na cidade de Lisboa.

8 entrevista

Na cidade de Lisboa, as probabilidades de os jovens nela residirem é cada vez menor. Um estudo recente aponta para que mais de 60% dos jovens candidatos ao Programa Porta 65 não conseguem que lhe seja atribuída subvenção. Como comenta a AIL?

Do que conheço do Programa Porta 65 de anos ante-riores, a última versão melhorou dado que aumentou o valor da subvenção. Há aqui uma melhoria, porém in-suficiente dadas as condições de vida dos jovens, quer solteiros quer os que já formam um casal e que têm necessidade de ter uma renda de casa apoiada pelo Es-tado. Como as rendas aumentaram exponencialmente nos últimos anos, verifica-se uma situação completa-mente absurdo em que os valores das rendas são com-

pletamente especulativos, como a AIL tem denunciado. Para os jovens que concorrem ao Porta 65 as dificulda-des também cresceram. Há ainda jovens que não têm condições para concorrer a este Programa; para esses a situação é ainda mais complicada, uma vez que têm de se sujeitar ao mercado de arrendamento que, como re-feri, neste momento é completamente especulativo. Na zona da Baixa Pombalina, por exemplo, a renda de um T1 anda nos 1.300/1.400 euros por mês, o que é com-pletamente incomportável para um jovem em início de vida e de profissão. Aliás, é incomportável para qual-quer pessoa, independentemente da idade. Aos jovens colocam-se ainda outras questões como a precariedade laboral e os baixos salários, até para aqueles que têm formação académica superior. A AIL tem repetido que o direito à habitação é um direito constitucional, ou

seja, previsto na Constituição da República Portugue-sa, mas é também um direito social. As pessoas não po-dem viver debaixo da ponte.

Verifica-se ainda que na zona histórica da cidade de Lisboa há inúmeros imóveis a serem adquiridos por estrangeiros que os adaptam para alojamento local. São mais umas centenas de fogos que deixam de estar no mercado de arrendamento, para se converterem numa atividade turística. Quem deve regular o negócio do aloja-mento local?

A AIL já apresentou várias propostas a este Governo, procurámos reunir com atual secretária de Estado da

Romão Lavadinho - Presidente da Associação de Inquilinos Lisbonenses (AIL)

“O direito à habitação é não só um direito constitucional mas também social”

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entrevista 9

Habitação, ainda sem sucesso, embora tenhamos en-tregado um documento que abarca desde o alojamento local ao arrendamento urbano. Quanto ao alojamento local, a proposta da AIL, para integrar o Orçamento do Estado de 2018, visa a regulação legislativa do mesmo. A lei que existe permite o desregulamento completo do alojamento local. Este tem características turísti-cas, não é alojamento de longa duração, em prédios de arrendamento em propriedade total ou propriedade horizontal e temos propostas para estes dois tipos de propriedade. Na horizontal defendemos que os con-dóminos têm de dar autorização para que esta ativi-dade turística possa ser exercida no imóvel e dado que esta atividade implica custos de desgaste também em sede de pagamento da prestação anual deve ter custos acrescidos. Na propriedade total defendemos que não pode ser utilizado mais de 50% da mesma para a ati-vidade de alojamento local. Consideramos ainda que as câmaras municipais têm de dar autorização para alteração dos usos. Há autarcas, como os da cidade de Lisboa, que entendem que não há alteração de usos por que embora não seja arrendamento continua a ser habitação.

Mas com um fim diferente.

Por isso, a AIL entende que o facto de ser alojamen-to local deixa de ser habitação e passa a ser turismo, logo tem de ser regulado como tal e não como se fos-se habitação normal. Além disso, o alojamento local veio alterar significativamente o valor das rendas, pelo que também consideramos que do ponto de vista fiscal há que fazer alterações. O alojamento local paga imposto sobre 35% dos rendimentos, enquanto o ar-rendamento normal paga 28% sobre a totalidade dos rendimentos. Ou seja, o alojamento local tem 65% dos rendimentos líquidos isentos de tributação. O que é uma perversão total do que é o alojamento e o arren-damento; o arrendamento tem características sociais e o alojamento local tem características comerciais.

Deveria portanto ser exatamente ao con-trário.

E nesse sentido a AIL já endereçou propostas ao Go-verno. Uma das propostas é de que as casas colocadas no mercado de arrendamento, com rendas acessíveis, isto é abaixo do valor de mercado…

E qual é o valor de mercado? Na cidade de Lisboa, por exemplo, ele varia de zona para zona.

Neste momento não existe nenhum estudo. Como referi, na baixa pombalina um T1 pode ter um custo de 1.400 euros e na periferia da cidade uma casa com a mesma dimensão custa 700 euros. Qual o valor do mercado? É a média? Não pode ser. Nestas condições não pode ser aplicado, como o Governo pretende, o valor 20% abaixo do valor de mercado. A AIL conside-ra que teria mais lógica haver uma taxa sobre o valor patrimonial tributado que fosse até 5% desse valor. Por exemplo, uma casa com um valor patrimonial de 100 mil euros colocada no arrendamento acessível te-nha uma taxa de 5%, o que representa um valor de cinco mil euros por ano e uma renda de cerca de 400

euros por mês, valor que já seria acessível a uma gran-de parte das famílias. E propomos também ao Governo que quem tem uma casa no mercado de arrendamento acessível passe a pagar 15% sobre o rendimento, ao invés dos atuais 28%. Propomos ainda que o Impos-to Municipal sobre Imóveis (IMI) seja reduzido para o arrendamento acessível e também a possibilidade de se celebrarem contratos de arrendamento por um período de tempo mais dilatado.

Aparentemente o mercado de arrenda-mento voltou a reduzir-se, enquanto o da compra de habitação está a crescer.

Mas a compra também não é solução. A prestação que se paga ao banco está muito acima dos 400 euros a que aludi. Para além, de que a mobilidade das pes-soas fica reduzida e de que com a precariedade labo-ral muitas, nomeadamente jovens não têm acesso ao crédito bancário.

O anterior Governo criou o que a AIL des-de sempre chamou de “lei dos Despejos”. Que esperam deste Governo em relação ao Regulamento do Arrendamento Urbano criado pelo Executivo PSD/CDS?

As últimas constantes na Lei 42 e 43 são o resultado das propostas que fizemos ao atual Governo, o que consideramos positivo. Temos tido encontros com os partidos com assento na Assembleia da República e temos conseguido ver contempladas algumas das propostas da AIL que visam a recuperação dos direi-tos que os inquilinos perderam com a Lei 31/2012, da ministra Assunção Cristas, que retirou todos os direitos aos inquilinos. Há inclusive um estudo que indica que desde 1890 não havia tanta perda de di-reitos como com a Lei dos Despejos. Desde que o inquilinato existe que é regulado e os inquilinos passam a ter direitos. Com a Lei 31/2012, podemos afirmá-lo com toda a segurança todos os direitos dos inquilinos foram-lhes retirados e entregues aos pro-prietários.

Essa é uma crítica aos proprietários?

A AIL nunca diabolizou os proprietários. A proprieda-de privada é um direito, embora por si só não resolva problema nenhum e tenha de ser o poder central e o poder local a resolverem os problemas da habitação. A AIL defende que deve ser criada uma lei de bases da habitação. Já o propusemos e os vários partidos estão a considerar a hipótese de pela primeira vez depois do 25 de Abril de 1974 haver uma lei de bases da habita-ção. Para além da lei do arrendamento que tem de ser totalmente alterada.

Os dados são do Balcão Nacional de Arren-damento e indicam que até setembro deste ano foram despejadas, por dia, 5,5 famí-lias. O próprio Balcão Nacional de Arren-damento confirma que este número pode ser três vezes maior, uma vez que muitos dos despejos ainda são tratados pelos tribunais. Quando se contrata um crédito para aquisição de habitação é exigido um

seguro ao comprador que acautela tam-bém situações de desemprego, de doença prolongada. Estas situações não deveriam estar acauteladas no regime de arrenda-mento?

Em relação ao crédito bancário há uma lei que não é aplicada, ou seja uma lei inócua, que refere que as pessoas que recorrem a crédito bancário para compra de habitação não são obrigadas a fazer qualquer segu-ro. Acontece que se a pessoa não fizer seguro, o banco não lhe concede o crédito. A AIL propôs, para inclusão no Orçamento do Estado de 2018, a implantação de um seguro geral obrigatório que cobre a possibilidade da falta de pagamento da renda por parte do inqui-lino, o propritário tem a garantia de que o seguro a pagará. O inquilino também beneficia deste seguro quando tiver dificuldades, por exemplo em situação de desemprego ou outra situação de precariedade. É um seguro que defendemos que deve ter um valor baixo para que não se reflita significativamente na renda. Consideramos que beneficia o proprietário e o mercado de arrendamento. Propomos ainda o seguro interno da casa, ou seja, um seguro que cobre os es-tragos que o inquilino possa fazer no interior da casa e a degradação da mesma. São dois seguros que con-sideramos importantes, tendo o primeiro de natureza obrigatória e o segundo voluntária.

E os despejos?

Não creio que esses números correspondam à verda-de. Hoje é mais fácil despejar através do Balcão Nacio-nal de Arrendamento – que a AIL sempre disse tratar-se de um balcão nacional de despejos, o que aliás vem logo mencionado no preâmbulo da lei que o criou - e a AIL sempre criticou a sua criação por considerar que as questões de direito devem ser decididas por quem tem competência para tal que são os tribunais. In-clusivamente propusemos que se criassem tribunais arbitrais, em que a AIL estava disponível para partici-par, para discutir a questão dos despejos.

A AIL é contra os despejos?

Se há incumprimento é natural que haja despejo. Ago-ra é preciso aferir qual a razão do despejo. Se há um vigarista que entra numa casa, paga a primeira renda e depois não paga mais é um problema que o proprie-tário tem de resolver. Mas estes são um caso, outros muitos diferentes são aqueles que derivam de situa-ções de desemprego, doença, baixa de salários como as que se verificaram no passado recente, morte de conjugue, divórcio. Estes têm de ser considerados de modo diferente. Daí que também propúnhamos um subsídio ao inquilino, não como o que o anterior Go-verno instituiu em que o subsídio tem o valor da ren-da e beneficia apenas o proprietário, mas um subsídio que suporte a diferença entre o que o inquilino pode pagar e a renda. Há quem pague 300 euros de renda e faça um sacrifício enorme. Quanto ao número de despejos indicado ele representa 2% do mercado de arrendamento, pelo que não consideramos um valor significativo. Embora o despejo seja sempre uma for-ma de atentar contra a dignidade humana.

Ana Goulart

a Voz do OperárioNOVEMBRO-DEZEMBRO 2017

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Não é preciso recordá-las. Quase todos os dias os noticiários põem as mesmas tragédias perante os nossos olhos – terramotos em Itália, no México e no Peru, maremotos na Indonésia e no Japão cata-clismos a que muitas vezes se junta o fogo.

Estes terríveis ingredientes da desgraça – a terra que treme, o mar que galga a terra, o fogo que con-some os destroços – enlearam-se em Lisboa numa manhã clara de novembro de 1755 e, cada um à sua vez, em terrível sucessão, causaram pelos menos 60 mil mortos e destruíram por completo metade do aglomerado, segundo Jean Delumeau escreve na sua História do Mundo na Idade Moderna. A referência ao acontecimento numa obra de história de âmbi-to universal explica-se por o terramoto de 1755 ter tido reflexos em correntes do pensamento que se estenderam até hoje – Voltaire no seu Poema Sobre o Desastre de Lisboa põe em dúvida a existência de uma Providência Divina e o compositor e maestro Leonard Bernstein (1918-1990) assina a obra Cândi-do, baseada na obra daquele filósofo, e na arquitetura e no urbanismo poder-se-á dizer que, com recuos e avanços, o Espírito Moderno se desenvolveu entre nós com sementes que foram então lançadas.

Aqui se destaca a Proteção Civil como um ramo do conhecimento humano que terá nascido na céle-bre frase do Marquês de Pombal: “enterrar os mor-tos e cuidar dos vivos”.

Assumiu relevância imediata esta nova ciência política: na elaboração de listas de sobreviventes para as famílias poderem pôr luto ou voltarem a reunir-se, e na mobilização do exército para defesa dos bens públicos e fazer frente às pilhagens.

Foi, porém, no campo da prevenção (hoje na boca de todos) que se foi mais longe – os materiais passaram a ser utilizados e os sistemas construti-vos concebidos de acordo com a sua natureza e o seu comportamento sísmico. Assim, no interior dos edifícios, a estrutura passou a ser em madeira (a cé-lebre “gaiola”) e, consequentemente a ser flexível, deformável e segura; as fachadas que continuariam a ser de alvenaria de pedra, desmoronáveis, por-tanto, não arrastariam consigo o interior do prédio se colapsassem (pelo uso das engenhosas “mãozi-nhas”) e foram regulamentadas as suas saliências de forma a minimizar os efeitos das derrocadas e tornar as ruas que, para além de mais largas, seriam assim mais seguras (as “fachadas de balanço” me-dievais que ao cair destruíram as ruas foram substi-tuídas por paramentos onde as saliências não pode-riam ter mais de “palmo e meio”).

Ao terramoto de 1755 outras duas catástrofes se

juntaram: o fogo e o maremoto.Foi singelo e de relativamente fácil concretização

o que foi inventado contra a propagação do fogo, prédio a prédio, em todos os quarteirões da Baixa os edifícios contíguos foram separados uns dos outros por paredes de alvenaria de pedra, incombustíveis, portanto, que se erguiam alguns metros acima dos telhados (os “contrafogos”), e foi este dispositivo que aquando do incêndio do Chiado em 1988 fez parar as chamas a meio da Rua Nova do Almada, mas não impediu que elas subissem assustadora-mente pela Calçada do Sacramento acima, porque aí os “corta-fogos” tinham sido desvirtuados.

São reduzidos, ainda hoje, as possibilidades de previsão de um maremoto e os consequentes efei-tos sobre uma cidade colinar e sulcada por profun-dos vales, como Lisboa, e aqui se põe a questão de saber se a prática urbanística seguida nos últimos anos tem sido prudente ao localizar na faixa ribei-rinha grandes conjuntos habitacionais, serviços e equipamentos vitais para a cidade.

Aumentou a segurança contra os incêndios que eventualmente se seguiriam a um terramoto (as chamas já não terão origem nas velas derrubadas dos altares por ser dia de Todos-os-Santos, como em 1755), mas o uso generalizado de combustíveis fósseis e a extensão da atual rede de distribuição de eletricidade poderão trazer novos perigos.

Uma coisa se apresenta como certa – a popula-ção, desde as crianças aos idosos, está mal informa-da sobre o que fazer quando ocorre qualquer destes fenómenos:

- num abalo sísmico – fugir para o ar livre ou permanecer dentro dos edifícios (a casa, a escola, o hospital ou a fábrica) e conforme as suas caraterís-ticas construtivas, procurar abrigo nos sítios mais seguros?

- no caso de incêndio, seja em meio urbano, seja em meio rural, seguir o instinto de sobrevivência ou manter a capacidade de avaliação de riscos e atuar conforme? O drama de Pedrógão poder-nos-á fornecer ensinamentos se atendermos ao nú-mero de vítimas entre os que tentaram a fuga, os que sobreviveram permanecendo ou os que foram evacuados.

Finalmente, com informação adequada (sem ex-cesso de prudência ou receio infundado), poder-se-ia ter evitado o episódio trágico-cómico de alerta dado pela aproximação de “uma onda gigante” que levou, há anos, a população que veraneava no Algarve a en-cher as avenidas marginais para “ver como era”…

Francisco Silva Dias

Está a decorrer, até dia 17 de dezembro, o Inquérito à Mobilidade 2017 (IMOB 2017), uma parceria entre o Instituto Nacional de Estatística (INE) e as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto. O Inquérito à Mobilidade 2017 (IMOB 2017) nas Áreas Metropoli-tanas de Lisboa e do Porto está a ser realizado, pela primeira vez, através da Internet e tem como objeti-vo conhecer os padrões de deslocação da população, motivações e expetativas em termos de mobilidade e transporte.

O IMOB 2017 consiste na recolha de dados e pro-dução de resultados estatísticos sobre a mobilidade dos residentes das áreas geográficas das áreas me-tropolitanas, sendo os resultados deste inquérito relevantes como suporte à decisão no âmbito do sistema de transportes, nomeadamente no que toca à avaliação e projeção das políticas públicas de mo-bilidade e transportes, e à definição das redes inter-modais e dos sistemas tarifários, para além do apoio

às políticas e instrumentos de ordenamento e gestão do território.

Para responder ao inquérito on-line basta aceder a http://webinq.ine.pt/home#familias e preencher o formulário eletrónico.

Para complementar esta fase, nomeadamente para obter respostas de grupos populacionais que habi-tualmente não utilizam a Internet, e para garantir a representatividade estatística dos resultados, de-correrá uma segunda fase, em que equipas de entre-vistadores do INE, devidamente credenciados, irão efetuar entrevistas presenciais junto das residências selecionadas.

São cerca de 200 mil as residências localizadas nos 35 municípios que integram as Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa, que vão ser contactadas pelo INE para responder a este inquérito que pretende sa-ber como se deslocam os trabalhadores e os estudan-tes destas áreas, quanto tempo demoram, a distância percorrida e os custos.

IMOB 2017

Inquérito quer conhecer expetativas quanto à mobilidade das populaçõesNovembro de 1755

Uma data a recordar e uma lição esquecida

10 área metropolitana de lisboa

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No início do séc. XX, a Rússia czarista era um país com mais características da idade média do que de uma nação “moderna” no limiar da industrialização, apesar de um “súbito” crescimento industrial nos centros urbanos. As condições de vida dos operários eram absolutamente miseráveis. Nos campos, maior parte do território russo, os camponeses viviam ain-da na miséria, tendo a servidão sido abolida apenas em 1861, mas sem que lhes tivessem sido entregues as terras correspondentes. A extensão do território e diversidade étnica no império russo eram sinónimo de muitos povos subjugados e oprimidos.

Este cenário era tão mais agravado pelas derro-tas militares da guerra russo-japonesa (1905) e ali-mentado pela participação desastrosa na Primeira Guerra Mundial.

Foi assim, com uma crescente revolta popular e a multiplicação de manifestações operárias, iniciada por uma manifestação de mulheres no dia 8 de mar-ço, que se deu a revolução de Fevereiro (segundo o calendário russo, o juliano) de 1917, pondo fim ao regime monárquico e autocrático do czar (Nicolau II é obrigado a renunciar), instituindo-se um regime democrático burguês. O poder fica dividido entre um

governo provisório emanado da Duma (parlamento criado pelo Czar, onde só os homens podiam eleger e o voto de um rico valia mais que o de um operá-rio) e o Soviete de Petrogrado (na altura capital do país), composto por representantes eleitos em sovie-tes (concelhos em russo) nas fábricas, campos e nos quartéis, processo que depois se replicou nas várias regiões da Rússia.

“Paz, terra e pão”

Apesar das expectativas populares, o governo provi-sório continuava a impor a participação da Rússia na guerra, enquanto negava as exigências de operários e camponeses - nem melhores salários, nem distribui-ção de terras - para o povo, a fome era a certeza.

Lénine, defensor das ideias de Karl Marx e diri-gente da facção bolchevique do Partido Operário So-cial-Democrata Russo, estava convencido da neces-sidade de superar o governo provisório - a Rússia de-veria parar imediatamente a participação na guerra, levar a cabo uma reforma agrária. Estava convenci-do, sobretudo que havia uma possibilidade única de avançar com a revolução socialista, com a passagem

imediata de poder aos operários, soldados e campo-neses, organizados nos sovietes.

“Todo o poder aos sovietes!”

Estas palavras de ordem foram ganhando uma enor-me adesão entre as massas populares. E é assim que a 25 de Outubro (no calendário Russo, ao qual corres-ponde o dia 7 de Novembro no calendário romano), liderados pelos bolcheviques, os trabalhadores to-mam o poder. Sob o sinal dos marinheiros do cruza-dor Aurora, milhares de soldados e operários tomam de assalto o Palácio de Inverno (onde se escondera o governo provisório). A revolução saía vitoriosa. Nos dias e semanas seguintes decretou-se a paz, a terra foi entregue aos camponeses e nas fábricas gover-nam os operários.

Seguiram-se anos difíceis de uma sangrenta guer-ra civil (promovida pela burguesia derrotada e pe-las potências estrangeiras), mas seguiu-se também a espantosa edificação do primeiro Estado socialista, cujos contributos para o progresso da humanidade se estenderam pela história e pelo mundo até aos dias de hoje.

Sobre fotograma do filme Outubro, de Sergei Eisenstein.

Também lhe chamaram assalto aos céusEm 1871, o povo de Paris formava o primeiro governo operário da história. Cilindrados pelas forças do governo nacional, que defendia a capitulação do país e a entrega da cidade à Prússia, este exemplo de resistência inspirou trabalhadores de todo o mundo na persecução de uma sociedade socialista. Chamaram-lhe assalto aos céus e a imagem demorou quase meio século para se repetir. Aconteceu na Rússia há 100 anos. Mas desta vez venceu o futuro.

a Voz do Operáriosuplemento Revolução de Outubro 1917

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Criação do Komitern (Terceira Internacional). Composta por 81 partidos comunistas,a organização fundada por Lénine e pelo PCUS tinha como propósito lutar pelasuperação do capitalismo, o estabelecimento da ditadura do proletariado e da RepúblicaInternacional dos Sovietes, a completa abolição das classes e a realização do socialismo.

Plano GOELRO - Plano de Eletrificação de toda a Rússia.Desenhado por mais de 200 cientistas e engenheiro, levou a uma grande reestruturação da economia soviética baseada na eletrificação total do país.

Fim da guerra civil. Os bolcheviques saem vitoriosose é criado o Estado Soviético,sob sua liderança.

21 fev - Marx e Engels publicamo Manifesto do Partido Comunista

18 mar - Comuna de Paris

1 ago - Início da 1.ª Guerra Mundial. A Alemanha declara guerra à Rússia. Militarmente atrasado, em 1917, o Império Russo conta 1,5 milhão de mortos.

9 jan - “Domingo Sangrento” - na Rússia, a revolta popular leva a uma manifestação pacífica, violentamente reprimida pela polícia do Czar que mata milhares de manifestantes. Dá-se início à chamada Revolução de 1905.

Fevereiro - Revolução de Fevereiro. Derrube da monarquia imperial russa. Forma-se um governo provisório.

1919 1920 1921

1848 1871 19141905

Força e esperança para ostrabalhadores e para os povosConquistas e avanços de alcance mundial

A Revolução de Outubro projectou-se em todo o mundo. O conhecimento da experiência do poder soviético e do papel do Partido Bolchevique com o notável contributo de Lenine e das medidas tomadas em defesa da classe operária, dos soldados e camponeses, suscitou um ex-traordinário afluxo do movimento operário e de liberta-ção nacional em todo o mundo.

Dezenas de partidos comunistas foram criados e de-senvolveram-se grandes lutas populares. O movimento comunista internacional tornou-se numa força poderosa. Desenvolveu-se por todo o mundo um forte movimen-to sindical de classe e revolucionário. Estimulada pelo exemplo e pelos sucessos do país dos sovietes, a classe operária dos países capitalistas impôs à burguesia impor-tantes conquistas democráticas e sociais.

A luta dos povos de África e Ásia contra o colonialis-mo, o imperialismo e pela sua autodeterminação conhe-ceu um vigoroso desenvolvimento. Com o apoio e solida-riedade activa da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, prati-camente todos os países dominados conquistam a sua independência com a derrocada dos impérios coloniais, o último dos quais foi o português.

O sistema socialista expandiu-se a todo o Mundo. Pri-meiro na Mongólia, depois nos países do Leste da Europa – onde o triunfo da resistência das forças antifascistas, no contexto favorável do avanço do Exército Vermelho para Ocidente, impuseram profundas transformações antimo-nopolistas e anti-latifundiárias – e na Ásia, com a fundação da República Socialista do Vietname e da República Popular Democrática da Coreia. Em seguida na China, com a revo-lução e a proclamação da República Popular da China a 1 de Outubro de 1949. Dez anos depois, em Janeiro de 1959, em Cuba, com a libertação do país da ditadura de Fulgêncio Batista e do domínio dos EUA, a afirmação de soberania e desenvolvimento do processo de edificação do socialismo.

Por influência da grande revolução socialista de Outubro, deram-se grandes avanços civilizacionais para os povos.

Impacto em Portugal

O eco da Revolução de Outubro cedo chegou a Portugal. Foi grande o impacto da Revolução de Outubro no movimento operário português, tendo contribuído para a conscienciali-zação da classe operária sobre a necessidade e a importância de uma força política que defendesse os seus interesses e aspirações- a 6 de Março de 1921 é fundado o Partido Co-munista Português – PCP.

O Partido Comunista da União Soviética (PCUS) e o povo soviético foram solidários com a luta do PCP e do povo por-

tuguês contra o fascismo em Portugal e, com a Revolução de Abril de 1974, Portugal estabelece relações diplomáticas com a União Soviética.

Foi, então, enorme o interesse em muitos sectores da sociedade portuguesa, finalmente libertada da opressão fascista, em conhecer a experiência socialista na URSS. A solidariedade da URSS foi significativa para com as trans-formações progressistas da Revolução de Abril.

A URSS foi também solidária com os povos sujeitos ao colonialismo português e, após a sua independência, de-senvolveu uma intensa cooperação com os novos Estados, tendo defendido sempre o direito à sua soberania e inde-pendência nacional.

A vitória sobre o nazi-fascismo

Na Segunda Guerra Mundial, durante três anos, a URSS enfrentou sozinha a besta nazi e os seus exércitos, num processo que o povo soviético designou como a «Grande Guerra Pátria».

A guerra sacrificou 60 milhões de vidas, mais de 20 mi-lhões das quais de soviéticos. Dos mais de 3 milhões de pri-sioneiros de guerra soviéticos, 2 milhões morreram à fome, ao frio ou foram assassinados pelos nazis.

Só depois da Conferência de Teerão (Stáline, Churchill e Roosevelt) em fins de 1943, quando se tornou evidente, com o avanço do exército Vermelho, que a União Soviética estava em condições de libertar a Europa, é que as tropas britânicas e norte-americanas desembarcaram na Normandia, em 6 de Junho de 1944.

Foi o heroísmo do povo soviético, do Exército Vermelho e do Partido Comunista, inseparável do seu patriotismo e do sistema social que determinou o curso da guerra e permitiu libertar a Europa e a humanidade do nazi-fascismo.

Uma luta incansável pela paz

Em 1917, em pleno decurso da I Guerra Mundial, o governo saído da Revolução de Outubro propôs no seu pri- meiro de-creto “a todos os povos beligerantes e aos seus governos que se comece imediatamente negociações sobre uma paz justa e democrática”. Uma paz que tinha que ser imediata e sem anexações nem indemnizações. Uma paz cujas negociações fossem realizadas de forma completamente aberta e com o contributo dos trabalhadores dos países em guerra.

No seguimento da II Guerra Mundial e do decisivo contri-buto da URSS para a Vitória sobre o nazi-fascismo, alterou-se profundamente a correlação de forças no plano mundial, dando origem a uma nova ordem democrática e antifascista, que inscreveu na Carta da ONU o respeito pela soberania dos povos, o desarmamento, a solução pacífica e negociada de conflitos entre estados.

A violação destes princípios pelo imperialismo levou

ao desencadeamento da «guerra fria» obrigando a URSS a um grande esforço e a dotar-se do mais moderno e avan-çado armamento.

A URSS colocou sempre o seu poderio militar ao serviço da causa da paz e da libertação dos povos do domínio colo-nialista e imperialista, posicionamento que permitiu conter a agressividade do imperialismo e criou condições mais fa-voráveis para o avanço da luta libertadora dos povos, de que foi expressão a Revolução de Abril de 1974 em Portugal.

A Conferência de Paz de Helsínquia para a Segurança e Cooperação Europeia, concluída em 1975, alcançou impor-tantes acordos de desarmamento e tratados para a limitação das armas nucleares que se devem à decisiva e incansável política de paz da URSS. Ao conquistar a paridade militar estratégica com os EUA, os comunistas e o povo soviético impediram os círculos mais reaccionários e agressivos de desencadear uma 3ª Guerra Mundial.

Ideais e valores para o nosso tempo

O desaparecimento da URSS não desvaloriza a primei-ra experiência de uma sociedade livre da exploração e da opressão do homem pelo homem, não apaga a realidade das grandes realizações e conquistas do povo soviético e a deci-siva influência da URSS no desenvolvimento mundial.

Por outro lado, o capitalismo que, do alto da sua so-branceria imperialista, se auto-proclamou como «fim da história» e solução para os problemas da humanidade, não consegue esconder a sua verdadeira natureza exploradora, opressora, agressiva e predadora, que a situação do mundo de hoje demonstra: apenas oito grandes capitalistas acu-mulam a mesma riqueza que 3,6 mil milhões de pessoas (1); as três pessoas mais ricas do mundo possuem mais activos financeiros que o conjunto dos 48 países mais pobres (2); o desemprego atinge 200 milhões de pessoas dos quais 74 milhões são jovens, o maior nível de sempre (3) e 56% dos empregos criados entre 1997 e 2013 são precários (4); 17% da população mundial é analfabeta; 67,4 milhões de crian-ças não frequentam a escola; 830 milhões de pessoas são trabalhadores pobres, 795 milhões sofrem de fome crónica e 168 milhões de crianças são vítimas de trabalho infantil (5).

Perante uma realidade como esta, atravessada por enor-mes desigualdades e injustiças sociais, insegura e perigosa em consequência dos inúmeros conflitos e guerras que promove, responsável por grandes flagelos sociais, este é o tempo de prosseguir a luta pela sociedade nova cuja construção a Revo-lução de Outubro inaugurou, nesta marcha milenar da huma-nidade pela sua emancipação. Este é o tempo da afirmação do socialismo como exigência da actualidade e do futuro.(1) Dados da Oxfam; (2) Dados da Universidade das Nações Unidas; (3)

Dados da OIT; (4) Dados da OCDE; (5) Dados da PNUD

Manuel Rodrigues, Director do jornal Avante!

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Fim da guerra civil. Os bolcheviques saem vitoriosose é criado o Estado Soviético,sob sua liderança.

PrimeiraConstituiçãoda URSS

Batalha de Estalingrado - primeira grande derrota do até então imparável exército nazi. Ponto de viragem da guerra. A URSS conta 2 milhões de mortes militares e civis.

Tomada de Berlim pelo Exército Vermelho. URSS liberta o mundo do nazi-fascismo.

8 mar - Dia internacional da mulher. Milhares de mulheres da periferia de Petrogrado (capital da Rússia) realizam uma manifestação contra a fome no país.

8 abr - Lénine chegaà estação de Petrogrado, regressado do exílio.

25 out - Reunião clandestina do comitê central bolchevique. Lénine decide uma insurreição armada. Cria-se a Guarda Vermelha.

8 nov - Lénine lê o decreto que dá terra aoscamponeses. 2.º Congresso dos Sovietes.

1924 1942 1945

Direitos e Avanços

Direito ao trabalho e pleno emprego O Estado Soviético afirma que não há nenhum

trabalhador soviético que não encontre trabalho.

Proibição do trabalho infantilMenores de 14 anos.

8 horas de jornada máxima de trabalhoQue foi sendo diminuída, ao longo dos anos e teve em

conta a especificidade de determinadas profissões. Em 1960, instituíram-se 7 horas de trabalho diário e

em certos sectores da indústria, 6 horas.

Férias pagas e protecção social Para todos os trabalhadores.

Trabalhadores na gestão das empresas

Direito ao votoDe todos os cidadãos, independentemente

do sexo, a votar e a serem eleitos.

Direito à livre criação e fruição da culturaEm 1977 a URSS contava com

680 escolas artísticas para crianças.

Desporto para todos

Para trabalho igual, salário igual entre homens e mulheres

Direitos lgbtEm 1925, o relatório «Revolução Sexual na Rússia»

considerava a homossexualidade «perfeitamente natural» pelo que «deve ser legal e socialmente respeitada».

É permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo e transexuais.

Direito à educaçãoAbrem-se escolas por toda a Rússia, massifica-se

e democratiza-se o acesso. Em 1926, em apenas nove anos, a taxa global de alfabetização atinge os 65%.

Direito à saúde universal e gratuitaMultiplicam-se as unidades de saúde, nomeadamente

infanto-maternal, por todo o território; a mortalidade infantil desce para o 18% em 1927 (menos 9%, face a 1913).

Direito à terra Determina-se a abolição da propriedade latifundiária,

garantindo a redistribuição da terra ao povo russo e contribuindo para a subsistência de toda a nação.

Março - 200 mil operários entram em greve. O povo quer comida. Os solda-dos vacilam na repressão. Realiza-se greve geral em Petrogrado. Os soldados começam a aderir à revolução e formam-se os primeiros sovietes militares.

7 set - O general Kornilov tenta um golpe de direita e fracassa, mas o governo provisório está isolado à direita e à esquerda.

6 e 7 nov - Durante a noite, gráficas, edifícios públicos e pontes são ocu-padas pela Guarda Vermelha e pelos soldados bolcheviques. O Palácio de Inverno, sede do Governo, é bombardeado e tomado pelos bolcheviques.

1917

A Revolução n’A Voz

O jornal A Voz do Operário acom-panhou os acontecimentos da Re-volução de Outubro e já em Maio de 1917 noticiava:

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Março - Tratado de Paz de Brest-Litovski.A Rússia cedeu os estados bálticos, a Finlândia, a Polônia e a Ucrânia.

Maio e Jun 1918 - início da intervenção estrangeira e da guerra civil na Rússia.A guerra civil durou até 1921. De um lado estava o Exército vermelho,composto por bolcheviques (defensores da revolução) e do outro o ExércitoBranco (todas as forças contrárias à revolução). O Exército Vermelho vence.

Formação da URSS

Iuri Gagarin e Valentina Tereshkova são o primei-ro homem e a primeiramulher a ir ao espaço.

Revolução cubana, que conta com asolidariedade activa da União SoviéticaCresce o apoio ao socialismo um poucopor todo o mundo.

O analfabetismoé declarado erradicado

Jogos olímpicosde Moscovo

Passa a orbitara Mir - primeiraestação espacial

1961/19631959 1961/1969 1980 1986

1918 1922

Bases ideológicas

Os revolucionários comunistas destruíram o sistema econó-mico que explorava o povo russo, mas a transformação eco-nómica e política não bastava. Para a construção da socie-dade socialista seria necessária uma transformação social e moral e neste aspeto a chamada “questão das mulheres” ocupava um papel central. Tal como Lenine afirmou a “edifi-cação da sociedade socialista começará apenas no momento em que tenhamos obtido a igualdade total da mulher; então deitar-nos-emos a este novo trabalho comum com a mulher libertada das suas tarefas mesquinhas, embrutecedoras, im-produtivas” (Lénine, V. I, “As tarefas do movimento operário feminino da República dos Sovietes, Discurso pronunciado na IV Conferência das Operárias sem partido de Moscovo em 12 de Setembro de 1919”, in Sobre o Papel da Mulher na Sociedade, Editorial Estampa, São Paulo, 1973).

Em 1884, na obra A Origem da Família, da Proprieda-de Privada e do Estado, Engels oferece uma explicação materialista sobre a origem da opressão vivida pelas mu-lheres. Ao contrário de outras tendências feministas, que encontram na suposta natureza (opressora) do homem e (oprimida) da mulher uma explicação para o fenómeno da subordinação das mulheres, Engels vê na História essa causa fundamental. Com a invenção da agricultura, os ho-mens passam a ter a posse da terra e do gado. Mulher e homem, que tinham papéis equiparáveis, começam a ser distinguidos em função do seu novo lugar na sociedade.

A mulher deixa de se ocupar de funções produtivas (que eram agora mais pesadas e podiam prejudicar a gestação) e passa a ter tarefas só ligadas à sua função reprodutora. Pa-ralelamente começou a perceber-se que quantas mais pes-soas trabalhassem num campo, maior era a produtividade. As comunidades, que antes não queriam reproduzir-se em excesso, pela dificuldade de subsistência, cresceram com vista ao aumento de mão-de- obra. A família passou a ser uma unidade de produção, com uma forte divisão sexual do trabalho, que levou a que os homens passassem a ter um papel de comando e as mulheres um papel subalter-no. Este fenómeno aconteceu primeiro nas famílias com propriedade de terra e depois generalizou-se, uma vez que, quem controla a propriedade, controla também a reprodu-ção dos hábitos e costumes. É desta maneira que Engels coloca a propriedade privada e a família nuclear como a raiz da opressão feminina.

Compreendendo a questão central da propriedade pri-vada como causa da opressão da mulher, é possível com-preender que na revolução a condição primeira para a sua libertação fosse, efetivamente a coletivização da economia.

Medidas tomadas após a Revolução

Desde as primeiras horas da revolução que várias foram as medidas implementadas. Foi declarada a igualdade jurídi-ca entre homens e mulheres e o sufrágio foi concedido aos cidadãos de ambos os sexos. Nessa época, com exceção das feministas socialistas, quase todas as outras feministas, entre as quais as republicanas portuguesas, apenas pediam voto feminino para a classe alta. No dia 8 de novembro de 1917, o Decreto da Paz e da Terra determinava que o uso da terra seria concedido a todos os cidadãos, sem distinção de sexos. A 11 de novembro foi aprovado o decreto que de-terminava as 8 horas de trabalho diárias, com pausas para descanso e refeições, dias de descanso semanal, o direito a férias pagas e proibição do trabalho a menores de 14 anos. Aprovou-se ainda o decreto da Segurança Social, que pre-via proteção na doença, na velhice, no parto, na viuvez, en-tre outros. A 13 de novembro Alexandra Kollontai tomava posse como Comissária do Povo para a Segurança Social, tornando-se assim a primeira mulher ministra do mundo. Em 1922 tornar-se-ia também a primeira mulher embaixa-dora do mundo representando a União Soviética na Suécia.

Casamento e divórcio

Logo a 31 de dezembro foi decretado que o casamento se-ria apenas civil. Legalizou-se o divórcio e acabou-se com a distinção entre filhos legítimos e ilegítimos. Em 1918 entrou em vigor um novo Código da Família. Trata-se de um conjunto de resoluções que estabeleceu pela primeira vez a igualdade civil entre homens e mulheres. O Código

expressava o debate bolchevique a respeito do amor livre, e do fim do Estado e da família, tal como eram concebidas nas sociedades capitalistas.

Aborto e maternidade

Em 1920, a Rússia torna-se o primeiro país no mundo a legalizar o aborto. Desde 1918 que o Estado Soviético pas-sou a garantir uma série de direitos inéditos às mulheres: quatro meses de licença de gravidez e parto com salário integral; possibilidade de ficar até um ano em casa com o bebé tendo o posto de trabalho salvaguardado; trabalhos mais leves no final da gravidez. A amamentação era tam-bém protegida: o Código do Trabalho de 1918 previa que, durante o primeiro ano de vida da criança, as mães tives-sem direito a 30 minutos por cada três horas para este fim.

Trabalho

Em Dezembro de 1918 foi publicado o Código de Trabalho, que abolia diversas discriminações: o fim das restrições a profissões com base no sexo, proibição do despedimento de grávidas, salário igual para trabalho igual, entre outras. A mulher não só foi incentivada a entrar no mundo do tra-balho, como a assumir cargos de chefia. O Código da Terra, aprovado em 1922, representou também um grande avan-ço para a mulher camponesa ao permitir que, pela primeira vez, tivesse direito à terra e que pudesse participar plena-mente nas decisões da comuna.

Socialização do trabalho doméstico

Na perspetiva bolchevique o acesso da mulher ao trabalho era condição da sua emancipação. Mas a acumulação do trabalho com as funções domésticas teria de ser resolvida. A resposta passou pela transferência para a esfera pública destas tarefas. Assim foram criadas milhares de redes de creches, escolas, lavandarias, cantinas sociais, etc.

É importante referir, a jeito de conclusão, que os comu-nistas acreditavam que todas estas alterações (jurídicas, de estrutura económica e de mentalidades) iriam abrir cami-nho não só à emancipação da mulher (como de facto abri-ram, alcançando avanços civilizacionais para a Rússia e para o mundo) como a toda uma nova maneira de entender as relações entre os dois sexos e de viver em comunidade: “es-tas novas relações assegurarão à humanidade todos os pra-zeres do amor livre, enobrecido pela verdadeira igualdade social dos sexos, prazeres que eram ignorados na sociedade mercantil do regime capitalista” (Kollontai, Alexandra, “A família e o Estado Comunista” in A Libertação da Mulher, cadernos porvo e cultura, serie A O Socialismo e A Vida 1, edição Manuel Miranda, Baixa da Banheira, 1975).

Cátia Rodrigues

“Estaremos prontos para repelir a invasão militar da união soviética.

O dia internacional das mulheres trabalhadoras.”

A revolução que mudou o mundo,também mudou o mundo das mulheres

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Se tem problemas em evacuar todos os dias e se não tem nenhum problema complicado de intestinos reeduque-os.

O que é a prisão de ventre? É uma per-turbação em que a pessoa tem evacuações incómodas ou então pouco frequentes.

Muitas vezes, a prisão de ventre não é mais do que uma alteração recente da dieta ou uma redução na atividade física. A prisão de ventre pode ocasionar hemorroidas (pelo esforço que faz para evacuar), pode provo-car incontinência urinária, problemas circu-latórios nas pernas, entre outros.

Normalmente, quando não se evacua regularmente, as fezes tornam-se duras e faz-se um grande esforço para evacuar. Esta situação é mais frequente nas mulheres do que nos homens.

Deve-se beber pelo menos seis copos de água por dia, comer bastantes fibras e legu-mes. Se gosta de iogurtes, coma de vez em quando. Faça exercício físico ou ande meia hora por dia.

Às vezes a medicação que está a tomar pode interferir na evacuação. Também a an-siedade e o hipotiroidismo podem-se reper-cutir no funcionamento dos intestinos

Evite tomar laxantes, pois ao fim de al-gum tempo os intestinos podem tornar-se “preguiçosos”.

Quando tiver vontade de evacuar não re-prima, vá logo que possível à casa de banho.

Se necessário faça umas massagens no abdómen, faça círculos na direção dos pon-teiros do relógio à volta do umbigo.

Lina Seabra-DinizMédica

Como prevenir a prisão de ventre

saúde

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

Austeridade e desemprego geram empobrecimento

área metropolitana de lisboa 11a Voz do OperárioNOVEMBRO-DEZEMBRO 2017

Em duas décadas, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) viu o número de desempregados mais do que duplicar e o índice de poder de compra recuar quase 40%. Reflexos das políticas de austeridade iniciadas com os pactos de esta-bilidade e crescimento e prosseguidas com o chamado “memorando de entendimento” com a troica FMI/BCE/UE de que resultaram desemprego e pobreza. E embora a AML permaneça como a região do País com maior índice de poder de compra, no espaço de 20 anos, a maioria dos 18 municípios que a compõem viu o poder de compra das suas populações encolher.

Em 2015 – ano dos últimos dados disponíveis – a taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência so-cial (pensões, abono de família, subsídio de desempre-go, etc) situava-se em 46,1% da população portuguesa. O mesmo é dizer que, sem o apoio da Segurança Social pública, quase metade dos portugueses viveriam em risco de pobreza. Após estes apoios a taxa de risco de pobreza desce para 19%. O mesmo é dizer que quase um quarto da população portuguesa vive em situação de pobreza.

Os valores de 2015 apresentam uma ligeira melhoria em relação aos de 2014, ao que não terá sido estranho o facto de 2015 ter sido ano de eleições legislativas. Assim, há três anos a taxa de risco de pobreza antes das transfe-rências sociais situava-se em 47,5% e após as transferên-cias sociais em 19,5%.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) res-peitam ao todo nacional e, a julgar pelo índice de poder de compra, a situação na AML poderá ser ligeiramente melhor. Mas tão só no seu conjunto, dado que a realidade difere de concelho para concelho.

Uma observação resulta imediata: 11 dos 18 municípios da AML viram o índice de poder de compra per capita piorar

em 2013, quando comparado com 1993. Outra: em 2007, o INE, indicava que apenas quatro concelhos da região ti-nham índices abaixo do valor nacional, isto é de 100% - Moita, Odivelas, Seixal e Sintra. Em 2013, eram já nove os concelhos em que o indicador do poder de compra das po-pulações se situava abaixo do indicador nacional. Conclu-são: as políticas de austeridade, implementadas pela troica e pelo Governo PSD/CDS levaram ao empobrecimento da população na AML. E embora não haja valores estatísticos para a pobreza na região, tal como verificado no conjunto do País, também nela a pobreza alastrou.

Igualmente interessante é verificar que até 2002, 13 municípios viram o índice de poder de compra da popu-lação crescer e alguns deles de forma bastante expressiva como é o caso de Alcochete (20%), Cascais (cerca de 22%), Oeiras (quase 40%) e Palmela (25%). Em 2002, apenas três municípios apresentavam um índice de poder de compra per capita inferior a 100% - Alcochete, Mafra e Moita. Em 1993 eram seis, o que indica progresso e desenvolvimento de vários territórios, muito por via dos investimentos pú-blicos levados a cabo pelos municípios, maioritariamente comparticipados por fundos comunitários, fundos que, face ao índice de poder de compra na AML ser superior ao do resto do País, foram reduzidos, o que igualmente con-tribuiu para aumentar as desigualdades entre municípios da mesma região.

A quebra acentuada verificado no índice de poder de compra per capita no Município de Lisboa, entre 2000 e 2002, explica-se em parte com a saída da cidade para os subúrbios de cerca de 80 mil habitantes, oriundos sobretudo da classe média, o que também explica em parte o crescimento da-quele índice na generalidade dos concelhos da AML.

Em igual período de tempo, também o concelho de Loures viu reduzir-se o mesmo indicador, o que se prende com a criação em 1998 do concelho de Odivelas.

Desemprego e precariedade

Entre 1981 e 2011, de acordo com os Censos daqueles anos, a população ativa na Área Metropolitana de Lisboa aumentou mais de 300 mil pessoas e o desemprego mais de 100 mil. Dito de outro modo, a população ativa cresceu cerca de 22% e o desemprego subiu quase 150%. E a ex-tinção de postos de trabalho não poupou nenhum dos 18 concelhos da AML, num intervalo de tempo em que cin-co deles viram a sua população ativa duplicar ou mais do que duplicar - Cascais, Mafra, Palmela, Seixal e Sesimbra.

Confrontando os números da população ativa e de desem-pregados com o índice de poder de compra verifica-se que, entre 2009 e 2011, este decresce praticamente em todos os municípios da AML, com exceção de Oeiras, Seixal e Sintra. Daí poder-se concluir que o agravar das políticas de austeri-dade impostas pelo Governo de Passos Coelho e Paulo Portas conduziram à perda de milhares de postos de trabalho, à pre-cariedade laboral, aos baixos salários e, consequentemente, ao empobrecimento da maioria das populações da região.

A.G.

AMLAlcocheteAlmadaAmadoraBarreiroCascaisLisboaLouresMafraMoitaMontijoOdivelasOeiras *PalmelaSeixalSesimbraSetúbalSintraV. F. XiraTotais

1993

75,3

119,9

132,6

90,9

144,8

291

112,2

83,6

84,6

95,5

*

139,7

76,4

105,1

115,5

128,9

112,7

104,6

162,7

2007

144,8

121,4

114,7

107,5

155,7

235,7

111,6

109,9

84

137,6

98,7

173

104

96,1

100,7

113

98,2

112

136,9

2000

76

124,2

131,4

95,7

148,9

305,2

98,5

86,4

72,4

96,6

*

164,3

90

98,4

93,9

114,5

119,1

102,2

155,3

2009

132,6

122,2

115,8

104,9

150,6

232,5

121,6

109,7

81,4

136,9

94,2

185,3

102,8

93,2

94,9

109

93,3

103,1

134,2

2002

95,3

134,1

126,4

118,3

166,6

220,2

122,8

94,1

91,4

107,4

100,5

184,1

101,1

116,6

101,9

127,7

128,6

116

147,9

2011

123,5

109,8

105,7

100,2

132

216,9

102,4

101,6

81,3

104

91,9

193,7

100

94,1

96,1

107,3

101,3

100,9

131

2013

115,3

107,4

103,6

100,5

125,6

207,9

92

96,9

81

102,8

90,6

180,7

95,9

92

93,6

105,9

99,1

98,2

125,1

Índice poder de compra nos municípios da Área Metropolitana de Lisboa (1993-2013)

Fonte: Pordata.

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12 destaque

Este orçamento confirma o caminho iniciado em 2016 com a nova legisla-tura: reposição de salários, direitos e rendimentos. Ainda assim, os partidos à esquerda do PS consideram que o OE 2018 poderia ter ido mais longe nesse caminho.

Para os comunistas as metas impos-tas pelo défice, as imposições do euro e o pagamento da dívida e dos seus ju-ros são os factores que comprometem o governo com um orçamento que fica aquém das possibilidades. João Oliveira, deputado do PCP, faz questão de afirmar, na votação final global, que este “Não é um Orçamento do PCP, é o Orçamento do Estado do Governo PS, mas é certo que tudo o que de positivo os trabalhadores e o povo alcançam com este Orçamen-to tem a marca ou o apoio do PCP.” E acrescenta que é preciso valorizar todas as medidas que possam trazer melhorias para as condições de vida dos portugue-ses e relembra que tais medidas não se-riam possíveis sem o contributo do PCP, “Naquilo que já constava da proposta de Orçamento e naquilo que foi alcançado na discussão na especialidade, a inter-venção do PCP foi decisiva para que se levasse mais longe o conjunto de medi-das positivas para a vida de trabalhado-res, reformados, jovens, desempregados, pessoas com deficiência, MPME, agricul-tores e pescadores.”

O PEV lamentou que o PS tenha a tendência a fugir ao acordo que assinou e não tenha apoiado a contribuição so-bre as celuloses ou ainda que tenha in-sistindo em fugir na questão da conta-bilização do tempo de serviço congelado na função pública.

O BE abriu polémica e acusou o PS de “não honrar a palavra dada” ao recuar na contribuição a pagar pelas empresas de energia renovável, aprovada na sex-ta-feira anterior à aprovação do OE, que permitiria ir buscar 250 milhões de euros

às empresas das renováveis e assim bai-xar o preço da eletricidade e permitiria ainda abater o défice tarifário e não teria qualquer impacto no orçamento ou no défice público.

Mesmo depois do “arrufo”, o BE apro-vou o OE.

Já o, ainda, líder do PSD, Pedro Passos Coelho considerou esta uma legislatura perdida e que este OE é mais um exercício de “comédia e ridículo”. E acrescentou: “O Governo elege para seu principal objetivo não a consolidação estrutural e a descida do rácio de dívida pública (...) mas antes o crescimento da despesa estrutural”. “

Para o CDS o governo tem “falta de coerência”. “Faz promessas, mas adia o seu cumprimento; é uma miscelânea de decisões, um somatório de propostas”, afirmou a deputada Ana Rita Bessa. O CDS acusou ainda o governo de “tática

de manutenção do poder” em que BE, PCP e PEV se “atropelam” num jogo “pe-rigosamente populista”.

No total os partidos de esquerda apre-sentaram 257 propostas de alteração,

sendo que 122 foram apresentadas pelo PCP (o partido que mais propostas fez) e sendo que foram aprovadas cerca de 70 das 257 propostas. Os partidos da direita apresentaram 165 e apenas duas (ambas do CDS) foram aprovadas.

O que vai mudar

Pensões e Reformas:Já em janeiro os montantes das pensões serão atualizados, de acordo com a lei, devido ao ajustamento à taxa de infla-ção e crescimento. Em agosto terão lu-gar dois tipos de aumento extraordiná-rio. Assim os pensionistas que recebam

até 632 euros receberão mais seis ou 10 euros, conforme tenha ou não existido atualização da pensão entre 2011 e 2015.

Este aumento extraordinário abran-gerá também as pensões de invalidez,

velhice e sobrevivência atribuídas pela Segurança Social e as pensões de aposen-tação, reforma e sobrevivência do regime de proteção social convergente atribuídas pela Caixa Geral de Aposentações (CGA).

O Complemento Solidário para Idosos (CSI) será alargado a pensionistas que, independentemente da idade, pediram reformas antecipada a partir de 2014, ano em que foi tornado mais difícil o acesso à reforma antecipada. A medida, que deverá abranger cerca de 7.600 pen-sionistas, prevê que quem se reformou por antecipação a partir de 2014 se possa candidatar a este complemento já a par-tir de janeiro.

Orçamento do Estado 2018

Reposição de direitos continua a fazer o seu caminhoA proposta de Orçamento do Estado para 2018 (OE 2018) foi aprovado, na votação final global, no dia 27 de novembro com os votos a favor do PS, PCP, PEV, BE e PAN e votos contra do PSD e CDS-PP.A proposta de OE 2018 tinha sido aprovada na generalidade a 3 de novembro com os votos favoráveis de PS, BE, PCP e PEV, contra de PSD e CDS e a abstenção do PAN.

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destaque 13

Impostos:O número de escalões do IRS vai au-mentar de cinco para sete, tendo sido desdobrados os segundo e terceiro es-calões do imposto:

• 1.º escalão: quem ganha até até 7.091 euros será tributado a 14,5%;

• 2.º escalão: quem tem rendimen-tos anuais entre 7.091 euros e os 10.700 euros a 23%;

• 3.º escalão: os que auferem entre 10.700 e 20.261 euros a 28,5%;

• 4.º escalão: o intervalo de rendi-mentos entre os 20.261 e os 25 mil euros a 35%;

• 5.º escalão: entre os 25 mil e os 36.856 euros a 37%;

• 6.º escalão: quem ganham entre os 36.856 euros e os 80.640 fica nos 45%;

• 7.º escalão: a dos que ganham mais do que 80.640 euros fica nos 48%.

IRC) paga pelas empresas com lucros acima dos 35 milhões de euros passa de 7% para 9%;

Administração Pública:Em 2018 os trabalhadores da Adminis-tração Pública vão voltar a ver a pro-gressão nas suas carreiras, que serão descongeladas logo a 1 de Janeiro. Ain-da assim os efeitos nas remunerações vão ser faseados: as atualizações serão de 25% em janeiro, 50% em setembro, 75% em maio de 2019 e finalmente, em dezembro estarão repostos na totalida-de. No caso das carreiras em que o fac-tor determinante para a progressão é o tempo de serviço (como dos professores, dos militares, dos elementos das forças de segurança, de alguns trabalhado-res da Saúde e da Justiça). No caso das carreiras cuja progressão depende so-bretudo da contagem do tempo, como é o caso dos professores, dos militares, dos elementos das forças de segurança,

O mínimo de existência, que determina o nível de rendimento até ao qual tra-balhadores e pensionistas ficam isen-tos de IRS, passará a abranger também os profissionais liberais;

A fórmula de cálculo foi alterada para que deixe de ter um valor fixo (atualmente é de 8.500 euros) e passe a ser atualizado em função do Indexante dos Apoios Sociais (IAS), havendo uma cláusula de salvaguarda para garantir que, em resultado da aplicação desta nova fórmula, nunca possa resultar que o mínimo de existência seja inferior ao valor anual do salário mínimo;

A derrama estadual (um adicional ao

de alguns trabalhadores da Saúde e da Justiça, o tempo de serviço foi conge-lado entre 2011 e 2017, e o parlamento decidiu remeter para a discussão com os sindicatos a forma como será contabili-zado esse tempo.

Foi ainda aprovada a contratação de trabalhadores em falta na Administra-ção Pública e no Sector Empresarial do Estado.

Educação:• No pré-escolar vão ser abertas no

próximo ano pelo menos 150 novas salas;

• Os manuais escolares vão ser gra-

tuitos também para os alunos dos 5.º e 6.º anos a partir do ano letivo de 2018/19;

• O número de alunos por turma vai ser reduzido progressivamente nos 1.º, 5.º e 7.º anos, a partir do próxi-mo ano letivo;

• O Governo vai começar a fiscalizar e a avaliar a qualidade das refei-ções das cantinas escolares, bem como os encargos com as conces-sões quando existam. Vai também publicitar os resultados, sendo que o valor da refeição cobrada aos estudantes não pode subir.

• No ensino superior, o valor das pro-pinas ficou congelado e o valor das bolsas de doutoramento será, no próximo ano, atualizado com base no índice de preços ao consumidor (IPC - média anual) que se vier a verificar em 2017. As bolsas de ação social escolar atribuídas aos alunos com necessidades educativas espe-

ciais vão ser majoradas em 60%.

Desemprego:O corte de 10% aplicado ao subsídio de desemprego, após os primeiros seis me-ses, acaba em 2018.

Recibos-verdes:O novo regime simplificado do IRS irá abranger os profissionais liberais e ou-tros prestadores de serviços, tais como aqueles que se dedicam à prática do alojamento local, mas não se aplica aos pequenos agricultores e pequenos co-merciantes. Os trabalhadores indepen-dentes com um rendimento anual supe-

rior a 27 mil euros passam assim a ter de apresentar despesas correspondentes a 15% desse valor para aproveitarem a to-talidade da dedução automática.

Incêndios:Foi aprovado um pacote de 186 milhões de euros para pagar os apoios, a pre-venção e o combate aos incêndios. Este valor inclui 62 milhões para indemni-zações às vítimas e familiares das ví-timas mortais dos fogos de junho e de outubro. O valor total das medidas vai atingir 650 milhões de euros.

Transportes:O desconto de 25% do passe de trans-portes para os estudantes entre os qua-tro e os 18 anos vai ser alargado a to-dos os alunos, mesmo aos que não têm apoio social.

Também o passe [email protected], dirigido aos estudantes do ensino su-perior até aos 23 anos, foi alargado

aos serviços de transporte colectivo de passageiros autorizados ou concessio-nados pelos organismos da administra-ção central e regional, bem como aos serviços de transporte de iniciativa dos municípios.

Para os estudantes de Medicina e de Arquitetura a idade foi alargada até aos 24 anos.

Energia:A tarifa social da eletricidade, destina-da às famílias com baixos rendimentos, vai passar a abranger também as boti-jas de gás.

Cátia Rodrigues

a Voz do OperárioNOVEMBRO-DEZEMBRO 2017

Principais medidas

• Eliminação da sobretaxa no IRS• Reposição integral dos salários• Reposição das 35 horas na Administração Pública• Reposição integral dos feriados• Avanços no combate à precariedade na Administração Pública e do Sector Empresarial do Estado• Reposição do IVA na restauração a 13%• Descida do Pagamento Especial por Conta para as PME visando a sua extinção• Desagravamento do IMI• Reposição da contratação colectiva e dos complementos de reforma no Sector Empresarial do Estados• Aumento extraordinário de reformas• Alargamento e majoração do abono de família até aos 3 anos de idade• Redução das taxas moderadoras• Gratuitidade dos manuais escolares no 1.º ciclo do ensino básico• Descongelamento do IAS (Indexante de Apoios Sociais)• Aumento da tributação do património imobiliário de valor mais elevado.

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14 nacional

No fim do mês passado, a adesão à greve convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Fun-ções Públicas e Sociais rondou os 90 por cento na maioria das unidades hospita-lares. Para além das 35 horas de traba-lho semanal, exigiu-se a valorização das carreiras de Técnico Superior de Diag-nóstico e Terapêutica e de Técnico de Emergência Pré-Hospitalar, a revisão da carreira de Técnico Superior de Saúde e o fim dos cortes no pagamento das horas de qualidade e do trabalho suplementar.

Já no início do mês de novembro, os médicos realizaram uma greve nacio-nal que foi convocada conjuntamente pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e pelo Sindicato Independen-te dos Médicos (SIM) e que se seguiu a um conjunto de paralisações regionais no mês anterior. No caso destes traba-lhadores, as principais reivindicações prendem-se com a redução das horas extraordinárias anuais obrigatórias, com as horas de qualidade, com a redu-ção do trabalho de urgência e da lista de utentes por médico de família (dos atuais 1900 para 1500).

Na Educação, a luta travada pelos pro-fessores que culminou numa greve com a adesão de 90 por cento, segundo núme-ros da Fenprof, promete continuar pelo reconhecimento para efeitos de posicio-namento e progressão na carreira. A pa-ralisação “histórica”, como lhe chamou Mário Nogueira, revela o sentimento dos trabalhadores em relação à exigência do desbloqueamento das carreiras. Uma rei-vindicação que é, aliás, reafirmada pelos restantes sindicatos dos trabalhadores Administração Pública.

Trabalhadores da CGD exigem aumentos

O Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC) con-vocou uma concentração que juntou mais de 200 pessoas em frente à sede da Caixa Geral de Depósitos, em Lis-boa. O descontentamento grassa entre trabalhadores e aposentados contra a administração que continua a recu-sar descongelar os salários ainda este ano remetendo o assunto para 2018. O STEC denuncia ainda que o plano de reestruturação do banco público con-duz a uma forte pressão nos locais de trabalho com menos trabalhadores ao mesmo tempo que o número de casos de esgotamento e baixas de teor psí-quico têm aumentado.

Os trabalhadores e reformados da CGD estão há quase oito anos sem atualização dos salários e pensões de reforma. Neste protesto, afirmam que não aceita o adiamento de mais um ano pois o descongelamento estava já previsto no orçamento do Estado para 2017. A administração que em declara-ções à agência Lusa disse tratar-se de uma altura “exigente e que implica um esforço” para ultrapassar “o período de seis anos de prejuízos consecutivos” foi desmentida pelo STEC que denuncia o aumento salarial dos administradores em 100 por cento.

Trabalhadores da Randstad saem à rua

Em protesto contra a precariedade a que estão sujeitos, cerca de uma cente-

na de trabalhadores da empresa de tra-balho temporário Randstad realizaram a 30 de Novembro uma greve e uma con-centração à porta da sede da multina-cional, em Lisboa, e deslocaram-se para o Ministério do Trabalho e da Segurança Social. Exercem funções nos call centers

de empresas como a EDP, NOS, a PT/MEO e a Vodafone e exigem o fim da ins-tabilidade, da deslocalização dos postos de trabalho, do recurso a empresas de prestações de serviço e a integração nos quadros destas empresas.

Paulo Gonçalves, dirigente do SN-

Milhares de trabalhadores saem à rua

Lutar por melhores condições de trabalho«Não basta dizer que se muda, é preciso mudar», afirmou Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP-IN, na maior das manifestações realizadas este ano. Dezenas de milhares de trabalhadores de todos os pontos do país encheram a Avenida da Liberdade, entre o Marquês de Pombal e os Restauradores, para exigir, entre outras reivindicações, o aumento de salários e o combate à precariedade sob o lema «Valorizar o trabalho e os trabalhadores». Mas a ação de luta realizada a 18 de Novembro não serviu apenas de mar para os inúmeros rios de protesto que se vinham realizando ao longo dos últimos meses. Serviu também de catalisador para as inúmeras greves e concentrações que se seguiram. Apesar das acusações de benevolência sindical para com o governo, o ano que agora termina ficou marcado pela mobilização de trabalhadores de diferentes sectores que saíram à rua por reivindicações gerais e específicas.

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nacional 15a Voz do OperárioNOVEMBRO-DEZEMBRO 2017

TCT, em declarações à Agência Lusa, afirmou que “a luta vai continuar” em defesa dos direitos dos cerca de 5500 trabalhadores. A dirigente do SIESI, Anabela Silva, da EDP, que esteve reu-nida com a administração da multina-cional disse que a empresa “prometeu olhar para os cadernos reivindicati-vos”, mas sem referir qualquer solu-ção. O mesmo sindicato avançou num comunicado que uma das reivindica-ções comuns é o aumento salarial de 30 euros mensais. No ano que passou a Randstad teve um lucro de 586,1 mi-lhões de euros.

Forte adesão à greve na FNAC

Os dados avançados pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Es-critórios e Serviços de Portugal (CESP) revelam que a paralisação a 30 de No-vembro afetou todas as lojas e deixou alguns sectores inoperacionais. A for-

te adesão à greve apesar das ameaças de despedimentos denunciadas pelos trabalhadores revela o estado de âni-mo de quem também decidiu dar a cara numa concentração à porta da sede da empresa, em Lisboa. Foi ainda aprova-da uma moção pelos participantes que

manifesta a vontade de “intensificar a luta até verem satisfeitas as suas rei-vindicações”.

Entre as principais exigências, os trabalhadores reclamam aumentos salariais de 40 euros, 25 dias úteis de férias, horários humanizados, o pa-gamento de horas extraordinárias, o cumprimento dos tempos de compen-sação, a integração dos trabalhadores com vínculo precário nos quadros da empresa, a equiparação da carreira dos operadores de armazém e logística com a dos operadores de loja e a con-tratação de mais pessoal.

Mineiros param Almina em Aljustrel

A paralisação dos mineiros do Sul do Alentejo é já a mais forte das últimas décadas. É preciso recuar mais de dez anos para encontrar uma adesão se-melhante à luta nas minas de Castro

Verde e Aljustrel. Depois das sucessi-vas greves protagonizadas pelos tra-balhadores da Somincor, que deixaram a extração de minérios e a lavaria sem produção, foi a vez dos mineiros da Al-mina pararem durante cinco dias entre 22 e 26 de Novembro. A estratégia da

empresa de evitar classificá-los como mineiros para que os salários perma-neçam baixos e para que os horários possam ser de dez horas é bastante criticada. O Sindicato dos Trabalhado-res da Indústria Mineira (STIM) exige a melhoria salarial, condições de saú-de e segurança, a humanização dos horários, o fim da repressão sobre tra-balhadores e o reconhecimento desta organização.

Na primeira jornada da greve, os trabalhadores concentraram-se na entrada da mina de Feitais onde se formou um numeroso piquete. Nesse mesmo dia e nos dois seguintes, ma-nifestaram-se nas ruas de Aljustrel apelando à solidariedade dos restan-tes trabalhadores e da população que se juntaram, no sábado, num desfile que começou no Largo do Mineiro, ao som do hino de Santa Bárbara, pa-droeira dos mineiros, e que acabou na entrada da mina, não sem antes terem

de romper o cordão que os seguranças da empresa tinham feito.

Já os trabalhadores da Somincor apresentaram através do STIM um pré-aviso de greve referente ao pe-ríodo entre os dias 18 e 23 de dezem-bro como havia sido aprovado num

plenário. O sindicato afirma que a administração ainda vai a tempo de resolver o conflito e de evitar que a luta se concretize.

Persiste a luta na CelCat

Cerca de 200 trabalhadores da fabri-cante de cabos elétricos General Ca-ble CelCat voltaram a sair à rua a 23 de novembro numa concentração, em Sintra, onde decidiram através de uma resolução reafirmar a continuidade da luta. Esta ação de protesto seguiu-se à última das sete greves já realiza-das este ano e revela a determinação dos operários da multinacional nor-te-americana empenhados em lutar pelo aumento salarial, pelo fim dos horários ilegais no primeiro turno, pela revisão das cláusulas referentes a férias, pelo pagamento do trabalho complementar e dos subsídios de ali-mentação e anuidades. O documento

aprovado destaca ainda a exigência “do fim da pressão e repressão sobre os trabalhadores, com formação das chefias tendo em vista o respeito pe-los direitos laborais dos trabalhado-res e pelo direito ao respeito pela sua dignidade e personalidade”.

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Com a resolução do Conselho de Minis-tros publicada no Diário da República a 28 de Novembro para o lançamento da parceria público-privada (PPP) res-ponsável pela construção do futuro Hospital de Lisboa Oriental (HLO) em Marvila, o executivo liderado por An-tónio Costa cimenta as bases para o encerramento das atuais seis unidades hospitalares que integram o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC). O documento anuncia assim o fim, previsto para 2023, dos hospitais Cur-ry Cabral, D. Estefânia, São José, Santa Marta, Capuchos e Maternidade Alfre-do da Costa desbloqueando uma verba de 415 milhões de euros a que acresce a

taxa do IVA em vigor na altura da con-clusão da obra.

Segundo a presidente da Adminis-tração Regional de Saúde e Vale do Tejo (ARSLVT), Rosa Matos, no novo hospi-tal, 80 por cento das 875 camas, que po-derão chegar às 1145, vão ser em quar-tos individuais. Apesar de o Conselho de Ministros justificar a mudança com a “obtenção de ganhos de racionalida-de e eficiência” e com a “modernização da prestação dos cuidados de saúde”, os vereadores do PCP na Câmara Munici-pal de Lisboa apresentaram uma moção contra este encerramento.

Os vereadores comunistas defen-dem que o futuro hospital vai ter me-nos camas, blocos operatórios, médicos e funcionários do que a soma dos seis

que atualmente existem. Contestam também o modelo de financiamento da construção da unidade e também a gestão do edifício. O documento foi chumbado com os votos contra dos ve-readores eleitos pelo PS, CDS-PP e PSD e com a abstenção do vereador do BE. Ricardo Robles que assinou recente-mente um acordo com o PS e que é res-ponsável pelo pelouro da Saúde justifi-cou a votação com o facto de ser errado manter os seis hospitais abertos, isto apesar de durante a campanha eleito-ral ter afirmado que estava preocupado com a possibilidade de se encerrarem hospitais e com a redução do número de camas.

O fecho dos seis hospitais também tem estado na mira das preocupações de diferentes organizações por poder vir a servir interesses imobiliários. Na Coli-na de Santana, encontra-se metade dos hospitais a encerrar e o já inativo Miguel Bombarda que foram vendidos à imobi-liária pública Estamo em 2009 e à qual o Estado português já paga seis milhões de euros anuais pela utilização desses edifícios. Já em fevereiro deste ano, o PCP havia denunciado em reunião pú-blica da Câmara que o encerramento destes serviços públicos, para além de prejudicar diretamente os utentes que os utilizam, “contribuiria para agravar o despovoamento da cidade e teria fortes impactos no tecido social e económico”-nesta parte de Lisboa.

No Porto, o Grupo de Utentes dos Trans-portes Públicos critica o anunciado aumento dos preços para 2018 consi-derando que estes “já são demasiado elevados”. Segundo a Agência Lusa, a notícia de que as tarifas vão subir acima da inflação é uma contradição para este grupo que considera que vai contra a “re-posição de direitos e rendimentos que tinham sido retirados” pelo anterior go-verno. A mesma organização recorda os “aumentos brutais” que chegaram a atin-

Sessenta e seis anos e quatro meses vai passar a ser a idade de acesso à reforma sem penalizações no próximo ano, mais um mês do que em 2017. Desde que o go-verno formado pelo PSD e pelo CDS-PP decidiu alterar a idade da reforma, em

A greve que estava marcada para 30 de novembro no setor ferroviário foi des-marcada pelos sindicatos que chegaram a acordo com o governo. Praticamente no limite, o executivo governamental aceitou adiar a implementação do novo regime para o fim de abril do próximo ano e alterar o regulamento polémico que abria a possibilidade à circulação de comboios apenas com um funcionário.

Em comunicado, o Sindicato Nacio-nal dos Trabalhadores do Sector Ferro-viário (SNTSF) afirmou que este acordo “não é a resolução final do problema” mas que se adia uma regulação “nefas-ta” e ganha-se tempo para negociar. A mesma estrutura recorda que o acordo não esgota a intervenção por outra rei-

gir os 50 por cento. Perante o argumento dado pelo secretário de Estado de que a medida serviria para libertar recursos dos operadores para novo investimento, os utentes replicam que não lhes cabe a função do investimento, mas sim ao Go-verno: “Para isso existem mecanismos para o fazer. Destacamos desde logo as indemnizações compensatórias a que o Estado está obrigado, pelo serviço públi-co prestado pelas empresas de transpor-tes”, declaram os utentes.

2014, e a indexou à esperança média de vida, esta já avançou um ano e três meses. De acordo com o ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, Viei-ra da Silva, em 2019, deve aumentar mais um mês, para os 66 anos e cinco meses.

vindicação como o aumento dos salários destes trabalhadores que se mantêm inalterados desde 2009.

Temos a noção que este acordo não é a resolução final do problema, mas para já adiámos a aplicação de uma regula-mentação nefasta e abriu-se um proces-so de negociação na base de um compro-misso escrito do Governo e não apenas na base de promessas vagas. Demos um passo importante, mas a partir de agora há mais caminho para percorrer e nesse sentido apelamos para que os trabalha-dores ferroviários em torno deste tema e dos outros que diariamente se colo-cam, mantenham a forte unidade na ac-ção hoje registada que foi determinante para se atingirem estes resultados.

Saúde

Governo prepara-se para encerrar hospitais Transportes

Utentes contra degradação dos transportes públicos

Reformados

Idade da reforma volta a aumentar

Agente único

Governo cede aos trabalhadores ferroviários

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internacional 17

Depois da repressão que ordenou sobre os que na Catalunha quiseram exercer o direito democrático a decidir o futuro do seu país num referendo, em Outubro, o governo espanhol decidiu suspender a autonomia daquela região e dissolver o parlamento catalão. Os cerca de 700 fe-ridos provocados pelas cargas policiais durante a jornada eleitoral parecem não pesar sobre o primeiro-ministro Mariano Rajoy que procura evitar a perda de votos junto do nacionalismo espanhol. Através da aplicação do artigo 155 da Constitui-ção do Reino de Espanha, espera conse-guir sufocar os efeitos da declaração de independência. Nas últimas semanas, as principais avenidas de Barcelona recebe-ram um mar de gente indignada contra a prisão de vários membros do governo catalão e de dois destacados dirigentes de movimentos independentistas. Entretan-to, com eleições autonómicas marcadas para 21 de Dezembro para eleger o parla-mento agora suspenso, a confirmarem-se as últimas sondagens os partidos catala-nistas voltarão a conquistar a maioria dos assentos em Barcelona. A Esquerda Re-publicana da Catalunha seria, previsivel-mente, o partido responsável por liderar o futuro governo catalão com o apoio do

No momento em que se assinalam 65 anos do Apelo de Estocolmo pela abolição das armas nucleares, o CPPC lançou no dia 26 de setembro uma campanha pela ratifica-ção por parte de Portugal do Tratado de Proibição de Armas Nucleares.

No comunicado pode ler-se “As armas nucleares são a mais grave ameaça que pen-de sobre a Humanidade, pois a sua utiliza-ção provocaria a morte e destruição gene-ralizadas e libertaria radiação que deixaria sequelas ao longo de décadas; A dimensão e potência dos arsenais nucleares actualmen-te existentes e a crescente tensão que mar-ca a situação internacional colocam com acrescida urgência a exigência do desar-mamento nuclear – questão essencial para salvaguardar a paz, a segurança e a própria sobrevivência da Humanidade;”

No dia 7 de julho foi adotado o “Trata-do de Proibição das Armas Nucleares” pela conferência das Nações Unidas para nego-

rer dar lições de democracia a outras re-giões do globo tratou de fazer vista gros-sa e mostrou que os direitos humanos só importam quando se trata de países que enfrentam a política externa ditada por Bruxelas. Certos de que nenhum dirigen-te independentista catalão vai conquistar o prémio Sakharov, o governo espanhol sabe que tem rédea solta para impedir a democracia na Catalunha.

É curioso que é tanta a sanha de per-seguir o independentismo que há dias a ministra espanhola da Defesa foi alvo de uma brincadeira de dois humoristas rus-sos. Maria Dolores de Cospedal recebeu a chamada de dois alegados membros do ministério de Defesa da Letónia que lhe ofereciam informações da sua inteligên-cia que demonstravam que o presiden-te do destituído governo catalão, Carles Puigdemont, trabalhava há anos para os serviços secretos russos com o pseudóni-mo de ‘cebolinha’. A ministra não só acre-ditou no que lhe disseram como tratou de comunicá-lo a Mariano Rajoy. O ridículo da situação e o embaraço provocado ao governo espanhol acontece precisamente quando a imprensa trata de fazer da Rús-sia responsável pelo avanço do indepen-dentismo na Catalunha.

Assembleia Geral perde o seu tempo a exa-minar esta resolução”, aprovada desde 1991.

A diplomata garantiu que os EUA não procuram o isolamento, mas vão continuar a votar contra este tipo de resoluções “en-quanto o povo cubano estiver privado dos seus direitos”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Bruno Rodriguez, criticou as “declarações ir-responsáveis” de Nikki Haley, acusando-a de ser cínica e de desprezar a carta das Nações Unidas.

Os russos e chineses também criticaram na ONU o que Moscovo chamou “recuo eviden-te” dos americanos em relação a Cuba e “retó-rica belicista” dirigida à ilha a que os Estados Unidos impuseram um bloqueio em 1959.

Independência da Catalunha

Futuro incerto na Catalunha

Conselho Português para a Paz e Cooperação

Pelo fim das armas nuclearesOrganização das Nações Unidas

ONU pede pela 26.ª vez o fim do embargo a Cuba pelos EUA

Partido Democrata Europeu Catalão e da Candidatura de Unidade Popular.

Do lado de Madrid, procura-se sobre-tudo a reacção do nacionalismo espanhol em torno da ideia da unidade de Espanha. Durante semanas, televisões, jornais e rádios multiplicaram-se em operações propagandistas para fazer dos indepen-

ciar um instrumento legalmente vinculati-vo que proíba as armas nucleares. O CPPC e outras organizações não-governamen-tais, como a CGTP, estão a fazer pressão para que Portugal possa ratificar o tratado.

Os subscritores desta petição:

• expressam a exigência da eliminação das armas nucleares e da sua não proliferação; • manifestam a sua satisfação pela adoção do Tratado de Proibição das Armas Nu-cleares no âmbito das Nações Unidas; • reclamam das autoridades portuguesas a assinatura e ratificação do Tratado de Proi-bição das Armas Nucleares, em respeito pelo consagrado no artigo 7.º da Constitui-ção da República, que preconiza o «desar-mamento geral, simultâneo e controlado».A petição pode ser assinada através do link: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=-nao-armas-nucleares

dentistas catalães um perigoso inimigo a abater. A nível externo, o governo de Ma-riano Rajoy desdobrou-se numa ginástica diplomática para que as imagens de elei-tores catalães feridos pela polícia durante o referendo não representassem um pro-blema político. A mesma União Europeia que é capaz de apontar o dedo e de que-

A Assembleia Geral das Nações Unidas reite-rou o apelo aos Estados Unidos, como desde há 26 anos, para que levante o embargo eco-nómico e financeiro a Cuba, com Washington a exigir progressos democráticos em troca.

A resolução aprovada hoje foi apoiada por 191 países e apenas contrariada pelos Esta-dos Unidos e Israel.

No ano passado, os Estados Unidos abs-tiveram-se pela primeira vez na votação da resolução, em consequência da aproximação do então presidente norte-americano, Bara-ck Obama, ao poder cubano, restabelecendo relações diplomáticas e aligeirando o embar-go comercial.

A embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, declarou que “todos os anos, a

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Resistência e luta contra o fascismo em Portugal

75 anos do assassinato de Bento Gonçalvesformalizada, é deportado para a cadeia da Fortaleza de S. João Baptista, em An-gra do Heroísmo. Só em fevereiro é fi-nalmente confrontado com a acusação: militância comunista e sua direção, inci-tação à disciplina social, nomeadamente com o impulso dado à greve geral de 18 de Janeiro, entre outros.

O julgamento que se segue torna-se inusitado. Bento Gonçalves, perante a natureza da acusação, decide assumir o papel de acusador - recusa não só a criminalização da resistência e acção revolucionária, como denuncia o Esta-do fascista e a sua repressão criminosa aos trabalhadores: «não cabe no colete de forças de “incitamento à indisciplina social”. O Partido Comunista Português opõe-se, partindo da realidade da pró-pria vida, uma forma determinada e pre-cisa de organização económica e social, à ordem económica e social existente».

É enviado para o campo de concen-tração do Tarrafal, em Cabo-Verde, onde é submetido a condições de vida durís-simas, condições essas que renderam ao fascismo o assassinato de 32 resistentes, dos quais viria a fazer tragicamente parte.

Apesar da situação difícil, durante os seis anos de cárcere, prosseguiu a intervenção, agora junto dos seus companheiros de ca-tiveiro: “A sua elevada moral revolucionária e a sua valiosa capacidade política permiti-ram-lhe uma grande acção educativa entre os camaradas de cativeiro(...) continuava a ser o guia dos seus companheiros e um exemplo heroico de conduta revolucioná-ria” («Avante!» n.º 20, 1942).

Esta forma de estar na vida, uma ca-pacidade de regeneração de forças e de congregação dos que o rodeavam, repre-sentou um contributo inestimável para o combate pela liberdade: no reagrupa-mento de forças de resistências após a instauração do fascismo, a priorização da criação de uma organização e rede clan-destinas para o derrubar, na caracteriza-ção metódica do fascismo e das estraté-gia de combate, a indispensável afirma-ção do marxismo-leninismo no seio do movimento operário, linhas que não só se tornaram traços identitários do PCP como, muitas delas, marcaram transver-salmente a luta anti-fascista por uma sociedade liberta da opressão e de pro-gresso social e humano: “O Tribunal vai ditar-me a sentença. Que faça o tribunal o que entender. Quanto a mim, mante-nho-me nesta convicção: a Terra Gira!”.

Rita Morais

Bento António Gonçalves, nascido em 1902 no seio de uma família pobre da vila de Fiães do Rio (Trás-os-montes), parte para Lisboa aos 17 anos, para se tornar operário do Arsenal da Marinha, grande pólo industrial. É aí que se destaca en-quanto torneiro mecânico com uma ex-traordinária capacidade de trabalho, res-ponsável, criativo e solidário para com os colegas, características pelas quais foi sempre reconhecido pelos seus pares, vindo a tornar-se ativista sindical e diri-gente do Sindicato do Pessoal do Arsenal da Marinha. Em 1928 adere formalmente ao Partido Comunista Português.

O PCP, ilegalizado um ano antes, en-contrava-se numa dramática situação interna, arrastando consigo a resistên-cia e o movimento operário e sindical, já particularmente afetados pelo golpe de 28 de Maio que instaurara o fascismo e cujos objetivos eram claros - a consolida-ção do regime com vista à aniquilação de todos os avanços trazidos pela república, esmagar o movimento operário e promo-ver uma opressão e exploração dos tra-balhadores e do povo sem precedentes.

A este quadro tentou dar resposta o jo-vem Bento Gonçalves. Inconformado com a ausência de ação organizada do parti-do, decide tomar a dianteira desta tarefa. Partindo da análise da situação vigente, da natureza do regime económico (capi-talismo) e político (fascismo), conclui que não só é possível, como é imperativo or-ganizar a resistência e desenvolver a luta de massas. Tal luta exigia a edificação de um partido que pudesse atuar a partir da clandestinidade, profundamente ligado aos trabalhadores e ao povo, encabeçando e dirigindo a sua luta.

Ainda em 1928 tem a oportunidade de visitar a URSS. Lá conclui que “só as dou-trinas bolchevistas têm uma base sólida, ou antes que só o bolchevismo poderá conduzir a nossa classe à emancipação in-tegral” pois ”para ser revolucionário nos tempos modernos é preciso conhecer, an-tes de mais as linhas gerais da estratégia da luta de classes: essa estratégia não se encontra em parte alguma a não ser nos textos do marxismo-leninismo”. Desen-

volve, a partir daqui, um trabalho político que priorizava os locais de trabalho e a li-gação estreita entre partido e sindicatos.

A concretização das orientações por si defendidas alteram radicalmente, num curto espaço de tempo (três anos), o qua-dro de resistência ao fascismo. Com uma organização disseminada por todo o país, nos vários setores industriais e agrícolas, passando pelas organizações de juventu-de, dá-se um novo ascenso da luta popular.

1935 - Um ano crucial

Já é enquanto Secretário-Geral do PCP (eleito em 1929), que Bento Gonçalves encabeça, em 1935, a delegação do Par-

tido ao VII Congresso da Internacional Comunista, em Moscovo. Este Congresso reforça uma ideia fundamental em todo o seu pensamento: para combater o fas-cismo, o partido era fundamental, mas sozinho não bastaria. Seria necessário criar uma grande frente que unisse todos os democratas e patriotas (de diferentes classes e camadas) sob uma exigência comum: derrube do fascismo, liberdade e democracia para o povo.

Este trabalho é interrompido com a sua prisão, a 11 de novembro de 1935. Foi mantido 44 dias em isolamento, em condições muito precárias e foi alvo de tratamentos brutais. A 6 de Janeiro, sem julgamento ou sequer acusação judicial

“Tenho a honra de informar V.Exª. que o recluso António Bento Gonçalves faleceu no dia 11 do corrente, pelas 19 horas e 35 minutos, vitimado pela febre biliosa hemoglobilúrica”. Foi deste modo, envolto numa trivial congratulação burocrática, que o director do campo de concentração do Tarrafal informava o director da PVDE da morte de Bento Gonçalves, aos 40 anos, estando à data (11 de Setembro de 1942) a ultrapassar o tempo da sua pena em 1 ano.

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cultura 19

Exposição “Margem Esquerda. A Revolução Russa e a Cultura Científica em Portugal no século XX” | até 30 de abril Qual foi o impacto que a Revolução Russa e a ciência soviética tiveram sobre o pensamento, a prática e a cultura científicas em Portugal no século XX? A res-posta a esta questão vai poder encontrar Museu Na-cional de História Natural e da Ciência em Lisboa.

Género na arte | expo até 11 de março Um conjunto de artistas portugueses procuram dar res-posta às questões do género na arte plástica contempo-rânea. Exposição que vai poder ver até dia 11 de março no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.

Portugal Futurista e outras publicações de 1917 | até ao final de dezembroA mostra patente na Biblioteca Nacional até final de de-zembro pretende celebrar o centenário da revista Por-tugal Futurista, uma revista que ocupou o seu lugar no panorama literário, das artes e do movimento Futurista.

Pinheiro de Natal | Teatro infantil | dia 23 de dezembroA Antónia é uma menina que vive numa casa humilde e que ganha a vida a vender fruta que tem nas árvores do seu quintal. Este é um espetáculo promovido pela Cativar, na Fábrica Braço de Prata e dirige-se a crian-ças entre os dois e os dez anos.

Agenda:

A luta pela emancipação da mulher e pela igualdade de género tem-se refletido naquilo que vestimos? Até mais para as mulheres do que para os homens?

Sim, a mulher hoje tem todo um leque de escolhas, en-quanto os homens continuam presos às calças, presos ao que não podem vestir, àquilo que as convenções não per-mitem. Mas eles não foram sempre assim. No tempo do Luís XIV, eles vestiam-se tanto ou mais que as mulheres. Isto funciona por ciclos e com a entrada em cena da bur-guesia, os homens tornam o seu vestuário mais austero, sem devaneios, enquanto as mulheres nobres e da alta bur-guesia continuam pelo mesmo caminho que estavam. As questões do trabalho e de classe acabam por definir muito o que as pessoas vestem.

Há alguma relação entre ciclos de moda e va-gas de feminismo?

Há sim. Em determinados pontos da história há deter-minadas modas que são lançadas e só são adotadas num certo momento de libertação da mulher. Estou a pensar na mini-saia e nas calças para mulheres. A utilização dessas peças só se faz depois de um momento de luta e de rutura. A moda da saia-calção, por exemplo, foi lançada pelas su-fragistas do final do século XIX, início do século XX, mas só foi adotada muitas décadas depois.

A que conclusões chegaste depois das entre-vistas que realizaste para a tese/livro?

Todas as mulheres que entrevistei sabem elaborar uma narrativa sobre si a partir daquilo que vestem. Eu já disse isto noutra entrevista, mas, no fundo, todas as mulheres que entrevistei seriam capazes de escrever uma tese como eu escrevi porque, de facto, as mulheres têm uma grande reflexão sobre este tema. Depois há uma conclusão que eu nunca mais vou esquecer: a senhora mais velha que entre-vistei, nascida em 1926, e a menina mais nova (aquando da entrevista tinha 12 anos) são as únicas que respondem “sim” à pergunta “estão satisfeitas com o seu corpo?”. Mais nenhuma estava satisfeita com o seu corpo. Os motivos eram vários, ou porque eram gordas, ou porque eram ma-gras, ou porque eram “assim-assim”, ou porque poderiam melhorar alguma coisa, como se a perfeição fosse algo que está escrito no ADN das mulheres. Nem sequer está escrito em lado nenhum o que é a perfeição. O corpo das mulheres é utilizado há tantos anos para nos venderem uma imagem de mulher ideal, que nem mesmo as manequins de passe-relle cabem nesse molde. Há sempre essa perfeição que é perseguida e que persegue as mulheres e faz com que elas nunca se sintam bem. Neste caso só estas duas mulheres estavam satisfeitas com o seu corpo, porque devido às suas idades eram únicas que eram livres.

Cátia Rodrigues

Entrevista

“A moda é um discurso sem palavras e foi esse discurso, que tanto funciona como libertação como funciona como um espartilho, que eu quis estudar.”Cristina L. Duarte é a autora do livro Moda e feminis-mos em Portugal, o género como espartilho. A Voz do Ope-rário conversou com a socióloga, que decidiu estudar como a maneira que concebemos o género, influencia e determina o que vestimos, numa permanente contradição entre afirmação e opressão.

Porquê este tema: o género como espartilho?

Eu fui jornalista de moda e durante muito tempo a moda era algo que eu observava através dos desfiles e das entre-vistas que fazia e mesmo antes de ser jornalista já culti-vava esse gosto por moda desde os anos 80, altura em que comecei a ir à feira da ladra. Depois comecei a analisar sob outras perspetivas e achei que havia esta controvérsia à partida neste tema. Por um lado a moda capacita as mu-lheres, porque lhes dá as ferramentas para elas se afirma-rem e também fazerem do corpo a sua bandeira. Por outro lado o que acontece é que muitas vezes isso esgota-se em exercícios de aparência, porque a sociedade no seu todo é uma estrutura tão rígida, que o género, feminino no caso, tem um “espartilho” à sua volta. No fundo a moda é um

discurso sem palavras e foi esse discurso, que tanto fun-ciona como libertação como funciona como um espartilho, que eu quis estudar.

De que forma a moda influencia o género e vice-versa? Ou seja, de que forma a maneira como é entendido o que é ser feminino in-fluencia o que vestimos e de que forma o que vestimos acaba por influenciar o que é ser feminino?

O género pré-determina o que uma mulher enquanto criança veste e aquilo que vai vestir ao longo da sua vida. Existe um cultivar do gosto das meninas pelo vestir quase desde que nascem. Não é que não possa existir nos homens também, mas não fiz esse estudo. Aliás era o que eu gosta-va agora de fazer. Além dessa predeterminação logo à nas-cença, existe o olhar que os outros exercem sobre nós que também é influenciador e muitas vezes controlador daqui-lo que nós vestimos. Muitas vezes, para não dizer sempre, as mulheres são observadas da cabeça aos pés. Existe um controlo social muito apertado e esse olhar condiciona a nossa escolha.

O que vestimos, além de ser um ato estético, também pode ser um ato político?

Sem dúvida! É aquela famosa frase dos anos 70 “o pessoal é político”. Lá está: há toda uma afirmação de si e uma so-berania de si, aliada a um cuidado de si que se ancora tam-bém, senão na ação política e ativista, pelo menos no saber o que se quer e para onde se vai e numa afirmação do corpo para além de todos os outros, para além daqueles que a do-minam. As próprias mulheres também sabem aquilo que querem e também o afirmam, por vezes, através do vestir.

a Voz do OperárioNOVEMBRO-DEZEMBRO 2017

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última

Eleições“Realizaram-se domingo as eleições para as câma-ras municipais e junta geral do distrito. Em Lisboa, apresentaram-se cinco listas. Foi a mais votada, como é da praxe, a do governo, seguindo-se a da cidade, ou seja, a lista monárquica, a unionista, a socialista e a evolucionista. Desta forma, a maioria na câmara, que era composta de evolucionistas e unionistas, passa para as mãos dos monárquicos, que acabam de evidenciar que não desarmam, ten-do contribuído muito para o seu triunfo os erros dos republicanos”.11 de novembro de 1917

Alfaiates e costureiras“Acorrendo ao meu apelo, lançado nas colunas deste jornal, vieram muitos camaradas de ambos os sexos, engrossar e fortalecer a nossa associação de classe. Quanto é consolador, camaradas, ver que uma classe tão numerosa como a nossa compreen-de enfim o seu dever, vindo quase em massa colo-car-se ao lado daqueles que tanto têm trabalhado para conseguirem organizar a nossa associação, organismo aonde (…) melhor do que em nenhuma outra parte poderemos resistir às injustiças que a toda a hora nos ferem”.11 de novembro de 1917

Açambarcadores“Está-se confirmando tudo quanto escrevemos no número passado acerca do azeite e do arroz. O ar-roz, que o sr. ministro do trabalho tabelou, desapa-receu por completo das mercearias. (…) Quanto ao azeite, apenas meia dúzia de casas o começaram fornecendo ao preço da tabela e mesmo essas em pequenas quantidades. (…) Quanto ao carvão e ao açúcar está-se igualmente ferindo rija peleja entre os açambarcadores e o sr. ministro do trabalho. Apesar de combaterem no escuro e de usarem es-pada preta, para não darem a conhecer o seu jogo. (…) Atenção, pois!”.25 de novembro de 1917

A Vozdo Operáriohá 100 anos

A convite da CGTP-IN, mais de trinta centrais sindi-cais de diferentes países participaram, nos dias 29 e 30 de novembro, em Lisboa, numa conferência interna-cional sob o lema “O Futuro do Trabalho – A valoriza-ção do trabalho e dos trabalhadores”. Na iniciativa, a que assistiram também cerca de cem representantes de federações e sindicatos portugueses, as consequências das transformações científicas e tecnológicas sobre o emprego e os vínculos laborais foram objecto de pro-fundo debate.

O discurso de abertura esteve a cargo do secretário-geral da Intersindical Nacional que destacou a impor-

tância do trabalho conjunto e convergente de várias or-ganizações sindicais de todo o mundo. Arménio Carlos deu o pontapé de saída para dois dias num evento que teve entre os seus objectivos o impulso para a “conquis-ta de direitos” e para um “caminho de emancipação de quem trabalha” sem sacrifício do “direito ao progresso e à justiça social”.

Durante a conferência, vários participantes saudaram o papel da central sindical portuguesa no contexto in-ternacional e destacaram a sua coerência. No último dia, Augusto Praça, responsável de relações internacionais na Comissão Executiva da CGTP-IN destacou a qualida-de das intervenções e agradeceu o contributo dado por sindicalistas que trouxeram dos seus países a radiogra-fia da realidade em que desenvolvem a sua actividade.

Aos representantes das diferentes organizações, en-tre as quais se encontrava a Federação Sindical Mundial, a Confederação Sindical Internacional e a Organização Internacional do Trabalho, a CGTP-IN distribui um do-

cumento que serviu de base à reflexão que tocou temas tão diversos como emprego, organização dos trabalha-dores, precariedade, tecnologia, segurança social, mi-gração e solidariedade internacional.

O texto começa por afirmar que “a contradição fun-damental que marca o nosso mundo está no facto de que nunca antes na história da humanidade se ter produzi-do tanta riqueza como hoje, estando a sua maior parte concentrada nas mãos de um por cento da população mundial”. Destaca ainda que boa parte dessa concentra-ção se faz “cada vez mais por conta do aumento da ex-ploração, com a destruição de conquistas de dimensão

histórica da luta dos trabalhadores.»Segundo as projecções de organizações internacio-

nais, entre 1988 e 2011, os rendimentos dos dez por cen-to mais pobres aumentaram apenas três dólares por ano enquanto as fortunas dos mais ricos subiram mais de 182 vezes. O documento revela ainda que um adminis-trador executivo de qualquer empresa cotada no índice FTSE100 ganha o mesmo que 10 mil trabalhadores das fábricas têxteis de países asiáticos.

Os dados revelam ainda que os níveis de desempre-go continuarão altos devido ao crescimento da força de trabalho disponível a um ritmo superior ao da criação de emprego e que se estima que, no final de 2017, haja mais 3,4 milhões de desempregados do que no início do ano. Ao mesmo tempo, perspectiva-se para o próximo ano um aumento do número de novos desempregados em mais 2,8 milhões. Por sua vez, a precariedade afecta 42 por cento da força de trabalho no mundo, ou seja, 1,4 mil milhões de trabalhadores segundo a OIT.

Sindicatos

CGTP recebe conferência sindical internacional

Antiga Agência Funerária Domingos & Diniz

Gerência de João Natividade

R. de Sta. Marinha, n.º 4, 1100-491 Lisboa

R. de S. Vicente, n.º 34, 1100-574 Lisboa

T. 218 861 649 F. 218 875 213 TM. 919 311 363

Descontos de 15% para sócios de

A Voz do Operário