13 de maio - sob o olhar da imprensa uberabense - thiago

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    13 DE MAIO

    SOB OS OLHOS D IMPRENS UBER BENSE

    Terno de congo de Uberaba - 1896

    Componentes do Terno de Congo M inas Brasil  –  década de 1950

    Uberaba2016

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    FICHA TÉCNICA

    Superintendente do Arquivo Público de UberabaMarta Zednik de Casanova

    Pesquisa e Redação: Historiador João Eurípedes de AraújoPesquisador Miguel Jacob Neto

    Fotos:Acervo da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba

    Revisão Ortográfica:Maria Rita Trindade Hoyler

    Apoio: Onofre Lage MiziaraPriscilla Mariano

    Revisão Geral:Marta Zednik de Casanova

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    SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO 

    FORÇAS PROPULSORAS DA ABOLIÇÃO NO BRASIL EEM UBERABA

     

    NO BRASIL 

    EM UBERABA

    “O BAPTISMO DE LUZ” 

    O CORTEJO DESFILA PELA HISTÓRIA

    ENTRE PÁGINAS

      A SERENÍSSIMA REDENTORA

      ENTRELINHAS DO 13 DE MAIO (1889 A 1926)

    VOZES DO 13 DE MAIO

      AS MISSAS  APARECEM AS CONGADAS E MOÇAMBIQUES  UMA FESTA NACIONAL  NAS ESCOLAS 

    MÃE PRETA 

    OS BAILES 

    ORGANIZAÇÕES NEGRAS E 13 DE MAIO (1890 A 1947)

    FONTES

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    APRESENTAÇÃO

    A Superintendência do Arquivo Público de Uberaba tem como umadas funções realizar pesquisas de temas ainda inexplorados que viabilizam publicações gráficas ou on-line. O objetivo é disponibilizar abordagensdiferenciadas e, dessa forma, a instituição arquivística propicia novas fontes paraestudos e debates sobre a história do município. Outra função daSuperintendência é escrever temas diversos e disponibilizá-los para o público,mas sempre com a consciência de que é apenas a primeira página, podendo asinformações ser aprimoradas pelos pesquisadores, que em sua pesquisadocumental constatem informações significativas que possam contribuir com oaprimoramento do tema.

    A pesquisa pioneira, realizada pela Superintendência do Arquivo Público de Uberaba, referente ao Treze de Maio Sob os Olhos da ImprensaUberabense , nesta cidade, não tem a pretensão de ser uma obra acabada. Trata-se de uma contribuição para subsidiar futuros estudos.

    As fontes utilizadas para a pesquisa do referido tema consistem emacervos da imprensa, desde o ano de 1879 a 2015, ou seja: o Jornal Gazeta deUberaba, o Waggon, o Lavoura e Comércio, o Correio Católico, o Jornal daManhã e o Jornal de Uberaba.

    O trabalho dos pesquisadores da Superintendência constatou inéditasinformações referentes aos antecedentes da Abolição da Escravidão, emUberaba, e a culminância com a abolição em 13 de maio de 1888.

    A publicação da obra Treze de Maio Sob os Olhos da ImprensaUberabense  está inserida no Blog e na página do Facebook  da Superintendênciado Arquivo Público de Uberaba.

    Os pesquisadores da Superintendência do Arquivo Públicoresponsáveis pela pesquisa foram o diretor do Departamento de Pesquisa eAtendimento, João Eurípedes de Araújo e o pesquisador  Miguel Jacob Neto. 

    Marta Zednik de CasanovaSuperintendente do Arquivo Público de Uberaba

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    FORÇAS PROPULSORAS DA ABOLIÇÃO

    NO BRASIL

    Até a decretação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, foramsancionadas algumas leis relativas à abolição dos escravos: 

    Lei Eusébio de Queiróz (04/09/1850), proibindo o tráfico de escravosafricanos para o Brasil. Para muitos historiadores, essa lei é a primeira medidaabolicionista oficializada em território brasileiro.

    Lei do Ventre Livre (28/09/1871), tornando livre todos os filhos demulheres escravas, nascidos no Brasil.

    Lei dos Sexagenários, ou “Lei Saraiva Cotegipe”, promulgada em 28de setembro de 1885, libertou todos os escravos com mais de 60 anos de idade.

    Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, extinguiu a escravidão no Brasil.A partir de 1850 as discussões acerca da abolição começaram a se

    espalhar pelo Brasil. 

    Em fins da década de 1860 e início da de 70, com o reconhecimento oficial de quea extinção da escravidão era apenas uma questão de forma e oportunidade, a inclusão daemancipação entre as reformas pretendidas pelos radicais do Partido Liberal e adecretação da Lei do Ventre Livre (28 de setembro de 1871), abre-se um período que secaracterizou pela propaganda abolicionista propriamente dita. A princípio desenvolvidana imprensa, em tribunas parlamentares e conferências de salão, esta propagandarestringia-se praticamente aos limites estreitos da diminuta elite brasileira. Esta mesmaambiguidade persiste na década de 1880, quando o abolicionismo realmente toma o vultode um grande movimento urbano e popular, espraiando-se pelas ruas em acaloradoscomícios, manifestações e conflitos violentos com a polícia. (AZEVEDO. 1987.p.88).

    EM UBERABA

    A cada dia a campanha abolicionista ganhava mais adeptos dediversos setores da sociedade, podendo mesmo ser considerada a primeiracampanha nacional verdadeiramente popular. Alguns abolicionistas, como Josédo Patrocínio, Joaquim Nabuco, André Rebouças, Antônio Bento, Castro Alves,João Alfredo, João Clapp e Luís Gama, ganharam destaque em toda a imprensanacional. 

     No período de 1879 a 1888 a imprensa uberabense  –   Gazeta deUberaba, O Waggon e o Correio Uberabense  –  também fez o seu papel em proldo movimento abolicionista.

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    Acompanhando a onda nacional, já em 1879 o redator e um dos proprietários do jornal Gazeta de Uberaba, advogado João Caetano, comentandosobre a figura do Visconde do Rio Branco e a Lei do Ventre Livre, posicionou-sefavorável à abolição da escravidão:

    [...] nunca homem algum em nossa patria, recebeu tão inequivocas provasda immensa gratidão que devota ella a um dos seus mais dilectos filhos, aquelleque marcou sua passagem na historia, com a mais brilhante pagina: a abolição doelemento servil pelo unico meio permitido na occasião - a libertação do ventre.[...] a lei de 28 de setembro desse anno, que a elle mais que a ninguem, se deve, e

    que nobilitou o Brazil, collocando-o a par das nações cultas do globo [...] (Gazetade Uberaba, 17/08/ 1879). 

    Uma das estratégias usadas pela imprensa abolicionista foi tecerelogios aos proprietários que libertavam seus escravos: 

    O capitão Bento José de Souza e João José Ferreira, no dia 10 do corrente,deram carta de alforria ao escravo Joaquim, de 15 anos, ambos pagaram pelaliberdade do escravo a quantia de 1:800$000 (um conto e oitocentos mil réis).Este ato filantropico é muito honroso para aquelles senhores e merecem os

    maiores ecomios. (Gazeta de Uberaba, 13/06/1880). 

    O Waggon, de 13 de julho de 1884, elogiou o Sr. Antonio da CostaMendes por ter libertado, sem condição alguma, o seu escravo Jeronymo, de 35anos de idade. 

    O Gazeta de Uberaba, de 06 de janeiro de 1881, informou:

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    Em 23 de março de 1887 o Jornal Gazeta de Uberaba publicou:

    As notícias abolicionistas se estendiam além das nossas fronteiras e oJornal Gazeta de Uberaba de 23 de agosto de 1881 reportou:

    Além dos jornais, as ideias abolicionistas contagiavam cada vez mais

    a sociedade uberabense. O Club Litterario Uberabense, criado em 1880,

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     promovia, dentre outras atividades, debates referentes à abolição. O JornalGazeta de Uberaba, 13 de janeiro de 1881 publicou:

    Os artistas de teatro também entraram em cena. O Jornal O Waggon publicou em 09 de março de 1884 que a Sociedade Dramática Abolicionistaestava apresentando:

    O Waggon, 09 de março de 1884

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     Essa companhia, dirigida pelo ator Belmiro Villarouco, tinha comoum de seus objetivos angariar fundos para comprar cartas de alforria.

    Alguns proprietários de escravos, em defesa de seus interesses,aderiram ao movimento abolicionista. Fundaram a sociedade “Filhas do

    Calvário”, tendo como presidente Antônio Eloy Cassimiro de Araújo (Barão daPonte Alta) e como primeiro-secretário Antônio Borges Sampaio, tambémredator do jor nal “O Monitor Uberabense”. 

    Filhas do Calvario  –   é o nome de uma sociedade abolicionista que poriniciativa do Monitor Uberabense, tracta-se de fundar nesta cidade. A nosso ver aimprensa attinge o cumulo da perfeição e consulta as mais caras exigencias desua divina missão, quando promove um interesse de tanta monta, quando tracta deabolir do seio da sociedade a instituição mais execranda e offensiva aos seus

    direitos e ao seu desenvolvimento tanto moral como material. (O Waggon,04/05/1884).

    Os simpatizantes das causas abolicionistas ocupavam todos os espaços possíveis para divulgar as ideias e nem o carnaval de rua ficou imune a isso. 

     No carnaval de 28 de fevereiro de 1887, segundo o Gazeta deUberaba, um dos clubes carnavalescos –  o Valetes de Ouro ou Filhos de Job (o

     jornal não informa), apresentou:

    […] O carro luxuosamente preparado que trazia a estátua da liberdade,representada pela figura de uma bela moça no centro. Na frente desse carro vinhaum grupo de  escravos, entoando um hino  á liberdade  com voz sonora, forte emuito agradável. 

    Os burburinhos abolicionistas quebraram o silêncio na cidade e nocampo. Entre os anos 1880-1888 conversava-se jogando sinuca no bilhar do

    Francisco Bernardes; tomando uma aguardente original do Paracatu, nocomércio do Antônio Matheus; ou uma injeção na Pharmacia São Sebastião.Trocavam-se ideias nos hotéis do Commercio e Central; e no armazém demolhados, sal e café do Modesto Bernardino.

    Libertar ou não todos os escravos?O que pensavam: os comerciantes do mercado municipal, os

    frequentadores do salão de barbeiro, “cabelleireiro”  e sapateiro “Ao FigaroUberabense” e  os fiéis da Catedral, Santa Rita, Abadia e Nossa Senhora do

    Rosário?

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    E quando se encontravam “na sala de espera” das casas de mulheres,na Rua Olhos d’água (Abadia), ricos fazendeiros, políticos, escravos, libertos, econtraventores, “o tempo esquentava” por causa do assunto?

    Proseavam sobre liberdade, viandantes e boiadeiros no rancho de João

    Borges de Araujo, barqueiros do Porto da Espinha e operários da Fábrica deTecidos do Cassú. 

    Também em Uberaba, os escravos lutaram a sua maneira, pelaabolição. Uma delas foi a fuga, sobre a qual o Gazeta de Uberaba de 1880 e1882 publicou:

    Gazeta de Uberaba, 29 de fevereiro de 1880

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    Gazeta de Uberaba, 31 de outubro de 1880

    Gazeta de Uberaba, 01 de janeiro de 1882 

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    “O BAPTISMO DE LUZ” 

    Sobre este dia, Machado de Assis [...] escreveu

    “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que

    me lembra ter visto”.  Http://www.bn.br/noticia/2015/  

    05/05/13maio (acesso em: 25/11/2015).

     No dia 13 de maio de 1888 foi decretada a Lei Áurea pela filha deDom Pedro II, a Princesa Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela GabrielaGonzaga de Bragança, extinguindo de vez com a escravidão no Brasil.

    Pelas circunstâncias de tempo e distância, o jornal Gazeta de Uberaba somente publicou no dia 25 de maio a Lei 3353, de 13 de maio de 1888.

    Gazeta de Uberaba, 25 de maio de 1888

     Nessas mesmas páginas foram narrados os acontecimentos daqueleglorioso dia:

    [...] A noticia correu rapida em todos os pontos da cidade e nos povoados

    circumvizinhos sendo recebida com aplauso em toda a parte.

    http://www.bn.br/noticia/2015/http://www.bn.br/noticia/2015/http://www.bn.br/noticia/2015/05/05/13maiohttp://www.bn.br/noticia/2015/05/05/13maiohttp://www.bn.br/noticia/2015/05/05/13maiohttp://www.bn.br/noticia/2015/

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    Até o dia 21 faziam-se os preparativos para a recepção do Correio que nessedia devia chegar trazendo a confirmação da boa nova. 

     Numerosos bandos de homens de côr percorriam ruidosamente a cidade,dando vivas á liberdade, ao ministério 10 de março, a Princeza Imperial Regente eao Imperador [...].

    De todas as estradas convergiam para a cidade grupos de pretos queabandonavam as fazendas circumvizinhas.

    A 21 [...] viam-se destacados em grande numero de cavalleiros na estradaque desta vae dar a cidade de Sacramento, a fim de encontrar com o Correio.

    Pouco a pouco esse grupo foi-se aumentando com um numeroso contingentede homens e mulheres a pé, que se lhe haviam ido unir.

    Era indescriptivel o delirio dessa multidão que ia receber dentro em pouco aconfirmação de que eram, de facto, cidadãos livres.

    A’s 4 horas da tarde appareceu deante de uma multidão o estafeta

    conduzindo dous animaes com as malas do Correio.Um grito unissono de viva a liberdade irradiou de toda aquela massa de

     povo e ao estampido de innumeros fogos, que ao ar subiam de todos os recantosda cidade, enquanto a banda de musica União Uberabense, ahi postada com o

     povo, fazia ouvir uma peça magnífica, as mulheres de côr, n’um enthusiasmo quenão se descreve, arrancavam as fitas de seus cabellos, penduravam laçadas sobreas malas do Correio e adornavam com corôas de flôres naturaes as referidasmalas, o estafeta e os animaes. 

    Em prestito imponentissimo desceu pela rua do Commercio [...] povo,

     bradando vivas á liberdade, indo á frente os cavalleiros com largas bandeiras, emseguida um grande grupo de mulheres de côr no meio das quaes iam os anemaesdo Correio pondo os laços de fitas por jovens  pretas vestidas de branco. Fechandoo prestito desciam um grosso pelotão de homens a pé e a banda musical UniãoUberabense. 

    Essa marcha se fazia ao som das peças executadas pela referida banda, aosgritos enthusiasticos que partiam da multidão a qual se iam juntando homens emulheres sem distincção de côr e de classe.

    Percorreram as ruas do Commercio, do Mercado, do Imperador,Guttemberg, Municipal, Vigario Silva, Liberdade e Santo Antonio, as quaesachavam-se ornadas com arcos de flores, sendo recebidos no Largo da Matriz,onde funcionava a agencia do Correio, pela banda musical PhilarmonicaUberabense, que executava o hymno nacional.

    Deante da agencia agglomerou-se todo o povo.Enquanto esperava-se a abertura das malas foi entoado o hymno da

    independencia, acompanhado pela Philarmonica.[...] durante todo o percurso daquella marcha, reproduziam-se os vivas á

    liberdade, á Princesa I Regente, ao gabinete 10 de Março, á imprensaabolicionista, ao Imperador, etc.

    Abertas as malas, foi lido em alta voz pelo Dr. Joaquim José Saraiva Junior,ex-promotor publico desta Comarca, o decreto nº 3353 de 13 de Maio de 1888.

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    Terminada a leitura, a uma breve allocução feita pelo Dr. Saraiva todaaquela multidão agradecida ao throno respondeu com um viva á Princesa I.Regente.

    Foram se dissolvendo pouco e pouco.A’ noute organisou-se uma marche aux flambeaux, acompanhada pela União

    Uberabense, e fallaram então sobre a abolição os Drs. João Caetano, FranciscoLemos, Mello Menezes, Gabriel Junqueira, Joaquim Botelho, ChrispinianoTavares e outros, terminando-se os festejos na melhor boa ordem.

    Foi uma manifestação imponentissima do rigosijo popular.Todas as classes da sociedade uberabense, unidas como uma só familia

     partilharam francamente o justo jubilo dos descendentes da Africa. (Gazeta deUberaba, 25/05/1888).

    Foram publicadas nesta mesma edição do jornal Gazeta de Uberaba,

    de 25 de maio de 1888, mensagens de alguns abolicionistas e simpatizantesuberabenses:

    Thomaz Pimentel de Ulhôa, médico, delegado literário e diretor daEscola Normal de Uberaba:

    Ave Libertas! A liberdade a todas as cabeças para pensar e a todos os braços para trabalhar.Uberaba, 23 de Maio de 1888.

    O advogado J. J. Saraiva Junior:

    A’actual geração brasileira coube a gloria de esmagar totalmente a cabeça dessahydra chamada escravidão. [...]

    Francelino Carvalho:

    Libertas ! Salve, aurora do dia 13 de Maio, que surgiste brilhante para coroar a

    redempção dos captivos! Salve, liberdade, symbolo da justiça! Salve, Gabinete 10

    de março, por extinguires uma negra mancha do Brazil, te immortalisaste!Uberaba, 23 de Maio de 1888.

    José Joaquim de Oliveira Teixeira, médico e presidente da CâmaraMunicipal de Uberaba:

    Patria Livre. Que o sol do grande dia da Liberdade seja cheio de esperança da felicidade daPatria. Que com o dia da liberdade, nasce o sol do trabalho que revifica eretempera.

    Uberaba, 23 de Maio de 1888. 

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    João Baptista Pinheiro:

    A Abolição.A lei n.3353 não surprehendeu a Nação que, anciosa, já sonhava com a desejadaaurora da redempção. Que a bençam dos  libertos  seja a verdadeira sagração da

    Patria querida.Uberaba, 23 de Maio de 1888.

     

    Joaquim Botelho, médico e operador:

    A aurea lei n.3353 que decretou a redempção dos captivos  é simplesmente asancção da opinião nacional. [...] As alvoradas do grande dia significam o

     baptismo de luz que absolveu a nossa Patria... livre.Uberaba, 23 de Maio de 1888.

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    O CORTEJO DESFILA PELA HISTÓRIA

    Este capítulo mostra como foram realizados os festejos de “13 deMaio” desde 1889. A narrativa é extraída dos jornais de Uberaba. É uma seleçãode acontecimentos selecionados pelo critério da curiosidade e interesse que

     possam trazer ao público leitor, relacionados a seguir:

    Ano 1889

    Só a imprensaAtenta aos acontecimentos nacionais e engajada neles, o Jornal Gazeta

    de Uberaba homenageou:

    Hoje a patria brasileira commemora o primeiro anniversario da granderedempção [...] a lei de 13 de maio de 1888, libertando os brasileiros escravisados,hasteou a flammula cosmpolita das liberdades publicas”. (Gazeta de Uberaba,18/05).

    Em 1889 não houve nenhum desfile de rua.

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    1890Primeiro cortejo

     Na tarde d’aquelle dia os pretos em procissão religiosa percorreram algumasruas da cidade com musica, canticos e foguetes, ultimando este festejo com um tedeum, que se realizou na capella do Rosario. Algumas pessoas iluminaram asfrentes de suas casas. (Gazeta de Uberaba, 17/05).

    1892Com banda de música

    Apenas alguns homens de côr percorreram naquelle dia as ruas da cidade áfrente de uma banda de musica. (Gazeta de Uberaba, 16/05).

    1901Congados e Moçambiques

    “[...] rufos de tambores annunciavam folguedos populares que se prolongaram até altas horas da noite”. (Lavoura e Comércio, 16/05).

    “Os divertimentos aqui cifraram-se em danças publicas organizadas pelosantigos grupos de dançarinos de congados e moçambiques.” (Gazeta de Uberaba,16 /05).

    E era feriado nacional

    “A’ tarde, o commercio fechou suas portas.” (Gazeta de Uberaba, 16 /05). 

    O teatro homenageia...

    [...] e num espectaculo que o Grupo Dramatico Uberabense, em regosijo á patriotica data da liberdade dos escravos, offereceu á Imprensa, á Municipalidadee á Policia. (Gazeta de Uberaba, 16 /05).

    Mas o Executivo Municipal...

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    1904Uma banda sempre presente

    “Os homens de côr festejaram a grandiosa data [...] funcionando neste ato a banda musical União Uberabense.” (Gazeta de Uberaba, 14/05).

    1905Gasparino no S. Luiz

    “[...] além dos festejos dos pretos, houve ainda no nosso velho theatro S.  Luiz, ao meio dia, uma reunião popular, na qual o intelligente artista JoaquimGasparino orou com bastante brilho durante quasi uma hora, sendo muitoapplaudido pela grande massa popular que o ouvia.” (Lavoura e Comércio,14/05).

    1907Com missa cantada

    “[..] a’s 11 horas da manhã houve missa cantada na igreja do Rosario, tendofuncionado a excellente orquestra daquela banda.” (Gazeta de Uberaba, 14/05).

    1908Nomes aos homens

    “[...] andou em passeata pelas ruas da cidade na noite de antehontem (13 demaio) uma comissão de homens de côr composta pelos srs. José Luiz da Cruz,Estevam Elisario de Magalhães, José Venancio da Costa e Arthur Mendes, tendo afrente a excellente corporação musical Santa Cecilia. Visitaram as redações dos

     jornais, vindo até o nosso escriptorio, onde aquela banda executou o hymnonacional.” (Gazeta de Uberaba, 15/05).

    1909

    Escolas públicas e concerto

    “Além das manifestações oficiais, haverá as 4 horas da tarde, uma passeatadas escolas publicas reunidas promovida pelo ilustre sr. Dr. Tancredo Martins,

     promotor de justiça e inspetor escolar á noitinha a banda União Uberabenserealizara um concerto no jardim publico, devendo os homens de côr tambémfestejar o grande dia.” (Lavoura e Comércio, 13/05).

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    1910Um luxo de figurino

    “[...] os homens de côr que tradicionalmente festejam a data querida,apareceram com seus dansados produzindo mais animação [...] vestidos a caractercom calções, tangas e cocares de pennas, exibiram-se ao som de tambores e

     pandeiros, ante a alegria dos espectadores. Começou a sua passeata cerca de meio-dia, detendo-se em diversos pontos.” (Gazeta de Uberaba, 14/05).

    Telegrama

    “Pela população preta desta cidade foi transmitido á princesa d. Isabel,residente em Paris, um telegrama: Homens côr Uberaba festejando 13 maio

     pedem vossa alteza aceitar sentimento gratidão”. (Lavoura e Comércio, 15/05).

    1913Primeiro Baile

    “[...] as festividades foram rematadas com um baile organizado peloshomens de côr no salão do Cassino Nacional.” (Lavoura e Comércio, 15/05).

    1917Carregando a ‘Princeza’ 

    “Alvorada pela banda Carlos Gomes, salva de 21 tiros, bandos dansantes decongo, e moçambique, excursão dos homens de côr e senhoras pelas principaisruas, conduzindo a bandeira nacional e o retrato em ponto grande da princezaIzabel.” (Lavoura e Comércio, 17/05).

    1922Entra a Associação

    “A Associação dos Homens de Côr, desta cidade, vai comemorar

    festivamente o 13 de maio. […] Para isso, além de festejos parciais, a Associaçãor ealizará uma passeata cívica.” (Lavoura e Comércio, 11/05).

    1923Na Escola da Penitenciária

    “[...] Na escola da Penitenciária foi comemorada a data do 13 de maio comuma sessão cívica, que foi assistida por muitas pessoas, abrilhantando-a a bandamusical Italo Brasileira. Presidiu a sessão o inspector escolar, dr. Assis Moreira e os

    discursos recitativos e diálogos foram feitos pelos detentos-allunos José Calazans,João Pacheco da Silva, Antoclo Jeremias, José Jeronymo de   Oliveira, José

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    Apolinario, Sant’Anna [...] Alves de Souza, Esmeraldino Correia, José Januario daSilva, João Carlos [...], Pedro Jeb, Mitcho Anowitch e José Joaquim de Lacerda.Falaram nessa ocasião os srs. drs. Carlo [...] Coelho e Sebastião Fleury, diretor doestabelecimento. Após a sessão foi aos reclusos servida uma mesa com chá, doces,quitandas e leite.” (Lavoura e Comércio, 17/05). 

    1929Um prum lado, outro...

    “Em Uberaba, a data não passará desapercebida  [...] nas escolas ele seráfestejado, os escoteiros sairão galhardamente a rua [...] varias associações tomarão

     parte na alegria geral e sobre todas elas as associações dos homens de cor, comseus festejos característicos darão a nota alegre e vivaz ao dia. Também o Club 7de Setembro abrirá os seus salões aos amantes da dança, realizando mais um dosseus apr eciados e concorridos bailes.” (Lavoura e Comércio,12/05).

    Há sinais de que em nenhum “13  de Maio” houve integração entrecidadãos uberabenses. Opinando: é como se estivéssemos em cidades separadas,cada qual com seu fuso horário e comemorando acontecimentos diferentes.

    1933

    Jornalista de Rua

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    Jornal Lavoura e Comércio

    1935Primeira nota sobre Festeiros

    “Os homens de côr de Uberaba, segundo já noticiamos, vão comemorarsolenemente o transcurso da data. [..] Pela manhã, foi celebrada missa em ação degraças, tendo os festeiros, sr. Antonio Amancio e a senhorinha Marina de PaulaSantos sido conduzidos a igreja por enorme numero de pessoas.” (Lavoura e

    Comércio, 13/05).

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     Nas escadarias da Catedral“[..] A’s 9 horas da manhã, na Catedral foi celebrada solene missa em ação

    de graças, tendo usado da palavra, no adro da igreja, o nosso brilhantecolaborador, sr. dr. José Mendonça. Durante o dia, vários ternos de congadas

     percorreram as principais ruas da cidade.” (Lavoura e Comércio,14/05).

    1938Misturando as Coisas

    “Após um desfile imponente pelas ruas centrais, reuniram-se os homens decor em frente ao coreto da praça Rui Barbosa, tendo falado os srs. AlcidesFerreira, senhorinha Maria Isabel, normalista, o professor Alceu de Souza Novais,e o professor José Santos Salvador.

    Os oradores, além de discorrerem sobre a data, hipotecaram, por delegaçãoexpressa da União dos Homens de Côr, a sua irrestrita solidariedade ao dr. WhadyJosé Nassif e, por intermédio do sr. prefeito, ao dr. Benedito Valadares Ribeiro edr. Getulio Vargas.

    Os discursos eram constantemente interrompidos por palavras e vivas. Por ultimo,falou o sr. prefeito. dr. Whady J. Nassif, em magnífico improviso, agradecendo asolidariedade oferecida, e prometendo comunicar o auspicioso fato aos exmos.drs. Governador do Estado e Presidente da Republica.” (Lavoura e Comércio,14/05).

    1940Com muita honra

    “Para U beraba, principalmente o 13 de maio tem uma significação especial, pois que somos uma das poucas cidades do interior, que mantemos a velhatradição da “congada”  tão do agrado de nossa gente de cor [...].” (Lavoura eComércio, 13/05).

    1944Presbiterianos engajados

    “A estas comemorações aliar -se-á a Sociedade Feminina da IgrejaPresbiteriana, que promove para logo à noite uma reunião às 19 horas e 30minutos, na rua Governador Valadares, 45, onde na palavra do ver. Paulo Villonserá abordado o tema “A Liberdade e o Cristianismo.” (Lavoura e Comércio,13/05).

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    1945A FRENTE NEGRA UBERABENSE convida:

    “A Frente Negra Uberabense convida a todas as exmas. famíliasuberabenses para assistirem a missa que será celebrada no Santuario de SantaTeresinha, as 10 horas de 13 do corrente mês, em ação de graças e em sufrágio daalma de S.M. a grande e generosa Rainha Isabel.

    Após a solenidade religiosa, os presentes deverão se encaminhar para a sede daFrente Negra Uberabense […]. Finalizando as comemorações haverá animadamatinée dansante.” (Lavoura e Comércio, 12/05).

    1947Um dia intenso

    “Pela manhã ouviu-se a alvorada pela banda de musica do 4º B.C.M. precedida de espoucar de foguetes.

    A’s 10 horas, foi realizada, na Igreja Catedral, missa solene pelo revmo.Cônego Isaias Lagares e tendo a presença de figuras de destaque de nossasociedade, alem do grande séquito de honra, festeiros e promotores dascomemorações.

     Nesta ocasião o ilustre celebrando fez um brilhante e substancioso sermãoalusivo á data e á sua significação.

    Após a missa, o cortejo desceu da Igreja Catedral e pela Praça Rui Barbosa,

    entrou na Rua Vigário Silva, vindo prestar cativante homenagem a esta folha.Em frente a este diário, usou da palavra o nosso companheiro de trabalho sr.

     prof. Santino Gomes de Matos, agradecendo a visita que nos era feita e exaltandoa significação efeméride da libertação dos escravos no Brasil. [...]

    Prosseguiu o imponente cortejo a sua caminhada pelas principais ruas dacidade, precedido das tradicionais “congadas”  e seguido da afinada banda demusica do 4º B.C.M. que realce deram a todas as festividades.

    Reunidos na séde da Frente Negra de Uberaba ali fizeram-se ouvir váriosoradores e foi servida uma lauta mesa de doces pela festeira.

    A’  noite foi promovido um grande baile com que se encerraram as festascomemorativas da importante efeméride dos homens de côr do Brasil.” (Lavoura eComércio, 14/05).

    1956Os Homens de Côr

    entram na Câmara Municipal

    “A Câmara Municipal de Uberaba esteve reunida em sessão solene ontem, para comemorar a data da abolição da escravatura no Brasil. Estiveram presentes

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    além dos vereadores, figuras de destaque de nossa sociedade e delegações doshomens de côr de Uberaba.

    Abrindo a sessão, falou o presidente da Câmara, sr. Nagib Cecílio, sendosecundado nas suas palavras cheias de civismo, exaltando o significado daqueladata histórica pelos srs. Homero Vieira de Freitas, líder da maioria; José Martins,representante do Partido Social Progressista e Iguatimozy Cataldi de Souza, peloPartido Socialista Brasileiro.

    Posta a palavra á disposição de quem dela quizesse fazer uso, falaram ossenhores Abadio de Moraes, Pedro Santana e Samir Cecilio, também sobre osignificado daquele acontecimento social e político, que apagou a mais nefandamancha que depunha contra a civilização brasileira.

    Também foram apresentados números de dança (congada) no pateo daPrefeitura Municipal, por grupos devidamente caracterizados.” (Lavoura eComércio,14/5).

    Festeira com o vereador e festeiro Pedro Santana

    1957Congos de Uberlândia

    “A’s  12 e 30 horas, na sede do Clube Recreativo e Cultural Uberabense,realizou-se uma sessão cívica, durante a qual fizeram-se ouvir os srs. dr. JoséMendonça, presidente de honra do referido grêmio; Pedro Santana, orador oficial;

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    o sargento reformado José Silvério da Silva, e o capitão de terno de congos“Batalhão de Minas Gerais”, de Uberlandia.

    Foram servidos aos presentes, em seguida, finos doces e salgados, regados por finas bebidas.

    Um dos pontos pitorescos das festividades foi a exibição dos congados deUberlandia, com o colorido de suas vestes e a variedade de suas danças e de seusinstrumentos.

    A’s 20 horas, a Câmara de Vereadores realizou uma animada sessão,irradiada pela PRE-5.” (Lavoura e Comércio,14/05).

    1961Um busto para Isabel

    “As comemorações do 13 de Maio, nesta cidade, obedecerão ao seguinte

     programa:- A’s 6 horas –  Alvorada pela Banda de Musica do 4º B.I;- A’s 8:30 horas  –  Saída do Fitão da residência da festeira, à rua Padre Zeferino,289;A’s 9 horas –  Inauguração do Busto da Princesa Isabel, na praça Santa Terezinha,ofer ta do prefeito Jorge Furtado.” (Lavoura e Comércio, 13/05).

    1968Desfile em qualquer regime

    “Tradição e Civismo As comemorações de 13 de Maio, em Uberaba, alcançaram como nos anos

    anteriores uma nota alta de animação e entusiasmo.As congadas emprestaram às ruas o seu vivo colorido, enchendo-as de

    cantos nostálgicos que tanto falam à sensibilidade uberabense.Há, nesta terra, um estilo especial nas festividades da grande data, com

    cerimônia religiosa, desfile de ternos e sessão litero-musical.Tôda a comunidade participa dos festejos que assinalam a passagem de mais

    um aniversário da Lei Aurea, numa fraternal comunhão de sentimentos com osseus irmãos de côr.” (Lavoura e Comércio,14/05).

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     13 de maio de 1968, em Uberaba  

    1970

    O poeta escreve:“A data de hoje está sendo festivamente comemorada pelos homens de cor

    de Uberaba. A exemplo dos anos anteriores, mantendo a tradição, houve a MissaSolene e o desfile dos ternos e Moçambique, pelas ruas centrais da cidade.Uberaba se associa as festividades dos seus filhos de cor, que irmanados aosdemais membros da comunidade constroem a sua gr andeza.”

    “Mini –  Kontos” (IAGO) 

    SaudadeDedico esta coluna ao antigo chefiado de congo “General” Henrique, e ao“marechal” de todas as alegrias dos folguedos, o chamado de “Submarino”.Ambos mortos, vivos na tradição das falas e dos recuerdos. [...]

    CongadaHoje, é dia de congos.Aqui, neste Sertão da Farinha Podre, Uberaba, fazemos a congada no dia 13 demaio, data que coincide com a implantação da lei de liberdade, da “rainha” Isabel. 

    Ternos

    Em Uberaba, existem 5 ternos de congada e um moçambique. Vamos lá pelaordem de desfile na cidade:1) Moçambique –  chefiado por Manoel Nazaré de Oliveira;2) Batalhão do Norte ou terno da Sainha –  chefiado por Olicio Francisco Vieira;3) Minas Brasil –  chefiado por Manoel Lázaro;4) Penacho –  chefiado por Adalberto Gonçalves Carneiro;5) Carijó –  chefiado por Domingos Prudêncio e Antonio Bernardes Ferreira;6) Minas Gerais –  chefiado por Rubens Felix.

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    Melhorou No ano passado, deu-se o maior surto de aprimoramento das congadas daqui. Foraa organização bem feita do festeiro, me parece com a influência das Escolas deSamba se fez notar. Isso, quanto ao incentivo. Vendo as Escolas de Samba

     badaladas pela imprensa, o pessoal dos congos se sentiu mais a vontade para o 13de maio.Agora tem uma coisa que, graças a Deus, podemos pôr as mãos para o céu: - Acongada ainda se mantém intacta das mãos de “abelhudos”. Graças a Deus,nenhum costureiro ou figurinista foi lá botar o focinho pra ver os detalhes. De

     bom ou mau gosto, não interessa. Que alívio!!!

    Versos...Para terminar, um versinho que eu colhi deles, como espectador, claro:

    Dona sua casa chêraDona sua casa chêraChêra cravo de rosa, orerêFlor de laranjera.Por fim, um verso de desafio deles:

     Num tenho medo de galo Nem de frango de tupeteGalo mato de facaFrango de canivete.

    (Lavoura e Comércio, 13/05).

    13 de maio de 1971

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    1974Mais forte do que nunca

    “Uberaba, segundo observadores, é das poucas cidades brasileiras que aindaconserva viva uma das chamas de nosso folclore, colocando em suas ruas osternos, com suas roupagens alegres e vistosas na cadência quente e marcante denossos negros. Uma data que evoca emoção e que representa para uma raça todo oideal de liberdade  –  o maior bem que todos nós possuímos. A dança em volta do

     busto da “Redentora” é um tributo de gratidão que se renova todos os anos. 

    Folclore

    Ronaldo de Oliveira Reis, presidente do Instituto Folclórico de Uberaba é um dosincentivadores dos congados, e é claro ao dizer que “se acabarem os congados,estará acabando o nosso folclore. É o brasileirismo chegando ao fim. Para serobjetivo: só a capoeira, presentemente mantém viva uma das partes mais

    movimentadas do nosso folclore. Outras danças, gradativamente estão sendoextintas. Em razão, devemos lutar pela conservação dos congados”. Feliz, o presidente observava na Catedral Metropolitana, a filmagem pela Rede Globo deTelevisão, do acontecimento, destacando-se o “Moçambique, o único congadoreza a tradição, que pode entrar, e tocar, em qualquer igreja”, assinala.  

    QuatroPelas ruas de Uberaba no dia 13 de maio desfilaram quatro congadosgarbosamente, congestionando o trânsito e fazendo vibrar os transeuntes  –  todos

     parando para observar melhor o desfile: Batalhão do Norte (40 elementos),

    Moçambique  (20 elementos), Verde e Amarelo (40 elementos), N.S. do Rosário(40 elementos)  –   140 ao todo. Chefiados respectivamente por Olívio, Nazaré,

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    Vicente e Rubens. Dos chefes, garbosamente “seo” Vicente Luis dos Santos ,desfilava mostrando vitalidade e alegria aos 80 anos.

    O Fitão

    O Fitão, que representa a antiga guarda de honra da Princesa Isabel, hoje é aguarda de honra dos festeiros: são 50 figuras, em trajes modernos, acompanhandoa “festeira” Marceliana do Carmo Reis nas ruas e durante a missa solene. Em1975, a cena se repetirá, mas  para “guarda de honra” de Wilmar Pereira dosSantos e Maria Helena de Souza, sorteados festeiros do ano/75.

    Os DramasSe para muitos, o 13de maio é festa, para os festeiros, um drama oneroso às vezes.

     Na Associação Musical Uberabense, a tarde houve recepção aos participantes.Tudo de graça: entrada, salgados e até bebida. Um conjunto  –  Transasom  –  deurecado musical “pra quem gosta de dançar” e todas as despesas correndo por contados festeiros  –   ou melhor, em 1974, por conta da festeira, “pois o festeiro apontado em 1973 desistiu na última hora”. Maria Ferreira da Silva, amiga dafesteira, meio aliviada conta: pois é, este ano quase a data passa direto, sem festa,

     pois a desistência do festeiro acumulou tudo nas costas da festeira que pensou emdesistir, mas resolveu animada pela família, a levar tudo avante sozinha. MariaFerreira da Silva, que é de Sacramento, justifica: “O que se faz em Uberaba –  escolher festeiros solteiros dá nisso. Em minha terra não, são os casados que

     promovem e assim não dá o risco de desistência”. Fracasso

    Para Ronaldo Oliveira Reis, “festeiro indicado que nada fez, pode até mudar decidade, pois fica marcado para o resto da vida. Se é bonito ser sorteado e a noitecoroado, é muito mais arriscado depois se não der conta do recado, pois todosesperam sucesso do festeiro”. Brincando, o presidente destaca: “[...] querercastigar um inimigo é indicá-lo festeiro e dar a ele a coroa”. 

    Os Dramas

    A vida de um festeiro é difícil. Quem nos fala é “Eurico Gomes”, irmão dafesteira/74 “mas não teve problema não, tudo deu certo, e o povo teve uma festa àaltura. As dívidas consequência da festa, serão saldadas. Não aconteceu,felizmente, fracasso. E não acontece mesmo, nem quando festeiro desiste naúltima hora. O irmão, festeiro em 1958, assinala: “[...] em princípio, minha irmã,sozinha, pensou em realizar a missa somente. Depois resolveu topar a parada e afesta foi um sucesso. Nós vamos ajudá-la. A verba da Prefeitura mal dá para pagaro salão, mas talvez a receita do baile, que foi realizado à noite, dê para empatar...ou perder pouco. O importante é o sucesso. Em 1958, recorda sorrindo, fiquei o

    ano inteiro para pagar a dívida.Saudação 

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    O transcurso de mais um aniversário da abolição da escravatura no Brasil levou odep. Florim Coutinho (MDB-GB) a destacar a luta de tantos que se empenharam

     para que todos os homens desta nação fossem livres e gozassem de iguais direitos.“Hoje somos uma orgulhosa nação de cem milhões de homens livres  –  afirmou,onde brancos, pretos, mulatos e homens vindos de outras terras se ombreiam,

     preocupados tão somente com o progresso, o desenvolvimento e o bem-estarcomum. Graças a Deus, em nosso país a cor da pele não separa as criaturas. Aquisomos todos irmãos.” (Jornal da Manhã, 14/05).

    Jornal da Manhã, de 14 de maio de 1974

    1978Um lugarzinho para a Mãe Preta

    “Ontem, às 20 horas, foi inaugurado o busto erigido na Praça ComendadorQuintino, em homenagem à Mãe Preta. [..]

    Pouco depois de iniciada a cerimônia, assinalava-se no local uma verdadeiramassa popular que participou intensamente das manifestações.

    A primeira oração foi pronunciada por Terezinha Pinto Cartafina, que falouem nome de seu esposo, prefeito Silvério Cartafina Filho, que por motivo deviagem à Capital Mineira não pôde comparecer ao ato.

     No seu discurso, vasado em uma linguagem simples e objetiva, a oradoraressaltou o papel de nosso irmão de cor ao longo da história, dando ênfaseespecial à Mãe Preta, à sua bondade tecida de abnegação e humildade.

    A posição de Uberaba, no quadro histórico da abolição, foi passada emrevista com o carinho peculiar da oradora pelas coisas de sua terra, pela tradiçãode calor humano que foi sempre uma constante na presença uberabense na

    comunidade mineira e brasileira.

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    Discursou também o Presidente da Câmara de Vereadores, José OsórioGuimarães.

    O senhor Milton Leal, festeiro das comemorações da Abolição dosEscravos, foi o terceiro orador da festividade.

    O jornalista e radialista Ataliba Guaritá foi o orador oficial da cerimônia esoube dar à sua atr ibuição brilhante desempenho.” (Lavoura e Comércio,13/05).

    1981Gente de tudo quanto é lugar

    “Uma alvorada as 4 da manhã de hoje, marcou o inicio das comemoraçõesdo 13 de maio em Uberaba este ano, com a presença de caravana de São Paulo,Rio de Janeiro, Goiânia, Campinas, Santos, Uberlândia, Araxá e outras cidadesvizinhas.

    [..] A coroação deverá acontecer durante baile no Elite Clube, animado peloconjunto Som 4, da cidade de Uberlândia. São festeiros deste ano o sr. AlanKardec e a senhora Cláudia.” (Jornal da Manhã, 13/05).

    1983Missa Campal

    “Ontem, às 20 horas, na Praça Comendador Quintino, em frente aoMonumento à Mãe Preta, foi rezada a Santa Missa por sua intenção, tendo o

    sacerdote oficiante, Padre Eddie Bernardes, ao Evangelho, prestado umahomenagem a essa figura humilde e boa, símbolo de dedicação.” (Lavoura eComércio,13/05).

    1986“Mas o negro continua discriminado” 

    “A chuva e o frio não impediram as comemorações do 13 de maio em Uberaba.Com muita música e fogos de artifício, a festa começou as 5 da manhã, seguida de

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    desfile pelas ruas da cidade e manifestações nas praças comendador Quintino eSanta Terezinha. Com mais de 300 pessoas dançando Congado, moçambique,vilão e catupé, o cordão foi puxado pelo Afoxé da Oxum, de Marlene.

    Durante as manifestações na Praça Santa Terezinha, o secretário daeducação, José Thomaz da Silva Sobrinho, lembrou as origens do negro brasileiro,lembrando que a abolição é “uma luta que vem sendo perseguida pela raça

     brasileira que não conseguiu plena liberdade”. Para José Thomaz, o negrocontinua sendo discriminado, mas constitui-se hoje na metade da população.

    Com a presença do prefeito Wagner do Nascimento os grupos de dançaseguiram para a Catedral Metropolitana onde, após celebrada a missa, foramnomeados os festeiros para o próximo ano. Os anfitriões Antonio Ricardo deOliveira e Vera Lúcia Gonçalves passaram o encargo para o jornalista AntônioCarlos Marques e Magna  Maria Vieira dos Santos. Mais tarde cerca de 1.500

     pessoas foram recepcionadas pelo Buffet Chaparral, no Ginásio Sérgio Pacheco.

    Sem limite de idadeCom 66 anos de idade, 56 dos quais dedicados ao Moçambique e Congado,Sebastião Mapuaba, um dos mais velhos do grupo, revela que 76 elementos dos142, pertencem ao Congado Minas Brasil. Para ele, 13 de maio é o maior feriadoda raça negra. Comandando as manifestações, o secretário de Esporte e Turismo, eo empresário Milton Leal, acompanharam o cordão desde o início dascomemorações, que culminaram com a inauguração da Casa do Negro e um baileno UTC.”  (Lavoura e Comércio, 14/05).

    1989Coral da Pastoral dos Negros

    “Às 19 horas de hoje, a “missa em Homenagem a Mãe Preta”, ao lado do busto colocado na Praça Comendador Quintino. A promoção é do Conselho AfroBrasileiro e da Associação de Congadas e Moçambiques, com apoio da FundaçãoCultural de Uberaba. Na solenidade, a presença do Coral da Pastoral dos Negros,

    da Igreja das Almas, além da participação da Banda de Música do 4º Batalhão” .(Lavoura e Comércio,12/05).

    1990Conselho Afro X Prefeito

    “Conselho Afro volta a tecer críticas contra Hugo.  “A comunidade negra jásabia que o prefeito Hugo Rodrigues da Cunha é racista e, agora, apenas confirmaisso.”  Desabafo é do secretário geral do Conselho Afro-Brasileiro de Uberaba,

    Carlos Alberto Leal, irritado com a postura do chefe do Executivo em relação àsfestividades de comemoração do dia da libertação dos escravos. Segundo Carlos

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    Leal, o prefeito negou qualquer apoio às festividades ocorridas domingo (13 demaio), inclusive o empréstimo da aparelhagem de som da Prefeitura. Não bastasseisso, segundo o secretário do Conselho Afro-Brasileiro, Hugo proibiu ofuncionário da Prefeitura, responsável pelo som, de ajudar a comunidade negra nainstalação da aparelhagem usada no dia. Lembrou que o domingo era dia de folgadesse funcionário e que mesmo assim aconteceu a proibição. Quando o ConselhoAfro-Brasileiro de Uberaba intitulou o prefeito de “persona non grata” acomunidade negra já havia detectado o seu racismo, e agora até mesmo aquelesque se manifestaram contra a idéia naquela oportunidade, comprovaram que oConselho estava certo.

    Segundo Carlos Leal, as festividades do “Dia 13 de maio” foram organizadas por festeiros; o Conselho apenas apoiou o evento. Logo, segundo ele, o prefeitonão pode usar como justificativa para o seu comportamento, as divergênciasexistentes entre ele (Hugo) e o Conselho Afro de Uberaba. Ressalte-se que o chefe

    do executivo cortou todos os benefícios que eram concedidos desde aadministração Wagner do Nascimento, pela Prefeitura, ao Conselho. Nossaresposta será dada nas urnas. Vamos trabalhar com todas as forças para evitar queo prefeito eleja seus candidatos, seja a deputado neste ano, ou seu sucessor na

     próxima eleição municipal, arrematou Carlos Leal.” (Jornal da Manhã, 16/05).

    1993Arquivo Público lança livro

    “As comemorações tiveram início na Praça da Igreja Santa Terezinha,quando o Prefeito Luiz Neto e o cirurgião-plástico Dr. Odo Adão deram o seurecado.

    Depois o cortejo marcou presença na Igreja São Domingos, onde houve a bênção e, finalmente, na Fundação Cultural foi lançado o livro “Moçambique eCongos, História e Tradição em Uberaba”, do Arquivo Público de Uberaba, tão

     bem dirigido por Aparecida Manzan. O prefácio é do prefeito, quando ele afirmaque o folclore precisa ser preservado e incentivado, já que expressa todas astradições e manifestações culturais, espirituais e materiais de um povo. E que é

    necessário manter viva a essência humana, numa fase em que as condições sócio-econômicas e modernas tecnologias nos tornam menos humanos”. (Lavoura eComércio,14/05).

    1997Noite Afro-Brasileira

    “[..] Como continuidade à programação do 13 de maio haverá a noite Afro-Brasileira, no próximo dia 17, com música, comida, tra jes típicos, etc.” (Lavoura eComércio, 13/05).

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    1999Um coral Afro da Abadia

    “[...] Em seguida, os grupos seguiram para a Igreja de São Domingos, ondefoi celebrada uma missa afro às 12 horas, com a participação do Coral Afro daIgreja Nossa Senhora da Abadia e, em seguida, a escolha dos festeiros para o ano2000”. (Lavoura e Comércio, 13/05/1999).

    2000Agentes da Pastoral Negra

    contra o “13 de Maio” 

    “Agentes da Pastoral Negra da  Arquidiocese de Uberaba distribuíram

    manifesto hoje, protestando contra as atividades festivas desenvolvidas em tornodo dia 13 de maio. A data marca 112 anos da assinatura da Lei Áurea, queoficializou a abolição da escravatura no Brasil. O texto propõe que a data sejamarcada por reflexões sobre as condições de vida do povo negro. O documento,distribuído durante a programação festiva desde sábado, questiona se amanifestação resgata a “alegria de estarmos ‘livres’ legalmente ou o desejo deorganizarmos melhor nossa luta contra o racismo, o preconceito e as diferenças”.(Lavoura e Comércio, 13/05).

    2002

    Norton puxou o cordão

    “O desfile de congadeiros, moçambiques  e integrantes da comunidade afro- brasileira em Uberaba, nesta manhã, contou com a presença do ator global Norton Nascimento”. (Lavoura e Comércio, 13/05).

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    2004É com o Olodum, meu rei!

    “Uma das bandas mais conhecidas e apreciadas de Salvador,  o Olodumlevou uma multidão à Praça da Abadia. Estima-se que mais de 6 mil pessoastenham presenciado o show, trazido pelo Centro Nacional de Valorização da Raça

     Negra (Ceneg).” (Jornal de Uberaba, 13/05).

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    2006Somos o que Somos

    “Encenação marca abolição da escravaturaO Instituto Cultural e Familiar Vovó Regina (Icfavor) e o grupo É da Gente

    apresentam hoje a colagem teatral “Somos o que Somos”. A encenação serárealizada no Teatro Experimental de Uberaba (TEU), a partir das 20h.

    O evento faz par te do projeto “Refletindo a liberdade”, que tem comoobjetivo mostrar uma nova maneira de comemorar a abolição da escravatura.Também pretende despertar a comunidade para discussão e implantação da Lei10.639, que trata da inclusão da matéria História e Cultura Afro-Brasileira nocurrículo oficial da rede de ensino.

    O espetáculo conta com a direção de Antônio Carlos Marques, texto deJaine Basílio, coreografias, figurinos e cenário de Valdir Assis, participação

    especial da cantora Regina Basílio e 33 figurantes.” (Jornal de Uberaba, 12/05).

    2008Princesa com busto novo

    “O cortejo dos ternos de Congada e Moçambique terminou na praça SantaTerezinha com missa e reinauguração da estátua da Princesa Isabel. A antigaestátua foi roubada há nove anos. [...] A obra é de cimento trabalhado e foirealizada pelo artista plástico Joselito da Rocha Souza.” [...] (Jornal de Uberaba,

    14/05).

    2013125 anos de Abolição

    “Ontem, foram realizados os festejos em comemoração aos 125 anos da Aboliçãoda Escravatura no Brasil. Em Uberaba, a data foi lembrada pelos ternos deCongado, Moçambique, Vilão e Afoxé. [..] O Conselho de Participação eIntegração da Comunidade Afrobrasileira promoveu um desfile, com 13 Ternos deCongado, oito de Moçambique e um grupo de Capoeira, pelas avenidas e ruas da

    cidade entoando cânticos e orações.” (Jornal de Uberaba, 14/05).

    2015No ano passado...

    “As celebrações começam com a concentração para o cortejo do Treze deMaio, das 9h às 10h, na rua Tapajós –  59, bairro Mercês. Às 10h, está programadaa saída do Fitão, com caminhada até a praça Santa Terezinha. A chegada à praça

    está prevista para as 11h, com  pronunciamento do prefeito Paulo Piau e demais

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    autoridades. Às 11h30, acontece a entrega de comenda de reconhecimento daCâmara Municipal.

    Já às 12h, será celebrada missa afro na Paróquia de Santa Terezinha,celebrada pelo monsenhor Célio Pereira Lima, com participação do Coral Afro deUberaba. Após a missa, às 13h30, haverá apresentação dos Ternos de congada eanúncio dos festeiros de 2016.

    Ainda dentro da programação em comemoração ao Treze de Maio, serárealizado o tradicional Baile de Gala, no Uberaba Tênis Clube, a partir das 21h,com animação da cantora Dri Ribeiro e Banda. Às 23h, acontece a coroação dosFesteiros de 2016, pelo prefeito Paulo Piau e a primeira-dama Heloisa Piau.” (Jornal de Uberaba, 13/05).

    Avó com o neto

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    ENTRE PÁGINAS

    A SERENÍSSIMA REDENTORASegundo Lilia Schwarcz:

    [...] Nos jornais e nas imagens de época, Isabel passa a ser retratada comouma santa a redimir os escravos, que aparecem sempre descalços e ajoelhados,como a rezar e a abençoar a padroeira. Já a princesa surge de pé e ereta,contrastada com a posição curvada e humilde dos ex-escravos, que parecemmanter a sua situação  –   se não mais real, ao menos simbólica. Aos escravosrecém-libertos só restaria a resposta servil e subserviente, reconhecedora do

    tamanho do “presente” recebido [...]. (SCHWARCZ.1987.p.88).

    Princesa I sabel

    O primeiro artigo detectado que começa a tratar da construção do mitoda princesa Isabel em nível local foi publicado pelo jornal Lavoura e Comércioem 1903: 

    [...] o enaltecer cheio de sublimidade da sereníssima Princeza Isabel promulgando a lei da redempção dos escravos [...] (Lavoura e Comércio,13/05/1903).

    A princesa Isabel começava a se destacar mais do que os demaisabolicionistas, através da imprensa, dentro do imaginário popular:

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    A população negra desta cidade enviou um telegrama para a princesa Isabel,residente em Paris, o qual dizia: “Homens de côr Uberaba festejando 13 de maio

     pedem vossa alteza aceitar sentimento de gratidão”.  (Lavoura e Comércio,15/05/1910). 

    “Santificação” de Isabel:

    Salve Isabel que redimistes esses nossos irmãos, que perdoastes estesinfelizes de um crime que não era seu, mas só da natureza que os fizera negros,mas lhe dera a liberdade como um bem comum. (Lavoura e Comércio,14/05/1911).

    Isabel cada vez mais reverenciada, agora nas mãos do povo:

    [...] senhoras pelas principais ruas, conduzindo a bandeira nacional e o

    retrato em ponto grande da princeza Izabel [...] (Lavoura e Comércio,17/05/1917).

    O referido jornal  publicou:

    [...] se não alcançou o trono imperial alcançou outro porém, no coração

    agradecido da raça negra. E esse provavelmente é eterno e indestrutível. (Lavourae Comércio, 13/05/1952).

    A inesquecível princesa:

    [...] os homens de côr não se esquecem daquela que é com razão chamada aRedentora [...] na gratidão dos descendentes de quem ela libertou [...] (13/05/1959).

    A consolidação do mito da princesa Isabel concretizou-se no dia 13 demaio de 1961, sendo inaugurado um busto em homenagem à “redentora” dosescravos.

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     Prefeito de Uberaba, Jorge Fur tado,na i nauguração do busto da pr incesa Isabel

    Mesmo sendo motivo de críticas e releituras, a princesa Isabelcontinua sendo reverenciada até os dias de hoje em Uberaba.

    ENTRELINHAS DO 13 DE MAIO (1889 A 1926)

    Em Uberaba, as comemorações do primeiro aniversário da abolição da

    escravidão, por se tratar de um dia tão especial no calendário brasileiro, nãoforam a contento:

    13 de MAIO  –   Passou desapercebido entre nós o 1º aniversario damemoravel data, que declarou extincta a escravidão no Brasil.

    A imprensa fluminense e do interior commemorou-a dignamente,distribuindo numerosos especiaes. (Gazeta de Uberaba 18/05/1889).

    O ano de 1890 foi especial para os negros em todo o Brasil. A partir

    do Decreto nº 155, de 14 de janeiro de 1890, o dia 13 de maio passou a ser

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    feriado nacional. Mas esse feriado teve vida curta, conforme se verá maisadiante.

    Em 1890 o jornal Gazeta de Uberaba informou que as comemoraçõesnão passaram despercebidas, mas não informou como foram organizadas e quem

     participou dessas comemorações.Mesmo sendo decretado o dia 13 de maio como feriado nacional, as

    comemorações em Uberaba ficaram devendo:

    “Esta memoravel data, uma das mais gloriosas de nossa Patria, passou quasidesapercebida entre nós.

     Nenhum festejo official se fez; apenas alguns homens de côr percorreramnaquelle dia as ruas da cidade, á frente de uma banda de musica, dando vivas aosgrandes homens que baniram do sólo brasileiro a traficancia de carne humana.”

    (Gazeta de Uberaba, 19/05/1892). 

    A imprensa  cobrava um envolvimento maior dos órgãos públicos eoutras instituições, considerando imprescindíveis suas participações no dia 13 demaio. Principalmente por ser uma data cívica relevante, como outros feriadosdecretados no Brasil. 

    Os “pretos”, acompanhados pela banda de música, mostravam seuengajamento com a data, sendo estes os primeiros registros nos jornaismostrando a sua participação em cortejo pelas ruas da cidade.

    O Jornal Gazeta de Uberaba, em seus artigos referentes àscomemorações do dia 13 de maio dedicou somente em enaltecer: Gabinete 10 deMarço, Visconde do Rio Branco, João Alfredo.

    O jornal fez uma alerta:

    (...) inscrevia nos annaes da legislação brasileira essa ephemeride que anossa proverbial indifferença vae deixando decorrer friamente, saudada apenas

     pelos festejos officiaes, cuja singeleza não enthusiasma ás multidões (...) (Gazetade Uberaba 12/05/1898).

     Nessa época percebe-se que só as manifestações oficiais que se faziamno dia 13 de maio já não vinham mais entusiasmando o povo.

    Em contrapartida, o Lavoura e Comércio publicou:

    Ao que nos consta só os libertos pretendem fazer lembrado o dia de hojecom danças pela ruas.

     Não ouvimos falarem em festas organizadas para comemora-lo. A não seressas danças e algumas bandeiras desfraldadas nos edificios publicos nada mais

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    recordara esse grandioso acontecimento que tanto faz realçar o nome brasileiro perante o mundo civilizado; a não ser isso passaria despercebido esse memoravel dia o maior de nossa historia.

     No entretanto, apenas doze anos são passados.(...) É doloroso, repetimos, o esquecimento da data de hoje; é lastimável

    esta inacção. Não era necessário que se fizesse uma comemoração ruidosa, estardalhante;

    uma comemoração modesta bastaria para avivar a memória dos que succumbiramna lucta pelo ideal de redempção e para mostrar aos batalhadores existentes e que

     prepararam o triumpho, que a alma nacional celebra commovida os seus nomessantifica-os de bênçãos atribuindo-lhes profunda veneração. (Lavoura e Comércio,

    10/05/1900).

     No primeiro parágrafo da citação esses dizeres são importantíssimos, pois, até então, somente os libertos iriam comemorar o dia 13 com danças pelasruas. Quando o redator menciona que ele não ouviu falar em festa organizada,“ A não ser essas danças”, pela primeira vez apareceu a palavra dança  nos

     jornais pesquisados. Pode ser indício  que nos leva a perceber a presença degrupos de congadas ainda não mencionados nos jornais pesquisados até omomento. 

    Para o redator, somente a presença dos negros não era suficiente pararepresentar o dia 13 de maio. Ele não ouviu falar em festas organizadas e nem as

     bandeiras hasteadas nos edifícios públicos estavam a contento do grande dia. Poroutro lado, ele estava cobrando maior envolvimento dos órgãos públicos e dasociedade, para que essa data cívica tão importante tivesse a mesma atenção erelevância das demais. Fez críticas à forma como vinha sendo comemorado odia 13 de maio, por acreditar que esse dia é o mais importante da história

     brasileira.O Jornal Gazeta de Uberaba informou que 13 de maio de 1901 passou

    sem o menor sinal de regozijo da parte do elemento oficial que representa ogoverno municipal.

    Tanto o jornal Lavoura e Comércio quanto o Gazeta de Uberaba, de1905, mencionaram que as comemorações do dia 13 de maio não tinham mais omesmo júbilo que as outras datas, que tudo aconteceu de forma silenciosa, eambos ressaltaram que pelo menos as escolas públicas deveriam comemoraresse dia. 

     Na coluna “Actos, Fatos e Boatos”, do jornal Lavoura e Comércio, de13 de maio de 1906, o redator Demophilo publicou o seguinte artigo:

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    As almas brancas dos homens pretos vestem-se de galas, hoje, paracommemorar a grande data de sua redempção [...].

    Essa citação tem duas colocações muito interessantes: a primeira,quando fala “das almas brancas dos homens pretos” fica a impressão de que atéa alma do negro ele queria embranquecer. É como se as almas tivessem cor. Aoutra demonstra que nesse dia os negros estavam vestidos de gala. Não há quem

     possa avaliar o valor que tem para os generais, capitães e soldados dos ternos decongos e moçambiques quando colocam seu fardamento, pegam sua espada ou

     bastão e orgulhosamente saem pelas ruas da cidade, somente eles. O Jornal Gazeta de Uberaba de 14 de maio de 1907 comentou que

    apenas dezenove anos se passaram da abolição, reclamou que esse dia foi tudomuito silencioso, e que era feriado. E que a geração vindoura, como também asescolas e colégios não ensinam a venerar os “pretos” do passado. 

     No dia 15 de maio de 1913, o Lavoura e Comércio publicou umamatéria muito interessante, sendo a primeira encontrada nas pesquisas onde aCâmara Municipal de Uberaba abriu suas portas convocando os vereadores paraa sessão e fizeram alusão ao dia 13 de maio.

     Naquela ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Uberaba era omonsenhor Ignácio Xavier, dando início à sessão e aos discursos. Mas, especialfoi o discurso do irmão Borges, irmão marista que era deputado federal peloestado de Goiás, e em 1888 votou a favor da abolição da escravidão no Brasil.Em 1913 o irmão Borges estava residindo em Uberaba e era diretor do ColégioDiocesano.

    O pequeno artigo publicado no Lavoura de 16 de maio de 1918merece ser destacado: “ Revestiram de grande imponência o desfile que oshomens de côr desta cidade organizaram para comemorar a passagem do dia

    13 de maio”. A partir desse momento os festejos começaram a ser totalmente

    organizados pelos “homens de côr”. 

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     Ternos de congos na Rua Ar tur Machado –  década de 1920

     No dia 13 de maio de 1926 o jornal Lavoura e Comércio publicouinteressante artigo:

    Cumpre lembrar a brandura com que acabamos com a escravidão, semsangue, sem revoltas, sem pronunciamento dos escravocratas [...] 

    O interessante nesse artigo é a forma que o redator suaviza aescravidão no Brasil, quando afirma “Cumpre lembrar a brandura com queacabamos com a escravidão, sem sangue, sem revoltas”. 

    Os africanos que vieram para o Brasil e os crioulos que aqui nasceramsempre se rebelaram contra o sistema escravocrata. Prova disso é o Quilombodos Palmares, formado aproximadamente em 1580, por negros fugitivos deengenhos de produção açucareira das Capitanias de Pernambuco e da Bahia.Palmares é considerado o marco da resistência negra no Brasil.

    Outro marco da resistência negra ficava em Minas Gerais, bem próximo de Uberaba, o Quilombo de Ambrósio, que em 1746 se instalou nomunicípio de Ibiá.

    Isso sem contar as diversas rebeliões e revoltas que aconteceram noBrasil, como “A História do Levante dos Malês em 1835”. Como é demonstradono livro “Onda Negra Medo Branco”, de Célia Maria Marinho de Azevedo, oterror que os negros causaram nas fazendas no Oeste paulista, matandosenhores, esposas, filhos, capitães do mato na segunda metade do século XIX.

    Então, fica a pergunta: Será que para chegar à abolição da escravidãoas coisas aconteceram com brandura e sem derramamentos de sangue?

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    VOZES DO 13

    AS MISSASA primeira missa campal celebrada em ação de graças pela abolição da

    escravidão no Brasil aconteceu no dia 17 de maio de 1888, em São Cristóvão, noRio de Janeiro. 

    Missa campal em homenagem àabol ição reali zada no Rio de Janeiro,em 17 de maio de 1888.

    A primeira missa integrada ao 13 de Maio aconteceu na igreja Nossa Senhora do Rosário em 1889. 

    [...]  Na tarde d’aquelle  dia os pretos em procissão religiosa percorrerram

    algumas ruas da cidade com musica, canticos e foguetes, ultimando este festejo

    com um te deum, que se realisou na capella do Rosario [...] (Gazeta de Uberaba,

    17/05/1890). 

    Segundo o escritor Gabriel Toti, desde 1852 se tem notícias darealização de missas na igreja Nossa Senhora do Rosário. Afirma, também, quea igreja foi construída por escravos. Tornou-se o único templo católicofrequentado por escravos e libertos. Por estes fatores, justifica-se a opção daescolha dos promotores e participantes do 13 de Maio com essa igreja.  A última

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    informação que encontramos sobre as missas lá realizadas estão no jornalLavoura e Comércio de 14 de maio de 1916. 

    Imagem da I greja de Nossa Senhora do Rosário 1889

    Demolida a Igreja do Rosário na década de 1920, a primeira referência

    encontrada sobre as missas foi em 1933:

    [...] Amanhã, os homens de côr desta cidade promoverão grandescomemorações. Haverá missa cantada as 10 horas na igreja de Santa Rita [...](Lavoura e Comércio, 12/05/1933).

    I greja Santa Rita – 

     1939

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    Em 1935 as missas foram rezadas na Catedral.Entre 1945 e 1958 as celebrações aconteceram alternadamente nas

    igrejas Santa Teresinha e Catedral. De 1959 a 1988, as missas foram realizadas apenas na Catedral.

    Jor nal Lavoura e Comércio –  13 de maio de 1988

    A partir de 1989 as missas aconteceram na igreja São Domingos.Destaca-se, nesse ano, a participação do Coral Afro da Igreja Nossa Senhora daAbadia.

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     Coral  Afro de Uberaba durante missa real izada na igreja São Domingos em 1997. 

    De 2008 até hoje as missas do 13 de Maio têm sido realizadas naigreja Santa Terezinha.

    13 de maio de 2011

    APARECEM AS CONGADAS E MOÇAMBIQUES

    Registra-se a presença da congada no Brasil e em Minas Gerais desdeo período Colonial.

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    Quanto à dança moçambique, não se sabe exatamente sua origem;alguns pesquisadores dizem que surgiu na África e outros, no Brasil, em umagrupamento de escravos unidos de Moçambique. Existem indícios dessasmanifestações em Uberaba desde a segunda metade do século XIX. 

    A primeira notícia encontrada em um jornal local sobre a manifestaçãode danças dentro do “13 de Maio”, utilizando claramente os termos “congado” e“moçambique”, apareceu no Gazeta de Uberaba, de 16 de maio de 1901.

    [...] rufos de tambores anunciavam folguedos populares que se prolongaramaté altas horas da noite [...]

    [...] Os divertimentos aqui cifraram-se em danças públicas organizadas pelosantigos grupos de dançarinos de congados e moçambiques [...] (Gazeta deUberaba 16/05/1901). 

     Nas primeiras décadas do século XX os congados abrilhantaram cadavez mais o cortejo:

    [...] Que tradicionalmente festejam a data querida, apareceram com seusdansados produzindo mais animação [...] vestidos a caracter com calções, tangas ecocares de pennas, exibiram-se ao som de tambores e pandeiros, ante a alegria dosespectadores. Começou a sua passeata cerca de meio-dia, detendo-se em diversos

     pontos. (Lavoura e Comércio, 14/05/1909).

    Em 1909 mantiveram-se aspectos da tradição do fardamento,conforme mostra a foto de 1896:

    Terno de congada em Uberaba – 

     1896

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    A cidade de Uberaba é uma das poucas do estado de Minas Gerais quedurante todos estes anos mantém a tradição das comemorações da abolição daescravidão, com seus congos e moçambiques.

    UMA FESTA NACIONAL

    Alegando a necessidade de um sistema de festas públicas paraestimular o profundo sentimento da fraternidade universal, sob o qual sefundamentava o regime republicano, em 14 de janeiro de 1890, o governo

     provisório de Deodoro da Fonseca baixou o decreto nº 155-B, criando uma sériede feriados. Entre eles, foi escolhido o dia 13 de maio. Uma data que seriadedicada a comemorar a abolição da escravatura foi “consagrada à

    comemoração da fraternidade dos Brasileiros”. 

    Por alguns anos, os brasileiros, principalmente os negros, ficarammuito felizes com esse feriado. Mas em 15 de dezembro de 1930, no governoVargas, “considerando, todavia, que, com manifesta vantagem do trabalhonacional, podem e devem ser reduzidos os dias feriados [...] mantendo-se, de

     preferência, os que, por sua mais larga significação humana e nacional,

     sensibilizam, mais profundamente, a consciência coletiva...”, resolveu-se manteros feriados nacionais de 1º de janeiro, 1º de maio, 7 de setembro, 2 de

    novembro, 15 de novembro e 25 de dezembro. Nesse mesmo decreto foiretirado o 13 de maio, certamente porque os governantes não viram nenhumsignificado humano e nacional na libertação de alguns milhares de escravos.

     Não temos a pretensão de questionar os feriados supracitados, mas aabolição da escravidão, em 13 de maio de 1888, foi um fato revolucionário paraa nação brasileira e, principalmente, para os negros, que deixaram a condição deescravos.

    NAS ESCOLAS

    Desde o decreto nº 155-B, de 14 de janeiro de 1890, criando diversosferiados nacionais, entre eles o 13 de Maio, a primeira referência encontrada nos

     jornais da cidade sobre a participação das escolas no 13 de Maio apareceu noLavoura e Comércio de 1909. Nesse dia, sob a direção do inspetor escolarTancredo Martins, foi realizada às 4 horas da tarde, passeata das escolas públicas

     pela cidade. À noite, foi realizada uma festa na escola  do professor   Alceu

     Novaes. 

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    Escolas públicas e particulares, como o Grupo Escolar Brasil e o ColégioDiocesano, promoviam sessões cívicas, desfiles, palestras e atividadesliteromusicais no dia da abolição da escravatura. Mas em nenhum momento, atéa extinção do 13 de Maio como feriado, em 1930, essas instituições integraram-

    se aos festejos das congadas, moçambiques e outros tipos de comemoração derua, promovidos pela comunidade negra.

    MÃE PRETA

    Sonia Roncador, em sua obra “O Mito da Mãe Preta no ImaginárioLiterário de Raça e Mestiçagem Cultural”, comentou: 

    Trata-se da história de uma ama-de-leite escrava a quem foi negada a

    convivência com o próprio filho recém-nascido. Ao invés de ódio e revolta, seucoração, porém, “era accessível ao carinho”, era dada aos sentimentos de lealdade,resignação, subserviência, e ao amor maternal.

    [...] Símbolo da fidelidade incondicional e servilismo absoluto à classesenhorial, a mãe-preta sua índole fiel, mais devota às demandas da casa-grandeque aos interesses da própria senzala [...] (RONCADOR. 2008. p.131). 

    A primeira publicação nos jornais sobre a figura da Mãe Preta foi nadécada de 1940:

    [...] E a data máxima dos homens de cor será condignamente comemoradaem todo o Brasil não só pelos descendentes das mães-pretas e dos pais-João [...](Lavoura e Comércio, 12/05/1945). 

    A Câmara Municipal de Uberaba, em 14 de maio de 1959homenageou os “homens de côr” em sessão especial promovida pelo Legislativomunicipal. Na ocasião, o dr. Homero Vieira de Freitas homenageou a princesaIsabel, e a Mãe Preta, na pessoa de uma senhora negra presente na sessão. 

    A figura da Mãe Preta passou a ser rememorada nos eventos da

    comunidade negra uberabense. No dia 13 de maio de 1978, às 20 horas, na praçaComendador Quintino (praça do Grupo Brasil), foi erigido um busto emhomenagem à Mãe Preta. A concepção do busto é de Hélio Ademir Siqueira eDemilton Dib.

    Em 1983 foi celebrada a primeira missa campal junto ao busto da MãePreta, pelo reverendo padre Eddie Bernardes.

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     Primeir a missa reali zada próximo ao monumento da Mãe Preta13 de maio de 1983 –  Fonte: Jor nal Lavoura e Comércio

    A partir da inauguração do busto, esse local passou a fazer parte do

    roteiro dos eventos do dia 13 de maio e ponto de parada obrigatória dos ternosde congadas, moçambiques, catupés, afoxé e vilão.

    General de congo Augusto Jul ianohomenageia a Mãe Preta,

    13 de maio de 1993

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     Nesse mesmo local, em 2003 foram prestadas homenagens  a MãePreta por dezoito ternos de congadas e moçambiques.

    Busto da Mãe Preta –  março de 2016

    Já faz alguns anos que os eventos para louvar e homenagear a MãePreta não são mais realizados em Uberaba.

    OS BAILES

    O objetivo deste capítulo é apenas dar referência sobre quando e ondeforam realizados os bailes e os grupos musicais e cantores que se apresentaram. 

    De acordo com a primeira informação encontrada, o baile do dia 13 demaio de 1913, organizado pelos “homens de côr”, foi no salão do Cassino

     Nacional.

    1918 –  o baile foi realizado no cinema Triângulo. De 1919 até 1928 não há informação sobre onde aconteceram os

     bailes.Em 1929 o jornal divulgou sobre a noite dançante:

    [...] Também o Club 7 de Setembro abrirá os seus salões aos amantes da dançarealizando mais um dos seus apreciados e concorridos bailes. (Lavoura eComércio, 12/05/1929).

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    1933 –  Escola de Farmácia e Odontologia, na rua Manoel Borges. 

    1935 –  no prédio nº 76 da rua João Pinheiro. 

    Os bailes eram bem luxuosos e de grande pompa, principalmente a

     parte musical:

    [...] ás 21 horas, grande baile comemorativo, nos salões da sede doSindicato dos Operários em Construção Civil, sendo as dansas abrilhantadas por

    duas grandes orquestras [...] (Lavoura e Comércio, 13/05/1939). 

    1941 –  Sede do Sindicato dos Operários da Construção Civil. 

    1945 –  Sede da Frente Negra Uberabense. 

    O jornal do final da década de 1950 informou:

    [..] A’ noite no Clube Recreativo e  Cultural Uberabense, realizou-se umanimado baile, abrilhantado pela orquestra de Aresky Cordeiro [...] (Lavoura eComércio, 14/05/1957). 

    De 1958 a 1961 –  Clube Recreativo Cultural. 1979 –  Associação Esportiva e Cultural. 1985  –  No Uberaba Tênis Clube a festa foi animada pelo excelente

    conjunto de ritmos o Som Especial 7. De 1992 a 1996 –  Uberaba Tênis Clube. E em 1996 a noite dançante

    foi animada pelo Maramba Show e Grupo Samba K. 1998 e 1999 –  Elite Clube de Uberaba. Em 1999 o baile foi animado

     pelo grupo de pagode Flor da Idade e teve a participação especial do cantorAntônio Reis. 

    2006 –  Elite Clube de Uberaba. 2010 –  Clube Sírio Libanês. 

    2011  –  Uberaba Tênis Clube; a banda Balaco, da cidade de RibeirãoPreto, foi a responsável pela animação da festa que contou também com a

     participação do DJ Renê. 2013 –  Sede da Unidade de Atenção ao Idoso (UAI). 2014 e 2015  –  Uberaba Tênis Clube. Em 2015 a animação do baile

    ficou por conta da cantora Dri Ribeiro e Banda. Desde que foi introduzido o baile nos festejos do 13 de Maio, ele

     passou a ser o encerramento de todas as festividades do dia, acontecendo à meia-

    noite a coroação dos festeiros para o ano seguinte.

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    ORGANIZAÇÕES NEGRAS E 13 DE MAIO (1890 A 1947)

    [...] Apenas alguns homens de côr percorreram naquelle dia as ruas dacidade á frente de uma banda de musica. [...] (Gazeta de Uberaba, 16/05/1892).

    Fica claro que desde a primeira referência encontrada nos jornaissobre o 13 de Maio, os negros tiveram participação determinante na execuçãodos eventos. 

    Podemos supor que junto com a igreja Católica, através do pároco edos fiéis, os negros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário tiveram papelimportante na organização dos festejos do 13 de Maio em Uberaba.

     Nos anos seguintes os “homens de côr” tomaram  a direção e aorganização dos eventos:

    [...] andou em passeata pelas ruas da cidade na noite de antehontem (13 demaio) uma comissão de homens de côr composta pelos srs. José Luiz da Cruz,Estevam Elisario de Magalhães, José Venancio da Costa e Arthur Mendes, tendo áfrente a excelente corporação musical Santa Cecília [...] (Gazeta de Uberaba,14/05/1908). 

    A partir de 1920 os negros criaram associações para defender seusinteresses e elas passaram a desempenhar papel importante dentro dos eventos

    do 13 de Maio:Em Uberaba, a data não passará desapercebida [...] á rua, varias associações

    tomarão parte na alegria geral e sobre todas elas as associações dos homens decôr, com seus festejos característicos darão a nota alegre e vivaz ao dia. (Lavourae Comércio, 12/05/1929). 

    Dez anos após, essas associações estavam ainda mais fortalecidas earcando com as despesas dos festejos: 

    [...] O aniversário da promulgação da Lei Aurea em Uberaba revelou queiriam acontecer importantes festividades na cidade, promovidas pelos elementosfiliados na Sociedade dos Homens de Côr. (Lavoura e Comércio, 12/05/1929). 

    Durante a década de 1930 foram criadas outras sociedades negras emUberaba: 

    Conforme o programa por nós publicado, a União dos Homens de Côrcomemorou brilhantemente a passagem do cincoentenario da Lei Aurea [...](Lavoura e Comércio, 14/05/1938).

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    A cada ano era demonstrado o crescimento e o envolvimento dessasassociações com o 13 de Maio: 

    Amanhã, data do 51º aniversário da promulgação da Lei Aurea que libertoutodos os escravos existentes no Brasil, vão ser realizadas importantes festividadesnesta cidade, promovidas por elementos filiados á Sociedade dos Homens de Côr.(Lavoura e Comércio, 12/05/1939). 

     Nas décadas de 1940 e 1950, a Frente Negra Uberabense vinculada àFrente Negra Brasileira, passou a ser mais uma das protagonistas para arealização das festas em comemoração ao 13 de Maio.

    A Frente Negra Brasileira foi uma das mais importantes entidadesafrodescendentes na década de 1930, no campo sociopolítico. Fundada em 16 desetembro de 1931, foi extinta em nível nacional em 1937.

    Porém, a Frente Negra Uberabense prosseguiu com as suas atividades por longo tempo.

    Frente Negra UberabenseComemorações religiosas e cívicas de 13 de maio de 1945ConviteApós a solenidade religiosa, os presentes deverão se encaminhar para a séde daFrente Negra Uberabense [...] Finalizando as comemorações haverá animadamatinée dansante. (Lavoura e Comércio, 13/05/1945).

    Em 1947 a Frente Negra Uberabense marcou presença nos festejos do13 de Maio:

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      [...] Reunidos na séde da Frente Negra de Uberaba ali fizeram-se ouvirvários oradores e foi servida uma lauta mesa de doces pela festeira [...] (Lavoura eComércio, 13/05/1947).

    Ao longo dos anos essas sociedades negras foram importantes e

    contribuíram muito para a realização das comemorações do dia 13 de maio emUberaba.

    Jornal Gazeta de Uberaba, de 12 de março de 1889: 

    Autor desconhecido

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    FONTES

    Jornais:

    Correio Católico (1961)Correio Uberabense (1880)Gazeta do Triângulo (1914 - 1915)Gazeta de Uberaba (1879 a 1915)Lavoura e Comércio (1900 a 2003)Jornal da Manhã (1973 a 2013)São Paulo e Minas (1895 a 1896 - ex Gazeta de Uberaba)

    Jornal de Uberaba (2002 a 2015)O Waggon (1884)

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    AZEVEDO, Célia Maria Marinho. Onda Negra Medo Branco: O negro no Ima- ginário das Elites - século XIX . Editora Paz e Terra S.A. –  Rio de Janeiro, 1987.

    BARMAN, Roderick. Professor catedrático aposentado da University of BritishColumbia (Canadá) e autor de  Princesa Isabel do Brasil: gênero e poder no

     século XIX (Unesp, 2005).

    CAMPOLINA, Alda Maria Palhares et ali.  Escravidão em Minas Gerais. BeloHorizonte, Secretaria do Estado da Cultura  –  Arquivo Público Mineiro/CopasaMG, 1988.

    CARVALHO, José Murilo de. O papel das religiões.  Como as igrejasinfluenciaram os movimentos abolicionistas nos EUA e no Brasil. A Era da

     Escravidão/Organizado por Luciano Fiqueiredo. –  Rio de Janeiro: Sabin, 2009.

    COSTA, Emília Viotti da. Da Senzala a Colônia. São Paulo, Difel, 1966.

    LACOMBE, Lourenceo Luiz.  Isabel, a princesa redentora:  biografia baseadaem documentos inéditos (Instituto Histórico de Petrópolis, 1989).

    LYRA, Maria de Lourdes Viana. Isabel de Bragança princesa imperial.  Revistado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ano 158 (Janeiro-março de 1997).

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     NADAI, Elza. NEVES, Joana. História do Brasil. Editora Saraiva, 1995.

    RONCADOR, Sonia. O Mito da Mãe Preta no Imaginário Literário de Raça e Mestiçagem Cultural. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, núm. 31,

    2008. Universidade de Brasília.

    SCHWARCZ, Lilia. O papel das religiões. Abolição como dádiva! Popular, aLei Áurea deu nova visibilidade à princesa Isabel e à Monarquia. A Era daEscravidão/Organizado por Luciano Figueiredo. –  Rio de Janeiro: Sabin, 2009.

    VIEIRA, Hermes.  Princesa Isabel  –   uma vida de luzes e sombras.  3a ed. rev.(Edições GDR, 1990).

    Endereços eletrônicos:

    http://www.historiadobrasil.net/brasil-monarquico

    (acessado em 24/11/2015)

    http://www.infoescola.com/historia-do-brasil

    (acessado em 24/11/2015)

    http://www.bn.br/noticia/2015/05/13maio

    (acessado em 25/11/2015)

    http://www.ultimosegundo.ig.com.br

    (acessado em 25/11/2015)

    http://www.scielo.br

    (acessado em 26/11/2015)

    http://jcnoticias.com.br

    (acessado em 26/11/2015)

    http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/lei_ventre_livre.htm

    ( acessado em 04/01/2016)

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_dos_Homens_de_Cor

    (Acessado em 16-03-2016)

    http://arquivo.geledes.org.br/atlanticonegro/afrobrasileiros/frentenegrabrasilei

    ra/11049-hoje-na historia-1931-80-anos-da-frente-negrabrasileira

    (Acessado em 16-03-2016)

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