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    ndice REVISTA FATALN3

    No oco6 Teatro Universitrio. Espaos de ensaio. Espaos

    de representaoTestemunhos de 15 Grupos de Teatro UniversitriosPortugueses

    Histrias de TU24

    GTIST 50 Anos28 NNT 15 Anos

    Cenrios30 O actor continua actor por Lucas Lins e Silva ACTOR E ENCENADOR BRASIL

    32 O desejo de azer teatro na Universidade por Zohra Makach PROFESSORA DE TEATRO MARROCOS

    Personae36 Mrio Srio Construo rigorosa de um sonho

    por Adlia Maria Martins Goulart EX-ACTRIZ DOGRUPO CNICO DA A.E.I.S.T.

    Ensaio40 Salvar o pas O reportrio nacional do FATAL de

    2006 a 2010 por Rui Pina Coelho INVESTIGADOR42 A ludoteca da vida: para um modelo autnomo de

    grupo no Teatro Universitrio por Ricardo Seia Salgado ANTROPLOGO44 Sobre os amantes do risco e a vocao artstica

    por Vera Borges INVESTIGADORA DO ICSUL

    Aplauso46 Premiados do Fatal2009 Entrevista aos premiados do 10. FATAL

    Ponto Textos Dramticos50 At Amanh! de A. Branco ENCENADOR E DRAMATURGO

    Em palco 11. EDIO DO FESTIVAL ANUAL DE TEATROACADMICO DE LISBOA

    60 E depois do Teatro? por Antnio Sampaioda Nvoa REITOR DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

    61 Ficar e lutarpor Joo Mota DIRECTOR DA COMUNA62 Cidadania, FATALmente por Andr Moz Caldas

    PRESIDENTE DA DIR. GERAL DA ASS. ACADMICA DA UL

    64 Homenagem a Jos de Oliveira Barata65 Jos de Oliveira Barata, homem central do teatro portugus

    contemporneo por Emlio Rui Vilar PRESIDENTE DA FUNDAO

    CALOUSTE GULBENKIAN

    67 Caminhos da memria teatral por Jos Carlos Alvarez DIRECTOR DO MUSEU NACIONAL

    DE TEATRO

    73 Compromissos, ticas e inquietaes estticas por Paulo Eduardo Carvalho DOCENTE DA FLUP

    PROGRAMA FATAL 2010

    80 16 Peas e 4 Peas Site Specifc120 7 Perormances122Instalao Urbana Trade Teatral123 7 Workshops1283 Conerncias130 ExposiesFotalidades IV131 Festa FatalEncerramento do Festival e Entrega de Prmios

    Outras Cenas134 Formao no Teatro O Bando

    por Joo Brites ENCENADOR

    Elencos136 Anurio de Teatro Universitrio Nacional

    Directrio de Grupos de Teatro Universitrio Portugueses

    Camarim142Prmios Fatal144 Regulamento do Fatal2010150 Fatal em nmeros

    152 Resumo da Programao154 Mapa Locais Fatais156 Agradecimentos

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    Editorial

    Na 11. edio do Festival Anual de Teatro Acadmico de Lisboa, armamos: ainda bem que existem noEnsino Superior Portugus, grupos de Teatro Universitrio (TU). Gostamos de ler os seus te xtos, de os ver, de os

    ouvir, de estar atentos aos desaos que nos lanam, s suas irreverncias que a nosso ver so ruto de mentes

    brilhantes, criativas, inovadoras conhecedoras.

    Continuamos com uma marca indelvel de responsabilidade, que em cada ano enuna a nossa vela em direco

    ao arol que nos guia na procura de rumos a destinos insuspeitos, desde que criativos e geradores de riqueza

    cultural. E, por isso, este desassossego, esta ogueira em que ardemos para responder, cada vez mais e melhor,

    aos nossos pblicos, parceiros, e, sobretudo, ao TU, pelo qual nos comprometemos neste projecto de contributo

    para o seu desenvolvimento, na convico de nos envolvermos numa cidadania interventiva, sabendo, todavia,

    estar dependentes de incgnitas num mundo cada vez mais adverso ao sonho de azer, sendo.

    E, no entanto, nesta delicadeza de uturos incertos, orgulhamos o TU de poder contar com Jos Saramago e

    Manoel de Oliveira, como membros honorrios da Comisso de Honra, num estival que avana para o investi-

    mento em espectculos com textos dramticos de lngua portuguesa. Nesta edio, 70% das representaes sode autores nacionais e, destes, 50% so cr iaes colectivas dos grupos! Um caminho ambicionado pela Rei toria

    da Universidade de Lisboa, que tutela e organiza o Festival.

    E caminhando ad lucem, esta edio prospera no nmero e diversidade de Workshops e Conerncias. Nestas,

    a realar a participao de Stean Kaegi, encenador suo e uma das maiores guras do teatro documental

    internacional, passando por Zhora Makach, dramaturga, encenadora e proessora de teatro na Universidade Ibn

    Zoh de Agadir, at Nelson Guerreiro, docente e membro do Grupo de Investigao em Artes e Estudos Cnicos na

    Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rai nha. Nos workshops percorrem-se, por Lisboa, temticas to

    interessantes como os nomes que os animam: Lus Guerra, Vera San Payo de Lemos, Pedro Marques, Manuela

    Carvalho, Daniela Di Pasquale, Ana Limpinho e Rui Guilherme Lopes. Neste domnio da ormao em artes

    perormativas, atravs de Joo Brites, director do Teatro O Bando e nosso companheiro de viagem, podemos

    acompanhar a dimenso da ormao que, emFatal Outras Cenas, se tem encarregado de ornecer, e j l vo

    trs edies, em residncias de ns-de-semana, no seu espao.

    Continuamos a perseguir o propsito de conrontar o TU portugus com o que se az l ora, este ano, com

    espectculos de quatro grupos oriundos de Marrocos, Brasil e Espanha - e, vindos da, em Cenrios, do-se

    testemunhos sobre os contornos e o modus vivendi de algumas dessas realidades, nas palavras de Zhora Makach

    e de Lucas Lins e Silva, actor e encenador do Rio de Janeiro. No multicultural Fatal, a par dos espectculos,

    insistimos em desaar Lisboa com as perormances ambicionando incitar o seu cultivo, como produto regular

    da oerta cultural da nossa cidade. Aproximando-nos da realidade do TU portugus apresentamos no Foco

    os depoimentos de quinze grupos, oriundos das mais dierentes regies e instituies de Ensino Superior, em

    torno das suas condies de trabalho. Celebramos, em Histrias de TU, os resistentes e largos anos de histrias

    e memrias testemunhadas pelo GTIST e NNT.

    EmEnsaio, registam-se os contributos relevantes para o TU. Figuras como Rui Pina Coelho, investigador do

    Centro de Estudos de Teatro da FLUL, escreve acerca dos reportrios nacionais do Fatal; Ricardo Seia, antro-

    plogo do ISCTE, aborda o papel or mador do TU e, ainda, Vera Borges, investigadora do Instituto de Cincias

    Sociais da UL, que se debrua sobre pers inerentes escolha da prosso de actor.

    A vnia a Mrio Srio, ex-encenador do GTIST, dramaturgo e crtico de teatro, que recentemente nos deixou,

    realada emPersonaepela mo de Adlia Maria Martins, antiga aluna da FLUL e ex-actriz.

    Inauguramos o espaoPonto. Textos Dramticos, comAt Amanh!de A. Branco, escritor, encenador, e drama-

    turgo. O texto, ainda no publicado, oi j distinguido.

    A vnia, incontornvel, ao homem que nos iluminou, em 2009, com o seu livroMscaras da Utopia - Histria de Teatro

    Universitr io Portugus, 1938|74, para alm do que tem dado de notvel ao Teatro Portugus. Realizada atrav s de textos

    de Emlio Rui Vilar, Presidente da Fundao Calouste Gulbenkian, de Carlos Alvarez, Director do Museu Nacional do

    Teatro, e de Paulo Eduardo de Carvalho, docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigador

    do Centro de Estudos de Teatro da FLUL.

    E no chegando ao m, altura de vos deixar o desao de percorrer a cidade desvendando o Programa Fatal,

    acompanhado do irrecusvel convite para que v at ao Teatro da Comuna e aos locais dossite-specic, de 6

    a 23 de Maio.

    Fatal participar, tornando Lisboa num centro de excelncia do Teatro Universitrio, a capital que se pretende

    apimentar de Arte, de Juventude e de novas Experincias.

    Queremos subir, saltar, azer girar a cadeira FATAL e, depois,

    num dia qualquer, sentarmo-nos a olhar Lisboa, sem ansiedade.At sempre.

    Isabel Maana Bruxo 541 in Programa Fatal 2010, pg.60

    4

    FICHA TCNICA

    REVISTA FATAL

    Direco Isabel Maana Bruxo | Coordenao EditorialMarisa Costa | Editores Isabel Maana Bruxo, Marisa Costa,Rui Teigo | Reviso e edio de contedos Isabel Maana Bruxo, Dinis Costa, Janine Martins (estagiria), JoanaCarvalho (estagiria FLUL), Marisa Costa, Marta Azevedo, Rui Teigo | Colaboram neste nmero A. Branco, AdliaMaria Martins Goulart, Ana Isabel Augusto, Andr Moz Caldas, Antnio Sampaio da Nvoa, CITAC, Cludia Conscincia,Emlio Rui Vilar, GEFAC, GrETUA, GTIST, GTMT, Joo Mota, Joana Sobral, Jos Carlos Alvarez, Laura Morgado, LucasLins e Silva, Ndia Sales Grade, NNT, Nuno Matos, Paulo Eduardo Carvalho, Piratautomtico, Ricardo Seia Salgado,Rui Pina Coelho, S.O.T.A.O., Susana Antnio, Teatro Andamento, Teatro da UITI, TEUC, Vera Borges, Zohra Makach

    | Fotograas e Ilustraes Agradecemos a Alpio Padilha, Ana Rojas, Bruno Vilan, Catarina Vasconcelos, CarlosMuralhas, Carlos Palma, Fbio Barral, Joo Caseiro, Joo Miguel Henriques, Jorge Baptista, Jorge Duque, Jos de OliveiraBarata, Lus Boal, Mrio Chainho, Marta Covita, MEF, Museu Nacional do Teatro, NUSI, Raaela Bidarra, SrgioCarvalho, Tnia Arajo, Tiago Duarte | Projecto Grco e Coordenao Joana Hartmann | Paginao e GrasmosNilza Paraba | Capa e Contra-CapaJoana Hartmann

    Proprietrio, editor e redaco Reitoria da Universidade de Lisboa > Alameda da Universidade, 1649-004 Lisboa NIF 501535 977 | Registo Anotado na Entidade Reguladora para a Comunicao Social | Depsito LegalN 275380/08PeriodicidadeAnual | Tiragem1.000 exemplares | Impresso Jorge Fernandes, Lda > Rua Quinta do Conde de MascarenhasN9, Vale Fetal 2825-259 Charneca Caparica

    FATAL 2010 11. FESTIVAL ANUAL DE TEATRO ACADMICO DE LISBOA

    INICIATIVA, ORGANIZAO E CONCEPO DE PROJECTO> Reitoria da Universidade de LisboaDiviso CulturaL da DRE |Direco InstitucionalAntnio Sampaio da Nvoa |Direco e Superviso Isabel Maana Bruxo|Coordenao-Geral Marisa Costa, RuiTeigo |Produo ExecutivaDinis Costa, Janine Martins (estgio), Joana Carvalho (estgio FLUL), Lara Carvalho e Marta Azevedo |Apoio ProduoAna Pinto Basto, Patrcia Santos|Programao Isabel Maana Bruxo, Janine Martins (estgio), Marisa Costa, Rui TeigoSeleco de Espectculos Rui Teigo (coordenao), Janine Martins (estgio), Liliana Abreu (ESMAE-IPP)| Patrocnios, Parcerias eApoios Isabel Maana Bruxo, Lara Carvalho, Marisa Costa, Marta Azevedo, Rui Teigo |Coordenao Tcnica e Logstica de GruposTeatrais Janine Martins (estgio), Lara Carvalho, Rui Teigo |Promoo e Divulgao Marta Azevedo, Dinis Costa (apoio)|Assessoriade Imprensa do Fatal 2010 Ndia Sales Grade (coordenao), Joana Sobral|Assessoria de Imprensa da RULAntnio Sobral|Imagemdo Festival (otograa) Jorge Duque (MEF) |Conceito e Design Grco Joana Hartmann |WebdesignFilipa Machado (www.atal2010.ul.pt), Dinis Costa (edio de vdeo) |SpotSamuel Andrs |JingleDinis Costa |Registo Videogrco Associao Cultural O ElementoIndesejado |Registo Fotogrco MEFMovimento de Expresso Fotogrca | Impresso dos Materiais Grcos Crmia, Correia Cor,Jorge Fernandes, Lda|Equipa TcnicaBruno Correia, Joo Dias (estgio Restart), Jos Manuel Marques, Ruben Almeida (estgio Restart)|Relaes Pblicas e Frente de CasaAlexandra Sousa (estgio Restart), Catarina Dias (estgio Restart), Vnia Gil (estgio Restart)

    INSTALAO URBANATRADE TEATRAL>Coordenao do Projecto Joo Duarte (FBAUL)|Concepo, Realizao e MontagemAna Gorgulho (FBAUL), Baiba Sime, Hugo Maciel, Mar ia Simes (FBAUL) |Agradecimentos FBAUL, Seco de Investigao e deEstudos Volte Face - Medalha Contempornea da FBAUL |Concepo dos Trous Andreia Pereira (FBAUL), Catarina Alves (FBAUL),Ricardo Manso (FBAUL) |Execuo dos Trous Gravarte Gravadores EXPOSIO FATALIDADES IV>Projecto e Produo MarisaCosta, Lus Rocha (MEF), Rui Teigo, Tnia Arajo (MEF) MOSTRA BIBLIOGRFICA>Projecto e Produo Museo Nacional do Teatro

    JRI DOS PRMIOS>Ruy de Carvalho,Presidente Honorrio|Tiza Gonalves, Directora de Produo do Teatro Municipal So Luz,em representao da Cmara Municipal de Lisboa |Antnio Pedro, Coordenador da rea de Desenho d a FBAUL |Ana Laura Santos,Proessora de Teatro Mestranda em Artes Perormativas-Interpretao na ESTC | Joo Andr, Actor |Paula Diogo, Actriz |lvaroEsteves, Associao Acadmica da UL |Heliana Vilela, Directora Regional do IPJ |Diego Barros, Representante do Centro de Estudosde Teatro da UL |Paulo Morais, Docente da ESTC

    GLOSSRIO>DCDiviso Cultural | DRE Departamento Relaes Externas | ESTCEscola Superior de Teatro e Cinema do InstitutoPolitcnico de Lisboa | ESCSEscola Superior de Comunicao Social do Instituto Politcnico de Lisboa | FBAULFaculdade de Belas

    Artes da Universidade de Lisboa| FDUL Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa | FLUL Faculdade de Letras da Universidade deLisboa | IPJInstituto Portugus da Juventude | MEFMovimento de Expresso Fotogrca | RESTART Escola de Criatividade e NovasTecnologias| RULReitoria da Universidade de Lisboa | UL Universidade de Lisboa

    11 Festival Anual de Teatro Acadmico de Lisboa2010

    As opinies, pontos de vista e inormaes constantes dos textos publicados so da responsabilidade dos respectivos autores.

    ESTATUTO EDITORIALO Festival Anual de Teatro Acadmico de LisboaFATAL, uma organizao da Reitoria da Universidade de Lisboa, tem vindo a desem-penhar um papel de crescente importncia no mbito do Teatro portugus, nomeadamente, no contexto do Teatro Universitrio. Nestesentido, a Reitoria da Universidade de Lisboa sentiu-se incentivada a criar e editar a Revista FATAL, uma publicao anual nacional detemtica cultural dedicada ao Teatro, Teatro Universitrio e s Artes Perormativas. Tendo por objectivo central a divulgao destas artes,e dos seus agentes, no nosso pas, a Revista FATAL destina-se ao pblico jovem e universitrio, a pessoas ligadas rea teatral e artesdo espectculo e ao pblico em geral | A Revista FATAL publicar artigos dedicados refexo, ensaio, opinio, entrevistas a personali-dades ligadas ao meio e outros artigos de divulgao no mbito da temtica da revista, e elaborados por colaboradores convidados. Estapublicao uncionar, simultaneamente, como programa do FATAL, apresentando e divulgando as diversas iniciativas que compemcada edio do Festival, bem como outros eventos inseridos no mbito do Festival Anual d e Teatro Acadmico de Lisboa. A periodicidadeser anual, com publicao no ms de Maio.

    A criao tudo. O resto, quase nada. No teatro juntam-se todas as ormas de expresso. E todas as vidas.Passadas e uturas. Aqui, imagina-se. E abre-se a experincia de cada um innidade dos possveis.No teatro podemos ser quem somos. No precisamos de ngir o que no queremos ser.1

    Antnio Sampaio da Nvoa

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    No oco TEATRO UNIVERSITRIO ESPAOS DE ENSAIO ESPAOS DE REPRESENTAO

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    Teatro UniversitrioEspaos de ensaioEspaos de representao

    O FATAL convidou vrios gr upos de Teatro Universitrio Portugueses a escrever umbreve testemunho sobre o tema Ensaios, produo e apresentao dos espectculosdo grupo: espao, meios logsticos e equipamento. O conjunto de textos recebidos,e aqui publicados, permitem visualizar um retrato das condies de trabalho de gru-pos de teatro de dierentes locais do pas.

    Paisagens Incompletas 2.A CircularTearte Encenao de Tiago Vieira, 2009

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    No oco TEATRO UNIVERSITRIO ESPAOS DE ENSAIO ESPAOS DE REPRESENTAO

    GEFACUniversidade de Coimbra

    O Grupo de Etnograa e Folclore de Coimbra umorganismo autnomo da Associao Acadmica deCoimbra (AAC), undado em 1966, instalado norelevante espao que o edicio da AAC.

    Classicado como imvel de interesse pblico peloIPPAR, este edicio continua a acolher as diversasseces culturais e organismos autnomos daAAC, e a que o GEFAC usurui de algumas salasundamentais para a prossecuo da sua actividade:a sala da sede, uma sala de reunies, uma sala de

    ensaios de teatro e dana, e uma sala de ensaios demsica e de armazenamento de material (cenrios,instrumentos e outros).

    As salas de que o GEFAC dispe para a realizaode actividades de administrao e organizao so,simultaneamente, as salas em que es to guardadosos arquivos e o acervo do GEFAC. Nestas, dispomosde todos os meios e condies indispensveis realizao das tpicas tareas de gesto.

    J as salas de ensaios so de dimenses muitasvezes insucientes. Frequentemente, essa limitaos superada com o apoio de outros organismos,como o Crculo de Iniciao Teatral da Academiade Coimbra (CITAC), e o Teatro de Estudantesda Universidade de Coimbra (TEUC), os quaisdispem, ao contrrio do GEFAC, de uma salaonde possvel apresentarem os seus espectculos,situada no edicio da AAC. O acto de nobeneciar de uma inra-estrutura desse tipo limitarancamente o GEFAC, que depende de outrem,no s para ensaiar, como para apresentar os seus

    espectculos na cidade de Coimbra.

    Outros espaos de que o GEFAC poderia,teoricamente, beneciar oram dedicados a outrasutilizaes, que convm ao bom uncionamentodo edicio e a todos os que nele trabalham.Alis, um dos problemas que h muito se vemsentindo no edicio o da carncia de espaopara acolher o grande nmero de actividadesque se desenvolvem no mbito da AAC, a qualvem impondo uma reorganizao interna.

    Acresce que o edicio da AAC tem sido transormadonumambientedetrabalhomaishostilparaosorganismose seces, em virtude da instalao no edicio, dedois bares explorados com nalidades tipicamentecomerciais e nos mesmos termos que qualquer barde horrio nocturno alargado. Estes acarretaram,alm da esperada afuncia da comunidade estudantil(ao edicio, no necessariamente s associaes),problemas de rudo (que impede ou diculta a realizaode ensaios e espectculos), problemas de segurana (queoriginam a adopo de medidas que oneram os que

    utilizam o edicio para realizao das suas actividades)e ainda problemas resultantes da afuncia em massa depessoas em determinados dias de semana (que dicultaa utilizao das instalaes, no s no prprio dia, massobretudo na manh seguinte...).

    Quanto s demais condies logsticas, as necessidadesdo GEFAC vo sendo satiseitas com recurso aos undosprprios do organismo, medida que vo surgindo.Esses undos, porm, so escassos, j que se trata de umaassociao sem ns lucrativos, em que a maior partedos apoios e subsdios de que benecirio no cobretipicamente as despesas de natureza logstica.

    Sala do GEFAC no edicio da AAC

    X-ActoFaculdade de Psicologia e Cinciasda Educao da Universidade doPorto

    Sem espao para ser!Por Laura Morgado

    Os entraves ao teatro universitrio e do nossogrupo especicamente prendem-se com questesque ultrapassam os obstculos sicos. Mais doque no termos um espao para estar, no temosum espao para ser!!!

    Podamos alar da sala dos ensaios ser peque-na, das ormas de divulgao serem escassas,da logstica no ser assegurada, mas estasno so as principais acas da amputao doteatro e da sua expanso. Estas partem dedentro, dos prprios intervenientes.

    O teatro universitrio, pedindo licena aoteatro dito prossional, assume, de umaorma pedinte, as suas ormas. Ora aquireside o problema, convictos de que a im-permeabilidade de uma pea de teatro abonatria da sua qualidade, agarram--se erudio como bandeira que satis-az apenas uma elite. O teatro, e o teatrouniversitrio especialmente, deveria sereito para todos, deveria refectir osproblemas reais dos estudantes, daspessoas, do mundo, como manda a tra-dio dramatrgica e a ora crticaque sempre caracterizou o meio estu-dantil. Nada disto acontece, em nomede uma qualidade tcnica e de umaintelectualidade que s alguns perce-bem. Estes ltros tm vindo a este-rilizar o que de mais genuno h nacriatividade, que se deve expandircom a coragem de assumirmos umaidentidade. Os pintores no pintampara quem percebe de pintura, oscantores no cantam para quemsabe cantar e ns no deveramosazer teatro apenas para quemsabe de cor Shakespeare ou per-cebe de dico, porque o teatro para ser sentido e no para seranalisado.

    Corpo Presente Encenao de Lara Morgado, FATAL 2007

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    No oco TEATRO UNIVERSITRIO ESPAOS DE ENSAIO ESPAOS DE REPRESENTAO

    TUPUniversidade do Porto

    Por Nuno MatosACTOR

    Aos 62 anos, o TUP encontra-se privado de instalaes capazesde receber as suas habituais actividades, precisamente porque ascondies de degradao do edicio que nos servia de sede, espaode ensaios, arquivo e escritrio, atingiram propores verdadeira-mente incontornveis.

    O prdio que ocupamos h cerca de dez anos, e que propriedadeda Reitoria da Universidade do Porto, apresenta srios problemas

    de humidade, provocados por um telhado parcialmente destrudoe que levaram destruio de tectos, soalhos e paredes. Por essarazo, o TUP v-se obrigado a recusar propostas de workshops epedidos de cedncia das suas salas para ensaios uma actividadeque nos permitiria apoiar outros grupos universitrios e com-panhias prossionais do Porto.

    Alertados para esta situao, os responsveis da Reitoria pare-cem no saber dar uma soluo a este problema. A diculdadeem encontrarem um espao alternativo que nos oerea as devi-das condies de trabalho oi colmatada com a cedncia de duassalas de aula no edicio do curso de comunicao da Faculdadede Letras. Estas salas, obviamente, no renem essas mesmascondies, e s podem ser encaradas como uma soluo mera-mente temporria.

    Por outro lado, e como qualquer outro grupo de teatro universi-trio, o TUP lida todos os anos com a diculdade em encontrarum recinto para apresentar os seus espectculos. Os preospraticados pelas salas de espectculo so incomportveis parauma companhia desta natureza e, para alm disso, os gruposdedicados a actividades culturais na Universidade do Porto teatro, msica, canto coral e olclore partilham a mesmaalta de uma aula magna que recebesse as suas produes.

    Neste aspecto, importa reerir que o Teatro do Campo Alegre,undado pela Cmara do Porto e pela Reitoria da Universi-dade do Porto, serve quase exclusivamente o grupo de teatroali residente quando, e segundo um responsvel da prpriaReitoria, devia acolher as mais diversas actividades acad-micas.

    Inelizmente, o teatro universitrio continua a ser olhadocom desconana e pouca credibilidade, quando, na verdade,j h muito deixou de ser uma simples actividade extra-cur--ricular para pequenos grupos de alunos curiosos. O pro-blema assume contornos mais srios quando esta alta decredibilidade se az sentir nas reitorias das respectivas uni-versidades e em outros organismos e prossionais do meioteatral.

    O Teatro Universitrio do Porto continua a apostarem espectculos de qualidade, apoiado no trabalho deprossionais das mais dierentes reas como encena-dores, tcnicos de luz e som, cengraos, gurinistase msicos. dicil, porm, alcanar o nvel deseja-do quando no existem salas de ensaio com as con-dies mnimas de trabalho e quando se produz umespectculo sem a certeza de uma sala onde o apre-sentar.

    undamental esta discusso sair do universo univer-sitrio e assumir, de uma vez por todas, a dimensomeditica que merece. O teatro universitrio conti-nua a representar um antstico ponto de partida

    para muitas carreiras no mundo do espectculo etambm por isso, essencial pugnar pela sua sobre-vivncia. Essa sobrevivncia depende das condiesde trabalho, e essas condies de trabalho dependemda orma como pretendemos lutar por elas.

    Grupo de TeatroMiguel TorgaFaculdade de Cincias Mdicasda Universidade Nova de Lisboa

    No meio de um anteatro uma mesa enorme.Mos, juntas, carregam-na. E criam um palco.Ser membro de um grupo de teatro amador ser actor, produtor, encenador... ter um sonho elutar por ele.

    A luz acende-se. Silncio, o espectculo vai comear.

    Inicialmente, denimo-nos como grupo de teatroda Faculdade de Cincias Mdicas. A maior par tedos nossos membros continua a ser de Medicina,sendo o mote Humanizar a Medicina atravs daArte. No entanto, a amlia oi crescendo, abri-mo--nos a todas as pessoas que queiram entrar.H uma mistura muito ecltica, j por c passa-ram pessoas de Engenharia, Matemtica, Cinema.H uma grande tendncia para a aproximao daCincia ao Teatro. Por um lado, um hobby. Poroutro, tentamos ser multiacetados, criativos,fexveis, apaixonados pelo palco. Diletantes sim,mas com responsabilidade de dar o nosso melhor, Cincia e Arte.

    Muitos dias, estamos porta, espera que mais umaaula do curso de Medicina acabe. Imaginem um ante-atro de aculdade. Imaginem 120 cadeiras azuis. Umamesa de madeira gigante. Ensaios que s s o possveisporque um anjo da logstica, vulgo D. Isabel, az trocas emais trocas para termos o nosso espao liberto. E porquesomos muitos e muitos braos a tirar a enorme mesada sala, quando essa aula nalmente acaba. Possveis,tambm, porque temos pblico em todas as peas sentadonessas cadeiras azuis, porque sem a ajuda nanceira danossa bilheteira seria muito dicil continuar. Patroc-nios so cada vez menos, nestes tempos. Neste ponto,um muito obrigado Fundao Calouste Gulbenkian porcontinuar a acreditar em ns.

    Um dia, acrescentam-nos uma nova la de cadeiras rente do anteatro, no nosso palco. O nmero de alu-nos de Medicina aumenta de ano para ano, a verda-de. Tiram-nos um metro ao palco j inicialmente muitopouco proundo. Que azemos ns? Inventamos um palconovo, que se eleva acima das cadeiras. Um que tem que sermontado, uma semana antes de cada estreia. Uma novadiculdade pode surgir a cada momento. Focos que se un-dem nos 5 minutos anteriores ao incio da pea. Figurinosque se descosem. Elementos multimdia que teimam emno uncionar. Os actores desdobram-se em gurinistas,cengraos, tcnicos de som e luz, tesoureiros. No h tem-po a perder. Amadores, sim, mas com responsabilidadesmltiplas.

    Por vezes ainda nos dizem que teatro brincar, que deva-mos estudar. Mas ns j no ouvimos. Sabemos que mui-to mais do que isso o que nos az estar l todas as s emanasa sermos mais do que ns mesmos, a estarmos num grupoque acredita que h mais nos mdicos do que Medicina.

    Poucos recursos? Check. Espao diminuto? Conrma-se.

    Reutilizao de materiais? Sempre! Criatividade e inova-o? Sem limites!

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    No oco TEATRO UNIVERSITRIO ESPAOS DE ENSAIO ESPAOS DE REPRESENTAO

    TEUCUniversidade de Coimbra

    No TEUC cheira a complicao alar-se de espaos novos e emexcelentes condies. O espao, com o seu qu de degradao,alberga todos os dias duas dezenas de pessoas - ora extras - hj alguns anos.

    Um espao que se mede com ps e algumas mos que, de dia paradia, se vai comeando a degradar, cada vez mais.

    O nosso Teatro de Bolso, como lhe chamamos, no rico emequipamento, o que ainda existe est gasto e provoca muitasvezes partidas desagradveis o que nos leva a recorrer, siste-

    maticamente, a alguns emprstimos de equipamento a com-panhias teatrais que esto em melhores condies do que ns.Os ensaios tambm no so coisa cil, pois o nosso cantinhotem como morada a Associao Acadmica de Coimbra ondea poluio sonora -oriunda de bares transormados em disco-tecas que, outrora l plantados, tinham apenas a uno deservir seces e organismos, e que hoje so o centro da noiteda cidade, - abunda em muito, o que az com que haja grandediculdade em trabalhar.

    Os espectculos so mais um problema, no s para ns queazemos teatro, mas tambm para os tais bares/ discotecasque perdem, a muito custo, algumas horas de msica a de-cibis acima do normal. com entraves que se pedem, poravor, 2 horas de silncio e que elas realmente acontecemsem um coro de undo composto por msica rock, house ouelectrnica.

    Falar de digresses no TEUC, implica alar de utopia - elasno existem. muito complicado az-las, os undos somuito poucos e os que existem tm que sustentar o orga-nismo, garantindo-lhe uma continuidade, o que implica

    assegurar um curso de ormao de 2 em 2 anos, compostopor diversos workshops. Este curso de ormao tem comoobjectivo ormar teuquinhos durante 1 ano para que,depois, e se or do seu interesse, passarem a ser teuces,passando, assim, por votao, a azer parte da direco ecando o organismo nas suas mos.

    As produes dos espectculos tambm constituem umproblema, mas desta vez um problema divertido. Somossempre ns que tratamos das produes e de tudo o resto:podemos estar a azer trabalho de actor, de produoe, de vez em quando, em ensaios, a operar som ou luz.

    No temos uma equipa de produo xa, se preci-

    so comprar um gurino, vai compr-loquem tiver mais tempo, pois somos to-dos estudantes e as horas mortas numdia so muito poucas, j no alandodas que passamos a tratar de assuntosda direco ou de problemas burocrticoscontraproducentes que surgem como obs-tculo ao nosso trabalho.

    Depois de todos estes problemas espao,ensaios, espectculos, digresses e produ-

    es resta acrescentar que, para todos nsque vivemos neste espao, as horas que aquipassamos, apesar de todos os contras, so asmelhores do nosso dia.

    GrETUAUniversidade de Aveiro

    O espao do GrETUA situa-se no campus universitrio,num pavilho junto entrada Norte da Universidade deAveiro.

    O elemento principal do espao a sua caixa negra e opalco com 7 metros de largura e aproximadamente 21metros de proundidade. Existe o equipamento bsico deproduo de espectculo: mesa de luz, projectores, mesade som e panejamento. A idade do equipamento javanada, sendo que, de momento, o grupo depara-secom alguma diculdade a nvel de manuteno, tendo

    mesmo algum equipamento que no pode ser usado (porexemplo, alguns projectores sem lmpadas).

    No espao existe uma bancada de exterior, cedida pelaCmara Municipal, o que no permite dar o melhorconorto aos espectadores.

    O GrETUA depende directamente da AssociaoAcadmica da Universidade de Aveiro (AAUAv) emtermos logsticos e nanceiros. As produes so,assim, planeadas de acordo com um plano de acti-vidades e oramento, devendo este ser aprovadoem Assembleia Geral de Alunos. Isto leva a queas diculdades nanceiras da AAUAv se refictam,directamente, no nanciamento disponvel paraas actividades do grupo.

    A reutilizao de materiais e de gurinos de pro-dues antigas uma prtica corrente, sendo que,por vezes, as produes s se tornam possveiscom a ajuda e o emprstimo de elementos cnicosde outros grupos da cidade.

    Teatro AndamentoEscola Superior de Enermagem deCalouste Gulbenkian

    Teatro Acadmico - um desafo

    Boa noite, D. Otlia. C estamos, para mais um ensaio.Meninos hoje s at as 22h30. Tem havido queixasdos residentes, por causa do barulho. E para a semanaa sala est ocupada!

    Na antiga Escola Superior de Enermagem deCalouste Gulbenkian, actual plo da Escola Superiorde Enermagem de Lisboa, a sala polivalente acolhe-

    nos desde h 7 anos. Incorporada no edicio da Re-sidncia de Estudantes, a criao obedece hora desilncio estipulada.Despida de qualquer objecto Andamento, por serusada para aulas dinmicas e pela Tuna da escola,cabe-nos tornar aquela sala acolhedora, nossa, emcada dia de ensaio.Num armrio cabem algumas maquilhagens, sapa-tos, tecidos e roupas. atravs da Associao de Estudantes que obtemosalgum dinheiro, que normalmente investimos emperodos de ormao. Esta uma escolha valiosaque azemos todos os anos, e que nos tem trazidoexperincias abulosas, com actores e actrizes dospalcos portugueses.Cada gurino, cada cenrio tem sido possvel pelocontributo de amigos de entre eles a Ana Limpinho- de amiliares, da escola, das casas e dos roupeiros decada um de ns cada espao, cada pea, amiliara quem o vem ver. Directamente, ou no, temos mile uma pessoas a permitir-nos viver a experiencia demostrar com orgulho o que nos az bater o coraodurante meses.Numa das apresentaes, um pai exclama, porentre o pblico:

    Nestas alturas, a nossa casa ca sempre maisvazia! Cada passo um desao.

    Fica sempre a vontade de ir mais alm. De conse-guir mais e melhor.De enriquecer, engrandecer a alma que pomos emcada criao que surge.

    PoPo Encenao de Pedro Malacas, FATAL 2009

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    No oco TEATRO UNIVERSITRIO ESPAOS DE ENSAIO ESPAOS DE REPRESENTAO

    CITACUniversidade de Coimbra

    Quando entramos num grupo de teatro universitrio e nosapresentam uma sala como sendo nossa, parece mentira. NoCITAC assim. O Teatro-Estdio a sala de ormao e deensaios, depois transorma-se em sala de espectculos, dereunies, de concertos, de estas e de tudo o que or preciso,ganha outra vida. Temos tambm a sala de direco que al-berga os gurinos, os arquivos e o nosso espao de trabalhoadministrativo. Existe uma enorme alha de material de luz esom no CITAC, a vontade de o equipar enorme e uma dasnossas lutas, mas os apoios esgotam-se nas produes. Hmuitas alhas tcnicas e logsticas, sim, e estamos ao lado

    de uma Associao Acadmica com 120 anos que podiaajudar em algumas coisas, como por exemplo, arranjar osistema elctrico que muitas vezes teima em alhar; podiaajudar cedendo uma das suas carrinhas quando temos di-gresso; podia ajudar quando temos ensaios e o bar, que setransorma em discoteca, perturba com o seu barulho. Masno. Tecnicamente, podemos dizer que no temos nada, oumelhor, muito pouco. Do legado, resta uma teia decien-te, uns projectores de luz muito antigos, um bendito parde colunas, um amplicador restaurado, um leitor de CDmoribundo. Mas, agora, temos um computador e um pro-jector de vdeo novos, uma aquisio eliz do ano passado.

    Com isto no montamos um espectculo. Como azemos?

    No sabemos bem como, improvisamos e vo aparecendosolues: podemos sempre contar com a Federao Cul-tural de Coimbra, a Ma, que nos cede o material de luze som antes dos espectculos, e aparece algum que queracompanhar o nosso trabalho e que ca na operao deluz ou de s om, algum que chega muito tempo antesdo espectculo e que ca a azer rente de sala, algumque at tem uma mesa de som e nos empresta e que,por acaso, at vem passar uns discos nas nossas estas.

    Mesmo assim, conseguimos superar as limitaes coma vontade que temos de experimentar e aprender. En-tre cada curso de iniciao, investimos em novas or-maes e novas produes, com o que temos. E o quetemos o CITAC - que somos ns. Ns somos o corpodo CITAC. No prximo ms de Novembro entraromais 20 corpos que sentiro o espao e a sua his-tria. Temos diculdades, obstculos e alhas, mastambm temos paixo, orgulho e muitos Amigos.

    Reality Show Encenao de Vvoitek Ziemilski, FATAL 2009

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    No oco TEATRO UNIVERSITRIO ESPAOS DE ENSAIO ESPAOS DE REPRESENTAO

    PiratautomticoEscola Superior de Educao eCincias Sociais de Leiria,Instituto Politcnico de Leiria

    O Piratautomtico mantm-se numa ddiva, anima-do pelo vnculo aectivo e projecto artstico dos seuselementos. Contamos com o apoio da Associao deEstudantes da ESECS e da Federao Acadmica deLeiria a sua sensibilidade, revelada no acompanha-mento do nosso trabalho, tem sido muito importante.Devemos ainda mencionar O Nariz, Teatro de Grupode Leiria, e a Biblioteca de Instruo Popular de Vieirade Leiria, que disponibilizaram espao para a realiza-

    o dos ensaios mais complexos.

    GTISTInstituto Superior Tcnico,Universidade Tcnica de Lisboa

    com muito amor e dedicao que se consegue,por tantos anos consecutivos, produzir e apresentarespectculos ao pblico, em tantas ocasies com maisdo que um projecto por ano.

    O verdadeiro e mais valioso patrimnio do GTIST esta ora, que tem estado sempre presente ao longo dosanos e que empurra, ora a continuar, obriga-nos a dar.

    Assim tem sido para tantas pessoas que aqui j partilha-

    ram o seu tempo, a sua palavra e o seu corpo, dedicados aazer continuar o GTIST, motivados para o azer avanarpara uma experincia nova.

    O GTIST tem ao seu dispor, por cedncia da Associao deEstudantes do IST, da qual azemos parte com o estatutode Seco Autnoma, uma sala para uso prprio que temsido, ao longo dos anos, utilizada para as mais diversasnalidades inerentes ao uncionamento bsico de um Gru-po de Teatro. A Associao de Estudantes, atendendo necessidade undamental para o GTIST, da utilizao per-manente de um espao, assentiu em ceder-nos este pequenoterritrio de cerca de 70m2, para que houvesse um grupode jovens dedicados a esta actividade.

    A nossa pequena caixa utilizada para ensaios e apre-sentaes de espectculos, mas tambm para armaze-namento de meios tcnicos e gurinos, arquivo, reu-nies de trabalho, organizao de eventos, workshopse Cursos de Expresso Dramtica (tambm estes comapresentao de exerccios nais com pblico).

    O espao encontra-se dividido em 3 seces, cen-

    trais ao uncionamento do grupo, das quais: umarea de cerca de 6x6 metros, revestida por linleo destinada a espao de ensaio ou de cena. Resta,portanto, apenas metade da sala disponvel parao pblico, meios tcnicos, arrumos e tudo o maisque tem que coexistir, echado aos olhos de quem,numa noite qualquer, se senta numa cadeira paraassistir a um espectculo.

    Deste modo, cada apresentao eita para umpblico muito reduzido, que ca extremamenteprximo de um espao de cena em que a exposi-o total: no h pontos de uga, pois todos osactores esto visveis do incio ao m do espect-culo. Sobre este aspecto, em particular, pode-se

    considerar que, se por um lado, no termos a hip-tese de ter muito pblico a assistir constitui um or-te constrangimento, por outro, vericamos, com opassar dos anos, que tambm este espao a ver-ter algo para cada espectculo, e para cada actor,e que isso acaba por se refectir na construo decada um, e na sua apresentao, mesmo que estaocorra noutro local o GTIST tem optado, ao longodos anos, por variar o local de apresentao dosespectculos, levando-os a outros locais nocampus do IST, interiores ou exteriores.

    Uma vez que o GTIST no conta com qualquertipo de nanciamento prprio, a produo deespectculos apenas se torna possvel medianteum exaustivo e voluntarioso trabalho de produ-

    o, destinada a conseguir os apoios nanceirosou materiais para a prossecuo dos projectos.

    Esta rdua tarea igualmente levada a cabopelos elementos do grupo, que colaboram nes-tas unes em equipas organizadas para de-senvolver estes aspectos e garantir que tudoestar (dentro do possvel) disponvel para oespectculo e que conseguido ora atravsde cedncias temporrias ou denitivas,ora por apoios nanceiros, obtidos por con-curso ou doao, ou ainda por cedncia dosmeios prprios dos seus membros.

    Este trabalho de produo encarado emtodas as vertentes, desde a cenograa eequipamento de luz ou som, at aos -gurinos, caracterizao, ou, ainda, aosmeios de divulgao.

    Hoje, este trabalho continua e as ne-cessidades surgem todos os dias, maso GTIST conta j com alguns meios

    tcnicos essenciais para poder apre-sentar espectculos.

    O nosso objectivo ltimo promovera criao de um teatro experimentalque ultrapasse as portas do campus,a partir deste ncleo especco que a populao universitria.

    Acima de tudo, tudo aquilo que hoje patrimnio do grupo e quenos permite apresentar espect-culos ao pblico, seja materialou no, conquista suada de umtrabalho prprio e continuadodos seus membros.

    dISPArteatroInstituto Superior de Psicologia

    Aplicada, Lisboa

    O dISPAr, grupo de teatro do ISPA, Instituto Universit-rio, tem ensaiado nas instalaes do Instituto desde a suaundao em 2005. O antigo ginsio oi convertido em salade ensaios. A nica excepo oi a utilizao, no ano passado,das instalaes da Sociedade Boa Unio, em Alama, devido necessidade de prolongar os ensaios durante a noite.

    Ao longo destes anos, os espectculos oram apresentados emdierentes locais. No primeiro ano, a pea Tesouros da Som-bra tinha uma estrutura itinerante, na qual os espectadoresseguiam um cego pelos corredores labirnticos do ISPA, que oslevava at aos diversos locais das cenas. Em 2007, a peadipo

    Rei oi apresentada no antigo ginsio. Outras peas ou peror-mances apresentadas por ns, ou por convidados, visitaram agaleria e o Salo Nobre do ISPA.

    Quando produzimos O Meu Fado, numa estrutura de musical,necessitmos de um palco com bastidores e teia, pelo que apresen-tmos a pea no Auditrio do Instituto Portugus da Juventude,em Moscavide. No ano seguinte, a peaBuracos Negros teve o seupalco igualmente neste auditrio. Mantendo-se os locais de ensaiono ISPA, decidimos azer uma inovao ao organizar o primeiroretiro dSPAr em Montargil, onde a equipa do projecto trabalhouintensivamente, ao longo de 4 dias, para o desenvolvimento da pea.

    Este ano, o dSPAr est a trabalhar com 2 projectos paralelos, umde Teatro Frum, com a pea -Acabou-se a brincadeira? Variaes Au

    gostinho e outro de improvisao, no qual se aro encontros de gr u-pos de actores naquelas que caro conhecidas comoJaime sessions daimprovisao. A Fundao Calouste Gulbenkian nanciou a execuodestes trabalhos, que podero ser conhecidos com maior detalhe no stio

    da Fundao com o nome Improvisao, interveno e conscincia social.

    Ambos os grupos tem ensaiado nas nossas instalaes, e ambos zeram,no ms de Maro, retiros de trabalho. O grupo de improvisadores dodISPAr partilhou o retiro com o Interdito, grupo de teatro da Faculdadede Psicologia da Universidade de Coimbra, com quem temos vindo a co-laborar.

    O desao com que nos debatemos neste momento o de adquirir o materialque nos permita ter luzes e som com a qualidade pretendida.

    Agora o Monstro Encenao de Gustavo Vicente, 2008

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    No oco TEATRO UNIVERSITRIO ESPAOS DE ENSAIO ESPAOS DE REPRESENTAO

    GTNFaculdade de Cincias Sociais e Humanas,Universidade Nova de Lisboa

    Por Susana AntnioPRODUTORA

    O Grupo de Teatro da Nova (GTN), desde a sua criao em1990, na Faculdade de Cincias Sociais e Humanas da Uni-versidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), exerceu uma activi-dade regular e produtiva el aos seus princpios undadoresat 2002, quando soreu um interregno de dois anos oradopelas mais diversas diculdades logsticas.

    Foi em 2004 que surgiu a oportunidade de ressurgimentodo grupo, com uma proposta de trabalho de Diogo Bento,que viria a ser encenador do GTN durante quatro anos. A,uma vez que no existe na FCSH qualquer espao ou estru-tura adequada apresentao de um espectculo, oi atri-budo ao GTN, como espao de ensaios, o piso -4 do parquede estacionamento subterrneo da aculdade. Este espaouncionava, ao mesmo tempo, como depsito de materialdanicado, ou em desuso, ou, mais exactamente, era o de-psito de lixo da aculdade. E ao que comea nas cadeiraspartidas, ou em excesso, secretrias, armrios, portas,caixilhos, loia sanitria, uma panplia de aparelhoselctricos semi-destrudos, um tractor, um carro imveldesde que l entrou, outros objectos mais provveis deencontrar num sto particular do quenum estacio-namento pblico, e termina nos rastejantes mais in-desejveis,veio juntar-se umgrupo de estudantes comvontade de aliazer teatro, como noutro stio qualquer.

    Perante isto, o grupo apropriou-se desse espao, e des-se lixo, integrando-os em todos os espectculos queapresentou desde ento: Quinze mulheres e um homemnuma garagem espera que o vento mude de direco

    (2005), Com Conorme Consoante Contra (2006),Blame Beckett(2007),Mquina-dipo (2008), todoscom direco artstica de Diogo Bento, e Atentados(2009), j sob a orientao da encenadora AdrianaAboim. O lugar subterrneo e opressivo, primeiravista, associou-se, irremediavelmente, esttica dogrupo e acabou por se transormar no espao idealde exerccio da liberdade e da experimentao in-trnsecas ao teatro universitrio.

    Como que por ironia, imediatamente aps a consu-mao desta simbiose garagem/GTN, oi necessriolutar, ano aps ano, exaustivamente, pela possibili-dade de continuar a trabalhar num espao, aparen-temente, to desadequado ao teatro.

    Quanto ao resto, soremos sempre as mesmas di-culdades que sorem a generalidade dos gruposde teatro universitrio. As diculdades nancei-ras, porque parece no se dar grande importncia produo de cultura dentro das universidades(mas ela acaba sempre por acontecer), e a escassezde meios tcnicos, simplesmente porque no hdinheiro (mas ele acaba sempre por esticar quechegue).

    Assim, o teatro universitrio, e o GTN dentrodele, vai sobrevivendo, vai sendo reconhecido,vai cativando pblico, e vai crescendo aos pou-cos. Anal, alimentamo-nos daquela vontadede azer teatro, no importa onde nem como qu, basta que seja num stio qualquer ecom o que estiver mo. E s com isso quepodemos contar, e s com isso que podemoscontinuar.

    S.O.T.A.O.Instituto de CinciasBiomdicas Abel Salazarda Universidade do Porto

    O S.O.T.A.O. Sociedade Onrica de Teatro Ama-dor Orgnico o grupo de teatro do Instituto deCincias Biomdicas Abel Salazar da Universidade doPorto. Este ano completa os seus 10 anos de exis-tncia, e para os celebrar, decidimos organizar umasrie de eventos de orma a assinalar esta data especial.De maneira a que este ano se possa tornar, denitiva-mente, ainda mais nico, pela primeira vez na sua

    histria, o S.O.T.A.O. vai mais alm e a pea que vaiapresentar em Maio de 2010 uma histria originalassinada por um dos elementos do grupo.

    Graas a uma Bolsa concedida ao grupo pela FundaoCalouste Gulbenkian para 2009/2010, e ajuda nan-ceira da Faculdade, ser levado a palco um Certame Inter-nacional que contar com a participao de outros gr uposuniversitrios de teatro oriundos de Espanha, Frana eItlia, trazendo assim o teatro internacional ao pblicouniversitrio portuense.

    Foi tambm estabelecida uma parceria com a Fundao daJuventude, que prev a cedncia de um espao para a apresen-tao da reerida pea. Em troca, o S.O.T.A.O. apresentarnos ltimos Sbados de cada ms uma perormanceduranteas Feiras Francas, evento de exposio e intercmbio artsticoorganizado pela Fundao, no Palcio das Artes, no Porto.

    O S.O.T.A.O., desde a sua undao, sempre abriu as portasa alunos de outras aculdades, permitindo a interaco entreestudantes das mais diversas reas e interesses.

    Os ensaios do S.O.T.A.O. decorrem em salas da Faculdade, duasvezes por semana, das 21h00 s 24h00. No so salas de teatro,no tm palco, nem luzes prprias, nem um sistema de som. Sosalas de aulas. Antes de comear o ensaio, aastamos as cadeiras eas mesas, criando o espao de trabalho onde a aco ganha orma,o espao do S.O.T.A.O..

    semelhana de todos os anos anteriores, o S.O.T.A.O. tem, umavez mais, o apoio de um encenador que ensina e catalisa o processode criao e de construo da obra que se pretende levar a cenano nal de Maio, recorrendo por vezes a exerccios de expresso eperormanceartstica.

    Atentados Encenao de Adriana Aboim, 2009

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    Em termos de espao, desde o incioque existe um acordo com a Unida-de Patrimonial do ISCTE, no qualnos oi concedido acesso aos audi-trios, quer para ensaios quer paraas actuaes e isto durante o tempoque necessitamos. De salientar que,a partir do momento em que o cen-rio e o sistema de luzes est montado,tentamos que no haja actividades nostio onde a pea estiver em cena, actoque nos tem sido acilitado pela insti-tuio que nos acolhe.

    claro que, ao longo destes 9 anos deexistncia, tanto o mISCuTEm como a

    AE, como o prprio ISCTE, tm-se adap-tado mutuamente s necessidades uns dosoutros. neste quadro de dilogo que re-solvemos os problemas e onde cedncias deambas as par tes, tolerncia, compromissoe bom senso so tudo o que preciso paraque as coisas uncionem dentro do desej-

    vel. Creio que temos conseguido ultrapassaras diculdades e que medida que o tem-po passa o grupo de Teatro mISCuTEm vaisendo cada vez mais uma realidade positivadentro daquela instituio.

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    No oco TEATRO UNIVERSITRIO ESPAOS DE ENSAIO ESPAOS DE REPRESENTAO

    A produo dos espectculos est a cargo dos membros do grupo,do encenador e, por vezes, de alguns amigos. Quando necessrio,so contratados tcnicos de som e luz, para as apresentaesdas peas. Os vrios talentos dos membros do grupo, que vodesde o design at criao de cenrios, otograa e gurinos,so aproveitados ao mximo, sempre que possvel, para a cons-truo de cada uma das obras.

    Mscara SoltaFaculdade de Letras da Universidadedo Porto

    Por Cludia ConscinciaPRODUTORA

    OMscara Solta, grupo de teatro da Faculdade de Letrasda Universidade do Porto, o resultado dum trabalhoperormativo da iniciativa dos estudantes, muitas vezesdescontinuado no passado, mas que, desde 2002, setem armado cada vez com mais ora e empenho nestacomunidade acadmica. Ao longo dos 8 anos da suaexistncia, o grupo tem tentado ultrapassar todas asbarreiras que vo surgindo e s mesmo a determinaode alguns dos seus elementos tem mantido este projectoem andamento.

    So vrias as limitaes com que nos deparamos anu-almente: comecemos pelos apoios nanceiros, que soirregulares e de montantes invariavelmente escassos,quer da Faculdade de Letras (na gura do ConselhoDirectivo), quer da Associao de Estudantes, querainda da Reitoria da Universidade do Porto. Estessubsdios so essencialmente usados nos custos re-lacionados com a encenao e os direitos de autor

    dos textos escolhidos e apresentados. Em termosde meios tcnicos, temos contado com patrocniospblicos e privados em gneros (cedncia de mate-rial de luz e som, espaos, doao de adereos ougurinos, descontos em grcas e outros).

    Em relao aos ensaios do grupo, eles s o reali-zados duas vezes por semana, no Espao Cultu-ral La Marmita (www.lamarmita.com). Alis, aquesto do local para ensaio sempre uma dasmais problemticas, dado que o Mscara Soltano tem um espao de ensaio prprio e por isso,todos os anos se depara com a mesma dicul-dade, ou seja, obrigado a procurar espaosque oeream as condies necessrias paraapresentao dos seus dierentes projectos.

    Este ano, e tal como em anos anteriores, houve uma reestruturao dogrupo, uma vez que dos 14 elementos apenas 4 se mantiveram. Assimsendo, a direco do Mscara Solta est sob a responsabilidade deCludia Conscincia e Patrcia Guimares, tambm elas responsveispela produo da pea a apresentar: Casting, de Aleksandr Glin.

    Esta a realidade que o grupo de teatro da FLUP enrenta, ano apsano. No entanto, o caminho que j percorremos d-nos ora e alentopara continuar o que acreditamos ser um trabalho digno e meritrioque pretende dignicar as instituies em que o grupo se insere,conquistando, ao mesmo tempo, um espao no crculo do teatroacadmico portugus.

    mISCuTEmInstituto Superior de Cincias doTrabalho e da Empresa - Lisboa

    Por Ana Isabel AugustoENCENADORA

    Desde o ano de 2001, ano em que ui convidada para iniciarum grupo de Teatro no ISCTE, que as nossas condies sosimilares. Ainda assim, sinto que ao longo destes anos demosum salto qualitativo na relao com a instituio que nosacolhe, uma vez que, se inicialmente ramos algo novo e parte do dia-a-dia do ISCTE, hoje somos cada vez mais umaparte integrante do mesmo.

    O grupo de Teatro mISCuTEm est directamente ligado AEISCTE (Associao de Estudantes do ISCTE). estaassociao que nos nancia e com gosto que podemosdizer que sempre tivemos (e com o passar dos anos omostendo ainda mais) o apoio da mesma para tudo o que

    necessitamos. Ficam a seu cargo todas as despesas, tendocomo nica contrapartida a bilheteira proveniente daspeas. Do-nos, ainda, liberdade total para criarmos apea e escolhermos os textos, ainda que isso impliquepor vezes o pagamento de direitos de autor. Cenrios,luzes, gurinos, o tempo em cena, os cartazes, as expo-sies de otograa, so, ano aps ano, escolhas eitasem total liberdade pelo grupo e sempre com o apoioda AEISCTE.

    losoa do grupo ir, todos os anos, a pelo menosum stio ora de Lisboa dar a conhecer a pea a ou-tros pblicos, e, simultaneamente, outros pblicosao nosso grupo, losoa que a AE tambm apoia.O grupo no pede honorrios, apenas o nancia-mento das despesas.

    A Cantora Careca Encenao de Susana Oliveira, 2007

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    A memria do Teatro Universitrio s ser possvel com os contributos dos vriosGrupos Acadmicos existentes por todo o pas que, ano aps ano, esoram-se emcontinuar e desenvolver esta actividade. Este ano elicitamos o GTIST Grupo deteatro do Instituto Superior Tcnico pelos 50 anos de e xistncia. Desde os temposde Mrio Srio, este grupo tem sido um dos principais impulsionadores do Teatro

    Universitrio em Lisboa. O NNT Novo Ncleo de Teatro um grupo mais recente,completa 15 anos de trabalho a tentar unir a Arte e a Cincia. Comearam com pe-quenas perormances e happenings, aproveitando o espao que a prpria Universidadelhes proporcionou.

    Espectculo Os Feios do grupo GrETUA da Universidade de Aveiro, 2008

    Histrias de TU CONTRIBUTOS PARA A HISTRIA DO TEATRO UNIVERSITRIO PORTUGUS

    Histrias de TUContributos para a Histria

    do Teatro Universitrio Portugus

    Atentados Encenao deAdrianaAboim, 20

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    Histrias de TU CONTRIBUTOS PARA A HISTRIA DO TEATRO UNIVERSITRIO PORTUGUS

    No incio dos anos 60 apresentadoMrio ou eu prprio o outro, de Jos Rgio, com encenao de Rogrio Pauloe O dia seguintede Lus Francisco Rebello, encenado porArmando Cortez.

    Posteriormente, o grupo apresenta dois espectculos en-cenados por Mrio Srio que marcam o nal dos anossessenta: Os autores modernos, quatro excertos de peasde Bchner, Brecht, Santareno e Sartre, em 1968, muitobem recebido pela crtica sendo considerado um marco nahistria do teatro universitrio e, em 1969,Antgona,

    de Brecht.

    No ano de 1970/71 encontra-se o ltimo sinal deactividade anterior ao presente grupo, com o anncio

    de uma pea e reerncia ao grupo de teatro do IST,actividade de vanguarda no jornal A Capital/Cena Sete.

    Em 1992, criado o actual GTIST. Carlos Jorge Pessoalecciona o primeiro curso de ormao, dando incio vertente de ormao do grupo.

    Em 1994, integrado no curso de ormao, o grupoconstri um exerccio baseado em Os sonhos de D-

    dalo de Antnio Tabucchi, sem apresentao aopblico.

    apresentada no IST e em Santo Andr, a 1. Cria-o do GTIST, Woyzeck de Georg Bckner, com ence-nao de Pedro Matos que encena o grupo a par tirdesta data at 1997 e novamente em 1999 e 2000.

    No ano de 1995 apresentada a 2. Criao:Neste-lado do lado-de-l (ou o meu bacalhau com batatas), a

    partir da obra de Jos Gomes Ferreira,As Aventuras deJoo sem Medo. Inicia-se tambm a participao do gru-po em estivais de teatro. Realiza-se a primeira SOPA,tertlias inormais, com textos de Antonio Tabucchi, Al-mada Negreiros, Edgar Allen Poe e Luiz Pacheco, na Salade Teatro do IST.

    A partir de 1996 consolida-se o lado ormador do grupocom a realizao regular de cursos de cenograa e reali-zao plstica.

    Em 1997, apresentada a 3. Criao: A lamentveltragdia de Pedro e Ins (para alm da Barbearia Vidigal), apartir de vrios autores, bem como Claustrocidade, exer-ccio do curso de iniciao, orientado por Pedro Matos e

    GTIST 50 Anos

    H cerca de 50 anos. essa a indicao dada para osurgimento do GTIST com base em publicaes e rela-tos que identicaram actividades do Grupo Cnico da

    Associao dos Estudantes do Instituto Superior Tcnicoapartir de 1960. Aps 1971, no h registo de activida-des at 1992.

    Agora o Monstro Encenao de Gustavo Vicente, 2008

    Antgona Brecht,Encenao de MrioSrio,

    1969

    Marte (e casas) Encenao de PedroMatos, 1

    999

    Inviolvel Encenao deSusanaVidal, 2002

    Sopa Tertlias Informais, 1995

    Saturno(ouoAmoraosBocadinhos) Encenao dePedroMatos, 2000

    Para Acabarde vez com a Cultura WoodyAllen, Encenao de

    Gonalo Amorim, 1998

    AMato Encenao de Susana Vidal, 2001

    A-CordanoParaso Encenao de Susana Vidal, 2003 Os Arranca Coraes Encenao deSusanaVidal, 2007

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    Aniquila Encenao de Susaa Vidal, 2008

    encenado por Hugo Lopes. So ainda realizados diversoscursos abordando temas como realizao plstica, ex-presso dramtica e voz.

    Em 1998, Gonalo Amorim encena a 4. Criao:Paraacabar de vez com a cultura, segundo o texto de WoodyAllen, que apresentada no IST, em Santo Andr e emCoimbra, no TEUC. ento, e at 2008, que GonaloAmorim dirige o curso anual de expresso dramticado GTIST.

    Em 1999, Pedro Matos volta, e encena a 5. Cr iao:Marte (e casas), e o GTIST participa no 1. FATAL. Sur-ge ainda a 6. Criao:A Histria de Tobias, com textode Miguel Rovisco.

    No ano 2000, o GTIST constri a sua 7. Criao, Sa-turno(Ou o Amor aos Bocadinhos), que ser a ltimaencenao de Pedro Matos no grupo. Participa no 2.FATAL.

    Num ano de mudana prounda, 2001, so apresenta-das as perormancesMatei-o porque era meu e Vou comertudo que dariam origem 8. Criao, A Mato, comencenao de Susana Vidal, que viria a encenar o GTISTentre 2000 e 2008, marcando proundamente a hist-ria do grupo. Nas suas encenaes criou uma linha es-ttica e imagtica inconundveis, em espectculos ondese questionou o processo de criao e a uno artstica esocial do teatro universitrio. A Mato inicia uma ruptu-ra na escolha dos espaos de criao e apresentao dosespectculos, at a sempre realizados na sala do GTIST.

    Em 2002, 9. Criao,A Unha e a Carneque apresen-tada em diversos estivais como o Festival de Teatro Uni-versitrio da Beira Interior e o ReuTeuLeu, Encontros

    Internacionais de Teatro Acadmico de Lyon, Frana.Assiste-se 10. Criao,Inviolvel.

    Segue-se, em 2003, a 11. Criao,A-Corda no Paraso.O grupo novamente convidado para o R euTeuLeu e oFestival de Teatro Universitrio da Beira Interior. Parti-cipa no 4. FATAL e termina o ano com a 12. Criao,

    A velocidade de um sussurro, que leva o grupo de novo aCoimbra para o 5. ACTUS.

    Em 2004, com a 13. Criao: Olhos Desados, o gru-po convidado para uma indita terceira participaoconsecutiva no Reuteuleu. Participa no 5 FATAL e no6. ACTUS. O ano culmina com a 14. Criao,P de

    No Mexer.

    No ano de 2005 o grupo prossegue as suas actividadescom a 15. Criao: Vertigens. Participa no 6. FATAL eno Festival de Teatro da Universidade Tcnica de Lisboa.Em 2006, a 16. Criao:Escndalo, inspirado na vidae obra de Pasolini, participa e vence o Prmio do MelhorEspectculo no 7. FATAL.

    Este espectculo apresentado, j em 2007, noTheaterszene Europa - Festival de Teatro Luso-Alemo daStudiobhne, Colnia, Alemanha. Nesse ano tem lugara 17. Criao: O Arranca Coraes inspirado na vida eobra de Boris Vian. O gr upo participa no 8. FATAL.

    Em 2008, Susana Vidal encena aquela que viria a sera criao de echo da sua presena no GTIST:Aniquila.

    A partir de Setembro de 2008, Gustavo Vicente encenao GTIST, casa que o viu nascer para o teatro, e com oqual mantm uma cumplicidade criadora de ruptura.Em 2009, a 19. CriaoAgora o Monstro leva o GTISTa vencer novamente o prmio FATAL.

    Ao longo de todos estes anos o GTIST sempre manteve asua vertente interventiva poltica e social a travs, sobre-tudo, da realizao de perormances como a mais recenteOuve-me, em 2009 e 2010 em Setbal, no mbito docombate violncia domstica.

    O GTIST ormou-se nos anos 60 pretendendo levar osespectadores a tomar conscincia da sua capacidade deintervir numa possvel transormao da sociedade.

    Em 2010, o GTIST mantm esses objectivos, procurandorealiz-los atravs das suas criaes e actividades inter-ventivas paralelas e procurando sempre lanar as basespara o continuar a azer.

    Histrias de TU CONTRIBUTOS PARA A HISTRIA DO TEATRO UNIVERSITRIO PORTUGUS

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    Histrias de TU CONTRIBUTOS PARA A HISTRIA DO TEATRO UNIVERSITRIO PORTUGUS

    Durante estes quinze anos oram postos em cena conheci-dos textos como O Destino Morreu de Repente,A Mais Bai-xa Prosso,As Trs Irms, O Pelicano, A Boda,Jacques eo Seu Amo; que contaram com encenaes de membros dacasa, nomes como Natlia Luza e Jorge Fraga, Paula S;assim como outros textos menos conhecidos:Feira de S.

    Nicolau e Esquartejamento para Todos, ambos encenadospor Alexandre Calado, um dos membros undadores doNNT, que tambm escreveu e encenouFrtil Feitio eFrtil

    Ftuo para o gr upo. Seguiram-se O Ventre de Jeremiasescrito pelo Maestro Vitorino dAlmeida, com encena-o de Catarina Santana, membro undador do NNT edireco musical de Andr Louro eLisso encenada porAlexandre Calado.

    Enquanto ncleo de teatro amador do concelho de Alma-da, o NNT tem por tradio que a estreia das s uas pro-dues acontea na Mostra de Teatro de Almada - umahomenagem simblica Cmara Municipal de Almada,

    que tem vindo a suportar e apoiar este grupo ao lon-go de muitos anos.

    O grupo conta ainda com parti-cipaes anuais no FATAL e naQuinzena da Juventude de Al-mada, assim como noutros esti-

    vais universitrios nacionaiscomo o aCTUS (Coim-

    bra), o SALTA (Avei-ro), o Ciclo de Teatro

    Universitrio da UBI(Covilh), bem como

    participaes espordicasinternacionais, como a de

    Santiago de Compostela.

    Em 2006 estiveram em cenaduas produes: O Cerejal, deAnton Tchekov (Meno Hon-

    rosa FATAL06) encenado porBruno Bravo e Sandra Faleiro,e A Er va Vermelha de BorisVian, encenada por Joo

    Cleto.

    Em 2007 oram tambmapresentadas duas grandes pro-dues, A Vossos Ps O MeuCorao com encenao de

    NNT 15 Anos

    O Novo Ncleo Teatro (NNT) completa este ano quinzeprimaveras, da as actividades planeadas para este anoserem de especial importncia pois da nossa vontadetornar 2010 um ano memorvel para o NNT.

    O NNT nasceu da vontade de um grupo de amigos emconjugar a Cincia com a Arte, servindo-se dela comoum escape rotina universitria. Dentro das paredes daFaculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade Novade Lisboa (FCT-UNL) o grupo comeou a azer-se notarcom perormances e happenings que depressa se trans-ormaram em grandes produes e cursos de ormao.

    Ao longo destes anos oram organizados workshops emvrias reas como Expresso Corporal, Interpretao,Voz e Iniciao ao Teatro e Clown, orientados por nomescomo Paula Freitas, vila Costa, Lus Castanheira, Ale-xandre Calado, Sandra Hung, Joana Craveiro, Joo Cleto,Hugo Costa e Lus Ribeiro.

    Hlio Lus, eNo Pas Das ltimas Coisas apartir de Paul Auster, com encenao deJoana Craveiro.

    Em 2008, o NNT levou a cena ChezKantora partir da vida e obra do ar-tista plstico polaco Tadeusz Kantor,com encenao de Pedro Manuel, quevaleu o Prmio do Pblico da ediodo mesmo ano do FATAL, culminandocom a apresentao desta produona Sala Es tdio do Teatro NacionalD. Maria II.

    Em 2009, apresentou o espectculoAs Cidades Impossveis a partir detalo Calvino, com encenao de Jo-ana Craveiro. Nesse ano registou-sea maior afuncia de pblico devi-do originalidade e autenticida-de do trabalho produzido. Almda apresentao no FATAL, oicriada uma perormancede ruano Largo Cames integrada no mbito do FATAL.

    Este ano o NNT regressa s origens, convidando um dosmembros undadores, Sandra Hung, para encenar a suaproduo principal, resultando no espectculo Tartaru-

    gas e Migrao.

    O NNT oi, e sempre ser, composto por um grupo deestudantes com vontade de trabalhar para a criao deum objecto artstico autntico. No exigida ormaoprvia mas valoriza-se o r igor e a motivao.

    Queremos agradecer a todos os que nos tm apoiado aolongo destes anos, especialmente aos visionrios mem-bros undadores do ncleo pois, sem eles, no nos seriapossvel criar produes anuais, nem escrever estes agra-decimentos. Agradecemos a todos os membros do NNT,aos amiliares, aos amigos, aos apndices que nos aju-dam nas bilheteiras, a todo ostatcnico e de produo,e tambm aos que nos criticam todos os anos pois comeles, aprendemos e melhoramos constantemente.

    Dentro da casa gostaramos de agradecer a todos os r-gos acadmicos cujo desempenho nos permite melhoraras nossas actividades, destacando-se a Associao de Es-tudantes FCT-UNL e a Diviso de Logstica e Conservao.

    Um especial agradecimento ao actual Director da FCT-UNL, o Proessor Doutor Fernando Santana, por todo oapoio que nos tem dado ao longo dos anos, sobretudo naresoluo de questes de carcter urgente. Agradecemos Creche da FCT-UNL com quem adoramos trabalhar,seja nas animaes de Natal, seja na recente colaboraopara a pea actualmente em cena em que estes pequenosartistas pintaram as tartarugas que nos inspiraram para

    o cartaz do nosso espectculo. Foi ainda ulcral o apoiodado pela Cantina da FCT-UNL, no corrente ano, bemcomo dos Servios de Aco Social da UNL.

    Convidamos todos os interessados a virem conhecer umpouco mais da nossa histria a partir de dia 5 de Maiona Exposio Comemorativa dos 15 anos do Novo NcleoTeatro nas instalaes da Biblioteca da FCT-UNL.

    ChezkantorEncena-o de Pedro Ma-nuel,2008

    As Cidades Impossveis Encenao de Joana Craveiro, 2009

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    CenriosPANORAMAS DO TEATRO UNIVERSITRIO

    Quinhentos anos a idade de um jovem? Sim. Quando se ala de um pas, sim. OBrasil, que est com quinhentos e dez anos, agora comea, digamos, a desrutar dasua adolescncia. Portanto, todos os aspectos que determinam este pas so novos.O seu povo e a sua cultura, tambm. Ns, ainda, somos obrigados a agradecer aNapoleo Bonaparte, e peo desculpas aos irmos portugueses por este agradecimento,mas se ele no tivesse obrigado a amlia real portuguesa a mudar-se para o Brasil,em 1808, hoje estaramos mais para uma Guiana Francesa gigante do que para umgigante emergente no mercado econmico mundial. Este acto histrico trouxe inegvelprogresso para o pas, consolidado com a independncia, em 1822.

    Este progresso refectiu-se na cultura brasileira e, por consequncia, no teatro brasilei-ro. A primeira gerao de actores do Brasil, evidentemente sem contar com os ndiosque eram incentivados a representar durante o processo de catequizao exercido peloPadre Anchieta, surge em meados de 1830, com destaque para o actor Joo Caetanoe para o dramaturgo Martins Pena.

    Da em diante, o teatro nacional permanece precrio e amador, com os palcos dascapitais ocupados por companhias estrangeiras, na sua maioria encenando peras,que eram o gosto da burguesia da poca. Em 1948, portanto quase cem anos depois,o industrial italiano Franco Zampari cria o Teatro Brasileiro de Comdia, TBC, eprossionaliza, assim, o ocio de actor no pas.

    A Escola Dramtica Municipal, a primeira escola de actores do Brasil, no Rio deJaneiro, oi undada em 1908. E a primeira universidade de teatro brasileira oi oCurso de Artes Dramticas, o CAD, da Universidade do Cear, criado em 1960.

    O teatro universitrio brasileiro tem, portanto, 50 anos. No Rio de Janeiro, hoje,existem apenas quatro universidades de teatro: duas ederais, a UFRJ - UniversidadeFederal do Rio de Janeiroe a UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Ja-neiro, e duas particulares, a UniverCidade e a PUC - Ponticia Universidade Catlica.Muito pouco, para um pas que tem a maior produo de telenovelas do mundo. Omercado para actores no Brasil aquecido. Mas, ao teatro, alta incentivo. As maze-las sociais do pas deixam a cultura ora de qualquer lista de prioridades. O governoinveste quantias insignicantes nas artes cnicas. As empresas privadas, atravs deleis mal ormuladas e burocrticas, tm pequenos abonos scais e investem em pou-cos grupos de teatro. Esta alta de incentivo diculta os jovens que acabam de sairdas universidades e querem construir as suas carreiras no teatro. Na televiso, emgeral, o actor consegue uma maior estabilidade nanceira. Mas o mercado, apesar

    de prspero, restrito.

    Apesar da carreira dicil, ser actor, hoje, sinnimo de glamourno Brasil. Umanovidade. Quando actuar se tornou uma atividade prossional, o registo na carteirade trabalho era eito numa categoria juntamente com as prostitutas. Hoje, h estavalorizao da prosso, graas, principalmente, televiso. O mundo muda, o tempotodo. At o cozinheiro hoje valorizado, mudou-se, inclusive, o nome da prosso:Che. Os cozinheiros, quer dizer, os Ches tm programas na televiso tambm.Bom, por enquanto, o actor continua actor. E o teatro continua com a mesma uno:mostrar as possibilidades da vida para que o espectador reficta.

    As possibilidades da vida so innitas e as refexes do espectador vo at aos limitesda imaginao.

    Ento, vamos luta!Merde!

    Por Lucas Lins e Silva ACTOR E ENCENADOR RIO DE JANEIRO BRASIL

    O actor continua actorO Ensino do Teatro na Universidade Brasileira

    O Encontro de Cordis Encenao de Rodrigo Miallaret, 2009

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    CenriosPANORAMAS DO TEATRO UNIVERSITRIO

    Por Zohra Makach1 PROFESSORA DE TEATRO

    O desejo de azer teatrona UniversidadeO exemplo do atelier Trait dUnion

    da Faculdade de Letras e Cincias de Agadir, Marrocos Porqu que necessrio incentivar os ateliers de teatro na universidade?J.P.Rynghaert, proessor, ormador e encenador, d-nos trs respostas:

    1. Para ormar seres humanos, sensveis, receptivos, abertos capazes de receber e dar;o teatro , portanto, uma espcie de recipiente memorial e de laboratrio de experimen-tao in vivo das relaes humanas e sociais existentes, possveis ou sonhadas atravsdas quais apresentam-se ou inventam-se ormas da identidade individual e colectiva.2. Para ormar cidados portadores de um olhar crtico sobre o mundo, o teatroage aqui como um vaso de expanso e de abertura.3. Para ormar espectadores avisados, espectadores que no sero consumidorespotenciais de representao.

    Fazer teatro na universidade no , por conseguinte, unicamente ensinar a analisarum texto dramtico, sobretudo ler, azer ler, aprender a ler, aprender a pensar,aprender a criar, mover-se e mostrar o seu movimento, aprender a usar inopinada-mente e largamente a sua voz, controlar e variar os registos das suas apresentaes ecomportamentos sicos, adquirir uma espcie de liberdade activa, de controlo abertopela expresso, no manuseamento do corpo e das pala vras.

    Todos os anos, nosso atelier de teatro Trait dUnion, convida um grupo de estu-dantes provenientes de cursos dierentes para uma aventura teatral. Em 2008, porexemplo, montou-seFragments2; em 2009, ez-se descobrir aos estudantes o teatrodeKolts3 e representou-se, durante uma homenagem ao autor, Les voix de Kolts;no mesmo ano, em colaborao com a associao Tounarouz, trabalhou-se com ascrianas em situao de rua e os estudantes e representou-se, no Instituto Francsde Agadir,Lautre moiti. As dierentes ases do trabalho eectuado, com o propsitoda representao, mostram que o atelier de teatro no uma empresa teatral mas

    um laboratrio de ensaios dramticos, que o teatro no requer s o pensamento mastambm a sua produo.

    Fragments uma pea de teatro que se compe de quatro quadros, impresses que amemria classicou, que a histria amiliar guardou Algumas certamente obscuras,mas h pior: as esquecidas. Atravs das personagens desta pea desenha-se o drama decada ser. a histria banal de uma histria banal. A possesso, a violao, a traio,a vergonha, o desejo, a liberdade, alimentam este espectculo. As dierentes histriasazem-se eco, respondem-se, cruzam-se. Contam a mesma histria? Todos alam dosseus racassos, em vez de ter sabido alar de amor. Embarao, perturbao, diculdadea alar, as personagens azem-se e desazem-se pelas palavras. Tantas dores e violncia,tantas traies e racassos! Esta acumulao no impede o riso.

    Grupo Turbo Pascal. Foto de Heiko Shaer

    O homem plenamente homem apenas quando representa. Schiller

    A universidade Ibn Zoh de Agadir ez a escolha de armar e assumir que a culturae a arte no so suprfuas, mas eectivamente necessidades undamentais. Tentatornar a relao entre o teatro e a investigao mais rtil, mais estimulante. Para oeeito, todos os anos, a universidade Ibn Zohr, em colaborao com o Instituto Fran-cs de Agadir, prope aos estudantes ormaes, estgios, encontros com os artistasprossionais, dramaturgos, estadias no estival de Avignon Na Faculdade de Letrase Cincias Humanas, por exemplo, no nosso atelier Trait dUnion, os nossos estu-dantes puderam encontrar e trabalhar com Philippe Minyana, Julien Fisra, Brunode Lassalle, Mose Tour, Jacques Pr unair, Natacha de Ponchara, Agns Rgolo

    Para o ano universitrio de 2010-2011, a universidade prope convidar em residnciaFettah Diouri, encenador e director do Teatro de Hanver, para permitir aos estudantesexplorar pistas novas e sobretudo para montar um espectculo que ser representadodurante a 16.a edio do Festival Internacional de Teatro Universitrio de Agadir.Este Festival sublinha a ambio da poltica cultural da Universidade, abre as relaesentre teatro e investigao, acilita o encontro entre a investigao universitria e ainvestigao artstica, e trabalha nas aproximaes e nas trocas entre investigadores,artistas, estudantes e pblicos.

    Os ateliers de teatro, que aparecem todos os anos, mostram que estamos perante umteatro experimental, um teatro de investigao: investigao ao nvel do palco, dacenograa, do jogo, das imagens, das luzes, dos gurinos e do repertrio. impossvelseparar a investigao da criao. A investigao deve necessariamente conduzir criao, se no tratar-se- apenas de um trabalho echado, privado da s ua verdadeiraexposio: uma realizao que permite a conrontao com o pblico.

    O nosso Atelier Trait dUnion um atelier de teatro que quer tornar o estudanteapto a utilizar a linguagem dramtica como meio de expresso, de comunicao e decriao tanto no plano individual como colectivo. O atelier baseia-se na coexistnciapossvel, e necessria, da investigao em teatro e da prtica do teatro. O conhecimentoterico e a experincia prtica interagem para dar o seu impulso ao processo criativo,em todos os aspectos do teatro escolhido.

    2Fragmentos, pea de teatro de Z. Makach, oi representada em lnguas amazighe, dialecto marroquino e rancs, no dia25 de Maro de 2008, no Instituto Francs de Agadir durante a semana Amazighe e no mbito das criaes do Sul.

    3No nosso espectculo Les voix de Kolts, trabalhamos sobre quatro textos: Le retour au dsert, Combat de ngre et dechien, Roberto Zucco, Dans la solitude des Champs de coton et Quai Ouest. O espectculo oi representado em amazighe,dialecto marroquino, rancs e wolo.

    1Titular de um Doutoramento em Estudos Teatrais, Artes do espectculo (Sorbonne Nouvelle, Paris III), tradutora de vriosdramaturgos contemporneos em rabe dialectal e amazighe, Zohra Makach, dramaturga e encenadora, ensina e anima oteatro na Faculdade de Letras e Cincias Humanas de Agadir. a autora de vrios artigos consagrados escrita dramticacontempornea.

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    Cenrios PANORAMAS DO TEATRO UNIVERSITRIO

    Rir liberta-nos da nossa angstia. Neste espectculo, tentamos utilizar tcnicas novastanto ao nvel da encenao quer, ao nvel da dramaturgia. Queramos azer dialogarmonlogos, misturar as lnguas (amazighe, dialecto marroquino, rancs), convidar osestudantes a trabalhar sobre uma pea ragmentria, deixar-se levar para outro lugar,participar na criao, azer passar o sentido pelo silncio, pelo corpo dos actores, peloolhar, pelo movimento, pelo jogo com os espelhos, as cores dos tecidos (vermelhos,brancos), a msica, a cano

    Durante a nossa encenaoLes voix de Kolts, trabalhmos com quatro estudantese quatro actores prossionais. O espectculo no uma visita guiada atravs dosragmentos da obra de Kolts. Pode-se ver o espectculo como a histria de algumaspersonagens na sua relao com o outro, com o espao, com a luz, com o barulho.Uma ocasio de azer cruzar e azer ouvir, em cenograa alargada, as personagens deKolts to contemporneos (Mathilde, Adrien, Fak, Claire, Zucco, Lone, Alboury)que contam bem, com as palavras mais simples, as coisas mais importantes da nossaexistncia.

    O espectculo usa astuciosamente, monlogos e rplicas aceradas, entre insultos econdncia da noite, esta noite que anula as mentiras do dia para deixar aparecercoraes partidos, medos, solides, seres rgeis Na obra,Les voix de Kolts, tudo sepassa num tricotage de langues que se respondem e se misturam. O acto de misturaras lnguas, tambm uma outra maneira de azer dialogar as culturas.

    Durante os ensaios, os estudantes assim como os actores prossionais so lanadosimediatamente ao jogo, no sendo s obrecarregados de indicaes dramatrgicas nem deconceitos vinculativos e limitativos. Brook gosta de dizer azemos primeiro, alamos aseguir. O ensaio, como sabemos, implica duas actividades: suscitar o azer e asseguraro reazer. O actor participa assim na criao; no um simples instrumento nas mosdo encenador. Pensamos que o respeito pelo actor, deix-lo estabelecer pela liberdade,

    a sua relao pessoal com o texto; deix-lo experimentar a sua prpria aventura.

    Atravs das nossas modestas experincias com o palco, aprendemos que a diversidadedas abordagens (lugares, meios, equipas, tempo de ensaio, projectos, autores escolhi-dos) induzia ormas singulares e, sobretudo, libertava energias novas. O encontro,por exemplo, com a dramaturgia de uma orte gura de teatro como Kolts introduznovas ideias e eeitos de regresso. Estas experincias, podem revelar-se de diversasmaneiras sobre um palco de teatro; pela palavra, pelas pequenas ormas, esboos,aplicao de refexes e perguntas que tais viagens geram.

    Pensamos que nas nossas aventuras com os nossos estudantes, h momentos em queatingimos algo de artstico e outros onde estamos no knowhow. s vezes h cenasque nos cansam mas so elos, para se chegar ulgurncia seguinte, necessriopassar por isso, se no esta ulgurncia no ar sentido. O encenador, os actores,pensamos, no so artistas todo o tempo mas, apenas, por momentos!

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    Personae

    atrs reerido, valoriza o carcter experimental desteexerccio e arma:

    Conheo agora () um jovem que trabalha numbanco nas horas vagas e trabalha para o teatronas horas cheias (de sonhos vos, talvez). ()Tendo como armas a inteligncia, a cultura e alucidez () procura tornar em aco a conscin-cia de um teatro autntico; procura transormarem realidade a aspirao por um teatro vivo.

    At chegarmos aqui, oram cerca de seis meses de trabalhointenso, empenhado, muitas vezes obcecado. Sempre queno estava a ensaiar, lembro-me de car, a pedido doMrio, junto parede do undo do reeitrio o local maisrecuado da grande sala para vericar se se percebia tudoo que os actores diziam, assinalando-lhes as a lhas comum gesto. Ento, interrompia-se e voltava-se atrs, atse obter o eeito desejado. Neste esoro, aparentementede Penlope, devo salientar um eito do nosso encenadorque me parecia impraticvel: pr o meu namorado deento (e actual marido), possuidor de um registo de vozgrave e nasalado, que comprometia a compreenso damaioria das suas alas, ditas em r itmo acelerado, a alarcom a voz colocada na cabea, num registo completa-mente dierente do dele e que per mitia total clareza dosarroubos de loucura do Frantz dosSequestrados de Altona.(Enquanto vivemos em Lisboa at 1975 - o cartaz que

    encimava aquela cena proibido ter medo tambmencimou a nossa cabeceira).

    No ano seguinte, o Mrio aceitou mais um desao: apartir do plano de trabalho do Grupo Cnico da A.E.I.S.T.para o ano lectivo de 68/69, que continha o ponto In-timidao pelos Clssicos, props-se, com a imediataconcordncia do grupo, encenarAntigona de Socles,na verso de Brecht, que ele prprio traduzira. Houvevrias razes para esta opo: a extraordinria belezado texto de partida, as temticas apresentadas e, muitoparticularmente, o acto de Brecht azer uma aborda-gem, a nvel literrio, de um texto clssico em unode um pblico moderno. Este texto pe em evidncia amotivao econmica da guerra de rapina levada a cabo

    Foi esta espcie de maniesto que deu voz, pela primei-ra vez, ao Grupo Cnico da A.E.I.S.T. (Associao deEstudantes do Instituto Superior Tcnico) e oi com oexerccio prtico Autores Modernos que Mrio Sriose estreou como encenador, dando corpo a um sonho delonga data. Estava-se, ento, em Maio de 68 e, duranteduas noites, o reeitrio da A.E.I.S.T. esteve cunha.O xito extravasou as paredes do Tcnico, como se podeconstatar lendo o artigo do crtico de teatro Carlos Porto,publicado a 31 daquele ms, na revista Vida Mundial.Os estudantes que participaram nesta experincia (nos do Tcnico mas tambm das Faculdades de Medicina,Letras e Direito), pelo menos o grupo de que eu aziaparte, encaravam o teatro universitrio (que escapavamais acilmente censura, por no se realizar em locaispblicos) como um meio de provocar a consciencializa-o do momento histrico em que se vivia ditaduraSalazar/Caetano e a necessidade de uma intervenoantiascista. Mrio Srio, por seu lado, enquadrava asua vasta cultura teatral com Brecht a ocupar o lugarcentral no altar dos deuses - numa viso marxista, teo-ricamente bem estruturada e refectida, simultaneamen-te inteligente e sensvel. Desta eliz simbiose, nasceu aexperincia teatralAutores Modernos, que ps em cenauma colagem de textos de Bchner (A Morte de Danton,-Acto I, Cena IV), Brecht (Grande Medo e Terror do IIIReich Cena X), Sartre (Sequestrados de Altona ActoI, Cena I) e Santareno (O Judeu Ext. do Acto I). Com

    esta seleco de textos, o Mrio elegeu a temtica domedo, que se instala na relao dialctica do indivduocom o poder bem como acompanha a degradao dascapacidades individuais e a deturpao das relaes hu-manas e amiliares provocadas pelo poder ditatorial.Cenicamente, concebeu o espectculo como uma sonatade quatro andamentos, em que a sensao de medo sedesenvolvia em crescendo, sendo a tenso dramtica, noentanto, contrariada pela leitura abrupta, entre cadaandamento, de textos crticos sobre a cena apresentada,de modo a cortar a adeso emocional do espectador e adespertar a s ua conscincia crtica, transpondo-o parao presente o Portugal oprimido pela ditadura. Nestesentido, era ainda proposta aos espectadores uma dis-cusso no nal do espectculo. Carlos Porto, no artigo

    Mrio Srio*Construo rigorosa de um sonhoCRTICO DE TEATRO, DRAMATURGO E EX-ENCENADOR DO GTIST

    Por Adlia Maria Martins Goulart EX-ACTRIZ DO GRUPO CNICO DA A .E.I.S.T. E AMIGA

    ... O nosso esoro , sobretudo, um esoro de amadores, aquem o teatro interessa nas suas mltiplas acetas, azendo opossvel por ir to longe quanto nos permitem os limites do ama-dorismo; O nosso objectivo divulgar o teatro entre estudantes, num pasonde o teatro to discutido e to pouco conhecido; A nossa tentativa de espectculo mais ilustrao prtica deum curso terico da histria do teatro, que requentmos, do quepropriamente um autntico espectculo teatral

    Mrio Srio, porta do Palcio Conde de Vila Franca, S. Miguel, Aores (Trs Vsperas para um Madrigal.)

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    que a encenao pressupunha no oi entendido por umaboa parte dos espectadores, que lhe apontaram excessivarieza. Por outro lado, ao gerar tanta polmica, acaboupor conseguir o objectivo almejado de lanar a discussoe azer pensar. Hoje, olhando para trs, esbatidos osepisdios circunstanciais, parece-me que Antigona oium espectculo de lego, com altos momentos dram-ticos, sublinhados por uma luminotecnia magistral, e degrande qualidade esttica, sendo de salientar a belezadas mscaras pintadas no rosto dos actores bem comodos adereos em barro, lato, couro e papel mach.Bem-hajam os seus executantes, respectivamente VeraRibeiro da Silva, So Nogueira e Z Manel Gil, amigosde todas as horas.

    A maturidade e sabedoria reveladas ao longo deste tra-balho de dois anos por um orientador to jovem (tinhamenos de trinta anos), provocaram orte impacto emalguns de ns. E era inevitvel o respeito que impunhaaquele sonho rigoroso, que levava o bancrio Mrio Srio,sujeito a horrios de trabalho exigentes (ao contrriode ns, estudantes), a, incansavelmente, dia aps dia,sem alhar, se entregar tarea de moldar personagenshoras a o, pela noite dentro; noites que requentementeacabavam numa ceia-tertlia na saudosa Alga, onde,por essa altura, aparecia tambm o jovem angolano RuiMingas, com a sua guitarra.

    Tornmo-nos (o ncleo duro dos intrpretes/amigosda primeira hora) ntimos deste resistente, sicamen-

    por Creonte e destaca, em contaponto, a persistncia ina-balvel de Antgona nas suas convices ancestrais. Pelanatureza do dilogo, seria cil levar o pblico a aderiremocionalmente posio de Antigona, por oposio aointeresseiro e cruel Creonte, seu pai. Mas o eeito que oMrio pretendia era o oposto deste: obrigar o pblico arefectir sobre a problemtica deAntgona e a consideraras posies em conronto como metoras da actualidade.Na sua opinio, e sempre com a conivncia dos outrosintervenientes, s uma encenao brechtiana - pica,distanciada- seria capaz de alcanar este objectivo.Partindo da sua concepo cnica, entregou-se, de corpoe alma, durante muitos meses, a este projecto de exercciocolectivo, de grande exigncia e complexidade, que lhechegou a causar ortes dissabores. O vasto elenco, exigidopela pea, acabou por criar vrias disunes, desde a altade pontualidade e de assiduidade de certos elementos,at a um plano, esboado por meia dzia de actores, desabotar, a meio, o prprio espectculo. No o chegarama pr em prtica, limitando-se distribuio de um co-municado que apontava Brecht como autor burgus.No nal, nem compareceram no colquio marcado paradiscutir o espectculo. Sei que esta atitude de colagemcega ao gurino parisiense de Maio de 68 magoouproundamente o Mrio, que nunca compreendeu aquelaalta de rontalidade e de respeito. Em Junho de 69,estvamos, portanto, longe da cumplicidade e coesoconseguidas no ano anterior e o espectculo ressentiu-se,inevitavelmente, com todas aquelas perturbaes, queaectaram a actuao dos actores. O exerccio intelectual

    te rgil mas cheio de coragem e da ora interior dosiluminados. Pegou-nos pela mo no s no palco mastambm na vida, acarinhando-nos com jantares em suacasa que tinham sempre um toque de magia, ora pelaexcelncia dos pratos e do vinho, ora pela surpresa de umanova pera de Xenakis, de um novo disco de Rgianniou Lo Ferr, de uma reproduo, em tamanho natural,de Breughel ou Bosh, recm-trazidas do estrangeiro, ouda presena de amigos ascinantes, vindos de ora e dedentro, que nos deslumbravam com a sua experinciade vida e o seu sa ber. Foste, por isso, para ns, alm deamigo, um pedagogo dentro e ora do palco, pondo-nosem contacto com mestres, amiliares teus do quotidianoe da co, que nos zeram crescer.Obrigada, Mrio, por todas as taas que bebemosjuntos.

    De uma cmplice do teu sonho maiorAdlia Goulart

    * Breve nota biogrca:Mrio Reinaldo Cavalheiro Srio nasceuem Portimo no dia 31 de Maio de 1940. Veio para Lisboa com

    11 anos e ez o curso dos liceus, do 1. at ao 5. ano no Liceu

    Gil Vicente na Graa, onde morou, e o 6. e 7. anos no Liceu D.

    Joo de Castro. Estreou-se no Teatro, como actor, na Companhia

    Rey Colao Robles Monteiro, em 1953, onde entrou em dois es-

    Antigona, na verso de Brecht. Actores: Veludo, Al bergaria, Rocha.Antigona, na verso de Brecht. Actrizes: Adlia Goulart e Paula Fonseca.

    pectculos inantis. Matriculou-se na Universidade em 1959 no

    Curso de Cincias Econmicas e Financeiras, que no chegou a

    terminar. Ingressou no Banco Totta &Aores em 2 de Janeiro de

    1961, de onde se aposentou a partir do dia 1 de Novembro de

    1992. Em 1962, ez parte da direco do ABC Cineclube. Tem

    poemas seus publicados em diversos jornais. Orientou o Grupo C-

    nico da Associao de Estudantes do Instituto Superior Tcnico

    (1967/68 e 1968/69), onde dirigiu dois espectculos: Autores

    Modernos (Maio/1968) a partir de excertos de obras de Buchner -

    A Morte de Danton, de Brecht - Grande Medo e Terror do III Rei ch,

    de Sartre - Os Seques-trados de Altona e de Santareno - O Judeu;

    Antgona (Junho/1969), segundo Holderlin, na verso de Brecht,

    de que tambm ez a traduo. Foi crtico de teatro do jornal

    dirio Repblica de Janeiro de 1973 a Dezembro de 1975 e do

    semanrio OJornal de Junho de 1983 at Junho de 1986. Para

    alm de vrias crnicas de espectculos apresentados nos Fes-

    tivais de Outono, em Paris, ez a cobertura integral do ltimo

    World Theatre Season (1973), de Londres. Publicou Sobre Brecht

    (1977), na Ulmeiro. Fez a traduo de Leitura de Brecht (1980)

    de Bernard Dort, na Forja. O Jri do Grande Prmio de Teatro

    da Associao Portuguesa Escritores/SEC - 1993 distinguiu com

    uma Meno Honrosa a sua obra Trs Vsperas Para Um Madrigal

    que oi publicada em 1995 pela Teorema. Concorreu ao Grande

    Prmio de Teatro da APE/SEC 1994 com a sua segunda obra

    Srius que mereceu destaque do Jri pela () qualidade literria,

    a originalidade e a teatralidade(). Nos anos seguintes, escreveu

    mais trs obras: Os Pais d El Rei D. Sebastio -- Jogos de Devao,

    Juzo Final e Tudo Azul - A Paixo. A partir de Fevereiro de 2003,

    viveu na APOIARTE - Casa do Artista, onde aleceu a 17 de Se-

    tembro de 2009.

    Personae

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    a dramaturgia portuguesa que nos do uma ideia maisprecisa do que aqui perseguimos. Assim, vemos comoTelo Braga identica causas muito concretas paraa alncia da dramaturgia nacional. De cariz civiliza-cional e cultural todas elas, vemos como o portugusperdeu a alegria e cou um povo soturno. Tambm Ea

    de Queiroz oi sensvel a esta questo, alegando que aprimeira [razo para o m do teatro em Portugal] aprpria literatura dramtica. Os es