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Orçamento Empresarial Planejamento e Controle Gerencial 35 Prof. Paulo César Parte 03 Preparação do Plano Orçamentário Data____/____/____ Este capítulo tem por objetivo: Conhecer as premissas orçamentárias; Identificar informações necessárias para iniciar as estimativas As premissas orçamentárias Introdução Neste módulo você conhecerá um pouco mais sobre as Premissas Orçamentárias. O orçamento é como um plano de vôo. Imagine um piloto preparando-se para um vôo de longa distância. Ninguém imagina que ele entre no avião, sente-se em sua poltrona, tire o quepe, afrouxe o colarinho, ligue os motores e decole. Antes, ele tem que fazer o plano de vôo e, para isto, ele precisa da previsão meteorológica. Assim também no orçamento. Antes de iniciar o orçamento é preciso definir os princípios que nos guiarão neste processo. São as chamadas ―premissas orçamentárias‖. A primeira delas é o cenário econômico esperado para o período a ser orçado. O cenário econômico é importante porque define os fatores externos que podem influir no desempenho da empresa no período orçado. Fazendo uma analogia, pode-se dizer que o cenário econômico está para quem faz o orçamento assim como a previsão meteorológica está para o piloto que faz um plano de vôo. Ao definirmos o cenário econômico que imaginamos que vá ocorrer no período que estamos orçando, preocupamo-nos preferencialmente com os fatores externos que possam a afetar o desempenho da empresa que está sendo orçada. O Cenário Econômico Se, por exemplo, estivermos orçando uma empresa que compre em Reais e venda em Reais, e que não sofra a concorrência de importados, talvez não faça sentido preocuparmo-nos com a projeção do preço do dólar. Já para uma empresa que importe matéria-prima ou material de revenda, ou exporte parte de sua produção, esta projeção será vital. Os principais (mas não os únicos) parâmetros a serem projetados na elaboração de um orçamento, via de regra são: o nível de atividade econômica, a evolução das taxas de inflação, a evolução das taxas de juros e a evolução das taxas de câmbio. Para se ter uma idéia de como é que cada um destes fatores afetam o orçamento, comecemos pelo nível de atividade econômica. É o PIB - Produto Interno Bruto que mede o nível de atividade econômica. Sendo bastante simplistas, poderíamos dizer que o PIB dá a medida de tudo o que é produzido no país em um determinado período. O PIB pode ser segmentado por região ou por atividade econômica. Assim, temos não apenas os PIB’s regionais (por estados ou municípios) como o PIB industrial, comercial e de serviços.

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Orçamento Empresarial – Planejamento e Controle Gerencial

35 Prof. Paulo César

Parte – 03 – Preparação do Plano Orçamentário Data____/____/____

Este capítulo tem por objetivo:

Conhecer as premissas orçamentárias; Identificar informações necessárias para iniciar as estimativas

As premissas orçamentárias

Introdução Neste módulo você conhecerá um pouco mais sobre as Premissas Orçamentárias.

O orçamento é como um plano de vôo. Imagine um piloto preparando-se para um vôo de longa distância. Ninguém imagina que ele entre no avião, sente-se em sua poltrona, tire o quepe, afrouxe o colarinho, ligue os motores e decole. Antes, ele tem que fazer o plano de vôo e, para isto, ele precisa da previsão meteorológica. Assim também no orçamento.

Antes de iniciar o orçamento é preciso definir os princípios que nos guiarão neste

processo. São as chamadas ―premissas orçamentárias‖. A primeira delas é o cenário econômico esperado para o período a ser orçado. O cenário

econômico é importante porque define os fatores externos que podem influir no desempenho da empresa no período orçado. Fazendo uma analogia, pode-se dizer que o cenário econômico está para quem faz o orçamento assim como a previsão meteorológica está para o piloto que faz um plano de vôo.

Ao definirmos o cenário econômico que imaginamos que vá ocorrer no período que

estamos orçando, preocupamo-nos preferencialmente com os fatores externos que possam a afetar o desempenho da empresa que está sendo orçada. O Cenário Econômico

Se, por exemplo, estivermos orçando uma empresa que compre em Reais e venda em Reais, e que não sofra a concorrência de importados, talvez não faça sentido preocuparmo-nos com a projeção do preço do dólar. Já para uma empresa que importe matéria-prima ou material de revenda, ou exporte parte de sua produção, esta projeção será vital.

Os principais (mas não os únicos) parâmetros a serem projetados na elaboração de um

orçamento, via de regra são: o nível de atividade econômica, a evolução das taxas de inflação, a evolução das taxas de juros e a evolução das taxas de câmbio.

Para se ter uma idéia de como é que cada um destes fatores afetam o orçamento, comecemos pelo nível de atividade econômica. É o PIB - Produto Interno Bruto que mede o nível de atividade econômica. Sendo bastante simplistas, poderíamos dizer que o PIB dá a medida de tudo o que é produzido no país em um determinado período.

O PIB pode ser segmentado por região ou por atividade econômica. Assim, temos não

apenas os PIB’s regionais (por estados ou municípios) como o PIB industrial, comercial e de serviços.

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Um PIB crescente indica uma economia em expansão. Uma economia em expansão significa mais empregos. Mais empregos significa mais dinheiro nas mãos da população, ou seja, mais consumo. A projeção do PIB quase sempre nos ajuda a projetar se as vendas da empresa devem ser maiores, menores ou iguais às do exercício em curso.

A atividade econômica também vai influenciar o nível de inadimplência dos clientes. Desta

forma, caso a empresa esteja projetando uma redução do nível da atividade econômica, deve fazer uma provisão para o aumento da inadimplência dos clientes ou então adotar uma política mais restritiva de concessão de crédito.

Quer dizer que quando lemos que o PIB da China cresce há mais de 30 anos a taxas

superiores a 10% ao ano, isto é semelhante a dizer que o salário de uma pessoa cresce mais de 10% ao ano há mais de trinta anos e, mais do que isto, que o salário desta pessoa cresce mais de 10% ao ano há mais de trinta anos, já descontado os efeitos da inflação, ou seja, em termos reais. Por isso, não é de se espantar que a China tenha se transformado em uma potência econômica.

Em seguida, projetamos as taxas de inflação. A projeção das taxas de inflação vai

determinar as políticas de reposição salarial, de reajustes de preços e as projeções de aumento de preços da matéria prima ou do material de revenda. É importante notar que não basta projetar a taxa anual da inflação. É preciso projetar a inflação acumulada por trimestre ou, de preferência, por mês.

Isto porque a inflação projetada para o ano projeta a variação esperada dos preços no

período de 1º de janeiro a 31 de dezembro daquele ano. Caso a data base dos empregados da empresa seja em 1º de maio, o índice que vai reajustar os salários vai refletir a variação dos preços havida de 1º de maio do ano em curso a 30 de abril do ano que vem. Este índice, evidentemente, será diferente do índice projetado para o ano.

Os índices mais importantes são o IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Ampliado e o

IGPM – Índice Geral de Preços de Mercado. O IPCA é calculado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. É o índice que mede a inflação oficial. É também, o índice pelo qual são calculados os reajustes salariais.

Já o IGPM é calculado pela Fundação Getúlio Vargas e serve como base para o reajuste

dos preços dos serviços públicos (luz, água, telefone) e para ajustar alguns contratos de aluguel. O IGPM de Janeiro de 2010 foi de 0,63. Fonte: FGV-SEPLAN/GO-SEPIN As projeções das taxas de juros são essenciais para orçar as receitas e as despesas

financeiras e para definir os níveis de vendas e de preços da empresa, já que as metas de lucro são definidas em função das taxas de juros e do retorno pretendido pelos acionistas. As taxas de juros que interessam ao orçamento são as taxas SELIC, as taxas de captação e as taxas de aplicação de recursos. Estas últimas não variam na mesma proporção que as taxas SELIC, se bem que geralmente caminhem na mesma direção, ou seja, a tendência de redução de uma aponta para uma tendência de redução da outra.

As taxas de juros podem afetar a meta de lucro desejada pelos acionistas. O governo

vende títulos públicos e com este dinheiro arrecadado, financia seus déficits de caixa da mesma forma que uma pessoa usa seu cheque especial para financiar seus déficits de caixa. Os juros pagos por estes títulos públicos é a chamada taxa SELIC, que é publicada diariamente nas seções de economia dos maiores jornais do país.

Acontece que os títulos públicos são considerados títulos livres de risco porque, caso o

governo não tenha dinheiro para resgatá-los no vencimento, pode emitir moeda para fazê-lo, ou seja, o título público é livre do chamado risco de calote. Por outro lado, existem títulos públicos cuja taxa de juros é fixada no momento da compra e que não variam ao longo de sua vida útil.

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Quer dizer, sabemos exatamente quanto vamos receber de juros, ou seja, é livre de risco de retorno.

Isso se relaciona ao orçamento pois se um investidor pode investir seu dinheiro em um

título público sem risco de calote ou de retorno, porque iria correr todos os riscos e dissabores de investir em uma empresa se não fosse para ganhar mais do que a taxa SELIC? - E o quanto acima da taxa SELIC um investidor deseja ganhar para investir em uma empresa?

Existem empresas que são muito mais previsíveis, e, portanto, menos arriscadas do que

outras. É natural que os acionistas destas empresas se contentem com uma taxa de retorno mais baixa do que a que exigiria um investidor em uma empresa mais arriscada. Observe o exemplo.

Imagine um colégio no qual a inadimplência dos alunos fosse zero. Trata-se de uma empresa muito previsível, pois seus acionistas sabem quantos alunos o colégio tem, o quanto cada aluno paga de mensalidade e o dia em que as mensalidades vencem (e o dinheiro entra).

Os acionistas deste colégio certamente vão se contentar com uma taxa de retorno sobre seu investimento muito menor do que um empreiteiro de serviços públicos que tem que ganhar concorrências, completar as etapas da obra, sofrer medições e glosas por parte da fiscalização, atrasos de pagamento etc.

Por fim, se a empresa se comunica com o exterior, ou seja, se importa parte das matérias-

primas que usa ou das mercadorias que comercializa, ou se exporta parte do que produz, é importante projetar a evolução das taxas de câmbio. Só assim poderá orçar sua receita e os custos de suas vendas.

Somente os grandes bancos e os grandes grupos econômicos possuem departamentos

econômicos para projetarem cenários. As empresas menores compram estes cenários, ou os recebem dos bancos com os quais trabalham. De fato, existem empresas especializadas em projetar cenários econômicos.

Estas empresas normalmente cobram uma mensalidade e disponibilizam mensalmente em

seus sites cenários para seus clientes. Evidentemente, os cenários comprados são muitíssimo mais completos do que os cenários cedidos pelos bancos a seus clientes. No entanto, uma empresa do porte da nossa talvez não precise de todas as informações contidas nos cenários comprados. Os Índices de Desempenho

Além dos cenários econômicos, é necessário definir os índices de desempenho. Os índices de desempenho estabelecem padrões de excelência que devem ser perseguidos pela empresa e fornecer parâmetros que nos permitam identificar rapidamente onde a empresa está sendo ineficiente. Apenas para efeitos didáticos, os índices de desempenho podem ser classificados em três grupos: índices de desempenho administrativos, operacionais e financeiros.

Exemplos de índices administrativos seriam, por exemplo: a venda média mensal por vendedor deve ser R$ 100.000; a contabilidade deve entregar as demonstrações contábeis até cinco dias úteis corridos e contados da data de encerramento do exercício; as demissões de funcionários com menos de um ano de empresa não deve exceder a 10% das contratações havidas nos últimos 12 meses; os pedidos de demissões de funcionários não devem exceder, no ano, a 2 % do número de funcionários da empresa, e assim por diante. Cada um desses índices denuncia um tipo de ineficiência na área administrativa da empresa.

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Os dois últimos índices denunciariam um número excessivo de demissões pode indicar uma falha no processo de recrutamento e seleção de pessoal. Ou seja, a empresa está contratando pessoas inadequadas às posições que ocupam. Já um número elevado de pedidos de demissão pode denunciar que a empresa está sendo incapaz de reter seus melhores talentos. Pode ser que, neste caso, os salários pagos pela empresa estejam defasados em relação ao mercado. Lembrando que esses números citados são apenas exemplos.

O mais importante índice de desempenho operacional é o custo unitário padrão, ou seja, o custo unitário do produto vendido (ou do serviço prestado) apurado em condições ideais. Quando o custo unitário observado é maior do que o custo unitário padrão é porque a empresa, de alguma forma, foi ineficiente. Ou comprou por um preço acima do esperado, ou as perdas foram muito elevadas, ou consumiu muita mão de obra, etc. Mas, além deste, existem outros índices de desempenho operacionais, tais como o prazo médio de permanência de um produto no estoque, por exemplo. Se este prazo começar a crescer, isto pode ser porque a empresa está comprando ou produzindo o que não gira.

Os índices de eficiência financeira são os índices tradicionais de balanço. O mais importante destes índices é a rentabilidade sobre o patrimônio líquido. Isso porque este índice mostra qual a taxa de retorno os acionistas estão obtendo sobre os recursos investidos na empresa. Outros índices de eficiência financeira pode ser o índice de liquidez corrente, a margem líquida, o grau de endividamento, etc.

Os principais índices de balanço representam relações entre contas e subcontas do balanço patrimonial e do DRE e procuram avaliar um determinado aspecto da vida da empresa. Assim, temos os índices de liquidez que procuram analisar a capacidade de a empresa liquidar seus compromissos.

O mais importante deles é o Índice de Liquidez Corrente, (medem “o quanto a empresa tem

para cada unidade monetária que ela deve”.) Já os índices de rentabilidade procuram avaliar a capacidade de a empresa remunerar

seus acionistas, como a Margem Líquida e a Rentabilidade do Patrimônio Líquido. Finalmente, temos os índices de estrutura que buscam avaliar se a empresa está se consolidando ou, ao contrário, se fragilizando. Como índices de estrutura, podemos citar o Grau de Endividamento Financeiro de Curto Prazo, o Prazo Médio de Recebimento de Duplicatas e o Prazo Médio de Reposição dos Estoques.

Caso a empresa considere algum destes índices inaceitáveis terá que estabelecer como um dos objetivos do orçamento corrigi-lo. Por exemplo: imagine que uma empresa tenha definido que o prazo médio de liquidação das duplicatas tivesse que se situar abaixo de 35 dias. Caso ao final do orçamento este prazo continuasse em 53 dias, isto denunciaria que a inadimplência dos clientes estaria muito alta. Neste caso, se estabeleceria um prazo para que o setor de crédito e cobrança reduzisse esta inadimplência aos níveis preestabelecidos. Outras Premissas Orçamentárias

Ainda não é possível dar inicio ao orçamento. Existem ainda, outras informações que precisam ser levantadas e que serão necessárias na elaboração do orçamento. Uma delas é o índice de rotatividade de pessoal. Este índice será muito importante quando formos calcular a verba necessária para fazer face às rescisões de contratos de trabalho.

O índice de rotatividade de pessoal, também conhecido como ―turn-over‖, é a relação entre o número de funcionários demitidos, (ou que tenham pedido demissão, tanto faz) com substituição e o número total de funcionários da empresa. Este índice é sempre referido a uma unidade de tempo, geralmente o ano.

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Suponha que uma empresa com duzentos funcionários substitua, em média, 10 funcionários por ano. Neste caso o índice de rotatividade de pessoal será 5% ao ano. Mais tarde veremos como este índice será utilizado no orçamento de custos fixos. Só entra no cálculo do índice de rotatividade de pessoal o número de funcionários demitidos com substituição.

Nível de absenteísmo: mede as ausências dos trabalhadores no processo de trabalho, seja por atrasos, faltas ou saídas antecipadas no trabalho, de maneira justificada ou não.

Onde:

Total de homens-hora = horas normais (sem o DSR) x número de funcionários x dias úteis trabalhados.

Índice de rotatividade (Turn over): mede o giro de entradas e saídas de pessoal.

Custo de rotatividade de pessoal: rescisão de contrato de trabalho, recrutamento, seleção, treinamento, adaptação, advogados, justiça do trabalho etc.

Continuando os conceitos: Caso a empresa tenha demitido uma secretária e não a tenha substituído, não houve uma

substituição e sim uma redução do quadro de secretárias. Se uma secretária tiver se demitido e, em seguida, a empresa tiver contratado um engenheiro, houve uma redução do quadro de secretárias e um aumento do quadro de engenheiros.

Temos também que determinar o perfil de recebimento das duplicatas da empresa, ou seja, qual a porcentagem das duplicatas que vencem a 30, 60 ou 90 dias. Esta informação será necessária para projetarmos o fluxo de caixa do período que está sendo orçado.

Outra informação indispensável na projeção do fluxo de caixa é o chamado perfil de

inadimplência dos clientes, ou seja, a porcentagem das duplicatas que são pagas no vencimento e das duplicatas que são pagas com 30, 60, 90 dias de atraso ou que simplesmente não são pagas.

Para determinar o perfil de inadimplência dos clientes, primeiro verificamos quanto a

empresa recebeu de seus clientes em um determinado mês. Esta informação está disponível no sistema de contas a receber. Em seguida filtramos qual a porcentagem de duplicatas recebidas dentro do mês no qual ela venceu. Repetimos esta filtragem para saber qual a porcentagem das duplicatas que foram recebidas no mês e que se venceram no mês anterior, há dois meses, e assim por diante. Um dado importantíssimo que deve constar das premissas orçamentárias diz respeito ao reajuste salarial no próximo ano. Definindo a Meta de Lucro

Existem várias maneiras de determinar qual deve ser a rentabilidade exigida pelos acionistas para continuarem investindo em um determinado negócio. Um destes métodos é tão sofisticado que deu ao seu inventor um prêmio Nobel.

100HoraHomensdeTotal

horas em faltasdeTotalhoras ematrasosdeTotaloAbsenteísmdeÍndice

100osFuncionárideMédia

2Demissões)deNºAdmissõesde(Nº MensalTurnover

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O economista americano William Sharpe, no início dos anos 60, desenvolveu o chamado

Método de Precificação de Ativos de Capital, o que lhe rendeu o prêmio Nobel de economia. Para empresas pequenas, que não comportam a aplicação de métodos tão sofisticados,

tomamos como base a rentabilidade das melhores empresas do nosso ramo. Como as melhores empresas do ramo possuem ações cotadas em bolsa, suas demonstrações contábeis são divulgadas. Exemplo:

Suponha que uma empresa apresentou no último exercício uma rentabilidade de 23% ao ano. Como a taxa SELIC média no último exercício foi 15,2%, isto significa que ela ganhou 7,8% ao ano acima da SELIC. Chamamos ao retorno que excede a taxa SELIC de prêmio de risco. A partir daí, simplesmente somamos este prêmio de risco à taxa SELIC média projetada para o ano que vem. Como esta média esta projetada para 12,2% ao ano, temos que 12,2% + 7,8 = 20% ao ano. São 20% sobre o Patrimônio Líquido da empresa.

O Patrimônio Líquido é a conta do Passivo onde estão registrados todos os recursos que os acionistas investiram na empresa. Estes recursos podem ser investidos sob a forma de aporte de capital ou reinvestimento de lucros.

Quando a empresa faz um aumento de capital, os acionistas compram as novas ações que são lançadas no mercado, este dinheiro é depositado no banco e usado para financiar um novo projeto que a empresa queira desenvolver. É o aporte de capital. Quando a empresa dá lucro e a empresa distribui parte deste lucro sob a forma de dividendos, a parcela do lucro que não foi distribuída é reinvestida na empresa.

Para definir os índices de desempenho administrativos e operacionais, é necessário solicitar aos diversos gerentes de departamentos que definam seus próprios índices. Depois, ajustamos os índices apresentados aos valores que achamos adequados. Baseado nos desempenhos das melhores empresas do ramo definimos os índices de desempenho financeiro.

Os índices indicados são importantíssimos, não apenas na fase de preparação do orçamento, mas também, na fase de acompanhamento e controle do orçamento. Na fase de elaboração orçamentária, acompanhamos o tempo todo a evolução dos índices de desempenho financeiro obtidos a partir das demonstrações contábeis projetadas. Caso eles não se comportem de acordo com o projetado, temos que rever as hipóteses de trabalho.

Se, por exemplo, estabelecemos que o prazo médio de reposição dos estoques de matéria prima é de dois meses e nas demonstrações contábeis projetadas no orçamento, este índice começar a crescer acima do estabelecido como meta, temos que rever nosso plano de reposição do estoque de matéria prima. O mesmo acontece na fase de acompanhamento do orçamento.

O Orçamento Anual Como Componente Do Plano De Longo Prazo

A elaboração de um orçamento a cada período de doze meses, e para um limite de tempo bem definido, é o detalhamento das políticas, metas e condições esperadas de atividade nesse período de doze meses, nos seus aspectos de operações e movimento de caixa, além da parcela correspondente dos projetos de investimento ou abandono de ativos imobilizados.

Caso o orçamento se refira ao período do ano civil, isto é, o prazo para o qual é feito o

plano vai de 1.° de janeiro a 31 de dezembro de um ano qualquer, é interessante iniciar o processo de elaboração com três ou quatro meses de antecedência em Setembro ou Outubro, portanto.

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1. Inicialmente, deve ser preparada uma previsão de vendas, já que os níveis de estoques e produção (e os seus custos, por conseguinte), em geral estão ligados ao volume físico de vendas. Alternativamente, quando a capacidade de produção é a restrição principal, e não a absorção do volume de produção pelo mercado (ou seja, a procura), o programa de produção é que deverá ser o ponto de partida.

2. A seguir, dispondo de informações sobre o que se espera vender, dadas as perspectivas do mercado (procura total e parcela a ser atendida pelos produtos e serviços da empresa), elabora-se o orçamento de produção, que é uma programação das atividades exigidas para a geração das unidades físicas a serem vendidas ou estacadas, para ampliação do inventário ou reposição de unidades vendidas previamente.

Assim, a produção orçada será dada por:

Estoque final desejado de produtos acabados mais

Vendas orçadas menos Estoque inicial desejado de produtos acabados.

Como se observa, as vendas orçadas e a produção programada não precisam oscilar exatamente da mesma forma durante o ano, pois as diferenças eventuais entre elas ou são absorvidas ou se refletem em variações dos estoques. "Portanto o estoque serve de elo de coordenação entre produção e vendas, funcionando como um amortecedor que atende às necessidades de produtos da área comercial quando a procura é extraordinariamente intensa, e também atende às exigências da produção no sentido da utilização regular de operários, máquinas e instalações.

3. Conseqüentemente, não como terceira etapa, mas como complemento da coordenação entre orçamento de vendas e orçamento de produção, teremos a confecção de previsões de estoques de produtos acabados. 4. A conclusão do orçamento de produção terá assim estabelecido as condições para que, por sua vez, sejam elaboradas as seguintes previsões:

a) consumo de matéria-prima e compras; o primeiro depende da produção física programada, e o segundo está relacionado também ao que se deseja manter em termos de estoques de matéria-prima e produtos em elaboração (há aqui o mesmo elo de coordenação — entre compras e produção — que apontamos para vendas, estoques de produtos acabados e produção). b) utilização de mão-de-obra direta produtiva e custos correspondentes, à taxa prevista de remuneração para cada categoria de operário; c) custos indiretos de produção, envolvendo gastos necessários para a realização da produção, mas não diretamente incorporados ao produto ou serviço final, como acontece com a mão-de-obra e a matéria-prima. Estão aqui incluídos itens tais como: luz e força, manutenção, depreciação de máquinas e equipamentos, salários da supervisão da produção, seguros e aluguéis de máquinas, ferramentas e instalações, além de outros gastos indiretos.

Os elementos contidos nos itens a) b) e c) devem em seguida ser acumulados,

correspondendo, em valor monetário total, ao custo dos produtos vendidos, 3 que deduzido das receitas de vendas orçadas nos dará o resultado bruto conseguido pela empresa em suas operações.

5. Finalmente,- conclui-se o processo de elaboração de uma projeção da demonstração do resultado do exercício com previsões a respeito de despesas administrativas e de vendas da empresa como um todo. A diferença entre o resultado bruto e o total destas despesas será o resultado operacional previsto para a empresa no período seguinte.

Assim sendo, a conjugação de todas as previsões feitas até este ponto, além de ter gerado

os quadros dos estoques projetados de matéria-prima e produtos acabados, terá proporcionado,

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Orçamento Empresarial – Planejamento e Controle Gerencial

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no processo de planejamento, uma previsão do resultado liquido a ser conseguido nas operações da empresa. Teríamos assim concluído a preparação do orçamento de desempenho da empresa, esquematizado na figura abaixo.

6. Na sequência de todo o processo, seria iniciada a confecção do orçamento de recursos, cujo final se refletiria num balanço projetado para cada subperiodo do plano, bem como para a data de seu encerramento. O primeiro ingrediente já resultou das projeções de estoques; acrescentam-se aqui as projeções de saldos de contas a receber, que decorrem das vendas orçadas e da política de crédito e cobrança adotada pela empresa. A conclusão deste orçamento de recursos ocorrerá com a elaboração do orçamento de caixa e das previsões de financiamento.

7. Antes dos dois últimos, porém, completando o conjunto de aplicações de numerário da empresa, será preciso elaborar o orçamento de gastos com ativos imobilizados, ou seja, incluir a parcela anual de projetos de expansão física ou novas incorporações de máquinas, equipamentos e veículos que venham a ocorrer durante o ano. Essas operações envolvem pagamentos ou até recebimentos em caso de liquidação ou venda de ativos imobilizados pertencentes à empresa.

8. Quando tiverem sido efetuadas todas as projeções relacionadas à aplicação de numerário pela empresa e esta tiver em mãos os dados relativos aos recebimentos das vendas efetuadas, será possível elaborar o orçamento de caixa, que não passa de um reflexo, em termos de saldos de caixa e depósitos bancários à vista; dos níveis de operações fixados ou programados em todos os orçamentos anteriores.

Orçamento de Desempenho

Orçamento de Vendas Orçamento de outras Receitas

Objetivo de resultado

Orçamento de Produção

Orçamento de Consumo de MP

Orçamento de Custos indiretos de Produção

Projeção da Demonstração do resultado do exercício

Orçamento de MO direta

Especificando

MENOS CUSTOS E DESPESAS, DETALHADOS EM:

Resultando em:

Orçamento de Despesas de vendas

Orçamento de Despesas Administrativas

Orçamento de outras Despesas

MAIS

MAIS

Resultando em:

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Orçamento Empresarial – Planejamento e Controle Gerencial

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O orçamento de caixa e um instrumento útil para que se possa evitar tanto os saldos

desnecessariamente elevados quanto identificar os momentos em que um financiamento adicional (ou alguma outra medida; deva ser feito para eliminar uma situação de insuficiência de numerário. O orçamento de caixa geralmente contém:

1. O saldo inicial do período; 2. As entradas previstas, por natureza; 3. As saídas de caixa previstas, por natureza; 4. Um resultado intermediário, igual a (1 ) + (2) - (3), que indicará a necessidade de financiamento temporário, caso esse resultado seja negativo ou inferior a um nível mínimo considerado desejável, ou a existência de excedentes desnecessários e aplicáveis de algum outro modo rentável que não as operações básicas da empresa; 5. As previsões de cobertura dos déficits ou de aplicação dos excedentes; e 6. O saldo final de caixa.

Assim, como o objetivo do orçamento de recursos era chegar à projeção do balanço da

empresa, já teremos todos os elementos necessários, que terão sido obtidos na realização das estimativas contidas nos diferentes orçamentos até agora mencionados.

Resumo do Módulo 3 – Orçamento Empresarial

1. O cenário econômico define os fatores externos que podem influir no desempenho da empresa no período orçado. 2. Ao definir o cenário econômico é importante preocupar-se preferencialmente com os fatores externos que possam afetar o desempenho da empresa que está sendo orçada. 3. Os principais parâmetros a serem projetados na elaboração de um orçamento são: o nível de atividade econômica, a evolução das taxas de juros e a evolução das taxas de câmbio. 4. O nível de atividade econômica é o PIB – Produto Interno Bruto. A projeção do PIB quase sempre ajuda a empresa a projetar se as vendas da empresa devem ser maiores, menores ou iguais às do exercício em curso. A atividade econômica também influencia o nível de inadimplência dos clientes. 5. As projeções das taxas de inflação determinam as políticas de reposição salarial, de reajustes de preços e as projeções de aumento de preços de matéria-prima ou do material de revenda. 6. Os mais importantes índices que medem a inflação no Brasil são: IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Ampliado e o IGPM – Índice de Preços de Mercado. 7. As projeções são essenciais para orçar as receitas e as despesas financeiras e para definir os níveis de vendas e de preços da empresa, já que as metas de lucro são definidas em função das taxas de juros e do retorno pretendido pelos acionistas. 8. É preciso definir os índices de desempenho para estabelecer padrões de excelência que devem ser perseguidos pela empresa e fornecer parâmetros que nos permitam identificar rapidamente onde a empresa está sendo ineficiente. Esses índices podem ser classificados em três grupos: índices de desempenho administrativos, operacionais e financeiros. 9. O índice de rotatividade de pessoal também é importante para calcular a verba necessária para fazer face às rescisões de contratos de trabalho. O perfil de inadimplência também é indispensável na projeção do fluxo de caixa.

Exercícios realizados em sala de aula.