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Revista deISSN 1413-4969 Publicao Trimestral Ano XX - N 4 Out./Nov./Dez. 2011

Publicao da Secretaria de Poltica Agrcola do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

Impacto do agronegcio sobre o ndice de Desenvolvimento Sustentvel (IDS) do Estado de Minas GeraisPg. 69Uma proposta para medir a insegurana alimentar Encadeamentos do setor agropecurio brasileiro no perodo de 1997 a 2007Ponto de Vista

Pg. 21

Pg. 58

possvel uma produtiva convivncia entre agronegcio e meio ambiente

Pg. 112

ISSN 1413-4969 Publicao Trimestral Ano XX No 4 Out./Nov./Dez. 2011 Braslia, DF

SumrioCarta da AgriculturaConselho editorial Eliseu Alves (Presidente) Embrapa Wilson Vaz de Arajo SPA Elsio Contini Embrapa Marlene de Arajo Embrapa Paulo Magno Rabelo Conab Biramar Nunes de Lima Consultor independente Hlio Tollini Consultor independente Jlio Zo de Brito Consultor independente Mauro de Rezende Lopes Consultor independente Vitor Afonso Hoeflich Consultor independente Vitor Ozaki Consultor independente Caio Tibrio da Rocha Mapa Secretaria-Geral Regina Mergulho Vaz Coordenadoria editorial Marlene de Arajo Wesley Jos da Rocha Cadastro e atendimento Jssica Tainara de L. Rodrigues Carla Trigueiro Foto da capa Marlene de Arajo Embrapa Informao Tecnolgica Superviso editorial Wesley Jos da Rocha Copidesque e Reviso de texto Corina Barra Soares Normalizao bibliogrfica Celina Tomaz de Carvalho Iara Del Fiaco Rocha Projeto grfico Carlos Eduardo Felice Barbeiro Editorao eletrnica e capa Leandro Sousa Fazio Impresso e acabamento Embrapa Informao Tecnolgica Mendes Ribeiro Filho

Resultados que alimentam o mundo................................. 3 Anlise da recente alta internacional dos preos das commodities alimentares: previso e mudana estrutural .......................................................................... 7Lindomar Pegorini Daniel / Ademir Machado de Oliveira / Marcus Vincius Zandonadi Premoli / Adriano Alves de Rezende Maria Auxiliadora de Carvalho / Csar Roberto Leite da Silva

Uma proposta para medir a insegurana alimentar......... 21 As cooperativas rurais brasileiras e o mercado de crdito de carbono: anlise da influncia dessas operaes no empreendimento cooperativo ........ 37Gustavo Leonardo Simo / Nora Beatriz Presno Amodeo

Competitividade das exportaes sucroalcooleiras do Estado de So Paulo ........................ 50Rosangela Aparecida Soares Fernandes / Cristiane Mrcia dos Santos

Encadeamentos do setor agropecurio brasileiro no perodo de 1997 a 2007 ............................ 58Svio Borges Alencar / Alisson Diego do Nascimento Neri / Eliane Pinheiro de Sousa

Impacto do agronegcio sobre o ndice de Desenvolvimento Sustentvel (IDS) do Estado de Minas Gerais ................................................................... 69Felippe Clemente / Sebastio Teixeira Gomes

Viabilidade de plantio de caf na Zona da Mata mineira ........................................ 84Isis de Castro Amaral

O papel da cincia e da tecnologia na agricultura do futuro................................. 98Kepler Euclides Filho / Ruy Rezende Fontes / Elsio Contini / Fernando Antnio Arajo Campos

Ponto de Vista

possvel uma produtiva convivncia entre agronegcio e meio ambiente ............................. 112Antonio Donato Nobre

Interessados em receber esta revista, comunicar-se com: Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento Secretaria de Poltica Agrcola Esplanada dos Ministrios, Bloco D, 5o andar 70043-900 Braslia, DF Fone: (61) 3218-2505 Fax: (61) 3224-8414 www.agricultura.gov.br [email protected] Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Secretaria de Gesto Estratgica Parque Estao Biolgica (PqEB), Av. W3 Norte (final) 70770-901 Braslia, DF Fone: (61) 3448-4159 Fax: (61) 3347-4480 www.embrapa.br Marlene de Arajo [email protected]

Esta revista uma publicao trimestral da Secretaria de Poltica Agrcola do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, com a colaborao tcnica da Secretaria de Gesto Estratgica da Embrapa e da Conab, dirigida a tcnicos, empresrios, pesquisadores que trabalham com o complexo agroindustrial e a quem busca informaes sobre poltica agrcola. permitida a citao de artigos e dados desta revista, desde que seja mencionada a fonte. As matrias assinadas no refletem, necessariamente, a opinio do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento.Representantes e avaliadores da RPA nas Universidades A Coordenao Editorial da Revista de Poltica Agrcola (RPA) do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) criou a funo de representante nas universidades, visando estimular professores e estudantes a discutir e escrever sobre temas relacionados poltica agrcola brasileira. Os representantes citados abaixo so aqueles que expressaram sua concordncia em apresentar essa revista aos seus alunos e avaliar artigos que a eles forem submetidos. Dr. Vitor A. Ozaki Departamento de Cincias Exatas Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) Universidade de So Paulo (USP) Profa. Dra. Yolanda Vieira de Abreu Professora adjunta IV do Curso de Cincias Econmicas e do Mestrado de Agroenergia da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Prof. Almir Silveira Menelau Universidade Federal Rural de Pernambuco Tnia Nunes da Silva PPG Administrao Escola de Administrao Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Geraldo SantAna de Camargo Barros Centro de Estudos e Pesquisa em Economia Agrcola (Cepea) Maria Izabel Noll Instituto de Filosofia e Cincias Humanas Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Lea Carvalho Rodrigues Curso de Ps-Graduao em Avaliao de Polticas Pblicas Universidade Federal do Cear (UFC)

Tiragem 7.000 exemplares

Todos os direitos reservados. A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei no 9.610). Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Embrapa Informao Tecnolgica Revista de poltica agrcola. Ano 1, n. 1 (fev. 1992) - . Braslia, DF : Secretaria Nacional de Poltica Agrcola, Companhia Nacional de Abastecimento, 1992v. ; 27 cm. Trimestral. Bimestral: 1992-1993. Editores: Secretaria de Poltica Agrcola do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, 2004- . Disponvel tambm em World Wide Web: ISSN 1413-4969 1. Poltica agrcola. I. Brasil. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Secretaria de Poltica Agrcola. II. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. CDD 338.18 (21 ed.)

Carta da Agricultura

Resultados que alimentam o mundoEste o momento propcio para o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento fazer o balano de sua atuao no ano que se finda e desejar muita prosperidade para o ano que se inicia. Um olhar para trs nos permite comemorar os acertos e tambm procurar aprender com os erros. E focando o futuro nos incentiva a traar metas e a recarregar o esprito com expectativas renovadoras. Em 2011, ajustamos o rumo, fechando o ano com nmeros bastante positivos. O Valor Bruto da Produo (VBP) atingiu o recorde de R$ 205,8 bilhes, o mais elevado desde 1997. O crescimento, de 11,7% em comparao com 2010, foi alavancado por alguns produtos, como o algodo, a uva, o caf e o milho. O PIB do agronegcio, fortemente impulsionado pela pecuria, alcanou R$ 46,6 bilhes no terceiro trimestre. A agricultura respondeu por 70,4% do PIB do setor, enquanto a pecuria, por 29,6%. O agronegcio emprega, atualmente, cerca de 30 milhes de pessoas, das quais de 16 a 17 milhes encontram-se no setor primrio, enquanto o restante est distribudo pelos diversos segmentos que compem o agronegcio. Alm de produzir a maior parte dos alimentos que consome, o Brasil o maior exportador mundial do complexo soja (gro, farelo e leo) e tambm de carnes, acar e produtos florestais. No ranking mundial, o Pas ocupa a liderana na produo de acar, caf em gros e suco de laranja, soja em gros, carne bovina,1

Mendes Ribeiro Filho1

tabaco e etanol. E praticamente autossuficiente em todos os produtos da cesta bsica, com exceo do trigo. Por todos esses fatores, o Brasil considerado a quinta potncia mundial do agronegcio. Em 2011, a produo de biodiesel no Pas foi de 2,6 bilhes de litros, ou seja, 8,6% superior ao produzido no ano anterior. Na safra 2011/2012, o setor sucroenergtico nacional dever produzir 571 milhes de toneladas de cana-de-acar, cultivadas em 8,4 milhes de hectares. Com essa matria-prima, sero produzidas 37 milhes de toneladas de acar e 22,9 bilhes de litros de etanol, dos quais 9,1 bilhes de etanol anidro e 13,8 bilhes de hidratado. Esse excelente desempenho pode ser explicado pela modernizao dos processos e tcnicas de produo, que hoje incorporam conhecimento cientfico e tecnologias de ponta, que esto entre os mais avanados do mundo tropical. Isso garante uma produtividade ainda maior e a adaptao das culturas s mais diversas condies de clima e solo, alm de melhoria dos procedimentos adotados na atividade agropecuria. H indcios de que, em 2011/2012, haver uma leve queda na produo nacional de gros, que deve chegar a 159,079 milhes de toneladas; em contrapartida, a produo de carnes (bovinos, aves e sunos) deve ultrapassar a casa de 24 milhes de toneladas, com uma projeo de crescimento de 26,5% para a prxima dca-

Ministro da Agricultura, Pecuria e Abastecimento.

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da. As exportaes de protena animal devem conformar um crescimento de 10%. As exportaes aumentam continuamente e, com a conquista de novos mercados, nossos produtos j chegam a mais de 200 pases. As exportaes brasileiras do agronegcio atingiram o recorde de US$ 92 bilhes nos ltimos 12 meses, ou seja, tiveram uma expanso de 24,4% em relao ao mesmo perodo no ano anterior. O bom desempenho do agronegcio brasileiro resultado tambm da capacidade empreendedora dos produtores. Eles superaram obstculos e adaptaram-se s novas tecnologias. A cada ano, melhoram seu sistema de produo, com a utilizao de mquinas e a adoo de sementes mais produtivas. Prova disso est no excelente resultado das exportaes das cooperativas nacionais, as quais devem bater o recorde de US$ 6 bilhes. O setor agropecurio responsvel por mais de US$ 4,6 bilhes desse total. Produzir alimentos , sem dvida, uma misso. So 7 bilhes de pessoas no mundo a alimentar, o que redobra a responsabilidade dos grandes produtores. Ser necessrio dobrar a produo agrcola mundial em 18 anos para que o mundo consiga dar conta dessa demanda crescente. Internamente, nosso desafio igualmente grande: mais de 30 milhes de pessoas saram da linha de pobreza, e 20 milhes de brasileiros ascenderam classe mdia; logo, esto consumindo mais.

ria, por intermdio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), chegou a R$ 267,7 milhes, no perodo entre agosto e novembro de 2011, tendo correspondido comercializao de 1.219,8 mil toneladas. A Conab, ciosa de sua obrigao de tornar pblico esses resultados, lanou o Portal da Transparncia, onde possvel acompanhar os nossos estoques de alimentos. Para beneficiar o setor de carnes, foi criada uma linha de investimento, no crdito rural, taxa fixa de 6,75% ao ano, para financiamento de at R$ 750 mil por beneficirio, para a aquisio de matrizes e reprodutores de bovinos e bubalinos, com prazo de pagamento de 5 anos, includos at 24 meses de carncia. O valor aplicado em carnes de agosto a novembro deste ano foi de R$ 7,8 bilhes. As parcerias com instituies pblicas tambm foram ampliadas. O acordo de cooperao firmado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) visa, prioritariamente, elaborao de estudos para a criao de um novo sistema de produo pecurio e sobre seguro rural, com nfase na melhoria da avaliao dos riscos envolvidos e no zoneamento. Com o Banco do Nordeste (BNB), a parceria envolve a capacitao para a agricultura sustentvel e o fomento s cadeias produtivas regionais. A segunda fase da vacinao contra a febre aftosa, encerrada em dezembro, imunizou cerca de 160 milhes de bovinos e bubalinos, superando o ndice de cobertura de 2010, que foi de 97,4%. A zona livre da doena no Brasil ultrapassa 5 milhes de quilmetros quadrados, com uma populao bovina de aproximadamente 182 milhes de cabeas e suna de 30 milhes. A implantao da Plataforma de Gesto Agropecuria (PGA), ainda em carter experimental, chancela mais uma exitosa parceria entre o Ministrio da Agricultura e a Confederao da Agricultura e Pecuria do Brasil (CNA) e tem como finalidade instituir um banco de dados agropecurio nico, de abrangncia nacional, totalmente informatizado.

Colhendo resultadosDiante desse cenrio, a misso do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) torna-se ainda mais premente. Se o Ministrio deve ser de todos os produtores, independentemente de porte, localizao ou atividade, ele tambm deve servir sociedade brasileira e ao agronegcio. E estamos trabalhando duro para isso. O apoio concedido pelo governo comercializao de arroz, feijo, sisal, trigo e saca-

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No mbito do Programa Agricultura de Baixa Emisso de Carbono (ABC), em dezembro foi lanada a Rede de Fomento da Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta (ILPF), um acordo entre parcerias pblico-privadas, que implicar um compromisso financeiro de investimento da ordem de R$ 2,5 milhes ao longo de 5 anos, iniciativa essa coordenada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa). Estamos modernizando nosso sistema de monitoramento meteorolgico. Com a assinatura de novo Acordo de Cooperao Tcnica Internacional entre o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a Organizao Meteorolgica Mundial (OMM), ser possvel garantir a moderna gerao de dados e produtos para a sociedade brasileira e para diversos segmentos produtivos. O Mapa trabalhou para estruturar as cadeias produtivas de oleaginosas e para diversificar as fontes de matrias-primas para a indstria de biodiesel. Foram desenvolvidas aes de apoio produo agrcola, atividades de difuso de novas tecnologias agrcolas para pequenos e mdios produtores, pesquisas de novas espcies oleaginosas, pesquisas de resistncia a pragas e doenas e capacitao de agentes de extenso rural em diversas regies do Pas. Pela primeira vez desde a sua criao, o Brasil preside o Conselho Agropecurio do Sul (CAS), que um frum do qual participam os ministros da Agricultura dos pases do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Brasil e Bolvia). Em reunio realizada em novembro, em Braslia, foram debatidos temas de interesse do agronegcio da regio. Ainda no segundo semestre de 2011, foi institudo o Comit Gestor do Programa Nacional de Fomento s Boas Prticas Agropecurias, composto por representantes do setor produtivo e dos ministrios da Agricultura, do Meio Ambiente e do Trabalho e Emprego, com o objetivo de desenvolver polticas pblicas de apoio adoo e implantao das boas prticas agropecurias na produo primria.

Mais crdito e produo mais seguraAlm do fator tecnolgico e das boas condies climticas, aes governamentais apoiaram o avano da produo de alimentos, com a concesso de crdito agrcola de baixo custo e o fortalecimento e a integrao das cadeias produtivas agropecurias. O crdito beneficiou a produo agropecuria empresarial nas reas de investimento, custeio e comercializao. Os financiamentos concedidos saltaram dos R$ 30 bilhes, concedidos em 2003, para R$ 100 bilhes, na safra 2010/2011. Um recorde histrico. O Plano Safra 2011/2012 vai destinar mais de R$ 107 bilhes em investimentos para o setor. Desse total, R$ 36 bilhes j chegaram s mos dos produtores. Mas precisamos avanar. Por intermdio do Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), os recursos liberados nos quatro primeiros meses do atual Plano Safra foram de R$ 107,2 milhes, ou seja, 20% maior que na safra anterior. Em 2011, foram contratadas 21 instituies financeiras para repasse de recursos direcionados a financiamentos de colheita, custeio, estocagem, aquisio de caf, capital de giro para indstrias de caf solvel e composio de dvidas de cafeicultores. Com base nos contratos firmados, foi colocada disposio de instituies financeiras, at 30 de novembro de 2011, a importncia de R$ 1,4 bilho. As linhas de crdito do Funcaf chegaram a cerca de 7.231 beneficirios, dos estados de Minas Gerais, So Paulo, Esprito Santo, Santa Catarina, Bahia, Amazonas, Rondnia, Gois e Distrito Federal. Foram investidos aproximadamente R$ 81,1 milhes no pagamento de subvenes ao Programa de Subveno ao Prmio do Seguro Rural (PSR), contemplando 19.062 aplices de seguro rural, o que garantiu um capital da ordem de R$ 2,3 bilhes. Com a regionalizao, o Estado de Santa Catarina liderou as estatsticas, com R$ 22,3 milhes em subveno, seguido pelo Rio Grande do Sul (R$ 21,4 milhes), pelo Paran (R$ 18,8 milhes) e por So Paulo (R$ 9,3 milhes).

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DesafiosO ano de 2012 nos reserva novos desafios. A poltica agrcola que est sendo desenhada pelo Ministrio dever levar em conta as necessidades da nova classe mdia rural que se forma no Pas. Um dos pontos fundamentais dessa premissa que os produtores podero contar com medidas favorveis, como juros menores, crdito rotativo e recomposio do perfil do endividamento. Ser uma estratgia integrada de apoio ao agronegcio. A poltica agrcola vai estabelecer uma renda rural compatvel e um seguro agrcola eficiente para os produtores, alm de garantir investimentos em pesquisa, para que mantenhamos nosso protagonismo em inovao e tecnologia.

Tambm deve promover a segurana sanitria animal e a vegetal, to necessrias para a estabilidade do mercado. Outras aes sero tomadas, entre elas a criao de uma Secretaria de Cooperativismo, para incentivar ainda mais o setor. A regionalizao da defesa sanitria vai permitir atuar de forma diferenciada na preveno da febre aftosa e de outras enfermidades. Nesse propsito, em breve ser dado incio a um grande debate nacional sobre o agronegcio, por meio de seminrios regionais. O Brasil precisa estar preparado para responder aos desafios que o mundo lhe apresenta. Para isso, tem de produzir mais, com mais qualidade e de forma sustentvel.

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Anlise da recente alta internacional dos preos das commodities alimentaresPreviso e mudana estrutural1

Lindomar Pegorini Daniel2 Ademir Machado de Oliveira3 Marcus Vincius Zandonadi Premoli4 Adriano Alves de Rezende5

Resumo Este artigo tem como objetivo analisar a alta observada entre 2007 e 2011 nos preos das commodities de alimentao em mbito internacional, tendo como motivao os efeitos prejudiciais que a elevao dos preos desse tipo de produto causa segurana alimentar mundial. Por meio do mtodo de Box e Jenkins (1976), busca-se estudar o comportamento dos preos nos meses que completam o ano de 2011 e, utilizando-se a anlise de quebra estrutural, procura-se comprovar a quebra estrutural no perodo de maior alta. O estudo permite verificar que existe uma tendncia de alta nos preos dos alimentos e de mudana estrutural na base de formao deles, evidenciando a necessidade de polticas pblicas, em mbito internacional, que assistam ao problema. Palavras-chave: economias emergentes, polticas pblicas, segurana alimentar.

Analysis of recent international increase in food commodities prices: forecasting and structural changeAbstract This paper aims at analyzing the recent rise in food commodities prices observed an international level, due to the effect that rising prices of such products cause on global food security. Through the method of Box and Jenkins (1976) and the analisys of structural break seeks to analyze the behaviour of prices in the coming months and evidence of a structural break in the period of1 2 3

Original recebido em 18/8/2011 e aprovado em 26/8/2011. Mestrando em Economia pela Universidade Federal de Viosa (UFV). E-mail: [email protected] Mestre em Engenharia de Produo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), professor de Economia da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). E-mail: [email protected] Mestrando em Economia pela Universidade Federal de Viosa (UFV). E-mail: [email protected] Mestrando em Economia pela Universidade Federal de Viosa (UFV). E-mail: [email protected]

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greatest increase, respectively. In this sense, it appears that there is an uptrend in food prices and structural change in the basis for their formation, suggesting the need for public policy at the international level to assist the problem. Keywords: emergency economies, public policies, food safety.

IntroduoA atual conjuntura econmica mundial apresenta variveis que se interligam e tornam o mercado global um conjunto de relaes interdependentes. Nesse contexto, o direcionamento poltico, tanto nacional quanto internacional, dos pases em relao s respectivas economias reflete-se na conjuntura da economia mundial, tornando-a mais propensa a gerar crises sistmicas, em decorrncia das consequncias que essa interdependncia causa aos sistemas econmicos nacionais e internacionais. Dessa forma, o comrcio internacional ascendente associado ao aumento das transaes (e especulao) nos mercados de futuros, entre outros fatores, tornaram os mercados de commodities agrcolas mais interdependentes, mas tambm suscetveis a crises, cujos efeitos inflacionrios se fazem sentir em mbito mundial, trazendo o risco eminente de uma crise dos alimentos, com caractersticas de um choque adverso sob a oferta de alimentos. Depois de uma alta no preo dos alimentos, entre 2004 e 2008, houve, no ltimo trimestre de 2008, um declnio acentuado, decorrente da crise mundial. O preo dos alimentos voltaria a se recuperar no incio de 2009, evidenciado a volatilidade desse mercado. Com efeito, os preos dos alimentos vm se mantendo acima de seus patamares mdios histricos, conforme observam Lima e Margarido (2008, p. 1) [] o atual movimento das cotaes destoa-se do padro histrico dos ciclos de preos de commodities. Desse modo, o objetivo deste trabalho analisar a quebra estrutural no comportamento dos preos das commodities alimentares a partir de 2007 e observar o comportamento futuro dos preos agroalimentares para possveis intervenes de polticas, de forma a amenizar o efeito

inflacionrio causado pela elevao dos preos dos alimentos. Dois trabalhos foram tomados como referncia para a discusso desse tema: Trostle (2008) e Mitchell (2008). O primeiro analisa, de forma descritiva, a srie de fatores que confluram para a recente alta internacional dos preos dos alimentos; j o segundo estima, de forma emprica, a participao que cada fator exerceu sobre o fato. O presente artigo leva em considerao a mudana estrutural no preo dos alimentos e infere, por meio de mtodos economtricos, o comportamento futuro do nvel dos preos. Na rea social, situam-se as principais justificativas para esta pesquisa, relacionadas aos efeitos nocivos da inflao sobre o poder aquisitivo da populao como a dificuldade de adquirir alimentos e a consequente garantia de segurana alimentar e sobre a distribuio de renda, prejudicando principalmente as famlias que baixa renda, que compreendem uma parte significativa da populao mundial. Nesse contexto, desenvolve-se uma anlise do comportamento dos preos dos alimentos. Utiliza-se, para tanto, o ndice de preos de commodities de alimentao da Organizao para Agricultura e Alimentao (FAO) como base para o modelo de previso Box e Jenkins. O uso desse mtodo justifica-se pela sua eficcia e sua simplicidade de aplicao. Sendo assim, supe-se que, no ano de 2007, tenha ocorrido uma quebra estrutural no ndice de preos das commodities alimentares indicando uma mudana nas bases de formao de preos, decorrente da mudana nos fatores oferta e demanda e que os preos das commodities alimentares apresentem uma tendncia de alta ao longo de 2011, sugerindo, ceteris paribus, continuidade nos anos subsequentes.

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Evoluo dos preos das commodities alimentaresA inflao observada nos preos dos alimentos atualmente pode trazer efeitos nocivos ao bem-estar da populao mundial e segurana alimentar, uma vez que representa a deteriorao do poder de compra de produtos de primeira necessidade. Alguns fatores de oferta e demanda, nos cenrios de curto e longo prazos, vm resultando em significativas mudanas nas condies dos mercados de commodities alimentares, que resultaram em um acelerado aumento dos preos dos alimentos desde meados de 2007 (USDA, 2008). A Figura 1 descreve a evoluo dos preos das principais commodities alimentares no perodo de 1960 a 2008. Observa-se que, a partir de 2006, o ndice de preos dispara em um movimento de alta, fazendo os preos atingir os nveis histricos da metade da dcada de 1970,

perodo em que a economia passa pelo primeiro grande choque do petrleo (em 1973), que elevou os preos das demais commodities. Uma anlise superficial que mostre aspectos gerais da evoluo do ndice anual de preos das commodities alimentares da FAO (SILVA, 2009) permite inferir que, ao longo dos anos 1960, os preos reais apresentaram tendncia levemente declinante, mas se mantiveram em patamares altos em comparao aos perodos subsequentes. Pode-se especular que isso tenha ocorrido, em parte, em decorrncia dos processos de inovao tecnolgica, industrial e agropecuria (evento conhecido como Revoluo Verde), em curso em muitas economias, que culminaram com o aumento da produtividade e da oferta de alimentos, e na reduo do ritmo (ou em maior estabilizao) de gerao de empregos, levando a uma compresso dos preos dos alimentos. Esse movimento foi interrompido em 1973, com o primeiro choque do petrleo (gerado por meio da ao impositiva da Organizao

Figura 1. Evoluo do ndice anual de preos das principais commodities alimentares, no perodo de 1960 a 2008 (19982000 = 100).Fonte: FAO e ONU (SILVA, 2009).

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dos Pases Exportadores de Petrleo Opep), quando, ento, ocorre uma alta generalizada de preos das commodities, inclusive das alimentares. Esse choque teve consequncias recessivas em toda a economia mundial, resultando, nos anos subsequentes, na reduo da demanda e, consequentemente, na dos preos (FAO, 2009, 2011; SILVA, 2009). No final dos anos 1970, ocorreu o segundo choque do petrleo. Entretanto, os preos das commodities alimentares no apresentaram um choque altista de preos, como do petrleo, ocorrido em 1973, como se observa na Figura 1. Provavelmente esse comportamento foi devido, em parte, recesso que comeou a se propagar pela maioria dos pases em desenvolvimento ao longo dos anos 1980, e que se manifestaria em diversas crises, que se prolongaram em muitos pases, ao longo dos anos 1990. A partir da metade dessa dcada, iniciou-se, em muitos pases, especialmente nos da Amrica Latina, a retomada do crescimento econmico. Essa retomada econmica, somada ao forte crescimento de certos pases emergentes, como Brasil, Rssia, ndia e China conhecidos como Bric , vieram a gerar forte demanda pelas commodities alimentares, principalmente na China e na ndia, pases que vm apresentando acelerado crescimento de renda desde os anos 1970, e que possuem amplo mercado potencial de alimentos. Essa crescente demanda nos anos 2000 no foi acompanhada de um aumento equivalente de oferta; com isso, houve forte alta nos preos na segunda metade dessa dcada, que ficou prxima ao auge da srie no final de 1973 (FAO, 2009, 2011; SILVA, 2009). Conquanto essa anlise enseje evidncia apenas parcial dos fatos, oportuno destacar as enormes dificuldades empricas decorrentes de uma avaliao dos elementos que esto por trs da variao apresentada no ndice de preos das commodities alimentares da FAO, fato que foge ao escopo deste trabalho. Cumpre, portanto, advertir que certos fatos, que devem ser explorados em outros estudos, extrapolam o objetivo deste trabalho.

Segundo Trostle (2008), o elevado acrscimo de demanda e o baixo crescimento da produo agrcola no mundo, na dcada de 1990, levaram reduo dos estoques mundiais de alimentos e a uma presso de alta sobre os seus preos, fato observado em 1992. No perodo compreendido entre meados de 1997 e 2002, essa expanso foi freada, o que sugere que as sucesses de crises financeiras internacionais que levaram vrios pases recesso nesse perodo (Mxico no fim de 1994; Malsia, Indonsia e Coreia do Sul em 1997; Rssia em 1998; Brasil em 1998/1999; e Turquia e Argentina em 2001) tenham afetado a demanda e os preos das commodities alimentares. O grande impulso na expanso da demanda mundial por commodities agrcolas e alimentares (gros, leos vegetais, carnes, frutos do mar, acar, bananas e outras commodities que so base de alimentos para o consumo humano), iniciado na dcada de 1980 e sustentado ao longo dos anos 1990, identificado como um dos principais fatores que causaram a acelerao de alta dos preos dos alimentos desde meados de 2007 (TROSTLE, 2008; US INTERNATIONAL TRADE COMMISSION, 2006). Esse forte crescimento observado na demanda alimentar mundial caracterizado pelo robusto e sustentado crescimento econmico mundial, pelo rpido crescimento populacional e pelo aumento do consumo per capita de alimentos, principalmente de carnes (LIMA; MARGARIDO, 2008). Alm disso, o aumento do preo do petrleo e a preocupao com as mudanas climticas e com o desenvolvimento sustentvel, sob a tica de uma menor alterao e explorao dos recursos naturais, desencadearam vrias iniciativas de cunho poltico e econmico, como incentivos produo de biocombustveis, a exemplo do etanol e do biodiesel, cujas principais matrias-primas so alimentos tradicionais, como milho (nos EUA e na China), trigo (na Unio Europeia) e soja (no Brasil e na Argentina) (FLRES JNIOR, 2008).

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O aumento do preo do petrleo refletiu-se em aumento dos seus derivados, como combustveis (diesel e gasolinas), fertilizantes, inseticidas, nitratos, herbicidas e fungicidas, elevando os custos de produo (com plantio, manuteno, colheita e transporte da safra), os quais, por sua vez, acabaram contribuindo para a rpida elevao internacional dos preos de commodities alimentares, observada a partir de 2007 no cenrio econmico mundial (MITCHELL, 2008). Ainda segundo o Usda (2010), a desvalorizao do dlar e o aumento do acmulo de reservas cambiais em dlares6, verificados em muitos pases, especialmente na China, so tambm fatores que contriburam para a expressiva alta nos preos das commodities alimentares a partir de 2007. Dessa forma, a depreciao do dlar, observada desde 1999, contribuiu para o forte aumento da demanda por commodities alimentares, que so cotadas em dlar, em decorrncia do aumento do poder de compra verificado em diversos pases, principalmente os em desenvolvimento, de onde, segundo Averbug (2008), provm a maior presso sobre a demanda agroalimentar mundial. Para Mitchell (2008), a partir de 2005, o aumento dos custos agrcolas, o aumento do custo dos derivados de petrleo (que so insumos de produo agrcola), as adversidades climticas e as polticas de importao e exportao adotadas por alguns pases, por conta da forte alta dos preos dos alimentos, acabaram pressionando ainda mais o mercado de commodities agrcolas. Juntos, esses fatores de oferta e demanda provocaram uma rpida e consistente alta nos preos das commodities alimentares. Segundo Ferreira Filho (2008), a alta nos preos dos alimentos tem como base a rpida elevao da demanda mundial, especialmente6

nos pases em desenvolvimento, fato que, em um contexto de baixos estoques de commodities alimentares, gera presso altista dos preos dos alimentos. A esse cenrio inicial vm-se somar vrios eventos: a) a presso adicional derivada da deciso dos pases desenvolvidos (especialmente os Estados Unidos e o Brasil) de aumentarem a sua produo de biocombustveis; b) a forte especulao nos mercados financeiros onde as commodities agrcolas so negociadas; c) a forte elevao nos custos de produo da agricultura, causada pela elevao dos preos do petrleo e seus derivados (especialmente combustveis, fertilizantes, herbicidas, inseticidas e fungicidas); e d) a lenta resposta da oferta agrcola a essa maior demanda. Outro fator a ser considerado so as mudanas climticas constatadas nos ltimos anos, que so, em grande parte, atribudas, por vrios organismos internacionais especializados no assunto, como o Painel Intergovernamental de Mudanas Climticas (IPCC), ao fenmeno conhecido como aquecimento global7 (incluindo, de modo pontual, os fenmenos El Nio e La Nia). Com efeito, esse fenmeno vem contribuindo para o surgimento de adversidades climticas em todo o planeta, que afetam os nveis mundiais de produtividade agrcola (TROSTLE, 2008). Apesar do impacto incerto sobre a produo, a grande incidncia de adversidades climticas (como secas, enchentes, veres ou invernos muito rigorosos) e mudanas de menor grau que alteraram a incidncia das chuvas e da seca em importantes regies de pases produtores de alimentos afetaram o nvel de oferta mundial e causaram quedas seguidas na produtividade global de gros em 2006 e 2007 (USDA, 2010). A Figura 2 demonstra a disposio por perodo e a intensidade com que se apresentaram, e podem se apresentar no curto prazo

O FMI divulgou, em maro de 2010, em dados preliminares, que as reservas mundiais totais somaram US$ 8,08 trilhes no quarto trimestre de 2009 os dados no incluem as reservas da China, em dlar, que somam US$ 2,4 trilhes, sendo que, no quarto trimestre de 2008, as reservas globais estavam em US$ 7,32 trilhes. O dlar compunha 62,14%, o euro 27,4%, e o iene 3,01% do total de reservas cambais no final de 2009. Fenmeno resultante do aumento da intensidade do efeito estufa natural (em que uma camada de gases na atmosfera permite o aquecimento da Terra e, portanto, que o planeta seja habitvel), em virtude do excesso de emisso de gases estufa (gs carbnico, CO2 , metano, CH4, clorofluorcarbonetos, CFCs, entre outros), pelos processos produtivos e outras atividades desenvolvidas pelo homem.

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(de 2010 a 2012), os fatores fundamentais de oferta e demanda que, em confluncia, levaram recentemente os preos das principais commodities agrcolas alimentares a uma posio acima de seus patamares histricos. Como se pode observar na Figura 2, o forte crescimento da demanda agroalimentar mundial o principal fator a impulsionar os preos dos alimentos atualmente. Esses fatores combinados causaram um deslocamento da tendncia de comportamento dos preos das commodities alimentares a partir de 2007, afetando, portanto, a base de formao dos preos e sugerindo uma possvel

quebra da sua estrutura. Entretanto, o juzo de que os preos altos geram grandes problemas est associado especialmente a organismos de defesa dos consumidores, pois, para os produtores, como destacam DallAgnol e Hirakuri (2008), se no ocorresse a atual recomposio de preos, provavelmente haveria falta de alimentos, porque no haveria quem se interessasse por produzi-los. Portanto, seria melhor ter comida mais cara do que no ter comida alguma. Durante muitos anos, o consumidor beneficiou-se de baixos preos, enquanto o produtor rural trabalhou com baixas ou inexistentes margens de lucro.

Figura 2. Principais fatores que contriburam para a alta dos preos das commodities alimentares no perodo de 1990 a 2012.(1)

Perspectiva de cenrio para o perodo de abril de 2011 a 2012.

Fonte: baseado em FAO (2011), FMI (2010), Trostle (2008) e Usda (2010).

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MetodologiaDados e mtodos economtricosOs dados utilizados so de um ndice internacional de preos de commodities alimentares, que uma srie temporal de frequncia mensal, a qual abrange o perodo de janeiro de 1990 a maro de 2011, com uma amostra com 255 observaes. A origem dos dados secundria, e a coleta foi realizada na pgina eletrnica da FAO8. A metodologia de clculo do ndice (Food Price Index) com base (2002-2004 = 100) consiste em uma mdia de seis grupos de ndices de preos de derivados de leite, carnes, leos, gorduras, cereais e acar, ponderados pelas mdias de participao nas exportaes internacionais de cada grupo, para o perodo de 2002 a 2004. No total, as cotaes de 55 commodities de origem agroalimentar so includas no ndice como representantes dos preos dos alimentos em mbito internacional. O ndice de preos est deflacionado pelo Manufactures Unit Value Index (MUV)9, produzido pelo Banco Mundial10, com base em 1990, convertida para a mesma base do ndice de preos para 20022004. Os principais mtodos economtricos utilizados so: a) o Mtodo de Estimao por Mnimos Quadrados Ordinrios (MQO), que o mais utilizado para anlise de regresso, graas a sua praticidade e ao fato de ser intuitivamente convincente; e b) o Mtodo de Box e Jenkins (1976), tambm conhecido como Mtodo Autorregressivo Integrado de Mdias Mveis (Arima), para a elaborao de um modelo univariado de previso de preos, com srie temporal, verificando a possibilidade de uma mudana estrutural durante o perodo analisado.

verificao da existncia de raiz unitria, o que permitir definir o grau de diferenciao no qual a srie se torne estacionria. A metodologia introduzida por Box e Jenkins (1976) anterior aos testes de raiz unitria, conquanto j sejam, atualmente, incorporados a uma de suas etapas. Antes de construir um modelo Arima, trs cuidados bsicos devem ser tomados para uma melhor especificao e ajuste do modelo: 1) a amostra no deve conter menos que 50 observaes (BOX; JENKINS, 1976); 2) a srie deve ser estacionria, ou seja, deve variar em torno de uma mdia constante com varincia constante, como observado acima; e 3) a srie deve ser homocedstica, variando constantemente ao longo do tempo. Sobre os modelos com srie temporal, cabe ainda considerar as mudanas estruturais no perodo analisado, pois alguns testes de raiz unitria tornam-se viesados na presena de quebra estrutural (ENDERS, 1995), o que pode ser feito formalmente, por meio de um teste F de mudana estrutural, proposto por Enders (1996). Porm, como argumenta Siqueira (2002), o teste dispensvel, pois quebras estruturais so facilmente visveis em anlise grfica. Caso seja detectada uma quebra estrutural, deve-se utilizar apenas a parte da srie que no possui quebras, desde que isso no viole as hipteses levantadas anteriormente. O mtodo desenvolvido por Box e Jenkins (1976) determina que o processo que a srie temporal segue seja autorregressivo puro AR, mdia mvel puro MA, ou seja, um processo Arma ou Arima. Segundo Siqueira (2002), dada uma srie temporal no sazonal e no estacionria, o objetivo do mtodo Box-Jenkins encontrar um modelo estocstico linear da classe Arima que possa ter gerado a srie, para, ento, gerar previses de valores futuros da srie. A metodologia compreende quatro etapas: identificao, estimao, verificao de diagnstico e previso.

O modelo ArimaSegundo Morettin e Toloi (2006), a anlise de sries de tempo deve ser precedida da8 9

Disponvel em: O ndice (MUV) consiste em uma mdia ponderada dos preos de bens manufaturados exportados pelos Estados Unidos (32,2%), pelo Japo (35,8%), pela Alemanha (17,4%), pela Frana (8,2%) e pelo Reino Unido (6,6%), para pases em desenvolvimento, cujos valores foram convertidos em dlares correntes. Disponvel em:

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Na fase de identificao, verifica-se o correlograma e as funes de autocorrelao e autocorrelao parcial, e declaram-se as defasagens, as mdias mveis e as diferenas que sero usadas. Posteriormente, estima-se o modelo identificado. Na fase de diagnstico da metodologia de Box-Jenkins, sugere-se que os resduos sejam testados para verificar se o modelo ajusta-se razoavelmente aos dados, ou seja, deve-se verificar se se tratam de um rudo branco. Se os resduos possuem as propriedades estatsticas de mdia zero, varincia constante e no apresentam autocorrelao serial, ento, eles so puramente aleatrios, e, ento, o modelo ajusta-se bem aos dados. Finalmente, procede-se fase da previso, estimando-se os passos da srie em anlise. Como argumentado por Enders (1995), o mtodo de Box-Jenkins parcimonioso, ou seja, produz bons resultados, por meio de modelos simples, em vez de superparametrizados, e no incorpora coeficientes inteis. A ideia no seria reproduzi-lo de forma exata, mas aproximar-se do efeito gerador da srie.

com rendas mnimas (segundo estimativa da FAO, cerca de um bilho de pessoas no possui condies de suprir as necessidades bsicas de alimentao), torna-se relevante a anlise da tendncia de comportamento dos preos dos alimentos. A Figura 3 demonstra a evoluo do ndice de preos das principais commodities alimentares (Food Price Index) no intervalo de janeiro de 1990 a maro de 2011. Observa-se que, a partir de 2007, o ndice de preos dispara em um movimento de alta, rompendo seus patamares histricos, e evidenciando, portanto, uma mudana estrutural a partir de janeiro de 2007. Nesse contexto, a anlise do comportamento dos preos para os prximos meses abranger apenas o perodo aps a quebra estrutural de janeiro de 2007 a maro de 2011, totalizando 51 observaes. Os fatores ligados oferta sempre foram determinantes para a variao dos preos no mercado internacional de commodities alimentares, condio observada principalmente durante os perodos de safra e entressafra. Porm, desde meados da dcada de 1990, e especialmente a partir de 2007, os fatores ligados demanda passaram a exercer maior influncia sobre a volatilidade dos preos internacionais dos alimentos. Como se observa da anlise da Figura 3, o ndice internacional de preos de commodities alimentares descreve um comportamento suave de variao em torno de uma mdia no perodo de 1990 e 2006, quando, ento, passa a descrever um movimento de forte alta, apresentando evidncia de quebra estrutural. Vrios fatores de oferta e demanda combinados provocaram, portanto, uma elevao anormal do ndice de preos a partir de 2007, alterando a estrutura de formao de preos, na qual fatores de demanda passaram a exercer maior influncia do que em perodos precedentes, e, juntamente com os fatores de oferta, provocaram tendncia a uma mudana estrutural no mercado de commodities de alimentao. No final de 2008, no auge da crise internacio-

ResultadosEvidncia de mudana estrutural e tendncia de comportamento dos preosVrios fatores de oferta e demanda em confluncia, nos cenrios de curto e longo prazos, levaram a uma acelerao anormal dos preos das commodities alimentares nos ltimos anos, especificamente a partir de 2006, em relao aos seus patamares histricos, conforme destacado pelas Figuras 1 e 2. Os preos de produtos bsicos, como os alimentos, so especialmente importantes, pois so artigos de primeira necessidade, ou seja, essenciais sobrevivncia da populao. Como uma boa parte da populao mundial vive

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Figura 3. Evoluo do ndice de preos deflacionado das principais commodities de alimentao, no perodo de janeiro de 1990 a maro de 2011.Fonte: FAO (2011).

nal, Pagnussat (2008) apresentou um argumento contrrio a essas evidncias, ao expor que[] certamente a tendncia de declnio [dos preos das commodities alimentares] ser retomada, dados os fatores estruturais que influenciam o setor: o baixo crescimento da demanda, os ganhos de produtividade com as novas tecnologias e a continuidade nas redues de custos, considerando que extensas reas de terra no mundo so cultivadas, ainda, por gente que usa enxadas e a maior parte das pastagens nativa. O potencial de expanso da produo mundial , ainda, elevado. As vantagens brasileiras esto mais na competitividade do setor rural do que nas reas disponveis no Brasil. H extensas reas desocupadas nos Estados Unidos. So extensas as reas cultivveis vazias na frica e em outras regies do mundo. Acrescente-se, por

outro lado que, nos ltimos 50 anos, a rea per capita necessria se reduziu pela metade. Era pouco mais de um hectare e hoje se situa em 0,5 hectare, considerando a rea total agricultvel. Entre 1961 e 2000, a rea com culturas anuais cresceu apenas 10% no mundo, enquanto a populao quase dobrou. (PAGNUSSAT, 2008, p. 17).

Entretanto, eventos do atual cenrio econmico e agropecurio mundial, que vm-se sucedendo desde 20062007, e suas perspectivas, indicam uma ruptura com a experincia histrica atual e refletem uma possvel mudana estrutural no transitria na tendncia baixista dos preos alimentares, que se originou em 1974. Entre esses eventos, convm destacar os seguintes: a elevao persistente dos custos de produo agropecuria, as restries de curto e mdio pra-

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zos expanso da oferta e a persistente e crescente demanda mundial por alimentos.[] Dessa forma, aparentemente, estamos diante de uma mudana nos patamares de preos da agricultura para cima. provvel que eles se reajustem para baixo no mdio prazo, mas no muito, uma vez que os preos dos alimentos esto sempre muito correlacionados aos preos do petrleo. (FERREIRA FILHO, 2008, p. 3).

em que IIPCA* definida como as primeiras diferenas do ndice internacional de preos deflacionado de commodities alimentares. Aps a identificao, estimou-se o modelo e obtiveram-se os seguintes resultados: IIPCA* = 1,428 + 0,593IIPCA* + u (2)t t-1 t

Erros-padro Estatstica t Probabilidade Estatstica F

(1,909) (0,748) (0,458) (24,391)

(0,120) (4,938) (0,000) R2 (0,341) (1,99)

Com o objetivo de verificar a tendncia dos preos para os prximos meses, recorreu-se a um modelo economtrico simples de previso. Aplicando-se o mtodo Box-Jenkins, procedeu-se fase de identificao. Pelo teste ADF (Dickey-Fuller Aumentado, -2.0489), verificou-se que a srie em anlise no estacionria em nvel, pois no se rejeita a hiptese nula de que a srie possui raiz unitria, sendo o valor crtico a 1% (-3.5713). A srie mostrou-se estacionria em primeira diferena; pelo teste ADF (-3.3863), rejeita-se a hiptese nula pelo valor crtico a 1% (-3.5713). Posteriormente, define-se, por meio do correlograma, o processo que a srie segue. Como se observou, a srie de ndice de preos das commodities alimentares segue um processo autorregressivo, pois a funo de autocorrelao declina exponencialmente, enquanto a funo de autocorrelao parcial deixa de ser estatisticamente diferente de zero, aps a primeira defasagem. Como identificado anteriormente, a srie no estacionria em nvel; portanto, para identificar as defasagens significativas para o modelo de previso, estima-se o correlograma da srie em primeira diferena. Identificou-se, assim, que a srie diferenciada seria no mximo um processo autorregressivo AR(1). Como apenas a defasagem 1 estatisticamente significativa, pois est fora do intervalo de confiana, excluir-se-o as demais no significativas. Dessa forma, identifica-se o seguinte modelo para previso do ndice de preos das commodities alimentares, segundo o modelo Arima (1, 1, 0): IIPCAt* = + IIPCA* + ut t-1 (1)

Estatstica Durbin-Watson

Como se pode observar, o coeficiente do ndice defasado individualmente diferente de zero ao nvel de significncia de 1%, pela estatstica t, como indicado pela probabilidade. J o intercepto mostrou-se no significativo. Alm disso, apesar do valor relativamente baixo do R2, a estatstica F indica que o modelo conjuntamente significativo, ou seja, o modelo enquadra-se de forma satisfatria para fins de inferncia estatstica. Quanto aos sinais dos parmetros, eles sugerem que a primeira defasagem exerce impacto positivo sobre o ndice internacional de preos de commodities alimentares diferenciado. Por meio do correlograma dos resduos, verificou-se que os resduos apresentaram as propriedades de um rudo branco, pois as autocorrelaes geral e parcial no extrapolaram o intervalo de confiana, o que significa que no so individualmente significativas. Sendo assim, o modelo Arima (1, 1, 0) estimado ajusta-se bem aos dados; pode-se, ento, realizar previses com base nesse modelo. A previso do ndice internacional de preos de commodities alimentares para os prximos meses de 2011, especificamente at o ms de dezembro, pode ser visualizada na Tabela 1. Segundo as estimativas de previso, o ndice internacional de preos de commodities alimentares apresentar, nos prximos meses, uma tendncia de alta, o que implica o aumento dos preos de gneros alimentcios em mbito mundial.

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Tabela 1. Previso do comportamento do ndice de preos.Ms/ano 4/2011 5/2011 6/2011 7/2011 8/2011 9/2011 10/2011 11/2011 12/2011 ndice previsto 199,14 197,92 197,78 198,28 199,16 200,26 201,49 202,81 204,17

Uma pequena melhora dos indicadores econmicos logo aps o incio da crise, decorrente da retomada do crescimento da demanda, foi suficiente para impulsionar os preos das commodities alimentares para um novo movimento de alta. O desempenho econmico dos pases emergentes e o processo de crescimento dos nveis de renda nesses pases devem criar novas ondas de consumo de produtos agroalimentares, sustentando, como observado na Tabela 1, os preos em um novo patamar de alta pelos prximos meses e anos.

Polticas pblicas internacionaisNo atual cenrio econmico mundial, no h polticas pblicas internacionais conjuntas direcionadas ao combate alta dos preos dos alimentos. O que se observa so medidas polticas adotadas por diversos pases, mas de forma individual, com o intuito nico de arrefecer a inflao domstica. Organismos multilaterais como a Organizao das Naes Unidas (ONU) e sua Agncia para Agricultura e Alimentao (FAO), o Fundo Monetrio Internacional (FMI) e o Banco Mundial limitam-se a analisar a situao, a sugerir medidas de combate inflao e a criar programas estratgicos de auxlio emergencial s populaes com risco de privao de alimentos. A proposio de polticas pblicas e institucionais de cooperao internacional de extrema complexidade em um cenrio no qual cada pas defende mais os prprios interesses, em prejuzo de uma soluo para resolver um problema coletivo. Tomem-se por exemplo as dificuldades de negociao para a aprovao da chamada Rodada Doha, instituto que defende, junto Organizao Mundial do Comrcio (OMC), propostas de queda das barreiras tarifrias ao comrcio mundial, bem como a eliminao dos subsdios agrcolas em pases desenvolvidos, subsdios esses que inviabilizam a produo agroalimentar em pases em desenvolvimento, por conta da baixa tecnologia utilizada e da estrutura de custos das atividades de produo agrcola nos pases em desenvolvimento.

A partir de janeiro de 2007, os preos das commodities alimentares elevaram-se com maior intensidade, tendo atingido um pico em junho de 2008, quando os preos iniciaram um movimento contrrio forte alta at ento observada, decorrente do impacto da crise financeira internacional sobre a economia real. A crise financeira internacional, originada no mercado imobilirio e acionrio norte-americano, atingiu o mercado acionrio mundial e, posteriormente, afetou a economia real, gerando queda acentuada na demanda agregada em mbito global. O forte impacto que a crise causou no mercado acionrio e na economia real no mundo abateu o movimento de alta nos preos das commodities alimentares. Apesar da queda dos preos agroalimentares e do petrleo bruto, os custos de produo agrcola permaneceram elevados, e a demanda por gneros alimentares continuou alta. Alm disso, a incidncia de adversidades climticas nos ltimos anos vem prejudicando as safras agrcolas em vrios pases.

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Os subsdios agrcolas, concedidos principalmente por pases desenvolvidos, distorcem o mercado agrcola, por tornarem artificiais as estruturas de custos e a competitividade em relao a outros pases que no possuem recursos suficientes para implement-los em seus territrios. Assim sendo, a aprovao da Rodada Doha, e a consequente eliminao dos subsdios agrcolas nos pases desenvolvidos, contribuiria para tornar competitiva e viabilizar a produo agrcola em reas agricultveis subutilizadas na Amrica Central, na frica e em pases em desenvolvimento de outros continentes, aumentando, assim, a disponibilidade de alimentos no mundo. Uma forma de amenizar a tendncia de forte elevao da demanda e dos preos dos gneros agroalimentcios seria a difuso dos pases desenvolvidos para os pases em desenvolvimento da alta tecnologia utilizada na produo de gros por parte dos primeiros, como forma de aumentar a produo e a produtividade mundial de alimentos. Com esse propsito, a Embrapa criou, em 2006, uma unidade operacional em Gana, na frica, para gerar e transferir tecnologia agropecuria naquele pas. Outra medida plausvel sugerida para equilibrar o mercado de commodities alimentares aprimorar a regulao da especulao nos mercados futuros, evitando que grandes investidores, individuais ou institucionais, possam influir prejudicialmente na elevao atpica dos preos agrcolas. Se compararmos os volumes de produo mundial de trigo, milho e soja de 2007, percebe-se que foram negociados, respectivamente, 4,5, 9,4 e 19,6 vezes na Bolsa de Cereais de Chicago, o que indica forte especulao, e, consequentemente, tendncia elevao do preo final (DALLAGNOL; HIRAKURI, 2008). O peso desse componente financeiro na volatilidade e na alta dos preos das commodities alimentares reconhecido pelo prprio governo norte-americano, ao propor uma ao conjunta entre a Commodity Futures Trading Commission (CFTC), rgo que fiscaliza os mercados futuros agropecurios, e a Securities and Exchange Commission (SEC), que o rgo que regulamenta os

ativos financeiros, para garantir maior estabilidade ao mercado de futuros agropecurios (SILVA, 2008). Para o Brasil, uma poltica de reduo da tributao indireta sobre alimentos poderia beneficiar a populao de mais baixa renda, considerando que os preos dos alimentos comprometem boa parte da renda dessa categoria. E, embora essa poltica possa ter efeitos negativos em termos da arrecadao tributria, ela garantiria, pelo menos em parte, a segurana alimentar das populaes mais pobres. Ademais, existem formas alternativas de compensar a perda de receita tributria, como aumentar as alquotas dos tributos diretos sobre a renda das classes de maior renda, ou, ento, por meio da intensificao do combate sonegao (SANTOS; FERREIRA FILHO, 2008). Portanto, uma maior estabilizao dos preos dos alimentos passa pela ao das esferas pblicas e privadas. Em outras palavras, os mercados nacionais e internacionais de commodities e os principais pases produtores e consumidores devem cooperar mutuamente para a implementao de medidas de polticas pblicas e institucionais que promovam o aumento da oferta mundial de alimentos, amenizando o efeito inflacionrio causado pelo forte aumento dos preos, observado nos ltimos anos.

Consideraes finaisEste trabalho faz uma anlise do comportamento do ndice internacional de preos de commodities alimentares, utilizando, para isso, um modelo Arima de previso com sries temporais, o qual foi embasado no mtodo BoxJenkins e na avaliao para quebra estrutural. As hipteses foram validadas, uma vez que se comprovou a tendncia de alta no ndice de preos e uma quebra estrutural no ano de 2007, decorrente da confluncia de diversos fatores de oferta e demanda, os quais causaram uma elevao anormal nos preos dos alimentos em comparao com seus patamares histricos.

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De fato, o que vem acontecendo desde 20062007 pode estar representando uma ruptura com a experincia histrica atual fatos de magnitude semelhante aconteceram durante as duas guerras mundiais, durante a grande depresso e, por ltimo, durante o primeiro choque do petrleo, em 1973, e refletem uma mudana na tendncia baixista dos preos alimentares que, desde 1974, vinham em depresso. Nesse sentido, plausvel defender que, no atual cenrio econmico e agropecurio mundial, e suas perspectivas, o patamar elevado de preos nominais e reais dos gneros alimentcios no deva ser transitrio, e que uma mudana estrutural esteja em curso, em decorrncia dos seguintes fatos: da permanncia da elevao de custos de produo agropecuria, das restries de curto e mdio prazos expanso da oferta, e do carter de sustentabilidade da demanda mundial por alimentos. H de se destacar tambm que uma alta dos preos dos produtos agrcolas favorvel ao crescimento econmico brasileiro, principalmente pela produo de alimentos e de bioenergia, especialmente em regies que apresentam baixos nveis de desenvolvimento, como as regies Centro-Oeste e Nordeste do Brasil. A elevao dos preos dos alimentos , porm, prejudicial segurana alimentar mundial, por afetar a capacidade de consumo de alimentos de um grande nmero de pessoas de baixa ou nfima renda. nesse contexto que as polticas pblicas de mbito internacional ganham maior importncia, porque tm a capacidade de amenizar problemas relativos segurana alimentar, alm de eliminar eventuais distores e crises econmicas que os desequilbrios dos mercados de commodities alimentares podem causar a outros mercados e economias, em mbito regional ou mundial.

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Uma proposta para medir a insegurana alimentar1, 2

Maria Auxiliadora de Carvalho3 Csar Roberto Leite da Silva4

Resumo O presente trabalho apresenta o ndice de Segurana Alimentar (ISA), que consiste numa proposta simplificada de ndice de preo dos alimentos, a qual deve servir de indicador da evoluo da segurana alimentar da populao paulistana5. O ISA composto dos 18 produtos mais importantes da cesta de consumo alimentar das famlias com renda mensal at dois salrios mnimos. Para construir esse ndice, foram utilizados os preos no varejo do municpio de So Paulo, divulgados pelo Instituto de Economia Agrcola (IEA), tendo como base de ponderao a Pesquisa de Oramentos Familiares (POF) 20082009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Para avaliar sua adequao como indicador da evoluo das despesas de consumo da populao pobre paulistana, o ISA foi confrontado com o ndice de Preos dos Alimentos (IPRA), que composto de 63 produtos. Os testes estatsticos permitem concluir que ambos constituem um mesmo processo estocstico; assim, o ISA pode ser utilizado como substituto do IPRA para acompanhar a evoluo da segurana alimentar do pobre paulistano. Palavras-chave: ndice de preos, segurana alimentar, testes de diferena das sries.

A proposal for measuring food insecurityAbstract This paper presents Food Securitys Index (ISA), a simplified proposal of price index that should serve as indicator of food security evolution for the So Paulo's city poorest population. ISA is composed of eighteen more important products in the consumption food basket for families with monthly income up to 2 minimum wages. Were used retail prices of So Paulo's capital published by IEA to elaborate the index using POF 20082009 of IBGE as weight base. To evaluate the adaptation as indicator of the food consumption expenses evolution for the poor population, ISA was confronted to the food price index (IPRA) composed of 63 products. The statistical tests allow concluding that both ISA and IPRA constitute a same stochastic process, so ISA can be used as substitute of IPRA to indicate the food security evolution. Keywords: price indexes, food security, difference of the series tests.1 2

Original recebido em 9/9/2011 e aprovado em 15/9/2011. Trabalho financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), por meio de bolsa de produtividade em pesquisa, concedida primeira autora. Doutora em Economia de Empresas pela Escola de Administrao de Empresas de So Paulo, da Fundao Getlio Vargas (Eaesp/FGV), pesquisadora do Instituto de Economia Agrcola (IEA), So Paulo, SP. E-mail: [email protected] Doutor em Cincias Econmicas pela Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade da Universidade de So Paulo (FEA/USP), pesquisador do Instituto de Economia Agrcola (IEA) e professor da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), So Paulo, SP. E-mail: [email protected] O ndice de Segurana Alimentar (ISA) est disponvel no endereo http://ciagri.iea.sp.gov.br/bancoiea/Indices_new.aspx

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IntroduoNas ltimas dcadas, a despeito do crescimento populacional relativamente rpido no mundo, a proporo dos famintos no mundo vinha declinando significativamente: da mdia de 26% da populao mundial no trinio 1969 1971, caiu para 21% 10 anos depois, e para 16% no incio da dcada de 1990 (FAO, 2011a). Surpreendentemente, ao longo da dcada de 1990, o crescimento do nmero de famintos foi mais lento que o populacional; assim, a proporo de famintos em relao populao global continuou decrescendo. Essa tendncia prevaleceu nos primeiros anos do sculo 21, chegando a 13% no trinio 20052007. O problema que, depois da crise econmica mundial, tambm a proporo dos famintos do mundo passou a crescer, atingindo 15% da populao mundial em 20096. Grande parte das dificuldades de acesso alimentao na atualidade deve-se aos preos dos alimentos, que continuam em alta no mundo. Tendo por base a mdia de 20022004 = 100, o ndice mdio de preo dos alimentos atingiu o pico de 224,1 em junho de 2008, caiu para 141,2 em fevereiro de 2009, mas voltou a crescer. Em junho de 2011, foram registrados 233,8, nmero que significa aumento mdio anual de 27,9% nos ltimos 12 meses (FAO, 2011b). Headey e Fan (2010) observam que os preos dos alimentos mantm-se elevados, tanto nos mercados locais quanto no internacional, e que razovel esperar que assim continuem, especialmente quando os pases se recuperarem da crise financeira. Consideram que um conjunto de fatores interconectados explica essa elevao dos preos, com destaque para o aumento do preo da energia, a depreciao do dlar, as6 7

baixas taxas de juros e os ajustamentos na composio do portflio em favor de commodities. No Brasil, a despeito dos programas sociais que transferem renda para os mais pobres, um grande contingente populacional vive em condies de insegurana alimentar e, para que haja crescimento econmico com melhoria das condies de vida dos brasileiros, ser necessrio um incremento mais que proporcional na disponibilidade de alimentos. Alm de prover o mundo, a esperada reduo da desigualdade de renda no Brasil implicar maior consumo local de alimentos no futuro7. A definio de pobreza no consensual, mas sua mensurao costuma se basear na renda monetria. As pesquisas que tratam do tema frequentemente se valem do conceito de linha de pobreza, que corresponde ao nvel crtico de renda que garante condies mnimas de vida8. Quando a linha de pobreza baseia-se apenas no custo mnimo da cesta alimentar que atende s necessidades nutricionais, chamada de linha de indigncia ou de insegurana alimentar. A estimativa da linha de indigncia pode ser obtida com base nos POFs, que permitem estimar a mdia de consumo de calorias, a variedade do consumo alimentar e a parcela dos rendimentos gasta com alimentao9. Rocha (2000) considera que a atualizao de preos complexa, mesmo que existam informaes para uma ampla gama de produtos. Aponta mudanas na forma de comercializao, diferenas de qualidade, de especificao do produto e de embalagem como complicadores do emprego de muitos produtos na construo de um ndice. Prope, como soluo simplificadora, a atualizao dos mais importantes produtos e a utilizao do ndice de preos resultante, para corrigir os demais produtos da cesta de ali-

Em 2007 e 2008, 115 milhes de pessoas foram includos entre os famintos crnicos do mundo (HALLAM, 2009). Pela lei de Engel, medida que a renda cresce, as despesas com alimentao aumentam em valor absoluto, embora diminuam em importncia relativa na despesa total. Rocha (2000) recomenda que se defina a linha de pobreza com base no consumo observado das famlias, em substituio ao usual critrio de renda. O consumo no se restringe aos alimentos; ele inclui vesturio, habitao, transporte, sade, educao, entre outros elementos. Santos (2007) faz uma sntese das principais metodologias adotadas no mundo para a avaliao da segurana alimentar e nutricional, apontando as vantagens e as desvantagens de cada uma delas.

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mentos. Argumenta que uns 25 produtos correspondem a da despesa alimentar; logo, o valor gasto com os demais itens pode ser corrigido pelos preos desses. O objetivo deste trabalho parte dessa sugesto de Rocha (2000). A ideia definir a estrutura de um ndice de preos que englobe poucos produtos, que se assemelhe a um ndice Geral de Preos dos Alimentos (IPRA) e que sirva de referncia para avaliar a evoluo da insegurana alimentar da populao pobre paulistana. Avaliar a evoluo dos preos dos principais alimentos da populao de baixa renda uma maneira indireta de avaliar a prpria insegurana alimentar de uma coletividade. Por essa razo, o ndice composto de poucos produtos foi denominado ndice de Segurana Alimentar (ISA). Fazendo-se um corte arbitrrio, as famlias que vivem com renda mensal de at dois salrios mnimos foram consideradas pobres10. Os preos para a construo dos ndices procedem do levantamento sistemtico realizado pelo Instituto de Economia Agrcola (IEA), para os produtos de origem agrcola, no mercado varejista do municpio de So Paulo. A seleo dos produtos mais importantes e a consequente estrutura de ponderao tm por base a ltima POF do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2010a). A possibilidade de o ndice ISA substituir o IPRA foi testada com mtodos que permitem averiguar se duas sries temporais so estatisticamente iguais, ou seja, se elas so realizaes de um mesmo processo estocstico. Antes de passar discusso da metodologia e dos prprios ndices de preos, foi feita uma anlise do consumo de alimentos pela populao pobre paulistana nas ltimas dcadas, buscando identificar sua evoluo e a importncia dos principais alimentos que compem a cesta.10

Consumo de alimentos pelos pobres em So PauloDesde 1967, o Brasil levanta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (Pnad), que constantemente aperfeioada, para produzir informaes que permitam avaliar as condies socioeconmicas do Pas. Trata-se de um sistema de pesquisas por amostra de domiclios, que investiga as caractersticas gerais da populao, a educao, o trabalho, o rendimento e a habitao. Levantamentos sobre migrao, fecundidade, sade, nutrio e outros temas so includos no sistema, de acordo com as necessidades de informao do momento (IBGE, 2010b).Na dcada de 70, o Estudo Nacional da Despesa Familiar (Endef ) representou, e representa ainda, o principal esforo nacional de identificao do consumo de alimentos nas famlias brasileiras (ANDRADE et al., 2009, p. 150).

O Endef serviu de base para as Pesquisas de Oramentos Familiares (POFs) que vm sendo realizadas pelo IBGE, que provm com informaes sobre caractersticas de domiclios, famlias, moradores e respectivos oramentos11. A POF utilizada para atualizar os pesos dos itens que compem a cesta bsica, no clculo dos ndices de preos ao consumidor. Alm disso, as informaes sobre as unidades familiares permitem estudar vrios aspectos da economia nacional. De interesse particular para esta pesquisa, a POF produz informaes sobre as despesas com alimentao, no domiclio, por faixa de renda. Com base nas POFs, possvel estimar as despesas totais e as com alimentao, que permitem obter o coeficiente de Engel, medida da importncia relativa dos alimentos, nas despesas das famlias12. A comparao das duas ltimas POFs mostrou pequena reduo do coeficiente

Esse corte facilita a comparao com outras pesquisas, bem como com a prpria POF, que apresenta resultados para sete faixas de renda, sendo a primeira delas at dois salrios mnimos. A primeira POF foi realizada entre 1987 e 1988. As seguintes ocorreram em 19951996, 20022003 e 20082009. O coeficiente de Engel corresponde relao entre as despesas com alimentao e as despesas totais. consagrado na literatura como essencial na determinao da linha de pobreza, apesar de frgil do ponto de vista conceitual e emprico (ROCHA, 2000). Sua grande vantagem a relativa facilidade de obteno.

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no perodo compreendido entre 20022003 e 20082009 para a mdia geral de todas as famlias do Pas: as despesas com alimentao se reduziram de 17% para 16% das despesas totais nos 6 anos decorridos entre as pesquisas. Para o Estado de So Paulo, ao contrrio, o coeficiente de Engel mdio aumentou, passando de 0,14 (14%) para 0,15 (15%), entre as POFs (Tabela 1). Pela primeira lei de Engel, quanto mais pobre uma famlia, maior a proporo do oramento destinada alimentao. Os resultados observados em dados das duas ltimas POFs corroboram essa lei. As famlias que vivem com renda mensal de at dois salrios mnimos tiveram coeficiente estimado maior que o da mdia de toda a populao. Na POF 20082009, os coeficientes de 0,28 e 0,23 obtidos para as famlias pobres do Brasil e de So Paulo ultrapassam os coeficientes mdios de toda a populao, em 73% e 49%, respectivamente. Esses nmeros indicam baixa participao dos alimentos nas despesas das famlias pobres, fato que Rocha (2000, p. 8) chamou de especifi-

cidade brasileira. A autora apresenta estatsticas de nove capitais brasileiras, com coeficiente variando entre 0,33 em So Paulo e Curitiba, e 0,47 em Porto Alegre, com base na POF 19871988. Segundo ela, especialistas que trabalham com dados de diferentes pases insistem que, para os pobres, essa relao se situa em torno de 0,5. Os nmeros das ltimas POFs indicam que a especificidade brasileira ficou um pouco mais acentuada: de 0,33 em 20022003, o coeficiente de Engel para os pobres do Brasil passou para 0,28 6 anos depois, o que corresponde a uma reduo da parcela dos alimentos nas despesas totais da ordem de 5 p.p. no perodo. Para o Estado de So Paulo, parece que no houve mudana, entre as duas POFs, na parcela dos gastos dos pobres destinada alimentao. As estatsticas divulgadas pelo IBGE no permitiram calcular diretamente o coeficiente correspondente ao levantamento mais antigo. Uma estimativa que tomou por base o valor gasto com despesas de alimentao no domiclio em So Paulo e a proporo entre despesas no domiclio e o total gasto com alimentao

Tabela 1. Despesa mdia mensal familiar e coeficiente de Engel, no Brasil e em So Paulo, no perodo de 2002 a 2009.Mdia(1) Local POF Total (R$) 1.778,03 2.626,31 2.337,17 3.337,00 Alimentao (R$) 304,12 421,72 337,00 508,11 Coeficiente(3) At dois salrios mnimos(2) Total (R$) 454,70 744,98 587,33 838,62 Alimentao (R$) 148,59 207,15 135,87(4) 190,41 Coeficiente(3)

Brasil

2002 2003 2008 2009

0,17 0,16 0,14 0,15

0,33 0,28 0,23 0,23

So Paulo

2002 2003 2008 2009

(1) (2) (3) (4)

Mdia geral de todas as famlias. Mdia das famlias com renda mensal at dois salrios mnimos. Coeficiente de Engel = despesa com alimentao/despesa total. Estimado com base no valor das despesas com alimentao no domiclio, no Estado de So Paulo, e proporo entre alimentao no domiclio e total, na regio Sudeste.

Fonte: IBGE (2004, 2010a).

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na regio Sudeste13 resultou que 23% das despesas totais foram gastas com alimentao em 20022003, resultado igual ao obtido para o POF 20082009, tendo por referncia os nmeros divulgados pelo IBGE. Embora as tendncias indiquem melhora na situao de segurana alimentar da populao brasileira, o problema est longe de ser resolvido. O ndice de Gini, que mede o grau de concentrao de renda, esteve acima de 0,600 por quase toda a dcada de 1990, e passou a declinar na dcada seguinte, atingindo 0,543 em 2009, mas esse nmero ainda evidencia grande concentrao de renda (IPEA, 2010)14. A Pnad de 2004, que deu tratamento especial segurana alimentar, identificou mais de 72 milhes de brasileiros em condies de insegurana alimentar, sendo grave a situao de 14 milhes. Isso significa que quase 40% da populao total vive em condies de insegurana alimentar, e que, para 7,6% dela, o nvel de insegurana grave (IBGE, 2006). Um interessante ponto de partida da anlise da insegurana alimentar de uma populao a evoluo da prpria cesta de alimentos ao longo do tempo. Alves e Vieira (1978) relatam dados de cinco pesquisas sobre o padro de vida dos operrios paulistanos, realizadas entre 1934 e 1970. Os autores consolidaram seus resultados em uma tabela, que registra o consumo alimentar per capita de um mnimo de 15 produtos na primeira pesquisa (1934), e de um mximo de 31 na ltima (1969/1970). Apesar da maior diversificao dos produtos consumidos entre 1934 e 1970, a anlise da tabela elaborada por eles permite observar que praticamente no houve mudana na ordem de importncia dos produtos no consumo das famlias, pois os que foram sendo incorporados13

tm participao reduzida no conjunto. Naturalmente, para avaliar a importncia relativa dos produtos, seria necessrio partir da capacidade nutricional dos alimentos. A ordenao por peso total foi utilizada como proxy. Os resultados de Alves e Vieira (1978) para os dez mais importantes em termos de peso consumido na dcada de 1960 esto consolidados na Tabela 2. Entre os dez produtos mais importantes declarados pelos operrios paulistanos, em quatro pesquisas, aparecem leite, arroz, po, laranja, acar, carne bovina, feijo, batata-inglesa e leos vegetais. A pesquisa de 1936/1937 a que mais difere das demais, pois banha apareceu em 7 lugar, trigo em 8 e peixe fresco em 10. Massas encontravam-se entre os dez primeiros produtos nas pesquisas de 1934, 1936/1937 e 1952. Nas duas ltimas, foram substitudas por banana. Para 1969/1970, do total de 25,204 kg consumidos por ms per capita, os dez primeiros somam 21,730 kg, isto , 86,2% do total. Observe-se que, nas outras pesquisas, esses 10 produtos tambm tm participao superior a 80% da quantidade total consumida. Leite, arroz e po so os trs primeiros em 1952. Em 1961/1992, os trs so superados pela laranja, mas voltam aos trs primeiros lugares na pesquisa de 1969/1970, ocasio em que respondem por 45,4% do total de produo consumida. Esses produtos tambm so os primeiros colocados em termos de consumo dirio requerido para atingir o mnimo de calorias necessrio na cesta alimentar simplificada, sugerida por Rocha (2000). Alm deles, aparecem na listagem da autora, por ordem decrescente de consumo dirio, acar refinado, carne de galinha ou frango, carne bovina, feijo e leo de soja, produtos que, com exceo da carne de galinha, j estavam presentes entre os 10 mais consumidos, em termos de kg/ms, desde a pesquisa de 195215.

As estatsticas divulgadas pelo IBGE para a regio Sudeste mostram despesa mdia com alimentao no domiclio de R$ 119,02, e despesa total de R$ 140,47, resultando em diferena de 18,02% para os que tm renda mensal de at dois salrios mnimos. Com base nos microdados da POF 20022003, foram estimadas despesas de alimentao no domiclio dos paulistas pobres, de R$ 115,12. O acrscimo de 18,02% sobre esse valor resultou em R$ 135,87. Esse ndice varia entre 0 e 1: os extremos implicam renda perfeitamente distribuda entre os membros da populao e renda concentrada em um nico indivduo, respectivamente. Quanto maior o ndice, maior tambm a iniquidade, e vice-versa. Rocha (2000) lista 15 produtos mais importante nas despesas e no aporte calrico requerido. So eles: leite de vaca, arroz, po, acar refinado, galinha ou frango, carne bovina, feijo, leo de soja, carne suna, ovo, farinha de trigo, macarro, farinha de mandioca e margarina vegetal.

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Tabela 2. Consumo alimentar per capita das famlias de operrios paulistanos, no perodo de 1934 a 1970 (em kg/ms).Ordem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Produto Leite fresco Arroz Po Laranja Acar Carne bovina Feijo Batata-inglesa Banana leos vegetais Soma TotalFonte: Alves e Vieira (1978).

1934 2,795 7,853 1,511 2,802 2,458 1,801 1,157 0,399 20,776 22,782

1936/1937 2,703 8,366 2,103 2,194 2,515 0,397 18,278 21,398

1952 5,560 3,221 5,603 1,550 2,492 1,441 1,687 1,578 0,151 0,663 23,946 28,298

1961/1962 3,074 4,270 4,383 5,562 3,018 1,433 1,536 1,621 1,219 0,815 26,931 31,472

1969/1970 5,519 3,449 2,476 2,236 2,183 1,438 1,369 1,207 0,968 0,885 21,730 25,204

O IBGE no publicou os dados da quantidade consumida dos alimentos na POF 20082009 para os estados e respectivas capitais. Uma estimativa com base nas despesas com alimentao no domiclio das famlias pobres paulistanas e dos preos divulgados pelo IEA para o ms de referncia da POF (jan. 2009) indica que os produtos mais consumidos so praticamente os mesmos listados na Tabela 2, com exceo da batata-inglesa, que foi substituda por carne de frango. Em ordem decrescente, por quantidade consumida per capita, tem-se: leite, carne de frango, acar, po, banana, carne bovina, leo, arroz, laranja e feijo. Tambm em ordem decrescente, mas agora no valor das despesas no domiclio, na POF 20082009, carne bovina e de frango ocupam primeiro e segundo lugares, respectivamente, em importncia para as famlias pobres da capital de So Paulo. Na sequncia esto po e leite. Observe-se que, contabilizando somente esses quatro itens, eles totalizaram 46,8% das despe16

sas com alimentao no domiclio, enquanto, em 20022003, no acumularam 20% (Tabela 3). Uma comparao com a Tabela 2, que traz informaes desde 1934, mostra que seis dos dez produtos mais importantes na despesa dos operrios naquela ocasio permanecem entre os dez na despesa dos paulistanos pobres do presente. So eles, pela ordem decrescente de participao na despesa atual: carne bovina, po, leite, leo, acar e feijo. Os resultados indicam maior diversificao na cesta de consumo alimentar no domiclio na atualidade, embora no signifique melhora na qualidade da alimentao. Um importante exemplo de mudana o consumo de refrigerantes, que ocupavam 13 lugar na despesa com alimentao no domiclio dos pobres paulistanos, com participao de 2,8% no total na POF 20022003, e passou a ocupar o 5 lugar na ltima POF, com participao de 4,4%16.

O IBGE (2010c) divulgou, em 16 de dezembro de 2010, o documento Aquisio Alimentar Domiciliar per capita Brasil e grandes regies , que avalia a quantidade de alimentos adquirida pelas famlias brasileiras para consumo domiciliar, mostrando, entre outras coisas, a reduo do consumo de arroz e feijo, enquanto cresce o consumo de refrigerantes, cerveja, gua mineral, biscoitos, embutidos, entre outros.

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Tabela 3. Despesas com alimentao no domiclio das famlias com renda mensal at dois salrios mnimos, em So Paulo, capital, no perodo de 2002 a 2009.POF 20022003 Ordem Produto R$ 6,19 11,34 2,53 10,10 4,74 2,19 5,30 16,16 1,76 4,96 2,38 11,28 3,72 8,07 5,98 1,01 3,97 3,80 1,60 2,30 11,09 1,85 2,93 0,83 0,61 2,14 4,98 5,65 0,52 28,65 168,63 Participao (%) Simples 3,7 6,7 1,5 6,0 2,8 1,3 3,1 9,6 1,0 2,9 1,4 6,7 2,2 4,8 3,5 0,6 2,4 2,3 1,0 1,4 6,6 1,1 1,7 0,5 0,4 1,3 3,0 3,4 0,3 17,0 100,0 Acumulada 3,7 10,4 11,9 17,9 20,7 22,0 25,1 34,7 35,8 38,7 40,1 46,8 49,0 53,8 57,3 57,9 60,3 62,5 63,5 64,9 71,4 72,5 74,3 74,8 75,1 76,4 79,4 82,7 83,0 100,0 R$ 12,65 12,02 9,30 8,79 4,00 3,21 2,50 2,49 2,31 2,24 1,99 1,98 1,93 1,90 1,71 1,59 1,46 1,38 1,23 1,18 1,08 0,84 0,68 0,50 0,21 0,16 0,13 0,13 0,07 11,80 91,46 POF 20082009 Participao (%) Simples 13,8 13,1 10,2 9,6 4,4 3,5 2,7 2,7 2,5 2,5 2,2 2,2 2,1 2,1 1,9 1,7 1,6 1,5 1,3 1,3 1,2 0,9 0,7 0,5 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 12,9 100,0 Acumulada 13,8 27,0 37,1 46,8 51,1 54,6 57,4 60,1 62,6 65,1 67,3 69,4 71,5 73,6 75,5 77,2 78,8 80,3 81,7 82,9 84,1 85,0 85,8 86,3 86,6 86,7 86,9 87,0 87,1 100,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Carne bovina Carne de frango Po Leite Refrigerante leo Carne suna Acar Queijos Feijo Caf Banana Bolacha Arroz Ovos Farinha de mandioca Macarro Margarina Massa de tomate Alface Laranja Batata Ma Cenoura Iogurte Mandioca Achocolatados Cebola Farinha de trigo Outros Total

Fonte: IBGE (2004, 2010a).

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Observa-se tambm grande crescimento da participao da protena animal nas despesas dos paulistanos pobres. Na POF de 20022003 o conjunto composto de carne de bovina, carne suna, carne de frango, leite e derivados representava 21% das despesas totais, mas, na POF de 20082009, a participao foi elevada para o dobro desse percentual. Outro aspecto interessante mostrado pela POF a reduo do consumo de arroz e feijo. Zafalon (2010) informa, no entanto, que uma anlise mais apurada dos dados do IBGE indica que, embora o consumo de arroz e feijo no lar venha se reduzindo nos ltimos anos, o mesmo no acontece fora do lar: entre 2003 e 2009 acumulou aumento de 7%.

tm exatamente a mesma denominao. A incluso foi feita por meio de distribuio proporcional das despesas correspondentes da POF entre os produtos da mesma categoria. Para carne bovina, por exemplo, houve coincidncias para acm, carne moda de segunda, carne seca, coxo duro, coxo mole, fgado bovino e hambrguer bovino. Como, alm desses itens, o levantamento da POF na capital registrou carne bovina de primeira, carne bovina de segunda, carne moda no especificada, carne em bife, dobradinha fresca e rabada bovina, sem correspondncia no levantamento de preos do IEA, as despesas referentes a estes ltimos foram distribudas proporcionalmente entre os primeiros. No levantamento da POF, h tambm um item denominado agregado (carnes bovina, suna e de aves), que tambm foi distribudo proporcionalmente entre esses trs tipos de carne. Dos ajustamentos, resultou um total de 63 produtos, com participao de 87,61% nas despesas com alimentao no domiclio das famlias com renda entre zero e dois salrios mnimos, residentes na capital de So Paulo.

Dados utilizados e metodologiaDados utilizadosOs preos referentes ao perodo de janeiro de 2007 a setembro de 2010 procedem do levantamento mensal no varejo da cidade de So Paulo, divulgado pelo Instituto de Economia Agrcola (INSTITUTO DE ECONOMIA AGRCOLA, 2010). Para base de ponderao dos ndices, foi utilizada a pesquisa de oramentos familiares (POF), realizada pelo IBGE entre 19 de maio de 2008 e 18 de maio de 2009, para as classes de renda entre zero e dois salrios mnimos, no municpio da capital de So Paulo (IBGE, 2010a). Note-se que os levantamentos do IEA visam obter informaes acerca de produtos agrcolas; logo, nem todos os produtos que aparecem na POF constam de suas sries de preos. o caso dos produtos de confeitaria, sais e condimentos, bebidas e sucos, alimentos preparados e produtos agregados. Por essa razo, a maior parte dos componentes desses grupos foi descartada na composio do ndice. No foram descartados os produtos que, embora presentes nos dois levantamentos, no

Construo dos ndicesCom base na mdia ponderada dos preos relativos dos 63 produtos, foi construdo um ndice Geral de Preo dos Alimentos (IPRA) dos pobres paulistanos, para o perodo de janeiro de 2007 a setembro de 2010. Com o emprego da frmula de Laspeyres, tem-se: n P IPRA0,t = it wi i=1 P io em que: i = 1, 2, . 63 produtos da cesta de alimentos. Pit = preo do produto i no ms t. Pio = preo do produto i no ms de janeiro de 2007. wi = fator de ponderao definido a partir do valor das despesas com os produtos na POF 2008 2009 (Tabela 4). wi = 1i=1 n

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Tabela 4. Fator de ponderao (wi ) dos produtos no ndice de custo dos alimentos (IPRA) das famlias com renda mensal at dois salrios mnimos, So Paulo, capital(1).Ordem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32(1) (2)

Produto Frango limpo Po francs Leite tipo C Acm Coxo mole Carne moda de segunda Acar Feijo Caf em p Bolacha(2) leo de soja Arroz Ovos Farinha de mandioca Queijo tipo muarela Banana-nanica Margarina Fil de frango leo de girassol Alface Laranja Pescada mdia Macarro Tomate de mesa Batata Bisteca Leite longa vida Leite em p Po de forma Queijo tipo Minas Ma Molho de tomate

wi (%) 13,08 10,72 9,11 7,81 4,08 3,33 3,11 2,80 2,49 2,41 2,39 2,37 2,14 1,98 1,91 1,75 1,73 1,67 1,61 1,47 1,35 1,33 1,28 1,22 1,04 1,02 0,96 0,91 0,88 0,86 0,85 0,83

Ordem 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63

Produto Banana-prata Massa de tomate Cenoura Apresuntado Alho Macarro instantneo Pimento Melancia Linguia Salsicha tipo hot-dog Mamo Mortadela Fgado bovino Manga Hambrguer bovino Iogurte natural Peito de frango Repolho Bacon Mandioca de mesa Vagem Ch-mate Achocolatado Cebola Presunto cozido Queijo tipo prato Pera Farinha de trigo Chuchu Beterraba Salsa/cebolinha Soma

wi (%) 0,72 0,70 0,62 0,60 0,55 0,54 0,49 0,44 0,42 0,40 0,38 0,35 0,30 0,30 0,27 0,26 0,25 0,22 0,21 0,20 0,19 0,17 0,17 0,16 0,13 0,11 0,10 0,08 0,07 0,07 0,05 100,00

Ordenao com base na participao dos produtos includos no levantamento de preos no varejo do IEA, na despesa com alimentao no domiclio. Engloba todos os tipos de biscoito.

Fonte: IBGE (2010a) e Instituto de Economia Agrcola (2010).

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Para construir o ndice de segurana alimentar (ISA), os 63 produtos foram agrupados, tomando-se para clculo o preo do mais representativo do grupo nas despesas das famlias. Assim, por exemplo, aves e ovos constituem um grupo com participao de 17,99% no ndice e 15,02% nas despesas com alimentao no domiclio das famlias com renda mensal de at dois salrios mnimos, da capital paulista, na

POF 20082009. O preo do frango limpo, que corresponde a 76,30% das despesas referentes ao grupo17, foi tomado para clculo do ndice (Tabela 5). Para chegar ao ISA, foram sendo retirados produtos, construdos ndices e confrontados com o IPRA, composto de 63 produtos, at chegar quele que mais se assemelhasse a ele, mas contivesse o mnimo nmero de pro-

Tabela 5. Fator de ponderao dos produtos no ndice de segurana alimentar