118273-parte 1 - geografia humana

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  • 7/23/2019 118273-Parte 1 - Geografia Humana

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    CAPTULO 1

    Geografia, Cincia em Construo

    Origem e evoluo da Geografia

    A Geografia pode ser considerada como uma das mais antigas disciplinas acadmicas. Surgiu na Grcia Antigacom o nome de Histria Natural ou Filosofia Natural. Mesmo antes de aparecerem com o nome de Geografia, muitosestudos possuam uma conotao geogrfica, sobretudo os que tentavam associar as caractersticas do meio -

    ambiente s atividades das pessoas e das diversas sociedades.

    A Geografia ao longo da Antiguidade Clssica (greco-romana)

    Hbeis navegadores e comerciantes a nao de Homero desenvolveu e acumulou um vasto conhecimentosobre o ambiente e os fenmenos naturais, principalmente os que influenciassem a navegao, fato de sumaimportncia para a sustentao desta civilizao.

    Em virtude de suas habilidades e atividades deixaram para a geografia um vasto legado para a posteridade,dentre os mais importantes esto a descrio do rio Nilo e seu perodo de cheias anuais e diversos estudosdetalhados sobre diferentes paisagens e lugares do planeta. Dentre os diversos personagens dos estudosdesenvolvidos pelos gregos podemos destacar, Aristteles cujos estudos filosficos e observaes astronmicaslevaram-no a ser o primeiro a afirmar que a Terra tinha o formato esfrico; Teofrasto, discpulo de Aristteles,escreveu a histria das plantas relacionando-as ao clima, e que aps ter viajado pela Europa, sia e frica em 31 a.C, escreveu no ano 17 a.C. uma obra constituda por 17 volumes, com o ttulo de Geographicae (ou Geografia),porm os fatos mais importante que com esse filsofo o nome Geografia aparece pela primeira e iniciam-seestudos regionais, sendo por isso conhecido como o pai da Geografia Regional.

    Alm desses filsofos e estudiosos podemos incluir nesteverdadeiro panteo geogrfico Eratosthenes que em pleno ltimosculo antes de cristo realizou um preciso clculo dacircunferncia da Terra com uma margem de erro de menos de5%. Vale salientar no se acreditar, nessa poca, na esfericidadedo planeta, porm o seu mais importante trabalho foi um tratadosistemtico sobre Geografia e principalmente, porm sem tirar omrito dos outros Cludio Ptolomeu (Claudius Ptolomaeus, 90-168 d.C.), que j em seu primeiro trabalho intitulado Almagesti ouGrande Obra, defendia que a Terra ficava no centro do Universo.Essa teoria, denominada geocentrismo, prevaleceu durante maisde mil e quinhentos anos, at ser substituda pelo heliocentrisnode Coprnico (1473-1543), que colocava a Terra como parte deum sistema comandado pelo Sol. Posteriormente utilizando-se dedados desenvolvidos por outros pensadores como Hiparco,Strabo e Marinus de Tiro alm dos seus prprios, Ptolomeu

    escreveu A Geografia, onde listava as latitudes e longitudes do mundo conhecido da poca, com instrues dastcnicas de mapeamento. Apesar das falhas, essa obra constituiu-se na principal orientao geogrfica at o fim daRenascena.

    Com a conquista da Magna Grcia no quarto sculo antes de Cristo os romanos passaram a nutrirem-se dovasto e vigoroso conhecimento desenvolvidos pela cultura helenstica e passaram utiliz-los e adapt-los s suasnecessidades e interesses. Um exemplo tpico deste fato o astrolbio (chamado dioptra pelos gregos), instrumentode navegao desenvolvido pelos gregos, que foi amplamente utilizado pelos romanos.

    Ao longo de sculos de esplendor e conquistas a sociedade romana deixou para a Geografia conhecimentosvariados de lugares outrora desconhecidos. Descries precisas sobre climas, vegetaes, relevo e culturas dasreas conquistadas na sia, frica e Europa foram realizadas por poetas, filsofos e generais ao longo de quase400 anos de conquistas e expanso.

    Dessa portentosa civilizao podemos destacar o primeiro esboo de reforma agrria tentada pelos irmosGraco (Caio e Tibrio), tribunos da plebe, durante o perodo republicano; Diversas obras de engenharia como aconstruo de aquedutos, pontes e termas; obras literrias com descries geogrficas precisas como a Eneida de

    Virglio, a Histria de Roma, escrita por Tito Lvio e a obra de Csar sobre as suas conquistas. Por outro lado aotomar contato com as sociedades conquistadas Roma absorveu, utilizou e recriou tcnicas e conhecimentos novoscomo a introduo de novas variedades vegetais e tcnicas de plantio.

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    A Construo da Geografia ao Longo da Idade Mdia

    Aps a queda do Imprio Romano o conhecimento ocidental, passa a vivenciar uma clara dualidade:

    De um lado os rabes tornam-se os verdadeiros herdeiros da Geografia grega, tendo traduzido muitos dessesescritos para o rabe. Recuperaram e aprofundaram os estudos geogrficos gregos apesar de ter havido, nesseperodo, algumas regresses: a partir de 900 a.C. a latitude e a longitude deixaram de constar nos mapas rabes.

    Motivados por suas viagens comerciais, esse povo desenvolve um excelente sistema de orientao e de mapasonde o Leste ou Oriente aparece como referencial, isto , as terras orientais ficavam representadas na parte centrale superior dos mapas e no as terras do Norte, como hoje em dia. Podemos destacar como contribuies destasociedade o sistema de classificao climtica elaborado por Al Idrisi no sculo e os estudos e descries de vastasreas da Europa, sia e frica do sbio Ibn Battuta, que culminaria com uma categrica crtica contestatria a teoriaaristotlica de que o mundo quente no era habitvel.

    Por outro lado, enquanto os rabes preservavam o conhecimento greco-romano e at aprofundavam oconhecimento geogrfico, o mundo ocidental europeu submergia na Idade Mdia, onde todos os conhecimentoscientficos, inclusive o geogrfico entraram em processo de estagnao e at em decadncia, uma vez que s aconcepo divina podia explicar o mundo, seus fenmenos e relaes. Somente ps o sculo XV, com as grandesnavegaes europias retomado o interesse pela descrio geogrfica e o mapeamento, inclusive pode-se

    confirmar o formato redondo da Terra aps a viagem de circunavegao de Ferno de Magalhes.

    Modernidade, Burguesia e o Renascimento Geogrfico

    No incio da Idade Moderna, a sociedade europia passaa resgatar a cultura greco-romana rompendo de vez com oTeocentrismo, passando a valorizar o Homem(Antropocentrismo). Vrias cincias, inclusive a Geografia,passam a ser resgatadas dos antigos, porm o fato maisimportante e que serviu de mola propulsora para odesenvolvimento de conhecimentos e tecnologias, foi osurgimento de uma nova classe social, a burguesia.Desenvolve-se com esta classe emergente ligada ao

    artesanato e ao comrcio, e que valorizavam o trabalho, umanova maneira de pensar e agir mais pragmtico eempreendedora.

    Com seu objetivo de lucro constante e enriquecimento, aclasse burguesa rompe definitivamente com o espritocontemplativo que marcara at ento o pensamento e ascincias ocidentais, passando a incentivar o desenvolvimento

    de conhecimentos e tcnicas prticas que engendrassem ampliao dos negcios. Como exemplos desta verdadeirarevoluo no conhecimento cientfico podemos destacar a utilizao da bssola, trazida do Oriente pelas caravanasde comrcio europias; a constatao do movimento de rotao da Terra por Galileu Galilei em oposio crena,difundida na Idade Mdia, de que a Terra era esttica e plana e o Sol, junto com todos os astros, giravam em tornodela; a evoluo da Lei da Mecnica Celeste de Kepler, a formulao da Lei da Gravitao Universal por Isaac

    Newton, a construo de navios mais velozes, o aperfeioamento do relgio e introduo da plvora na sociedadeeuropia, porm utilizada como instrumento de morte e no para shows pirotcnicos como era utilizada pelos seusinventores chineses.

    Paulatinamente o planeta passa a ser ocupado e conquistado pela civilizao ocidental europia. Das primeirasexpedies conquistadoras e exploratrias as terras americanas, asiticas e africanas passam a ser palco deexpedies colonizadoras e cientficas.

    Rapidamente naturalistas, cientistas sociais e naturais, historiadores e botnicos cobrem as vastas reasconquistadas descrevendo paisagens novas e principalmente levantando e analisando as riquezas naturais epotencialidades desses regies. Nesse momento prolifero em construo de novas idias e tcnicas pensadores doporte de Goethe, Kant, Montesquieu e Hegel, preocupados em relacionar os seres humanos com o ambiente, deramimportantes contribuies aos estudos geogrficos, surgindo assim a fundamentando o que futuramente seria

    denominada de Geografia Social, alm de outros ramos da Geografia como a Geografia Antropolgica e a GeografiaPoltica.

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    No final do sculo XVIII ainda no podemos nos reportar a existncia de uma cincia Geografia, posto que estaainda no existia como disciplina independente, no apresentava desenvolvimento autnomo, com princpios geraisnorteadores prprios estando umbilicalmente ligada histria e s cincias naturais. Podemos nos reportar atento existncia de um pensamento geogrficopermeado por valores de cincias que lhes so comuns, como aBiologia, a Histria, a Matemtica, a Histria Natural e a Filosofia, portanto apresentava-se neste contexto sobre oque podemos chamar de forma matemtico-descritiva, posto que se confundia com a Matemtica (forma e dimensoda Terra), Cartografia (elaborao de mapas e cartas) e Astronomia (estudo dos diferentes astros, seus movimentos,etc.) ou preocupava-se apenas com a descrio das paisagens das regies conquistadas.

    O sculo XIX marcado pela grande produo cientfica, ampliao-estruturao das reas conquistadas, pelaprogresso econmico-social, pela primeira crise do capitalismo industrial e surgimento do capitalismo monopolista-financeiro e pela elaborao de postulados que tentavam justificar a existncia de raas superiores.

    No centro do turbilho do final desteprimeiro milnio as cincias humanas,biolgicas e sociais atingem seu ponto dematurao. A Sociologia tem seus alicercesconcretizados com Augusto Comt, criador doPositivismo e a Biologia desenvolvematravs de Lamarck e Charles Darwin ateoria evolucionista. Por outro lado obotnico alemo Alexandre Von Humboldt,

    (1769 - 1859) e o filsofo e historiadortambm alemo Karl Ritter lanam as basesda chamada Geografia Moderna.

    Humboldt participando de vriasexploraes cientficas, realizandodescobertas notveis forneceu importantescontribuies Geografia, principalmentecom seus estudos sobre o meio naturaldeixou para a posteridade vrias obrassendo a obra Kosmos, onde procuroudescrever o Universo mostrando a inter-relao entre todos os seus elementos a

    mais importante delas. Por seu turno Karl Ritter, defendia a utilizao de todas as cincias para o estudo daGeografia e o princpio da relao entre a natureza e os seres humanos, fato bem claro na sua mais importante obra:'Die Erdkunde' (Cincia da Terra, 19 volumes, 1817-1859).

    A partir destas duas obras e das diversas contribuies desses e de outros cientistas o pensamento geogrficorompe a barreira emprico-descritiva que o marcara at ento, passando a elaborao de um arcabouo terico ondeficava claro um mtodo analtico e o verdadeiro papel desta nova cincia: Identificar as relaes entre os fenmenosque ocorrem nas diversas paisagens da superfcie do planeta, bem como a relao destes com as diferentescomunidades humanas em sua ao transformadora.

    Dessa forma passou-se sistematizao do conhecimento geogrfico, estabelecendo-se leis gerais, bem comoa explicar os diferentes fenmenos que ocorrem sobre a superfcie da Terra e suas inter-relaes, tornando-se aGeografia uma verdadeira cincia acadmica, elaborada, pensada e ensinada nas universidades.

    Acontece que para esclarecer o momento nascedouro da denominada Moderna Geografia precisocontextualiz-la ao que foram os sculos XVII e XIX.

    Os anos que marcaram para a histria da humanidade a Idade contempornea europia (sculo XIX) foiconsagrado pelo desenvolvimento das tecnologias que proporcionaram a ecloso da Revoluo Industrial. Nestemomento a tcnica ao dispor total do homem promove um crescimento tal que a quantidade de bens centenas devezes superior a necessidade da sociedade.

    As Escolas Geogrficas

    Nesse ambiente progressista e conturbado a Geografia j instituda como cincia d a luz as suas primeirascorrentes de pensamento. Claro que neste momento quando falamos da Moderna Geografia, nos reportamos a uma

    nova cincia, que no surgiu de repente de forma espontnea ou por obra e graa de um grupo de pensadores eintelectuais e sim pela acumulao das influncias e pensamentos advindos da antiga geografia clssica, construdaao longo de sculos e milnios por diversos filsofos e pensadores, porm que tomando o conhecimento e domniodas novas tcnicas e descobertas cientficas, procurou enriquecer, modificar ou sedimentar os conceitos e modos de

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    pensar, elaborado pelos cientistas e pensadores que a precederam. Portanto as primeiras correntes do pensamentogeogrfico foram bastante marcadas idias e ideais do momento histrico que se vivia e por conseguinte pelosinteresses dos diferentes grupos dominantes.

    O Determinismo alemo

    A primeira corrente de elaboradapela moderna geografia um

    exemplo clssico do pensamentoeuropeu do sculo XIX e resume noseu bojo, reflexos da formaoacadmica do seu autor e forteinfluncia das teorias EvolucionistaLamarckista/Darwinista e Positivistade Comt da ordem e progresso.

    Seu criador Frederico Ratzelpossua formao acadmica emZoologia e Etnografia e introduziu nopensamento geogrfico postulados eaxiomas que mesmo sorvendo os

    estudos gregos, cuja civilizaoescravista necessitava de umafundamentao terica para justificara sua supremacia perante outros

    povos, considerados, por eles, inferiores, fundamentou-se nos pensamentos sociais e biolgicos do pensamentocientfico europeu do sculo XIX. Na sua obra marco, Antropogeografia o autor deixa bem claro que o homem poucopodia fazer perante as condies naturais, ou seja, o Homem mesmo dominando tcnicas avanadas, continuavadependente das benesses e condies climticas e ambientais para sobreviver e desenvolver-se.

    Segundo o determinismo, o espao natural determina as formas de sua ocupao pelo homem. Afirmavam queo clima era capaz de estimular a fora fsica e o desenvolvimento intelectual das pessoas. Sendo assim, oshabitantes das regies temperadas, seriam mais desenvolvidos do que os habitantes das zonas tropicais.

    Acima de tudo convm destacar o ambiente de formao dessa corrente geogrfica: a Alemanha em seu

    momento de unificao sob a liderana do reino da Prssia. Entrando na Revoluo industrial mais tarde do queseus vizinhos europeus a Alemanha em menos de 50 anos passou a competir diretamente com a Frana eprincipalmente com a Inglaterra. Por outro lado vivia a Alemanha a frustrao de ter sido deixada de fora da partilhada sia e da frica.

    Ressentimento e ufanismo eram os antagnicos sentimentos que grassavam os coraes e mentes dasociedade germnica. Neste ambiente o Determinismo Geogrfico passou a assumir para os gegrafos alemes opapel central na construo de um arcabouo terico que justificasse a superioridade do povo alemo, capaz dedominar o mundo e de recuperar o tempo perdido atravs da guerra.

    O Determinismo Geogrfico serviu de mola mestra aos interesses geopolticos alemes e para formulao porgegrafos alemes como Haushofer da geografia poltica moderna ou Geopoltica, ou seja: o ambiente influenciandoa poltica de uma nao ou de uma sociedade, atravs do conceito de espao vivo ou espao vital,

    fundamentador do belicismo gerador da Primeira Grande Guerra e que quase meio sculo aps a sua morte, foiutilizado pelo Partido Nacional Socialista (Nazista) para justificar a expanso territorial alem e a anexao deterritrios, anterior Segunda Guerra Mundial. O determinismo teve vrios seguidores at a metade do sculo XX,principalmente na Amrica do Norte.

    O Possibilismo francs

    O ambiento de nascimento da teoria possibilista transbordava uma multiplicidade de fatos, atos e pensamentos,muitos antagnicos, porm convergentes para a elaborao do ncleo central de uma teoria revanchista edominadora.

    A Frana vivia a humilhao da retumbante derrota sofrida em 1870 para a Prssia, na Batalha de Sedan, ondede uma s enxurrada cai por terra a fracassada experincia do Segundo Imprio, com a priso do prprio Napoleo

    III por Bismarck; Perde a rica regio mineralgica da Alscia-Lorena; obrigada a pagar aos alemes uma pesadaindenizao e acima de tudo assiste a contragosto a unificao alem cujos festejos acontecem no palcio deVersalhes.

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    Como conseqncia interna aguam-se os conflitos entre as classes sociais e os grupos polticos, colocando em

    front opostos os populares parisienses e o governo da 3 Repblica recm instalado em Versalhes, desembocandocomo culminncia na Comuna de Paris. Contudo, mesmo humilhada externamente e solapada por processosconvulsivos internos a Frana possua o segundo maior imprio colonial do planeta, estando, portanto no palco dasdisputas imperialista-coloniais. como conseqncia deste contexto de forte efervescncia poltica e nacionalismoexacerbado que o Estado francs passa a dar mais importncia aos estudos geogrficos iniciando a construo deuma teoria geogrfica prpria.

    Dentre os grandes gegrafos da poca podemos destacar Elise

    Reclus e Paul Vidal de La Blache, representantes tpicos das antagnicasideologias que permeavam a atmosfera francesa:

    Reclus ligado a Comuna de Paris, simpatizante dos ideais socialistasde igualdade civil e da auto gesto democrtica e popular.

    La Blache ligado diretamente ao pensamento poltico dominante deforte nacionalismo, expansionismo, imperialismo e dominao.

    O primeiro foi em virtude do seu pensamento excludo da vida acadmica e exilado. J La Blache desenvolveuuma srie de estudos regionais, onde procurava explicar que o meio exercia influncia sobre o homem, porm estetinha possibilidades de transformar e melhorar o meio de acordo com as capacidades tcnicas de que dispunham, ouseja, La Blache destacava que existiam possibilidades ambientais que poderiam ser aproveitadas ou no pelas

    sociedades humanas. Estava definitivamente fundada a Escola Francesa ou Escola Regional e lanada a TeoriaPossibilista.

    Se na teoria o Possibilismo parece constituir-se em uma espcie de anti-Determinismo, na prtica foi apenasuma forma de Determinismo atenuado, ou uma adaptao menos radical do Determinismo (Observe que La Blacheno desenvolvimento da sua Teoria Possibilista no considera a Geografia como uma cincia do homem e sim umacincia o lugar) em virtude do momento poltico vivido interna e externamente pela Frana.

    Internamente com a perda da rica regio da Alscia - Lorena a Frana necessitava encontrar outras reasprodutoras, que suprissem as suas crescentes necessidades internas por matrias primas. Neste contexto oPossibilismo com seu mtodo de anlise regionalista, literalmente sem trocadilhos, possibilita ao governo francs ummelhor conhecimento dos recursos naturais do seu territrio, criando dessa forma uma poltica otimizada deutilizao destes recursos.

    Externamente o Possibilismo tornou-se uma formaescamoteada de justificao da dominao francesa (eposteriormente de outros imprios) sobre os povos noocidentais.

    Entre o final do sculo XIX e incio do sculo XX aFrana vivenciava um momento posterior ao processo deconquista das vastas terras na frica e sia, era omomento da consolidao de seu imprio colonial , nonecessitando portanto de uma teoria radical desuperioridade da raa branca sobre os nativos jconquistados que terminasse por desfechar em extermnio

    desses, e sim de uma outra teoria cujo o intuito seriaconfundir os interesses dominadores e conquistadoresencobrindo-o sob um manto humanitrio, cujo principalobjetivo seria levar a civilizao aos povos incultos einferiores, porm capazes de ser educados e absorvidospela civilizao ocidental.

    A Geografia Teortico-quantitativa

    Nos anos 50 do sculo XX, eclode a denominada revoluo teortico-quantitativa. Embasada no positivismolgico possua como objetivo tornar os estudos geogrficos ma is cientficos. Para tal intento utiliza como fonte deconhecimento uma viso epistemolgica da cincia, principalmente as cincias naturais, com mais propriedade afsica.

    O raciocnio hipottico-dedutivo considerado o mais relevante para o estudo do objeto central da cinciageogrfica, bem como a teoria foi consagrada como ponto culminante da intelectualidade.

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    No fim dessa dcada, o computador e o satlite davam novo apoio Cincia Geogrfica. A Geografia introduzno bojo dos seus instrumentos investigativos a estatstica e passa a utilizar a linguagem matemtica, interagindo comoutras cincias como: a Engenharia, a Economia, a Sociologia. Surgem novos estudos geogrficos como, hierarquiadas cidades, definio de reas industriais e plos de crescimento, a partir dos dados acumulados.

    A New Geography, como tambm ficou conhecida essa forma de fazer Geografia, rompe com o academicismo epassa a atuar ligada ao planejamento tanto pblico como privado.

    No entanto convm salientar que neste momento que a Geografia passa a ser considerada uma cincia social,

    mesmo que os estudos da natureza e da humanidade acontecessem muito mais, como processos de adaptaes.Do Arcabouo terico desta corrente importante destacar que pela primeira vez o espao aparece como

    conceito-chave da disciplina geografia, enquanto os conceitos de paisagem e regio passam a um plano secundriodentro dos estudos geogrficos. Os conceitos de paisagem, lugar e territrio so quase que completamente deixadosde lado perdendo praticamente suas significncias. Por outro lado o conceito de regio passa a ser subestimado evisto apenas como o resultado de um processo classificatrio de unidades espaciais elaboradas segundo um mtodode agrupamento e diviso lgica segundo tcnicas estatsticas.

    Porm as formas pelas quais esta corrente geogrfica considera o espao so muito simplistas: de um ladoatravs da noo de plancie isotrpica, e de outro como sua representao matricial.

    Convm aqui descrever o que vem a ser uma plancie isotrpica.

    A plancie isotrpica apenas uma construo terica racionalista do espao onde admite-se como ponto departida uma superfcie uniforme tanto no que concerne ao meio natural (relevo, clima, vegetao, etc.), quanto noque diz respeito a apropriao humana ( densidades demogrficas, distribuio da renda, padres culturais eeconmicos racionais que buscam minimizar os custos e maximizar os lucros). Neste esquema terico de espaono existem empecilhos para a circulao, que pode ser realizada sem dificuldades para todos os quadrantes.

    Como vemos a plancie isotrpica fundamenta-se na homogeneidade, posto que constituda de lugares iguais,porm sobre ela ocorrem aes e mecanismos econmicos que terminam por acarretar diferenciaes do espao,que em si vista como expresso de equilbrio espacial. Convm ainda salientar que nessa plancie a varivel maisimportante a distncia, que por s s determina a diferenciao espacial, que pode ser esquematizada em anisconcntricos de uso da terra, em gradientes de preo da terra ou densidades demogrficas intra-urbanas, emhierarquia de lugares centrais ou at da teoria da localizao industrial.

    Economia e Estatsticaa servio daapropriaodo espao

    Demografia e Estatstica

    a servio da apropriaodo espao

    Climatologia e Cartografia a servioda apropriao do espao

    O ensino, na Geografia Teortico-quantitativa, bem como na Denominada Geografia Tradicional (Determinista ePossibilista) caracterizou-se pela nfase na memorizao e descrio das paisagens naturais e humanizadas,dissociadas dos sentimentos das pessoas pelo espao. Essa forma de fazer Geografia influenciou a produo doslivros didticos at a metade dos anos 70, porm muitos livros, ainda hoje, apresentam alguns aspectos daGeografia Tradicional.

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    Geografia da Percepo ou da Sensibilidade

    No se trata especificamente de uma corrente ou Escola do pensamento geogrfico e sim de estudosfundamentados sob a influncia da Fenomenologia de Husserl e Merleau-Ponty que valorizavam a construosubjetiva da noo do espao perceptivo.

    Estes estudos fundamentam-se na multidisciplinaridade, posto que, relacionam-se entre outras reas com apsicologia de massas e a psicanlise aprofundando ou redimensionando conceitos como os de horizonte geogrfico,sociabilidade, percepo do espao, espao esquizide e a percepo de lugar.

    Geografia Crtica ou Marxista

    O mundo do Ps-Segunda Guerra foi marcado pelos grandes conflitosideolgicos e sociais. De um lado como regime hegemnico o capitalismo,do outro lado do front, estava o socialismo tentando ampliar sua rea deinfluncia e dominao. Permeando essa disputa ideolgica encontrvamosum verdadeiro caldeiro fervilhante de fatos que engendravam insatisfaessociais, como a pssima distribuio da riqueza entre os diversos pases domundo, bem como no interior destes; as pssimas condies de vida e oatraso econmico a que estavam submetidas a maioria das populaes dospases subdesenvolvidos, etc. desembocando em rebelies, conflitos,revolues e movimentos de libertaes.

    nesta situao carbonria onde a Geografia Tradicional (Deterministae/ou Possibilista) no consegue explicar a intrincada teia de relaes queacarretam as transformaes espaciais e a Geografia Teortico-quantitativano quer explicar os conflitos de interesses contrrios que acarretam astransformaes sobre o espao, posto que foi utilizada para enaltecer pormeios de postulados estatsticos e matemticos a ideologia capitalista quesurge, a partir dos anos 60, a Geografia Marxista.

    Fundada pelo francs Ives Lacoste e tendo como participantesgegrafos do quilate do brasileiro Milton Santos, de Pierre George e R. Guglielmo, a Geografia Crtica ou Marxistaconstitui-se numa crtica contundente as outras correntes do pensamento geogrfico, visto que estas apenasassumiram um papel simplesmente explicativo e justificador das ideologias dominantes, portanto estando sempre a

    servio da dominao e do poder, tentava a Geografia Crtica fazer uma anlise das ideologias polticas, econmicase sociais, defendendo o engajamento do cientista, posto que no bastava apenas explicar o mundo, era precisotransform-lo. Dessa forma a Geografia Marxista com sua postura poltica pragmtica introduziu, contedos polticosaos estudos geogrficos, com o objetivo de ofertar instrumentos que ao mesmo tempo servissem para compreensoda realidade social e de instrumento de interveno para que esta fosse mais justa e igualitria.

    Para a Geografia Crtica, o verdadeiro foco das atenes passa a ser as relaes entre a sociedade, o trabalhoe a natureza, visto que dessa relao nem sempre amistosa, posto que est contaminada pelos interessesantagnicos inerentes a cada realidade social e histrica que se produzem os diferentes espaos. Dessa forma oconhecimento de outras cincias como a histria, a economia, a sociologia e a cincia poltica passam a serinstrumentos mais do que relevantes na explicao da construo do espao e o mtodo de anlise passa a serbastante questionador e transversal fazendo com que um ramo da geografia no esgote a explicao dos seusfenmenos em si mesmo, mas seja objeto de anlise de outros ramos.

    Atualmente face as novas e complexas relaes criadas pela nova revoluo tecnolgica onde, os espaos sotransformados de forma mais acelerada, as informaes caminham a velocidade da luz, vive-se a euforia/frustraoda hegemonia capitalista neoliberal, bem como a ascenso de um nico padro cultural, a Geografia assume novase diversificadas tarefas.

    Por um lado assume um papel reflexivo para a construo da cidadania, posto que somente uma sociedadeconsciente dos seus direitos e deveres pode transformar o espao de forma organizada, relativamente equilibrada, esem grandes desajustes sociais. Por outro lado a Geografia com o seu arsenal de conhecimentos e tcnicasapresenta-se como auxiliar mpar no processo de construo continuado do espao, posto que, este o papel a quea sociedade foi destinada e se assim o que faa-o de uma forma racional, respeitando os limites da natureza, bemcomo as necessidades de seus pares.

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    O Objeto de Estudo da Geografia

    Espao Geogrfico: Produo Natural e Social

    Trecho entre a antiga fbrica da Tacaruna e o Shopping Center (OlindaPE)

    O espao geogrfico uma construo histrica, compreende elementos naturais, isto , aqueles que no forammodificados pela humanidade e elementos culturais, resultantes da transformao da natureza atravs do trabalho,

    sendo chamada tambm de segunda natureza. Em momentos histricos diferentes, as sociedades transformaram anatureza e organizaram o espao utilizando as tcnicas disponveis, porm sempre motivadas pelas necessidadesmomentneas.

    Acontece que este espao, fruto do trabalho humano, motivado por interessesnecessidades individuais oucoletivas , portanto socialmente produzido , tambm apresenta feies ou caractersticas diferentes de acordo comcada sociedade. por isso que ao observar a paisagem mundial identificaremos algumas reas onde quaseimpossvel perceber a atuao humana sobre o espao natural, ou seja, h um predomnio de aspectos naturais.

    Porm outras apresentam profundas modificaes, onde os aspectos culturais marcam de forma indelvel apaisagem. Campos de pastagens ou agriculturas, onde so utilizadas tcnicas diversas como terraceamento, curvasde nvel, queimadas, adubo industrial, agrotxicos, irrigao, etc . , indicam espaos onde a primeira natureza foiquase completamente destruda. Ao lado deste poderemos observar reas onde praticamente impossvel

    identificarmos aspectos naturais dado o grau de apropriao impetrado pela sociedade.

    At mesmo em uma mesma sociedade encontraremos espaos geogrficos diferenciados, produzidos pornecessidades diferentes, porm que se interpenetram de forma a complementar a sobrevivncia do conjunto destasociedade. Tomemos como exemplo o meio rural onde o impacto das modificaes humanas se fez de forma maisbranda e diversos elementos naturais foram preservados em contradio ao meio urbano onde a segunda naturezareina e impossvel encontrarmos elementos naturais.

    O espao rural produz as matrias primas e os alimentos que sero consumidos pela cidade (e pelo prpriocampo), enquanto que o espao urbano produz os instrumentos (mquinas , enxadas , adubos , agrotxicos , etc.)que sero utilizados pelo campo.

    Atualmente podemos afirmar com toda certeza que poucos so os espaos que no sentiram a mo

    transformadora do homem, posto que as tecnologias disponveis atualmente so capazes de tornar as reas maisinspitas utilizveis segundo os interesses das sociedades.

    A Cincia Geogrfica ocupa-se dessa dicotomia, desvendando os fenmenos que envolvem os elementos danatureza, junto com a forma de utilizao e ocupao desses espaos pelas sociedades humanas.

    Tendo a Terra como o suporte fsico onde coexistem bilhes de seres vivos, a Geografia, atravs de suas vriasespecializaes, procura explicar a dinmica que anima o planeta, incluindo os seres humanos que se espalhampelos vrios recantos do mundo contribuindo, com modos de vida dos mais variados, para a riqueza e diversidadeculturais, fruto do trabalho de geraes passadas, cujo legado incorporado e enriquecido pelas novas geraes.

    A Geografia, assim, procura entender a lgica das aes humanas sobre a natureza e a influncia da naturezasobre os seres humanos.

    O espao apresentado como noo e categoria o objeto central da Cincia Geogrfica, posto que os sereshumanos constroem a noo de espao desde o seu nascimento, at a formalizao do pensamento.

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    De uma maneira prtica e instintiva a criana ainda em tenra idade vivencia a construo de um espao ntimo,s seu a partir dos deslocamentos, das distncias entre si e os demais objetos. Desta maneira atravs da construode esquemas mentais que no principio so mais inconscientes do que lgicos todo ser humano vai construindo suanoo acerca do espao.

    Posteriormente o espao passa a ser percebido atravs da contemplao e observao. Apenas com a chegadada adolescncia, quando o pensamento abstrato sobrepe-se ao pensamento concreto, o indivduo passa aconceber o espao estabelecendo relaes espaciais atravs da representao.

    Somente quando torna-se objeto de estudo da Cincia Geogrfica que o espao transforma-se em categoria, ecomo tal pode ser subdividido em:

    Espao / Lugar Espao / Paisagem Espao / Territrio Espao / Regio

    Categorias do Espao

    Lugar

    A categoria lugar corresponde aqueles espaos com os quais

    as pessoas esto ligadas intima e afetivamente: A rua, o bairro, acidade onde se nasceu, etc. So espaos de onde se guardamrecordaes, mesmo estando por muito tempo distantes. Oslugares so elos de ligao entre as pessoas e o mundo, comonos diz os Parmetros Curriculares Nacionais, Geografia na sua p.29: O lugar onde esto as referncias pessoais e o sistema devalores que direcionam as diferentes formas de perceber econstruir a paisagem e o espao geogrfico.

    BBaaiirrrrooddaaBBooaaVViissttaa((RReecciiffeePPEE))

    Paisagem

    A paisagem apresenta uma tnue ambigidade, posto que, aomesmo tempo pode ser considerada concreta, por estar relacionadas categorias lugar e territrio com seus elementos naturais ehistoricamente construdos pela humanidade, mas por outro ladono pode ser imediatamente tocado, nem to pouco abarcado deuma nica vez j que representa a unidade visvel do lugar eterritrio, ou seja, compreende tudo que se avista de umdeterminado lugar ou territrio.

    Tundra Siberiana

    Por mais transcendental que possa parecer podemos vislumbrar a paisagem de um lugar sem que precisemosestar olhando para ele e at mesmo senti-lo em toda sua plenitude de sentidos vivos: odores, tenses e conflitos,cursos fluviais, formas de relevo, distribuio populacional, estrutura viria, conjunto de construes, a vida e histriados indivduos que nele habitam, bem como os sucessos e fracassos.

    Portanto podemos afirmar que na paisagem esto plasmadas as marcas da histria de uma sociedade, postoque registros das diferentes etapas da sua construo esto a impressos impregnando-a de momentos que o tempovivenciou.

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    SE LIGA, FERA!

    Exemplos Tpicos(Curdos e Palestinos) deque uma Nao pode existir sem o Estado

    Nao, porm o Estado -Nao no podeviver sem territrio, e do exerccio do poderper naes mais fortes.

    Regio

    Regionalizao por mistura de critrios Regionalizao por Aspectos Naturaishistricos, Culturais e Geolgicos

    Regionalizao porposio Espacial

    Regionalizao por aspectos Naturais

    (Regionalizaes dentro de Regionalizaes)

    A regio implica no apenas uma noo de conhecimento esttico,em virtude da gama de relaes que envolvem diversos lugares que serelacionam de forma recproca e solidria. Nela est inclusa aconcepo de territrio, porm em diversos momentos podetranscender esse conceito, visto que pode ultrapassar as fronteiras doEstado-Nao (Pas) em uma relao de unio internacional em buscade novas alternativas de sobrevivncia, portanto uma interaosupostamente solidria entre lugares na busca de autonomia,desenvolvimento e identidade. So exemplos os diversos acordos

    econmicos ou polticos celebrados entre pases diferentes.

    Territrio

    No foi a Cincia Geogrfica a primeira adefinir a categoria territrio e sim a Biologia quej no sculo XIX referia-se ao territrio como area onde uma espcie, animal ou vegetaldesenvolve suas funes vitais, ou seja, o

    domnio de uma espcie sobre uma parte dasuperfcie da Terra. Somente com a influnciado positivismo de Augusto Comte, queincorporou o conceito biolgico de territrio aosestudos da sociedade, Geografia ratzeliana -determinista, passa a definir o territrio como

    uma frao do espao geogrfico que se identifica pela posse, sendo, por conseguinterea de dominao de uma comunidade, grupo ou de um Estado.

    Estes conceitos fragmentrios do espao, que envolve posse,dominao e conflitos lanaram a bases da Geopoltica, onde oterritrio passou a representar a rea de dominao de umestado nacional.

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    Princpios da Geografia

    A Geografia possui alguns princpios que a norteiam. Esses princpios foram introduzidos medida queavanava como cincia autnoma.

    Princpio da Extenso

    Teorizado por Frederich Ratzel (1844-1904), segundo o qual, os fatos e fenmenos geogrficos materializam-seespacialmente, devendo ser delimitados e localizados na superfcie terrestre. O grande auxlio a este princpio dado pela Cartografia.

    Princpio da Analogia ou Geografia Geral

    Exposto por Karl Ritter (1779- 1859) e Paul Vidal de La Blache (1845-1918). Consiste em comparar as reasestudadas com outras do mundo, estabelecendo as semelhanas e diferenas entre elas.

    Princpio da Causalidade

    Desenvolvido por Alexandre Von Humboldt (1769-1859). Os fenmenos geogrficos devem ser estudados

    levando em considerao suas causas e efeitos.

    Favelizao Causa: Pobreza; Conseqncias:Urbanizao desordenada de morros e encostas Ser queexistem outras?

    Aspecto do bairro da Guabiraba (Recife)

    Princpio da Atividade

    Formulado por Jean Brunhes (1869-1930). Os fatos geogrficos vivem em constantes mutaes e sosubmetidos a agentes internos e externos. A paisagem geogrfica possui o novo e o velho. Esse principio defende atemporalidade das relaes que se estabelecem no espao geogrfico.

    A Construo do Espao de Recife

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    Princpio da Conexidade

    Formulado por Jean Brunhes. Os fatos geogrficosno se apresentam isolados uns dos outros,apresentam conexes ou interligaes que o explicam.

    Natureza e Sociedade se Complementam naalterao do Espao

    Divises da Geografia

    O que mesmo Geografia?

    Em princpio torna-se correto afirmar que noexiste uma Geografia Fsica e outra GeografiaHumana j que a Geografia a cincia que estencarregada de analisar, interpretar e compreenderas transformaes perpetuadas pelas diferentessociedades humanas sobre o espao. Mais do querealidade esta diviso imposta pelo tradicionalismo mais uma tentativa prtica de facilitar os estudosgeogrficos que, porm terminou por dificultar overdadeiro papel central da Geografia. Contudo nosestudos geogrficos deve-se levar em conta, queessa dualidade implicitamente faz parte da suasingularidade isto , a busca da compreenso dosfatos e fenmenos que se materializam no espao,a partir da interligao entre o natural e o social.

    Desta forma convencionou-se dividir a CinciaGeogrfica em dois ramos diferentes: Geografia

    Fsica e Geografia Humana. Cada um desses ramos possui vrias especializaes com objetos e mtodos prprios.

    Geografia ou Climatologia Geografia ou Demografia

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    Geografia ou Astronomia

    Geografia, Geologia,Geomorfologia ou Hidrografia

    O verdadeiro papel da Geografia como Cincia no decorar e descrever de forma estanque conhecimentostomados de outras Cincias, posto que desta forma torna oser humano inerte perante o mundo e a realidade que ocerca.

    O verdadeiro papel da Geografia enquanto Cincia edisciplina acadmica tornar o ser Humano consciente dalgica da construo do espao, tornando-o interventor

    atuante neste processo de construo-apropriao do espao.

    Geografia Fsica

    Ramo ou segmento da Cincia Geogrfica que estuda as paisagens, dando nfase aos fenmenos naturais.Neste ramo podemos encontrar vrias especializaes:

    GeoclimatologiaHidrogeografiaGeomorfologia

    Biogeografia (Zoogeografia e Fitogeografia)

    Geografia Humana

    Ramo da Cincia Geogrfica encarregada de estudar o espao elaborado pelo Homem ou Segunda natureza.Neste ramo podemos encontrar:

    Geografia da PopulaoGeografia Econmica (Geografia Agrria, Geografia da Indstria, etc.)Geografia da CirculaoGeografia Poltica

    xerccios

    01.Considere o texto que segue.

    "O homem cria espaos que so produzidos ou organizados, s vezes, muito menos para atender seus prpriosinteresses e muito mais para produzir e reproduzir o capital. Assim, os interesses do capital podem chocar-se comos interesses dos pequenos proprietrios, dos garimpeiros, dos indgenas, dos 'sem terras' ou dos trabalhadores.Chocam-se tambm com a necessidade de se manter o equilbrio da natureza."

    Da leitura do texto possvel afirmar que

    A) o predomnio dos interesses coletivos na produo do espao garante a sobrevivncia do homem nasuperfcie terrestre.

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    B) sendo a natureza e os seus recursos uma fonte de vida para a humanidade, o espao deve ser criado emodificado constantemente pelo capital.

    C) o capital organiza espaos que apresentam garantias de progresso e melhoria dos padres de vida dapopulao como um todo.

    D) o espao reflete a sociedade que nele vive e, principalmente, as relaes que se estabelecem entre oshomens.

    E) o meio natural ainda determinante para a produo do espao, isto , em um meio ambiente pouco propcio ocupao humana no h investimento de capital.

    02.

    (UFF) Leia o texto.A maioria das pessoas hoje tende a pensar em cultura como pertencendo a uma determinada sociedade:japoneses tm cultura japonesa, franceses tm cultura francesa, americanos tm cultura americana, e assim pordiante. Mas hoje isso tem se mostrado confuso: ns pertencemos nossa cultura nacional especfica, mas muitosde ns no mundo afluente atual tambm selecionamos ou pelo menos acreditamos que selecionamos aspectos de nossas vidas no que pode ser chamado de o supermercado cultural global. Um resultado disso uma profunda contradio (...). Sentimos que pertencemos nossa cultura nacional especfica e acreditamos quedevemos estim-la. Mas tambm consumimos no supermercado cultural global e acreditamos que podemoscomprar, fazer, ser qualquer coisa do mundo que queiramos mas no podemos ter as duas coisas. Nopodemos ter ao mesmo tempo a escolha entre todas as culturas do mundo e a nossa prpria individualidadecultural. Ao acreditar ser possvel escolher aspectos de sua vida e da cultura do mundo todo, ento onde est oseu lar? (...) Podem lar e razes serem simplesmente mais uma escolha do consumidor?

    Gordon Mathews. Global culture/individual identity: searching for home in the cultural supermarket. London,Routledge, 2000, p. 9

    Identifique a opo cujo argumento traduz corretamente as idias apresentadas no texto.

    A) A invaso cultural estrangeira, destruindo as culturas nacionais.B) O consumismo indiscriminado como fator de alienao.C) O multiculturalismo como resultado das migraes internacionais.D) A perda das razes culturais como decorrncia lgica da urbanizao.E) A identidade cultural problemtica no contexto da globalizao.

    03.Os diversos seres vivos demarcam espaos como sendo necessrios a sua sobrevivncia. Igual situao

    sempre existiu nas sociedades humanas.

    Com base no exposto, tradicionalmente a Geografia conceitua territrio como:

    A) rea propcia agricultura que abastece a sociedade.B) regio natural do planeta que habitada pelo ser humano.C) poro do espao, delimitada por fronteiras, onde se exerce o poder.D) toda poro de terras emersas do planeta, onde se desenvolvem atividades humanas.E) locais do planeta de onde se extrai o elemento trio, muito til na indstria atmica.

    04.Leia com ateno o texto a seguir e assinale o princpio da Geografia que est implcito em sua redao.

    A rea investigada situa-se integralmente na zona intertropical do hemisfrio sul da Terra. Apresenta relevo plano

    e relativamente horizontal, que se desenvolveu numa estrutura sedimentar concordante. Enquadra-se nacategoria de relevo tabular, da ser chamado de tabuleiro. Esse mesmo tipo de paisagem encontrado emoutras reas do pas, com caractersticas semelhantes, mostrando, assim, que em tais tipos de estruturageolgica o relevo apresenta-se tabular. H regies em continentes afastados que a situao morfolgica muitoparecida com essa referida. Os solos no so muito ricos, do ponto de vista da fertilidade natural, mas vm sendoempregados para o plantio da cana-de-acar.

    A) Princpio do AtualismoB) Princpio da Geografia Fsica CrticaC) Princpio da AtividadeD) Princpio da AnalogiaE) Princpio do Ecodesenvolvimento.

    05.

    (UFC) A teoria determinista teve forte influncia da teoria evolucionista de Darwin. Escolha a alternativa queapresenta, corretamente, um princpio do determinismo geogrfico fundamentado na teoria da evoluo.

    A) As pessoas podem atuar no meio natural, gerando modificaes e determinando seu desenvolvimento.

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    B) A construo do espao nas diferentes sociedades depende das interaes entre elementos sociais, culturais,fsicos e biolgicos.

    C) As condies ambientais, em especial o clima, so capazes de influenciar o desenvolvimento intelectual ecultural das pessoas.

    D) Os grupos humanos devem crescer em seus prprios territrios. No deve haver deslocamentos, uma vezque o homem um elemento da paisagem.

    E) A relao entre a sociedade, o trabalho e a natureza fundamental na apropriao dos recursos e naproduo de espaos diferenciados.

    06.

    Observe:

    O espao a acumulao desigual dos tempos.

    Milton Santos. Pensando o espao do homem. So Paulo: Hucitec, 1982.

    A principal idia presente nesta frase a de que:

    A) A histria a descrio dos perodos histricos e o espao o lugar de embate entre a sociedade e a natureza.B) O meio tcnico-cientfico-informacional faz com que o espao torne-se cada vez mais informatizado,

    acumulando a tecnologia de uma forma igual.C) O espao reflete as marcas do passado pois um produto do contexto histrico e porque o tempo aparece

    materializado em determinados objetos que o compem.

    D) O avano tecnolgico permite um maior acmulo de capital tornando todos os espaos homogneos.E) A diviso territorial do trabalho no faz com que haja cada vez mais uma acumulao da tecnologia,aumentando as disparidades regionais.

    07.Considerando-se o homem como sujeito e objeto do estudo da cincia geogrfica, correto afirmar:

    A) O homem no pode ser qualificado como o elemento mais importante na construo o espao geogrfico.B) O homem se apropria da natureza e, ao fazer isso, ele a modifica e constri o que em a ser considerado

    espao geogrfico.C) A paisagem geogrfica j existe mesmo antes de o homem nascer, sendo irrelevante, portanto, considerar a

    sua atuao na construo do espao geogrfico.D) O principal papel do homem construir a natureza, tornando-se, assim, o elemento ais importante na

    organizao do espao geogrfico.

    E) No estudo geogrfico, o homem mais importante que a natureza, sendo desnecessrio para a geografiaestudar a paisagem natural.

    08.Sobre o processo de formao territorial do Brasil, desde o perodo colonial aos dias atuais, assinale com V(verdadeira) ou F (falsa) as afirmaes abaixo.

    1. As capitanias hereditrias foram um empreendimento mistopblico e privado em que se associaram osinteresses do Estado Portugus com investidores que podiam desenvolver a plantation aucareira.

    2. O processo de interiorizao inicial do territrio colonial portugus realizado por bandeirantes visava capturarndios. S a posteirori descobriu-se ouro e isso possibilitou a criao de povoamentos mais a oeste, como aVila Bela de Cuiab.

    3. As atuais fronteiras brasileiras com os pases limtrofes foram definidas ainda durante o sculo XIX, pocado Segundo Reinado.

    4. A estrutura fundiria brasileira no tem nenhuma ligao com o processo de conformao territorial do Brasil.

    Esto corretas:

    A) 1 e 2B) 1 e 3C) 2 e 3D) 2 e 4E) 3 e 4

    09.(Unics) A que categoria geogrfica se refere Milton Santos neste fragmento de texto?

    Formado por um conjunto indissocivel, solidrio e tambm contraditrio, de sistemas de objetos e

    sistemas de aes, no considerados isoladamente, mas como o quadro nico no qual a histria se d. (SANTOS, M., 2004:63).

    Assinale a alternativa correta:

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    A) PaisagemB) Espao geogrficoC) TerritrioD) LugarE) Regio

    10.O que significa estudar geograficamente o mundo ou parte do mundo? A Geografia se prope a algo mais quedescrever paisagens, pois a simples descrio no nos fornece elementos suficientes para uma compreensoglobal daquilo que pretendemos conhecer geograficamente. As paisagens que vemos so apenas

    manifestaes aparentes de relaes estabelecidas (...)(Pereira, Santos e Carvalho - "Geografia - Cincia do Espao")

    Sobre o conceito geogrfico de paisagem INCORRETO afirmar que:

    A) as paisagens que vemos so as manifestaes fsicas dos movimentos da natureza; e o elementodeterminante das paisagens de hoje a sociedade humana.

    B) as paisagens resultam da complexa relao dos homens entre si e desses com todos os elementos danatureza.

    C) o estudo da Geografia deve responder por que a paisagem que vemos tal qual se apresenta.D) a Geografia tem na paisagem a mera aparncia: a descrio da paisagem no suficiente para o

    entendimento do espao.E) paisagens, em diferentes lugares, nunca fazem parte de um mesmo espao, mesmo que sejam integradas no

    mesmo processo.

    CAPTULO 2

    AGROPECURIA

    A histria da agricultura e a histria da humanidade se entrelaam, pois essa atividade surgiu como fruto doesforo desenvolvido pelo homem para superar o estgio de nomadismo e tornar-se sedentrio (fato inconcebvelsem a atividade agropecuria). Inicialmente os meios empregados para essa superao baseavam-se em aessimples de interveno do homem nos mecanismos da natureza, tais como: incentivo germinao,acompanhamento durante o crescimento e proteo a certos vegetais. Aps muitas tentativas, experincias e,naturalmente, muitos erros, as diferentes comunidades foram desenvolvendo tcnicas que permitiam manipular,

    manejar e domesticar a natureza de forma que ela lhes fornecesse vegetais com regularidade e caractersticas, deacordo com suas necessidades e convenincias. Assim, concentrando as plantas da mesma espcie numa mesmarea e conseqentemente, aumentando a obteno de alimentos para consumo, o homem possibilitou sua fixao terra, criando os primeiros povoados agrcolas. Essa possivelmente foi a gnese das primeiras aglomeraessedentrias de onde surgiam as comunidades tribais como a eleio ou a ascenso de um chefe, alm da noo depropriedade privada e uma melhor diviso do trabalho permitindo a produo de excedentes, fato que,posteriormente, acarretaria o intercmbio entre as comunidades.

    Quanto ao local de surgimento da atividade agrcola, no podemos afirmar que houve um primeiro lugar deocorrncia e depois uma disseminao dessa atividade para outros locais, pois h indcios histricos que ela surgiude forma independente em algumas reas espalhadas pelo mundo, entre as quais destacam-se trs como principais:o Oriente Mdio, sobretudo o crescente frtil (rea atualmente pertencentes ao Iraque), Sria, Israel e oeste do Ir;norte da China e o eixo Sul-Sudeste do Mxico (Amrica Central).

    Base de formao dos primeiros povoados primitivos, como vimos, a agricultura sempre foi a atividade defundamental importncia para a humanidade, quer como fornecedora de produtos alimentares , quer de matria-prima para a elaborao de produtos industrializados. Porm como no vivemos em uma sociedade igual, existemdiferenas substanciais entre as naes, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento tecnolgico.Coexistem pases onde o grau de avano tecnolgico nos sistemas de transporte de pessoas e mercadorias,comunicaes e informaes est plenamente concretizado. Isso permite a eles partirem para uma poltica deespecializao agrcola e industrial. Sendo essas regies ricas e modernizadas elas passam a produzir apenasaquilo que lhes necessrio e/ou lucrativo; os que no produzem, partem para buscar em outras regies.

    Ao lado desses pases ricos, esto pases pobres e atrasados, onde no se conseguiu alcanar um elevadonvel de desenvolvimento tecnolgico. Por esse motivo, vem-se obrigados a consumir basicamente o queproduzem. Alm do mais, essa produo quase sempre est sujeita aos rigores impostos pela natureza, alm dosinteresses daqueles que concentram a terra.

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    Para o primeiro conjunto de pases, a realidade criada a de uma intensificao do comrcio em escalamundial; j para o segundo, a conseqncia principal a fome.

    Mas um fato notrio que a fome surge no apenas em reas onde as tecnologias so rudimentares, dependetambm de fatores polticos e estruturais, como: tamanho de estabelecimento ou propriedade rural, utilizao demquinas, tipo de mo-de-obra, relao de trabalho empregada na agricultura e o direcionamento da produo. Porisso faz-se necessrio estudarmos os principais aspectos da agricultura.

    1.Conceito bsico uma atividade do setor primrio de grande importncia para o homem, pois produz alimentos

    e matrias-primas. Atualmente a agricultura est intimamente integrada com o setor secundrio.Apesar de serem muitas as formas de praticar a agricultura, todos os sistemas agrcolas tm trs fatores em

    comum:O capital fator que define se o sistema atrasado ou moderno, intensivo ou extensivo. O aumento da

    produo est condicionado a um maior ou menor investimento.

    A terradefine o tamanho das propriedades. Para aumentar a produo necessrio aumentar o tamanhoda propriedade.

    O trabalhoutiliza grande ou pequena mo-de-obra. Qualificada ou desqualificada.

    FATORES DETERMINANTES EENTRAVES DA PRODUO AGROPECURIA

    Desde o seu surgimento, a atividade agropecuarista influenciada por diversos fatores de ordem natural,poltica e econmica. Em momentos histricos longnquos, a natureza era fator determinante para o plenodesenvolvimento desta atividade, regies com condies climticas boas condies de temperatura e umidade,relevo plano ou at mesmo suavemente inclinados margens e deltas de rios, reas de solos frteis etc. eram as maispropcias para a prtica agrcola para a prtica agropecuarista.

    Mesmo na atualidade, em vastas reas do mundo pobre, estes ainda so pressupostos bsicos para este tipode atividade.

    O avano tecnolgico tem promovido uma verdadeira revoluo na agropecuria, elevando a produtividade

    daqueles que, dispondo de capital podem adquirir insumos cada vez mais eficaz para elevar a produtividade dassuas propriedades agrcolas. Mquinas como tratores, semeadeiras, colhedeiras, colhedeiras, debulhadoras,caminhes, novos produtos, como fertilizantes industrializados, agrotxicos, alm de novas tecnologias, como aEngenharia Gentica, que criou os OMGs (Organismos Geneticamente Modificados) ou Transgnicos, esto disposio de quem puder pagar.

    Ao lado desses insumos podemos destacar o avano dos transportes, fazendo com que a produo cheguecada vez mais rpido ao mercado, bem como os incentivo fiscais e subsdios dados por diversos governos aos seusprodutores agrcolas como formas incentivadoras da prtica agropecuarista em alguns pases.

    Esta atividade, no entanto, ainda apresenta alguns grande entraves, principalmente nos pasessubdesenvolvidos, veja como:

    Inicialmente a pouca poltica de incentivos para a agricultura de consumo interno, visto que historicamente suaproduo subsidiada a de exportao. No-realizao de uma ampla reforma agrria, com base na distribuio da terra e distribuio de crditos e

    financiamentos. Quebra do forte sistema de intermediao da produo voltado para o mercado interno. Do produtor ao

    consumidor, o produto passa por vrios atravessadores, elevando assim, o preo a nveis estratosfricos. Quebrar o sistema de trabalho escravo e semi-escravo no campo.

    Estas medidas organizariam o trabalho no campo, ampliariam, diversificariam e barateariam a produo paraconsumo interno, bem como acabariam com a violncia no campo dos pases pobres.

    PRODUO E PRODUTIVIDADE

    Entende-se por produo o quantitativo em espcie de produto agrcola que foi obtido durante um perodo desafra. A produtividade calculada a partir da comparao dos resultados da produo entre uma safra e outra. Sehouve um aumento da produo em relao aos subsdios e insumos agrcolas envolvidos na produo, dizemos quehouve um ganho em produtividade e vice-versa.

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    SUBSDIOS E INSUMOS AGRCOLAS

    Subsdios consiste nos investimentos financeiros que o Estado dispe para os setores mais rentveis daagricultura. Os subsdios podem ser disponibilizados em forma de iseno de impostos ou mesmo em dinheiro. Umaagricultura subsidiada pelo governo tende a ser mais produtiva e mais competitiva. Os produtores dos pases ricoscontam com um alto volume de subsdios governamentais.

    Insumos - referem-se aos investimentos diretos que os agricultores realizam para o desenvolvimento de uma

    produo. Defensivos agrcolas, fertilizantes, mquinas, tratores, sistemas de irrigao e etc, so exemplos deinsumos agrcolas.

    Condies para o Desenvolvimento Agrcola.

    A- Condies naturais

    IClimas midosIISolos frteisIIIRelevos planosIVDisponibilidade de gua

    O grau de maior ou menor dependncia em relao s condies naturais est relacionado com o nvel de

    desenvolvimento. Porm, hoje, o avano tecnolgico nos pases onde a agricultura utiliza tcnicas desenvolvidascomo: Israel, Austrlia e Japo j no se fala mais em condies favorveis ou desfavorveis.Outro exemplo o plo fruticultor irrigado do Vale do So Francisco.

    B- Condies scio-econmicasso determinadas pelos sistemas agrcolas, ao qual podemos dividir em:

    Sistema Extensivoutilizado nas reas agrcolas subdesenvolvidas, onde o fator principal de produo a terra, o

    capital e o trabalho so fatores secundrios. A preocupao do agricultor acumular ters no importando que estassejam ou no utilizadas em sua totalidade. Mesmo em pases subdesenvolvidos a ter tem um carter de reserva devalor, tendo em vista que um bem que no se desvaloriza facilmente. Este sistema latifundiarista e concentrador deterras est diretamente relacionado com os atuais conflitos que reivindicam uma maior democratizao do acesso aterra.

    Lavrador arando a terra com carro de boi

    PROBLEMAS

    Como geralmente so excludos das aes governamentais e no tm recursos, os agricultores fazem uso desementes de baixa qualidade. Poucos investem em adubo (ou fertilizante). Alm disso, no existe nenhumapreocupao com a conservao do solo.

    Ao longo do tempo (poucos anos), acontecer uma diminuio na fertilidade natural e no rendimento do solo.Quando isso acontecer, a famlia que estiver trabalhando na terra ter dois caminhos a seguir:

    1. Ver-se- obrigada a engrossar o exrcito de trabalhadores temporrios indo se empregar em estabelecimentosmaiores para garantir sua sobrevivncia.2. Assumir uma postura predatria em relao natureza, pois desmatar uma rea prxima, praticando a queimadacomo forma de limpar a rea para acelerao do plantio , dando incio degradao de uma nova rea quefuturamente ser abandonada. Por isso o nome : agricultura itinerante.

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    Sistema Intensivoutilizado nas reas agrcolas desenvolvidas, onde os fatores principais de produo so o capitale o trabalho, aparecendo a terra como fator secundrio. Neste sistema o agricultor tem como prioridade utilizar a terracom racionalidade, objetivando o aumento da produtividade e conseqentemente da produo.

    Produo mecanizada de couve.

    Quadro comparativoAgricultura

    Sistema extensivo Sistema intensivo

    PecuriaSistema extensivo Sistema intensivo

    PRINCIPAIS FORMAS DE PRODUO NO MUNDO

    Sistemas Agrcolas

    Agricultura da zona tropical ou plantation

    Esta forma de produo est historicamente relacionada ao chamado pacto colonial. Durante o perodo deconquista das terras americanas pelos pioneiros portugueses e espanhis as terras localizadas na zona tropical doplaneta eram as mais favorveis ao cultivo dos produtos mais importantes da poca, como a cana-de-acar, o cacau,o milho etc. As zonas temperadas onde se localizava a Europa, sede dos pases metrpoles, e o em processo de

    nascimento, Estados Unidos e Canad, no eram apropriadas para esses produtos, tendo em vista que no existia odesenvolvimento tecnolgico atual. Podemos at afirmar que esses fatores de alguma forma afastaram a Amricatemperada do assdio colonizador exploratrio que se observou no mundo tropical.

    SE LIGA, FERA!Vale ressaltar que sistema extensivo no aquele que apenas de desenvolve emgrandes propriedades, mas tambm o queapresenta pores de terras improdutivas,paradas para a especulao imobiliria.Assim como o sistema intensivo no deveestar associado apenas a pequenaspropriedades, mas tambm a qualquerforma de utilizao racional da terra com ofator capital e/ou trabalho predominando.

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    Este sistema estava baseado em: latifndio, mo-de-obra escrava ou mal remunerada e monocultura voltadapara a exportao e abastecimento do mercado externo.Como exemplo de plantation podemos destacar aagroindstria aucareira de Pernambuco no passado. Hoje a nica diferena que o estado propiciou umamodernizao dando uma nova roupagem ao velho latifndio. o sistema tpico dos pases subdesenvolvidos.

    PROBLEMAS

    Vrios so os problemas acarretados pela introduo desse sistema agrcola em vastas reas do mundo, algunsso apenas reflexos desse sistema agrcola, ocorrendo at casos de problemas ambientais e poltico-humanos em

    reas onde esse sistema s foi implantado maciamente sculos depois. O primeiro problema aconteceu com a devastao de vastas reas de vegetao nativa, como a Mata Atlntica

    brasileira, para a sua introduo. Fato que causou um grande impacto ambiental com a extino de vriasespcies vegetal e animal.

    O segundo problemas se deu a partir da tentativa de ampliar a margem de lucro do conquistador europeu, que viano comrcio de carne humana, uma fonte de grande lucratividade. Esse tipo de comrcio tambm era utilizadocomo uma maneira de impedir a acumulao de capital nas colnias (impedimento da comercializao do nativoda terra como escravo, fato que poderia uma pequena elite escravista formada por brasileiros), alm de servircomo alternativa s constantes fugas dos nativos aos maus tratos do conquistador e seu sistema de trabalho. Parasuperar esse pequeno empecilho expanso do capitalismo mercantilista, as naes europias promoviam emgrande escala a captura e seqestro de africanos que, a partir daquele momento eram reduzidos a condio de

    escravos, meras peas que iriam tornar produtivas as rea de Plantation em lugares distantes da sua terra. Esseseqestro, alm do cncer da escravido negra, provoca juntamente com a explorao das riquezas naturais dafrica (que acarretou o esgotamento do solo) a estagnao histrica de vastas reas desse continente que hojevive num estgio de aprofundamento da barbrie econmica, poltica e social.

    O terceiro problema foi gerado pelo fato histrico de que a produtividade desse sistema agrcola decorrer dotamanho da rea plantada. Isso acarretou a concentrao da posse da terra nas mos de poucos proprietrios.Essa concentrao foi se aprofundando medida que as reas de latifndios foram crescendo e passaram aabsorver as pequenas propriedades de subsistncia e mdias propriedades policultoras , fazendo com que osagricultores dessas propriedades e suas famlias se transformassem em trabalhadores assalariados , semi-escravos ou bias-frias, trabalhando na Plantation que os alienou da posse de suas terras ou migrasem para oscentros urbano causando vrios problemas sociais.

    O quarto problema est no direcionamento da produo e no seu carter especulativo. Como ela est voltada

    prioritariamente exportao, em algumas reas, o que se planta depende do jogo de preos marcados. Isso fazcom que se plante de acordo com os interesses do mercado externo (ou at o interno) e do lucro do latifundirio,no estando, portanto, ancorada em nenhum tipo de compromisso com o mercado consumidor interno, que podesimplesmente ficar abandonado. Provocar com certeza, nas reas onde est instalada, um grave dficit alimentae a fome endmica, fatos que implicaro a importao de alimentos, fazendo o pas gastar parte das suas divisas.

    Sistema de Plantation

    Agricultura de jardinagem

    O Sudeste Asitico apresenta uma forma de agricultura muito caracterstica da regio, que se desenvolve empases pobres, como Vietn, Laos, Camboja, e em pases ricos como Japo e a provncia chinesa de Taiwan. Nessespases o arroz cultivado em plancies inundveis e at em reas montanhosas onde so construdos terraos. As

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    principais caractersticas da jardinagem so: escassez de espao para o plantio, utilizao de numerosa mo-de-obramanual, pequena propriedade agrcola, elevada produtividade, uso de adubos e irrigao.

    Sem dvida ao assistir filmes sobre conflitos como a guerra do Vietn voc j observou imagens dos arrozaisasiticos, onde camponeses trabalham nos campos de arroz das plancies inundveis.

    A rizicultura (cultura do arroz) faz desse alimento o principal dessas populaes, cultivado em grande escalaem pequenas propriedades por unidades produtoras familiares. Os cuidados com o solo e com as lavouras resultamem alta produtividade e rentabilidade. um sistema intensivo em trabalho, tendo em vista, que desde a preparaodos terraos alagados, plantio e colheita, exige um cuidado extremo e um nmero grande de pessoas envolvidas. Poreste motivo recebe o nome de jardinagem, pois tratado como se fosse um jardim. uma agricultura bastante

    influenciada pelas mones de vero.PASES ONDE PRATICADA

    Filipinas, Tailndia, Indonsia, China, Taiwan, Japo. Um fato marcante a respeito destes dois ltimos pases que a qualidade de vida das populaes praticantes desse tipo de agricultura melhorou aps a realizao da reformaagrria. Com o incentivo do governo, um pequeno lucro gerado aps a comercializao da produo,possibilitando, assim, investimentos para a nova safra que gerar um excedente do capital, admitindo a melhora acada ano das condies de trabalho e da qualidade de vida da famlia.

    Colheita do arroz no Vietn. Terraos irrigados na China.

    Agricultura Itinerante ou de roa (Rotao de terras)

    Est ligada a forma mais primitiva de utilizao da Terra. O cultivo feito atravs da coivara(desmatamento-queimada-plantio-abandono da terra). A queimada provoca uma reduo na fertilidade do solo fazendo com que apso perodo mdio de 3 anos o agricultor abandone a rea em busca de outra para realizar o mesmo processo. Este tipode agricultura est voltado primeiramente para a alimentao familiar, caso haja excedente, o que pouco provvel,poder ocorrer comercializao do produto.

    No sul da faixa do deserto do Sahel, na frica, em domnios tropicais submetidos a longas secas, a

    subsistncia tradicional baseia-se na rotao de terras. Depois de alguns anos de cultivo, os campos de sorgo,milhete ou cevada so deixados em pousio. Nesses campos, crescem naturalmente as accias, plantas da qual seextrai a goma-arbica. Esse sistema, capaz de recompor a produtividade de solos marginais, encontra-se emretrao, provocada pelo crescimento demogrfico e a escassez de terras.

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    Realizao da coivara. (desmatamento) Realizao da coivara. (queimada)

    Rotao de Culturas

    Pode se caracterizada como um sistema intensivo em mo-de-obra, baseada na diviso da terra em partes ena mudana peridica dos produtos cultivados, evitando o esgotamento dos solos. Procura-se associar produtos cujosnveis de exigncia do solo sejam distintos, assim uma cultura que exige mais substituda por outra que exigemenos, diminuindo o desgaste excessivo do solo. muito comum se observar tambm a rotao associada pecuria onde durante o perodo entre o plantio e a colheita o gado criado preso em estbulos e aps a colheita solto na rea alimentando-se do resto da produo e fertilizando o solto atravs de seus excrementos. No sul do Brasil comum a rotao anual de culturas onde o milho e a soja so cultivados no vero e o trigo a de inverno.

    Um exemplo comum o do agricultor que divide sua propriedade em trs pores: planta em uma delas, criaum pequeno rebanho em outra e deixa uma terceira em descanso. Feita a colheita, essa parte do solo sofre desgastede nutrientes e por isso entra em descanso; a que continha o rebanho adubada pelo gado e est boa para sercultivada; a que estava em pousio possui bastante pasto e receber o gado.

    Dessa forma, o proprietrio utiliza a terra o ano todo, produz com lavoura e com criao e tem sempre umaparte dela sendo recuperada sem grandes despesas. Mas a prtica exige grande nmero de trabalhadores para darconta das diversas atividades realizadas.

    Rotao de Culturas

    Agricultura Moderna (Agrobusiness)

    a agricultura tpica de pases desenvolvidos, como os Estados Unidos e os pases da Europa Ocidental.Caracteriza-se pelo uso de sementes selecionadas, pequena mo-de-obra, uso intensivo de mquinas, tcnicasmodernas e carter empresarial.Podemos destacar tambm:

    Pequenas propriedades reunidas em cooperativas formando grandes reas monocultoras especializadas eextremamente comerciais denominadas Cintures Agrcolas;

    Total mecanizao e uso racional do solo atingindo altos ndices de produtividade; O governo promove subsdios como assistncia tcnica em laboratrios de pesquisa e apoio financeiro.

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    Os exemplos mais conhecidos dessa forma

    de agricultura so os cintures agrcolas do suldos EUA. Cinturo de milho (Corn belt),Cinturo de algodo (Cotton belt), Cinturo depecuria (Ranching belt) etc.

    a denominao dada s atividadeagrcolas que empregam insumos e inovaes

    tecnolgicas desenvolvidas mais recentes.Utilizam maciamente fertilizantes, pesticidas,sementes selecionadas e mecanizao nasatividades agrcolas.

    praticada predominantemente nosEstados Unidos, Europa, Centro-Ocidental e emalguns trechos da Amrica do Sul como oscampos de trigo da Argentina e a sojiculturadesenvolvida no serrado brasileiro. No incio,era restrita apenas aos mdios e grandes

    produtores agrcolas; nas ltimas dcadas, teve algumas de suas tcnicas e recursos, como utilizao de inseticidase sementes selecionadas, adotadas por parte dos pequenos proprietrios e agricultores de subsistncia.

    EMPRESAS AGRCOLAS - CARACTERIZAO

    So sistemas agrcola tpicos de pases desenvolvidos (temperados), como: Canad, Estados Unidos, Austrlia,Unio Europia, pequenos trechos da Argentina e do Brasil. So praticados em pequenas e mdias propriedadesonde se atingiu, atravs de macios investimentos de capital, grande produtividade. Essa produtividade foiconseqncia da utilizao de sementes selecionadas e melhoradas geneticamente, do uso intensivo de fertilizante,do elevado grau de mecanizao em todas as etapas do processo produtivo (preparo do solo, plantio e colheita), dautilizao de silos para o armazenamento da produo e, principalmente, do sistemtico acompanhamento de todasas etapas de produo e comercializao por tcnicos, engenheiros e administradores. Funcionam como empresascuja produo voltada ao abastecimento tanto do mercado interno quanto do externo, dependendo da demanda edo valor comercial.

    PROBLEMASConcentrao de terras nas reas onde foram instaladas essas empresas, pois vrios produtores que no

    conseguem acompanhar a elevao dos nveis de produtividade perdem competitividade e acabam forados avender suas propriedades.

    Elas apresentam os principais produtos agrcolas, seus maiores produtores e exportadores. Podemos notar queentre esses se destacam os cereais, como: arroz (tpico de reas quentes e midas), o trigo, vegetal considerado omais nobre de todos os cereais (tpico de clima temperado), alm da soja.

    Isso deve-se aos fatores mercadolgicos, visto que, tanto pode servir para o consumo humano, como para aalimentao animal (com exceo do arroz), e tambm deve-se facilidade com que se armazenam : so secos,portanto pouco perecveis e de fcil transporte. Produtos como o caf e o cacau so destinados ao consumidormundial, atravs de bebida e especialmente doces.

    Podemos acrescentar ainda, o item ch, cujos maiores produtores so: a ndia, a Sri Lanka e a China, alm do

    milho originrio da Amrica e base alimentar da Amrica espanhola. Existem produtos agrcolas que , apesar de noestarem inclusos nesta lista, so destinados prioritariamente industrializao e que merecem destaque.

    Mecanizao na colheita do trigo.

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    Cintures agrcolas nos EUA.

    A produo para as agroindstrias

    A agricultura e a pecuria modernas so desenvolvidas de modo intimamente ligado indstria. Osprodutores j plantam ou criam seus rebanhos com sua produo voltada para as agroindstrias, que compram eindustrializam as mercadorias, deixando-as prontas para o mercado consumidor final.

    Nesse contexto, cada vez mais os agricultores vo se tornando uma pea na engrenagem de produo nosmoldes capitalistas. Assim, a produo tem de obedecer a normas do mercado, normalmente regulado pelas grandescorporaes alimentcias ou pelo mercado consumidor direto. Entre essas normas esto o alto grau de qualidade, ahomogeneizao dos produtos e a adaptao a especificaes tcnicas como, por exemplo, peso e tamanho mnimo,aparncia etc. Essas especificaes so feitas para que haja maior aproveitamento na indstria, diminuio de custosde produo, produo em escala, possibilitando preos finais mais baixos. As grandes empresas compram muito ede muitos agricultores (ou pecuaristas), que cultivam (ou criam) determinado produto em uma regio e tornam-sefornecedores exclusivos delas.

    Para conseguir cumprir as metas estabelecidas, o produtor precisa investir pesadamente em maquinrios, naqualidade das sementes (ou do seu rebanho), em cuidados que possam dar maior retorno ao capital investido. Nem

    sempre ele tem disponvel o montante de dinheiro necessrio, recorrendo, assim, a financiamentos. Muitas vezesesses investimentos so financiados pelas prprias agroindstrias que do suporte tcnico aos produtores. Estescostumam recorrer tambm aos bancos para financiar sua produo.

    MORAES, P. R. Geografia Geral e do Brasil. Ed. Harbra. p. 540

    Apropriao da Terra

    1. Propriedade Privada

    Encontrada nos pases capitalistas onde a terra pertence a uma pessoa, a um grupo de pessoas ou a gruposeconmicos. Nos pases subdesenvolvidos, comum a aquisio de terras como reserva de valor ou ainda podemos

    acrescentar que estes pases muitas vezes arrendam suas terras para empresas estrangeiras que se apropriam daproduo e comercializao direcionadas para a exportao e no para o consumo interno.

    2. Propriedade Estatal

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    Est bastante associada a forma utilizada na antiga URSS. Estava dividida da seguinte forma: os Kolkhozes e osSovkhozes.

    Os Kolkozes eram cooperativas de camponeses e resultaram da reunio de vrias propriedades particulares.Formaram, assim, grandes domnios agrcolas, o que correspondia a 50% das reas cultivadas. A maior parte dascolheitas era vendida ao Estado, e o restante era comercializado livremente no mercado da fazenda coletiva.

    Os Sovkhozes eram fazendas pertencentes ao Estado. Os trabalhadores recebiam pagamento do governo e

    prmios de produo; tambm dispunham de assistncia mdica e escolas nas prprias fazendas. Toda produo eradestinada ao Estado.

    Os Kolkhozes deram certo, por isso foram recriados em pases como a China (Comunas Populares), emIsrael (Kibutzs) e nos EUA (Colnias Agrcolas). Detalhe: Israel e EUA so capitalistas.

    AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE

    EROSO, DESERTIFICAO, SALINIZAO

    O impacto ambiental da agropecuria manifesta-se com especial intensidade na degradao dos solos. Ossolos consistem em recurso potencialmente renovvel, pois o desgaste produzido pela eroso compensado pelo

    intemperismo da rocha matriz, que forma continuamente solo novo. A vegetao controla o ritmo da eroso: rvores earbustos reduzem a velocidade do vento; parte da gua das chuvas retida pelas folhas e gramneas e evapora antesde atingir o solo; a teia formadas pelas razes das plantas fixa as partculas do solo.

    A substituio extensiva da vegetao natural por culturas acelera os processos erosivos, que ultrapassamlargamente o ritmo de reposio pelo intemperismo. As vertentes de morros e montanhas em reas tropicais soextremamente vulnerveis a essa ameaa, pois as guas de enxurradas transportam livremente o horizonte superficialdos solos. O plantio em curvas de nvel e o terraceamento so tcnicas que limitam a degradao dos solos devertentes.

    Nos ecossistemas do semi-rido, a eroso acelerada pode deflagrar processos incontrolveis dedesertificao. A desertificao consiste num conjunto de mudanas ecolgicas regressivas que terminam por reduzira capacidade de sustentao e a produtividade da terra.

    A desertificao deflagrada pela combinao de secas prolongadas com a retirada da vegetao e opastoreio excessivo. Nessas condies, a eroso elica transporta o fino material superficial, degradando o solo. Nas

    ltimas dcadas, o crescimento demogrfico, o aumento da densidade dos rebanhos e a substituio do pastoreionmade pela criao sedentria vm degradando os solos do Sahel e provocando a expanso do deserto para essasterras da orla meridional do Saara.

    A degradao dos solos causada tambm pela irrigao descontrolada, associada a uma insuficientedrenagem do terreno. Cerca de 35% da produo global de alimentos realizada em lavouras irrigadas que cobremmenos de 20% das terras de culturas. A gua utilizada atinge camadas profundas do solo, dissolvendo sais etrazendo-os superfcie. Com a evaporao, ocorre a salinizao do horizonte superficial que pode destruir as razese matar a vegetao.

    A salinizao causada por escassa drenagem de terras irrigadas atinge globalmente cerca de 400 milquilmetros quadrados. Os riscos associados irrigao podem ser controlados por tcnicas de drenagem artificial.Atravs de canais, drenos ou diques, a gua em excesso retirada por gravidade ou por suco.

    Atualmente, as terras moderadamente degradadas abrangem quase 9 milhes de quilmetros quadrados oualgo com ao rea da China. Mais de 3 milhes de quilmetros quadrados so classificados como terras severamente

    degradadas, tendo perdido por completo as suas funes biticas. Dois teros das terras desse ltimo grupoencontram-se na frica, comprometendo os esforos para o aumento da produo agrcola e a reduo da pobreza.

    AGROPECURIA NO BRASIL

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    No ano de 2000 o setor agropecurio representava7,8% do Produto Interno Bruto brasileiro , cifras querepresentam uma regresso em relao a ltima dcadaquando atingia 8,3%. Os dados representam uma quedada renda do setor e no da produtividade , posto que entre1994 e 2000 o mesmo setor apresentava crescimentomdio em torno de 3,4%. Por conflitante que sejam osdados a queda apresentada no percentual de participaoda agropecuria brasileira no conjunto total do PIB , deve-

    se a queda continua do preo da commodities , ou sejaprodutos bsicos como o milho , a soja e o caf no mercadointernacional em virtude do aumento crescente da ofertadesses produtos no mundo , alm do barateamento daproduo de outros pases em virtude de fatoresestruturais e conjunturais como , aperfeioamentotecnolgico aplicado a agricultura nos pases ricos,pagamento de salrios muito baixos ao trabalhadoresagrcolas nos pases subdesenvolvidos , taxa de cmbiofavorvel a exportao , subsdios governamentaisconcedidos pratica agropecuria por pases ricos como osEstados Unidos e os da Unio Europia , etc.

    Em relao aos demais pases do mundo o Brasil temse destacado como um dos maiores produtores agrcolas.Este fato deve-se a fatores que atuam de forma isolada oucombinada.

    Um dos fatores que mais contribuem para que o Brasilgere grandes safras agrcolas a existncia de extensasreas de terras aproveitadas para a prtica agrcola. Poroutro lado este j extenso espao aproveitado, recebeconstantemente a anexao de outros , principalmente emreas de solos pouco frteis e at com limitaes prtica

    agrcola , localizadas em regies de novas fronteiras agrcolas no Centro-Oeste (expanso da agricultura sobre ocerrado) e na Regio Norte.

    Estas regies de baixas densidades demogrficas so inseridas ao contexto agrcola a partir da utilizao deprticas de correo da fertilidade do solo e assistem o desenvolvimento de ncleos agrcolas que crescemrapidamente. O norte do Mato Grosso , o oeste da Bahia , o sudoeste do Piau , Tocantins , o Maranho e maisrecentemente diversas regies nos estados do Amazonas , Roraima , Par e Rondnia so brindadas com essesavanos.

    Por outro lado a grande diversidade climtica propicia o cultivo de uma imensa variedade de produtos, que vodesde gneros tropicais at variedades de clima temperado adaptadas perfeitamente ao clima subtropical brasileiro.Em outra vertente a regularidade hidrolgica de grande parte dos climas brasileiros permitem a efetivao de umaprtica agrcola sem grandes sobvessaltos quanto a perda de safras em virtude de longas estiagem, alis, um dosfatores que contriburam a expanso da agropecuria brasileira para as reas de novas fronteiras agrcolas no Norte

    Centro-Oeste foi a existncia de climas sem variaes constantes nestas regies.

    No todemos ignorar o grande aporte tecnolgico introduzido na agricultura brasileira. Atualmente a sojicultura quase 100% mecanizada e a agricultura de cana-de-acar apresenta um nvel de mecanizao em torno de 30%. bastante comum encontrarmos fazendas modernas onde as colheitadeiras so monitoradas por satlite paralevantar informaes sobre o solo, que sero utilizadas posteriormente.

    Um fato doloroso, porm que acarretou uma forte mudana do pensamento do mdio e grande agricultor foi ocorte dos subsdios e recursos governamentais (atualmente o Banco do Brasil destina apenas 15% dos seusrecursos para a agricultura, em 1981 eram 74% e o governo que destinava a vinte anos atrs 18 bilhes de dlaresatualmente na agricultura , destina atualmente em torno de 7,5 bilhes apenas). Inicialmente uma grande parcela deagricultores falem ou mudam de atividade, porm os que conseguem sobreviver mudam a sua postura produtiva ,buscando fontes alternativas de investimentos , novas modalidades de prticas agrcolas e tecnologia.

    Porm algumas mazelas tambm contribuem para que a atividade agropecuria brasileira atinja nveis toelevados: Existncia de uma massa camponesa historicamente expropriada da posse da terra que utilizada comomo-de-obra de baixa remunerao ou semi-escravizada. Estrutura da terra historicamente assentada sobre olatifndio monocultor nem nas reas de expanso recente esta estrutura foi quebrada. Agora como h sculos

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    surgem propriedades gigantescas, com dimenses mdias em torno de 800 hectares, porm que apresentam umaelevada produtividade, visto que investem maciamente em tcnicas de gerenciamento da produo, mquinas enovas tecnologias, comeando a desbancar regies tradicionalmente que apresentavam elevada competnciaagrcola.

    Em virtude destas mudanas estruturais e conjunturais a balana comercial agrcola brasileira (diferena entre ovalor das exportaes e o valor das importaes de produtos agropecurios) entre janeiro a julho, apresenta umsupervit acumulado de 6,365 bilhes de dlares, superior ao do mesmo perodo de 2000, 4,932 bilhes de dlares,indicando uma expanso das exportaes em torno de 19,1% e uma retrao da importao de 23,8%. Estes dados

    demonstram a importncia da agropecuria na pauta de exportaes brasileiras, posto que h dcadas este setorocupa uma posio estratgica na insero do pas na economia globalizada.

    Mesmo com todo ufanismo no devemos esquecer os graves problemas que afligem a agricultura brasileiratodos ligados a um passado de dominao colonial que imps nossa economia uma orientao que visaprioritariamente satisfazer as necessidades dos principais centros de poder e os interesses dos grandesconglomerados que fazem parte do agribusiness, pouco levando em conta as necessidades internas da sociedadebrasileira. Alm deste fato devemos lembrar que esta relao atemporal envolvendo estruturas produtivas e sociaisarcaico contemporneas sedimentou nos grandes empresrios agropecuaristas uma postura em relao aeconomia rural que dificulta sobremaneira a explorao da terra de uma forma ideal do ponto de vista agriculturvel ecom o objetivo de diversificar a produo voltada para atender as necessidades internas: A terra considerada umbem particular devendo ser utilizada com a nica finalidade de se obter lucro sobre ela , e no como um bem quedeva cumprir uma finalidade social , ou seja , gerar alimentos , empregos , ou que de alguma forma acarrete

    melhoria das condies de vida da populao que vive e/ou sobrevive dela.Alm da questo da posse , utilizao da terra e destinao da produo , coloca-se a nossa frente como um

    ferrenho entrave produo para atender as necessidades internas, a comercializao desta produo , que pelaineficincia e falta de organizao (estradas sem infra-estrutura e conservao, inexistncia de armazns nosprincipais pontos de abastecimento, alm de fiscalizao, financiamento e incentivos governamentais aos pequenosagricultores) , terminou por facilitar o surgimento de um poderoso grupo de intermedirios ou atravessadores queterminam por monopolizar a chegada desses produtos aos consumidores. A sua prtica comercial extremamenteprejudicial ao produtor de quem compra o produto extremamente barato e tambm ao consumidor a quem vende omesmo produto extremamente caro. Muitas vezes o produto ao sair das mos do produtor passa pelas mos de 4 , 5ou at 6 intermedirios at chegar ao consumidor.

    Caractersticas Gerais

    O Brasil, no conjunto das naes mundiais, destaca-se como um dos maiores produtores agrcolas. Isso e deve adiversos fatores, dentre os quais:

    Ampla extenso de terras agricultveis; Mo-de-obra abundante e barata; Variedade climtica; Capacidade de pesquisa agropecuria.

    A HERANA COLONIALE A MODERNIZAO DA AGRICULTURA

    At o momento da chegada dos dominadores portugueses diversos grupos amerncolas brasileiros j praticavama agricultura de forma regular de forma a gerar os alimentos necessrios para a manuteno da sua sobrevivncia.

    Estes povos fundamentavam sua prtica agrcola na utilizao de tcnicas bastante rudimentares, como acoivara , que consiste na derrubada de pequenos trechos da mata nativa , sua queima em montculos de vegetaoisolados e a preparao do terreno com as prprias cinzas para o plantio.

    A importncia da agricultura para essas sociedades era to grande , posto que permitiu sua sedentarizao ,liberando o nativo para dedicar parte do seu tempo (tempo livre) para outras atividades como o artesanato (emcermica , palha ou tecidos) , que o prprio ritmo de vida dentro da aldeia dependia da agricultura.

    Na estrutura tribal as roas so comunitrias, pertencem a todos da tribo e as colheitas so divididas entre todos, porm os instrumentos de trabalho como arcos , machados , flechas , etc. so salvo rarssimas excees

    propriedade privadas. Por outro lado a sociedade nativa apresentava em seu seio uma diviso social do trabalhofundamentada no sexo e na idade , que na agricultura reproduzia a repartio de tarefas entre os homens e asmulheres:

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    HomensEncarregavam-se da derrubada da mata e pela preparao da terra para o plantio , alm da construodos instrumentos de trabalho.

    MulheresEncarregavam-se do plantio e da colheita.

    Desta forma viviam muito bem, em abastana e com uma grande disponibilidade de tempo livre dedicado acriao e prtica de outras atividades paralelas como a arte , artesanato , caa , pesca , guerra , cultos religiosos ,etc.

    AACCaannaa--ddee--aaccaarreeooIInncciiooddaaDDeesseessttrruuttuurraaooddaaAAggrriiccuullttuurraaAAlliimmeennttaarr

    No incio do sculo XVI ao fincarem os dentes no pescoo da rica pindorama , os portugueses desestruturarampor completo a vida em comunidade e o sistema produtivo do nativo brasileiro.

    Sempre em busca de bens e riquezas que justificassem os investimentos da coroa, implantaram nas terrasbrasileiras uma prtica agrcola estranha aos costumes dos verdadeiros senhores da terra , que prendia o a umaforma de trabalho regular durante todo o ano , sem liberdade , alm de erradicar as tradicionais prticas agrcolasque produziam-lhe os gneros necessrios para sua sobrevivncia. Durante os quatro sculos posteriores aconquista do espao nativo a agricultura brasileira assentou suas bases sobre o