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Fev / 2010 1 de 35 O Teatro, a Pólis: Dioniso e seu Espaço Norteador da Identidade Políade labeca ALMEIDA, J. E. L. 1 2010. O Teatro, a pólis: Dioniso e seu espaço norteador da identidade políade. S.P., Labeca – MAE/USP. [revisão Labeca] Introdução Quando mencionamos a palavra teatro, certamente para muitos virá a sua noção contemporânea, trazendo-nos a imagem do teatro como o lugar onde os atores encenam os espetáculos que o público vê. As cortinas fechadas que ora se abrem para os atores entrarem em cena, a platéia no seu distanciamento a observar palco, cenário e personagens que compõem as cenas. Temos, assim, introjetada em nosso ideário a perspectiva estética do teatro. Cena da peça “As traquínias” encenada no Teatro de Siracusa (Fonte: Acervo Labeca, 2007). Nascido na Grécia antiga, no contexto das Grandes Dionísias – festas em honra ao deus do vinho –, como veremos mais adiante, o teatro tem na origem etimológica do seu nome – théatron –, o sentido de lugar para ver. Sua designação já expressa sua função. Interessa-nos, no presente espaço de 1 Bolsista de Treinamento Técnico da Fapesp, desenvolve atividades no NEL – Núcleo de Editoração Labeca. Atualmente prepara o projeto de mestrado, Vinho e Pedra: Diônisos e a ex- pressão material do teatro no Urbanismo da Grécia Arcaica e Clássica, sob orientação da Profa. Dra. Maria Beatriz Borba Florenzano, no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.

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    O Teatro, a Plis: Dioniso e seu Espao Norteador

    da Identidade Poladelabeca

    ALMEIDA, J. E. L.1 2010. O Teatro, a plis: Dioniso e seu espao norteador da identidade polade. S.P., Labeca MAE/USP.[reviso Labeca]

    Introduo Quando mencionamos a palavra teatro, certamente para muitos vir a sua noo contempornea, trazendo-nos a imagem do teatro como o lugar onde os atores encenam os espetculos que o pblico v. As cortinas fechadas que ora se abrem para os atores entrarem em cena, a platia no seu distanciamento a observar palco, cenrio e personagens que compem as cenas. Temos, assim, introjetada em nosso iderio a perspectiva esttica do teatro.

    Cena da pea As traqunias encenada no Teatro de Siracusa (Fonte: Acervo Labeca, 2007).

    Nascido na Grcia antiga, no contexto das Grandes Dionsias festas em honra ao deus do vinho , como veremos mais adiante, o teatro tem na origem etimolgica do seu nome thatron , o sentido de lugar para ver. Sua designao j expressa sua funo. Interessa-nos, no presente espao de 1 Bolsista de Treinamento Tcnico da Fapesp, desenvolve atividades no NEL Ncleo de Editorao Labeca. Atualmente prepara o projeto de mestrado, Vinho e Pedra: Dinisos e a ex-presso material do teatro no Urbanismo da Grcia Arcaica e Clssica, sob orientao da Profa. Dra. Maria Beatriz Borba Florenzano, no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.

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    divulgao cientfi ca, abordar aspectos do teatro em suas origens, visualizando-o sobre a perspectiva da arqueologia e deixando ao leitor um esboo do que foi o teatro na antiguidade, seja do ponto de vista institucional, seja da perspectiva material. Ante as inmeras abordagens acerca do tema ora discutido, nosso intuito abordar o teatro sob o prisma do espao, levantando problemas que nos remetero a entend-lo como o espao do deus e, consequentemente, um espao que nos leva a estar a par do culto dionisaco na sociedade grega. Interessa-nos, ainda, perceber o teatro como parte integrante da plis grega, seu uso e sua confi gurao como espao materialmente delimitado na paisagem e em relao a outras estruturas de construo, como os templos, a pnyx e o odeon; e como este espao diretamente interligado personagem do deus Dioniso pode ser norteador da identidade polade. Lembremos que o teatro constitui um dos elementos a confi gurar a plis, tanto institucional, quanto materialmente.

    Acrpole de Atenas, o teatro de Dioniso em relao a outras construes pblicas como o Odeon. Fonte: (Gerster 2005: 272).

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    1. O deus, o mito e o seu culto

    Na contemporaneidade, nenhum deus da Grcia antiga exerce tanto fascnio quanto o deus do vinho, Dioniso. Filho de Zeus e de Smele, perseguido por Hera, protegido por Hermes e duas vezes nascido, estranho estrangeiro, veste mscaras, coroado de hera, senhor da videira, impera nas Antestrias e nas Lenias, est em frisos e frontes e nos legou o lugar de sua identidade. O deus duas vezes nascido est nos versos dos poetas antigos. Em Hesodo, na Teogonia e nos Trabalhos e os dias [947; 614], ele surge como (Dioniso de ureos cabelos) e (Dioniso muito alegre); apresenta-se ainda nos versos do maior aedo da Grcia, na Ilada [Homero VI.130; XIV.325], como mainomnoio Dionsoio o delirante Dioniso) e chrma brotoisin (alegria dos mortais). Em determinado momento de sua histria, o xnos, como to bem defi niu M. Detienne, teve seu lugar fi rmado na plis grega: o teatro. O teatro, esse espao aberto e semi-circular, pode revelar uma parte da histria grega: quais homens o usaram? As mulheres o freqentavam? Os escravos nele adentravam? A urbanidade do teatro, sua forma, um dos elementos a confi gurar a plis. Lugar onde se fi rma a identidade e se revela a alteridade de Dioniso e, por sua vez, da sociedade da Grcia antiga.

    Antecedentes minico-micnicos no culto de Dioniso so apontados por alguns autores, como Walter Burkert e Jos Antnio Dabdab Trabulsi, cujo signifi cativo trabalho foi publicado, no Brasil, em 2004. Tanto Burkert quanto Trabulsi contam com uma proeminncia minico-micnica no nome de Dioniso: Di-wo-nu-so-jo. O primeiro aponta para uma tradio grega a colocar o deus do vinho numa ligao muito estreita com uma tradio da Frgia e da Ldia, na qual os pequenos reinos asiticos do sculo VIII/VII a.C. j o conheciam. J Trabulsi, ao remontar aos estudiosos clssicos, trata da importante descoberta de dois tabletes de argila encontrados em Pilos [Xa 102 e Xb 1419], o que possibilitou invalidar as hipteses daqueles que aceitavam, e que eram a maioria, a tese de uma divindade estrangeira desconhecida pelos gregos antes do sculo VIII a.C. Para Trabulsi, num plano mais geral se houve um Dioniso no segundo milnio, seu nome mostra que ele um deus indo-europeu, convergindo para a posio de Farnell e Nilson ao aceitar que esse deus j era conhecido no fi nal do segundo milnio na Frgia, em Creta e na Grcia dos tempos pr-helnicos (Burket 1993: 319-20; Trabulsi 2004: 22; 25). Para Herdoto [II, 49], Dioniso um deus estrangeiro, encontrado no Egito. Entretanto, devemos constatar que Dioniso no o nico deus grego que o historiador de Halicarnasso

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    encontra entre as pirmides. Por outro lado, para Trabulsi, Dioniso tem uma imagem desconcertante, podendo ser considerado como o estrangeiro do interior (Trabulsi 2004: 129-139). Ainda sobre este aspecto estrangeiro do deus, algumas consideraes de Isabelle Tassignon, pesquisadora da cole Franaise dAthnes, nos deixa uma importante contribuio:

    Na Frgia e na Ldia, os documentos relativos ao culto de Dioniso so numerosos: algumas vilas frigianas, entretanto, aparecem como lares dionisacos porque vrios documentos votivos concentram-se a. A especifi cidade dessa documentao associada a essa densidade e paisagem religiosa geral desses territrios levam a considerar a Anatlia como uma das peas chave da histria do culto de Dioniso. De fato, mesmo se os tabletes em Linear B deram o nome que o deus devia ter na Grcia desde a segunda metade do II milnio, vrios so os testemunhos literrios que descrevem Dioniso como um estrangeiro vindo da sia Menor como um ldio ou como um frgio (Tassignon 2002: 233).

    Vindo da Ldia ou da Frgia, ou mesmo da prpria Grcia, Dioniso sofreu mutaes no correr dos sculos, mas permaneceu com um trao de estrangeiro na Hlade clssica. Na prpria representao do deus, portando sua mscara, h um aspecto a denotar sua alteridade e estrangeirismo que no se adapta a nenhum dos deuses gregos (Vernant 2000: 144). Jean-Pierre Vernant assim o defi ne:

    No panteo grego, Dioniso um deus parte. um deus errante, vagabundo, um deus de lugar nenhum e de todo lugar. Ao mesmo tempo, exige ser plenamente reconhecido ali, onde est de passagem, ocupar seu lugar, sua preeminncia, e sobretudo assegurar-se de seu culto em Tebas, pois foi l que nasceu. Entra na cidade como um personagem que vem de longe, um estrangeiro excntrico. Volta a Tebas como sua terra natal, para ser bem recebido e aceito, para, de certa forma, provar que ali sua morada ofi cial (Vernant 2000: 144).

    Essa imagem de um deus errante e vagabundo a imagem que nos chegou por meio da voz do poeta Eurpides, que o defi ne como o deus bquico que segura a tocha de pinho fl amejante, Brmios (deus barulhento) a brandir o tirso e guiar o thasos (cortejo dionisaco) em direo aos montes, onde campeia a corte de mulheres que desertou as rocas, os teares, sob o aguilho de Bakkhios [vv. 65-167]. Louis Gernet apontou-o como a fi gura do outro, do que diferente e por ser diferente: Dioniso nos faria pensar no outro quanto sua funo; tambm um deus inacessvel quanto sua natureza (Gernet 1968: 86). O

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    deus do vinho a um s tempo vagabundo e sedentrio diferente, desnorteante, desconcertante, anmico (Vernant 2000: 144). Mas Marcel Detienne, com o seu Dioniso a Cu Aberto, quem traz importantes refl exes acerca de sua ambigidade, representada simbolicamente por sua mscara a funcionar como:

    Uma forma que prope um enigma, uma efgie para decifrar, uma potncia desconhecida para identifi car. Existe nela algo de divino, mas um divino diferente do que prprio dos deuses helnicos. Diferente, na medida em que subsiste em sua face algo estrangeiro, segundo o duplo sentido de xnos. Primeiro, algo de estrangeiro: que no se refere ao no-grego, ao brbaro de fala ininteligvel, mas ao cidado de uma outra comunidade vizinha. O xnos deriva da distncia que separa duas cidades: em seus sacrifcios em suas assemblias, em seus tribunais (Detienne 1999: 20-1).

    Dioniso confunde as fronteiras. No se trata, de forma alguma, de algo contraditrio, algo complementar. Quando este deus surge perante Penteu, o Dioniso tebano usa a mscara do estrangeiro. O fi lho de Agave tem diante de si um xnos. Mesmo em seu disfarce ldio, o deus tratado como um grego e ir exigir o reconhecimento do seu espao no panteo divino (Vernant 2002: 351; Detienne 1999: 21). Ao avaliarmos o deus do vinho como xnos, no um brbaro, mas um estrangeiro que pertence ao mundo helnico, visualizamos melhor porque Dioniso est tanto na esfera pblica quanto na esfera cnica. Ele o outro e este outro no deixa de ser um grego. Assim, as fronteiras entre a cidade e o teatro so muito tnues. Na Atenas do quinto sculo a.C., a cidade se faz teatro (Vernant & Vidal-Naquet 1999).

    Discusses parte, talvez a palavra mais completa para defi nir esta alteridade seja ambiguidade: nela que o dionisismo est a refl etir a sua epifania e na sua epifania e na sua epidemia que o deus apresenta-se como deus que vem, surge, irrompe, revelando o vinho, possuindo como potestade, falo e corao (Sissa & Detienne 1990: 270, 277). Dioniso pode representar tanto o selvagem quanto o civilizador; o vinho, considerado seu pharmakon (remdio) e por ele inventado, segundo os antigos, revela seu carter: puro ele encerra uma fora de extrema selvageria, mas quando cortado e consumido segundo as normas gregas, ele traz a vida cultivada. Como o vinho, Dioniso o duplo, terrvel ao extremo ou infi nitamente doce. Ubquo, este deus apaga a distncia que separa os deuses dos homens e os homens dos animais. A erupo vitoriosa de Dioniso signifi ca que a alteridade se instala, com todas as honras, no centro do dispositivo social (Vernant & Vidal-Naquet 1999: 350-2).

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    2. O teatro e a Plis Um deus a cu aberto e seu espao selvagem e civilizador na Grcia Antiga

    Pausnias [X.4] ao descrever a plis de Panopeo, situada na regio da Fcida, se pergunta se possvel chamar plis um lugar sem edifcios ofi ciais, sem ginsio, teatro, gora ou sequer gua que fl ua de uma fonte. No entanto, o viajante que descreveu a Grcia, observa que Panopeo possui fronteiras e envia representantes assemblia. A hesitao de Pausnias em defi nir por plis a cidade de Panopeo, bem como os diversos problemas que perpassam a discusso acerca desta defi nio, levaram F. Kolb (1992: 60-1) e outros pesquisadores a pensar o termo plis2 em seus diversos aspectos e sua singularidade, o que demonstra que, para cada contexto, a defi nio pode no ser unvoca e, sob o prisma desta discusso, o teatro est inserido, como bem demonstra a defi nio de Pausnias, como um dos elementos constituintes da plis grega.

    Dioniso e Atenas foram responsveis pelo nascimento do teatro. O deus e a plis de Atenas o criaram, lugar das primeiras encenaes de Tspis e, posteriormente, lugar onde foram encenadas as tragdias e as comdias. Se Dioniso tornou-se um deus smbolo por excelncia da atividade teatral, porque ele um deus que encena e faz encenar (Gernet 1963: 83).

    Em seus antecedentes, o teatro grego conheceu o ditirambo3, uma 2 Para R. Martin a cidade ou a plis est confi gurada por um territrio pertencente a um gru-po que se faz representar pelo exerccio de funes poltico-religiosas de suas instituies, ma-terializadas pelos gregos em seus edifcios representativos: a assemblia e a gora; o buleutrio e o conselho; os templos e os cultos cvicos; o teatro com as festas e concursos. Para Martin, estes e outros elementos se explicam e se justifi cam uns pelos outros e constituem o elemento essencial de toda defi nio da cidade grega (Martin 1956: 30-47). J E. Greco salienta ser difcil falar em cidade e no falar no seu sentido material, sendo o conceito de plis derivado da fuso de dois elementos principais: sty e khra, ou seja, do espao urbano e de seu territrio. Sobre este aspecto vide: Greco, E. La cit antica, Roma, Donzelli, 1999: X-XI. Vide tambm: Kolb, F. La ciudad en la antiguedad. Madrid, ed. 1992: 11-18. Uma outra refl exo sobre a plis est na obra de Franois de Polignac, La naissance de la cit grecque, a defi nir a plis sob o prisma das prticas rituais socializadas. Para o autor o processo de formao da plis est interligado a dois fatos essenciais: o impulso de santurios situados fora dos grandes centros e o nascimento do culto aos heris, a confi gurar uma nova forma do espao, o territrio. Vide: Polignac, F. La nais-sance de la cit grecque cultes, espace e societ VIII VII sicles avant J.C. Paris, ditions de la Dcouvert, 1984: 15-22. Estas e outras defi nies se complementam e nos ajudam a entender a plis e conseqentemente o teatro como um elemento constitutivo da cidade grega.3 Acerca do ditirambo e seu desenvolvimento ainda existem lacunas, mas o testemunho valioso do poeta Arion lembrado por A. Leski. Sua obra foi encontrada nos fi ns do sc. VII e VI a.C. na corte do tirano Periandro em Corinto. Arion, de acordo com Herdotos [I. 23], teria sido o primeiro homem a compor um ditirambo, dar-lhe um ttulo e recit-lo. Para Leski, necessaria-mente isso no signifi ca ser ele o criador do canto, posto que esta composio j existia h muito como canto cultual. O prprio Herdotos salienta que Arion o elevou forma artstica (Leski 1992: 54). Para Dabdab Trabulsi, o ditirambo, ao ser despojado da sua fora selvagem, foi utiliza-do, num perodo posterior, em Atenas, para cantar temas estranhos a ele, a torn-lo competitivo.

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    declamao lrica apresentada ao pblico por um coro munido de acompanhamento musical a evocar os feitos de Dioniso, de outros deuses e dos heris. Uma evocao ao deus, o ditirambo designa o gnero de dana e de msica, no qual se acompanha o sacrifcio propriamente dionisaco e parece concebvel que ele tenha sido utilizado na passagem da ao cultual para o gnero literrio (Romilly 1998: 13; Jeanmaire 1985: 303).

    Planta do teatro de Dioniso em Atenas, mostrando sua relao com os templos e o Odeon (Fonte: Connolly 1998: 99).

    Esta srie de transformaes demonstram a domesticao do dionisismo, o seu ajustamento cidade, tendo como norteador destas medidas a tirania. Sobre este aspecto cf. Trabulsi, J. A. D. Baco e a poltica: crise social, tirania e difuso do dionisismo na Grcia arcaica. In: Revista de Histria. USP: So Paulo. V. 116. 1984: 75-104. Ainda sobre o ditirambo e o desenvolvimento do canto cultual no Egeu, como gnero literrio e sua origem ritual, vide o cap. VI Dithyrambos da obra de Jeanmaire, H. Dionyso: Histoire du culte du Bacchus, Paris, Payot, 1985: 221-267.

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    A religio grega, com seu carter essencialmente cvico, tornou o dionisismo parte integrante da plis e das novas formas de vida social que a cidade representa. As festas em honra a Dioniso eram celebradas com os mesmos direitos que todas as outras e tinham seu lugar no calendrio sagrado. O teatro grego o resultado fi nal da passagem de um ritual espetacular para um espetculo ritual (Trabulsi 2004: 141). No calendrio dos camponeses ticos, havia o ms de Poseideon, um ms repleto de atividades dionisacas, com ritos num perodo festivo denominado Dionsia Rural (ta katagrous Dionsia). Nesse tempo, foram institudas a grande procisso dionsiaca e as encenaes dramticas para o chamado Dioniso Eleuthereus (Trabulsi 2004: 193; Kernyi 2004: 254-5).

    Segundo Vernant, o dionisismo ou Dioniso introduz no prprio corao da religio, da qual constitui uma pea, uma experincia estranha e sobrenatural e em muitos aspectos oposta ao esprito do culto ofi cial (Vernant 1992: 49-51; 78). Esta origem claramente religiosa visualizada nas representaes encenadas nas chamadas Dionsias Urbanas que remetem ao culto dionisaco. Eis, no domnio da esfera cvica, um deus a cu aberto que agora tem para si as Lenias e as Antestrias, festas de carter popular que unem a divindade esfera pblica. Segundo Lima, nestas festividades praticava-se o kmos, uma procisso de bebedores que percorre as ruas da cidade no espao urbano sty. (...) Durante a Anthestria a comunidade polade estava congregada por meio de vrias prticas festivas, inclusive o symposion o consumo coletivo de vinho (Lima 2000: 98).

    Neste contexto festivo, a Dionsia Rural surgiu por oposio Dionsia Urbana. Segundo Kernyi, tal oposio s se tornou possvel aps a instituio da grande procisso dionisaca e das encenaes dramticas para o chamado Dioniso Eleuthereus no Elaphebolion, que consistiu num complexo perodo festivo, numa suntuosa manifestao do Estado4. Criao dos prprios atenienses, a Dionsia Urbana exerceu uma signifi cativa infl uncia sobre as comunidades rurais e, segundo Carl Kernyi, proporcionou a construo de teatros em pequenas cidades (Kernyi 2002: 254-5). Podemos ter uma idia do festival na descrio que Aristfanes faz de uma procisso em sua pea Os Arcanenses [v. 237]. Nestes festivais o ditirambo, o canto cultual em honra ao deus do vinho, foi desempenhado, primeiramente, em performances de atos religiosos, que 4 M. Bieber nos d a seguinte sistematizao dos festivais dionisacos: na tica eles eram quatro, celebrados num perodo prximo aos solstcio de inverno. Segundo a autora eles podem ser divididos na seguinte ordem: I. Dionsias rurais no ms de Poseideon dezembro a incio de janeiro. II. As Lenias no ms de Gamelion janeiro a incio de fevereiro. III. Antestria no ms de Antesterion, o ms das fl ores fevereiro a incio de maro. IV. Grande Dionsia ou Dion-sia Urbana celebrada no Elaphebolion, de maro para incio de abril (Bieber 1961: 42).

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    consistiam em se cantar e danar em honra ao deus no seu sagrado recinto, o Lenaion (Bieber 1961: 20).

    Promonos, Cratera 410 a.C. Cena teatral monumental em honra a Dioniso (Fonte: Lissarrague 1999: 217).

    Reproduo da cena teatral do vaso Pronomos (Fonte: Lissarrague 1999: 219).

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    Entre Dioniso e a tragdia h um elo que ainda no foi totalmente esclarecido pelos helenistas, sabe-se que a tragdia ou tragoidia nasce da religio de Dioniso e continua vinculada ao culto dionisaco, perfazendo uma evoluo do canto ditirambo para o canto corifeu, sendo um ponto de partida para a poesia dramtica (Jard 1977: 71). A associao da poesia lrica com o ritual dionisaco forneceu os antecedentes da tragdia. Concomitante a esse surgimento, a religio dionisaca ascendeu ao status de religio ofi cial do estado (Finley 1963: 86).

    Para Jacqueline de Romilly, a verdadeira tragdia nasce de tentativas hesitantes em diversos pontos do Peloponeso, havendo, provavelmente, alguns primeiros ensaios anteriores, mas seu surgimento teria ocorrido entre 536 e 533 a.C., quando o poeta Tspis, em Atenas, encenou sua tragdia para a Grande Dionsia Urbana. O gnero trgico est delimitado pela comunicao entre o poeta e seu pblico, ancorado numa referncia comum, uma espcie de pano de fundo a tornar inteligvel sua estrutura (Romilly 1984: 15-6; Vernant & Vidal-Naquet 1999: 12).

    Como vimos acima, o problema das origens da tragdia no foi totalmente solucionado pelos helenistas, mas sabe-se que por volta de 534 a.C. se deu seu incio ofi cial com a encenao de peas satricas e que a comdia deve ter surgido por volta de 486 a.C. Antes destas datas, segundo T. Webster, o que se tem so performances que com o tempo tornaram-se as trs formas da arte dramtica: a tragdia, a comdia e o drama satrico (Webster 1963: 28-9). Essencialmente, o surgimento da tragdia, como bem nota J. Green, parece ter sido representado por um elemento primitivo: um coro de homens, personifi cando os stiros, esses seres selvagens com caudas e orelhas de cavalo, seguidores de Dioniso. Para Aristteles, o teatro surge quando o coro assume o seu papel (Green 1995: 14, 24). O autor de Theatre in Ancient Greek Society salienta que o quinto sculo a.C. presenciou grandes espetculos teatrais; a seu ver, a Grande Dionsia e a performance teatral estiveram intimamente ligadas democracia ateniense, que certamente serviram para foment-la, tendo a mesma, por seu turno, servido para promover o festival e o teatro.

    No mesmo sculo V a.C., o teatro, em constante mudana e sob a crescente sofi sticao do pblico, foi palco da evoluo de uma srie de tcnicas, introduzindo o segundo e o terceiro ator, propiciando profundos efeitos sobre os estilos da pea e da performance (Green 1994: 6-7, 12, 47). A tragdia nasce e tem seu fi m num espao de quase um sculo. W. Nestle observa que o seu surgimento se d quando se comea a olhar o mito com olhos de cidado. O heri

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    trgico no mais o heri da epopia homrica. A tragdia, segundo Vernant e Vidal-Naquet, no apenas uma arte, mas nos remete a uma instituio social que, por meio dos concursos trgicos, a plis coloca ao lado dos seus rgos polticos e jurdicos. Por este prisma, a cidade se faz teatro. O mundo da plis passa, a partir de ento, a ser submetido a questionamentos por meio do debate. O trgico redimensiona a cidade num movimento de contestao e averiguao (Vernant & Vidal-Naquet 1999: 7-24), sendo o teatro o lugar deste novo ordenamento polade, lugar este que os gregos iro fi xar, em Atenas, aos ps da Acrpole.

    3. Orquestra, sken e thatron o teatro materialmente constitudo

    As origens do teatro, tanto institucional como materialmente, esto diretamente ligadas s danas e cantos cultuais em honra a Dioniso e, como vimos anteriormente, tais performances aconteciam inicialmente nos campos, de forma no normatizada. Podemos dizer, ento, que o nascimento do teatro, antes que ele se fi rmasse num s lugar, se deu na khra, com os cortejos e danas rituais de stiros e mnades. Mais tarde, o teatro passou por sua normartizao em Atenas e isso implicou em ser estabelecido primeiramente no Lenaion, depois na gora e, por ltimo, na encosta sul da Acrpole de Atenas, com o teatro de Dioniso j em sua forma defi nitiva. Vejamos como se deu esse processo.

    Falar do teatro materialmente constitudo implica estar a par tambm da religio dionisaca e entender como se deu o processo de institucionalizao do culto e da confi gurao do teatro como o lugar do deus. A religio dionisaca uma religio do xtase. O vinho era o presente de Dioniso a seus sditos e a prtica religiosa transformava seus seguidores mortais, por seu frenesi, em membros do thiasos dionisaco, o cortejo sagrado do deus. Eles, originalmente, danavam nas montanhas, particularmente, segundo M. Bieber (1961: 1), prximo a Delfos e Tebas. O cortejo seguia ao som de fl autas, aplausos e tamborins. Neste exaltado cortejo, os homens eram os stiros e as mulheres as mnades, chamadas de Bacantes em Tebas, thades em Delfos e Lenae em Atenas. Isso comeou a ocorrer no sculo VI a.C., mesmo sculo em que, segundo consta em Herdoto [I.23], o cantor Arion teria dado aos cantores o ditirambo, no tempo do tirano Periandro em Corinto. O coro sagrado original foi preservado de diversas formas e a prtica do xtase levou, ela mesma, representao e ao desenvolvimento da arte mmica dos atores (Bieber 1961: 1).

    Transferido da khra para a sty, o teatro ganhou seu espao no Lenaion.

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    Este grande recinto sagrado foi o primeiro lugar fi xo das representaes teatrais antes da construo do teatro. O local onde estava situado em Atenas ainda gera controvrsia, no se sabe se sua fachada fi cava a sul ou a oeste no sop da Acrpole. Segundo Trabulsi, as fontes indicam o aspecto rural do lugar, estando o mesmo situado num pntano, que ao que tudo indica fi cava na encosta sul da Acrpole, tendo as mais antigas tradies dionisacas em Atenas ido buscar nessa localizao a designao Dioniso Lnaion, que seria o deus honrado no santurio de Dioniso no pntano (Limnaios) (Trabulsi 2004: 194-5). Tucdides [II.15] menciona que na Acrpole, ao seu sop, provavelmente na encosta sul, eram celebradas as Antestrias em honra de Dioniso Limneus, costume mantido pelos jnios, originrios de Atenas. Segundo M. Bieber, as mais antigas comdias teriam sido encenadas no recinto do Lenaion, que Drpfeld localizou no Dionysion em Limnais, estando o referido pntano situado entre a encosta sul ou oeste da Acrpole, o Arepago e a Pnyx (Bieber 1961: 54).

    Posteriormente, na gora, com o surgimento das ikra, espcie de andaimes de madeira utilizados para acomodar os espectadores, se deu o segundo momento da normatizao das encenaes teatrais em Atenas. Elas se mantiveram na gora at haver uma catstrofe em 498 a.C., com o desabamento das ikra. Segundo Bieber, as animadas gesticulaes e o movimento dos expectadores entusiasmados, nos fazem entender porque esta arquibancada descoberta desabou neste ano e porque os assentos do teatro estavam na encosta da Acrpole de Atenas e eram feitos de pedra. A construo, aps este desabamento, do teatro de Dioniso, leva-nos ao terceiro momento da normatizao do teatro. Tal acidente, segundo Webster, teria ocorrido numa apresentao de Pratinas e provocou a transferncia dos espetculos para o novo teatro de Dioniso na encosta sul da Acrpole (Martin 1956: 282; Camp 1998: 46; Bieber 961: 54; Webster 1963: 5-6). Para Martin o teatro, em suas origens, tem seus traos estruturais bem humildes, reduzindo-se, no sexto sculo a.C., a uma esplanada, talvez de pedra ou terra batida, onde evoluem os coros associados s cerimnias religiosas do culto dionisaco (MARtIN 1956: 282). Trabulsi (2004: 144), nos d a seguinte descrio do teatro de Dioniso neste perodo: o edifcio do teatro comportava um templo com a imagem do deus. No centro da orquestra havia a thymele, altar de pedra, e nos degraus reservados ao pblico havia um lugar esculpido em pedra que era reservado ao sacerdote de Dioniso. O primeiro teatro construdo est diretamente associado a este local de culto e sua origem se deu quando, na metade do sculo VI a.C., o povo de Eleutherai, na fronteira da Becia com a tica, constantemente ameaado pelos

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    becios, se empenhou em ser includo na tica. Como parte desta incluso, o culto a Dioniso foi transferido para Atenas, para onde a antiga esttua do deus foi carregada em procisso por 45 km e instalada em um pequeno templo ao sul da Acrpole. Tal procisso foi parcialmente refeita a cada ano, quando a esttua de madeira era escoltada da Academia, na estrada para Eleutherai, at seu templo aos ps da Acrpole (Connolly & Dodge 1998: 90). Segundo Pickard-Cambridge, esta medida pode ter sido instituda por Pisstrato, como uma das inmeras construes iniciadas pelo tirano (Pickard-Cambridge 1946: 4). Para Bieber (1961: 191), as primeiras caractersticas do teatro podem ser visualizadas com o exemplo do pequeno teatro de Thorikos na tica tendo, como no thatron em Atenas, um muro limite seguindo o contorno do terreno, mantendo-se a sua forma simples e o declive ngreme do terrao da orquestra, onde uma sken nunca poderia ter sido erguida. Tais indcios nos do uma idia de como o teatro ateniense pode ter surgido no seu perodo inicial (Bieber 1961: 191).

    Vimos o processo de normatizao do teatro como um lugar defi nido, agora passemos s suas defi nies arquitetnicas e sua visualizao na paisagem para entender um pouco a relao do teatro com o assentamento. Construdo na encosta de uma colina nivelada para acomodar o pblico, o teatro, fi sicamente falando, possui caractersticas singulares que o tornam parte integrante da paisagem e:

    Esta relao necessria do teatro com uma encosta favorvel, torna-o independente do plano urbano. Na medida do possvel, o teatro permanece no interior das cidades; no se hesita nem mesmo em implant-lo entre os locais de habitao, se o terreno a isto se presta, freqentemente envolvendo trabalhos de grande monta, seja para escavar a colina, como em Corinto, seja para reforar e alongar as sustentaes, como em Delos. Esta implantao do teatro no corao da cidade no sempre realizvel e vemo-lo emigrar para a periferia, como em Mileto, ou mesmo, para o exterior, como em Prgamo ou Aspendos. Nos planos em quadriculado, h freqentemente alguma difi culdade em respeitar, para o teatro, a orientao geral do plano; em outros, a forma circular do auditorium e o desenho retangular das insulae esto em aparente contradio. Os arquitetos estavam conscientes destes problemas; eles encontraram, no plano monumental, a mesma difi culdade que eles experimentaram para concentrar nas linhas de um retngulo regular o auditorium das salas do conselho ou da assembleia (Martin 2002: 11).

    Muito pertinente para se visualizar a relao do teatro com o assentamento a observao feita por Martin sobre o

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    aproveitamento do terreno, no qual os gregos construam seus teatros:

    Esta ligao do teatro com o terreno pe em evidncia um aspecto importante da concepo arquitetnica dos gregos, j reconhecida na implantao dos templos, a encontrar sua perfeita expresso em Prgamo: a composio integrada paisagem (...) do teatro, o cidado apreende toda a cidade sob seu olhar. Alm dos muros, a vista se estende sobre a plancie ou sobre o mar, at os prprios limites da cidade; o teatro se apaga, desaparece na paisagem, ao mesmo tempo em que ele alado escala de monumento (Martin 1956: 284; grifo nosso)

    Alado escala de monumento mesmo estando invisvel, como demonstra Martin, o teatro oferece ao cidado uma viso monumental da cidade e de seu complexo arquitetnico.

    Teatro de Dioniso em Atenas. Alado escala de monumento, do teatro se v toda a cidade

    (Fonte: Lilian de A. Laky 2009).

    Passemos em defi nitivo, ento, sua estrutura arquitetnica: o teatro materialmente construdo possui trs elementos essenciais: a orquestra, a sken e thatron. Como primeiro elemento, a orquestra era um espao constitudo num crculo de terra batida. Plana e circular, ela era o local onde os atores e coreutas se apresentavam. O segundo elemento, a sken, consistia primeiramente numa barraca de tecido, tornando-se posteriormente uma construo retangular de madeira, dividida em trs ou mais ambientes.

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    Reproduo da orquestra do Teatro de Dioniso em Atenas (Fonte: Connolly 1998: 94).

    Reproduo da sken do teatro de Dioniso em Atenas (Fonte: Connolly 1998: 94).

    J o terceiro elemento, o thatron, era o local onde os espectadores se acomodavam para ver o espetculo; em forma de leque compunha-se de fi las concntricas de arquibancadas de madeira posicionadas na curva natural da colina. Parece ser que, muitas vezes, os espectadores traziam banquinhos para acomodarem-se como podiam nas encostas. O seu nome signifi ca local para ver. A orquestra intermediava atores e pblico, permitindo que os atores se deslocassem do proskenion para a sken. No centro desta plataforma, havia um altar dedicado a Dioniso e ela estava inteiramente reservada s evolues do coro. J a sken foi, primitivamente, uma simples barraca de tecido, onde os atores se trocavam segundo a convenincia de seus papis. Posteriormente, ela ganhou uma estrutura de madeira e depois de pedra,

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    estando separada do thatron por duas passagens abertas denominadas parodoi, uma de cada lado, dando acesso orquestra a partir do exterior.

    Reproduo do thatron do teatro de Dioniso em Atenas (Fonte: 1998: 100-101).

    O thatron, lugar no qual os espectadores fi cavam, consistia num semi-crculo composto por diversos bancos, tais lugares, em princpio, eram de madeira, mas evoluram para um sistema de largas passagens, a separar assentos de pedra mais estreitos, evitando que as pessoas incomodassem umas s outras com idas e vindas. O espectador sentava-se na parte elevada do banco e colocava seus ps na parte afundada do banco abaixo; focado no plano central, o espectador retinha sua ateno (Navarre 1925: 11; Sennett 2006: 52; Robertson 1997: 190; Martin 1956: 282; Green 1994: 52; Bieber 1961: 54-73; Connolly & Dodge 1998: 92-4; Daremberg & Saglio 1917: 178-183; Pickard-Cambridge 1946: 5; Romilly 1984: 24; Jard 1977: 151-2).

    Orquestra, sken e thatron so elementos chave que confi guram o teatro antigo. A partir deles, num primeiro momento, tentaremos entender o papel do dionisismo na plis grega por meio de sua expresso material. Os caminhos que levam comprovao de uma hiptese, quase sempre no so unvocos. As pesquisas caminham, mostrando-nos novos passos, novos problemas e novas perspectivas. Entenderemos o teatro antigo, no como uma simples construo, mas como a interao entre homem e ambiente construdo (Rapoport 1978; 1982). Para entendermos esta interao, faz-se mister estar a par tanto da sua estrutura fsica, tal como sobreviveu nos stios clssicos, quanto da histria do teatro tico,

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    o espao que ele ocupou na plis e a expanso que conheceu no mundo helnico. Ante a confi gurao arquitetnica do teatro materialmente constitudo

    importante estar a par de um processo que o consolidou na Grcia e no ocidente grego como um ambiente construdo com suas caractersticas bem particulares. Nesse sentido, as pesquisas arqueolgicas so primordiais para entendermos como se deu esse processo, sob o prisma do disciplinamento do espao e de sua insero na paisagem, refl etindo sobre como a cultura material pode nos fornecer pistas para se entender determinados aspectos da sociedade pesquisada. No nosso caso, aqui, a sociedade grega e o culto de Dioniso na Grcia e nas suas colnias do ocidente. Existem poucos vestgios das primeiras construes do teatro grego. Em 1886, aps as escavaes de W. Drpfeld, no teatro de Dioniso em Atenas, descobriu-se um pedao de um muro em blocos poligonais de pedra calcria. Esta descoberta apontou para uma construo composta de uma orquestra em terra batida, um thatron, composto de simples grades de madeira e uma barraca, a princpio funcionando como sken (Daremberg & Saglio 1917: 181).

    Estado atual das escavaes do teatro de Dioniso em Atenas (Fonte: Connolly 1998: 93).

    Grimal (1989: 14) salienta que os mais antigos teatros gregos compreendiam somente a orquestra e o local em que os espectadores se agrupavam. Quando

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    o edifcio do teatro ateniense foi instalado, aps o desabamento das ikra, na primeira metade do sculo V a.C., o solo do teatro foi nivelado para formar a orquestra e os espectadores encontraram um terreno favorvel para apoiar seus assentos de madeira que davam para o rochedo de Atenas. Prximo a este teatro de Dioniso, cujos vestgios ainda ornam a regio, estava o recinto sagrado do deus, mencionado anteriormente, no qual havia dois santurios, ocupando a poro leste da encosta da Acrpole.

    No que concerne ao teatro do V sculo a.C., houve poucas mudanas em sua estrutura arquitetnica. No fi nal deste sculo, duas importantes inovaes foram introduzidas: a mudana no formato do drama, no qual o prlogo no mais fornecia a abertura das aes, e a criao do deus ex machina, para o qual fora criado uma espcie de guindaste que permitia ao personagem central, como Medeia ou o deus, sair voando do espetculo. Ambas as mudanas so resultado das inovaes fundamentais do poeta Eurpides. Bieber salienta que: se considerarmos o desenvolvimento da arte grega, arquitetura e pintura, bem como do drama no quinto sculo a.C., no devemos deduzir de imediato que, antes do ltimo quartel deste sculo, houve uma forma defi nitiva de construo teatral permanentemente estabelecida.

    Connolly e Dodge (1998: 92) salientam que Pricles recebeu o crdito de ter construdo o primeiro teatro em pedra junto ao Odeon. Drpfeld, ao identifi car uma clara sequncia de construes, interpretou o segundo prdio como o teatro pericleano. Mas um recente re-exame, feito por arquelogos gregos, sugeriu que tais runas devam ser re-datadas como do sculo IV a.C., anos aps a morte do grande estadista. Isso deixa uma lacuna, no que se sabe sobre a estrutura do teatro ateniense no perodo dos grandes escritores squilo, Sfocles, Eurpides e Aristfanes. Hurwit (1999: 217-8), nos chama a ateno para o fato de que o teatro de Dioniso em Atenas no foi aumentado nem reconstrudo no sculo de Pricles, isso s ocorreria no IV sculo a.C., quando a tragdia no possua mais seu esplendor. Para Hurwit (1999: 217-8), a monumentalizao do teatro est quase a demonstrar uma espcie de compensao pela queda da energia dramtica ateniense. Somente no fi nal do IV sculo a.C., o primeiro teatro de pedra foi erguido sob a administrao de Licurgo. Anteriormente a este sculo, o thatron e a sken no passavam de instalaes temporrias de madeira. Curiosamente, na Grcia, o teatro materialmente construdo s atinge sua perfeio numa poca em que a arte dramtica est em decadncia. Acompanhado por uma ausncia de novidade e originalidade nas peas o desenvolvimento do teatro como construo, para Connolly e Dodge (1998:

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    99), talvez tenha feito os atenienses perceberem que algo havia sido perdido, proporcionando a remontagem de peas do sculo anterior que se tornaram muito populares (Navarre 1925: 24; Pickard-Cambridge 1946: 1; Jeanmaire 1985: 312, Hurwit 1999: 217-8; Bieber 1961: 30, 59; Connolly & Dodge 1998: 99; Daremberg & Saglio 1917: 181-83).

    Em sntese, podemos afi rmar que, materialmente falando, o teatro surge no sculo VI a.C., passando por algumas mudanas no quinto sculo a.C., indo consolidar-se, defi nitivamente, em sua forma arquitetnica clssica em Atenas no sculo IV a.C.

    O teatro clssico possui quatro perodos de desenvolvimento. O primeiro se confi gura na poca de Pisstrato, no sculo VI a.C., com a construo de uma orquestra na gora, um templo e um altar no recinto sagrado de Dioniso. O segundo est situado no sculo V a.C., no tempo de squilo e de Sfocles, nesse perodo uma orquestra foi assentada e decoraes temporrias so erguidas no teatro. Pricles construiu, ao lado do teatro de Dioniso, o Odeon, erigindo tambm um muro de sustentao em torno do thatron. O terceiro perodo se d no tempo da paz de Ncias, durante a Guerra do Peloponeso, nesse tempo um muro de pedra erigido e um proskenion (parte frente da sken) de madeira foram improvisados no teatro. O quarto e ltimo perodo se d no fi nal do IV sculo a.C. Nesse tempo, sob a administrao de Licurgo em Atenas, tem-se a construo do thatron e do proskenion em pedra; Policleto fez o mesmo em Epidauro. Licurgo e Policleto, o jovem, sedimentaram as bases do teatro em sua forma defi nitiva, com eles o teatro assume sua perfeio fi nal. A sken, todavia, encontrou sua forma defi nitiva, somente no fi nal do perodo clssico. Tal desenvolvimento se prolongou at o perodo helenstico (Bieber 1961: 73; Martin 1956: 282). Acerca do teatro clssico L. Polacco (1981) nos concede a seguinte descrio do teatro de Dioniso em Atenas:

    Um teatro similar podia comportar de dois a trs mil espectadores. Suntuoso (...), vivo pela magnnima memria, funcional no edifcio de fundo (o pritco eumnico), tcnico e engenhoso no aparato cnico, magnfi co na iluso tica, prtico e slido nas estruturas destinadas ao pblico, este teatro o teatro que viu todo o drama ateniense, que marcou a vida de squilo e viu surgir o astro de Sfocles (Polacco 1981: 165).

    Em poca helenstica e romana, de acordo com Pickard-Cambridge (1946: 175) nenhuma modifi cao signifi cativa teria sido feita na orquestra ou no

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    thatron. At mesmo nos teatros de pedra dos sculos IV e III a.C., s existem vestgios do proskenion em madeira. No entanto, podemos dizer que a edifi cao do palco constituiu uma notvel mudana. No perodo helenstico h diferentes datas para tal mudana, que oscilam entre os sculos IV e I a.C. A alterao da ao do drama da orquestra para o palco e a construo de um proskenion de pedra so duas alteraes que fazem parte da mesma mudana, no importando seu momento exato, mas a caracterizao do teatro helenstico. No que concerne ao teatro romano, suas principais runas so do perodo imperial, de 61 d.C., aproximadamente (Pickard-Cambridge 1946: 175). O teatro da Roma Republicana e Imperial recebeu a herana do teatro helenstico (Grimal 1989: 22) e sua histria demonstra que, em sua origem, ele foi simplesmente um estrado de madeira, demolido aps a festa, num segundo momento acrescentou-se a sken, igualmente temporria e, s em 55 d.C., Pompeu construiu o primeiro teatro em pedra. Em Roma, como em Atenas, quando o drama entrou em declnio, o teatro latino materialmente construdo atingiu sua forma defi nitiva (Daremberg & Saglio 1917: 194).

    A partir do modelo to bem documentado do teatro como construo em Atenas, podemos refl etir sobre os demais teatros construdos no mundo grego a partir dos sculos VI e V a.C. e levantar questes que, sem dvida, merecem algumas respostas. Ante a perspectiva de distinguir a interao homem ambiente construdo, chegamos a algumas incgnitas: o teatro um espao de poder? Como ele est inserido na malha urbana? Quais os acessos que do a ele, porque ele foi colocado no alto, a cu aberto? O teatro em seu ordenamento espacial revelaria a materializao de Dioniso da periferia para o centro, transferindo seu culto da khra para a sty, o grego trouxe tambm as tenses e o carter dionisaco para a esfera cvico-cnica?

    4. O teatro e seu espao poltico na Grcia antiga Dionisismo, o poder e a tirania

    A tirania, sua insero na Grcia antiga, consiste na ocupao do poder por apenas um homem, usando frequentemente a violncia, uma forma de governo especfi ca e original. Concomitantemente, o tirano a causa e o produto de um lento e complexo processo de transformaes das estruturas polticas (Bignotto 1998: 18, 41). Tucdides [I.13] associa o surgimento das tiranias nas cidades-estado com o incio do poderio da Grcia e sua constante preocupao em adquirir riquezas, sublinhando tambm um fato primordial: os tiranos surgem

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    em cidades-estado ricas e dotadas de uma poderosa armada [Tucdides I.17]. Segundo M. B. Florenzano, o tirano e a monumentalizao urbanstica da

    plis grega esto interligados, os tiranos criaram um discurso visual na elaborao de uma identidade helnica, no qual a arquitetura monumental no urbanismo da plis constitui apenas um aspecto. O templo como registro da identidade grega comea a ter sua visualizao na tirania. Assumindo o papel de oikista, os tiranos so os primeiros a entender o potencial poltico do monumento, esta ao decisiva para uma reorganizao do espao na Grcia antiga da plis (Florenzano 2008: Com. Pes.), na qual o teatro e o dionisismo tm um papel relevante.

    Viso monumental do teatro de Tauromnio (Fonte: acervo Labeca 2007).

    Para Trabulsi, a ascenso da tirania e a difuso do dionisismo esto interligados e tm suas origens no sculo VIII a.C., um exemplo emblemtico o de Corinto: nesse perodo, havia ocorrido uma crise agrria na cidade-estado a colocar em xeque sua sociedade aristocrtica. Assim, podemos entender que houve a substituio de uma religio herica, representante de uma sociedade aristocrtica, por uma religio marginal, excntrica, o dionisismo. O tirano, ao mudar o equilbrio religioso vigente, pde intervir mais facilmente nas prticas judicirias, tornando-as menos favorveis aos nobres. A integrao do dionisismo tornou-se um meio de satisfazer os agricultores que apoiaram o tirano. Em sua origem, o dionisismo era realizado fora dos quadros sociais e

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    polticos aristocrticos; sem lugar defi nido ele serviu tirania (Trabulsi 1984: 93-8; 2004: 96). Colocado no centro do dispositivo social, Dioniso agrilhoado, pois a plis, atribuindo-lhe santurios e teatros, de certa maneira o aprisiona, dando-lhe lugares. A obra da tirania apresenta-se, assim, na longa durao, como o maior esforo possvel no processo de reelaborao da ideologia aristocrtica (Trabulsi 2004: 96). No entanto, mesmo agrilhoado, Dioniso ou o dionisismo, tem um carter paradoxal, pois continuou conservando sua fora centrfuga em relao aos equilbrios dominantes e no deixou de ser operatrio plis no seu processo de alargamento social (Trabulsi 2004: 97). Essa domesticao do senhor da videira e do vinho notada tambm por Jean-Pierre Vernant, quando Dioniso se instala com todas as suas honras na plis ateniense, habitando defi nitivamente na esfera cvica (Vernant 1992: 86). H. Jeanmaire, em seu Dionysos - Histoire du culte du bacchus, salientou ser Dioniso o menos poltico dos deuses gregos, ao menos no perodo anterior poca de Alexandre. Em nenhuma parte, segundo o autor, se v a cidade mostrar-se sob a sua proteo ou um agrupamento de cidades invoc-lo como deus federal, no entanto, mesmo permanecendo estrangeiro religio da famlia, em relao cidade ele penetra de diversas maneiras (Jeanmaire 1956: 8).

    Dioniso, esse deus antigo, por vezes subterrneo, ganha seu lugar de destaque na religio grega a partir do sculo VI a.C. neste sculo, em 546 a.C., aproximadamente, que ascende ao poder o tirano Pisstrato, consolidando a tirania e instituindo o dionisismo como religio ofi cial dos atenienses; seu governo pacfi co trouxe a Atenas poder e riqueza surgindo, a partir de ento, sinais visveis de crescimento. C. Moss (1984) observa que a tirania surge como um momento integrante da histria do mundo grego. Para essa autora, o lugar da tirania na histria das cidades-estado da poca arcaica se deu em meio a uma crise da aristocracia, pelo uso da violncia e usurpao do poder, destruindo privilgios, penhorando as riquezas das cidades e remediando, de certo modo, as desigualdades sociais (Finley 1963: 39; Moss 1984). Este esprito de comunidade surgido na tirania de Pisstrato esteve manifesto, sobretudo, nas obras pblicas erigidas no perodo e nas Grandes Dionsias (Finley 1963: 39; Moss 1984). Concordando com Connor, em sua anlise sobre a poca dos Pisistrtidas, abordando as relaes entre poltica e religio, E. Hirata (1994-5: 398) salienta que os rituais cvicos podem servir aos interesses dos governantes, mas no devem ser considerados apenas como propaganda e no veiculam mensagens em apenas uma direo. O exemplo citado pela autora so os

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    festivais coletivos que, como meio de comunicao, se estabelecem em dois sentidos, pois o tirano ou estadista bem sucedido utiliza formas variadas de cerimnias cvicas e religiosas coletivas, tradicionais, diminuindo a distncia que se interpe entre ele e seus seguidores (Hirata 1994-5: 398).

    Ao avaliar o contexto da tirania na plis ateniense, Trabulsi (2004) tem uma leitura semelhante de Vernant, mantendo para Atenas a mesma hiptese adotada para Corinto, com alguns pontos a serem frisados: a ascenso da tirania em Atenas, em detrimento de uma aristocracia, concomitante ao rompimento com os Alcmenidas, coloca em evidncia que a adeso de uma aristocracia liberal era relativa, mostrando o que o autor chama de carter fortemente revolucionrio e aristocrtico. A partir do sculo VI a.C., o que se tem uma difuso do dionisismo alavancado pela tirania. As reformas de Pisstrato, dentre elas a instituio das Grandes Dionsias, estabelecem Dioniso no centro do dispositivo social, como j nos lembrou Vernant, levando-o a ser domesticado. A hiptese apontada por Trabulsi que o Dionisismo dentro da plis foi caracterizado por fragilidades e tenses existentes entre uma prtica dionisaca proeminente por parte dos excludos, principalmente as mulheres, e pelo vigor necessrio para torn-lo aceitvel na plis (Trabulsi 2004: 94-6, 220).

    Consideraes Finais

    Poderamos dizer que o grego, ao dar a Dioniso um lugar especfi co, unindo o cvico ao religioso por meio do cnico, das representaes teatrais, deu um carter um tanto apolneo ao deus do vinho. Ele no se esconde mais nas fi bras da videira, como nos lembra C. Baudelaire, ele agora tem para si o teatro, seu templo a cu aberto e continua a revelar seu carter ordenador e fragmentador da sociedade. Ordenador quando posto no centro do dispositivo social e fragmentador quanto ao carter anmico da prtica de seu culto, como ao das bacantes que praticam a omofagia (o ato de comer carne crua) e a oreibasia (a ida para a montanha), saindo de suas casas e de seu tear para prticas exgenas sty e se integrando khra. Em sua materializao, Dinisos faz o caminho inverso ao das mnades, deixa as fi bras da videira, onde vive entre serpentes e panteras, sai da khra e vem para a sty. Ambguo, selvagem e civilizador, Dinisos tem seu lugar fi rmado, o lugar onde a contestao de uma ordem se d, onde so discutidos os problemas do cidado, invertendo o paradigma homrico, redimensionando a cidade. Ela se faz teatro (Vernant E Vidal-Naquet 1999) e, nesse fazer-se, tragdias so postas a lume, comdias so encenadas e

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    pessoas so satirizadas. O grego, ao fi xar Dioniso num ponto especfi co da sty, matiza com cores apolneas o dionisaco, agrilhoando-o, mas ele conservar sua ambiguidade na prpria estrutura fsica do teatro e no contedo do drama. Sobre este aspecto apolneo do agrilhoamento do deus do vinho, Detienne (1999), ao confrontar o Dioniso tebano ao ateniense, observa que o Dinisos a caminhar pela tica, vem agora vicejado de extraordinria prudncia, o antpoda do seu personagem tebano. Assim o autor salienta:

    Desde o sculo VI a.C., ele reina de cntaro na mo, no santurio que abriga sua esttua de mrmore de dois metros de altura. Um Dioniso exteriormente ligado a Apolo Ptio, e que pode ver Tspis (...) ensaiar o coro, introduzir o ator e tirar a mscara antes de triunfar nas grandes dionsias, um pouco mais longe, na sede, em Atenas. por esse teatro que Dioniso passa de maneira to furtiva (Detienne 1999: 53; 55).

    Em sntese: o teatro e sua confi gurao na plis revela o carter ambguo de Dioniso, selvagem e civilizador, que serviu tirania num determinado contexto e, posteriormente, esteve presente na plis clssica. Esta construo em sua expresso material une o lado prtico dos gregos sua percepo lrica e pode revelar aspectos do dionisismo inserido no sistema polade dos perodos arcaico e clssico, estendendo-se s inmeras plis do Ocidente grego, nos permitindo entender alguns aspectos da sociedade grega, chegando confi rmao de que o teatro, como expresso material do fi lho de Zeus, nos permite estar a par de sua domesticao e de sua selvageria. Ao colocar Dioniso num determinado lugar o teatro , os gregos estabeleceram, institucional e materialmente, o teatro antigo na sua sociedade, permitindo que este lugar fosse um dos inmeros aspectos da plis a representar a sua identidade polade. Estranho estrangeiro, o deus que muitas vezes est alhures, se fi rma com toda exuberncia no seu prprio espao, encenando a cidade em seu teatro, estando a revelar um modo de ser grego na Grcia e no Ocidente.

    Referncias Bibliogrfi cas

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