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Tema de Capa: Património e ambiente Ficha Técnica EDITORIAL 2 Paisagem enquanto património (Alexandre D’Orey Cancela D’Abreu) Reconhecida pelo Ministério da Cultura como “publicação de manifesto interesse cultural”, ao abrigo da Lei do Mecenato. N.º 34 – Abril/ Maio/ Junho 2007 Propriedade e edição: GECoRPA – Grémio das Empresas de Conser- vação e Restauro do Património Arquitectónico Rua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq. 1050 - 170 Lisboa Tel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996 http://www.gecorpa.pt E-mail: [email protected] Nipc: 503 980 820 Director: Vítor Cóias Coordenação: Joana Gil Morão Conselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar, Miguel Brito Correia, Teresa de Campos Coelho Secretariado: Elsa Fonseca Colaboram neste número: A. Jaime Martins, Alexandre D’Orey Cancela D’Abreu, António Pereira Coutinho, Elisabete Bizarro, Fátima Basílio, Fernando Pinho, Filipe Ferreira, Flávio Lopes, Henrique Regalo, Hugo Segawa, Ícaro Fróis Dias da Silva, Inês Henriques, João Pires, Maria João Dias Costa, Miguel Brito Correia, Nuno Teotónio Pereira, Paulo Farinha Marques, Susana Fernandes, Victor Beiramar Diniz, Vítor Cóias Design gráfico e produção: Talkmedia, Ld.ª Alameda Grupo Desportivo Alcochetense, 133 2890 -110 Alcochete Tel.: 212 348 450, Fax: 210 811 164 E-mail: [email protected] Publicidade: GECoRPA – Grémio das Empresas de Conser- vação e Restauro do Património Arquitectónico Rua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq. 1050-170 Lisboa Tel.: 213 542 336, Fax. 213 157 996 http://www.gecorpa.pt E-mail: [email protected] Impressão: Sogapal Artes Gráficas, Ld.ª Av. dos Cavaleiros, 35 - 35A, Portela da Ajuda 2795-626 Carnaxide Distribuição: VASP, S. A. Depósito legal: 128444/98 Registo no ICS: 122549 ISSN: 1645-4863 Tiragem: 2500 exemplares Periodicidade: Trimestral Os textos assinados são da exclusiva responsabili- dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres- sas podem não coincidir com as do GECoRPA. QUADRO DE HONRA 3 EM ANÁLISE 4 Reabilitação Energética dos Edifícios (Vítor Cóias / Susana Fernandes) OPINIÃO 11 20 Projectos “PIN” e Zonas Protegidas Um caso de atracção fatal (Vítor Cóias) Recuperação e valorização do Jardim da Sereia Parque de Santa Cruz, Coimbra (Fátima Basílio) ESTUDO DE CASO 16 Património Geológico e valorização dos territórios (Ícaro Fróis Dias da Silva) ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO 30 Carta de Florença Sobre a salvaguarda de jardins históricos ICOMOS, Florença, 21 de Maio de 1981 CARTAS & CONVENÇÕES 34 Estudo prévio das anomalias existentes em dois muros de suporte de terras do Parque da Liberdade (João Pires) PROJECTOS & ESTALEIROS 25 Os Arrendamentos Comerciais à luz da Nova Lei do Arrendamento (A. Jaime Martins) AS LEIS DO PATRIMÓNIO 32 O Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Hugo Segawa) NOTAS HISTÓRICAS 28 NOTÍCIAS 38 AGENDA / VIDA ASSOCIATIVA 39 VIDA ASSOCIATIVA 40 Quercus terá edifício verde DIVULGAÇÃO 42 LEB – Projectistas, Designers e Consultores em Reabilitação de Construções, Ld.ª PERFIL DE EMPRESA 45 O último paraíso (António Pereira Coutinho) e-pedra e cal 46 LIVRARIA 47 ASSOCIADOS GECoRPA 49 A propósito do sucesso da trienal de Arquitectura Um desafio (Nuno Teotónio Pereira) PERSPECTIVAS 52 Capa Vista norte da cidade de Portimão, tirada sobre a Marina, em 15 de Julho de 2007 Fotografia cedida por: F. Piqueiro / Foto Engenho Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 1 7 Conservação e valorização do Jardim Botânico da Universidade do Porto (Fernando Pinho) 18 A intervenção na Cerca do Mosteiro de São Martinho de Tibães, em Braga (Maria João Dias Costa) 21 Museu Abade de Baçal, Bragança Remodelação do jardim (Filipe Ferreira) 22 Serralves 1932-2007 (Victor Beiramar Diniz) 24 Na Peneda Gerês Guardião da portela reconvertido (Elisabete Bizarro / Henrique Regalo) 26 Santuário do Bom Jesus do Monte Projecto de Arquitectura Paisagista para o Adro e Envolvente da Igreja (Paulo Farinha Marques / Maria João Dias Costa) 43 APAP organiza colóquio 44 Geota propõe corredores verdes O Peneireiro-das-torres e o património histórico O passado e o futuro (Inês Henriques) INDICE.QXD 10-08-2007 14:53 Page 1

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Tema de Capa:Património e ambiente

Ficha Técnica EDITORIAL 2

Paisagem enquanto património(Alexandre D’Orey Cancela D’Abreu)

Reconhecida pelo Ministério da Cultura como “publicação de manifesto interesse cultural”,ao abrigo da Lei do Mecenato.

N.º 34 – Abril/ Maio/ Junho 2007

Propriedade e edição: GECoRPA – Grémio das Empresas de Conser-vação e Restauro do Património ArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.1050 - 170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax: 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]: 503 980 820Director: Vítor CóiasCoordenação: Joana Gil MorãoConselho redactorial: João Appleton, João Mascarenhas Mateus, José Aguiar,Miguel Brito Correia, Teresa de Campos CoelhoSecretariado: Elsa FonsecaColaboram neste número:A. Jaime Martins, Alexandre D’Orey CancelaD’Abreu, António Pereira Coutinho, ElisabeteBizarro, Fátima Basílio, Fernando Pinho, FilipeFerreira, Flávio Lopes, Henrique Regalo, HugoSegawa, Ícaro Fróis Dias da Silva, InêsHenriques, João Pires, Maria João Dias Costa,Miguel Brito Correia, Nuno Teotónio Pereira,Paulo Farinha Marques, Susana Fernandes,Victor Beiramar Diniz, Vítor CóiasDesign gráfico e produção:Talkmedia, Ld.ªAlameda Grupo Desportivo Alcochetense, 133 2890 -110 AlcocheteTel.: 212 348 450, Fax: 210 811 164E-mail: [email protected]:GECoRPA – Grémio das Empresas de Conser-vação e Restauro do Património ArquitectónicoRua Pedro Nunes, n.º 27, 1.º Esq.1050-170 LisboaTel.: 213 542 336, Fax. 213 157 996http://www.gecorpa.ptE-mail: [email protected]ão: Sogapal Artes Gráficas, Ld.ªAv. dos Cavaleiros, 35 - 35A, Portela da Ajuda2795-626 CarnaxideDistribuição: VASP, S. A.

Depósito legal: 128444/98Registo no ICS: 122549ISSN: 1645-4863Tiragem: 2500 exemplaresPeriodicidade: Trimestral

Os textos assinados são da exclusiva responsabili-dade dos seus autores, pelo que as opiniões expres-sas podem não coincidir com as do GECoRPA.

QUADRO DE HONRA 3EM ANÁLISE 4

Reabilitação Energética dos Edifícios(Vítor Cóias / Susana Fernandes)

OPINIÃO 11

20

Projectos “PIN” e Zonas ProtegidasUm caso de atracção fatal

(Vítor Cóias)

Recuperação e valorizaçãodo Jardim da Sereia

Parque de Santa Cruz, Coimbra(Fátima Basílio)

ESTUDO DE CASO 16

Património Geológicoe valorização dos territórios

(Ícaro Fróis Dias da Silva)

ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIO 30

Carta de FlorençaSobre a salvaguarda de jardins históricos

ICOMOS, Florença, 21 de Maio de 1981

CARTAS & CONVENÇÕES 34

Estudo prévio das anomalias existentesem dois muros de suporte de terras

do Parque da Liberdade(João Pires)

PROJECTOS & ESTALEIROS 25

Os Arrendamentos Comerciaisà luz da Nova Lei do Arrendamento

(A. Jaime Martins)

AS LEIS DO PATRIMÓNIO 32

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro(Hugo Segawa)

NOTAS HISTÓRICAS 28

NOTÍCIAS 38

AGENDA / VIDA ASSOCIATIVA 39

VIDA ASSOCIATIVA 40

Quercus terá edifício verdeDIVULGAÇÃO 42

LEB – Projectistas, Designerse Consultores em Reabilitação

de Construções, Ld.ª

PERFIL DE EMPRESA 45

O último paraíso(António Pereira Coutinho)

e-pedra e cal 46

LIVRARIA 47

ASSOCIADOS GECoRPA 49

A propósito do sucessoda trienal de Arquitectura

Um desafio(Nuno Teotónio Pereira)

PERSPECTIVAS 52

Capa

Vista norte da cidade dePortimão, tirada sobre aMarina, em 15 de Julho de 2007

Fotografia cedida por:F. Piqueiro / Foto Engenho

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 1

7

Conservação e valorizaçãodo Jardim Botânico

da Universidade do Porto(Fernando Pinho)

18A intervenção na Cerca do Mosteiro de

São Martinho de Tibães, em Braga (Maria João Dias Costa)

21Museu Abade de Baçal, Bragança

Remodelação do jardim(Filipe Ferreira)

22Serralves

1932-2007(Victor Beiramar Diniz)

24Na Peneda Gerês

Guardião da portela reconvertido(Elisabete Bizarro / Henrique Regalo)

26Santuário do Bom Jesus do Monte

Projecto de Arquitectura Paisagistapara o Adro e Envolvente da Igreja

(Paulo Farinha Marques / Maria João Dias Costa)

43APAP organiza colóquio

44Geota propõe corredores verdes

O Peneireiro-das-torrese o património histórico

O passado e o futuro(Inês Henriques)

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Tema de CapaEM ANÁLISE

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 200710

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS(1) Cóias, V. – Reabilitação: a melhor via para a cons-trução sustentável. Arquitop 2004.(2) A Energia em Portugal – Ponto de Situação. Fer-nandes, E. O. – Conferência "As Energias do Pre-sente e do Futuro", Novembro 2005.(3) P3E – Informação sobre a Iniciativa pública EficiênciaEnergética nos Edifícios, n.º 7, Janeiro 2006.

VÍTOR CÓIAS,Engenheiro Civil,Oz, Ld.ª

SUSANA FERNANDES,Arquitecta,Oz, Ld.ª

intervenção com vista à reabilitaçãoenergética de um edifício existentevariam de caso para caso e devemresultar de análises custo/benefício.A definição e implementação da es-tratégia de intervenção deve, portan-to, obedecer a uma metodologia cla-ra, que assegure os resultados pre-tendidos. Essa metodologia pode seresquematizada no diagrama de fluxoda figura 9.

CONSIDERAÇÕES FINAISA reabilitação energética do parqueedificado pode contribuir para a re-dução da dependência energética doPaís, para a redução da intensidadeenergética da economia, para ocumprimento das metas de Quioto epara o desagravamento do orçamen-to das famílias. O consumo de energia, focado no pre-sente artigo, é apenas uma das com-ponentes do impacto ambiental deum edifício. Para além da gestão dosrecursos de energia, a gestão da águae dos materiais, ou seja, a sua reduçãoe racionalização, apresenta-se hojecomo outro grande desafio.

GLOSSÁRIOENERGIA FINAL – A energia consumida, sob aforma de electricidade, gás natural, combustíveis,entre outros.ENERGIA PRIMÁRIA – A energia extraída defontes naturais, como carvão, lenhite, petróleobruto, gás natural, combustível nuclear e fontes deenergias renováveis, tais como o vento, a água, aenergia solar e geotérmica.

Detecçãoda necessidadede intervenção

Exame PreliminarRelatóriopreliminar

Exame pormenorizado e diagnóstico

Intervençãonecessária?

Levantamento e caracterização daconstrução, sua envolvente e anomalias.Modelação do comportamento.

Diagnósticoconclusivo?

Selecção da estratégia de intervenção(Análise custo/benefício)

Relatório final

Estudo prévio ouanteprojectoRecomendações

Elaboração do projectoPormenorização das medidas correctivasElaboração do plano de manutenção

Realização da intervenção

Projecto deexecução

Avaliação dos resultados, MonitorizaçãoProjecto deexecução

Actualização do plano de manutençãodo edifício

Plano demanutençãoactualizado

Fig. 8 – Reforço do isolamento térmico pelo exteriorem fachadas

Fig. 9 – Reabilitação energética – diagrama de fluxo

ENERGÉTICA2.QXD 04-08-2007 0:35 Page 4

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Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 11

O NOVO TURISMOE AS BOAS INTENÇÕESSegundo um estudo sobre a moti-vação do turismo, referido no bole-tim do ICCROM2, cerca de 80 porcento das pessoas interrogadas con-sideram a integridade do ambientenatural um factor essencial na esco-lha de um destino e atribuem, igual-mente, grande importância ao ambi-ente cultural e social. Neste mesmoestudo dá-se a conhecer a evoluçãodo perfil do turista médio ao longodos últimos vinte e cinco anos. Oestudo revela que o turista de hoje émenos materialista que antes, e já nãoestá exclusivamente fixado sobre abusca do prazer pessoal. O novo tu-rista deseja compreender o país quevai visitar antes de partir, e prepara--se nesse sentido. Ele quer experiên-cias mais enriquecedoras e está dis-posto a prescindir de algum confortona condição de descobrir locais relati-vamente pouco degradados. Por outro lado, segundo ManuelCastells3, o "turismo de sol e lua" –praia e divertimentos nocturnos – éinsustentável em países como o nos-so, porque é mais fácil procurá-loem destinos no Terceiro Mundo,mais baratos e menos deterioradosambientalmente.Sendo Portugal um país pequeno, a

OPINIÃOTema de Capa

Projectos "PIN" e Zonas ProtegidasUm caso de atracção fatal

"Habitação de férias... um imóvel pouco usado, com despesas de manutenção relativamente ele-vadas e cujo rendimento é limitado às épocas de férias... Acresce que os equipamentos colectivosnecessários a um empreendimento de lazer são maiores do que os destinados aos empreendi-mentos urbanos..."1

André Jordan

Fig. 1 - Portimão

PROJECTOS PIN.QXD 03-08-2007 23:37 Page 1

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OPINIÃOTema de Capa

opção deverá ser, logicamente, pelaqualidade e não pela quantidade,gerindo sabiamente o seu patri-mónio natural e cultural. A Estraté-gia Nacional para o Desenvolvi-mento Sustentável (ENDS) estabe-lece orientações muito positivasnesse sentido. No seu 2.º Objectivo –Crescimento sustentado e competitivi-dade à escala global, apontam-se "exi-gências estruturais" como "Utilizar deforma sustentável os recursos naturais,aproveitando o potencial endógeno na-cional (...) e promovendo a dissociaçãodo crescimento económico do consumode recursos naturais e da degradaçãoambiental". No seu 3.º Objectivo –Melhor ambiente e valorização do pa-trimónio natural, apontam-se domí-nios essenciais para o desenvolvi-mento sustentável, em particular nasua dimensão ambiental, como apromoção de uma política de pro-tecção dos solos, designadamenteno que se refere à perda de bio-diversidade, contaminação, com-pactação e impermeabilização. Opatrimónio é considerado um dosquatro principais recursos endóge-nos com vista à aceleração do cres-cimento económico do país. "Trans-

contexto as intervenções dirigidas àgestão e utilização sustentável de recur-sos naturais, à gestão de espécies e habi-tats, bem como à promoção da eco-efi-ciência e à valorização do litoral."Em contradição flagrante com estasboas intenções, assiste-se a uma rá-pida deterioração do património na-tural do País. Dos vinte e seis indi-cadores do Relatório de Estado doAmbiente (REA) de 2005, apenas oi-to apresentam evolução positiva. O"território artificializado", isto é, osolo virgem que foi irreversivel-mente ocupado com novas urba-nizações, indústria, vias de comu-nicação e outras infra-estruturas,aumentou cerca de 700 km2 entre1985 e 2000 em Portugal, ou seja,uma área equivalente a nove vezesa do concelho de Lisboa4. Entre1990 e 2000, as áreas artificializadasnas zonas costeiras registaram, emPortugal, o crescimento mais rápidoda Europa (com um aumento de 34por cento em dez anos), que ultra-passou a Irlanda (27 por cento), e aEspanha (18 por cento)5 (fig. 1).Torna-se, portanto, imperioso queas boas intenções ao nível da es-tratégia sejam postas em prática noterreno. Não é isso, infelizmente, oque está a acontecer.

A EUFORIA DO TURISMORESIDENCIAL E DOS RESORTSA ocupação galopante de solos vir-gens vê-se, de há uns anos para cá,reforçada com uma nova onda deprojectos de duvidosa sustentabili-dade: o turismo das segundas resi-dências e dos "resorts". De facto,sendo este tipo de projecto imobiliá-rio baseado na construção muitodispersa de habitações de elevadoimpacto ambiental, com infra-estru-turas proporcionalmente mais pesa-das e profusão de equipamentos delazer, implica um substancial acrés-cimo da "pegada ecológica"6.

formar Portugal num destino turístico degrande qualidade, com uma oferta diver-sificada de produtos, tirando partido daqualidade e diversidade das paisagens edo património cultural" é uma das li-nhas de orientação dominantes.Estas orientações encontram-se, hávários anos, consignadas em instru-mentos como o Programa Nacionalde Turismo da Natureza ou a Es-tratégia Nacional de Conservaçãoda Natureza e da Biodiversidade.Nesta linha, refiram-se, também, osregimes do Turismo no Espaço Ru-ral e das Casas de Natureza. No ter-reno, programas como o Sistema deIncentivos a Produtos Turísticos deVocação Estratégica (SIVETUR), vi-sam apoiar projectos de investimen-to em modalidades de turismo sus-tentável.No recentemente divulgado Qua-dro de Referência Estratégico Na-cional, QREN 2007-2013, afirma-seque "A salvaguarda e valorização dopatrimónio natural e dos recursos natu-rais constituirão uma área privilegiadade intervenção – a concretizar de formaarticulada com o Programa Operacionalde Desenvolvimento Rural co-financia-do pelo FEADER, destacando-se neste

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 200712

Fig. 2 - Novo resort suspende PDM ("Público", 2007-04-04)

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Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 13

Estas novas modalidades de urba-nização têm vindo a suscitar o ape-tite de um certo empreendedorismopredador, excitado pela permissivi-dade com que muitas autarquiassuspendem os planos directores epela facilidade com que o Estadoabre mão das mais-valias associadasa essas operações7 (fig. 2). A ofertaestimada de "resorts" turísticos comcomponente imobiliária no futuropróximo envolve 447 km2 de urbani-zação e mais de 26 milhões de m2 deconstrução8, e continua a ser estimu-lada através de expedientes como aclassificação PIN (Potencial Interes-se Nacional). Se não for controlada atempo, esta deriva pode vir a reve-lar-se desastrosa: um promotor imo-biliário estrangeiro afirmava recen-temente que Portugal tem ainda ca-pacidade para 300 000 novas casas,que correspondem a vendas de 45000 M€9.Perante a estagnação do mercadoespanhol e o esvaziamento da "Bur-buja inmobiliaria" (fig. 3) os promo-tores voltam-se para a costa por-tuguesa, em particular para a costaalentejana. Isto mesmo é reconheci-do pelos responsáveis dos grandesinteresses imobiliários. Numa re-cente entrevista, um deles refere-seà saturação da costa algarvia, ondeos projectos imobiliários se come-çam agora a desenvolver "em se-gunda linha" uma vez que a pri-meira (junto à costa) se encontraesgotada. Na mesma entrevista re-ferenciam-se perto de meia centenade empreendimentos em constru-ção ou em projecto, grande partedos quais na costa alentejana, aqual, segundo ele, "ainda se encontratotalmente virgem"10… O que realmente assusta, portanto, éo que ainda pode estar para vir, coma actual euforia do turismo residen-cial e dos resorts. Os números acimareferidos quanto à área prevista em

novas urbanizações correspondem amais de cinco vezes a área do con-celho de Lisboa. E isto a expensasdos melhores terrenos da orlacosteira e da reserva ecológicanacional.

A GRANDE ILUSÃOO facto de uma boa parte dos pro-motores imobiliários por trás dosgrandes projectos de urbanizaçãode solo virgem actualmente em cur-so serem estrangeiros conduzirá aque os benefícios retirados da valo-rização dos terrenos, quando pas-sam de rurais a urbanos, e da ulteri-or exploração dos empreendimen-tos neles implantados serão siste-maticamente exportados, sob a for-ma de dividendos para os accio-nistas e prémios para os administra-dores11. De igual modo, a maiorparte do benefício da valorizaçãodas propriedades, quando forem

mudando ao longo do tempo, ficaráno estrangeiro.Desengane-se, portanto, quem pen-sa que a venda de terrenos e de ca-sas aos estrangeiros são a panaceiapara os problemas da economia doPaís. Veja-se o caso da vizinha Es-panha, tantas vezes apontada comoexemplo: depois de anos e anos deaplicação deste modelo de "desen-volvimento", a dívida externa espa-nhola (mais de 86 mil milhões deeuros) é a segunda maior do mundoem termos absolutos, ultrapassadaapenas pela dos Estados Unidos, e,em termos do PIB, a dívida externados nossos vizinhos atinge 8,8 porcento, ultrapassando largamente ados Estados Unidos12. Se a venda deterrenos e de habitações a estran-geiros trouxesse dinheiro para opaís, a Espanha não precisaria de seendividar tanto para pagar o quecompra no exterior.

Fig. 3 - Os espanhóis querem um desenvolvimento sustentável ("El País", 2006-11-11)

OPINIÃOTema de Capa

PROJECTOS PIN.QXD 10-08-2007 16:03 Page 3

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OPINIÃOTema de Capa

Além de serem actividades de ele-vado impacto ambiental, o turismode residência e os resorts geramapenas, quer durante a construção,quer ao longo da exploração, em-pregos de reduzida qualificação, lo-go, de baixos salários. A produtivi-dade do sector da construção é daordem dos 17 mil euros por activo,bastante inferior à média do País. Aprodutividade do turismo tem-sereduzido, desde 2001, segundo umestudo da Universidade do Algarve,tornando-se, também, inferior à mé-dia do País (fig. 4). Logo, não teminteresse empatar recursos huma-nos nestas actividades. Não é a fazercasas para os estrangeiros e a tratar--lhes dos jardins e dos campos degolfe que se melhora o nível de vidados portugueses.Em suma, as políticas oficiais estãocorrectas, mas não estão a ser se-

NOTAS (1) André Jordan, "Posto de observação". Vida Imobi-liária/Vida Económica, Nov. 2005.(2) ICCROM – International Organization for Con-servation of Cultural Heritage. "Tour-opérateurs:de nouveaux partenaires pour la protection du pa-trimoine", ICCROM Chronique, n.º 32, juin 2006.(3) Um dos peritos que ajudaram a preparar a "Agen-da de Lisboa". Autor de estudos sobre a Sociedadede Informação, professor de Berkeley, Univer-sidade da Califórnia e da Universidade Aberta deBarcelona.(4) Relatório do Estado do Ambiente de 2005.http://www.iambiente.pt/.(5) Litoral europeu aproxima se de "ponto de não retorno"ambiental. Relatório da Agência Europeia do Am-biente (AEA), Copenhaga, 2006. http://org.eea.eu-ropa.eu/documents/newsreleases/coastal2006-pt.(6) "Pegada ecológica": pretende representar a quan-tidade de superfície de terra e água que uma popu-lação humana hipoteticamente precisaria parasuprir os recursos necessários para se suportar epara absorver os resíduos, usando a tecnologia cor-rente. Termo usado pela primeira vez por WilliamRees, da Univ. British Columbia, Canada (Fonte:Wikipedia).(7) Por exemplo, a recente suspensão do PDM deLoulé para permitir a instalação do resort Hilton,traduz-se numa valorização estimada em mais de30 milhões de Euros (Público, 2007-04-04, fig. 2).(8) Revista "Imobiliária", n.º 168, Jul/Ago de 2006.(9) Andrew Coutts, da ILM Portugal (Revista "Imo-biliária", n.º 168, Jul/Ago de 2006). 300 000 casascorresponde, ao ritmo actual de construção, ao quese constrói em seis anos em todo o País.(10) Revista "Imobiliária", n.º 175, Abril de 2007.(11) O sector imobiliário português encontra-se já, emgrande parte, nas mãos de empresas estrangeiras oude capital estrangeiro: Starwood Hotels & ResortsWorldwide, Inc. (Colombo's Resort, Porto Santo),Prasa (Vilamoura XXI), Hercesa (Casal do Monte,Oeiras), Ferrovial Imobiliária (GaiaMar, Porto;Quinta de S. Martinho, Alcabideche), Six Senses(Corte Velho, Castro Marim), Fadesa (Quinta Fonteda Prata, Moita; Allegro Design Homes, Porto),Camin Global Real Estate (Golden Eagle, RioMaior), Pelicano Investimento Imobiliário, S.A.(Herdade do Pinheirinho), Oceânico Developments(Lagos, Silves), para citar só algumas. (12) O Jornal Económico, 2007-03-19.(13) Uma outra modalidade de turismo inteligente é oprograma de troca de casas entre famílias de diver-sos países ou até dentro do mesmo país (ver, porexemplo, o sítio Internet da "HomeExchange").

guidas no terreno. A exploração dorecurso endógeno que constitui opatrimónio natural deverá ser feitanão através do turismo de residên-cia ou dos resorts, mas através doecoturismo ou das suas múltiplascambiantes, como o turismo em es-paço rural ou as casas da natureza13.Para isso, as zonas protegidas de-verão continuar a ser isso mesmo:zonas protegidas. Já há casas de fé-rias a mais em Portugal: segundo ocenso de 2001, são perto de um mi-lhão. As urbanizações já em curso eaquelas que poderão vir a ser aindaautorizadas em solos virgens e zo-nas protegidas representam umaameaça séria para o património na-tural, constituem uma má aplicaçãode recursos humanos e financeirose aumentam drasticamente a pega-da ecológica do País, como reco-nhece o próprio André Jordan, o gu-

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 200714

VÍTOR CÓIAS,Presidente da Direcção do GECoRPA

ru dos promotores imobiliários (vercitação no princípio deste texto).Dado que a maior parte dos benefí-cios da valorização dos terrenos eda exploração dos empreendimen-tos é exportada, Portugal está a fa-zer um mau negócio.

Fig. 4 - Não haverá ocupação mais produtiva para estes homens? ("Certa", Março de 2007)

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ESTUDO DE CASO

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007

Tema de Capa

por vastas áreas arborizadas, lagos,fontes, escadarias e alamedas, que aBEL, composta por uma equipa mul-tidisciplinar, deu início à sua inter-venção restauradora para conserva-ção e valorização deste espaço.

TORREÕES (EXTERIOR)E PÓRTICO DA ENTRADAA entrada é constituída por um pórti-co Oitocentista de três arcos orna-mentados com pedras calcárias,apoiados em pilastras e coroados portrês esculturas representando a Cari-dade, a Fé e a Esperança. Encontra-se ladeado por dois tor-reões de forma quadrada de cobertura

Os trabalhos de conservação e restau-ro que a BEL, Engenharia e Reabi-litação de Estruturas, S. A., executouno Jardim da Sereia, também conhe-cido como Parque de Santa Cruz,contempla as questões relacionadascom a preservação dos valores patri-moniais.Este Jardim encontra-se inserido namalha urbana da cidade de Coimbra,entre a Baixa e Santo António dosOlivais. Construído no séc. XVIIInum terreno pertencente ao antigoMosteiro de St.ª Cruz, este parqueservia como local de meditação erecreio para os monges do Mosteiro.Foi nesta mágica paisagem composta

Recuperação e valorizaçãodo Jardim da Sereia

Parque de Santa Cruz, Coimbra

Vista geral do Jardim da Sereia

Pormenor da Cascata

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ESTUDO DE CASO

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007

Tema de Capa

piramidal de quatro águas. As pa-redes exteriores são decoradas compintura mural, em simetria, compos-ta por elementos arquitectónicos.

Metodologia de intervenção:Substituição das estruturas de ma-deira das coberturas dos Torreões,colocação de sub-telha e colocação detelha canudo, cuja estereotomia foisujeita a um estudo aprofundadoque envolveu a Câmara Municipal deCoimbra e o IPPAR. As paredes exte-riores revestidas com argamassas decimento, foram picadas e revestidascom uma argamassa de cal hidráulicasendo adicionado um aditivo anti--salitre. Reexecução de toda a pinturamural.

TORREÕES (INTERIOR) À semelhança da decoração exterior,o seu interior é ornamentado por pin-tura constituída por motivos arqui-tectónicos de excelente qualidade.As paredes, do lado esquerdo e dolado direito, são decoradas ao centrocom pintura figurativa envolvida porfrisos a formarem molduras, com ce-nas alusivas a São Teotónio, SantoAgostinho e D. Afonso Henriques.

CASCATAA Cascata Barroca também faziaparte da intervenção, constituída portrês corpos, construída por pedrascalcárias, tendo ao centro a esculturade Nossa Senhora da Conceição, e emplano mais recuado dois grandesmedalhões de azulejo figurativo, re-presentando temas bíblicos, ladeadospelas estátuas dos evangelistas.

Metodologia de intervenção:Uma vez que a Cascata se encontravarevestida por vegetação, antes daintervenção, houve a preocupação deverificar se a mesma possuía espéciesarbóreas a preservar. Em relação aoCorpo Central, podemos referir que alimpeza do tufo foi um trabalho mo-roso e de muita minúcia, devido aoseu relevo e reentrâncias. Estabilizou--se a escultura central, com a remoçãode cimentos existentes e substituiçãode gatos oxidados por elementos no-vos em aço inoxidável.

Metodologia de intervenção:A pintura decorativa encontrava-sesobre suporte de cimento, estando nasua maioria em avançado estado dedegradação. Após análise das arga-massas utilizadas concluiu-se que oreboco e policromia ornamental repe-titiva em simetria poderiam ser su-jeitos a uma intervenção mais pro-funda. Antes da remoção das argamassas ci-mentícias, foi feito um levantamentodos desenhos, sendo então aplicadauma argamassa de cal hidráulica eareia fina. Os trabalhos de restauro dapintura mural seguiram o seguinte fa-seamento: pré-consolidação, remoçãodas argamassas de cimento aplicadas,aplicação de novas argamassas à basede cal, consolidação geral através deinjecção, limpeza de sais solúveis,abertura de fissuras no suporte de re-boco, aplicação de massas e seu nive-lamento. Posteriormente executou-sea passagem dos desenhos em simetriarepetitivos para o suporte, a integra-ção pictórica das bases, a integraçãocromática dos desenhos ornamentais.É de referir que foram feitas somenteintegrações e cópias dos ornatos comdados suficientes para o efeito.

CascataTorreões (interior)Torreões (exterior) e pórtico de entrada

FÁTIMA BASÍLIO,Arquitecta,BEL, Engenharia e Reabilitaçãode Estruturas, S. A.

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ESTUDO DE CASOTema de Capa

A Cerca do Mosteiro desenvolve-sesobre a encosta Norte do Monte deSão Gens, ocupando 43ha. Dentrodeste território, fechado por 2,7km demuro em alvenaria rebocada, loca-lizam-se a Igreja, os edifícios conven-tuais, a Quinta da Ouriçosa, o Passal,Matas, Terras de Pão, Hortas, Poma-res, Laranjais e Pastagens. Todos es-tes usos se organizam numa estrutu-ra perfilada por ruas, muros, escadas,fontes e tanques, elementos construí-dos durante o programa beneditinodos séculos XVII a XVIII e que con-figuram no seu conjunto, mais do queum lugar de agricultura de rendi-mento, um espaço de contemplação,recreação e experimentação.

agrícola tradicional e silvícola e orecuperar da parte construída, asso-ciando a protecção dos habitats quepermitiram a sobrevivência das espé-cies de fauna e flora autóctones. Aconservação e/ou restauro seriammobilizados para o tratamento dasobras de arte aí integradas.A metodologia de intervenção deulugar à constituição de uma equipatécnica "permanente" que, além doarquitecto paisagista e do historiador,incluiu o arqueólogo, o arquitecto e oconservador restaurador.No estudo da documentação de ar-quivo, auxiliar precioso ao longo doprocesso, crivaram-se as datas deconstrução, a identidade dos execu-tores, preços e materiais, dados quenos permitem ir construindo, não só,uma narrativa de factos, mas tambémde sentido em torno do sítio. E quenos permitem, ainda, perceber, atra-vés da repetição frequente de traba-lhos – pintura das fontes, caiação ereparação de muros, limpeza de mi-nas, plantações, enxertos..., que ma-nutenção, conservação e construçãonão eram actividades isoladas ou deexcepção mas que faziam natural-mente parte do mesmo ciclo de vida.Mais do que na recuperação de estru-turas construídas, é na recuperaçãoda estrutura paisagística – solos, ve-getação, caminhos, águas, culturasagrícolas tradicionais, ramadas…,que se torna evidente e imprescindí-vel a rotina da manutenção. Traba-lhar com seres vivos equivale a umadefinição diária e contínua da paisa-gem.Este trabalho está confiado a jardi-neiros, pessoas com origem na zona ecom passado na actividade agrícola,dominando, portanto, o saber tradi-

Com a extinção das Ordens Religio-sas, em 1834, o mosteiro é encerradoe boa parte dos seus bens é vendidaem hasta pública.No século XIX e ainda em parte doseguinte, enquanto propriedade pri-vada, a Cerca é mantida na função deQuinta de Recreio associada à explo-ração agrícola. A descrição das suas"belezas" ficou retratada em artigosde revista e de jornais da época.Mas, em sintonia com o desmoronardo tecido rural, a Cerca de Tibãestransforma-se, sendo gradualmentedominada pelo crescimento espontâ-neo da vegetação, o que permitiu orefúgio de muitas espécies da fauna eflora. A ausência de acções de ma-nutenção levou à ruína de parte dacomponente construída.A partir da aquisição do Mosteiropelo Sector da Cultura do Estado, em1986, procurou-se desde o início sal-var, estudar, divulgar e dinamizar oconjunto, trabalhando a referência àcomunidade que o construiu e ha-bitou.A intervenção na Cerca foi entendidadentro do quadro de uma ligação es-treita entre o recuperar da parte

A intervenção na Cerca doMosteiro de São Martinho

de Tibães, em Braga

A Igreja vista do laranjal após a recuperação do muro da Cerca

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A manutenção das técnicas tradicionaisde cultivo e da produtividade do solo como factoressencial na recuperação de Jardins Históricos

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Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 19

cional, e que foram integrando, a pare passo com o trabalho do arquitectopaisagista, outras formas de funcio-nar em adequação aos requisitos doprojecto patrimonial: onde é a toca daraposa, qual a temperatura, humida-de e concentração de herbicida para ocombate às mimosas, quem na fre-guesia tem a melhor semente de fei-jão canário ou a mais bonita junta debois para ajudar na desfolhada…Em algumas matérias técnicas recor-remos a especialistas: o Eng.º Agró-nomo António Fernandes da Silva daDRAP-Norte, Direcção Regional deAgricultura e Pescas do Norte, queapoia na cultura do linho, o ar-boricultor Jorge da Fundação de Ser-ralves, que tratou das grandes árvo-res, os biólogos do ICETA, Institutode Ciências e Tecnologias Agrárias eAgro-Alimentares, o apicultor doPNPG , ou o coveiro e mineiro daregião...Os elementos vivos e construídostêm aqui em comum a água. Base devida, é neste jardim barroco base daanimação através dos diversos cha-farizes e fontes. Funciona tambémcomo elemento de degradação quan-do os rebocos e cavaletes dos murosdeixam de existir ou os aquedutos dedrenagem não funcionam.Começámos então a recuperaçãopelas estruturas associadas à água:minas, aquedutos, muro exterior dacerca, tanques, fontes e chafarizes,tendo por objectivo a reposição doseu funcionamento e a desaceleraçãodo processo de desgaste dos mate-riais. Como critério, a "intervençãomínima" e a harmonia de conjunto oude síntese. Como recursos técnicos,os tradicionais, de preferência.

Vejamos, por exemplo, a intervençãonum chafariz, sem entrar nas meto-dologias específicas do restauro.Levantamento desenhado e cotado,registos e fotografias que permitem omapeamento e a quantificação daspatologias; as fontes históricas são es-tudadas, outros chafarizes análogosforam observados; especialistas sãoconsultados, tentamos chegar ao co-nhecimento o mais aprofundado pos-sível (limite imposto por custos etempo) do objecto. Seguem-se as dis-cussões entre os vários intervenientese as análises dos vários pontos de vis-ta, pois dos objectivos acima des-critos há sempre um que tem queprevalecer (a fonte do claustro não éuma peça excepcional, mas durariamais tempo se não fosse sujeita aoprocesso de seco/molhado, mas oclaustro precisa de todas as suascomponentes para ter unidade eleitura, logo o funcionamento da fon-te é imprescindível, mesmo que paraisso seja preciso refazer o bordo emfalta na taça). Fixada a solução orien-tadora define-se a intervenção: tipode produtos, limpezas, tempos, rein-tegrações. A equipa de manutençãoda Cerca fecha a água, tira os peixesdo tanque e procede, conforme defi-nido, à aplicação periódica do biocida.Entra aqui uma nova fase de proce-dimentos obrigatórios que culminarácom a adjudicação aos empreiteiros econservadores restauradores.Na intervenção no chafariz há váriasartes que se cruzam. Algumas tradi-cionais, como abrir valas para tuba-gem, preencher juntas, fundir um bi-co em bronze, talhar a pedra para col-matar uma lacuna. Outras que impli-cam o domínio de técnicas contem-

MARIA JOÃO DIAS COSTA,Arquitecta Paisagista do Mosteirode São Martinho de Tibães

[email protected]@ippar.ptwww.geira.pt/msmtibaeswww.mosteirodetibaes.org

porâneas, como limpar, consolidar,hidrofugar, colar, realizadas por con-servadores restauradores.A fiscalização, coordenação e assis-tência pertenceu à equipa técnica doIPPAR. O chafariz vai-se mostrandodiferente, questiona-se o preconiza-do, surgem dúvidas, alternativas esoluções. Finalizado este processo háque definir os termos da manuten-ção, monitorizada pelos jardineiros,que alertam quando surgem altera-ções. Periodicamente o chafariz é vis-toriado, o que nos permite avaliar oenvelhecimento que, por exemplo,diferentes cargas de pedra trans-mitem às lacunas colmatadas compedra e resina. Reaprendemos paramelhor intervir.A intervenção em curso tem sido en-quadrada, em termos de financia-mento, em candidatura ao II e IIIQuadros Comunitários de Apoio.O relacionamento com a Comuni-dade local evidenciou o esgotamentodas vivências rurais. Recuperandosaberes, semeámos o linho, o lúpulo,o nabal e o batatal, voltámos a enfor-car vinhas e a regar por regos. O con-tacto com os públicos, particularmen-te o escolar, mostrou-nos que pode-mos falar de património com vida,que natureza e cultura não se opõeme que passado e futuro fazem partedo presente.

ESTUDO DE CASOTema de Capa

Levantamento desenhado da Fonte de São Pedroque serviu de base para o registo das patologias

O conservador restaurador trabalha com o can-teiro na recuperação do Chafariz de São João

As crianças na horta contactam comos verdadeiros cereais

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EDITORIAL

Aliviada a febre construtora dos anos 90, tudo indicava que a estratégia passaria a ser gerir, o melhor possível,um parque habitacional sobredimensionado e remediar, aqui e além, os excessos de um crescimento urbanodesordenado. O programa Polis inscrevia-se nessa linha. Surgiram, assim, os arranjos nos centros históricos, osembelezamentos de frentes de rua, as novas rotundas e vias rápidas, mais as pracetas ajardinadas e os respec-tivos fontanários. Gastaram-se mais uns tantos milhões de euros comunitários que poderiam ter tido aplicaçãomais nobre e rentável, mas, "do mal o menos": tínhamos as nossas cidades mais ou menos "de cara lavada" epodíamos, agora, começar de novo, com planos directores municipais revistos e com novos planos de ordena-mento do território.

Infelizmente, não é assim. Eis que surge a ideia dos projectos PIN (Potencial Interesse Nacional) e que alguém noministério da economia acha que tal inclui ocupar as melhores zonas da reserva ecológica, da reserva agrícola,dos parques naturais e da orla costeira, com os chamados "resorts" e as urbanizações de "turismo residencial".

Estamos novamente perante um exemplo de uma boa ideia que é aproveitada de modo perverso: no sistemaPIN fala-se na produção de bens e serviços transaccionáveis de carácter inovador, na interacção e cooperaçãocom entidades do sistema científico e tecnológico, na criação de emprego qualificado, na eficiência energética,no favorecimento de fontes de energia renováveis e na defesa do ambiente, mas depois atribui-se a chancelaPIN a projectos imobiliários que nada têm a ver com isto.

Estamos, agora, a assistir a um desastre bem mais grave do que a expansão urbana em mancha de óleo. Abetonização do solo já não estende só as suas metástases a partir dos núcleos urbanos: ataca agora de formageneralizada, insidiosa, salpicando aqui e ali as zonas protegidas, progredindo ao longo da orla costeira, der-rubando montado e urbanizando dunas. Já não se constroem só apartamentos, mas sim moradias unifamiliaresde grande área, com elevados consumos de água e energia, integradas em vastas infra-estruturas com pesadoscustos ambientais de manutenção. Trata-se de uma forma de habitar com substancial acréscimo da "pegadaecológica"1 que usa e abusa da principal riqueza do país – o seu património natural – e gera empregos de baixaqualificação, logo pouco remunerados e sem possibilidade de corresponder às expectativas dos nossos jovens.Como a maior parte dos empreendimentos está em mãos estrangeiras, os lucros das operações imobiliáriasserão inexoravelmente exportados.

Se o nosso clima é convidativo e o nosso país hospitaleiro, em lugar de "resorts", incentivem-se os parques empre-sariais; em vez de reformados ricos e ociosos, atraiam-se empresas avançadas e os seus quadros jovens e activos.

Os "resorts" e o turismo de residência podem dar muito dinheiro a ganhar a alguns, mas são um mau negóciopara o País.

Os "Resorts":um mau negócio

(para o País)

Vítor Cóias

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1"Pegada ecológica": metáfora usada para representar a quantidade de superfície de terra e água que uma população humana hipotetica-mente precisaria para suprir os recursos necessários para se suportar e para absorver os resíduos, usando a tecnologia corrente.

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ESTUDO DE CASOTema de Capa

Obra a executar no espaço exteriordas actuais instalações do JardimBotânico / Faculdade de Ciências daUniversidade do Porto, foi compos-ta basicamente por conjuntos de in-tervenções que dotaram o Jardim denovas infra-estruturas, nomeada-mente eléctricas, as quais no futuropermitirão o uso do mesmo commaior comodidade e conforto. Para-lelamente a estas infra-estruturas fo-ram executadas as redes de drena-gem e águas pluviais, que permiti-rão um melhor escoamento daságuas e consequente melhor utiliza-ção dos caminhos pedonais no In-verno.Em toda a zona envolvente do Jar-dim Botânico, nomeadamente nosJardins Históricos e essencialmentena zona do Arboreto, foram traça-dos novos caminhos, alterados al-guns já existentes e modelado o ter-reno de modo a facilitar a conduçãodas águas para as caixas do sistemade drenagem de superfície.Para complementar o conjunto de

constituídos por uma mistura ho-mogeneizada elaborada à base deum ligante de reacções pozolânicas,associado a saibro granítico, envol-vem a casa e Jardins Históricos.No interior dos Jardins Históricosfoi aplicado um pavimento em gra-vilha de granito amarelo com favose nas zonas envolventes às estufas omesmo tipo de pavimento com ou-tra granulometria e grelha flexível.Na zona do Arboreto, foi aplicadoum pavimento com revestimentosuperficial de argamassa porosacomposta por gravilhas graníticasagregadas por resina sintética.Pontualmente, também nesta zona,foi aplicado um lajeado de granitodo tipo Calçada à Portuguesa. No decorrer da intervenção foramrecuperadas e executadas estru-turas, nomeadamente pérgulas emobiliário de Jardim.

infra-estruturas, o Jardim foi dotadocom um sistema de rega totalmentenovo, especificamente estudado eprojectado para cada uma das áreasajardinadas, canteiros, Jardins His-tóricos e zona do Arboreto, tendosido aproveitada a água de um furoexistente no próprio Jardim, do qualé bombeada para um depósito que,por sua vez, e por gravidade, fazchegar essa mesma água a umgrupo de bombagem que a faz pas-sar por um sistema de filtros, paradepois a introduzir no sistema derega.Após a colocação das referidas in-fra-estruturas, foram compactados edevidamente drenados todos oscaminhos pedonais que fazem partedeste projecto e que basicamente sedividiram em duas zonas de inter-venção. A primeira, mais diversifi-cada, composta pelos caminhos en-volventes à casa, Jardins Históricose estufas. A segunda, designada porzona do Arboreto.Os pavimentos à base de saibro,

Conservação e valorizaçãodo Jardim Botânico da Universidade do Porto

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FERNANDO PINHO,Engenheiro,A. Ludgero Castro, Ld.ª

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Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 21

FILIPE FERREIRA,Engenheiro Civil,Augusto de Oliveira Ferreira & C.ª, Ld.ª

ESTUDO DE CASOTema de Capa

Por promoção do Instituto Portu-guês de Museus (IPM) em coope-ração com a Direcção Regional deEdifícios e Monumentos do Norte, aAugusto de Oliveira Ferreira & C.ª,Ld.ª procedeu às obras de remode-lação do jardim do Museu Abade deBaçal, com vista a adaptá-lo a umdesenho mais contemporâneo.A empreitada compreendia umaintervenção no edifício oitocentista,antigo Paço Episcopal, e respectivojardim.No decorrer da empreitada, consi-derando as novas condições de utili-zação do jardim e questionando odesenho do buxo existente – queaparece como uma memória doantigo jardim formal desenhado nosanos 40 –, concluiu-se que seria domaior interesse a possibilidade decriar uma intervenção plástica con-temporânea que permitisse libertaro espaço de um formalismo de-sajustado às condições actuais,mantendo o mesmo material (buxoexistente).Assim, os arquitectos António Por-tugal e Manuel Maria Reis, projec-tistas da intervenção no museu, pro-puseram ao IPM uma alteração aoprojecto de Paisagismo, concretiza-da por uma artista plástica de reco-nhecido mérito, Cristina Valadas,com o apoio técnico do engenheiropaisagista Manuel Ferreira. A alte-ração consistiu na criação de umplano de água que reformula oexistente, na implantação de umbanco de jardim ao longo de partedo buxo e na simplificação do pla-no de plantação, alargando-se aárea de relvado.As alterações apontadas implicamtecnicamente a reformulação da ilu-

dade, visto ter sido feita no final doperíodo de repouso vegetativo, oque poderia originar que o buxo nãosobrevivesse à operação. O trabalhofoi concluído com a plantação darelva, estudada especialmente paraas condições atmosféricas da zona,considerando formulações de relvadiferentes para as zonas de sol e desombra, sob a copa das árvores.No final resultou um jardim amplode manutenção simples e disponívelpara desfrute dos visitantes.

minação – com vista a responder aonovo conceito e desenho – bem co-mo do sistema de rega que, dada anova implantação e desenho dobuxo deverá cumprir um novo pla-no, em termos de tipo e implantaçãodos aspersores.A empresa Augusto de Oliveira Fer-reira & C.ª, Ld.ª procedeu a todos ostrabalhos de reformulação, desde aremoção das espécies arbóreas, pas-sando pela execução de todas asinfra-estruturas, tais como rega, ilu-minação, drenagem, plantação dasnovas espécies arbóreas e trans-plante do buxo existente de acordocom o novo desenho. Esta operaçãorevestiu-se de alguma complexi-

Museu Abade de Baçal, BragançaRemodelação do jardim

Fig. 1 – Vista parcial do jardim antes da intervenção nn Fig. 2 – Aspecto do Lago primitivoFig. 3 –Trabalho de transplante do buxo nn Fig. 4 – Plantação de novas espécies arbóreasFig. 5 – Pormenor do banco do jardim nn Fig. 6 – Pormenor do lago nn Fig. 7 – Jardim actual

Fig. 1Fig. 1

Fig. 2Fig. 2

Fig. 3Fig. 3

Fig. 4Fig. 4

Fig. 5Fig. 5

Fig. 6Fig. 6

Fig. 7Fig. 7

AOFERREIRA.QXD 04-08-2007 1:00 Page 1

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ESTUDO DE CASOTema de Capa

Serralves é uma referência singularno património de arquitectura e depaisagem em Portugal, sintetizandoe simbolizando uma aprendizageme um conhecimento das condiçõesde transformação do território, noespaço e no tempo, num contextocultural: Portugal e os séculos XIX eXX. Unidade espacial e temporal-mente complexa – vestígios de umjardim e de uma paisagem rural doséculo XIX, Casa e Jardim de Ser-ralves (décadas de 1930 e 1940 doséculo XX), e o Museu de Arte Con-temporânea e a paisagem com eleinscrita em Serralves – o conjuntopatrimonial edificado e de paisa-gem de Serralves resulta de proces-sos de transfiguração, construção eadição, cuja justaposição define re-lações de indispensabilidade e decomplementaridade, estruturantes ede composição, entre espaços e sis-temas.

18 hectares. O legado que estasobras constituem, associado à suapresente integridade, referenciamSerralves, tanto no contexto nacio-nal como internacional, enquantoPatrimónio arquitectónico e de pai-sagem.Espaço de habitar, privado e exclu-sivo, Serralves tornou-se desde aconstituição da Fundação um lugarde produção e difusão de cultura,público e inclusivo.No que a este conjunto diz respeito,à Fundação de Serralves cabe apreservação da memória, e o seuestudo e contextualização, bem co-mo a construção de memória futura,apoiados na convicção da necessi-dade da educação e da sensibiliza-ção da sociedade para a salvaguar-da do património arquitectónico ede paisagem, assim como da neces-sidade e da possibilidade de conci-liar o espaço patrimonial com as

A Casa de Serralves e o seu Jardimresultam das encomendas realiza-das por Carlos Alberto Cabral, 2.ºConde de Vizela, a diversos arqui-tectos e decoradores de reconhecidaexcepção, após uma visita à Ex-position des Arts Décoratifs et In-dustriels Modernes de 1925, em Paris.A Casa de Serralves funda-se numideal Art Déco se bem que tocadapor outros movimentos, anteriores eposteriores. O Jardim, projectadopor Jacques Gréber em 1932, perfi-lha uma concepção neoclássica daarte dos jardins, suavemente Déco,versão revista do jardim Beaux-Artstocada por uma modernidade so-fisticada, e é tanto quanto se conhe-ce à data talvez o primeiro jardimprivado construído em Portugal,durante a primeira metade do sécu-lo XX, segundo um projecto de ar-quitectura de paisagem, e certa-mente o único com esta dimensão:

Serralves1932-2007

Parterre Central em imagens da Foto Alvão 1940-50

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Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 23

manifestações e os processos cultu-rais determinados pela sociedadecontemporânea, sem hipotecar a suaintegridade e permanência. Nessesentido, para além de ter vindo aprocurar, e a adequar, usos contem-porâneos que garantam uma activafruição, estudo e conhecimento doseu património, tem a Fundação deSerralves, apoiada por programasestatais de incentivo e apoio, in-vestido significativamente na suapreservação antecipativa e reabili-tação, com vista a garantir o seu uso,função e aptidão actuais e futuras.De entre as intervenções mais re-centes não pode deixar de ser desta-cada, pelo seu significado e relevân-cia, e até pela sua condição pioneira,a recuperação e valorização do Par-que de Serralves, segundo progra-ma da Arquitecta Paisagista Cláu-dia Taborda e projecto do Arqui-tecto Paisagista João Mateus.O Projecto de Recuperação e Va-lorização do Parque de Serralves,implementado entre 2003 e 2006, foico-financiado pelo Programa Ope-racional do Ambiente, e teve comofilosofia geral de intervenção aReabilitação, processo este que sal-vaguardou a integridade do pa-trimónio. Esta intervenção permitiu,de forma integrada e antecipativa,requalificar e valorizar esta paisa-gem, sendo um instrumento opera-tivo para analisar e actuar no Par-que de Serralves, de forma total, sis-tematizada e integrada, no espaço eno tempo, de modo a conservar, enalguns casos a repor, a sua integri-dade, de ordem física - espacial etemporal –, e a sua identidade – deordem cultural. A complexidade dasua contextualização – cultural egeográfica –, da sua história – repre-sentação e ideologia –, da sua estru-tura – organização e topologia –, eda sua função – transformação e in-tegridade –, acrescidas da presente

condição de conservação após aimplementação do Projecto de Re-cuperação, bem como do ampliadoconhecimento da sua importância,situam o Parque Serralves entre asmais significantes construções dopatrimónio de paisagem português,certamente sem paralelo em Portu-gal na sua tipologia e período, e per-mitem igualmente hoje afirmar oseu relevo nos contextos europeu emundial.À Fundação cabe agora a conquistado reconhecimento que a este con-junto de património de paisagem édevido enquanto jardim histórico,mas sobretudo enquanto espaçopatrimonial em que, sem hipotecara sua integridade e permanência, sedesenrolam, diariamente, os proces-sos determinados pela cultura con-temporânea.O septuagésimo quinto aniversário,que este ano se celebra, da produçãodos desenhos que informaram aconstrução desta paisagem é, certa-mente, uma data auspiciosa para estaafirmação do Parque de Serralves.

VICTOR BEIRAMAR DINIZ,Arquitecto Paisagista

Parterre Central hoje

ESTUDO DE CASOTema de Capa

Sequência das intervenções no Parterre Central

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ESTUDO DE CASOTema de Capa

Vista do castelo e espigueiros

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 200724

ELISABETE BIZARRO,Arquitecta,Parque Nacional da Peneda Gerês

HENRIQUE REGALO,Arqueólogo

O Castelo de Lindoso situa-se na fre-guesia de S. Mamede de Lindoso, doconcelho de Ponte da Barca, no distri-to de Viana do Castelo. Fundado nosinícios do século XIII, o castelo já apa-rece mencionado nas Inquirições de1258, sempre relacionado com a defe-sa da Portela da Serra Amarela e doVale do Cabril. Mandado restaurarpor ordem régia de D. Dinis, vai apartir do século XIV estar intima-mente ligado à história da família dosAraújos de Lóbios, família que iráconservar durante muitos anos a suaalcaidaria.Em 1662, este espaço é ocupado portropas espanholas em virtude dasguerras da Restauração, onde é am-pliado e construído um novo pano demuralhas em forma de estrela pen-tagonal atribuído ao desenho do ita-liano marquês de Buscayolo. Maistarde, em 1664 após a Restauração daMonarquia Portuguesa, é o castelode Lindoso recuperado e reconquis-tado pelas tropas portuguesas. Hojeestá à guarda do Parque Nacional daPeneda Gerês (PNPG) que lá pre-tende instalar uma das suas "Portas".Numa perspectiva de ordenamentodo recreio e turismo do Parque Na-cional, as "Portas" deverão represen-tar os locais de entrada no territórioda Área Protegida – espaços de reten-ção com as características adequadasà atracção do visitante para parar,usufruir da área enquanto se informae retém conhecimento. Com este mo-delo, o visitante penetra na Área Pro-tegida devidamente alertado e a sa-ber o que deve ou pode visitar e co-mo o deve fazer. Assim, localizadaem região raiana, a "Porta de Lindo-so" representa uma das áreas de en-trada no PNPG e constituirá a únicaporta transfronteiriça PNPG-Xurés. O Castelo, outrora guardião da por-

paços necessários ao novo programafuncional.O vidro, como elemento construtivoprivilegiado, permite manter a trans-parência do local e a visualização dodesenho de implantação e volumétri-co das construções. A caixa de vidrosurge como espaço difusor de fun-ções e ambientes, pressupondo assimuma transmissão de conhecimentosmuito vasta. Neste sentido, a caixaganha maior dimensão ao nível dacomunicação – uma caixa de música. O volume, definido na direcção daentrada, permite orientar os visitan-tes para o espaço de recepção, bemcomo ganha uma função de "cortavento", em relação aos espaços fun-cionais previstos.O acesso ao castelo e ao terreirod`armas é feito através de um percur-so de rampas que permite a sua visi-tação aos deficientes motores. Pretende-se implementar uma pro-posta dinamizadora que assegure ainterpretação da história e permitarealizar as acções / actividades pre-vistas.Esta proposta foi desenvolvida peloParque Nacional em colaboraçãocom a Câmara Municipal de Ponte daBarca.

tela da Serra Amarela, é agora elo deligação entre dois Parques e duasNações.Os objectivos definidos para o projec-to da "Porta" de Lindoso, uma das cin-co "Portas" previstas para a área doParque Nacional, assentam em trêsmomentos, os espaços de recepção, osespaços da oficina temática e os espa-ços de apoio à utilização recreativa. Aoficina temática, com vocação peda-gógica, baseia-se no desenvolvimentode actividades ligadas a uma determi-nada temática, neste caso a Compo-nente Geológica e Hídrica.O momento da área do castelo, no in-terior das muralhas, é definido combase nas estruturas e ambientes exis-tentes. Percorrendo os diferentes es-paços construídos, acertaram-se usosde acordo com um percurso funcio-nal e uma linha de composição e or-ganização hierárquica. O projecto considera um elementoconstruído que faz a relação entre asconstruções existentes, os percursosinterpretados e simultaneamentemarca a entrada do castelo.A distribuição funcional afecta actu-almente ao terreiro d`armas, a des-coberto, é transposta para um volu-me que ganha as funções de átrio.A ideia: uma "caixa de vidro" comuma linguagem e características cons-trutivas que identifiquem a nossaépoca, a intersectar os volumes exis-tentes. A intersecção e o alongamentodo volume para o interior das cons-truções permite a subdivisão de es-

Na Peneda Gerês

GuardiãoGuardiãoda portela reconvertidoda portela reconvertido

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INTRODUÇÃOO estudo em título consistiu no le-vantamento estrutural e no levan-tamento de anomalias de dois mu-ros de suporte de terras do Parqueda Liberdade, em Sintra, tendo co-mo objectivo a definição da estra-tégia de intervenção de reabilita-ção. A inspecção foi levada a cabo,fundamentalmente, através deexame visual, tendo em vista, porum lado, a caracterização estru-tural e construtiva dos muros e,por outro lado, o registo dos sin-tomas, causas e natureza das ano-malias, nomeadamente, as de ín-dole estrutural.

LEVANTAMENTO ESTRUTURALE CONSTRUTIVOO muro de maior extensão, contí-guo à Rua Visconde de Monserra-te, desenvolve-se ao longo de340m com altura variável, de 0,5 a5m. O outro muro, localizado jun-to à entrada da mesma rua, apre-senta um desenvolvimento curvi-líneo num total de 45m de compri-mento e altura variável de 3,5 a6,5m.Os muros, à semelhança de outrosexistentes na zona, são constituídospor alvenaria de pedra irregular, dedimensão muito heterogénea, en-contrando-se as juntas preenchidassuperficialmente (quando o são),com argamassa de ligante de cal,facilmente desagregável, asseme-lhando-se a terra misturada com cal.

Assinala-se, em ambos os muros,presença de zonas extensas da alve-naria sem qualquer revestimento,possivelmente devido a falta demanutenção e conservação. Em geral, os paramentos dos murosencontram-se parcialmente cobertoscom vegetação bastante densa, ocul-tando a alvenaria e, consequente-mente, eventuais anomalias.

DEFINIÇÃO DE MEDIDASCORRECTIVAS POSSÍVEISResumidamente, a intervenção re-comendada para eliminar ou mitigaras anomalias detectadas consistiu naeliminação da vegetação infestante,reparação das fendas estruturais, con-solidação da alvenaria e, dada aaparente regularidade superficial doparamento, na aplicação de revesti-mento de argamassa com traço com-patível com os materiais existentes.

LEVANTAMENTO DAS ANOMALIASVISÍVEIS E SEU DIAGNÓSTICODas anomalias detectadas no murocontíguo à Rua Visconde de Monser-rate, destaca-se a presença de juntasnão preenchidas, lacunas na alvena-ria, deformação da secção e, tam-bém, fendas de índole estrutural.Estas anomalias poderão ter sidoagravadas pela falta de revestimen-to do muro e de preenchimento dasjuntas, que apesar de conferiremmaior permeabilidade à alvenaria,resultando na diminuição dos im-pulsos no tardoz, propiciam o arras-tamento do material de assentamen-to das pedras, o que reduz o de-sempenho estrutural, potenciando ainstabilidade do muro.No muro em curva, detectou-se apresença pontual de fendas de ín-dole estrutural, com abertura con-siderável (até 5cm), que poderão es-tar relacionadas com a pressão ex-cessiva exercida pelas raízes da ár-vore que se encontra junto do muro,bem como da oscilação natural des-ta com o vento.

Fig. 2 – Muro em curva. Fenda com cerca de5cm de abertura e ausência de revestimento

Fig. 1 – Muro contíguo à Rua Visconde deMonserrate. Lacunas na alvenaria

Estudo prévio das anomalias existentesEm dois muros de suporte de

terras do Parque da Liberdade

JOÃO PIRES,Engenheiro Civil,Oz, Ld.ª

PROJECTOS & ESTALEIROS

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PROJECTOS & ESTALEIROS

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A intervenção proposta para os es-paços exteriores do Adro e Envol-vente do Santuário do Bom Jesus doMonte surge na sequência do "Planode Ordenamento da Estância do BomJesus do Monte" (Farinha Marques,P. e Dias Costa, M. J., 1998). Integra--se numa das fases de pormenoriza-ção indicadas por este trabalho.

surreição, unificando o Percurso Sa-grado; 3) ordenar a envolvente aonível de pavimentos e circulações(pedonal e automóvel).A filosofia de abordagem assentaem princípios que orientam a inter-venção em paisagens históricas, osquais pressupõem acções discretas,sustentáveis e minimalistas. Nesteprocesso pretende-se a manutençãoe celebração dos referenciais históri-cos e dos valores culturais e naturaisadquiridos que hoje tornam essaspaisagens distintas e patrimoniais.O Adro da Igreja do Bom Jesus nun-ca chegou a ser rematado, apesar deexistirem desenhos e intenções ante-riores para levar a cabo esta tarefa(Carlos Amarante no fim do séc.XVIII e Januário Godinho no séc.XX). Januário Godinho (1963) aludeque o projecto de Carlos Amarantechegou a ser parcialmente executa-do tendo sido posteriormente des-truído. Não fica claro, no entanto, seesta descrição se refere ao Adro exis-tente ou ao projectado por Amarante,não havendo de momento nenhumoutro dado em nossa posse que per-mita clarificar esta indicação.A intervenção apresentada respon-de ao programa apresentado pelaConfraria do Bom Jesus do Monte:1) o desejo de ver adoptada umasolução similar à desenhada porCarlos Amarante; 2) a localização demais quatro estátuas alusivas ao ce-nário da Crucificação; 3) pavimen-tação em lajeado de granito.A equipa desenvolveu uma abor-dagem contemporânea, que inter-preta e conjuga a linguagem tardo--barroca do espaço existente com

Os objectivos desta proposta de in-tervenção, desenvolvida pela equi-pa constituída por Maria João DiasCosta, Paulo Farinha Marques, Ma-ria Cristina Marques e Maria do CéuLira, podem resumir-se nos se-guintes pontos: 1) rematar a formado Adro existente; 2) ligar os Passosda Crucificação aos Paços da Res-

Santuário doBom Jesus do Monte

Projecto de Arquitectura Paisagistapara o Adro e Envolvente da Igreja

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Plano geral de intervenção para a recuperação do Santuário do Bom Jesus do Monte

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desenho de Amarante sintetizadopor Januário Godinho. Evitou-se arecriação histórica literal que só fa-ria sentido se fosse suportada porregistos óbvios da existência préviade um adro construído.O desenho proposto e manifestadono Plano Geral, recorre a geometriasdadas pelas existências construídas,e ajusta-as às estátuas presentes eaos encontros com as escadas late-rais da Igreja, localizando aindaquatro novas estátuas. O Adro de-limita-se a nascente, para ambos oslados da Igreja, por baixos muros desuporte em grandes pedras apare-lhadas de granito, que se desenvol-vem desde a cota mais alta das es-cadas laterais da Igreja até a uma cotabaixa, junto às estátuas de Caifás ePilatos. Aí assumem o carácter de pe-quenos degraus que marcam a entra-da no Adro. Estas estruturas relacio-nam as estátuas sem lhes tocar, dis-tinguindo passado do presente. A zona com maior desnível é re-matada por uma sebe talhada deteixo (Taxus baccata), a qual acompa-nha o muro da cota alta à cota baixa,

Passos; 2) corte da circulação auto-móvel neste local, impedindo que es-tes cruzem a Via Sacra. Cria-se assim uma vasta área pe-donal na envolvente imediata aoAdro, que no entanto mantém apossibilidade de circulação de veí-culos prioritários, pela instalação dedissuasores metálicos rebatíveis.Ao longo do novo caminho lajeadoque liga os Passos, e para acentuar aligação acima referida, planta-seuma pequena alameda de carvalhosroble (Quercus robur). As árvores pro-postas, de porte e crescimento ade-quados aos espaços e ritmos do San-tuário, localizam-se de modo a nãointerferir com as estátuas do Adro.Detêm ainda significativo valorautóctone, sensorial e referencial.

criando costas ao Adro e algumaclausura na sua envolvente imediata,não comprometendo, contudo, a vis-ta para planos mais afastados.O chão do Adro desenhou-se emgrandes lajes de granito igual ao dasescadas da Igreja, com uma estereo-tomia em espinha.Os lugares para implantar as quatronovas estátuas estão previstos nodesenho apresentado. Sugere-se quesejam esculpidas com uma lingua-gem plástica actual, mantendo asmesmas proporções das existentes ecelebrando o dramatismo e o movi-mento barrocos. Em relação às per-sonagens a incluir, e seguindo a ori-entação dos Evangelhos, propomosque sejam Maria, Mãe de Jesus, Ma-ria Madalena, Maria, Mãe de Tiago,e João, o Evangelista, incontor-náveis protagonistas da Paixão deCristo.Para consumar a unidade do Percur-so Sagrado, ligando espacialmente osPassos da Crucificação aos Passos daRessurreição, tomaram-se duas deci-sões determinantes: 1) criação de umpercurso em linha recta ligando os

PAULO FARINHA MARQUES,Arquitecto Paisagista e Professor Auxiliarda Universidade do Porto,Membro CIBIO/ICETA

MARIA JOÃO DIAS COSTA,Arquitecta Paisagista do Mosteirode S. Martinho de Tibães

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASFarinha Marques, P. e Dias Costa, M. J. (1998). Planode Ordenamento da Estância do Bom Jesus do Monte.Confraria do Bom Jesus do Monte, Braga.Godinho, Januário (1963). Projecto de Conclusão doAdro Fronteiro ao Templo - Memória Descritiva eJustificativa. Confraria do Bom Jesus do Monte,Braga.

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NOTAS HISTÓRICAS

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Charles de Ribeyrolles, em 1858, cele-brava essa oferta do então futuro reide Portugal à cidade:Maravilhoso oásis esse terreno emoldura-do de altos morros, recebendo do mar abrisa fresca por uma fresta que se lhe abreem frente. Contudo, há cinqüenta anos,não era mais que poeira e pântanos pes-tíferos. É hoje jardim das plantas, das ba-

aclimação, destinado a introduzir noBrasil a cultura de especiarias dasÍndias Orientais". Em Outubro, esserecinto passou a denominar-se RealHorto2. A década de 1810 foi fundamentalpara a consolidação do Jardim Botâ-nico e de um esforço de organizaruma rede de estabelecimentos con-géneres em outras partes do Brasil.Em 1810, a recém-criada ImpressãoRégia publicava o Discurso sobre autilidade da instituição de jardins nasprincipais províncias do Brasil, deManuel Arruda da Câmara. Ele de-fendia a importância económica daagricultura nos moldes fisiocráticos,propondo uma política em benefíciodo Brasil:S. A. R. o Príncipe Regente Nosso Senhorolhou sempre para a agricultura como pa-ra a principal fonte da riqueza e abas-tança do seu Reino; e se Portugal lhe me-rece um Paternal desvelo e cuidado, queatenções lhe não merecerá o Brasil, seuPrincipado, que além de ser mais extensodo que toda Europa, é fertilíssimo, e capazde toda produção?3

Em 1814, D. João mandou iniciar acultura de chá no Horto Real com avinda de chineses para o cultivo dabebida. Embora oficialmente deno-minado Jardim Botânico em 1819,apenas a partir de 1823 um especia-lista assumiria a sua direcção: o freiLeandro do Sacramento. "O jardimde aclimação se transformou, por

naneiras e das essências. E essa risonhametamorfose deve-se ao rei D. João VI. Seele pouco se dava às ideias e às guerras,comprazia-se com as flores. Deus protejae perfume a sua alma.1

A origem desse lugar está no decretode 13 de Junho de 1808, que manda-va preparar "terreno necessário aoestabelecimento de um jardim de

O Jardim Botânicodo Rio de Janeiro

Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cerca de 1885

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O Jardim Botânico do Rio de Janeiro nasceu sob a graça do príncipe regente D. João, recém-chega-do ao Brasil com a corte portuguesa, com a invasão de Portugal por Napoleão.

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NOTAS HISTÓRICAS

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esse facto, em jardim botânico, aban-donando, portanto, o terreno da sim-ples introdução da cultura empíricapara passar a trabalhos mais sérios deexperimentação e de estudo", comen-tou Barbosa Rodrigues4. Segundo es-te, em 1825 o Jardim distribuiu plan-tas e sementes para os jardins do Pa-rá, Pernambuco e Bahia e, quatroanos depois, fez permutas com oJardim Botânico de Cambridge. Essemomento auspicioso durou pouco:com a morte de frei Leandro em 1829,o Jardim Botânico do Rio de Janeirocairia no marasmo científico.

O ENCANTO OU A CIÊNCIAO alemão Carl Seidler, um azedo via-jante no Rio de Janeiro dos anos 1830,foi condescendente diante do JardimBotânico:...penetramos... no esplêndido jardim, or-nado de todos os tesouros do reino vege-tal, e que tem uma área de cerca de duasléguas quadradas. Aqui se vê claramentecom que infinita bondade, poder-se-ia di-zer com que predilecção, a mãe naturezaabençoou a esta terra abundantemente,mais que a todas as outras. As plantas detodas as zonas, naturalmente exceptua-das as do extremo norte e as do extremosul, medram aqui exuberantemente e compouco trato de mão humana.5

Cientificamente céptico, mas poetica-mente embevecido, Charles de Ri-beyrolles contrapunha a riqueza pai-sagística à "limitação" botânica:Nesse jardim, pobre em espécies, deficien-te quanto à ciência, se ostenta dupla colu-nata como jamais tiveram palácios e tem-plos. É uma aldeia de palmeiras em doisrenques. Regularmente espaçadas, cheiasem baixo, de fuste esbelto, abrem-se emcapitel numa coroa de flores. [...]Esse primeiro aspecto de grande alamedaao mesmo tempo encanta e impressiona.Não se quer ver nem procurar mais nada.Faz-se a corte às palmeiras. [...]. Masaqui domina o exótico, o que é lamentáveldano. A aclimatação é dever e necessidade

estigma. O Jardim Botânico do Rio deJaneiro deveria ser o santuário da ci-ência – dentro do espírito positivistaem vigência –, e não do mundanismo– aquele que se firmou ao longo doséculo XIX. A veneração à ciência nãoera compatível com o culto das vai-dades humanas.

para essa pobre Europa esgotada de ger-mes, que sabe o que possui. Aqui a terra évirgem e quase desconhecida. O primeirotrabalho deve-se ao solo, e anos bastantesse passarão antes que a exploração, hábile paciente, acabe o seu inventário.E concluiu, secamente:O Jardim Botânico do Rio devia ser, antesde tudo, brasileiro.6

Na ausência de uma actividade cien-tífica após a morte de frei Leandro, orecinto passou a ser uma área de di-vertimento. Ao assumir a direcção doJardim Botânico do Rio de Janeiro em1890, J. Barbosa Rodrigues procuroureorganizar as suas actividades. Per-guntou-se: "como, pois, transformarum simples jardim de recreio, quasesecular, em que os vegetais não podi-am ser transplantados para colocá--los por ordem sistemática?"7

O discurso de Barbosa Rodrigues eraclaro: havia uma incompatibilidadeentre um recinto com finalidades ci-entíficas e o lugar de passeio que eleencontrou. "Moralizar" o jardim, re-compô-lo como "um terreno da ciên-cia" com a retomada de actividadesbotânicas eram formas de superar o

Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cerca de 1890Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cerca de 1880

HUGO SEGAWA,Arquitecto,Professor da Faculdade de Arquitectura eUrbanismo da Universidade de São Paulo

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS(1) RIBEYROLLES, Charles de. Brasil pitoresco: histó-ria, descrição, viagens, colonização, instituições. Tra-dução por Gastão Penalva. Belo Horizonte: Itatiaia;São Paulo: Edusp, 1980, p. 192.(2) RODRIGUES, João Barbosa. Hortus Fluminensis oubreve noticia sobre as plantas cultivadas no JardimBotanico do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ.Leuzinger, 1894, P. III.(3) CÂMARA, Manuel Arruda da. Obras reunidas.Coligidas e com estudo biográfico por José AntonioGonsalves de Mello. Recife: Fundação de CulturaCidade do Recife, 1982, p. 199.(4) RODRIGUES, op. cit. p. IX.(5) SEIDLER, Carl. Dez anos no Brasil. Tradução deBertholdo Klinger. Belo Horizonte: Itatiaia; SãoPaulo: Edusp, 1980, p. 64.(6) RIBEYROLLES, op. cit., p. 192.(7) Idem, p. XX, passim.

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GECoRPA

Do número apreciável de empresas que têm manifestado interesse na conservação do patrimónioarquitectónico português e nas actividades do GECoRPA, foi seleccionado um grupo restrito depatrocinadores da revista Pedra & Cal.Para distinguir essas empresas, particularmente empenhadas no sucesso da revista, foi criado opresente Quadro de Honra.

A Direcção do GECoRPA

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QUADRO DE HONRA.QXD 04-08-2007 3:11 Page 1

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ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIOTema de Capa

O QUE É OPATRIMÓNIO GEOLÓGICO?O Património Geológico é parte in-tegrante do Património Natural e,como tal, segue por norma os passoshabituais para a sua inventariação eclassificação. O processo de classifi-cação está envolvido por uma sériede critérios científicos, educacionaise culturais que são úteis do ponto devista da identificação dos valoresculturais, ambientais e estéticos,assim como dos interesses associa-dos a determinado local ou fenóme-no natural. Deste modo, apenasalgumas ocorrências geológicas sãopassíveis de serem consideradas Pa-trimónio Geológico. É necessário terem conta a sua singularidade, sig-nificância, contexto paisagístico--ecológico, etc.. Assim, dada a ne-cessidade de uniformizar critériospara a selecção de tais sítios, desde adécada de 80 do século XX que, noque respeita a Portugal, têm sidopropostas e aperfeiçoadas formasconcretas de inventariação, avalia-ção e classificação de geótopos ougeossítios, promovidas por associ-ações e instituições como a Liga pa-ra a Protecção da Natureza, Ins-tituto da Conservação da Natureza,Associação Portuguesa de Geólo-gos, ex-Instituto Geológico e Minei-ro, ProGEO, Museu Nacional deHistória Natural.

O PATRIMÓNIO GEOLÓGICOCOMO MOTOR DEDESENVOLVIMENTO RURALAssim como outros elementos defi-nidos com potencial patrimonial eturístico, tais como o PatrimónioArquitectónico e Arqueológico, o

advêm da sua destruição. Destemodo, o Património Geológico agede forma valorizadora, mesmo sen-do um recurso turístico ainda poucoconhecido. Na criação dos PDMs,por exemplo, o reconhecimento daGeologia de uma região é essencialde forma a conhecer os riscos geo-lógicos (actividade vulcânica e sís-mica, por exemplo) inerentes a de-terminada área, assim como as"riquezas" escondidas nas rochas,tais como as jazidas de fósseis e deminerais, que poderão ser postas apúblico através da musealização ouexploração turística. Desta forma, aGeologia influencia a criação dosplaneamentos urbanos ao nível dadistribuição e morfologia da redeviária e habitações e ao nível das en-genharias, onde a segurança dosedifícios também dependerá dascondições naturais de determinadolocal.A população em geral desconhece aexistência do Património Geológico.Isto deve-se essencialmente a umainsuficiente divulgação nos meiosde comunicação mais comuns queleva a uma cultura geral geológicamuito básica ou mesmo ausente.Compete às autoridades e às institui-ções envolvidas na classificação depatrimónio divulgar estes recursos.Este desinteresse ou desconheci-mento parece ser causa do "abando-no" de inúmeros elementos classifica-dos como Património Geológico. Defacto, é na cidade onde mais se verifi-ca esse "abandono", por falta de pro-moção desses locais e de explicaçãodas suas características. Não raras ve-zes, os elementos classificados estãoresumidos a descampados, terrenos

Património Geológico pode ter umpapel relevante no desenvolvimen-to socio-económico e na promoção evalorização do território aos níveisnacional e internacional. A explora-ção turístico-científica (isto porque,actualmente, está em voga o turis-mo científico) dos elementos abran-gidos pela geologia numa regiãopode ser essencial para a captação efixação de população nas áreas maisisoladas, potenciando a reabilitaçãodo local, de forma a garantir os pa-drões de qualidade exigidos e asse-gurando a sustentabilidade da po-pulação.Devido às suas características natu-rais, a Geologia torna-se um ele-mento bastante acessível do pontode vista da exploração turística e(geo)conservação, viabilizando pro-jectos privados e públicos com bai-xos custos logísticos e económicos.Como é óbvio, existem casos em quea não promoção desse tipo de pa-trimónio, mesmo sendo classificado,é essencial para a sua preservação.Englobam-se nestes casos, algumasjazidas de fósseis e de minerais, cu-jas singularidade ou sensibilidadeacrescida assim o exigem, ficandoapenas salvaguardado e conhecidopor especialistas.

O PATRIMÓNIO GEOLÓGICOEM ÁREAS URBANASNas cidades, onde o valor dos ter-renos é elevado devido à pressão ur-banística constante, o conhecimentoda Geologia local é fulcral para aimplantação da malha urbana e pa-ra o reconhecimento dos valoresgeológicos aí existentes, definindoassim qual ou quais os impactos que

Património Geológico evalorização dos territórios

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baldios, como é exemplo o Geossítiodo Gasómetro em Lisboa, em plenaAvenida Infante Santo.Existem muito poucos elementoscom interesse geológico a serem de-vidamente explorados e valorizados,sob a forma de jardins, museus, es-tações temáticas (paragens de roteiroturístico), e ao invés do papel valo-rizador e cultural que o PatrimónioGeológico possa ter, é desvalorizadoe visto como desvalorizador.

O ESTADO DA ARTE DOPATRIMÓNIO GEOLÓGICOEM PORTUGALA classificação de Património Geo-lógico em Portugal encontra-se nes-te momento em plena ascensão, es-tando prevista a criação de nume-rosos circuitos e parques temáticos,onde a Geologia é o tema central. Oestudo geológico foi sempre acom-panhado pelo reconhecimento dosvalores existentes nas rochas, mas oreconhecimento do seu valor patri-monial do ponto de vista da sua im-portância como registo da históriada Terra só veio a ser debatido apartir da segunda metade do século

XX, após diversos tratados de Con-servação da Natureza. Em Portugalé de destacar o papel dos primeirosestudos e publicações a salientar opapel e a divulgação do PatrimónioGeológico. Assim, é essencial refe-renciar nomes tais como os geólogosMiguel Ramalho, Galopim de Car-valho e mais recentemente o Prof.Fernando Barriga, referindo-se osseus trabalhos no Museu Geológico doINETI-IGM (antigos Serviços Geoló-gicos de Portugal) e no Museu Na-cional de História Natural, ambos emLisboa. Desde então que o Património Geo-lógico tem vindo a ser classificado evalorizado, muitas vezes sem muitointeresse em divulgar, pelas entida-des competentes, (IPPAR, autarqui-as, etc.), junto da população emgeral, levando na maioria dos casosà sua destruição em virtude daspressões urbanas ou agrícolas. Re-centemente foi criado o primeiroparque geológico em solo portuguêsintegrado na rede internacional Geo-parks, o NaturTejo Geopark, na regiãode Idanha-a-Nova e Concelhos adja-centes. Este parque integra toda a

ÍCARO FRÓIS DIAS DA SILVA,Geólogo,Investigador Bolseiro do LATTEX –Laboratório de Tectonofísica e TectónicaExperimental da Faculdade de Ciênciasda Universidade de Lisboa

riqueza natural existente na região(geomorfologia, geologia, hidrolo-gia, biologia) assim como os seusrecursos arquitectónicos e arqueo-lógicos. Pelas suas características,este projecto foi distinguido com oPrémio Geoconservação da associaçãoProGEO (Associação Europeia para aConservação do Património Geológico,ver site www.progeo.pt ) no ano de2006 e constitui o melhor exemplo deaplicação de circuitos turísticos inte-grados nas populações, que contribuipara a economia de uma região dointerior através da valorização do seumaior e melhor recurso, a PaisagemNatural.

ISTO TAMBÉM É PATRIMÓNIOTema de Capa

Aspecto de um afloramento geológico no Rio Almansor, em Mon-temor-o-Novo, onde se destaca o padrão erosivo do rio sobre este tipode rocha. Aqui pode ser constatado que o padrão de sulcos e altos estárelacionado com diferenças mineralógicas deste tipo de rocha banda-da, aqui paralelo ao fluxo do rio, aumentando a sua susceptibilidadeà erosão ao longo das bandas de minerais da rocha

SÍTIOS NA INTERNET SOBREPATRIMÓNIO GEOLÓGICOLista de geomonumentos e sítios com interessegeológico – http://www.progeo.pt/geomon.htmNaturtejo Geopark – http://www.naturtejo.com/European Geoparks Network – http://www.euro-peangeoparks.org

Ecopercurso nas margens do Rio Almansor, em Montemor-o-Novo,onde se salienta a importância dos meios biótico e abiótico na disper-são dos elementos antropogénicos e sua relação com a auto sus-tentabilidade

˝CARO FROIS DA SILVA.QXD 04-08-2007 1:21 Page 2

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(Continuação do número anterior)

No artigo publicado no anteriornúmero da Pedra&Cal, escolhemos otema dos arrendamentos comerciaisà luz do Novo Regime do Arren-damento Urbano (NRAU), em vigordesde o passado dia 28 de Junho de2006.Havíamos dito que passou a vigoraro princípio da liberdade de estipu-lação em matéria de "duração e de-núncia" nos contratos de arrenda-mento comercial. Isto é, podem aspartes nesta matéria, livremente, es-colher o conteúdo do contrato quepretendam celebrar, definindo aduração do mesmo, bem como osprazos e modos de denúncia de am-bas as partes, aplicando-se o regimelegal (supletivo), apenas se nada forajustado por escrito.Deixámos, por esclarecer, qual o re-gime aplicável à denúncia do con-trato de arrendamento comercial ce-lebrado à sombra da lei revogada, oRAU, quando o respectivo clausula-do não preveja o regime de denún-cia, ou, quando prevendo-o, o mes-mo violasse o regime imperativo fi-xado no RAU, pois, nesse caso, es-taremos perante cláusulas nulas, e,como tal, não podem produzirquaisquer efeitos, sendo substituí-das pelo regime previsto na lei à da-ta da celebração (o RAU).Como já havíamos referido, o legis-lador do RAU introduziu em 1995uma alteração que permitiu a cele-bração do contrato de arrendamen-to comercial com o prazo inicial mí-

nimo de 5 anos, permitindo a de-núncia do senhorio para o final des-se prazo. A contrapartida para o in-quilino foi a de lhe permitir desvin-cular-se do mesmo, em qualquermomento, desde que o fizesse comum pré-aviso de 90 dias.Pelo que, se as partes celebraram àsombra do RAU um contrato dearrendamento de duração determi-nada, isto é, segundo a terminologiada lei nova, o NRAU, com prazo cer-to, a denúncia do arrendatário deveser efectuada, através de carta regis-tada com aviso de recepção com opré-aviso, não já dos 90 dias anteri-ormente previstos, mas com o pré--aviso de 120 dias, logo que decorri-dos 6 meses de contrato. O que fazcom que, nos termos do NRAU ocontrato de arrendamento com pra-zo certo só possa ser denunciado pa-ra o final de 10 meses de duraçãocontratual, o que não aconteciaantes (art.º 1098º, n.º 2 do CódigoCivil).Já o senhorio apenas poderá denun-ciar o contrato para o final dos 5anos, ou, de qualquer das renova-ções previstas, desde que o faça coma antecedência de 1 ano relativa-mente ao final do período em causa.Deixou aqui de ser necessário orecurso à notificação judicial avulsa(é uma espécie de carta feita pelosenhorio, mas que, em vez de serremetida ao inquilino via CTT, o erapelo Tribunal), bastando agora acarta registada com aviso de recep-ção ou entregue em mão, desde queo senhorio possa depois fazer prova

dessa entrega, pelo que, deverá pro-movê-la por protocolo (art.º 1097.ºdo Código Civil).E, se as partes, à sombra da lei antiga,o RAU, tiverem celebrado um contra-to de arrendamento comercial com aduração de 1 ano? Ou com outra du-ração, mas, inferior a 5 anos? Nestecaso, não estamos nem no âmbito dalei antiga, nem sequer na actual legis-lação perante um contrato de dura-ção certa, mas, perante um contratorenovável automaticamente, inde-pendentemente, da falta de vontadedo senhorio em renová-lo. Em face da nova lei, o NRAU, esta-mos, pois, perante um contrato cujoregime de denúncia a aplicar é oprevisto para os contratos de duraçãoindeterminada (art.os 1099.º e segs.do Código Civil). Neste tipo de arrendamento, a de-núncia do arrendatário é efectuada,sem necessidade de ser invocadoqualquer motivo, a todo o tempo,

Os ArrendamentosComerciais à luz da Nova

Lei do Arrendamento

AS LEIS DO PATRIMÓNIO

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por carta registada com aviso de re-cepção, desde que, com a antece-dência de 120 dias. Caso o arrenda-tário denuncie sem respeitar o pré--aviso, a denúncia opera o seu efeitona data por este pretendida, mas, oarrendatário terá que indemnizar osenhorio pelo período de renda emfalta, que será a diferença para os120 dias.Quanto à faculdade do senhorio de-nunciar, esta inexiste, porquanto, seé verdade que a alínea c) do art.º1101.º do Código Civil prevê que ossenhorios têm a possibilidade de de-nunciar os arrendamentos de duraçãoindeterminada com uma antecedêncianão inferior a 5 anos – não, não se tra-ta de erro de escrita do signatário,são mesmo cinco anos –, nos contra-tos celebrados à sombra da lei ante-rior (o RAU), não se aplica o dispos-to nesta alínea por força do art.º 26.º,n.º 4, al. c) da Lei n.º 6/2006, de 27de Fevereiro.A não ser que, entretanto, e na pen-dência da nova lei, tenha havidotrespasse ou locação do estabeleci-

restauro profundos), necessitaría-mos de mais dois ou três númerosdesta publicação para se levar a ca-bo a espinhosa tarefa de explicar oseu regime, ainda que, sumariamen-te, para chegarmos à conclusão deque, dificilmente, será exequível, anão ser com a anuência do inquili-no. Mas, neste caso, se houver von-tade do inquilino em "cooperar",certamente, a via será a indemniza-tória, e não outra. Estamos, pois, Prezados Leitores, la-mentamos dizer-lhe, em face dumamá lei, o RAU, revogada por umaoutra, o NRAU, ainda, pior, o queestamos em crer, irá fazer dispararos litígios. Isto, claro está, em nossomodesto entendimento.Esperemos que o tempo se encar-regue de não nos dar razão…

mento, ou, no caso do arrendatárioser uma sociedade, tenha havidouma transmissão de mais de 50% docapital social, a não ser que a mesmase deva a morte do sócio e quem lhesuceda sejam os seus herdeiros (art.º26.º, n.º 6, al.s a) e b) da Lei n.º6/2006, de 27 de Fevereiro). Nestescasos – deixando de fora os de su-cessão mortis causa na titularidadedo capital social da sociedade arren-datária –, o senhorio pode mesmodenunciar o arrendamento com 5(cinco) anos de antecedência. Pense--se aqui que, será melhor os 5 anos –ainda que se ache demais – do queos 30 anos de duração do arrenda-mento.Pode, ainda, o senhorio denunciar oarrendamento por necessidade dehabitação do próprio ou dos seusdescendentes em primeiro grau, ou,para demolição ou realização deobra de remodelação ou restauroprofundos (art.º 1101.º, al.s a) e b)).No caso da denúncia do senhoriopor força da realização das referidasobras (demolição, remodelação e

A. JAIME MARTINS,Docente Universitário,Advogado-sócio de ATMJ - Sociedade [email protected]

AS LEIS DO PATRIMÓNIO

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PREÂMBULO

Reunida em Florença em 21 de Maio de 1981, a ComissãoInternacional dos Jardins Históricos ICOMOS-IFLA deci-diu elaborar uma Carta relativa à salvaguarda de jardinshistóricos, que terá o nome desta cidade. Esta Carta foiredigida pela Comissão e adoptada em 15 de Dezembro de1982 pelo ICOMOS com vista a completar a Carta deVeneza neste domínio específico.

DEFINIÇÕES E OBJECTIVOS

Artigo 1.ºUm jardim histórico é uma composição arquitectónica e ve-getal que, do ponto de vista da história ou da arte, apresen-ta um interesse público. Como tal, é considerado um mo-numento.

Artigo 2.°O jardim histórico é uma composição arquitectónica, cujo mate-rial é essencialmente vegetal e portanto vivo, perecível e reno-vável.O seu aspecto é, pois, o resultado de um perpétuo equi-líbrio entre o movimento cíclico das estações do ano, ocrescimento e a decadência da natureza, e a vontade artís-tica e a mestria humana que tendem a perpetuar o seuestado.

Artigo 3.°Enquanto monumento, o jardim histórico deve ser salva-guardado segundo o espírito da Carta de Veneza. Toda-via, atendendo a que se trata de um monumento vivo, a suasalvaguarda depende de regras específicas, que são oobjecto da presente Carta.

Artigo 4.°Determinam a composição arquitectónica de um jardimhistórico:n o seu traçado e a sua topografia;n a sua vegetação: espécies, volumes, jogos de cores, dis-...tâncias e respectivas alturas;n os seus elementos estruturais ou decorativos;n a sua água em movimento ou parada, reflectindo o céu.

Artigo 5.ºExpressão da estreita relação entre a civilização e anatureza, lugar de deleite, propício à meditação ou à re-

criação, o jardim adquire assim o sentido cósmico de umaimagem idealizada do mundo, um "paraíso" no sentidoetimológico do termo, mas que é o testemunho de umacultura, de um estilo, de uma época e eventualmente daoriginalidade de um criador artístico.

Artigo 6.°A denominação de jardim histórico aplica-se tanto a pe-quenos jardins como aos grandes parques, quer a sua com-posição seja formal ou naturalista.

Artigo 7.ºQuer esteja ou não ligado a um edifício, do qual constituaum complemento inseparável, o jardim histórico não podedesligar-se do seu próprio enquadramento urbano ou ru-ral, artificial ou natural.

Artigo 8.°Um sítio histórico é uma paisagem definida, evocativa deum facto memorável: lugar de um acontecimento históri-co relevante, origem de um mito importante, ou de umcombate épico, tema de um quadro célebre, etc..

Artigo 9.ºA salvaguarda dos jardins históricos exige que os mesmossejam identificados e inventariados. Impõe intervençõesdiversas, de manutenção, de conservação e de recupera-ção. Eventualmente pode-se recomendar a reconstrução.A autenticidade de um jardim histórico está relacionadaquer com o desenho e as proporções das suas várias com-ponentes, quer com os elementos ornamentais e a escolhados elementos vegetais ou inorgânicos que o constituem.

MANUTENÇÃO, CONSERVAÇÃO, RECUPERAÇÃO,RECONSTRUÇÃO

Artigo 10.ºTodo o trabalho de manutenção, de conservação, de recu-peração ou de reconstrução de um jardim histórico ou deuma das suas parcelas deve ter em conta, simultanea-mente, todos os seus elementos. Separar os tratamentosalteraria a unidade do conjunto.

MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO

Artigo 11.ºA manutenção contínua dos jardins históricos é uma ope-

Carta de FlorençaSobre a salvaguarda de jardins históricos

ICOMOS, Florença, 21 de Maio de 1981

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ração de importância primordial. Sendo vegetal o seumaterial principal, a preservação do jardim requer, tantorenovações pontuais, como um programa das renovaçõescíclicas a longo prazo (abate de exemplares vegetais nofinal da sua maturação e replantação de idênticos exem-plares já desenvolvidos).

Artigo 12.°A escolha das espécies de árvores, de arbustos, de plantase de flores a replantar periodicamente, deve ser feita tendoem conta as práticas estabelecidas e reconhecidas nas di-ferentes regiões botânicas e hortícolas, procurando identi-ficar as espécies originais e preservá-las.

Artigo 13.°Os elementos de arquitectura, de escultura, de decoração,fixos ou móveis que fazem parte integrante do jardim his-tórico, não devem ser retirados ou deslocados excepto namedida em que a sua conservação ou recuperação o exija.A substituição ou a recuperação de elementos em perigodeve fazer-se segundo os princípios da Carta de Veneza, edeve indicar-se a data de qualquer substituição.

Artigo 14.°O jardim histórico deve ser conservado num ambienteapropriado. Qualquer modificação do meio físico que po-nha em perigo o equilíbrio ecológico deve ser proibida.Estas medidas referem-se ao conjunto das infra-estruturas,tanto internas, como externas (sistemas de irrigação e dre-nagem, caminhos, estacionamentos, vedações, dispositi-vos de vigilância, equipamentos de apoio ao visitante, etc.).

RECUPERAÇÃO E RECONSTRUÇÃO

Artigo 15.°Nenhuma recuperação e, sobretudo, nenhuma recons-trução de um jardim histórico deverá ser empreendidasem ser realizada previamente uma ampla investigação,desde a escavação arqueológica à recolha de toda a docu-mentação relativa ao jardim em questão e a outros jardinssemelhantes, a fim de assegurar o carácter científico da in-tervenção. Antes de iniciar quaisquer obras, deve pre-parar-se um projecto baseado na referida investigação, oqual será submetido à consideração de um grupo de espe-cialistas para a sua análise e aprovação.

Artigo 16.°A intervenção de recuperação deve respeitar a evoluçãodo jardim em questão. Em princípio, não se deve privile-giar uma época em prejuízo das demais, a não ser em ca-sos excepcionais quando o grau de degradação ou destrui-ção que afecta certos elementos do jardim seja de tal enver-gadura que aconselhe a sua reconstrução, a qual deve ba-sear-se nos vestígios que subsistam ou em documentaçãoirrefutável. A eventual reconstrução poderá ser justificadanas partes do jardim mais próximas de um edifício, a fim

de fazer sobressair a coerência do conjunto.

Artigo 17.°No caso de um jardim ter desaparecido totalmente ouquando apenas restem vestígios conjecturais sobre os seusestádios anteriores, não deve ser efectuada uma recons-trução baseada na noção de jardim histórico. Em tais cir-cunstâncias, uma obra que se inspirasse em formas tradi-cionais, realizada sobre a localização de um antigo jardim,ou mesmo onde nunca tenha existido qualquer jardim,assumiria, simplesmente, a noção de evocação ou de cria-ção original, e em nenhum caso poderia ser qualificada co-mo um jardim histórico.

UTILIZAÇÃO

Artigo 18.°Se bem que todo o jardim histórico esteja destinado a servisto e percorrido, o seu acesso deve ser restringido em fun-ção da sua extensão e da sua fragilidade, de forma a preser-var a sua integridade física e o seu conteúdo cultural.

Artigo 19.ºPor natureza e por vocação, o jardim histórico é um lugaraprazível favorecendo o contacto humano, o silêncio e oescutar da natureza. Esta concepção do seu uso quotidianodeve contrastar com o uso excepcional do jardim históricocomo lugar de festa. Convém, pois, definir as condições devisita dos jardins históricos de tal forma que a festa, cele-brada excepcionalmente, possa por si só contribuir pararealçar o espectáculo do jardim, e não para o banalizar oudegradar.

Artigo 20.°Se, na vida quotidiana os jardins podem acomodar-se àprática de jogos tranquilos convém, em contrapartida, cri-ar em áreas contíguas aos jardins históricos, zonas pró-prias para jogos e desportos mais activos e movimentados,de tal forma que se dê resposta a esta necessidade socialsem que ela impeça a conservação dos jardins e dos sítioshistóricos.

Artigo 21.°Os trabalhos de manutenção ou de conservação, cujo rit-mo seja imposto pelas estações do ano, ou as curtas opera-ções que contribuam para restituir a autenticidade, devemter sempre prioridade sobre as necessidades de utilização.A organização de qualquer visita a um jardim histórico de-ve ser submetida a regras que garantam a preservação doespírito do lugar.

Artigo 22.°Quando um jardim se encontra cercado por muros, estesnão devem ser removidos sem ponderar previamente to-das as consequências prejudiciais que poderiam resultarpara a sua salvaguarda e para a alteração da sua ambiência.

CARTAS & CONVENÇÕESTema de Capa

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PROTECÇAO LEGAL E ADMINISTRATIVA

Artigo 23.°Compete às autoridades responsáveis, ouvidos osperitos competentes, adoptar as disposições legaise administrativas apropriadas para favorecer aidentificação, a inventariação e a protecção dos jar-dins históricos. A sua salvaguarda deve ser inte-grada nos planos de ocupação do solo e em todosos documentos de planeamento e de ordenamentodo território. E igualmente da responsabilidadedas autoridades competentes, com a assessoria deperitos competentes, a criação de disposições fi-nanceiras adequadas para favorecerem a ma-nutenção, a conservação, a recuperação, e even-tualmente quando necessário a reconstrução dosjardins históricos.

Artigo 24.°O jardim histórico é um dos elementos do patri-mónio, cuja sobrevivência, devido à sua natureza,exige os maiores cuidados contínuos por pessoasqualificadas. Convém, portanto, que uma pedago-gia apropriada assegure a formação destas pes-soas, quer se trate de historiadores, arquitectos, ar-quitectos paisagistas, jardineiros ou botânicos.Deve, também, assegurar-se a produção regulardos elementos vegetais necessários à manutenção,conservação e recuperação dos jardins históricos.

Artigo 25.°O interesse pelos jardins históricos deve ser esti-mulado por todo o tipo de actuações capazes devalorizá-lo enquanto património e de torná-lo maisconhecido e apreciado: promoção da investigaçãocientífica, intercâmbio internacional e difusão dainformação, publicação e divulgação, estímulo doacesso controlado aos jardins pelo público, sensibi-lização para o respeito pela natureza e pelo pa-trimónio histórico através dos principais meios decomunicação social. Os jardins históricos mais im-portantes serão propostos para figurar na Lista doPatrimónio Mundial.

Tema de Capa

NotaEstas são as recomendações apropriadas ao conjunto dos jardinshistóricos de todo o mundo.Esta Carta poderá ser posteriormente completada com artigos adi-cionais aplicáveis a tipos específicos de jardins, incluindo uma sucin-ta descrição das suas tipologias.

FLÁVIO LOPES E MIGUEL BRITO CORREIA,Património Arquitectónico e Arqueológico: Cartas,Recomendações e Convenções Internacionais,Lisboa, Livros Horizonte, 2004, pp. 195-200

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NOTÍCIAS

Tendo sido fundada em 1968, é umadas comissões mais antigas do Con-selho Internacional dos Monumen-tos e dos Sítios (ICOMOS) e resultada conjugação de esforços desta or-ganização e da Federação Interna-cional dos Arquitectos Paisagistas(IFLA). Procurou afirmar uma ideia,hoje plenamente reconhecida, mas

na altura inovadora, que é a de queum jardim histórico é um monu-mento. Em 1981 aprovou a Carta deFlorença sobre os jardins históricos emais tarde teve um papel relevantena definição do conceito de paisa-gem cultural.

MBC

Comissão Científica Internacionaldos Jardins Históricos e PaisagensCulturais (ICOMOS/IFLA)

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No dia 23 de Março, na Faculdadede Arquitectura da UniversidadeTécnica de Lisboa, realizou-se a 11.ªAssembleia Geral do ICOMOS-Por-tugal. Após uns anos de presidênciade Cláudio Torres, é agora JoséAguiar que preside à Direcção, sen-do Maria Fernandes a Secretária--Geral e Miguel Brito Correia o Te-soureiro. A nova Direcção é com-posta por mais dez membros, ha-vendo ainda uma nova Mesa daAssembleia Geral e um ConselhoConsultivo. Vítor Cóias integra oConselho Consultivo. A ComissãoPortuguesa foi fundada em 1980 econgrega os profissionais da con-servação e restauro do patrimónioconstruído, tendo como objectivodivulgar os princípios éticos deintervenção em monumentos e sí-tios com valor histórico-cultural. Anova sede do ICOMOS-Portugal éna FAUTL, sala 4.1.2, Rua Sá No-gueira, Pólo Universitário do Altoda Ajuda, 1349-055 Lisboa.

Assembleia Geralda ComissãoNacional Portuguesado ICOMOS

O Gabinete para o Centro Históricoda Câmara Municipal de Coimbratem vindo a desenvolver, desde oano lectivo 2005/06, acções de sensi-bilização sobre o Património, intitu-ladas "Conhecer quem fomos, é sa-ber quem somos" junto da comuni-dade escolar, nomeadamente juntodos alunos do 1.º Ciclo. No presente ano lectivo assistiram aacções em sala 339 crianças, de 8escolas de Coimbra. Participaramainda 343 crianças em várias visitasguiadas pelo Centro Histórico.Ao longo do ano, decorreu um con-curso de fotografia intitulado "Co-nhecer quem fomos, é saber quem

somos – Fotografar o Património".A entrega dos prémios realizou-seno passado dia 20 de Junho, às 16h,no Salão Nobre da Câmara Mu-nicipal.A escola vencedora foi a EB1 de S.

Concurso de fotografia

Educar para o patrimónioBartolomeu, com uma fotografia doArco Pequeno da Barbacã (monu-mento do Centro Histórico deCoimbra). Foram ainda atribuídastrês menções honrosas (ao 2.ºJardim Escola João de Deus, à EB1de Almas de Freire e à EB1 de S.Bartolomeu).Todas as crianças receberam umarecordação pela sua participação: osalunos pertencentes ao grupo ven-cedor receberam um DVD intitula-do "À Descoberta de Coimbra" e o"Manual de Educação em Patri-mónio Arquitectónico". Os restantesforam todos contemplados com oreferido Manual.

A 3.ª Mostra do Restauro Monumen-tal decorreu em Ferrara, de 22 a 25 deMarço e contou com a organizaçãodo ICOMOS Itália, com o apoio doMinistério da Cultura italiano, daFondazione Politecnico di Milano e doICOMOS International. Esta ex-posição, concebida como um labo-ratório itinerante de investigação, vaipercorrer também outras cidadesitalianas, antes de chegar a algumasdas principais capitais europeias.

Ferrara foi escolhida para rampa delançamento da iniciativa, porque o“Salone dell'Arte del Restauro e dellaConservazione dei beni Culturali edAmbientali”, organizado naquela ci-dade desde 1991, é cada vez maisvisto como a mais importante mostraeuropeia dedicada ao Restauro, pro-porcionando aos profissionais umainteressante e actualizada perspecti-va em matéria de protecção e va-lorização das heranças culturais.

3.ª Mostra do Restauro Monumental

Do restauro à conservação

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cação da estabilidade e da segurançaestrutural, bem como a da gestão daqualidade nas obras de reabilitação.Nos anexos disponibiliza-se um vas-to conjunto de informação comple-mentar que, dada a sua extensão, éfornecida em suporte digital, no CD--Rom que acompanha este livro, umimportante instrumento de trabalhopara quem se dedica ao estudo dareabilitação do património edificado. A obra agora apresentada “não é umponto final. É um parágrafo”, come-çou por dizer Filipe Jorge, da Argu-mentum, a editora que, em colabo-ração com o GECoRPA, traz este li-vro a público, que o editor considerade “capital importância” e que pro-cura “chamar a atenção para umarealidade cada vez mais premente”.O livro conta com o patrocínio doInstituto da Habitação e da Rea-bilitação Urbana e tem o apoio daFundação Luso-Americana.

AGENDA/VIDA ASSOCIATIVA

O Departamento de Engenharia Civil da Universidadede Aveiro, a Escola Superior Gallaecia, a FundaçãoConvento da Orada e a Associação Centro da Terra,vão organizar o 5.º Seminário Arquitectura de Terraem Portugal, que vai decorrer na Universidade deAveiro, em Outubro.Além do seminário, a ter lugar nos dias 11 e 12, decor-rerá na noite do primeiro dia um jantar oficial, estandotambém prevista uma visita técnica no dia 13, para dara conhecer o património em terra existente em Aveiro.Este importante encontro juntará uma vez mais enge-nheiros, arquitectos, investigadores e técnicos de di-versas partes do mundo, representando as diferentesáreas relacionadas com a construção em terra. As co-municações apresentadas versarão sobre quatro pai-néis temáticos: Arquitectura e Ambiente; Materiais eComportamento; Técnicas e Construção e Património eConservação.

+ informações: www.civil.ua.pt/5atp.htm

Em Outubro

Aveiro debateArquitectura de Terra

Património para miúdos

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 39

No dia 10 de Julho, no Instituto daHabitação e da Reabilitação Urbana,teve lugar o lançamento e apresen-tação pública da obra “ReabilitaçãoEstrutural de Edifícios Antigos”, daautoria de Vítor Cóias.Na abertura da sessão, o presidentedaquele instituto público, Nuno Vas-concelos, salientou que este é «um te-ma fundamental», a tal ponto que seinsere na política do actual Executivo,que está empenhado em aumentar oconhecimento necessário para o de-senvolvimento do sector.O novo livro de Vítor Cóias é umaobra “oportuna, abrangente, indis-pensável e única”, avançou João Mas-carenhas Mateus, de quem esteve acargo a apresentação.Mascarenhas Mateus explicou que,ao longo da obra, “a ênfase é posta naabordagem pouco intrusiva, isto é,aquela em que as obras se fazem como mínimo de alteração do modelo

Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos – Técnicas pouco intrusivas

Partilhar conhecimento prático e teórico

construtivo e estrutural original”.Depois de recapitulado um conjuntode dados relativos à anatomia dosedifícios antigos, passam-se emrevista as principais anomalias deci-sivas para a concepção das inter-venções de reabilitação. As técnicasde intervenção são descritas e ilus-tradas de modo sistematizado tal co-mo os materiais não tradicionais quese usam em intervenções de reabili-tação. Segue-se a questão da verifi-

Da esquerda para a direita: Artur Correia daSilva, Vítor Cóias, Nuno Vasconcelos, JoãoMascarenhas Mateus e Filipe Jorge

Jardins Portáteis foi o tema que o Serviço Educativo doMuseu Serralves propôs como ponto de partida para oProjecto com Escolas em 2006-2007. O objectivo da ini-ciativa era estimular a aproximação dos mais jovens àarte contemporânea. No projecto deste ano pretendeu--se sensibilizar crianças e jovens para os conhecimentosenvolvidos na concepção, construção e manutenção deum jardim, enquanto realidade viva e dinâmica apreservar. Ao longo de um ano lectivo, artistas, biólo-gos e engenheiros agrícolas partilharam as suas experi-ências com grupos escolares de várias idades, em ofici-nas realizadas na Fundação. Em simultâneo, na escola,educadores e professores deram continuidade ao pro-jecto, através da criação dos seus próprios jardins, queforam enviados para a exposição final em Serralves.O resultado é o que pode agora ficar a conhecer naexposição, que estará patente até 21 de Outubro emSerralves.

Jardins portáteis em Serralves

Uma ponte entreo museu e a escola

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EM ANÁLISE

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007

Tema de Capa

De facto, pode afirmar-se que as pai-sagens intensamente transformadasque cobrem neste início do séculoXXI toda a Europa e uma boa partedo planeta, são a expressão culturaldos seus "construtores" (passados epresentes) e, portanto, são uma mar-ca identitária de enorme relevância.Isso mesmo tem vindo a ser ampla-mente reconhecido por todo o mun-do, nomeadamente através de docu-mentos emanados de diversas enti-dades internacionais, com destaquepara a UNESCO e Conselho da Eu-ropa.

ral europeu, contribuindo para o bem--estar humano e para a consolidação daidentidade europeia;(...) é em toda a parte um elemento impor-tante da qualidade de vida das popula-ções: nas áreas urbanas e rurais, nas áreasdegradadas bem como nas de grande qua-lidade, em áreas consideradas notáveis,assim como nas áreas da vida quotidiana;(...) constitui um elemento-chave do bem--estar individual e social e que a sua pro-tecção, gestão e ordenamento implicamdireitos e responsabilidades para cada ci-dadão; (...)"Com base nestes e noutros consi-derandos, a referida Convenção, noseu artigo 3º, traça como objectivo"(...) promover a protecção, a gestão e oordenamento da paisagem e organizar acooperação europeia neste domínio."Ao contrário dos tradicionais "cons-trutores" das paisagens de tempospassados, que conheciam e compre-endiam o meio em que intervinham(ainda se reconhecem estes saberesnos agricultores ou nos mestres pe-dreiros mais idosos), grande partedos actuais responsáveis directos ouindirectos por modificações da paisa-gem não têm conhecimento nem sen-sibilidade para entender o significa-do do que vêem e sobre o qual inter-vêm. Em termos mais gerais é o que

Com origem no Conselho da Europa,e desde logo assinado por Portugal(Outubro de 2000), a Convenção Eu-ropeia da Paisagem2 considera no seupreâmbulo que a paisagem:"(...) desempenha importantes funções deinteresse público, nos campos cultural,ecológico, ambiental e social, e constituium recurso favorável à actividade eco-nómica, cuja protecção, gestão e ordena-mento adequados podem contribuir paraa criação de emprego;(...) contribui para a formação de culturaslocais e representa uma componente fun-damental do património cultural e natu-

Paisagemenquanto património

4

A "Paisagem é o reflexo físico e mental das interacções entre sociedades e culturas e o seu ambiente natural"1.Assim, as paisagens humanizadas, em constante alteração, são a expressão de complexas interacçõesHomem – Natureza, mas também obras colectivas, na medida em que resultam de uma acção con-tinuada de múltiplas gerações e, em cada momento, de muitos e variados actores que actuam emsimultâneo sobre os mesmos espaços, ou sobre espaços diferenciados mas interdependentes quantoa processos biofísicos, culturais e socio-económicos.

Douro

ALEXANDRE D’OREY.QXD 04-08-2007 0:39 Page 1

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GECoRPA nos médiae

VIDA ASSOCIATIVA

In “arte&construção”Maio de 2007

O Palácio Nacional da Ajuda foi oespaço escolhido para acolher o semi-nário que serviu de base ao lançamen-to da versão portuguesa do “LivroBranco sobre o futuro das empresasde restauro do património na Eu-ropa”, da autoria de Xavier Greffe. Ainiciativa, promovida pelo GECoRPAe pelo IGESPAR, contou com a partici-pação da AEERPA, Association Euro-péenne des Entreprises de Restau-ration du Patrimoine Architectural, eda ARESPA, Asociación Española deEmpresas de Restauración del Patri-mónio Histórico, e reuniu, no dia 20de Abril, um público numeroso e es-pecialmente interessado em ficar a pardas vantagens económicas dos inves-timentos na conservação dos monu-mentos e edifícios históricos.Xavier Greffe, o autor do Livro Bran-co, é professor de ciências económi-cas (economia das artes e da cultura)na universidade de Paris I (Panthéon--Sorbonne), onde dirige o departa-mento de economia e de gestão dosprodutos culturais; é também peritojunto da OCDE e da Comissão Eu-ropeia para as questões do desenvol-vimento local e do emprego e deslo-cou-se a Lisboa para falar sobre “AsVantagens Económicas dos Investi-mentos na Conservação dos Monu-mentos e Edifícios Históricos”, no-meadamente sobre o papel reservadoàs empresas.A edição portuguesa do Livro Brancoconta com o patrocínio das empresasMonumenta – Conservação e Restau-ro do Património Arquitectónico,

sustentáveis, o que pressupõe umavisão de longo prazo”, refere VítorCóias no prefácio.O responsável do GECoRPA terminalembrando que “numa altura em queno País se equacionam estratégiaspara lidar com um futuro incerto, oestudo do Prof. Xavier Greffe vempôr em evidência o papel decisivo dosegmento empresarial da conserva-ção e restauro do património e a ne-cessidade de reagir aos obstáculosque impedem a valorização do seucontributo, senão às ameaças que pe-sam sobre a sua própria subsistência”.Decisores e agentes envolvidos nadefinição de estratégias de investi-mento público, mas também investi-dores privados e técnicos envolvidosna concepção, planeamento e gestãode intervenções de reabilitação e deconservação do património arquitec-tónico, tiveram neste encontro aoportunidade de ouvir várias inter-venções que lhes proporcionaramuma visão actual e ao mesmo tempoprospectiva daquilo que pode ser aintervenção e o futuro destes seg-mentos de mercado.

Ld.ª e Sociedade de Construções JoséMoreira, Ld.ª e com o apoio daSofranda – Empresa de ConstruçãoCivil, S. A. e da Somafre – Constru-ções, S. A..Como refere Vítor Cóias, Presidenteda Direcção do GECoRPA, no prefá-cio à edição portuguesa do estudo doProf. Greffe, em matéria de conser-vação do património há boas inten-ções mas que não têm tido no terrenoa sua materialização: “O fim do PlanoOperacional da Cultura, gerido peloIPPAR, os sucessivos cortes no PID-DAC e, a culminar, a extinção anun-ciada da DGEMN, reduziram as ver-bas do investimento público na con-servação do património arquitectóni-co a mínimos dificilmente conce-bíveis há alguns anos atrás”, salientaaquele responsável.Apesar de ser inquestionável o papelque o património cultural e arquitec-tónico desempenha para a sociedadee território, cabe aos responsáveis po-líticos estabelecer as condições para arentabilização efectiva deste impor-tante activo, ainda que “tal rentabi-lização tem de ser feita em moldes

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 200740

Da esquerda para a direita: Vítor Cóias, ElísioSummavielle, Xavier Greffe

O Livro Branco sobre o futuro dasempresas europeias do patrimónioarquitectónico tem tradução portuguesa

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encontro ibérico sobre o patrimónioarquitectónico, a realizar de dois emdois anos, alternadamente em Lisboae Madrid.Para assinalar a primeira década deactividade da associação foi criadoum logótipo alusivo que será utiliza-do durante o corrente ano.

VIDA ASSOCIATIVA

PARTICIPE!Envie-nos a sua opinião ou comentário para:

Rua Pedro Nunes, n.º 27,1.º Esq., 1050-170 Lisboa

ou via e-mail para:[email protected]

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 41

A candidatura da Somague Enge-nharia, S. A. a associada do GECoRPAfoi apreciada e aprovada pela Di-recção no passado dia 1 de Junho eintegrada no Grupo III – Execuçãodos Trabalhos; Empreiteiros e Sub-empreiteiros.A Somague, fundada em 1947, foi in-tegrada no Grupo Sacyr Valleher-moso em 2003. Em 2007, foi--lhe atribuída a certificação doSistema Integrado de Gestão doAmbiente, Qualidade e Segurança(SIGAQS).Tem como actividade principal aprestação de serviços para o sector da

A Somagueassocia-se ao GECoRPA

Construção Civil e Obras Públicas.No domínio das construções antigase do património arquitectónico,destacam-se várias intervenções: arecuperação da fachada e coberturasdo Convento de Mafra, a reabilitaçãourbana no bairro histórico da Mou-raria (“Lisboa a Cores”), ou ainda arequalificação do Palácio do Freixo,no Porto, entre outras.

O GECoRPA celebrou recente-mente um protocolo de prestaçãode serviços com a Tecninvest,uma empresa de consultoria einvestigação em engenharia,economia e gestão, especializadaem serviços profissionais quepropiciam um apoio efectivo àrealização de novos investimen-tos, ao cumprimento das regula-mentações ambiental e de con-servação de energia e, ainda, noacesso a programas de apoio aodesenvolvimento empresarial.A Tecninvest irá disponibili-zar os seguintes serviços aoGECoRPA e aos seus associados:consultoria na elaboração decandidaturas a fundos públicos,englobando designadamente, in-centivos ao investimento, à in-ternacionalização, à inovação, àinvestigação e desenvolvimentoe a outras áreas similares e queestejam ou venham a estar dis-poníveis a nível local, regional,nacional ou da União Europeia;consultoria de ambiente, ener-gética e licenciamento de insta-lação ou operação de actividadeseconómicas, nos termos da legis-lação nacional e comunitáriaaplicável.

Sem prejuízo do balanço que seimpõe fazer do que foram estes 10anos, a associação prevê um conjuntode iniciativas para assinalar a pas-sagem desta data. Desde logo, a pen-sar no futuro, foi criado e está a serdistribuído pelas empresas associ-adas e por alguma escolas um “kit”destinado a motivar os mais novospara a defesa do património: cons-tituem esse “kit” um pequeno manu-al de educação patrimonial, umboné com a figura do “Osgas” e uma“T-shirt” com a figura do Alex e osdizeres “Não estraguem o meu pa-trimónio”.Tendo em vista assegurar a sus-tentabilidade do projecto associativo,está já em curso a realização de umprojecto PRIME, que envolve umesforço adicional por parte dos asso-ciados. Este é um aspecto crucial paraa continuidade do GECoRPA, queserá brevemente objecto de análisenuma assembleia geral a convocarpara o efeito. Numa iniciativa do maior interesseestá, também, em preparação, emcolaboração com a nossa congénereespanhola ARESPA, o primeiro

GECoRPA

Uma década de actividade

GECoRPA assinaprotocolo coma Tecninvest

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DIVULGAÇÃOTema de Capa

A Quercus, Associação Nacional deConservação da Natureza, vai reabi-litar um edifício antigo de Lisboa,convertendo-o na sua sede nacional.O projecto Edifício Verde, cuja obrateve início em Julho de 2007, deveráestar concluído em Março de 2008 eo seu valor total ronda os 432 milEuros.Num documento lançado para apre-sentar este projecto, a Quercus afirmapretender que "esta nova sede na-cional assuma um carácter cons-trutivo que promova interven-ções sobre o ambiente,adaptando-a às neces-sidades de uso, produ-ção e consumo hu-mano sem contri-buir para o esgota-mento dos recur-sos, pensando nasgerações vindou-ras. A construçãosustentável fazuso de materiaisreutilizáveis, reci-cláveis, provenien-tes de fontes reno-váveis e que pos-suam um baixo im-pacto ambiental. Utilizasoluções construtivas ade-quadas à promoção do bomuso e da economia de recursosfinitos (materiais, água e energiasnão renováveis)".Com este edifício, a associação querfazer pedagogia, avançando com"um novo paradigma da construção,que alia a necessidade de um espaçopara a organização do seu trabalhoa uma construção que minimize oimpacto ambiental, provando assimque é possível construir "poupando"no ambiente e consequentemente naeconomia". A nova sede será tam-bém um edifício demonstrativo,com a Quercus a promover visitasna fase de execução da obra e na fa-se de utilização, procurando assim

em desenvolvimento no concelhoem prol do ambiente.Com uma área bruta total entre os800 e os 900m², a nova sede daQuercus vai recorrer à arquitecturasustentável, com o objectivo de ga-rantir a eficiência energética doedifício, bem como a correcta es-pecificação dos materiais, a pro-tecção da paisagem natural, o pla-neamento territorial e o reapro-veitamento de edifícios existentes.

A selecção dos materiais deconstrução a utilizar neste

projecto será consideradacom base na avaliação

do seu ciclo de vida,desde a origem da

m a t é r i a - p r i m a ,produção, distri-buição, utilizaçãoe destino final.Atendendo aoscritérios ecoló-gicos, os materi-ais a utilizar de-verão ser: reno-váveis e abun-

dantes, proveni-entes de diversas

fontes naturais e cu-ja produção tenha im-

pacto ambiental míni-mo; não poluentes, que

não emitam vapores, partí-culas ou toxinas nocivas ao

ambiente, tanto na produção, co-mo a jusante no seu uso; energeti-camente eficientes, de baixa ener-gia incorporada – utilizando poucaenergia no seu processo de fabrico,transporte e utilização, preferindo--se sempre materiais de origemlocal; duráveis, com uma vida útillonga, fáceis de repor e de fácilmanutenção; produzidos a preçose condições de trabalho justos epouco geradores de resíduos, ca-pazes de serem reciclados, de mo-do a economizar grande quanti-dade de energia.

"motivar os municípios para a im-portância do seu papel como agen-tes do processo de regulação e sensi-bilização inerente ao sector da cons-trução". Sensibilizar o sector da cons-trução para este novo conceito, in-formando os munícipes da formacomo actuar desde a fase de planea-mento à fase de utilização de umedifício e tendo em consideração aredução do impacto ambiental, re-conhecendo as iniciativas/políticas

Quercus terá edifício verde

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Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007 43

DIVULGAÇÃOTema de Capa

A Associação Portuguesa dos Ar-quitectos Paisagistas (APAP) or-ganiza no próximo dia 12 de Ou-tubro, no Palácio Nacional da Aju-da, em Lisboa, o colóquio "Patri-mónio Paisagístico – Os caminhosda transversalidade".O evento, que conta com o apoioinstitucional das entidades nacio-nais IGESPAR, ICNB, IMC e aindado Fundo Europeu de Desenvolvi-mento Regional, tem no seu progra-ma quatro painéis distintos, sobreos temas "Paisagens Protegidas","Paisagens Culturais", PaisagensUrbanas e "Quintas, Parques e Jar-dins Históricos".O objectivo da organização é "fun-damentar critérios sustentáveis deintervenção na paisagem portugue-sa, através da publicação das actasdo colóquio".Os responsáveis da APAP conside-ram que "a paisagem constitui umpatrimónio histórico ambiental ecultural, onde está registada a his-tória da sua própria evolução natu-ral e transformação exógena".Este colóquio surgiu de uma inicia-tiva da APAP junto das entidadesoficiais ligadas ao património paisa-gístico e a publicação das actas re-sultantes das várias áreas de debatedeve conter "referências enquadra-doras de mecanismos sustentáveis deactuação" no campo da salvaguardado património paisagístico.

APAP organiza colóquio

Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas

Data:12 de Outubro de 2007 Local:Sala D. Carlos, Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa

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DIVULGAÇÃOTema de Capa

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Um corredor verde é um continuumque é facilmente utilizado por pe-ões, ciclistas, skaters, etc. e que pres-supõe a valorização do patrimónionatural e cultural em espaço emi-nentemente urbano.O GEOTA propôs a criação de doiscorredores verdes, aproveitando aestrutura ecológica da cidade deLisboa, a saber:n da Mata de Alvalade ao Tejo –potenciando o Parque da Bela Vista,o vale de Chelas (um território deoportunidade e ameaças, onde exis-tem usos tradicionais como as hor-

GEOTA reuniu já cerca de 700 pes-soas. Este ano, a 15 de Setembro,iremos desenvolver acção seme-lhante.Estes corredores, para além da im-portante função de lazer, podemtambém desempenhar um papelrelevante em termos de mobili-dade, ao criar uma rede de pistascicláveis, como meio de deslocaçãosaudável e de emissão zero de car-bono.

tas) e a antiga zona industrial deChelas, área interessante em termospatrimoniais;n Belém – Trancão – tirando partidoda magnífica zona ribeirinha, pas-sando por interessantes áreas patri-moniais (incluindo a Baixa Pomba-lina) e sempre junto ao estuário doTejo. Este corredor apresenta agrande vantagem de se desenvolverem terreno plano.Em 2005, o GEOTA promoveu umpasseio de bicicleta ao longo dafrente ribeirinha tendo juntadocerca de 250 pessoas. Em 2006, o

Geota propõecorredores verdes

Espécime de Peneireiro-das-torres(Falco naumanni)

Quem visita a Vila de Mértola emplena Primavera, pode deparar-secom um pequeno falcão de tons acas-tanhados a entrar e sair das cavida-des existentes nas muralhas que ou-trora defenderam esta vila histórica.Contemplar tal cenário em Portugalnos dias de hoje já só é possível nestapovoação alentejana mas, na décadade 40, o Peneireiro-das-torres (Falconaumanni) era um dos principais in-quilinos das muralhas, conventos ecastelos de diversas localidades por-tuguesas, como Évora, Portalegre, Vi-la Viçosa ou Castro Marim. Tãoabundante como as andorinhas, estaave começou a desaparecer das nos-sas vilas e cidades a partir da segun-da metade do século XX, devido, emgrande parte, à recuperação do pa-trimónio histórico que não preservouespaços para estes habitantes tão es-peciais. Foi o que aconteceu na recu-peração do Castelo de Castro Marim

durante a década de 1980. Em 2001, apopulação portuguesa desta espécienão chegava aos 300 casais e concen-trava-se sobretudo no Baixo Alentejo.Para tentar recuperar este falcãomundialmente ameaçado, a Liga pa-ra a Protecção da Natureza (LPN)implementou, entre 2002 e 2006, oProjecto Peneireiro-das-torres, co-fi-nanciado pelo Programa LIFE-Natu-reza da União Europeia. As acçõesdesenvolvidas, que envolveram amelhoria e o aumento de locais de ni-dificação, a gestão das áreas de caça,a investigação científica e a sensibi-

lização ambiental, possibilitaram oaumento do efectivo populacionalem 54 por cento. Hoje existem cercade 450 casais, a maioria concentradanas planícies da região de Castro Ver-de, onde utilizam as casas dos mon-tes alentejanos. Mas quem sabe senão podemos voltar a ver o Pe-neireiro-das-torres a encher de vidaos monumentos das nossas vilas e ci-dades? Se conciliarmos a conserva-ção do património histórico com aprotecção dos ninhos destas aves po-demos consegui-lo. Em Espanha, osPeneireiros-das-torres continuampresentes em diversas cidades e vilas,dando mais vida aos centros históri-cos onde aproveitam as torres dasigrejas ou dos castelos. Basta ver osexemplos de Trujillo, Sevilha eToledo.

O Peneireiro-das-torres e o património históricoO passado e o futuro

INÊS HENRIQUES,Liga para a Protecção da Natureza

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PERFIL DE EMPRESA

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PERFIL EMPRESA2.QXD 04-08-2007 5:12 Page 1

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e-pedra e calTema de Capa

Hoje temos a sensação de viver umponto de viragem histórica em ques-tões de ambiente. Um novo enfoquereflecte a mentalidade da primeirageração Greenpeace e nos anos oitentaa política ambientalista lança a cruzadapela Ria Formosa, já num contexto dedefesa do património. O ambientecomo "pertença de todos" salta docapítulo dos prazeres bucólicos para aribalta da agenda internacional, comAl Gore a reforçar esta ideia emwww.theclimateproject.org.No universo da Net, iniciamos com osite ABC do Ambiente, www.abcdo-ambiente.com, onde encontramosuma extensa lista de entidades li-gadas ao tema. A sociedade civil já seorganizou, preparando soluções parao futuro e é encorajador visitar sitescomo o da Associação Portuguesa deEngenharia Natural, www.apena.ptou da Associação Portuguesa de Ener-gias Renováveis, www.apren.pt.Subsistem, no entanto, sinais pertur-badores que reflectem a atitude e aspolíticas neste domínio. Enquanto lápor fora a Havelland Solar (www.ha-velland-solar.de) anuncia a revoluçãofotovoltaica acessível a todos, comvendas on-line, por cá a Câmara Mu-nicipal de Lisboa lançou o progra-ma "Jardins Digitais" (jardinsdigi-tais.cm-lisboa.pt) que "…consisteem disponibilizar, em jardins, mira-douros e outros espaços públicos dacidade de Lisboa, acesso público eprofissional à Internet com recurso atecnologias Wireless". Por várias ra-zões interrogo-me sobre a eficáciadesta medida. A última vez que mesentei num banco do Jardim daEstrela (um dos pontos wirelessdeste programa) ia ficando sem o te-lemóvel.A dificuldade na defesa do patri-mónio ambiental passa por coorde-nar uma multiplicidade de orga-nismos e mentalidades. Por exemplo:de acordo com a informação disponi-bilizada no site do INAG (www.i-

cido quanto ao "auspicioso" futuroque a aguarda. O Instituto da Con-servação da Natureza (portal.icn.pt)faz saber que fechou o período deDiscussão Pública do Plano de Or-denamento do Parque Natural da RiaFormosa e os investidores locais, comuma indiferença desarmante, pro-movem moradias em banda nessazona. No que resta de um portal ma-nuelino, um cartaz com uma fo-tomontagem grosseira dá a conhecero mamarracho urbanístico a edificarbrevemente nas margens da RiaFormosa, sob o título elucidativo: "OÚLTIMO PARAÍSO". É preciso terlata! Se fosse "O Penúltimo Paraíso",ainda vá, mas anunciar que vão tri-unfalmente arrasar "O último"?! No site da Quercus (www.quer-cus.pt) pode denunciar-se situaçõescomo esta mas nem vou aqui des-crever o "nó Górdio" que é o proce-dimento aconselhado: simplesmentenão é praticável. Em alternativapode confortar-se com o Programa deadopção de um casal de Peneireiros dasTorres, promovido pela Liga para aProtecção da Natureza (www.lpn.pt)ou então arrefecer as ideias adqui-rindo um "Boné ventilado a energia so-lar" em www.ffsolar.com, último gri-to em soluções amigas do ambiente.Termino com a recomendação dedois sites a não perder: o www.wave-energy-centre.org, para quem se in-teresse pelas verdadeiras energiasalternativas SUSTENTÁVEIS (e nãome refiro a energia atómica ou"Bio"diesel) e o site do Monte da Lua(www.parquesdesintra.pt), onde, edeixo as boas notícias para o fim, so-mos informados que futuramente po-deremos voltar a visitar o inestimávelChalet da Condessa D'Edla, destruí-do por um incêndio em 1998 mas jácom recuperação prevista.

nag.pt), as obras de reparação dasestruturas de defesa costeira da Costada Caparica "visam contribuir para aestabilização de um trecho da costa degrande interesse balnear e com umafrente urbana edificada susceptível de seratingida pelas acções directas e indirectasdo mar." Mas na habitual contradiçãode perspectivas entre o poder institu-cional e local, em comunicado destemês, o GEOTA (www.geota.pt) "exi-ge que sejam conhecidas as razões quemotivam mega investimentos que se des-tinam alegadamente a promover a estabi-lização da linha de costa actual em S. Joãoda Caparica (através do reforço dos es-porões e do enchimento artificial das prai-as com areias dragadas em off-shore)"alertando para que "a reconversão ur-banística de 123 hectares, incluindo aconstrução de unidades hoteleiras ecampo de golfe (Urbanizadora Costa doSol), pode estar na base da justificação deuma obra de "engenharia pesada" comcustos estimados pelo INAG na ordemdos 15 milhões de Euros." De regresso ao Sul, se tiver curiosi-dade em conhecer Tavira, cidadeícone da Ria Formosa, ficará esclare-

O último paraíso

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 200746

ANTÓNIO PEREIRA COUTINHO,Arquitecto

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Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos - Técnicas Pouco IntrusivasAutor: Vítor CóiasO presente livro foi feito a pensar nos engenheiros, arquitectos e outros profissionais do sector daconstrução envolvidos em intervenções de reabilitação de edifícios antigos. O objectivo é colocarà disposição desses técnicos um conjunto de conhecimentos destinados a facilitar a aquisição,concepção, projecto e fiscalização dessas intervenções, particularmente das que são ditadas porconsiderações estruturais. A ênfase é posta na abordagem pouco intrusiva, isto é, aquela que visapermitir que as obras se façam com o mínimo de alteração do modelo construtivo e estruturaloriginal. Para além dos benefícios em termos da preservação da autenticidade e da integridadetecnológica dos edifícios - particularmente relevante naqueles que constituem património arqui-tectónico - esta abordagem conduz, também, a uma redução dos recursos materiais necessários ea uma minimização do impacto da obra quer sobre o ambiente urbano (menor alteração da tex-

tura urbana, menos escavações, menos transporte de materiais) quer sobre o ambiente natural (menos materiais extraídos,menor gasto de energia, menor produção de entulhos).Ao longo de seis anexos põe-se à disposição do leitor e utente um vasto conjunto de informação complementar: umglossário dos termos utilizados em reabilitação, exemplos de cálculos de verificação estrutural, cartas, declarações e ou-tros textos relevantes para esta área, uma proposta de sistema de classificação das empresas executantes das intervenções,condições técnicas especiais para os cadernos de encargos e fichas com características dos materiais utilizados na reabili-tação. Dada a sua extensão, quatro destes seis anexos são fornecidos em suporte digital, no CD que acompanha este livro.Edição: GECoRPA / ArgumentumPreço: € 45,00 - 10 % desconto – € 40,50Código: GE.M.2

LIVRARIA

NOVIDADES Outros títulos à venda na Livraria GECoRPA

Seminário "Reabilitaçãode Construções: em queponto estamos?"Autor: Vários AutoresEm Portugal, a importância dosegmento da Reabilitação nosector da Construção tem sidomanifestamente modesta, infe-rior à média europeia. Con-tudo, o estado em que se encon-tra uma parte significativa dosedifícios (com valor muito di-versificado enquanto patrimó-nio arquitectónico) obriga a in-tervenções urgentes e profun-das, a desenvolver nos próxi-mos anos, para lá da simplescosmética de fachada. Estaoportunidade, imperdível parao País, é da máxima importân-cia para os Actores da Cons-trução, num horizonte temporal

em que a Construção Nova se encontra em declínio. OGECoRPA, a APFAC e a Exponor organizaram esteSeminário no âmbito da Concreta 2006, pretendendodar ênfase, através de casos exemplares, à Reabilitação eao papel das Argamassas Fabris. A edição das comuni-cações encontra-se agora disponível na Livraria Virtual,impressa e em CD.Edição: GECoRPAPreço: € 20,00Código: GE.CDR.5 / GE.CO.1

Autor: Abel Pinto Edição: Edições Sílabo Preço: € 29,90Código: SIL.M.1

Seminário "Técnicas dereabilitação estrutural pou-co intrusivas de constru-ções antigas"Autor: Vários AutoresO seminário sobre reabilitaçãoestrutural, uma iniciativa con-junta da Exponor, da Ordemdos Engenheiros e do GECoR-PA que teve lugar na Concreta2006, justificou-se pela cons-tatação de que as intervençõesde natureza estrutural em mo-numentos e edifícios históricos,em resultado de uma deficienteconcepção, são, frequentemen-te, demasiado intrusivas e irre-versíveis, logo contrárias aosprincípios da conservação.Foi objectivo deste encontroproporcionar aos engenheiros,arquitectos e outros técnicos daconstrução envolvidos na con-

cepção e execução de intervenções de reabilitação cons-trutiva e estrutural dos edifícios antigos com valorenquanto património arquitectónico, uma síntese dosconhecimentos necessários para o fazerem de modopouco intrusivo, contribuindo para aumentar a taxa desucesso dessas intervenções, em termos de respeito au-tenticidade e pelo "valor tecnológico" desses imóveis. Aedição das comunicações encontra-se agora disponívelna Livraria Virtual, impressa e em CD.Edição: GECoRPAPreço: € 20,00Código: GE.CDR.6 / GE.CO.2

Autor: Xavier GreffeEdição: GECoRPAPreço: € 12,00Código: GE.E.1

Manual de Segurança - Construção, Conser-vação e Restauro de Edifícios

Livro Branco sobre o futuro das empresas derestauro do património na Europa

Autores: Vítor Cóias, CatarinaValença Gonçalves (texto); JoãoCarlos Farinha, Marcos Oliveira(ilustrações)Edição: GECoRPAPreço: € 10,00Código: GE.M.1

Manual de Educação em Património Arquitec-tónico

Autor: M. Justino Maciel (Tra-dução do latim, introdução enotas)Edição: IST PressPreço: Edição normal – € 30,00/ Edição especial – € 60,00Código: IST.DOC.1 /IST.DOC.2

Vitrúvio. Tratado de Arquitectura

Autor: Vários AutoresEdição: GECoRPAPreço: € 25,00Código: GE.CDR.4

CD-Rom: Actas do Encontro "Em defesa doPatrimónio Cultural e Natural: Reabilitar emvez de Construir"

Para saber mais sobre estes e outros livros, consulte a Livraria Virtual em www.gecorpa.pt

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Fundamentos Ambientais do Ordenamento do Território e da PaisagemAutor: Leonel FadigasO ambiente é uma condição essencial do ordenamento sustentável do território e da paisagem efundamento das estratégias, metodologias e processos que o tornam possível. Nomeadamentequanto à gestão racional de recursos e à compatibilização ambiental dos usos do solo previstosnos diferentes instrumentos de planeamento territorial e urbanístico. O território é um recurso e um suporte de vida, em equilíbrio mas também em mudança, cujoordenamento constitui um processo articulado de organizar os habitats humanos, tendo em contaos três pilares fundamentais em que assenta: ambiente, sociedade e economia. A presente obra tem a sua origem nos textos de apoio às aulas de Ambiente e Ordenamento daslicenciaturas em Arquitectura do Planeamento Urbano e Territorial e em Arquitectura da GestãoUrbanística da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. A sua publicação,num contexto mais vasto, é um contributo para o alargamento do debate e reflexão sobre questões

que, pela sua importância para o nosso futuro comum, são assuntos de cidadania e, por isso, não podem ficar circunscritosao universo académico.Edição: Edições SílaboPreço: € 15,00Código: SIL.E.1

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LIVRARIA

Nota: Os números 0, 1, 2, 4, 5, 6, 7 e 13 da Pedra & Cal encontram-se esgotados, contudo informamos que se encontram reunidos noCD-ROM Pedra & Cal - 5 Anos (1998-2003), à venda na Livraria GECoRPA. Os números 25, 26 e 27 estão de momento indisponíveis.

N.º 32, Out./Nov./Dez. 2006Preço: € 4,48

Código: P&C.32

N.º 31, Jul./Ago./Set. 2006Preço: € 4,48

Código: P&C.31

N.º 30, Abril/Maio/Jun. 2006Preço: € 4,48

Código: P&C.30

N.º 33, Jan./Fev./Mar. 2007Preço: € 4,48

Código: P&C.33

Assinaturaanual da

Pedra & Cal

N.º 19, Julho/Ago./Set. 2003Preço: € 4,48

Código: P&C.19

N.º 17, Jan./Fev./Mar. 2003Preço: € 4,48

Código: P&C.17

N.º 11, Julho/Ago./Set. 2001Preço: € 4,48

Código: P&C.11

N.º 23, Julho/Ago./Set. 2004Preço: € 4,48

Código: P&C.23

Promoçãode 4 números

da Pedra & Calà sua escolha

CD-ROMPedra & Cal

5 Anos (1998 - 2003)

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ASSOCIADOS GECoRPA

GRUPO IProjecto,

fiscalização e consultoria

GRUPO IILevantamentos,

inspecções e ensaios

GRUPO IIIExecução

dos trabalhosEmpreiteiros

e Subempreiteiros

A. da Costa Lima, Fernando Ho,Francisco Lobo e Pedro Araújo – Arquitectos Associados, Ld.ªProjectos de conservação e restaurodo património arquitectónico.Projectos de reabilitação, recuperaçãoe renovação de construções antigas.Estudos especiais

Betar – Estudos e Projectos de Estabilidade, Ld.ªProjectos de estruturas e fundaçõespara reabilitação, recuperação e renovação de construções antigas e conservação e restauro do património arquitectónico.

LEB – Projectistas, Designers e Consultores em Reabilitação de Construções, Ld.ªProjecto, consultoria e fiscalização na área da reabilitação do património construído.

MC Arquitectos, Ld.ªProjectos de arquitectura.Levantamentos, estudos ediagnóstico.

PENGEST – Planeamento,Engenharia e Gestão, S. A.Projectos de conservação e restaurodo património arquitectónico.Projectos de reabilitação,recuperação e renovação deconstruções antigas. Gestão,Consultadoria e Fiscalização.

OZ – Diagnóstico, Levantamento e Controlo de Qualidade de Estruturas e Fundações, Ld.ªLevantamentos. Inspecções e ensaiosnão destrutivos. Estudo e diagnóstico.

ERA – Arqueologia - Conservação e Gestão do Património, S. A. Conservação e restauro de estruturasarqueológicas e do património arqui-tectónico. Inspecções e ensaios.Levantamentos.

A. Ludgero Castro, Ld.ªConsolidação estrutural. Construçãoe reabilitação de edifícios.Conservação e restauro de bens artís-ticos e artes decorativas: estuques,talha, azulejaria, douramentos e poli-cromias murais.

Alfredo & Carvalhido, Ld.ªConservação e restauro dopatrimónio arquitectónico.Conservação e reabilitação deconstruções antigas.

Alvenobra – Sociedade deConstruções, Ld.ªReabilitação, recuperação e reno-vação de construções antigas.

BEL – Engenharia e Reabilitação de Estruturas, S. A.Conservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação e renovação de CA. Instalações espe-ciais em PA e CA.

Augusto de Oliveira Ferreira & Cª., Ld.ªConservação reabilitação de edifícios.Cantarias e alvenarias. Pinturas.Carpintarias.

Antero Santos & Santos, Ld.ªConservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação e reno-vação de CA. Instalações especiaisem PA e CA.

Amador – Construção Civil e ObrasPúblicas, Ld.ªConservação , restauro e reabilitaçãodo património construído e instalações especiais.

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EM ANÁLISE

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Tema de Capa

se passa com grande parte da popu-lação, verificando-se que os seuscomportamentos relativamente à pai-sagem continuam dependentes dasua experiência pessoal neste âmbito(frequentemente muito limitada),bem como de escassas perspectivaspara o futuro (peso excessivo dosseus interesses imediatos e das cir-cunstâncias de momento). Estas ati-tudes são comprovadas no dia-a-diaatravés dos erros cometidos (e a quetodos assistimos sem reagir), de-monstrando um profundo desco-nhecimento do complexo sistemaque é a paisagem. A falta de sensibilidade e de envolvi-mento do comum dos cidadãos re-flecte-se obviamente sobre a paisa-gem, porque esta é o repositório deactuações de muitos intervenientesque abarcam todos os sectores deactividade, segundo uma dinâmicaextraordinariamente complexa nosdias de hoje. No nosso país assiste-sea uma situação particular, uma vezque de entre este grande número deintervenientes, é difícil identificar al-guém ou alguma entidade que cuideda paisagem – a ninguém se pedemresponsabilidades sobre os graves er-ros cometidos e de que resultam ele-vadíssimos custos sociais, ambientaise culturais.A componente patrimonial da paisa-gem é implicitamente reconhecida nalegislação portuguesa relativa ao am-biente e ordenamento do território3,

relação interpretativa e informativa."Também no artigo 14º - "Bens cultu-rais" – se subentende que aos "benspaisagísticos", embora não considera-dos como "bens culturais", são exten-síveis os princípios e disposições fun-damentais da presente lei.Através dos números 7 e 8 do artigo15º - "Categorias dos bens" – reconhe-ce-se indirectamente como de inte-resse nacional a categoria de "Paisa-gem Cultural" (Sintra, Douro Vinha-teiro e Vinhas do Pico já incluídas nalista do património mundial).A paisagem é ainda referida com re-lativa importância em outros artigosdesta Lei do Património Cultural,mas como "exterior" aos bens cultu-rais – artigo 12º (defesa da qualidadeambiental e paisagística como umadas finalidades da protecção e valo-rização do património cultural); arti-go 17º (concepção paisagística comoum dos critérios genéricos de apre-ciação do património); artigo 44º (pa-trimónio cultural imóvel como po-tenciador da qualidade ambiental epaisagística); artigo 52º (importânciado enquadramento paisagístico dosmonumentos); artigo 53º (linhasestratégicas de requalificação pai-sagística que devem constar nosplanos de pormenor de salvaguar-da); artigo 70º (a protecção e va-lorização da paisagem como com-ponente do regime de valorizaçãodos bens culturais).Em síntese, no que diz respeito à

bem como na Lei de Bases do Patri-mónio4. Cingindo-nos a esta última,há que reconhecer que não consideraexplicitamente a paisagem como um"bem cultural", embora admita indi-rectamente que tal possa acontecer.Assim, no artigo 2º - "Conceito e âm-bito do património cultural" – aplica-seclaramente a algumas paisagens oconteúdo dos seguintes pontos:"1 – Para os efeitos da presente lei inte-gram o património cultural todos os bensque, sendo testemunhos com valor de ci-vilização ou de cultura portadores de in-teresse cultural relevante, devam serobjecto de especial protecção e valoriza-ção. (...)3 – O interesse cultural relevante, desig-nadamente histórico, paleontológico, ar-queológico, arquitectónico, linguístico,documental, artístico, etnográfico, cientí-fico, social, industrial ou técnico, dos bensque integram o património cultural re-flectirá valores de memória, antiguidade,autenticidade, originalidade, raridade,singularidade ou exemplaridade. (...)5 – Constituem, ainda, património cul-tural quaisquer outros bens que como talsejam considerados por força de conven-ções internacionais que vinculem o Es-tado Português, pelo menos para os efei-tos nelas previstos.6 – Integram o património cultural nãosó o conjunto de bens materiais e imateri-ais de interesse cultural relevante, mastambém, quando for caso disso, os respec-tivos contextos que, pelo seu valor de tes-temunho, possuam com aqueles uma

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Azenhas do Mar Serra da Arrábida

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ASSOCIADOS GECoRPA

Brera – Sociedade de Construções e Representações, Ld.ªConstrução, conservação reabilitaçãode edifícios.

Construções Borges & Cantante, Ld.ªConstrução de edifícios.Conservação e reabilitação deconstruções antigas.

COPC – Construção Civil, Ld.ªConstrução de edifícios.Conservação e reabilitação deconstruções antigas. Recuperação econsolidação estrutural.

Cruzeta – Escultura e Cantarias,Restauro, Ld.ªConservação e reabilitação deconstruções antigas. Limpeza erestauro de cantarias, alvenarias eestruturas.

L.N. Ribeiro Construções, Ld.ªConstrução e reabilitação.Construção para venda.

GECOLIX – Gabinete de Estudos e Construções, Ld.ªConservação e restauro dopatrimónio arquitectónico.Reabilitação, recuperação erenovação de construções antigas.Instalações especiais em patrimónioarquitectónico e construções antigas.

CVF – Construtora de Vila Franca, Ld.ªConservação de rebocos e estuques.Consolidação estrutural.Carpintarias. Reparação decoberturas.

Edifer Reabilitação, S. A.Construção, conservação ereabilitação de edifícios.

MIU – Gabinete Técnico de Engenharia, Ld.ªConstrução, conservação ereabilitação de edifícios.Conservação e reabilitação depatrimónio arquitectónico.Conservação de rebocos e estuques epinturas.

Monumenta – Conservação e Restauro do PatrimónioArquitectónico, Ld.ªConservação e reabilitação deedifícios. Consolidação estrutural.Conservação de cantarias ealvenarias.

NaEsteira – Sociedade deUrbanização e Construções, Ld.ªConservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PA e CA.

Sofranda – Empresa de Construção Civil, S. A.Conservação e restauro do PA.Reabilitação, recuperação erenovação de CA. Instalaçõesespeciais em PA e CA.

Sociedade de Construções José Moreira, Ld.ªExecução de trabalhosespecializados na área do patrimónioconstruído e instalações especiais.

Quinagre – Construções, S. A.Construção de edifícios.Reabilitação. Consolidaçãoestrutural.

Poliobra – Construções Civis, Ld.ªConstrução e reabilitação deedifícios. Serralharias e pinturas.

Somague – Engenharia S. A.Serviço de Engenharia Global –Obras Públicas e Construção Civil

STAP – Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas, S. A.Reabilitação de estruturas de betão.Consolidação de fundações.Consolidação estrutural.

Tecnasol FGE – Fundações e Geotecnia, S. A.Fundações e Geotecnia. Conservaçãoe restauro do patrimónioarquitectónico. Conservação ereabilitação de construções antigas.

Somafre – Construções, Ld.ªConstrução, conservação ereabilitação de edifícios. Serralharias.Carpintarias. Pinturas.

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ASSOCIADOS GECoRPA

GRUPO IVFabrico e/ou distribuiçãode produtose materiais

BLAU – Comércio de Produtos eServiços para Construção Civil, Ld.ªDistribuição de produtos e materiaisvocacionados para o PatrimónioArquitectónico e ConstruçõesAntigas.

ONDULINE – Materiais de Construção, S. A.Produção e comercialização demateriais para construção .

Tecnocrete – Materiais e Tecnologias para a ReabilitaçãoEstrutural, Ld.ªProdução e comercialização de materiais para a reabilitação.

Tintas Robbialac, S. A.Produção e comercialização deprodutos de base inorgânica paraaplicações não estruturais.

Para mais informações acerca dos associados GECoRPA, das suas actividades e dos seus contactos, visite a rubrica “associados” no nosso site www.gecorpa.pt

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PERSPECTIVAS

A 1.ª Trienal de Lisboa, iniciativa dedivulgação cultural levada a cabocom rasgo e ambição inéditas entrenós no campo da Arquitectura e doUrbanismo, inundando as páginas dejornais e revistas, levou a opinião pú-blica a conhecer o que de melhor – eé muito – se tem feito entre nós nestesdomínios. E também algo do que sepoderá fazer. Estruturada por temas,acompanhada por conferências eapresentada em locais emblemáticos,assumiu-se como um dos aconteci-mentos maiores do ano no campo dacultura.Perante este êxito, uma questão ape-tece colocar: porque não fazer algo deidêntico no que respeita às interven-ções recentes no património edifica-do – que são também arquitectura e,em muitos casos, da melhor que setem feito entre nós nos anos mais re-centes? Com a sua comprovadaexperiência, com a responsabilidadeque lhe advém de representar umsector que tem dado provas de valiana concretização de projectos de ele-vado merecimento, porque não oGECoRPA, com a colaboração daOrdem dos Arquitectos, meter om-bros a tal iniciativa, para demons-trar que a excelência não se confinaàs construções de raiz?Longe vão os tempos em que aDGEMN se empenhou zelosamentena "reintegração na traça primitiva"dos nossos monumentos nacionais,salvando a muitos da ruína, mascaindo por vezes em excessos de pu-rismo que sacrificaram valiosos teste-munhos patrimoniais. Hoje, a visão émais ampla, sem deixar de ser rigo-rosa, e apoiada em convenções inter-nacionais. Trata-se, muitas vezes, nãosó de preservar a herança, mas de aadaptar a novos usos e exigências. Eos exemplos, entre nós, são já nume-rosos, envolvendo edifícios públicos

lação, o Palácio do Freixo e a Alfân-dega, no Porto, o Palácio da Pena, oPestana Palace e a estação do Rossio? Além de dezenas de outros, mais mo-destos, que se têm multiplicado peloPaís, como a Biblioteca Municipal Or-lando Ribeiro, em Telheiras. E até pa-lácios da antiga aristocracia, como ode Porto Covo, em Lisboa, requalifi-cado e reutilizado por uma empresaseguradora. E conventos, como o deSanta Clara, no Porto? E ainda aadaptação para o Ensino Superior,público e privado, de dezenas de edi-fícios, de Norte a Sul, como a EscolaSuperior Agrária de Ponte de Lima ea exemplar reconversão do patrimó-nio industrial da Covilhã? E até caste-los medievais revitalizados, como osde Óbidos, Montemor-o-Velho e Por-talegre – este no âmbito do ProgramaPOLIS, cujo sucesso é bem patente naextraordinária reconversão do con-vento de S. Sebastião.E, já agora, porque não referir aexemplar e inédita reconstrução dosPaços do Concelho de Lisboa, que foimuito para além da reparação dosdanos do incêndio? E as recentes re-conversões para multi-usos das pra-ças de touros de Lisboa, Elvas, Évorae Angra do Heroísmo?Num quadro em que a reabilitaçãourbana está finalmente na ordem-do--dia, depois de décadas e décadas dedesatenção e incúria, a exposição su-gerida revelaria à opinião pública, eaté aos profissionais, um conjunto derealizações que surpreenderia pelaquantidade e pela qualidade, afir-mando-se como valores a cultivar eenaltecer no campo da arquitectura eda construção. Aqui fica, pois, o desafio.

e particulares, e estendendo-se a todoo país. Todavia, não se lhes tem dadoa importância que merecem, conju-gando a preservação, ou até o resgateda pré-existência, com a qualidadedo que lhe é acrescentado, como ex-pressão da contemporaneidade.Não é possível, no quadro destas li-nhas, fazer um inventário dessas in-tervenções. Mas como não lembraralgumas pousadas, como as de Ar-raiolos, Flor da Rosa ou Bouro? E aqualificação de museus, como oGrão-Vasco, o Municipal de Almada,o Centro de Artes Visuais de Coim-bra e o de Angra do Heroísmo? Ecentros culturais, como os de VilaFlor e de Couros, em Guimarães, aCasa da Cerca em Almada e o deCascais? E teatros, como o Faialense,o de Braga, o Micaelense e o S. Luís eTaborda em Lisboa? E ainda edifíciosemblemáticos, como a Cadeia da Re-

A propósito do sucesso da trienal de ArquitecturaUm desafio

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA,Arquitecto

Remodelação do Rossio

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EM ANÁLISE

Pedra & Cal n.º 34 Abril . Maio . Junho 2007

Tema de Capa

dimensão patrimonial de paisagens,a lei portuguesa reconhece-a indirec-tamente, embora só tenha tomado ainiciativa de proceder à classificaçãode paisagens culturais ao propor ever aceite a inclusão de três delas nalista do património mundial. No en-tanto, há que reconhecer que tal clas-sificação constitui apenas o início deum processo que, para ser conse-quente, terá de passar por medidasde gestão que protejam e valorizem opatrimónio natural e cultural presen-te. Esta continuidade em termos degestão positiva e equilibrada será omais difícil de assegurar, tal como secomprova nos casos das paisagensculturais de Sintra, do Alto DouroVinhateiro e da Cultura da Vinha daIlha do Pico.Muito haverá a fazer neste campo,porque existem no país outras paisa-gens de reconhecido valor culturalrelevante, pelo menos em termosnacionais e de acordo com os critérioslegais acima referidos. Tais paisagensmerecem e exigem medidas de pro-tecção e valorização, até porque as di-nâmicas recentes de alteração dos sis-

dram e orientam as actuações nesteâmbito. Quanto a estes últimos sãode destacar a Convenção sobre a Pro-tecção do Património Mundial, Cul-tural e Natural (UNESCO 19726), bemcomo as "Orientations devant guider lamise en oeuvre de la Convention du Pa-trimoine Mondial" (Comité Inter-governamental para a Protecção doPatrimónio Mundial, Paris, 1998, comrealce para os parágrafos 24, 35 a 42 e57), Recomendação do Comité dosMinistros aos Estados membros rela-tiva à Conservação dos Sítios Cul-turais integrados nas Políticas dePaisagem (Conselho da Europa,1995), Recomendação 94/7 relativa auma Política Geral de Desenvol-vimento de um Turismo Sustentávele tendo em consideração o Ambiente(Conselho da Europa, 1994), Carta doPatrimónio Vernáculo Construído(ICOMOS, 1998)7.

temas agrícolas e florestais, de cons-trução de infra-estruturas, de expan-são das actividades turísticas, de ex-ploração de inertes, de expansão ur-bana e industrial, entre outras, cons-tituem ameaças objectivas ao seuvalor cultural, ecológico, estético esocio-económico.Para a maioria dos casos não sedefende para as paisagens culturaisuma protecção restritiva de qualquertipo de evolução. Pelo contrário, asua identificação e caracterização5

permitirá compreender a complexi-dade do sistema natura-cultura pre-sente e da sua evolução ao longo dostempos, donde deverão resultar pro-postas de ordenamento e gestão quepreservem os seus valores, ao mesmotempo que asseguram a sua sus-tentabilidade sócio-económica, ecoló-gica e cultural.O ordenamento e gestão das nossaspaisagens culturais deverão ter ematenção as normas legais nacionais(que incluem as convenções interna-cionais que vinculam o Estado Por-tuguês) mas, também, outros docu-mentos internacionais que enqua-

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NOTAS (1) Fry, G., s/d. The Landscape Character of Norway– Landscape Values Today and Tomorrow. In"Landscape – Our Home. Essays on the Culture ofthe European Landscape as a Task", Bas Pedroli(ed.): 93-99.(2) Decreto n.º 4/2005, de 14 de Fevereiro.(3) Nomeadamente através do Decreto-lei n.º 19/93,de 23 de Janeiro e posteriores alterações (Áreas Pro-tegidas).(4) Lei n.º 107/2001, de 10 de Setembro.(5) Existem no país trabalhos notáveis nesta área, po-dendo referir-se como exemplos:Fundação Rei Afonso Henriques, 2000. Candida-tura do Alto Douro Vinhateiro para inscrição nalista do Património Mundial (UNESCO).Marques da Silva, H. e Carqueijeiro, E. (coord.) etal., 2004. Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha doPico. Candidatura a Património Mundial. SecretariaRegional do Ambiente, Horta.Mendoça, N., 2006. Rio Côa. A Arte da Água e daPedra. Volume I – Da Nascente ao Moinho da Er-vaginha. Casa do Sul Editora, Centro de História daArte da Universidade de Évora.(6) Convenção aprovada para ratificação através doDecreto-lei n.º 49/79, de 6 de Junho.(7) Veja-se Feliú, Carmen A., Blanco, J. R. et al., 2001.Cultura y Naturaleza. Textos Internacionales. Asso-ciación Cultural Plaza Porticada, Satander.

ALEXANDRE D'OREY CANCELAD'ABREU,Arquitecto Paisagista,Universidade de Évora

Açores, Terceira, Achada

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EM ANÁLISE

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Tema de Capa

ENQUADRAMENTONas últimas décadas, o desenvolvi-mento económico mundial tem con-duzido a uma utilização intensa deenergia produzida a partir de recur-sos de origem fóssil (carvão, petróleo,gás natural, etc.). O carácter não re-novável desses recursos, a vulnerabi-lidade das instalações para a sua ex-ploração, processamento e distri-buição e o impacto ambiental da suaprodução e consumo, apontam a ne-cessidade de mudança de modelo dedesenvolvimento.Nesta perspectiva, surgiu, no final doséculo XX, o conceito de desenvolvi-mento sustentável, em resultado doreconhecimento de que o desenvolvi-mento económico tem que levar emconta o equilíbrio ecológico e apreservação da qualidade de vidadas populações.

preço do petróleo ao longo dossucessivos "choques", e dos custosassociados às emissões de CO2, opeso dos encargos com a energia nosorçamentos das famílias e das empre-sas tende a aumentar rapidamente.

CONTRIBUTO DOS EDIFÍCIOSA construção de edifícios é um dossectores da economia com grandeimpacto negativo sobre o ambiente.No entanto, se é grande o impacto daconstrução de edifícios, é maiorainda o impacto durante a sua ex-ploração ou utilização ao longo dosanos, sobretudo em termos do con-sumo de energia. Este impacto éagravado pelas deficiências de ori-gem e pela obsolescência dos edifí-cios e das suas instalações e sistemas(figs. 1 a 3)1. A situação em Portugal no que res-

Portugal está longe de se tornar numexemplo de desenvolvimento susten-tável. Apesar de ser um país com re-duzidos recursos, nomeadamenteenergéticos, é um dos países daUnião Europeia que utiliza de formamenos eficiente e racional a energia,na sua maior parte proveniente defontes não renováveis, originando,por isso, a emissão desproporcionadade gases de efeito estufa (GEE). A situação de Portugal no planoenergético é, neste momento, carac-terizada por uma forte dependên-cia do exterior e de fontes de energianão renováveis: 85 por cento de de-pendência externa no aprovisiona-mento energético; 60 por cento dedependência do petróleo; mais de 60por cento de electricidade consumidade origem fóssil.Dada a tendência ascendente do

Reabilitação Energéticados Edifícios

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Por melhores que sejam as tecnologias para conceber edifícios novos “amigos do ambiente”, nãoé possível continuar a construir indefinidamente, ... é indispensável e urgente reduzir os impactosambientais dos edifícios existentes através da sua reabilitação energética.

Fig. 1 – Degradação do revestimento da fachada Fig. 2 – Degradação acentuada da estrutura emmadeira da cobertura

Fig. 3 – Pormenor de instalações eléctricas novasnum edifício antigo

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EM ANÁLISE

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Tema de Capa

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peita ao contributo dos edifícios paraa situação energética é, globalmente,já bem conhecida: 28 por cento daenergia final e 60 por cento da ener-gia eléctrica consumida nos edifícios2. Embora as condições climáticas se-jam em Portugal relativamente fa-voráveis, a parcela da energia con-sumida nos edifícios é muito signi-ficativa (fig. 4). Apresenta, além dis-so, um rápido crescimento devido aoaumento das exigências de confortopor parte dos utentes.

INVERTENDOA TENDÊNCIA ACTUALExistem três vias principais (fig. 5) deconseguir o objectivo de reduzir osconsumos de energia nos edifícios, emparticular, a de origem fóssil, comoacontece, de resto, noutros sectores:evitar os consumos supérfluos (so-briedade), aumentar a eficiênciaenergética (menos kWh/unidade dePIB ou por habitante) e aumentar aparcela correspondente às energias re-nováveis. As três vias terão de ser se-guidas simultaneamente, se se preten-der conseguir efeitos em tempo útil.

SobriedadeSuprimir os desperdícios onerosos eabsurdos a todos os níveis da orga-nização da nossa sociedade e nosnossos comportamentos individu-ais. Apoia-se na responsabilizaçãode todos os agentes, do produtor aoconsumidor.

(cerca de 3,5 milhões de edifícios)constitui, ele próprio, um importanterecurso económico de que importatirar o melhor partido. Representa aprincipal parcela do capital fixo doPaís, que nele tem investidas váriascentenas de milhares de milhões deEuros. É irrealista pensar em demoliros edifícios existentes e substituí-lospor outros novos, mais eficientes emais amigos do ambiente. Por melhores que sejam as tecnolo-gias para conceber edifícios novos"amigos do ambiente", não é possívelcontinuar a construir indefinida-mente, ocupando mais e mais solovirgem e obrigando a construir maise mais infra-estruturas. A demoliçãodos edifícios existentes para dar lugara novos também é uma má soluçãoem termos de gestão do patrimónioconstruído e, no caso dos edifíciosantigos, contribui para a progressivadescaracterização e desvalorizaçãodas cidades. É, por outro lado, umamá solução em termos ambientais,não só devido à produção de entu-lhos, mas também devido à necessi-dade de utilizar novos materiais e con-sumir mais energia.

REABILITAÇÃO ENERGÉTICADOS EDIFÍCIOSÉ indispensável e urgente reduzir osimpactos ambientais dos edifíciosexistentes através da sua reabilitaçãoenergética. Daí a necessidade de pro-mover a gestão racional da energia

Eficiência energéticaReduzir o mais possível as perdas,quando se utiliza ou transforma aenergia. É, desde já, possível reduziros nossos consumos de um factor de2 a 5, utilizando as técnicas dispo-níveis.

Energias renováveisCobrir o saldo energético com ener-gias renováveis. São inesgotáveis e oseu impacto sobre o ambiente é re-duzido. Provêm de ciclos naturais deconversão da radiação solar, que é afonte primária de quase toda energiadisponível na terra.

ENERGIA E VALORIZAÇÃODO PATRIMÓNIO DO PAÍSJuntamente com os recursos huma-nos, o património natural e o patri-mónio histórico-arquitecónico cons-tituem a principal fonte de riquezado País. É essencial que sejam geridosde forma sábia e sustentável. O solovirgem é um recurso limitado e a suaocupação com construções e infra-es-truturas é, na prática, irreversível.Não é, portanto, possível continuar aurbanizar ao sabor do apetite dospromotores imobiliários. A cidadehistórica é, por seu turno, um recursolimitado e insubstituível, cujo valordecorre do seu carácter e da sua au-tenticidade. A substituição dos edifí-cios antigos por outros modernos nãocontribui em nada para esse valor.O edificado urbano corrente do país

Fig. 4 – Consumo deenergia final por sector(2003)

Fig. 5 – Esquema "Négawatts"(Fonte: http://www.negawatt.org)

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EM ANÁLISETema de Capa

nestes edifícios, gerando benefíciosque se podem repercutir, em sentidolato, a nível global e nacional e, emsentido restrito, a nível do utente e doconsumidor. A Directiva 2002/91/CE (Directivacomunitária sobre o desempenhoenergético de edifícios), o SCE (Sis-tema de Certificação Energética), oRCCTE (Regulamento das Carac-terísticas de Comportamento Tér-mico dos Edifícios), e o RSECE (Re-gulamento dos Sistemas Energé-ticos e de Climatização nos Edi-fícios) apontam já nesse sentido,contendo disposições dirigidas aosedifícios existentes. Por exemplo, arevisão do RCCTE, também apli-cável às grandes intervenções deremodelação ou de alteração na en-volvente ou nas instalações de pre-paração de águas quentes sani-tárias dos edifícios de habitação edos edifícios de serviços sem sis-temas de climatização centraliza-dos já existentes, define critériosmais apertados na qualidade tér-mica da envolvente, duplicando osrequisitos de isolamento térmico dereferência, introduzindo critériosmais exigentes para as pontes tér-micas, e tornando mais exigentesos requisitos de protecção solar dosenvidraçados. O novo RCCTE tam-bém inclui novas exigências no quese refere à qualidade do ar interior(garantia de condições mínimas deventilação) e ao modo de suprir asnecessidades de água quente (re-curso a sistemas solares) nos edifí-cios a construir ou a reabilitar3.A reabilitação energética de umedifício existente é, portanto, umaabordagem inovadora, que tem porobjectivo melhorar a qualidade tér-mica e racionalizar a gestão daenergia, ou seja, conferir a esse edi-fício uma eficiência energéticaidêntica à de um edifício novo parao mesmo fim.

ras (fig. 7), pavimentos sobre espaçosnão aquecidos e paredes (fig. 8) exte-riores; n reforço das propriedades dos vãosenvidraçados; n recurso a sistemas solares passivos(utilização da capacidade de arma-zenamento térmico dos materiais,ventilação natural, sistemas de som-breamento, dispositivos de captaçãode luz natural, etc.); n recurso a sistemas solares activos(solar térmico e solar fotovoltaico,etc.); n adopção de equipamentos e instala-ções de iluminação de baixo consumo;n entre outras. A hierarquização destas medidas e,por consequência, a estratégia da

MetodologiaA eficiência energética de um edifí-cio pode ser conseguida através devárias medidas correctivas desti-nadas a corrigir as deficiências poreles apresentadas, em termos de de-sempenho energético. Como o par-que edificado é muito heterogéneo,essas deficiências variam muito decaso para caso. É, portanto, neces-sário começar por caracterizar essedesempenho energético e diagnos-ticar correctamente as deficiênciasapresentadas.É preciso também, numa fase inicial,estabelecer a melhor estratégia de in-tervenção, isto é, aquela que melhorsirva os interesses do dono do edifí-cio, tendo em conta as exigências re-gulamentares. Depois, é necessário seleccionar entreas diversas medidas correctivas aque-las que permitem atingir o objectivopretendido com o mínimo de custos(os custos a considerar podem não sersó financeiros, mas também estéticos,culturais, ambientais, logo a reabili-tação energética também deve ser "ami-ga" do património e do ambiente). São várias as medidas concretas paraconseguir a eficiência energética deum edifício existente (fig. 6). As prin-cipais são:n reforço da protecção térmica dasáreas opacas do envelope (cobertu-

<– Reforço do isolamento das coberturas

<– Instalação de sistemas de sombreamento

<– Reforço das propriedades dos envidraçados

<– Reforço do isolamento pelo exterior em fachadas

<– Reforço do isolamento em pavimentos sobre......espaços não aquecidos

Fig. 6 – Medidas correntes para a melhoria do desempenho energético

Fig. 7 – Reforço do isolamento térmico em cober-turas inclinadas

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