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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O desenho na Educação Infantil: o olhar e as expectativas do professor Por: Daniele Silva Moraes Orientador Prof. Edla Trocoli NITERÓI 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O desenho na Educação Infantil: o olhar e as expectativas do professor

Por: Daniele Silva Moraes

Orientador

Prof. Edla Trocoli

NITERÓI

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O desenho na Educação Infantil

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em.... EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO

Por: Daniele Silva Moraes

3

AGRADECIMENTOS

A gradeço primeiramente a Deus pela a minha vida por

ter me dado força para eu ter chegado até aqui com

saúde e muita garra. Aos meus filhos que tiveram toda a

paciência do mundo, de não ter tido tempo para eles e a

compreensão do meu esposo de me ajudar nessa

caminhada.

4

DEDICATÓRIA

Dedico ao meu pai, mãe, amigo, meu esposo, familiares e aos meus filhos,.......

5

RESUMO

O tema partiu devido às observações como professora, que a partir dos

desenhos realizados pelos alunos da educação infantil podemos conhecer o lado

emotivo, afetivo, bem como o desenvolvimento no qual se encontra. O conhecimento

que a professora precisa para entender o desenho infantil.

6

METODOLOGIA

A metodologia deu-se a partir de referências virtuais e bibliográficas, bem como de observações direta como docente.

7

SUMÁRIO

Introdução 08

CAPÍTULO I - auto expressar-se: atividade de expressão 9-10

CAPÍTULO II - O fazer artístico 27

CAPÍTULO III – A criança, o professor e o desenho. 31

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

45 ÍNDICE

8

INTRODUÇÃO

Esse tema fala do desenvolvimento do grafismo: uma expressão da

emoção, onde vou pesquisar sobre o prazer no desenhar das crianças.

A vivência nesse tema vai partir de uma curiosidade de como as

crianças começam de certo risco até uma forma concreta.

Todo o desenvolvimento da criança deve ter, como ponto de

partida: a sensibilização e a experimentação. O que a criança é, o que sente,

sabe e aprende através dos sentidos e dos contatos diretos.

Desde a educação infantil é importante apresentar ás crianças

proposta de trabalho que enriqueçam o desenvolvimento infantil de forma

bastante concreta.

Com essas propostas de atividades de percepção: amostragens,

conversas, explicações, pesquisas, experimentações, vivências e várias outras

propostas que facilitem a aprendizagem.

Quanto mais a criança vivencia sensorialmente coisas que tem para

aprender, mais fácil será para ela formar seus conceitos cognitivos.

O objetivo é pesquisar os estágios de desenvolvimento do grafismo

infantil e reconhecer as fases pela qual a criança passa através do seu

grafismo!

A metodologia vai ser feita através de pesquisas bibliográfica,

desenhos que demonstram o desenvolvimento do grafismo e entrevistas com

professores.

É de grande a responsabilidade do professor na construção de um

ambiente favorável ao desenvolvimento do desenho. É certo que o prazer

encontrado pela criança no desenho deixará de existir se não forem permitidas

as explorações de suas funções de seu potencial criativas que temos do

desenho da criança, assim como o diálogo que estabelecemos com ela a

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respeito da sua produção gráfica. Além disso, é preciso discutir as

oportunidades concretas para o fazer artístico na educação infantil.

Capítulo I Auto expressar - se: atividades de expressão

Desde bem pequena a criança tem necessidade de se expressar. Uma

vez que a linguagem infantil está em formação e a escrita longe de ser

dominada, as atividades artísticas tornam-se a forma mais fácil e sincera de

comunicação de sua atividade mental.

As aulas de artes na pré-escola não são vista para formar artistas -

mirins, nem a ensinar a criança a desenhar ou pintar ‘’feio’’ ou ‘’bonito’’,

segundo padrões estabelecidos pelos adultos. O produto artístico infantil tem

valor não pela sua beleza e conteúdo, mais simplesmente porque é uma

expressão natural e espontânea. Por isso não devemos estabelecer formas

estereotipadas ou incentivas a copia de modelos para obter ‘’bons resultados’’.

A experiência não está no resultado do trabalho realizado, mas no

íntimo de cada criança.

Pintar desenhos mimeografados ou xerografados, com o intuito de

ensiná-la a colorir, para desenvolver sua coordenação motora ou até mesmo

para ‘’distanciá-la’’ por certo tempo, pode parecer comum, mas resulta na

assimilação de modelos copiados, muitas vezes contrários á realidade, que

podem inibir a auto-expressão. Mais da metade das crianças expostas aos

cadernos com desenhos prontos para colorir sofreram inibições na sua

criatividade e na sua autonomia de expressão, tornando-se dependentes

desses modelos.

Em geral a criança logo se esquece do que faz. Depois de algum

tempo, ao ver novamente seu trabalho, ela o reconhece e procede à avaliação

de próprio resultado, assim como o dos colegas. Seu produto foi valorizado.

10

O professor jamais deve forçar seus alunos a realizarem um trabalho

que não queiram ou mesmo insistir para que o façam de uma maneira diferente

da que eles querem. Em nada ajuda dirigir a mão da criança para acertar o

traço ou corrigir desproporção que podemos descobrir o que tem maior valor

emocional para a criança.

Os professores não deveriam permitir a ansiedade em obter dos alunos

resultados que agradem aos adultos destrua a pureza e a beleza de um

desenho infantil expressivo.

Para as feridas concepções bastavam às técnicas ou as compreensões

do outro. Os meios, os recursos, o amor bastavam para que tudo fosse bem

com o ensino. O próprio conjunto de homens, mulheres e crianças ligadas ao

ensino, porque nele militam como profissionais ou porque estudam ou querem

estudar, era visto como recursos, por uns, e indivíduos, por outros. Nessas

concepções, a formação dos profissionais do ensino era vista

predominantemente como treinamento, como capacitação em tecnologias ou

psicologias, como aprender a ser etc. (Alves 1986, grifos meus).

Há desenhos difíceis de serem entendidos, pois nos primeiros anos

não há, nem deve haver, intenção realista nos trabalhos. A abordagem do

professor deve ser cautelosa, para melhor entender o desenho do aluno sem

magoa-lo. Nunca se deve perguntar já sugerindo a resposta: ‘’Isto é um gato?’’

Pergunte simplesmente ‘’O que desenhou?’’ Ou então deixe que a criança se

manifeste quando quiser. Conversando, o professor fará o aluno pensar no seu

trabalho, sem interferir nele.

1.1 A criança na pré-escola

Para poder planejar com adequação as atividades de auto-

expressão da criança, é importante que o professor conheça sua evolução

gráfica.

No estágio sensório-motor – rabiscação segundo Piaget, dá-se entre 0

e 2 anos, tendo como características...

11

• Não tem habilidade adquirida;

• Perceber meio com simplicidade e subjetividade;

• Imitação crescente;

• Pesquisa do movimento;

• Curiosidade e exploração de materiais diversos;

• Coordenação motora grossa;

• Reflexo de sucção (leva tudo á boca).

A criança ainda percebe que é o lápis que risca o papel, pois está mais

preocupada com os movimentos bons e explorações que pode fazer com os

materiais novos que está conhecendo. São o início da fase evolutiva do

grafismo, a que chama rabis cações.

As atividades de artes podem então ser iniciadas como proposta de

experimentação, pesquisa e conhecimento de materiais. Explora diferente

papeis nascer em tintas e colas com as próprias mãos, rabiscar com lápis,

estaca, trabalhar com argila, são atividades recomendadas para esse estagio.

No estágio pré-operacional – garatuja (2 a 4 anos)

• Pensamento intuitivo: a criança pensa conforme percebe;

• Intensa exploração sensorial e motora;

• Aumento rápido do vocabulário (adoram cantar);

• Permanecem poucos tempos atentos e concentrados;

• Compreendem melhores suas experiências dramatizando situações

vividas;

• São desembuçados e espontâneos.

Na evolução gráfica segunda Lowenjeld (1990) é a fase das garatujas,

que se classificam em três categorias principais:

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• Garatuja desordenada: Anda muito próximo da rabiscarão, do treino

motor. A criança rabisca o papel em diferentes direções, principalmente na

vertical e na horizontal. Os traços de seus desenhos variam muito: ora fracos e

concentrados, ora fortes e dispersos pelo papel. Às vezes não saem de um

mesmo lugar, até que furam o suporte. Outras vezes riscam uma folha inteira,

misturando tudo que já experimentaram.

Com o treino aparecem ensaios repetidos de pequenas células ou

pequenos círculos ainda sem intenção, significado ou expressão. É a

exploração de o movimento circular feito com todo o braço, que varia do

tamanho de um pequeno ponto até o circulo que ocupa a folha toda.

A criança nessa fase pode apresentar variações de cores em seus

desenhos, mas apenas como fontes, que ‘’aparecem’’ mais.

Garatuja controlada: criança controlando um pouco mais seus

movimentos transformam os pequenos círculos em pessoas a animais, dando-

lhes cabelos, olhos e membros (em geral braços). A atividade prática vai

ganhando forma, pois para a criança aquilo que desenhou começa a ter

sentido. O desenho deixa de ser simples expressão motora e começa a

representar coisas de sua realidade, em geral, figuras humanas.

No rosto, a presença dos olhos e boca mostra em geral caricaturas

alegres. Depois vêm os cabelos e o nariz. O desenho das orelhas só aparece

mais tarde, quando a criança assimila sua função e importância.

O mesmo tipo de célula pode representar uma pessoa ou animal. A

criança os diferencia, dando nomes ao seu desenho. Quando isso não

acontece espontaneamente, não se deve questiona-la a respeito, pois ás vezes

seu desenho volta a ser puro treino gráfico o.

Garatuja instrucional: Aparecem nos desenhos outros elementos além

da figura humana, quase compondo uma cena, ainda rudimentar. O desenho

parece feito de rabiscos, mas tem um significado intrínseco.

Enquanto desenha, a criança fala e conta história, explicando seus

rabiscos de diversas maneiras. Devemos incentiva-la a esse pensamento

13

imaginativo, aumentando suas referencias a partir de seu desenho e enquanto

o executa.

No final dessa fase a criança começara a misturar aos seus desenhos

uma escrita fictícia, traçada em forma de curvos ou pequenos elementos

parecidos com os nossos signos. É uma imitação de nossa escrita que para

elas representa uma espécie de magia ao alinhar signos, liga-los entre si e

estão certas de ‘’dizer’’ ou comunicar alguma coisa com isso.

No estágio pré-operacional – pré-esquema (4 a 6 anos)

• Pensamento intuitivo ainda forte;

• A fase dos porquês,

• Ajuda por imitação ou para agradar,

• Intensa exploração sensorial e motora;

• Ação voltada para resultados concretos;

• Agilidade e maior controle muscular;

• Desenvolvimento da coordenação motora fina;

• Expansão do vocabulário;

• Maior poder de concentração;

• Intensa formação de conceitos;

• Gosto pelas atividades em grupo;

• Desenvolvimento da autocrítica

Fase pré-esquemática (4 e 5 anos). A criança começa a representar

coisas de sua realidade e a exprimir suas fantasias, desenvolvendo vários

objetos ou o que imagina deles.

O trabalho torna-se mais completos, uma vez que elas já conhecem o

valor representativo do desenho e começam a utiliza-lo como expressão do

próprio pensamento, da forma como vê em, contam ou agem.

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Elementos soltos (próprios da fase) indicam que a criança ainda não

está apta a relacionar letras e sons para poder aprender a ler e crescer. Força-

la a isso pode prejudicar sua aprendizagem futura.

Nesta fase, a criança segura o lápis com mais firmeza, mas apresentam

algumas dificuldades para fazer traços. É a melhor fase para os exercícios que

desenvolvem a coordenação visual motora.

O desenho da figura humana é bastante completo e variado em suas

formas.

A criança não desenha exatamente o que vê, mas o que, no momento,

tem mais valor emocional ou carga afetiva para ela.

A criança até cinco anos utiliza as cores como quem brinca, ora com

outra.

Não usa as cores da realidade, mas aquelas de que gosta mais.

Na fase esquemática (entre 5 e 6 anos). É a conquista do conteúdo da

forma. Os desenhos revelam então realismo lógico (organização especial) e

descritivo (cheio de detalhes). As figuras agora se relacionam umas com as

outras.

As crianças desenham a linha da terra e o céu, dando maior distância

onde as coisas, ocupam seus lugares certos. Isso mostra que a criança

também é capaz de relacionar letras, vinculando-as ás palavras, indicando que

estão prontas para aprender a ler.

O personagem aparece em ‘’ situação’’, ou seja, nem lugar definido, e os

animais, quase sempre de perfil, tornam-se frequentes na produção infantil.

Existe uma preocupação maior em terminar o trabalho e escrever o

próprio nome, em letras grandes.

É o apogeu do desenho infantil, com a presença constante de elementos

novos. Devemos incentivar a autoconfiança e a criação, proporcionando

atividades bastante variadas, que motivem novos temas, e descartando as

técnicas dirigidas ou os ‘’ enfeite-nos’’, que só valorizam o produto final.

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A relação cor-realidade começa a aparecer, pois as crianças as

conhecer e denominam. Acontece com frequência a representação num só

desenho de vários aspectos impossíveis de serem vistos simultaneamente.

As diferenças individuais, o tipo de estímulo e a época em que a

criança começa a ser estimulada agrupam crianças heterogêneas quando ao

desenvolvimento gráfico. É comum encontrarmos, por exemplo, numa classe

de pré-escola (crianças entre 4 e5 anos) desenhos das fases da garatuja

controlada, da garatuja intencional e do pré-esquema. O professor deve

respeitar essas individualidades sem comparar os trabalhos de seus alunos.

1.2 O desenho como linguagem

O desenvolvimento procura desvendar o seu processo de criação.

Para falar do desenho, sentir a necessidade de uma linguagem que fosse

também plástica, povoada de imagens, relatos, analogias...

Bem sabemos que a palavra desenho tem originalmente um

compromisso com a palavra desígnio. Ambas se identificavam. Na medida em

que restabelecermos, efetivamente, os vínculos entre as duas palavras estarão

também recuperando a capacidade de influir no nosso viver.

A criança desenhando está afirmando a sua capacidade de designar.

Desenha brinquedos, brinca com os desenhos. A criança desenha para

falar de seus medos, suas descobertas, suas alegrias e tristezas. Mesmo sem

ter uma compreensão intelectual do processo, está modificando e sendo

modificada pelo desenhar.

Se a criança desenha para contar sua história, encontramos também a

criança que não desenha para não contar. Pela observação, pude constatar

nesta criança uma dificuldade ao nível emocional e que na medida em que foi

sendo superado o desenho apareceu: primeiro a figura humana, depois a casa

e ai sem parar as figuras foram se construindo.

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O que se pode perceber é que no ato de desenhar, pensamento e

sentimento estão juntos. Pois também é possível constatar que as crianças,

com algum comprometimento a nível intelectual, apresentam acentuado

comprometimento no desenho.

O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como

possibilidade de falar marca o desenvolvimento da infância, porém em cada

estágio, o desenho assume um caráter próprio.

Estes nomes variam sempre: o que era um elefante, dali a instantes

pode ser um carro: contudo está sempre presente a intenção de dizer algo.

Agora já podemos considerar o desenho como linguagem.

É um jogo simbólico: o vínculo entre significante e significado

permanece totalmente subjetivo, rabisco nomeado.

Nesta fase de jogo simbólico a criança se expressa por analogia. Esta

analogia aliada à liberdade do gesto gráfico é o que o artista contemporâneo

luta por reconquistar.

Como encenação do corpo que se exprime

e se solta no gesto o rabisco possui valor

dinâmico. Portanto, não pensamos como

certos autores para os quais a criança está

voltada unicamente para a figuração, que

muitas vezes não passa de justificação e

disfarce para o prazer que ela sente em

manejar formas, cores e materiais.

(Florence de Meredieu,p.118).

Acompanhar trabalhos, em que adultos e crianças desenhando juntos,

cada um conserva o seu próprio traço. Nestes casos os adultos não se

apresentavam como modelos.

A criança pensa concretamente, por imagem e o seu desenho é

sempre concreto, nunca abstrato. Os ‘’desenhos pedagógicos’’- usados por

alguns professores em aula - assim como muitos dos desenhos encontrados

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nos livros didáticos são bastante simplificados, e atendem a uma ideia abstrata

do objeto. Para o adulto eles são compreensíveis, mas não para desenho vai

perdendo em significação para a criança. ‘’Linguagem carregada de

significativo. ’’

Augusto Rodrigues diz que ‘’julgar que o desenho de uma criança

possa ser melhor que o da outra é tão inconsequente quanto julgar a qualidade

da alegria ou da felicidade de duas crianças que brincam’’.

O importante é que cada um possa reencontrar o seu próprio canal

expressivo: desenhar com as palavras, com a música, com as cores, com o

gesto. E também se aventurar em outras linguagens, recriando seu espaço

lúdico, se afirmando como ser humano.

1.3 A evolução do desenho

Toda criança desenha. Mesmo que não seja adequadamente

instrumentada para tal, a criança pequena quase sempre encontra uma

maneira de deixar, nas superfícies, o registro de seus gestos: se não tiver

papel, pode ser na terra, na areia, ou até mesmo na parede de casa; se não

tiver lápis, serve um pedaço de tijolo, uma pedra, ou uma lasca de carvão.

O olhar que o professor dirige ao desenho da criança apoia-se nas

concepções que ele tem sobre o desenho enquanto linguagem, ideias

constituídas na sua própria história e experiência com a linguagem. Apoia-se

também em seus conhecimentos sobre as possibilidades do grafismo infantil,

noções adquiridas durante a sua formação e ao longo de sua experiência

profissional. Todo esse conhecimento traduz-se em expectativas com a

produção infantil, que definem o diálogo que o professor estabelece com a

criança sobre seus desenhos, interação que pode ser marcada pelo incentivo,

pela advertência, pela indiferença.

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Percebemos que o desenho ‘’perfeito’’ é

também aquele que se aproxima mais da

estilização padronizada do real; é o que nos

indica a satisfação do professor diante da

reprodução de modelos divulgados pelos

manuais de ‘desenho pedagógico’, diante

das clássicas estilizações infantis, como o

desenho da casinha e o da figura humana, e

ainda ante o cumprimento de procedimentos

padronizados, como o preenchimento de

área previamente contornado e a ocupação

‘ homogênea’ da folha de papel’’.

É grande a responsabilidade do professor na construção de um

ambiente favorável ao desenvolvimento do desenho infantil. É certo que o

prazer encontrado pela criança no desenho deixará de existir se não forem

permitidas as explorações de suas funções expressivas e as realizações de

seu potencial criativas. Precisamos repensar as expectativas que temos do

desenho da criança, assim como o diálogo que estabelecemos com ela a

respeito da sua produção gráfica. Além disso, precisamos discutir as

oportunidades concretas para o fazer artístico na pré-escola.

Conforme Luquet (1913 e 1969), qualquer que seja o fator5 que

evoca a representação de um objeto e a intenção de desenha-lo, o desenho da

criança nunca é uma cópia fiel dos objetos. Isso porque a criança desenha

conforme o modelo interno, a representação mental que possui do objeto a ser

desenhado. Tal modelo é traduzido para uma linguagem gráfica de duas

dimensões, tomando a forma de uma imagem visual.

A criança busca representar no desenho sua visão de mundo e, para

tal, toma o real como referência. Real este que não esta dada desde sempre,

mas que, segundo Piaget, é reconstruído pelo sujeito para apropriar-se dele.

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Em suma, a representação no desenho da criança é abordada neste

trabalho do ponto de vista do sujeito que realiza um esforço de projeção, de

correspondência de uma ação gráfica a um objeto, e um trabalho de reflexão,

de transformação, de recriação, de interpretação desse objeto em uma

linguagem de duas dimensões.

Na análise da relação que a criança estabelece entre o objeto, e o

desenho, Piaget constata que, nesse período, não há preocupação da criança

em representar o espaço no desenho. O desenho é um jogo de exercício, onde

ela vai expressar gestos motores amplos.

Assim, a representação gráfica do espaço no desenho requer a

organização das vivencias espaciais da criança e a capacidade de poder

reconstitui-las mentalmente, para, só então, poder expressar tais

representações numa linguagem.

A criança começa a diversificar as formas através da diferenciação

de tamanho de seus elementos, de orientação e de cor, bem como pela

inclusão de detalhes, de combinações novas e de ação entre as formas.

Gardner observou, em suas pesquisas, que as crianças atribuem

diferentes papéis ao desenho. Há crianças que são mais visualizadoras e que

desenham de modo a cena representada ‘’diga tudo’’, e crianças mais

verbalizadoras, onde o desenho serve de ‘’pano de fundo’’ para uma narrativa.

As situações de desenho incluíam tanto atividades espontâneas

como controladas, de produção e de interpretação. Foram realizados, ao mais

todos sete conjuntos de situações de desenho, com uma ou mais atividades,

assim especificadas: (1) desenho espontâneo; (2) desenho cópia; (3) atividade

de reunião; (4) atividade de completar (diálogo gráfico ou jogo do rabisco); (5)

atividade de inversão; (6) atividade de leitura (de trabalhos das crianças, de

obras de arte e da história, registro de vivências, desenho de observação, jogo

gráfico).

O desenho espontâneo propicia conhecer o universo simbólico,

temático e conceitual da criança. Por se tratar de uma atividade não dirigida, o

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sujeito é quem determina o que vai realizar graficamente, segundo interesses e

preocupações próprios.

Essa modalidade de situação de desenho é amplamente utilizada

em psicologia para conhecer a vida afetiva, a psicomotricidade, a inteligência e

a personalidade da criança.

(Analice Dutra pilar) desenho e construção de conhecimento na criança.

(...) quanto mais veja, ouça e

experimente, quanto mais apresenta e

assimile, quanto mais elementos da

realidade disponham em sua experiência

tanto mais considerável e produtiva será,

como as outras circunstâncias, a atividade

de imaginação (Vygotsky, 1990, p.18).

A construção de imagens e o desenvolvimento das etapas

operacionais do pensamento artístico das crianças, presentes um seu grafismo,

jogos e brincadeiras, encaminham. Nos para compreender mais profundamente

a linguagem da arte na vida infantil.

A criança reflete continuamente suas impressões com as coisas

percebidas. Essas percepções podem se relacionar com uma posterior

representação, ou não.

Os primeiros trabalhos da criança, como consequência e extensão

de um gesto que deixa marca vigorosa em uma superfície, são seus rabiscos.

Mas, como diz Wallon , existem diferentes manifestações entre gesto e seu

traço. Para ele, a origem do desenho está no gesto, mesmo quando o traço

tenha começado de modo casual:

21

Isso supõe uma regulação suficientemente

exata do gesto ou, pelo menos, uma

intenção correspondente, isto é, o

sentimento de ser capaz dele.

Sabemos que a precisão do gesto está ligada á possibilidade, para os

segmentos dos membros que o executam, de encontrar apoio bastante firme

no resto do corpo. Esta aptidão está ligada ás funções de equilíbrio e não é,

sem dúvida, acaso, se as primeiras garatujas da criança pertencem á mesma

época que seus primeiros passos.

Mas, por que as crianças continuam a rabiscar, e quando é que os

rabiscos dão origem ao desenho?

No início, a criança pode estar rabiscando

pelo prazer de rabiscar, mas, á medida que

vai dominando o gesto e percebendo

visualmente que entre o gesto e as marcas

que faz existe uma ligação, seus atos

passam a ser mais intencionais.

Faz linhas contínuas ou interrompidas, curvas que se entre cruzam,

rabiscos enovelados ou simplesmente pequenos marcas que se contrastam na

superfície. A partir deste momento também sucede que ela encontra nos

rabiscos algo a representar. Por outro lado:

Ao se realizar, ‘’o rabisco’’ torna-se para a criança um objeto entre

outros, e um objeto privilegiado, porque é o objeto em vias de ser criado pela

própria criança. O rabisco individualiza-se, condensa-se em alguma coisa que

se destaca sobre um fundo.

O rabisco ocupa um lugar que o gesto da criança pode

tender a dilatar ou a concentrar ou mesmo modificar,

pois acontece que a criança se afasta de um primeiro

rabisco, para justa por – lhe outro. Assim se realizam

distribuições diversas no espaço, em que cada parte

pode reagir mais ou menos sobre as outras.

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É como um começo de modulação espacial, em que as

combinações de cheio e de vazio bem podem começar por ser fortuitas, mas

são destinadas a realizar um jogo mais ou menos sobre as outras

diversificadas, que se poderá reencontrar sob formas. Mas são destinadas a

realizar um jogo mais ou menos diversificado, que se poderá reencontrar sob

formas mais evoluídas do desenho ( wallon, 1968, p. 196)

Dessa maneira pode-se dizer que as representações gráficas das

crianças surgem simultaneamente ás suas representações gestuais. Para

Vygotsky, existe uma ação evidente entre elas.

(...) os gestos estão ligados á origem dos signos escritos, como no domínio dos rabiscos das crianças. Em experimentos realizados para estudar o ato de demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos; os traços constituem somente um suplemento a essa representação gestual. Uma criança que desenha o ato de correr começa por demonstrar o movimento com os dedos, encarando os traços e pontos resultantes no papel como uma representação do correr (Vygotsky, 1989, p. 121).

Da mesma forma, continua o autor, ‘’no desenho de conceitos

abstratos e complexos, as crianças comportam-se da mesma maneira: elas

não desenham, indicam, e o lápis meramente fixa o gesto indicativo’’.

Concluindo, Vygotsky estabelece a profunda relação pelo desenho,

que resulta na representação simbólica e gráfica.

Os estudos de Wallon e Vygotsty que

encaminham concepções interacionistas da

produção do conhecimento da arte são,

23

portanto, fundamentais para compreender-

se como a criança faz a construção deste

saber e, no caso do desenho,

principalmente pela ênfase na

representação e interação social. Mas, além

desses autores, também são importantes

para os estudos dos grafismos infantis as

abordagens de Luquet, Piaget, R. Arnheim,

V.Lowenfeld, Herbert Read, Arno Sten e

Rhoda Kellog, entre outros; assim como os

anteriores, eles também procuraram

explicar o processo artístico da criança e

outros condicionamentos que vêm

influenciando o ensino de arte: são as

teorias mais centradas nas individualidades

do desenvolvimento das potencialidades

expressivas, perceptivas e cognitivas.

Para as teorias que valorizam a auto-expressão da criança, a arte

não pode ser ensinada, pois a expressidade infantil tem um correspondente

com a evolução física, psicológica, cognitiva. Os autores principais desta teoria,

Lowenfeld (1947) , Read (1943) e Kellog (1969), consideram o professor de

arte apenas como um estimulador, um guia, que deve ajudar a criança a

expressar-se. O ambiente da atividade artística deve ser estimulante e

desafiador.

Fundamentados em posicionamentos humanísticos, os autores

preocupados com a auto-expressão consideram que a função da arte na escola

é a de possibilitar a atividade criadora, mas entendida de forma ampla.

A arte enquanto processo criador é o elo que faz o ser humano

ligar-se á vida. E a criança vai fazer suas produções artísticas e descobrir a

alegria da criação de arte quando o ambiente ou as pessoas souber motivá-las.

Para as teorias com base na cognição artística da criança, os seus

desenhos são considerados resultantes da compreensão que têm do mundo e

das expressões de seu desenvolvimento intelectual. Daí a ideia de que a

24

criança, como sujeito ativo, desenha o que sabe o que ela conhece de si

própria e do mundo ao seu redor, e não apenas o que ela vê. De acordo com o

pensamento cognitivista a criança vai desenvolvendo conceitos á medida que

vai crescendo e adquirindo novas experiências. Luquet (1913) e Piaget (1955)

chegam a explicar as diversas ordens de representações gráficas das crianças

como etapas da formação dos conceitos: assim, segundo Luquet, após o

estágio da garatuja, a criança passaria pelo estágio de ‘’incapacidade sintética’’

(crianças com idades entre 3-4 anos), caracterizada pelos aspectos

espontâneos e com intenção de representação, mas sem correspondência com

a percepção (figuras humanas representadas por um círculo e traços, por

exemplo); depois viria o estágio do realismo intelectual, quando a criança já é

capaz de chegar á síntese gráfica, desenhando tudo o que está presente no

objeto, tanto os de ordem visível como os invisíveis, e até ‘’ reproduzir no

desenho não só os elementos concretos abstratos, mas mesmo os elementos

abstratos que só têm existência no espírito do desenhado (Luquet,1969,p.160);

finalmente, o estágio do ‘’realismo visual’’(por volta dos 8-9 anos), quando os

desenhos mostram preocupações de ordem espacial (perspectiva),

Proporções, medidas etc. Por esta relação entre a representação gráfica e a

formação de conceitos, a construção de círculos significaria um caminho para a

abstração.

Rudolf Arnheim (1980), por sua vez, também traz uma importante

contribuição, á luz das teorias perceptuais. Para este autor, também é possível

acompanhar-se a produção gráfica infantil desde os primeiros momentos,

embora as construções sejam consideradas mais sensório-motoras do que

representativas. Para Arnheim,a criança apreende as estruturas globais

(gestálticas) das coisas, e ela desenha o que vê, o que é percebido, e seus

primeiros desenhos não têm por objetivo uma representação.

Segundo Arnheim, não há relação fixa entre a idade e o estágio de

seus desenhos, que refletem variações individuais em proporção ao

crescimento artístico.

Embora essas teorias se encaminhem diferentemente para explicar

a trajetória da produção plástica infantil, elas são importantes, tanto pelo

25

caráter histórico das abordagens, como também pelas proposições que

levantam aspectos significativos sobre a produção do conhecimento pela

criança. Ao compara-las encontramos pontos em comum entre elas,

principalmente.

No que se refere ao surgimento e valorização da expressão gráfica

e comunicação da criança. Arnheim, assim como Wallon e Vygotsky,

concebem a presença ou indícios de movimento expressivo já nos primeiros

contatos da criança com o grafismo. Como eles estão muito atentos às raízes

da estrutura plástica, esses autores observaram a existência de algumas

configurações que emergem dos rabiscos e depois estão presentes nas

posteriores representações. Eles indicam início das elaborações infantis às

formas simples (linhas com direções, círculo, oval etc) que, combinando-se,

originam um vocabulário próprio, com referências e signos constantes: por

exemplo, sol, boneco, casa etc.

Todos os autores vistos procuram desvendar os indícios comuns

nas expressões infantis. No entanto, poucos aprofundam os estudos sobre as

influências do meio e da cultura, que afetam diferentemente as crianças de

várias idades, como Wallon o faz; tampouco se preocupam em revelar por que

as crianças podem ter evoluções artísticas diferentes, mesmo quando

pertencentes á mesma faixa etária, região ou classe social. Além disso, muitas

das teorias não aceitam as experiências sensoriais, e, por isso, não podem

justificar as qualidades de visualidades manifestadas por algumas crianças em

seus desenhos e pinturas, nem como elas associam o ato perceptivo ás suas

representações.

O conjunto dessa abordagem nos mostra que a ação de desenhar

na infância reúne vários elementos que podem ser sintetizados nos aspectos

motores, perspectiva e de representação e é mais complexa do que pensam

muitas pessoas.

A superfície material o papel, local onde as crianças de mais idade

assinalam seus primeiros contatos com a expressão gráfica, não está á

margem de toda esta fantástica experiência que é o ato de desenhar. Sua

forma, seu tamanho, sua cor, sua textura, os limites de suas bordas entram em

26

conflito com a intenção de registrar gestos (as crianças pequenas) e formas (as

maiores).

Wallon expõe todas as interações espaciais como parte da

constituição da imagem mental e da representação infantil, ao longo de seu

processo evolutivo:

A distribuição do rabisco neste espaço delimitado, representado pela

folha a preencher, pode ser extremamente variável. Pode parecer qualquer

coisa; pode ser relativa aos próprios rabiscos, mas pode ser marginal, central,

simétrica, isto é, que o espaço não se confunde com os objetos começam

também a existir, o que é uma etapa nova.

Na realização mental do espaço para a criança. O espaço

enquadrado, porém, não faz mais que produzir a utilização de uma superfície

como tal; recorta o ambiente um centro espaça que se lhe torna

completamente distinto (...).

Mais as duas próprias dimensões do quadro suscitam problemas:

alta e baixa, direita e esquerda, são dimensões neutras? Sem dúvidas não

mais que no espaço ambiente, em que estas duas dimensões têm valores

fisiológicos, motrizes, afetivos, usuais e simbólicos diferentes (Wallon,1968,

p.197-8)

As primeiras linhas rabiscadas, as primeiras organizações formais

– circulo, oval, quadrado, linhas retas, curvas, sinuosas etc. - vão se

constituindo nos primeiros registros de uma representação do objeto, de uma

forma esquemática, como é o caso da figura humana. A criança inicia com

formas circulares ou ovais ás quais acrescentam linhas que vão se ajustando á

concepção de pernas, braços. Como nesta fase as crianças não se apoiam em

modelos, mas desenham segundo um processo imaginativo e simbólico, elas

ainda podem subtrair ou acrescentar aos desenhos outros elementos como

braços, cabeças etc.; sem que com isso haja uma ruptura com a sua

concepção de realidade. E essa representação esquemática humana é

entendida como primeiro indício de uma concepção mais estrutura de si própria

e dos adultos que com ela convivem.

27

Capítulo II O fazer artístico

A escrita exerce verdadeiro fascínio sobre a criança. Isso acontece

bem antes de ela própria poder traçar verdadeiros signos. É uma parte do

universo adulto que por ser secreta, ganhar prestígio e poder.

Muito cedo, desde os três ou quatro anos, ela tenta imitar a escrita

dos adultos. Na escola ela inicia uma série de movimentos em gestos, em

trabalhos de artes, em exercícios no papel, que têm por finalidade desenvolver

seu adestramento manual preparatório para a escrita. Esses movimentos e

exercícios são chamados escriptográficos, gramofones, ou também exercícios

de coordenação motora ou controle motor.

Eles prepararam a direção correta para o movimento de escrever,

assim como o controle da precisão necessária para uma boa caligrafia. Ao

mesmo tempo, sugerem para a criança elementos parecidos com a escrita

adulta, que começam então a aparecer em seus desenhos ora para

representar uma idéia, ora como simples ensaios isolados.

Mais tarde, quando a criança atinge a idade escolar obrigatória,

verifica-se quase sempre uma diminuição da produção pictórica, já que a

escrita-matéria considerada mais séria-passa a concorrer com o desenho. Com

a escrita, surgem novas possibilidades gráficas. Escrita e desenho então se

misturam: a criança inscreve um texto no seu desenho, ou faz da escrita um

jogo, usando o alfabeto como um pretexto para variações formais.

Em continuação á fase esquemática na evolução do grafismo

infantil, ocorre um período estacionário, durante o qual o desenho se mantém

sem tantos progressos como os que ocorreram até essa fase. Eles melhoram

em acabamentos e detalhes, mas não evolui. A grande evolução agora é na

escrita. Tornam-se comuns os balões como os dois gibis, para representar as

conversas entre os personagens de seus desenhos e/ ou pequenos textos, que

parecem explicar melhor a situação ou ação deles.

28

2.1 O desenho infantil

O desenho possui uma natureza especifica, particular em sua

forma de comunicar uma ideia, uma imagem, um signo, através de

determinados suportes papel, cartolina, lousa, muro, chão, areia, madeira,

pano, utilizando determinados instrumentos lápis, giz de

cera,carvão,giz,pincel,caneta,hidrografia,bico-de-pena,vareta,pontas de toda

especie.Alguns professores da pré-escola ansiosamente descarregam técnicas

para a criança aprender a desenhar,inibindo,desta forma,qualquer tipo de

exploração ou subversão,tanto em relação ao uso do material quanto a

manifestação de elementos graficos que expressem um imginario pessoal.

A criança enquanto desenha canta, dança, conta

historia,teatraliza,imagina,ou,ate,silencia...O ato de desenhar impulsiona outras

manifestação,que acontecem juntas, numa unidade indissoluvel,possibilitando

uma grande caminhada pelo quintal do imaginário pess.

O desenho como linguagem para a arte, para a ciência e para a

técnica um instrumento de conhecimento, possuindo uma grande capacidade

de abrangências como meio de comunicação e de expressa.

Geralmente entendemos o desenho como coisa de lápis e papel,

como esboço ou croque subordinado a explicação de alguma ideia, a

representação de algum objeto.

O desenho infantil e objeto de estudo por parte de psicólogos,

pedagogos, artistas, educadores. Existem mil teorias e interpretação a respeito

da produção gráfica infantil assim como vários enfoques possíveis quando ela

e analisada, seja pelo aspecto revelador da natureza emocional e psiquica da

criança, seja pela analise da linguagem gráfica tomada em seu aspecto

puramente formal ou simbólico, seja pela utilização do desenho na aplicação

de teste de inteligências ou ate mesmo pela capacidade de o desenho

demonstrar o desenvolvimento da criança.

29

A criança projeta no desenho o seu esquema corporal, deseja ver a

sua própria imagem refletida no espelho do papel. Os traços, os rabisco, as

garatujas estão ali à mostra, escondendo os índices de uma realidade psíquica

não imediatamente acessível, exibindo uma atividade profunda do

inconsciente. Existe uma vontade de representação como também existe uma

necessidade de trazer a tona desejos interiores, comunicados, impulsos,

emoções e sentimento.

Toda criança deseja, mas nem toda criança gosta, necessariamente

de desenhar. Algumas provavelmente preferirão outra atividade expressiva,

como pintar, cantar, contar historias, dançar, construir representar. A estrutura

mental e a sensibilidade de cada criança, individualidade, se adaptam a esta ou

aquela atividade, que atenda a sua urgência expressiva. Mas o ato criativo

estará sempre presente, envolvido um grande potencial operacional e

imaginário.

O desenho manifesta desejo da representação, mas tambem o

desenho, antes de qualquer coisa, e medo, e opressão, e alegria, e

curiosidade, e afirmação, e negação. Ao desenhar a criança passa por um

intenso processo vivencial e existencial.

O ato de desenhar, até então, era fruto de uma ação e de uma

percepção. Agora, ele passa a processar a percepção, emitindo conceitos.

‘’Sem o conceito não saberíamos bem onde começa e onde acaba uma coisa; como impressões as coisas são fugazes, fugidias, deslizam de nossas mãos e não as possuímos’’. O desenho é uma forma de raciocinar no papel. ’’(Rosenberg-65)’’.

O desenho é a projeção no espaço do papel da percepção espacial

vivida pela criança.

Nós temos dados positivos para saber que, de fato do desenho que

nasceu a escrita dos hieróglifos. Não sabemos como se originou a pintura, mas

é mito provável que a sua primeira conceituação no espírito humano tenha

30

provindo dos rabiscos rituais, em preto, em vermelho, em branco sem que

todos os povos primitivos enfeitem no corpo para os cerimoniais’ ’O autor

continua, mais adiante. ’Mesmo a pintura do corpo, entre os povos mais

atrasados mentalmente natureza hieroglífica. Hoje isso é questão passiva de

etnografia, e sabemos definitivamente que a cada rabisco, a cada cor, a cada

manca, a cada decoração enfim, os primitivos, atribuem um valor simbólico, e

cada elemento quer dizer alguma coisa compreensível á inteligência do clã ou

de seus pajés’’. (MÁRIO ANDRADE-19630).

Aparentemente, quando uma criança fala de coisas que não se

encontram em seus desenhos, isto significa que ela tem mais facilidade em

falar do que pintar. As palavras chegam á sua mente mais depressa do que as

imagens pictóricas. Quando se pode concentrar-se bastante em seu trabalho.

Contudo, quando fala, solta toda a sua sensação relacionada com o que está

fazendo, e de que nunca teríamos suspeitado, ao examinarmos os seus

desenhos. É que essa criança pensa em palavras e não em figuras.

No entanto, seria um erro deixa-la sozinha com seus desenhos, pois, se

carece de expressão verbal suficiente, sua mensagem pictórica deverá ser

utilizada como estímulo para seu diálogo.

31

3. A criança, o professor e o desenho.

O professor apesar de ser muito observador tem um olhar ao

desenho do aluno diferente do que está ali no papel. É um olhar enquanto

linguagem, por conta da experiência do conhecimento.

O docente tem uma noção exata no que o desenho da criança quer

dizer. Claro que o professor estabelece com a criança sobre seus desenhos.

Percebemos que o desenho ‘’perfeito’’ é também aquele

que se aproxima mais da estilização padronizada do

real; é o que nos indica a satisfação do professor diante

da reprodução de modelos divulgados pelos manuais de

‘desenhos pedagógicas’, diante das clássicas

estilizações infantis, como o desenho da casinha e o da

figura humana, e ainda ante o cumprimento de

procedimento padronizado, como o preenchimento de

área previamente contornado e a ocupação ‘

homogênea’ da folha de papel. (...) Esta expectativa

desconsidera o fato de que são múltiplas as percepções

que se pode ter de um mesmo objeto, por diferentes

pessoas, ou pela mesma pessoa em momentos

diferentes.

3.1- O corpo da criança é a ‘’ponta de lápis’’.

O desenho é brincadeira, é experimentação, de vivência. O desenho

para criança é o grande palco de universo íntimo. A criança mantém uma

relação de propriedade com os seus rabiscos.

Mesmo sendo indecifráveis pares nós, seus rabiscos provêm de uma intensa

atividade do imaginário.

32

A conjunção mão/olho/cérebro torna-se presente e evidente no ato

de desenhar. Mas estes rabiscos não indicam necessariamente um controle

visual. Do movimento da mão. O rabisco feito espontaneamente, sem

treinamento ou cópia, é frequentemente uma resposta ao estímulo visual que

advém do próprio ato de rabiscar. Muitas vezes, o estímulo motor se sobrepõe

ao estímulo visual. Atrás de um rabisco caótico pode existir um desenho

elaboradíssimo.

Desenhar é atividade lúdica, reunido, como em todo jogo, o aspecto

operacional e o imaginário. A operacionalidade envolve o funcionamento físico,

temporal, espacial material, as regras; o imaginário envolve o projeta o pensar,

o idealizar, o imaginar situações. Ao desenhar, o espaço do papel se altera. ‘’É

na própria manipulação e transformação dos espaços que a atividade lúdica se

inicia’’(como diz Silvo Dworeeki-1974).

O tempo do desenho corresponde a um tempo mental e emocional

onde prevalece o ritmo individual de execução. No jogo de desenho, o tempo e

o espaço são transformados.

A mão e o olho agora estabelecem um diálogo: a mão sai e volta

para o papel, segura da permanência da linha, do traço contínuo, impulsivo e

motor, a criança passa para o traço descontinuo um ritmo mais lento. O olho

ajuda a construção de formas e a memorização das mesmas. As crianças

percebem, lembram e repetem rabiscos que sugerem formas.

Algumas adoram desenhar murmurando, soltando gritos, cantando

ou, contando. Outras voltam totalmente algumas crianças fica muito contente

com o resultado de seus trabalhos outras a atenção para dentro do papel,

dirigindo a cena e a ação que se passam na frente delas. Outras então se

impacientam,desenhando,batendo a ponta do pé, mudando de posição a toda

hora, remexendo-se. Enfim, vários tipos de manifestação acompanham o ato

de desenhar.

De qualquer forma, ao acabar o desenho, geralmente a criança para

e olha o que fez: a ação registrada, a cena representada, a fantasia

concretizada. O resultado também é importante para a criança. A criança olha,

33

gosta ou não gosta, quer guardar ou jogar fora. Algumas querem até rasgar,

seja pelo sentimento de frustação ao ver o resultado, seja pelo simples prazer

de rasgar. A criança quer ter o poder de decisão quanto ao destino de seu

trabalho.

O desenho vai receber de seu autor uma interpretação, aliada a

um comentário verbal, como expressar surpresa ao ver ali, configurado

concretamente, aquilo que se passava dentro d sua cabecinha e de seu

coração. É a intimidade exposta e revelada.

A interpretação verbal que a criança realiza ao ver ou

fazer desenhos muitas vezes se transforma numa outra ‘’

história’’. Ás vezes é pura constatação, em outras e

atribuição de valor. O signo visual é aberto, contêm um

feixe grande de possíveis, significações.

E, de repente, tal forma configurada pode significar num primeiro

momento uma casa, passando imediatamente, a ser um foguete e, dali a

instantes, pode se transformar numa montanha. Muitas vezes a interpretação

verbal efetuada pela criança é mais rica e criativa que o próprio desenho,

sendo este o suporte da fala, da narração verbal, de qualquer forma, a criança

exerce um juízo a respeito de seu próprio trabalho, manifestando índices de

uma intenção inicial, de um projeto, de um pensamento em exercício, que pode

ou não corresponder ao resultado: o confronto da imagem interna com a

externa.

O sistema educacional geralmente dá uma grande ênfase ao mundo

da palavra. Dependendo da estratégia utilizada para a aquisição da escrita,

existe um esvaziamento da linguagem gráfica como possibilidade expressiva e

representativa. A aprendizagem da escrita canaliza a descarga energética e da

atitude gráfica que o desenho carrega para uma noção regulada de controle

técnico na utilização do instrumento.

34

Todo ensino que se baseia na cópia não é ensino inteligente. O

aprendizado que depende basicamente do desempenho eficiente da

capacidade de copiar é um ensino que não considera a criança como um ser

cognitivo. A criança se torna um depósito de informação sem reflexão,

exercício do poder e da dominação. Fornecer um ‘’modelo’’ para ser copiado

exclui a possibilidade de a criança selecionar seus interesses e necessidades

reais. No ato da seleção está inclusa uma leitura da realidade, que, si, é um

exercício reflexivo e criativo. ‘’ A inteligência é o ato de inventar e é sempre um

ato original’’. Jean Piaget (59)

A criança, ao desenhar, percebendo as semelhanças e as

diferenças, generalizadas, abstrai classifica. Todas estas operações envolvem

a formação de conceitos.

O conceito se refere ao conteúdo do significativo das palavras e das

imagens. O conceito aprisiona a percepção fugas, num determinado instante.

Desenhar, construir, inventar, representar: a percepção e os conceitos refazem,

surgindo novas configurações mentais, imagéticas e conceituais.

3.2 - O professor e o desenho infantil.

O educador se esforça tremendamente para conseguir enxergar

figuras nos desenhos das crianças: ele tem dificuldades de permanecer ‘’ em

suspensão’’. Sente uma necessidade imperiosa de nomear figuras, como se a

figuração posse sinônima de maturidade intelectual a habilidade motora. Não

necessariamente, existem desenhos de crianças de dois, três e quatro anos

com estruturas geométricas e abstratas elaboradíssimas.

De qualquer forma, existe o suporte gráfico apontando o percurso

de aquisição da linguagem gráfica, em cada criança, em cada circunstância. E

é necessário um espaço físico e emocional para que esse desenvolvimento

seja propiciado. A o desenhar, o mundo torna-se presente em nós.

35

A criança começa a diversificar as formas através da diferenciação

de tamanho de seus elementos, de orientação e de cor, bem como pela

inclusão de detalhes, de combinações novas e de ação entre as formas.

Gardner observou, em suas pesquisas, que as crianças atribuem diferentes

papéis ao desenho. Há crianças que são mais visualizadoras e que desenham

de modo a cena representada ‘’diga tudo’’, e criança mais verbalizadoras, onde

o desenho serve de ‘’pano de fundo’’ para uma narrativa.

As situações de desenho incluíam tanto atividades espontâneas

como controladas, de produção e de interpretação. Foram realizados, ao mais

todos sete conjuntos de situações de desenhos, com uma ou mais atividades,

assim especificadas: (1) desenho espontâneo; (2) desenho cópia; (3) atividade

de reunião; (4) atividade de completar ( diálogo gráfico ou jogo do rabisco); (5)

atividade de inversão; (6) atividade de leitura( de trabalho das crianças, de

obras de arte e da história, registro de vivências, desenho de observação, jogo

gráfico).

O desenho espontâneo propicia conhecer o universo simbólico,

temático e conceitual da criança. Por se tratar de uma atividade não dirigida, o

sujeito é quem determina o que vai realizar graficamente, segundo interesses e

preocupações próprios.

Essa modalidade de situação de desenho é amplamente utilizada

em psicologia para conhecer a vida afetiva, a psicomotricidade, a inteligência e

a personalidade da criança.

( Analice Dutra pilar) desenho e construção de conhecimento na criança.

(...) quanto mais veja, ouça e experimente, quanto mais apresenta e assimile, quanto mais elementos da realidade disponham em sua experiência tanto mais considerável e produtiva será, como as outras circunstâncias, a atividade de imaginação (Vygotsky,1990,p.18).

36

A construção de imagens e o desenvolvimento das etapas

operacionais do pensamento artístico das crianças, presentes um seu grafismo,

jogo e brincadeiras, encaminham. Nos para compreender mais profundamente

suas impressões com as coisas percebidas. Essas percepções podem se

relacionar com uma posterior representação, ou não.

Os primeiros trabalhos da criança, como consequência e extensão

de um gesto que deixa marca vigorosa entre gesto e seu traço. Para ele, a

origem do desenho está no gesto, mesmo quando o traço tenha começado de

modo casual.

Isso supõe uma regulação suficientemente exata do gesto ou, pelo

menos, uma intenção correspondente, isto é, o sentimento de ser capaz dele.

Sabemos que a precisão do gesto está ligada á possibilidade, para os

segmentos dos membros que o executam, de encontrar apoio bastante firme

no resto do corpo. Esta aptidão está ligada ás funções de equilíbrio e não é,

sem dúvida, acaso, se as primeiras garatujas da criança pertencem á mesma

época que seus primeiros passos.

Mas, por que as crianças continuam a rabiscar, e quando é os rabiscos dão

origem ao desenho?

No início, a criança pode estar rabiscando pelo prazer

de rabiscar, mas, á medida que vai dominando o gesto e

percebendo visualmente que entre o gesto e as marcas

que faz existe uma ligação, seus atos passam a ser mais

intencionais.

Faz linhas contínuas ou interrompidas, curvas que se entre cruzam,

rabiscos enoveladas ou simplesmente pequenas marcas que se contrastam na

superfície. A partir deste momento também sucede que ela encontra nos

rabiscos algo a representar.

37

(...) ao se realizar, ‘’o rabisco’’ torna-se para a criança um objeto entre outros, e um objeto privilegiado, por que é o objeto em vias de ser criado pela própria criança. O rabisco individualiza-se, condensa-se em alguma coisa que se destaca sobre um fundo. (Wallon, 1968)

O rabisco ocupa um lugar que o gesto da criança pode tender a

dilatar ou a concentrar ou mesmo modificar, pois acontece que a criança se

afasta de um primeiro rabisco, para justa por lhe outro. Assim se realizam

distribuições diversas no espaço, em que cada parte pode reagir mais ou

menos sobre as outras. É como um começo de modulação espacial, em que as

combinações de cheio de vazio bem podem começar por ser fortuitas, mas são

destinadas a realizar um jogo mais ou menos sobre as outras diversificadas,

que se poderá reencontrar sob formas. Mas são destinadas a realizar um jogo

mais ou menos diversificado, que se poderá reencontrar sob formas mais

evoluídas do desenho (Wallon,1968,p.196).

Dessa maneira pode-se dizer que as representações gráficas das

crianças surgem simultaneamente ás suas representações gestuais. Para

Vygotsky, existe uma ação evidente entre elas.

(...) os gesto estão ligados á origem dos signos escritos, como no domínio dos rabiscos das crianças. Em experimentos realizados para estudar o ato de demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos; os traços constituem somente um suplemento a representação gestual. Uma criança que desenha o ato de correr começa por demonstrar o movimento com os dedos, encarando os traços e pontos resultantes no papel como uma representação do correr( Vygotsky,1989,p.121)

38

Da mesma forma, continua o autor, ‘’no desenho de conceitos

abstratos e complexos, as crianças comportam-se da mesma maneira: elas

não desenham, indicam, e o lápis meramente fixa o gesto indicativo’’.

Concluindo, Vygotsky estabelece a profunda relação pelo desenho,

que resulta na representação simbólica e gráfica.

Os estudos de Wallon e Vygotsty que encaminham concepção

interacionistas da produção do conhecimento da arte são, portanto,

fundamentais para compreender-se como a criança faz a construção deste

saber e, no caso do desenho, principalmente pela ênfase na representação e

interação social. Mas, além desses autores, também são importantes para os

estudos dos grafismos infantis as abordagens de Luquet, Piaget, R.Amheim

,V.Lowenfeld Herbert Read, Arno Sten e Rhoda Kellog, entre outros; assim

como os anteriores, eles também procuram explicar o processo artístico da

criança e outros condicionamentos que vêm influenciando o ensino de arte: são

as teorias mais centradas nas individualidade do desenvolvimento das

potencialidades expressivas, perceptivas e cognitivas.

Para as teorias que valorizam a auto expressão da criança, a arte não pode ser

ensinada, pois a Expressidade infantil tem um correspondente com a evolução

física, psicológica, cognitiva. Os autores principais desta teoria, Lowenfeld

(1947).Read (1943) e Kellog (1969),consideram o professor de arte apenas

como um estimulador, um guia, que deve ajudar a criança a expressar-se. O

ambiente da atividade artística deve ser estimulante e desafiador.

Fundamentados em posicionamentos humanísticos, os autores

preocupados com a auto-exssão consideram que a função da arte na escola é

a de possibilitar a atividade criadora, mas entendida de forma ampla.

A arte enquanto processo criador é o elo que faz o ser humano ligar-

se á vida. E a criança vai fazer suas produções artísticas e descobrir a alegria

da criação de arte quando o ambiente ou as pessoas souber motivá-las.

Para as teorias com base na cognição artística da criança, os seus

desenhos são considerados resultantes da compreensão que têm do mundo e

das expressões de seu desenvolvimento intelectual. Daí a ideia de que a

39

criança, como sujeito ativo, desenha o que sabe o que ela conhece de si

própria e do mundo ao seu redor, e não apenas o que ela vê. De acordo com o

pensamento cognitivista a criança vai desenvolvendo conceitos á medida que

vai crescendo e adquirindo novas experiências. Luquet (1913) e Piaget (1955)

chegam a explicar as diversas ordens de representações gráficas das crianças

como etapas da formação dos conceitos: assim, segundo Luquet, após o

estágio da garatuja, a criança passaria pelo estágio de ‘’ incapacidade

sintética’’ (crianças com idades entre 3-4 anos), caracterizada pelos aspectos

espontâneos e com intenção de representação, mas sem correspondência com

a percepção (figuras humanas representadas por um círculo e traços, por

exemplo); depois viria o estágio do realismo intelectual, quando a criança já é

capaz de chegar á síntese gráfica, desenhando tudo o que está presente no

objeto, tanto os de ordem visível como os invisíveis, e até ‘’reproduzir no

desenho não só os elementos concretos abstratos, mas mesmo os invisíveis, e

até ‘’reproduzir no desenho não só os elementos concretos abstratos, mas

mesmo os elementos abstratos que só têm existência no espírito do desenhado

(Luquet,1969,p.160); finalmente, o estágio do ‘’realismo visual’’ (por volta dos

8-9 anos ), quando os desenhos mostram preocupações d ordem espacial (

perspectiva), proporções, medidas etc. Por esta relação entre a representação

gráfica e a formação de conceitos, a construção de círculos significaria um

caminho para abstração.

Rudolf Arnheim ( 1980), por sua vez, também traz uma importante

contribuição, á luz das teorias perceptuais. Para este autor, também é possível

acompanhar-se a produção gráfica infantil desde os primeiros momentos,

embora as construções sejam consideradas mais sensório-motoras do que

representativas. Para Arnheim, a criança apreende as estruturas globais (

geostáticas ) das coisas, e ela desenha o que vê o que é percebido, e seus

primeiros desenhos não têm por objetivo uma representação.

Segundo Arnheim, não há relação fixa entre a idade e o estágio de

seus desenhos, que refletem variações individuais em proporção ao

crescimento artístico.

40

Embora essas teorias se encaminhem diferentemente para explicar a trajetória

da produção plásticas infantil, elas são importantes, tanto pelo caráter histórico

das abordagens, como também pelas proposições que levantam aspectos

significativos sobre a produção do conhecimento pela criança. Ao compara-las

encontramos pontos em comum entre elas, principalmente.

No que se refere ao surgimento e valorização da expressão gráfica e

comunicação da criança. Arnheim, assim como Wallon e Vygotsky, concebem

a presença ou indícios de movimento expressivo já nos primeiros contatos da

criança com o grafismo. Como eles estão muito atentos às raízes da estrutura

plástica, esses autores observaram a existência de algumas configurações que

emergem dos rabiscos e depois estão presentes nas posteriores

representações. Eles indicam início das elaborações infantis às formas simples

(linhas com direções, círculo, oval etc. ) que, combinando-se, originam um

vocabulário próprio, com referências e signos constantes: por exemplo, sol,

boneco, casa etc.

Todos os autores vistos procuram desvendar os indícios comuns nas

expressões infantis. No entanto, poucos aprofundam os estudos sobre as

influências do meio e da cultura, que afetam diferente as crianças de várias

idades, como Wallon o faz; tampouco se preocupam em revelar por que as

crianças podem ter evoluções artísticas diferentes, mesmo quando

pertencentes á mesma faixa etária, região ou classe social. Além disso, muitas

das teorias não aceitam as experiências sensoriais, e, por isso, não podem

justificar as qualidades de visualidades manifestadas por algumas crianças em

seus desenhos e pinturas, nem como elas associam o ato perceptivo ás suas

representações.

O conjunto dessa abordagem nos mostra que a ação de desenhar

na infância reúne vários elementos que podem ser sintetizados nos aspectos

motores, perspectiva e de representação e é mais complexa do que pensam

muitas pessoas.

A superfície material o papel local onde as crianças de mais idade

assinalam seus primeiros contatos com a expressão gráfica, não está á

margem de toda esta fantástica experiência que é o ato de desenhar. Sua

41

forma, seu tamanho, sua cor, sua textura, os limites de suas bordas entram em

conflito com a intenção de registrar gestos (as crianças pequenas) e formas (as

maiores).

Wallon expõe todas as interações espaciais como parte da

constituição da imagem mental e da representação infantil, ao longo de seu

processo evolutivo:

A distribuição do rabisco neste espaço delimitado, representado pela

folha a preencher, pode ser extremamente variável. Pode parecer qualquer

coisa; pode ser relativa aos próprios rabiscos, mas pode ser marginal, central,

sim ética, isto é, que o espaço não se confunde com os objetos começam

também a existir o que é uma etapa nova.

Na realização mental do espaço para a criança. O espaço

enquadrado, porém, não faz mais que produzir a utilização de superfície como

tal: recorta o ambiente um centro espaça que se lhe torna completamente

distinto(...). Mais as duas próprias dimensões do quadro suscitam problemas:

alta e baixa, direita e esquerda, são dimensões neutras? Sem dúvidas não

mais que no espaço ambiente, em que estas duas dimensões têm valores

fisiológicos, motrizes. Afetivos. Usuais e simbólicos diferentes.

(Wallon,1968,p.197-8).

As primeiras linhas rabiscadas, as primeiras

organizações formais- circulo oval, quadrado, linhas

retas, curvas, sinuosas etc. Vão se construindo nos

primeiros registros de uma representação do objeto, de

uma forma esquemática, como é o caso da figura

humana. A criança inicia com formas circulares ou ovais

ás quais acrescentam linhas que vão se ajustando á

concepção de pernas, braços.

Como nesta fase as crianças não se apoiam em modelos, mas

desenham segundo um processo imaginativo e simbólico, elas ainda podem

subtrair ou acrescentar aos desenhos outros elementos como braços, cabeças

42

etc; sem que com isso haja uma ruptura com a sua concepção de realidade. E

essa representação esquemática humana é entendida como primeiro indício de

uma concepção mais estrutura de si própria e dos adultos que com ela

convivem.

43

Conclusão

Com essa pesquisa dar para observar o quanto é importante o

professor também estimular o aluno a desenhar e deixa-lo usar e abusar de

sua criatividade.

Através deste trabalho, deu para ver o profissional que posso ser e

conhecer melhor meus alunos. E que a criança tem ‘’limites’’, pois através da

imaginação ela vai criando assas e voando todo mundo e o quanto é

importante o professor voar, imaginar junto com seus alunos.

E hoje, depois de todo esse trabalho concluído, posso dizer que

aprendi muitas coisas. Uma delas é que meus alunos são peças fundamentais

no meu crescimento, assim como sou no deles. É através da troca de

experiência e amadurecendo; junto fazemos com que cada dia fique marcado

por toda a vida.

O professor jamais deve forçar seus alunos a realizarem um trabalho

que não queiram ou mesmo insistir para que o façam de maneira diferente da

que eles querem. Em nada ajuda dirigir a mão da criança para acertar o traço

ou corrigir desproporção que podemos descobrir o que tem maior valor

emocional para criança.

Os professores não deveriam permitir a ansiedade em obter dos

alunos resultados que agradem aos adultos destrua a pureza e beleza de um

desenho infantil expressivo.

A estratégia educacional visando apenas o adestramento motor

exclui o entendimento do desenho como uma forma de construção do

pensamento através de signos gráficos, maneira de apropriação da realidade e

de si mesmo. O tempo do desenho corresponde a um tempo mental e

emocional onde prevalece o ritmo individual de execução.

44

Bibliografia

BARBOSA, Ana Mãe. Arte-educação: leitura no subsolo. Paulo: Cortez,2001.

OSTETTO Luciana Esmeralda, Maria LEITE Maria, Isabel. Arte, infância e formação de professores: Autoria e transgressão. Campinas, SP: PAPINUS, 2004.

DERDYK Edith. Formas de pensar o desenho.

Infância e educação Infantil-Campinas, SP: Papirus, 1999-(coleção prática Pedagógica).

LOWENFELD Viktor. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

Liga Roda, Clica - Resultado da Pesquisa de livros do Google.

books.google.com.br/books?isbn=853080869X...Moica Fantin /gilka Girardello - Social Science - 171 páginas

FLORENCE DE MEREDIEU - Psychology - 118 páginas

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45

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

Resumo 5

METODOLOGIA 6

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Auto expressar-se: atividade de expressão 9-10

1.1- A criança na pré-escola 15 -10

1.2 – O desenho como linguagem 15-17

1.3 - A evolução do desenho 17

CAPÍTULO II - O fazer artístico 27

2.1- O desenho infantil 28

CAPÍTULO III – A criança, o professor e o desenho. 31

3.1- O corpo da criança é a’’ ponta do lápis’’ 31-34

3.2- O professor e o desenho infantil 34-42

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

ÍNDICE 45