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1- INTRODUÇÃO
A finalidade desta pesquisa etnográfica é apresentar a Religião Afro-brasileira,
denominada Umbanda. A partir de informações, colidas, principalmente, no
Centro da Fraternidade Tabajara localizada em Cariacica, durante dois
domingos um no mês de maio e outro em junho, assim como, em livros e sites
específicos além de troca de informações sobre a Fraternidade por meio de
conversas e emails com alguns participantes do Centro. Utilizamos métodos de
pesquisas etnográficos, como observação participante, utilizada por
Malinowisk, na qual o antropólogo deve participar ativamente da vida do grupo
estudado e pesquisa documental (fotos e vídeos), além de uma entrevista em
profundidade, com o médium Luiz Augusto Labuto, responsável pela
Fraternidade, para conseguir uma riqueza maior de conteúdo e informações
interessantes.
Ao contrário de alguns antropólogos evolucionistas, não resolvemos trabalhar
com a idéia de ausência, mas sim, focamos no que a religião tem de diferente.
Como ponto de partida, apresentamos dados históricos das Religiões Afro-
brasileiras em geral, para um melhor entendimento da Religião proposta. Em
seguida, uma breve visão sobre o que é Umbanda e sua doutrina, o Histórico
da Fraternidade Tabajara, uma descrição sobre o Ofício Religioso Umbanda e
de como foi sucedida nossa observação participante e por último um relatório
com textuais da entrevista em profundidade realizada. Para melhor
visualização do trabalho proposto segue nos anexos fotos e vídeos.
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2- DADOS HISTÓRICOS DAS RELIGÕES AFRO-BRASILEIRAS
Em 1532, chegaram ao Brasil os primeiros negros africanos no nordeste,
trazidos por Martim Afonso de Souza para trabalharem nos engenhos de
açúcar como mão de obra escrava, e com eles a religião que dará origem a
Umbanda.
Entre os que vieram para o Brasil, um grupo significativo provinha das culturas
bantos (área angolo-congolesa da Costa Ocidental e da Costa Oriental). Os
bantos cuja experiência religiosa era voltada para os antepassados,
predominaram no sudeste brasileiro, nas áreas do Espírito Santo, Rio de
Janeiro e São Paulo.
Religiosamente, os Bantos conheciam o Ser-Supremo, denominado Zambi. As
suas praticas religiosas eram voltadas principalmente para o culto dos
ancestrais, seres mortos que se comunicavam com os vivos através do
processo da “possessão”.
Desde sua chegada, os escravos negros foram proibidos de praticar no Brasil
sua religião, ou de celebrar suas festas tradicionais africanas. Eles eram
obrigados pelos seus senhores, sob pena de tortura, a seguir a religião católica
e a falar unicamente a língua portuguesa. Porém, mesmo com esta forte
imposição, os negros não abandonaram a cultura africana. Clandestinamente,
eles realizavam seus cultos rituais, celebravam suas festas, mantiveram sua
arte e expressão rítmica, e até criaram uma luta artística, a capoeira. Somente
pouco antes da assinatura da Lei Áurea, os escravos negros começaram a ser
levados para as cidades e ali puderam se encontrar, mais abertamente, uns
com os outros e se organizar melhor. A vida urbana deu-lhes condições mais
favoráveis para a prática de suas tradições religiosas africanas. Assim, de
acordo com as cidades para onde eram levados, em geral capitais dos estados
brasileiros, eles iam recuperando seus cultos religiosos.
O fato de isso acontecer em diferentes regiões provocou inconscientemente um
fenômeno: os rituais foram recuperados de forma diversificada e acabaram por
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assumir até nomes diferentes. Devido a isso, a religião Africana deixou de ser
singular e passou a ser plural aqui no Brasil, denominando-se Religiões Afro-
brasileiras. Eis alguns nomes que a Religião Africana original assumiu, de
acordo com a região brasileira onde se organizou: 1) Batuque, no Rio Grande
do Sul; 2) Candomblé, na Bahia; 3) Macumba (depois virou Umbanda), no Rio
de Janeiro; 4) Tambor de Mina, no Maranhão e no Pará; e 5) Xangô, em
Pernambuco e Alagoas.
3- A UMBANDA
A Umbanda é um sincretismo religioso originalmente brasileiro. Também pode
ser definida como uma religião multi-étnica, que circunscrita apenas aos afro-
descendentes, mas está aberta a todos os brasileiros, com forte presença de
brancos, mesmo entre os pais-de-santo. Assim a Umbanda representa o
encontro da diversidade de crenças e tradições religiosas africanas com as
formas populares do catolicismo, mais o sincretismo hindu-cristão trazido pelo
espiritismo Kardecista.
A maioria dos estudiosos concorda em dizer que houve uma fusão entre a
macumba e o espiritismo de Allan Kardec. Mais ou menos em 1920 e 1930 um
grupo da população pobre que já conhecia o espiritismo, se aproximou da
macumba e de suas formas vibrantes, Surgindo assim um conjunto religioso
que se denominou “Umbanda”.
A Macumba era um culto afro-brasileiro de origem banto-angolense, que ao
contato com o espiritismo Kardecista acabou se dividindo em dois cultos
antagônicos: a Umbanda e a Quimbanda.
Outra influencia para a mudança de nome, foi a forte depreciação, que havia
em relação ao nome Macumba nos meios urbanos, ser chamados de
“Macumbeiro”, passou a ser uma ofensa.
Segundo a antropóloga Diana Brown, outros elementos religiosos foram se
incorporando à Umbanda: como a feitiçaria e as praticas mágicas que no Rio
de Janeiro neste período parece ter atingido um grau de extraordinário
desenvolvimento; e o Catolicismo que foi se associando desde o período da
escravidão a algumas religiões africanas.
Diana Brown relata que o primeiro centro de Umbanda surgiu quando por volta
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de 1920, um jovem de nome Zélio de Moraes ficou paralitico, não tendo
sucesso com o tratamento médico, seu pai adepto do Kardecismo, levou-o a
uma consulta na Federação Espírita Brasileira, no Rio. Uma entidade espiritual
de um padre jesuíta disse que ele deveria fundar uma nova religião, que seria
uma religião tipicamente brasileira dedicada à veneração de espíritos de
caboclos, índios e pretos velhos. Esses mesmos espíritos tinham sido
excluídos das sessões do espiritismo de Allan Kardec.
Logo depois ele recebeu o caboclo das Sete Encruzilhadas. Que deu o nome
para a nova religião “Umbanda”. Começando assim o primeiro centro de
Umbanda com o nome Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade, que existe
até hoje funcionando em um grande prédio no centro do Rio de Janeiro,
através da filha de Zélio, a Zilméia de Moraes.
Neste local o Caboclo Sete Encruzilhadas previu muitos acontecimentos, como
a Primeira e Segunda Guerras Mundial. Uma curiosidade é o fato de o
Caboclo Sete Encruzilhadas revelar ter sido em outra encarnação o Padre
Gabriel de Malagrida, que foi sacrificado na fogueira da inquisição por ter
previsto o terremoto que destruiu Lisboa em l755.
3.1- O Crescimento dos terreiros de Umbanda
No Brasil como um todo, é quase impossível determinar o número dos adeptos
e dos freqüentadores da Umbanda. Antes de tudo, essa forma religiosa só
entrou no recenseamento em 1965, e mesmo assim a maioria continuou se
declarando católica, mesmo os assíduos freqüentadores da Umbanda.
No Brasil, ainda hoje, muitos centros de Umbanda são denominados Espíritas
e seus freqüentadores também definem-se como espíritas. Há também a
confederação Espírita Umbandista do Brasil e a Federação Espírita
Umbandista do Brasil.
Embora a Umbanda não siga todos os preceitos da doutrina espírita, ela utiliza
muitos dos termos e conceito advindos desta doutrina, inclusive o nome
Espiritismo.
A Umbanda é espiritualista, nas suas práticas ocorrem fenômenos mediúnicos,
e aceita a reencarnação, como o espiritismo. A Umbanda tem “pais” de terreiro
com vestimenta e prerrogativas equivalentes ao exercício de funções
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sacerdotais, diferente do espiritismo que não prescreve paramento nem tão
pouco formalismo de funções sacerdotais. A Umbanda tem imagens e altares, o
espiritismo não.
O Espiritismo é baseado na crença da existência de um espírito (alma) que não
necessita de corpo para existir e retorna a terra em sucessivas encarnações
ate atingir a perfeição. O Espiritismo considera o homem o único responsável
pela própria felicidade, já que tudo vai depender dos seus atos. Prega o amor
ao próximo como meio de chegar à maturidade (perfeição). Assim as
reencarnações permitem a evolução gradativa do espírito para se redimir dos
erros passados, e que todas as faltas podem ser reparadas.
Os Espíritos interferem na vida terrena por meio dos médiuns. A comunicação
acontece através da psicografia ou incorporação.
A Umbanda tem suas raízes nas religiões indígenas, africanas e cristãs. Ela
está fundamentada nos Orixás africanos trazidos pelos negros. Considera que
o universo é povoado de guias espirituais. Estes entram em contato com o
homem por intermédio de um iniciado chamado médium, que os incorporam.
Tais guias se apresentam por meio de figuras como o caboclo, o preto-velho, a
pomba-gira. Eles dão conselhos, realizam e encomendam ritos purificadores de
cura e de encaminhamentos para as questões e pedidos feitos pelos fiéis.
Como no Candomblé, a Umbanda reverencia os Deuses africanos (Orixás) que
são pontos de força da natureza, e os seus arquétipos são relacionados às
manifestações dessas forças. Os Orixás têm características iguais ou
aproximadas às dos seres humanos, que se manifestam através de emoções
como nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada
Orixá tem o seu sistema simbólico, composto de cores, comidas, cantigas,
rezas, ambientes, espaços físicos e horários (não é conceito transmitido por
mim, Luiz ).
3.2- Religiosidade Popular
O mundo da Umbanda é povoado de espíritos e entidades espirituais que
regulam a vida cotidiana, e permitem que o fiel se relacione facilmente com o
universo das realidades sagradas.
Essa maneira de ver o mundo, não é prerrogativa do universo umbandista, mas
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é facilmente encontrada em toda forma de religiosidade popular. A religiosidade
dos católicos tem seu mundo povoado de almas e santos que interferem
constantemente na vida diária.
A Umbanda, portanto, mergulha no tipo de crença religiosa que revela a
interferência do espiritual sobre o cotidiano: é o mundo espiritual que regula e
harmoniza as coisas. Ela sustenta-se num universo povoado por espíritos e
entidades que regulam o ritmo da vida. A relação que se estabelece entre
pessoas e deuses orientam, também, o comportamento dos seres humanos
entre si.
O elemento que permite uma rearticulação de forças antagônicas é a caridade.
E ela que possibilita uma harmonia entre opostos. É um elo imprescindível de
equilíbrio e inclusão. Daí a ênfase dada na Umbanda à caridade.
Toda religião tem um ritual simples ou complexo. A Umbanda é um movimento
religioso centrado quase exclusivamente no ritual.
Durante o ritual a experiência mística é vivida em toda a sua intensidade. As
entidade espirituais descem nas pessoas que estão participando do ritual.
A prática da caridade como momento ético privilegiado, dá-se principalmente
durante o momento ritual. É ali que os espíritos descem para trabalhar e
cumprir sua missão. Praticam a caridade na terra, mitigando os sofrimentos dos
consulentes e aliviando os problemas das pessoas. Os pretos velhos e os
caboclos sugerem que a dor não pode ser entendida como algo de negativo,
mas como purificação, aceitação e catarse.
Durante a escravidão os escravos foram obrigados a aderirem à religião
católica e proibidos de exercerem a sua religiosidade, a solução foi o
sincretismo desta forma cada Orixá foi associado a um santo católico. Assim
mantiveram seus Deuses vivos disfarçados em roupagem dos santos católicos
que eles cultuavam aparentemente. Desta forma passaram a chamar Oxalá;
Cristo ou Senhor do Bom fim, Ogum; São Jorge, Oxossi; São Sebastião, Iansã;
Santa Barbara e outros.
4- HISTÓRICO DA FRATERNIDADE TABAJARA
A Instituição foi fundada em 02 de fevereiro de 1940, com sede própria no
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bairro Vila Tabajara no Km 08 da Rodovia José Sete em Cariacica, Estado do
Espírito Santo, é de caráter espiritualista, educativa, filantrópica e apolítica. A
Fraternidade Tabajara contém em seu estatuto artigos que revelam os seus
princípios "Caridade, Tolerância e Amor ao próximo". A instituição foi fundada
por seus membros com o intuito de prestar serviços sociais filantrópicos às
pessoas carentes que moram no bairro e nas adjacências, fundamentada na
Bíblia Sagrada. Procuram observar toda a sabedoria necessária para atender
as necessidades materiais e espirituais daqueles que a procuram,
proporcionando esperança àqueles que por algum motivo estão desacreditados
e precisam de apoio espiritual para continuar acreditando na vida e assim viver
melhor.
Para melhor visualização do que se trata A Fraternidade Tabajara, uma
pequena parte do Estatuto Social desta:
“Art. 1º – A FRATERNIDADE TABAJARA – é uma organização civil de
interesse público do 3º setor, de direito privado, de fins não econômicos, de
caráter Espiritualística, Educativa, Filantrópica, Filosófica, Apolítica, que se
dirige para a Humanidade unicamente para beneficiar e iluminar pelo amor e
pela Graça de Deus, fundada em 2 de Fevereiro de 1940, com seus atos
constitutivos arquivados no Cartório de Registro Civil das Pessoas Físicas e
Jurídicas de Vitória– ES, sob o n.º de ordem 408 e Protocolo n.º 10139, de
duração indeterminada, fundamentada na Bíblia Sagrada e garantida pelo
Artigo 5, parágrafo VI da Constituição Brasileira que diz: “ é inviolável a
liberdade de consciência e de crença e assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas
liturgias “, constituída de um número ilimitado de associados, sem distinção de
gênero, etnia, cor, religião, ou nacionalidade, e também pelo Direito
estabelecido pela Organização das Nações Unidas, doravante denominada
simplesmente “FRATERNIDADE TABAJARA” com sede na Rodovia José
Sete, km 8, no Bairro Tabajara, Cariacica– ES, CEP.: 29.154– 580, passando a
partir do registro desses novos Estatutos a ter como foro a cidade de
Cariacica– ES, com os seguintes objetivos:
Art. 2º – O objetivo da FRATERNIDADE TABAJARA é a prática do seu
Lema: Fé, Esperança e Caridade, a tolerância, o amor ao próximo, a educação
pela evangelização para elevação do espírito em evolução – encarnado ou
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desencarnado – em sintonia com a Bíblia Sagrada, atendendo às pessoas no
aspecto religioso, cultural, intelectual, material, social– afetiva, ético– moral e
espiritual, e, efetivamente:
I – Promover o Estudo, a Difusão e a Prática da Alta Filosofia Espírita,
atendendo e ajudando as pessoas:
a) que buscam orientação e amparo para seus problemas espirituais e
materiais;
b) que querem conhecer e estudar a Umbanda á luz da Alta Filosofia
Espírita;
c) que querem exercitar e praticar a Fé, a Esperança e a Caridade, em
todas as suas áreas de ação.
II – Facultar condições para elevação dos indivíduos à condição de
dignidade humana e social pelos seguintes objetivos específicos:
a) facultar a assistência e promoção sócio– econômica e cultural;
b) promoção da educação, observando– se a forma complementar de
participação das organizações de que trata a Lei;
c) promoção da saúde, observando– se a forma complementar de
participação das organizações de acordo com a legislação vigente;
d) promoção da segurança alimentar e nutricional;
e) defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção
do desenvolvimento sustentável;
f) promoção do voluntariado;
g) promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à
pobreza;
h) experimentação de novos modelos sócio– produtivos e de sistemas
alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;
i) promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da
democracia e de outros valores universais;
Parágrafo Primeiro – Para os fins deste Artigo, a dedicação às atividades
nele previstas configura–se mediante a execução direta de projetos,
programas, planos de ações correlatas, por meio da doação de recursos
físicos, humanos e financeiros de várias fontes, ou ainda pela prestação de
serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a
órgãos do setor público que atuem em áreas afins.
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Parágrafo Segundo – No desenvolvimento de seus programas, projetos,
planos, atividades e tarefas, a FRATERNIDADE TABAJARA observará os
princípios da autonomia, independência, com liturgia própria, legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência e não
fará qualquer discriminação de raça, cor, gênero ou religião, nomeando,
sempre que for preciso, Irmãos representantes junto às demais Religiões,
honrando com tais para esse fim.
Art. 3º – A FRATERNIDADE TABAJARA adota práticas de gestão
administrativa que coíbem a obtenção, de forma individual ou coletiva, de
benefícios ou vantagens pessoais, em decorrência da participação nos
processos decisórios dos Conselhos Deliberativo, Executivo, Auxiliar, Diretorias
de Departamentos e trabalhos mediúnicos.
Art. 4º – A FRATERNIDADE TABAJARA tem Regimentos Internos
aprovados pelo Conselho Deliberativo, ou reformados por proposição da
Diretoria dos Departamentos Operacionais, disciplinando o seu funcionamento.
Art. 5º – A FRATERNIDADE TABAJARA recomenda a divulgação de
seus Princípios e ideais pelo rádio, imprensa, e outros meios de comunicação,
proibindo ataques a outras Religiões, Crenças e Credos, bem como proíbe
expressamente, dentro de seus Templos e dependências, discussões sobre
matéria política, o exame ou crítica aos Atos das Autoridades”.
Seus trabalhos correspondem a doação de cestas básicas a um grande
número de pessoas, a atendimento ambulatorial às pessoas que muitas vezes
já passaram por médicos especialistas, não tiveram a cura desejada e
acreditam encontrá-la na fraternidade e doações de remédios, assim como o
oferecimento de uma sopa aos domingos a todas as pessoas que se
encontram no local. E que esses serviços prestados à comunidade são
gratuitos, oferecidos sem nenhum apoio das autoridades governamentais. São
doações feitas pelos membros da entidade e pelo pequeno lucro de bazar e da
lanchonete.
A Fraternidade Tabajara que existe há 70 anos, teve sua primeiras reuniões
iniciadas pelo Grandioso Espírito Pae João de Aruanda,que após várias
reencarnações na África e no Brasil, encontrou o Espírito Tabajara e propôs a
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União de suas Forças, passando a Tabajara a tarefa de chefiar os Trabalhos
Espirituais da Fraternidade Tabajara. Com o tempo, Espíritos Paráclitos foram
juntando suas forças e hoje formam uma egrégora que tem por Lema a Fé, a
Esperança e a Caridade. Este lema, em uma das reencarnações de Pae João
de Aruanda, como Anchieta, já preconizava como sendo a Fé, a Esperança e a
Caridade as Três Chaves para o Reino de Deus.
As primeiras reuniões eram realizadas na propriedade do Irmão Fundador na
Terra, Octávio Ferreira Paes, na Vila Tabajara, numa humilde cabana de sapé,
com assentos em tocos de madeira. O Irmão Geofredo Adolpho Silva, foi eleito
presidente, que dirigiu a Entidade até o seu desenlace corpóreo. Passou então
a Entidade, com seu pequeno templo construído, por um período de pausa,
tendo suas portas fechadas ao público. O Irmão José Baptista de Carvalho foi o
médium-chefe durante este período inicial, demonstrando caridade e benefícios
através a sua mediunidade.
A Irmã Maria de Lourdes Poyares Labuto, médium missionária, estava em
desenvolvimento espontâneo de sua mediunidade em seu lar. Os espíritos,
junto aos Irmãos Paes e João Firme, estavam em irradiações em prol dessa
médium em setembro de 1945. O Irmão Paes aconselhou o Irmão Álvaro da
Silva Labuto a levar sua esposa, que se achava desenganada pelos médicos
da Terra, até o Centro Fé, Esperança e Caridade de Jesus, em Vila Isabel, no
Rio de Janeiro. O Irmão Álvaro, sem prevenir a esposa, seguiu o conselho e
levou-a lá. O Espírito Pae João aconselhou a Irmã Lourdes a cumprir sua
missão e disse que ele daria assistência e com Deus, tudo se acertaria.
No dia primeiro de novembro de 1945, o Irmão Labuto levou sua esposa e os 4
filhos nascidos até aquela época Álvaro Labuto Filho, Marco Antônio Labuto,
José Carlos Labuto e Maria de Lourdes Labuto para fazer uma visita à Vila
Tabajara, após um longa conversa, o casal Octávio Ferreira Paes e Joana
Vieira Paes levou-os ao Templo Tabajara. O ambiente fez com que a Irmã
Lourdes ficasse maravilhada. Oravam na mesa o Irmão Paes e sua esposa. A
médium Maria de Lourdes foi, então, descrevendo através a clarividência, o
ambiente espiritual e, logo após, manifestada com o espírito Tia Maria, foi
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levada à mesa dos trabalhos. Pela psicografia documentada, foi dada a ordem
para que fosse reaberta a Casa Tabajara para os trabalhos espirituais e que
fosse feito um aviso para o público sobre a reabertura das sessões. Desde
então, o casal Labuto passou a freqüentar assiduamente as reuniões,
estipuladas pelos Guias.
No dia 9 de junho de 1952, numa sessão realizada na própria natureza, ao ar
livre, defronte ao Templo, o Irmão Anchieta, através da médium Maria de
Lourdes Poyares Labuto, fez lançamento da constituição na Terra da Ordem
Sagrada Tabajara. Estavam presentes também os Irmãos Octávio Ferreira
Paes, Joana Vieira Paes, Álvaro da Silva Labuto e seus quatro filhos. No dia 24
de junho de 1952, por determinações do Astral Superior e motivado por
circunstâncias físicas, o Templo Tabajara teve ordem para ser demolido, para
ser reedificado em terreno próprio, doado espontaneamente pelo casal Paes.
Com um ritual belíssimo, com transposição de fogo simbólico pelos Irmãos
Paes, Joana e Maria de Lourdes, foi feito o lançamento da Pedra Fundamental
do Novo Templo (atual), numa urna de bronze, foram colocadas várias
inscrições bíblicas, por alguns Irmãos Diretores daquela época, no local agora
simbolizado por uma estrela no pórtico principal do Templo. Nesta ocasião foi
cantado pela primeira vez o Hino da Fraternidade Tabajara, com letra e música
transmitidas pelos espíritos Anchieta e Castro Alves pela médium Maria de
Lourdes Poyares Labuto.
Os Irmãos Maria de Lourdes Poyares Labuto, Octávio Ferreira Paes e Joana
Vieira Paes foram iniciados na Ordem Sagrada Tabajara, às 18 horas, deste
mesmo dia, e assim, houve o início da Ordem Sagrada Tabajara na Terra.
Todos os determínios, orientações e todas as diretrizes da O.S.T. (Ordem
Sagrada Tabajara) foram dadas pelos Mentores Espirituais através da médium
Maria de Lourdes Poyares Labuto. No dia 25 de dezembro de 1952 foi
inaugurado parcialmente o novo Templo Tabajara, cujas obras tiveram
administração do construtor Irmão Becacicci e dos Mentores Espirituais, por
intermédio da médium Maria de Lourdes.
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Estando o Irmão Octávio Ferreira Paes conversando com o Espírito Pae João
incorporado na médium Marieta Cardoso de Moura Dias, no Rio de Janeiro,
quando lhe foi instruído que viesse a adquirir um terreno na região hoje
denominada de Bairro Tabajara, em Cariacica, estado do Espírito Santo, para
ali abrir um Terreiro de Umbanda. O Irmão Paes adquiriu uma fazenda de cinco
alqueires de terra, onde construiu uma cabana de sapé com tocos de madeira
como assentos. Assim iniciou-se a Grande Obra de Alta Importância espiritual.
Já no histórico espiritual, a Fraternidade Tabajara e a Fraternidade
Espiritualista Caminho á Luz, na Terra, fazem parte de uma obra maior, no
Plano Espiritual, local chamado de Planície Tabajara. O Patrono desta obra
espiritual é o Espírito João Baptista, declarado na Bíblia, o maior dentre os
nascidos de ventre de mulher. Vários espíritos iluminados formam uma
egrégora espiritual que governa toda a Planície, suas obras espirituais, tanto no
Plano Espiritual quanto no Plano Material.
O Povo Tabajara, que se espalhou por todo norte e nordeste do Brasil, surgiu
com entrelaçamento dos espíritos Chimovita - reencarnação de Tabajara,
descendente dos Incas, e de Rosa - reencarnação da Cabocla Rosa de
Jurema, como relatado no livro E O Sol Brilhou, editado pela Fraternidade
Tabajara, após publicação no Jornal O Tabajara. Neste povo Tabajara e Jurema
reencarnaram por várias vezes como Cacique e Sacerdotisa da Tribo Tabajara.
E assim, o porquê da Umbanda Tabajara cultuar Deus em suas Vibrações nos
Sete Orixás na Umbanda, como: Ory - irradiação de Deus na Natureza
Espiritual, vibrações do Oriente, Oxalá- a Vontade de Deus Manifesta pelo filho
Jesus, Yemanjá - vibração de Deus na Fonte da Procriação e Vida, na
Natureza das Águas, Ogum - o Senhor Jeovah, o Deus dos Exércitos, Oxoss i-
vibração de Deus na Natureza Vegetal, Xangô- vibrações de Deus pela Justiça
e da Natureza Mineral e Congo- vibrações de Deus junto aos Homens, da Terra
inteira. Os Ibejis são chamados, na Umbanda Tabajara, junto aos Orixás
Congo, Oxalá, Oxossi e Yemanjá.
São os Sete Orixás as vibrações dos Sete Caminhos, os Sete Meios, as
Direções e modalidades por que se verifica o Pai, através as vibrações
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Naturais, Materiais e Espirituais. A Umbanda Tabajara também admite o
Princípio Ternário: Deus é o Pai, Jesus é o Filho e a Vontade do Pai, o Espírito
Santo é o Espírito de Deus, em irradiações gerais e eternas.
E por fim, podemos citar alguns espíritos, em suas diversas reencarnações,
que governaram toda essa Planície, temos: Tabajara, Pae João de Aruanda,
Tia Maria, Rosa de Jurema, Rosas, Jeanne D'Arc, Francisco de Assis, Tereza
de Jesus, Estrela Guia, Arary, Antônio de Pádua, Caboclo Três, Caboclo
Bernardo, Araribóia, José de Alencar, Tiradentes, Benedicto, Sebastião,
Seleine, Napoleão Bonaparte, Almirante Jaceguay, Tamandaré, Barão do Rio
Branco, Caxias, Getúlio Dorneles Vargas (atualmente reencarnado), Tarimã,
Deodoro, Irmão X, Juraty, Schubert, Rembrandt, Rondon, dentre outros
espíritos iluminados. Esta egrégora governa o destino da Obra Espiritual, em
suas trinta e três Cidades Espirituais, que compõem a Planície Tabajara, com
setores de trabalhos específicos de assistência a milhares de espíritos.
5- RELATO
Fomos a Fraternidade Tabajara durante dois domingos. Acordamos cedo e
chegamos lá por volta de 07h30min da manhã, nos deparamos com um templo
com o um índio no alto da construção de braços abertos, a porta de entrada
estava fechada e passamos pela lateral. Havia poucas pessoas no local ainda,
verificamos que em sua maioria estava com vestes brancas.
Quando nos identificamos como alunos da UFES- Universidade Federal do
Espírito Santo todos nos trataram com muita educação era normal o “bom dia”
de todos que passavam. Naturalmente, ocorreu uma interação nos
apresentaram alguns dos responsáveis como a Rose e o João Batista. A Rose
fez as boas vindas e nos apresentou toda a casa e nos explicou todos os
ambientes e um pouco do que representam.
Observamos que antes das pessoas entrarem no templo eles iam a uma cruz
grande de madeira, chamada cruzado, que tem ao lado e fazem uma oração,
perguntamos o que era e nos explicaram que era pra limpar a alma e entrar de
forma pura no ambiente. Já dentro do templo tivemos que tirar os sapatos para
pisar no terreiro, este que tem no chão uma estrela que significa o homem de
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braços abertos, nela tem várias escritas feitas pelos médiuns com giz e muitos
outros elementos como plantas, pedras, charutos. Por se tratar de ser uma
curiosidade pelo simbolismo inicialmente, não tivemos acesso aos seus
significados. Ainda no altar existem muitos santos, estatuetas de negros,
caboclos, além de quadros com essas imagens, outro elemento é a cadeira
onde fica sentado o chefe da sessão.
Primeiramente fomos ao Gongá ou Santuário onde fica uma série de santos, o
ambiente tem uma iluminação amena, existe uma fonte onde todos passam em
suas mãos, rosto e pescoço. Conhecemos o ambulatório com camas
suspensas, armários de remédios, onde eles realizam curas espirituais.
Continuando nossa observação visitamos a sala esotérica que é toda azul e os
espíritos que ali freqüentam são orientais. Para completar nossa visita
passamos em frente a sala de descarrego, mas ali não entramos.
É interessante dizer que aprendemos que devemos sair de costas de cada
ambiente deste, tudo isso em respeito aos espíritos, ou seja, “não dar as costas
a eles”.
Agora vamos explicar o Ofício Religioso Umbanda, recorte da nossa etnografia.
6- OFÍCIO RELIGIOSO UMBANDA
O Ofício Religioso Umbanda é um ritual em prol dos encarnados e
desencarnados. Os homens e as mulheres tanto no terreiro quanto nos bancos
ficam em lados opostos, dado que as vibrações espirituais são diferentes. O
oficio é precedido por uma preparação que consiste na reza do pai nosso e na
evocação dos espíritos que regem a casa, como ao Tabajara e aos orixás, por
meios de hinários, conjunto de hinos mediúnicos, e orações. Em divergentes
momentos cada membro se reveste de cordões coloridos, dirigidos aos seus
orixás, as guias, usadas para proteção espiritual. As cores variam conforme a
entidade de proteção.
Os membros médiuns, que representam um intermediário entre o plano
espiritual e a terra têm diferentes tipos de mediunidades: a de ouvir, a de ver e
a de possibilitar um espírito utilizar o corpo, sendo porta-voz da entidade, aos
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poucos saúdam a Deus todo poderoso, deitando-se no centro do altar,
significando que estão diante de Deus e que ele é o único que esta acima de
nós, assim, demonstrando respeito. O Tabajara, como os membros, vão
preparando o centro do altar, com símbolos e objetos, como flores (oferenda),
galhos de arruda (planta usada ritualmente para descarregar as más energias)
e fitas (transportam vibrações desde o plano Divino da Criação até o plano
espiritual e por imantação condensarem seus mistérios em fitas feitas de
tecido, dão a estes materiais todo um poder espiritual, e por trazerem dentro de
si, vibrações das mais diversas possíveis, e por transportarem muitos fatores,
realizam trabalhos positivos).
Os espíritos vão se incorporando a medida do tempo, o que não significa
perder o corpo físico para uma entidade espiritual. Existem variadas formas de
incorporação, da consciência total à perda dela. Com a consciência total ou
parcial, o médium estabelece um contato com sensações espirituais, ouvindo-
as ou sentindo-as movimentar o seu corpo; neste sentido, há uma perda parcial
dos movimentos, que são comandados pela entidade, todos somos
reencarnações de vidas passadas e que na bíblia é preciso encarnar 70 x 7,
sendo este um número figurativo, para entrar no reino do céus. Às vezes um
espírito demora uma reencarnação para evoluir, entretanto há alguns espíritos
perturbados que podem demorar mais, pois precisam de muitas reencarnações
para se tornarem espíritos superiores. O próprio espírito revela suas
reencarnações, ou até por revelações de outros espíritos. E mais, no mundo
espiritual não há diferença de gênero, o espírito não tem sexo, o que determina
a escolha do corpo material é a missão do espírito.
Depois, fazem a cruz de Tabajara. E há o momento da defumação, no qual o
incenso é usado para defumar e para purificar o ambiente, e serve para
espantar os espíritos não doutrinados, espíritos obsessos, e as energias
negativas, assim como, o cachimbo. E à medida em que há a purificação, um
dos membros vai andando pela assistência, lugar onde ocorre o ritual, e as
pessoas vão fazendo gestos, como passando a mão na cabeça, no coração e
rodando para que a fumaça limpe o seu corpo e sua alma. Logo após a
preparação as pessoas em tratamento espiritual são chamadas a se dirigir ao
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ambulatório para obter a cura, e ficam trancados até o termino do ritual. E
assim como os médiuns, os mesmos entram descalços no altar e nas salas,
uma vez que os calçados são feitos de borracha, o que isola a energia, sendo o
único material aceito, o couro, pois transmite e descarrega a energia do corpo e
do ambiente .
Em seguida os médiuns se preparam, com vestimentas específicas para iniciar
o Ofício Religioso Umbanda, os homens colocam um manto azul e as mulheres
um manto verde e um lenço branco na cabeça. Eles pedem pelos
desencarnados, com muita ênfase, principalmente, aos muitos espíritos que se
apegam a bens materiais não evoluindo e ficando presos à Terra. Eles fazem
suas preces também, pedindo pelos estudantes, escolas, serviços públicos,
hospitais, espíritos aflitos, encarnados, acidentados, pelos profissionais, pela
casa, pelos médiuns assistenciais e pela paz entre as religiões, e que as
preces sejam entregues a Deus, fazendo a sua vontade. Levando sempre em
consideração a Lei da Ação e Reação, pois o que se deseja ao próximo voltará
para si mesmo.
Iniciam a oração do Cordeiro de Deus, cantam a Maria de Nazaré, recebem o
vinho em memória de Cristo, primeiro os que estão no altar e depois os que
assistem, as mulheres e em seguidas os homens. Realizam o canto a Maria,
usam a santíssima trindade, e chamam a juventude tabajara para subir ao altar,
que cantam e colocam flores no altar, como oferenda. No final, há a leitura do
evangélico ou de um salmo, como o salmo 76, o dito, três vezes pronunciado,
do Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, regido pelos últimos
cânticos.
E para finalizar, o médium responsável por dirigir o ofício, fala sobre as
atividades da semana e o ritual se encerra com a benção dirigida a todos os
participantes, os quais saem de costas, pois as vibrações devem ser deixadas
no ambiente.
6- ENTREVISTA EM PROFUNDIDADE
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Ao começarmos o trabalho etnográfico, pensamos como método de pesquisa
necessário, uma entrevista em profundidade, nada melhor do que com o Luiz
Augusto Labuto, responsável pela Fraternidade Tabajara na Terra.
Nessa entrevista queríamos saber e entender um pouco melhor sobre a
Fraternidade a relação dele com ela e com o espiritismo. Foi a forma que
encontramos de ouvir certos significados que nem sempre ficaram bem
entendidos em nossa cabeça.
A entrevista proposta teve quatro blocos. Sendo o primeiro de Caracterização,
o segundo sobre a Fraternidade Tabajara em si, o terceiro sobre a relação dele
com a Fraternidade e por último sobre o Ofício Religioso Umbanda.
BLOCO 1 - Caracterização
Seu nome ou como senhor atende: Luiz Augusto Labuto
Sua idade: 57
Profissão: professor de inglês, português, ensino religioso
BLOCO 2 - Sobre a Fraternidade Tabajara
1. Como ela chegou a se instalar em Cariacica? Quem foi o seu fundador?
E quais foram os objetivos iniciais da Fraternidade?
O fundador na Terra, Octávio Ferreira Paes, quando ia ao Rio de Janeiro,
passava pelo Centro Espírita Paz, Amor e Caridade de Jesus, no bairro Vila
Izabel. Através da médium chefe de lá, o espírito Pae João falou para ele
que procurasse um pedaço de terra para comprar, na região do atual bairro
Tabajara, para fundar Terreiro de Umbanda ali. Isto em 1939. O Irmão Paes
comprou uma fazenda de 5 alqueires e iniciou os trabalhos espirituais em
2/2/1940. A finalidade da Fraternidade Tabajara é a prática do seu lema: Fé,
Esperança e Caridade.
O objetivo principal é a prática do seu lema: Fé, Esperança e Caridade
2. Hoje a Fraternidade desenvolve alguma ação em prol da comunidade?
Se sim, qual(is)?
Atendimento gratuito em todos os setores. Não cobramos dízimos. As doações
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são espontâneas.
Temos evangelização coletiva e individual, quatro dias por semana e de
crianças e jovens, duas vezes por semana. Atendimentos com conselhos úteis,
passes magnéticos e descarrego individual, quatro dias por semana. Trabalhos
de cura espiritual, três vezes por semana. Desenvolvimento mediúnico e
descarrego geral, uma vez por semana.
Cursos para crianças e adultos – artesanato ( trabalhos manuais em geral ),
teatro, dança, culinária, pintura em tecidos, fuxico, eletricidade, pintura de
paredes, etc.
Distribuição mensal de cestas básicas, periódicas de roupas, sapatos,
cobertores.
Atendimento mensal com médico do Trabalho e clínico geral, com distribuição
de medicamentos – amostras grátis.
Atendimento semanal com médico homeopata, com distribuição de
medicamentos homeopáticos gratuitos.
Biblioteca com empréstimo gratuito de livros.
Distribuição de sopão aos domingos e almoço comunitário aos sábados.
3. Observei ao conhecer o ambulatório uma série de remédios. A
Fraternidade sobrevive de doações? Os participantes e freqüentadores
pagam por alguma coisa? Se sim, pelo o que?
Como já falei, tudo é gratuito. Só a lanchonete que cobra pelos lanches
opcionais, que os freqüentadores e membros da Fraternidade venham a fazer.
Sobrevivemos de doações dos membros da casa e, eventualmente, de
freqüentadores. Não recebemos nenhuma verba governamental. Os remédios
são amostras grátis que são distribuídas mediante receita médica.
4. Dentro da Fraternidade existem “cargos” e funções especificas para
cada participante? Se sim, para obtê-los é necessário algum tipo de
preparação?
Temos sim. O organograma pode ser traçado pelos Estatutos (onde consta
também que nenhum cargo é remunerado na FT).
Para fazer parte do departamento Umbanda Tabajara, é necessário que se
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freqüente as sessões de desenvolvimento mediúnico por seis meses e assista
mais seis meses de palestras sobre a Fraternidade Tabajara. Ao entrar para a
Umbanda, passa dois anos como auxiliar- cambono e só então passará a
atender o público. Dentro da Umbanda há médiuns cambonos, médiuns de
atendimento, sub-chefes e um médium-chefe ( que sou eu).
Os outros departamentos operacionais tem presidentes, secretários,
tesoureiros,etc.
São os seguintes: Juventude Tabajara, Missionárias de Tabajara, Serviço
Social Tabajara, Tatwa Tabajara, Ambulatório Tabajara, Serviço Jurídico
Tabajara.
Temos uma diretoria com 27 diretores, sendo que doze são presidentes
mensais, secretário geral e tesoureiro geral.
Temos duas ordens religiosas – uma masculina e outra feminina. Para se tornar
um dos 27diretores ou presidentes dos departamentos operacionais, é preciso
ter alcançado o grau máximo nestas ordens.
5. Observei uma maior participação feminina tanto de quem participa em si,
como de quem freqüenta o senhor tem alguma explicação para esse
fenômeno ou considera que as mulheres são sim mais apegadas a fé?
É comum se dizer que a mulher em geral seja mais sensível do que o homem.
Os dons mediúnicos utilizam os cinco sentidos e outros tantos sentidos. Para
ser médium é preciso que os conceitos masculinos mudem. E estão mudando.
No passado, esta diferença de número já foi bem maior, entre os dois sexos.
Conceitos machistas realmente prejudicam a sensibilidade necessária para a
prática da mediunidade. Muitos homens mandam as mulheres falar por eles. A
mulher em geral é que tem perdido um pouco da sensibilidade, talvez por
influencia de estar assumindo cada vez mais importância no mundo
materialista.
6. Quando perguntei ao João Batista, se eu não me engano, sobre o
significado dos símbolos e dos elementos contidos no altar ele citou o
básico, mas disse que era muito cedo para eu saber essas respostas.
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Existe literatura sobre esse simbolismo? Vocês realizam estudos entre si
ou é algo particular de cada um?
Se a vontade é de aprender, e não mera curiosidade, não creio ser cedo ou
não para dar respostas. É claro que há coisas em todas as religiões que são
passadas apenas aos anciãos (velhos membros da religião – não significando
isto em idade física ).
No geral, posso afirmar que tudo que está diante dos olhos, no altar, são
objetos e imagens relacionadas com os Sete Orixás:
Oxalá – Jesus e santos – Deus na vibração do Filho, responsável pela Terra.
Ogum – personificado ou sincretizado em São Jorge e guerreiros. Luta entre o
Bem e o mal.
Oxossi – forças do reino vegetal, personificado pelos índios ou Caboclos.
Ory – forças dos povos e religiões do oriente. Poder da mente, da irradiação
espiritual.
Congo – forças dos povos africanos, personificado pelos Pretos Velhos.
Xangô – forças do reino mineral. Vibração pela Justiça.
Yemanjá – forças das águas, da procriação em geral, da Virgem Maria e
elemento predominantemente feminino no panteão dos Orixás.
Existe literatura sobre vários assuntos relacionados com a Umbanda, como ela
se apresenta, como ela trabalha.
Na Umbanda Tabajara temos, além das palestras gerais, que mencionei acima,
uma sessão Escola para Médiuns da Umbanda Tabajara, realizada todo
primeiro domingo de 14h30min às 19h30min.
BLOCO 3 - Sua relação com a Fraternidade Tabajara.
1. O senhor sempre freqüentou a religião Umbanda?
Sim. Desde o útero. Minha mãe foi médium-chefe da Umbanda Tabajara, por
30 anos. Quando ela desencarnou eu tinha 21 anos. Aos 22 anos assumi
minhas funções junto à Umbanda Tabajara.
Anteriormente, fui presidente da Juventude Tabajara, diretor da Fraternidade
Tabajara, iniciado da Ordem Sagrada Tabajara, etc.
Aos 15 anos cheguei a ver outros rituais e conceitos religiosos de outras
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religiões, para ver se eu iria escolher continuar na Umbanda. Não achei nada
que me parecesse melhor ou mais verdadeiro.
2. Qual o seu papel dentro da Fraternidade?
Sou o representante legal da Fraternidade Tabajara na Terra. Sou o
intermediário principal entre o Comando Espiritual da egrégora Tabajara e o
plano material, transmitindo todas as orientações em todos os setores de
trabalho da Fraternidade Tabajara e da afiliada Fraternidade Espiritualista
Caminho à Luz, em Belo Horizonte.
3. Qual é a função de um médium?
A palavra médium está relacionada com intermediário. Ser médium é ser
intermediário entre os espíritos e o plano material, de várias formas, chamadas
de dons mediúnicos. Com várias finalidades: evangelização, conselhos úteis
em geral, curas, descarrego, desobseção, previsão,trazer para o plano material
conhecimentos e conceitos que vão além do que já é de conhecimento da
humanidade.
BLOCO 4- O Ofício Religioso Umbanda.
1. Se souber me responder, ele possui alguma história?
O espírito idealizador da Fraternidade Tabajara, Pae João de Aruanda, em uma
de suas reencarnações, foi o Padre José de Anchieta. É ele que, através
psicografias através da minha mãe e de mim, vem orientado como conduzir
este ritual, que é executado por um irmão ou uma irmã do grau máximo da
ordem religiosa masculina ou da feminina. Ou por um dos Mentores Espirituais
da FT, incorporados em mim.
2. Qual o significado desse ritual?
Captação e irradiações de forças espirituais para os presentes, para os
irradiados e por toda a Humanidade em geral. A universalização de todas as
irradiações são vistas pelos pedidos iniciais: todas as profissões, todos os
governantes, todas as religiões.
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3. Existe alguma explicação para ele ser realizado aos domingos?
Por ser o dia dedicado a Oxalá e por ser o dia mais acessível à freqüência das
pessoas, em qualquer casa religiosa.
7- CONCLUSÃO
O trabalho que, inicialmente, parecia algo difícil pela indecisão sobre o tema a
ser abordado, ou até mesmo, pela escassez, imaginária, de material a seu
respeito, pois não conhecíamos praticamente nada sobre essa religião Afro-
brasileira, mas com paciência, continuamos a tratar da Umbanda, e como
primeiro passo para a nossa etnografia, recortamos nosso objeto, para facilitar
a descrição, a Fraternidade Tabajara e o Ofício Religioso Umbanda.
À medida que adentramos de vez na pesquisa, surpreendermo-nos pela
quantidade de escritos a respeito da Religião e pela sua riqueza de detalhes.
Com o desenvolvimento do trabalho, fomos descobrindo a sua origem e
doutrina, como seus cânticos, vestimentas e lema. Além, das diferenças e
semelhanças em relação às outras religiões, principalmente, no que diz
respeito a Católica.
Nossa observação participante contribuiu para desfazer de vez preconceitos
diante dessa organização ou tradição de cunho religioso. A pesquisa nos
mostrou também, que a Umbanda, e primordialmente, a Fraternidade Tabajara,
tem em sua doutrina o respeito ao próximo, a caridade e tolerância; buscam
desmistificar o extremo preconceito advindo da ignorância de outras pessoas e
religiões, que a julgam como rituais macabros, sem ao menos conhecê-las; e
pedem sempre pela paz entre as religiões, sem criticá-las.
E mais, concluímos também, que apesar dessa religião ser Afro-brasileira a
maioria são brancos; que apesar da Fraternidade se localizar em Cariacica,
grande porcentagem dos freqüentadores são de Vitória e Vila Velha; e que a
todo tempo não pediram nenhuma ajuda monetária, somente, doações de
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materiais usados em seus trabalhos, como incenso, alimentos para sopa feita
aos necessitados, velas e entre outros além do valor dos livros que lá
compramos.
E para frisar, mais uma vez, essa observação serviu para exercitarmos um
profundo respeito pelas crenças e suas diferenças, ultrapassando resquícios de
um etnocentrismo ainda muito presentes em muitas religiões e pensamentos
leigos, que conhecemos nos dias de hoje.
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8- REFERÊNICAS BIBLIOGRÁFICAS
Cf. GAARDER, Jostein, HELLERN, Victor, NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.
LABUTO, Maria de Lourdes Poyares. ...E o sol brilhou. Vitória:2009.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do pacifico ocidental: um relato do
empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné
melanésia. São Paulo: Abril Cultural, 1976. Revista Mundo e Missão. Religiões Afro-Brasileiras.
http://www.fraternidadetabajara.org.br
http://www.vivabrazil.com/abolicao_da_escravatura.htm
www.suapesquisa.com/históriadobrazil/escravidão.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Origem_da_Umbanda
http://www.guia.heu.nom.br/origem_da_Umbanda.htm
http://www.jornaldeUmbandasagrada.com.br/q1p=01.php
http://www.midiaindependente.org/es/blue/2003/12/269417.shtml
http://www.ceismael.com.br/tema/tema005.htm