1) ,,to 1) - prr5.mpf.mp.br · divulga carta de ferreira ... desculpas, por todo incidente causado...

2
divulga carta de Ferreira Ao liberar, ontem, para a Imprensa, o texto da carta que lhe enviou o ex-major José Ferreira dos Anjos, postada na cidade para- guaia de Manana, o governador Roberto Ma- galhães disse não acreditar que o mandante do assassinato do procurador Pedro Jorge de Melo e Silva "esteja no Paraguai". O ex- oficial, protestando inocência quanto à sua participação no crime, bem como fazendo a defesa dos demais condenados - Heronides Ribeiro, sargento Lopes, agente Euclides de Souza, Jorge Ferraz e Elias Nogueira - pede que o governador nomeie uma comissão para, em caráter sigiloso, realizar diligências neste sentido. Ao contrário da carta que endereçou ao jornalista Edilson Torres, advertindo os seus inimigos, Ferreira, na correspondência dirigida a Magalhães. pede desculpas por ter fugido da prisão e lamenta não estar ao lado dos filhos. "que os comunistas, na pessoa de um juiz comunista, arrancaram de mim". E pergunta: "Que culpa têm eles?". Mais notí- cias na página A-13 .„,.,,,, .....:, ..,..„_.,;,,,....,,,.,.,...!»... . DE 1) ..,..,... 1) •. , ,,To . : , Recife. quarta-feira, 4 de janeiro de 1984 Ferreira pede Governador O governador Roberto Magalhães liberou, ontem, à Imprensa, o texto da carta que lhe foi enviada pelo ex-major José Ferreira dos Anjos, na qual o ex-militar foragido pede a criação de uma comis- são para investigar, em cará- ter confidencial, os fatos liga- dos ao dia da morte do procu- rador Pedro Jorge, a fim de que seja "comprovada a ino- cência" de todos os acusados do crime. Na carta Ferreira fala ainda da bomba do aeroporto dos Guararapes, em 1969 e afirma que ninguém o auxi- liou na fuga do Esquadrão Dias Cardoso, pois "driblei o sentinela, pulei o muro dos fundos do quartel, andei uns 500 metros até a Avenida, pe- guei um táxi e entrei na clan- destinidade. Ninguém da PMPE soube de nada". POLITICA Momentos antes de rece- ber o vice-presidente Aure- liano Chaves, no aeroporto dos Guararapes, o governador Ro- berto Magalhães disse que o fato de Ferreira alegar que está sendo vítima de um jogo político caracteriza o direito de defesa, uma vez que, "Na medida em que presta conota- ções políticas ao episódio, ele (o ex-major) está favorecido porque g i - Ve - rá sempre alguém contra e alguém a favor. En- quanto na medida em que se dê um tratamento de um caso comum porque é originário de crimes comuns, já não haverá esse divisor de águas". A carta de Ferreira ao go- vernador foi recebida em Pa- lácio dia 27 último, e, após perícia grafoscópica, foram enviadas cópias autênticas e laudo à Polícia Federal e ao comando da Polícia Militar. Segundo Roberto Maga- lhães, levando em conta sua experiência de advogado, "Se a carta foi posta no Paraguai é sinal que ele não está no Para- guai". investiciaçiio

Upload: vocong

Post on 08-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 1) ,,To 1) - prr5.mpf.mp.br · divulga carta de Ferreira ... desculpas, por todo incidente causado com meu ingresso na clandestinidade. Inicialmente gostaria de deixar bem claro que

divulga cartade Ferreira

Ao liberar, ontem, para a Imprensa, otexto da carta que lhe enviou o ex-major JoséFerreira dos Anjos, postada na cidade para-guaia de Manana, o governador Roberto Ma-galhães disse não acreditar que o mandantedo assassinato do procurador Pedro Jorge deMelo e Silva "esteja no Paraguai". O ex-oficial, protestando inocência quanto à suaparticipação no crime, bem como fazendo adefesa dos demais condenados - HeronidesRibeiro, sargento Lopes, agente Euclides deSouza, Jorge Ferraz e Elias Nogueira - pedeque o governador nomeie uma comissão para,em caráter sigiloso, realizar diligências nestesentido. Ao contrário da carta que endereçouao jornalista Edilson Torres, advertindo osseus inimigos, Ferreira, na correspondênciadirigida a Magalhães. pede desculpas por terfugido da prisão e lamenta não estar ao ladodos filhos. "que os comunistas, na pessoa deum juiz comunista, arrancaram de mim". Epergunta: "Que culpa têm eles?". Mais notí-cias na página A-13

.„,.,,,, .....:,..,..„_.,;,,,....,,,.,.,...!»... .DE

1) ..,..,...

1) •. ,,,To. :,

Recife. quarta-feira, 4 de janeiro de 1984 Ferreira pedeGovernador

O governador RobertoMagalhães liberou, ontem, àImprensa, o texto da carta quelhe foi enviada pelo ex-majorJosé Ferreira dos Anjos, naqual o ex-militar foragidopede a criação de uma comis-são para investigar, em cará-ter confidencial, os fatos liga-dos ao dia da morte do procu-rador Pedro Jorge, a fim deque seja "comprovada a ino-cência" de todos os acusadosdo crime.

Na carta Ferreira falaainda da bomba do aeroportodos Guararapes, em 1969 eafirma que ninguém o auxi-liou na fuga do EsquadrãoDias Cardoso, pois "driblei o

sentinela, pulei o muro dosfundos do quartel, andei uns500 metros até a Avenida, pe-guei um táxi e entrei na clan-destinidade. Ninguém daPMPE soube de nada".POLITICA

Momentos antes de rece-ber o vice-presidente Aure-liano Chaves, no aeroporto dosGuararapes, o governador Ro-berto Magalhães disse que ofato de Ferreira alegar queestá sendo vítima de um jogopolítico caracteriza o direitode defesa, uma vez que, "Namedida em que presta conota-ções políticas ao episódio, ele(o ex-major) está favorecido

porque gi-Ve-rá sempre alguémcontra e alguém a favor. En-quanto na medida em que sedê um tratamento de um casocomum porque é originário decrimes comuns, já não haveráesse divisor de águas".

A carta de Ferreira ao go-vernador foi recebida em Pa-lácio dia 27 último, e, apósperícia grafoscópica, foramenviadas cópias autênticas elaudo à Polícia Federal e aocomando da Polícia Militar.

Segundo Roberto Maga-lhães, levando em conta suaexperiência de advogado, "Sea carta foi posta no Paraguai ésinal que ele não está no Para-guai".

investiciaçiio

Page 2: 1) ,,To 1) - prr5.mpf.mp.br · divulga carta de Ferreira ... desculpas, por todo incidente causado com meu ingresso na clandestinidade. Inicialmente gostaria de deixar bem claro que

E garante que não mandou matarom seis laudas, a carta

enviada pelo ex-major Fer-reira ao governador RobertcMagalhães tem o seguinteteor:

"Exmo. sr. governador,dr. Roberto Magalhães. Deantemão, minhas sincerasdesculpas, por todo incidentecausado com meu ingresso naclandestinidade. Inicialmentegostaria de deixar bem claroque jamais tive qualquer in-tenção de desafiá-lo ou sequeiprejudicar o andamento deGoverno de v. exa. Minha de-cisão teve que ser tomada,pois se v. exa. se colocasse ncmeu lugar, entre a humilha•ção pública, o risco de sobrevi-vência em uma prisão comum,só restava o caminho que to-mei. Sei e reconheço, dr. Ro-berto, do volume de pressõesque v. exa. sofreu para assinaro ato de minha demissão daPM. Sei também, governador,que vivemos hoje em um outroBrasil. Acabo de receber aquina minha clandestinidade osjornais daí do Recife, rela-tando o fato e estupefato vejcque realmente estamos em ou-tro Brasil. Outrora, não fazmuito tempo, fugiu daí tam-bém, do mesmo Regimento deCavalaria, um perigosissimoterrorista que havia colocadouma bomba no aeroporto dosGuararapes. Era Zaratini, o n%1 dos terroristas que passarampelo Nordeste. Essa bomba,dr. Roberto, ceifou a vida deEdson Régis e Nelson Fernan-des, mutilou também o ex-guarda Paraíba, além de tam-bém levar quase toda umamão do cel. Sílvio Ferreira.

Em 1969, eu me encon-trava nos Estados Unidos como ed. Sílvio Ferreira e vi quãoterrível é carregar consigo, portoda a parte e para sempre,tamanha amarga recordaçãode tão monstruoso crime.Mas, governador, a repercus-são da fuga de tão grande cri-minoso, naquela época, nãofoi nem parecida com a divul-gação que querem dar a esta.E mais: Zaratini recebia atédo Sul do País caravanas deartistas que vinham apoiá-loem sua prisão e lhe trazer con-forto. que ele era irmão deCarlos Zara, o ator. Mas fugiue não houve nem a metade dabalbúrdia que fizeram com aminha saída. Por que, dr. Ro-berto? É exatamente a provada força dos comunistas emnosso Brasil.

Agora, governador, desdeque iniciou-se esse processo doprocurador que gritamos sobrenossa inocência e nunca apa-receu alguém que nos desseouvidos. Eu sei porque, dr.Roberto. Formaram contranós, os acusados, atra-vés da Imprensa, uma opi-nião pública, só com a fina-lidade de no final me apanha.rem, arrancarem minha farda,mie jogarem em um presídio elá me assassinarem, o quequase realmente conseguiram.E per causa dessa opinião pú-blica, toda austeridade temmedo de pelo menos olhar apodridão que contém esse pro-cesso forjado contra nós.

Dr. Roberto, eu peço uma

coisa ao sr., sabendo mesmoque o sr. também até penseque somos realmente culpadospela morte do procurador.Não acredite em mim, não. Osr. tem em mãos ainda tantona PM, como na Policia Civile na Justiça Estadual, algunshomens que não se vergam àimoralidade: um cel. lberliá-cio, um cel. Soares, um majorMoura a quem o sr. viu cum-prir uma missão em Exu, umdr. Fernando Ribeiro, na SSP,um dr. Rivadávia, um dr.João Acioli, um dr. CélioMontenegro na Justiça. Al-guns desses eu sei que tam-bém estão com opinião for-mada contra nós, pensandoque somos realmente culpa-dos, mas apelo ao sr.: nomeie,reservadamente, sem ninguémsaber„uma comissão de doisou ires homens deste padrão mo-ral e mande-os a Bezerros, so-mente para lá apurarem se oagente Clidõ estava ou não láde serviço, durante todo dia etoda noite, no dia da morte doprocurador. Exija dessa co-missão, dr. Roberto, um tra-balho detalhado, com diligen-cias sérias, sendo tudo reser-vadamente, com o único deverde trazer a v. exa. a verdade.Dr. Roberto, se trouxerem acerteza absoluta que Clidó es-tava de serviço, na Delegaciade Bezerros, no dia do crime,não tendo portanto partici-pado do crime do procurador,ordene a essa mesma comissãoque faça o mesmo com Hero-nides, para apurar se ele es-tava ou não em Floresta no diado crime, com Elias para sa-ber se ele estava ou não emVárzea do 'cá no dia do crime,como também com o sargentoLopes para saber se ele estavaou não em uma reunião na 2 ►Secção na hora do crime, e en-fim, com todos os acusados.Tenho certeza, dr. Roberto,que v. exa. terá uma grandesurpresa, sabendo então quetudo aquilo foi uma farsa coma única finalidade de me apa-nharem. Mas, dr. Roberto,que culpa têm esses outroscom minha posição contra es-ses comunistas? Que me pe-guem, se querem este revan-chismo, mas deixem os outrosinocentes voltarem para o seiode suas famílias.

Dr. Roberto, eu tenhodois filhinhos, 4 e 6 anos, quesó dormiam, cada um do meulado, inclusive aí no quartel.Eu colocava três colchões nochão, deitava no meio e cadaum deitava de um lado, sendoque o menor dizia semprequando deitávamos que erapara eu dormir viradopra ele.Então eu beliscava o olho parao mais velho, dando a enten-der a ele que depois que o me-nor dormisse, eu virava tam-bém pra ele e assim estiravaos braços e cada um deles,agarrados comigo, dormiam.

Os comunistas, na pessoa.de um juiz comunista, arran-caram meus filhinhos de mim.Dr. Roberto, nem sei se o sr. épai. Mas aqui, na minha clan-destinidade eu choro agora,lembrando deles e sem sabercomo eles estão se sentindosem mim. Que culpa têm eles?

Em suas inocências, talveznão saibam ainda porquenunca mais dormi com eles.Não peço perdão de nada poisnão cometemos crime ne-nhum. Peço só ao sr. que façaesta comissão em caráter sigi-loso, pois se soubessem dessetrabalho iriam para o meio darua fazer protestos, inicial-mente a Bezerros e depois aoutros lugares, saber se todoesse processo não foi forjado,só para me incriminarem.Esta condenação que me ar-rancou a farda foi por eu tertrazido dos Estados Unidosduas armas, há alguns anos.As trouxe exatamente parameu uso pois a PM não tinhaarmas boas para casos espe-ciais, como foi uma vez,quando seqüestraram um côn-sul, que tiveram que me man-dar buscar urgente e tomar ar-mas emprestadas em umclube de tiros. No desfile de 7de setembro o comandante ge-ral me pediu emprestadas es-sas armas e a PM desfilou comelas. Esse juiz me condenouapesar de saber tudo isto einclusive sabendo que eu eratambém professor de Arma-mento e Tiro na Academia daPM e atirador, representantedo Estado, de armas curtas elongas.

Mas dr. Roberto, se viuqueriam pegar pelas minhasposições contra os comunistas,que fui, não peguem os outrosinocentes que como eu, sei quetêm filhos como os meus.Apelo a v. exa. não acreditarem mim. Mande essa comis-são verificar pois quando o re-sultado chegar, sei que o cará-ter de v. exa. vai levá-lo aopresidente para que ele veja ainjustiça que se está prati-cando, quando então sei queprovidências apareceriampara corrigir tão monstruosoerro judiciário, tão somenteformado pela opinião pública,manipulada pelos comunis-tas. Gostaria também de dizera v. exa. que ninguém me au-xiliou em minha fuga. Dribleio sentinela, pulei o muro dosfundos do quartel, andei uns500 metros até a avenida, pe-guei um táxi e entrei na clan-destinidade. Ninguém da PMsoube de nada. Quanto a notí-cia que v. exa. havia assinadoo ato de minha demissão, me-nos o ten. cel. Freitas, todomundo que comigo esteve na-quela noite, me trazia a notí-cia.

Assim, dr. Roberto, estoupedindo a v. exa. que mandeverificar por essa comissão, averdade. Se essa verdade vierdizendo que existe injustiça,sei que v. exa. não deixarápassar sem tomar uma atitudeque venha beneficiar essesinocentes que há quase doisanos estão presos. A verdadenão deve fazer medo a nin-guém. Se v. exa. mandar bus-car a verdade, mesmo confi-dencialmente, ficamos eterna-mente agradecidos, pois sabe-mos que providências futurasvirão. Deus proteja v, exa. (a)José Ferreira dos Anjos. P.S. -Por segurança, enviei cópiadesta carta endereçada à v.exa à minha mulher".