1. porte de arma sem muniÇÃo

5
ARMA 1. PORTE DE ARMA SEM MUNIÇÃO 1.1 CRIME STF (1ª TURMA) EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. JULGADO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ARMA DESMUNICIADA. TIPICIDADE DA CONDUTA. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão do Superior Tribunal de Justiça está em consonância com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 2. O crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido é de mera conduta e de perigo abstrato, ou seja, consuma-se independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo para a sociedade, e a probabilidade de vir a ocorrer algum dano é presumida pelo tipo penal . Além disso, o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física, mas a segurança pública e a paz social, sendo irrelevante o fato de estar a arma de fogo municiada ou não. Precedentes. 3. Ordem denegada. (HC 104206, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 10/08/2010, DJe-159 DIVULG 26-08-2010 PUBLIC 27-08-2010 EMENT VOL-02412-03 PP-00671) STJ (5ª TURMA) RECURSO ESPECIAL. PENAL. PORTE DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. ACÓRDÃO ABSOLUTÓRIO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ARMA DESMUNICIADA. IRRELEVÂNCIA. CRIME DE MERA CONDUTA. RECURSO PROVIDO. 1. O simples fato de portar arma de fogo de uso permitido viola o previsto no artigo 14 da Lei 10.826/03, por se tratar de delito de mera conduta ou de perigo abstrato, cujo objeto imediato é a segurança coletiva. É, desse modo, irrelevante que o artefato bélico esteja desmuniciado. 2. Na espécie, sendo incontroverso o fato de que o recorrido portava arma de fogo de uso permitido sem autorização, mesmo que sem munição, é de rigor a condenação. 3. Recurso especial a que se dá provimento, restabelecendo os efeitos da sentença condenatória em todos os seus termos. (REsp 1189254/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/10/2010, DJe 25/10/2010) 1.2 ATIPICIDADE STF (2ª TURMA) EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime. Arma de fogo. Porte ilegal. Arma desmuniciada, sem disponibilidade imediata de munição. Fato atípico. Falta de ofensividade. Atipicidade reconhecida. Absolvição. HC concedido para esse fim. Inteligência do art. 10 da Lei n° 9.437/97. Voto vencido. Porte ilegal de arma de fogo desmuniciada, sem que o portador tenha disponibilidade imediata de munição, não configura o tipo previsto no art. 10 da Lei n° 9.437/97. (HC 99449, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 25/08/2009, DJe-027 DIVULG 11-02-2010 PUBLIC 12-02-2010 EMENT VOL-02389-03 PP-00454) STJ (6ª TURMA) HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ARMA DESMUNICIADA.

Upload: almir

Post on 04-Jul-2015

356 views

Category:

Documents


10 download

TRANSCRIPT

Page 1: 1. PORTE DE ARMA SEM MUNIÇÃO

ARMA

1. PORTE DE ARMA SEM MUNIÇÃO

1.1 CRIME

STF (1ª TURMA)

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. PORTE ILEGAL DE ARMA

DE FOGO DE USO PERMITIDO. JULGADO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM

CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

ARMA DESMUNICIADA. TIPICIDADE DA CONDUTA. PRECEDENTES. ORDEM

DENEGADA. 1. A decisão do Superior Tribunal de Justiça está em consonância com a

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 2. O crime de porte ilegal de arma de fogo de

uso permitido é de mera conduta e de perigo abstrato, ou seja, consuma-se

independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo para a sociedade, e a probabilidade

de vir a ocorrer algum dano é presumida pelo tipo penal. Além disso, o objeto jurídico

tutelado não é a incolumidade física, mas a segurança pública e a paz social, sendo irrelevante o

fato de estar a arma de fogo municiada ou não. Precedentes. 3. Ordem denegada.

(HC 104206, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 10/08/2010,

DJe-159 DIVULG 26-08-2010 PUBLIC 27-08-2010 EMENT VOL-02412-03 PP-00671)

STJ (5ª TURMA)

RECURSO ESPECIAL. PENAL. PORTE DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO.

ACÓRDÃO ABSOLUTÓRIO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ARMA DESMUNICIADA.

IRRELEVÂNCIA. CRIME DE MERA CONDUTA. RECURSO PROVIDO.

1. O simples fato de portar arma de fogo de uso permitido viola o previsto no artigo 14 da

Lei 10.826/03, por se tratar de delito de mera conduta ou de perigo abstrato, cujo objeto

imediato é a segurança coletiva. É, desse modo, irrelevante que o artefato bélico esteja

desmuniciado.

2. Na espécie, sendo incontroverso o fato de que o recorrido portava arma de fogo de uso

permitido sem autorização, mesmo que sem munição, é de rigor a condenação.

3. Recurso especial a que se dá provimento, restabelecendo os efeitos da sentença condenatória

em todos os seus termos.

(REsp 1189254/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/10/2010,

DJe 25/10/2010)

1.2 ATIPICIDADE

STF (2ª TURMA)

EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime. Arma de fogo. Porte ilegal. Arma desmuniciada, sem

disponibilidade imediata de munição. Fato atípico. Falta de ofensividade. Atipicidade

reconhecida. Absolvição. HC concedido para esse fim. Inteligência do art. 10 da Lei n°

9.437/97. Voto vencido. Porte ilegal de arma de fogo desmuniciada, sem que o portador tenha

disponibilidade imediata de munição, não configura o tipo previsto no art. 10 da Lei n°

9.437/97.

(HC 99449, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. CEZAR

PELUSO, Segunda Turma, julgado em 25/08/2009, DJe-027 DIVULG 11-02-2010 PUBLIC

12-02-2010 EMENT VOL-02389-03 PP-00454)

STJ (6ª TURMA)

HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. ARMA DESMUNICIADA.

Page 2: 1. PORTE DE ARMA SEM MUNIÇÃO

FALTA DE ACESSO PRONTO À MUNIÇÃO. ATIPICIDADE DA CONDUTA.

OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA LESIVIDADE. ORDEM CONCEDIDA.

1. Como bem observado pelo Ministro Sepúlveda Pertence, no RHC nº 81.057-8/SP, "para a

teoria moderna - que dá realce primacial aos princípios da necessidade da incriminação e da

lesividade do fato criminoso - o cuidar-se de crime de mera conduta - no sentido de não se

exigir à sua configuração um resultado material exterior à ação - não implica admitir sua

existência independentemente de lesão efetiva ou potencial ao bem jurídico tutelado pela

incriminação da hipótese de fato." 2. De feito, o simples portar arma, sem que se tenha

acesso à munição, não apresenta sequer perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela

norma incriminadora, no caso, a segurança pública, devendo ser reconhecida a atipicidade

material da conduta, observando-se, sempre, o caráter fragmentário do direito penal.

3. Na hipótese, o paciente foi abordado portando uma espingarda, tipo carabina, desmuniciada, e

na oportunidade acompanhou os policiais militares até a sua residência, onde foi encontrada a

munição. Conduta atípica.

4. Ordem concedida.

(HC 140.061/ES, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO

TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 25/05/2010, DJe 21/06/2010)

2. MUNIÇÃO SEM ARMA

STF (1ª TURMA) - ATIPICIDADE

EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. ART. 16 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO

(LEI 10.826/03). PORTE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE USO RESTRITO. AUSÊNCIA DE

OFENSIVIDADE DA CONDUTA AO BEM JURÍDICO TUTELADO. ATIPICIDADE DOS

FATOS. ORDEM CONCEDIDA. I - Paciente que guardava no interior de sua residência 7

(sete) cartuchos munição de uso restrito, como recordação do período em que foi sargento do

Exército. II - Conduta formalmente típica, nos termos do art. 16 da Lei 10.826/03. III -

Inexistência de potencialidade lesiva da munição apreendida, desacompanhada de arma de fogo.

Atipicidade material dos fatos. IV - Ordem concedida.

(HC 96532, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em

06/10/2009, DJe-223 DIVULG 26-11-2009 PUBLIC 27-11-2009 EMENT VOL-02384-02 PP-

00439 RSJADV dez., 2009, p. 44-46)

OBS.: Para o relator (Min. RICARDO LEWANDOWSKI), a posse da munição sem a

arma não possui ofensividade, ensejando a atipicidade material. Para o Ministra Carmen

Lúcia, possui tipicidade material, mesmo sem a posse da arma, mas pela circunstância do

caso concreto (munição guardada como recordação do período em que o agente esteve no

Exército) entendeu pela atipicidade. O Ministro Marco Aurélio votou contra o relator,

afirmando que é crime possuir munição mesmo sem a arma.

STJ (5ª TURMA) - CRIME

PENAL. PORTE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE USO PERMITIDO. ARMA DE FOGO.

AUSÊNCIA. IRRELEVÂNCIA. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. TIPICIDADE. CASO.

1. Para configurar o crime de porte de munição, previsto no art. 14 da Lei n° 10.826/2003,

mostra-se irrelevante o fato de o agente não portar a arma de fogo no momento da

apreensão.

2. O delito de porte ilegal de munição é considerado como de perigo abstrato, não sendo

obrigatória a existência de um resultado naturalístico para que haja sua consumação.

3. A mera conduta de trazer consigo munição, sem autorização legal, é suficiente para que a

conduta seja considerada típica.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1166415/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em

28/09/2010, DJe 18/10/2010)

Page 3: 1. PORTE DE ARMA SEM MUNIÇÃO

STF (2ª TURMA): tipicidade (2 votos) x atipicidade (1 voto: Peluzo, conforme abaixo)

(...)

O Min. Cezar Peluso, em voto-vista, por reputar atípica a conduta imputada ao paciente,

deferiu o writ para determinar o trancamento da ação penal. Observou, de início, que a matriz

definidora e legitimadora do Direito Penal residiria, sobretudo, na noção de bem jurídico, sendo

ela que permitiria compreender os valores aos quais o ordenamento concederia a relevância

penal, de acordo com a ordem axiológica da Constituição, e, por isso, legitimaria a atuação do

instrumento penal. Ressaltou que, na chamada sociedade do risco, com a pretensão de se atenuar

a insegurança decorrente da complexidade, globalidade e dinamismo social, demandar-se-ia a

regulação penal das atividades capazes de produzir perigo, na expectativa de que o Direito Penal

fosse capaz de evitar condutas geradoras de risco e de garantir um estado de segurança.

Considerou que, para justificar a antecipação da tutela penal para momento anterior à efetiva

lesão ao interesse protegido, falar-se-ia em prevenção e controle das fontes de perigo a que estão

expostos os bens jurídicos, para tratar situações antes não conhecidas pelo Direito Penal

tradicional. Frisou que, para previsão de determinada conduta como reprovável, construir-se-ia

uma relação meramente hipotética entre a ação incriminada e a produção de perigo ou dano ao

bem jurídico. Destacou que o ilícito penal consistiria na infração do dever de observar

determinada norma, concentrando o injusto muito mais no desvalor da ação do que no desvalor

do resultado, que se faria cada vez mais difícil identificar ou mensurar.

HC 90075/SC, rel. Min. Eros Grau, 20.4.2010. (HC-90075)

Porte Ilegal de Munição - 4

Assim, enfatizou que, em vez do tradicional elemento de lesão ao bem jurídico, apareceria

como pressuposto legitimador da imputação a desaprovação do comportamento que vulnera

dever definido na esfera extra-penal. Asseverou, no ponto, que essa tendência poderia entrar em

choque com os pressupostos do Direito Penal clássico, fundado na estrita legalidade, na

proporcionalidade, na causalidade, na subsidiariedade, na intervenção mínima, na

fragmentariedade e lesividade, para citar alguns dos seus princípios norteadores. Evidenciou,

destarte, que grave dilema se poria no fato de que, de um lado se professaria que o Direito Penal

deveria dedicar-se apenas à proteção subsidiária repressiva dos bens jurídicos essenciais, por

meio de instrumentos tradicionais de imputação de responsabilidade, segundo princípios e

regras clássicos de garantia, e, de outro, postular-se-ia a flexibilização e ajuste dos instrumentos

dogmáticos e das regras de atribuição de responsabilidade, para que o Direito Penal reunisse

condições de atuar na proteção dos bens jurídicos supra individuais, e no controle dos novos

fenômenos do risco. Esclareceu que as normas de perigo abstrato punem a realização de conduta

imaginada ou hipoteticamente perigosa sem a necessidade de configuração de efetivo perigo ao

bem jurídico, na medida em que a periculosidade da conduta típica seria determinada antes, por

meio de uma generalização, de um juízo hipotético do legislador, fundado na idéia de mera

probabilidade. Avaliou que, nos tipos de perigo concreto, se exigiria o desvalor do resultado,

impondo o risco do bem protegido, enquanto, nos tipos de perigo abstrato, ocorreria claro

adiantamento da proteção do bem a fases anteriores à efetiva lesão. Asseverou, todavia, que

deveria restar caracterizado um mínimo de ofensividade como fator de delimitação e

conformação de condutas que merecessem reprovação penal. Nesse sentido, registrou que a

aplicação dos instrumentos penais de atribuição de responsabilidade às novas realidades haveria

de se restringir aos casos em que fosse possível compatibilizar a nova tipificação com os

princípios clássicos do Direito Penal.

HC 90075/SC, rel. Min. Eros Grau, 20.4.2010. (HC-90075)

Porte Ilegal de Munição - 5

Salientou ser certo que a lesividade nem sempre significaria dano efetivo ao bem jurídico

protegido, mas, para se entender e justificar como tal, exigiria, pelo menos, que de algum modo

se pusesse em causa uma situação de perigo. Reportou que, ainda nos delitos de perigo abstrato,

seria preciso acreditar na perigosidade da ação, no desvalor real da ação e na possibilidade de

resultado perigoso, não sendo punível, por isso, a conduta que não pusesse em perigo, nem

Page 4: 1. PORTE DE ARMA SEM MUNIÇÃO

sequer em tese ou por hipótese, o bem jurídico protegido. Entendeu que a conduta considerada

perigosa de um ponto de vista geral e abstrato poderia não o ser em verdade e, no caso dos

autos, não haveria possibilidade de lesão à incolumidade pública em virtude do transporte de 10

projéteis, de forma isolada, sem a presença de arma de fogo. Sustentou que daí não se poderia

admitir a comparação com eventual tráfico ou transporte de grande quantidade de material de

munição. Nesse diapasão, compreendeu que a conduta de portar munição, uma das várias

previstas pelo art. 14 da Lei 10.826/2003, não seria aprioristicamente detentora de dignidade

penal, porquanto se haveria de se verificar, em cada caso, se a conduta seria capaz de, por si,

representar ameaça real ou potencial a algum bem jurídico. Consignou que, se não se vislumbrar

ofensividade da conduta, a criminalização do porte de munição fulmina a referência material,

que, segundo os padrões clássicos, deveria não só justificar a intervenção do Direito Penal, mas

presidir a interpretação dos tipos com vistas a determinar a sua realização.

HC 90075/SC, rel. Min. Eros Grau, 20.4.2010. (HC-90075)

Porte Ilegal de Munição - 6

Assinalou que, se a conduta em questão não detém dignidade penal, a aplicação do art. 14

da Lei 10.826/2003, na espécie, representaria unicamente o uso do Direito Penal para a

manutenção do sistema de controle do comércio de armas e munições. Ou seja, tal modelo

imporia a aceitação de um discurso eminentemente funcional, mediante prevenção em geral

negativa, procurando intimidar toda a sociedade quanto à prática criminosa. Assentou que isso

justificaria, do ponto de vista da política criminal, certa antecipação da tutela, derrogando-se o

princípio da lesividade, em função de necessidades da administração, o que, definitivamente,

não seria e nem poderia ser o seu papel, nem sequer no contexto de uma sociedade de risco.

Acrescentou, ademais, que o conceito material do delito e a idéia de subsidiariedade do Direito

Penal, como diretriz político-criminal, pressuporiam que, antes de lançar mão do Direito Penal,

o Estado adotasse outras medidas de política social que visassem proteger o bem jurídico,

podendo fazê-lo de maneira igual e até mais eficiente. Afirmou que a condenação do paciente

pelo porte de 10 projéteis apenas como incurso em tipo penal tendente a proteger a

incolumidade pública contra efeitos deletérios da circulação de arma de fogo no país seria um

exemplo do exercício irracional do ius puniendi ou do crescente distanciamento entre bem

jurídico e situação incriminada, o que, fatalmente, conduzirá à progressiva indefinição ou

diluição do bem jurídico protegido que é a razão de ser do Direito Penal. Após, pediu vista dos

autos a Min. Ellen Gracie.

HC 90075/SC, rel. Min. Eros Grau, 20.4.2010. (HC-90075)

3. NUMERAÇÃO SUPRIMIDA

STF (PLENO)

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL.

PROCESSUAL PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. PORTE ILEGAL DE ARMA DE

FOGO COM NÚMERO DE SÉRIE SUPRIMIDO: INTELIGÊNCIA DO ART. 16,

PARÁGRAFO ÚNICO, INC. IV, DA LEI N. 10.826/03. RECURSO PARCIALMENTE

CONHECIDO E, NESSA PARTE, DESPROVIDO. 1. A arma de fogo, mesmo desmuniciada,

não infirma a conduta penalmente punível na forma tipificada no dispositivo mencionado,

porque, com ou sem munição, ela haverá de manter o seu número de série, marca ou sinal de

identificação para que possa ser garantido o controle estatal. 2. A supressão ou a alteração da

numeração ou de qualquer outro sinal identificador impede ou dificulta o controle da

circulação de armas pela ausência dos registros de posse ou porte ou pela sua frustração. 3. Comprovação inegável do porte e posse de arma de fogo, com o seu número de série

suprimido, pelo Recorrente. 4. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido.

(RHC 89889, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 14/02/2008,

DJe-232 DIVULG 04-12-2008 PUBLIC 05-12-2008 EMENT VOL-02344-01 PP-00156)

STJ (5ª TURMA)

Page 5: 1. PORTE DE ARMA SEM MUNIÇÃO

RECURSO ESPECIAL. PENAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO COM A

NUMERAÇÃO RASPADA. CRIME DO ART. 16, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO IV, DA

LEI N.º 10.826/03. ARMA DE USO PERMITIDO, RESTRITO OU PROIBIDO.

IRRELEVÂNCIA. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DO ART. 14 DO ESTATUTO

DO DESARMAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO.

1. Apesar de o caput do art. 16 da Lei n.º 10.826/03 referir-se a armas de fogo, munições ou

acessórios de uso proibido ou restrito, o parágrafo único, ao incriminar a conduta de portar arma

de fogo modificada, refere-se a qualquer arma, sendo irrelevante o fato de ela ser de uso

permitido, proibido ou restrito.

2. Recurso provido.

(REsp 918.867/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 28/09/2010,

DJe 18/10/2010)