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1 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantesAT

a n t e v i s ã o v

museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes

3 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes2

promotores

câmara municipalde abrantesPresidenteMaria do Céu Albuquerque

fundação estradaPresidenteJoão Lourenço Sigalho Estrada

coordenação geral do projetoIsilda Jana

museologia e história da arteFernando António Baptista Pereira(coordenação)

arqueologiaLuiz Oosterbeek(coordenação)

textos Davide DelfinoGustavo Portocarrero

catálogoPaulo PassosGabinete de Comunicação / CMA

fotografiaFernando Sá BaioGabinete de Comunicação / CMA

montagem museográfica de peçasJosé Manuel Frazão

produção de letteringGabinete de Comunicação / CMA

impressãoSersilito, Empresa Gráfica, Lda

isbn978-972-9133-41-1

depósito legal311943/10

2500 Anos de armas e conflitos

a n t e v i s ã o v

Na História da Humanidade o conflito tem sido permanente. Por motivos religiosos, étnicos, ideológicos, económicos, territoriais…Defender e atacar faz parte da natureza humana.

Ontem como hoje, vencedores e vencidos medem-se, em grande parte, pela qualidade das armas que usam e, por isso, a evolução do armamento ofensivo e defensivo tem sido um dos motores da inovação tecnológica.

Muitas e variadas armas fazem parte do acervo do MIAA.

Esta V Antevisão tem como tema o armamento e a guerra em várias regiões do mundo ao longo dos últimos 2500 anos.

Esta exposição faz todo o sentido em Abrantes.

Abrantes que teve, pela sua localização estratégica, uma relevância militar de primeira grandeza. O nosso castelo é disso testemunha. Ele é hoje uma fortaleza, exemplo da evolução da estratégia militar ao longo dos tempos. Algumas das peças expostas foram encontradas no próprio castelo.

E porque valorizamos o passado estamos a iniciar escavações arqueológicas intramuralhas, convictos que esses trabalhos permitirão um melhor conhecimento do passado. E, no futuro, outros objetos surgirão e outros estudos e outras exposições permitirão reconstituir melhor o puzzle da nossa História.

Por isso, esta exposição não se fecha sobre si própria. Pelo contrário ela é parte de uma estratégia e de um projeto mais vasto que temos em execução, de que o MIAA é o núcleo central.

Maria d o Céu AlbuquerquePresidente da Câmara Municipalde Abrantes

2500 anos de armas e conflitos

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breve panorâmica do armamento defensivo ao longo da história

O principal propósito do armamento defensivo é o de proteger o corpo; a forma e materiais que assumiu ao longo da história foi variando de acordo com o maior poder de penetração do armamento ofensivo; se o armamento defensivo inicialmente era feito à base de têxteis, como o couro e o linho, vai gradualmente sendo feito de bronze, ferro e, finalmente, aço. Mas o armamento defensivo, poderia igualmente ser constituído por elementos simbólicos, geralmente com o objectivo de transmitir o estatuto social dos seus detentores, destacar as suas qualidades guerreiras ou o de possuir as qualidades de alguma figura marcial ou aterradora.

As colecções do MIAA possuem um variado conjunto de armamento defensivo quer do ponto de vista formal, quer do ponto de vista cronológico e regional. Apresentam-se de seguida alguns capacetes e armaduras que ilustram de uma forma genérica a evolução do armamento defensivo, bem como de alguns aspectos simbólicos que poderia assumir.

O primeiro armamento defensivo era constituído por elementos orgânicos, como o couro e linho endurecidos, material considerado suficiente quando a guerra era feita com pedras, paus ou cobre. No entanto, com o aparecimento de armas de bronze há cerca de 4000 anos na Europa, Ásia e Norte de África, começou a haver uma substituição por armamento defensivo igualmente em bronze, se bem que o couro e o linho não tenham desaparecido imediatamente e ainda tenham conhecido uma longa duração, uma vez que proporcionavam uma protecção básica, barata e ligeira, sendo também usados em combinação com outros metais. Veja-se, como exemplo, uma armadura de samurai dos séculos xviii/xix [ce04751], composta por placas de couro pintadas com laca,a qual reforçava a dureza do couro,bem como de placas lamelares de ferro por cima do tecido.

Relativamente ao armamento em bronze, pode ver-se em exibição uma cópia de um capacete de bronze da Ásia Central, de 700-600 a.C., que permitia a protecção de toda a cabeça, com excepção da face [ce00456]. Da época de Grécia Clássica, pode ver-se um capacete de bronze do tipo coríntio, datável do século v a.C., [ce02954], que protegia quase toda a cabeça e era usado pela infantaria pesada grega, os hoplitas, composta por cidadãos com direito de voto. O capacete possui dois javalis afrontados, uma vez mais, uma forma de invocar pelo guerreiro a força destes animais. Para além do capacete, também se encontram em exposição duas couraças do período grego: uma anatómica [ce03024], datável do século v a.C., e que, para além, de proteger o tronco do corpo humano, pretendia simular de uma forma simbólica a força do guerreiro que o usava. Quanto à outra couraça [ce01786], já dos séculos v-iv a.C., era composta por 3 discos, com um cinto incluído [ce01782]. Ambas as couraças de metal, estavam inicialmente unidas a uma couraça de linho endurecido, actualmente inexistente, devido à maior rapidez de degradação química da matéria orgânica.

Com o aparecimento de armamento em ferro durante o primeiro milénio a.C., assiste-se, por sua vez, a uma gradual utilização do ferro no armamento defensivo. Como exemplo, veja-se um capacete da Ásia Central [ce00947], datável dos sécs. xiv-xvi d.C., feito com barras de ferro.

Por volta do século xiv, era vulgar o uso na cavalaria europeia de um pesado elmo fechado, como se pode ver numa cópia do século xix em exibição [ce00957]. As batalhas europeias entre os séculos xi-xv consistiam sobretudo em choques entre formações de cavalaria, o que explica o armamento pesado, quer ofensivo, quer defensivo, utilizado pelos cavaleiros medievais.

11 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes10

BIBLIO GRAFIA

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Phaid on

1110

É nesta altura que se vulgarizam armaduras completas do corpo humano; embora não haja nenhum exemplar no MIAA, pode ver-se outro género de protecção corporal igualmente usada nessa altura: a cota de malha. Com origem na Europa Continental nos séculos v-iv a.C., o seu uso foi-se gradualmente vulgarizando na Europa e Ásia. Era constituída por pequenos anéis entrelaçados, em ferro ou aço, que formavam túnicas vestidas pelos cavaleiros e que proporcionavam uma melhor resistência às armas ofensivas. Pode ver-se em exibição um exemplar de uma cota de malha, com reforço de placas de aço [ce00952]. O modelo em exibição, conheceu uma ampla divulgação na Europa Oriental, Médio Oriente e Índia e, se na Europa Oriental deixou de ser usado depois do século xvii, nas outras regiões o seu uso chegou até ao século xix.

A partir do século xv, assiste-se gradualmente na Europa a uma alteração revolucionária na arte da guerra: a generalização do uso de armas de fogo. Baratas, de manuseamento fácil e com forte poder de penetração no armamento defensivo, foram utilizadas por grandes formações de infantaria, a qual tinha tido nos séculos precedentes um papel secundário nos campos de batalha europeus. Nota-se, então, um maior cuidado com o armamento defensivo da infantaria, como se pode ver numa barbuda [CE01024] de ferro em exibição, a qual cobre a maior parte da cabeça do infante.

Nos séculos xvi e xvii, como forma de contrariar o maior poder de penetração das armas de fogo recorre-se cada vez mais a pesadas protecções feitas em aço, um ferro robustecido com a adição de carbono, o que o tornava ainda mais resistente que o ferro normal, e que tinha aparecido ainda durante a Antiguidade Tardia. Podem ver-se em exibição alguns capacetes dessa altura. Um dos modelos mais comuns usados neste período foi a borguinhota [ce00954]: a face ficava visível,

o que permitia uma maior facilidade de visualização, movimentação e respiração ao contrário do elmo fechado, sendo que a diminuição da protecção da face era compensada por uma pala e protecções laterais; podia ainda ter uma crista de reforço. Uma forma de borguinhota mais evoluída era a chamada totenkopf [ce00956 e ce001025], que tinha uma viseira para protecção dos olhos e uma forma de crânio, com vista a incutir terror nos inimigos devido ao seu aspecto sinistro. Um capacete também utilizado pela infantarianesta altura era o morrião, que era ainda mais barato que a borguinhota, dado não ter protecções laterais [ce011023]. Mas o elmo não desapareceu completamente, embora tenha conhecido algumas modificações, nomeadamente, visores móveis na face, bem como cristas; o seu custo, no entanto, continuava a ser caro e era usado apenas por uma elite de cavaleiros. Alguns exemplos de elmos podem ver-se em exibição, embora estejam incompletos, dado faltarem as viseiras [ce01026 e ce01027].

Mas o crescente poder de penetração das armas de fogo, bem como o crescente custo do armamento defensivo, levou a que em finais do século xvii, os exércitos europeus deixassem de usar armaduras e capacetes. Somente algumas unidades de cavalaria pesada continuaram a usar armamento defensivo, como se pode ver numa couraça francesa em exibição de finais do século xix ce04752]; note-se como a parte da frente é bastante mais espessa que a de trás, uma vez que a cavalaria pesada era usada como arma de choque.Também a permanência de couraças e capacetes na cavalaria pesada devem-se a razões prestígio, pela história que lhes estava associada.

Também na Ásia se observam alterações no armamento defensivo provocadas pela introdução de armas de fogo. Como exemplo, veja-se um kabuto japonês do século xvii [ce04019] baseado no morrião europeu e feito com ferro lacado para uma melhor resistência. No entanto, na Ásia, quer porque o uso de armas de fogo não sofreu os mesmos desenvolvimentos que na Europa, quer por razões de prestígio, ainda se assiste até ao século xix a uma sobrevivência do armamento defensivo. Como exemplos, aponte-se um capacete chinês [ce03746] da Dinastia Qing e datável do século xix, sendo que o dragão nele representado – um símbolo imperial – indica que se trata de um capacete de parada e quatro capacetes persas com protecção nasal móvel (kulah khud) também do século xix [ce00948, ce00951, ce00955 e ce00959]. Estes últimos, ainda apresentam cotas de malha, um arcaísmo deliberado, usado pela elite persa como sinal de prestígio. Outros elementos simbólicos são visíveis nestes capacetes: assim os cornos visíveis em ce00948 e ce00951 fazem referência à morte de um demónio cornudo por Dostam, um herói mitológico persa, que passou a usar no seu capacete a cara desse demónio; os utilizadores destes capacetes, imitando esse episódio, esperavam assim possuir as mesmas qualidades do seu herói. Já o capacete ce00959, tem no topo a figura de um pavão, o qual simbolizava a realeza entre os persas.

Os capacetes de aço regressaram aos campos de batalha nas guerras mundiais do século xx e actualmente têm-se desenvolvido capacetes e coletes baseados em materiais leves e resistentes como o kevlar.

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Inv. CE04751Armadura de samuraiJapãoXVIII-XIX d.C..Couro e FerroDimensões: Altura (132 cm) Comprimento (59 cm) Largura (25 cm)Samurai armourJapanXVIII-XIX A.D.Leather and IronDimensions: Height (132 cm)Length (59 cm)Width (25 cm)

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Inv. CE00456Capacete

Ásia CentralVII-VI a.C.

[Cópia]Latão

Dimensões: Altura (36 cm)

Diâmetro (24,5 cm)Helmet

Central AsiaVII-VI B.C.

[Copy]Brass

Dimensions:Height (36 cm)

Diameter (24,5 cm)

Inv. CE02954Capacete de tipo Ápulo-CoríntioGrécia e Itália do SulV a.C.Bronze Dimensões: Altura (26,5 cm)Comprimento (23 cm)Largura (31,2 cm)Appulian-Corithian type helmetGreece and Southern ItalyV BCBronze Dimensions: Height (26,5 cm)Length (23 cm)Width (31,2 cm)

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Inv. CE03024Couraça Grécia e Itália do SulV a.C.Bronze Dimensões: Altura (31,2 cm) Comprimento (28,5 cm) Largura (0,4 cm)BreastplateGreece and Southern ItalyV BCBronze Dimensions: Height (31,2 cm)Length (28,5 cm)Width (0,4 cm)

Inv. CE01786Couraça de tipo Itálico-SamnitaItália do Sul Final V a.C.-IV a.C.Bronze Dimensões: Altura (27 cm)Comprimento (25 cm)Largura (0,2 cm)Breastplate of the Italic-Samnite typeSouthern Italy Late V-IV B.C.BronzeDimensions: Height (27 cm)Length (25 cm)Width (0,2 cm)

Inv. CE01782CintoGrécia ClássicaFinal V a.C.-IV a.C.BronzeDimensões: Altura (27,5 cm)Comprimento (23,8 cm)Largura (19 cm)BeltClassical Greece Late V-IV B.C.BronzeDimensions:Height (27,5 cm)Length (23,8 cm)Width (19 cm)

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Inv. CE00947Capacete

Ásia CentralXIV-XVI d.C.

Ferro e latãoDimensões:

Altura (21 cm)Comprimento (20,5 cm)

Largura (23,1 cm)Helmet

Central AsiaXIV-XVI A.D.

Iron and brassDimensions:

Height (21 cm)Length (20,5 cm)Width (23,1 cm)

23 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes22

Inv. CE00957Cópia de elmo do século XIVEuropa OcidentalXIX d.C.Aço Dimensões: Altura (35,5 cm)Comprimento (31 cm)Largura (24,5 cm)Copy of 14th century helmetWestern EuropeXIX A.D.SteelDimensions:Height (35,5 cm)Length (31 cm)Width (24,5 cm)

25 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes24

Inv. CE00952Cota de malhaIndiaXIX d.C.Aço e ferroDimensões: Altura (74 cm)Comprimento (114,5 cm)Largura (1 cm)Scale mailIndiaXIX A.D.Steel and ironDimensions:Height (74 cm)Length (114,5 cm)Width (1 cm)

27 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes26

Inv. CE00954BorguinhotaEuropa OcidentalXVI-XVII d.C.Aço Dimensões: Altura (23 cm)Comprimento (24,5 cm)Largura (19,5 cm)BurgonetWestern EuropeXVI-XVII A.D.SteelDimensions:Height (23 cm)Length (24,5 cm)Width (19,5 cm)

Inv. CE01024BarbudaEuropa OcidentalXV-XVI d.C.FerroDimensões: Altura (27 cm)Comprimento (25,7 cm)Largura (21,1 cm)BarbuteWestern EuropeXV-XVI A.D.IronDimensions:Height (27 cm)Length (25,7 cm)Width (21,1 cm)

29 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes28

Inv. CE00956Borguinhota do tipo totenkopfEuropa OcidentalXVII d.C.Aço Dimensões: Altura (23,5 cm)Comprimento (20 cm)Largura (25 cm)Totenkopf type burgonetWestern EuropeXVII A.D.SteelDimensions:Height (23,5 cm)Length (20 cm)Width (25 cm)

Inv. CE01025Borguinhota do tipo totenkopfEuropa OcidentalXVII d.C.Aço Dimensões: Altura (26,4 cm)Comprimento (31 cm)Largura (20,7 cm)Totenkopf type burgonetWestern EuropeXVII A.D.SteelDimensions:Height (26,4 cm)Length (31 cm)Width (20,7 cm)

31 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes30

ElmoEuropa OcidentalXVI-XVII d.C.Aço Dimensões: Altura (27,5 cm)Comprimento (23,8 cm)Largura (19 cm)HelmWestern EuropeXVI-XVII A.D.SteelDimensions:Height (27,5 cm)Length (23,8 cm)Width (19 cm)

Inv. CE01027ElmoEuropa OcidentalXVI-XVII d.C.Aço Dimensões: Altura (27,1 cm)Comprimento (33,5 cm)Largura (20,2 cm)HelmWestern EuropeXVI-XVII A.D.SteelDimensions:Height (27,1 cm)Length (33,5 cm)Width (20,2 cm)

Inv. CE01023MorriãoEuropa OcidentalXVI-XVII d.C.Aço Dimensões: Altura (18 cm)Comprimento (26,6 cm)Largura (23,2 cm)MorionWestern EuropeXVI-XVII A.D.SteelDimensions:Height (18 cm)Length (26,6 cm)Width (23,2 cm)

33 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes32

Inv. CE04752CouraçaFrançaFinal XIX d.C..AçoDimensões: Altura (40 cm) Comprimento (34 cm) Largura (18 cm)BreastplateFranceLate XIX A.D.SteelDimensions: Height (40 cm)Length (34 cm)Width (18 cm)

35 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes34

Inv. CE03746CapaceteChinaXIX d.C..Ferro e cobreDimensões: Altura (30 cm) Comprimento (29,7 cm) Largura (24,5 cm)HelmetChinaXIX A.D.Iron and copperDimensions: Height (30 cm)Length (29,7 cm)Width (24,5 cm)

Inv. CE04019KabutoJapãoXVII-XIX d.C..FerroDimensões: Altura (21,5 cm) Comprimento (27,6 cm) Largura (20 cm)KabutoJapanXVII-XIX A.D.IronDimensions: Height (21,5 cm)Length (27,6 cm)Width (20 cm)

Inv. CE00948CapacetePérsiaXIX d.C.Aço e ferroDimensões: Altura (20,5 cm)Comprimento (20 cm)Largura (18 cm)HelmetPersiaXIX A.D.Steel and ironDimensions:Height (20,5 cm)Length (20 cm)Width (18 cm)

Inv. CE00951CapacetePérsiaXIX d.C.Aço e ferroDimensões: Altura (20,5 cm)Comprimento (20 cm)Largura (18 cm)HelmetPersiaXIX A.D.Steel and ironDimensions:Height (20,5 cm)Length (20 cm)Width (18 cm)

39 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes22

Inv. CE00959CapacetePérsiaXIX d.C.FerroDimensões: Altura (59 cm)Comprimento (21,2 cm)Largura (18,5 cm)HelmetPersiaXIX A.D.IronDimensions:Height (59 cm)Length (21,2 cm)Width (18,5 cm)

Inv. CE00955Capacete

PérsiaXIX d.C.

Aço e ferroDimensões:

Altura (35 cm)Comprimento (21,3 cm)

Largura (18 cm)Helmet

PersiaXIX A.D.

Steel and ironDimensions:

Height (35 cm)Length (21,3 cm)

Width (18 cm)

41 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes40

a artilharia “rainha das batalhas” e as guerras peninsulares e liberais: o papel do castelo de abrantes e dos seus achados

O papel do Castelo de Abrantes como depósito e quartel principal da artilharia

A particular posição de Abrantes, estratégica para as operações bélicas na fronteira com a Espanha, levou a que o Castelo de Abrantes tenha tido um importante papel como depósito e base de abastecimentos. Entre os fornecimentos para as tropas que operavam na fronteira da Beira e do Alentejo, tinham um papel importante os de artilharia. Já desde 1762, durante a Guerra Fantástica (1762-1763), estiveram alojados 3 regimentos ingleses e um parque de artilharia na vila de Abrantes. Nesse mesmo ano estabeleceu- se nesta vila um depósito central de munições de guerra e víveres para abastecimento do exército em operações. Mas foi em 1798 que se deu início à construção de um quartel permanente de artilharia e cavalaria, nomeadamente, o quartel da Legião do Marquês de Alorna. A força de artilharia vai ocupar o quartel no Castelo em Outubro de 1800. Passado um ano, em 1801, durante a Guerra das Laranjas, o Duque de Lafões mandou, depois da declaração de guerra de Espanha, estabelecer em Abrantes um grande depósito de munições de guerra. O castelo teve um reabastecimento em 1809, durante a Guerra Peninsular (1807- 1814) de acordo com as diretivas do General Arthur Wellesley (Duque de Wellington desde o 1814): no final dos trabalhos de fortificação, a praça de Abrantes estava guarnecida com 119 bocas-de-fogo de grosso calibre e no castelo estava alojado um forte destacamento de artilharia.

Nessa ocasião, a artilharia da praça protegia a nova ponte de barcas estabelecida no Tejo, para facilitar a passagem de comunicações entre os exércitos do Sul e do Norte de Portugal. Durante toda a Guerra Peninsular, Abrantes foi o principal depósito de munições de guerra, víveres e ambulância do exército Luso-Inglês.

Foi o primeiro período no qual Abrantes foi praça de primeira ordem (1809-1848) que coincidiu com uma revolução na tecnologia das munições de artilharia: a melhoria e a larga difusão das granadas e a gradual supressão das balas redondas por projéteis cilindro-cónicos.

Das balas de pedra à granada “schrapnel”

Os canhões, desde o aparecimento na Idade Média de peças primitivas (a mais antiga representação de um canhão é de meados do século xiv), até ao seu aperfeiçoamento técnico e grande divulgação a partir do séc. xvi, ganharam cada vez mais importância como arma ofensiva. É nesta época que se pode falar efectivamente de artilharia, com melhorias da mobilidade das peças e da rapidez do tiro (invenção da carreta de rodas pelos holandeses no séc. xvi) e a uniformização dos calibres (operada pelos franceses e espanhóis no séc. xvii).

Os projéteis da artilharia, desde o séc. xiv, eram de dois tipos: bala e metralha. A bala, projétil de forma esférica, era usada para abater as muralhas dos castelos e contra as formações inimigas a médio-longo alcance.

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BIBLIO GRAFIA

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A artilharia na Guerra

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Inicialmente, as balas eram em pedra, sendo substituídas gradualmente pelo ferro. A metralha, uma carga composta por pedaços de metal, era usada especificadamente contra formações inimigas a curto alcance: esta criava uma verdadeira tempestade de metal, mortífera para as tropas em formação.

No séc. xvi foi introduzido, pelos holandeses, um terceiro tipo de projétil: a granada. Era uma bala que, oca e cheia de pólvora negra, era disparada por morteiros e obuses para provocar baixas dentro das muralhas de uma fortaleza cercada. É daqui que vem a subdivisão em canhões (bocas de fogo que disparam quer balas compactas, quer granadas, quer metralha), morteiros e obuses (bocas de fogo que disparam só granadas).

Na época em que a arma da artilharia se afirmou em larga escala (sécs. xvii-xviii), a bala esférica e compacta passou a ser definitivamente de ferro em vez de pedra. O seu princípio base era disparar a uma alta velocidade a bala, de modo a que ela ricocheteasse o máximo possível no solo, para criar baixas na formação adversária na maior área possível. Durante as Guerras Napoleónicas (1796-1815) as balas esféricas e compactas conheceram um grande uso e desenvolvimento. Testemunha deste período é o papel do Castelo e da Praça de Abrantes como importante depósito de artilharia do exército Luso-Britânico, com balas de variado calibre: uma bomba para peça de montanha de 6 libras (1809) [art 7]; duas compatíveis com a peça de campanha de 6 libras (1809) [art 8 e 9] e duas compatíveis com a peça de acompanhamento cal. 75 (1799) [art 10 e 11].

Foi durante as Guerra Peninsulares que a Royal Artillery adotou oficialmente um novo tipo de projétil que o coronel inglês Henry Schrapnel projetou em 1784. Usado pela primeira vez na batalha do Vimieiro (1808), veio revolucionar os projéteis de artilharia ao longo do séc. xix. A invenção do coronel Schrapnel consistia numa síntese entre a bala compacta, a granada e a metralha: um invólucro de ferro, de forma esférica, que continha várias balas de pequenas dimensões, juntamente com uma carga de pólvora preta e uma espoleta encaixada no meio das balas pequenas que saía de uma abertura do invólucro. Este projétil “schrapnel” tinha a vantagem das balas compactas de poder alcançar médios-longos alcances e tinha a mesma eficácia da metralha em provocar baixas. Uma vantagem do “schrapnel” em relação à bala compacta, era que a eficácia da artilharia de médio-longo alcance não era afetada em terreno mole ou húmido (sendo que isso impedia o projétil de ricochetar o suficiente, como se viu na batalha de Waterloo em 1815).

Testemunhos desta inovação na artilharia achados no Castelo de Abrantes, são vários fragmentos de projéteis de granadas “schrapnel” e várias bolas compactas pequenas colocadas no interior das granadas. Graças à reconstrução do diâmetro original dos fragmentos e a comparação com os calibres dos canhões em uso no exército português em meados do séc. xix, foi possível ter uma ideia do tipo de munições de artilharia guardado no castelo de Abrantes neste período: granada para morteiro de 270 mm. (antes 1864) [art1); granada para morteiro cal. 225 (1854) [art2]; granada para obus de 7,5 polegadas (pré 1860) (art3); dois fragmentos de granada para obus de 3 polegadas (1834) [art 4]; uma granada para peça de campanha de 9 libras (1809) [art 5]; uma granada para obus cal. 95 (1834) [art 6]. Estes fragmentos foram achados numa parte indeterminada do castelo pelos último militares que aí estiveram aquartelados em meados do séc. xx.

Os fragmentos expostos falam-nos de acontecimentos no Castelo

O período de tempo indicado para estes calibres e este tipo de munições, permite formular a hipótese de os fragmentos expostos resultarem da destruição das munições de guerra pelas tropas absolutistas de D. Miguel na retirada que se seguiu à batalha de Asseiceira (1834).

“Depois da batalha de Asseiceira, na noite do dia 19 as tropas de D. Miguel de guarnição nesta praça (Abrantes), no total 3.000 homens, comandadas pelo General Paiva Raposo, encravando primeiro as boca-de-fogo de artilharia e inutilizando parte das munições de guerra e alguns armamentos, evacuaram esta praça passandoo Tejo pela ponte de barcas” (Morato, M.A.; Fonseca Mota J.V.da “Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes”, pp. 253-254)

Ou talvez, seja o resultado da destruição das munições de guerra feito em 1846:

“…durante a revolução da Maria da Fonte, alguns regimentos de infantaria de passagem para Santarém, deixaram as bagagens na praça. O dia a seguir a tropa deixada para acompanhar as bagagens, fugiram perante notícias de aproximação de guerrilhas e renderam inúteis alguns armamentos e munições”(ibid., pp. 253-254)

O desenvolvimento da ciência balística, na segunda metade do séc. xix, foi marcado pelo aparecimento de canhões de cano raiado e a retrocarga: as novas armas, desenvolvidas a partir do projeto do italiano Cavalli (1832), foram usadas pela primeira vez pelos franceses de Napoleão iii na campanha do 1856 na Itália. Garantiam maior rapidez de fogo e maior alcance, mas precisavam de um novo tipo de projétil de forma cilindro-cónica (usado até hoje em dia). Isso marcou gradualmente, depois de 1870-71 (altura da Guerra Franco-Prussiana) o desaparecimento das balas redondas, que só continuaram a existir nos museus e como adorno para baluartes e fortalezas.

Provavelmente entre os últimos disparos com balas redondas feitos pelo exército português, estão aqueles disparados a partir da praça de Abrantes durante as desordens da Guerra da Patuleia (1846-47):

“23 de Abril 1847, apareceram no Rossio alguns guerrilheiros e dispararam-se alguns tiros de artilharia para o outro lado do rio”(Morato, M.A.; Fonseca Mota J.V. da “Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes”, p. 285).

Adenda

Ainda dentro da temática da artilharia, encontram-se em exibição nesta antevisão, nove pequenos canhões de sinalização [ce04057-CE04065]. São peças datáveis dos séculos xvii/xviii, feitas em ferro e de pequenas dimensões, facilmente transportáveis e que eram geralmente utilizados para sinalizar a presença de uma força inimiga ou saudar uma força amiga.

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Inv. ART1Fragmento de granada para morteiro de 270 mm.PortugalPré-1864FerroDimensões: Comprimento ( 14,5cm)Espessura (1,9 cm)Grenade fragment of 270 mm mortarPortugalIronBefore 1864Dimensions:Length (14,5 cm)Thickness (1,9 cm)

Inv. ART2Fragmento de granada para morteiro cal. 225 PortugalPré-1854FerroDimensões: Comprimento (19 cm)Espessura (2,7 cm)Grenade fragment of cal.225 mortar PortugalIronBefore 1854Dimensions:Length (19 cm)Thickness (2,7cm)

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Inv. ART3Fragmento de granada para obus de 7,5 polegadas PortugalPré-1860FerroDimensões: Comprimento (17 cm)Espessura (2,9 cm)Grenade fragment of 7,5 pounder howitzerPortugalIronBefore 1860Dimensions:Length( 17 cm)Thickness (2,9 cm)

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Inv. ART4Dois fragmentos de granada para obus de 3 polegadas Portugal1834FerroDimensões: Comprimento (8 cm; 9,3 cm)Espessura (1,1 cm; 1,1 cm)Two grenade fragments of 3 inch howitzerPortugalIron1834Dimensions:Length (8 cm; 9,3 cm)Thickness (1,1 cm; 1,1 cm)

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Inv. ART5Fragmento de granada para peça de campanha de 9 libras PortugalDepois de 1809FerroDimensões: Comprimento (9,1 cm)Espessura (1,1 cm)Grenade fragment of 9 pound gunPortugalIronAfter 1809Dimensions:Length (9,1 cm)Thickness (1,1 cm)

Inv. ART6Fragmento de granada para obus cal. 95Portugal1834FerroDimensões: Comprimento (8, 1cm)Espessura (1 cm)Grenade fragment of 95 cal. howitzerPortugalIron1834Dimensions:Length (8,1 cm)Thickness (1 cm)

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Inv. ART7Fragmento de uma bomba para peça de montanha de 6 libras Portugal1809FerroDimensões: Comprimento (7 cm)Espessura (1,7 cm)Bomb fragment of 3 pound mountain gun PortugalIron1809Dimensions:Length (7 cm)Thickness (1,7 cm)

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Inv. ART10Bala para peça de acompanhamento cal. 75 Portugal1799FerroDimensões: Diâmetro (6,5 cm.) Projectile of 75 cal. gun PortugalIron1799Dimensions:Diameter (6,5 cm.)

Inv. ART11Bala para peçade acompanhamento cal. 75 Portugal1799FerroDimensões: Diâmetro (6,3 cm.)Projectile of 75 cal. gun PortugalIron1799Dimensions:Diameter (6, 3 cm)

Inv. ART8 / ART9Duas balas para peça de campanha de 6 libras Portugal1809FerroDimensões: Diâmetro (8,5cm)Two projectilesof 6 pound gun PortugalIron1809Dimensions:Diameter (8,5 cm.)

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Inv. CE04057Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (22,2 cm)Diâmetro (15,9 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (22,2 cm)Diameter (15,9 cm)

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Inv. CE04058Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (26,3 cm)Diâmetro (9,7 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (26,3 cm)Diameter (9,7 cm)

Inv. CE04059Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (12,9 cm)Diâmetro (8,5 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (12,9 cm)Diameter (8,5 cm)

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Inv. CE04061Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (23 cm)Diâmetro (8,8 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (23 cm)Diameter (8,8 cm)

Inv. CE04062Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (19,3 cm)Diâmetro (8,4 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (19,3 cm)Diameter (8,4 cm)

63 museu ibérico de arqueologia e arte de abrantes62

Inv. CE04063Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (16,1 cm)Diâmetro (7,2 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (16,1 cm)Diameter (7,2 cm)

Inv. CE04060Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (17 cm)Diâmetro (10,1 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (17 cm)Diameter (10,1 cm)

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Inv. CE04064Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (16,5 cm)Diâmetro (7,8 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (16,5 cm)Diameter (7,8 cm)

Inv. CE04065Canhão de sinalizaçãoEuropa OcidentalXVII-XVIII d.C.FerroDimensões: Altura (13,7 cm)Diâmetro (5,7 cm)Signal cannonWestern EuropeIronXVII-XVIII A.D.Dimensions:Height (13,7 cm)Diameter (5,7 cm)

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mudanças na guerra de infantaria e de cavalaria nos sécs. xvii- xix: entre inovação tecnológica e novas táticas

Desde a Antiguidade que a espinha dorsal dos exércitos foi constituída por formações de infantes, que com diferentes táticas, armamento e especialidades suportaram o grosso dos combates.

O desenvolvimento tecnológico foi influenciando, ao longo do tempo, a produção de novas armas e mudanças nos manuais de tática.

O séc. xviii foi, mais que os outros, o período onde se desenvolveu e se afirmou o armamento individual do infante. O mosquete tornou-se então a arma por excelência da infantaria: resultado do desenvolvimento das primeiras armas de fogo que eram chamadas schioppi (em Itália, onde são mencionados pela primeira vez nas crónicas de 1281), o mosquete apareceu como arma defensiva na infantaria no séc. xvi, quando os espanhóis o usaram em 1530 na Guerra da Liga de Cognac (1526-1530). A gradual introdução do mosquete como arma principal marcou a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna na tática, no armamento e na organização militar. O mosquete ao longo dos sécs. xviiie xix influenciou também a adoção das formações em linha, de modo a aproveitar ao máximo possível o volume de fogo que agora a infantaria era capaz de disparar contra a formação adversária. Cada descarga atingia a formação inimiga com centenas de balas de chumbo, como as expostas [inf 1] nesta exposição. Mas a pouca precisão e cadência de tiro dos mosquetes até à segunda metade do séc. xix, tornava difícil a uma linha de infantaria aguentar uma carga de cavalaria.

O eterno duelo nos campos de batalhas entre infantaria e cavalaria, causou entre o séc. xvii e xviii uma radical alteração na composição, no armamento e na tática da infantaria.

Mosquete e baioneta: como a infantaria ganha vantagem

Inicialmente a composição de uma formação de infantaria, na formação típica do séc. xvi, era o tércio, nascido em Espanha, composta por mosqueteiros e piqueiros, sendo estes últimos em número superior aos primeiros. Este dispositivo permitia proteger os mosqueteiros das cargas de cavalaria com as armas compridas e pontiagudas dos piqueiros. Gradualmente, começou-se a inverter a proporção de mosqueteiros e piqueiros nas formações de infantaria: mais mosqueteiros e menos piqueiros. Tal tornou a formação mais vulnerável contra a cavalaria. Para remediar a falta de proteção, foi inventada no séc. xvii uma arma pontiaguda para colocar nos mosquetes, de modo a que o mosqueteiro pudesse igualmente dispor de uma arma pontiaguda: elementos semelhantes a punhais eram colocados no interior do cano do mosquete; no entanto, esta solução tapava o mosquete, pelo que este só podia ser usado ou como arma de fogo ou como arma branca.

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Para permitir ao mosquete disparar e, simultaneamente, usar a baioneta contra cargas de cavalaria, o engenheiro francês Vauban inventou no final do séc. xvii a moderna baioneta, a qual foi produzida pela primeira vez na cidade de Bayonne (de onde tomou o nome): a ponta em forma de punhal já não era colocada na boca do mosquete, mas fornecida de um anel, passando a ser o cano do mosquete a entrar no anel, permitindo assim que fosse possível ao infante disparar a arma. Tal inovação provocou o fim definitivo dos piqueiros nas formações de infantaria, bem como duas mudanças nas táticas de infantaria: mais mobilidade das formações básicas (batalhões), passando a ser uniformes a nível de armamento, e a introdução da formação em quadrado no caso de carga pela cavalaria. Uma formação de infantaria em quadrado era difícil de ser derrotada pela cavalaria, por ser maciça e cheias de “espinhas” (as baionetas), mas era muito vulnerável ao tiro da artilharia (as balas provocavam mais baixas em formações densas como os quadrados, ao contrário do que se passava com formações delgadas como as linhas).

Portanto a tática desde o final do séc. xvii era ameaçar com cavalaria para obrigar a infantaria a ficar em quadrado, de modo a ser bombardeada pela artilharia. Todavia a infantaria foi usada com alguns expedientes, como o de esconder os quadrados de infantaria atrás de obstáculos naturais, de modo a não serem visíveis pela artilharia e obrigar a cavalaria a chocar de repente contra os quadrados já formados (como aconteceu em Waterloo com a carga de Ney contra os quadrados de Wellington). A baioneta variou muito pouco na forma, que permaneceu no tipo dito “de anel”, como o exemplar em exposição [inf 2], até ao final do séc. xix: a baioneta de anel passou a ficar inserida no mosquete, de modo a compensar com ataques corpo-a-corpo a baixa precisão e volume de fogo. Com a invenção de novos fuzis de cano raiado e retrocarga, a precisão e o volume de

fogo passaram a ser suficientes para desencorajar o assalto corpo-a-corpo, como se viu sobretudo na Guerra da Secessão Americana (1861-1865); a baioneta passou, assim, a ser somente uma arma adicional de emergência, tomando a forma primeiro de uma adaga e depois de um punhal adaptado para ser posto no fuzil.

A cavalaria faz uma evolução ao contrário: das armas de fogo às armas brancas

Com a introdução do mosquete no séc. xvi, também a cavalaria passou a usar armas de fogo “portáteis” como as pistolas. Uma tática muito usada e eficaz era a do “caracol”: uma formação de cavalaria composta por várias fileiras aproximava-se de uma formação de infantaria e cada fileira ia disparando sucessivamente, voltando para atrás, recarregando a arma e iniciando de novo o processo até se conseguir quebrar e/ou desmoralizar a infantaria, de modo a atacá-la de seguida com uma carga.

Esta tática, na qual os grandes “mestres” foram os reiter alemães, foi eficaz até finais do séc. xvii, altura

em que a introdução das formações em linha para a infantaria a tornou ineficaz.

A partir de então, a cavalaria abandonou as armas de fogo como arma principal e, consequentemente, as táticas correspondentes, para passar a usar quase exclusivamente as armas brancas nos grandes combates. Só a cavalaria ligeira manteve o uso da carabina, um mosquete mais curto e com calibre maior, para ser usada em reconhecimentos, emboscadas e pequenas escaramuças.

A arma branca por excelência da cavalaria passou a ser o sabre, cujas formas e dimensões variavam de acordo com a especialidade da cavalaria que, depois do séc. xviii, dividiu-se em ligeira (hussardos e caçadores, com sabre mais curto e curvo), média (dragões, com

sabre mais longo) e pesada (couraceiros e talvez carabineiros, com sabre ligeiramente curvo e comprido). Na exposição podemos ver dois exemplos de sabre de cavalaria pesada [cav 1 e cav 2]: são de grandes dimensões e de forma reta. Tal deve-se à tática de carga adotada pelas formações de cavalaria, sobretudo pesada, desde meados do séc. xviii. A formação dispunha-se em várias fileiras, carregando a galope com cada cavaleiro o mais próximo possível do outro usando a modalidade “ a contacto de joelho” (para a qual era necessário um treino extremamente bom) e levantando os sabres por cima, de modo a formar uma muralha de tropas a cavalo para aterrorizar o mais possível a formação de infantaria que fosse alvo da carga. Aterrorizar e pôr em desordem a infantaria antes do choque, era fundamental para obter a vitória, sendo que em muitos casos de combate entre infantaria bem firme e cavalaria, era esta última a ser derrotada. Portanto, era preciso os sabres serem bastante compridos, para aumentar o efeito psicológico na carga e golpear de cima para abaixo no corpo-a-corpo que se lhe seguia.

Observar de longe é importante para preparar a tática correta

A partir do séc. xviii estabeleceu-se uma definição das várias especialidades de infantaria (de linha, ligeira, granadeiros, guardas) e de cavalaria (ligeira, média e pesada); paralelamente houve com maior frequência grandes batalhas entre exércitos numerosos e com todas as especialidades e uma melhoria da mobilidade das formações. Como tal, era necessário os oficiais superiores terem uma boa visão do campo de batalha e do inimigo, com o maior alcance possível, de modo a ter uma ideia mais precisa do tipo, número, moral e direção das unidades inimigas que enfrentavam. E quanto mais depressa estas informações estivessem

disponíveis, mais eficazes eram as medidas para se opor às manobras adversárias ou para planear ações que as surpreendessem. Por isso, foi gradualmente introduzido nos campos de batalha o óculo, como o modelo em exposição [inf 3]. Este instrumento ótico nasceu de uma invenção do napolitano Giovan Battista Porta em 1558, desenvolvendo o uso das lentes criadas por Leonardo da Vinci e Kepler, como se lê no seu Magiae Naturalis:

“Com a lente côncava vêm-se as coisas afastadas nitidamente, mas encolhidas; com a lente convexa vêm-se as coisas mais perto e maiores mas menos nítidas. Se conseguir compor exatamente uma e outra [as lentes],tu poderias ver engrandecidas e claras, quer as coisas afastadas quer as mais próximas”.

Este é, portanto, o princípio que gere o funcionamento do óculo: aproximar ou afastar a lente grande (parte distal) e a lente pequena (parte proximal) para focalizar as coisas em função da distância delas em relação ao observador.

O uso do óculo nos campos de batalha permitiu um maior controlo das frentes de combate que chegaram até aos 5-6 quilómetros de comprimento, permitindo aos comandantes no campo gerir e sincronizar melhor as forças de infantaria, cavalaria e artilharia numa época de grandes inovações técnicas no campo militar e de apogeu do combate tradicional, antes da mecanização dos exércitos.

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Inv. INF1Projéteis esféricos para mosquetesPortugalXVIII- meados XIX d.C.ChumboDimensões: Diâmetro (1,7 cm)Spherical projectiles for musketPortugalLeadXVIII - middle XIX A.D.Dimensions:Diameter (1,7 cm)

Inv. INF2Baioneta de alvado para mosquete de infantariaPortugal XVIII-XIX d.C.FerroDimensões: Comprimento (49 cm)Espessura (2,8 cm)Ring bayonetfor infantry musketPortugalIronXVIII- XIX ADDimensions:Length (49 cm)Thickness (2,8 cm)

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Inv. INF3Óculo PortugalXIX d.C.Latão e vidroDimensões: Comprimento (62 cm)Espessura (6 cm)SpyglassPortugalBrass and glassXIX ADDimensions:Length (62 cm)Thickness (6 cm)

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Inv. CAV1Sabre com bainha PortugalXIX d.C.Aço e LatãoDimensões: Comprimento (117 cm)Espessura (12 cm)Sabre with sheathPortugalSteel and brassXIX ADDimensions:Length (117 cm)Thickness (12 cm)

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Inv. CAV2Sabre PortugalXIX d.C.Aço e LatãoDimensões: Comprimento (100 cm)Espessura (12 cm)SabrePortugalStell and brassXIX ADDimensions:Length (100 cm)Thickness (12 cm)

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