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CADERNOS DE FOLCLORE / ANO 1 / N 2 1 / MÊS - JANEIRO/93 FOLIAS DE REIS HISTÓRIA E TRADIÇÃO EM UBERABA \ l

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CADERNOS DE FOLCLORE / ANO 1 / N2 1 / MÊS - JANEIRO/93

FOLIAS DE REIS

HISTÓRIA E TRADIÇÃO EM UBERABA

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Biblioteca Pública Estadual " Luiz da Bassa "

Setor:

Data: ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA Rua Lauro Borges, 25 - Centro Fone (034) 312-4315 CEP 38.010 - Ubcraba-MG

Diretor Interino Dr. Antônio Carlos Ribeiro Vice-Prefeito de Uberaba

Presidente do Arquivo PúUico de Uberaba Maria de Lourdes de Melo Prais Secretária Municipal de Educação e Cultura

PesquisaeOrganização

ProP. Mana Aparecida Rodrigues Manzan

Apoio Técnico Amábile Beatriz Mendonça Maria do Carmo Peracini

Apoio Secretaria de Ação Social Departamento de Divulgação

Prefeito Municipal de Uberaba Eng2 Luís Guaritá Neto

ANO - 1993

APRESENTAÇÃO

A Folia de Reis é uma das mais antigas tradições do nosso folclore, mantendo caráter religioso. Os foliões encontram dificuldades para promoverem sozinhos este tipo de Encontro, devido aos gastos e à falta de estímulos que predominam de uma forma geral nas manifestações folclóricas.

É função do poder público divulgar as nossas origens, valorizar nossa cultura para que a mesma não receba influências que a descaracterizam. Por isto, a Fundação Cultural de Uberaba através do Circo do Povo, com apoio da Casa do Folclore há anos vêm realizando o Encontro de Folias de Reis cm Uberaba. Este ano a tradição não poderia ser diferente. O atual Prefeito Municipal, eng2 Luís Guaritá Neto, empenhado na valorização da cultura popular e das nossas raízes histórico-culturais, autorizou a realização deste Encontro, fato que possibilitará uma grande integração cultural entre as mais de 100 (cem) folias de Reis já cadastradas pela Fundação Cultural de Uberaba e Arquivo Público de Uberaba. O estímulo à formação de novas Folias, bem como, a preservação deste rico folclore do ciclo natalino, vêm também de encontro aos objetivos deste Arquivo.

Maria Aparecida Rodrigues Manzan Arquivo Público de Uberaba

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PREFACIO

O despertar com a "Abra a porta dono da casa" está sedimentado na cultura uberabense, que tem nas Folias de Reis Uma de suas mais puras manifestações.

Talvez seja a mais forte tradição do folclore desta Região.

A religiosidade aflora no beijo àquela bandeira tecida de forma rudimentar e levada de lar em lar, cujas portas se abrem como que impulsionadas pelos cantos que unem inúmeras vozes na exaltação ao Menino Jesus.

ignorados ao longo do ano, esses anônimos can- tores, de vozes inconfundiveise vestes humildes, valorizam

sobremaneira nossa cultura popular, emocionando e levando momentos de reflexão a todos aqueles que os escutam.

Crianças formam cordões atrás dos compenetrados violeiros, ensaiando a tristonha cantiga que está na cabeça dos adultos fazendo-os remontar à própria infância, relembrando cenas dos tempos em que participavam daquelas reuniões.

O arco de rosas, as roupas coloridas, os velhos instrumentos de fitas pendentes, as andanças vagarosas, os refrões repetidos, as bandeiras, o quadro é sempre o mesmo, a época também.

As Folias de Reis estão aí, pelos Bairros e caminhos rurais do Município. Persistem até o fim do século XX, quando predomina um mundo novo, voltado para outros valores.

Recordo-me saudoso, de ter assistido, quando menino, em minha casa na Rua Alaor Prata, a chegada festiva de algumas Folias à casa de um vizinho, uberabense ilustre, amigo de minha família, e que sempre apoiou as atividades da cultura popular. Ele sempre recebia a visita das Folias, e com muito prazer, acho que fazia as vezes do festeiro. Impressionava-me o foguetório de recepção à Comitiva, a fartura de alimentos postos à disposição de todos os visitantes, os vestidos coloridos das mulheres, e a batida rítmica. Ali ficavam, cantavam e oravam durante horas, e eu surpreso, procurava entender aquela entoação de difícil acompanhamento. Antes e depois das refeições, os cantos se revezavam com as orações das devotas. A casa ficava cheia de gente, que ouvia em silêncio a cantoria. Terminada a reza do terço, os instrumentos voltavam às mãos dos tocadores. A bandeira empunhada com santo orgulho, em nenhum momento era encostada. Lembro-me de que eu me entristecia após o término da visita.

Uma lembrança inesquecível. Enquanto houver fé cristã, espiritualidade religiosa e pessoas simples, devotas

às tradições herdadas dos antepassados e dos longevos, elas permanecerão. Representarão sempre uma forma de exaltar o nascimento de Cristo, com respeito e devoção.

Luiz Guarita Neto Prefeito

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FOLIAS DE REIS

Introdução:

Não podemos falar em Folias de Reis, sem citar o Mistério da Encamação.

"Maria ia se casar com José. Antes porém de coabitarem, ela ficou grávida por virtude do Espírito Santo:

"Eis que a Virgem conceberá e dará à luz a um filho que se chamará Emanuel", que significa: Deus conosco.

Quando a criança nasceu, José deu-lhe o nome de Jesus (salvador).

O Menino recebe visitas dos Magos do Oriente.

Jesus nasceu na cidade de Belém, no tempo do rei Herodes. Nesse tempo alguns homens (magos) que estudavam as estrelas, vie- ram do Oriente a Jerusalém e perguntaram; "Onde está o rei dos Judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo".

Sabendo da notícia o rei Herodes ficou muito perturbado assim como toda Jerusalém. Reuniu os chefes dos sacerdotes e os pro- fessores da Lei e perguntou onde devia nascer o Cristo.

Eles responderam;

- Na cidade de Belém, na região da Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta.

Herodes chamou os visitantes do Oriente e perguntou qual o tempo exato em que a estrela havia aparecido.

Depois os mandou a Belém procurarem informações certas sobre o menino, porque ele também iria adorá-lo.

"os Três Reis quando subero que Jesus era nascido batiro pr'a estrebaria, arearo tres cavalo

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6 tocaro a viajar percurá Minino-Deus, procurando até achá Encontraro o marvado do Herói

O Herói, por sê malino, malino e traido, ensino os Três Reis: às avessas o caminho Os Três Reis, por sê um santo, nada disso s'importo. Seguiro o seu caminho duma estrela da guia quem guiô.

(verso de folia)

Ao encontrarem a estrebaria, viram Maria com o menino. Ajoelharam diante dele e o adoraram; depois lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Baltazar ofertou a mirra - significa o líquido ou suco de certa planta com perfume muito agradável, usado como presente, remédio e para preparar ou perfumar os corpos e os enterros.

Gaspar, ofertou o ouro, símbolo da riqueza.

Melchior, incensou Jesus, expressando desapego e humildade ou esperança. Incenso - plantas produzidas na Arábia e na índia, em forma de grãos redondos, de coloração entre o branco e o amarelo e avermelhados; ao queimarem-se produzem a fragância que lhe é própria.

Avisados em sonho por Deus os Reis Magos tomaram outro caminho rumo ao Oriente, para não encontrarem Herodes.

0 Presépio

Atribuem sua origem ao primeiro presépio armado por são Francisco de Assis como narra a história.

São Francisco de Assis andava correndo mundo, de aldeia em aldeia quando o fim de dezembro o alcançou na cidadezinha de Greccio. Os habitantes se preparavam para a celebração do Natal. São Francisco teve a idéia de fazer a representação do nascimento de Jesus. Próximo à cidade, numa campina, havia um lugar agradável ao qual chamavam Rietti. Ali foi erguido um altar e, ao pé dele, colocada uma manjedoura. Às primeiras sombras da noite de 24 de dezembro de 1223 estava reproduzido, em Rietti, o acontecido em Belém mais de um milênio antes.

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Os camponeses em- prestaram um boi e um burro. De um lado da manjedoura ficou uma jovem mãe e, do outro, um rapaz que rezava. Sobre o feno não quiseram colocar criança alguma, pois acharam que não ha- via ninguém que pudesse representar o Menino Jesus.

Pouco antes da meia- noite, da aldeia de Greccio começou a descer o povo em pro-

cissão, rumo ao presépio, cantando e rezando. Cada homem levava uma tocha e tal era a quantidade delas que o céu parecia ter descido, com suas estrelas, para iluminar a campina. As melodias eram executadas em flautas e pífaros e, à frente de todos, ia São Francisco com seus irmãos religiosos. No altar foi celebrada missa e a comoção tomou conta de todos. Conta a lenda que, no momento da consagração, viu-se baixar do céu para a manjedoura um raio de luz tão brilhante que o povo, impressionado, pôs-se de joelhos cm fervorosa oração. E a manjedoura iluminou-se e brilhou durante alguns momentos, como se fosse fogo. Quem resistiu ao fulgor e pode olhar para a manjedoura teria visto, rcclinado sobre o feno, o "Menino Jesus". Quando o raio luminoso voltou ao céu, São Francisco, em lágrimas, fez um dos mais belos sermões de sua vida.

Já no dia seguinte, em toda a região, os camponeses falavam do assunto com entusiasmo, decidindo repetir a experiência a cada ano. Santa Clara espalhou a idéia entre os conventos e mosteiros e no ano seguinte foram montados presépios no âmbito das edificações religiosas. Pouco a pouco, o presépio se tomou conhecido em toda a Itália e, quando São Francisco morreu, foi construída uma capela na campina de Rietti marcando o local do pioneiro presépio. Da Itália, o costume passou para os Alpes e ganhou Alemanha, Áustria e França. Dali ganhou o mundo e, no final do século XIII, toda a Europa já conhecia e armava o presépio.

Segundo a tradição, a Folia de Reis é criação dos brasileiros. Padre Anchieta armava presépios para os índios, negros c caboclos, cantando c dançando com eles. A tradição ganhou o interior e foi aqui no Triângulo, Minas e Norte de São Paulo e Goiás que o folguedo ganhou estrutura monárquica, com rei, rainha, embaixador, capitão, gerente, alferes e soldados.

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Folia de José Pereira Neto

Organização da Folia ou Companhia

O objetivo da folia é reproduzir a viagem dos Magos a Belém, ao encontro do Filho de Deus.

Os Foliões reúnem-se na casa do mestre, às vésperas do Natal e este lhes faz as últimas recomendações: bom comportamento e nada de bebida alcóolica. Depois rezam pelo bom êxito da jornada. Cantam ladainhas e fazem as suas orações diante do oratório ou do presépio do mestre. No outro dia levam a

bandeira para o vigário benzer, ou a um cruzeiro de estrada.

Os foliões partem à meia-noite no natal e encerram sua jornada no dia de Reis. Algum tempo atras, no interior, as folias passavam o tempo todo da jornada pelas estradas, em peregrinação. Hoje, com a evolução das cidades, necessidades de trabalhar pela sobrevivência, as folias saem aos sábados, domingos e feriados.

As folias são organizadas geralmente, em conseqüência de promessa, um compromisso que obriga a folia a sair um mínimo de sete anos, para obter a graça desejada. As promessas sao varias tais como: cura de doenças realização de desejos, superação de dificuldades.

A Folia é formada por amigos, parentes, aliados do mestre e às vezes mulheres e crianças.

Os figurantes:

Os figurantes da folia, são chamados em conjunto de Foliões.

O embaixador - é o responsável pelo grupo de foliões e o representante dos Santos Reis.

- O Capitão - comanda, toca viola e tira o canto; geralmente acumula o papel de embaixador e capitao da folia.

- O gerente - cuida da disciplina do grupo. He reúne os foliões e faz as advertências a respeito dos atnbutos religiosos, de obrigações e do ritual. Controla horários, vigia o uso de bebidas alcoólicas e a atuação de cada folião. Pede e quarda os donativos.

- O alferes - é o porta-bandeira, símbolo sagrado e venerado da folia.

A banddra vai sempre à frente, ladeada pelo mestre e pelo contramestre, carregada pelo Alteres da bandeira.

As bandeiras são armadas com paus em quadro, cnteitados de fitas, papel de seda, espelhos, rosas artiticiais, pintadas ou bordadas. As bandeiras podem varias de região para região. Ao chegar a uma casa, a bandeira é a primeira a entrar e a receber as homenagens do dono da casa. Os instrumentos originais eram a viola, cavaquinho, bandolim, pandei- ro a sanfona é uma inovação. Hoje já acrescentaram violão, chocalho, reco-reco, trombone e violino.

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Folia de Antônio Ludovino Borba

O Canto

É através da cantoria de Santos Reis que os principais momentos da jornada são realizados: a "saída" da casa do folião do ano, os pedidos da esmola pelas casas do giro, os pedidos de pouso, a "passagem da coroa", a adoração ao menino Jesus, na entrega. Os versos narram momentos da jornada dos três Reis a Belém; apresentam o grupo de foliões; introduzem pedidos de ingresso na casa, de

esmolas, de pouso e comida, fazem agradecimentos e invocam a proteção dos Três Reis Santos para os morado- res.

O embaixador ou capitão canta sozinho duas frases de uma estrofe. Os outros cantores repetem os dois versos e termi- nam com longo grito dos " requinteiros".

Deus vos pague a boa mesa que vós deu de casa aberta quem vai dar a recompensa é o Divino Santos Reis, ai.

O Divino Santos Reis, ai O Divino Santos Reis, ai é o santo consolador. Consolai as nossa almas Consolai as nossas almas quando deste mundo for.

Jesus Cristo perguntou, ai Jesus Cristo perguntou, ai quem cuidou dos foliões? Os Três Reis arrespondeu os Três Reis arrespondeu; foi um filho da bênção.

Deus vos pague a bela mesa Deus vos pague a bela mesa que o dono da casa deu. Deus vos pague a bela mesa Deus vos pague a bela mesa que o dono da cada deu, ai.

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Folia de Re/s de Geraldo Pires Resende

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Dado na vista dos anjos dado na vista dos anjos os Três Reis agradeceu. Dado na vista dos anjos dado na vista dos anjos os Três Reis agradeceu.

Bendito louvado seja Bendito louvado seja Meu Senhor e Jesus Cristo. Pai e Filho, Espírito Santo Pai e Filho, Espírito Santo Louvado seja o Bendito.

Oferecemos este bendito oferecemos este bendito ao Senhor naquela cruz. Em louvor das cinco chagas em louvor das cinco chagas para sempre, amém Jesus.

Lá do céu desceu dois anjos Lá do céu desceu dois anjos com muita delicadeza. Vem dizendo viva, viva vem dizendo viva, viva viva essa bela mesa.

Lá do céu desceu dois anjos lá do céu desceu dois anjos desceu com muita alegria. Vem trazer vida e saúde vem trazer vida e saúde pra o senhor e sua família.

Ai que hora abençoada que a bandeira vai sair na porta da sua casa tem um voto pra cumprir.

A bandeira vai saindo os três reis vai despedir ah, os anjos lá do céu o povo pode sair.

Os três reis nessa bandeira vem fazer a Adoração Vem beijar essa bandeira que vem dar consolação.

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ki Folia de Álvaro José Ferreira

É devoto dos três Reis que essa bênção vão lhe dar o senhor dono da casa vós já pode alevantar.

Neste momento a bandeira passa para as mãos de um dos presentes. As pessoas do lugar a beijam e depois fazem-na passar sobre a cabe- ça.

O dono da casa com a esposa vêm receber a Folia. Um dos foliões entrega a bandeira em suas mãos.

Cantoria de chegada da Folia

Ai que hora abençoada que a bandeira aqui chegou ai, ela veio fazer visita a esse nobre morador.

Senhora dona de casa essa nova vamos dar segura nessa bandeira veja o santo que nela está.

Folia de Reis de Evaristo Torquato - chegada A Folia aqui chegou Santos Reis vem visitar tá pedindo a sua esmola veja lá o que pode dar.

Senhores donos da casa tá com a bandeira na mão Venha dar a sua esmola pra ganhar a salvação.

Santos Reis veio de longe pra fazer essa visita Deus lhe pague a bela esmola pra família reunida.

Despede dessa bandeira que ela agora vai embora ela vai pedir a Deus pra quem nessa casa mora.

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Abençoa o dono da casa com toda a sua família sejam todos convidados para a entrega da folia.

Canto de despedida

Abençoa esta bandeira a família de uma vez venha dar a sua esmola do Divino Santos Reis.

Ai, Deus lhe pague a boa esmola que vós deus ou ainda vai dar. o Divino Santos Reis ponha outra no lugar.

Segurou nessa bandeira com a estrela do Oriente venha dar a sua esmola pra ganhar um bom presente.

Segurou nessa bandeira os Três Reis da Adoração, os divino Santos Reis vai lhe dar sua benção.

A Jornada da Folia de Reis:

As folias saem e percorrem os campos passando por distritos e fazendas na chamada "peregrinação penitencial".

Neste percurso há três espécies de parada:

Casa de giro, onde entram, cantam, pedem, agradecem, saem e seguem;

Casa de Pouso do Almoço, onde almoçam e descansam um pouco.

Casa de Pouso da janta, onde jantam e dormem.

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Canto pedindo pouso

Vou cantar às 11 horas Na hora de Deus presente pra acordar quem tá dormindo consolar quem tá doente.

O que hora abençoada que a bandeira aqui chegou ao chegar nesse terreiro nesse arco ela parou.

O senhor dono da casa faça o favor de vir cá vem receber a bandeira para nós poder chegar.

Os Três Reis veio de viagem nesse arco eles parou vem fazer essa chegada na casa de um morador

A viagem dos Três Reis que parou no seu terreiro vai seguindo os Três Reis Santos vai seguindo com a bandeira.

A viagem dos Três Reis nessa porta ele parou veio fazer uma visita a esse nobre morador.

Os Três Reis veio descansar na sombra do seu telhado esse nobre morador com todos seus convidados.

Os Três Reis veio viajando nessa casa eles parou veio fazer essa visita na casa de um morador.

Senhores donos da casa boa nova vou lhes dar ai, os Três Reis na sua casa vieram lhe visitar.

Deus lhe salve a bela casa com todos que aqui está mas aceite essa visita desse nosso Rei Gaspar.

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O giro da Folia de Rela

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A viagem dos Três Reis veio parar na sua mão receber nós num descanso e jantar pros folião.

A Entrega da Folia - o dia da festa:

A entrega é um verdadeiro momento de síntese de toda a jornada. Os foliões reproduzem todas as situações rituais de chegada em cada pouso e a "passação da coroa e do galho".

As folias partem da casa da rainha para buscar os reis que chegam acompanhados de sua corte e andor, parando diante de três arcos armados pela rainha, onde cantam.

As coroas são passadas solenemente e os novos reis prometem não deixar morrer a tradição.

Em seguida é retirada a bandeira e são entregues os instrumentos. Só então começa a festa e a comilança.

Ai, ô que hora abençoada nessa bonita chegada encontrou nosso festeiro quero ver ele coroado.

Ai, os Três Reis vieram vindo por uma anunciação. Ai, o boneco pede licença pra fazer coroação.

Os Reis Magos de viagem viemos do Oriente pra pedir a vossa licença e abençoar toda essa gente.

Tá chegando os Três Reis Santos nesta bonita chegada viva o nosso festeiro com todos seus convidados.

Os Três Reis vieram andando com prazer aqui parou. A chegada dos Três Reis Jesus Cristo esperou.

Destaque: a rainha A hora que o Menino nasceu em Belém ele parou Ela cantou anunciando que nasceu o Salvador.

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Evaristo Torquato - o dia da festa

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O Menino Deus nasceu numa casa verdadeira os Três Reis do Oriente. Vão seguindo com a bandeira.

Há muitos fogos na chegada da folia. Duas filas de crianças com bandeiras de papel dirigem-se ao encontro dos foliões e os recebem jogando pétalas de flores e papel picado.

Folias de Reis em Uberaba

Uberaba é uma fonte de Folias de Reis e este folclore está ainda vivo, porque esta tradição vai passando de pai para filho. Hoje há uma maior valorização das Folias, através do poder público municipal, que desde 1958 vêm apoiando as companhias e os encontros que são realizados anualmente.

Num de seus testemunhos, Geraldo Quirino de Souza (Toninho) conta que começou a realizar os Encontros de Folias de Reis, em 1958, na antiga PRE-5, hoje rádio Sociedade, sob a gerência e apoio de Geraldo Barbosa. Naquele tempo Toninho e Marieta manti- nham um programa sertanejo aos domingos "A hora do Fazendeiro".

Iniciou o Encontro com 7 folias no rádio, e o júri ficava fora do rádio, eram dois em cada bairro, ouvindo cada apresentação. Após a apresentação das folias T oninho ia procurar os jurados que já haviam dado as notas para as folias -12, 22, e 32 lugar; e no 32 programa faziam as apresentações finais, saindo uma finalista que recebia um belo troféu - "Reis Magos".

Do rádio passou para a televisão onde apresentaram durante 12 anos juntamente com seu filho Edinho.

Quando a premiação passou a ser em dinheiro, Toninho saía as ruas e recebia doações de vários amigos entre eles: EIvio Fantato, Barros e Borges, Laerte Borges e outros. Segundo Toninho os foliões mais antigos, dos quais ele se lembra foram:

- Chico Carreiro, João Pedro, Levino, Tim (Delta). Toninho e Marieta gravaram o l2 LP de Folias de Reis em 1952, com 5(cinco) profissionais. Mudavam as vozes, quando necessário para dar a impressão de que haviam mais de 6 elementos.

Aqui ele deixa sua mensagem aos atuais Foliões:

"Pela presença espiritual de Marieta neste momento eu digo às Folias de Santos Reis e seus capitães que, amparados pela Fundação Cultural de Uberaba,

1 Ml Sr. Toninho

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prossigam elevando a todos os lares uberanses, mineiros e brasileiros, as suas mensagens dedicado de todo o coração aos festeiros c aos Três Reis Belchior, Gaspar e Baltazar".

(Toninho)

Sebastião Mapuaba

Depoimentos cedidos ao Arquivo Público

de Uberaba

Depoimento de Baltazar de Souza Pimenta

Castigo e Milagre:

... Em 1961 eu cheguei numa fazenda de um tal Alfredo, aqui no córrego do Viadinho. Então, quando a minha Bandeira chegou na porta, a dona da cada disse:

- Esses capetas bota esse pedaço de pano no pau e sai amolando a população.

Aí, eu disse pra ela:

- Não dona, esse capeta que tá no pau aí, ele não é o Cristo, mas cm compensação, Deus déu a ele o poder, ele tem mais poder do que o Cristo. E esse capeta agradece a senhora e vai embora.

...na outra fazenda da frente, era ponto de almoço nosso. Estávamos, almoçan- do, apontou um cavaleiro, nos chamando para voltar, falei:

- Não, o Santos Reis não voltou, só andou pra diante, pra trás ele não voltou nem um passo. É, mas você tem que voltar lá com a Bandeira por que um jaracuçu pegou a mulher dentro de um quarto. Eu falei:

- Mas, dentro de um quarto, um jaracuçu pegar uma mulher, é lamentável, porque eu nunca vi falar, porque cobra só anda pros matos, dentro de casa não é possível, ainda mais numa fazenda igual aquela.

- Mas você tem que voltar?!

- Eu falei: Não, minha Bandeira não volta, mas eu posso voltar. E como voltei lá de fato, a cobra tinha picado a mulher e saia sangue pelos olhos, pelo nariz, ...

- Aí eu falei:

- Santos Reis, se for castigo seu, volta essa mulher no estado normal que eu vou

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pagar a pena por ela. Dei uma água pra ela beber, dentro de 5 minuto a mulher ficou boa. Aí ela arrependeu do pecado e deu até uma vaca pra Santos Reis. Eu falei:

- Mas nós não podemos voltar aqui pra agradecer a vaca. A festa foi no Alto do Fabrício, na beira do Rio Uberaba. Ha veio à festa, além de ter dado a vaca, naquele tempo, ela ainda deu mais um mil cmzeiros pra folia de reis. E com essa história, a mulher virou a maior católica: Até morrer ela ainda tirava folia de reis, e quem tocava essa folia também já morreu, era um tal Argemiro o folião dela.

Milagre:

Também no Alto da Abadia, no Parque das Cameleiras fez outro. Um homem que não estava enxergando, pois tinha perdido a vista, queimado com ácido. Quando a minha Bandeira chegou à sua casa ele estava na porta ajoelhado, esperando a Bandeira... quando a Bandeira chegou, levantou e gritou:

- "Vale-me Santos Reis, estou enxergando, estou com minha vista perfeita": E esse homem está vivo até hoje, muito velhinho, mas ele pode contar essa história, é um tal de Sebastião, que mora na Rua Aimoré.

Então esses dois milagres de Santos Reis eu vi e aprovo, foi só.

Depoimento de João Valdomiro Lemos

Milagre

Os Três Reis são milagrosos, mas também são vingativos. Meu pai mesmo caiu numa cisterna de 95 palmos de fundura, e o Dr. José de Abreu queria cortar as pernas de meu pai, no antigo Hospital das Clínicas, que hoje é o Hospital Escola.

Então, meu pai fez essa promessa para os Reis Santos e foi embora pra casa. Aleijado do jeito que estava, arrastando as duas pernas, andou com a bandeira dos Três Reis Santos, na folia do finado Japão e graças a Deus, hoje meu pai não tem defeito nenhum. Meu pai contou-me que eles passaram em uma casa na roça, e que o homem quando vira a bandeira bateu a porta, e não mais abriu. He foi embora, viraram as costas e saíram porque não pode maltratar ninguém e recusou o santo. No mesmo instante em que eles estavam cantando do outro lado do córrego, chegou uma menina correndo: disse que o pai dela estava chamando-os pra voltar lá e cantar, porque a mãe dela tinha desmaiado, e não estava querendo voltar, que talvez era por causa do Santo, pois nunca tinha acontecido aquilo com a mãe dela. Isso foi somente o que o meu pai contou.

O negócio de Santos Reis... tem castigo que ele dá, costuma dar o castigo no momento e tem certos castigos que ele dá conforme a situação do tempo. He vai apertando o castigo na pessoa devagarinho...

Tem gente por aí que anda facilitando e brincando com nosso santo de devoção!!

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Folias de Reis catalogadas pelo Arquivo Público

Circo do Povo

Nome da Folia - Estrela do Resplendor Nome do Capitão - José Pereira Neto N2 de Foliões - 10

Nome da Folia - Os Filhos do Pai Eterno Nome do Capitão - João José dos Reis N2 de Foliões - 09

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Altar de Santos Reis - Folia de deficientes físicos

Nome da Folia - Mantor Azul Nome do Capitão - Sebastião Teixeira da Silva N2 de Foliões - 08

Nome da Folia - Doração de São Sebastião Nome do Capitão - João Marra da Silva N2 de Foliões - 10

Nome da Folia - Os Filhos de Soldado Sebastião Nome do Capitão - José Raul Cardoso N2 de Foliões - 10

Nome da Folia - Menino Jesus Nome do Capitão - Anildo Pereira de Oliveira N2 de Foliões - 10

Nome da Folia - Irmãos Duarte Nome do Capitão - Antonio dos Reis Duarte N2 de Foliões - 11

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Nome da Folia - Folia dos Três Reis Santos Nome do Capitão - João Batista Marcclino Ns de Foliões - 12

Nome da Folia - Osvaldo Carlos Nome do Capitão - Osvaldo Carlos Vieira Ns de Foliões - 12

-.'S-

Nome da Folia - Os 3 Suberano Ministro Nome do Capitão - Sebastião Raymundo dos Reis Ns de Foliões - 12

Nome da Folia - Companhia dos Mizael Nome do Capitão - Moisés Maria Alves da Silva Ng de Foliões - 12

Nome da Folia - Estrela da Guia Nome do Capitão - Luiz Mareio Souza (zizi) Ns de Foliões - 11

Nome da Folia - Estrela do Oriente Nome do Capitão - Joaquim Luiz Alvez N9 de Foliões - 12

Nome da Folia - Caravana S. José Nome do Capitão - Waldomiro Lemos N9 de Foliões - 12

Nome da Folia - São Sebastião Nome do Capitão - Carlos Alberto Prado N9 de Foliões - 10

Nome da Folia - Estrela do Oriente Nome do Capitão - Sebastião Damos N9 de Foliões - 08

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Nome da Folia - Companhia de Reis Nome do Capitão - Geraldo Pires Resende Ne de Foliões - 11

Nome da Folia - Reis de Jesus e José Maria Nome do Capitão - José Lázaro Silva N9 de Foliões - 13

Nome da Folia - Estrela da Guia Nome do Capitão - Tadeu Júlio dos Reis N9 de Foliões - 11

Nome da Folia - Irmãos do Arte Nome do Capitão - Antonio dos Reis do Arte N9 de Foliões - 11 Nome da Folia - Divina Santa Estrela Nome do Capitão - Francisco Assis de Oliveira N9 de Foliões - 12

Nome da Folia - Folia Silva Nome do Capitão - José Antônio da Silva N9 de Foliões - 08 Nome da Folia - Água Santa Nome do Capitão - Valter de Araújo N9 de Foliões - 25

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Nome da Folia - Antonio dos Santos Nome do Capitão - Odilon dos Santos N9 de Foliões - 07

Nome da Folia - Di Santos Reis Nome do Capitão - Jerônimo Domingos Di Abreu N9 de Foliões - 09

Nome da Folia - Álvaro José Ferreira Nome do Capitão - Álvaro José Ferreira Júnior N9 de Foliões - 14

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Nome da Folia - Do Geraldo Nome do Capitão - Geraldo José da Silva N9 de Foliões - 12

Nome da Folia - Sagrado Coração Nome do Capitão - Dirso Ângelo de Souza N2 de Foliões - 12

Nome da Folia - Antonio Ludovino Borba Nome do Capitão - Antonio Eustáquio Borba N9 de Foliões - 09

Nome da Folia - Reis do Sagrado Nascimento Nome do Capitão - Evaristo Torquato da Silva N2 de Foliões - 12

• tu.

A*

Nome da Folia - Os 3 Reis Magos Nome do Capitão - Eduardo Silva N9 de Foliões - 12

Nome da Folia - Estrela da Guia II Nome do Capitão - Valtercides N9 de Foliões - 15

Nome da Folia - Companhia de Reis Estrela do Oriente Nome do Capitão - Sebastião Silvestre dos Santos N2 de Foliões - 13

Obs.: Conforme o Projeto e Regulamento só entraram no Boletim, as Folias de Reis que entregaram as fichas no prazo determinado (dia 25/01).

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FOI CC*.

...

wi; I W í i

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GRÁFICA RIOS FAX/FONE ; (034) 333-5888

UBERABA-MG

Comissão Organizadora:

FimdaçãoCulturcddeUbemba Antonlo Carlos Marques

CircodoPovo Antonio Roberto Luis Roberto da Silva

ArqubxyPúbíicodeUberaba Maria Aparecida Rodrigues Manzan Maria do Carmo Peracini

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