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1INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o aumento da densidade de usuários dos sistemas celulares
tem ocasionado uma maior reutilização do espectro de freqüências através da redução
do tamanho de células. Os sistemas passam a operar com estações rádio base com
antenas e potências de transmissão mais baixas e raios de cobertura de centenas de
metros (microcélulas) ou mesmo poucos metros em ambientes fechados (picocélulas)
[2].
Devido às dimensões reduzidas das áreas de cobertura, com antenas muitas
vezes localizadas na altura de postes, as características do sinal de rádio em
ambientes microcelulares diferem das características geralmente observadas em
macrocélulas e, por esse motivo, modelos empíricos consagrados para a predição de
atenuação de propagação em macrocélulas não são mais aplicáveis. Particularmente o
cálculo de novos modelos é ainda mais evidente quando aumenta o interesse pela
provisão de serviços móveis em ambientes interiores, onde o meio confinado
estabelece outros padrões para o comportamento do sinal. Ferramentas
computacionais aplicadas na predição do sinal nestes tipos de ambientes são de
imperativa importância.
Esta tese aborda o desenvolvimento de um procedimento automatizado para
predição do campo usando a técnica de traçado de raios em dois cenários diferentes
(microcelular e no interior das edificações) em um mesmo procedimento
automatizado.
O trabalho está estruturado da seguinte forma. Este Capítulo 1 apresenta uma
revisão dos conceitos básicos de sistemas celulares , da técnica de traçado de raios,
modelos matemáticos utilizados na predição do sinal em microcélulas e enfatiza as
características de propagação em ambientes celulares, inclusive em microcélulas e
picocélulas. Este capítulo inicial tem objetivo de introduzir o leitor pouco
familiarizado com sistemas rádio celulares aos assuntos abordados nos capítulos
seguintes. No que diz respeito às contribuições do presente trabalho, o Capítulo 2
apresenta algumas características particulares para predição no interior das
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edificações com o transmissor posicionado em um ambiente externo e técnicas
computacionais visando tornar o programa mais eficiente. O Capítulo 3 apresenta a
teoria eletromagnética necessária ao cálculo de campos realizado pelo modelo de
traçado de raios. É desenvolvida uma formulação baseada na Teoria Uniforme da
Difração [25]. No Capítulo 4 são apresentadas algumas características do programa
implementado, bem como alguns exemplos de aplicação do modelo. No Capítulo 5
será apresentada a configuração de equipamentos utilizados para a realização de
medidas que serão comparadas no Capítulo 6 e 7 com os dados teóricos obtidos do
procedimento automatizado. O Capítulo 8 apresenta conclusões e sugestões de
trabalhos futuros.
1.1EVOLUÇÃO DAS COMUNICAÇÕES PESSOAIS
Inicialmente os sistemas de comunicações pessoais sem fio eram empregados
basicamente por departamentos de polícia de algumas cidades dos Estados Unidos,
pois empregavam modulação em amplitude (AM), o que restringia comercialmente a
viabilidade de sistemas pessoais à população de uma forma geral. O objetivo dos
primeiros sistemas móveis era o de obter uma grande área de cobertura através do uso
de um único transmissor de alta potência, com a antena situada em um local elevado.
Embora essa abordagem gerasse uma cobertura muito boa, o número de usuários era
limitado.
Devido ao trabalho de Armstrong sobre modulação em Frequência (FM) e
com sua aprovação pela Comissão Federal de Comunicações norte-americana (FCC -
Federal Communication Comission), em 1940, iniciou-se um maior desenvolvimento
das comunicações pessoais [40]. Em 1946 a Bell Telephone Laboratories (BTL)
inaugurou o primeiro sistema público de comunicações móveis. Em 1971 a Bell
System concebeu a arquitetura rádio-celular, em resposta ao documento 18262 da
FCC. O conceito celular foi uma grande descoberta na solução do problema de
17
congestionamento espectral e limitação de capacidade de usuários que havia em
sistemas de comunicações móveis até então.
A idéia do conceito celular constitui-se basicamente na substituição do
transmissor único de alta potência (responsável pela cobertura de uma grande área)
por vários transmissores de baixa potência, cada um provendo cobertura a uma
pequena região (célula) da área total. A cada uma dessas estações base é alocada uma
porção do número de canais disponíveis para todo o sistema. As estações base são
alocadas em diferentes grupos de canais, de forma que todos os canais disponíveis no
sistema são alocados a um determinado número de estações vizinhas.
A alocação de canais entre as estações base vizinhas é feita de forma que a
interferência entre elas (e entre usuários móveis) seja minimizada. Através do
espaçamento sistemático das estações base bem como dos grupos de canais, os canais
disponíveis serão distribuídos através da região geográfica e poderão ser reusados
quantas vezes forem necessários, desde que a interferência entre estações cocanal
(estações que possuem grupos de canais em comum) seja mantida a níveis aceitáveis.
Em 1977 a FCC autorizou a instalação e testes do Serviço Avançado de
Telefonia Móvel (Advanced Mobile Phone Service- AMPS) e em 1983 a American
Telephone and Telegraph (AT & T) iniciou a operação do primeiro sistema de
telefonia celular (AMPS) americano [4]. Mais recentemente, em 1990 a FCC
publicou um documento que serviria como base para o desenvolvimento dos Sistemas
de Comunicações Pessoais (Personal Communications Systems - PCS). Mas somente
em 1992, a conferência mundial WARC92 da UIT definiu a faixa de frequências
usada pelo PCS : 1,7 a 2,2 GHz. Para esta faixa de frequência, algumas técnicas
determinísticas podem ser usadas na predição do sinal com considerável precisão.
1.2TÉCNICAS DETERMINÍSTICAS
Os modelos determinísticos são baseados em conceitos da física e levam em
consideração a geometria e os tipos de materiais utilizados no ambiente, as alturas das
18
antenas, a freqüência de operação e etc. . Para a formulação destas técnicas o
espalhamento e a difração eletromagnética podem ser tratados através de soluções
aproximadas, pois as soluções analíticas exatas possuem séries infinitas que
convergem muito lentamente quando os obstáculos do ambiente têm dimensões
maiores que cerca de 1 (um) comprimento de onda.
Uma solução aproximada utilizada é a solução por equação Integral, que
geralmente faz uso da abordagem dos métodos dos momentos. A desvantagem desta
formulação é o grande esforço computacional, limitando a sua aplicabilidade a
sistemas que operem em freqüência muito altas e/ou a ambientes cujos objetos não
sejam muito superiores a 1 (um) comprimento de onda.
Cumpre acrescentar que para esta limitação as soluções assintóticas para altas
freqüências podem ser usadas e entre elas, a teoria geométrica da difração (TGD)
vêm se tornando cada vez mais utilizada.
A TGD constitui uma extensão à ótica geométrica, onde o efeito da difração é
tratado através da técnica de raios. A TGD postulada originalmente por Keller [24]
teve por base a suposição de obstáculos lisos e perfeitamente condutores e foi
limitada à condição do ponto de recepção estar localizado fora da região de transição
entre a visibilidade e a sombra.
Dois trabalhos complementaram a TGD. Kouyoumjian e Pathak [25]
desenvolveram uma solução, denominada Teoria Uniforme da Difração (TUD),
aplicável à região de transição acima citada, a qual concorda com a TGD fora desta
região. Por outro lado, Chamberlin e Luebbers [26] apresentaram uma solução para
obstáculos rugosos e de condutividade finita. Fundamentalmente, o problema básico
da TGD é a determinação do coeficiente de difração para uma dada geometria do
obstáculo.
O procedimento automatizado desenvolvido neste trabalho utiliza a TUD. As
expressões matemáticas serão apresentadas no capítulo 3. A TUD e a GTD podem ser
aplicadas a técnica de traçado de raios para o cálculo da predição do sinal, conforme
será apresentado nas seções seguintes.
19
1.3TRAÇADO DE RAIOS
Com o trabalho de Keller (TGD), a técnica de traçado de raios recebeu um
grande impulso e recentemente tem sido utilizada na caracterização da propagação
da energia em áreas urbanas visando determinar a atenuação do sinal neste tipo de
ambiente. Duas técnicas distintas para a elaboração do algoritmo de traçado de raios,
são citadas na literatura : o traçado baseado em imagens [39] e o traçado por "força-
bruta" [23]. A filosofia de ambas é calcular a contribuição de todos os raios emitidos
pelo transmissor e que chegam ao receptor após determinado número de difrações e
reflexões nas paredes dos obstáculos.
1.3.1 TRAÇADO DE RAIOS POR IMAGEM
Na técnica de traçado de raios pelo método de imagens, é determinado,
inicialmente, um conjunto de imagens do transmissor. A partir deste conjunto, são
determinados os raios que partem do transmissor e realmente atingem o receptor.
Conceitualmente, o algoritmo de traçado de raios por imagem consiste em
obter todos os pontos imagens (pontos simétricos relativamente aos planos dos
obstáculos) com referência a fonte, como mostrado na figura 1.1. Para difração
primeiramente identifica-se os pontos (arestas) de difração do ambiente. Quando o
transmissor puder ser ligado ao ponto de observação sem que qualquer dos segmentos
seja obstruído, tem-se um raio puramente difratado. Posteriormente, são determinados
as imagens da fonte real (transmissor) e dos pontos de difração.
Este processo é repetido, sendo que as imagens determinadas na interacção
imediatamente anterior são utilizadas como novas fontes para interação atual. Desta
forma, são geradas diversas árvores de imagens (uma para cada ponto de difração,
além da outra para a fonte real ), na qual cada imagem está ligada à fonte anterior
(real, ponto de difração ou imagem) e ao segmento responsável por sua criação.
20
Para o caso em que os raios entre as imagens do transmissor e o receptor
forem interceptados por planos adicionais (diferentes aos que produziram as imagens
originais), então ao percurso é acrescentado uma atenuação por passar através desta
parede, caracterizando a propagação por transmissão. A transmissão é um mecanismo
de propagação importante principalmente para ambientes “indoor” como será
apresentado no capítulo 3, desta tese.Para se traçar um raio refletido (figura 1.1) ,
une-se o receptor a uma imagem por um segmento de reta , posteriormente
determina-se a intercessão entre o segmento que une o receptor à imagem e o
obstáculo que a gerou.
Figura 1.1- Representação para um percurso com duas reflexões, usando traçado de
raios por imagem.
O processo descrito a partir do início do presente parágrafo é repetido, usando
a imagem imediatamente anterior à selecionada na árvore de imagens atual e com a
intercessão desempenhando o papel do receptor. Quando o processo descrito no
parágrafo anterior for bem sucedido, chegar-se-á à raiz da árvore de imagens (a fonte
real ou um ponto de difração) . No primeiro caso, ter-se-á identificado um raio
puramente refletido (um número de vezes dado pela posição da imagem selecionada
na árvore de imagens correspondente). No segundo caso, ter-se-á identificado um
raio difratado se o ponto de difração puder ser ligado ao transmissor sem obstruções.
Alternativamente, poderão ser testadas ligações deste ponto de difração a outros ou a
imagens da mesma ou de outras árvores de imagens. Na ausência de obstruções, ter-
se-ão identificados raios com interações mistas (reflexão e difrações) e múltiplas.
(Fonte)
(Observador)
21
1.3.2 TRAÇADO DE RAIOS POR FORÇA BRUTA
Na técnica de traçados de raios por “força-bruta”, um raio é emitido pelo
transmissor, em uma direção específica, até atingir um obstáculo. O ponto de
intercessão do raio com o obstáculo é calculado com base no ponto de origem do
raio, seu ângulo de lançamento com relação a um eixo de coordenadas x, y e z, e
as coordenadas do obstáculo. Testes são realizados a cada incremento que o raio
sofre ao se propagar, tornando-o capaz de identificar se o raio atingiu uma parede
(reflexão e transmissão), quina (difração) ou atingiu o receptor.
Após o raio atingir o receptor ou o algoritmo identificar que o raio não
conseguirá alcançar este objetivo, um novo raio é lançado do transmissor até que
todas as direções de lançamento a partir da fonte sejam computadas.
A técnica de traçado de raios por Força Bruta será mais abordada no final
deste capítulo, através das metodologias de redução do tempo computacional, e
nos próximos, enfatizando os aspectos computacionais. Esta técnica será utilizada
neste trabalho para predição do sinal em microcélulas e picocélulas.
1.3.3ESTADO DA ARTE
Para predição determinística do sinal em ambientes “indoor” e em
microcélulas, a maioria dos autores [8,9,27,28,38,39] fazem referência aos
trabalhos de Keller [24] e a complementação desenvolvida por Kouyomjian e
Pathak [25] .
Uma das primeiras abordagens baseadas em traçado de raios foi publicada
[41,42] por pesquisadores do instituto politécnico da Víginia (EUA) e considerava
os mecanismos de propagação por visada direta, por reflexão especular, por
penetração e por espalhamento difuso. O modelo aplicava uma técnica de traçado
de raios por “força bruta” a uma área 3D. Esta técnica se completava com o
conceito da esfera de recepção, ao invés da recepção pontual, já que o
espaçamento angular de lançamento dos raios iniciais gerava, na verdade, feixes
ou cones de raios com iguais ângulos sólidos. A ferramenta havia sido
22
desenvolvida para ambientes microcelulares, mas a aplicação em ambientes
internos também era prevista.
Outro modelo baseado em traçado de raios citado na literatura foi
publicado por pesquisadores franceses [43], e aplicava-se a área urbanas 3D onde
a base era necessariamente mais alta que as edificações ao redor, cujas alturas
eram consideradas uniformes (iguais). O perfil analisado, na verdade poderia até
ser enquadrado como de área residencial/comercial, mas o modelo aplicava-se
também a áreas suburbanas. Neste trabalho, optou-se pela teoria das imagens para
o traçado de raios, e os mecanismos de propagação considerados foram a visada
direta, difração e a reflexão nas fachadas das edificações. O efeito da difração
múltipla associado ao percurso entre a base e a borda anterior à posição do móvel,
equivalente ao campo Q de Walfish [14], foi desconsiderado, o que talvez tinha
sido o maior responsável pelo otimismo das predições realizadas pelos autores.
Pesquisadores de Barcelona (Espanha) desenvolveram um programa [44]
baseado em traçado de raios aplicável a grades urbanas 3D genéricas, sobre
terrenos planos. O programa opera sobre mapas digitalizados em AutoCadTM ,
que associa vetores 2D a cada edifício ou quarteirão. As demais características
individualizadas tais como, altura, permissividade, condutividade e rugosidade são
incorporadas ao arquivo que contém o mapa, através de rotinas específicas do
programa, escrito em linguagem C. O modelo considera os mecanismos de
propagação por visada direta, difração e a reflexão nas fachadas das edificações e
no solo. A reflexão é calculada com base nos coeficientes de Fresnel. A difração,
por sua vez, é computada com base na TUD. No trabalho, induz-se que o
procedimento de obtenção dos raios parece ser por “força-bruta”, embora isto não
tenha sido mencionado pelos autores.
Um trabalho publicado por pesquisadores da universidade de Bristol
(Reino Unido) apresenta um modelo, baseado na teoria das imagens (traçado de
raios), para ambientes microcelulares e internos. O modelo poderia ser incluído
até mesmo para ambientes urbanos densos. No entanto, por trabalhar com mapas
reais digitalizados (2D), cuja geometria é normalmente irregular, por considerar o
mecanismo de penetração (transmissão), e por não detalhar o processo de
determinação das imagens, optou-se por enquadrar este modelo como para áreas
sítio-específicas. A determinação das imagens e o traçado de raios são realizados
no plano horizontal, ou seja, é 2D; os cálculos, entretanto, são 3D, levando em
23
conta a diferença de altura entre a base e receptor, e considerando o mecanismo de
reflexão no solo (considera também reflexões no teto, para o caso de ambientes
internos). O algoritmo permite a associação individualizada dos valores de
permissividade, condutividade e espessura para cada fachada do mapa, ou
simplesmente consideram-se os valores médios globalmente para o mapa. Além
dos mecanismos de propagação já mencionados, o modelo considera, ainda, a
difração e a visada direta.
Algumas universidades na Alemanha vêm desenvolvendo técnicas
alternativas para aplicação em predição em áreas do tipo sítio-específcas.
Pesquisadores de Dusseldorf, por exemplo, publicaram um modelo 3D baseado na
abordagem de Chichon e Wiesbeck, que divide a propagação em três
componentes [45]. A componente principal correspondente ao percurso tomado
no plano vertical, que considera reflexões e difrações conjugadas, num total de até
16 trajetórias diferentes consideradas. A Segunda componente é tomada num
plano quase horizontal, que contém as antenas da base e do receptor (normalmente
com diferentes alturas, daí a inclinação no plano), e é perpendicular ao plano
vertical. Esta componente considera não mais do que duas difrações por
trajetória. A teoria de difração empregada para o cálculo destas duas primeiras
componentes é a TUD. Por fim, a terceira componente considera os
espalhamentos das fachadas “visíveis” tanto pela base quanto pelo receptor. O
modelo é aplicável a mapas digitalizados com resolução horizontal de 5 a 10
metros. Alguns resultados simulados foram apresentados, mas a concordância
com medidas experimentais foi apenas razoável, o que foi admitido pelos próprios
autores.
Outra proposta alternativa desenvolvida por pesquisadores alemães é
encontrada no trabalho de Gschwendtner e Landstorfer [46], no qual um modelo
3D para microcélulas considerando irregularidades topográficas do terreno é
descrito. O modelo aplica uma técnica de lançamento de raios por “força-bruta”.
O algoritmo de lançamento de raios considera os mecanismos de visada direta,
difração (no máximo duas por percurso) e a reflexão, e o processo só termina
quando um valor limiar mínimo aceitável é alcançado para o campo. A limitação
para o número de difrações poderia gerar predições pouco confiáveis para
algumas situações específicas, mas é necessária para viabilizar o tempo de
execução do algoritmo. Isto é contornado pela aplicação complementar de um
24
modelo 2D para o cálculo de difrações múltiplas no plano horizontal e/ou no
plano vertical, conforme a necessidade.
Outro trabalho alternativo ao traçado de raios convencional bastante
interessante foi publicado por pesquisadores britânicos [47] e propõe um modelo
de propagação 3D com integração macro e microcelular aplicável a mapas de
terrenos digitalizados (conhecidos por DTM) com informações suplementares
sobre os materiais das edificações consideradas. A integração referida entre os
ambientes se dá pela utilização de mapas com resolução variável; em uma mesma
planta, por exemplo, para regiões microcelulares a resolução poderia ser da ordem
de 10 a 50 m, enquanto que a representação de macrocélulas poderia ser feita com
resoluções de 100 ou 200 m. Sobre os mapas DTM, é preciso acrescentar ainda, a
base de dados referente ás edificações. Em uma região microcelular, por exemplo,
as edificações de um determinado setor seriam representadas por um bloco
retangular cobrindo todo o setor, com a altura média daquelas edificações, e a
cada face deste bloco (as 4 laterais e a superior) seriam associadas as
características elétricas pertinentes. Uma outra matriz de coeficientes elétricos é
associada ao mapa, onde cada elemento da matriz corresponde a um setor do
mapa, qualquer que seja a resolução do setor. O algoritmo de predição considera
os mecanismos de visada direta, difração (no máximo duas por percurso) e a
reflexão.
Mais recentemente, Bertoni e outros [2] , publicaram um artigo com um
vasto catálogo de publicações sobre o assunto. Neste trabalho são citados, ao todo,
104 publicações envolvendo medidas e modelos matemáticos em vários cenários
diferentes e abrange a propagação em microcélulas e para ambientes interiores das
construções.
Para predição do sinal em ambientes microcelulares, Bertoni supõe que a
propagação do sinal ocorrerá por uma combinação de raios diretos, refletidos e
difratados. Entretanto, no que se refere aos raios difratados, o modelo é
simplificado pelo emprego do coeficiente de difração correspondente a um
obstáculo absorvente. Apesar de sua simplicidade e razoável concordância com os
dados experimentais, este procedimento restringe a aplicabilidade do modelo.
Embora tenha havido, um grande esforço no sentido de se desenvolver
técnicas de traçado de raios para aplicação em predições microcelulares e para
cenários “indoor”, a maioria dos programas comerciais disponíveis não aplica
25
esta técnica. A predição nestes programas é feita por algoritmos semi-empíricos,
ou por extrapolações “híbridas” de modelos teóricos. Um exemplo de ferramenta
de predição baseado em modelo semi-empírico de solução própria é o programa
NP WorkPlaceTM , desenvolvido por uma empresa de consultoria bitânica, a MAC
Ltd. Neste programa [48], o algoritmo para predição em microcélulas foi
desenvolvido com base em medições de campo exaustivas em diversos tipos de
ambientes urbanos, sendo complementado por alguma teoria de difração (não
divulgada) .
Estudos experimentais e de previsão de cobertura realizados até o
momento em sistemas celulares “indoor”, supõem as antenas da estação rádio
base (ERB) e o receptor situados no interior das edificações [23,28]. Porém, é
importante abordar a situação de transmissores posicionadas fora das construções,
devido ao grande interesse das operadoras de telefonia móvel por este tipo de
cenário.
Para a predição “indoor” com transmissores em ambientes externos é
observado um vazio de publicações, o mesmo acontece para medidas neste tipo de
cenário. Procedimentos automatizados até o momento se restringem a predições
em um mesmo ambiente [5,6,8,9,14,16,44,45,46,48].
Visando preencher estas lacunas, neste trabalho foi desenvolvido um
“software” para predição do sinal em ambientes internos com transmissores
posicionados num cenário externo. Este programa de computador foi comparado
com um estudo experimental obtido através de uma campanha de medidas,
conforme será apresentado no capítulo 7 desta tese.
A próxima seção descreve sucintamente o perfil de retardos, item
importante para se analisar o desempenho da comunicação digital quanto à taxa
de erros.
1.3.4PERFIL DE RETARDOS
A técnica de traçado de raios distingue-se das demais pois permite a
obtenção determinística do perfil de retardos. Em um canal com multipercurso,
26
cada componente de multipercurso percorre um caminho diferente entre
transmissor e o receptor e, portanto, o tempo de chegada de cada componente ao
receptor será, via de regra, distinto. Dessa forma, o sinal resultante recebido será
composto por um conjunto de versões do sinal enviado, que possuem retardos
entre si. O sinal sofreu espalhamento no tempo e o gráfico que mostra cada
componente significativa de multipercurso, sua potência e o instante de tempo de
chegada é denominado perfil de retardos (power delay profile). A partir do perfil
de retardos, pode-se extrair parâmetros importantes.
São eles :
- Retardo Excedido Médio (mean excess delay)
- Espalhamento Temporal rms (rms delay spread)
- Espalhamento Temporal Excedido (excess delay spread)
O retardo excedido médio descreve o retardo de propagação médio das
componentes em relação à primeira componente que chega ao receptor. O
espalhamento temporal rms mede o espalhamento temporal do perfil de retardos
em torno do atraso excedido médio. Em sistemas digitais, o espalhamento
temporal rms provoca interferência intersimbólica (ISI - Inter-Symbolic
Interference), limitando a taxa de símbolos máxima a ser utilizada no canal. Por
último, o espalhamento temporal excedido indica o retardo máximo, relativo à
primeira componente recebida, para o qual a energia cai X dB (estipulado) abaixo
do maior nível recebido. São parâmetros muito úteis para se analisar o
desempenho da comunicação quanto à taxa de erros. No capítulo 4 é apresentado
o gráfico de perfil de retardos desenvolvido no procedimento automatizado deste
trabalho.
Nos próximos itens serão apresentados os conceitos básicos da propagação
em microcélulas e alguns modelos matemáticos que se destacam na predição do
sinal neste tipo de cenário, visando respaldar algumas metodologias utilizadas
nesta tese, como a escolha dos modelos de propagação e tecnologias de descrição
do ambiente (levando em consideração a não homogenidade dos quarteirões dos
edifícios) .
27
1.3.5 PREDIÇÃO EM MICROCÉLULAS
Em ambientes exteriores, os atuais sistemas celulares usam a segmentação
e a setorização de células para aliviar os problemas associados ao
congestionamento do tráfego e melhorar a qualidade do serviço. Para elevar a
eficiência do espectro em sistemas rádio celulares, um recente sistema
microcelular está sendo proposto para distâncias curtas (da ordem de 100 m a
1000 m), usando antenas relativamente baixas (altura dos postes de iluminação) e
transmitindo com potências menores.
Para microcélulas, procura-se cobrir uma área restrita, ou seja, um número
limitado de ruas, sendo que as características desse ambiente onde ocorre a
propagação são de grande importância na predição do sinal. Os modelos
determinísticos onde o cálculo da propagação é feito em função de diversos
fatores como geometria do ambiente, cota da estação rádio base, constantes
dielétricas do solo e das edificações, etc., apresentam boa concordância com
dados experimentais [2][11]. Para este tipo de modelo são usadas as formulações
da ótica geométrica e da teoria geométrica da difração.
Os mecanismos de propagação por reflexão e difração em ambientes
microcelulares segue uma abordagem semelhante aos ambientes picocelulares. A
única exceção é a propagação por transmissão que neste cenário não contribui
significativamente para predição do sinal.
1.4MODELOS MATEMÁTICOS PARA MICROCÉLULAS - PROPAGAÇÃOEM VISIBILIDADE
O modelo da terra plana é normalmente tomado como referência para
caracterizar a propagação com visibilidade em microcélulas . A adoção desta
geometria é plenamente justificável , tendo em vista que as distâncias envolvidas
são da ordem ou inferior a 1 km, não havendo praticamente efeito da curvatura da
28
terra. A vantagem deste modelo é a possibilidade de utilizar a ótica geométrica
como base para o cálculo da intensidade do campo no ponto de recepção . Apesar
das aproximações associadas à idealização do modelo, os cálculos teóricos
apresentam uma concordância satisfatória com os dados experimentais .
1.4.1 PROPAGAÇÃO SOBRE A TERRA PLANA
Na hipótese de uma terra plana perfeitamente lisa, a aplicação da ótica
geométrica mostra que a intensidade do campo elétrico no ponto de recepção é
dado pela superposição de um raio direto e outro refletido no solo como ilustra a
figura 1.2.
Figura 1.2 - Geometria do modelo de 2 (dois) raios .
Por este motivo , o modelo é também conhecido como modelo de dois
raios. Matematicamente, o módulo do campo elétrico é dado por ,
E er
R ert
jkr
F
jkr= +
− −30
0 1
0 1 p g t (1.1)
29
Onde
pt - potência de transmissão (W);
gt - ganho da antena transmissora ;
k = 2πλ
(m-1 )
R a sina sin
F = − ∈−+ ∈−
coscos
θ θθ θ
2
2
∈= −ε ε σ λr j 60 ( 0 )
ε r - permissividade relativa do solo ;
ε 0 - permissividade do vácuo ;
σ - condutividade do solo (S/m);
λ - comprimento de onda (m);
a = 1 para polarização horizontal ;
a = ∈1 para polarização vertical ;
A potência recebida é dada por :
p A Sr r r=
Onde :
30
A4
gr
r= λπ
2
- Área efetiva de recepção (m2);
g ganho da r = antena receptora ;
Sr E
=2
η - densidade de potência recebida (W/m2);
η µε
π = 0
0
120= 0π ≅ 377Ω - impedância intrínseca do espaço livre ;
Consequentemente ,para antenas isotrópicas e uma potência de transmissão de
1W, obtém-se:
p [ (r
rv
1
1
= +− −λ
π42
0
20
) ]er
R ejk r
F
jk r
(1.2)
onde o índice v foi introduzido para destacar a condição de visibilidade .
A atenuação correspondente do sinal é dada por :
Av = 10 log 1pr
v (1.3)
Supondo-se fixados os valores de h e hb m (Figura 1.2) observa-se uma
oscilação do campo em torno de seu valor em espaço livre a medida que a
distância varia, fato que caracteriza a zona de interferência. A partir de um
determinado ponto o campo não mais oscila e passa a decrescer monotonicamente
com a distância, indicando a penetração na zona de difração . O comportamento
31
da atenuação do sinal em função da distância pode ser visualizado graficamente
na Figura 1.3. Observa-se a definição de duas regiões (interferência e difração) ,
cuja separação ocorre no ponto onde há folga de 60 % do raio da 1° zona de
Fresnel, ou seja ,
H / R = 0,6.
Onde :
R = d dd1 2λ
Sendo : H, d d e d1 2, indicados na figura 1.2 .
Na zona de difração, supondo r r0 1≈ no denominador de (1.2) e RF ≈ −1,
tem-se a seguinte expressão aproximada ,
Ahb
0
4
2 2=
10 log r
h 0
m
(1.4)
Observa-se em (1.4) que a atenuação varia com uma taxa de 40 dB/década.
Este comportamento será utilizado no modelo de duas retas discutido na próxima
seção .
O exemplo da Figura 1.3 utiliza parâmetros típicos de microcélulas
(freqüência : 1956 MHz , altura da estação base : 6.1 m , altura da antena móvel =
1.5 m ) e serve para ilustrar o emprego da expressão (1.1) .
O modelo da terra plana ou dois raios tem sido utilizado com sucesso na
estimativa do sinal em microcélulas quando há visibilidade entre a estação base e
o terminal móvel . Entretanto , antes de compará-lo com dados experimentais ,
32
serão apresentados outros modelos que tem também por referência a geometria
plana .
Figura 1.3 - Gráfico da atenuação do sinal em função da distância para o modelo
de dois raios .
1.4.2 MODELO DE DUAS RETAS
Este modelo foi desenvolvido por Milstein e outros [4] e consiste
basicamente de dois conjuntos de duas retas cada , definindo os limites superior e
inferior da atenuação da propagação .
Para o primeiro caso a expressão matemática é dada por :
L Ld Rd Ru b
b
b
= +≤
2040
10
10
log ( / )log ( / )
, d R , d > R
b
b
33
Onde d é a distância entre a estação base e o terminal móvel .
O ponto de quebra (Rb) é a distância entre as antenas do terminal móvel e
da estação base para qual a elipse que limita a 1° zona de Fresnel tangenciará a
superfície da terra. De acordo com a geometria da Figura 1.2 , este ponto é dado
por ,
Rb =4 h hb m
λ
e
Lb = 20 log ( 2λπ
2
b m8 h h )
Quando d ≤ Rb
Lu = 20 log ( 2 R + 20 log dR
b
b
πλ
)
uma vez que Lb b= =20 log 20 log λπ
πλ
2
b m
b m28 h h
ou L 8 h h
e Rb =4 h hb m
λassim ,
Lu = 20 log [ 4 R 12
] + 20 log dR
b
b
πλ
ou seja
Lu = 10 log ( 24 d - 6 dBπλ
) (1.5)
observa-se que (1.5) corresponde à atenuação de espaço livre reduzida de 6 dB .
Em outras palavras , se refere à atenuação definida pela reta que tangencia o valor
máximo do campo na região de interferência .
34
Para d = Rb tem-se uma folga de 100% do raio da 1° zona de Fresnel . Este
ponto é chamado de ponto de quebra (break-point) . É importante notar , que o
ponto de quebra não coincide com o ponto de separação entre as regiões de
interferência e difração , como defendido anteriormente ( folga de 60% do raio da
1° zona de Fresnel ) .
Para d > Rb o modelo adota uma taxa de atenuação de 40 dB/década ,
compatível com o comportamento na região de difração , conforme discutido em
1.1. Entretanto como o ponto de referência não é o mesmo , a reta correspondente
esta 4 dB abaixo da correspondente à expressão (1.1) .
A figura 1.4 ilustra o modelo de duas retas comparativamente com o
modelo de dois raios discutido em 1.1 .
O limite inferior de atenuação foi estabelecido empiricamente com base
em dados experimentais e corresponde a 20 dB abaixo da reta para d > Rb e entre
15 a 20 dB no caso d ≤ Rb .
Figura 1.4 - Gráfico da atenuação do sinal em função da distância para o modelo
de duas retas e comparação com o modelo de dois raios .
35
1.4.3 MODELO WIART
O trabalho de Wiart [5] apresenta um modelo também baseado na
aplicação da ótica geométrica à uma estrutura plana . Entretanto na região de
visibilidade entre a estação base e o terminal móvel este modelo supõe que o
campo possa ser aproximado pelo seu valor em espaço livre . Consequentemente ,
o modelo não considera a variação da atenuação na região de interferência ,
causada pela superposição entre os raios direto e refletido e , assim como ,
também não leva em conta a taxa de variação de 40 dB/década quando o
terminal móvel esta na região de difração .
1.4.4 MODELO DE QUATRO RAIOS
A propagação ao longo de uma rua é influenciada também por reflexão nas
paredes dos edifícios . Assim será investigada nesta seção a possibilidade de
aprimorar o modelo descrito em 1.4.1 através da incorporação na expressão (1.1)
dos raios correspondentes às reflexões nos dois lados das ruas , como mostrado
na figura 1.5. A expressão matemática para esse modelo é dada por ,
(1.6) )r exp()r exp()r exp(R+)r exp() 4( log 10=)(2
3
3
2
2
1
1F
0
02−
−+−+−−r
jkRr
jkRr
jkr
jkdBA iSλπ
; 1.5 figura na osapresentad oa~s r e r , 1.1 figura na osapresentad oa~s r e r
: Onde
3210
36
RF é o coeficiente de reflexão no solo mencionado na seção 1.4.1 ;
-sina + cos
-sina - cos=
:sendo, rua dainferior lado do edifício do face na refletido raio do reflexão de ecoeficient o éR e rua dasuperior lado do edifício do face na refletido raio do reflexão de ecoeficient o é
2
2
is
ss
sssR
R
θθ
θθ
∈
∈
Rii i
i i
=cos - a -sincos + a -sin
2
2
θ θθ θ
∈
∈
Para os mesmos parâmetros utilizados na seção 1.4.1, o gráfico obtido
utilizando a expressão (1.6 ) é apresentado na figura 1.6 .
Figura 1.5 - Geometria para o modelo de quatro raios .
37
Figura 1.6- Gráfico ilustrando o modelo de quatro raios para os parâmetros da
seção 1.4.1 .
1.4.5 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MODELOS MATEMÁTICOS EDADOS EXPERIMENTAIS
A figura 1.7 mostra resultados de medidas realizadas em Nova York [4,27]
na frequência de 1956 MHz cobrindo distâncias de até 1 km. Esta figura inclui
também resultados dos modelos discutidos neste capítulo ( 2 raios , 2 retas , Wiart
e 4 raios ) .
Por esta figura verifica-se que o modelo de 4 raios diverge das medidas na
região de difração, resultados semelhantes foram obtidos em um outro trabalho
[37]. A causa deste comportamento na região de difração se prende à suposição de
uma reflexão regular nas paredes dos prédios. Na prática isto não acontece, uma
vez que os prédios de um quarteirão não constituem numa superfície contínua.
Desta forma, a reflexão lateral representa uma hipótese razoável apenas para
distâncias curtas. Por este motivo o procedimento automatizado desenvolvido
neste trabalho, leva em consideração a não homogenidade dos quarteirões de
edifícios, trabalhando com mapas digitais de áreas reais, obtidos através de
aerofotos das regiões em estudo em conjunto com a técnica de traçado de raios
tridimensional.
38
Quanto aos demais modelos , valem os seguintes comentários. O modelo
de 2 raios se ajusta razoavelmente às medidas na região de interferência e tende
ser otimista na região de difração. O modelo de 2 retas mostra-se adequado para
definir os limites de variação da atenuação. O limite inferior deste modelo parece
constituir uma aproximação aceitável quando houver interesse em avaliar a
situação mais pessimista . Entretanto , considerando o caráter empírico do modelo
, antes de se adotar este procedimento , seria recomendável
compará-lo com um número maior de medidas experimentais . O modelo Wiart ,
uma vez que supõe a propagação em espaço livre , é representativo apenas como
valor médio na região de interferência , desviando das medidas nas região de
difração. Outras comparações relacionando estes modelos e medidas podem ser
obtidas em [38].
Atenuação (dB)
DISTÂNCIA (m)
Figura 1.7 - Comparação entre medidas e modelos de previsão (local: Nova York;
frequência : 1956 MHz ; altura da estação base : 6.1 m ; altura do terminal móvel :
1.5 m ; largura da rua : 20 m ) .
39
1.4.6MODELOS MATEMÁTICOS PARA MICROCÉLULAS - PROPAGAÇÃOSEM VISIBILIDADE
Quando a folga do percurso é inferior a 0.6 do raio da 1° zona de Fresnel
ou quando não existe visibilidade a energia em propagação sofre efeito do
fenômeno da difração. Neste caso, recursos mais sofisticados de cálculo são
necessários para estimar a atenuação de propagação.
Para ambientes exteriores, na qual a questão básica a ser considerada se
refere à movimentação da unidade móvel em uma rua transversal àquela onde se
localiza a estação base, a teoria geométrica da difração (TGD) constitui uma
ferramenta fundamental para a análise matemática do problema . Assim o capítulo
é iniciado com a introdução da formulação relativa à aplicação da TGD à difração
por uma aresta . A seguir , são comentados alguns dos modelos matemáticos que
são baseados nesta teoria . A partir da TGD e dos modelos apresentados é
proposta uma metodologia de cálculo a ser adotada na propagação por difração.
1.4.7 APLICAÇÕES DA TGD
No caso de interesse da propagação em microcélulas mostrada na Figura
1.8, a difração se faz por uma quina que representa o encontro de duas ruas
perpendiculares. Uma hipótese simplificada , cuja aplicabilidade tem sido
confirmada através de medidas , é utilizar o coeficiente de difração
correspondente a obstáculos absorventes. Nesta condição, admitindo ainda que o
receptor encontra-se fora das vizinhanças do limite de visibilidade, este
coeficiente pode ser calculado através de [2] .
πφφφ
2'1
'1)'(
+−=D (1.7)
40
Onde 'φ é o ângulo de difração mostrado na figura 1.11.
Figura 1.8 - Difração por uma quina.
Basicamente todos os modelos matemáticos utilizados no cálculo da
propagação por difração em áreas urbanas , direta ou indiretamente , se referem a
TGD . Alguns desses modelos são comentados à seguir .
A) Modelo de Erceg - 1992
Este modelo [27 ] , desenvolvido com a finalidade de complementar o
modelo de duas retas discutido no capítulo anterior , admite que os raios refletidos
nas paredes dos prédios prevalecem em relação aos raios difratados nas esquinas .
O modelo supõe ainda que a potência total recebida é dada pela soma das
potências associada a cada raio individualmente , o que corresponde a um valor
médio em um setor cuja dimensão é grande em relação ao comprimento de onda .
Este modelo não faz referência à TGD, tendo por base unicamente a ótica
geométrica. Entretanto, na estimativa do efeito da difração na esquina de duas
ruas transversais, este modelo utiliza um termo empírico menor que 1(um), o
qual, indiretamente, traduz o efeito do coeficiente de difração da TGD. Este
procedimento restringe a aplicabilidade do modelo a ambientes equivalentes
aqueles onde foram feitas as medidas .
Em que pese a simplicidade da formulação matemática, o modelo carece
de um melhor embasamento teórico que o coloque no mesmo nível dos demais
comentados a seguir .
41
b ) Modelo Erceg - 1994
Este modelo [8] emprega a TUD e a complementação desenvolvida por
Chamberlin e Lubbers , sendo a potência total recebida calculada por dois
processos, ou seja , pela soma dos raios individuais complexos e pela soma das
potências de cada raio individualmente . Este último procedimento , também
adotado no modelo anterior , mostrou-se adequado para freqüências da ordem ou
superior a 2 GHz .Cumpre analisar que a comparação dos resultados teóricos
previstos por este modelo com dados experimentais foi plenamente satisfatória . A
determinação dos raios que atingem o receptor utiliza a técnica da “força bruta “
onde através do emprego de pequenos incrementos a partir de um raio inicial , faz-
se a varredura de todas as possíveis direções de lançamento a partir da fonte . O
programa de computador desenvolvido admite até um máximo de 10 reflexões .
c) Modelo de S. Y. Tan e H. S. Tan
Este modelo [9] emprega a TUD com obstáculos de condutividade finita .
Os raios que atingem o receptor são determinados pela técnica de imagens e a
potência recebida é dada pela soma dos raios individuais complexos .
d) Modelo Wiart
Este modelo [5] também faz uso da TUD e da complementação de
Chamberlin e Lubbers . Embora não esteja claro no texto , aparentemente os raios
de interesse são determinados pelo método da “força bruta” .
O grupo de trabalho 3 K da comissão de estudo 3 do setor de
radiocomunicação da UIT está considerando este modelo como uma possível
solução para o problema de propagação em áreas urbanas , pois, apesar de utilizar
uma formulação matemática elaborada , este modelo propõe expressões empíricas
para os efeitos de reflexão e difração obtidas a partir de ajustes dos resultados
teóricos. Segundo Wiart , a atenuação total de propagação é dada por ,
42
AL LREF DIFF
= +
20 log 10 1020 20
10 (1.8)
onde :
a atenuação correspondentes aos raios refletidos é dada por ,
L d x) x REF = + +20 410log ( * ( ) S + 20 log10
πλ
a atenuação correspondentes aos raios difratados é dada por ,
L x(x d dDIFF =
+20 12
410 + 2 D + 20 log10log ( ) ) ( )π
λ
sendo :
−
+
≈
2tg
wx tg
240
1
1-
2
1- ππ w
dD
S = dw .w
f ( ) 1 2
α
w e w são as la rguras das ruas principal e transversal , respectivamente ;21
f é funcão dos ângulos da esquina ;
x - distância da esquina ao receptor .
Infelizmente a função f não está claramente definida no texto , impedindo uma
análise numérica mais detalhada .
e ) Modelo de Niu e Bertoni
De modo similar aos modelos comentados anteriormente nos itens b) , c) e
d) , o modelo de Niu e Bertoni supõe que a propagação do sinal ocorre por uma
43
combinação de raios refletidos e difratados . Entretanto , no que se refere aos
raios difratados , o modelo é simplificado pelo emprego do coeficiente de difração
dado por (1.7) .
No caso de propagação unicamente por reflexão , a potência recebida
associada a cada raio é dada por ,
nmLOS
Vr
Rnm Rpp 2
NLOS2
, )R( )( αα= (1.9)
Onde R( )LOSα e R( )NLOSα são os coeficientes de reflexão nas paredes dos
prédios nas ruas principal e transversal e prv a potência recebida na condição de
visibilidade (expressão 1.2). As variáveis m e n são os números de reflexões na
rua principal e transversal , respectivamente .
Havendo difração na esquina basta introduzir em (1.9) um fator
multiplicativo que leva em conta o coeficiente de difração definido em (1.7) .
Assim , a potência recebida associada a cada raio tem por expressão ,
[ ]p p D d ddm n
Dm nR
, , ( )= + d2
ψ 2 1 2
1
(1.10)
Sendo d1 e d2 as distâncias da esquina à estação base e à unidade móvel ,
respectivamente.
O cálculo da potência total recebida ( prs v ) será feito através da potência
associada a cada raio individualmente . Portanto ,
prs v
m nn= ∑ ∑ ∑∑ p + p
mm,nR
m,mD (1.11)
Onde o índice (s v) foi introduzido por destacar a condição de propagação
sem visibilidade. Consequentemente a atenuação correspondente é dada por ,
44
As v = 10 log 1pr
s v (1.12)
Basicamente todos os modelos partem de uma mesma referência ,ou seja ,
supor que a intensidade do sinal no ponto de recepção é dada pela composição de
raios refletidos e difratados que se propagam ao longo das ruas consideradas ,
sendo a TGD , utilizada para definir o coeficiente de difração nas esquinas entre
ruas transversais .
1.5 PREDIÇÃO NO INTERIOR DAS EDIFICAÇÕES (“INDOOR”)
Devido ao crescente interesse pela implantação de serviços de rádio
comunicações dentro das edificações, tem sido de grande importância entender a
propagação de sinais na faixa de UHF nesse tipo de ambiente.O canal rádio móvel
“indoor” difere do canal rádio móvel tradicional em dois aspectos: As distâncias
cobertas são muito menores e a variabilidade do ambiente é muito maior. A
propagação é dominada pelos mecanismos de propagação : reflexão, difração e
transmissão. Os raios são emitidos pelo transmissor e chegam no receptor através
de reflexão (especular e difusa) e transmissão nas paredes. A reflexão especular
ocorre quando ondas de rádio encontram uma superfície lisa. Este tipo de reflexão
é análogo ao princípio de reflexão num espelho. A reflexão especular pode ser
associada aos raios com segmento de retas r1 e r2 da Figura 1.9. A reflexão
difusa ocorre quando a onda de rádio encontra uma superfície rugosa cuja
rugosidade é compatível com o comprimento de onda do sinal irradiado. Ao
contrário da reflexão especular, a reflexão difusa espalha a energia. Em geral, a
intensidade de ondas refletidas de modo difuso é menor que das ondas refletidas
especularmente e isto se deve ao espalhamento da energia na superfície rugosa.
Por exemplo, o sinal associado com o raio de componentes r1 e r2 na Figura 1.9 é
proporcional a ( )22r1r/1 + . Entretanto, para a reflexão difusa, indicada pelos
segmentos s1 e s2 na Figura 1.9, a dependência do sinal é proporcional a
2s2) x 1s/(1 . Portanto, para a reflexão difusa a amplitude do sinal irá decrescer
45
mais rapidamente com a distância que a componente especular, sendo então
normalmente negligenciada nas aplicações em traçado de raios. A necessidade de
inclusão dos raios difratados em modelos de predição “indoor” vem sendo
propostos [29][30][31] e justificados por medidas realizadas neste tipo de
ambiente. Para a determinação do coeficiente de difração, a teoria geométrica da
difração (TGD) constitui uma ferramenta fundamental para a análise matemática
do problema e basicamente todos os modelos utilizados no cálculo da propagação
por difração, direta ou indiretamente, se referem a TGD. A TUD, teoria
complementar a TGD, será adotada neste trabalho para predição do sinal em
ambientes externos e internos por permitir uma metodologia única para esses
cenários, por mostrar-se adequada quando comparadas com dados experimentais
e aplicável à região de transição entre a visibilidade e a sombra.
Figura 1.9- Exemplo de traçado de raios para reflexão e transmissão em
paredes [28], considerando o transmissor e o receptor num mesmo andar.