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PRÁTICA PENAL 1) Introdução ao Processo Penal 2) Fase Pré-processual 3) Fase Processual 4) Fase de Execução 5) Tribunal do Júri

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PRÁTICA PENAL 1) Introdução ao Processo

Penal2) Fase Pré-processual3) Fase Processual4) Fase de Execução5) Tribunal do Júri

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THALES DE ANDRADE

Graduado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão(UFMA)

Especialista em Direito Público pela Pontifícia UniversidadeCatólica de Minas Gerais (PUCMinas)

Mestrando em Direito e Instituições do Sistema da Justiça pelaUniversidade Federal do Maranhão (UFMA)

Advogado atuante nas áreas do Direito Público e Criminal

Advogado membro do corpo de procuradores da UniversidadeEstadual do Maranhão (UEMA)

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METODOLOGIA

A disciplina será dividida em 6 unidades, onde será estudada ateoria e a prática correspondente a cada tema:

UNIDADE 1: Revisão teórica do Processo Penal

UNIDADE 2: Inquérito policial

UNIDADE 3: Procedimento comum ordinário – 1ª instância

UNIDADE 4: Procedimento comum ordinário – 2ª instância

UNIDADE 5: Execução penal

UNIDADE 6: Procedimento especial do Tribunal do Júri

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METODOLOGIA

Avaliações:

Primeiro bimestre:

Prova escrita valendo 6,0 pontos.

A prova terá duas questões. Cada questão valerá 3,0 pontos e aresposta exigirá a elaboração de uma peça prática.

A prova será individual.

Os 4,0 pontos restantes serão aferidos conforme trabalhosrepassados em sala de aula.

O total da primeira nota corresponderá à soma da prova escrita coma pontuação atingida nos trabalhos.

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METODOLOGIA

Avaliações:

Segundo bimestre:

A avaliação valerá 10,0 pontos, divididos em duas atividades de 5,0pontos.

A primeira atividade será a simulação de um processo judicial dorito comum ordinário, com a elaboração de várias peças, de formasemelhante ao andamento processual real.

Na primeira atividade os alunos serão divididos em grupos, parterepresentando a acusação, parte representando a defesa.

A segunda atividade corresponderá a uma simulação de uma sessãodo Tribunal do Júri, nos mesmos moldes da primeira atividade.

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METODOLOGIA

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

NUCCI, Guilherme de Souza. Prática Forense Penal. 8ª edição. EditoraGEN/Forense: Rio de Janeiro, 2014.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de Processo Penal.Editora Saraiva: São Paulo, 2014.

MUCCIO, Hidejalma. Prática de Processo Penal: Teoria e Modelos. 6ªedição. Editora GEN/Método.

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REVISÃO TEÓRICA DO PROCESSO PENAL

Quando o Estado, pelo Poder Legislativo, elabora leis penais,cominando penas àqueles que praticarem o delito, surge para eleo direito de punir num plano abstrato (jus puniendi in abstracto)e, para o particular, o dever de abster-se da prática de infraçõespenais.

A partir do momento em que alguém pratica a condutadelituosa prevista no tipo penal, o direito de punir do Estado“desce” do plano abstrato e se transforma no jus puniendi inconcreto, passando o Estado a ter uma pretensão punitiva.

Prof. Thales de Andrade – Prática Penal

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REVISÃO TEÓRICA DO PROCESSO PENAL

A pretensão punitiva é o poder de o Estado exigir de quemcomete um ilícito criminal a submissão à lei penal.

Contudo, a pretensão punitiva não pode ser materializada semum processo.

A pretensão punitiva nasce insatisfeita, pois o Direito Penal éum direito substantivo.

Já o processo penal, é um direito adjetivo, isto é, é oinstrumento por meio do qual o Estado se vale para impor asanção penal ao autor do fato delituoso.

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REVISÃO TEÓRICA DO PROCESSO PENAL

O Estado não pode punir conforme seu bel prazer, pois daaplicação da sanção penal resulta uma restrição ao direitofundamental de liberdade do indivíduo, razão pela qual oprocesso penal possui inúmeras regras, sempre tendo como norteo necessário e indispensável respeito aos direitos e liberdadesindividuais do agente.

Isso se dá porque os direitos e garantias fundamentaiscondicionam a legitimidade da atuação do próprio aparato estatalnum Estado Democrático de Direito.

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“a diferença fundamental entre as duas formas antitéticas de regime político,entre a democracia e a ditadura, está no fato de que somente num regimedemocrático as relações de mera força que subsistem, e não podem deixar desubsistir onde não existe Estado ou existe um Estado despótico fundado sobreo direito do mais forte, são transformadas em relações de direito, ou seja, emrelações reguladas por normas gerais, certas e constantes, e, o que mais conta,preestabelecidas, de tal forma que não podem valer nunca retroativamente. Aconsequência principal dessa transformação é que nas relações entre cidadãose Estado, ou entre cidadãos entre si, o direito de guerra fundado sobre aautotutela e sobre a máxima ‘Tem razão quem vence’ é substituído pelo direitode paz fundado sobre a heterotutela e sobre a máxima ‘Vence quem tem razão’;e o direito público externo, que se rege pela supremacia da força, é substituídopelo direito público interno, inspirado no princípio da ‘supremacia da lei’ (ruleof law).”

Norberto Bobbio, in “As ideologias e o poder em crise”.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAISSistema Inquisitorial

Sistema Acusatório

Sistema Francês

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS1. SISTEMA INQUISITORIAL

Adotado a partir do século XIII, era o sistema característico doDireito Canônico

Posteriormente, com o enfraquecimento do Estado e ofortalecimento da igreja, tal sistema propagou-se por toda aEuropa.

Tem como principal característica a concentração das funçõesde acusar, defender e julgar encontrarem-se numa só pessoa, nocaso, o juiz inquisidor.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS1. SISTEMA INQUISITORIAL

Em virtude dessa concentração de poderes e do consequentecomprometimento da imparcialidade do juiz, não há que se falarem contraditório, eis que acusação e defesa estão numa sópessoa.

No sistema inquisitorial, o acusado geralmente permaneciaencarcerado preventivamente, sendo mantido incomunicável.

O Juiz inquisidor era dotado de ampla iniciativa probatória,podendo conduzir a produção de provas a seu bel prazeratingindo a decisão que desejasse, sem qualquer limitação.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS1. SISTEMA INQUISITORIAL

No processo penal inquisitorial, considera-se possível adescoberta de uma verdade absoluta, por isso, predomina nestesistema o Princípio da verdade real.

Por tal princípio, o acusado acaba sendo mero objeto doprocesso, não sendo considerado sujeito de direitos.

Admitia-se inclusive a tortura para que a confissão fosse obtida.

O processo inquisitivo era, em geral, escrito e sigiloso.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS1. SISTEMA INQUISITORIAL

“Como se percebe, há uma nítida conexão entre o processo penale a natureza do Estado que o institui. A característica fundamentaldo processo inquisitório é a concentração de poderes nas mãos dojuiz, aí chamado de inquisidor, à semelhança da reunião depoderes de administrar, legislar e julgar nas mãos de uma únicapessoa, de acordo com o regime político do absolutismo.”

- Renato Brasileiro. In: Manual de Processo Penal

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS1. SISTEMA INQUISITORIAL

O sistema inquisitorial é, portanto, rigoroso, secreto, adota atortura como meio de atingir uma impossível verdade real, nãohavendo contraditório e ampla defesa.

Por tudo isso, o processo inquisitório é incompatível com osdireitos fundamentais e, portanto, não se coaduna com aConstituição Federal e a própria Convenção Americana de DireitosHumanos (art. 8º, nº 1).

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS2. SISTEMA ACUSATÓRIO

O sistema acusatório, por sua vez, caracteriza-se pelo chamadoactum trium personarum, isto é, a presença de partes distintas,contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de condições,havendo uma separação das funções de acusar, defender e julgarem três órgãos distintos.

O processo tem como características a oralidade (atosproduzidos verbalmente em audiência) e a publicidade (de livreacesso e conhecimento de todos).

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS2. SISTEMA ACUSATÓRIO

Aplica-se ao sistema acusatório o conhecido princípio dapresunção de inocência. A regra, no sistema acusatório, é oacusado permanecer solto durante o processo.

Quanto ao Juiz, este não era dotado do poder de determinar deofício a produção de provas, já que estas deveriam ser produzidaspelas próprias partes.

Ao Juiz é dado um papel mais passivo na gestão das provas,sendo um mero garante das regras do jogo. A iniciativa probatóriado Juiz é subsidiária.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS2. SISTEMA ACUSATÓRIO

O sistema acusatório vigorou durante quase toda a AntiguidadeGrega e Romana.

Na Idade Média, virogou nos domínios do direito germânico.

A partir do século XIII entrou em declínio, passando a haver umaprevalência do sistema inquisitorial.

Atualmente, o processo penal inglês é o que mais se aproximade um sistema acusatório puro.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS2. SISTEMA ACUSATÓRIO

O sistema acusatório foi adotado expressamente pelaConstituição Federal de 1988 (art. 129, I).

O que diferencia os sistemas acusatório e inquisitorial são aposição dos sujeitos procesuais e a gestão da prova.

No sistema acusatório, o princípio da verdade real não tem maislugar, sendo substituído pelo Princípio da busca da verdade,sendo o acusado encarado como um sujeito de direitos, nãosendo toleradas violações a seus direitos fundamentais a pretextode atingir-se uma suposta verdade processual.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS3. COMPARAÇÃO

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SISTEMA INQUISITORIAL SISTEMA ACUSATÓRIO

Não há separação das funções de acusar,defender e julgar, que estão concentradas nafigura do juiz inquisidor.

Separação das funções de acusar, defender ejulgar, havendo um actum triumpersonarum, contrapondo-se acusação edefesa, sobrepondo-se a ambas um juizimparcial.

Princípio da verdade real Princípio da busca da verdade

O Juiz inquisidor possui ampla iniciativaacusatória e probatória.

A iniciativa probatória recai sobre as partes,o juiz é mero garante das regras do jogo.

É incompatível com a garantia deimparcialidade do juiz, logo, com aConstituição Federal e o princípio do devidoprocesso legal.

O juiz é mantido de forma equidistante daspartes, tendo sua imparcialidade preservada.Sendo o acusado sujeito de direitos, oprocesso devido deve observar as garantiasfundamentais.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS4. SISTEMA MISTO OU FRANCÊS

Surgiu com o Code d’Instruction Criminelle, de 1808, sendorelativamente recente.

É chamado de misto porque se desdobra em duas fasesdistintas:

1) a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instruçãosecreta e escrita, fase na qual se busca averiguar materialidadea autoria do fato delituoso;

2) a segunda fase é acusatória, havendo um actum triumpersonarum, publicidade e oralidade.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS4. SISTEMA MISTO OU FRANCÊS

Quando o Código de Processo Penal passou a vigorar, prevaleciao entendimento de que adotava o sistema francês.

A fase inicial da persecução penal – o inquérito policial – erainquisitorial, enquanto que o processo propriamente dito, era afase acusatória.

Com o advento da CF, que prevê expressamente o actum triumpersonarum, o contraditório e a ampla defesa, além da presunçãode inocência, entende-se hoje que o Brasil adota um sistemaacusatório.

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SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS4. SISTEMA MISTO OU FRANCÊS

OBS: Embora adote o sistema acusatório, o Brasil não o adota nasua forma mais pura, eis que o Código de Processo Penal possuinítida inspiração no modelo fascista italiano.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

“Um homem não pode ser chamado réu antes da sentença dojuiz, e a sociedade só lhe pode retirar a proteção pública após terdecidido que ele violou os pactos por meio dos quais ela lhe foioutorgada.”

- Cesare BECCARIA, “Dos delitos e das penas”, 1764

Tal direito de não ser declarado culpado enquanto ainda hádúvida foi acolhido em pelo artigo 9º da Declaração dos Direitosdo Homem e do Cidadão (1789).

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

Inúmeros instrumentos internacionais prevêem tal princípio,como:

- Declaração Universal de Direitos Humanos (1948);

- Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e dasLiberdades Fundamentais (1950);

- Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966);

- Convenção Americana de Direitos Humanos (1978).

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

Com a CF/88, tal princípio foi erigido à categoria constitucionalem seu art. 5º, LVII: “Ninguém será considerado culpado até otrânsito em julgado da sentença penal condenatória.”

Tal princípio, portanto, consiste no direito de não ser declaradoculpado senão mediante sentença transitada em julgado, aotérmino do devido processo legal.

OBS: Atente-se que a maioria dos diplomas internacionais traz atal princípio a nomenclatura de “presunção de inocência”, mas aCF menciona somente a não culpa, razão pela qual estaterminologia é mais adequada.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

Do princípio da presunção de não culpabilidade derivam duasregras fundamentais:

A) Regra probatória: Também conhecida como regra de juízo ou indubio pro reo.

A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade doacusado além de qualquer dúvida razoável, e não este de provarsua inocência.

O ônus da prova recai sobre a acusação.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

A) Regra probatória:

Tal regra deve ser usada sempre que houver dúvida sobre fatorelevante para a decisão do processo.

OBS: O in dubio pro reo somente incide até o trânsito em julgadode sentença penal condenatória ou absolutória imprópria,portanto, na Revisão Criminal, aplica-se o in dubio contra reum.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

B) Regra de tratamento:

Por tal regra, a privação cautelar da liberdade éexcepcionalíssima, isto é, a regra é responder o processo penalem liberdade, a exceção é estar preso no curso do processo.

Veda-se, com tal regra, prisões processuais automáticas ouobrigatórias.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

B) Regra de tratamento:

Apesar disso, tal princípio não proíbe a prisão cautelar ditadapor razões excepcionais.

Destarte, o acusado poderá ser preso preventiva outemporariamente, desde que preenchidos os requisitos legais.

Por tal regra, por muito tempo vedou-se também a execuçãoprovisória ou antecipada da sanção penal.

Ocorre que o panorama mudou em 17/02/2016.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

STF – HC 126.292 (Rel. Min Teori Zavascki, 17.02.2016)

STF: “A execução provisória de acórdão penal condenatórioproferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recursoespecial ou extraordinário, não viola o princípio constitucional dapresunção de inocência.”

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

Com tal decisão o STF alterou sua posição jurisprudencial, queantes afirmava ser necessário o trânsito em julgado para aexecução da pena.

A partir de tal decisão, o STF passou a admitir a execuçãoprovisória da pena. Execução provisória em prisão penal, nãosomente na prisão cautelar.

Tal se deu, por inúmeros motivos, sendo o motivo inicial, opróprio texto da CADH.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

CADH: Art. 8º, §2º. Toda pessoa acusada de um delito temdireito a que se presuma sua inocência, enquanto não forlegalmente comprovada sua culpa.

CF: Art. 5º, LVII. Ninguém será considerado culpado até otrânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Como se percebe, a CF e a CADH possuem diferentes limitestemporais no que tange à aplicação do princípio da presunção deinocência.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

LIMITE TEMPORAL DA CF:

Até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

LIMITE TEMPORAL DA CADH:

Enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.

A CADH também prevê o duplo grau de jurisdição, então omomento da comprovação legal da culpa é até o exercício doduplo grau de jurisdição.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

Historicamente, desde a CF/88 até o ano de 2008, as CortesSuperiores do país sempre adotaram o entendimento de permitir aexecução provisória da pena, pois os recursos extraordinários nãopossuem efeito suspensivo.

O argumento para tal posicionamento era o art. 637 do CPP,pelo qual:

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Art. 637. O recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vezarrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão àprimeira instância, para a execução da sentença.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

Ocorre que, no ano de 2009, no julgamento do HC 84.078, oSTF alterou sua posição dominante, afirmando que a interpretaçãonão permite a alteração do texto constitucional.

A partir dali, passou a ser permitido o acusado recorrer emliberdade até o final trânsito em julgado da sentença penalcondenatória, que se daria com o julgamento de eventuais REe/ou RESP.

Não se admitia mais a execução provisória da pena, em razãoda regra de tratamento do Princípio da Presunção de Não Culpa

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

Contudo, em 17 de fevereiro de 2016, em julgamento polêmico, maisuma vez o STF mudou seu entendimento, tendo entendido o Plenárioque a execução da pena após a confirmação da sentença em segundograu não ofende a presunção de inocência.

A decisão foi aplaudida pelos órgãos representantes do MinistérioPúblico, da Magistratura e também da sociedade civil, mas altamentequestionada pela doutrina.

O largo intervalo de tempo entre a data do fato e o trânsito emjulgado nos casos concretos, contribuiu para a decisão (ex: CasoPimenta Neves – 11 anos entre o fato e o trânsito em julgado).

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

Por outro lado, a CF foi claramente ignorada e isso não pode seperder de vista, haja vista que, historicamente, relativizar-sedireitos fundamentais por clamores populares, sempre costumamdar início a um processo gradativo de degeneração de tais direitosque paulatinamente vão perdendo força.

Dentre os argumentos utilizados pelo STF para chegar a taldecisão, pode-se destacar 7 deles.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

1) A presunção de inocência deve ser equilibrada com aefetividade da função jurisdicional, que deve levar em conta nãosomente os direitos do acusado, mas os anseios da sociedade.

2) Nas instâncias ordinárias já se exaure a possibilidade deexames de fatos e provas e a própria responsabilidade doacusado.

Os recursos extraordinários examinam somente questões dedireito, e não questões de fato, não possuindo amplo efeitodevolutivo.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

3) Se o Tribunal de 2º grau examinou exaustivamente fatos eprovas que não mais poderão ser revistos em sede de CortesSuperiores, então a solução mais ponderada seria relativizar-se oprincípio da presunção de não culpabilidade para o caso concreto.

4) A Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010) consagrou expressamentecomo causa de inelegibilidade a existência de sentençacondenatória, proferida por colegiados, por crimes nelarelacionados.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

5) Em nenhum país no mundo, depois de observado o duplo graude jurisdição, a execução da condenação fica suspensa,aguardando referendo da Corte Suprema.

6) A jurisprudência que assegurava a presunção de inocência vinhapermitindo excessiva interposição de recursos protelatórios,visando à configuração da prescrição, eis que o último marcointerruptivo da prescrição antes do início do cumprimento da penaé a publicação da sentença ou acórdão recorríveis.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL1. PRESUNÇÃO DE NÃO CULPABILIDADE

7) Existem instrumentos capazes de inibir consequências danosaspara o condenado em caso de execuções provisórias indevidas,como medidas cautelares de efeito suspensivo ao RE e ao RESP,bem como os Habeas Corpus.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL2. CONTRADITÓRIO

A Constituição estabelece em seu art. 5º, LV que: “aos litigantes,em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geralsão assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios erecursos a ela inerentes.”

O contraditório sempre foi conceituado como a ciência bilateraldos atos ou termos do processo e a possibilidade de contrariá-los.

O núcleo do contraditório está ligado à discussão dialética dosfatos da causa.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL2. CONTRADITÓRIO

Às partes deve ser assegurado não somente o direito à defesa,mas também a opotunidade de fiscalização recíproca dos atospraticados no curso do processo.

Para referir-se a contraditório a doutrina sempre usou aexpressão “audiência bilateral” (audiatur et altera pars).

O contraditório, portanto, possui dois elementos: a) direito àinformação e b) direito de participação.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL2. CONTRADITÓRIO

O contraditório é a necessária informação às partes e a possívelreação a atos desfavoráveis.

O direito à informação é consectário lógico do contraditório,razão pela qual os meios de comunicação dos atos processuais(citação, intimação e notificação) possuem considerávelimportância.

O direito de participação também deriva do contraditório, sendocompreendido como a possibilidade de reação, manifestação oucontrariedade à pretensão da parte contrária.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL2. CONTRADITÓRIO

No processo penal, não basta se assegurar ao acusado apenas odireito à informação e à reação em um plano formal, como noprocesso civil.

A liberdade de locomoção é o bem jurídico em jogo, portanto,ainda que o acusado não tenha interesse em oferecer reação àpretensão acusatória, o próprio ordenamento jurídico impõe aobrigatoriedade de assistência técnica de um defensor.

Se antes o contraditório limitava-se ao direito de informação eparticipação, hoje passou a ser visto como paridade de armas.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL2. CONTRADITÓRIO

Paridade de armas pois não adianta assegurar uma possibilidadeformal de reação, se não são outorgados à parte meios para fazê-lo.

Deve ser assegurado um equilíbrio entre acusação e defesa.

OBS: Prevalece na doutrina o entendimento de que a observânciado contraditório só é obrigatória, no processo penal, na faseprocessual, e não na fase investigatória.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL2. CONTRADITÓRIO

A Constituição menciona “em processo judicial ouadministrativo”. Sendo o inquérito procedimento administrativo,predomina que o contraditório não se aplica na fase de inquérito.

Por força do contraditório, a palavra prova só pode ser usadapara se referir aos elementos de convicção produzidos sob omanto do contraditório e da ampla defesa.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL2. CONTRADITÓRIO

CONTRADITÓRIO PARA A PROVA x CONTRADITÓRIO SOBRE A PROVA:

O contraditório para a prova é chamado de contraditório real edemanda que as partes atuem na própria formação do elemento deprova, sendo que sua produção se dá na presença do órgão julgador.Ex: prova testemunhal em audiência

O contraditório sobre a prova é chamado de contraditório diferido oupostergado, sendo o reconhecimento da atuação do contraditório apósa formação do elemento de prova. O contraditório é observadoposteriormente, dando ao acusado possibilidade de contestar oelemento colhido. Ex: interceptação telefônica.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA

O princípio da ampla defesa também tem fulcro no art. 5º, incisoLV da CF.

O princípio da ampla defesa está ligado diretamente aocontraditório, mas com ele não se confunde.

A defesa garante o contraditório e por ele se manifesta.

A ampla defesa só é possível por conta de um dos elementos docontraditório – o direito à informação. Da mesma forma, exprime-se por seu outro elemento – a reação.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA

Apesar da relação próxima, ambos não se confundem.

É possível violar-se o contraditório sem que se viole a ampladefesa. O contraditório não diz respeito exclusivamente à defesaou aos direitos do réu. O contraditório aplica-se a ambas aspartes e também deve ser observado pelo próprio Juiz.

A ampla defesa diz respeito apenas ao réu.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA

A ampla defesa abrange a defesa técnica (processual) e a autodefesa(material).

Pela ampla defesa, o acusado pode ser tratado de maneira desigualem relação à acusação, isso por questões de equidade, haja vista omaior poderio estatal no que tange ao exercício do direito de punir,quando comparado ao acusado isoladamente.

Por conta da ampla defesa, o acusado tem diversos privilégios quandocomparado com a acusação, tais como: recursos privativos da defesa;non reformatio in pejus; in dubio pro reo; revisão criminal somente proreo, enfim, o princípio do favor rei.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA – 3.1. DEFESA TÉCNICA

A defesa técnica é aquela exercida por profissional daadvocacia, com capacidade postulatória.

A defesa técnica pode ser exercida por advogado constituído,advogado nomeado ou defensor público.

Para ser ampla, tem de ser necessária, indeclinável, plena eefetiva.

Não é possível alguém ser processado sem defensor técnico.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA – 3.1. DEFESA TÉCNICA

Diz-se indisponível e irrenunciável porque mesmo que oacusado queira ser processado sem defesa técnica, e ainda queseja revel, o juiz deve nomear um defensor.

Conforme o art. 261 do CPP: “nenhum acusado, ainda queausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.”

Assim, havendo alguém processado sem defensor, o processoserá absolutamente nulo, por afronta à ampla defesa.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA – 3.1. DEFESA TÉCNICA

OBS: A defesa técnica só pode ser exercida por quem temcapacidade postulatória. Mesmo que o réu seja juiz ou promotor e,com isso, tenha um conhecimento jurídico considerável, nãopoderá defender a si próprio, eis que não é advogado.

Um dos desdobramentos também da defesa técnica é o direitode escolha do defensor.

A defesa técnica deve ainda ser plena e efetiva. É necessário quese perceba efetiva atividade defensiva do advogado no sentido deassistir seu cliente.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA – 3.2. AUTODEFESA

A autodefesa é a defesa exercida pelo próprio acusado, emmomentos cruciais do processo.

Diferentemente da defesa técnica, é disponível, pois não hácomo se obrigar o acusado a, por exemplo, exercer seu direito aointerrogatório.

A autodefesa se manifesta no processo penal principalmente detrês formas: a) direito de audiência; b) direito de presença; c)direito a postular pessoalmente.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA – 3.2. AUTODEFESA

a) Direito de audiência

É o direito que o acusado tem de apresentar ao juiz da causa asua defesa pessoalmente.

Materializa-se pelo interrogatório, no qual o acusado, emcontato com o juiz, traz sua versão dos fatos que está sendoacusado.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA – 3.2. AUTODEFESA

b) Direito de presença

Por meio desse direito, assegura-se ao acusado a oportunidadede acompanhar todos os atos da instrução, ao lado de seuadvogado.

Podem ser prestadas declarações durante a instrução que só oacusado saiba detectar.

O direito de presença é um direito, e não uma obrigação doacusado, sendo obrigatória somente a presença de seu defensor.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL3. AMPLA DEFESA – 3.2. AUTODEFESA

c) Capacidade postulatória autônoma do acusado

O terceiro desdobramento da autodefesa é a capacidade postulatóriaautônoma do acusado em momentos cruciais do processo.

No processo penal, o acusado pode: interpor recursos (art. 577, CPP);ajuizar revisão criminal (art. 623, CPP); impetrar HC (art. 654, CPP);

A capacidade postulatória do acusado, no entanto, é somente paradar um impulso inicial ao ato, em seguida é necessária uma defesatécnica.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL4. PUBLICIDADE

A publicidade é a garantia de acesso de todo e qualquer cidadãoaos atos praticados no curso do processo.

Tem como objetivo precípuo assegurar a transparência daatividade jurisdicional, oportunizando a fiscalização do processopor toda a comunidade.

Processos secretos são típicos de estados autoritários.

Para Ferrajoli, a publicidade é uma garantia de segundo grau,isto é, uma garantia da garantia.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL4. PUBLICIDADE

É garantia de segundo grau porque, para Ferrajoli, para que sejapossível o controle da observância das garantias primárias, o processoprecisa ser público.

“(...) a publicidade assegura o controle tanto externo como interno daatividade judiciária. Com base nela os procedimentos de formulação dehipóteses e de averiguação da responsabilidade penal devemdesenvolver-se à luz do sol, sob o controle da opinião pública esobretudo do imputado e de seu defensor. Trata-se do requisitoseguramente mais elementar e evidente do método acusatório.”

- FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL4. PUBLICIDADE

A publicidade é pressuposto de validade não apenas dos atosprocessuais, mas das próprias decisões judiciais.

A publicidade divide-se em publicidade ampla e publicidaderestrita.

Publicidade ampla é aquela quando os atos processuais sãopraticados perante as partes e, ainda, abertos a todo o público.

A regra é a publicidade ampla.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL4. PUBLICIDADE

Há casos, contudo, em que o interesse público à informaçãodeve ceder diante de outro interesse de caráter preponderante nocaso concreto.

Assim, alguns atos devem ser praticados com publicidaderestrita às partes e seus procuradores, consubstanciando ochamado “segredo de justiça”.

Exemplo: Crimes sexuais. A publicidade ampla violariasobremaneira o sofrimento da vítima, que seria exposta ehumilhada.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL4. PUBLICIDADE

Assim, nos crimes contra a dignidade sexual, o Código Penal éexpresso ao prever o segredo de justiça (art. 234-B).

A própria produção de provas cautelares exige, para a eficáciada medida, a publicidade restrita.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL5. BUSCA DA VERDADE

No âmbito processual penal predomina atualmente o princípioda busca da verdade.

Parte-se da ideia que é impossível se atingir uma verdadeabsoluta.

Por mais robusta e contundente que seja uma prova, ela éincapaz de dar ao magistrado um juízo de certeza absoluta.

O que há é uma maior aproximação da certeza dos fatos.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL5. BUSCA DA VERDADE

Assim, tal princípio não permite mais ao magistrado um amplocontrole sobre as provas, possuindo iniciativa probatória subsidiária.

A busca da verdade está sujeita a algumas restrições, como porexemplo:

i. a inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI,CF);

ii. impossibilidade de exibição de objetos no júri sem a antecedênciamínima de 3 dias (art. 479 do CPP);

iii. limitação de depoimento de testemunhas que tem ciência do fato emrazão da profissão, ofício, função ou ministério (art. 207, CPP);

iv. descabimento de revisão criminal pro societate (art. 621, CPP).

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL5. BUSCA DA VERDADE

No âmbito dos Juizados, contudo, predomina a chamada buscada verdade consensual.

“o simples acordo entre as partes é capaz de influir diretamentena busca da verdade, tanto que esta pode ser colocada emsegundo plano, a ponto de tornar-se prescindível ao resultadofinal do processo.” (BARROS, Marco Antônio)

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL6. JUIZ NATURAL

O princípio do juiz natural deve ser compreendido como o direito quecada cidadão tem de saber, previamente, a autoridade que iráprocessá-lo e julgá-lo caso pratique uma conduta definida comocrime.

O juiz natural é aquele constituído antes do fato delituoso. Talprincípio visa assegurar a imparcialidade e a independência do juiz.

O princípio encontra fundamento direto na Constituição, no seu art.5º, inciso XXXVII (“não haverá juízo ou tribunal de exceção”) e inciso LIII(“ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridadecompetente”).

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL7. NEMO TENETUR SE DETEGERE

O art. 5º, inciso LXIII da Constituição Federal afirma que “opreso será informado de seus direitos, entre os quais o depermanecer calado.”

O direito ao silêncio é uma das várias decorrências do nemotenetur se detegere.

O nemo tenetur se detegere é o princípio segundo o qualninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL7. NEMO TENETUR SE DETEGERE

Trata-se de uma modalidade de autodefesa passiva, exercidapela inatividade do indivíduo sobre quem recai ou pode recairuma imputação.

Consiste na proibição de uso de qualquer meio de coerção ouintimidação ao investigado em processo de caráter sancionatóriopara obtenção de uma confissão.

Titular: Apesar do texto constitucional se referir ao preso,entende-se que tal princípio protege qualquer pessoa a quem sejaimputada a prática de um ilícito criminal.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL7. NEMO TENETUR SE DETEGERE

OBS: Tal direito aplica-se inclusive à testemunha que, embora nãodizendo a verdade incorre no crime de falso testemunho, tem odireito de deixar de revelar fatos que possam incriminá-la.

Advertência: É necessária a advertência ao agente quanto aodireito de permanecer calado, sob pena de macular-se a licitudeda prova colhida.

Do direito ao silêncio não poderão advir consequênciasprejudiciais ao acusado.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL7. NEMO TENETUR SE DETEGERE

A obrigatoriedade de advertência do direito de permanecercalado tem origem no Aviso de Miranda do direito norte-americano.

No Brasil, é comum a entrega ao preso de uma nota de ciênciadas garantias constitucionais.

Nessa linha, é ilícita a gravação clandestina de conversainformal dos policiais com o preso, quando não sabia da gravaçãoambiental e não foi avisado do direito ao silêncio.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL7. NEMO TENETUR SE DETEGERE

A obrigatoriedade de advertência do direito de permanecercalado tem origem no Aviso de Miranda do direito norte-americano.

No Brasil, é comum a entrega ao preso de uma nota de ciênciadas garantias constitucionais.

Nessa linha, é ilícita a gravação clandestina de conversainformal dos policiais com o preso, quando não sabia da gravaçãoambiental e não foi avisado do direito ao silêncio.

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL7. NEMO TENETUR SE DETEGERE

O nemo tenetur se detegere possui os seguintesdesdobramentos:

1) Direito ao silêncio: é o direito de não responder às perguntasfeitas pela autoridade, é a manifestação passiva da defesa.

2) Direito de não ser constrangido a confessar: Por força da CF,CADH e PIDCP, ninguém pode ser constrangido a confessar aprática de crime;

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL7. NEMO TENETUR SE DETEGERE

3) Inexigibilidade de dizer a verdade:

“Tolera-se a mentira.”

No direito ao silêncio encontra-se a prerrogativa processual de oacusado negar, ainda que falsamente, a prática da infração penal.

Somente é tolerada a mentira defensiva!

A mentira agressiva, imputando falsamente a terceiro a práticade um crime, implica em denunciação caluniosa (art. 339, CP).

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3) Inexigibilidade de dizer a verdade:

Igualmente, acusar-se, perante a autoridade, de crimeinexistente ou praticado por outrem é crime de autoacusaçãofalsa (art. 341 do CP).

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PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL7. NEMO TENETUR SE DETEGERE

4) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo quepossa incriminá-lo:

Não se pode exigir um fazer de que possa resultarautoincriminação.

Sempre que a produção de prova tiver como pressuposto umaação, será indispensável o consentimento do acusado.

Exemplos:

a) Não está obrigado a fornecer voz para perícia;

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4) Direito de não praticar qualquer comportamento ativo quepossa incriminá-lo:

Exemplos:

b) Não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico;

c) Não está obrigado a participar da reconstituição de crimes;

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5) Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva:

Prova invasiva são intervenções corporais que pressupõempenetração no organismo humano. Ex: exame de sangue,ginecológico, dentário, endoscopia, colonoscopia etc.

As provas não invasivas, no entanto, as que consistem numaverificação corporal ou numa inspeção, mas não implicampenetração no corpo humano, são admitidas. Ex: DNA feito comcabelos encontrados no chão; radiografia; dactiloscopia;

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UNIDADE 2: INQUÉRITO POLICIAL Teoria e Prática

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INQUÉRITO POLICIAL1. CONCEITO

“Procedimento administrativo inquisitório e preparatório,presidido pela autoridade policial, o inquérito policial consiste emum conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativaobjetivando a identificação das fontes de prova e a colheita doselementos de informação quanto à autoria e materialidade dainfração penal, a fim de possibilitar que o titular da ação penalpossa ingressar em juízo.”

- BRASILEIRO, Renato. Manual de Processo Penal

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INQUÉRITO POLICIAL2. NATUREZA JURÍDICA

É procedimento administrativo.

Não é processo, pois dele não resulta a imposição de nenhumasanção.

Não há exercício de pretensão acusatória. Não há partes. Não hádiscussão dialética. Não há contraditório. Não há ampla defesa.

O legislador não estabelece uma ordem exata para o procedimento,estabelecendo somente uma estrutura.

O inquérito é mera peça informativa. Seus eventuais vícios nãocontaminam o processo.

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INQUÉRITO POLICIAL3. FINALIDADE

A finalidade do inquérito policial é fornecer elementos para queo Estado possa deflagrar a persecução criminal e exercer seupoder-dever de punir o criminoso.

A principal finalidade do inquérito, então, é fornecer um lastroprobatório mínimo no que tange à materialidade e autoria dodelito.

Nessa linha, a ausência de justa causa é uma causa de rejeiçãoda peça acusatória (art. 395, III do CPP).

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INQUÉRITO POLICIAL3. FINALIDADE

O inquérito, assim, contribui para que o Estado não submetapessoas inocentes a uma persecução penal.

Além disso, os elementos de informação colhidos na fase deinquérito são importantíssimos para a decretação de medidascautelares pessoais, patrimoniais ou probatórias.

Exemplo:

Prisão preventiva e interceptação telefônica exigem um mínimode elementos relacionados à autoria e materialidade do delito.

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INQUÉRITO POLICIAL3. FINALIDADE

Os elementos de informação colhidos também auxiliam noreconhecimento das hipóteses de absolvição sumária (art. 397 do CPP).Ex: existência manifesta de excludente de ilicitude.

Questão: Qual a diferença entre elementos de informação e provas?

Inicialmente, deve-se ler o art. 155 do CPP:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da provaproduzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar suadecisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos nainvestigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis eantecipadas.

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INQUÉRITO POLICIAL3. FINALIDADE

Questão: Qual a diferença entre elementos de informação eprovas?

-Elementos de informação são os elementos de convicção colhidosna fase investigatória sem o contraditório e ampla defesa.

-Provas são os elementos de convicção produzidos, em regra, nocurso do processo, com a necessária participação das partes, sobo manto do contraditório e da ampla defesa.

-O contraditório é condição de existência da prova!

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INQUÉRITO POLICIAL4. VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

O valor probatório do inquérito é relativo.

Isoladamente, não podem subsidiar uma sentença condenatória.

Os elementos de informação colhidos na fase de inquéritopodem, contudo, complementar a prova produzida em juízo.

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INQUÉRITO POLICIAL5. PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL5.1. FUNÇÕES EXERCIDAS PELA POLÍCIA

1) Polícia Administrativa: caráter preventivo

2) Polícia Judiciária: auxiliar do Poder Judiciário

3) Polícia investigativa: apuração de infrações penais

Art. 144, §4º, CF: “Às polícias civis, dirigidas por delegados depolícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União,as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,exceto as militares.”

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INQUÉRITO POLICIAL5. PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL5.1. FUNÇÕES EXERCIDAS PELA POLÍCIA

Observações:

1. A mesma polícia pode exercer diferentes funções.

Ex: Polícia Militar

2. Somente autoridades policiais podem exercer atos de políciainvestigativa.

Ex: Monitoramento eletrônico feito por agentes de inteligência daABIN acarretam a nulidade da prova (caso Satiagraha).

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INQUÉRITO POLICIAL5. PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL5.2. NATUREZA DO CRIME E ATRIBUIÇÃO PARA INVESTIGAR

A depender do crime, há uma polícia distinta investigando.

a) Crime militar da JMU: Forças armadas exercem a políciainvestigativa. O comandante da respectiva Força designa umOficial encarregado do Inquérito Policial Militar (IPM).

b) Crime militar da JME: É atribuição da Polícia Militar Estadual. Damesma forma, o Comandante do Quartel designa um Oficial.

c) Crimes eleitorais: É atribuição da Polícia Federal. Se nalocalidade não houver Delegacia da PF, cabe à Polícia Civil.

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INQUÉRITO POLICIAL5. PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL5.2. NATUREZA DO CRIME E ATRIBUIÇÃO PARA INVESTIGAR

d) Crime “federal”: Cabe à Polícia Federal (art. 144, §1º, CF)

e) Crime comum da Justiça Estadual: Em regra, cabe à Polícia Civil.

Observações:

A Polícia Federal possui competência quando se trata de infrações cujaprática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressãouniforme (Lei 10.446/2002).

Essa mesma Lei passou a prever, em 2014, que é competência da PF ainvestigação nos crimes de falsificação de medicamentos (art. 273 do CP).

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INQUÉRITO POLICIAL5. PRESIDÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL5.2. NATUREZA DO CRIME E ATRIBUIÇÃO PARA INVESTIGAR

BIZU: A Polícia Federal tem atribuição mais extensa que acompetência da Justiça Federal.

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

1) Procedimento ESCRITO

Conforme o art. 9º do CPP, o Inquérito Policial é umprocedimento escrito.

Art. 405, §1º, CPP: “sempre que possível, o registro dosdepoimentos do investigado, indiciado, ofendido e testemunhasserá feito pelos meios ou recursos de gravação magnética,estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual,destinada a obter maior fidelidade das informações.”

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

2) Procedimento DISPENSÁVEL

O inquérito não é necessário para se dar início ao processo,desde que haja outros elementos informativos quanto à autoria ematerialidade que o tornem desnecessários. Exemplo: Crimesambientais.

Nesse entendimento, o art. 39, §5º do CPP: “O órgão doMinistério Público dispensará o inquérito, se com a representaçãoforem oferecidos elementos que o habilitem a promover a açãopenal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinzedias.”

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

3) Procedimento SIGILOSO

EM REGRA, o Inquérito é sigiloso. Tal se dá para observar aeficácia das diligências investigatórias.

Art. 20, CPP: “A autoridade assegurará no inquérito o sigilonecessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse dasociedade.”

OBS: Há exceções onde a publicidade caminha a favor da eficácia.Ex: Retrato falado; crimes sexuais (caso Roger Abdelmassih).

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

3) Procedimento SIGILOSO – 3.1. Acesso do advogado aos autos

Art. 5º, LXIII, CF: “o preso será informado de seus direitos, entre osquais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência doadvogado.”

O direito de vistas do advogado aos autos do Inquérito faz parteda “assistência do advogado”, conforme a dicção constitucional.

Na mesma linha, o Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/94)

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

3) Procedimento SIGILOSO – 3.1. Acesso do advogado aos autos

O Estatuto da Advocacia foi alterado pela Lei 13.245/2016:

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ART. 7º. SÃO DIREITOS DO ADVOGADO:

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA (L.13245/2016)

“examinar em qualquer repartição policial,mesmo sem procuração, autos de flagrante e deinquérito, findos ou em andamento, ainda queconclusos à autoridade, podendo copiar peças etomar apontamentos.”

“examinar, em qualquer instituição responsávelpor conduzir investigação, mesmo semprocuração, autos de flagrante e de investigaçõesde qualquer natureza, findos ou em andamento,ainda que conclusos à autoridade, podendocopiar peças e tomar apontamentos, em meiofísico ou digital.”

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

3) Procedimento SIGILOSO – 3.1. Acesso do advogado aos autos

Exceções:

Inquéritos (e demais investigações), onde haja informaçõesrelacionadas à vida privada do acusado (ex: quebra de sigilobancário). Nesses casos, somente o advogado com procuraçãopode ter acesso.

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

3) Procedimento SIGILOSO – 3.1. Acesso do advogado aos autos

Súmula Vinculante 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse dorepresentado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, jádocumentados em procedimento investigatório realizado por órgão comcompetência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito dedefesa.”

OBS: Para o STF, portanto, o direito de acesso do advogado limita-se aos elementos já documentados, não abrangendo diligênciasinvestigatórias em andamento.

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

3) Procedimento SIGILOSO – 3.1. Acesso do advogado aos autos

Questão: Caso a autoridade policial negue acesso ao advogado,quais os instrumentos cabíveis?

OBS!!! A nova Lei de Organizações Criminosas (art. 23 da L.12.850/13) trouxe a previsão de que, caso o sigilo dasinvestigações tenha sido decretado pela autoridade judicial paragarantia da celeridade e eficácia das diligências, o advogado sóterá acesso se devidamente autorizado pelo Juiz, mesmo àsdiligências já documentadas!!!

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

4) Procedimento INQUISITORIAL

Segundo a doutrina majoritária, o IP é inquisitorial, não sendoobrigatória a observância do contraditório e ampla defesa no seucurso, sendo estes necessários somente na fase judicial.

Marta Saad – “O direito de defesa no inquérito policial” –Contraditório e ampla defesa existiriam de duas formas no inquéritopolicial:

(i) Exógena: fora dos autos (possibilidade de trancamento via HC);

(ii) Endógena: solicitações à autoridade policial.

OBS: O Inquérito de expulsão da Lei 6.815/80 não é inquisitorial.

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

5) Procedimento DISCRICIONÁRIO

Não há ordem pré-estabelecida de realização de atos ediligências. A autoridade policial define a ordem mais adequada.

Art. 14 do CPP: “O ofendido, ou seu representante legal, e oindiciado poderão requerer qualquer diligência, que serárealizada, ou não, a juízo da autoridade.”

Discricionariedade ≠ Arbitrariedade: Discriocionariedade é aliberdade de atuação dentro dos limites da Lei.

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

5) Procedimento DISCRICIONÁRIO

A discricionariedade não é absoluta. (art. 129, VIII, CF – MP temo poder de requisitar a realização de diligências e a própriainstauração de IP, sendo o delegado obrigado a realizar arequisição ministerial).

Igualmente, determinadas diligências são de realizaçãoobrigatória, vinculadas. Ex: exame de corpo de delito eminfrações que deixam vestígios.

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

6) Procedimento INDISPONÍVEL

A autoridade policial não pode dispor do interrogatório, isto é,não pode arquivá-lo de ofício.

Art. 17 do CPP: “A autoridade policial não poderá mandararquivar os autos de inquérito.”

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INQUÉRITO POLICIAL6. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

7) Procedimento TEMPORÁRIO

A garantia da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF)aplica-se ao IP.

Em regra, os prazos gerais de conclusão do inquéritosão de 10 dias,com o investigado preso e 30 dias, quando solto.

Caso solto, o prazo pode ser prorrogado, não havendo limitaçãoformal de prorrogações.

HC 96.666 – STJ: Inquérito com duração de 7 anos – STJ mandoutrancar com fundamento na razoável duração do processo.

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INQUÉRITO POLICIAL7. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

Antes de se instaurar o inquérito, é necessário analisar-se de quecrime se trata e qual o tipo de ação penal daquele delito.

1) Crimes de ação penal pública condicionada e ação privada:

Não pode ser instaurado diretamente pelo Delegado;

O Delegado depende de prévia autorização do ofendido (ou MJ);

A deflagração da investigação depende de requisição do interessado;

Nessa requisição vigora a informalidade, servindo qualquerdemonstração de interesse na persecução penal;

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INQUÉRITO POLICIAL7. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

2) Crimes de ação penal pública incondicionada:

O delegado tem liberdade total;

Nesses casos, o inquérito pode ser instaurado de cinco formas:

2.1) DE OFÍCIO – Face a notícia de crime, o delegado fica obrigado ainstaurar o inquérito (princípio da obrigatoriedade), o que fará lavrandouma portaria, independentemente da provocação de qualquer pessoa(art. 5º, I do CPP)

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INQUÉRITO POLICIAL7. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

2) Crimes de ação penal pública incondicionada:

2.2) REQUISIÇÃO DO MP OU JUIZ (art. 5º, II do CPP):

Quanto à requisição do MP, há previsão expressa na CF (art. 129, VIII)

Quanto à requisição do Juiz, há violação do sistema acusatório?

2.3) REQUERIMENTO DO OFENDIDO:

Nesse caso, o delegado não é obrigado a instaurar o inquérito.

Caso o delegado denegue, a parte pode recorrer ao Chefe de Polícia.

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INQUÉRITO POLICIAL7. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

2) Crimes de ação penal pública incondicionada:

2.4) NOTÍCIA POR QUALQUER DO POVO:

Cuida-se da delatio criminis simples;

Tratando-se de crime de ação pública, o Delegado mandará instauraro inquérito.

2.5) AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE:

Neste caso, o próprio Auto de Prisão em Flagrante é o ato inauguraldo inquérito policial neste caso.

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INQUÉRITO POLICIAL7. FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

2) Crimes de ação penal pública incondicionada:

OBS: TCO não é inquérito. O TCO é um procedimento investigativosimplificado nos crimes de menor potencial ofensivo da Lei 9.099/95.Corresponde à fase preliminar do procedimento sumaríssimo. Não hárelatório. É um substitutivo do auto de prisão em flagrante.

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termocircunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima,providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratu do termo, for imediatamenteencaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporáprisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderádeterminar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local deconvivência com a vítima.

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INQUÉRITO POLICIAL8 NOTITIA CRIMINIS

8.1. Conceito:

É o conhecimento de um fato delituoso por parte da autoridadepolicial. Pode ser espontâneo ou provocado.

8.2. Espécies:

Espontânea (De cognição imediata): atividades rotineiras

Provocada (De cognição mediata): expediente escrito

De cognição coercitiva: indivíduo preso em flagrante

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INQUÉRITO POLICIAL8 NOTITIA CRIMINIS

8.3. Denúncia anônima:

É chamada de notitia criminis inqualificada.

STF: Conforme o STF, não pode, por si só, fundamentar a instauraçãode um inquérito policial, sendo necessária a verificação daverossimilhança (procedência) das informações em diligênciaspreliminares. Verificada essa procedência, o inquérito pode serinstaurado.

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INQUÉRITO POLICIAL9. INDICIAMENTO

9.1. Conceito: Consiste em atribuir a alguém a autoria de determinadainfração penal.

9.2. Momento: Só pode ser feito durante as investigações. Desde alavratura do APF até a elaboração do Relatório.

9.3. Espécies:

a) Direto: Feito na presença do investigado. É a regra.

b) Indireto: Feito quando o investigado está ausente.

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INQUÉRITO POLICIAL9. INDICIAMENTO

9.4. Pressupostos: Pressupõe um ato fundamentado mediante uma análisetécnico-jurídica que deve apontar a certeza da materialidade, autoria ecircunstâncias da infração penal.

9.5. Atribuição: É ato privativo do Delegado de Polícia, que não pode serobrigado pelo Juiz, nem pelo MP a indiciar alguém, mesmo porque o MP podeoferecer denúncia ainda que sem indiciamento.

9.6. Desindiciamento: É a desconstituição de prévio indiciamento. Pode serfeito também pela autoridade policia em caso de constrangimento ilegal àliberdade de locomoção.

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INQUÉRITO POLICIAL9. INDICIAMENTO

9.7. Sujeito passivo:

REGRA: Qualquer pessoa pode ser indiciada.

EXCEÇÃO:

1) Membros do MP e Magistratura: Não podem ser indiciados pelaautoridade policial. Autos devem ser remetidos à chefia darespectiva instituição.

2) Acusados com Foro por prerrogativa de função: Nesses casos, não sóo indiciamento, como a própria abertura do Inquérito depende deautorização do Ministro Relator (ou Desembargador Relator) - STF,INQ 241.

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INQUÉRITO POLICIAL9. INDICIAMENTO

Em suma:

- O indiciamento é a formal escolha do suspeito, fundamentada e combase nos elementos colhidos.

- Indiciamento sem fundamento é constrangimento ilegal, passível deHabeas Corpus.

- MP e Juiz não podem requisitar indiciamento, que é privativo doDelegado.

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INQUÉRITO POLICIAL10. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO

Finda a investigação, sem provas suficientes para a promoção dademanda criminal, cabe ao MP requerer ao Juiz o arquivamento dofeito.

O Delegado jamais poderá arquivar o Inquérito. (art. 17, CPP)

Caso o Juiz, não concorde com o pedido de arquivamento feito peloMP, pode socorrer-se do art. 28 do CPP.

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INQUÉRITO POLICIAL - PRÁTICAAUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

CASO CONCRETO

Roberval e Wellington sequestraram Ernani com a finalidade de exigir da família um valor em dinheiro como preço do resgate.

Após dois dias de negociação com a família, uma viatura policial, atraída ao lugar do cativeiro por denúncia de vizinhos, ingressou no local e surpreendeu a vítima e os agentes, dando voz de prisão

a estes.

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DEPENDÊNCIA POLICIAL: 1º DP – BAIRRO APICUM - B.O. Nº 12345678-2000

AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

Às 17 horas do dia 20 de março de 2000, na cidade de São Luís, na sededo 1º DP – Bairro do Apicum, onde estava presente o Dr. ROBSON, Delegado dePolícia, comigo, Escrivão de Polícia ao final nomeado e assinado, aí compareceuo Senhor RODRIGO, adiante qualificado, conduzindo presos ROBERVAL eWELLINGTON, a quem dera voz de prisão pela prática de extorsão mediantesequestro, nesta data, às 16h00min, na Rua GRANDE, Número 12, Bairro Centro,nesta cidade.

Convicta do estado de flagrância e, após informar aos presos sobre seusdireitos constitucionais (OBS1), dentre os quais o de permanecer calado, terassistência de familiar e de advogado da sua confiança, bem como conhecer oresponsável pela sua prisão, a autoridade policial, identificando-se comoresponsável pelos seus interrogató, determinou a lavratura do presente auto deprisão em flagrante. (CONT...)

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OBS 1 - Quanto aos direitos constitucionais do preso, são os seguintes:

Art. 5º, LXI: ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escritae fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos detransgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em Lei;

Art. 5º, LXII: a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serãocomunicados imediatamente ao Juiz compete e à família do preso ou à pessoapor ele indicada;

Art. 5º, LXIII: o preso será informado de seus direitos, entre os quais o depermanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e deadvogado;

Art. 5º, LXIV: o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisãoou por seu interrogatório policial.

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Providenciada a incomunicabilidade das testemunhas, a autoridadeconvocou o CONDUTOR e PRIMEIRA TESTEMUNHA (OBS2), Senhor RODRIGO,portador da Cédula de Identidade RG número ______, filho de ______, natural de_____, nacionalidade _____, sexo _____, pele _____, nascido em _____, estado civil_____, profissão policial militar, local de trabalho _____, com endereço na Rua_____, cidade de _____, telefone _____, sabendo ler e escrever. Compromissadana forma da Lei, prometeu dizer a verdade a respeito do que soubesse e lhefosse perguntado.

Inquirida pela autoridade, respondeu que encontrava-se empatrulhamento, no dia de hoje, quando foi chamado por populares do bairro,que estavam desconfiados das atitudes estranhas de ocupantes de um imóvelsituado na Rua GRANDE, número 12, Centro; afirmaram que a casa estava vagae, subitamente, passou a ser utilizada por duas pessoas desconhecidas, quevedaram todas as janelas e portas, não cumprimentando ninguém ao entrar esair, o que somente faziam carregando compras, aparentando tratar-se dealimentos; disseram essas pessoas serem vizinhos do imóvel e que, por vezes,chegaram a ouvir alguns gritos na casa; (CONT...)

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“o depoente consultou seus superiores e soube que ocorrera o sequestro de umestudante nas imediações, há dois dias aproximadamente; dirigiu-se com seuscompanheiros de viatura ao local, acompanhado por populares; cercando oimóvel, logo perceberam que os ocupantes se agitaram e tentaram fugir pelosfundos, cada qual portando revólveres, motivo pelo qual foram imediatamentedetidos pelo depoente e outros policiais; ingressando na casa, encontraram avítima ERNANI amarrada e deitada sobre um colchão colocado num dos quartos;ao redor, o depoente constatou a existência de vários papéis contendoanotações que pareciam ser de valores pedidos à família, bem como telefones enomes de parentes de ERNANI; os detidos não souberam explicar o que faziamali, primeiramente alegando que somente faziam vigilância do local, mas,depois, quando reconhecidos pela vítima como os sequestradores, acabaramadmitindo a prática da extorsão mediante sequestro, o que levou o depoente adar-lhes voz de prisão (OBS3) conduzindo-os a este distrito policial.”

Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. A seguir, assinado o termo edispensado (OBS4) a autoridade policial convocou a SEGUNDA TESTEMUNHA(OBS5)...

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OBS 2: O policial CONDUTOR pode ser ouvido como primeira testemunha, pois,embora tenha sido a pessoa que deu voz de prisão, também pode terconhecimento dos fatos.

OBS 3: O crime de extorsão mediante sequestro é PERMANENTE, razão pela qualsua consumação se arrasta no tempo, o que permite à polícia, se preciso, invadiro domicílio a qualquer hora do dia e da noite, mesmo sem mandado judicial,pois se trata de flagrante (art. 5º, XI, CF) – Art. 303 do CPP.

OBS 4: O art. 304 do CPP permite que cada pessoa ouvida assine o termo eretire-se da delegacia.

OBS 5: Segundo o mesmo art. 304, é preciso ouvir, além do condutor, pelomenos duas testemunhas. Eventualmente, pode-se ouvir, além do condutor,considerado a primeira testemunha, mais uma pessoa apenas. A defesa, nessecaso, pode argumentar ter havido erro formal no APF. Quando inexistemtestemunhas do fato, ouvem-se pessoas que viram a apresentação do preso àautoridade policial (art. 304, §2º, CPP).

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Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. A seguir, assinado o termo edispensado (OBS4) a autoridade policial convocou a SEGUNDA TESTEMUNHA(OBS5), Sr. _______, portador da Cédula de Identidade RG número _______, filhode _______, natural de _______, nacionalidade _______, sexo _______, pele _______,nascido em _______, estado civil _______, profissão policial militar, local detrabalho ______, com endereço na Rua _______, na cidade de _______, telefone_______, sabendo ler e escrever. Compromissada na forma da Lei, prometeudizer a verdade a respeito do que soubesse e lhe fosse perguntado. Inquiridapela autoridade, respondeu que: “_____”. Nada mais disse, nem lhe foiperguntado. Assinado o termo e dispensado, convocou a autoridade policial aTERCEIRA TESTEMUNHA, Sr. _______, titular do documento _______, filho de_____, natural de ______, nacionalidade _______, sexo _______, pele _____, nascidoem ______, estado civil _______, profissão policial militar, local de trabalho______, com endereço na Rua _______, na cidade de _______, telefone ______,sabendo ler e escre. Compromissada na forma da Lei, prometeu dizer a verdadea respeito do que soubesse e lhe fosse perguntado. Inquirida pela audoridade,respondeu que: “_____”. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. (CONT...)

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Assinado o termo e dispensado, determinou a autoridade policial queficasse registrado não ter sido possível ouvir de imediato a vítima, por ter sidoencaminhada ao hospital para receber cuidados médicos (OBS6). Em seguida,passou a autoridade policial a qualificar (OBS7) o PRIMEIRO INDICIADO,ROBERVAL, vulgo ___, titular do documento ___, filho de ___, natural de ___,nacionalidade ___, sexo ___, pele ___, nascido em ___, estado civil ___, profissão___, grau de instrução ___, residente e domiciliado nesta cidade, na Rua ___,Bairro ___, com local de trabalho na Av. ___, telefone ___, sabendo ler e escrever.Ciente da imputação que lhe é feita e do direito constitucional de permanecercalado, acompanhado de seu advogado, Dr. ___, manifestou o desejo de falarsomente em juízo. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado (OBS8). A seguir,passou a autoridade policial a qualifica o SEGUNDO INDICIADO, WELLINGTON,vulgo ___, titular do documento ___, filho de ___, natural de ___, nacionalidade___, sexo ___, pele ___, nascido em ___, estado civil ___, profissão ___, grau deinstrução ___, residente e domiciliado nesta cidade, na Rua ___, Bairro ___, comlocal de trabalho na Av. ___, telefone ___, sabendo ler e escrever. (CONT...)

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Ciente da imputação que lhe é feita e do direito constitucional de permanecercalado, acompanhado do seu advogado, Dr. ____, manifestou-se nos seguintestermos: “estava somente visitando seu amigo ROBERVAL, a quem não via hámuito tempo, quando percebeu agitação fora da residência; imaginando tratar-se de um assalto, tentou fugir pela porta dos fundos, quando foi detido porpoliciais; não viu a vítima amarrada em um dos quartos; não estranhou o fato deestarem as janelas cobertas por lençóis e outros panos, pois ROBERVAL lhe disseque era provisório; soube do novo endereço de ROBERVAL quando o encontrouno supermercado do bairro, pela manhã de ontem, ocasião em que recebeu oconvite para visitá-lo; o revólver que foi encontrado ao seu lado por ocasião desua prisão não lhe pertence e não sabe dizer quem é o proprietário; étrabalhador e jamais se envolveria em atividade ilícita; conhece “R” de vista, masresolveu visitá-lo assim mesmo.” Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. Emseguida, determinou a autoridade policial o encerramento do presente auto que,lido e achado conforme, segue devidamente assinado pela autoridade, pelocondutor, pelas testemunhas, pelos indiciados e seu advogado e por mim, ____,Escrivão de Polícia, que o digitei.

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__________________________Autoridade Policial

__________________________Condutor e Primeira Testemunha

__________________________Segunda Testemunha

__________________________Terceira Testemunha

__________________________Roberval

__________________________Wellington

__________________________Advogado

__________________________Escrivão

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OBS 6: A vítima é ouvida após as testemunhas, quando for possível. Se a ordemprevista no art. 304 do CPP não for respeitada, pode dar motivo ao relaxamentoda prisão em flagrante.

OBS 7: A Lei 12.037/2009 para ciência das hipóteses cabíveis para a formalidentificação criminal do indiciado.

OBS 8: O direito ao silêncio (nemo tenetur se detegere) é prerrogativaconstitucional (art. 5º, LXIII, CF). Deve-se ressaltar, ainda, que há indiciadosimpossibilitados de depor porque foram encaminhados ao hospital paracuidados médicos (feridos pela polícia durante a prisão, por exemplo), o que

ficará consignado no auto de prisão.

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DEPENDÊNCIA POLICIAL: 1º DP – BAIRRO APICUM – INQUÉRITO POLICIAL NÚMERO: 123456789/2016

REPRESENTAÇÃOMANDADO DE BUSCA E APREENSÃO

(OBS1) (OBS2)MM. Juiz,

Tem esta a finalidade de informar a Vossa Excelência que, no dia ____,determinei a instauração de inquérito policial para apurar os crimes de ameaça einjúria que teriam sido cometidos por “D”, qualificado nos autos, contra a vítima“H”. Conforme as provas até o momento colhidas, bem como levando emconsideração a representação formulada pelo ofendido no sentido de serapurada a prática das infrações supramencionadas, evidenciou-se ter oindiciado “D”, por intermédio da expedição de inúmeros e-mails à vítima,utilizado as seguintes expressões: “Prepare-se, pois vou te matar”; “Vagabundocomo você tem que morrer”; “Animal, palhaço, covarde, suas atitudes vão lhecustar muito caro”; “Seu ladrão, conheço bem gente da sua laia”, dentre outras.

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Observe-se que o ofendido exibiu cópias impressas desses e-mails que lheteriam sido enviados pelo indiciado. Investigando sua vida pregressa,constatou-se que há inquérito instaurado contra ele para apurar o delito delesões corporais, cuja vítima “B” ofereceu representação, bem como há, ainda,outra investigação em andamento pelo crime de ameaça contra “M”, que,igualmente, ofereceu representação.

Ante o exposto, para que a investigação tenha maior êxito, com o intento derealização de prova pericial, encaminhados a Vossa Excelência estarepresentação, com base no art. 240, § 1.º, e e h, do Código de Processo Penal,para que seja expedido o devido mandado de busca e apreensão, a sercumprido na residência de “D”, situada à Rua ____, n.º ____, nesta Comarca, como fim de apreender o(s) computador(es) encontrados no local, de onde,provavelmente, foram expedidos os e-mails supramencionados. (OBS3)

Comarca, data.______________________________________________

Fulano de tal – Delegado de Polícia

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OBS 1: Preceitua o art. 5.º, XI, da CF ser a casa “asilo inviolável doindivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento domorador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou paraprestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. Porisso, a autoridade policial necessita de mandado judicial paraingressar no domicílio do indiciado e, eventualmente, apreenderseus pertences.

Art. 240 do CPP - Buscas domiciliares, em processo penal, podemser feitas:1) Durante o dia, com autorização (com ou sem mandado);2) Durante o dia, sem autorização (mas com mandado);3) Durante a noite, com ou sem mandado (com autorização);4) Durante o dia ou noite, em caso de flagrante;Obs: as hipóteses de acidentes não se destinam ao processo penal;

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OBS 1 (continuação): Em caso de busca domiciliar ilegal, pune-se o agente por violação de

domicílio (art. 150 do CP) ou abuso de autoridade (art. 3º, b, Lei 4898);

A busca em veículo é equiparada à busca pessoal, não precisando demandado;

O rol do art. 240 é exemplificativo, e não taxativo.

O mandado deve ser certo e determinado, especificando a pessoa e o local,não sendo possível mandado genérico.

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OBS 2: A busca e apreensão podem ser atos isolados ou praticados em conjunto.

Busca é o movimento desencadeado para descobrir e pesquisar algo. Faz-sebusca em pessoas ou lugares.Apreensão é medida assecuratória, que toma algo de alguém ou de algum lugar,com a finalidade de produzir provas ou preservar direitos.

Há quem diga que a finalidade da busca sempre é a apreensão. NUCCI defendeque podem ser separadas, eis que a busca pode ser feita somente parafotografar, por exemplo.

OBS 3: Conforme estipula o art. 243 do CPP, o mandado deve ser o mais precisopossível quanto ao local, o morador e a finalidade da diligência.

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INQUÉRITO POLICIAL - PRÁTICAREPRESENTAÇÃO DA AUTORIDADE POLICIAL PELA

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

CASO CONCRETO

A autoridade policial instaurou inquérito para apurar vários roubos de cargas de veículos de transporte ocorridos em uma

determinada região, em curto espaço de tempo. Ouvidos vários depoimentos, inclusive as declarações das vítimas, obtiveram-se

indícios suficientes de atuação de uma associação criminosa especializada nessa infração penal. Com o objetivo de monitorar

as conversas telefônicas entre os integrantes suspeitos, representa pela interceptação.

Prof. Thales de Andrade – Prática Penal

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DEPENDÊNCIA POLICIAL: 1º DP – BAIRRO APICUM – INQUÉRITO POLICIAL NÚMERO: 123456789/2016

REPRESENTAÇÃOINTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

São Luís, 18 de março de 2016.

MM. Juiz

Instaurou-se a presente investigação policial para apurar o roubo de cargas deveículos de transporte, ocorridas nas últimas semanas, sempre na Rodovia ____,entre os quilômetros ____ e ____, dando a entender tratar-se de associaçãocriminosa especializada nessa espécie de infração penal.

As vítimas foram ouvidas e contribuíram para a realização do retrato falado dos suspeitos (fls. ____). Estes, conforme indica o livro de registro de fotografias de indiciados por roubo neste Estado, coincidem com os seguintes suspeitos: ____.

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Há testemunhas, igualmente, que viram a ocorrência de determinados roubos,proporcionando a mesma descrição feita pelos ofendidos.

Com a finalidade de dar prosseguimento à investigação, antes de alertar ossuspeitos para a descoberta ora empreendida, REPRESENTO a Vossa Excelênciapela interceptação telefônica dos seguintes números: ____, nos termos do art.3.º, I, da Lei 9.296/96.

Tal diligência é indispensável à apuração do delito em tela, pois as associaçõescriminosas que agem na região dispõem de sofisticado esquema de atuação, oque dificulta, sobremaneira, a realização de prisão em flagrante. Naoportunidade, renovo a Vossa Excelência os meus protestos de estima econsideração.

_______________________________Autoridade policial

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A interceptação da comunicação telefônica poderá ser determinada pelo Juiz,de ofício ou a requerimento da Autoridade Policial ou do MP.

Apesar de a Lei nada dispor, o MP deve concordar quando a interceptação forrequerida pela autoridade policial, haja vista ser ele o titular da APP.

O pedido de interceptação telefônica é feito com base na cláusula rebus sicstantibus, isto é, modificado o contexto probatório, nada impede novo pedidode interceptação, em caso de denegação. A interceptação é uma medidacautelar inaudita altera pars.

Art. 4º da Lei 9.296: O pedido de interceptação conterá a demonstração deque sua realização é necessária à apuração da infração penal, com indicaçãodos meios a serem empregados. O juiz deve decidir sobre o pedido em até 24horas.

A duração da interceptação será de 15 dias, prorrogáveis por mais 15,comprovada a indispensabilidade.

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1) Interceptação telefônica: captação da comunicação alheia por terceiro, sem consentimentodos comunicadores.

2) Escuta telefônica: captação da comunicação alheia por terceiro, com consentimento de umdos comunicadores.

3) Gravação telefônica: gravação da comunicação telefônica por um dos comunicadores, semconhecimento do outro.

4) Comunicação ambiental: comunicações realizadas no ambiente, sem transmissão por meiosartificais.

5) Interceptação ambiental: captação de uma comunicação no próprio ambiente dela, porterceiro, sem consentimento dos comunicadores.

6) Escuta ambiental: captação da comunicação, no ambiente dela, feita por terceiro, com oconsentimento de um dos comunicadores.

7) Gravação ambiental: captação no ambiente da comunicação feita por um dos comunicadores(ex. gravador, câmeras ocultas etc.)

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A Lei 9.296 abarca a escuta telefônica e a interceptação telefônica.

Não estão abrangidas pela Lei 9.296: gravação telefônica, interceptaçãoambiental, escuta ambiental e gravação ambiental.

À gravação de conversa por terceiro ou por um dos interlocutores, aplica-se aproteção da intimidade e da vida privada do art. 5º, X, CF e não a disposiçãodo art. 5º, XII, CF.

É considerada válida a gravação como prova quando houver justa causa: “(...)É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dosinterlocutores sem conhecimento do outro.” (STF, RE 583937 QO-RG).

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DEPENDÊNCIA POLICIAL: 1º DP – BAIRRO APICUM – INQUÉRITO POLICIAL NÚMERO: 123456789/2016NATUREZA DA INVESTIGAÇÃO: ROUBO QUALIFICADO – VÍTIMA: _____________ - INDICIADO: _____________

REPRESENTAÇÃOPELA DECRETAÇÃO DE PRISÃO TEMPORÁRIA (OBS1)

MM. Juiz,

Instaurou-se inquérito policial para apurar o crime de roubo, cometido comemprego de arma de fogo, por “D”, qualificado a fls. ____ contra “T”, ainda nãoconcluído. Após a vítima ter registrado a ocorrência, chegou ao conhecimentodesta autoridade, que o suspeito estaria rondando o mesmo bairro em que sederam os fatos, o que causa perturbação à ordem pública, uma vez que o delitoé grave. Aliás, denúncia anônima, dirigida a este distrito policial, chegou arelatar que o indiciado pretende fugir, o que iria conturbar a investigaçãopolicial, impedindo, até mesmo, o formal reconhecimento.

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Portanto, com amparo no art. 1.º, I e III, da Lei 7.960/89, (OBS2) esta AutoridadePolicial representa a Vossa Excelência pela decretação da prisão temporária de“D”, pelo prazo de cinco dias, (OBS3) para que possa ser concluída a colheita deprovas.

Era o que tinha a ponderar no momento, apresentando cópia do boletim deocorrência e dos depoimentos até então colhidos.

São Luís, 18 de março de 2016

_______________Autoridade policial

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OBS 1: A representação pode ser encaminhada por um ofício dirigido ao Juiz esubscrito pelo Delegado – como no caso acima – ou pode ser inserida nos autosdo Inquérito, não necessitando nesse caso do ofício de encaminhamento.

OBS 2: Para a decretação da prisão temporária deve haver a conjugação doinciso III (relação de crimes) com o inciso I ou o inciso II do art. 1º da Lei7.960/89.

OBS 3: Em caso de crime hediondo ou equiparado, a prisão temporária podeatingir 30 dias, prorrogáveis por mais 30 em caso de extrema e comprovadanecessidade. Para outros delitos, a prisão tem o prazo de 5 dias, prorrogáveis,quando imprescindível, por outros 5.

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PRISÃO TEMPORÁRIA:

O objetivo da Lei foi assegurar a eficácia das investigações em crimes graves eacabar com a “prisão para averiguações”.

Na Exposição de Motivos da Lei, o Legislador dispõe o seguinte: “a prisão sópode ser executada depois da expedição do mandado judicial. Com isso,procura impedir que a representação policial se transforme em simplescomunicação ao Poder Judiciário.”

Trata-se de prisão cautelar decretada pela autoridade judiciária durante a fasepreliminar de investigações, com prazo estabelecido de duração, quando aprivação da liberdade de locomoção do indivíduo for indispensável para aobtenção de elementos de informação quanto à autoria e materialidade dasinfrações penais mencionadas na própria Lei, assim como em relação a crimeshediondos e equiparados.

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PRISÃO TEMPORÁRIA - REQUISITOS:

Caberá quando:

i. Imprescindível para as investigações do inquérito policial;OU

ii. Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;

E

iii. Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

Homicídio doloso; sequestro ou cárcere privado; roubo; extorsão; extorsão mediante sequestro;estupro; atentado violento ao pudor (213); rapto violento (148,§1º,V); epidemia com resultadomorte; envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pelamorte; associação criminosa; genocídio; tráfico de drogas; crimes contra o sistema financeiro