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1 Homicídio qualificado por comissão por omissão Ana Martins nº1289 Margarida Ormonde nº 1253 Tânia Silva nº 1254 12/05/2009 Teoria do Crime

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Homicídio qualificado por comissão por omissão

Ana Martins nº1289Margarida Ormonde nº 1253Tânia Silva nº 1254 12/05/2009

Teoria do Crime

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O arguido vivia sozinho com a mãe na casa desta em Peniche desde 1995;

A senhora tinha 83 anos quando foi encontrada morta dentro de sua casa a 12 de Abril de 1998;

O corpo estava em avançado estado de decomposição;

A morte da senhora aconteceu 15 dias antes de esta ser encontrada, sendo a causa de morte inanição;

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A senhora encontrava-se acamada há 2 meses;

O único cuidado de saúde que o arguido lhe prestou foi dar-lhe algumas garrafas de leite com chocolate e sandes;

O arguido recusava a entrada dos vizinhos em casa quando a sua mãe estava acamada dizendo que a senhora estava bem e não precisava de apoio;

O arguido esteve 12 dias sem alimentar a sua mãe quando esta não podia alimentar-se pelos seus meios;

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Durante esse período o arguido estava ausente;

Regressou a casa no dia 12 de Abril de madrugada, deitando-se de imediato;

Sabia que o seu comportamento era legalmente proibido.

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Personalidade: Frieza, imaturidade…

Vida familiar: separado de facto, 2 filhos…

Vida profissional: reformado por invalidez…

Historial de doenças: queimaduras, tuberculose…

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Não ficou provado que o arguido tivesse intenção de causar a morte à mãe, de ocultar o seu corpo, nem que o tivesse ocultado com intenção de receber o subsídio desta.

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Tribunal do Círculo Judicial de Alcobaça (TJCA);

Arguido A;

Crime de homicídio qualificado, por comissão omissiva – Art.10º nº 1 e 2, 131º e 132º nos 1 e 2, al. a) CP;

Pena 15 anos;

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Tem de recair sobre o omitente um “dever jurídico que o obrigue pessoalmente a evitar tal resultado”;

Condenado com base nos artigos 1874º e 2009º nº1, alínea b) do CC;

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Artigo 1874º CC Deveres de pais e filhos

Artigo 2009º CC Pessoas obrigadas a alimentos

1 – “Pais e filhos devem mutuamente respeito, auxílio e assistência.2 – O dever de assistência compreende a obrigação de prestar alimentos e a de contribuir, durante a vida em comum, de acordo com os recursos próprios, para os encargos da vida familiar.”

1- “Estão vinculados à prestação de alimentos (…):b) Os descendentes.”

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Mas artigo 2005º CC estatui obrigação de prestar alimentos pecuniariamente e não sob forma de refeições;

Artigo 10º nº2 CP não se aplica;

Não existe dever jurídico, nem nexo de causalidade entre a morte e a omissão;

Arguido não sabia, nem tinha condições de prever que a sua omissão levaria à morte da sua mãe;

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Artigo 10º nº1 CP não se aplica;

Decisão viola os artigos 10º, 132º e 73º, todos do CP, pois não teve em conta o artigos 10º nº3 e 73º do CP, que em conjunto permitem a atenuação especial da pena.

Entende que deveriam ter sido aplicados os artigos 137º (Homicídio Negligente) e 138º (Exposição ao Abandono) ou o artigo 200º (Omissão de Auxílio), todos do CP.

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Factos integram o crime de homicídio qualificado por omissão [artigos 10ºnº1 e 2, 131º e 132º nº1 e 2 al. a) – CP];

Artigo 2005º nºs 1 e 2 CC;

Nexo causalidade: “A ausência de alimentos e de prestação de cuidados de saúde, durante o período em que esteve acamada foram a causa da morte por inanição”.

Pena aplicada de forma justa e proporcional.

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1. Lei não obriga os filhos a prestar alimentos em forma de refeições aos seus ascendentes. Não se aplica o art.10º nº2 do CP pois não existe qualquer dever jurídico que obrigue pessoalmente o arguido;

2. Não ficou provado que o arguido soubesse ou pudesse entender que a sua omissão levaria à morte da sua mãe. Art. 10º nº1CP também não se aplica;

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3. Qualificação do homicídio com base no parentesco e criminalização da omissão com base no parentesco é de difícil compatibilização;

4. A pena é excessiva. Falhou aplicação dos arts. 10º nº3 e 73º do CP;

5. Deveriam ter sido aplicados os arts. 137º (Homicídio negligente), 138º (Exposição ao abandono) ou 200º (Omissão de auxílio) do CP.

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Crime Comportamento humano, ilícito, típico e culposo

Acção “viola-se a norma jurídica fazendo o que a lei proíbe”

Omissão “viola-se a norma jurídica, não fazendo o que a lei manda”

Simples/própria “comportamento negativo voluntário ou imprudente que não conduza a um resultado material”

Comissiva/imprópria “Abstenção que produz um resultado material proibido”

Ex. morte pela não alimentação de criança

1ª Questão

R: SIMAS SANTOS e LEAL HENRIQUES

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Tipo de Crime

Evento ou Resultado

Acção Omissão<=>

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Qual a fonte desse dever?

A lei, contrato, ingerência, não devem constituir fontes do dever de garantia;

Dever pessoal: Ligação entre o omitente e determinados deveres jurídicos;

É pessoalmente responsável pelo controlo de certas fontes de perigo;

2ª Questão R: Prof. FIGUEIREDO DIAS

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Com base nesta concepção, o STJ considera que…

A vítima encontrava-se em exclusiva dependência do arguido;

Mais ninguém tinha com a senhora uma relação de proximidade que gerasse deveres de alimentação e higiene;

Conclui, o STJ, que a omissão do arguido foi causa adequada à morte da vítima.

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Admite-se alguma razão ao arguido;

O parentesco entrou como circunstância qualificativa para ultrapassar o tipo de homicídio simples;

A punição não ocorre pelo facto de o recorrente ser filho da vítima mas pela relação de proximidade que existia;

Regra in dubio pro reo, conferiu-se provimento a esta questão.

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A ilicitude na conduta do arguido é elevada, o que faz elevar as exigências de culpa;

A motivação subjacente à conduta de comissão por omissão do arguido é de censurar (?);

O dolo presente na conduta do arguido reveste uma natureza eventual;

A situação pessoal do arguido demonstra uma certa fragilidade, o que conduz a menores exigências preventivas;

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A conduta do arguido é ainda mais incompreensível por aparentemente se dar bem com a mãe;

Atitude omissiva de respeitar uma pessoa dependente, para além de eventuais laços familiares, o que eleva as exigências preventivas;

Presente a culpa do agente, a ilicitude dos factos e as demais circunstâncias não se justifica a atenuação especial da pena;

Questão não procedeu.

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Face às conclusões das 1ª, 2ª e 3ª questões, foi prejudicada a apreciação deste problema.

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Arguido condenado pela prática de um crime voluntário consumado, cometido por omissão, nos termos do art.131º do CP (e art.10º), na pena de 10 anos de prisão.

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Posição de garante como categoria dogmática;

Expansão, através do art.10º nº1CP, da margem de punibilidade;

Categoria típica expressa na lei garante os limites face à equiparação – acção/omissão;

Equiparação só existe e o resultado só é punível “quando sobre o omitente recair um dever jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar esse resultado”;

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Dever jurídico que integra e determina posição de garante interpretado como qualquer outro elemento da tipicidade;

Factos provados não permitem integrar a posição de garante face ao arguido;

Não ficou provado se arguido tinha ou não “condições” para evitar o resultado ocorrido;

Arguido não poderia ser autor de um crime de homicídio por comissão por omissão;

Deveria responder pele crime de Exposição ao abandono – art.138 nº, alínea b) e nº2 e 3 alínea b) do CP.