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5 1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO MUNICÍPIO Este tópico procura reconstituir a história do município de Pontal do Paraná e seus entornos, diagnosticando a ocorrência de fatos e sítios de interesse histórico. Também tenta resgatar alguns costumes oriundos da miscigenação étnica ocorrida na região, parcialmente mantida até o início do período de ocupação mais intensa da costa, ocorrida a partir de aproximadamente 1950, com a abertura das Estradas das Praias (atual PR-407), interligando a estrada Curitiba – Paranaguá (BR-277) com Praia de Leste. O processo de ocupação foi motivado tanto pelo aumento do poder econômico da classe média, como também pelo aumento do interesse pelo turismo, em muitos casos ambos, aliados à especulação imobiliária. Habitado há milhares de anos, Pontal do Paraná assim como os seus municípios vizinhos, possuem uma ampla e rica história, que é aqui abordada de forma sintetizada e cronológica. 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO O continente americano foi o último continente a ser pisado pelo homem, depois da África, berço da espécie humana, da Ásia, Europa e Oceania. As terras do Brasil são povoadas há pelo menos 15.000 anos, cujos indícios são muitos, como ossos humanos na região da Lagoa Santa em Minas Gerais e materiais cerâmicos no baixo Amazonas. Existem várias contestações com relação às idades destes registros dependendo dos sítios, mas novas descobertas têm sido efetuadas. Até a chegada de Colombo, em 1492, de cujo nome deriva a fase designada como “pré-colombiana”, há um grande lapso de tempo. A terra brasileira, quando os europeus aqui chegaram, tinha muitos habitantes. A população estimada varia entre os historiadores de 1,5 a 5 milhões de habitantes. O contraste cultural e o choque ao primeiro encontro entre os europeus e os ameríndios foi óbvio para ambas as partes, mas provavelmente maior para os índios do que para os europeus, que já haviam visto ou sabido de outros povos nas suas aventuras mercantilistas além-mar. Na escala da evolução cultural, os povos tupi-guarani davam os primeiros passos da revolução agrícola, superando o período paleolítico, tal como ocorrera pela primeira vez, há 10 mil, com os povos do velho mundo. Nos atuais limites do litoral paranaense, o indicativo da existência destes povos é a ampla distribuição dos sambaquis e dos índios encontrados pelos primeiros aventureiros europeus na costa. Os sambaquis constituem grandes amontoados artificiais de conchas, onde são encontrados restos de povos antepassados, sendo estes indicativos de sua cultura. Comiam e habitavam o que a natureza lhes oferecia, vivendo em pequenos e migrantes grupos, como nômades, comendo muitas frutas, conchas e animais. Muitas gerações se passaram até a formação de sambaquis de centenas de metros de comprimento e dezenas de metros de altura e largura. Costumes similares desta mesma época também são encontrados em povos que viviam próximos da costa nos demais continentes. Havia, entretanto, várias etnias em diferentes níveis culturais dentro dos grupos indígenas encontrados no Brasil no século XVI. Nos locais em que a agricultura havia se tornado mais desenvolvida devido à fecundidade da terra, estes povos chegaram a formar aldeamentos que chegavam a alcançar 3 mil ou mais pessoas, tanto na costa como no interior. Eram, todavia, conglomerados pré-urbanos (aldeias agrícolas indiferenciadas), porque todos os moradores eram compelidos à produção de alimentos, só liberando dela, excepcionalmente, alguns líderes religiosos e uns poucos chefes guerreiros. Os índios tupi-guaranis não puderam jamais unificar-se numa organização política que lhes permitisse atuar conjugadamente. Sua própria condição evolutiva de povos de nível tribal fazia com que cada unidade étnica, ao crescer, se dividisse em novas entidades autônomas que, afastando-se uma das outras, iam se tornando reciprocamente mais diferenciadas e hostis (Ribeiro 1970, 1997). Quando os europeus chegaram no século XVI, havia três grupos de índios na costa sul e sudeste brasileira: os Carijós, os Tupiniquins e os Tupinambás, todos derivados do mesmo tronco tupi-guarani, vindos da região central e norte do Brasil (Figura 1.1). A língua tupi-guarani foi usada durante muito tempo pelos colonizadores, que com o emprego do português acabou extinguindo-se ao longo do curso da história, principalmente com sua obrigatoriedade a partir de 1757. O tupi-guarani deixou, entretanto, muitos sinônimos que foram incorporados no português vigente no Brasil. A B C

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1 ASPECTOS HISTÓRICOS DO MUNICÍPIO

Este tópico procura reconstituir a história do município de Pontal do Paraná e seus entornos, diagnosticando a ocorrência de fatos e sítios de interesse histórico. Também tenta resgatar alguns costumes oriundos da miscigenação étnica ocorrida na região, parcialmente mantida até o início do período de ocupação mais intensa da costa, ocorrida a partir de aproximadamente 1950, com a abertura das Estradas das Praias (atual PR-407), interligando a estrada Curitiba – Paranaguá (BR-277) com Praia de Leste.

O processo de ocupação foi motivado tanto pelo aumento do poder econômico da classe média, como também pelo aumento do interesse pelo turismo, em muitos casos ambos, aliados à especulação imobiliária. Habitado há milhares de anos, Pontal do Paraná assim como os seus municípios vizinhos, possuem uma ampla e rica história, que é aqui abordada de forma sintetizada e cronológica.

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO

O continente americano foi o último continente a ser pisado pelo homem, depois da África, berço da espécie humana, da Ásia, Europa e Oceania. As terras do Brasil são povoadas há pelo menos 15.000 anos, cujos indícios são muitos, como ossos humanos na região da Lagoa Santa em Minas Gerais e materiais cerâmicos no baixo Amazonas. Existem várias contestações com relação às idades destes registros dependendo dos sítios, mas novas descobertas têm sido efetuadas. Até a chegada de Colombo, em 1492, de cujo nome deriva a fase designada como “pré-colombiana”, há um grande lapso de tempo. A terra brasileira, quando os europeus aqui chegaram, tinha muitos habitantes. A população estimada varia entre os historiadores de 1,5 a 5 milhões de habitantes.

O contraste cultural e o choque ao primeiro encontro entre os europeus e os ameríndios foi óbvio para ambas as partes, mas provavelmente maior para os índios do que para os europeus, que já haviam visto ou sabido de outros povos nas suas aventuras mercantilistas além-mar. Na escala da evolução cultural, os povos tupi-guarani davam os primeiros passos da revolução agrícola, superando o período paleolítico, tal como ocorrera pela primeira vez, há 10 mil, com os povos do velho mundo.

Nos atuais limites do litoral paranaense, o indicativo da existência destes povos é a ampla distribuição dos sambaquis e dos índios encontrados pelos primeiros aventureiros europeus na costa. Os sambaquis constituem grandes amontoados artificiais de conchas, onde são encontrados restos de povos antepassados, sendo estes indicativos de sua cultura. Comiam e habitavam o que a natureza lhes oferecia, vivendo em pequenos e migrantes grupos, como nômades, comendo muitas frutas, conchas e animais. Muitas gerações se passaram até a formação de sambaquis de centenas de metros de comprimento e dezenas de metros de altura e largura. Costumes similares desta mesma época também são encontrados em povos que viviam próximos da costa nos demais continentes.

Havia, entretanto, várias etnias em diferentes níveis culturais dentro dos grupos indígenas encontrados no Brasil no século XVI. Nos locais em que a agricultura havia se tornado mais desenvolvida devido à fecundidade da terra, estes povos chegaram a formar aldeamentos que chegavam a alcançar 3 mil ou mais pessoas, tanto na costa como no interior. Eram, todavia, conglomerados pré-urbanos (aldeias agrícolas indiferenciadas), porque todos os moradores eram compelidos à produção de alimentos, só liberando dela, excepcionalmente, alguns líderes religiosos e uns poucos chefes guerreiros. Os índios tupi-guaranis não puderam jamais unificar-se numa organização política que lhes permitisse atuar conjugadamente. Sua própria condição evolutiva de povos de nível tribal fazia com que cada unidade étnica, ao crescer, se dividisse em novas entidades autônomas que, afastando-se uma das outras, iam se tornando reciprocamente mais diferenciadas e hostis (Ribeiro 1970, 1997).

Quando os europeus chegaram no século XVI, havia três grupos de índios na costa sul e sudeste brasileira: os Carijós, os Tupiniquins e os Tupinambás, todos derivados do mesmo tronco tupi-guarani, vindos da região central e norte do Brasil (Figura 1.1). A língua tupi-guarani foi usada durante muito tempo pelos colonizadores, que com o emprego do português acabou extinguindo-se ao longo do curso da história, principalmente com sua obrigatoriedade a partir de 1757. O tupi-guarani deixou, entretanto, muitos sinônimos que foram incorporados no português vigente no Brasil.

A B C

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D E F

Figura 1.1: Os índios que habitavam a costa sul e sudeste brasileira: (A) índios Carijós; (B) índios Tupinambás; (C) antropofagia dos índios Tupinambás; (D) cena de caça; (E) e (F) índios civilizados. Extraído de Perrone-Moysés (1992), Staden (1974) e Debret (1978).

Não havia neste trecho da costa brasileira o costume dos índios de escravizar os inimigos capturados em guerras, como em muitos locais, mas hábitos culturais como antropofagia, nudez, bigamia e homossexualismo eram traços comuns e aceitos em muitos grupos indígenas brasileiros. Tinham uma visão completamente distinta da sociedade atual, com muitas designações para plantas, animais, a Lua e o Sol, além dos fenômenos da natureza. Foram inferiorizados sócio-culturalmente no contexto das descobertas econômicas íbero-portuguesas, acompanhadas de forte catolicismo paralelo. Não suportando a força colonizadora européia, os índios foram rapidamente miscigenados, escravizados e alfabetizados, com conseqüente extinção. Não deixaram legados escritos, pois não dominavam inicialmente a escrita, mas deixaram os sambaquis e artefatos, cujas características indicam terem sido um povo simples, pouco ou nada materialistas, vivendo em harmonia com o meio e o antepassado que os cercava. A relação étnica dos sambaquis com os índios encontrados no século XVI deve ser aceita dentro da antropologia, pois restos cerâmicos e outros artefatos são encontrados na parte superior de alguns sambaquis, indicando diferentes hábitos e relações na sua evolução cultural.

Da miscigenação dos índios com os primeiros portugueses, e destes com os negros trazidos da África na seqüência da história, formou-se um povo com características distintas, ou um povo novo (Ribeiro 1970, 1997). Esta foi a matriz étnica dos brasileiros, cujos costumes foram herdados ou modificados ao longo do tempo, a partir de relações e trocas de costumes inter-raciais, tão comuns no Brasil na sua colonização.

1.2 OS SAMBAQUIS

Sambaqui é o lugar de acampamento de populações indígenas que exploravam os recursos naturais do litoral. São, portanto, acumulações artificiais de conchas de moluscos principalmente, e em menor escala de ossos de mamíferos, répteis, aves, peixes e restos da dieta alimentar desta população. Há também sambaquis no interior do continente, fluviais, com vestígios arqueológicos associados a gastrópodes terrestres. Na costa brasileira os sambaquis encontram-se distribuídos com maior freqüência desde o Estado do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, aparecendo também mais restritamente no litoral norte e nordeste brasileiro. A idade destes sítios varia de 8.000 a 500 anos Antes do Presente (Schmitz 1984, Parellada & Gottardi Neto 1993), ou A.P., considerando-se como marco o ano geofísico internacional de 1950. Schmitz (1984) considera que possivelmente o povoamento do litoral brasileiro tenha ocorrido devido às variações climáticas no período denominado como “ótimo climático” (entre 8500 e 6500 anos A.P.), quando houve mudança de uma fase quente e seca para outra quente e úmida, possibilitando o deslocamento das populações do planalto para o litoral. Estas variações climáticas durante o Holoceno (de 10000 anos até o presente) tinham uma relação direta com variações do nível relativo do mar (NRM), fato que explica o distanciamento de muitos sambaquis da linha de costa atual. Curvas de variação do nível do mar, nos últimos milhares de anos, só foram idealizadas com o emprego de elementos geomorfológicos, biológicos e antropológicos. Os geomorfológicos são aqueles indicados pela altura, forma e composição dos terraços de origem marinha; os biológicos inclui a ocorrência de ocas de ostras, tubos de invertebrados fósseis, entre outros; e os elementos antropológicos são os sambaquis e os restos neles encontrados. Vários trabalhos sobre este tópico, abordando o litoral paranaense, foram publicados nas últimas duas décadas, destacando-se Martin et al. (1988), Angulo (1992), Angulo & Suguio (1995), Angulo & Lessa (1997), entre outros.

Pelo porte de alguns sambaquis, estes sempre despertaram a atenção dos primeiros exploradores da terra brasileira, que os registraram em seus relatos. Até o início das pesquisas arqueológicas mais significativas, na primeira metade do século XX, muitos sambaquis já haviam sido parcialmente ou totalmente destruídos, devido ao seu uso como material de pavimentação de estradas, matéria prima para a fabricação de cal e como área de cultivo de plantações, pois o solo ali formado ao longo do tempo era mais rico do que os terrenos arenosos adjacentes.

Constituem contribuições significativas ao estudo dos sambaquis paranaenses aqueles efetuados inicialmente por Martins (1904), Bigarella (1946, 1949, 1950/1951a,b, 1954, 1959), Fernandes (1955), Fric (1907), Tiburtius et al. (1949). Mais recentemente o número de trabalhos relativos aos sambaquis é amplo, constituindo colaborações os trabalhos de Andreatta (1968), Andreatta & Menezes (1968, 1975), Blasi (1963), Blasi et al. (1987), Chymz (1967, 1975, 1976, 1986), Emperaire (1979), Emperaire & Laming (1954/1956), Hurt & Blasi (1960), Imbelloni (1955), Martin et al. (1988), Menezes (1968, 1976), Menezes & Andreatta (1971), Neves (1988), Orssich (1977a,b,c,d), Orssich & Orssich (1956),

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Parellada (1989a,b, 1990a,b,c); Parellada et al. (1992), Parellada & Macedo (1987, 1989a,b, 1990), Posse (1978), Parellada & Gottardi (1993), Rauth (1962, 1963, 1967, 1968, 1969a,b, 1971, 1974a,b,c,d) Rauth & Hurt (1960), Tiburtius (1961), Tiburtius & Bigarella (1960), Tiburtius & Leprevost (1952,1953) e Tiburtius et al. (1949).

Parellada & Gottardi (1993) fizeram uma revisão destes trabalhos, constatando que existem registrados 284 sambaquis no litoral do Paraná, dos quais 34 no município de Antonina, 78 em Guaraqueçaba, 85 em Guaratuba, 3 em Matinhos, 7 em Morretes, 59 em Paranaguá e 3 em Pontal do Paraná1. O tamanho dos sambaquis estaria relacionado a diversos fatores como o número de pessoas que ocuparam a área, o intervalo de tempo, a dieta alimentar destas populações, o número de vezes que o local foi habitado, além da quantidade da matriz sedimentar existente nas camadas arqueológicas componentes do sítio. Entre os níveis de ocupação pode ocorrer superfícies de aplainamento e erosão, até mesmo com a deposição de materiais sedimentares originados a partir da ação marinha. O sambaqui de maior volume existente no litoral do Paraná é o do Guaraguaçu B, situado no município do Pontal do Paraná, possuindo 300x50x21 m (Figura 1.2). E o maior, em relação à área é o do João Godo I, no município de Antonina, com 300x100x5 m.

A B

C D Figura 1.2: (A) vista panorâmica do sambaqui Guaraguaçu B; (B) e (D) fragmentos líticos; (C) detalhe do sambaqui (Andreatta & Menezes 1968).

Os sambaquis da parte centro-sul do litoral paranaense, que abrange toda a área do município do Pontal do Paraná, é considerada a menos estudada atualmente, por possuir dados bastante desatualizados (Parellada & Gottardi 1993).

1.3 OS EUROPEUS, OS ÍNDIOS E OS NEGROS

1.3.1 Europeus

Na virada do século XV para o século XVI vários países europeus estavam interessados em descobrir novas rotas e novos mundos. Participaram destas descobertas como colonizadores na seqüência da história brasileira Portugal, Espanha, França e Holanda. Muitas das descobertas efetuadas pelos espanhóis e portugueses tiveram cunho oficial, cujos projetos foram financiados pelos seus reinos. Outros, entretanto, tinham caráter predominantemente particular.

1 Na data de publicação de Parellada & Gottardi (1993), a área do atual Município do Pontal do Paraná ainda pertencia à Paranaguá.

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As descobertas oficiais das novas terras, amplamente divulgadas e consagradas nos livros de história, foram aquelas efetuadas por Cristóvão Colombo (as Américas, em 1492) e, no caso particular do Brasil, por Pedro Álvares Cabral (em 1500), fato documentado na Carta de Pero Vaz de Caminha.

Três anos depois da chegada de Cabral, Charles Binot Palmier de Gonneville, numa expedição privada francesa, realmente perdeu-se no Oceano Atlântico em direção às “Índias” (como falsamente afirmado por Cabral como motivo de seu descobrimento), tendo aportado no litoral norte de Santa Catarina, embora não soubesse a sua localização. O Relato de Gonneville ficou perdido por quase 3 séculos e meio, sendo sua aventura junto com a Carta de Pero Vaz de Caminha, também extraviada pelo mesmo período de tempo, os documentos mais antigos oficiais relativos ao Brasil. Neles constam basicamente descrições das terras e dos povos que ali encontraram, muito relevantes. A experiência do alemão Hans Staden com os índios da costa sul e sudeste brasileira foi também marcante, relatada no seu livro Duas viagens ao Brasil, traduzida para muitas línguas em muitas edições. Fora estes, muitos outros aventuraram-se na terra brasileira, deixando suas impressões, como Ulrich Scmidl, Cabeza de Vaca e Aleixo Garcia. Os locais e as experiências de cada um destes europeus (Figura 1.3) com a terra e o povo foram distintas, mudando o destino dos habitantes destas terras.

Figura 1.3: Xilogravura de Hans Staden de Homburg, de 1557, a primeira representação da Baía de Paranaguá em mapa. Extraído de Hans Staden (1974).

1.3.2 Índios

As informações contidas no Relato são as que provavelmente mais se aproximam da realidade do litoral paranaense no início do século XVI, pela similaridade da terra e do povo. Partindo de Honfleur, em 24/06/1503, porto localizado na normandia francesa, Gonneville seguiu em uma nau (chamada L’Espoir) acompanhado de 60 homens em direção às Índias. Ao longo da viagem o mal do mar (escorbuto) afligiu dois terços da população, com o falecimento de 6 tripulantes. O piloto principal morreu de apoplexia, seguindo-se então rudes tormentas por três semanas, fazendo com que a expedição perdesse a sua rota original.

No dia 05/01/1504 encontraram uma grande terra, onde permaneceram até 03/07/1504, convivendo cordialmente com o povo que ali habitava (os Carijós). A sua descrição no Relato (Perrone-Moysés 1992) é a seguinte: “… sendo tais índios gente simples, que não podiam mais do que levar uma vida alegre sem grande trabalho; vivendo da caça e da pesca, e do que a a terra lhes dá de per si, e de alguns legumes e raízes que plantam; indo meio nus, os jovens e a maioria dos homens usando mantos, ora de fibras trançadas, ora de couro, ora de plumas, como aqueles que usam em seus países os egípcios e os boêmios, exceto que são mais curtos, com uma espécie de avental amarrado sobre as ancas, indo até os joelhos, nos homens, e nas mulheres até o meio das pernas; pois homens e mulheres se vestem da mesma maneira, exceto que a vestimenta da mulher é mais longa. E usam as fêmeas colares e pulseiras de osso e de conchas; não o homem, que usa, em vez disso, arco e flecha tendo por virotão um osso devidamente acerado, e um chuço de madeira muito duro, queimado e afiado no alto; o que constitui toda a sua armadura; e vão as mulheres e as meninas de cabeça descoberta, tendo os cabelos gentilmente trançados com cordéis de ervas tingidas de cores vivas e brilhantes. Quanto aos homens, usam longos cabelos soltos, com um círculo de plumas altas, de cores vivas e bem dispostas”. A Carta de Caminha, embora contemporânea e melhor redigida (carta-diário), também é rica na descrição dos povos e terras descobertas, abrangendo os povos e terras da costa do nordeste e sudeste do Brasil.

Ainda no Relato, Gonneville descreve as habitações e a hierarquia daquele povo: “E as habitações dos índios formam aldeias de trinta, quarenta, cinqüenta ou oitenta cabanas, feitas à maneira de galpões com estacas unidas uma às outras, ligadas por ervas e folhas, com as quais os ditos habitantes são igualmente cobertos; e têm por chaminé um buraco, para fazer sair a fumaça. As portas são bastões corretamente ligados; e eles as fecham com chaves de madeira,

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quase como as que se usam na Normandia, nos estábulos. E seus leitos são esteiras macias cheias de folhas ou penas, suas cobertas são esteiras, peles de animais ou plumagens; e seus utensílios domésticos são de madeira, mesmo as panelas, mas estas são revestidas por uma espécie de argila de espessura de um dedo, o que impede que os fogo as queime. Também dizem ter notado que o dito paós está dividido em cantões, cada um com seu Rei; e embora os ditos Reis não sejam mais bem alojados e vestidos do que os outros, são muito reverenciados por seus súditos; e nenhum é tão atrevido que ouse desobedecer-lhes, já que eles têm poder de vida ou morte sobre seus vassalos …”.

Após o conserto de sua nau e sua partida rumo à Europa, morreram muitos dos tripulantes do L’Espoir, por doenças ou pelo ataque de índios nos demais pontos em que pararam ao longo da costa brasileira. Foram atacados por um corsário inglês (Edouard Blunth) nas Ilhas Jersey e Guernesey, que acabou por afundar a nau, destruindo todos os relatos da viagem, além de mais mortes. Gonneville e seus companheiros (num total de 28) conseguiram chegar a Honfleur em 28/05/1505, tendo entre eles um índio Carijó (de nome Essomericq), mandado por seu pai, o “Rei” Arosca. Este índio deve ter sido talvez o primeiro brasileiro e provavelmente o primeiro americano em solo francês (Perrone-Moysés 1992). Saiu com 15 anos de sua terra (SC) e viveu até os 95 anos, tendo casado com uma parente de Gonneville e deixado 14 filhos, motivo pelo qual o Relato foi resgatado posteriormente. Distintamente de outros índios levados no século XVI, Essomericq foi tratado como um nobre. Não foi exposto a humilhações, como os demais índios levados para a Europa no século XVI, tidos como um artigo ornamental de luxo, tratados como animais de estimação.

Considerados os índios menos agressivos entre todos os encontrados no Brasil no século XVI, os Carijós foram rapidamente capturados, escravizados e domesticados diretamente pelos europeus ou através da Companhia de Jesus, empreendimento católico socialista de catequização dos novos povos e territórios conquistados. Habitavam desde a margem sul da baía da Paranaguá (no Paraná) até a lagoa dos Patos (no Rio Grande do Sul), estendendo-se por todo o interior até o rio da Prata. As relações dos europeus com os povos deste grupo foram imediatas e amistosas em sua maior parte no início da colonização, devido às características do povo em si e ao conhecimento que estes tinham de caminhos pelas matas, o que facilitou a penetração para o interior.

A escravidão indígena foi repudiada inúmeras vezes, praticamente desde o início da colonização, pois data de 1537 através de uma bula papal. Em 1570 os portugueses decretam a primeira lei proibindo a escravidão (exceto os índios Aimoré), sendo que em 1587 uma nova lei reafirmou que escravidão indígena só seria permitida em caso de “guerra justa”. Embora praticamente proibida, a escravidão continuou a acontecer ao longo do território brasileiro. Os Carijós e os Tupiniquins, principais habitantes da costa paranaense, já encontravam-se extintos no século XVIII (Vieira dos Santos 1850).

1.3.3 Negros

A presença do elemento negro é registrado, descrito ou analisado em muitos poucos trabalhos na costa paranaense, embora provavelmente tenha sempre estado presente ao longo da história.

Insatisfeitos com a mão de obra indígena, os europeus começaram a escravizar povos africanos, trazendo-os para o Brasil. Os primeiros negros que aportaram, com documentação comprovada, datam de 1538, pouco depois do estabelecimento do sistema de Capitanias Hereditárias (1534) e à introdução do gado que seria utilizado para transporte e agricultura, até então inexistente no Brasil.

Até o início do século XIX o comércio de escravos foi livre e Portugal trouxe um número bastante elevado de negros da África. A entrada destes ocorria através dos principais portos, como Salvador, Santos, Rio de Janeiro e Paranaguá e a sua miscigenação com índios e brancos constitui um dos traços mais marcantes do povo brasileiro.

No início do século XIX surgiram as primeiras tentativas no sentido de proibição do tráfico negreiro para o Brasil. Assim em 1826 e 1831, já havia leis proibindo esse tráfico, porém estas determinações não eram cumpridas, sobretudo no Paraná. O porto de Paranaguá converteu-se num dos maiores centros de contrabando de escravos no Brasil. Desembarcados em Paranaguá, eram transportados em seguida para outros pontos do Brasil. Comentário de Romário Martins (citado por Wachowicz 1988): “parece até que foi depois da proibição de 1831, que em Paranaguá tomou incremento o comércio de escravos”. A Inglaterra, que por diversas razões não desejava a continuação do tráfico negreiro no Brasil, aprovou o “bill Aberdeen” em 1845, o qual permitia a perseguição de navios negreiros brasileiros pela marinha inglesa, até mesmo nas costas brasileiras. Porém, esta atitude inglesa em nada diminuiu o tráfico; ao contrário, aumentou (Wachowicz 1988).

O cumprimento do “bill Aberdeen” pelos ingleses ocasionou um sério incidente com o cruzador britânico Cormorant, na baía de Paranaguá, em junho de 1850. O navio, julgando ser seu direito, entrou na baía com o fim de aprisionar alguns navios brasileiros, carregados de escravos vindos da África. O comandante de um dos navios, para não ser apanhado em flagrante pelos ingleses, afundou seu navio, com dezenas de negros africanos no seu interior, num gesto trágico e desumano. Travou-se então um combate nos arredores da Fortaleza da Ilha do Mel, afetando as relações externas entre o Brasil e a Inglaterra.

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1.4 PERÍODO 1500 – 1820

As únicas informações concisas sobre o início da colonização do litoral paranaense devem-se a Vieira dos Santos (1850), segundo o qual os primeiros povoadores da Baía de Paranaguá vieram de Cananéia (transformada em vila em 1587) através de pequenas embarcações pelo Varadouro Velho, chegando até Superagui. A expedição de Gonçalo Coelho, de 1501, havia deixado portugueses e castelhanos na região de Cananéia, que logo começaram a conviver com os índios ali existentes, os Carijós, e a explorar as áreas vizinhas (provavelmente bem conhecida pelos índios). Supõe-se que estes europeus se miscigenaram com os índios, pois até a chegada de Martim Afonso de Souza, o primeiro colonizador oficial em 1531, “bem poderia haver para mais de 100 pessoas mestiças, entre filhos e netos que aqueles colonos ali propagaram” (Vieira dos Santos 1850).

A ocupação inicial do litoral paranaense ocorreu na Ilha da Cotinga na Baía de Paranaguá, no lado voltado para a Ilha Rasa da Cotinga (chefiados por Domingos Gonçalves Peneda). Índios também vindos de Cananéia serviram de intérpretes entre os europeus e os povos que viviam nessa região. Animados com as boas relações, passaram para a terra firme no local chamado Barra do Sul (atual Pontal do Sul?). É provável que a região de Cananéia e Paranaguá tenha sido mais explorada detidamente por Pero Lobo a mando de Martim Afonso de Souza, a partir de 1531, quando já se sabia da existência de ouro. Segundo Vieira dos Santos (1850), 80 homens, 40 besteiros e 40 espingardeiros exploraram estas minas, retornando dez meses depois, em junho de 1532, trazendo 400 escravos carregados deste metal (provavelmente índios).

Martins ([193-0?]) relata que na bandeira de Jerônimo Leitão, na região de Paranaguá em 1585, estes índios foram atacados e preados em grande quantidade, para trabalhar como escravos em plantações. Com a descoberta do ouro na região de Paranaguá, os outrora orgulhosos e valentes homens de arco (guerreiros) foram transformados em índios mineiros (Wachowicz 1988, Vieira dos Santos 1850). Muitos índios Carijó fugiram para o interior à medida que foram escravizados, tendo sido reconhecidos em 1894 pelas bandeiras seiscentistas no vale do Paranapanema e no baixo rio Iguaçu (Martins [193-0?]).

A exploração do ouro foi efetuada nos rios dos Almeidas, Correias e Guaraguaçu, principalmente nas suas nascentes, minas estas que depois foram conhecidas como “Minas de Paranaguá”, as primeiras descobertas no território brasileiro. A exploração foi mais efetiva a partir de 1578, com a mão escrava dos índios, ou “índios mineiros”, como os portugueses chamavam. Já havia comércio marítimo com Santos, permutando ferramentas por algodão que os índios plantavam e colhiam em Paranaguá.

A Baía de Paranaguá foi representada em um mapa pela primeira vez numa xilogravura no livro de Hans Staden de Homberg (Staden 1941, 1974, Lobato 1945), do ano de 1557, como “Bahia Suprawa” (Superagui), para dentro da qual foi o navio de Staden arrastado por uma tempestade, tendo encontrado índios e portugueses naquela região. Neste mapa (Figura 1.3) aparece a Ilha das Peças, representada como península e mais três ilhas, que podem ser identificadas como a Ilha do Mel, a da Cotinga e a Rasa da Cotinga. Além disso, é esboçada a linha de costa, desde Pontal do Sul até a ponta de Caiobá, já na entrada da Baía de Guaratuba.

O século XVI foi marcado pelo reconhecimento da região da Baía de Paranaguá, com a formação de uma pequena comunidade na Ilha da Cotinga e talvez a exploração do ouro em pequenas quantidades para mostrar ao reino que havia ouro em terra brasileira. Neste período houve, entretanto, a escravização dos índios através da mão de obra nas plantações e na exploração do ouro. As incursões de exploradores portugueses para os planaltos do interior foram as de Manoel Soeiro, Jorge Correia e Jerônimo Leitão (Cardoso & Westphalen 1986), que não deixaram relatos descritivos.

No final do século XVI e início do século XVII ocorreu a vinda de povos europeus ou de outras capitanias visando a exploração do ouro das então famosas “Minas de Paranaguá”. A partir de 1640, Gabriel de Lara foi designado capitão e povoador mor de Paranaguá, embora os portugueses já estivessem radicados há mais de 100 anos na Ilha da Cotinga. Por sua iniciativa, formaram-se povoamentos em terra firme ao redor da baía, já que a relação com os índios Carijós era amistosa. O primeiro povoamento se deu nas margens do rio Taquaré ou Taguaré (hoje Itiberê), dando origem à cidade de Paranaguá (Vieira dos Santos 1850). Desde o rio Taquaré, Lara incentivou a formação de povoados nas margens de muitos rios litorâneos que vinham da Serra do Mar. Assim aconteceu nos rios Guaraguaçu, Faisqueira, Pinto, Guarumbi, Tagassaba e Serra Negra. As planícies aluviais do rio Nhundiaquara (antigamente Cubatão) e dos seus afluentes já vinham sendo povoados desde 1578, pelo fato dos garimpeiros lavrarem o ouro dos aluviões fluviais. No ano de 1653, estavam sendo exploradas 11 jazidas auríferas no vale do rio Cubatão (Maack 1963, 1968). Provavelmente Pontal do Sul nesta época tenha servido como base de acampamento para europeus mineradores e escravos negros (cuja data de chegada na Baía de Paranaguá não foi possível precisar), sem que se tenha deixado qualquer registro concreto sobre estes aspectos, exceto o contorno da linha de costa dos séculos XVII e XVIII.

Em 1765 foi ordenado formar na Baía de Guaratuba um povoado com 200 casais, cuja Ordenança de Paranaguá seria encarregada de delimitar as terras e instrumentos necessários para a implantação da agricultura naquele local. Em 1771, foi criada a Vila São Luiz de Guaratuba. A preocupação de ocupar algum lugar mais ao sul de Paranaguá devia-se ao fato de que os espanhóis pretendiam invadir este trecho da costa, tendo ocorrido uma invasão na Ilha de Santa Catarina em 1777, com sua expulsão no mesmo ano.

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1.5 PERÍODO 1820 – 1950

A ligação entre Paranaguá e demais localidades ao sul provavelmente era efetuada através de barcos até Pontal do Sul, seguindo-se de carro de boi pela praia até Matinhos, como descrito pelo naturalista francês August de Saint-Hilaire (1978) em 1820 (Figura 1.4):

“Partimos de Paranaguá no dia 3 de abril, em duas canoas, uma com dois remadores e a outra com três. Depois de deixarmos o Rio de Paranaguá (Itiberê, N.A.), entramos num canal que segue mais ou menos na direção do sul da baía e é limitado de um lado pela terra firme e do outro por uma série de ilhas. Em breve perdemos de vista a cidade. Ao longe avistávamos a Serra coroada de nuvens, que passam céleres, ora deixando à mostra os picos, ora ocultando-os.

Nossas canoas avançavam velozmente, deixamos para trás a parte montanhosa da Ilha da Cotinga e fomos costeando a sua extremidade que dá para o mar, onde as terras são baixas e cobertas por mangues. Após essa ilha vem a Ilha Rasa, plana, como o seu nome indica. A Ilha do Mel, que vem em seguida, avança até a entrada da baía. É na ponta dessa ilha que foi construído o fortim que defende a barra. À medida que avançamos, o canal de navegação se alarga. Assim como a Ilha Rasa e a Ilha do Mel, a terra firme é orlada por mangues, mas se vêem nelas, de vez em quando, quase à beira da água, pequenos sítios cobertos de telhas, diante dos quais se acham várias canoas.

A ponta de terra sobre a qual já disse algumas palavras, que é chamada de Paranaguá, foi o lugar onde desembarcamos. Fui recebido por um cabo de milícia que comandava um destacamento acantonado nas imediações. Esse homem recebera ordem de cuidar para que chegassem a tempo as carroças que iriam levar a mim e ao meu pessoal a Caiobá. Todos foram pontuais. As carroças pertenciam a alguns fazendeiros das vizinhanças, eram grandes e puxadas por duas juntas de bois, sendo cobertas por um trançado feito de varas de bambu sobre o qual havim sido colocadas algumas folhas de bananeira amarradas em cipó.

Não havia no Pontal nem casas, nem vegetação; nada mais existia ali a não ser areia pura. Logo que desembarcamos acendemos um fogo para cozinhar o feijão e o arroz, que juntamente com água e farinha iriam constituir o nosso jantar. A bagagem foi colocada nos carros-de-boi, e quando partimos o sol já havia se posto fazia muito tempo. Os moradores do lugar têm o hábito de viajar à noite, beirando o mar, porque os bois andam muito mais depressa no escuro do que à claridade do dia.

Instalei-me com Laruotte em um dos carros-de-boi, José e Firmiano subiram num outro e Manuel acomodou-se no terceiro. Laruotte pusera uma esteira no chão e estendera sobre ela um cobertor e o meu poncho. Deitei-me, e em breve o marulho das ondas me fez adormecer, mas acordava de vez em quando e percebia, à luz do luar, que seguíamos por uma praia de areia pura, com as ondas vindo lamber de vez em quando as rodas dos carros.”

Figura 1.4: August de Saint-Hilaire, naturalista francês que registrou sua passagem por Pontal do Sul em 1820, tendo como destino o sul do Brasil. Extraído de Saint-Hilaire (1978).

Desde o relato de Saint-Hilaire até a metade do século seguinte praticamente não se encontram registros históricos relativos ao município do Pontal do Paraná. Com a abertura e o asfaltamento das PR’s 407 e 412, foi facilitado o acesso com Paranaguá e Curitiba.

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Loureiro Fernandes (1946/1947) deixou um importante relato quando acompanhou o desenvolver da construção da Estrada da Praia, descrevendo a geografia da planície de Praia de Leste. Descreveu os traços geológicos fundamentais, os sambaquis e os povos que contribuíram para a formação do homem caboclo litorâneo, no caso os brancos, os índios e os negros, sendo que para este autor a contribuição negra foi insignificante. Em seu trabalho, Loureiro Fernandes fotografou a praia, onde podiam ser constatadas a presença do gado, introduzido pelos europeus, e habitações na praia visando a pesca, cujo aspecto revela que a contribuição indígena perdurou por muitos séculos (Figura 1.5).

A B

C D

E

Figura 1.5: Cenas da planície de Praia de Leste quando da construção da PR-407: (A) habitação temporária próximo a Barrancos; (B) abrigo para vigias da pesca; (C) habitações temporárias e abrigo de canoa em Barrancos; (D) gado na Praia de Leste; (E) transporte da mala postal na Praia de Leste. Extraído de Loureiro Fernandes (1946/1947).

1.6 DE 1950 ATÉ OS DIAS ATUAIS

Em 20/01/1951 o Governo do Estado doou ao município de Paranaguá uma área de 43.382.000 m2, que foi repassada à Empresa Balneária Pontal do Sul em 01/02/1951 (mantendo-a até o presente). Na época foi efetuado um planejamento geral da área, delimitando-se as quadras e o arruamento. À medida que o tempo passou tal plano não foi cumprido, tendo o crescimento urbano seguido de forma desordenada. Ruas do projeto original foram transformadas em cursos d’água para saneamento e navegação, assim como vários trechos do único braço de mar que havia no começo da ocupação no Balneário Pontal do Sul (Rio Perequê) foi modificado.

Realizou-se a abertura do primeiro loteamento em Pontal do Sul em 07/04/1951, envolvendo uma área de 55.895.100 m2, indenizando-se a população local com a delimitação de seus lotes. Problemas com posses ilegais e com os moradores locais foram comuns desde a implantação do balneário, perdurando até os dias atuais. A especulação imobiliária também fez com que pequenos núcleos de moradores migrassem para áreas mais distantes da praia, à medida em que o núcleo urbano foi se formando e as propriedades valorizando. A partir de 1980 implantou-se um

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canteiro industrial na porção norte do Balneário Pontal do Sul, na área conhecida como Ponta do Poço, formado por três empresas construtoras de plataformas continentais para a exploração do petróleo (FEM, TECHINTE e TENENGE). Durante alguns anos o canteiro industrial atraiu trabalhadores de muitos estados, tendo atingido 3.000 operários no início daquela década. Posteriormente estas empresas deixaram de construir plataformas na região da Ponta do Poço, cujos funcionários foram transferidos para outros canteiros ou acabaram permanecendo em Pontal do Sul, sem novas opções de emprego. Em 1980 também foi implementado no Balneário Pontal do Sul o Centro de Biologia Marinha (CBM), atual Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná, com o objetivo de desenvolver pesquisas na área de oceanografia.

A partir de 1987 a população local começou a reivindicar a emancipação política das praias do município de Paranaguá para formar um novo município, chamado Pontal do Paraná. A criação do município ocorreu em outubro de 1996 após a aprovação na Assembléia Legislativa do Estado do Paraná e conseqüente eleição de prefeito e vereadores, tendo-se implantando a sede administrativa em Praia de Leste (Rocha 1997).

1.7 DIAGNÓSTICO SÍNTESE DOS ASPECTOS HISTÓRICOS DO MUNICÍPIO DE PONTAL DO PARANÁ

Embora a área do atual município de Pontal do Paraná seja conhecida e habitada desde a primeira metade do século XVI, não foram deixadas ruínas ou mesmo registros mais significativos dos povos que viveram nesta região e seus costumes, exceto os sambaquis do rio Guaraguaçu. Estes já são preservados pela legislação vigente e constituem uma importante área a ser explorada do ponto de vista turístico, pois poderia ser criado um pequeno Parque Municipal com uma infra-estrutura mínima de proteção ao que restou do sambaqui, e um pequeno museu. Neste museu poderiam ser retratados, através de posters ou qualquer outra forma de representação, os índios e as principais figuras históricas relevantes para o município nestes aspectos, o Museu de Arqueologia de Paranaguá, que pertence à Universidade Federal do Paraná, poderia vir a ser um importante parceiro para a sua idealização.

Costumes do “caiçara” ou “nativo”, como o fabrico de farinha de mandioca e seus utensílios, a pesca artesanal e suas tradições, a agricultura de subsistência, as casas simples de chão batido, teto de folhas de palmáceas e fogo no chão, hoje praticamente em extinção, devido à ocupação desordenada, devem ser incentivados através de programas e mantidos como uma tradição popular.

1.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-TERRITORIAL

2.1 LIMITES GEOGRÁFICOS

Neste item objetiva-se definir e caracterizar os limites do município de Pontal do Paraná.

Para isto foram utilizados os seguintes documentos:

1) Lei Estadual n.º 11252 de 20 de dezembro de 1995 que cria o município de Pontal do Paraná;

2) Lei Estadual n.º 5743 de 19 de março de 1968 que dá novas divisas ao município de Matinhos, criado pela Lei no. 5, de 21 de junho de 1967;

3) Cartas topográficas de Paranaguá (folha SG22-X-D-V-2) de 1971, da Diretoria do Serviço Geográfico do Ministério do Exército e de Pontal do Paraná (folha SG.22-X-D-VI-1) de 1992, do IBGE da Secretaria de Planejamento Orçamento e Coordenação da Presidência da República, ambas na escala de 1:50.000;

4) Fotografias aéreas verticais na escala de 1:60.000 de abril de 1996, executadas pela empresa Aerosul, e na escala de 1:8.000 de abril de 1997, do Serviço Social Autônomo Paranacidade, executadas pela empresa Esteio.

A Lei Estadual n.º 11252 de 20 de dezembro de 1995 que criou o município define divisas e delimitações do município como segue:

“Começa na ponte sobre o Rio Fortuna, na PR-407; seguindo pela PR-407 até alcançar a ponte sobre o Rio Guaraguaçu; pelo Rio Guaraguaçu abaixo até sua foz na Orla Marítima, confrontando com a Baía de Paranaguá; pela Orla Marítima confrontando com o Oceano Atlântico, até alcançar o Balneário de Monções na divisa intermunicipal com Matinhos; deste ponto, por uma linha reta e seca de divisa intermunicipal Paranaguá - Matinhos, até a foz do Rio Pai Antônio no Rio Guaraguaçu; subindo o Rio Guaraguaçu ainda divisando com o município, até alcançar o Rio Cambará acima até a ponte na estrada Municipal PA-304; pela estrada PA-304 até a ponte sobre o Rio das Pombas; pelo Rio das Pombas abaixo até encontrar o caminho de ligação PR-407; Rio das Pombas; pelo referido caminho até a ponte sobre o Rio Fortuna na PR-407, ponto inicial”

A partir destas definições podem ser reconhecidos os seguintes pontos (Figura 2.1, Mapa 1-Anexos):

(1) ponte sobre o Rio Fortuna na estrada PR-407;

(2) ponte sobre o Rio Guaraguaçu na estrada PR-407;

(3) foz do Rio Guaraguaçu na Baía de Paranaguá;

(4) ponto no Balneário Monções na divisa intermunicipal com Matinhos;

(5) foz do Rio Pai Antônio no Rio Guaraguaçu;

(6) foz do Rio Cambará no Rio Guaraguaçu;

(7) ponte sobre o Rio Cambará na estrada PA-304;

(8) ponte sobre o Rio das Pombas na estrada PA-304;

(9) cruzamento do Rio das Pombas com o caminho de ligação entre as estradas PA−304 e PR-407.

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Figura 2.1: Limites do município de Pontal do Paraná

A identificação destes pontos apresenta alguns problemas:

Ponto 01: Embora a ponte sobre o Rio Fortuna esteja indicada na carta topográfica de Paranaguá, ela não existe mais. Aproximadamente no local indicado na carta topográfica existe um pequeno banhado, que provavelmente corresponde ao Rio Fortuna. Deste modo, este ponto não pode ser identificado com precisão no terreno.

Ponto 04: Este ponto, que define um dos limites entre os municípios de Pontal do Paraná e Matinhos, não corresponde a um ponto geográfico. Segundo o decreto de criação do município de Pontal do Paraná, o limite vai pela orla marítima “até alcançar o Balneário de Monções na divisa intermunicipal com Matinhos”. Na Lei 5743 que define os limites do município de Matinhos também se fala de uma “linha reta, até alcançar a localidade denominada Praia de Monsões”(sic.). O ponto não está especificado, porém corresponderia ao limite sul da Praia das Monções.

Conforme a planta de loteamento da Praia das Monções, fornecida pela Prefeitura de Pontal do Paraná, este ponto estaria localizado no meio da quadra entre a Rua 1 da Praia das Monções e a Rua A do Balneário Gaivotas, situado ao sul, ficando os três lotes mais ao norte da quadra no município de Pontal do Paraná e os dois mais ao sul no município de Matinhos (Figura 2.2). Deste modo, o Ponto 04 estaria localizado no vértice sul do Lote 01, Quadra 01 do Balneário de Monções.

Na carta topográfica da orla do município de Pontal do Paraná, elaborada pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano, o limite está erroneamente indicado uma quadra mais ao norte do limite real do Balneário de Monções (Figura 2.3).

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Município de Matinhos Município de Pontal do Paraná

Figura 2.2: Detalhe da Quadra 01 do loteamento do Balneário de Monções do município de Pontal do Paraná e Quadra 2 do Loteamento Balneário Gaivotas do município de Matinhos. (P) Ponto 04; (L) Limite sul do loteamento Balneário de Monções, (À)Quadra; (1) Lote.

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Figura 2.3: Foto aérea do Balneário de Monções. 1) limite indicado na carta topográfica da orla do município de Pontal do Paraná elaborada pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano. 2) limite conforme planta do loteamento do Balneário de Monções.

Ponto 05: Segundo a carta topográfica de Paranaguá o Rio Pai Antônio é um afluente do Rio das Pombas e este deságua no Rio Guaraguaçu. Considerando o decreto, o Rio das Pombas seria um afluente do Rio Pai Antônio. Contudo, este problema de denominação não impede a identificação e localização do ponto que define o limite municipal (Figura 2.4). É importante salientar que este ponto está mal localizado na carta topográfica da orla elaborada pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano. Nesta carta foi confundida a foz do Rio Pai Antônio com a foz do Rio Pery (Figura 2.4).

Figura 2.4: Foto aérea da área das desembocaduras dos rios Pery (1) e Pai Antônio (2) no Rio Guaraguaçu. O ponto que define o limite intermunicipal é o da foz do Rio Pai Antônio (2).

A linha que define o limite do município entre os Pontos 04 e 05 tem uma orientação que não coincide com o limite do loteamento do Balneário de Monções (Figura 2.3). Assim, o limite atravessa os lotes do Balneário Gaivotas, localizado a sul (Figura 2.5).

Figura 2.5: Limite entre os pontos 04 e 05 conforme o Decreto.

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Esta situação parece não ser muito conveniente para definir um limite intermunicipal, pois alguns lotes pertenceriam a dois municípios. Assim, seria conveniente traçar um limite acompanhando os limites dos lotes.

A planta do loteamento, fornecida pela Prefeitura de Pontal do Paraná, possui 6 (seis) quadras contando do mar para o interior. A fotografia aérea de 1997 mostra que há ocupação intensa nas primeiras quatro quadras e mais dispersa nas últimas duas. Já no Balneário de Gaivotas o loteamento se estende por aproximadamente onze quadras, observando-se uma ocupação mais densa que no Balneário de Monções (Figura 2.5). A ocupação existente condiciona a definição do limite, existindo várias opções para o seu traçado. Porém, esta decisão, que envolve domínio sobre quadras e lotes, deveria ser tomada de comum acordo entre os municípios limítrofes.

O erro na localização dos ponto 04 e 05, e conseqüentemente do limite intermunicipal Pontal do Paraná - Matinhos, na carta topográfica da orla do município de Pontal do Paraná elaborada pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano, originou que uma extensa área pertencente ao município de Pontal do Paraná estivesse indicado na carta como pertencente ao município de Matinhos (Mapa 3 – Anexos).

Ponto 06: Segundo a carta topográfica de Paranaguá o Rio Cambará é um afluente do Rio Cachoeirinha e este deságua no Rio Guaraguaçu. Considerando o decreto o Rio Cambará desembocaria diretamente no Rio Guaraguaçu. Contudo, este problema de denominação, da mesma forma que no Ponto 05, não impede a sua identificação e localização

Ponto 09: Este ponto foi definido pelo decreto de criação do município de Pontal do Paraná da seguinte forma: “pelo Rio das Pombas abaixo até encontrar o caminho de ligação PR-407”. Este caminho está indicado na carta topográfica de Paranaguá, porém não é utilizado a muito tempo, estando tomado pela vegetação, não sendo possível identificá-lo nas fotografias aéreas. Segundo antigos moradores, ainda existem vestígios deste caminho, porém não é mais transitável. Deste modo, este ponto não pode ser identificado com precisão no terreno.

2.2 CLIMA

O clima da planície costeira, segundo a classificação de Köeppen, é subtropical úmido mesotérmico com verão quente (tipo Cfa) (IPARDES 1990). Conforme IPARDES (1990, 1991), a temperatura média estimada na planície litorânea está em torno de 22oC, nas latitudes mais setentrionais, e de 20,8oC nas mais meridionais.

A dinâmica dos ventos no litoral paranaense é definida, basicamente, pelo Anticiclone do Atlântico Sul e pelo Anticiclone Migratório Polar, na sua ação sobre o ramo Atlântico da Massa Polar (Bigarella et al. 1978). A estação meteorológica de Pontal do Sul fornece dados mais próximos do que acontece na orla litorânea, por estar localizada na costa. Os dados disponíveis revelam que os ventos predominantes possuem direções sudeste, leste e nordeste, com velocidades máxima de 24 m/s (S-SSW) e média de 4 m/s (CEM/UFPR/FÍSICA 1998).

As chuvas que caem no litoral são dos tipos ciclônico, orográfico e de convecção. A média anual está em torno de 1988 mm, sendo o verão a estação mais chuvosa (fevereiro) e o inverno, mais seco (julho e agosto) (CEM/UFPR/FÍSICA 1998). As altas precipitações provocam excedentes hídricos durante todo o ano, caracterizando a região como de tipo úmido e superúmido, segundo a classificação de Thornthwaite (IAPAR 1978).

2.3 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA

No clássico trabalho de Geografia Física do Estado do Paraná, Maack (1968) dividiu o Estado em cinco grandes "zonas de paisagem natural", ou "regiões geográficas naturais". No município de Pontal do Paraná apenas uma está presente: o Litoral. O Litoral foi subdividido por esse autor em duas subzonas: a das planícies litorâneas e a montanhosa litorânea. Essas mesmas subzonas tinham sido denominadas de "orla marinha" e "orla da serra" por Loureiro Fernandes (1947).

A Planície Litorânea, ou Planície Costeira, estende-se desde o sopé da Serra até o oceano. No Paraná, tem um comprimento de aproximadamente 90 km e uma largura máxima em torno de 55 km na região de Paranaguá (Figura 2.6). Apresenta-se profundamente recortada pelos complexos estuarinos das baías de Paranaguá, Laranjeiras, Pinheiros e Guaratuba, resultando em numerosas ilhas.

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Figura 2.6: Localização e principais unidades geomorfológicas da região litorânea do Paraná. (1) planaltos; (2) serras originadas por dissecação de borda de planalto; (3) serras originadas por erosão diferencial; (4) tálus, leques aluviais e planícies aluviais; (5) planície costeira.

Sua altura, em geral, é inferior a 20 m sobre o nível do mar, aumentando da costa para o continente, alcançando as maiores alturas no sopé da serra. Em diversos locais, ocorrem morros e colinas isolados na planície, com altitudes que podem alcançar centenas de metros.

O município de Pontal do Paraná insere-se na planície costeira de Paranaguá, uma planície arenosa, de construção marinha, delimitada ao norte pelo estuário de Paranaguá e a oeste e sul pela Serra do Mar. A planície apresenta um aspecto triangular, sendo mais larga ao norte, onde alcança 30 km de largura entre as localidades de Alexandra e Pontal do Sul.

O mapeamento geológico de superfície da planície costeira vem sendo revisado e detalhado desde o trabalho pioneiro de Bigarella em 1946. Cartas geológicas para a região foram publicadas por Bigarella & Doubek (1963), Rivereau et al. (1969), Martin et al. (1988) e Angulo (1992). O último mapeamento geológico (Angulo 1992) foi feito na escala 1:50.000 e divide a planície costeira nas seguintes unidades sedimentares: 1) Continental, subdividida em Formação Alexandra, leques aluviais, tálus, colúvios e sedimentos fluviais; 2) Costeira, subdividida planície costeira com cordões litorâneos, dunas frontais, depressões intercordões e praias e, 3) Estuarina, subdividida em planícies de maré, fundos rasos, deltas de maré e sedimentos paleoestuarinos.

A formação da planície costeira, bem como do complexo estuarino de Paranaguá, está profundamente vinculada à história das variações relativas do nível do mar durante, pelo menos, os último 120.000 anos. Trabalhos de investigação

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relativos a este tema foram efetuados por Bigarella (1946, 1971), Martin et al. (1988), Angulo (1992), Angulo & Suguio (1995), Araújo & Lessa (1996) e Angulo & Lessa (1997). A altitude dos dois últimos níveis marinhos máximos transgressivos, há 120000 e 5100 anos A.P., parecem ter alcançado cotas de + 8 m (± 2,0 m) e de + 3,5 m (± 0,5 m), respectivamente. É importante mencionar que a tendência regressiva contínua, do nível marinho nos últimos 5100 anos, é responsável pela formação dos terrenos que constituem o município de Pontal do Paraná. Isto significa que a maior parte dos terrenos da planície costeira que formam o município tem idade inferior a 5100 anos.

2.3.1 Geologia do Município de Pontal do Paraná

O mapeamento geológico do município de Pontal do Paraná foi realizado com base no mapeamento geológico de Angulo (1992), na escala de 1:50.000; na interpretação de fotografias aéreas na escala de 1:60.000 de 1996 (Mapa 2 - Anexos). O mapa geológico da orla litorânea do município de Pontal do Paraná foi realizado a partir de interpretação de fotografias aéreas na escala de 1:8.000 do ano de 1997, tendo como base o mapa topográfico na escala 1:10.000, elaborado pelo Projeto Paranacidade (Mapa 3 – Anexos).

Os terrenos que fazem parte do Município são constituídos por três tipos principais de unidades geológicas: 1) rochas do embasamento cristalino; 2) sedimentos continentais; 3) sedimentos marinhos. As unidades de mapeamento geológico são as seguintes:

1. Rochas do embasamento cristalino

No extremo oeste do município de Pontal do Paraná ocorrem os únicos afloramentos de rochas cristalinas do Município. Eles correspondem a um pequeno morro, a nordeste da Colônia Pereira, e a pequenas porções do sopé de dois morros, um ao sul do Rio das Pombas e outro ao norte do Rio Pai Antônio. Neste último morro existe, na porção correspondente ao município de Paranaguá, uma pedreira em atividade (Mapa 2 - Anexos).

Estes morros são constituídos por migmatitos do tipo epibolito de idade pré-Cambriana, atravessados por diques de diabásio de orientação noroeste, de idade Juro-Cretácea (Rivereau et al. 1969).

Estas rochas, dependendo de suas características mineralógicas estruturais e grau de intemperismo, tem diversas aplicações na construção.

2. Depósitos continentais

Leques Aluviais

No extremo oeste do município de Pontal do Paraná ocorrem as porções distais dos leques Colônia Pereira e Rio Cambará (Mapa 2 - Anexos).

De acordo com Angulo (1992), os sedimentos são caracterizados por cascalhos sustentados pela matriz com seixos e matacões de até vários metros de diâmetro e matriz areno-argilosa. A espessura dos sedimentos é variável, sendo que a maior espessura observada foi de 10 m. Em diversos perfis na parte distal dos leques, observam-se cascalhos sustentados pela matriz, correspondentes a fluxos de detritos, intercalados com cascalhos fluviais sustentados pelo seixos. Os sedimentos mais finos que compõem os leques são arcósios argilosos e lamas correspondentes a fluxos de lama, com sedimentos predominantemente muito mal selecionados e muito assimétricos. As principais fácies sedimentares encontradas podem ser atribuídas a fluxos densos de lama e detritos e a fluxos trativos fluviais.

No leque do Rio Cambará existem duas cavas abandonadas correspondentes a antigas áreas de exploração de areia (Mapa 2 - Anexos).

Planícies fluviais

As planícies fluviais que ocorrem no município de Pontal do Paraná correspondem a planícies de inundação de pequenos rios que cortam a planície de construção marinha, destacando-se a planície do Rio Perequê (Mapa 2 - Anexos). Trata-se de áreas inundáveis, compostas por sedimentos arenosos retrabalhados dos sedimentos das planície marinha e teores variáveis de matéria orgânica.

3. Depósitos marinhos

Planície costeira com cordões litorâneos

Esta unidade geológica é a de maior extensão no município de Pontal do Paraná.

Os sedimentos desta unidade são de textura arenosa homogênea, predominando areias finas e muito finas, bem e muito bem selecionadas (Bigarella et al. 1978, Tessler & Suguio 1987, Angulo 1992). Baseado em critérios topográficos e morfológicos, bem como em algumas datações radiocarbônicas, Angulo (1992) separou os cordões litorâneos em pleistocênicos, com idades em torno de 120.000 anos, e holocênicos, com idade inferior a 5100 anos. Os terraços de idade pleistocênica ocorrem na porção sudoeste do município na planície localizada a oeste do Rio Guaraguaçu.

Depósitos Paleoestuarinos

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Estes depósitos correspondem a áreas de antigos estuários, lagunas e manguezais, em épocas em que o mar era mais alto que o atual.

Os sedimentos paleoestuarinos apresentam predomínio de areias, ocorrendo também areias argilosas e siltosas e silte argilo-arenoso, sendo que os teores de silte e argila podem variar de 0 % a 70 % (Angulo 1992).

Planícies de maré

Segundo Reineck & Singh (1973), as planícies de maré (tidal-flats) se desenvolvem ao longo de costas de baixo declive, com marcado ciclo de marés, onde há suficiente sedimento disponível e não há forte ação das ondas. No Paraná, áreas com essas características têm uma extensão de aproximadamente 310 km2 (Angulo 1992). Em diversos trabalhos sobre o litoral paranaense, essas áreas são referidas como manguezais. Angulo (1990) propôs a utilização da denominação planície de maré, pois nela ocorrem diversos ecossistemas, sendo o manguezal apenas um deles.

No trabalho pioneiro sobre a planície litorânea, Bigarella (1946) identificou o manguezal como unidade geológica, chamando-o também de pantanal marinho. Esclarece que por manguezal se compreende o aspecto geográfico-geológico da formação em si, deixando clara a diferença entre a associação vegetal e o que se pode denominar de ambiente de sedimentação.

No Paraná, Angulo (1990) identificou sete ecossistemas diferentes que compõem a planície de maré: manguezal, marismas, bancos arenosos e areno-argilosos, manguezal com Acrostichum e Hibiscus, zona de Cladium, pântano de maré e brejo de maré. A maior extensão da planície é ocupada pelos manguezais. Entre eles e a baía, ocupando áreas menores, ocorrem os marismas com Spartina, e os bancos arenosos e areno-argilosos, sem vegetação.

Na parte superior da região entremarés, é freqüente a ocorrência de uma zona de vegetação dominada pelo gênero Cladium, chamada "zona de Cladium" (Angulo & Müller 1990). Esta zona tem freqüência de inundação menor do que a do manguezal, sendo inundada apenas pelas marés altas de sizígia e de tormenta.

Nas partes mais internas das baías, nos locais onde existe importante aporte fluvial, que impede ou dificulta a intrusão salina, os marismas e manguezais são substituídos por brejos e pântanos de maré. Subindo o Rio Guaraguaçu, a primeira mudança que se observa é a substituição da Spartina dos marismas por Crinum. Posteriormente, quando os manguezais desaparecem, podem ocorrer áreas com Scirpus, os denominados "brejos-de-maré". Quando os manguezais não estão presentes, os "brejos-de-maré" não se restringem à parte inferior da zona entre marés, avançando sobre a parte média.

No município de Pontal do Paraná os depósitos da planície de maré estão representados, principalmente pelos manguezais, que ocupam as áreas próximas aos rios Guaraguaçu, Maciel, Penedo e Perequê, ocorrendo também marismas, bancos arenosos e areno-argilosos, manguezal com Acrostichum e Hibiscus, zona de Cladium e brejo de maré.

Com relação à composição sedimentar, Bigarella (1946) informa que o manguezal se desenvolve em bancos areno-argilosos e que a vegetação favorece a acumulação de lodo. Fuck et al. (1969) e Silva et al. (1981) informam que nos manguezais ocorrem lamas e lodos argilosos ricos em matéria orgânica. Martin & Suguio (1986) se referem aos sedimentos dos manguezais como síltico-argilosos, muito ricos em matéria orgânica e Martin et al. (1988), como argiloso-arenosos ricos em matéria orgânica.

Lana & Guiss (1991) analisaram sedimentos de marisma e banco não-vegetados, na foz do Rio Boguaçu (Biguaçu), em Pontal do Sul. Todos são constituídos por areias finas, com um diâmetro médio de 2,86 φ.

Brejos Intercordões

Entre os cordões litorâneos da planície costeira, ocorrem depressões rasas, estreitas e alongadas, com largura inferior a 100 m e comprimento que pode atingir 13 km.

Nestas depressões, a drenagem é muito lenta e impedida, constituindo áreas alagadas tipo brejo, com vegetação característica de Cyperaceae, principalmente Cladium e Scirpus (Klein 1975). Associadas aos brejos, podem ocorrer pequenas lagoas e, às vezes, pequenos cursos fluviais (Foto 2.1).

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Foto 2.1: Vista de um brejo intercordão e lagoa associada no Balneário de Barrancos.

Em alguns locais, foram observados, em superfície, sedimentos arenosos semelhantes aos da área circundante, porém com abundantes restos vegetais e matéria orgânica.

Muitas destas depressões foram aterradas com fins de ocupação urbana.

Dunas Frontais

No Paraná, os sedimentos eólicos, apesar de não desenvolverem grandes feições morfológicas, ocorriam sob diversas formas ao longo de praticamente toda a costa oceânica, originando feições rigorosamente paralelas à linha de costa, as quais, às vezes, podiam ser seguidas por mais de 15 km (Foto 2.2).

Foto 2.2: Vista aérea das dunas frontais no Balneário de Barrancos. Note-se a esquerda da fotografia o brejo intercordões e lagoa associada.

A largura dos cordões normalmente varia entre 20 m e 80 m, podendo alcançar mais de 250 m. Neste caso, geralmente trata-se da coalescência de dois ou mais cordões. Os cordões mais desenvolvidos ocorrem na parte sul do litoral paranaense, principalmente entre Matinhos e Pontal do Sul e na Ilha do Mel.

A altura raramente ultrapassa 6 m sobre o nível da planície, sendo mais freqüentes alturas de 3 m a 5 m.

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A morfologia dos cordões é variada. Muitas de suas feições podem ser apenas observadas em fotografias aéreas antigas, pois o processo de urbanização já as destruiu. No litoral sul, onde eram mais desenvolvidos, os cordões foram preservados em apenas alguns locais.

Tanto nas fotografias aéreas dos anos de 1952 a 1955, como nas áreas preservadas, são visíveis de um a três cordões bem desenvolvidos e um número variável de cordões embrionários ou incipientes.

Entre Praia de Leste e Pontal do Sul, nos locais onde foram preservados, observa-se um cordão interno maior, com uma altura de 3 m a 6 m sobre o nível da planície. A largura média está em torno de 80 m. No sentido longitudinal do cordão é retilíneo, ou com suaves curvas, e apresenta uma sucessão de cristas e depressões; ocorrem concavidades voltadas para barlavento. Esse cordão foi referido como "cordão mais antigo" por Bigarella et al. (1969b). A cobertura vegetal é densa, constituída por árvores de porte médio e arbustos. Bigarella et al. (1969b) se referem, entre as árvores que compõem a vegetação, aos gêneros Pisidium, Pithicolobium, Dodoneas e Erythrexylon.

O cordão seguinte em direção ao mar é mais baixo que o anterior, com altura predominante de 3 m a 4 m. No sentido longitudinal a forma do cordão é mais sinuosa, apresentando freqüentes concavidades voltadas para barlavento e, em vários locais, está interrompido. A vegetação é menos desenvolvida e densa que no cordão anterior, distribuindo-se de forma descontínua. Na face de sotavento, ocorrem pequenas árvores e arbustos formando uma cobertura contínua. Na face de barlavento, ao contrário, existem áreas com vegetação arbustiva e herbácea rala e até ausente.

Nas fotografias aéreas, observam-se feições morfológicas que sugerem que, em alguns setores, o cordão tem migrado dezenas de metros. O cordão original retilíneo teria migrado pelo processo de deflação-acumulação das areias do próprio cordão, configurando um cordão com uma série de arcos e até desfazendo-se em dunas parabólicas e pequenas dunas longitudinais.

A morfologia desse cordão permite, em alguns locais, inferir a direção do vento mais efetivo. Na área próxima ao Jardim São Pedro, a partir das fotografias aéreas, foram determinadas direções cuja média indicou uma direção S10oE, que tem grande semelhança com a direção dos ventos mais fortes que ocorrem na área.

Os cordões dunares incipientes e embrionários são menores que os desenvolvidos, porém podem apresentar comprimento semelhante. A altura geralmente não ultrapassa 2 m e a largura oscila entre 2 m e 50 m (Foto 2.3). Em alguns setores, foram identificados até seis cordões incipientes contíguos à linha de costa.

Foto 2.3: Cordão de dunas frontais incipientes no Balneário Olho d’Água

A vegetação das dunas embrionárias é escassa, sendo constituída principalmente por Sporobolus. Bigarella et al. (1969b) mencionam também Gnaphalium e arbustos, tais como Verbena, Dodonaea e Psidium, que cresceriam a sotavento, no pé da duna.

Esses cordões podem apresentar uma morfologia bastante diversa. Alguns são constituídos por pequenas dunas linguóides coalescentes de menos de um metro de altura. Outros são compostos por pequenas dunas dômicas, geralmente de altura inferior a 1 m e 10 m a 30 m de diâmetro.

Na costa do Paraná, foi observado que as ondas de tempestade, ao erodir a praia, freqüentemente erodem também o cordão dunar incipiente (Figura 2.4). Quando a erosão é parcial, resulta num cordão com uma face mais íngreme

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voltada para o mar. A progradação da costa tem preservado, em alguns locais, vários destes cordões incipientes. Nas fotografias aéreas antigas, é possível observar a ocorrência freqüente desses pequenos cordões na área mais próxima à praia.

Foto 2.4: Cordão dunar incipiente parcialmente erodido por ondas de tempestade no Balneário Olho d’Água

Outra feição dunar incipiente é constituída por um cordão de perfil transversal suavemente convexo e largura de até 50 m. Esta feição, visível nas fotografias antigas, corresponde ao cordão praial-dunar (beach ridge dune ou beach-dune ridge de Bigarella et al. (1969b, 1970/71, 1978), e Bigarella (1972). Segundo Bigarella et al. (1969b), o cordão pode estar separado da praia por uma escarpa, ou pode não haver separação nítida, existindo uma área de transição caracterizada por vegetação escassa da associação Ipomea.

Na faixa costeira próxima ao Jardim São Pedro, foram observados cordões dunares retilíneos de 2 m a 3 m de altura, que constituem formas transicionais entre os cordões incipientes e os desenvolvidos.

A maioria das dunas foram destruídas com fins de ocupação urbana, restando alguma ocorrências nos balneários de Pontal do Sul, Barrancos, Olho d’ Água e Guarapari e ao longo da orla entre a linha de costa e a Avenida Atlântica

Praias

As praias do Paraná se estendem ao longo de todo o litoral de mar aberto por cerca de 90 km, desde a Barra do Ararapira, ao norte, até a Barra do Saí, ao sul. As praias do município de Pontal do Paraná se estendem desde o Canal do DNOS, na desembocadura da Baía de Paranaguá, até o Balneário de Monções, limite sul do município. A costa inicia com orientação noroeste – sudeste, nas proximidades do canal do DNOS, mudando progressivamente para norte - sul, nordeste - sudoeste até quase leste - oeste, em Pontal do Sul. Em direção ao sul vai mudando até uma orientação nordeste - sudoeste (Mapas 2 e 3 - Anexos).

As praias paranaenses foram estudadas detalhadamente por Bigarella et al. (1966, 1969a, 1970/71). Nesses trabalhos, foram estudadas apenas as praias do litoral sul, entre Caiobá e Pontal do Sul, destacando-se os estudos granulométricos e sobre estruturas sedimentares.

As praias neste setor estão constituídas principalmente por areias finas e médias, bem selecionadas e com assimetria predominantemente negativa. Bigarella et al. (1969a) verificaram que, entre Matinhos e Pontal do Sul, ocorria um ligeiro aumento do diâmetro médio, no sentido norte, até Praia de Leste e uma diminuição até Pontal do Sul.

Deltas de Maré

Associadas às desembocaduras dos complexos estuarinos do litoral do Estado do Paraná ocorrem feições deposicionais arenosas, resultantes da interação de processos marinhos e estuarinos, que têm sido referidas genericamente como baixios e bancos (Bigarella 1946, Bigarella et al. 1957, Bigarella & Doubeck 1963, Rivereau et al. 1968, Martin et al. 1988). Angulo (1992, 1995, 1999) abordou estas feições como sistemas deposicionais correspondentes a deltas de maré.

Nas desembocaduras podem ocorrer dois tipos de delta: um em direção ao mar, denominado delta de maré vazante (ebb-tidal delta), e outro no interior do estuário ou laguna, denominado delta de maré enchente (flood-tidal delta).

Angulo (1999) identificou feições deposicionais associadas às desembocaduras dos complexos estuarinos do Mar do Ararapira, Baía de Paranaguá, Canal do Superagüi e Baía de Guaratuba.

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Segundo Angulo (1999) as feições associadas à desembocadura Sul da Baía de Paranaguá, localizada entre Pontal do Sul e a Ilha do Mel, constituem o maior delta de maré do litoral paranaense. Neste delta é possível identificar, o lobo terminal, barras de espraiamento, canal de enchente marginal, canal de vazante principal e barra linear de margem de canal (Figura 2.7 e Foto 2.5). Também estão presentes os esporões que avançam em direção ao interior da baía.

Figura 2.7: Modelos de deltas de maré na desembocadura Sul da Baía de Paranaguá. Delta de vazante (1) barras de espraiamento e barras submersas; (2) barra de margem de canal; (3) lobo terminal; (4) canal de vazante principal; (5) canal de enchente marginal. Delta de enchente: (6) rampa de enchente; (7) esporão de vazante; (8) direção preferencial inferida de migração de ondas de areia. (9) direção inferida de deriva litorânea predominante (Angulo 1999).

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Foto 2.5: Vista aérea de parte do delta de maré vazante da desembocadura sul da Baía de Paranaguá próximo a Pontal do Sul. As áreas de arrebentação das ondas indicam a ocorrência de barras que fazem parte do delta.

Embora esta unidade não faça parte do município de Pontal do Paraná, por tratar-se de uma área submersa localizada no mar, apresenta dinâmica que influencia fortemente a dinâmica das praias e da planície costeira do município, principalmente a parte localizada entre Ponta do Poço e o Balneário Barrancos.

2.3.1.1 Outras Unidades do mapa da orla

O mapa geológico da orla, devido a sua escala mais detalhada (1:8.000) permitiu a inclusão, subdivisão ou melhor caracterização de algumas unidades.

Planície – arenosa (sand flat)

Entre Pontal do Poço e o Canal de DNOS, numa posição próxima da maré baixa foram identificadas planícies – arenosas (sand flats), que são equivalentes às planícies de maré, porém compostas quase que exclusivamente por areia fina. No mapa do município na escala de 1:50.000 estas planícies estão incluídas na unidade deltas de maré (Foto 2.6).

Foto 2.6: Vista aérea da planície arenosa (sand flat) entre Pontal do Sul e Ponta do Poço.

Praia e Barra

No mapa geológico da orla, a unidade praia corresponde à face praial e a pós-praia, isto é, a parte da praia compreendida entre a máxima ação das ondas de tempestade e o limite aproximado de maré baixa. Em direção ao mar, a partir da face praial podem ocorrer barras arenosas que foram incluídas em uma unidade de mapeamento.

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Complexo duna - brejo intercordões

Na orla costeira, compreendida entre a linha de costa e a Avenida Atlântica, verificou-se a existência de cordões litorâneos, constituídos por sedimentos praiais com sobreposição de sedimentos eólicos que constituem dunas frontais incipientes, associados a pequenos brejos intercordões. Esta associação foi caracterizada no mapa da orla como unidade complexo duna - brejo intercordões (Foto 2.7)

Foto 2.7: Vistas aéreas do complexo duna – brejo intercordões nas proximidades de Pontal do Sul (A) e no Balneário Barrancos (B).

Cavas e Lagoas Artificiais

No mapeamento também foram identificadas cavas originadas pela extração de areia e cavas abandonadas que se transformaram em pequenas lagoas artificiais.

2.4 HIDROGRAFIA

A região litorânea do Paraná abrange principalmente duas bacias hidrográficas: a de Paranaguá, com aproximadamente 3.882 km2 de extensão, e a de Guaratuba, com uma área em torno de 1.886 km2. Essas bacias podem ser divididas em diferentes sub-bacias. Um dos principais rios que compõem a bacia da baía de Paranaguá é o Guaraguaçu.

Os principais rios que compõem as bacias litorâneas possuem um curso superior, localizado na área serrana, com fortes declives, vales fortemente encaixados e um padrão de canal retilíneo. O curso inferior, localizado nas planícies, possui geralmente um amplo vale de fundo plano e um padrão de canal meandrante influenciado pelas marés.

O principal rio do município de Pontal do Paraná é o Rio Guaraguaçu, que têm suas nascentes na Serra da Prata e sua foz no Canal da Cotinga na Baía de Paranaguá. O seu curso inferior é influenciado pelas marés. Os principais afluentes deste rio encontram-se na sua margem esquerda, sendo os principais rios o Pequeno, São Joãozinho, Vermelho, das Pombas, da Colônia Pereira, Branco, Pai Antônio, Cambará. Na margem direita o Rio Peri ou Pery.

Outros rios do município são o Maciel, Biguaçu, Penedo, Perequê, Barrancos, Balneário ou Olho D'água e Preto. O Rio Maciel pode ser considerado como um canal de maré. Os pequenos rios que drenam a planície costeira são alimentados principalmente por águas do lençol freático, sendo muito difícil delimitar suas bacias hidrográficas. Completam a hidrografia atual do município de Pontal do Paraná diversos canais artificiais escavados pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) com fins de drenagem e navegação. Estes canais alteraram a configuração de diversos rios notadamente o Perequê, o Peri e o Pai Antônio.

2.5 ÁGUAS SUPERFICIAIS

A bacia hidrográfica do rio Guaraguaçu, com 635,51 km2 é composta pelos rios Jacareí, Miranda, Forquilha, do Salto, das Pombas, da Colônia Pereira, Cambará e alguns outros menores. O Rio Jacareí e Rio da Colônia Pereira tem nascentes na Serra da Prata a mais de 800 m de altitude. Visto isso, a bacia do Guaraguaçu está nitidamente dividida em dois grandes compartimentos, que são as áreas dominadas pela Serra do Mar, de relevo bastante acidentado e as áreas arenosas da planície litorânea. Os rios do compartimento serrano da bacia em questão possuem padrão de drenagem retangular dendrítico e dendrítico subparalelo com alta densidade de drenagem, contrastando com a baixa densidade da porção inferior da bacia.

O Rio Guaraguaçu não possui qualquer série de dados de vazão confiáveis, devido à influência das marés em quase todo seu curso. No entanto, sua bacia hidrográfica de pequeno porte não permite grandes vazões.

Os dados disponíveis sobre a qualidade de água dos mananciais locais são poucos e obtidos de maneira não sistemática.

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As águas superficiais foram monitoradas quantitativa e qualitativamente no Rio Guaraguaçu, a montante do Rio das Pombas, pela Superintendência de Recursos Hídricos e Meio Ambiente - SUREHMA, entre março de 1984 e maio de 1986 (SUREHMA 1987). Neste monitoramento, foi levantado um número restrito de parâmetros, importantes para a definição de um Índice de Qualidade de Água (I.Q.A.) médio (Tabela 2.1).

Os parâmetros levantados para composição do IQA são: Temperatura da água; Oxigênio dissolvido (O.D.) Demanda Bioquímica de Oxigênio (D.B.O.); Coliformes fecais; Nitrogênio total; Fósforo total; Resíduo total; Turbidez; Potencial Hidrogeniônico (pH).

Os levantamentos sistemáticos mencionados não contemplam a análise de íons e outros compostos importantes presentes majoritariamente nas águas naturais. Com base em outras análises constantes dos arquivos do Instituto Ambiental do Paraná (I.A.P.), realizadas pela então SUREHMA, para a Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR), se pode ter uma boa idéia do quimismo das águas daquele rio, a despeito daquelas análises não haverem sido, ainda, devidamente consistidas (Tabela 2.2).

Tabela 2.1: Resultados dos Parâmetros e Indicadores de Qualidade das Águas do Rio Guaraguaçu (SUREHMA 1987).

1984 1985 1986 MÉDIA MÉDIA MÉDIA

PARÂMETRO

MÁX. MÍN. MÁX. MÍN. MÁX. MÍN. Temperatura ºC 20,8 20,4 20,0

4,75 5,64 6,09 Oxigênio Dissolvido mg/l 6,08 4,00 7,80 3,72 7,84 4,42

1391 598 536 Coliforme Fecal N.M.P/100ml 7000 460 3300 130 1100 280

6,4 6,5 7,0 pH 6,7 6,0 7,4 5,9 7,4 6,4

1,00 2,10 2,40 Demanda Bioquímica do Oxigênio mg/l 2,00 1,00 6,00 1,00 5,00 1,00

0,74 0,70 1,15 Nitrogênio Total mg/l 1,00 0,42 0,96 0,42 2,03 0,52

0,03 0,02 0,03 Fósforo Total mg/l 0,04 0,01 0,04 0,01 0,06 0,01

6,3 4 6,4 Turbidez JTU 10 3,5 6,8 2,7 14 2,5

89 79 78 Sólidos Totais mg/l 113 62 103 38 112 40

N.º de amostras 04 05 04 I.Q.A. 67 72 73

Tabela 2.2: Análises de águas coletadas no Rio Guaraguaçu em estação de medições e coletas a montante do Rio das Pombas, realizadas pelo laboratório da SUREHMA, por interesse da SANEPAR no ano de 1978. Os dados referentes às espécies dissolvidas estão apresentados em mg/l, e não sofreram análise de consistência.

Data Local PH HCO3- CO2 Cl- SO4

2- NO3- SiO2 Fe Ca2+ Mg2+ Na+ K+

310878 6,40 23,18 14,63 17,50 4,10 0,31 7,00 1,08 7,84 2,28 9,70 1,70

310878 6,30 28,06 22,31 14,00 5,40 0,42 7,00 0,83 6,96 2,74 10,20 1,60

310878 6,20 23,18 23,37 16,00 5,50 0,58 7,00 0,94 6,00 1,72 10,50 1,60

210978 6,05 18,52 31,20 15,00 3,10 0,31 10,00 1,45 8,16 1,36 9,20 1,69

210978 ponto2 5,85 14,64 37,08 14,00 3,40 0,27 14,00 1,16 3,80 1,92 8,09 1,69

210978 ponto1 5,95 15,86 31,85 14,00 3,80 0,27 14,00 1,13 3,28 1,89 8,09 1,53

210978 ponto2 6,10 24,40 30,80 16,00 3,80 0,35 14,00 1,37 8,80 3,01 9,07 1,53

210978 ponto1 5,90 18,30 36,75 13,50 3,10 0,22 12,00 0,32 5,12 1,16 7,90 1,48

210978 ponto1 5,75 15,85 50,57 14,00 4,10 0,35 10,00 0,89 7,04 0,38 8,19 1,53

210978 ponto2 6,50 14,64 7,32 15,00 2,40 0,22 12,00 1,18 6,56 1,16 8,28 1,53

210978 ponto2 6,10 19,52 24,64 14,50 2,70 0,13 14,00 1,17 7,04 1,07 8,57 1,84

290978 ponto1 6,25 15,86 15,99 19,00 3,00 0,40 12,00 1,00 4,92 1,96 12,00 1,30

280978 ponto2 6,30 20,74 16,49 15,00 1,90 0,44 12,00 1,48 5,20 1,58 11,20 1,60

280978 ponto2 6,30 14,64 11,64 19,00 2,40 0,35 14,00 1,08 5,04 1,77 12,00 1,40

280978 ponto3 6,35 18,30 14,55 17,50 2,50 0,31 8,00 1,56 5,40 1,96 11,00 1,20

280978 ponto3 6,85 18,30 4,65 17,50 2,00 0,53 16,00 1,34 5,64 1,75 11,20 1,30

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280978 ponto4 6,55 20,74 10,37 17,50 1,50 0,40 12,00 1,50 6,08 1,24 11,20 1,30

280978 ponto4 6,85 21,96 5,58 17,50 2,30 0,35 12,00 1,39 5,92 1,53 11,00 1,30

51078 ponto1 6,35 17,08 13,58 25,00 3,20 0,31 12,00 1,17 6,76 2,11 14,00 1,50

51078 ponto1 6,35 19,52 15,52 25,00 3,00 0,35 14,00 1,21 6,00 1,94 15,00 1,60

51078 ponto2 6,35 18,30 14,55 18,00 2,70 0,27 10,00 1,34 6,16 1,33 10,90 1,30

121078 ponto2 7,00 18,30 2,91 17,50 2,30 0,27 10,00 1,35 6,12 1,02 10,50 1,20

121078 ponto2 6,65 21,96 8,82 17,00 2,50 0,22 12,00 1,24 5,80 1,26 10,80 1,20

121078 ponto1 6,60 19,52 7,84 19,00 3,40 0,27 12,00 1,22 5,76 1,36 12,00 1,10

Com base nas análises supra-referidas, levadas a cabo entre os meses de agosto e outubro do ano de 1978, anotou-se os seguintes valores para as espécies dissolvidas no Rio Guaraguaçu: pH entre 5,75 e 7,0; HCO3

- mg/l; Cl entre 13,5 e 25 mg/l: SO4

2- entre 1,5 e 5,5 mg/l; NO3- entre 0,13 e 0,58 mg/l; SiO2 entre 7,0 e 14 mg/l; Ferro total entre 0,32 e

1,56 mg/l; Ca2+ entre 8,8 e 3,28 mg/l; Mg2+ entre 0,38 e 3,01 mg/l; Na+ entre 14 e 7,9 mg/l; K+ entre 1,84 e 1,1 mg/l.

Percebe-se nitidamente a influência de águas salobras no Guaraguaçu em seu ponto de amostragem já no baixo curso, em plena planície costeira.

Aquisição das características químicas das águas

O quimismo das águas da região é estabelecido pelo intemperismo das rochas do embasamento cristalino que contribui com a maior parte do cálcio, magnésio, sódio e potássio em uma proporção semelhante àquela encontrada nas águas de rios da região em pontos, antes de atingirem os sedimentos arenosos quaternários da planície litorânea. Estes elementos tem seus teores grandemente controlados por reações de trocas de base com o complexo adsorvente mineral dos solos e aqüíferos e também com adsorventes orgânicos no caso de formações superficiais e subsuperficiais com muito material turfoso.

O sódio, nas águas da planície litorânea, toma valores mais elevados tendendo à água do mar nas proximidades do oceano, tanto por intrusões de águas salinas nos aqüíferos, como nos próprios rios ou por aporte de sais cíclicos veiculados eolicamente. Este é o mesmo caso do cloro e do sulfato em menor proporção. É importante notar que mesmo em regiões afastadas dos oceanos se pode creditar parte do cloro a aportes como NaCl movimentado sob a forma de aerossol oceânico, uma vez que o teor de cloro em rochas magmáticas, metamórficas e a maioria das sedimentares geralmente é muito baixo.

A sílica tem origem sobretudo no equilíbrio das soluções com aluminossilicatos hidratados e sua origem é sobretudo continental, uma vez que nos oceanos seu teor é muito baixo por ação de mecanismos reguladores orgânicos e também inorgânicos.

O nitrato, presente em pequena proporção no Rio Guaraguaçu, tem sua origem no ciclo natural do nitrogênio envolvendo a ação bacteriana dos solos. Formações turfosas podem contribuir com teores importantes de nitratos. No caso de captações subterrâneas e em rios de áreas urbanizadas sua origem pode estar relacionada a efluentes orgânicos. Poluições de atividades agrícolas, por fertilizantes e atividades pecuárias por efluentes contendo dejetos animais, são importantes fontes de contaminação de corpos d’água.

2.6 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

Os aqüíferos da região litorânea, reconhecidos e atualmente em aproveitamento, estão localizados genericamente em três unidades estratigráficas: sedimentos costeiros e continentais do Quaternário, sedimentos da Formação Alexandra do Mioceno, e rochas ígneas e metamórficas do Embasamento Cristalino Pré-Cambriano.

Existe uma limitação tradicional, inerente à exploração de aqüíferos próximos a grandes corpos de água salgada. Refere-se ao ingresso de água salobra em aqüíferos de água doce, que pode ocorrer em conformidade à redução da vazão de descarga subterrânea no mar, através do bombeamento executado pelos poços tubulares, na orla marítima. Este avanço de águas subterrâneas salgadas em direção ao continente é denominado “cunha salina”.

Na área de estudo, observam-se situações variadas, existindo tanto aqüíferos com água doce, potável, como de água enriquecida em sais marinhos.

Atualmente, os aqüíferos que reúnem os melhores parâmetros para exploração de água subterrânea são aqueles situados em sedimentos costeiros do Quaternário. Envolvem menor metragem de perfuração resultando em menor custo de perfuração, possuem elevados valores de capacidade específica e apresentam boa distribuição espacial. No entanto, estes aqüíferos são os mais susceptíveis às transformações por contaminação, tanto industrial como pela salinização de suas águas.

Segundo FUNPAR (1997) os aqüíferos em sedimentos costeiros do Quaternário alcançam as seguintes médias:

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profundidade = 28 m.

vazão = 7,5 m3/h.

profundidade média do lençol freático = 3,21 m.

Teoricamente as zonas de recarga dos aqüíferos da região, por serem aqüíferos livres, recebem recarga direta de água da chuva ou dos cursos de drenagem superficial, com descarga direta no oceano.

Vulnerabilidade dos corpos d’água

Em boa parte da planície litorânea, mesmo os corpos d’água subterrâneos, são extremamente vulneráveis a contaminações.

Os rios alagados e outros corpos de manifestação direta na superfície, pela grande permeabilidade e transmissividade das formações superficiais respondem muito rapidamente a contaminantes acessados por águas de infiltração e incorporados pelos aqüíferos do pacote sedimentar da planície litorânea. Apesar de não existirem medições, pode ser esperada a presença de coliformes fecais, nitritos e nitratos, nas águas dos aqüíferos livres.

Ainda com respeito à vulnerabilidade de corpos d’água, há que se considerar que, pela grande proximidade do oceano, qualquer captação importante de água subterrânea induz a um alto risco de alteração na interface água doce/água salgada com conseqüente salinização de aqüíferos atualmente não afetado por teores elevados de sais. Também pode ser esperada a presença de sulfitos e sulfetos, devido à proximidade com as águas marinhas.

2.7 DINÂMICA COSTEIRA

2.7.1 Estabilidade da linha de costa

Com base nos trabalhos sobre classificação de costas apresentados por Angulo (1993b) e Angulo & Araújo (1996), e no trabalho de síntese sobre a dinâmica costeira no Litoral do Paraná de Angulo & Souza (1998), a costa do município de Pontal do Paraná pode ser separada em três tipos principais de costa: oceânica, estuarina e de desembocadura (Figura 2.8):

1) Costa oceânica, desde o limite sul do município, no Balneário de Monções até o Balneário Barrancos;

2) Costa com influência da desembocadura Sul da Baía de Paranaguá, entre o Balneário Barrancos e Ponta do Poço;

3) Costa estuarina de Ponta do Poço até a desembocadura do Rio Guaraguaçu, incluindo as margens com influência das marés dos rios Biguaçu, Maciel e Guaraguaçu (Mapa 3 - Anexos).

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Figura 2.8: Classificação da costa do município de Pontal do Paraná com base em características geomorfológicas e dinâmicas (Modificado de Angulo & Araújo 1996).

A costa oceânica apresenta uma planície costeira com cordões litorâneos paralelos entre si e a costa atual, evidenciando permanência da morfologia e orientação da costa ao longo das últimos séculos e talvez nos últimos dois milênios.

Estas características evidenciam costas cuja configuração permaneceu estável, apenas com variações sazonais, enquanto permaneceram ou foram mantidas as condições naturais. As dunas frontais, à retaguarda das praias, funcionam como um estoque de areia. Elas podem ser parcialmente erodidas pelas ondas de tempestade (Foto 2.4) e recompostas em período de ondas de bom tempo, mantendo-se assim o equilíbrio dinâmico da linha de costa.

As costas estuarinas apresentam graus diferenciais de estabilidade dependendo do tipo de costa considerado. As costas sedimentares, em contato com planícies de maré e praias, podem ser consideradas estáveis, pois não foram identificadas mudanças significativas nas últimas décadas. Por outro lado, quando a costa sedimentar está em contato direto com o corpo aquoso, desenvolvem-se terraços com tendência erosiva (Foto 2.8). Este tipo de costa ocorre geralmente em margens côncavas de estuários e canais de maré. A velocidade de recuo da linha de costa depende da energia das correntes de maré e da resistência dos sedimentos que formam os terraços arenosos. Os sedimentos com enriquecimento epigenético de matéria orgânica são, no geral, mais resistentes à erosão, diminuindo consideravelmente a velocidade de recuo da linha de costa. No Paraná, neste tipo de costa, o recuo foi em média inferior a 10 m nas últimas quatro décadas.

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Foto 2.8: Terraço com tendência erosiva no Rio Maciel. Costa estuarina sedimentar em contato direto com o corpo aquoso.

Segundo a classificação de Angulo (1993b) as costas influenciadas pelas desembocaduras, são as mais instáveis que os outros tipos. No município de Pontal do Paraná este tipo ocorre na área próxima à desembocadura Sul da Baía de Paranaguá entre Ponta do Poço e o Balneário Barrancos (Figura 2.8).

A instabilidade destas costas está relacionada a variações de feições submersas e semi-submersas, interpretadas por Angulo (1995, 1999) como deltas de maré. Segundo Angulo (1993c, 1995, 1999) estes deltas apresentam variações significativas de sua configuração em curtos períodos de tempo, que provocam importantes mudanças nas áreas costeiras próximas, tais como intensos processos de erosão e sedimentação e avanços ou recuos da linha de costa de centenas de metros em poucos anos. Para Angulo (1993a, 1999) a modificação dos deltas afeta, entre outros aspectos, a ocupação urbana da orla costeira e a qualidade das praias, além dos canais de navegação, tais como o Canal da Galheta, que dá acesso ao Porto de Paranaguá.

Segundo este autor pequenas variações na configuração destes deltas, originadas pela dinâmica própria do sistema, tais como deslocamento de barras e grandes formas de leito, provocam mudanças significativas na linha de costa. Estas variações são, portanto, associadas à dinâmica natural das desembocaduras, o que não impede que interferências antrópicas possam também exercer influência.

As variações da linha de costa podem ser cíclicas, alternando-se processos erosivos e de sedimentação, ou podem apresentar tendência definida de erosão ou sedimentação. Nas praias próximas à desembocadura Sul da Baía de Paranaguá, embora possam ser detectados processos com predominância erosiva ou de sedimentação nos últimos quarenta anos, não há evidências geomorfológicas de que estes processos sejam de tendência unidirecional. Ao contrário, o que se verifica em muitos casos são ciclos de erosão - sedimentação, com fases mais ou menos intensas.

2.7.2 Problemas decorrentes da dinâmica costeira

Angulo (1993a, 1996) fez um breve histórico dos problemas da ocupação da orla litorânea paranaense em relação à dinâmica costeira, e concluiu que a ocupação da orla litorânea não foi acompanhada de preocupação com o estudo da estabilidade da costa, nem com a manutenção do equilíbrio da dinâmica litorânea. Ao contrário, a ocupação teria se caracterizado pela construção de residências o mais próximo possível ao mar. Posteriormente, com o adensamento da ocupação são realizadas obras de infra-estrutura, principalmente avenidas beira-mar, que avançam ainda mais sobre a linha de costa. Verifica-se que os desequilíbrios provocados na dinâmica litorânea freqüentemente ameaçam as edificações e provocam erosão das praias. Por outro lado, nas áreas recentemente emersas, rapidamente se instalaram novos loteamentos, caracterizando uma ocupação de alto risco. As modificações naturais e antrópicas da linha de costa são noticiadas apenas quando a erosão provoca danos sobre propriedades e infra-estrutura, ou demanda obras de controle. As novas áreas emersas, originadas por sedimentação, são imediatamente apropriadas e ocupadas. A identificação e classificação da costa em relação à sua estabilidade é um importante instrumento de planejamento que permite estabelecer distâncias mínimas, em relação a linha de costa, para a construção em cada setor do litoral.

No município de Pontal do Paraná verificaram-se diversas situações referentes a problemas de ocupação e riscos de erosão pela ação marinha dependendo do tipo de costa considerado.

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Nas costas oceânicas, localizadas entre o Balneário Barrancos até o limite sul do município, no Balneário de Monções, não foram observadas variações significativas nas últimas décadas. Angulo & Soares (1994) comparando os resultados de levantamentos de perfis planialtimétricos realizados no Balneário San Marino, nos anos de 1981 e 1993, verificaram deposição, a qual associaram a mudanças de curto período, provocadas por variações meteorológicas (Figura 2.9).

Figura 2.9: Perfil no balneário San Marino. (1) aterro; (2) escavação; (3) sedimentação; (4) calçada; (5) praia em 23/04/93; (6) praia em 13/02/81 (Angulo & Soares 1994).

Porém, cabe salientar que estas costas apresentam variações sazonais cíclicas de erosão e sedimentação que podem provocar avanços e recuos da linha de costa de vários metros. Ademais, podem ser afetadas por variações cíclicas de períodos mais longo, como os provocados por fenômenos tipo El Niño e La Niña. Estas variações são ainda mal compreendidas, faltando dados geológicos e oceanográficos, bem como programas de monitoramento que permitissem conhecer, quantificar e até prever as mudanças que podem ocorrer em cada tipo de costa.

Neste setor da costa foram verificadas várias situações de construções muito próximas da linha de costa, que muito provavelmente provocarão ou já provocaram problemas de erosão da costa e da praia (Mapa 3 - Anexos). Existem construções na faixa costeira entre a linha de costa e a Avenida Atlântica nos balneários de Shangri-Lá, Carmery, Olho d’Água, Grajaú, Leblon, Ipanema, Miame, Majoraine, São José, Irapoan, São Carlos, Mirassol, Miramar, Las Vegas, Guarujá, Praia de Leste e Santa Mônica (Mapa 3 - Anexos).

Nas costas com influência das desembocaduras, no trecho entre Ponta do Poço e Pontal do Sul, Angulo (1993b) comparando fotografias aéreas de 1954 e 1980, verificou recuo da linha de costa de mais de 150 m. Segundo este autor, este recuo foi ocasionado pela construção do Canal do DNOS, na década de 50, cujo efeito hidráulico interceptou a deriva litorânea, provocando intensa erosão a jusante (em direção ao interior da baía) e sedimentação a montante da deriva (em direção a Pontal do Sul). Os esporões que eram observados nas fotografias aéreas de 1954, avançando para o interior da baía, não são mais observados nas fotografias de 1980 (Figuras 2.10 e 2.11).

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Figura 2.10: Configuração da costa entre Pontal do Sul e Ponta do Poço em 1954, onde se observam esporões arenosos orientados para o interior da Baía de Paranaguá. (1) planície costeira; (2) praia e esporão; (3) cordões litorâneos subatuais; (4) direção de cordão litorâneo; (5) rios e canais de maré; (6) direção inferida de deriva litorânea predominante (Angulo 1999).

Figura 2.11: Configuração da costa entre Pontal do Sul e Ponta do Poço em 1980, onde se observa o desaparecimento dos esporões arenosos devido à interrupção da deriva provocada pelo efeito de molhe hidráulico de um canal artificial. (1) planície costeira; (2) praia; (3) cordões litorâneos subatuais; (4) canal artificial; (5) rios e canais de maré; (6) direção inferida de deriva litorânea predominante (Angulo 1999).

Já no trecho entre Pontal do Sul e o Balneário Barrancos, Angulo (1993b) verificou progradação de até 300 m. Segundo este autor esta progradação está relacionada à dinâmica natural do delta de maré vazante da desembocadura Sul da Baía de Paranaguá (Foto 2.9). Soares et al. (1994) com base em levantamentos de perfis planialtimétricos na mesma área identificaram progradação superior a 300 m.

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Foto 2.9: Área de progradação (avanço) da linha de costa no Balneário Atami.

Nas costas estuarinas, situadas entre Ponta do Poço e a desembocadura do Rio Guaraguaçu, incluindo as margens com influência das marés dos rios Biguaçu, Maciel e Guaraguaçu, não foram verificados problemas relacionados à erosão. Apesar de terem sido verificados recuos da linha de costa nesta áreas, relacionados às mudanças na posição dos meandros dos rios, estas variações não ocasionaram problemas, pois não existem ocupações significativas nestas áreas.

2.7.3 Recomendações para o gerenciamento e ocupação da orla

Angulo (1993a) considera que as variações da linha de costa no litoral paranaense têm sido de velocidade e magnitude suficientes para serem consideradas nos planos de ocupação da orla marinha.

Propõe-se que sejam realizados estudos detalhados da dinâmica litorânea em cada tipo de costa a partir de abordagens geológicas, morfológicas e oceanográficas. Os estudos devem contemplar programas de monitoramento da hidrodinâmica, variações da linha de costa e das variações da morfologia da praia e das dunas frontais. Estes estudos forneceriam dados para uma ocupação de menor risco.

Contudo, a partir das informações disponíveis, é possível sugerir diversas medidas:

As costas oceânicas, cuja dinâmica é dominada pelas ondas e pelas correntes de deriva litorânea, parecem estar em equilíbrio dinâmico, não apresentando variações significativas na sua configuração nas últimas quatro décadas. Para estas praias, os principais cuidados em relação à sua ocupação deveriam ser:

(1) A não invasão da praia pelas construções;

(2) A manutenção das dunas frontais, que funcionam como um estoque de areia regulador da erosão da praia e de estabilidade da linha de costa;

(3) A não realização de obras que possam alterar a dinâmica e o equilíbrio costeiro, tais como, canais artificiais que formem barreiras hidráulicas, espigões, que diminuam ou impeçam a deriva litorânea de sedimentos, entre outros;

(4) A não ocupação e manutenção das caraterísticas naturais de uma faixa de, no mínimo, 30 m a partir da linha de costa atual. Este valor se baseia na legislação que determina que a faixa de 33 m a partir da linha de preamar é de patrimônio da União. Manter recuos mínimos de 33 m a partir da linha de preamar do ano de 1853, como preconiza a legislação, geralmente são suficientes para garantir uma faixa de segurança neste tipo de costa.

Como na maior parte do município já existe infra-estrutura instalada, propõe-se que a ocupação não avance além do traçado da Avenida Atlântica. As construções já existentes além desta linha (indicadas no Mapa 3 - Anexos) deverão ser estudadas detalhadamente e efetuados estudos de risco em escala compatível (1:10.000 ou menor).

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Porém, como recomendação geral deve-se priorizar a retirada das construções desta faixa costeira. Quando se verificarem problemas erosivos deve-se desestimular e até proibir a execução de obras de contenção da erosão, mesmo que estas sejam realizadas com recursos dos proprietários.

Também deve-se priorizar que a construção da Avenida Atlântica seja o mais recuada possível em relação à linha de costa e ainda, que as obras complementares, tais como calçadões e jardins avancem o menos possível em direção à costa, garantindo uma faixa de dunas frontais que permitam amortecer o impacto de ondas de tempestade e outros eventos erosivos (ressacas) resultantes da combinação de condições oceanográficas e meteorológicas (ondas, marés e marés meteorológicas).

Este tipo de ocupação fornecerá maior margem de segurança em relação aos problemas erosivos, pois trata-se de uma ação preventiva.

Já nas costas associadas à desembocadura Sul da Baía de Paranaguá, as variações detectadas tornam necessário estabelecer outras normas de ocupação.

No setor entre o canal do DNOS e o Balneário Barrancos:

(1) A não ocupação e manutenção das características naturais das áreas emersas nas últimas quatro décadas, por serem altamente instáveis e sujeitas à reversão do processo de sedimentação, isto é ao processo de erosão.

Estas áreas, conhecidas como áreas acrescidas de marinha, são muito extensas no município de Pontal do Paraná e não devem ser ocupadas com infra-estrutura nem construções permanentes. Nestas áreas seria conveniente priorizar os usos que possibilitem manter as características ambientais originais. Assim, estas áreas, teriam dupla função: prevenção contra a erosão e manutenção de habitats naturais para refúgio de diversas espécies animais e vegetais. Talvez, se convenientemente manejadas, poderiam constituir-se em reservas ambientais ou ecológicas e até em áreas para fins científicos ou de turismo ecológico.

No setor da costa entre o canal do DNOS e Ponta do Poço:

(1) A não extensão do esporão que limita a desembocadura do canal do DNOS.

Para resolver o problema do contínuo assoreamento da desembocadura do canal do DNOS, provocada pelos sedimentos trazidos pela deriva litorânea, tem-se promovido o alongamento do esporão que define a margem direita do canal. Este procedimento resolve o problema por um certo período, porém aumenta a erosão na costa entre o canal e Ponta do Poço. Ademais, quando os sedimento preenchem a área a montante do canal, começa novamente o processo de assoreamento do canal.

Novos alongamentos do esporão repetiriam o processo até que o esporão alcançasse uma área mais profunda. Neste momento, os sedimentos trazidos pela corrente de deriva litorânea seriam transportados para áreas mais profundas da baía. A solução mais adequada para o assoreamento do canal seria a dragagem do mesmo e o despejo dos sedimentos logo a jusante (em direção a Ponta do Poço) na planície arenosa (sand flat ) ali existente, onde seriam retomados e redistribuídos pelas correntes de deriva litorânea e pelas ondas. Estes sedimentos diminuiriam os processos erosivos no trecho da costa entre o canal do DNOS e a Ponta do Poço.

Como foi salientado, o canal do DNOS foi responsável pelo processo erosivo da costa entre o canal e a Ponta do Poço. Diversos proprietários têm realizado obras de contenção para proteger suas propriedades. Como a energia das ondas nesta área da baía é muito menor que nas praias oceânicas, as obras de contenção têm tido sucesso, mesmo que nem sempre tenham sido corretamente dimensionadas ou construídas. Neste setor da costa poderiam ser realizadas obras de contenção para regularizar a linha de costa e proteger áreas de domínio público.

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2.8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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