09 - o teatro

6
A palavra e o gesto para dramatizar: o teatro O teatro, como conhecemos hoje no mundo ocidental, tem suas raízes na Grécia antiga de antes, muito antes da era cristã. Em homenagem aos deuses, os gregos faziam procissões que, ao final, tornavam-se festas, com, inicialmente, apresentação de histórias ou homenagens em coro. Assim, grupos de vozes se organizavam e diziam as histórias, os poemas. Um dia um homem apresentou sozinho o poema e foi seguido pelo coro. E de apresentação em apresentação, o teatro foi de tornando o que é hoje em dia. As peças eram, de maneira geral, uma dramatização de acontecimentos de que tinham notícia. Dessa forma, o tempo dos mitos foi se transformando, pela expressão teatral, na era da expressão do humano, com suas fraquezas, contradições e seus atos heroicos. Os gêneros predominantes da Antiguidade são: Tragédia - gênero em que os personagens eram sempre de classes sociais superiores: ou deuses ou nobres; a intenção era provocar o terror e a compaixão. Comédia - gênero em que os personagens eram pessoas do povo; a intenção era apontar os erros, as falhas humanas pelo riso. O texto teatral é aquele que serve à representação teatral. É, portanto, um texto dramático. Para Vítor Manuel Aguiar e Silva, o drama procura representar a totalidade da vida, através de ações humanas que se opõem. A vida é assim representada nos seus momentos de exaltação e de crise, as relações humanas são apreendidas nos seus momentos de tensão antagônica. Embora o texto dramático se assemelhe a outros textos narrativos, pelo fato de também contar uma história, é diferente deles, pois é escrito para ser representado. Para isso, o texto teatral elimina figuras supérfluas, abole episódios laterais, defrontando as personagens necessárias e desenvolvendo com elas uma ação que conduz sem desvios ao conflito. O texto teatral exige a presença física do vulto humano e, ainda que a intriga se situe no passado ou no futuro, a ação dramática apresenta-se sempre como atualidade para o espectador. No teatro, personagem e espectador estão frente a frente, coexistem, e é perante os olhos do espectador, fisicamente presente, que a ação se desenvolve. Na narração de um romance ou conto, as figuras são desenhadas como opiniões do narrador, ao passo que, no texto teatral, elas se desenham como gestos. No romance e no conto, o narrador pode penetrar na intimidade da personagem. No texto teatral só a voz, o gesto, o silêncio e a encenação podem revelar algo sobre as personagens e seus conflitos. Colégio Pedro II - Unidade Tijuca II Departamento de Língua Portuguesa Coordenadora: Rosângela Abraão Professoras: Vanessa, Patrícia e Andreia

Upload: napne

Post on 02-Aug-2015

140 views

Category:

Education


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: 09 - O teatro

A palavra e o gesto para dramatizar: o teatro

O teatro, como conhecemos hoje no mundo ocidental, tem suas raízes na Grécia

antiga de antes, muito antes da era cristã. Em homenagem aos deuses, os gregos faziam

procissões que, ao final, tornavam-se festas, com, inicialmente, apresentação de histórias ou

homenagens em coro. Assim, grupos de vozes se organizavam e diziam as histórias, os

poemas. Um dia um homem apresentou sozinho o poema e foi seguido pelo coro. E de

apresentação em apresentação, o teatro foi de tornando o que é hoje em dia.

As peças eram, de maneira geral, uma dramatização de acontecimentos de que

tinham notícia. Dessa forma, o tempo dos mitos foi se transformando, pela expressão

teatral, na era da expressão do humano, com suas fraquezas, contradições e seus atos

heroicos.

Os gêneros predominantes da Antiguidade são:

Tragédia - gênero em que os personagens eram sempre de classes sociais superiores:

ou deuses ou nobres; a intenção era provocar o terror e a compaixão.

Comédia - gênero em que os personagens eram pessoas do povo; a intenção era

apontar os erros, as falhas humanas pelo riso.

O texto teatral é aquele que serve à representação teatral. É, portanto, um texto

dramático. Para Vítor Manuel Aguiar e Silva, o drama procura representar a totalidade da

vida, através de ações humanas que se opõem. A vida é assim representada nos seus

momentos de exaltação e de crise, as relações humanas são apreendidas nos seus momentos

de tensão antagônica.

Embora o texto dramático se assemelhe a outros textos narrativos, pelo fato de

também contar uma história, é diferente deles, pois é escrito para ser representado. Para

isso, o texto teatral elimina figuras supérfluas, abole episódios laterais, defrontando as

personagens necessárias e desenvolvendo com elas uma ação que conduz sem desvios ao

conflito.

O texto teatral exige a presença física do vulto humano e, ainda que a intriga se situe

no passado ou no futuro, a ação dramática apresenta-se sempre como atualidade para o

espectador.

No teatro, personagem e espectador estão frente a frente, coexistem, e é perante os

olhos do espectador, fisicamente presente, que a ação se desenvolve. Na narração de um

romance ou conto, as figuras são desenhadas como opiniões do narrador, ao passo que, no

texto teatral, elas se desenham como gestos.

No romance e no conto, o narrador pode penetrar na intimidade da personagem. No

texto teatral só a voz, o gesto, o silêncio e a encenação podem revelar algo sobre as

personagens e seus conflitos.

Colégio Pedro II - Unidade Tijuca II

Departamento de Língua Portuguesa

Coordenadora: Rosângela Abraão

Professoras: Vanessa, Patrícia e Andreia

Page 2: 09 - O teatro

SOBRE A TRAGÉDIA GREGA

A tragédia, segundo Aristóteles, é a imitação de uma ação importante e completa.

Esta ação não é apresentada com a ajuda de uma narrativa, mas sim por atores. Ela é feita

para provocar a compaixão e o terror e, dessa forma, permitir a purgação das emoções de

quem assiste a ela.

A ação encenada não tem por finalidade imitar costumes, objetiva, sim, representar

estes mesmos costumes.

Na Grécia, a tragédia servia não só para distrair o povo como também tinha a

pretensão de ensinar os valores considerados importantes pela aristocracia, daí que o Estado

tinha muito interesse nas exibições dos textos trágicos. Se observarmos com atenção

alguns outros trechos escritos na época, vamos ver que, geralmente, os personagens eram

semideuses, heróis grandiosos, figuras míticas, seres que tinham um poder diferente do

homem comum.

Características do texto teatral

O diálogo constitui o elemento dominante e essencial de um texto dramático. No

diálogo, manifestam-se uma oposição e uma luta de vontades que caracterizam o conflito,

elemento essencial que possibilita ao leitor ou à plateia criar expectativa em relação aos

fatos que lê ou vê. O conflito é, portanto, qualquer elemento da história que se opõe a

outro, criando uma tensão que organiza os fatos narrados e, consequentemente, prende a

atenção do leitor ou da plateia.

O conjunto de elementos que compõem no palco o espaço em que ocorrem as ações

é chamado cenário. Quando o texto teatral é encenado, exige, além do cenário, outros

elementos, como música, luz, figurino, maquiagem, gestos, movimentos etc.

No texto teatral escrito, o autor indica esses elementos nas rubricas. As rubricas

aparecem em letra de tipo diferente (normalmente em itálico) e indicam como as

personagens devem falar (rubrica de interpretação) e como devem se movimentar (rubrica

de movimento). Quando lemos um texto dramático, as rubricas cênicas procuram nos dar

informações sobre aquilo que se vê no palco.

A linguagem empregada no texto teatral varia de acordo com a época em que ele foi

escrito, com a época que o autor quer retratar e com a procedência e o nível social e cultural

das personagens.

Quando a peça teatral é longa, ela costuma ser dividida em partes, que são

chamados atos.

CARACTERÍSTICAS DO TEXTO TEATRAL ESCRITO:

• normalmente dispensa narrador;

• contém os elementos básicos da narrativa: fatos, personagens, tempo e lugar;

• apresenta discurso direto como estrutura básica de construção de texto e desenvolvimento

das ações;

• identifica o nome da personagem antes de sua fala;

• apresenta rubricas de interpretação e de movimento;

• o nível da linguagem é adequado à personagem e ao contexto;

• às vezes, apresenta divisão em atos.

Page 3: 09 - O teatro

ATOR, TEXTO E PÚBLICO

Não há fenômeno teatral sem a conjunção da tríade ator, texto e público: um ator

interpreta um texto para o público. E entre ator e público é estabelecida uma cumplicidade:

ambos sabem que se trata de um jogo, de uma representação. Por meio da razão e da

emoção, estabelece-se um diálogo vivo entre ator e público. Proporcionando prazer, o

teatro age diretamente sobre os homens. Ele ensina, provoca, faz refletir.

Cereja, William Roberto & Magalhães, Thereza Cochar. Português: linguagens: volume único. São Pauio:

Atual. 2003.

Édipo Rei

Édipo Rei é uma das tragédias mais significativas desse início. Sófocles,

considerados um dos maiores autores da Antiguidade, trouxe à cena a peça sobre a história

de Édipo. Essa obra mostra o homem em face do destino, do qual não pode se desvencilhar,

mesmo que fuja dele.

Você vai ler uma tradução/ adaptação do texto para os dias de hoje. Na verdade, as

peças da Antiguidade eram longas, sua apresentação durava vários dias, e eram feitas em

versos. Repare que no texto dramático (teatral) uma história é contada, mas não há a

presença do narrador conduzindo o enredo; são os personagens que, por meio de sua fala,

gestos e ações, conduzem a história.

O narrador/autor/diretor dá apenas indicações de entrada, saídas e expressões faciais

ou corporais, em alguns casos. Para se entender a história, temos que Édipo era filho natural

de Jocasta e Laio, reis de Tebas. Esses reis, ao terem o seu filho, decidiram por entregá-lo a

um servo/pastor para que o matasse, já que o Oráculo de Delfos vaticinou que o filho deles

iria matar o pai e desposar a mãe – era em Delfos, cidade próxima a Tebas, que ficava um

dos Oráculos mais importantes da época. Naqueles tempos, em que deuses decidiam o

destino dos homens, era comum os cidadãos irem aos templos saber do seu destino, ou o

que lhes era destinado pelos deuses. Mas o empregado não o matou, preferindo entregá-lo a

um mensageiro, que levou o bebê para os reis de outra cidade, Corinto, onde ele cresceu.

Édipo, já era um jovem rapaz quando descobre em uma festa, por meio de um bêbado, que

era filho adotivo de Pólibo e Mérope. Nesse momento vai ao Oráculo de Delfos e procura

saber a verdade. Lá não fica sabendo se era filho adotivo ou não, mas escuta a mesma

notícia que ouviu Laio anteriormente. Então decide sair de Corinto sem rumo, e acaba

chegando a Tebas;

Sobre os personagens, é bom saber:

• Jocasta – rainha de Tebas, bela mulher, que, viúva de Laio, casa-se com Édipo.

• Laio – rei de Tebas, marido de Jocasta.

• Creonte – irmão de Jocasta, cunhado de Édipo.

• Tirésias – velho adivinho cego, capaz de ver o passado e o futuro.

• O Coro – formado pelo povo de Tebas.

Page 4: 09 - O teatro

• Corinto – chefe do coro.

Exercícios:

1) Levantamento de vocabulário. Relacione as palavras aos significados (contextualizados):

VERBOS

(a) prosternar [p. 4]

(b) condoer [p. 4]

(c) redimir [p. 4]

(d) macular [p.6]

(e) descurar [p.6]

(f) secundar [p. 7]

(g) predizer [p.11]

(h) urgir [p.6 e13]

(i) sucumbir [p.14]

(j) vaguear [p.15]

(k) atinar [p.15]

( ) v. trans. dir ajudar, apoiar (em funções); coadjuvar, auxiliar

( ) v. intrans. ser urgente, premente, inadiável ou indispensável; instar

( ) v. trans dir.reparar (falta, falha, crime etc.); expiar

( ) v. trans. dir dizer antecipadamente; prever, profetizar

( ) v. trans. indir não cuidar, não tratar (de)

( ) v. pron. curvar-se ao chão em sinal de profundo respeito.

( ) v. trans dir pôr mancha em; sujar; comprometer (alguém, algo ou a si mesmo) por

meio de algo vil, desonroso.

( ) v. trans dir. ou pron inspirar ou sentir dó, pena, tristeza, comiseração; comover(-se),

compadecer(-se).

( ) v. intrans. andar passeando por (lugares) sem rumo certo, ao acaso; perambular, vagar

( ) v. trans. ind. e intrans. não resistir, ser vencido; ceder, entregar-se

( ) v. trans. dir descobrir por dedução, perceber por algum sinal, probabilidade etc.;

enxergar, perceber, acertar

SUBSTANTIVOS

(a) incenso [p. 4]

(b) archote [p. 4]

(c) tributo [p. 4]

(d) concurso [p.4]

(e) oráculo [p.5]

(f) presteza [p. 7]

(g) nódoa [p.9]

(h) desígnio [p.13]

(i) vitupério [p.13]

(j) desdita [p.14]

Page 5: 09 - O teatro

( ) ação ou ocorrência considerada desonrosa e que prejudica a reputação de uma pessoa;

mácula, estigma.

( ) imposto exigido de uma província ou Estado dependente por aquele que o subjuga

contribuição monetária imposta pelo Estado ao povo, sobre mercadorias etc.

( ) ideia de realizar algo; intenção, propósito, vontade

( ) cooperação, participação em ação comum

( ) falta de dita ('sorte favorável'); má sorte, infortúnio, desgraça

( ) qualidade do que é prestes característica do que é ligeiro para fazer algo; rapidez,

celeridade

( ) substância resinosa aromática que, ao ser queimada (ger. como parte de cerimônias

litúrgicas ou, outrora, nos sacrifícios religiosos), desprende odor penetrante.

( ) grande vela de cera; tocha

( ) acusação infamante, injúria qualquer ato infame, vergonhoso ou criminoso

( ) na Antiguidade, resposta de uma divindade a quem a consultava

ADJETIVOS

(a) venerando [p. 4]

(b) pungente [p.8]

(c) soturno [p.8]

(d) inóspito [p.8]

(e) rubicundo [p.8]

(f) flamejante [p. 8]

(g) lustral [p.9]

(h) frívolo [p.10]

(i) divinatório [p.10]

(j) celerado [.11]

(k) ímpio [p.12]

(l) ultrajante [p.12]

( ) cujas faces estão muito avermelhadas; corado

( ) que lança flamas; chamejante; que tem esplendor, vivacidade; garrido, resplandecente,

vistoso.

( ) o que afronta, insulta, ultraja

( ) que é ou tem pouca importância; inconsistente, inútil, superficial

( ) que ou aquele que não tem fé ou que tem desprezo pela religião

( ) referente à adivinhação ou aos instrumentos desta prática; que supostamente tem

capacidade de adivinhar

( ) que é digno de veneração; respeitável, venerável

( ) que não possui alegria e vivacidade; melancólico, tristonho, taciturno

( ) que ou aquele que cometeu ou é capaz de cometer crimes de morte ou violência;

facínora, criminoso

( ) relativo a ou água us. em cerimônias de purificação (esp. aquela com que se benzia um

recém-nascido na Roma antiga)

( ) em que não se pode viver; rude, áspero

Page 6: 09 - O teatro

( ) que afeta e/ou impressiona profundamente o ânimo, os sentimentos, as paixões; muito

comovente

2) Responda:

1. O que o Sacerdote vem pedir a Édipo (p. 4)?

2. Qual a razão de ele achar que o rei poderá ajudá-los?

3. Como se pode descrever a relação de Édipo com Creonte, pelo que se nota na cena da

p.5, assim que o cunhado entra em cena?

4. Qual o motivo de Creonte se mostrar animado com as notícias que traz de Apolo?

5. Qual o motivo de Édipo se irritar com o que Tirésias diz?

6. Que informações nós, os leitores, temos a partir da fala do coro?

7. Que mudanças houve no relacionamento de Édipo com o cunhado?

8. Assinale a alternativa correta em relação ao coro:

( ) o coro representa a população de Tebas;

( ) Édipo sempre se desentendia com o coro da cidade;

( ) faz o pano de fundo cantando e rezando quando a situação piora;

( ) se mostra sempre solícito e amigo do rei Édipo;

( ) Julga o rei Édipo incapaz de ajudar a cidade pois sabe que ele matou o rei Laio.

Como você percebeu, a linguagem da tragédia de Sófocles se apresenta em uma

linguagem formal, não usual, em que encontramos:

palavras pouco usadas no dia a dia;

colocação de pronomes própria da linguagem ultraformal, como a ênclise e a

mesóclise;

tratamento em 2ª pessoa do plural.

Além disso, pelo fato de ser uma tragédia clássica, a linguagem é grandiloquente,

isto é, cheia de ênfases, pomposa, solene, o que se percebe pelo grande número de

interjeições e pontos de exclamação. Nota-se que é mesmo um texto para ser declamado e

para emocionar quem ouve.

Seu trabalho será, junto com seu grupo, reescrever a parte que lhes foi

indicada em linguagem mais usada atualmente, a coloquial, e no tipo de texto

narrativo. O grupo deverá lançar mão das características de uma narrativa:

narrador, personagens, e especialmente nesta narrativa deverá predominar o discurso

indireto. Lembre-se de que, mesmo em linguagem coloquial, Édipo continua a ter uma

função social de poder: ele é o rei de Tebas, a quem todos devem respeito. Mas podem

ser usadas expressões coloquiais, expressões de linguagem figurada mais modernas.