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H. O. SUPRA-SENSORIAL

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Lucimar Bello Pereira Frange

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

H. O. supra-sensorial / Instituto Arte na Escola ; autoria de Lucimar Bello

Pereira Frange ; coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. –

São Paulo : Instituto Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 88)

Foco: SE-4/2006 Saberes Estéticos e Culturais

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-7762-019-0

1. Artes - Estudo e ensino 2. Arte contemporânea 3. Pesquisa de materiais

4. Oiticica, Hélio I. Frange, Lucimar Bello Pereira II. Martins, Mirian Celeste

III. Picosque, Gisa IV. Título V. Série

CDD-700.7

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DVD

H. O. SUPRA-SENSORIAL

Ficha técnica

Gênero: Vídeo experimental.

Palavras-chave: Arte contemporânea; percurso artístico; ex-perimentação; artista propositor; pesquisa de materiais; con-taminação de linguagens; cor; arte e vida; relação público e obra.

Foco: Saberes Estéticos e Culturais.

Tema: A experiência artística e conceitual de Hélio Oiticica, suasindagações e concepções de arte.

Artista abordado: Hélio Oiticica.

Indicação: A partir da 8a série do Ensino Fundamental.

Direção: Kátia Maciel.

Realização/Produção: Vídeo independente realizado na Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro.

Ano de produção: 1997.

Duração: 32’.

SinopseMostrando um fluxo de conexões feitas pelo artista carioca HélioOiticica, o vídeo apresenta um panorama de sua experiência artís-tica, com destaque para as obras de natureza sensorial. Compõemo vídeo, imagens das obras: Metaesquemas, Monocromáticos-Invenções, Relevos espaciais, Grande núcleo, Bólides, Parangolés,Tropicália, Éden e Ready constructible; além de imagens da expo-sição retrospectiva do Centro de Arte Hélio Oiticica/Rio de Ja-neiro (1993) e do artista plástico Ricardo Basbaum e Paulo Ra-mos (diretor cultural do G.R.E.S. da Estação Primeira de Manguei-ra) experimentando parangolés. O material visual, apresentadocom fragmentos de textos e músicas escritas pelo próprio artista,além de outras, oferece um quadro referencial sobre os conceitos,idéias e invenções Oiticiquianas.

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Trama inventivaHá saberes em arte que são como estrelas para aclarar o caminhode um território que se quer conhecer. Na cartografia, para pensar-sentir sobre uma obra ou artista, as ferramentas são como lentes:lente microscópica, para chegar pertinho da visualidade, dos signose códigos da linguagem da arte, ou lente telescópica para o olharampliado sobre a experiência estética e estésica das práticas cultu-rais, ou, ainda, lente com zoom que vai se abrindo na história daarte, passando pela estética e filosofia em associações com outroscampos de saberes. Por assim dizer, neste documentário, tudoparece se deixar ver pela luz intermitente de um vaga-lume a brilharno território dos Saberes Estéticos e Culturais.

O passeio da câmeraO vídeo instala no título uma estranheza: H.O., iniciais do nome doartista, seguidas de duas categorias – “supra” e “sensorial” – as quaisremetem, respectivamente, a super e sobre, e a sentidos e sensa-ções. Essas palavras, ligadas por hífen, tornam-se uma – “supra-sensorial” – o que leva a uma entrada pelos sentidos e sensações,máximas de Oiticica e do movimento neoconcretista brasileiro.

Entramos nas imagens pelas labaredas de um fogo-cor, acesase inquietas. A câmera mostra as obras do artista; frases noscolocam sua conceituação sobre arte; o silêncio é incorporado;as passagens pela cor – chapada, densa e intensa – nos fazemadentrar e penetrar nela; as estruturas são formas espaciaisnas quais podemos nos aderir; o espaço e o tempo são convo-cados – o espaço-estrutura-cor nos apreende, nos invade e nosfaz sentir em outro tempo, o da cor no corpo, o “corpus” daarte. As labaredas do início se fazem visíveis no final, saindo delatas que ardem em fogo – fogo presença de coisas outras, masafirmativo de si mesmo, fogo-chamas-laranjas-azuis-cores quealastram, tomam conta e se impõem, ardentes e vibrantes. Fogoconvocando, como afirma Oiticica, a necessidade de um signi-ficado supra-sensorial, transformar os processos de arte emsensações de vida.

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material educativo para o professor-propositor

H. O. SUPRA-SENSORIAL

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H.O. supra-sensorial ativa chamas a serem acesas e mantidasem fogo-extenso, presente e vivo – vida aspirada, respirada etranspirada de inventividades.

O vídeo nos coloca na condição de participadores-atores dasobras, nos impulsionando para proposições pedagógicas liga-das ao território Processo de Criação – percurso de experimen-tação, o artista como propositor, pensador e inventor; Lingua-gens Artísticas – a contaminação de linguagens, os parangolése ready-mades; Forma-Conteúdo – a temática contemporânea,arte e vida; Materialidade – a pesquisa de materiais não con-vencionais, os procedimentos técnicos inventivos; MediaçãoCultural – a relação público e obra, a incorporação do corpo naobra e da obra no corpo; Conexões Transdisciplinares – otropicalismo, o samba. Escolhemos, neste material, abrir cone-xões com o território Saberes Estéticos e Culturais para oestudo do percurso artístico e da relação entre arte e vida naprodução Oiticiquiana.

Sobre Hélio Oiticica(Rio de Janeiro/RJ, 1937 – Rio de Janeiro/RJ, 1980)

invenção não se coaduna com imitação: simples mas é bom lembrar.

Hélio Oiticica

Hélio Oiticica é um artista movido pela legenda Experimentar oexperimental. Desde cedo, percorre um caminho diferente. Netode anarquistas, Oiticica não estuda em colégios brasileiros por-que seu pai, José Oiticica Filho – entomologista, pintor, fotógra-fo e professor – é contra o sistema educacional vigente. Oiticicatem aulas com sua mãe, Angela Oiticica, até os 10 anos, e maistarde conclui seus estudos em Washington, Estados Unidos.

Inicia estudos de pintura e desenho com Ivan Serpa no MAM/RJ, em 1954. Neste ano, escreve seu primeiro texto sobre artesplásticas; a partir daí, o registro escrito de reflexões sobre artee sua produção torna-se um hábito. Participa do Grupo Frenteem 1955 e 1956 e, a partir de 1959, integra o Grupo Neoconcreto.

Oiticica gostava de repetir uma formulação do crítico Mário

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Pedrosa, que atribui à arte a proposta de um “exercício expe-

rimental da liberdade”1 . Essa proposta, de fato, sintetiza

o trabalho de Oiticica, em sua busca incessante pelo exer-

cício da liberdade, por meio de experiências cada vez mais

radicais, desligando-o de toda estética tradicional e da idéia

daquilo que é permanente e durável: a moldura na pintura

e o pedestal na escultura, a utilização do suporte de repre-

sentação, a exposição em espaços convencionais, como

museus e galerias de arte, a dicotomia obra-público.

Oiticica é um artista que vai cada vez mais longe: o espectadortorna-se ativo participante na criação da obra. Seus trabalhos vãoexigindo cada vez mais uma atuação do espectador até que ele setorne o próprio veículo de expressão da obra, como acontece como Parangolé. Em H.O. supra-sensorial, podemos perceber a expe-riência espacial e sensorial provocada por esse artista.

Os Metaesquemas (1957-58), guaches sobre cartão, estrutu-ras ou placas de cor, estimulam o olhar e a mente. As formas,em deslocamentos e dinamicidade, se movem e se expandem.

Os Bilaterais são objetos-cores suspensos no ar. As formasdinâmicas ganham espacialidade, deixam os papéis e ganhamcorpo no espaço e no tempo do participador que precisa andarno seu entorno e não mais se colocar numa relação frontal comas obras. As superfícies são pintadas de todos os lados (semfrente nem verso).

Os Núcleos e os Relevos espaciais (1959) são placastridimensionais suspensas por fios manipuláveis peloparticipador (que circula nessa tridimensionalidade). A estru-tura gira no espaço. Nos Núcleos, estrutura e cor são insepa-ráveis, as formas estão imbricadas. Num deles, um espelho nochão capta pela projeção o corpo do “espectador” que é aco-lhido, nele projetado e tornado obra ampliada, transforma-setambém em “corpus-obra”.

Os Bólides (1963), pequenas caixas ou peças de vidro, contêmpigmentos que podem ser manipulados. O tato é convocadopor uma tatilidade de gestos e mãos a abrir, fechar, manusear,des-fazer pigmentos-cores-formas-propositoras. São estáticos

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material educativo para o professor-propositor

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apenas aparentemente. Exigem a mão, o gesto, o corpo, o to-que, os sentidos, as sensações do participante.

Os Parangolés (1964-68) são manifestações ambientais e co-letivas, envolvendo capas, barracas, estandartes e passistasda Mangueira (mostra Opinião 65 – MAM/RJ). O primeiroParangolé, uma peça em lamê prateado, é confeccionado comgaze e outros materiais e remete ao jeito de corpo da “malan-dragem carioca”, hoje, brasileira. Obra feita para dançar, inter-ligando corpo, dança, som – CorpoArte, Corpus-Pessoas-Arte.Mesmo considerando Seja marginal, seja herói como uma dasobras mais densas, os Parangolés são bandeiras tupinambásde atual e universal antropofagia. Nos Penetráveis, nos Bólidese nos Parangolés, o participador penetra nas obras e experi-menta, em cada uma delas, “o dentro” – sente-se nelas.

Éden (1969) é uma ambiência na qual o participador integra aobra, é parte do campo experimental. Pés descalços andam naareia (quer molhada, quer seca). Sons e textos acompanhamesse estado “andarilhante” de pessoa que vive, no corpo, aproposição do artista.

Tropicália (1967) é um jardim com pássaros vivos entre plantase poemas-objetos; manifestação ambiental; espécie de labirin-to feito de Penetráveis monitorados por um olho televisivo(mostra Nova Objetividade Brasileira, MAM/RJ).

Ready constructible (1978/79) remete aos ready-mades deMarcel Duchamp2 , são obras em séries, nas quais o artista seapropria de coisas que já estão no mundo.

As obras de Oiticica são verdadeiros espaços-movimento pro-

postos pelo artista; nas suas palavras: convites para “vivências”.

Da mesma forma que o papel do artista, para Oiticica, é “sus-

citar no participante, que é o ex-espectador, estados de inven-

ção”. Em sua ousadia e inventividade, Hélio Oiticica se quer chama-va suas últimas obras de obras de arte. Talvez, por isso, uma pergun-ta para nós mesmos se faz necessária: o que pensaria Oiticica sobresuas obras se tornarem, hoje, disponíveis à apreciação pública aco-modadas em espaços museológicos? Por que são abrigadas no Cen-tro de Artes Hélio Oiticica no Rio de Janeiro?

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Os olhos da arte

A busca do supra-sensorial é a tentativa de criar, por proposições cadavez mais abertas, exercícios criativos, prescindindo mesmo do obje-to... são dirigidos aos sentidos, para através deles, da “percepçãototal”, levar o indivíduo a uma supra-sensação...

Hélio Oiticica3

Oiticica faz “uma proposta ambiental” que é, para ele, “a reu-nião indizível de todas as modalidades em posse do artista aocriar – as já conhecidas: cor, palavra, luz ação, construção, etc.,e as que a cada momento surgem na ânsia inventiva do mesmoou do próprio participador ao tomar contato com a obra... Sur-ge aí uma necessidade ética de outra ordem de manifestação...manifestação social, incluindo ética e política4 ”. Essas modali-dades, como também as sensações convocadas a esse corpo-ator do outrora “espectador”, são uma das tônicas das provo-cações Oiticiquianas.

Quando Oiticica, por meio de seus relevos espaciais e seus

parangolés, liberta as cores e as formas do suporte tradi-

cional da pintura, levando-as ao espaço, a idéia é a de exa-

tamente investigar proposições mais vivenciais, aproximan-

do a obra de arte da experiência cotidiana. A obra sai do

espaço da tela, para adentrar no espaço real, vivenciado

plenamente pelo espectador.

Nesse sentido, o neoconcreto é uma atitude, tomada de posi-ção frente à arte não-figurativa, à arte “geométrica” dos movi-mentos da época: neoplasticismo, construtivismo, supre-matismo, Escola de Ulm. Os artistas neoconcretos trabalhamnos campos da pintura, escultura, gravura e literatura. Afirmamnão conceber a arte, nem como “máquina”, nem como “obje-to”, mas como um “quasi-corpus”, isto é, um ser feno-menológico5 , cuja realidade não se esgota nas relações exteri-ores de seus elementos, mas está ligada ao ser-pessoa e aoser-mundo. Os artistas neoconcretos propunham uma compre-ensão da forma como duração, o que implicava na interiorizaçãodos ritmos visuais, na busca de uma significação complexa e

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revolucionária. A arte neoconcreta se propõe a fundar um novoespaço expressivo; reafirma a independência da criação artís-tica em face do conhecimento (ciência) e do conhecimento prá-tico (moral, político, etc.). Na poesia neoconcreta, a linguagemnão escorre, dura6 .

O neoconcreto repropõe a expressão, incorpora as dimensõesverbais criadas pela arte não-figurativa construtiva. Os concei-tos estão ligados a uma significação existencial, emotiva eafetiva partindo, principalmente, de Maurice Merleau-Ponty7 ,Ernest Cassirer e Suzanne Langer. Para Merleau-Ponty, o cor-po é vidente e visível; há uma reflexidade do sensível, ele a tra-duz e reduplica8 .

Desde seus primeiros anos como um novo talento do gruponeoconcreto, Oiticica observa com visão apurada a realidadecontemporânea em suas obras e escritos, refletindo como pen-sador e artista sobre problemas tais como: o que é um artista?O que é uma criação? A vida não poderia ser, ela mesma, con-siderada uma série de atos criativos? Como e por que mudar oestado atual do sistema de arte?

Essas são inquietações presentes tanto no percurso artísticode Hélio Oiticica, quanto no de Lygia Clark9 . Desde o final

Hélio Oiticica - Metaesquema, 1958

Imagem extraída do DVD H.O. supra-sensorial

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dos anos 1950 e, mais incisivamente, no início dos 1960,

o projeto comum de Lygia e Oiticica visa ‘’transformar os

processos de arte em sensações de vida’’, lançando es-

ses artistas na busca de um ‘’além-da-arte’’ que respon-

desse aos ‘’novos rumos da sensibilidade contemporâ-

nea’’. Nas soluções encontradas por eles, a idéia de ‘’par-

ticipação’’ é o centro nevrálgico das transformações que

propunham. Mais do que estética, a proposição era cul-

tural e política: vontade de fazer viver na experiência esté-tica da invenção a radicalidade estética da vida. Inicialmente,as proposições são paralelas, mas a partir do Parangolé, deOiticica, e do Caminhando, de Lygia, cada um se singularizanos modos da participação. Em ambos, o além-da-arte apre-senta-se como transmutação da arte e da vida, despregando-se dos domínios da arte.

O percurso artístico de Oiticica é exemplar para se entender orumo do experimental e o destino da invenção que tensionouos limites da modernidade. Percorrer seu percurso, seja em seustextos ou obras, analisando o contexto da arte brasileira con-temporânea, configura-se como possibilidade de experimenta-ção de nossa realidade em vertiginosa e constante mutação.

Homenagem à Mangueira - Paulo Ramos com Parangolé, PB, Capa 5 - Rio de

Janeiro, 1997 - Imagem extraída do DVD H.O. supra-sensorial

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O passeio dos olhos do professorHélio era o lado de fora de uma luva, a ligação com o mundo exte-rior. Eu, a parte de dentro. Nós dois existimos a partir do momentoem que há uma mão que calce a outra.10

Lygia Clark

Hélio Oiticica nos convoca e nos convida estética, social, cultu-ral e sensorialmente a alguns passeios:

O que o artista, suas imagens e suas proposições verbaisdespertam/provocam em você?

Quais momentos do vídeo contribuem para perceber o artistacomo um inventor; um provocador; o conector da arte e da vida?

Como você percebe o experimentar e o experimental nopercurso artístico de Oiticica presente no vídeo?

O vídeo experimental lhe provoca pensamentos de ligaçãoentre Lygia Clark e Hélio Oiticica?

Supra-sensorial - uma transformação dos processos de cria-ção em sensações de vida, fazendo uma ativação de vida atiça-da e avivada, criação de arte, invenção de si e do mundo. Obra-sensação do artista, obras-sensações nossas, de partici-padores-atores, de aprendizes da arte, de fazedores-estéticose estésicos. A sensação é vetor, tornada corpo do vedor-leitordo vídeo e da obra Oiticiquiana.

Quais imagens ou propostas verbais do vídeo você selecionapara pesquisar sobre as proposições aos sentidos e a parti-cipação do “ex-espectador” na obra de H.O.?

É possível realizar conexões entre a obra de H.O., o movi-mento neoconcreto e a fenomenologia de Merleau-Ponty?Como você pode propor essas relações aos seus alunos?

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qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

Zarpando

poética da materialidade

natureza da matéria

materiais não convencionais: terra,pano, borracha, tinta, papel, vidro,cola, plástico, corda, esteira, fios

pesquisa de materiais

Materialidade

suportes

ruptura do suporte, pesquisade outros meios e suportes

formação de público

espaços sociais do saber

o ato de expor

relação público e obra,educação dos sentidos,experiência estética e estésica

interatividade obra/público, corpo-sensível-inteligível,transgressão pela inserção do objeto de arteem espaços não instituídos

Centro de Artes Hélio Oiticica/RJ,G.R.E.S. da Estação Primeirade Mangueira/RJ

MediaçãoCultural

Forma - Conteúdo

elementos davisualidade

relações entre elementosda visualidade

cor, estrutura, espaço

tempo, movimento, relação figura/fundo,cheio/vazio, dentro/fora, interior/exterior,bidimensionalidade, tridimensionalidade

temáticas contemporâneas: vida cotidiana, arte e vida,re-sensibilização dos sentidos

SaberesEstéticos eCulturais

sistema simbólico labirinto

sociologia da arte sistema de arte, artista e sociedade

percurso artístico, estados de invenção

arte contemporânea, antropofagia, arte concreta,neoconcretismo, construtivismo, Grupo Ruptura,vanguardas artísticas

história da arte

criadores e produtores de arte e cultura

arte como exercício experimentalda liberdade, estética experimental,supra-sensorial, arte como idéia

estética e filosofia da arte

Linguagens Artísticas

contaminação de linguagens,parangolés, ready-mades

música

MPB – música popular brasileiraartesvisuais

meiosnovos

Processo deCriação

ação criadora

percurso de experimentação, apropriações, arte como experiência de vida

corpo perceptivo, sensação, invenção de recursos

artista propositor

potências criadoras

produtor-artista-pesquisador

ConexõesTransdisciplinares

arte e ciênciashumanas

cotidiano, história do Brasil

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Percursos com desafios estéticos

São muitas as possibilidades de trabalho oferecidas pelo vídeo.Localizando-o no território de Saberes Estéticos e Culturais,nosso olhar se volta ao estudo do percurso artístico de HélioOiticica. No mapa, além deste território, você verá outros quepodem ser percorridos. A seguir, alguns percursos são sugeri-dos e você pode alterá-los ou ampliá-los de acordo com o re-pertório e a curiosidade de seus alunos.

O passeio dos olhos dos alunosA produção de Oiticica é nitidamente marcada pela busca paraintegrar a arte à experiência cotidiana. É a recusa do amedron-tamento perante um mito, o “mito da arte” e “o mito sobre ser-artista”. A proposta da antiarte consiste em sensibilizar as açõescotidianas pela re-potencialização da pessoa criativa – oparticipador-ator. O artista é o motivador, o atiçador das expe-rimentações que só se realizam com esse ator-participador.

Algumas possibilidades para um contato inicial:

Um percurso conceitual pode acionar um olhar dos alunossobre as imagens e textos do vídeo experimental: a discus-são sobre ready-mades. Um bom desafio é você pedir paraque os alunos tragam à sala de aula três objetos que podemser objetos pessoais. Todos do grupo devem criar algo, jun-tando dois objetos e inventando um nome novo quecorresponda ao que foi criado. Em seguida, fazem algumacoisa com o terceiro objeto: embrulham, pintam em volta,mudam a posição ou colocam algum elemento paratransformá-lo; depois, inventam um título. A discussão sobrea produção realizada, a partir da observação dos objetos, podeser problematizada: é possível pensar de forma artística epoética sobre um objeto cotidiano? Após a discussão, seleci-one no vídeo e exiba as imagens dos Ready constructible(1978/79) que remetem aos ready-mades de MarcelDuchamp e as imagens das latas-tochas-de-fogo11 que abrem

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o vídeo e são verdadeiras apropriações de Oiticica. Como osalunos percebem as apropriações de Oiticica? Quais amplia-ções encontram em suas obras para as questões que move-ram a discussão antes da exibição do vídeo?

Um percurso pela canção Parangolé Pamplona, de AdrianaCalcanhotto12:

O Parangolé Pamplona você mesmo faz / O Parangolé Pamplonaa gente mesmo faz

Com um retângulo de pano de uma cor só / E é só dançarE é só deixar a cor tomar conta do ar

Verde / Rosa

Branco no branco no preto nu / Branco no branco no preto nuO Parangolé Pamplona / Faça você mesmo

E quando o couro come / É só pegar carona

Laranja / VermelhoPara o espaço estandarte / Para o êxtase asa-delta / Para o de-lírio porta aberta

Pleno ar / Puro hélio

Mas / O Parangolé Pamplona você mesmo faz

Parangolé Pamplona é um trabalho de Oiticica de 1968 etem esse nome porque o artista o construiu para uma expo-sição na cidade de Pamplona/Espanha (1972). Apresentan-do a canção aos alunos – a letra para leitura ou, se possível,a escuta da música – qual a interpretação que eles realizam?O que imaginam que seja o parangolé? Por que o parangolé“a gente mesmo faz”? A conversa sobre essas questões podeacionar sobre o vídeo um olhar corpóreo que vê as obras, sen-te-as, in-corpa-as no corpo, vive-as. Após discussão, a exibi-ção do vídeo pode ter como foco as imagens que apresentamo Parangolé. O que as imagens provocam nos alunos? De quemodo eles ressignificam o que imaginavam ser o parangolé apartir da música? Como eles percebem a participação do es-pectador na obra, a partir do Parangolé?

Apresentando apenas o título: H.O. supra-sensorial, você podeproblematizar: essas palavras causam estranheza? Por quê?O que imaginam que significa as palavras H.O. e supra-senso-rial? Sendo um vídeo sobre arte, o que poderiam ser obras de

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natureza sensorial? Após o levantamento de hipóteses dos alu-nos sobre essas questões, a exibição do vídeo experimentalpode se focalizar no percurso artístico de Oiticica. Como osalunos percebem a trajetória de Oiticica? O que o diferenciade outros artistas que eles conhecem? A palavra supra-senso-rial do título ganha outras interpretações após verem o vídeo?

Desvelando a poética pessoalPercursos & percursos... caminhos & caminhos... programas &experimentações... arte & antiarte... assumir o experimental...muitas idas, muitas vindas para criações outras:

Formas quadradas de diversos tamanhos, em cartões, podemser feitas pelos alunos e por você: recortadas, pintadas, co-ladas, suspensas por fios no ar ou em varais, formas move-diças, andantes, espacializadas em tempos dinâmicos, cor-tempo, estrutura-tempo, em deslocamentos e em “fazimentosexperienciais”. O material pode conter uma leveza e ser mo-vimentado por atos de respiração, sopros ou sussurros, dan-ças ou, ainda, vibrações de corpos em movimentos.

Desenhos de vestir, que remetam aos parangolés, podem serfeitos e assumidos no corpo que se estende e se entende, semetamorforseia em corpo-arte, “corpus-arte”. Uma referên-cia para a feitura de parangolés pode ser a orientação para aconstrução do Parangolé Pamplona, escrita por Oiticica:

CAPA FEITA NO CORPO 274cm/108 cm no comprimento

1 - Cada pedaço de pano deve medir 3 yards no comprimento;

2 - Para fazer a capa o pano não pode ser cortado;

3 - Alfinetes-de-fralda devem ser usados na construção e depois opano pode ser costurado para fazer a capa permanente;

4 - A estrutura construída no corpo deve ser improvisada pelo próprioparticipante (se precisar da ajuda de outra pessoa, ok) e feita de formaque possa ser retirada sem cortar;

5 - Algumas pessoas podem participar juntas, mas uma só cor, i.e.,um só pedaço de pano deve ser usado para cada capa.13

As músicas do vídeo podem habitar espaços, tanto das Formasquadradas-movediças, quanto dos Desenhos de vestir. Nesse

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percurso, enquanto campo de possibilidades, a máxima deOiticica, “experimentar o experimental”, é condutora da buscade uma poética pessoal pelos alunos. A “experimentalidade”está atrelada a atrevimentos e ousadias conceituais econcretizações de atos inventivos. Muitas conversas podem iracontecendo entre a produção de Oiticica e as “experimenta-ações” na aula de arte e na escola.

Ampliando o olharOs fios soltos do experimental são as energias que brotam paraum número aberto de possibilidades. No brasil há fios soltos numcampo de possibilidades: por que não explorá-los?

Essa afirmação de Oiticica, inclusive com um “brasil” com letraminúscula, no texto Experimentar o experimental 14 , consistenão na “criação de obras”, mas na iniciativa de assumir o expe-rimental, isso quer dizer o estado de experimentação da artena vida, de maneiras convocatórias de sentidos e sensaçõesde um fazer de cada uma das pessoas, com suas possibilida-des e inventividades. Ele continua:

o experimental não tem fronteiras pra si mesmo, é a metacrítica da “pro-dução de obras” dos “artistas de produção”; o experimental assume oconsumo sem ser consumido indiferente à competição do eu-melhor-q-você das “artes”; a visão de estruturas conduz à antiarte e à vida, a visãode eventos (obras) conduz à arte e ao distanciamento da vida.

As colocações do artista podem ser levadas às conversasentre você, seus alunos e alguns de seus colegas da escolaou artistas da sua cidade. Essas conversações podem ocor-rer também pela internet. Destacamos alguns pontos:

- assumir o experimental – na aula de arte existe espaçopara o experimental acontecer e ser assumido, na ação ena reflexão? E nas proposições?

- o experimental não tem fronteiras – quais as fronteiras eas “não-fronteiras” da arte na sua escola?

- o experimental em relação ao “eu-melhor-q-você das ar-tes” - o que essa colocação nos provoca e como pro-blematiza o sistema de arte?

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- eventos-obras e distanciamento da vida. Vocês, alunos eprofessores, concordam, discordam, acrescentam, ques-tionam, ampliam...

As palavras de Oiticica podem ser copiadas do vídeo (por umasérie de paradas) e se tornarem pistas para criações, interli-gando relações socioculturais dos alunos de uma classe.

Oiticica se classificava como inventor e não como artistaplástico, dizendo:

O artista, o papel dele, é declanchar no participador, que é o ex-espectador o estado de invenção. O artista declancha no participadoro estado de invenção (...) Eu declancho o grande estado de inven-ção (...) as pessoas normais se transformam em artistas plásticos(...) eu declancho (...) eu não me transformei num artista plástico,eu me transformei num declanchador de estados de invenção.15

Algumas questões pensadas por Oiticica são capazes deampliar ainda mais: o que é um artista? O que é uma cria-ção? A vida não poderia ser, ela mesma, considerada umasérie de atos criativos? Como e por que mudar o estado atualdo sistema de arte?

O neoplasticismo é uma teoria proposta por Mondrian queinfluencia Theo Van Doesburg. Os seus preceitos afirmam aarte como abstrata, devendo ser usados ângulos retos naposição horizontal e vertical e cores primárias complementadaspelo preto, branco e cinza. O construtivismo surge na Rússia,baseado no culto futurista da máquina. É expresso pela pri-meira vez nas Construções em relevo (1913) de Tatlin, entran-do pelos campos do desenho industrial, teatro, cinema e ar-quitetura. O suprematismo, fundado pelo russo Malevich, pro-põe as composições pictóricas baseadas em figurasgeométricas. Quais relações podem ser feitas entre HélioOiticica e esses artistas e movimentos, como também com oconcretismo e neoconcretismo brasileiro?

Conhecendo pela pesquisaNa história brasileira, o ano de 1967 é significativo do pontode vista artístico: Glauber Rocha lança Terra em transe, JoséCelso monta O rei da vela, de Oswald de Andrade, enquanto

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material educativo para o professor-propositor

H. O. SUPRA-SENSORIAL

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Hélio Oiticica apresentava Tropicália, obra que deu inspira-ção para o título do movimento. O intercâmbio entre todasessas áreas era constante. O que os alunos podem descobrirsobre esse caráter de contaminação entre as artes, que temem Oiticica uma figura central, por seu papel de “conectador”?

O tropicalismo define um projeto de enfrentamento às dicotomiasestéticas; privilegia a música popular nas questões políticas eculturais; efetua uma síntese entre poesia e música; re-desco-bre a tradição e faz críticas à sua desvalorização; enfatiza ascoisas brasileiras. As muitas músicas (letras e musicalidades),em H.O. supra-sensorial, podem ser pesquisadas estimulandoconexões entre as dimensões políticas, sociais e culturais.

Entre Oiticica e Lygia Clark se desenha um cruzamento de per-curso artístico. Qual cruzamento é esse? A pesquisa pode co-meçar por meio das imagens e obras de Lygia Clark, ou ainda,pelo documentário Exposição Lygia Clark, disponível na DVDtecaArte na Escola. Quais questões ambos os artistas discutem emseus percursos de criação, da arte e das culturas.

Hélio Oiticica fazia uma releitura muito pessoal do conceitode antiarte, baseada na participação do espectador. O queos alunos podem descobrir sobre isso?

O CD Marítmo de Adriana Calcanhotto contém a faixaParangolé Pamplona e é um trabalho que tem muitos concei-tos e imagens ligadas ao tropicalismo. Como AdrianaCalcanhotto realiza a tradução de tudo isso para sua música?

Para Suzanne Langer16:

a forma não-discursiva na arte tem uma função diferente, articularconhecimentos que não podem ser expressos discursivamenteporque ela se refere a experiências que não são “formalmente”acessíveis aos discursos. Tais experiências são os ritmos da vidaorgânica, emocional e mental (o ritmo da atenção é um elo entreeles), que não são simplesmente remédios, mas infinitamente com-plexos e sensíveis... Juntos, eles compõem o sentir.

A sensação é a emoção vital, aquilo que está vivo em nós. Oiticicaaciona, por suas obras, as supra-sensações que nos habitam enos convoca a vivê-las. Em seu percurso artístico, como se mani-festa a procura e a incorporação do supra-sensorial em suas obras?

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Amarrações de sentidos: portfólioSentidos e sensações estão acionados pelas sugestões e exercí-cios de criação. Os alunos podem fazer Caixas de criação ouCadernos de criação que sejam acionadores de tatilidades (folhe-ar, abrir e dobrar, sobrepor, encadernar, encartelar); olfatividades(cadernos-caixas de cheiros, de odores, de espirros); gustativos(cadernos degustáveis, folhas que se comem, se mordem, se de-gustam); sonoridades (espaços e ambientes sonorizados); visibi-lidades (cadernos com partes de coisas a serem completadas pelavisão, por exemplo, um círculo semi-construído), ou “jogos dos 7ou mais erros”). A estética desses arranjos e as estesias por elesconvocadas podem fazer ver novamente o percurso dos trabalhosrealizados a partir do estudo sobre Hélio Oiticica.

Valorizando a processualidadeExperimental assumido, sensório cultivado, sentidos-sentidos,corpo-arte, corpus-arte, viver o “quasi-corpus” estão todos emjunção, interligando caminhos, trajetos, percursos. Umaprocessualidade se instaura ao encarnar os trabalhos de HélioOiticica, e uma outra se instala ao viver os percursos pessoaise coletivos das associações, das provocações, das criações.

Hélio é um provocador, você, professor-propositor, também provo-ca e convoca seus alunos a se abrirem para o experimental, a assu-mirem o viver e compreenderem a proposição Oiticiquiana. Ao finaldeste projeto, o que você e seus alunos percebem que conheceramsobre Oiticica e seu percurso artístico? O que o estudo a partir dovídeo ampliou em relação aos saberes ligados à arte/vida, às suasproposições e desdobramentos na arte contemporânea?

GlossárioAntiarte – segundo Hélio Oiticica “Antiarte-compreensão e razão de ser do

artista, não mais como um criador para a contemplação, mas como um motivador

para a criação – a criação como tal se completa pela participação dinâmica do

espectador, agora considerado participador. Antiarte seria uma contemplação

da necessidade coletiva de uma atividade criadora latente, que seria motivada

de um determinado modo pelo artista; ficam, portanto, invalidadas as posições

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material educativo para o professor-propositor

H. O. SUPRA-SENSORIAL

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metafísicas, intelectualistas e esteticistas.” Fonte: OITICICA, Hélio. Aspiro aogrande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 100.

Labirinto – denominação dada por Oiticica aos primeiros Penetráveis (a

partir de 1960), prolongamentos lógicos dos Núcleos, também labirínticos:

tábuas de madeira pintadas, suspensas por fios de náilon, que descem e,

ao tocar o solo, formam paredes – os Penetráveis. Unindo diversos

Penetráveis-Labirintos, Oiticica cria os Projetos: corredores, claros ou som-

brios, iluminações em cores diversas, portas, paredes de separações trans-

parentes ou opacas (em tecido, em madeira, em plástico, em voal ou em

grades metálicas), diversos tipos de passagens internas e externas do

labirinto ou entre um compartimento e outro. Fonte: JACQUES, Paola

Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra

de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.

Parangolé – é a antiarte por excelência para Hélio Oiticica. O Parangolé leva às

últimas conseqüências a libertação da pintura de seus antigos liames. Trata-se

de uma espécie de capa (lembra ainda bandeira, estandarte, tenda) que não

desfralda plenamente à luz sua imagem de uma miríade de tons, cores, formas,

texturas ou grafismos senão a partir dos movimentos – da dança – de alguém

que a vista. A dança de quem veste o Parangolé não apenas o revela ao espec-

tador que não o veste, mas, sobretudo, ao dançarino mesmo. Na verdade, o

dançarino se mostra ao dançar. Desaparece, assim, a separação tradicional entre

o sujeito e o objeto da contemplação, a obra. Fonte: OITICICA, Hélio. Bases

fundamentais para uma definição do Parangolé, novembro de 1964. In: OPI-NIÃO 65. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna, 1965. Catálogo.

Supra-sensorial – era constituído de uma série de exercícios de criação,

de experiências abertas, nas quais o objeto não era mais do que um pre-

texto. Para despertar os cinco sentidos, Hélio Oiticica visava um

descondicionamento de cada participante para que este redescobrisse em

si uma capacidade de criar. Fonte: <www.niteroiartes.com.br/cursos/

la_e_ca/depoimentosoiticica.html>.

BibliografiaBRETT, Guy. Brasil experimental: arte/vida: proposições e paradoxos. Rio

de Janeiro: Contra Capa, 2005.

FABBRINI, Ricardo Nascimento. O signo conceitual. In: ___. A arte depoisdas vanguardas. Campinas: Ed. da Unicamp, 2002.

FABRIS, Annateresa (org.). Arte & política: algumas possibilidades de lei-

tura. Belo Horizonte: C/Arte; São Paulo: Fapesp, 1998.

FAVARETTO, Celso. A invenção de Hélio Oiticica. São Paulo: Edusp, 1992.

JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas

através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2001.

MERLEAU-PONTY, Maurice. “O olho e o espírito” e “A dúvida de Cézanne”. In: ___.

Merleau-Ponty: vida e obra.São Paulo: Abril Cultural, 1984. (Os pensadores).

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OITICICA, Hélio. “Aparecimento do supra-sensorial na arte brasileira” e

“Programa ambiental”. In: ___. Aspiro ao grande labirinto. Rio de Ja-

neiro: Rocco, 1986.

___. Experimentar o experimental. Arte em Revista. Homenagem a HélioOiticica. São Paulo: Kairós, n.5, 1981.

Seleção de endereços sobre arte na rede internet

Os sites abaixo foram acessados em 16 abr. 2006.

CALCANHOTTO, Adriana. Disponível em: <www.adrianacalcanhotto.com>.

CLARK, Lygia. Disponível em: <www.mac.usp.br/projetos/seculoxx/

modulo3/frente/clark>.

OITICICA, Hélio. Disponível em: <www.pitoresco.com/brasil/oiticica/oiticica.htm>.

___. Disponível em: <www1.uol.com.br/bienal/24bienal/nuh/pnuhoiticic02a.htm>.

Notas1 PEDROSA, Mário. Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspectiva, 1975.

2 Sobre Marcel Duchamp consultar: ARCHER, Michael. Arte contempo-rânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.3 Hélio OITICICA, Aspiro ao grande labirinto, p. 102-105.4 Ibid., p. 78.5 Ver mais sobre o neoconcretismo em: <www.artbr.com.br/casa/index.html>.6 Ver em Ricardo Nascimento FABBRINI, A arte depois das vanguardas, p. 135.7 Maurice MERLEAU-PONTY, Merleau-Ponty: vida e obra, p. 83-126.8 Ibid., p. 92.9 Consulte os DVDs Arte conceitual e Exposição Lygia Clark, disponíveis

na DVDteca Arte na Escola.10 FIGUEIREDO, Luciano (org.), Lygia Clark, Hélio Oiticica: cartas: 1964-

1974. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996, p. introdutória.11 A idéia do achado casual se torna freqüente nos últimos trabalhos de Oiticica,

sobretudo em suas propostas urbanas. Ele começa se apropriando dos la-

tões-tochas-de-fogo que sinalizavam as obras na cidade do Rio de Janeiro

durante a noite. In: Hélio OITICICA, Aspiro ao grande labirinto, p. 104.12 Parangolé Pamplona é uma faixa do CD Marítmo (1998), de Adriana Calcanhotto.13 OITICICA Hélio, Made-on-the-body cape 1968 (Parangolé Pamplona).Fonte: <www.faced.ufba.br/~cefet/parangole.htm>.14 Hélio OITICICA, Arte em Revista. Homenagem a Hélio Oiticica, p. 50-52.15 Entrevista com Ivan Cardoso (1979), “A arte penetrável de Hélio Oiticica”.

Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 nov. 1985.16 LANGER Suzanne, Sentimento e forma. São Paulo: Perspectiva, 1993, p. 249.

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