06. eduardo pellejero, arte sem superstições, modos de fazer, modos de ver, modos de pensar

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  • 7/23/2019 06. Eduardo Pellejero, Arte Sem Supersties, Modos de Fazer, Modos de Ver, Modos de Pensar

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    Arte sem supersties

    Modos de fazer / Modos de ver / Modos depensar1

    1

    PELLEJERO, Eduardo. Modos de fazer / Modos de ver / modosde pensar (Arte sem supersties. !n" Mu#tit$o"e%perimentaes #imites dis&unes artes e 'in'ias )eira

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    Eduardo Pe##e&ero Arte sem supersties

    O ue va#e, de fato, todo o patrim0nio 'u#tura# sen$o ouver a e%perin'ia ue nos #i2a a e#e3

    4a#ter 5en&amin

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    In'#usive se podemos 'e2ar a 'o#o'ar em 'ausa a sua

    pertinn'ia enuanto 'ate2oria 'r6ti'a, o modernismomar'ou um momento de in7e%$o nas formas em ue aso8ras de arte s$o produzidas, vistas e pensadas. 9antoda perspe'tiva dos artistas 'omo da dos apre'iadores edos 'r6ti'os, essa in7e%$o tina o si2no da #i8erdade eda insu8ordina$o a respeito dos ':nones ue por s;'uti'os, de so8er8a2ramati'a#, de o8s'enas edies de #u%o (5ORNE*1@, !, p. SK-.

    A imorta#idade em arte ; uma inf:mia, diziaMarinetti em 11S. Mais perto de n>s, aos ue, 'omo9eodotus, fa#am da imorta#idade das o8ras, Ro8erto5o#aTo a'onse#a um tapa 8em dado. C$o fa#o diz5o#aTo de partirs uma atitude e umae%pe'tativa dessa 6ndo#e (5ERNER 1W, "SX. A eradas pere2rinaes n$o a'a8ou. As pere2rinaes'ontempor:neas aos prin'ipais museus da Europa(assimi#adas ao denominado turismo cultural'ontinuam ainda o&e a reproduzir uma postura perantea arte 'u&as 8ases est$o em 'ausa pe#o menos desde os;'u#o Y!Y. Fa mesma forma ue na !dade M;dia,mu#tides de devotos dum 'u#to se'u#ar empreendem

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    via2ens ;pi'as rumo aos temp#os da 'ivi#iza$o. Domore#6uias em um santuBrio sa2rado, as 2randes o8ras de':none o'identa# se ofere'em aos visitantes 'omo

    6'ones do esp6rito umano, envo#tas num fa#somist;rio, numa fa#sa re#i2iosidade, 2era#mente unida aova#or e'on0mi'o, mas sempre invo'ada em nome da'u#tura e da 'ivi#iza$o (5ERNER 1W, 11"SZX eo&e, mais 'ini'amente ue nun'a, em nome dopatrimnio da humanidade. Domo o 'rente diante daima2em da vir2em, o devoto dessa teo#o2ia da arte n$one'essita o#ar para ver (tam8;m n$o terB tempo, nemespao, nem sosse2o e pode portanto fe'ar os o#os(a ':mara foto2rB='a faz isso por e#eS s> #e restane2o'iar a#2umas re#6uias fa#azes na #o&a de presentes,da mesma forma ue um pere2rino a8astado ne2o'iavadez s;'u#os atrBs uma a'a da 'ruz, um fra2mento dosanto sudBrio ou a 'aveira de *$o Jo$o 5atista [improvBve# idade de seis anosK.

    A ana#o2ia n$o ; despropositada. Em O papagaiode Flaubert, Ju#ian 5arnes 'onta ue, uando morreu

    *tevenson, a sua ama es'o'esa 'omeou vender 'a8e#oue, se2undo a=rmava, 'ortara da 'a8ea do es'ritoruarenta anos antes os =;is 'ompraram umauantidade su='iente de 'a8e#o 'omo para estofar umsofB.Z Ro8ert Louis *tevenson morreu em 1@S, emp#eno au2e do modernismo. O mais surpreendente ;ue esse 'omportamento supersti'ioso nos des'on'ertauando des'rito 'om ironia, mas n$o nos ; estrano. G

    de n>s ue fa#amos. Co fundo, pro'uramos nas ima2ensda arte a#2o ue &B n$o nos podem ofere'er" ua#uer'oisa de trans'endente, de a8so#uto, de imorta#.

    !sso n$o si2ni='a ue a arte &B n$o tena va#orpara n>sW. *i2ni='a, simp#esmente, ue esse va#or n$o; (n$o pode 'ontinuar a ser um va#or de 'u#to, ueesse va#or n$o deve ser reduzido [ 'u#tura e [s suasmisti='aes asso'iadas" o esp6rito, a 'ivi#iza$o, aumanidade. Para a#;m das diversas formas de de=nir amudana ue tem #u2ar no re2ime de identi='a$o dasartes por vo#ta do s;'u#o Y!Y a re'usa da misti='a$o ;

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    um prin'6pio 'omum para poder pensar a efetividadedas artes, e a sua re#a$o 'om a nossa e%perin'ia,'om as ima2ens ue nos o8'e'am, 'om as vidas ue

    vivemos.

    A ruptura ou mudana da ua# fa#amos tem #u2arao n6ve# da produ$o das o8ras de arte, mas tam8;m, emuito espe'ia#mente, ao n6ve# da forma em ue as'ontemp#amos, as 'onsumimos ou as pensamos n$os> as o8ras de arte ue s$o produzidas neste novore2ime, mas tam8;m as o8ras do passado, porue o&evemos essas o8ras 'omo nin2u;m as viu antes(5ERNER 1W, 1"1X.

    *e2undo Jon 5er2er, ue nisto retoma de forma#ivre as teses de 4a#ter 5en&amin so8re a o8ra de artena ;po'a da sua reproduti8i#idade t;'ni'a, o nossomodo de ver a arte foi mudado radi'a#mente 'om ainven$o da ':mara@. Co passado, as o8ras de arteeram uma parte inte2ra# do edif6'io para o ua# tinam

    sido rea#izadas. 9udo aui#o ue rodeava as o8rasformava parte do seu si2ni='ado, 'on=rmava e'onso#idava o seu sentido, so8redeterminava a suainterpreta$o. As o8ras perten'iam ao seu espaoprprio, assina#avam um #u2ar 'om si2ni='ado, o #u2arde uma manifesta$o do sa2rado, um #u2ar de 'u#to.

    A ':mara arran'a a o8ra de suaso8redetermina$o ritua# arran'andoprio, tornandoi a

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    i#us$o de um si2ni='ado ori2ina# e Qni'o e mu#tip#i'a osseus sentidos poss6veis, ue a2ora depender$o da s;riedos en'ontros fortuitos entre as reprodues e os

    espe'tadores11

    . 5er2er diz" A Vnus e arte de5otti'e##i era antes uma ima2em Qni'a, ue s> podia servista na a8ita$o onde se en'ontrava. A2ora suaima2em, ou um deta#e de#a, ou a ima2em de ua#ueroutra pintura reproduzida podem ser vistas num mi#$ode #u2ares ao mesmo tempo. (U Ho' as v no'onte%to de sua pr>pria vida. C$o est$o rodeadas demar'os dourados, mas pe#a fami#iaridade da a8ita$ona ua# se en'ontra vo' e pe#a 2ente ue rodeia vo'(5ERNER 1W, S"SZX.

    Co seu novo re2ime de visi8i#idade, o importante; ue, materia#mente idnti'as, as ima2ensreproduzidas est$o sempre asso'iadas a 'onte%tos,usos e ins'ries imprevis6veis, dei%ando o sentido daso8ras sempre em a8erto, sempre em &o2o1.

    Domo dissemos, o dis'urso de Jon 5er2er ;e%p#i'itamente devedor das teses de 4a#ter 5en&aminso8re a o8ra de arte na ;po'a da sua reproduti8i#idadet;'ni'a. 5en&amin 'o#o'a em uest$o as tentativasneo'#Bssi'as de de=nir a arte em termos de va#idadeest;ti'a eterna a partir de 'ate2orias 'omo 8e#eza,2nio, inspira$o, et'. Essas 'ate2orias, ue 5en&amin'onsidera inap#i'Bveis ao modernismo, 'onstituem

    misti='aes ue pretendem a8rir entre as o8ras e n>suma dist:n'ia insuperBve#, remitindo a arte a umre2ime de produ$o, visi8i#idade e 'on'eitua$o ue &Bn$o se ad;ua [ nossa e%perin'ia est;ti'a. Adist:n'ia, o pathos da dist:n'ia, o fato de n$o nossentirmos parte do ue 'ontemp#amos ;, de fato, aui#oue de=ne a aura1.

    *e2undo 5en&amin, as novas formas dereproduti8i#idade possi8i#itadas pe#a t;'ni'a imp#i'ammudanas sem pre'edentes no 'on'eito de arte e naforma em ue as o8ras s$o produzidas vistas e

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    pensadas, tornando o8so#etas as 'ate2orias est;ti'astradi'ionais. Fe forma 2era#, a arte sempre foireproduz6ve#, mas a reprodu$o me':ni'a (ou o&e

    di2ita# representa a#2o de novo, a#2o ue imp#i'a umamudana ua#itativa fundamenta#, ue 5en&amineuipara [ ue teve #u2ar na pr;ria (5ECJAM!C1@K, p. 1W.

    Essa mudana ua#itativa passafundamenta#mente pe#a indetermina$o do sentido daso8ras, na medida em ue a o8ra de arte ori2ina# dei%ade 'omportar ua#uer tipo de autoridade, em primeiro#u2ar, porue as reprodues s$o independentes doori2ina# e, em se2undo #u2ar, porue as '>pias podemser 'o#o'adas em situaes ue e%'edem o 'onte%to de'ria$o e e%i8i$o do ori2ina# (OCE9O --, p. S. Emse2uida, a reproduti8i#idade 'ompreende uma redu$oda dist:n'ia ue o re2ime aurBti'o a8ria entre as o8rase n>s o 'entro da aten$o ; des#o'ado da o8ra em si,enuanto entidade privi#e2iada, para o ponto deinterse$o entre a o8ra e o espe'tador. O va#or de 'u#to

    ; su8stitu6do, diz 5en&amin, por um va#or de e%i8i$o,de forma ta# ue a o8ra passa a imp#i'ar uma esp;'iede 'onvite ao pQ8#i'o para parti'ipar #Qdi'a e'riti'amente das o8ras, a8rindo assim uma nova ;po'apara a arte. G esse o sentido da provo'ativa a=rma$oda superioridade da pu8#i'idade so8re a 'r6ti'a, ue5en&amin faz por vo#ta de 1Z" o importante &B n$o ;o ue dizem as #etras em neon verme#o, mas a poa

    7ame&ante ue as re7ete so8re o asfa#to (5ECJAM!CapudRODL!9\ --, p. 1Z1. Enuanto para a 'r6ti'atradi'iona# a o8ra en'erra o sentido no seu ser, para5en&amin a arte reporta

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    Ran'i]re, uem denun'ia um para#o2ismo na dedu$odo prprio da pintura a partir da teo#o2ia do 6'one(5er2er, assim 'omo na assimi#a$o do va#or ritua# da

    ima2em ao va#or de uni'idade da o8ra de arte(5en&amin. Para Ran'i]re, a fun$o i'0ni'a e o va#or de'u#to das ima2ens perten'em a um re2ime ue e%'#ui aespe'i='idade da arte e a uni'idade das o8rasenuanto tais1S, e sua 'onfus$o imp#i'a umaam8i2^idade de fundo, ue o&e sustenta dis'ursos desi2nos t$o opostos 'omo os ue 'e#e8ram adesmisti='a$o moderna da arte e os ue dotam a o8rae seu espao de e%posi$o dos va#ores sa2rados darepresenta$o do invis6ve#1K.

    Por;m, na tentativa de resta8e#e'er as 'ondiesde inte#i2i8i#idade de um de8ate 'u&a import:n'ia n$o ;poss6ve# 'o#o'ar em uest$o, Ran'i]re pro'ura pensar'#aramente aui#o ue, so8 a no$o de modernidadeest;ti'a, ; pensado de forma 'onfusa. 9a# ; o sentido daanB#ise est;ti'a em termos de re2imes de identi='a$odas artes, isto ;, em termos de tipos espe'6='os de

    #i2a$o entre modos de produ$o das o8ras, ou dasprBti'as, formas de visi8i#idade dessas prBti'as e modosde 'on'eitua$o destas ou daue#as (RACD!_RE --,pp. W

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    s$o produzidas (o 6'one, por e%emp#o. Co re2imepo;ti'o das artes, a arte 'onuista 'erta autonomia emre#a$o ao ethos da 'o#etividade, mas para ser

    imediatamente asso'iada a uma estrita '#assi='a$o demaneiras de fazer ue de=ne a pertinn'ia dos temas,a adeua$o das formas, as 'ompetn'ias paraapre'iar, et'., em ana#o2ia 'om uma vis$o ierBrui'ada 'omunidade. G s> 'om o re2ime est;ti'o ue=na#mente a arte ; deso8ri2ada de toda e ua#uersu8ordina$o, n$o s> a va#ores ;ti'os ou re#i2iosos, mastam8;m a re2ras po;ti'as e ieraruias de temas,2neros e modos de fazer. A arte se a8re assim parauma 'on=2ura$o da e%perin'ia est;ti'a ue &B n$opressupe forma a#2uma de so8redetermina$o,ofere'endoprio. !ns'revendo

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    si2ni='ado ori2ina# (5ERNER 1W, 1S"KX. O re'ortede um deta#e, a monta2em de ima2ens, a indu$o deper'ursos visuais, a musi'a#iza$o e o 'omentBrio, s$o

    pro'edimentos 'omuns nesse sentido. Assim, pore%emp#o, uma pintura re#i2iosa raramente laica'omo oCaminho ao calvrio, de 5rue2e#, pode serapresentada 'omo um simp#es uadro devo'iona# pe#osimp#es iso#amento de um deta#e, ou, pe#o mesmopro'edimento, ser mostrada 'omo um e%emp#o depintura paisa2ista, ou em termos da ist>ria do vestidoou dos 'ostumes so'iais.

    Por outro #ado, a am8i2^idade pr>pria daidenti='a$o das artes no novo re2ime (t;'ni'o dereproduti8i#idade ou est;ti'o das artes, pou'o importaaui 'o#o'a as o8ras [ nossa disposi$o, propi'iando a'one%$o da nossa e%perin'ia da arte 'om outrase%perin'ias ('riativas, e%isten'iais, so'iais, po#6ti'as.!sso si2ni='a ue as ima2ens podem ser usadas 'omopa#avras, ue podemos fa#ar 'om e#as (5ERNER 1W,"-WX si2ni='a ue a arte 'onstitui (ou pode

    'onstituir uma #in2ua2em visua# (mas tam8;m,se2undo os 'asos, tB'ti#, musi'a#, po;ti'a,'inemato2rB='a da ua# podemos nos va#er parades'rever, 'riti'ar ou re'riar a nossa e%perin'ia.

    A arte apare'e para n>s, a partir de ent$o, 'omoum reservat>rio de ima2ens e o8ras, prBti'as e'on'eitos, 'u&a e%trapo#a$o dos 'onte%tos parti'u#aresonde foram e#a8orados e a sua introdu$o em outros

    'onte%tos (varia$o tm por o8&eto au%i#iar

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    de diferenas sem identidade, ue in'#usive a partir darepeti$o materia#mente mais e%ata ; 'apaz dearti'u#ar um novo sentido (Menard.

    A 'o#a2em ta#vez se&a a prBti'a ue me#or dB'onta desse novo re2ime, e nessa medida ; i2ua#mentea8ordada por 5en&amin e Ran'i]re. Mas 5er2er nosprope outros e%emp#os n$o menos insti2antes, a'omear pe#a prBti'a 'omum de montar foto2ra=as,reprodues de o8ras de arte, desenos e anotaesso8re um uadro de 'ortia. Ou desenvo#vendo, deforma ori2ina#, uma forma de ensaio visua# de 'u&apotn'ia 'r6ti'a ainda n$o e%tra6mos todas as'onse^n'ias.

    A arte ; (pode ser uma esp;'ie de #in2ua2em. Oatua# re2ime das artes propi'ia uma possi8i#idadeassim. Por;m, nem os meios t;'ni'os de reprodu$o,nem a desin'orpora$o est;ti'a, e#ementos ue

    su8vertem toda a ordem da produ$o e da apre'ia$o,s$o su='ientes para asse2urar a desmisti='a$o daarte, ue sistemati'amente vo#ta a introduzir umadist:n'ia insuperBve# entre n>s e as o8ras. Domo dizia5en&amin no seu ensaio de 1Z, o va#or de 'u#to n$o'ede sem resistn'ia (5ECJAM!C 1@K, p. 1WS e ospr>prios meios de reprodu$o s$o muitas vezes'o#o'ados ao servio da restaura$o duma 'erta

    trans'endn'ia da arte, produzindo su'ed:neos daaura, isto ;, 'o#o'ando as o8ras fora da nossa esfera dea$o, a#;m da nossa 'apa'idade de apropria$o, deinterpreta$o ou de uso1Z.

    Por e%emp#o, a t;'ni'a nos permite a'ederfa'i#mente a #ivros de arte 'om reprodues dea#t6ssima ua#idade mas a#2umas vezes (demasiadasvezes aui#o ue as reprodues tornam a'ess6ve#, ote%to ue a'ompana as reprodues o tornaina'ess6ve#, ini8indo esse pro'esso de resi2ni='a$odas e%perin'ias est;ti'as a partir da nossa prB%is vita#

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    Ent$o ; 'omo se a 'r6ti'a tentasse evitar ue demossentido [s o8ras nos nossos pr>prios termos. O uepoderia se 'onverter em parte da nossa #in2ua2em diz

    Jon 5er2er ; 2uardado e mantido no estreito terrenodo espe'ia#ista em arte (5ERNER 1W, S"X.9ratando as o8ras 'omo se fossem re#6uias sa2radas, afa#sa misti='a$o ue rodeia a arte feita de uma#am8i'ado &ar2$o t;'ni'o e de va2as 2enera#izaessem sentido mas'ara as ima2ens e instaura entre n>se as o8ras esse pathos da dist:n'ia ue 'ara'teriza aarte no seu re2ime aurBti'o1W.

    !n'#usive dispondo dos meios t;'ni'os, da#i8erdade ne'essBria e dos 'on'eitos asso'iados,re#a'ionar o ue vemos, ouvimos, #emos ou to'amos'om a nossa pr>pria e%perin'ia 'ontinua estando ['onta daui#o ue uiB fosse poss6ve# 'amar deutopia esttica. +topia ue, sem ima2ens de um =m oum o8&etivo a atin2ir, dB forma ao dese&o moderno dedesfazer a dist:n'ia ue tende a insta#ar

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    ne'essidade de 2rande difus$o, em peuenos 2rupos,entre amizades, 'onstituindo nesse sentido umaverdadeira 'ir'u#a$o do dese&o de es'rever e do prazer

    de #er, su8vertendo o nefasto div>r'io entre #eitura ees'ritura (5AR9E* 1WK, p. S.Cum sentido simi#ar, Ran'i]re dirB ue uma

    'omunidade eman'ipada ; uma 'omunidade denarradores e tradutores (RACD!_RE -1-, p. @, sendoo tra8a#o po;ti'o de tradu$o o prin'6pio daeman'ipa$o, na medida em ue a eman'ipa$o passape#o apa2amento da fronteira ue separa aue#es ueatuam e aue#es ue o#am, aue#es ue 'riam eaue#es ue 'ontemp#am, entre o #ei2o e o espe'ia#ista,omens todos, em =m, ue parti#am as mesmasfa'u#dades, as mesmas 'ompetn'ias, i2ua#inte#i2n'ia1@. *er espe'tador, nesse sentido, n$o ; a'ondi$o passiva ue dever6amos transformar ematividade, mas a nossa situa$o norma#, atrav;s da ua#aprendemos e ensinamos, atuamos e 'one'emos,#i2ando aui#o ue vemos 'om aui#o ue vimos e

    dissemos, =zemos e sonamos. E n$o se trata de'onuistar o #u2ar do espe'ia#ista1, mas deamadure'er, em n>s, a arte de traduzir as nossasaventuras inte#e'tuais para o uso dos outros, assim'omo de 'ontraprias aventuras. A arte n$onos ensina nada, n$o nos impe verdade a#2uma a artenos 'ama a aventurarprio, 'o#o'ando [ prova (veri='ando a i2ua#dade dasinte#i2n'ias.

    Em O !ue a literatura" (1S@, *artre &Bassina#ava ue a e%perin'ia est;ti'a n$o tem por'orre#ato o prazer, mas a a#e2ria, isto ;, um intensosentimento da nossa #i8erdade, desse poder paraa2en'iar e re

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    E ainda, no esp6rito dessa verdadeira po#6ti'a daarte, na pB2ina ue fe'a o #ierre enard, 5or2esatri8u6a a este Q#timo as pa#avras ue, se2undo

    Ran'i]re, d$o forma aos pressupostos n$o razoBveis detoda a est;ti'a da eman'ipa$o" Pensar, ana#isar,inventar n$o s$o atos an0ma#os, s$o a norma#respira$o da inte#i2n'ia. N#ori='ar o o'asiona#'umprimento dessa fun$o, entesourar anti2ospensamentos, re'ordar 'om in'r;du#o estupor ue odoctor universalis pensou, ; 'onfessar a nossa#an2uidez ou a nossa 8ar8Brie. 9odo o omem deve ser'apaz de todas as ideias e a'redito ue no porvir oserB (5ORNE* 1@, !!, p. SK-.

    Cuma ;po'a na ua# as nossas potn'iasespirituais s$o sistemati'amente 'on=s'adas por uma#>2i'a ue as torna pura passividade 'ontemp#ativa (e'onsumista perante uma ima2em espe'u#ar oufantasmBti'a do mundo (misti='a$o 'apita#ista da

    'u#tura ou sa2ra$o feti'ista da natureza, restituir aarte e as suas o8ras, o pensamento e as suas prBti'as [esfera do uso dos omens 'onstitui 'omo assina#aA2am8en (--Z, p. 1 uma tarefa po#6ti'afundamenta# (para n>s e para as futuras 2eraes.

    As 8i8#iote'as n$o ardem t$o fa'i#mente 'omoane#avam os modernistas. Os museus pro#iferam1. MasuiB nun'a se tratou de ueimar os #ivros, nem de

    pres'indir das o8ras. uiB s> se tratava de entenderue a ist>ria n$o se en'ontra fe'ada, mas ; umatarefa proposta [ nossa #i8erdade, ue o mundo estBessen'ia#mente ina'a8ado, e ue estB tudo por ver, porpensar e por fazer.

    Referncias ANAM5EC Nior2io (--Z #ro$ana%es tradu$o

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    Eduardo Pe##e&ero Arte sem supersties

    portu2uesa de Lu6sa )ei&>, Lis8oa, Dotovia. 5AR9E*, Ro#and (e outros (1WK, &screver''' #ara

    !u" #ara (uem", Lis8oa, Edies W-.

    5EL9!CN, ans (--, IE# arte moderno sometido a#a prue8a de# mito de #a o8ra maestra, in Fanto (eoutros, (u es una obra maestra", 5ar'e#ona,Dr6ti'a.

    5ECJAM!C, 4a#ter (1@K IA o8ra de arte na era desua reproduti8i#idade t;'ni'a, in O8ras Es'o#idas Ma2ia e t;'ni'a, arte e po#6ti'a" ensaios so8re#iteratura e ist>ria da 'u#tura, *$o Pau#o, Ed.

    5rasi#iense. 5ECJAM!C, 4a#ter (1, )obre algunos temas en*audelaire, 5uenos Aires, Edi'iones e#a#ep.'om(ttp"//es.s'ri8d.'om/do'/Z-SS@1/5en&aminria 'u#tura# deEuropa ue fora desse mar'o de refern'ia perde seu sentido (5EL9!CN --, p. SW. E, em Q#timainst:n'ia, a pr>pria no$o de aura permite uma #eitura a#;m do fun'ionamento ritua# da o8ra dearte. G o ue nos #em8ra Pau#o Fomene' Oneto, uem referindo o ensaio de 5en&amin I*o8rea#2uns motivos em 5aude#aire assina#a ue aui#o ue me#or 'ara'teriza o fun'ionamento daaura das o8ras de arte no seu re2ime p>s

  • 7/23/2019 06. Eduardo Pellejero, Arte Sem Supersties, Modos de Fazer, Modos de Ver, Modos de Pensar

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    o espe'tador, ue se #imita a prestar 'u#to, a repetir os 2estos rituais, em Q#tima instan'ia a fe'aros o#os perante a ima2em 'onsa2rada.14 A retrai$o de um ; ne'essBria [ emer2n'ia de outro. C$o se se2ue ue o se2undo se&a aforma transformada do primeiro. (RACD!ERE --, p. 15Para Ran'i]re tam8;m ; duvidoso ue se&a poss6ve# deduzir as propriedades est;ti'as e po#6ti'asde uma arte a partir de suas propriedades t;'ni'as pe#o 'ontrBrio, a'redita a mudana asso'iada[ foto2ra=a e ao 'inema depende de um novo re2ime de identi='a$o das artes ue, ao mesmo

    tempo, 'onfere visi8i#idade [s massas e permite ue as artes me':ni'as se&am vistas 'omo tais(RACD!_RE --, pp. SK

  • 7/23/2019 06. Eduardo Pellejero, Arte Sem Supersties, Modos de Fazer, Modos de Ver, Modos de Pensar

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    20 O re'one'imento da #i8erdade por si pr>pria ; a#e2ria (U Domo, de outro #ado, o o8&etoest;ti'o ; propriamente o mundo, na medida em ue ; visado atrav;s dos ima2inBrios, a a#e2riaest;ti'a a'ompana a 'ons'in'ia posi'iona# de ue o mundo ; um va#or, isto ;, uma tarefa pro