04 - tratamento [modo de compatibilidade] · centro hospitalar lisboa norte, hospital de santa...
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22-10-2008
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Tratamentodda
oclusão intestinal por doença
maligna
Filipa TavaresUnidade de Medicina Paliativa
Centro Hospitalar Lisboa Norte, Hospital de Santa Maria - Lisboa
Caso clínico• NG, mulher 69 anos• casada, 2 filhos, doméstica, ,• história oncológica
– clínica: náuseas, anorexia, anemia normocítica– diagnóstico: adenocarcinoma antro gástrico
pouco diferenciado– tratamento:
• gastrectomia subtotal (gânglios; carcinomatose peritoneal)
• quimioterapia paliativa: capecitabina; procinético
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Caso clínico• história oncológica
– evolução:ç• 5º mês – lombalgia (focalização óssea)
↓ ponderaldor abdominal, náuseas e vómitos
– QT 2ª linha docetaxel – analgesia fentanil TD– RT paliativa
• 6º mês - internamento por “desidratação”» recorrência náuseas, vómitos, cólicas e distensão
abdominal
Caso clínico
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• Pedido de parecer pela Oncologiacontrolo sintomático
Caso clínico
– controlo sintomático– evicção de internamento
doente e famíliasem noção do prognóstico;filh dfilha empregada; a residir a 55Km do hospital;
• Problemas– oclusão intestinal sintomática
i d i i t ã t ótid d t
Caso clínico
• via administração sc; octreótido, dexametasona, haloperidol
– controlo da dor• patch fentanil (PSC morfina DIB)• butilescopolamina sc
– cuidados à boca
– articulação com os cuidados primários– informação e tomada de decisão quanto ao fim
de vida – suporte social (logística e apoio domiciliário)
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A abordagem “clássica”• aguardar cirurgia ou a resolução da
obstruçãoobstrução• “drip and suck”
– dieta 0– sonda nasogástrica em drenagem
/ t i ã té i– +/- nutrição parentérica
A abordagem “paliativa”• sem indicação cirurgia, resolução
improvávelimprovável• objectivo: minimizar o desconforto
– monitorização contínua e tratamento agressivo dos sintomas- evicção de procedimentos desnecessáriosç p m- comunicação apropriada
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evidência clínicaanamnese
Oclusão intestinal malignanível de obstruçãoligamento de Treitz
+anamneseobservaçãoimagiologia
+neoplasiaabdominal incurável
ou
ligamento de Treitz
ou extraabdominal c/ envolvimento intraperitoneal
OIM - prevalência
• na altura do diagnóstico– tumor colorectal
• 10-30%• 85% das urgências
• na doença avançada• tumores gastrointestinais 4-28%tumores gastrointestinais 4-28%• outros (ex ginecológicos) 5-51%
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OIM - etiologia• obstrução mecânica
extra luminal– extra-luminal– intra-luminal– intramural
• perturbação da motilidade– paraneoplásicap p– infiltração mesentério / plexo celíaco– medicação– estado geral
OIM - fisiopatologiaobstrução parcial ou completa
dor tipo cólica
↓ ou interrupção da propulsão intestinal
↑ contractilidade intestinal
↑ da distensão abdominal ↑ volume intraluminal
superfície epitelial
secreção intestinal (H2O, NaCl)lesão epitelial
edema e hiperemia
produção mediadores nociceptivos, PGs e VIP
dor contínua náuseas e vómitos
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– história– exame objectivo
OIM - diagnóstico
exame objectivo– avaliação laboratorial– métodos de imagem
OIM - históriasintomas estômago ou
delgado proximaldelgado distal ou colon
vómitos biliosos aquosos peq quantidadevómitos
dor
biliosos, aquososabundantessem odor
precoceperiumbilicalcólicas frequentes
peq quantidadeodor fétidopodem não existir
tardialocalizada, visceralcólicas esporádicas
distensão abdominal
anorexia
pode não existir
habitual
presente
pode não existir
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Rx simples
OIM - imagiologia
• Rx simples• Estudos com contraste (gastrografina)
• TC• Estudos endoscópicos
RM• RM
OIM• alta vs baixa• parcial vs completa• parcial vs completa• funcional vs mecânica• focal vs multifocal
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• na dependência de:– o doente
OIM - tratamento
o doente• desejos• performance status
– a doença • tipo de tumor• tratamentos préviostratamentos prévios
– a causa tipo• etiológico• sintomático
• electiva vs urgente• idade
• co-morbilidades • terapêutica prévia/ em
OIM - cirurgia
• idade• estado nutricional• performance status
• terapêutica prévia/ em curso
• bem estar psicológico• suporte social
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• absolutas• dça inoperável em laparotomia recente• cirurgia prévia com metastização difusa
OIM – contra-indicações cirurgia
• cirurgia prévia com metastização difusa• envolvimento gástrico proximal• carcinomatose generalizada nos exames de imagem • massas difusamente palpáveis• ascite volumosa recorrendo rapidamente
• relativas• metastização extra-abdominalç• PS baixo• desnutrição• idade avançada• radioterapia abdominal prévia
OIM – cirurgia
• Tomada de decisão– consentimento informado vs esperança– futilidade terapêutica
expectativas realistas
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• Sonda
OIM – descompressão mecânica
Sonda• nasogástrica• gastrostomia percutânea
• Endoprótese í lexpansível
OIM – descompressão
• SNG como medida temporária• SNG como medida temporária– até início efeito farmacológico– volumes ↑ ↑ ↑
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PEG drenagem / “ventilação”
alternativa à drena em por SNG• alternativa à drenagem por SNG• contraindicação relativa:
– ascite – infiltração parede gástrica
OIM – endopróteses Eficácia e segurança de endoprótese
na oclusão por tumor colorectalKhot et al. Sebastian et al.
Sucesso técnicoclínico
Mortalidade
92%88%1%
94%91%0,6%
PerfuraçãoMigraçãoRe-obstrução
4%10%10%
3,8%11,8%7,3%
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• bypass cirúrgico– bom PS – sobrevida > 2 meses
endoprótese– tumor pequeno– obstrução focal– PS intermédio– sobrevida > 1 mêsOIMOIM
abordagemterapêutica médica (ou PEG drenagem…)
– PS baixo– dça rapidamente progressivap p– carcinomatose peritoneal– ascite maligna– obstrução multifocal– sobrevida < 1 mês
OIM inoperável
º d b ênº doentes sobrevivência média (dias)
Laval, 2000 52 41
Mercadante, 2004 15 31
Laval, 2006 80 31
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OIM – terapêutica médica
• objectivosobjectivos– controlo da dor – ↓ vómitos sem recurso a SNG– alívio da náusea– possibilitar a alta hospitalar
OIM – terapêutica médica
• abordagem multidimensionalfí– física
– psicológica– social– espiritual
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OIM – terapêutica médicaescada analgésica OMS
opioides fortesdor contínua
anticolinérgicos
butilescopolamina
náuseas e vómitos
dor tipo cólica
anticolinérgicosbutilescopolamina
antieméticos40-120mg/dia metoclopramida (só na
obstrução parcial sem cólica)
++/-
e/ou
octreótido0,2-0,9mg/dia
obstrução parcial sem cólica)
haloperidol
levomepromazina*
cloropromazina**
50-150mg/dia
5-15mg/dia
50-100mg 8/8h
* SC/PSC ** EV
OIM – terapêutica médicaescada analgésica OMS
opioides fortesperfusão contínua SC / EV
via transdérmica dor contínua
anticolinérgicos
butilescopolaminador tipo cólica perfusão contínua / bólus
SC / EV
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OIM – terapêutica médica
náuseas e vómitos anticolinérgicosbutilescopolamina
antieméticos40-120mg/dia metoclopramida (só na
obstrução parcial sem cólica)
+/-
e/ou
octreótido0,2-0,9mg/dia
obstrução parcial sem cólica)
haloperidol
levomepromazina*
cloropromazina**
50-150mg/dia
5-15mg/dia
50-100mg 8/8h
* SC/PSC ** EV
• octapéptido sintético análogo da t t ti
OIM – octreótido
somatostatina• actividade: 12h (T1/2: 90-120min)• administração
• perfusão SC / EV• bólusbólus
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• mecanismo de acçãoi éli i i l
OIM – octreótido
– epitélio intestinal – ↓ secreção H2O e NaCl– ↑ absorção H2O e electrólitos– inibição da anidrase carbónica
– inibição dos péptidos estimulatórios – supressão secreções GI e pancreáticas
– inibição dos nervos excitatórios - relaxamento e ↓inibição dos nervos excitatórios - relaxamento e ↓actividade espástica não propulsiva
– ↓ fluxo e pressão circulatória mesentérica
OIM – papel do octreótido autor (ano) dose nº doentes efeito
Khoo (1994) 0,1-0,6mg/d 24 ↓ vómitos 24h 75%Khoo (1994)
Mercadante (2000)
Shima (2004)
Mangili (2005)
0,1 0,6mg/d
0,3mg/dBE 60mg/d
0,3mg/d
0,3-0,9mg/d
24
99
16
20
↓ vómitos 24h 75%
↓ dor 100%remoção SNG 76%
↓ vómitos 66%
↓ vómitos 95%
Matulonis (2005) LAR 30mg+ 0,3mg/d 2sem
13 sintomas GI 38%
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OIM – outros antieméticos
• granisetronb d i d l i ê i• aberto, randomizado, multicêntrico
• n=24• náusea refractária 1ª linha antieméticos• granisetron 3mg + dexametasona 8mg ev • 4 dias follow-up• ↓ naúseas episódios de vómitos (86 9%)• ↓ naúseas, episódios de vómitos (86,9%)• ↓ dor abdominal
Tuca A et al. J Pain Symptom Manage 2008, em publicação
• corticoterapia (?)é
OIM – terapêutica médica
dexametasona 6-16mg/d– antiemético– ↓ edema peritumor e peri-neural
Fainsinger R et al. J Pain Symptom Manage 1994;9:12–18Reid D. Med J Aust 1988; 148:54–57
Steiner N. Med Hyg 1991; 49:1182–1192Farr W Am J Hospice Care 1990; 1:41 46Farr W. Am J Hospice Care 1990; 1:41–46Feuer et al. Ann Oncol 1999;10:1035–1041
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OIM – hidratação / nutrição
• nutrição parentérica – a excepção– critérios:
PPS >50, idade jovem, tumores insidiosos, sem envolvimento orgãos vitais, suporte familiar e social, continuidade em casa ,
qb
OIM – hidratação / nutrição
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• xerostomia independente hidratação• ↓ naúseas > 1L/dia
OIM – hidratação artificial
↓ naúseas > 1L/dia
• qb (inconvenientes…)• SC (hipodermoclise) vs EV
– 1000-1500cc/24h1000 1500cc/24h– NaCl 0,9% ou D5% em NaCl 0,9%
em SOS suficiente na > parte casos
OIM – cuidados à boca
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OIM - conclusões• Doentes com PS baixo, carcinomatose peritoneal e
ascites volumosas não devem ser submetidos a cirurgia.
• A usar-se, a SNG deve ser apenas temporária.
• As endopróteses expansíveis são uma alternativa nos doentes com obstrução ao nível do piloro / duodeno proximal ou colon distal.
O l á b l• O controlo sintomático baseia-se na analgesia, terapêutica antisecretora e anti-emética.
• Se com o tratamento médico não se atingirem os objectivos estabelecidos a PEG de drenagem pode ser uma alternativa.
OIM – conclusões (II)• A nutrição parentérica tem indicações muito
restritas
• A hidratação parentérica pode estar indicada (ex.controlo de náuseas)
• Os cuidados regulares à boca são imprescindíveis
• O internamento para controlo sintomático podeO internamento para controlo sintomático podeser dispensável se existir a nível comunitário umaequipa interdisciplinar, com formação em cuidadospaliativos e estiver assegurado o acesso aosfármacos (opioides fortes, octreótido)
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Bibliografia• Ripamonti C, Twycross R, Baines M, Bozzetti F, Capri S, De Conno F
et al. Clinical-practice recommendations for the management of bowelobstruction in patients with end-stage cancer. Support Care Cancer2001;9:223-233.
• Laval G, Arvieux C, Stefani L, Villard ML, Mestrallet JF, Cardin N.L , , f L, L, JF, .Protocol for the Treatment of Malignant Inoperable Bowel Obstruction: AProspective Study of 80 Cases at Grenoble University Hospital Center JPain Symptom Manage 2006;31:502-512.
• Morita T, Bito S, Koyama H, Uchitomi Y, Adachi H. Development of aNational Clinical Guideline for Artificial Hydration Therapy for TerminallyIll Patients with Cancer J Palliat Med 2007;10: 770-780.
• Ripamonti C, Easson A, Gerdes H. Management of malignant obstructionEur J Cancer 2008; 44: 1105-1115
• Mercadante S, Ferrera P, Villari P, Marrazzo A. AggressivePharmacological Treatment for Reversing Malignant Bowel Obstruction Jg f g gPain Symptom Manage 2004;28:412-416
• Tuca A, Roca R, Sala C, Porta J, Serrano G, González-Barboteo J etal. Efficacy of Granisetron in the Antiemetic Control of NonsurgicalIntestinal Obstruction in Advanced Cancer: A Phase II Clinical Trial. JPalliat Med 2008, em publicação.
• Mercadante S, Casuccio A, Mangione S. Medical Treatment forInoperable Malignant Bowel Obstruction: A Qualitative Systematic Review.J Pain Symptom Manage 2007;33:217-223.
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