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    1/20Revista Batista Pioneira v. 1, n. 2, dezembro/2012

    EVANGELIZAO NO CONTEXTO DA POBREZA1

    Michael Kisskalt2

    RESUMOO presente artigo aborda a interao da igreja missionria com pessoas

    empobrecidas. Ele busca mostrar que a partir desta interao que se revela a medidaem que a igreja sustenta sua teoria evangelstica. O artigo procura evidenciar que

    misso e evangelizao esto intimamente ligadas com a questo social da igreja.

    Apresenta tambm experincias de encontros evangelsticos com pessoas em situaes

    de contexto de pobreza, tanto a pobreza absoluta como a pobreza relacional.

    Palavras-chaves: Evangelho. Evangelizao. Pobreza.

    ABSTRACTThis article discusses the interaction of missionary church with impoverished

    people. He wants to show that it is from this interaction that reveals the extent to

    which the church supports his theory evangelistic. The article seeks to demonstrate

    that mission and evangelism are closely linked with the social issue of the church. It

    also presents experiences of evangelistic meetings with people in situations of poverty

    1 Publicado originalmente em alemo em Theologisches gesprch[Dilogo teolgico] 35 (2011), p. 13-18.Traduzido por Roland Krber.2 O autor professor de Misso e Diaconia no Seminrio Teolgico de Elstal (FH), Johann-Gerhard-Oncken-Str. 7, 14641 Wustermark, Alemanha. E-mail: [email protected]

    Este artigo parte integrante da

    Revista

    Batista Pioneira

    Bblia,Teologia

    e prticaimpresso: ISSN 2316-462X

    online - ISSN 2316-686X

    http://revista.batistapioneira.edu.br/

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    context, both absolute poverty as relational poverty.

    Keywords: Mission. Evangelization. Poverty.

    1. INTRODUO

    particularmente na interao da igreja missionria com pessoas empobrecidas quese revela a medida em que se sustenta sua prpria teoria evangelstica e at que ponto

    tambm sua prtica til e motivadora. Pretende-se fundamentar a seguir as condies

    nas quais o testemunho evangelstico da igreja tambm dever e poder manifestar-se

    no contexto da pobreza. claro que no se pode explorar a carncia das pessoas para

    atra-las igreja. Por outro lado, o apelo f deveria manifestar-se a cada ser humano

    como convite para o ambiente do amor de Deus. Se esse apelo f ocorrer no comeo da

    incumbncia missionria geral da igreja, se estiver impregnado de respeito pelo outro ede sua valorizao e se reetir uma atitude de abertura e disposio para aprender, este

    tipo de evangelizao poder proporcionar encontros autnticos com Deus.

    Na dcada de 70, a discusso em torno do entendimento correto de misso e

    evangelizao, estreitamente entrelaado com a questo e a importncia do engajamento

    social da igreja, gerou grandes tenses em meio cristandade evanglica.3

    O grupo dos social e politicamente motivados, cujos adeptos se encontravam

    principalmente no Conclio Mundial de Igrejas (Conclio Ecumnico), focalizou as carnciasterrenas das pessoas, nas quais o amor de Deus interviria curando e libertando.4

    Segundo sua viso, a existncia transcendente do homem na eternidade de Deus era

    menos relevante para a atividade eclesistica. Toda a sua ateno se dirigia para o aqui e

    agora das carncias humanas - a existncia futura no alm de Deus no era considerada

    uma preocupao predominante da igreja.

    Diferente desta era a opinio dos cristos evanglicos reunidos no Movimento de

    Lausanne, iniciado com o Congresso de Lausanneem 1974. Segundo o Compromisso de Lausanne,5

    a evangelizao, ou seja, a proclamao de Jesus Cristo como Salvador e Senhor, capaz

    de despertar a f, a incumbncia primria da cristandade. A evangelizao seria a tarefa

    3 Sobre a multiplicidade da determinao relacional entre evangelizao e ao social cf. BOSCH, David.LEvanglisation: courants et contre-courants dans la thologie daujourdhui. Perspectives Missionaires17, 1989, p. 12-32. (verso original em ingls: Evangelism: theological currents and crosscurrents today[Evangelismo: as atuais correntes e contracorrentes teolgicas]: International Bulletin of MissionaryResearch 11, 1987, p. 98-103).4

    Cf.BOSCH,

    David. Transforming mission: paradigm shifts in theology of mission [Missotransformadora: mudanas de paradigma na teologia da misso]. New York: American Society of

    Missiology, 1991. p. 400-408: Mission as quest for justice [Misso como busca por justia]; p. 432-446:Mission as liberation [Misso como liberao].5 Disponvel em www.lausannerbewegung.de/data/files/content.publikationen/55.pdf. Acesso em 30/12/10.

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    urgente da igreja6porque milhes de pessoas ainda vivem sem f em Cristo. Enquanto

    o Compromisso de Lausanne se mostra um tanto discreto quanto questo do destino

    transcendente das pessoas sem relacionamento com Cristo, a histria da evangelizao

    registra perfeitamente a atitude de desconsiderao das carncias humanas terrenas

    em face das trevas eternas, atribuindo-se por isso assistncia crist um papel nulo ouapenas secundrio.7

    Entre estes dois polos extremos do conceito de misso da igreja desenvolveram-

    se tambm posies intermedirias. H cristos com motivao evangelstica que

    reconhecem a necessidade de em certos casos a assistncia social precisar preceder a

    evangelizao, para que, aps receberem ajuda, as pessoas tenham maior disposio de

    aceitar o testemunho evanglico. Outros classicam o aspecto social como decorrncia

    da evangelizao. O engajamento social decorre da mudana de estilo de vida aps aconverso. Finalmente, uma efetiva superao da separao entre evangelizao e

    engajamento social derivou da percepo de que a restaurao vinda de Deus abrange

    o homem por inteiro, sua existncia terrena em todas as suas facetas e, evidentemente,

    tambm seu relacionamento com Deus. Tanto a proclamao do evangelho com apelo

    converso como o engajamento sociopoltico tm o seu lugar na misso da igreja,

    ocorrendo sob a marca do reino de Deus vindouro,8podendo ser chamada de misso

    holstica9

    ou misso integral10

    .11

    Assim, desde a dcada de oitenta a evangelizao e

    6 Cf. o Artigo 9 do Compromisso de Lausanne.7 Cf. BERNEBURG, Erhard. Das verhltnis von verkndigung und sozialer aktion in der evangelikalenmissionstheorie- unter besonderer Bercksichtigung der Lausanner Bewegung fr Weltevangelisation[A relao entre proclamao e ao social na teoria evanglica de misses - com especial considerao doMovimento de Lausanne pela Evangelizao Mundial]. Wuppertal: STM, 1997.(em particular p. 106-147);cf. BOSCH, 1989, p. 13.8 Cf. o documento ecumnico Misso e Evangelizao (1982). In: WIETZKE, Joachim (Edit.). Misso

    explicada. Documentos ecumnicos de 1972 a 1992. Leipzig, 1993. p. 74-98.9 Cf. BERNEBURG, 1997, p. 177-199.10 Cf. RAMACHANDRA, Vinoth. Was ist und was bedeutet integrale mission? [O que e o que significamisso integral?] In: KUSCH, Andreas; SCHIRRMACHER, Thomas (Edit.). Der kampf gegen dieweltweite armut- aufgabe der Evangelischen Allianz? Zur biblisch-theologischen Begrndung der Micha-Initiative [A luta contra a pobreza mundial - uma tarefa para a Aliana evanglica? Sobre a fundamentaobblico-teolgica da iniciativa Miqueias, anurio 9 do Seminrio Martin Bucer]. Bonn: Martin BucerSeminars, 2009. p. 111-129. O Cape Town Commitment [Compromisso da Cidade do Cabo] confirmaessa conexo (cf. The Cape Town Commitment. A declaration of belief and a call to action. Draft advanceCopy [O Compromisso da Cidade do Cabo. Uma declarao de f e um chamado ao. Minuta], 2010, 16s(We love the worlds poor and suffering [Amamos os pobres e sofredores do mundo]). 22s (The integrity

    of our mission [A integridade da nossa misso]).11 Sobre o atual desafio de voltar a correlacionar diaconia e evangelizao, cf. POMPEY, Heinrich. Diediakonie des glaubens, hoffens und liebens als ausgangspunkt der evangelisation [A diaconia da f,da esperana e do amor como ponto de partida para a evangelizao: testemunho vivo 61]. LebendigesZeugnis, 2006. p. 185-200.

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    a diaconia so vistas em quase todas as igrejas crists como as duas dinmicas da

    misso crist, sendo atribudas mutuamente ainda que as nfases possam variar.12O

    que muitas vezes permanece nebuloso o que exatamente se dever entender por

    evangelizao e qual seria a forma de evangelizao adequada ao evangelho e ao

    homem. Aqui ento a evangelizao no contexto da pobreza se torna a pedra detoque de uma correta compreenso da evangelizao.

    2. O QUE SIGNIFICA EVANGELIZAO?Quem quiser fazer justia ao tema da evangelizao no contexto da pobreza precisa

    deixar claro o que ele entende por evangelizao. No mbito desta exposio, ento,

    no se expor a discusso missiolgica desta questo. Os aspectos relevantes da

    evangelizao sero resumidos em algumas teses que reetem seu sentido em termosde teologia da misso:

    2.1 Toda misso evangelstica tem a marca da misso de Deus que serealiza nas misses das igrejas

    A origem da atuao e da existncia missionria da igreja o prprio Deus. As

    misses da igreja originam-se no movimento missionrio de Deus (missio Dei).13

    As escrituras bblicas narram a histria de Deus com sua humanidade, testicandoa ativa e crtica interveno de Deus na histria humana com o m de explicar sua

    ideia do que seja vida. Na vida e no ministrio de Jesus e em sua morte e ressurreio,

    esse movimento de Deus em direo ao homem se adensa e esclarece em forma de

    vinda em amor e justia. Uma evangelizao adequada relaciona-se profundamente

    com esse movimento de Deus em direo ao homem. A evangelizao precisa ser

    compreendida em meio a uma misso que signica antes e depois de tudo: Deus

    dirige-se humanidade com seu amor e sua justia.O objetivo do movimento missionrio de Deus o homem em seu mundo. Tudo

    depende da sua resposta em amor e obedincia. O homem que Deus deseja no

    uma gura abstrata e terica, mas uma pessoa com sua histria e seu arcabouo de

    relacionamentos. Deus se aproxima do homem, que congura sua vida neste mundo

    12 Cf. a respeito dos evanglicos radicais e sua meta de transformao da sociedade: REIMER, Johannes.Evangelikale fr soziale gerechtigkeit und die suche nach der gesellschaftlichen relevanz in den

    kirchen des westens[Evanglicos a favor da justia social e a busca de relevncia social nas igrejas doocidente].ZMiss, 2009. p. 359-375.13 Cf. SUNDERMEIER, Theo. Theologie der mission: konvivenz und differenz. Studien zu einerverstehenden missionswissenschaft [Teologia da misso: convivncia e diferena. Estudos sobre umamissiologia compreensiva]. Erlangen: MWNF, 1995. p. 15-42.

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    bom - mas tambm cado e em desmoronamento - que Deus criou.14A misso de Deus

    enfoca o homem como criatura em sua dignidade e capacidade, bem como em sua

    fome por vida e felicidade. Ela v o homem em seu egocentrismo sem freios que o

    torna indiferente ao seu Criador e s rupturas e conitos na sua vida social. O homem

    em seu mundo e em seu contexto inclui sua histria como indivduo no mbito dasua comunidade e sua respectiva maneira de entender, sentir e congurar sua vida.

    Dependendo da poca e da regio, o homem adquire caractersticas particulares em

    sua cultura. Os temas aos quais o evangelho teve de dar uma resposta na Europa h

    1.000 ou 500 anos no so mais necessariamente os temas de hoje.15A multiplicidade

    cultural da misso se desdobra mais at chegar atualidade. Deus est em movimento,

    ele penetra de muitas maneiras nos projetos de vida contextuais concretos dos seus

    homens. O Esprito de Deus identica a linguagem e o tema aos quais os homensreagem abertamente em cada caso a favor DELE, ao seu amor e sua justia. Com

    base nisso, uma tarefa essencial da misso crist buscar e aplicar em cada caso esse

    caminho pelo qual Deus vem a ns.16

    Deus vem com seu amor e sua justia. O movimento de Deus em direo ao homem

    traz perdo, cura e consolo. Deus aceita o homem como ele . O homem no precisa

    cumprir pr-condies para merecer o amor de Deus. Pelo fato de Cristo ter assumido

    em sua morte na cruz a culpa do homem, qualquer um pode se entender e sentir aceitoe amado por Deus. Onde a luz de Deus penetra na vida das pessoas, a escurido e o

    mal se revelam. Em razo disso, o pedido de perdo e os lamentos no sofrimento so

    expresses centrais da f crist em sua formao e existncia. Quem atingido pelo

    amor de Deus na verdade no tem mais condies de continuar a viver como antes. O

    amor de Deus claro e justo e no deixa espao para o mal. Quando Cristo confronta

    o homem, antecipa-se nisso o julgamento escatolgico (Jo 3.18-19). A impiedade do

    corao humano se manifesta. Em sua converso, o homem confessa sua culpa e aceitao chamado para um estilo de vida de santicao e de atuao em justia. Ser cristo

    presente e compromisso. Portanto, o testemunho evangelstico da igreja chamar

    a culpa e a injustia pelo nome, convidando e desaando o homem que se abre f

    crist a adotar um estilo de vida que corresponda ao evangelho. Ao mesmo tempo,

    14 Com base nisso, a missiologia tambm passou entrementes a falar da misso ecolgica da igreja. Nopresente ensaio, a reflexo se limita ao homem, uma vez que apenas este pode ser desafiado a crer no mbito

    da misso evangelstica.15 Se nos tempos de Martinho Lutero, entre os sculos XV e XVI, o homem buscava o Deus misericordioso,o homem de hoje desafiado pela questo de uma vida misericordiosa.16 Inculturaoe contextualizaoso os conceitos missiolgicos por meio dos quais se tenta reproduzir essesmovimentos das misses.

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    o chamado evangelstico dos cristos f precisa incorporar-se no contexto da

    totalidade de sua misso e acompanhar-se de um engajamento maior a favor da

    justia dos carentes.

    Deus aborda os homens com seu amor e sua justia. Ao lhes dar a incumbncia

    missionria, Jesus transfere sua misso aos seus discpulos e, com isso, igreja:Como o Pai me enviou, envio vocs! (Jo 20.21). Jesus anunciou o evangelho do

    Reino de Deus, chamou as pessoas converso (Mc 1.14s) e curou e ajudou onde

    quer que pudesse.

    A evangelizao desenvolver sua fora peculiar onde se manifestar como parte

    do movimento integral de restaurao promovido por Deus (missio Dei).17

    2.2 A dinmica da misso evangelstica consiste na fora doseu testemunho verbal do evangelho, mas esta dinmica s podedesenvolver-se quando se relaciona com a misso diaconal e profticada igreja

    A descrio clssica das incumbncias da igreja segue os conceitos gregos de

    koinonia (comunho), leiturgia (culto), didaskalia (doutrina), martyria (testemunho)

    e diakonia (servio). A seguir tomaremos como premissa os aspectos de formao

    da comunho, do culto e da doutrina que sustentam a igreja e so relevantes para avida interna da comunidade, sem continuar a tematiz-los. Caber ateno especial

    aos movimentos de testemunho de f e de servio em palavras e atos derivados da

    vida interna da igreja.18

    Partindo da misso proveniente de Deus na forma como se manifesta na misso

    de Jesus, mas que tambm j se manifesta no testemunho do Antigo Testamento,

    a misso se realiza nas trs dinmicas de evangelizao, diaconia e profecia. Todas

    as dinmicas so parte da misso dada por Deus e, com isso, das misses da igrejade Jesus. Nenhuma dinmica pode reivindicar exclusivamente para si o papel

    de ser a nica misso da igreja. Por outro lado, nesse movimento missionrio de

    Deus em direo aos homens faltar algo essencial se alguma dessas dinmicas

    no se realizar na misso da igreja. Reetida no testemunho bblico, a diaconia

    crist envolve no s a ajuda em necessidades concretas, mas tambm a atuao

    17

    Aqui, ento, ser necessrio tambm o contedo ir alm da distino predominantemente terminolgicaentre misso e evangelizao na forma preconizada por Martin WERTH (Theologie der evangelisation[Teologia da evangelizao]. Neukirchen-Vluyn, 2004. p. 62-64).18 claro que tambm neste movimento excntrico da igreja a comunho, o culto e a doutrina tm algumpapel, mas esse contexto no ser particularmente tematizado aqui.

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    proftica do povo de Deus para dentro da sociedade, que chama a injustia pelo

    nome e defende a justia.19A proclamao apelante do evangelho e a ao social

    e sociopoltica moldaram a histria da igreja ao longo de muitos sculos e lhe

    proporcionaram uma dinmica peculiar. Todas as trs dinmicas - evangelizao,

    diaconia e profecia - fazem parte da grande misso de Deus e por isso se expressamnos esforos missionrios cristos concretos. justamente nas mltiplas situaes

    de pobreza que a integrao e o paralelismo dessas dinmicas missionrias se torna

    indispensvel.

    Em ltima anlise, os cristos tero de reconhecer em seus respectivos

    contextos em qual das trs dinmicas missionrias buscaro seus impulsos, e

    raramente se decidiro apenas por uma das variantes. Na complexa realidade da

    vida, as trs dimenses e dinmicas da misso se superpem. A deciso no sertomada em torno da mesa de reunies, mas na prtica diria da f: na escuta de

    Deus em orao, com a Bblia aberta diante de si e com os ps rmes no cho.

    Entretanto, se perguntarmos pelo operador missionrio, ou seja, aquele por

    intermdio de quem Deus realiza as respectivas misses em sua criao, acaba-

    se constatando a atividade de muitas pessoas e organizaes margem da igreja

    atendendo aos desaos diaconais e sociopolticos na sociedade. Os cristos

    podem ser gratos por todas as iniciativas diaconais e sociopolticas. Entretanto,a transmisso do evangelho em palavras tarefa particular da igreja de Jesus, da

    qual ningum outro a dispensar. Isto s pode ser feito por gente pessoalmente

    tocada pela Palavra de Deus. O papel especial da evangelizao na misso da igreja

    no decorre de ela ser de antemo essencialmente mais relevante que as outras

    dimenses da misso, mas sem ela a misso de Deus no atingir seu objetivo. Sua

    importncia particular para a igreja reside no fato de que nenhum outro grupo

    social alm dos cristos assume esta tarefa. Em razo disso, a igreja de Jesus sersempre e em toda parte desaada a encarar a questo de como levar ao povo a

    palavra do evangelho de forma adequada e ecaz, inclusive em situaes de

    pobreza, injustia e opresso.

    Assim, o falecido telogo sul-africano David Bosch tem sustentado o ponto de

    19 A misso proftica da igreja pode ser derivada particularmente da crtica social nas escrituras profticasdo Antigo Testamento (p.ex. Isaas, Ams). No contexto da histria de Israel, os profetas religiosos podiam

    denunciar mazelas sociais porque o povo de Deus e seu contexto social eram praticamente idnticos. Asituao diferente no Novo Testamento, que contm as escrituras de uma igreja em formao, que seencontrava no Imprio Romano inequivocamente na posio de minoria, s vezes mesmo perseguida. Olivro do Apocalipse, por exemplo, revela que essa minoria tambm se manifestava politicamente quandocontrape a reverncia prestada ao imperador romano adorao ao Cordeiro de Deus.

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    vista de que tambm a evangelizao tem seu lugar no novo paradigma missionrio.20

    Ele dene evangelizao comodimenso e atividade da misso crist [...] que oferea a cadapessoa em todo lugar por meio de palavras e atos uma efetivaoportunidade de deixar-se desaar para uma reorientao

    radical. Esta inclui tambm a libertao da escravido domundo e dos seus poderes e a entrega a Cristo como Salvadore Senhor. O homem pode tornar-se membro da comunidade deJesus Cristo, a igreja, ser includo no servio da reconciliao,da paz e da justia na terra, integrado no plano de Deus desubmeter todas as coisas ao senhorio de Cristo.21

    Por conseguinte, a evangelizao precisa tomar conhecimento da pobreza como

    parte da escravido do mundo e dos seus poderes, da qual a reorientao radical

    baseada no evangelho liberta. Quem for libertado desta maneira ser posto a servioda justia a m de ajudar ao lado dos pobres e se engajar contra as estruturas injustas

    e empobrecedoras. A nfase especial da misso evangelstica tem a converso como

    alvo: a reorientao de vida do seu pblico. A igreja deve oferecer esta possibilidade

    de desao a uma reorientao da vida tambm no contexto da pobreza. De modo

    nenhum ela pode fazer isso numa atitude de superioridade, mas num estilo de vida de

    coexistncia, no mesmo nvel do pblico.

    2.3 A evangelizao adequada ao evangelho e ao homem realiza-senuma atitude de convivncia22

    Deus no leva sua justia e seu amor ao homem utuando sobre este de forma

    transcendente para lhe transmitir suas instrues de vida, mas colocando-se ao seu

    lado como irmo na pessoa de Jesus. Em Jesus, Deus se pe junto ao homem. nisso

    que tambm reside o profundo mistrio da comunho de mesa com Jesus. Jesus

    compartilha sua vida com seus semelhantes, serve-lhes e aceita ser servido por eles.Ele no um rabino e milagreiro destacado deles. A misso de Deus realiza-se como

    coexistncia, como convivncia, sendo este o termo prprio adotado em teologia

    missionria. a que pulsa o corao de toda misso crist, no importando em qual

    20 Cf. BOSCH, 1991, p. 409-420; cf. resumidamente em alemo: BOSCH, David. Evangelisation,Evangelisierung. In: MLLER, Karl; SUNDERMEIER, Theo (Edit.). Lexikon missionswissenschaftlichergrundbegriffe[Enciclopdia de conceitos missiolgicos bsicos].Berlim, 1987. p. 102-105.21

    BOSCH, 1987, p. 105; cf. BOSCH, 1991, p. 420.22 Cf. SUNDERMEIER, Theo. Konvivenz als grundstruktur kumenischer existenz heute: konvivenzund differenz: studien zu einer verstehenden Missionswissenschaft [Convivncia como estrutura bsicada existncia ecumnica hoje. Estudos sobre uma missiologia compreensiva]. Erlangen: MWNF, 1995. p.43-73.

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    das trs dinmicas citadas ela se realize.

    O missionrio discpulo de Cristo no algum que se sinta superior aos outros

    e faa ou diga algo em favor destes. Uma diaconia no convivente leva ao abuso da

    pobreza e criao e manuteno de poder sobre pessoas. A profecia no convivente

    leva arrogncia poltica que divide o mundo em bons e maus e se comportacorrespondentemente. Evangelizao no convivente tenta manipular e pressionar as

    pessoas para atra-las f. Em todos esses casos, pessoas tornam-se objetos da misso

    crist e so menosprezadas em seu carter subjetivo de criaturas de Deus amadas e

    dignas.

    O missionrio de orientao evanglica leva a srio seus semelhantes como imagens

    de Deus. Ele os aborda na expectativa de se deparar no somente com um pecador,

    mas tambm com a imagem de Deus. O semelhante no apenas um destinatrio daevangelizao crist, mas tambm uma pessoa na qual Deus quer apresentar-se ao

    evangelista para expandir o horizonte deste. Deus chega antes do missionrio23(cf. At

    10). Cristos missionrios tm algo a transmitir, a palavra do evangelho, o ato de amor,

    a postura de justia, mas tudo isso no baseados num sentimento de superioridade,

    mas numa postura de solidariedade. Os cristos tm em comum com todos os homens

    o fato de serem criaturas de Deus e tambm pecadores diante de Deus, gente com

    seus potenciais e debilidades, com seus recursos e limitaes. Todo homem pode seraltrusta ou desconsideradamente egosta. Em ltima anlise, cada um depende do

    amor e da graa de Deus. O reconhecimento desta situao comum diante de Deus

    protege o cristo missionrio contra qualquer sentimento de superioridade. S assim

    ele pode encarar seu semelhante no mesmo nvel, em convivncia.

    O objetivo da misso convivente como diaconia conseguir que o semelhante

    reencontre logo meios prprios de congurar sua prpria vida da maneira mais

    autnoma possvel. O dicono de mentalidade evanglica estar bem disposto adeixar-se ajudar por outros, talvez at por aquele que ele mesmo acabou de ajudar. A

    misso convivente proftica fala e atua claramente a favor de mais justia social, mas

    para isso no explora simplesmente a necessidade dos pobres como argumento para

    sua prpria promoo poltica. O profeta de mentalidade evanglica atua a partir do

    estreito contato com os atingidos e, apesar de toda a clareza do seu discurso e de sua

    atuao, cuidar de preservar a dignidade do seu interlocutor poltico.

    23 Cf. BOFF, Leonardo. Gott kommt frher als der missionar. Neuevangelisierung fr eine kultur deslebens und der Freiheit [Deus chega antes do missionrio. Reevangelizao para uma cultura de vida eliberdade]. Dsseldorf, 1992. (especialmente p. 93ss).

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    Misso convivente como evangelizao testica do amor e da justia de Deus tal

    como se revela em Jesus Cristo e convida a crer (Lc 14.16ss). Faz isso respeitando o

    outro, seus questionamentos e experincias, dos quais o evangelista sempre poder

    tambm aprender algo de novo da parte de Deus. Por isso, evangelistas evanglicos

    no so sabiches no conhecimento ou na atuao, mas, reconhecendo suas prpriaslutas, apelam para a aceitao da reconciliao com Deus (2Co 5.18).

    3. O ENCONTRO EVANGELSTICO COM PESSOAS NA POBREZA -EXPERINCIAS E CONCLUSES DA PRTICA

    Quem entender a evangelizao no sentido exposto dentro do comissionamento

    missionrio geral da igreja luz da missio Dei, estar livre das unilateralidades

    formadas ao longo da histria para tratar da questo da evangelizao no contexto dapobreza. Com certeza os cristos missionrios encontraro meios de ajudar pessoas

    empobrecidas em suas carncias concretas (diaconia) e de se engajar em poltica

    social (profecia) a m de evitar situaes de carncia similares no futuro. Sem

    dvida, isso tem o seu lugar na misso crist. A seguir passaremos a nos concentrar

    na questo da forma adequada ao evangelho e s pessoas pela qual o testemunho da

    Palavra poderia ser transmitido a pobres para convid-los f. Se Deus Deus dos

    pobres (p.ex. Sl 9.9) e Cristo se entende como enviado aos pobres, dando atenoespecial aos pobres e marginalizados (Lc 4.18-19), ento o primeiro lugar da igreja

    de Jesus ser aquele ao lado dos pobres.24Tambm eles so desaados a reorientar

    sua vida para o Deus da vida.25Todavia, a evangelizao entre pessoas em pobreza s

    ser possvel se a igreja se posicionar solidariamente ao lado delas. Para que a igreja

    24 Este o foco propriamente dito das teologias da libertao e sua exigncia de opo pelos pobres; cf.

    fundamentalmente a respeito GUTIERREZ, Gustavo. Theologie der befreiung[Teologia da libertao].Munique: Systematische Beitrge,1973. Cf. a respeito na discusso diaconolgica alem: FLESSA, Steffen.Arme habt ihr allezeit: ein pldoyer fr eine armutsorientierte diakonie [Sempre tendes pobres: umadefesa da diaconia voltada pobreza]. Gttingen, 2003; FLESSA, Steffen. Armutsorientierung: dringenderals je zuvor. einige przisierungen zur armutsorientierung diakonischer sozialleistungsunternehmen[Orientao para a pobreza: mais necessria do que nunca antes. Algumas definies sobre a orientaode empreendimentos diacnicos de servio social pobreza]. PTh, 2006; cf. o memorando da EKDsobre a pobreza na Alemanha: Gerechte teilhabe. Befhigung zu eigenverantwortung und solidaritt[Participao justa. Capacitao para responsabilidade prpria e solidariedade], Gtersloh 2006, p. 45-47;cf. HASLINGER, Herbert. Diakonie: grundlagen fr die soziale arbeit der kirche [Diaconia: fundamentosdo trabalho social da Igreja]. Paderborn, 2009. p. 311-312, 382-397. Sobre as referncias bblicas: cf.

    HASLINGER, 2009, p. 218-302.25 Tambm a teologia da libertao latino-americana expressa isso: cf. GUTIERREZ , 1973, p. 279s. Adeclarao ecumnica Misso e evangelizao(1982) desafia convincentemente as igrejas em seus artigos 31-36 - Boa nova para os pobres a ser pobre para os pobres sem supervalorizar espiritualmente a situao dapobreza (cf. WIETZKE, 1993, p. 90-93).

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    missionria possa dedicar-se adequadamente a essa tarefa, ela precisa antes entender

    no que consiste a situao concreta de pobreza das pessoas.

    3.1 A evangelizao luz da imagem bblica do ser humano comea com

    a constatao da pobreza concreta do outro, na qual em ltima anlise sereete a nossa prpria pobreza

    Quem quiser transmitir o evangelho precisa reconhecer a situao efetiva do seu

    interlocutor e orientar correspondentemente o testemunho da sua f. Sem dvida,

    isso implica antes de tudo o reconhecimento da pobreza.

    Selecionemos algumas das muitas defnies de pobreza26que sero teis para

    as subsequentes concluses prticas da evangelizao no contexto da pobreza: cabe

    distinguir entre pobreza absoluta, que pe em risco direto a prpria vida, e a pobrezarelativa (p.ex. na Alemanha), que se dene em funo do padro de vida mdio de

    cada contexto. Por isso, preciso entender pobreza como falta de participao, cujo

    ncleo constitudo pela situao de carncia material.27No encontro com pessoas

    carentes ser tambm necessrio distinguir entre pobreza subjetiva e objetiva: quem

    dene determinado indivduo como sendo pobre? Os especialistas em sociologia ou

    o prprio indivduo? Em que medida ele mesmo se considerar pobre? H muitos que

    se consideram pobres ainda que outros no os vejam como tais. De qualquer forma,h que se considerar o processo do empobrecimento, que pode levar ao ponto de no

    haver mais possibilidade de vida humanamente digna.

    Do ponto de vista bblico, o homem como imagem de Deus portador de uma

    dignidade incomparvel. Essa dignidade o destina a contribuir ativamente para

    congurar e marcar a vida aqui na terra. Com isso, a essncia do ser humano no se

    reduz apenas sua individualidade. O homem homem em relao a si mesmo, mas

    26 Cf. as tentativas de definio de BUTTERWEGE, Carolin. Armut von kindern mitmigrationshintergrund: ausma, erscheinungsformen und ursachen [Pobreza de crianas no contexto damigrao. Extenso, formas de manifestao e causas]. Wiesbaden, 2010. Cf. tambm a viso socioteolgicadiferenciada de pobreza e justia no memorando da EKD, Teilhabe [Participao] p. 43-45. ComCHAMBERS, Robert. Rural development: putting the last first [Desenvolvimento rural: colocando osltimos em primeiro lugar].Londres, 1983, ou, ligeiramente alterado em: Poverty and livelihoods: whosereality counts? Environment and urbanization [Pobreza e meios de vida: qual realidade conta? Ambiente eurbanizao], 7, 1995, p. 173-204. Poder-se-ia a distinguir sociologicamente entre as seguintes expressesda pobreza ou do empobrecimento: pobreza material, pobreza fsica (p.ex. por vida insalubre, desnutrio)

    pobreza social (isolamento, falta de acesso a servios e informaes), vulnerabilidade (sem amortecedor emcaso de doena ou acidente, falta de opes de configurao da vida), impotncia (por deficincia educativaou falta de acesso p.ex. a sistemas sociais ou jurdicos) e humilhao.27 BEDFORD-STROHM, Heinrich. Armut. In: HONECKER, Martin; et. al. Evangelisches soziallexikon[Enciclopdia social evanglica]. Stuttgart, 2001. p. 113-115.

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    tambm em relao aos seus semelhantes e a Deus.28Diante disso, a pobreza tem do

    ponto de vista bblico sempre a ver com um ntido distrbio da condio humana em

    um ou mais planos relacionais.29Como todo ser humano passa em sua natureza de ser

    relacional por tais experincias de autoquestionamento, toda pessoa se perceber em

    determinadas situaes como pobre. O desao particular da interao com pessoasevidentemente empobrecidas consiste em que elas nos lembram do risco particular da

    nossa prpria existncia humana.

    A seguir, passaremos a analisar essas vises de homem e pobreza com relao

    evangelizao com base emexperinciaspessoais no contexto da pobreza.30

    Tenho interagido com pessoas existencialmente pobres durante o meu vicariato

    e o perodo de pastor de jovens na igreja batista de Berlim-Charlottenburg. Aquela

    igreja havia criado uma espcie de caf social para desabrigados, que funcionavaquatro dias por semana. Realizei regularmente um devocional com e entre essas

    pessoas, que por circunstncias quaisquer da vida descarrilaram ou tambm tinham

    optado por esse estilo de vida, e depois me sentava mesa para conversar com elas. A

    maioria dava valor quela oferta de juntar bebida quente e um pequeno lanche com

    um breve devocional, e para os colaboradores aquele momento de identicao crist

    tambm era importante.31

    Tive meu segundo importante encontro com a pobreza durante os anos em queatuei com minha famlia como missionrio em Camares. Todo dia havia gente

    nossa porta pedindo ajuda, trabalho e dinheiro para poder criar uma base para sua

    vida ou adquirir os medicamentos necessrios para sua sobrevivncia.

    Ao interagir com pobres, corre-se o risco de logo interpretar mal sua problemtica

    e sua prpria experincia de pobreza. No caf social de Charlottenburg, alguns dos

    desabrigados tinham controle bastante bom da sua vida. Tinham-se identicado com

    seu estilo de vida sem residncia e emprego xos e eram sucientemente fortes para

    28 Cf. os salmos de lamento da Bblia, nos quais se vincula a angstia da doena perda da comunhohumana e com Deus.29 No se leva em conta aqui a noo israelita tardia da pobreza, segundo a qual o remanescente piedoso deIsrael se enxerga como pobre diante da percepo de sua dependncia de Deus (cf. Mt 5: Bem-aventuradosos pobres de esprito).30 Tambm no meu bairro burgus na periferia de Berlim nos defrontamos com determinadas formas depobreza, de natureza menos material do que social. Muitas vezes, as pessoas desse contexto transmitem

    uma impresso de intranquilidade e insatisfao. Sentem-se pressionadas pelos desafios profissionais quetambm desintegram suas famlias porque no encontram mais tempo para se dedicarem uns aos outros.31 Os frequentadores do caf social estavam livres para deixar o recinto durante o devocional para inserirdo lado de fora um intervalo para fumar, mas normalmente eles j esperavam por aqueles dez minutos, queclaramente eram importantes para eles.

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    extrair o melhor da sua situao. Outros haviam deslizado para essa espiral de

    pobreza em razo de algum encadeamento de circunstncias adversas, e sofriam com

    isso. Alguns sentiam-se a si mesmos pobres, outros menos. Em meus devocionais

    no caf social e em conversas mesa eu tinha de tomar muito cuidado para no

    projetar sobre todos as respectivas situaes e atitudes diante da vida de um ououtro indivduo. No que consiste essencialmente a pobreza do meu semelhante?

    Que aspectos da pobreza o afetam particularmente? Do ponto de vista burgus,

    p.ex., o simples fato de falta de moradia e de emprego uma espcie de pobreza, tal

    como muitos dos frequentadores do caf social de Charlottenburg sentiam, se bem

    que para alguns o problema propriamente dito no residia nisso, mas antes no fato

    de ser desvalorizados pela sociedade por seu estilo de vida, embora eles mesmos

    no se sentissem assim.Quem convida pobres f precisa estar disposto a questionar seu prprio

    preconceito de pobreza. Essa autorreexo crtica tambm pode levar-nos

    a reconhecer nossa prpria pobreza.32 Muitas vezes deixei com vergonha as

    conversas mesa em Charlottenburg diante do discernimento e da sabedoria dos

    meus interlocutores aparentemente singelos. Poder reconhecer a pobreza prpria

    no espelho da pobreza do outro uma grande ddiva.

    Em meu retrospecto pessoal destas experincias, foi justamente essa admissodos meus limites e o reconhecimento das sabedorias de vida dos frequentadores do

    caf que fez com que eles se abrissem para o testemunho de f do pessoal da equipe.

    3.2 Quem quiser divulgar o evangelho entre os pobres, precisafaz-lo numa atitude de solidariedade, sem apagar as diferenas desituaes

    Ao cristo que tenta viver de acordo com a postura de convivncia de Jesus,o Esprito de Deus abre o caminho para o corao do outro. Qualquer gesto de

    superioridade endurece os coraes ou distorce a compreenso do evangelho

    como se este existisse para que o outro galgue o nvel de vida do missionrio.

    Com certeza o evangelho ajudar o pobre a respeitar mais sua vida, a controlar

    32

    A situao torna-se particularmente instigante quando o pobre no se comporta como pobre da maneiraesperada. Em Camares fiquei muito impressionado com a intensidade com que os camaroneses sabiamfestejar - apesar de muitas situaes miserveis. s vezes, sua pobreza material pesava pouco diante danossa prpria pobreza social com a qual ns s vezes nos sentamos bastante solitrios entre os nossosirmos de cor apesar de sua sociabilidade e abertura.

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    melhor seu estilo de vida e, com isso, a progredir socialmente.33Contudo, o impulso

    decisivo para as decises essenciais para a vida ser proporcionado por cristos

    que no abordem o semelhante empobrecido de cima para baixo, mas l onde ele se

    encontra na respectiva situao.

    Como missionrio em Camares, no pude simplesmente tornar-me umcamarons para os camaroneses e, evidentemente, um pobre para os pobres. No

    entanto, foi importante para mim que as pessoas percebessem que eu as levava

    a srio, ainda que nem sempre atendesse aos seus pedidos. Quando as pessoas

    percebem esse respeito diante de sua situao e suas demandas, tambm se disporo

    a aceitar conselhos ou at arriscaro oferecer a mim como assistente algum conselho

    ocasional, porque a interao se d no mesmo nvel. nisso que reside a fora

    essencial da misso evangelstica da igreja entre os pobres. Solidariedade signicaque os cristos no s ajudam os pobres, mas que tambm aceitam ajuda deles.

    Porque a pregao do evangelho tambm inclui a consso da prpria dependncia

    de ajuda externa.

    Por outro lado, no se deve cair na tentao de encenar um papel de pobre ao

    interagir com outros mais pobres. Em Camares, as pessoas consideram ofensivo

    quando os europeus no se vestem e comportam de acordo com suas condies de

    origem ao tratar com os camaroneses. Mesmo o mais pobre dos camaroneses sesentir honrado se o europeu se apresentar a ele como europeu e tambm demonstrar

    isso por meio de uma indumentria honrosa. Apresentar-se ao pobre vestindo

    roupas pobres visto como atitude mentirosa de desprezo do outro. Quando

    algum abordava o pobre vestindo-se de acordo com sua prpria condio, este se

    sentia honrado. Neste contexto, convivncia signicava respeitar a cultura de vida

    e a ordem social que se desenvolveu ao longo de dcadas e sculos, adaptando a isso

    seus prprios ideais. O missionrio europeu em posio de liderana na igreja e nasociedade precisa assumir sua elevada posio na hierarquia social de Camares

    e ainda assim preench-la fraternalmente. A convivncia justamente no signica

    negar sua prpria identidade, mas abri-la ao outro e interagir com ele olho no olho.

    Portanto, quando nos defrontamos com pessoas mais pobres ao testemunhar nossa

    f, no devemos relativizar sua situao ou exp-la ao ridculo apresentando-nos

    33

    Cf. sobre a histria social do movimento pentecostal: GRAF, Friedrich Wilhelm. Der protestantismus:geschichte und gegenwart [O protestantismo: histria e atualidade] . Munique, 2006; BERGUNDER,Michael. Soziologische theorien und theologische debatten: pfingstbewegung und basisgemeinden inLateinamerika [Teorias sociolgicas e debates teolgicos: movimento pentecostal e comunidades de basena Amrica Latina].Hamburgo: Weltmission heute, 2000. p. 7-42.

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    mais pobres do que somos. claro que o oposto tambm inconveniente, ou seja,

    ostentar riqueza e com isso sugerir a inferioridade do interlocutor.

    3.3 A evangelizao luz do evangelho descobre o pobre como

    criatura de Deus amada e dotadaSeria equivocada uma evangelizao que se concentrasse apenas nas debilidades

    e carncias das pessoas.34Essa tentao particularmente grande justamente na

    integrao com gente mais pobre. No entanto, aos olhos de Deus, mesmo o mais pobre

    dos indivduos no simplesmente decitrio, mas uma criatura maravilhosamente

    criada e amada, com variados dotes.

    O que hoje se tornou usual em ocinas para decientes fsicos, ou seja, tomar

    como ponto de partida os potenciais e os interesses dos atendidos, oferecendo-lhes com isso uma perspectiva de vida, pode ser ainda mais vlido para o contedo

    da proclamao do evangelho aos homens. Nada deve ser escamoteado, nem o

    sofrimento nem o pecado, mas quando se d nfase excessiva a estes aspectos, os

    ouvintes sero xados aos aspectos decitrios da sua condio humana em vez

    de lhes ser aberto um espao para viver. A pregao do evangelho vai buscar o ser

    humano em seus dotes e possibilidades dados por Deus, inclusive em pessoas em

    situaes de carncia, para lev-lo a uma reorientao tambm da sua vida sobre ofundamento do evangelho por meio de reorientao do seu foco.

    Ao interagir com os camaroneses pedintes porta da minha casa em Ndiki,

    surpreendeu-me a permanncia do efeito quando eu no me limitava a dar-lhes

    dinheiro, mas tambm um pacote de sementes que pudessem semear em seus

    campos para explor-los. Os frutos serviam ento para sua alimentao ou podiam

    ser vendidos no mercado. Muitos me agradeceram ainda anos depois por eu no os

    ter nem rejeitado nem despedido com uma esmola em dinheiro. Minha percepodessa situao me levou concluso de que esse tipo de ajuda os desaava a entrar

    em atividade e a redescobrir suas prprias possibilidades. Embora esse engajamento

    fosse de natureza mais diaconal do que evangelstica, ele um bom modelo para a

    possibilidade de despertar foras de maneira similar por meio do testemunho verbal

    quando no prendemos as pessoas s suas experincias negativas.

    34 Cf. os aspectos antropolgicos na pregao do evangelho em BUB, Wolfgang .Evangelisationspredigtin der volkskirche: zu predigtlehre und praxis einer umstrittenen verkndigungsgattung [Pregaoevangelstica na igreja popular. Sobre homiltica e prtica de uma categoria controvertida de proclamao].Stuttgart, 1990.p. 130-140.

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    3.4 O evangelista escuta a mensagem de Deus por meio do pobreIdealmente, a pregao que desperta a f desaa as pessoas a encontrar sua

    prpria forma de expresso da f. Nos meus devocionais no caf social, eu tinha

    uma sensao de xito especialmente quando conseguia levar os presentes a

    comentarem por conta prpria determinadas passagens bblicas, estabelecendoconexes entre elas e sua prpria vida. s vezes os comentrios dos frequentadores

    eram irritantes e muitos aproveitavam a oportunidade para se destacar diante dos

    outros. Muitas vezes, porm, aquela breve meditao resultava em uma estimulante

    conversa pblica sobre a f, com perguntas e respostas surpreendentes, fazendo

    com que eu mesmo me sentisse presenteado ao sair de l.35

    Evangelizao convivente tal como se revela na interao com pessoas

    empobrecidas signica que o testemunho de f se transforma em dilogo, de modoque no apenas o outro aprenda algo com o missionrio, mas tambm o missionrio

    do seu semelhante a quem foi enviado, porque neste ele se defronta com a face de

    Deus.

    3.5 O testemunho cristo no contexto da pobreza signifca expressar

    o evangelho como convite e pedido, focar o contedo do testemunho

    do evangelho nas carncias e nos potenciais concretos do interlocutore desaf-lo a seguir Jesus

    Este preenchimento da proclamao do evangelho com contedo para os mais

    pobres vale para todos os contextos. Uma evangelizao bem compreendida no

    pressiona nem manipula ningum, mas explica e testica humilde e claramente

    como Deus se aproxima de ns por meio de Jesus. A evangelizao no pode ter

    outro carter seno o de convite e pedido. Renunciar totalmente evangelizao

    por causa de certas experincias ruins e compulsivas para contentar-se no contextoda pobreza com prestao de ajuda e intercesso contradiz a motivao bsica de

    Deus, que deseja atingir o homem nas profundezas do seu ser.

    Uma evangelizao bem compreendida levar em conta a temtica das carncias

    e dos potenciais concretos do ouvinte. Palestras evangelsticas concebidas para

    ouvintes norte-americanos permanecero incompreensveis em outros contextos.

    Em algumas culturas a mensagem da culpa que Deus perdoa uma ponte em

    35 Aprendi dos camaroneses p.ex. que a comunho e a celebrao conjunta so mais importantes do que aproduo de inmeros papis, ou: ser humano tambm significa celebrar, no importando o tamanho damisria.

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    direo f; em outras, ser necessrio abordar o tema da solidariedade de Deus

    no sofrimento.

    Um desao particular consiste em abordar os potenciais das pessoas como

    ponto de contato para o amor e a justia de Deus. As facetas humanas positivas

    no so apenas uma expresso particular da pecaminosidade do homem cujospotenciais o induzem a pensar que no precisa de Deus.36Antes, valeria a pena por

    exemplo mencionar que Deus depende da cooperao do homem para congurar

    sua criao. Deus se torna voluntariamente dependente dos seus homens.

    A particularidade da pregao evangelstica em comparao com outras

    pregaes consiste no foco no convite de aceitar a mo estendida de Deus. Ainda

    que, em ltima anlise, seja o Esprito de Deus que convence o corao do homem,

    do ponto de vista humano ser antes e depois de tudo o prprio homem que darsua resposta de f ou incredulidade ao evangelho. A pregao evangelstica dever

    dar espao a essa resposta, seja por meio de atos simblicos, seja mediante atos de

    consso visveis.

    Em Camares, eu mesmo rapidamente abri mo de tais apelos f porque, por

    uma questo de cortesia com o missionrio branco, a maioria naturalmente faz

    o que este pede deles.37 Ali, a forma adequada de expressar a f consiste em um

    pedido para ser batizado, para depois se passar por um curso de catecmeno devrios meses e ento nalmente se pagar a primeira contribuio para a igreja.38S

    ento a pessoa batizada e considerada crist.

    Entre os sem-teto em Charlottenburg, o contedo e o formato da converso era

    um assunto complexo. que vrios deles entenderam rapidamente que poderiam

    angariar slidas vantagens caso na formao da sua f eles se expressassem e

    comportassem do modo que seus bem-aquinhoados atendentes do caf lhes

    propunham de forma verbal ou no verbal. Nesse contexto podem-se observar oslimites de uma noo de converso de estilo pietista. Quem realmente for atingido

    pelo evangelho, expressar isso em sua vida prtica. A f se visualiza na consso

    verbal e vivida.

    36 Cf. BUB, 1990, p. 130-140.37

    Talvez se encontre aqui uma razo para os extraordinrios ndices de converses no contextoafricano.38 Os missionrios europeus muitas vezes interpretaram este ato equivocadamente como pagamento pelobatismo. No entanto, o pagamento da contribuio igreja para o africano uma expresso concreta epblica da sua f.

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    4. CONSIDERAES FINAISEstas experincias deixam claro que a aplicao dos aspectos evangelsticos

    citados neste ensaio ser um projeto complexo.39Todavia, a misso da igreja de Jesus

    consiste justamente em sempre transpor seus limites, abordando as pessoas que a

    cercam. Pessoas empobrecidas so particularmente acessveis ao evangelho em razoda carncia que experimentaram. Em respeito ao semelhante, os cristos no devem

    abusar desta acessibilidade em seus apelos missionrios, mas tambm no devem

    ignor-la. Neste sentido, a postura e a atuao evangelsticas da igreja ao lado das

    pessoas carentes sero paradigmticas para sua evangelizao em todos os contextos

    imaginveis. Se a igreja de Jesus no transmitir o evangelho em razo de sentimentos

    de superioridade, mas em atitude de convivncia que convida o semelhante a se

    redescobrir diante de Deus luz do evangelho, o resultado ser a glria de Deus e obem dos homens.

    REFERNCIAS

    BEDFORD-STROHM, Heinrich. Armut. In: HONECKER, Martin; et. al.

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    in der evangelikalen missionstheorie- unter besonderer bercksichtigung der

    Lausanner Bewegung fr Weltevangelisation. Wuppertal: STM, 1997.

    39 Vrios membros de igreja dedicados em Charlottenburg acharam importante fornecer um abrigo aossem-teto e reintegr-los na vida profissional e social. Para esse fim alugaram uma grande residncia, quefoi colocada disposio daqueles que se fizessem batizar e manifestassem claramente seu desejo dereintegrao. Um candidato particularmente promissor abandonou a residncia aps algumas semanas,perguntando de modo bastante impulsivo onde estaria escrito na Bblia que um cristo deveria levar umavida burguesa e habitar uma moradia. No se pode ser cristo tambm atrs dos lates de lixo? A igreja

    acabou no conseguindo integrar os marginalizados na igreja por meio do caf social. No recinto da igreja,eles disseminavam em torno de si um cheiro no cidado, fazendo com que os membros tradicionais daigreja mantivessem uma boa distncia deles. Teria sido melhor desenvolver ao lado da igreja dos cidadosuma igreja especial para os sem-teto para ento construir pontes entre ambos os grupos? Em sua prpriaigreja talvez tivessem logo assumido sua prpria responsabilidade.

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