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"Este que você vê aqui, de rosto aquilino, com cabelos castanhos, testa lisa, olhos brilhantes e de nariz curvo, mas bem proporcionado; a barba de prata que há vinte anos era dourada, com um bigode amplo, a boca diminuta com dentes nem pequenos nem grandes, e são somente seis, mal conservados e pior colocados, por não terem correspondência uns com os outros; o corpo entre dois extremos, nem alto e nem baixo, de cor vívida, mais branca do que morena; costa um pouco curvada, não muito rápido em seu andar; esta é a aparência do autor de La Galatea e de Don Quixote, e de quem também escreveu Viagem do Parnaso, ao estilo de César Caporal Perugino, e outras obras que estão extraviadas por aí e, talvez, sem o seu nome.”

"Comumente chamado de Miguel de Cervantes Saavedra. Foi soldado durante muito tempo, sendo mantido cativo por cinco anos e meio, quando aprendeu a ser paciente na adversidade. Com um tiro perdeu a mão esquerda na batalha naval de Lepanto, cicatriz que embora pareça feia é avaliada como bela por ele, por tê-la recebido na mais grandiosa e memorável ocasião já vista pelos séculos passados, e sem igual nos tempos futuros, lutando sob a vitoriosa bandeira do filho do raio da guerra, Carlo V, de feliz memória." (Miguel de Cervantes) Formas de autonarrativa

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Autobiografia

FORMAS DE AUTONARRATIVA os retratos, os diários, as cartas, as memórias, os testemunhos, os egodocumentos e, óbvio, as autobiografias. TEXTO AUTOBIOGRÁFICO narrativa em prosa na qual uma pessoa

real faz uma retrospectiva de sua própria existência, com ênfase em sua vida individual e na história de sua personalidade. (LEJEUNE, 2008, p. 48)

Egodocumento

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EGODOCUMENTO caracterização do historiador holandês JACOB PRESSER, na década de 1950, para as fontes pessoais como cartas, diários, autobiografias, memoriais, entre outras; e

WINFRIED SCHULZE, na década de 1980, amplia o conceito, incorporando os documentos escritos de forma involuntária ou obrigatória, como manifestações discursivas de natureza institucional (judiciais, saúde ou assistência social, por exemplo). (SCHULZE, 2005)

Influência de JACOB BUCKHARDT, busca entendê-las não somente como manifestação de uma individualidade, mas como vestígio de formas coletivas de vida, de mentalidades, socialização, valores e características grupais, entre outros aspectos.

Camargo (2009, p. 37) claramente discorda da classificação desse tipo de documentação como arquivos pessoais, pois a sobredeterminação institucional da acumulação, ou seja, é uma memória da instituição e não das pessoas.

Crítica ao viés institucional

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A narrativa institucional permite em suas dobras e emendas uma forma de singularização do indivíduo – o nome próprio, pessoal e privado que caracteriza particularidades e o fluxo individual das realidades biológicas e sociais.

C. Humanas e escrita de si

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Ciências Humanas e Escrita de si

Trotsky e o determinismo econômico

Lev Davidovich Bronstein, filho de um próspero lavrador judeu russo que se tornou Leon Trotsky, em sua autobiografia (Minha Vida, 1930) conclui que sua narrativa intensa e tumultuada não é pessoal, pois o verdadeiro personagem é a história, e o indivíduo é reflexo do contexto no qual se desloca, reduzindo sua ação a um resultado das forças superestruturais.

Limites da (auto)biografia.

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Toda forma de (auto)biografia, enquanto relato, é o resultado de memórias (ou mesmo de esquecimentos) coletivas, individuais e sociais, constantemente negociadas e processadas, em que o indivíduo é entendido como representação de interesses de classe, ator estratégico, figura do habitus que atua como ator racional, ser histórico ou agente socializado, a partir de diferentes referenciais teóricos e metodológicos.

Autobio na crítica lit bras.

A CRÍTICA LITERÁRIA

- Os anos 90 teoria literária transpõe elementos do estilo discursivo autorreflexivo do objeto para a forma de análise, o que reforça a subjetividade da crítica e flexibiliza seus limites.

EXEMPLOS: Davi Arrigucci (Humildade, paixão e morte, 1992), Ítalo Moriconi (Ana Cristina César, sangue de uma poeta, 1996) , Francisco Foot Hardman (Trem Fantasma, 1998), Nicolau Sevcenko (Orfeu extático na metrópole, 1998), Denílson Lopes (Nós, os mortos, 1999, e O homem que amava rapazes e outros ensaios, 2002), Jomard Muniz de Brito (Atentados Poéticos, 2002) e Silviano Santiago(O Falso Mentiroso, 2004 e Histórias mal contadas, 2005).

MATRIZ: Roland Barthes por Roland Barthes (1975) e Serge Doubrovsky (Fils, 1977)

Autoetnografia

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A ANTROPOLOGIA

- AUTOETNOGRAFIA neologismo utilizado em meados da década de 80 como consequência das tensões entre produção textual e subjetivação no trabalho de campo, explicitando-se questões sobre os limites entre o relato vida, o testemunho, a autobiografia, a etnografia e o ensaio autorreflexivo;

EXEMPLOS: Renato Rosaldo, com Ilongot Headhunting - 1883-1974: A Study in Society and History (1980) e Culture and Truth: The Remaking of Social Analysis (1989), a coletânea Writing Culture: the poetics and politics of ethnography”(1986), organizada por Clifford e Marcus James, e os trabalhos de Michael Fischer sobre autobiografias étnicas, com destaque para o livro deste com George Marcus, Anthropology as Cultural Critique: An Experimental moment in the Human Sciences.", (1986).

Ego hIstória

A HISTÓRIA - EGO-HISTÓRIA experiência auto-reflexiva a partir do livro Ensaios de Ego-história (1987), organizado por Pierre Nora, com a participação de grandes historiadores franceses – Jacques Le Goff, Georges Duby, Michelle Perrot, René Remond, Maurice Agulhon, Raoul Girardet, Pierre Chaunu e o próprio organizador – com a afirmação de uma opção metodológica para a exploração de memórias individuais dos autores, na busca de cada um explicar a sua própria história e tentar aplicar a si próprio, seguindo procedimentos que tantas vezes lançou sobre os outros.

“Que é ego-história? Não se trata de uma autobiografia pretensamente literária, nem de uma profissão de fé abstracta, nem de uma tentativa de psicanálise. O que está em causa é explicar a sua própria história como se fosse de outrem, tentar aplicar a si próprio, seguindo o estilo e os métodos que cada um escolheu, o olhar frio, englobante e explicativo que tantas vezes se lançou sobre os outros. Em resumo, tornar clara, como historiador, a ligação existente entre a história que cada um fez e a história de que cada um é produto.” (NORA, 1989)

Currículo X Vida

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03/07/2016 Quando o historiador aceita o desafio de abordar suas memórias e de superar os limites do “curriculum” pela incorporação da “vida” em sua narrativa, ele assume a “responsividade” - expressão criada por Bakhtin (2003), que define a forma como o enunciado se adianta às expectativas e objeções do outro, de modo que responde por antecipação a esse outro - e oferece, em seu trabalho, um dialogismo bem-vindo e necessário, indiferente se tal busca de transparência é um caso de narcisismo, expiação, costume ou ritual.

Memoriais academicos

O MEMORIAL ACADÊMICO

Uma escrita autobiográfica que se estrutura a partir da exigência institucional para uma possível ascensão profissional, normatizada para a comprovação da trajetória do docente, com ênfase em atividades de pesquisa, publicações em periódicos indexados, atuação em programas de pós-graduação, produção de palestras, de material didático e de publicações acadêmicas qualificadas, vinculação à atividades de extensão e outras realizações pertinentes à sua área de atuação.

ORIGENS: universidades federais como exigência nos concursos de professor catedrático (1934-1968), e posteriormente para professor de titular.

Memoriais nos =/=s concursos

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- PARTICULARIDADES: Fases

1) no ingresso, é um documento para a possível inserção do candidato na instituição, somente os memoriais dos candidatos aprovados são retidos, a normatização do edital somada ao necessário distanciamento pessoal e institucional da banca determinam com maior força os conteúdos esperados e a forma de apresentação de si, maior formalismo;

2) para a Livre-Docência (existente só em São Paulo e estabelecido a

partir de 1976) é um documento inserido em um ritual de reconhecimento entre pares de uma trajetória que é, de certa forma, já compartilhada com a banca e que, na maioria das vezes, tem uma dimensão maior de legitimação do que de agregação,; e

3) para a Titularidade, o indivíduo desfruta de reconhecimento e está

consolidando sua carreira em um novo nível profissional e funcional a partir do conjunto de sua obra (nas federais substitui a tese e em São Paulo não é necessário uma tese de titularidade).

FASES DOS MEMORIAIS (Câmara e Passeggi, 2012) 1) INSTITUCIONALIZAÇÃO (1930-1950) maior rigidez formal,

sequenciamento cronológico rígido e documentado, eventuialmente rápidas referências pessoais como nas descrições do ambiente familiar e escolar;

2) CONSOLIDAÇÃO (1950-1970) aproximação do memorial com o

curriculum vitae, reforço da dimensão enumerativa (paralelo à crescente estruturação burocrática do Estado e ampliação da influência dos modelos acadêmicos norte-americanos e da instrumentalidade quantitativa); e

3) DIVERSIFICAÇÃO (a partir de 1980) valorização da perspectiva

pessoal a partir do giro linguístico / subjetivo, crescente diversificação.

Estrutura obrigatoria X narrativa como resistência

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Modelos

NARRATIVA COMO RESISTÊNCIA

- A dimensão descritiva como superação da abordagem quantitativa, mesmo porque os editais definem o que se deve falar, mas não definem o que não se pode falar.

- Alguns memoriais se convertem em artigos e livros, como por exemplo: HOLLANDA, Heloisa Buarque de. (2009) Escolhas: uma autobiografia intelectual. Rio de Janeiro: Língua Geral / Carpe Diem. MARTON, Scarlett. (2004) A irrecusável busca de sentido: autobiografia intelectual. Sao Paulo: Atelie. SOARES, Magda. (1981) Metamemória-memórias: travessia de uma educadora. Rio de Janeiro: Cortez.

MODELOS NARRATIVOS DOS MEMORIAIS - De enumeração (cartesiano) próximo ao curriculum vitae, e - De descrição crítica (hermenêutico) próximo ao memorialismo. Determinantes: “regras do jogo” de cada campo acadêmico, o ethos de cada geração, o contexto de inserção do autor no ritual do concurso, estratégias de autorrepresentação e autofiguração. CONTRASTES: - saber científico (onde prevalece a regra da

doctrina primus, stilus ultimus) o Tratado, e - narrativa literária (da regra stilus primus, doctrina ultimus) o Ensaio.

A experiência

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A DIMENSÃO DA EXPERIÊNCIA

Ling escrita

"Poderíamos dizer, de início, que a experiência é, em espanhol, “o que nos

passa”. Em português se diria que a experiência é “o que nos acontece”; em francês a experiência seria “ce que nous arrive”; em italiano, “quello che nos succede” ou “quello che nos accade”; em inglês, “that what is happening to us”; em alemão, “was mir passiert”. A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece." (BONDÍA, 2002, p. 21)

Finalmente, a relativa familiaridade com a linguagem escrita que o professor universitário teoricamente detém lhe possibilitaria, em tese, mesclar com maestria à suposta objetividade do currículo e à subjetividade da memória, superando o que Nora (1989, p. 11) chamou de “autobiografia falsamente literária”, “confissões inutilmente íntimas”, “profissão de fé abstrata”, ou mesmo “tentativa de psicanálise selvagem".

Acessibilidade

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A ACESSIBILIDADE DAS FONTES - Algumas instituições (como a USP) que os separam dos processos

administrativos que os originaram e encaminham a suas bibliotecas (que ainda digitalizam e os disponibilizam em seus sites por identificá-los como uma forma de memória institucional),

- Outras (como a UNICAMP) tem diretrizes de arquivamento distintas de acordo com seus departamentos, no IFCH, por exemplo, os identificavam como apensos dos processos e os descartam ao final dos mesmos, ou ainda,

- Algumas (como a UNESP) que os enviam aos arquivos mortos dentro da lógica arquivística institucional.

Questões metodológicas

INQUIETAÇÕES METODOLÓGICAS - as dificuldades de estruturar hipóteses a priori; - a impossibilidade de definir procedimentos prévios e sistemáticos para abordar a variabilidade e amplitude do material, - a possibilidade de reconfigurar pressupostos, e - a relativa transitoriedade dos seus resultados, que exigem interpretações tanto sutis quanto rigorosas.

Abordagens possíveis

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ABORDAGENS POSSÍVEIS

Características gerais

A abordagem de um volume razoável desses documentos, produzidos no interior de um mesmo departamento ou instituição permite o mapeamento de condições gerais e particulares em relação às situações compartilhadas em termos institucionais, como os processos formativos, as formas de ascensão, os diferentes volumes de atividades de ensino, gestão, pesquisa e extensão em carreiras individuais ou agrupamentos específicos, os fluxos temáticos, quantitativos e qualitativos de produção, algumas redes de relações, entre outros aspectos institucionais, assim como, dentro de distintos modelos narrativos, indicadores aspectos específicos das relações familiares e de vinculação, dos pertencimentos ideológicos e intelectuais, das escolhas e conquistas.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Verba volant

- A FIRMA ESTÁ ABERTA E ATENDENDO NO MESMO ENDEREÇO: o memorial se caracteriza como uma prestação de contas e não um acerto de contas;

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Poema em linha reta

- VERBA VOLANT, SCRIPTA MANENT: é um documento público, destinado formalmente à banca, mas disponibilizado pela instituição aos interessados e aos seus pares - os profissionais que dividem com os autores certas ocupações similares, referenciais teóricos (convergentes ou divergentes), redes de relações, sentimentos de pertença ou exclusão e identidades diversas - explicitar divergências é no mínimo se colocar em uma posição de desgaste e poderia despertar antipatias desnecessárias; - POEMA EM LINHA RETA: o relato desenvolve uma perspectiva sedimentar

e enfatize os ganhos sobrepostos, eliminando as perdas eventuais (quando

derrotas e fracassos se apresentam são para justificar atos de superação);

Quanto vale o show?

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- QUANTO VALE O SHOW?: discreta presença da percepção da dimensão performática de seu metiér, e seu processo de interação com seus alunos e pares é totalmente naturalizado, descarnado das exigências de empatia, comunicabilidade e expressão que mediam a relação pensar-fazer que engloba palavra, imagem, gesto e forma de vida;

Marx sim, Zumbi, Pagu e Foucault não

- MAIS MARX, DO QUE

ZUMBI, PAGU OU FOUCAULT: as questões de classe se fazem muito mais presentes do que as de gênero e raça, não só em relação a si mesmo como em relação ao outro**;

* Diversos aspectos contribuem para isso, com destaque para a questão geracional - a Livre-Docência é alcançada, em geral, por profissionais com mais de 40 anos, e a Titularidade por maiores de 50 anos – o que influencia em larga escala muitos de seus referenciais de formação, nos quais se insere uma percepção mais acentuada dos conflitos de classe, uma naturalização do reduzido número de negros nos quadros da docência universitária do país, entre outros aspectos.

Corpo e alma

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- CORPO E ALMA: ausência de percepção da dimensão física/corporal de sua existência, sem dores ou males para além da academia; * a dualidade do corpo e alma, ou da mente e físico, em uma sociedade no qual o fetiche do

corpo e o cuidado com a saúde são tão recorrentes

A vingança do diabo

- AO VINGANÇA DO DIABO: o fel só aparece em conversas informais ou

quando pelo conjunto da obra e pelos anos de experiência pode-se ter o luxo de dar nomes aos bois.

FAUSTO (2010, p. 264), por exemplo, em um dos parágrafos finais de suas memórias, faz um balanço sobre sua formação e sua produção intelectual como historiador no qual parece fazer clara referência aos momentos de desgaste ou tensão não relatados de sua vida acadêmica: “O convívio institucional com os professores me fez ver a preciosidade dos anos passados na reitoria. (...) (Onde ao contrário do departamento em que lecionei havia) um ambiente de solidariedade sem paralelo entre os colegas de trabalho”.

Sexo e gênero é uma coisa suja

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- SEXO (E GÊNERO) É UMA COISA SUJA: silêncios que refletem uma sobrevivência de uma tradição misógina no campo intelectual que identifica como fragilidade / limitação / incapacidade aspectos da condição feminina, estigmatiza a condição homossexual, omite as tensões e encantamentos das afetividades, entre outras. A condição feminina, por exemplo, não tem no convívio universitário situações não só de mérito e produção, mas de assédio, misoginia, sobrecarga de jornada, entre outras tensões mundanas, ou colegas nunca se envolvessem com outros colegas ou com aluna(as), e em que medida isso é percebido e se relaciona com a trajetória de cada um.* * Interessante trabalho sobre as afetividades na carreira acadêmica é a dissertação em antropologia de Moraes (2012) com o título “Pântanos de relações e colchões de cumplicidade”: academia e conjugalidade na perspectiva de quatro mulheres intelectuais.

Paul Valery "Paul Valery dizia que foi esquecido algo essencial na educação dos jovens; que é muito mais importante para uma pessoa aprender com seu professor do que das páginas de um livro. O que se aprende com professores tem como base a experiência de vida, e, portanto, o que ensinam não são coisas, mas muito mais que coisas. Nos ensinam a viver, e viver não é uma coisa, mas algo que está mais além, um assunto quase desconhecido hoje." (SANTOS, 1993, p. 40)

Só uma coisa...

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BIBLIOGRAFIA BONDÍA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 19,

p. 20-28, 2002. CÂMARA, Sandra Cristinne Xavier da. PASSEGGI, Maria da Conceição. O gênero memorial acadêmico no Brasil:

concepções e mudanças de uma autobiografia intelectual. In: JORNADA NACIONAL DO GRUPO DE ESTUDOS

LÍNGUÍSTICO DO NORDESTE, XXIV, Natal: UFRN, 4 a 7 de set. Anais..., 2012. Disponível em <

http://www.gelne.org.br/Site/arquivostrab/1517-ARTIGO-GELNE-2012-SandraCXCamara-Passeggi.pdf > Acesso

em: 27 abr/ 2014. CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Arquivos pessoais são arquivos. Revista do Arquivo Público Mineiro, v. 45, f. 2,

p. 27-39, jul. dez. 2009. Disponível em www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/2009-2-A02.pdf Visitado em

23/08/2015. FAUSTO, B. Memórias de um historiador de domingo. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

LEJEUNE, P. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

NORA, P. Ensaios de Ego-história. Lisboa: Edições 70, 1989. SCHULZE, W. Sobre el significado de los ego-documentos para la investigación de la Edad Moderna. In: AMELANG,

J. A. De la autobiografía a los ego-documentos: un forum abierto. Cultura, Escrita y Sociedad, Madri: Universidad de

Alcala, n. 1, p. 106-109, 2005. SILVA, W. C. L. Para além da ego-história: memoriais acadêmicos como fontes de pesquisa

autobiográfica. Patrimonio e Memoria, Assis, v. 11, n. 1, p. 71-95, 2015a. SILVA, W. C. L. A vida, a obra, o que falta, o que sobra: memorial acadêmico, direitos e obrigações da

escrita. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 7, n. 15, p. 103 – 136, 2015b.

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