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Módulo 1 Fundamentos da investigação do crime de homicídio Apresentação do Módulo A investigação de um crime, como todo fazer, antes que seja traduzida em métodos e técnicas, é uma construção conceitual de conhecimentos que lhe darão sustentação. Entretanto, sendo o homicídio uma ação social, antes de iniciar qualquer fundamento conceitual, é importante sua contextualização histórica e política para que possa ser compreendido e apurado como tal. É muito provável que você já seja detentor de vasto conhecimento sobre investigação criminal ou até mesmo sobre o tema específico deste curso. No entanto, este módulo inicial irá levá-lo a revisitar alguns conceitos básicos, mas necessários ao aprendizado ora proposto. Sendo assim, temas como princípios constitucionais e princípios fundamentais da investigação, bem como as atitudes a serem adotadas pelos profissionais de segurança pública ligada às atividades investigativas serão revistos de modo a permitir sua compreensão no contexto da apuração do crime de homicídio. Aproveite e boas aulas!

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Módulo 1 – Fundamentos da investigação do crime de homicídio

Apresentação do Módulo

A investigação de um crime, como todo fazer, antes que seja traduzida

em métodos e técnicas, é uma construção conceitual de conhecimentos

que lhe darão sustentação.

Entretanto, sendo o homicídio uma ação social, antes de iniciar qualquer

fundamento conceitual, é importante sua contextualização histórica e

política para que possa ser compreendido e apurado como tal.

É muito provável que você já seja detentor de vasto conhecimento sobre

investigação criminal – ou até mesmo sobre o tema específico deste

curso. No entanto, este módulo inicial irá levá-lo a revisitar alguns

conceitos básicos, mas necessários ao aprendizado ora proposto.

Sendo assim, temas como princípios constitucionais e princípios

fundamentais da investigação, bem como as atitudes a serem adotadas

pelos profissionais de segurança pública ligada às atividades

investigativas serão revistos de modo a permitir sua compreensão no

contexto da apuração do crime de homicídio.

Aproveite e boas aulas!

Page 2: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

Objetivos do Módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:

Compreender os aspectos históricos e políticos do enfrentamento

da prática do homicídio.

Compreender conceitos e características próprias da investigação

de homicídio;

Construir uma investigação de homicídio baseada em princípios

fundamentais de respeito à lei e à dignidade da pessoa

humana;

Agir em conformidade com os padrões de postura estabelecidos

para as equipes de investigação durante a apuração de

crimes de homicídio.

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Estrutura do Módulo

Aula 1 – Aspectos históricos e políticas nacionais de enfrentamento

da prática de homicídio

Aula 2 – Conceito e características da investigação do crime de

homicídio

Aula 3 – Princípios constitucionais com repercussão na investigação

de homicídio

Aula 4 – Princípios fundamentais da investigação criminal

Aula 5 – Postura do investigador do crime de homicídio

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Aula 1 – Aspectos históricos e políticas nacionais de

enfrentamento da prática de homicídio

Você não poderia iniciar o estudo da investigação do crime de homicídio

sem uma rápida abordagem histórica e conceitual desse delito, concorda?

Importante!

Os elementos históricos são referenciais importantes para a compreensão

desse fenômeno social, principalmente no que diz respeito à leitura feita

pelas sociedades na sua gradual criminalização.

A palavra homicídio origina-se do termo latino homicidium, que é

composto de dois elementos: homo, que significa homem e provém de

húmus, terra, país; e caedere, que significa matar.

Nessa mesma linha de raciocínio, é possível conceituar o homicídio como o

ato pelo qual uma pessoa elimina a vida de outra; ou, também, a morte

de alguém causada por uma pessoa.

Historicamente, o primeiro homicídio relatado foi a morte de Abel,

provocada por seu irmão Caim, que agiu motivado por inveja, conforme

consta na Bíblia (Gênesis, capítulo 4).

No estudo da pré-história, há inúmeros relatos de corpos encontrados com

vestígios de violência, o que é um indicativo de que a morte dessas

pessoas tenha sido provocada pela ação humana.

Os manuscritos das civilizações antigas, especialmente dos povos

sumérios e babilônicos, demonstram a adoção do Código de Hamurabi,

conhecido pela Lei de Talião, cuja regra central era o que se chama de

“olho por olho, dente por dente”.

Dessa forma, os crimes de homicídio, em regra, eram punidos com a

morte do autor, forma de punição também adotada pelos egípcios e

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assírios, os quais entregavam o autor do crime à família do morto, que,

conforme seu arbítrio, sua vontade, poderia lhe impor a morte ou

apossar-se de seus bens.

Há também o Código de Manu, relacionado ao povo hindu, o qual concedia

privilégios aos brâmanes, parcela privilegiada da população, sendo que, se

um membro desse grupo, que se denomina casta, matasse o membro de

outra casta, nunca seria condenado à pena capital, o que sempre se

verificava em caso contrário.

Por sua vez, a legislação hebraica determinava uma regra geral para o

crime de homicídio: “não matarás” (quinto mandamento da Bíblia); e uma

punição específica no caso dos homicídios involuntários – quando não há a

intenção de matar –, caso em que os autores eram mandados para as

cidades-asilos.

Na Grécia antiga, o crime de homicídio não era punido na cidade-estado

de Esparta, mas era punido na cidade-estado de Atenas.

Na Roma antiga, o homicídio era considerado um crime público e recebeu

inicialmente o nome de parricidium, que significava a morte de um

cidadão romano. Mais tarde, o termo passou a ser empregado para

designar a morte de um ascendente pelo descendente. Somente no final

da república romana adotou-se o termo homicídio.

Em Roma, a pena para o crime de homicídio dependia da condição social

do réu e das circunstâncias do fato. Compreendia o exílio, o confisco dos

bens ou a morte por decapitação ou por animais ferozes.

No direito germânico, o homicídio era considerado crime privado e o

homicida ficava sujeito à vingança da família do morto. Também havia a

possibilidade de composição, que consistia no cumprimento, pelo

homicida, de uma exigência da família da vítima.

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Com o ressurgimento do direito romano e a influência do direito canônico,

o homicídio voltou a ser considerado crime público. Contudo, os castigos

corporais e a pena de morte continuaram a ser adotados como punição

para essa prática criminosa.

Aqui, uma nota importante!

No final do século XVI, na Holanda, surgiu o modelo prisional, com caráter

reeducacional. Eram casas correcionais destinadas inicialmente a abrigar

vadios, mendigos e prostitutas. Embora esses estabelecimentos se

destinassem ao cumprimento de pena com caráter educativo, as penas de

suplícios corporais continuaram a ser aplicadas.

Foi no período iluminista, no final do século XVIII, que se iniciou o

movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça

penal, que deveria considerar a humanidade do condenado.

Césare Bonesana Beccaria, o Marquês de Beccaria, em seu livro Dos

Delitos e das Penas, escrito em 1764, contribuiu para a mudança da forma

de execução das penas em toda a Europa. Repudiou as penas cruéis,

estabelecendo a necessidade de respeitar a dignidade do condenado e

demais direitos indisponíveis, entre eles o direito à preservação da

integridade física e da vida.

1.1. A penalização da conduta “matar alguém” na legislação

brasileira

Chamando o tema para o Brasil, o Código Penal de 1830, ainda no período

imperial, trata do crime de homicídio e o considera qualificado, o que traz

o aumento da pena nos casos em que é praticado com veneno, mediante

fraude ou emboscada, com promessa de pagamento ou por mais de uma

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pessoa. Nesses casos, a pena variava desde trabalho forçado, galés

perpétuas, até a morte.

Já no período republicano, o Código de 1890 contemplava o crime de

homicídio em seu artigo 294, agravando a pena em várias circunstâncias.

A pena de prisão variava de 12 a 30 anos nas formas qualificadas e de 06

a 24 anos nos casos de homicídio simples.

No Código Penal brasileiro em vigor, de 1940, o crime de homicídio está

inserido no capítulo dos crimes contra a vida, sendo o primeiro crime

tipificado, ou seja, cuja conduta é descrita

com a expressão “matar alguém” (texto do art. 121 do CP).

A proteção à vida tem também seu fundamento na Constituição Federal

de 1988 e está prevista no caput do artigo 5º. É considerado um direito

fundamental, isto é, é indispensável ao desenvolvimento da pessoa

humana.

Entretanto, é importante ressaltar que nenhum direito, mesmo que

fundamental, é absoluto, já que é necessário que todos os direitos

convivam harmoniosamente.

Por isso, o direito à vida também encontra limitação quando em confronto

com outros interesses coletivos ou individuais da sociedade. Nesses casos

a lei cria situações privilegiadas de descriminalização da conduta “matar”,

como é o caso das chamadas causas legais de exclusão da ilicitude.

A respeito da eliminação da vida humana, a própria Constituição Federal

prevê a possibilidade de haver pena de morte em tempo de guerra (artigo

5º, XLVII, a):

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XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,

XIX; [...]

Observe, dessa forma, que o direito à vida, ainda que fundamental, não é

de tudo absoluto.

Por essa razão, o Código Penal brasileiro incrimina, no artigo 121, a

conduta de um ser humano provocar a morte de outro ser humano,

apresentando quatro figuras típicas: o homicídio simples, o homicídio

privilegiado, o homicídio qualificado e o homicídio culposo.

Para os nossos estudos, interessam-nos as três primeiras tipificações, que

tratam do homicídio doloso, que é aquele em que o autor tem a intenção

de eliminar a vida da vítima, tanto na forma consumada quanto tentada.

Para o homicídio simples, a lei penal brasileira determina como pena a

reclusão de 06 a 20 anos.

Entretanto, o mesmo Código Penal determina no § 1º do artigo 121:

“Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social

ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta

provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um

terço.”

Nesse caso, devem ser consideradas as seguintes possibilidades:

a. Relevante valor social – Trata-se de motivo que atende aos

interesses da coletividade. Exemplo: morte de um traidor da pátria.

b. Relevante valor moral – Trata-se de motivo que, embora seja

relevante para a sociedade, leva em consideração os interesses do

agente. Exemplo: pai que mata o estuprador da filha.

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c. Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta

provocação da vítima – É também chamado de homicídio emocional.

Nesse caso, o autor do crime de homicídio deve estar completamente

dominado pela situação, momentaneamente perturbado em seu

psiquismo, de tal forma que seja capaz de justificar a cólera, a indignação,

que, por sua vez, desencadearão uma reação imediata.

Por outro lado, o Código Penal também enumera no § 2º do artigo 121

motivos, meios, modos e fins que tornam o homicídio qualificado,

tratando-se, nesse caso, de crime hediondo, cuja pena de reclusão é de

12 a 30 anos.

Dessa forma, há o crime de homicídio praticado:

a. Mediante paga ou promessa de recompensa - Na paga, o

dinheiro é entregue antes do crime, mesmo que apenas uma parte dele;

na promessa de recompensa, o recebimento é posterior e não

necessariamente em pecúnia; pode ser, por exemplo, a promessa de um

emprego.

b. Por motivo torpe - É o motivo repugnante, desprezível. Exemplo:

matar os pais para ficar com a herança.

c. Por motivo fútil - É o motivo desproporcional, insignificante.

Exemplo: matar a vítima porque ela olhou de “cara feia” para o autor.

d. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou

outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo

comum - Trata-se de qualificadoras objetivas, pois se referem ao meio

empregado para o cometimento do crime de homicídio.

e. À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro

recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido -

São circunstâncias que retratam o modo como a vítima é abordada,

determinadas por situação de surpresa ou de falsidade.

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f. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou

vantagem de outro crime - É também chamado de homicídio por

conexão. O outro crime pode ser anterior ou posterior e não

necessariamente praticado pelo mesmo autor do homicídio.

Saiba mais...

Leia o texto A História do Delito de Homicídio1.

Reflita! Qual a importância, para o investigador, de conhecer as

circunstâncias em que o autor praticou o homicídio?

Veja que conhecê-las é fundamental para definir a linha de investigação e

construir a estratégia que ele irá adotar para a coleta das provas.

Importante!

Sabendo o que ocorreu, o investigador saberá que tipo de prova deverá

perseguir com a investigação, sem perder tempo trilhando por caminhos

que não o levam a nada e colhendo informações inúteis.

1.2. Os índices de resolução do crime de homicídio no cenário

nacional

No dia 06/10/2011, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime

(UNODC) divulgou seu primeiro Estudo Global sobre Homicídios.

De acordo com esse estudo, o Brasil tem o terceiro maior índice de

homicídios na América do Sul, com 22,7 casos para cada 100 mil

habitantes.

O Brasil fica atrás apenas da Venezuela e da Colômbia, com 49 casos e

33,4 casos, respectivamente, para cada 100 mil habitantes.

1 http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9832#

Page 11: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

Embora, de acordo com o estudo citado, esse número seja melhor do que

há cinco anos e mesmo considerando o tamanho da população, o que

permite que o Brasil desça proporcionalmente para um grupo

intermediário, ainda assim o país se coloca muito longe da Europa, da

Ásia e dos Estados Unidos.

É também importante ressaltar que quatro países também da América do

Sul – Uruguai, Argentina, Peru e Chile – ficam abaixo da média mundial,

que é de 6,9 homicídios por 100 mil habitantes.

Mesmo não tendo alcançado, no contexto geral, a média desejável dos

países citados, no Brasil, o estudo da UNODC destacou positivamente a

cidade de São Paulo como exemplo para outras metrópoles do mundo.

De acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Justiça, a taxa de

homicídios na cidade de São Paulo caiu, em cinco anos, de 20,8 para 10,8

em cada cem mil habitantes.

O estudo da ONU também enfatiza que as tendências mostram-se muito

diferentes no que diz respeito a São Paulo, em relação a outras regiões do

Brasil, especialmente ao estado de Alagoas, cujo número de homicídios

ultrapassa 60 em cada 100 mil habitantes.

Em consonância com os dados do Instituto Sangari, que elaborou,

juntamente com o Ministério da Justiça, o mapa da violência 2011 no

Brasil levando em conta os crimes de homicídio e o número de habitantes,

observa-se que a maior incidência, no que concerne às grandes capitais, é

verificada em Maceió-AL, seguindo-se Recife-PE e Vitória-ES.

Saiba mais...

Acesse os links para mais informações sobre o tema:

Page 12: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

Jornal Nacional – Brasil é o país com o maior número de homicídios,

aponta a ONU2.

Agência Brasil – Para reduzir homicídios, Cardozo defende ações

integradas e unidades especiais3

1.3. Política nacional de fomentação da investigação de homicídio

Em fevereiro de 2010, foi lançada a Estratégia Nacional de Justiça e

Segurança Pública (Enasp), com o objetivo de “promover a articulação dos

órgãos responsáveis pela segurança pública, reunir e coordenar as ações

de combate à violência e traçar políticas nacionais na área”.

Essa iniciativa é resultado da parceria entre os Conselhos Nacionais do

Ministério Público (CNMP) e de Justiça (CNJ) e o Ministério da Justiça (MJ),

sendo que cada qual desenvolve uma ação integrada no contexto da

ENASP.

No caso do CNMP, há o desenvolvimento de ações que visam agilizar e dar

maior efetividade à investigação da polícia, à denúncia do Ministério

Público e ao julgamento pelos Tribunais do Júri dos crimes de homicídio.

Nesse sentido, pode-se citar, como exemplo, a Meta 1 (Subgrupo 1:

Fase de Investigação)4 da ENASP que objetivou a conclusão de todos os

2 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/10/brasil-e-o-pais-com-o-maior-numero-

de-homicidios-aponta-onu.html

3 http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-10-06/para-reduzir-homicidios-cardozo-

defende-acoes-integradas-e-unidades-especiais

4 Acessar o arquivo em anexo 2011Metas_ENASP.pdf.

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inquéritos e procedimentos que investigam homicídios dolosos instaurados

até 31 de dezembro de 2007.

Dessa forma, observe que a priorização da investigação criminal é de

fundamental importância para que se atinja a proposta-meta, quer seja

para levar a julgamento autores de crimes de homicídio doloso, quer seja

para a promoção do arquivamento dos procedimentos, haja vista o

exaurimento dos procedimentos investigatórios.

Existem vários fatores responsáveis pelo alto índice de violência verificado

no país, dentre eles, os baixos índices de resolução de crimes de

homicídio.

Nesse sentido, é pertinente afirmar que os baixos índices de resolução de

crimes de homicídio, juntamente com outros possíveis fatores, são

responsáveis pelo alto índice de violência verificado no país.

Sendo assim, é possível concluir que a priorização da investigação criminal

do homicídio deve contribuir para a diminuição dessa prática criminosa,

com redução do tempo de resposta do Estado, levando a julgamento os

criminosos e permitindo, assim, que não impere na sociedade o

sentimento de impunidade.

Para o então Ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, a impunidade é um

dos principais aspectos a serem combatidos, sendo que, para tanto,

deverão ser criadas unidades específicas para a investigação de

homicídios em cada Estado, e os processos judiciais deverão ser

agilizados.

Page 14: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

Saiba mais...

Abra os seguintes links para mais informações:

Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública5

CNJ – ENASP6

Aula 2 – Conceito, características e pressupostos da investigação

criminal.

Segundo Ribeiro (2006), “a ciência da investigação é um campo

permanentemente aberto à busca do saber e à descoberta da verdade”.

Isso porque a investigação criminal não encontra limites nos enunciados

das leis penais. Na verdade, a própria legislação penal confere ao

investigador criminal a mais ampla discricionariedade, de forma que a

existência de limites está pautada no uso racional da inteligência e da lei.

É por essa razão que a investigação criminal não se constitui em simples e

aleatória coleta de provas, sem a necessária adoção dos métodos, das

técnicas e dos procedimentos especializados, que devem fundamentar o

trabalho da equipe de investigação.

Sendo assim, o investigador deve possuir formação técnico-científica no

assunto, a qual não significa somente conhecimento jurídico nem somente

boa vontade, mas conhecimento especializado com base nas ciências que

dão suporte à investigação criminal.

Esse conhecimento devidamente aplicado à investigação do homicídio

permite que o investigador realize sua tarefa de forma segura e eficaz,

5

http://portal.mj.gov.br/senasp/main.asp?ViewID=%7B45D2F2A3%2DF723%2D4229%2D94A2%2D311A3DF2A0

CB%7D&params=itemID=%7B5A3DAD20%2D4CB3%2D484C%2D9011%2DC00E225D2A92%7D;&UIPartUID=%7

BE0EA6E2F%2D2D28%2D4749%2D9852%2D31405415DD85%7D

6 http://www.cnj.jus.br/metas-enasp

Page 15: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

evitando atitudes irrefletidas que possam comprometer a imagem e o

resultado do trabalho de investigação criminal.

Isso porque se, por um lado, algumas investigações apresentam apenas

um grau razoável de dificuldade, outras, cujos delitos são praticados por

quem vive do crime ou por quem detém recursos financeiros que facilitam

o uso de artifícios geradores da impunidade, exigem do investigador

firmeza e segurança quanto às providências adotadas.

Nesse sentido, não é raro que investigadores estejam às voltas com

denúncias anônimas que pretendem desviá-los da verdade, além de

outros tantos ardis e artifícios engendrados pelo autor do crime, sempre

com esse mesmo objetivo.

Assim sendo, o investigador com conhecimento técnico-científico

especializado conhece o conjunto de preceitos teóricos que alicerçam sua

atuação perante o caso concreto e permitem que ele suporte eventuais

pressões que poderão afetar a eficácia do resultado da investigação.

Há dois tipos de pressão mais comum. Uma é a que diz respeito à

exigência de que a polícia apresente o autor do homicídio o mais urgente

possível. Ceder a esse processo poderá ser o tropeço da investigação ao

atropelar etapas do processo com resultados ineficazes. Outro é a

tentativa de desqualificação da investigação pela ação da defesa por

intermédio de meios que poderão comprometer a eficácia da prova

colhida, por exemplo, de campanhas difamatórias na mídia forjando

situações que colocam em dúvida a legalidade de atos da investigação.

Esses preceitos teóricos permitem que o investigador caminhe no rumo

certo, de forma concreta e segura, adotando a técnica adequada para a

revelação, coleta e análise de cada evidência encontrada.

2.1. Conceito de investigação criminal

Page 16: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

Muito embora uma conceituação formal de investigação criminal não seja

elemento fundamental no ensino e aprendizagem dessa disciplina,

conhecer uma proposta conceitual tem a importância de determinar

parâmetros que possam fazer com que o investigador encontre

referenciais teóricos que sirvam de suporte ao seu fazer prático,

fundando-o em métodos e técnicas eficazes.

Veja um conceito de investigação criminal:

“Investigação criminal é o conjunto de procedimentos interdisciplinares,

de natureza inquisitiva que busca, de forma sistematizada, a produção da

prova de um delito penal.” (Araujo, 2008)

No presente estudo, esse delito penal é o crime de homicídio. Todas as

referências teóricas que serão desenvolvidas neste curso terão como

objetivo a investigação do crime de homicídio.

2.2. Características principais da investigação criminal de

homicídio

A investigação de homicídio é uma espécie da investigação criminal que

requer conhecimentos e habilidades cuja aplicação está sujeita a princípios

específicos.

Vimos que o crime de homicídio é um delito complexo, pois envolve os

sentimentos mais profundos do ser humano, o que dificulta,

sobremaneira, o esclarecimento da motivação que determina o elo entre a

vítima e o autor.

Entretanto, na fase processual, esse crime é submetido ao juízo de

pessoas que compõem o júri, leigas quanto ao conhecimento técnico-

especializado da investigação criminal, o que permite que o julgamento

possa sofrer decisiva influência de conteúdo emocional, pois não é raro

Page 17: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

que as partes apresentem um forte discurso apelativo, o que permite que

a decisão – culpado ou inocente – possa surgir de um simples detalhe

como o clamor público e a influência da mídia.

Por essas razões é que somente a investigação realizada com métodos e

técnicas científicas poderá trazer um resultado claro, consistente e

coerente, capaz de sustentar um processo judicial sólido.

Nesse contexto, verifica-se que a investigação de homicídio tem

características muito próprias, que se tornam fatores fundamentais de

alerta aos cuidados especiais que o investigador deverá ter. São elas:

exigência de extremo detalhamento, de uma observação

contextual dos vestígios e de uma postura racional, lógica e

analítica. Ou seja, a investigação de homicídio requer de seu executor

habilidades que o permitam fragmentar, o

mais possível, cada uma das informações colhidas, buscando cada

detalhe, cada aspecto, cada ponto de vista sem, contudo, perder a

capacidade de visão do todo dessas informações e, principalmente, sem

perder a capacidade de análise racional do cientista.

Aula 3 – Princípios constitucionais com repercussão na

investigação de homicídio

Não se pode perder de vista a função tutelar de direitos fundamentais que

o Estado brasileiro delegou à investigação criminal, ou seja, a investigação

criminal é a garantia que tem o cidadão de que, praticando um delito

penal, haja um procedimento apuratório legal que lhe garanta um

julgamento justo com aplicação da pena na dimensão adequada à sua

conduta.

Page 18: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

Os atos da investigação criminal são atos da Administração Pública,

portanto atos administrativos. A compatibilidade desses atos com a

missão tutelar de direitos foi garantida pelo constituinte de 1988 ao

moldar princípios que regulam os procedimentos da Administração

Pública, reflexos aos procedimentos da investigação.

Portanto, a investigação de homicídio sofre o efeito dessa ação transversal

dos princípios constitucionais em todos os seus atos.

3.1. Marco regulatório

O marco regulatório dos princípios que regem a investigação criminal é o

art. 37 da Constituição Federal, que formula os fundamentos legais que

deverão servir de referência para todos os atos da Administração Pública.

Diz o texto:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos

princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência. (C.F.)

Importante!

São esses princípios que irão nortear os procedimentos a serem

desenvolvidos na apuração das provas do crime de homicídio.

Veja, a seguir, o que foi dito por Araujo (2008) no curso Investigação

Criminal I, agora

focado na sua transversalidade na investigação de homicídio.

3.1.1. Princípios

Page 19: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

“[...]

Princípio da legalidade

Foi visto que no Estado Democrático de Direito todos deverão se submeter

à supremacia da lei.

O princípio da legalidade é a pedra de toque do Estado de Direito e

estabelece dois tipos de relação: uma com a Administração Pública, outra

com o cidadão.

Relação com Administração Pública

A atuação da Administração Pública só pode ser operada em conformidade

com a lei. É uma relação de submissão.

Relação com o cidadão

É permitido ao cidadão fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Não poderá

ser obrigado a fazer o que não lhe é determinado por lei.

É uma relação de autonomia que resulta no princípio da liberdade do

ser humano, configurado, também, na Constituição Federal como um dos

princípios fundamentais:

“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei.” (CF., art. 5º, inc. II)

Portanto, o princípio da legalidade é direito fundamental de cidadania que

servirá de base para todos os demais princípios.

Observe que a acepção dada pela norma constitucional ao vocábulo “lei”

não é restrita, mas abrangente, abarcando a lei propriamente dita e todo

o contexto jurídico em que ela está contida.

Significa que as normas que regulam a investigação criminal, mesmo as

administrativas (portarias, ordens de serviços, protocolos de

procedimentos, etc.) estão nesse contexto e

Page 20: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

deverão respeitar o princípio da legalidade.

Princípio da impessoalidade

A impessoalidade na investigação criminal significa que as atitudes do

investigador deverão refletir objetividade no atendimento do interesse

público, sem qualquer possibilidade de promoção pessoal do agente ou da

autoridade.

O interesse público contido na investigação criminal é o de explicar o fato

acontecido, para que os dados coletados possam formar a prova

necessária para aplicação da pena justa ao infrator. Não cabe utilizar a

investigação para promoção pessoal de quem quer que seja.

Significa também que o ato de investigar não deve ser usado para

prejudicar ou beneficiar pessoa determinada.

Princípio da moralidade

A moralidade da Administração Pública está relacionada com aquilo que a

sociedade, em determinado momento, considerou eticamente adequado,

moralmente aceito.

As práticas da investigação terão que estar de acordo com o ideário moral

vigente no grupo social, como honestidade, bondade, compaixão,

equidade e justiça.

As decisões tomadas para o processo da investigação deverão adequar-se

aos valores que a sociedade adota como norte para a relação de

convivência das pessoas e destas para com o ambiente.

Princípio da publicidade

A acepção fundamental do princípio é de transparência.

Reflexão

Sobre esse termo aplicado à investigação criminal, cuja natureza tem

como elemento principal o sigilo: É possível aplicá-lo?

Page 21: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

A transparência na Administração Pública tem como objetivo o controle,

que poderá ser feito pela própria Administração, pelo poder judiciário e

pelo cidadão.

O controle da gestão pública exercido pelo cidadão é garantia fundamental

de direitos assegurada em vários itens constitucionais do art. 5º, como o

de receber dos órgãos públicos informações de interesse particular,

coletivo ou geral (inciso XXXIII); o de obtenção de certidões em

repartições públicas (inciso XXXIV); e o de conhecimento de informações

relativas à pessoa interessada, constantes de bancos de registros ou

bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público

(inciso LXXII).

E na investigação, como se aplicaria esse princípio?

Como toda regra, o princípio não é absoluto.

A própria Constituição impõe limites, colocando como exceção ao direto à

informação as hipóteses de sigilo:

[...] ‘todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu

interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas

no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo

sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.’ (CF, art.

5º, inciso XXXIII)

A transparência é a regra. A exceção está expressa na lei.

Todos os atos da investigação são necessariamente sigilosos?

Em princípio não.

No caso da investigação criminal, devem ser considerados dois aspectos:

o contexto da apuração, de interesse da sociedade geral, pois diz

respeito às demandas imediatas de bem-estar da coletividade, e o

aspecto de ato operacional específico, cujo interesse é mediato.

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Ou seja, a apuração de provas da prática de um delito, como ato geral de

gestão pública, deve ser do conhecimento da comunidade, para que ela

tenha segurança jurídica quanto à garantia de proteção de seu bem-estar.

Entretanto, mesmo sendo de seu interesse, os procedimentos

operacionais de apuração, em regra, são executados em sigilo,

exatamente para garantir a exequibilidade da investigação.

Já imaginou se a polícia anunciar antecipadamente as estratégias que irá

aplicar na investigação de delitos praticados por quadrilhas de tráfico de

drogas? É pouco provável que consiga alguma prova.

Princípio da eficiência

Também de observância prioritária e universal no exercício de toda

atividade administrativa do Estado.

O termo remete à acepção de boa administração vinculada à

produtividade, profissionalismo e adequação técnica do exercício funcional

às demandas do interesse público.

Segundo Pazzaglini (2000, p.32), ‘o administrador público tem o dever

jurídico de, ao cuidar de uma situação concreta, escolher e aplicar, entre

as soluções previstas e autorizadas pela lei, a medida eficiente para obter

o resultado desejado pela sociedade’.

Significa que a Administração Pública e seus profissionais, no exercício das

atividades funcionais, deverão aplicar os recursos avaliando a relação de

custo-benefício, buscar a otimização de recursos, aplicar os critérios

técnicos e legais necessários para maior eficácia possível em benefício da

boa qualidade de vida do cidadão. E, ainda, diz respeito ao investimento

na formação profissional.”

A aplicação prática do princípio na investigação criminal se concretiza com

todos os cuidados necessários para sua eficácia, desde o planejamento,

com a escolha adequada dos meios, até os cuidados com a proteção aos

Page 23: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

direitos fundamentais das pessoas envolvidas no processo e com a

legalidade na coleta da prova. (Araujo, 2008)

Perceba o quanto é fundamental para o cidadão a observância desses

princípios pela atividade investigativa da polícia. Em especial no que se

refere à legalidade dos atos. É importante que o investigador tenha a

percepção de que os atos limitadores praticados pela polícia são exceções

com permissão legal para que, dentro dos limites da lei, sempre prevaleça

o interesse público e não o pessoal.

Refletindo sobre a questão

Suas práticas como investigador sempre são precedidas da preocupação

com os limites da legalidade dos seus atos? Discuta isso com seus colegas

no fórum ou por outras redes sociais do grupo.

Aula 4 – Princípios fundamentais da investigação criminal

A investigação criminal é a primeira fase da aplicação da justiça pelo

Estado aos infratores. É a fase inicial desse processo que possibilita a

apresentação do infrator ao Poder Judiciário com o mínimo de informações

necessárias ao desenvolvimento do processo penal na busca da

determinação da sua culpabilidade ou inocência.

Falar em princípios fundamentais possibilita pensar em regras que dizem

respeito ao trato com as pessoas enquanto tais, individual ou

institucionalmente consideradas.

A investigação criminal, ainda que vinculada ao processo penal, sob o

controle judicial e do Ministério Público é, inegavelmente, uma atividade

administrativa com certa dose de discricionariedade e considerável nível

de autonomia por parte dos investigadores. Daí a necessidade de que haja

Page 24: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

em suas ações, além do conteúdo legal, um conteúdo regulatório de

natureza ética muito eficaz e respeito às normas dos direitos humanos,

visto o grau de repercussão tanto na individualidade das pessoas que são

objeto da ação investigatória quanto na qualidade de vida da sociedade,

principal beneficiário da investigação.

Neste sentido dispõe o Art. 2 º do Código de Conduta para os

Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (adotado pela

Assembleia Geral das Nações Unidas pela resolução nº 34/169, de

17 de dezembro de 1979) ao dispor que “No cumprimento do seu

dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem

respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os

direitos fundamentais de todas as pessoas”.

No curso Investigação Criminal I, Araujo (2008) diz: “quanto maior o grau

de lesividade do ato investigatório, maior deverá ser o cuidado do

investigador para com as garantias protetoras do investigado”.

O investigador deverá lembrar-se sempre de que investigar crimes é um

procedimento extremamente invasivo à intimidade das pessoas

envolvidas, seja a vítima, o suspeito ou a testemunha. Esse grau de

invasão é muito maior quando se trata de apuração de crime contra a

vida, em especial do homicídio, visto que um dos métodos de apuração

mais aplicado, como você estudará adiante, é a varredura das relações

pessoais da vítima, do suspeito e, muitas vezes, da própria testemunha,

na busca de vínculos com a conduta delituosa. É nesse processo que se

materializa a característica invasiva, a mais marcante da investigação

criminal.

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No processo de busca das provas caem nas mãos do investigador as mais

íntimas informações sobre a vida pessoal dos atores envolvidos. Cabe a

ele o juízo do que deva ser considerado relevante ou não para a

investigação de provas.

Sem dúvida essa ação invasiva acaba por lesar direitos e garantias

fundamentais (como a intimidade e o ir e vir) na busca de informações

necessárias à construção da prova.

Foi com essa preocupação que o Alto Comissariado das Nações Unidas

editou o Manual de Formação em Direitos Humanos para as Forças

Policiais7, nele formatando o que chamou de “princípios fundamentais da

investigação policial” (criminal). São princípios norteadores dos

procedimentos da investigação criminal.

Diz o texto do manual, com enumeração dos princípios:

“Durante as investigações, audição de testemunhas, vítimas e suspeitos,

revistas pessoais, buscas de veículos e instalações, bem como

interceptação de correspondência e escuta telefônica:

a. Todo indivíduo tem direito à segurança pessoal;

b. Todo indivíduo tem direito a um julgamento justo;

c. Todo indivíduo tem direito à presunção de inocência até que a sua culpa

fique provada no decurso de um processo equitativo;

d. Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, família,

domicílio ou correspondência;

e. Ninguém sofrerá ataques à sua honra ou reputação;

7 http://www.gddc.pt/direitos-humanos/Manual1.pdf

Page 26: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

f. Não será exercida qualquer pressão, física ou mental, sobre os

suspeitos, testemunhas ou vítimas, a fim de obter informação;

g. A tortura e outros tratamentos desumanos ou degradantes são

absolutamente proibidos;

h. As vítimas e testemunhas deverão ser tratadas com compaixão e

consideração;

i. A informação sensível deverá ser sempre tratada com cuidado e o seu

caráter confidencial respeitado em todas as ocasiões;

j. Ninguém será obrigado a confessar-se culpado nem a testemunhar

contra si próprio;

k. As atividades de investigação deverão ser conduzidas em conformidade

com a lei e apenas quando devidamente justificadas;

l. Não serão permitidas atividades de investigação arbitrárias ou

indevidamente intrusivas.” (Manual de Formação em Direitos Humanos

para as Forças Policiais, p. 79)

O próprio manual nos induz ao entendimento de que esses princípios,

considerando as normas internacionais que tratam dos direitos humanos

da pessoa objeto de investigação criminal, poderão ser resumidos nos

seguintes princípios:

• Presunção da inocência de todos os arguidos;

• Direito de todas as pessoas a um julgamento justo;

• Respeito pela dignidade, honra e privacidade de todas as pessoas.

Essas são normas fundamentais que precisam receber toda a atenção da

equipe de investigação de homicídio, pois, do contrário, haverá muita

dificuldade para a validação de qualquer prova apontada para um

suspeito, como selo de garantia da regularidade.

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Aula 5 – Postura da equipe de investigação do crime de homicídio

Como visto em aula anterior, a história jamais registrou uma sociedade

sem homicidas, sendo certo que o indivíduo que mata seu semelhante é,

quase sempre, o mesmo com o qual este convive no dia a dia.

É por essa razão que a equipe de investigação criminal de homicídio não

deve adotar posturas pré-concebidas, preconceituosas em face de um

caso concreto.

Portanto, esse profissional deve entender que a investigação é um

processo científico e como tal tem seus pressupostos alicerçados em

princípios que permitem o exato e seguro conhecimento dos pontos de

partida e de chegada, bem como do caminho a serem trilhados entre

esses dois pontos. Não há espaço para leviandades.

Não é menos importante que a equipe de investigação criminal do

homicídio saiba conduzir a investigação sempre na busca da verdade, sob

o entendimento de que o êxito na investigação nem sempre significa a

elucidação da autoria. Isso porque não é raro que, mesmo adotando todos

os procedimentos possíveis e necessários, não se consiga a prova

induvidosa da autoria.

Certamente, nesse caso, pode-se dizer que a equipe de investigação

obteve êxito sim na investigação, ou seja, que soube escolher e aplicar os

métodos e técnicas adequadas à revelação e coleta das evidências do

crime, agindo sempre com isenção, de forma lógica e racional.

Contudo, por razões diversas, não conseguiu alcançar o objetivo principal

da investigação, que é a determinação da autoria, da materialidade e das

circunstâncias do homicídio investigado.

Pode também acontecer da equipe de investigação alcançar o autor do

crime, inclusive obtendo a

Page 28: 02_Modulo 01_Investigacao de Homicidios.doc.pdf

confissão dele, e não ser possível determinar a causa da morte da vítima,

tendo em vista, por exemplo, que o corpo só foi encontrado muito tempo

depois da notícia do desaparecimento dessa vítima e já estava em

adiantado estado de putrefação.

É possível ainda que nunca se encontre o corpo de uma vítima, mas se

consiga provas suficientes, por meio de testemunhos e comprovação de

circunstâncias – por exemplo, o DNA da vítima identificado a partir de

mancha de sangue encontrada no veículo do suspeito – de que houve a

morte e de quem é o seu autor.

O certo é que a equipe de investigação deve sempre adotar uma postura

racional, lógica e analítica em face do crime investigado. Para tanto, ele

deve conhecer profundamente o fato investigado, deve querer investigar

(ter boa vontade), trabalhar com empenho, perspicácia,

comprometimento profissional, organização, coragem, método e técnica e,

principalmente, ter um plano, administrar a investigação, o que pressupõe

saber a hora de iniciá-la e concluí-la, não descuidando do relato

pormenorizado de tudo o que tiver sido efetivamente apurado.

Para Ribeiro (2006), “O trabalho da polícia é como o do médico. Este não

é obrigado a todo custo a salvar o paciente, mas dispensar-lhe o melhor

atendimento médico possível. Isso também se aplica, com toda certeza,

ao trabalho prestado pela polícia investigativa”.

Finalmente, é de fundamental importância que a equipe de investigação

não tenha medo da prova, que só será legítima e verdadeira se for

harmônica com o conjunto probatório e com a legalidade. É a verdade da

investigação que deverá sempre prevalecer.

Importante!

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É importante lembrar que cada crime de homicídio tem suas próprias

características, que normalmente são inerentes à relação entre autor e

vítima e, portanto, tem sua própria conformação, e não aquela que

pretenda o investigador, a mídia ou quem quer que seja.

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Concluindo...

Neste módulo, você estudou:

A evolução histórica da penalização da conduta de matar alguém e as

políticas governamentais de enfrentamento dessa conduta criminosa;

Conceitos e características próprias da investigação de homicídio,

bem como;

Os princípios constitucionais que são aplicados no controle da

legalidade da investigação de homicídio e os princípios aplicados no

controle operacional desse processo investigatório no que diz respeito ao

respeito à dignidade da pessoa humana;

As atitudes que devem ser adotadas pela equipe de investigação de

homicídio.