02_modulo 01_investigacao de homicidios.doc.pdf
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Módulo 1 – Fundamentos da investigação do crime de homicídio
Apresentação do Módulo
A investigação de um crime, como todo fazer, antes que seja traduzida
em métodos e técnicas, é uma construção conceitual de conhecimentos
que lhe darão sustentação.
Entretanto, sendo o homicídio uma ação social, antes de iniciar qualquer
fundamento conceitual, é importante sua contextualização histórica e
política para que possa ser compreendido e apurado como tal.
É muito provável que você já seja detentor de vasto conhecimento sobre
investigação criminal – ou até mesmo sobre o tema específico deste
curso. No entanto, este módulo inicial irá levá-lo a revisitar alguns
conceitos básicos, mas necessários ao aprendizado ora proposto.
Sendo assim, temas como princípios constitucionais e princípios
fundamentais da investigação, bem como as atitudes a serem adotadas
pelos profissionais de segurança pública ligada às atividades
investigativas serão revistos de modo a permitir sua compreensão no
contexto da apuração do crime de homicídio.
Aproveite e boas aulas!
Objetivos do Módulo
Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:
Compreender os aspectos históricos e políticos do enfrentamento
da prática do homicídio.
Compreender conceitos e características próprias da investigação
de homicídio;
Construir uma investigação de homicídio baseada em princípios
fundamentais de respeito à lei e à dignidade da pessoa
humana;
Agir em conformidade com os padrões de postura estabelecidos
para as equipes de investigação durante a apuração de
crimes de homicídio.
Estrutura do Módulo
Aula 1 – Aspectos históricos e políticas nacionais de enfrentamento
da prática de homicídio
Aula 2 – Conceito e características da investigação do crime de
homicídio
Aula 3 – Princípios constitucionais com repercussão na investigação
de homicídio
Aula 4 – Princípios fundamentais da investigação criminal
Aula 5 – Postura do investigador do crime de homicídio
Aula 1 – Aspectos históricos e políticas nacionais de
enfrentamento da prática de homicídio
Você não poderia iniciar o estudo da investigação do crime de homicídio
sem uma rápida abordagem histórica e conceitual desse delito, concorda?
Importante!
Os elementos históricos são referenciais importantes para a compreensão
desse fenômeno social, principalmente no que diz respeito à leitura feita
pelas sociedades na sua gradual criminalização.
A palavra homicídio origina-se do termo latino homicidium, que é
composto de dois elementos: homo, que significa homem e provém de
húmus, terra, país; e caedere, que significa matar.
Nessa mesma linha de raciocínio, é possível conceituar o homicídio como o
ato pelo qual uma pessoa elimina a vida de outra; ou, também, a morte
de alguém causada por uma pessoa.
Historicamente, o primeiro homicídio relatado foi a morte de Abel,
provocada por seu irmão Caim, que agiu motivado por inveja, conforme
consta na Bíblia (Gênesis, capítulo 4).
No estudo da pré-história, há inúmeros relatos de corpos encontrados com
vestígios de violência, o que é um indicativo de que a morte dessas
pessoas tenha sido provocada pela ação humana.
Os manuscritos das civilizações antigas, especialmente dos povos
sumérios e babilônicos, demonstram a adoção do Código de Hamurabi,
conhecido pela Lei de Talião, cuja regra central era o que se chama de
“olho por olho, dente por dente”.
Dessa forma, os crimes de homicídio, em regra, eram punidos com a
morte do autor, forma de punição também adotada pelos egípcios e
assírios, os quais entregavam o autor do crime à família do morto, que,
conforme seu arbítrio, sua vontade, poderia lhe impor a morte ou
apossar-se de seus bens.
Há também o Código de Manu, relacionado ao povo hindu, o qual concedia
privilégios aos brâmanes, parcela privilegiada da população, sendo que, se
um membro desse grupo, que se denomina casta, matasse o membro de
outra casta, nunca seria condenado à pena capital, o que sempre se
verificava em caso contrário.
Por sua vez, a legislação hebraica determinava uma regra geral para o
crime de homicídio: “não matarás” (quinto mandamento da Bíblia); e uma
punição específica no caso dos homicídios involuntários – quando não há a
intenção de matar –, caso em que os autores eram mandados para as
cidades-asilos.
Na Grécia antiga, o crime de homicídio não era punido na cidade-estado
de Esparta, mas era punido na cidade-estado de Atenas.
Na Roma antiga, o homicídio era considerado um crime público e recebeu
inicialmente o nome de parricidium, que significava a morte de um
cidadão romano. Mais tarde, o termo passou a ser empregado para
designar a morte de um ascendente pelo descendente. Somente no final
da república romana adotou-se o termo homicídio.
Em Roma, a pena para o crime de homicídio dependia da condição social
do réu e das circunstâncias do fato. Compreendia o exílio, o confisco dos
bens ou a morte por decapitação ou por animais ferozes.
No direito germânico, o homicídio era considerado crime privado e o
homicida ficava sujeito à vingança da família do morto. Também havia a
possibilidade de composição, que consistia no cumprimento, pelo
homicida, de uma exigência da família da vítima.
Com o ressurgimento do direito romano e a influência do direito canônico,
o homicídio voltou a ser considerado crime público. Contudo, os castigos
corporais e a pena de morte continuaram a ser adotados como punição
para essa prática criminosa.
Aqui, uma nota importante!
No final do século XVI, na Holanda, surgiu o modelo prisional, com caráter
reeducacional. Eram casas correcionais destinadas inicialmente a abrigar
vadios, mendigos e prostitutas. Embora esses estabelecimentos se
destinassem ao cumprimento de pena com caráter educativo, as penas de
suplícios corporais continuaram a ser aplicadas.
Foi no período iluminista, no final do século XVIII, que se iniciou o
movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça
penal, que deveria considerar a humanidade do condenado.
Césare Bonesana Beccaria, o Marquês de Beccaria, em seu livro Dos
Delitos e das Penas, escrito em 1764, contribuiu para a mudança da forma
de execução das penas em toda a Europa. Repudiou as penas cruéis,
estabelecendo a necessidade de respeitar a dignidade do condenado e
demais direitos indisponíveis, entre eles o direito à preservação da
integridade física e da vida.
1.1. A penalização da conduta “matar alguém” na legislação
brasileira
Chamando o tema para o Brasil, o Código Penal de 1830, ainda no período
imperial, trata do crime de homicídio e o considera qualificado, o que traz
o aumento da pena nos casos em que é praticado com veneno, mediante
fraude ou emboscada, com promessa de pagamento ou por mais de uma
pessoa. Nesses casos, a pena variava desde trabalho forçado, galés
perpétuas, até a morte.
Já no período republicano, o Código de 1890 contemplava o crime de
homicídio em seu artigo 294, agravando a pena em várias circunstâncias.
A pena de prisão variava de 12 a 30 anos nas formas qualificadas e de 06
a 24 anos nos casos de homicídio simples.
No Código Penal brasileiro em vigor, de 1940, o crime de homicídio está
inserido no capítulo dos crimes contra a vida, sendo o primeiro crime
tipificado, ou seja, cuja conduta é descrita
com a expressão “matar alguém” (texto do art. 121 do CP).
A proteção à vida tem também seu fundamento na Constituição Federal
de 1988 e está prevista no caput do artigo 5º. É considerado um direito
fundamental, isto é, é indispensável ao desenvolvimento da pessoa
humana.
Entretanto, é importante ressaltar que nenhum direito, mesmo que
fundamental, é absoluto, já que é necessário que todos os direitos
convivam harmoniosamente.
Por isso, o direito à vida também encontra limitação quando em confronto
com outros interesses coletivos ou individuais da sociedade. Nesses casos
a lei cria situações privilegiadas de descriminalização da conduta “matar”,
como é o caso das chamadas causas legais de exclusão da ilicitude.
A respeito da eliminação da vida humana, a própria Constituição Federal
prevê a possibilidade de haver pena de morte em tempo de guerra (artigo
5º, XLVII, a):
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,
XIX; [...]
Observe, dessa forma, que o direito à vida, ainda que fundamental, não é
de tudo absoluto.
Por essa razão, o Código Penal brasileiro incrimina, no artigo 121, a
conduta de um ser humano provocar a morte de outro ser humano,
apresentando quatro figuras típicas: o homicídio simples, o homicídio
privilegiado, o homicídio qualificado e o homicídio culposo.
Para os nossos estudos, interessam-nos as três primeiras tipificações, que
tratam do homicídio doloso, que é aquele em que o autor tem a intenção
de eliminar a vida da vítima, tanto na forma consumada quanto tentada.
Para o homicídio simples, a lei penal brasileira determina como pena a
reclusão de 06 a 20 anos.
Entretanto, o mesmo Código Penal determina no § 1º do artigo 121:
“Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social
ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.”
Nesse caso, devem ser consideradas as seguintes possibilidades:
a. Relevante valor social – Trata-se de motivo que atende aos
interesses da coletividade. Exemplo: morte de um traidor da pátria.
b. Relevante valor moral – Trata-se de motivo que, embora seja
relevante para a sociedade, leva em consideração os interesses do
agente. Exemplo: pai que mata o estuprador da filha.
c. Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima – É também chamado de homicídio emocional.
Nesse caso, o autor do crime de homicídio deve estar completamente
dominado pela situação, momentaneamente perturbado em seu
psiquismo, de tal forma que seja capaz de justificar a cólera, a indignação,
que, por sua vez, desencadearão uma reação imediata.
Por outro lado, o Código Penal também enumera no § 2º do artigo 121
motivos, meios, modos e fins que tornam o homicídio qualificado,
tratando-se, nesse caso, de crime hediondo, cuja pena de reclusão é de
12 a 30 anos.
Dessa forma, há o crime de homicídio praticado:
a. Mediante paga ou promessa de recompensa - Na paga, o
dinheiro é entregue antes do crime, mesmo que apenas uma parte dele;
na promessa de recompensa, o recebimento é posterior e não
necessariamente em pecúnia; pode ser, por exemplo, a promessa de um
emprego.
b. Por motivo torpe - É o motivo repugnante, desprezível. Exemplo:
matar os pais para ficar com a herança.
c. Por motivo fútil - É o motivo desproporcional, insignificante.
Exemplo: matar a vítima porque ela olhou de “cara feia” para o autor.
d. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum - Trata-se de qualificadoras objetivas, pois se referem ao meio
empregado para o cometimento do crime de homicídio.
e. À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido -
São circunstâncias que retratam o modo como a vítima é abordada,
determinadas por situação de surpresa ou de falsidade.
f. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime - É também chamado de homicídio por
conexão. O outro crime pode ser anterior ou posterior e não
necessariamente praticado pelo mesmo autor do homicídio.
Saiba mais...
Leia o texto A História do Delito de Homicídio1.
Reflita! Qual a importância, para o investigador, de conhecer as
circunstâncias em que o autor praticou o homicídio?
Veja que conhecê-las é fundamental para definir a linha de investigação e
construir a estratégia que ele irá adotar para a coleta das provas.
Importante!
Sabendo o que ocorreu, o investigador saberá que tipo de prova deverá
perseguir com a investigação, sem perder tempo trilhando por caminhos
que não o levam a nada e colhendo informações inúteis.
1.2. Os índices de resolução do crime de homicídio no cenário
nacional
No dia 06/10/2011, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC) divulgou seu primeiro Estudo Global sobre Homicídios.
De acordo com esse estudo, o Brasil tem o terceiro maior índice de
homicídios na América do Sul, com 22,7 casos para cada 100 mil
habitantes.
O Brasil fica atrás apenas da Venezuela e da Colômbia, com 49 casos e
33,4 casos, respectivamente, para cada 100 mil habitantes.
1 http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9832#
Embora, de acordo com o estudo citado, esse número seja melhor do que
há cinco anos e mesmo considerando o tamanho da população, o que
permite que o Brasil desça proporcionalmente para um grupo
intermediário, ainda assim o país se coloca muito longe da Europa, da
Ásia e dos Estados Unidos.
É também importante ressaltar que quatro países também da América do
Sul – Uruguai, Argentina, Peru e Chile – ficam abaixo da média mundial,
que é de 6,9 homicídios por 100 mil habitantes.
Mesmo não tendo alcançado, no contexto geral, a média desejável dos
países citados, no Brasil, o estudo da UNODC destacou positivamente a
cidade de São Paulo como exemplo para outras metrópoles do mundo.
De acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Justiça, a taxa de
homicídios na cidade de São Paulo caiu, em cinco anos, de 20,8 para 10,8
em cada cem mil habitantes.
O estudo da ONU também enfatiza que as tendências mostram-se muito
diferentes no que diz respeito a São Paulo, em relação a outras regiões do
Brasil, especialmente ao estado de Alagoas, cujo número de homicídios
ultrapassa 60 em cada 100 mil habitantes.
Em consonância com os dados do Instituto Sangari, que elaborou,
juntamente com o Ministério da Justiça, o mapa da violência 2011 no
Brasil levando em conta os crimes de homicídio e o número de habitantes,
observa-se que a maior incidência, no que concerne às grandes capitais, é
verificada em Maceió-AL, seguindo-se Recife-PE e Vitória-ES.
Saiba mais...
Acesse os links para mais informações sobre o tema:
Jornal Nacional – Brasil é o país com o maior número de homicídios,
aponta a ONU2.
Agência Brasil – Para reduzir homicídios, Cardozo defende ações
integradas e unidades especiais3
1.3. Política nacional de fomentação da investigação de homicídio
Em fevereiro de 2010, foi lançada a Estratégia Nacional de Justiça e
Segurança Pública (Enasp), com o objetivo de “promover a articulação dos
órgãos responsáveis pela segurança pública, reunir e coordenar as ações
de combate à violência e traçar políticas nacionais na área”.
Essa iniciativa é resultado da parceria entre os Conselhos Nacionais do
Ministério Público (CNMP) e de Justiça (CNJ) e o Ministério da Justiça (MJ),
sendo que cada qual desenvolve uma ação integrada no contexto da
ENASP.
No caso do CNMP, há o desenvolvimento de ações que visam agilizar e dar
maior efetividade à investigação da polícia, à denúncia do Ministério
Público e ao julgamento pelos Tribunais do Júri dos crimes de homicídio.
Nesse sentido, pode-se citar, como exemplo, a Meta 1 (Subgrupo 1:
Fase de Investigação)4 da ENASP que objetivou a conclusão de todos os
2 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/10/brasil-e-o-pais-com-o-maior-numero-
de-homicidios-aponta-onu.html
3 http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-10-06/para-reduzir-homicidios-cardozo-
defende-acoes-integradas-e-unidades-especiais
4 Acessar o arquivo em anexo 2011Metas_ENASP.pdf.
inquéritos e procedimentos que investigam homicídios dolosos instaurados
até 31 de dezembro de 2007.
Dessa forma, observe que a priorização da investigação criminal é de
fundamental importância para que se atinja a proposta-meta, quer seja
para levar a julgamento autores de crimes de homicídio doloso, quer seja
para a promoção do arquivamento dos procedimentos, haja vista o
exaurimento dos procedimentos investigatórios.
Existem vários fatores responsáveis pelo alto índice de violência verificado
no país, dentre eles, os baixos índices de resolução de crimes de
homicídio.
Nesse sentido, é pertinente afirmar que os baixos índices de resolução de
crimes de homicídio, juntamente com outros possíveis fatores, são
responsáveis pelo alto índice de violência verificado no país.
Sendo assim, é possível concluir que a priorização da investigação criminal
do homicídio deve contribuir para a diminuição dessa prática criminosa,
com redução do tempo de resposta do Estado, levando a julgamento os
criminosos e permitindo, assim, que não impere na sociedade o
sentimento de impunidade.
Para o então Ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, a impunidade é um
dos principais aspectos a serem combatidos, sendo que, para tanto,
deverão ser criadas unidades específicas para a investigação de
homicídios em cada Estado, e os processos judiciais deverão ser
agilizados.
Saiba mais...
Abra os seguintes links para mais informações:
Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública5
CNJ – ENASP6
Aula 2 – Conceito, características e pressupostos da investigação
criminal.
Segundo Ribeiro (2006), “a ciência da investigação é um campo
permanentemente aberto à busca do saber e à descoberta da verdade”.
Isso porque a investigação criminal não encontra limites nos enunciados
das leis penais. Na verdade, a própria legislação penal confere ao
investigador criminal a mais ampla discricionariedade, de forma que a
existência de limites está pautada no uso racional da inteligência e da lei.
É por essa razão que a investigação criminal não se constitui em simples e
aleatória coleta de provas, sem a necessária adoção dos métodos, das
técnicas e dos procedimentos especializados, que devem fundamentar o
trabalho da equipe de investigação.
Sendo assim, o investigador deve possuir formação técnico-científica no
assunto, a qual não significa somente conhecimento jurídico nem somente
boa vontade, mas conhecimento especializado com base nas ciências que
dão suporte à investigação criminal.
Esse conhecimento devidamente aplicado à investigação do homicídio
permite que o investigador realize sua tarefa de forma segura e eficaz,
5
http://portal.mj.gov.br/senasp/main.asp?ViewID=%7B45D2F2A3%2DF723%2D4229%2D94A2%2D311A3DF2A0
CB%7D¶ms=itemID=%7B5A3DAD20%2D4CB3%2D484C%2D9011%2DC00E225D2A92%7D;&UIPartUID=%7
BE0EA6E2F%2D2D28%2D4749%2D9852%2D31405415DD85%7D
6 http://www.cnj.jus.br/metas-enasp
evitando atitudes irrefletidas que possam comprometer a imagem e o
resultado do trabalho de investigação criminal.
Isso porque se, por um lado, algumas investigações apresentam apenas
um grau razoável de dificuldade, outras, cujos delitos são praticados por
quem vive do crime ou por quem detém recursos financeiros que facilitam
o uso de artifícios geradores da impunidade, exigem do investigador
firmeza e segurança quanto às providências adotadas.
Nesse sentido, não é raro que investigadores estejam às voltas com
denúncias anônimas que pretendem desviá-los da verdade, além de
outros tantos ardis e artifícios engendrados pelo autor do crime, sempre
com esse mesmo objetivo.
Assim sendo, o investigador com conhecimento técnico-científico
especializado conhece o conjunto de preceitos teóricos que alicerçam sua
atuação perante o caso concreto e permitem que ele suporte eventuais
pressões que poderão afetar a eficácia do resultado da investigação.
Há dois tipos de pressão mais comum. Uma é a que diz respeito à
exigência de que a polícia apresente o autor do homicídio o mais urgente
possível. Ceder a esse processo poderá ser o tropeço da investigação ao
atropelar etapas do processo com resultados ineficazes. Outro é a
tentativa de desqualificação da investigação pela ação da defesa por
intermédio de meios que poderão comprometer a eficácia da prova
colhida, por exemplo, de campanhas difamatórias na mídia forjando
situações que colocam em dúvida a legalidade de atos da investigação.
Esses preceitos teóricos permitem que o investigador caminhe no rumo
certo, de forma concreta e segura, adotando a técnica adequada para a
revelação, coleta e análise de cada evidência encontrada.
2.1. Conceito de investigação criminal
Muito embora uma conceituação formal de investigação criminal não seja
elemento fundamental no ensino e aprendizagem dessa disciplina,
conhecer uma proposta conceitual tem a importância de determinar
parâmetros que possam fazer com que o investigador encontre
referenciais teóricos que sirvam de suporte ao seu fazer prático,
fundando-o em métodos e técnicas eficazes.
Veja um conceito de investigação criminal:
“Investigação criminal é o conjunto de procedimentos interdisciplinares,
de natureza inquisitiva que busca, de forma sistematizada, a produção da
prova de um delito penal.” (Araujo, 2008)
No presente estudo, esse delito penal é o crime de homicídio. Todas as
referências teóricas que serão desenvolvidas neste curso terão como
objetivo a investigação do crime de homicídio.
2.2. Características principais da investigação criminal de
homicídio
A investigação de homicídio é uma espécie da investigação criminal que
requer conhecimentos e habilidades cuja aplicação está sujeita a princípios
específicos.
Vimos que o crime de homicídio é um delito complexo, pois envolve os
sentimentos mais profundos do ser humano, o que dificulta,
sobremaneira, o esclarecimento da motivação que determina o elo entre a
vítima e o autor.
Entretanto, na fase processual, esse crime é submetido ao juízo de
pessoas que compõem o júri, leigas quanto ao conhecimento técnico-
especializado da investigação criminal, o que permite que o julgamento
possa sofrer decisiva influência de conteúdo emocional, pois não é raro
que as partes apresentem um forte discurso apelativo, o que permite que
a decisão – culpado ou inocente – possa surgir de um simples detalhe
como o clamor público e a influência da mídia.
Por essas razões é que somente a investigação realizada com métodos e
técnicas científicas poderá trazer um resultado claro, consistente e
coerente, capaz de sustentar um processo judicial sólido.
Nesse contexto, verifica-se que a investigação de homicídio tem
características muito próprias, que se tornam fatores fundamentais de
alerta aos cuidados especiais que o investigador deverá ter. São elas:
exigência de extremo detalhamento, de uma observação
contextual dos vestígios e de uma postura racional, lógica e
analítica. Ou seja, a investigação de homicídio requer de seu executor
habilidades que o permitam fragmentar, o
mais possível, cada uma das informações colhidas, buscando cada
detalhe, cada aspecto, cada ponto de vista sem, contudo, perder a
capacidade de visão do todo dessas informações e, principalmente, sem
perder a capacidade de análise racional do cientista.
Aula 3 – Princípios constitucionais com repercussão na
investigação de homicídio
Não se pode perder de vista a função tutelar de direitos fundamentais que
o Estado brasileiro delegou à investigação criminal, ou seja, a investigação
criminal é a garantia que tem o cidadão de que, praticando um delito
penal, haja um procedimento apuratório legal que lhe garanta um
julgamento justo com aplicação da pena na dimensão adequada à sua
conduta.
Os atos da investigação criminal são atos da Administração Pública,
portanto atos administrativos. A compatibilidade desses atos com a
missão tutelar de direitos foi garantida pelo constituinte de 1988 ao
moldar princípios que regulam os procedimentos da Administração
Pública, reflexos aos procedimentos da investigação.
Portanto, a investigação de homicídio sofre o efeito dessa ação transversal
dos princípios constitucionais em todos os seus atos.
3.1. Marco regulatório
O marco regulatório dos princípios que regem a investigação criminal é o
art. 37 da Constituição Federal, que formula os fundamentos legais que
deverão servir de referência para todos os atos da Administração Pública.
Diz o texto:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. (C.F.)
Importante!
São esses princípios que irão nortear os procedimentos a serem
desenvolvidos na apuração das provas do crime de homicídio.
Veja, a seguir, o que foi dito por Araujo (2008) no curso Investigação
Criminal I, agora
focado na sua transversalidade na investigação de homicídio.
3.1.1. Princípios
“[...]
Princípio da legalidade
Foi visto que no Estado Democrático de Direito todos deverão se submeter
à supremacia da lei.
O princípio da legalidade é a pedra de toque do Estado de Direito e
estabelece dois tipos de relação: uma com a Administração Pública, outra
com o cidadão.
Relação com Administração Pública
A atuação da Administração Pública só pode ser operada em conformidade
com a lei. É uma relação de submissão.
Relação com o cidadão
É permitido ao cidadão fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Não poderá
ser obrigado a fazer o que não lhe é determinado por lei.
É uma relação de autonomia que resulta no princípio da liberdade do
ser humano, configurado, também, na Constituição Federal como um dos
princípios fundamentais:
“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei.” (CF., art. 5º, inc. II)
Portanto, o princípio da legalidade é direito fundamental de cidadania que
servirá de base para todos os demais princípios.
Observe que a acepção dada pela norma constitucional ao vocábulo “lei”
não é restrita, mas abrangente, abarcando a lei propriamente dita e todo
o contexto jurídico em que ela está contida.
Significa que as normas que regulam a investigação criminal, mesmo as
administrativas (portarias, ordens de serviços, protocolos de
procedimentos, etc.) estão nesse contexto e
deverão respeitar o princípio da legalidade.
Princípio da impessoalidade
A impessoalidade na investigação criminal significa que as atitudes do
investigador deverão refletir objetividade no atendimento do interesse
público, sem qualquer possibilidade de promoção pessoal do agente ou da
autoridade.
O interesse público contido na investigação criminal é o de explicar o fato
acontecido, para que os dados coletados possam formar a prova
necessária para aplicação da pena justa ao infrator. Não cabe utilizar a
investigação para promoção pessoal de quem quer que seja.
Significa também que o ato de investigar não deve ser usado para
prejudicar ou beneficiar pessoa determinada.
Princípio da moralidade
A moralidade da Administração Pública está relacionada com aquilo que a
sociedade, em determinado momento, considerou eticamente adequado,
moralmente aceito.
As práticas da investigação terão que estar de acordo com o ideário moral
vigente no grupo social, como honestidade, bondade, compaixão,
equidade e justiça.
As decisões tomadas para o processo da investigação deverão adequar-se
aos valores que a sociedade adota como norte para a relação de
convivência das pessoas e destas para com o ambiente.
Princípio da publicidade
A acepção fundamental do princípio é de transparência.
Reflexão
Sobre esse termo aplicado à investigação criminal, cuja natureza tem
como elemento principal o sigilo: É possível aplicá-lo?
A transparência na Administração Pública tem como objetivo o controle,
que poderá ser feito pela própria Administração, pelo poder judiciário e
pelo cidadão.
O controle da gestão pública exercido pelo cidadão é garantia fundamental
de direitos assegurada em vários itens constitucionais do art. 5º, como o
de receber dos órgãos públicos informações de interesse particular,
coletivo ou geral (inciso XXXIII); o de obtenção de certidões em
repartições públicas (inciso XXXIV); e o de conhecimento de informações
relativas à pessoa interessada, constantes de bancos de registros ou
bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público
(inciso LXXII).
E na investigação, como se aplicaria esse princípio?
Como toda regra, o princípio não é absoluto.
A própria Constituição impõe limites, colocando como exceção ao direto à
informação as hipóteses de sigilo:
[...] ‘todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.’ (CF, art.
5º, inciso XXXIII)
A transparência é a regra. A exceção está expressa na lei.
Todos os atos da investigação são necessariamente sigilosos?
Em princípio não.
No caso da investigação criminal, devem ser considerados dois aspectos:
o contexto da apuração, de interesse da sociedade geral, pois diz
respeito às demandas imediatas de bem-estar da coletividade, e o
aspecto de ato operacional específico, cujo interesse é mediato.
Ou seja, a apuração de provas da prática de um delito, como ato geral de
gestão pública, deve ser do conhecimento da comunidade, para que ela
tenha segurança jurídica quanto à garantia de proteção de seu bem-estar.
Entretanto, mesmo sendo de seu interesse, os procedimentos
operacionais de apuração, em regra, são executados em sigilo,
exatamente para garantir a exequibilidade da investigação.
Já imaginou se a polícia anunciar antecipadamente as estratégias que irá
aplicar na investigação de delitos praticados por quadrilhas de tráfico de
drogas? É pouco provável que consiga alguma prova.
Princípio da eficiência
Também de observância prioritária e universal no exercício de toda
atividade administrativa do Estado.
O termo remete à acepção de boa administração vinculada à
produtividade, profissionalismo e adequação técnica do exercício funcional
às demandas do interesse público.
Segundo Pazzaglini (2000, p.32), ‘o administrador público tem o dever
jurídico de, ao cuidar de uma situação concreta, escolher e aplicar, entre
as soluções previstas e autorizadas pela lei, a medida eficiente para obter
o resultado desejado pela sociedade’.
Significa que a Administração Pública e seus profissionais, no exercício das
atividades funcionais, deverão aplicar os recursos avaliando a relação de
custo-benefício, buscar a otimização de recursos, aplicar os critérios
técnicos e legais necessários para maior eficácia possível em benefício da
boa qualidade de vida do cidadão. E, ainda, diz respeito ao investimento
na formação profissional.”
A aplicação prática do princípio na investigação criminal se concretiza com
todos os cuidados necessários para sua eficácia, desde o planejamento,
com a escolha adequada dos meios, até os cuidados com a proteção aos
direitos fundamentais das pessoas envolvidas no processo e com a
legalidade na coleta da prova. (Araujo, 2008)
Perceba o quanto é fundamental para o cidadão a observância desses
princípios pela atividade investigativa da polícia. Em especial no que se
refere à legalidade dos atos. É importante que o investigador tenha a
percepção de que os atos limitadores praticados pela polícia são exceções
com permissão legal para que, dentro dos limites da lei, sempre prevaleça
o interesse público e não o pessoal.
Refletindo sobre a questão
Suas práticas como investigador sempre são precedidas da preocupação
com os limites da legalidade dos seus atos? Discuta isso com seus colegas
no fórum ou por outras redes sociais do grupo.
Aula 4 – Princípios fundamentais da investigação criminal
A investigação criminal é a primeira fase da aplicação da justiça pelo
Estado aos infratores. É a fase inicial desse processo que possibilita a
apresentação do infrator ao Poder Judiciário com o mínimo de informações
necessárias ao desenvolvimento do processo penal na busca da
determinação da sua culpabilidade ou inocência.
Falar em princípios fundamentais possibilita pensar em regras que dizem
respeito ao trato com as pessoas enquanto tais, individual ou
institucionalmente consideradas.
A investigação criminal, ainda que vinculada ao processo penal, sob o
controle judicial e do Ministério Público é, inegavelmente, uma atividade
administrativa com certa dose de discricionariedade e considerável nível
de autonomia por parte dos investigadores. Daí a necessidade de que haja
em suas ações, além do conteúdo legal, um conteúdo regulatório de
natureza ética muito eficaz e respeito às normas dos direitos humanos,
visto o grau de repercussão tanto na individualidade das pessoas que são
objeto da ação investigatória quanto na qualidade de vida da sociedade,
principal beneficiário da investigação.
Neste sentido dispõe o Art. 2 º do Código de Conduta para os
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (adotado pela
Assembleia Geral das Nações Unidas pela resolução nº 34/169, de
17 de dezembro de 1979) ao dispor que “No cumprimento do seu
dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem
respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os
direitos fundamentais de todas as pessoas”.
No curso Investigação Criminal I, Araujo (2008) diz: “quanto maior o grau
de lesividade do ato investigatório, maior deverá ser o cuidado do
investigador para com as garantias protetoras do investigado”.
O investigador deverá lembrar-se sempre de que investigar crimes é um
procedimento extremamente invasivo à intimidade das pessoas
envolvidas, seja a vítima, o suspeito ou a testemunha. Esse grau de
invasão é muito maior quando se trata de apuração de crime contra a
vida, em especial do homicídio, visto que um dos métodos de apuração
mais aplicado, como você estudará adiante, é a varredura das relações
pessoais da vítima, do suspeito e, muitas vezes, da própria testemunha,
na busca de vínculos com a conduta delituosa. É nesse processo que se
materializa a característica invasiva, a mais marcante da investigação
criminal.
No processo de busca das provas caem nas mãos do investigador as mais
íntimas informações sobre a vida pessoal dos atores envolvidos. Cabe a
ele o juízo do que deva ser considerado relevante ou não para a
investigação de provas.
Sem dúvida essa ação invasiva acaba por lesar direitos e garantias
fundamentais (como a intimidade e o ir e vir) na busca de informações
necessárias à construção da prova.
Foi com essa preocupação que o Alto Comissariado das Nações Unidas
editou o Manual de Formação em Direitos Humanos para as Forças
Policiais7, nele formatando o que chamou de “princípios fundamentais da
investigação policial” (criminal). São princípios norteadores dos
procedimentos da investigação criminal.
Diz o texto do manual, com enumeração dos princípios:
“Durante as investigações, audição de testemunhas, vítimas e suspeitos,
revistas pessoais, buscas de veículos e instalações, bem como
interceptação de correspondência e escuta telefônica:
a. Todo indivíduo tem direito à segurança pessoal;
b. Todo indivíduo tem direito a um julgamento justo;
c. Todo indivíduo tem direito à presunção de inocência até que a sua culpa
fique provada no decurso de um processo equitativo;
d. Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, família,
domicílio ou correspondência;
e. Ninguém sofrerá ataques à sua honra ou reputação;
7 http://www.gddc.pt/direitos-humanos/Manual1.pdf
f. Não será exercida qualquer pressão, física ou mental, sobre os
suspeitos, testemunhas ou vítimas, a fim de obter informação;
g. A tortura e outros tratamentos desumanos ou degradantes são
absolutamente proibidos;
h. As vítimas e testemunhas deverão ser tratadas com compaixão e
consideração;
i. A informação sensível deverá ser sempre tratada com cuidado e o seu
caráter confidencial respeitado em todas as ocasiões;
j. Ninguém será obrigado a confessar-se culpado nem a testemunhar
contra si próprio;
k. As atividades de investigação deverão ser conduzidas em conformidade
com a lei e apenas quando devidamente justificadas;
l. Não serão permitidas atividades de investigação arbitrárias ou
indevidamente intrusivas.” (Manual de Formação em Direitos Humanos
para as Forças Policiais, p. 79)
O próprio manual nos induz ao entendimento de que esses princípios,
considerando as normas internacionais que tratam dos direitos humanos
da pessoa objeto de investigação criminal, poderão ser resumidos nos
seguintes princípios:
• Presunção da inocência de todos os arguidos;
• Direito de todas as pessoas a um julgamento justo;
• Respeito pela dignidade, honra e privacidade de todas as pessoas.
Essas são normas fundamentais que precisam receber toda a atenção da
equipe de investigação de homicídio, pois, do contrário, haverá muita
dificuldade para a validação de qualquer prova apontada para um
suspeito, como selo de garantia da regularidade.
Aula 5 – Postura da equipe de investigação do crime de homicídio
Como visto em aula anterior, a história jamais registrou uma sociedade
sem homicidas, sendo certo que o indivíduo que mata seu semelhante é,
quase sempre, o mesmo com o qual este convive no dia a dia.
É por essa razão que a equipe de investigação criminal de homicídio não
deve adotar posturas pré-concebidas, preconceituosas em face de um
caso concreto.
Portanto, esse profissional deve entender que a investigação é um
processo científico e como tal tem seus pressupostos alicerçados em
princípios que permitem o exato e seguro conhecimento dos pontos de
partida e de chegada, bem como do caminho a serem trilhados entre
esses dois pontos. Não há espaço para leviandades.
Não é menos importante que a equipe de investigação criminal do
homicídio saiba conduzir a investigação sempre na busca da verdade, sob
o entendimento de que o êxito na investigação nem sempre significa a
elucidação da autoria. Isso porque não é raro que, mesmo adotando todos
os procedimentos possíveis e necessários, não se consiga a prova
induvidosa da autoria.
Certamente, nesse caso, pode-se dizer que a equipe de investigação
obteve êxito sim na investigação, ou seja, que soube escolher e aplicar os
métodos e técnicas adequadas à revelação e coleta das evidências do
crime, agindo sempre com isenção, de forma lógica e racional.
Contudo, por razões diversas, não conseguiu alcançar o objetivo principal
da investigação, que é a determinação da autoria, da materialidade e das
circunstâncias do homicídio investigado.
Pode também acontecer da equipe de investigação alcançar o autor do
crime, inclusive obtendo a
confissão dele, e não ser possível determinar a causa da morte da vítima,
tendo em vista, por exemplo, que o corpo só foi encontrado muito tempo
depois da notícia do desaparecimento dessa vítima e já estava em
adiantado estado de putrefação.
É possível ainda que nunca se encontre o corpo de uma vítima, mas se
consiga provas suficientes, por meio de testemunhos e comprovação de
circunstâncias – por exemplo, o DNA da vítima identificado a partir de
mancha de sangue encontrada no veículo do suspeito – de que houve a
morte e de quem é o seu autor.
O certo é que a equipe de investigação deve sempre adotar uma postura
racional, lógica e analítica em face do crime investigado. Para tanto, ele
deve conhecer profundamente o fato investigado, deve querer investigar
(ter boa vontade), trabalhar com empenho, perspicácia,
comprometimento profissional, organização, coragem, método e técnica e,
principalmente, ter um plano, administrar a investigação, o que pressupõe
saber a hora de iniciá-la e concluí-la, não descuidando do relato
pormenorizado de tudo o que tiver sido efetivamente apurado.
Para Ribeiro (2006), “O trabalho da polícia é como o do médico. Este não
é obrigado a todo custo a salvar o paciente, mas dispensar-lhe o melhor
atendimento médico possível. Isso também se aplica, com toda certeza,
ao trabalho prestado pela polícia investigativa”.
Finalmente, é de fundamental importância que a equipe de investigação
não tenha medo da prova, que só será legítima e verdadeira se for
harmônica com o conjunto probatório e com a legalidade. É a verdade da
investigação que deverá sempre prevalecer.
Importante!
É importante lembrar que cada crime de homicídio tem suas próprias
características, que normalmente são inerentes à relação entre autor e
vítima e, portanto, tem sua própria conformação, e não aquela que
pretenda o investigador, a mídia ou quem quer que seja.
Concluindo...
Neste módulo, você estudou:
A evolução histórica da penalização da conduta de matar alguém e as
políticas governamentais de enfrentamento dessa conduta criminosa;
Conceitos e características próprias da investigação de homicídio,
bem como;
Os princípios constitucionais que são aplicados no controle da
legalidade da investigação de homicídio e os princípios aplicados no
controle operacional desse processo investigatório no que diz respeito ao
respeito à dignidade da pessoa humana;
As atitudes que devem ser adotadas pela equipe de investigação de
homicídio.