02 - proposta de redação sobre o amor - texto dissertativo-argumentativo

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Os tipos de amor segundo Chico Buarque Colégio Pedro II - Unidade Tijuca II Departamento de Língua Portuguesa Coordenadora: Rosângela Abraão Professoras: Vanessa, Patrícia e Andreia

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Page 1: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

Os tipos de amor

segundo

Chico Buarque

Colégio Pedro II - Unidade Tijuca II

Departamento de Língua Portuguesa

Coordenadora: Rosângela Abraão

Professoras: Vanessa, Patrícia e Andreia

Page 2: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

O QUE É O AMOR?

O Que Será (À Flor da Terra)

O que será, que será?

Que andam suspirando pelas alcovas

Que andam sussurrando em versos e

trovas

Que andam combinando no breu das

tocas

Que anda nas cabeças, anda nas bocas

Que andam acendendo velas nos becos

Que estão falando alto pelos botecos

E gritam nos mercados que com

certeza

Está na natureza

Será, que será?

O que não tem certeza nem nunca terá

O que não tem conserto nem nunca

terá

O que não tem tamanho

O que será, que será?

Que vive nas ideias desses amantes

Que cantam os poetas mais delirantes

Que juram os profetas embriagados

Que está na romaria dos mutilados

Que está na fantasia dos infelizes

Que está no dia a dia das meretrizes

No plano dos bandidos, dos desvalidos

Em todos os sentidos

Será, que será?

O que não tem decência nem nunca

terá

O que não tem censura nem nunca terá

O que não faz sentido

O que será, que será?

Que todos os avisos não vão evitar

Por que todos os risos vão desafiar

Por que todos os sinos irão repicar

Por que todos os hinos irão consagrar

E todos os meninos vão desembestar

E todos os destinos irão se encontrar

E mesmo o Padre Eterno que nunca

foi lá

Olhando aquele inferno vai abençoar

O que não tem governo nem nunca

terá

O que não tem vergonha nem nunca

terá

O que não tem juízo

O que será, que será?

Que todos os avisos não vão evitar

Por que todos os risos vão desafiar

Por que todos os sinos irão repicar

Por que todos os hinos irão consagrar

E todos os meninos vão desembestar

E todos os destinos irão se encontrar

E mesmo o Padre Eterno que nunca

foi lá

Olhando aquele inferno vai abençoar

O que não tem governo nem nunca

terá

O que não tem vergonha nem nunca

terá

O que não tem juízo

Page 3: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

O Que Será (À Flor da Pele)

O que será que me dá

Que me pole por dentro, será que me dá

Que brota à flor da pele, será que me dá

E que me sobe às faces e me faz corar

E que me salta aos olhos a me atraiçoar

E que me aperta o peito e me faz confessar

O que não tem mais jeito de dissimular

E que nem é direito ninguém recusar

E que me faz mendigo, me faz suplicar

O que não tem medida, nem nunca terá

O que não tem remédio, nem nunca terá

O que não tem receita

O que será que será

Que dá dentro da gente e que não devia

Que desacata a gente, que é revelia

Que é feito uma aguardente que não sacia

Que é feito estar doente de uma folia

Que nem dez mandamentos vão conciliar

Nem todos os ungüentos vão aliviar

Nem todos os quebrantos, toda alquimia

Que nem todos os santos, será que será

O que não tem descanso, nem nunca terá

O que não tem cansaço, nem nunca terá

O que não tem limite

O que será que me dá

Que me queima por dentro, será que me dá

Que me perturba o sono, será que me dá

Que todos os tremores me vêm agitar

Que todos os ardores me vêm atiçar

Que todos os suores me vêm encharcar

Que todos os meus nervos estão a rogar

Que todos os meus órgãos estão a clamar

E uma aflição medonha me faz implorar

O que não tem vergonha, nem nunca terá

O que não tem governo, nem nunca terá

O que não tem juízo

Page 4: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

AMOR: o início...

Futuros Amantes

Não se afobe, não

Que nada é pra já

O amor não tem pressa

Ele pode esperar em silêncio

Num fundo de armário

Na posta-restante

Milênios, milênios no ar

E quem sabe, então

O Rio será

Alguma cidade submersa

Os escafandristas virão

Explorar sua casa

Seu quarto, suas coisas

Sua alma, desvãos

Sábios em vão

Tentarão decifrar

O eco de antigas palavras

Fragmentos de cartas, poemas

Mentiras, retratos

Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não

Que nada é pra já

Amores serão sempre amáveis

Futuros amantes, quiçá

Se amarão sem saber

Com o amor que eu um dia

Deixei pra você

Page 5: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

O AMOR SEM MEDO

João e Maria

Agora eu era o herói

E o meu cavalo só falava inglês

A noiva do cowboy

Era você além das outras três

Eu enfrentava os batalhões

Os alemães e seus canhões

Guardava o meu bodoque

E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei

Era o bedel e era também juiz

E pela minha lei

A gente era obrigado a ser feliz

E você era a princesa que eu fiz coroar

E era tão linda de se admirar

Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não

Finja que agora eu era o seu brinquedo

Eu era o seu pião

O seu bicho preferido

Vem, me dê a mão

A gente agora já não tinha medo

No tempo da maldade acho que a gente

nem tinha nascido

Agora era fatal

Que o faz-de-conta terminasse assim

Pra lá deste quintal

Era uma noite que não tem mais fim

Pois você sumiu no mundo sem me avisar

E agora eu era um louco a perguntar

O que é que a vida vai fazer de mim?

Teresinha

O primeiro me chegou

Como quem vem do florista:

Trouxe um bicho de pelúcia,

Trouxe um broche de ametista.

Me contou suas viagens

E as vantagens que ele tinha.

Me mostrou o seu relógio;

Me chamava de rainha.

Me encontrou tão desarmada,

Que tocou meu coração,

Mas não me negava nada

E, assustada, eu disse "não".

O segundo me chegou

Como quem chega do bar:

Trouxe um litro de aguardente

Tão amarga de tragar.

Indagou o meu passado

E cheirou minha comida.

Vasculhou minha gaveta;

Me chamava de perdida.

Me encontrou tão desarmada,

Que arranhou meu coração,

Mas não me entregava nada

E, assustada, eu disse "não".

O terceiro me chegou

Como quem chega do nada:

Ele não me trouxe nada,

Também nada perguntou.

Mal sei como ele se chama,

Mas entendo o que ele quer!

Se deitou na minha cama

E me chama de mulher.

Foi chegando sorrateiro

E antes que eu dissesse não,

Se instalou feito um posseiro

Dentro do meu coração.

Page 6: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

O AMOR A QUALQUER CUSTO

Fica

Diz que eu não sou de respeito

Diz que não dá jeito de jeito nenhum

Diz que eu sou subversivo

Um elemento ativo

Feroz e nocivo ao bem-estar comum

Fale do nosso barraco

Diga que é um buraco

Que nem queiram ver

Diga que o meu samba é fraco

E que eu não largo o taco

Nem pra conversar com você

Mas fica, mas fica ao lado meu

Você sai e não explica onde vai

E a gente fica sem saber se vai voltar

Diga ao primeiro que passa

Que sou da cachaça mais do que do amor

Diga e diga de pirraça

De raiva ou de graça

No meio da praça, é favor

Mas fica, mas fica ao lado meu

Você sai e não explica onde vai

E a gente fica sem saber se vai voltar

Diz que eu ganho até folgado

Mas perco no dado e não lhe dou vintém

Diz que é pra tomar cuidado

Sou um desajustado

O que bem lhe agrada, meu bem

Mas fica, mas fica, meu amor

Quem sabe um dia

Por descuido ou poesia

Você goste de ficar

Todo o Sentimento

Preciso não dormir

Até se consumar

O tempo da gente

Preciso conduzir

Um tempo de te amar

Te amando devagar e urgentemente

Pretendo descobrir

No último momento

Um tempo que refaz o que desfez

Que recolhe todo sentimento

E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer

Até o amor cair

Doente, doente

Prefiro, então, partir

A tempo de poder

A gente se desvencilhar da gente

Depois de te perder

Te encontro, com certeza

Talvez num tempo da delicadeza

Onde não diremos nada

Nada aconteceu

Apenas seguirei

Como encantado ao lado teu

Page 7: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

O amor carnal

O Meu Amor

O meu amor tem um jeito manso que é só

seu

E que me deixa louca quando me beija a

boca

A minha pele toda fica arrepiada

E me beija com calma e fundo

Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só

seu

Que rouba os meus sentidos, viola os

meus ouvidos

Com tantos segredos lindos e indecentes

Depois brinca comigo, ri do meu umbigo

E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu?

E ele é o meu rapaz

Meu corpo é testemunha do bem que ele

me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só

seu

Que me deixa maluca, quando me roça a

nuca

E quase me machuca com a barba mal

feita

E de pousar as coxas entre as minhas

coxas quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só

seu

De me fazer rodeios, de me beijar os seios

Me beijar o ventre e me deixar em brasa

Desfruta do meu corpo como se o meu

corpo fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu?

E ele é o meu rapaz

Meu corpo é testemunha do bem que ele

me faz

Tatuagem

Quero ficar no teu corpo

Feito tatuagem

Que é pra te dar coragem

Pra seguir viagem

Quando a noite vem

E também pra me perpetuar

Em tua escrava

Que você pega, esfrega

Nega, mas não lava

Quero brincar no teu corpo

Feito bailarina

Que logo te alucina

Salta e se ilumina

Quando a noite vem

E nos músculos exaustos

Do teu braço

Repousar frouxa, farta

Murcha, morta de cansaço

Quero pesar feito cruz

Nas tuas costas

Que te retalha em postas

Mas no fundo gostas

Quando a noite vem

Quero ser a cicatriz

Risonha e corrosiva

Marcada a frio

Ferro e fogo

Em carne viva

Corações de mãe, arpões

Sereias e serpentes

Que te rabiscam

O corpo todo

Mas não sentes

Page 8: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

Amor e o seu fim

Trocando Em Miúdos

Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim

Não me valeu

Mas fico com o disco do Pixinguinha,

sim!

O resto é seu

Trocando em miúdos, pode guardar

As sobras de tudo que chamam lar

As sombras de tudo que fomos nós

As marcas de amor nos nossos lençóis

As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar

Pode esquecer

Aquela aliança, você pode empenhar

Ou derreter

Mas devo dizer que não vou lhe dar

O enorme prazer de me ver chorar

Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago

Meu peito tão dilacerado

Aliás

Aceite uma ajuda do seu futuro amor

Pro aluguel

Devolva o Neruda que você me tomou

E nunca leu

Eu bato o portão sem fazer alarde

Eu levo a carteira de identidade

Uma saideira, muita saudade

E a leve impressão de que já vou tarde.

Gota D'água

Já lhe dei meu corpo, minha alegria

Já estanquei meu sangue quando fervia

Olha a voz que me resta

Olha a veia que salta

Olha a gota que falta

Pro desfecho da festa

Por favor

Deixe em paz meu coração

Que ele é um pote até aqui de mágoa

E qualquer desatenção, faça não

Pode ser a gota d'água

Deixe em paz meu coração

Que ele é um pote até aqui de mágoa

E qualquer desatenção, faça não

Pode ser a gota d'água

Já lhe dei meu corpo, minha alegria

Já estanquei meu sangue quando fervia

Olha a voz que me resta

Olha a veia que salta

Olha a gota que falta

Pro desfecho da festa

Por favor

Deixe em paz meu coração

Que ele é um pote até aqui de mágoa

E qualquer desatenção, faça não

Pode ser a gota d'água

Pode ser a gota d'água

Pode ser a gota d'água

Page 9: 02 - Proposta de redação sobre o amor - Texto dissertativo-argumentativo

Eu Te Amo

Ah, se já perdemos a noção da hora

Se juntos já jogamos tudo fora

Me conta agora como hei de partir

Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz

tantos desvarios

Rompi com o mundo, queimei meus

navios

Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós, nas travessuras das noites eternas

Já confundimos tanto as nossas pernas

Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão

Se na bagunça do teu coração

Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário

embutido

Meu paletó enlaça o teu vestido

E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos

Teus seios inda estão nas minhas mãos

Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta

Te dei meus olhos pra tomares conta

Agora conta como hei de partir

Atrás da Porta

Quando olhaste bem nos olhos meus

E o teu olhar era de adeus

Juro que não acreditei

Eu te estranhei

Me debrucei

Sobre teu corpo e duvidei

E me arrastei e te arranhei

E me agarrei nos teus cabelos

Nos teus pelos

Teu pijama

Nos teus pés

Ao pé da cama

Sem carinho, sem coberta

No tapete atrás da porta

Reclamei baixinho

Dei pra maldizer o nosso lar

Pra sujar teu nome, te humilhar

E me vingar a qualquer preço

Te adorando pelo avesso

Pra mostrar que inda sou tua

Só pra provar que inda sou tua

PROPOSTA DE REDAÇÃO

As músicas acima falam de diversas formas de amor. Chico Buarque, a partir de

diversos pontos de vista, retrata o lado bom e ruim de amar. E para você? O que é o amor?

Faça um texto argumentativo de 15 a 25 linhas sobre o seguinte tema: O amor nos dias de

hoje. Não esqueça de apresentar seu ponto de vista, que será defendido no decorrer do

texto, e seus argumentos que comprovem sua opinião.