02 27 20 a influencia do ambiente no desenvolvimento humano
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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE NO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Roberta Ortiz Furian Palavra-chave: ecologia, ambiente, desenvolvimento Este trabalho tem como objetivo destacar a teoria “Ecologia do Desenvolvimento Humano” do psicólogo Urie Bronfenbrenner. Para tanto, faz-se uma conceituação sobre a teoria, bem como dos principais princípios que a definem. Em seqüência relata-se alguns dados de uma entrevista realizada com duas pessoas com Síndrome de Down para investigar e avaliar, a partir do enfoque teórico de Bronfenbrenner, a influência do ambiente na vida dos sujeitos. A partir dessa avaliação verifica-se o quanto se é influenciado pelo o que ocorre no ambiente em que se vive e também pelos outros ambientes em que se está inserido, tornando, desse modo, importante se pensar sobre esse assunto, principalmente sobre a ótica das pessoas com necessidades educativas especiais para que se possa incluí-las com seriedade nos diversos segmentos de nossa sociedade. De tudo isso, conclui-se que é de suma importância o ambiente para que ocorra, satisfatoriamente, os processos fundamentais do desenvolvimento humano. Palavras-chave: Ambiente, Influência, Necessidades Educativas Especiais.
A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE NO DESENVOLVIMENTO HUMANO Roberta Ortiz Furian A discussão sobre hereditariedade (inatismo) versus ambiente (empirismo) é
uma das questões mais antigas e centrais do desenvolvimento humano. Para
Platão e Descartes as idéias eram inatas, por outro lado os empiristas, como
Locke, insistiam que a mente era uma tábua rasa.
Mas o psicólogo Urie Bronfenbrenner, 1996, no entanto, em sua teoria
“Ecologia do Desenvolvimento Humano” enfatiza a importância do ambiente no
desenvolvimento dos sujeitos.
Mas segundo ele “a pessoa em desenvolvimento não é considerada
meramente como uma tábula rasa sobre a qual o meio ambiente provoca seu
impacto, mas como uma entidade em crescimento, dinâmica, que
progressivamente penetra no meio em que reside e o reestrutura” (1996, p. 18), ou
seja, o desenvolvimento humano é produto de uma interação entre a natureza e o
ambiente.
Sendo assim, procurei conhecer mais detalhadamente o que propõe a teoria
de Bronfenbrenner, bem como o quanto as experiências vividas, posteriores ao
nascimento, são determinantes, e até onde a relação com o meio ao qual
pertencemos, modifica ou reforça, as características inatas de cada um, alterando
o comportamento no que diz respeito ao desenvolvimento, atitudes e conduta.
CONCEITOS BÁSICOS DA TEORIA DE URIE BRONFENBRENNER
Segundo Bronfenbrenner
A ecologia do desenvolvimento humano envolve o estudo científico da acomodação progressiva, mútua, entre um ser humano ativo, em desenvolvimento, e as propriedades mutantes dos ambientes imediatos em que a pessoa em desenvolvimento vive, conforme esse processo é afetado pelas relações entre esses ambientes, e pelos contextos mais amplos em que os ambientes estão inseridos (1996, p. 18)
E o meio ambiente ecológico é percebido como uma série de estruturas
encaixadas, cada uma contida na seguinte. Essas estruturas são chamadas de
micro, meso, exo e macrossistema, definidos conforme segue:
Microssistema – Inclui o ambiente imediato e todos aqueles que o sujeito tem
uma experiência direta (família, escola, creche, local de trabalho). Também é
importante “as conexões entre outras pessoas presentes no ambiente, à natureza
desses vínculos e a sua influência indireta sobre a pessoa em desenvolvimento”
(1996, p. 8)
Messosistema – Inclui as inter-relações entre dois ou mais ambientes nos quais a
pessoa em desenvolvimento participa ativamente (para uma criança: as relações
em casa, na escola, com vizinhos; para um adulto: as relações na família, no
trabalho e na vida social).
Um messosistema é portanto “um sistema de microssistema. Ele é formado
ou ampliado sempre que a pessoa entra num novo ambiente” (1996, p.21).
Exossistema – Inclui os ambientes em que a pessoa não vive diretamente, mas
que a influenciam profundamente pelos eventos que ocorrem e que podem afetar
os microssistemas, especialmente a família (Ex: condição de trabalho dos pais).
Macrossistema – Inclui o ambiente cultural mais amplo em que tanto o micro
quanto o meso e o exossistema estão inseridos. São os padrões globais de
ideologia e organização das instituições sociais comuns a uma determinada
cultura ou subcultura.
É importante destacar também, na teoria de Urie Bronfenbrenner os
conceitos de transições ecológicas e expectativa de papéis, sabendo que os dois
ocorrem quase simultaneamente.
A transição ecológica “ocorre sempre que a posição da pessoa no meio
ambiente ecológico é alterada em resultado de uma mudança de papel, ambiente
ou ambos” (1996, p.22), e por isso ocorrem durante toda vida. Exemplos de
transição ecológica incluem a entrada na escola, ser promovido, formar-se, casar,
ter um filho, mudar de emprego ou casa, aposentar-se,...
Esse conceito é importante porque nos leva a refletir sobre como somos
afetados pelas “mudanças” que ocorrem ao longo de nossa vida, e que envolvem
também uma mudança de papel, isto é, das expectativas de comportamentos
vinculados a determinadas posições na sociedade. “ Os papéis tem um poder
mágico de alterar a maneira pela qual a pessoa é tratada, como ela age, o que ela
faz, e inclusive o que pensa e sente. O princípio se aplica não apenas a pessoa
em desenvolvimento, mas também a outras pessoas em seu mundo” (1996, p. 7).
A partir dos conceitos básicos da teoria da Ecologia do Desenvolvimento
Humano percebemos que o ambiente pode não ser decisivo na vida de uma
pessoa, pois somos livres e podemos optar, mas é importante destacar como os
ambientes em que estamos inseridos, bem como aqueles que não temos uma
vivência direta, afetam e mudam nossas vidas.
Pensando nisso podemos fazer uma reflexão sobre as inúmeras pessoas
com necessidades educativas especiais que existem em nossa sociedade, e
quanto os ambientes em que se encontram inseridos, podem se tornar danosos ou
não, para o seu desenvolvimento.
Também temos que ter claro que a exclusão social de pessoas portadoras
de necessidades educativas especiais existe e pode variar de grau e intensidade,
de acordo com o ambiente onde este se encontra, e isso ocorre segundo Rosana
Glat porque
A sociedade estabelece regras ou padrões dos atributos físicos e comportamentais considerados “normais”, e os indivíduos que se desviam dessa norma são rotulados de “anormais” e estigmatizados. O conceito de normalidade, por sua vez, é determinado pelas exigências de cada momento histórico; portanto os critérios de desvio, exepcionalidade ou deficiência estão sempre relacionados com o contexto social (1989).
A partir disso podemos salientar que o contexto social, da citação acima, na
teoria de Bronfenbrenner se encaixa na estrutura do Macrossistema que interfere
positiva ou negativamente em todas as outras estruturas. Também é importante
destacar que, de uma pessoa com deficiência não se espera, que viva “transições
ecológicas” em sua vida, pois as expectativas em relação a elas é baixa pois “ o
que há de distintivo em todos os indivíduos deficientes e comum a todos eles não
são as suas próprias características, mas a resposta característica dos outros face
a eles” (1993, p.) e segundo Omote
Uma pessoa identificada como deficiente e que se comporta como deficiente pode estar, como alguns autores sugerem, desempenhando o papel social previsto para os membros da categoria na qual está colocada. Nesse sentido, os serviços especializados destinados aos deficientes freqüentemente cumprem a função de socializar o deficiente no papel de deficiente, ainda que isto não fosse objetivo do serviço (1994 )
O autor coloca em foco a institucionalização da pessoa com deficiência
que, isolados, tendem a perpetuar seus comportamentos “deficientes” em
função da falta de modelos diferentes. Na realidade, o autor critica o
processo de “deficientização” das instituições excludentes.
Torna-se necessário, então, repensar os ambientes oferecidos em
nossa sociedade para as pessoas com necessidades educativas especiais,
bem como ter consciência da importância do microssistema e de todas as
outras estruturas na vida dos sujeitos.
Pensando nisso pensei em investigar, a partir do enfoque teórico da
Ecologia do Desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner, 1996), a influência,
que a participação em diferentes ambientes terá no desenvolvimento de duas
pessoas com Síndrome de Down.
Para tanto realizei uma entrevista semi-estruturada com duas pessoas
com Síndrome de Down e seus familiares, e fiz observações diretas,
durante esse período.
A partir da análise dos dados coletados pude fazer uma comparação
dos dois casos verificando que as duas possuem histórias parecidas com
relação a família ( nível sócio-econômico, nº de irmãos) e estimativa de vida
ao nascerem, mas constatei que apesar de J. ter o seu desenvolvimento,
quando criança, relativamente superior a L., esta por estar inserida em um
microssistema que lhe possibilitou maiores vivências, com um mesossistema
mais ampliado do que o de J. (escola, contato com amigos, crianças,
festas,...) desenvolveu-se cognitivamente e socialmente melhor que J. E
atualmente é uma moça que pinta, faz tricô, adora ir a bailes e dançar,
enquanto J. continua com a mesma rotina de antigamente, sendo o seu
quarto o lugar que mais gosta de ficar e muitas vezes só sai dele para fazer
as refeições.
Como foi observado em L. e J. a maneira como o ambiente age na vida
da criança (com ou sem comprometimento) contribui ou não para o seu
crescimento físico, intelectual e psicológico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Penso que a teoria de Urie Bronfenbrenner nos faz constatar e pensar,
primeiramente, no quanto o ambiente pode interferir na vida das pessoas e
também que muitas vezes sua influência se sobrepõe a certas pré-
disposições ou tendências fisiológicas e hereditárias.
E se pensarmos seriamente sobre isso, devemos nos preocupar,
principalmente no caso dos portadores de necessidades educativas
especiais, que precisam, mais que outros, de um ambiente estimulador e que
aceite a diferença não como uma limitação e desculpa para excluir, e sim
como uma possibilidade de crescimento e inclusão.
Este trabalho buscou repensar a importância do ambiente na vida das
pessoas a partir da teoria Ecologia do Desenvolvimento Humano proposta
por Urie Bronfenbrenner, e como podemos ser influenciados desde a
dimensão mais imediata até a mais distante do contexto ambiental que
estamos vivendo.
É necessário abrir questionamentos para que olhemos com cuidado os
diversos ambientes disponíveis para as pessoas portadoras de necessidades
educativas especiais, pois tanto podem favorecer seu desenvolvimento como
limitá-lo.
BIBLIOGRAFIA:
BRONFENBRENNER, Urie. A Ecologia do Desenvolvimento Humano: Experimentos Naturais e Planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. GLAT, R. Somos iguais a vocês: depoimentos de mulheres com deficiência mental. Rio de Janeiro: Agir, 1989. OMOTE, S. Deficiência e não deficiência: recortes do mesmo tecido. Revista Brasileira de Educação Especial. I (2), 65-73, 1994.