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O CURRÍCULO DA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA EM UMA ESCOLA CAPIXABA NA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINARIDADE Elisandra Brizolla de Oliveira - [email protected] Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica CEUNES /UFES Franklin Noel dos Santos [email protected] Professor do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica Resumo: O movimento pela interdisciplinaridade tem sido intenso nos últimos anos, e a escola é um local privilegiado para a efetivação da formação integral, através da proposta curricular. Neste contexto, a Secretaria Estadual de Educação do Espírito Santo (SEDU), implementou em 2010 o novo currículo, onde a interdisciplinaridade é referenciada como eixo integrador entre as disciplinas que compõem as áreas do conhecimento. Nessa perspectiva, foi realizada uma pesquisa que propôs diagnosticar a experiência de implementação de currículo interdisciplinar a partir da prática pedagógica de professores da área de ciências da natureza, além de presenciar as tensões no cotidiano escolar quanto ao trabalho interdisciplinar em uma realidade de formação fragmentada. Torna-se imperativo o debate sobre a interdisciplinaridade no currículo, para ressignificar os pressupostos teóricos e epistemológicos que fundamentam a integração das áreas e direcionam a construção do currículo escolar. A metodologia para esta pesquisa privilegiou a abordagem qualitativa, por meio de questionário estruturado a 15 professores da área de Ciências da Natureza de uma escola estadual do município de Pinheiros/ES, análise documental, e estudo de documentos oficiais que normatizam a elaboração do currículo para o Ensino Médio. Os resultados apontam para a fragilidade do corpo docente em trabalhar de forma interdisciplinar, pela herança da formação fragmentada, a rotatividade dos professores, e pouco embasamento teórico sobre os princípios que norteiam a interdisciplinaridade. Foi percebido que somente a implementação do currículo interdisciplinar não é suficiente para a prática interdisciplinar, é necessária a busca individual e formação coletiva aos professores sobre o tema. Palavras chaves: Ciências da natureza; Currículo interdisciplinar; integração de áreas do conhecimento.

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ciencias da natureza e sua interdisciplinalidade

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  • O CURRCULO DA REA DE CINCIAS DA NATUREZA EM

    UMA ESCOLA CAPIXABA NA PERSPECTIVA

    INTERDISCIPLINARIDADE

    Elisandra Brizolla de Oliveira - [email protected]

    Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Ensino na Educao Bsica CEUNES /UFES

    Franklin Noel dos Santos [email protected] Professor do Programa de Ps-Graduao em Ensino na Educao Bsica

    Resumo: O movimento pela interdisciplinaridade tem sido intenso nos ltimos anos, e a

    escola um local privilegiado para a efetivao da formao integral, atravs da

    proposta curricular. Neste contexto, a Secretaria Estadual de Educao do Esprito

    Santo (SEDU), implementou em 2010 o novo currculo, onde a interdisciplinaridade

    referenciada como eixo integrador entre as disciplinas que compem as reas do

    conhecimento. Nessa perspectiva, foi realizada uma pesquisa que props diagnosticar a

    experincia de implementao de currculo interdisciplinar a partir da prtica

    pedaggica de professores da rea de cincias da natureza, alm de presenciar as

    tenses no cotidiano escolar quanto ao trabalho interdisciplinar em uma realidade de

    formao fragmentada. Torna-se imperativo o debate sobre a interdisciplinaridade no

    currculo, para ressignificar os pressupostos tericos e epistemolgicos que

    fundamentam a integrao das reas e direcionam a construo do currculo escolar. A

    metodologia para esta pesquisa privilegiou a abordagem qualitativa, por meio de

    questionrio estruturado a 15 professores da rea de Cincias da Natureza de uma

    escola estadual do municpio de Pinheiros/ES, anlise documental, e estudo de

    documentos oficiais que normatizam a elaborao do currculo para o Ensino Mdio. Os

    resultados apontam para a fragilidade do corpo docente em trabalhar de forma

    interdisciplinar, pela herana da formao fragmentada, a rotatividade dos professores,

    e pouco embasamento terico sobre os princpios que norteiam a interdisciplinaridade.

    Foi percebido que somente a implementao do currculo interdisciplinar no

    suficiente para a prtica interdisciplinar, necessria a busca individual e formao

    coletiva aos professores sobre o tema.

    Palavras chaves: Cincias da natureza; Currculo interdisciplinar; integrao de reas do

    conhecimento.

  • 1. INTRODUO

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) 9.394/96 define como

    finalidades do Ensino Mdio a preparao para a continuidade dos estudos, a preparao

    bsica para o trabalho e o exerccio da cidadania. Determina, ainda, uma base nacional

    comum e uma parte diversificada para a organizao do currculo escolar. Destaca que as propostas pedaggicas devem ser orientadas por competncias bsicas e contedos

    previstos para que sejam alcanadas as finalidades do Ensino Mdio.

    Conforme as diretrizes previstas na LDB, os princpios pedaggicos da identidade, a

    diversidade e autonomia, a interdisciplinaridade e a contextualizao so adotadas como

    estruturadores dos currculos. A base nacional comum organiza-se, a partir de ento, em

    trs reas de conhecimento: Linguagens, Cdigos e suas Tecnologias; Cincias da

    Natureza, Matemtica e suas Tecnologias; e Cincias Humanas e suas Tecnologias.

    A realidade social e a exigncia do mercado de trabalho tm influenciado as

    reformulaes no ensino mdio. Entretanto, as Diretrizes Nacionais contidas na LDB,

    assim como as orientaes propostas pelos PCNEM e nos PNC+, apontam a necessidade

    da construo do currculo de forma contextualizada, em virtude da exigncia desta

    realidade dinmica e globalizada.

    Os motivos da reformulao curricular para ensino mdio e a organizao em reas

    do conhecimento, conforme os PCN+, est [...] na inteno de completar a formao geral do estudante nessa fase implica,

    entretanto, uma ao articulada, no interior de cada rea e no conjunto das

    reas. Essa ao articulada no compatvel com um trabalho solitrio,

    definido independentemente no interior de cada disciplina, como acontecia no

    antigo ensino de segundo grau no qual se pressupunha outra etapa formativa na qual os saberes se interligariam e, eventualmente, ganhariam sentido.

    Agora, a articulao e os sentidos dos conhecimentos devem ser garantidos j

    no ensino mdio (Brasil, 2002 Parte III - Cincias da Natureza, Matemtica e suas tecnologias, p.6).

    O novo Currculo Bsico Escola Estadual para o Ensino Mdio proposto em 2010

    pela SEDU, foi organizado em consonncia com os Parmetros Curriculares Nacionais

    (PCN) e as novas reformulaes, ou Orientaes Educacionais Complementares aos

    Parmetros Curriculares Nacionais Ensino Mdio, os PCNEM, alm de considerar as

    diretrizes do Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM) e do Programa de Avaliao da

    Educao Bsica do Esprito Santo (PAEBES) sendo este ltimo a ferramenta oficial de

    diagnstico utilizada pela SEDU, para avaliar a aprendizagem nas escolas.

    O novo currculo capixaba contm o Contedo Bsico Comum (CBC) e visa dar

    maior unidade as escolas da rede, pois considera uma parte do programa curricular de

    uma disciplina cuja implementao obrigatria em todas as escolas estaduais

    (ESPIRITO SANTO, 2009).

    A nova proposta curricular do Estado foi organizada em reas do conhecimento na

    perspectiva de adotar uma postura terica metodolgica que valoriza os saberes e a

    realidade concreta. Nesta nova organizao fica estabelecido o planejamento semanal

    coletivo interdisciplinar, assim os professores responsveis pelos componentes

    curriculares pertencentes mesma rea se renem para discutir e realizar estudos em torno

    do novo currculo na tentativa de integrar as reas do conhecimento e minimizar os efeitos

    da herana do ensino fragmentado na formao dos jovens.

    Um dos grandes desafios a serem trabalhados, segundo Goodson (2005), est na

    elaborao do currculo, pois, pode ser considerado um processo pelo qual se inventa

    tradio, isto segundo o autor, quando as disciplinas tradicionais so justapostas contra

    alguma inovao recente sobre temas integrados. Pois, se os especialistas em currculo

  • desconsiderar a histria e a construo social do currculo, mais fcil ser a reproduo

    do currculo tradicional, tanto na forma quanto no contedo (GOODSON, 2005, p.78).

    Morin (2005) complementa a definio acima afirmando que a disciplina uma categoria organizadora dentro do conhecimento cientfico, e cada vez mais as disciplinas se fecham e no se comunicam umas com as a outras, fragmentando os fenmenos, o que

    impede conceber a unidade entre eles. O autor orienta que faamos a

    interdisciplinaridade, pois a cincia nunca teria sido cincia se no tivesse sido

    transdisciplinar.

    No entendimento de Morin (2009), uma disciplina isolada em si porque utiliza

    tcnicas prprias para sua existncia e porque elaborou uma linguagem adequada para

    seu contexto, utilizando teorias apropriadas. Este autor sugere ainda que, a reforma do

    ensino deve levar reforma do pensamento, e a reforma do pensamento deve levar

    reforma do ensino.

    A forma disciplinar e fragmentada do conhecimento contribui para o afastamento da

    aprendizagem significativa, que de acordo com Moreira (2010), se caracteriza pela

    interao cognitiva entre o novo conhecimento e o conhecimento prvio. Entretanto, a

    realidade mostra como difcil romper com o carter unicamente disciplinar ou

    desenvolver, na prtica, um ensino com caractersticas efetivamente interdisciplinar, isto

    provavelmente se d, segundo Maldaner e Zanon (2004) pela formao disciplinar do

    professor em cincias, os autores reforam este posicionamento acrescentando que

    poucos forma os avanos atingidos ao longo dos anos, pois o ensino no mbito da

    formao dos professores, sobretudo de cincias, continua sendo marcado pelo modo

    disciplinar de formao.

    O ensino interdisciplinar organizado nas reas do conhecimento, no elimina e nem

    dilui as disciplinas, pelo contrrio propem a integrao entre elas. No caso do currculo

    estadual, so sugeridas trs reas: Cincias de Natureza e Matemtica, Cincias Humanas,

    Linguagens e Cdigos, sendo organizadas em conformidade com as diretrizes nacionais

    para o ensino mdio.

    A rea de Cincias da Natureza, Matemtica e suas Tecnologias compreende as

    disciplinas Biologia, Fsica, Qumica e Matemtica. Essa rea composta por disciplinas

    tradicionais do currculo escolar do nvel mdio de ensino, porm com uma nova

    roupagem que prope a formao humana na perspectiva de construir conhecimento a

    partir das relaes com o meio, atravs de uma abordagem interdisciplinar.

    O ensino de cincias tradicionalmente foi norteado pela concepo de progresso, e

    orientado para assimilao e a transmisso do conhecimento cientfico, (ESPRITO

    SANTO, 2009). Todavia, o acmulo de conhecimento cientfico sem a interpretao dos

    fenmenos e a contextualizao com o meio provoca o distanciamento dos conceitos

    cientficos escolares e o meio sociocultural, tornando esse ensino meramente mecnico e

    sem sentido.

    Neste contexto, esboa-se o desafio de recriar uma proposta curricular a rea de

    Cincia da Natureza, de modo que, tanto os contedos sugeridos quanto a forma de aplic-

    los, possam contribuir para a formao humana. As disciplinas que integram esta rea

    possuem em comum, como objeto de estudo, a investigao da natureza, e

    desenvolvimento tecnolgico, compartilhando de linguagens para representar e

    interpretar os fenmenos naturais.

    A organizao do currculo da rea de Cincias da Natureza, conforme os

    documentos oficiais do Estado, as competncias e habilidades possibilitam a tomada de

    conscincia, pois, transformam a sala de aula em espaos de interao comunicativa entre

    os diferentes conhecimentos, propiciando a interdisciplinaridade no currculo.

  • Para entendermos os princpios da interdisciplinaridade importante retomarmos as

    concepes proposta por Fazenda (1997). [...] A interdisciplinaridade se efetiva como uma forma de sentir e perceber o

    mundo e estimula o sujeito do conhecimento a aceitar o desafio de sair de uma

    zona de conforto protegida pela redoma do contedo das disciplinas e retomar o encanto da descoberta e da revelao do novo e complexo processo

    de construo do saber. Implica, portanto, em aprendizagem de nova atitude

    perante o processo de conhecimento. A interdisciplinaridade compreendida

    como abertura ao dilogo com o prprio conhecimento e se caracteriza pela

    articulao entre teorias, conceitos e ideias, em constante dilogo entre si [...] que nos conduz a um exerccio de conhecimento: o perguntar e o duvidar (FAZENDA, 1997, p. 28).

    A atitude interdisciplinar evidencia-se no apenas na forma como ela exercida, mas

    na intensidade das buscas que empreendemos enquanto nos formamos, nas dvidas que

    adquirimos e na contribuio delas para nosso projeto de existncia (FAZENDA, 2010).

    A autora defende que essa atitude no se ensina nem se aprende, vive-se.

    A participao na elaborao de uma prtica interdisciplinar proporciona aos

    sujeitos, ganhos no campo pessoal e coletivo, uma vez que interagem com diversos atores

    e com o meio para a construo de novos saberes. O currculo quando organizados

    somente em disciplinas, conduzem ao estudante apenas ao acmulo de informao que

    pouco faro sentido para a sua vida, uma vez que a demanda profissional to variada

    que se torna impossvel incorporar tanta informao e process-la, visto que da forma que

    esto organizados no preparam para prosseguir carreiras em estudos superiores, to

    pouco para o mercado de trabalho (FAZENDA, 2013; HERNNDEZ, 2007).

    Entretanto, necessrio estar ciente que o currculo condicionado por relaes de

    poder e controle existentes no contexto social onde a fragmentao das reas tende a

    manter, ou at mesmo reproduzir as exigncias impostas pela sociedade, no qual, ensino

    disciplinar, oferece ao aluno algumas formas de conhecimento que pouco tm a ver com

    os problemas dos saberes fora da escola e que tem a funo de manter formas de controle

    e de poder (Hernndez, 2007, p.12).

    Obviamente, na construo do conhecimento a integrao das cincias no garante a

    resoluo de todos os desafios presentes no cotidiano das escolas. imprescindvel

    considerar, mesmo que a escola apresente um currculo organizado em reas do

    conhecimento, que no processo de elaborao de uma prtica interdisciplinar, existem

    dificuldades de natureza poltica, material e pessoal que interferem na efetivao do

    trabalho pedaggico.

    A interdisciplinaridade surge, como, possibilidade de integrao ente todos os

    elementos do conhecimento, criando e recriando discusses (FERREIRA, 2013, p. 40-

    41), que alavanque uma aprendizagem significativa e crtica, ou seja, permite a

    compreenso que as situaes, nunca sero isoladas, mas consequncia da relao entre

    os sujeitos.

    Entretanto, um projeto interdisciplinar, surge muitas vezes do sujeito que carrega em

    si a atitude interdisciplinar, e isso contagia os demais, pois a marca da

    interdisciplinaridade est na responsabilidade individual e deve estar imbuda de

    envolvimento na busca por uma educao de realmente prepare o jovem para a vida

    (FAZENDA, 2013). Assim, importante considerar no processo de elaborao das vivncias em experincias o desenvolvimento de uma atitude interdisciplinar na prtica cotidiana, sem

    esquecer que existem dificuldades de natureza poltica, material e pessoal na efetivao do

    trabalho pedaggico.

    Neste contexto a proposta curricular um dos caminhos para a formao integral dos

    estudantes. Auth et al. (2004) prope que estudos da realidade por um coletivo de

    professores de formao diversificada, como o caso da cincia da natureza, mostra

  • quanto restrito os conceitos disciplinares e que para estudar uma situao problema

    necessita de conceitos amplos de cunho interdisciplinar, pois estudantes e professores

    deixam de ser espectadores para serem autores dos currculos de ensino o que lhes confere

    a capacidade da crtica social (AUTH et al. 2004, p. 258-259). Entretanto, a

    interdisciplinaridade no acontece apenas no sujeito, mas na relao entre eles.

    2. METODOLOGIA

    Foi aplicado questionrio estruturado, contendo questes abertas e fechadas, a 15

    professores da rea de Cincias da Natureza de uma escola da rede estadual do municpio

    Pinheiros ES, entre os professores da rea de Cincias da Natureza, sendo, quatro

    professores efetivos na escola e 11 por Designao Temporria (DT). O questionrio foi

    aplicado com os docentes, entre os dias 21 a 28/05/2014. A partir da leitura dos

    questionrios, foi elaborada uma sntese das respostas analisando e comparando situaes

    comuns, para serem discutidas posteriormente.

    A equipe de professores que compe a rea de cincias da natureza da escola,

    possuem formao especfica e especializao relacionadas disciplina que lecionam,

    exceto por 2 professores que so bacharis em Administrao e ou comrcio e licenciatura

    em Matemtica e 1 bacharel em Cincias Contbeis e especializao em Finanas, todavia

    atuam como professores de Matemtica da escola. A equipe pedaggica da escola conta

    com coordenao escolar e superviso. O grupo da rea de Cincias da Natureza, conta

    com um espao para o planejamento coletivo com reunies realizadas s quartas-feiras,

    juntamente com a superviso escolar.

    Os professores participantes da pesquisa trabalham em mais de um turno na escola e

    a grande maioria nas trs modalidades de ensino que a escola oferta: Ensino mdio (EM),

    Ensino Mdio Integrado (EMI) e Educao de Jovens e Adultos (EJA).

    A pesquisa foi concebida e realizada de modo cooperativo, dentro das exigncias

    estabelecidas pela escola, sempre com respeito e tica aos participantes envolvidos. Foi

    optado pelo questionrio, pois o mesmo permite ao pesquisador fazer uma apreciao das

    respostas e analisar posteriormente. Entretanto, o questionrio segundo Cervo, Bervian e

    Silva (2007), precisa estabelecer com critrios as questes mais importantes a serem

    propostas e que interessam ser conhecidas, necessariamente precisam estar de acordo com

    os objetivos.

    O questionrio contou com as seguintes questes, que neste artigo foram abordadas

    em tpicos: a) Sobre o conhecimento do Currculo Bsico Comum para as escolas

    estaduais do Esprito Santo: b) Quanto compreenso sobre a interdisciplinaridade; c)

    Sobre a dificuldade em trabalhar de forma integrada; d) Participao de formao

    continuada ou debates sobre interdisciplinaridade; e) Situaes propostas como

    obstculos para o exerccio da prtica interdisciplinar e da construo coletiva do

    currculo da rea de cincias da natureza. As questes foram analisadas de forma

    comparativa e elaborado a sntese das respostas dos entrevistados.

    3. RESULTADOS

    Atravs da anlise e sntese das informaes obtidas nos questionrios foi possvel

    visualizar a compreenso e conhecimento sobre a proposta de trabalhar por reas do

    conhecimento, como sugere o currculo estadual capixaba, assim como os desafios

    enfrentados pelos professores em trabalhar a integrao das reas.

  • Em relao pergunta sobre o conhecimento do Currculo Bsico Comum para as

    escolas estaduais do Esprito Santo, que propem estudo por reas de conhecimento 10

    professores responderam que tm pouco conhecimento sobre o CBC estadual e cinco

    professores declaram conhecer parcialmente, em especial a listagem de contedos

    propostos para sua disciplina.

    Quanto compreenso sobre a interdisciplinaridade, baseado nas respostas dos

    educadores pode se inferir que as mesmas apresentam diferentes nveis de interpretao

    e conhecimento sobre o tema, na maioria das respostas foi possvel identificar uma

    abordagem superficial que pode representar pouco conhecimento e um grupo pouco

    expressivo dos professores descreveram respostas que abordam uma ideia mais

    elaborada, conforme vem sendo citados por estudiosos no tema, evidenciando um maior

    nvel de conhecimento e vivncia com a prtica interdisciplinar.

    A partir das respostas que expressam a formao continuada ou debates que orientem

    a prtica da interdisciplinaridade ficou evidenciada a defasagem de estudos entre os

    entrevistados, a grande maioria dos professores nunca participou de qualquer evento de

    formao ou de orientao para a prtica interdisciplinar. Alm destes pontos comuns

    especficos sobre a pergunta lanada, os professores acrescentaram a dificuldade em

    trabalhar de forma integrada porque vem de uma formao muito especfica para as

    disciplinas qual escolheram para atuar.

    Quando perguntados se sentiam dificuldades em trabalhar de forma integrada houve

    certo equilbrio entre as respostas, 8 dos 15 entrevistados responderam sentir dificuldades

    e que muitas vezes esse trabalho se torna mais uma atividade a ser desenvolvida pelo

    professor, demonstrando pouco conhecimento sobre as diretrizes da prtica integrada ou

    contextualizada.

    Ao serem indagados sobre os desafios, os resultados evidenciam que somente a

    proposta de estabelecer um currculo nico organizados em reas do conhecimento, no

    est sendo suficiente para que a interdisciplinaridade ou a integrao das reas acontea.

    As respostas apontam para situaes prticas do dia a dia da escola que ainda no foram

    resolvidas, como o caso da rotatividade de professores, sendo este possivelmente um

    dos fatores que contribuem para o no conhecimento da proposta curricular por reas do

    conhecimento implementadas nas escolas da Rede Estadual.

    Entre as respostas, muitas foram comuns entre os professores, como representa o

    quadro 1:

    Quadro 1. Situaes consideradas obstculos para a prtica interdisciplinar.

    N de professores que as

    respostas coincidem

    Situaes consideradas obstculos para a prtica

    interdisciplinar.

    4 Abordagem de outros assuntos alm do especfico de sua

    disciplina.

    3 Trabalhar os contedos de forma contextualizada

    4 Interao com professores de outras disciplinas.

    5 Ausncia de tema gerador ou projeto integrador.

    9 Planejamento Pedaggico Coletivo mal utilizadas ou usadas

    para outros fins.

    6 Rotatividade de professores nas escolas.

    10 Preocupao em cumprir o contedo pr-estabelecido, pelo

    CBC.

  • 5 Inexistncia de um comprometimento da equipe pedaggica

    da escola com relao a um planejamento integrado.

    4 Plano de Ensino conforme o CBC ou a ndices de livros

    didticos mais utilizados.

    Foi possvel visualizar atravs do quadro 1, que entre a maioria dos professores a

    preocupao em cumprir com os contedos propostos no CBC um dos principais

    obstculos para que a interdisciplinaridade acontea de forma efetiva na rea de Cincias

    da Natureza, seguidos da utilizao do planejamento coletivo para outros fins ou pouco

    aproveitados e a realidade da rotatividade dos professores que so DT (designao

    temporria).

    Alguns professores ressaltam o pouco comprometimento da equipe pedaggica em

    orientar e incentivar um planejamento de forma integrada e a ausncia de tema gerador

    ou projeto integrador. Os docentes apontam ainda para a dificuldade de contextualizar

    assuntos especficos de suas disciplinas, a interao com os demais professores alm da

    construo do Plano de Ensino da Escola ser elaborando com base em livros didticos e

    ou apenas em conformidade com o CBC Estadual, sem considerar a realidade da escola

    e as peculiaridades afastando por completo a possibilidade de uma construo coletiva de

    Plano de Ensino e de forma interdisciplinar.

    Entre as respostas, a que talvez expressa o pouco envolvimento pela busca por uma

    prtica interdisciplinar, no somente da equipe pedaggica, mas tambm dos docentes,

    em especial atravs da busca individual de forma a conhecer os documentos oficiais que

    norteiam uma construo coletiva e orientam o trabalho em reas do Conhecimento,

    como tambm a leitura de pesquisadores na rea, est no entendimento por parte de um

    grupo significativo dos professores, que trabalhar de forma integrada seria acumular

    atividades ou que este ponto seria de responsabilidade dos governantes.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    A realidade dinmica e globalizada que as escolas esto inseridas, exige mudanas

    no sistema de ensino, onde profissionais da educao, em conjunto, necessitam refletir e

    dialogar constantemente, sobre os pressupostos, mtodos e contedos de suas prticas

    educacionais, visando um ensino que favorea a formao integral, onde o currculo

    interdisciplinar seja uma prtica constante, e a escola como instituio de formao

    possibilite as estudantes a capacidade crtica e reflexiva de suas realidades e que saibam

    resolver problemas das mais diversas naturezas, atravs de um ensino contextualizado e

    significativo.

    Todavia, torna-se imprescindvel uma sensibilizao dos professores que, uma

    prtica interdisciplinar, requer esforo pessoal, busca pela informao e formao, visto

    que a formao docente inicial no suficiente para o desempenho de um trabalho

    contextualizado e integrado. To pouco, disponibilizar e implantar um currculo

    organizado em reas resolver ou minimizar os impactos da fragmentao do ensino na

    formao dos jovens. Pois, a forma com que se assume a concepo de contextualizao,

    para muitos educadores, est associada apenas aos saberes teis para a utilizao e

    aplicao do conhecimento cientfico-tecnolgico no mundo produtivo.

    Essa pesquisa permitiu inferir que a proposta curricular do estado do Esprito Santo,

    pode ser vista como um avano na construo das propostas curriculares, pois, valoriza e

    conduz a prtica da interdisciplinaridade. Porm, no somente a organizao em reas do

    conhecimento est sendo suficiente para a efetivao de um currculo interdisciplinar,

  • pois a interdisciplinaridade no se d no indivduo e sim na relao dele com os demais e

    isso s ser possvel se o professor tiver disponibilidade de horrio para planejar

    coletivamente a construo de metodologias que tornem a aprendizagem significativa e

    possibilite o entrosamento entre as disciplinas.

    A Cincia da Natureza uma rea que permeia as demais reas, e isto deve ser

    explorado pelos professores atravs de projetos, ou de temas que sejam significativos,

    relevantes para a realidade que a escola est inserida e que possa cumprir com os objetivos

    proposto. Entretanto, se evidenciou com a pesquisa, o fato da integrao proposta pelo

    CBC estadual ficar comprometida, na medida que o conhecimento escolar fragmentado

    ainda mais pela sua associao ao conhecimento cientfico-tecnolgico, e condicionado

    no somente pelas estruturas disciplinares, mas tambm como a forma como vem sendo

    trabalhada, funcionando muitas vezes como mecanismo de ao e controle social.

    Agradecimentos

    Ao meu orientador, professor Dr. Franklin Noel Santos, pelo incentivo e apoio em

    realizar a pesquisa e socializa-la neste evento, a equipe de professores da rea de Cincias

    da Natureza, que disponibilizaram o tempo do planejamento coletivo para efetivar essa

    pesquisa, como tambm a equipe gestora da escola que cordialmente permitiu que o

    trabalho fosse realizado junto equipe, assim como utilizar as dependncias da escola.

    Ao Programa de Ps Graduao em Ensino na Educao Bsica CEUNES/UFES pela oportunidade de discutir um tema pertinente como a interdisciplinaridade para a formao

    integral dos jovens.

    5. REFERNCIAS

    AUTH, M. A.; MALDANER, O. L.; WUNDER, D. A.; FIUZA, G. S.; PRADO, M. C.;

    Situao de estudo na rea de cincias do Ensino mdio; rompendo fronteiras

    disciplinares. In. Educao em Cincias: produo de currculos e formao de

    professores. Org. Roque Moraes, Ronaldo Mancuso. Iju: Ed. Uniju, 2004. 253 p.

    CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia Cientfica. 6 ed. So Paulo:

    Pearson Prentice Hall, 2007.162p.

    BRASIL. Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica.

    Parmetros curriculares nacionais: ensino mdio. Braslia: Ministrio da Educao,

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    BRASIL. Lei n 9394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional. Dirio Oficial da Unio. Braslia, n 248, 1996.

    ESPIRITO SANTO (Estado). SEDU (Secretaria de Educao). Ensino Mdio: rea das

    Cincias da Natureza/Secretaria de Educao. Currculo Bsico Escola Estadual; v.02,

    Vitria: SEDU, 2009.128 p.

    FERREIRA, Sandra Lcia. Introduzindo a noo de interdisciplinaridade. In:

    FAZENDA, Ivani C. Arantes (org.). Prticas interdisciplinares na escola. 13. ed. So

    Paulo: Cortez, 2013, p. 39-41.

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    CURRICULUM AREA OF SCIENCES OF NATURE IN A SCHOOL

    CAPIXABA IN PERSPECTIVE INTERDISCIPLINARITY

    Abstract: The movement for interdisciplinarity has been intense in recent years, and the

    school is a privileged place for the realization of comprehensive education through

    curriculum proposal. In this context, the Departmento de Educao do Esprito Santo

    (SEDU), implemented in 2010, the Novo Currculo, where interdisciplinarity is

    referenced as integrating axis between the disciplines that make up the knowledge areas.

    From this perspective, was realized a research that proposed to diagnose the experience

    of implementing interdisciplinary curriculum from the pedagogical practice of teachers

    in the area of natural sciences, and witness the tensions in everyday school life as the

    interdisciplinary work in a reality of fragmented training. It is imperative the debate

    about interdisciplinarity in the Novo Currculo, to reframe the theoretical and

  • epistemological assumptions that underlie the integration of areas and direct the

    construction of the school curriculum. The methodology for this research has focused on

    a qualitative approach, using a structured questionnaire and interviewing 15 teachers in

    the area of natural sciences at a state school in the city Pinheiros, Esprito Santo state,

    and documental analysis, and besides the study of official documents that regulate the

    development of curriculum for secondary education. The results point out the weakness

    of the faculty in working in an interdisciplinary way, the legacy of fragmented training,

    teacher turnover, and little theoretical foundation in the principles underlying

    interdisciplinary. It was noticed that only the implementation of interdisciplinary

    curriculum is not sufficient to interdisciplinary practice, individual and collective search

    training for teachers on the topic is needed.

    Key-words: Natural sciences; Interdisciplinary curriculum; integration in knowledge

    areas.