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HISTÓRIA DAÁFRICA

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Históriada África

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O DESPERTAR DE UM CONTINENTE

A REPRESENTAÇÃO OCIDENTAL DO CONTINENTE

AFRICANO E SUAS IMPLICAÇÕES

A Const rução da História da África nosCurrículos da Educação Brasileira

Historiografia Africana : a Tradição Oral (Os Griôs)

Como Entender a África a Partir de sua Paisagem

A Visão Da África Pelos Colonizadores

O Berço Africano:Formação, Organização Familiar, Trabalho, Vida “urbana”

Como Entender a África a Partir de Algunsdos seus Reinos: o Vale do Rio Níger

I nfluência da Religião I slâmica na Áfr ica

Escravidão, Tráfico e Resistência

SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO

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07

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10

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23

A DIVERSIDADE AFRICANA E A GÊNESE DA DIÁSPORA

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Atividade Complementar 22

Atividade Complementar 39

ÁFRICA CONTEMPORÂNEA: DA PARTILHAEUROPÉIA À DESCOLONIZAÇÃOAFRICANA 41

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Históriada África

As I deologias de Emancipação Afri cana:Contexto, Usos e Derivações

O Processo de Lutas de Libertação no Quadro daDescolonização e sua I mpor tância no Século XX

Alguns Casos Específicos: Ruanda, Congo,Colônias Portuguesas na África e África do Sul

Analisando e Pensando um a Nova África parao Século XXI

Atividade Orientada

Glossário

Referências Bibliográficas

A PARTILHA EUROPÉIA E ACONQUISTA AFRICANA

Visões da Áfr ica no Século XI X e o Processode Disputa do Continente Africano

A Conferência de Berlim e as Diferent es Form asde Ocupação da África Colonial

Conquista Européia e Resistência Africana

Consequências da Dominação Européia parao Continente Africano

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55

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Atividade Complementar 53

Atividade Complementar

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DESCOLONIZAÇÃOAFRICANA E A ÁFRICA ATUAL

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Apresentação da Disciplina

Caro (a) aluno(a)

Como observaremos, o Bloco Temático 1 terá como objetivoprincipal apresentar a disciplina e desmistificar uma série de idéiasequivocadas acerca do continente africano, do estudo da História da África e das relações entre o continente e as formas de dominação eexploração deste entre os séculos XVI e o século XVIII.

No segundo Bloco Temático, deteremo-nos em analisar aexploração do continente africano, bem como suas conseqüências a

partir do século XIX. O objetivo maior deste é desmistificar idéias quefazem parte da historiografia tradicional, que vislumbrava a África e ahistória africana apenas como um apêndice da história européia eque são ainda bastante reproduzidas nos nossos livros didáticos.Mostrar que o continente africano não era uma massa aculturada edesorganizada politicamente e que aceita o europeu como umaespécie de “salvador”, este resiste, luta e mostra sua força visto que apartir daí os europeus precisam de uma ajuda a mais: a “máquina deguerra”.

Por fim, procuramos também mostrar um pouco das lutas contra

o colonialismo e os reflexos da exploração européia na atualidadesem, no entanto, deixar de vislumbrar as perspectivas para o futuro docontinente.

Desejo a vocês um excelente estudo e comecemos aqui a nossaviagem pela História da África!

Profs. Telma Mirian SouzaMiriã Fonseca de JesusAndersen Caribé de Oliveira

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O DESPERTAR DE UM CONTINENTE

A CONSTRUÇÃO DO CONTINENTE AFRICANO

África - Mãe da Terra 

“... No início tudo era escuro feito breu. Não havia planetas, estrelas, luz, enfim,nada. Houve, então, a Grande explosão, para a ciência chamou-se de Big Bang,para nós Yoruba, Chamou-se OLODUNMARE (Deus). E Ele se fez presente, Ele criou

as estrelas, as Galáxias, os planetas, os satélites, os Buracos-Negros.Para o Planeta Terra ele reservou-se e, para o restante do Universo criouAGBONIREGUN, com a finalidade de observar a tudo e a todos que nele há.

OLODUNMARE (Senhor do Destino Supremo) AGBONIREGUN (Mestre do Universo restante) E foi aqui no Planeta Terra que OLODUNMARE fixou sua moradia e nada

melhor do que no coração da Terra, onde ficara a nossa Mãe África.África - Mãe de Nosso Planeta. Coração que pulsou por milhões de anos e

que agora aclama para nosso bom senso em olhá-la de forma humanitária, pois Ela(A África ) insiste em nos transmitir que Ela necessita de nossos maiores esforços,pois o coração da terra está morrendo..”

www.1mogbaclaudio.hpg.ig.com.br 

A Construção da História da África nos Currículosda Educação Brasileira

 Antropólogos, historiadores e cientistas sociais, a exemplode Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando de Azevedo e, mais recentemente, Florestan Fernandes, Darcy

Ribeiro, Roberto da Matta, Alfredo Bosi e Renato Ortiz, já sepreocuparam em definir e compreender a cultura brasileira emsuas múltiplas dimensões. Todos, apesar de suas diferentesposições político-ideológicas, são unânimes em concordar que acaracterística marcante de nossa cultura é a riqueza de suadiversidade, resultado de nosso processo histórico-social e dasdimensões continentais de nossa territorialidade.

 Apesar do fato incontestável de que somos uma nação multirracial e pluriétnica, denotável diversidade cultural, uma análise mais acurada da história das instituiçõeseducacionais em nosso país, por meio dos currículos, programas de ensino e livros didáticos

mostra uma preponderância da cultura dita “superior e civilizada”, de matriz européiaOs livros didáticos, sobretudo os de história, ainda estão permeados por umaconcepção positivista da historiografia brasileira, que primou pelo relato dos grandes fatose feitos dos chamados “heróis nacionais”, geralmente brancos, escamoteando, assim, a

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participação de outros segmentos sociais no processo histórico do país. Namaioria deles, despreza-se a participação das minorias étnicas, especialmenteíndios e negros. Quando aparecem nos livros didáticos, seja através de textosou de ilustrações, índios e negros são tratados de forma pejorativa, precon-ceituosa ou estereotipada

Os africanos, que chegaram em nosso território na condição deescravos, são vistos como mercadoria e objeto nas mãos de seus proprietários. Nega-seao negro a participação na construção da história e da cultura brasileiras, embora tenhasido ele a mão-de-obra predominante na produção da riqueza nacional, trabalhando nacultura canavieira, na extração aurífera, no desenvolvimento da pecuária e no cultivo docafé, em diferentes momentos de nosso processo histórico.

Quando se trata de abordar a cultura dessas minorias, ela é vista de forma folclorizadae pitoresca, como mero legado deixado por índios e negros, dando-se ao europeu a condiçãode portador de uma “cultura superior e civilizada”.Na década de 70 do século XX, novosatores sociais surgiram na cena política, protagonizados pelos movimentos populares,sobretudo os ligados ao gênero e à etnia, passaram a reivindicar uma maior participação ereconhecimento de seus direitos de cidadania. Entre esses movimentos sociais, podemosindicar os movimentos de consciência negra, que lutam, em todo o país, contra quaisquer formas de preconceito e discriminação racial, bem como pelo direito à diferença, pautadano estudo e valorização de aspectos da cultura afro-brasileira.

É nesse contexto que se insere a questão relativa à valorização da diversidade étnico-cultural de nossa formação no sistema educacional brasileiro, no qual desponta a inserçãode temáticas e conteúdos programáticos sobre a história da África e do negro em nossopaís.

Somente o conhecimento da história da África e do negro poderá contribuir para sedesfazer os preconceitos e estereótipos ligados ao segmento afro-brasileiro, além decontribuir para o resgate da auto-estima de milhares de crianças e jovens que se vêemmarginalizados por uma escola de padrões eurocêntricos, que nega a pluralidade étnico-cultural de nossa formação.

 A aprovação da Lei 10.639/03,determinando a implantação do ensino dehistória da África gerou muitas dúvidas. Amedida era justa, adequada, porém era

tardia e revelou-se muito difícil de ser implan-tada. E o motivo era relativamente simples. A maioria dos professores que atuam em salade aula nunca vira o conteúdo de História da África em suas graduações, e a mesma coisaacontece com grande parte dos graduandosem fase de conclusão de curso que nãotiveram essa matéria específica em seuscurrículos. Além desse problema específico,outra situação também se apresentava na

ocasião. Os livros didáticos, tanto de ensinomédio quanto de ensino fundamental, quasenunca apresentam qualquer tipo deinformação sobre a África ou sobre a cultura

africana. O estudo da História ainda semantém, mesmo com algumas modificaçõesestruturais e com a resistência de algunsprofessores, como uma história eurocêntrica.

O material historiográfico produzidoera mínimo, os paradidáticos eram contadosnos dedos e o desinteresse pelo assunto,flagrante. As especializações ou cursos depós-graduação sobre História da África aindachamam a atenção pela sua escassez. Por conta de lei, os professores que estão emsala de aula “correram” atrás de informaçãoe de cursos de atualização.Os primeiros a

tentar cumprir a lei esbarraram na má von-tade das escolas, dos coordenadores, naignorância dos colegas e, o que é pior, nocompleto desestímulo dos alunos.

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Não sabíamos nem sequer que conteúdo explorar, como fazer, o que fazer. Ainsegurança era total, a desinformação maior ainda.

Para a maioria dos nossos alunos, principalmente osdas escolas particulares, África lembra Olodum, Ilê-Ayê,Timbalada, entidades negras que saem no carnaval de

Salvador, quase sempre à noite, pois não são muitointeressantes para os turistas. Beleza no carnaval são osblocos de trios, com milhares de componentes, jovens,bonitos, brancos.

Os estereótipos sobre a África e sobre os africanos chegam até ao poder máximodo nosso país. Como esquecer a infeliz frase do nosso Presidente da República quandovisitou a África, alguns anos atrás: “ ... vi cidades muito bonitas e limpas. Nem pareceque estou na África.” Uma afirmativa preconceituosa como essa vindo de uma pessoacomum já seria problemática, imagine vindo de um Chefe de Estado em visita protocolar.

 A visão de África e de africanos que chega para os nossos alunos sempre está dire-tamente ligada à questão da escravidão e do escravo. Essa é a imagem que nos é repas-sada. O negro escravizado, explorado, humilhado; sentindo-se e sendo tratado como inferior.Nesse pormenor, a Rede Globo de Televisão tornou-se mestra em apresentar folhetins ondeo escravo é passivo, sofredor, aguardando sempre que algum branco piedoso o tome sobsua proteção. Não adianta impor uma lei obrigando o estudo da História e da cultura africanase não mudarmos os valores etnocêntricos que norteiam a nossa sociedade e que sãovisíveis em nossos professores.

Interessante é que, em conseqüência da lei, o mercado editorial foi bombardeadopor publicações sobre o continente africano. Alguns livros didáticos que surgiram, disfarçarama necessidade de cumprir a lei e incluíram um capítulo sobre a África. São informações tãosimplórias que poderiam ser encontradas em verbetes das antigas enciclopédias queconsultávamos em nossos bancos escolares, antes do advento da internet. O número depáginas do capítulo é bem pequeno, se comparado com outros assuntos ditos eurocêntricoscomo o Renascimento, Reforma, etc.

Outra observação a ser feita é que, independente do capítulo específico sobre oassunto, a África permeia alguns conteúdos dos livros. No caso dos descobrimentosmarítimos, ela aparece como um obstáculo a ser vencido para o alcance da vitória final, ou

então como uma fonte fornecedora de riquezas, animais e escravos. A temática daescravidão nunca é discutida no seu aspecto filosófico ou jurídico, ou como era sua práticano período anterior aos portugueses. E mais uma vez se reproduz o estereótipo do negropassivo e sofredor.

Um dos maiores equívocos impostos aos alunos de ensino fundamental e médio,através dos textos didáticos e da própria fala de alguns professores, é a idéia de que a África só começa a existir a partir da chegada dos europeus no continente. É como se ocontinente não tivesse existido antes da escravidão atlântica. De forma parecida, quasenão existem menções aos africanos traficantes ou às formas de escravização usadas na

 África. A participação dos africanos nesse comércio escravocrata é quase ignorada e sósão citados os comerciantes portugueses, espanhóis, ingleses e brasileiros.

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TEXTO COMPLEMENTAR:

 A respeito desse desconhecimento sobre a África, vejamos o que dizo prof. Valdemir Zamparoni, da UFBA:

“Pois bem, qual a referência cultural que temos da África e dosAfricanos no Brasil? Qual a imagem da África e dos africanos que circulam emnossos meios midiáticos e acadêmicos e que ajudam a formar nossa identidade? Aresposta

É que o que predomina não destoa muito: exótica, terra selvagem, comoselvagem são os animais e pessoas que nela habitam: miseráveis, desumanos, quese destroem em sucessivas guerras fratricidas, seres irracionais em meio aos quaisassolam doenças devastadoras. Enfim, desumana. (...) Uma homogeneização daÁfrica e dos africanos, que reduz todo o continente e suas múltiplas culturas a um‘tipo’ africano é uma homogeneização desumanizadora.

(...) Mas qual o lugar da África no Brasil atual? Com certa simplificação ,podemos dizer que de maneira geral prevalece de um lado a imagem África exóticae selvagem e de outro uma certa imagem mitificada, de uma “Mam África”, originária,profunda e virgem que tem servido como inspiração política para os movimentossociais. (...) Esta imagem mitificada da África tem dado lugar a usos e abusos. (...)Enquanto a África permanecer desconhecida dos brasileiros, tanto à direita, quantoà esquerda, tanto os reacionários racistas, travestidos de liberais, quanto os quelabutam arduamente para sua extinção, vão continuar prisioneiros de uma visão daÁfrica que foi criada para dominar e desumanizar.”

Historiografia africana: a tradição oral

Entender a História africana requer o conhecimento de sua historiografia. Ao examiná-la, lendo seus autores, encontramos reproduzidos alguns elementos em comum relativos àidentificação da imagem da África encontradas nos escritos ocidentais e nos dos própriosafricanos. O prof. Anderson Ribeiro cita a classificação desses escritos, realizada pelocientista social guineense Carlos Lopes, como forma de nos ajudar a entender os caminhospercorridos por essa historiografia. Segundo Lopes, existiriam três grupos nos quaispoderiam ser localizadas, por afinidades maiores, as diversas investigações ou “falas”realizadas sobre a África, a partir do século XIX:

Corrente da Inferioridade Africana;Corrente da Superioridade Africana;Nova Escola de Estudos Africanos.

A Corrente da Inferioridade Africana

Segundo os pensadores do século XIX, os povos africanos subsaarianosencontravam-se imersos em um estado de quase absoluta imobilidade, seriam sociedadessem história. No caso, é preciso que se frise que esse é um século “recheado” das idéiasracialistas propagadas ainda no século XVIII e que consideram africanos, asiáticos e

americanos como “seres inferiores” e sem o brilho natural de civilização que somente oseuropeus possuíam. Além disso, também é bom lembrar que estávamos no século doImperialismo e que interessava aos europeus divulgar a ideologia do “Fardo do Homem

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Branco”, como a desculpa para invadir e explorar as terras africanas e asiáticas e transformá-las em celeiro de mão-de-obra e de matéria prima, além de um rico mercado consumidor de produtos industriais europeus.

Observados de dentro dessa perspectiva histórica, os povos africanos não possuíampapel de destaque na história da humanidade. Primeiro pela ausência, em grande parte

das sociedades abaixo do Saara, de códigos escritos — havia a predominância da tradiçãooral. E, segundo, por serem classificadas como sociedades tradicionais — quando atradição aparece no sentido de preservar, como em uma bolha do tempo, o passado —,estando fadados a um eterno imobilismo.

Os pesquisadores que abordam a construção da historiografia africana utilizamexemplos, que hoje poderíamos chamar de “clássicos” para descrever este estado de coisas .O mais citado é a categórica afirmação do filósofo alemão Friedrich Hegel, ainda na primeirametade do séc. XIX, acerca da inexistência da História em África, ou de sua insignificânciapara a humanidade.Veja o que diz o pensador alemão.

“A África não é uma parte histórica do mundo. Não tem movimentos,progressos a mostrar, movimentos históricos próprios dela. Quer isto dizer que suaparte setentrional pertence ao mundo europeu ou asiático. Aquilo que entendemosprecisamente pela África é o espírito a-histórico, o espírito não desenvolvido, aindaenvolto em condições naturais e que deve ser aqui apresentado apenas como nolimiar da história do mundo.”

Vejamos outras afirmações de pensadores europeus a respeito da África:H. Schurz, comparou a“História das raças da Europa à vitalidade de um belo dia de sol, e a das raças

da África a um pesadelo que logo se esquece ao acordar”Sir Hugh Trevor-Hoper, demonstrou, em 1963, compartilhar das idéias de seus

companheiros anteriores.”Pode ser que, no futuro, haja uma história da África para ser ensinada. No

presente, porém, ela não existe; o que existe é a história dos europeus na África. Oresto são trevas [...], e as trevas não constituem tema de história [...] divertirmo-noscom o movimento sem interesse de tribos bárbaras nos confins pitorescos domundo, mas que não exercem nenhuma influência em outras regiões”

Para os historiadores do século XIX ou da

virada para o XX, a História da África —vivenciada ou contada — teria começado somenteno momento em que os europeus passaram amanter relações com as populações doContinente. Não só pela ação de registrar e relatar,feita por viajantes, administradores, missionáriose comerciantes do século XV ao XIX, masprincipalmente pelas mudanças introduzidaspelos europeus na África. Era novamenteflagrante a ideologia do Darwinismo Social,

ideologia etnocêntrica que, a exemplo das teorias Darwinistas sobre a evolução dasespécies, afirmava que assim com as espécies animais e vegetais, somente as civilizaçõesmais preparadas sobreviveriam e deveriam por isso, dominar as menos preparadas.

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Históriada África

Conclui-se, portanto, que, há cinqüenta anos, investigar o passado da África era uma tarefa marcada por um certo isolamento e pelo descaso. Mesmoque percebida como inovadora, por alguns, a maioria dos historiadores a julgava desnecessária ou inviável.

Corrente da Superioridade Africana

 A mudança dessa perspectiva começou a ocorrer um pouco antes das lutas pelasindependências, nos anos 1950 e 1960, e se estenderia até o final da década de 1970. Deuma forma geral, pode-se afirmar que, na segunda metade do século XX, aconteceu umaespécie de revolução nos estudos sobre a África. As investigações se diversificaram eampliaram suas abordagens.

Em um primeiro momento,o movi-mento de descolonização e de indepen-dência das nações africanas após asegunda guerra mundial, a fragmentação

política do Continente forçava a construçãode histórias nacionais para cada região“inventada” pelos europeus e reinventadapelos africanos. A independência criou, por parte de uma nova elite política e intelectual,a necessidade da elaboração dasidentidades africanas dentro do Continente,e deste perante o mundo. Para isso, eraimprescindível retornar ao passado embusca de elementos legitimadores da nova

realidade e encontrar heróis fundadores efeitos maravilhosos dos novos paísesafricanos e da própria África. Por essa visão,o Continente possuiria uma história tão ricae diversificada quanto a européia.

Segundo o filósofo africano Kwame Appiah, era preciso ter qualidades e forçasem um mundo competitivo e em uma Áfricasubmersa em problemas dos mais diversos

tipos. Para ele, entre esses primeiros pen-sares pós-independência estaria o apare-cimento de ideologias que defendiam e(re)significavam a identidade africana: opan-africanismo e a negritude. Ambas,com intensidades e objetivos diferentes, bus-cavam enfatizar a existência de uma identi-dade comum africana, que serviria como sinaldistintivo e de qualificação, muitas vezesapaixonada, dos africanos com relação ao

resto da humanidade. Essas correntestiveram uma grande influência nos estudosali organizados até o final dos anos 1970, ena própria articulação e crescimento dos mo-vimentos negros do outro lado do Atlântico.

Uma das principais gerações de pensadores desse grupo foi a dos intelectuaisliderados pelos africanos Joseph Ki-Zerbo e Cheikh Anta Diop. A maior parte doshistoriadores ligados a esse movimento supervalorizou o argumento de que a África tambémtinha sua história. Tal iniciativa fez com que Carlos Lopes chamasse esse grupo de “PirâmideInvertida”, ou Corrente da Superioridade Africana.Para Lopes, não seria difícil entender 

ou justificar este nome, já que eles estavam ligados à iniciativa de modificar as leituras evisões sobre a África, procurando redimensionar sua história, inclusive colocando-a comoo ponto de partida para explicar a História Ocidental (Lopes, 1995: 25-26).

Na tentativa de se afirmar como um continente independente e tão importante quantoqualquer outro, os historiadores dessa corrente passaram a valorizar a trajetória africana, ahistórias de seus reinos e civilizações como exemplos vitoriosos da capacidade deorganização, transformação e produção que nada devia aos padrões europeus.Os vestígiosmateriais do passados foram usados para evidenciar as qualidades do continente. Invertia-se o pólo da discussão e agora, ao invés de uma história eurocêntrica, tínhamos uma história

afrocêntrica e que cometia os mesmos erros daquela primeira: a supervalorização de umcontinente sobre o outro. Nessa sede de supervalorização, os historiadores do períodocolocavam a África como vítima das ações externas, perdendo novamente seu papel deagente histórico.

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Nova Escola de Historiadores Africanos

No final dos anos 70 e início dos 80, passada a euforia do afrocentrismo, de sepensar a África por ela mesma, surgia a “nova escola de historiadores africanos”, despojadade paixões afrocentricas, porém preocupada com a continuidade das investigações.Competia a eles a tarefa de ampliar os estudos sobre o Continente e integrar suas pesquisas

às constantes inovações da historiografia mundial .

Nesse período, ficou claro que as fontes escritas não eram tão escassas para a África. Arquivos no exterior, como os ultramarinos europeus, na própria África, além dasdiversas fontes em árabe, facilitavam a investigação sobre certos sistemas vigentes duranteséculos na história da região. Houve também uma sofisticação do uso de metodologias nocaso da tradição oral, assim como a aproximação com a Antropologia, a Lingüística e a Arqueologia, que já ocorria há algum tempo.

Nos últimos anos, a historiografiaafricana passou a ser caracterizada por estudos ligados às epidemias, ao cotidiano,às novas tendências da economia e daciência política, da importância do regional,do gênero, da escravidão, da cultura política,das influências da literatura e de uma quaseincontável diversidade de temáticas parainvestigação. Pesquisas realizadas por africanos e africanistas têm procuradodesvendar e explicar o Continente pelasóticas sempre diversificadas das reflexões

históricas. Estudos sobre o passado remotoou recente das regiões, do processo deformação da África atual, do entendimentoda diversidade de suas culturas e povos, das

releituras sobre os contatos com os europeuse sobre os complexos problemas a quesubmerge hoje o Continente foram alvo deuma quantidade avassaladora deinvestigações. E, principalmente valorizou-sea importância da história oral, fontes vivas dastradições do continente, representadasprincipalmente pelos Griots. Esse foi o nomedado pelos franceses aos diélis . Os delis sãopoetas e músicos; conhecem muitas línguase viajam pelas aldeias. Diéli é uma palavrade origem bambara, falada pelo povo africano

que habita principalmente a região do Mali,Senegal e Guiné-Bissau, e quer dizer sangue;e a circulação do sangue é a própria vida.Como a palavra que circula através dos diéli.

É inegável o grande legado que a África ofereceu na formação da cultura brasileira. Além da mão de obra de negros e negras que, no passado, atravessaram o Atlântico paratrabalhar nos latifúndios, minas, cozinhas e terreiros das Casas Grandes, os navios trouxerampara o Brasil homens - detentores de tecnologias e conhecimentos - que eram a históriaviva das nações e impérios da África, transmitida de geração a geração. Na tradição, esteshomens são chamados griots. São contadores de história, professores, poetas, músicos emestres na arte da retórica, os guardiões da cultura e diáspora africana no mundo. os Griotseram grandes contadores de histórias africanos, numa época onde as histórias eramconsideradas essenciais para a própria sobrevivência da humanidade. Lendas, feitosheróicos e lições de vida, tudo era adorado e servia de alimento para o espírito alegre eguerreiro do povo do continente, sendo que os Griots eram poupados até pelos inimigosnas guerras.

Os griots são responsáveis pela preservação dos conhecimentos da ancestralidadeafricana pela tradição oral. São homens, na maioria, e mulheres que resistem a seremescravizados pelas tecnologias da civilização moderna, e que, com palavras e artes, duelam

contra a alienação provocada pelas máquinas.

Sob as sombras de frondosas árvores das savanas africanas, os griots resenhavampara a comunidade a história e genealogia dos impérios. São possuidores de um imenso

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Históriada África

repertório de estórias, provérbios, dizeres e ditados para a condução de umavida harmônica, canções satíricas, canções de louvor e canções populares,comumente conhecidos. Na época dos impérios, eles eram músicos da corte,músicos viajantes, cantores e oradores de discursos, além de terem sidoconselheiros e confidentes da realeza.

Todos têm em comum a educação e demais ensinamentos que são

precocemente passados ainda na infância, no seio das famílias, recebendo,os meninos, treinamento adicional para tocar instrumentos musicais. Um dos maisconhecidos griots é Diakuma Dua, que viveu à época do legendário rei Sundjata Keita. Suamelodia e palavras estão gravadas no Hino do Mali, uma canção que está profundamenteancorada à memória do império Malinke, e que é freqüentemente apresentada e cultuada.

Por causa do declínio dos impérios, das mudanças na estrutura social impostas pelacolonização européia nos países africanos e novos padrões estabelecidos pela vidamoderna, os griots tiveram de se adaptar às novas condições. A maioria deles hoje éindependente e coloca seus talentos a serviço de empregadores e da comunidade. Atuamcomo diplomatas e sacerdotes responsáveis pela celebração de casamentos, batismos,

funerais e outros serviços sociais. Mas, na África ou fora dela, os griots ainda são osfecundadores das raízes milenares do continente até os dias atuais.

TEXTO COMPLEMENTAR

As fogueiras da memória. A tradição viva

A historia dos povos africanos era transmitida oralmente. era pacientementepassada de boa a ouvido, de mestre a discípulo ao longo do tempo. de modo geral,a importância maior da fala sobre a escrita está presente ainda hoje na cultura demuitos povos nos vários cantos do planeta.

A oralidade dessas sociedades desenvolve a memória e fortalece a ligaçãoentre o homem e a palavra, que é considerada divina. A tradição oral não se limita àsnarrativas lendárias. Ela está ligada ao comportamento cotidiano das pessoas e dacomunidade. Ela é ao mesmo tempo religião, conhecimento, ciência natural, iniciaçãoà arte, história, divertimento e recreação. por exemplo, ao fazer uma caminhada pelamata e encontrar um formigueiro, um velho mestre terá oportunidade de ensinaraos mais jovens de diversas maneiras. pode falar do próprio animal e da classe deseres a que pertence ou pode demonstrar como a vida em comunidade depende dasolidariedade. assim, qualquer acontecimento pode ser aproveitado para

desenvolver vários tipos de conhecimento.Geralmente é o grupo dirigente que controla a posse das tradições, e sua

transmissão é realizada por especialistas. São indivíduos com maior habilidade,encarregados da memorização e transmissão das tradições.

Fonte: O Jogo da História. De corpo na América e de alma na África.Flávio Campos e outros. Ed. Moderna. São Paulo. 2002 

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Como Entender a Africa a Partir de sua Paisagem

Toda vez que começamos a falar sobre África, seja em conversas informais, seja emsala de aula com os nossos alunos, sempre imaginamos um ponto distante do outro lado dooceano Atlântico, onde impera a pobreza, o atraso cultural, o maior índice de doentes de AIDS do mundo inteiro. Continente onde as guerras tribais, civis se acumulam há décadas

e onde acontecem os atos de selvageria sem limites.

O continente africa-no é amplamente conhe-cido pelas suas belezasnaturais, principalmentequando se refere à vidaselvagem. Porém, o queencontramos de imensoneste continente é uma

diversidade física e sócio-econômica, pois existeneste espaço desde exten-sos vales férteis, aonde avida parece não ter fim, atédesertos gigantes, como éo caso do Saara, o maior do mundo.

O contraste da pobreza e riqueza também é muito visível por toda sua extensãocontinental, sendo caracterizado principalmente pelas péssimas condições de vida emmuitos países. O termo “berço da humanidade” é dado em razão da África abrigar uma dascivilizações mais antigas e intrigantes do globo, os egípcios , que formaram um poderoso“império” há 4 mil anos. Portanto, toda essa riqueza cultural e natural existente no continentetorna a África um espaço muito particular.

Mas a África é muito mais do que isso. É um continente muito grande com mais de30 milhões de quilômetros quadrados, dividido em mais de 50 países, onde se falam maisde 200 idiomas e que é povoado por quase 800 milhões de habitantes. Para termos a

exata idéia do que estamos falando, vamos comparar esses números com os do Brasil.Nosso país tem um território de pouco mais de oito quilômetros quadrados e cerca de 170milhões de habitantes, cuja maioria absoluta fala a língua portuguesa.

Sem nenhuma dúvida, a África apresenta todos esses problemas que citamos acimae que são do nosso conhecimento. Porém, a África é tudo isso e muito mais!

É uma região belíssima com planaltos e planícies com savanas e estepes. Váriasbelezas naturais que poucas vezes são lembradas. No Marrocos, elevam-se montanhasque chegam a 4.000 metros de altitude e que são chamadas de Atlas, com uma vegetaçãosemelhante à da Europa. No Quênia, as savanas têm um clima tórrido, mas no monte Quênia,que tem uma altitude de mais de 5.000 metros, a neve cai. A Tanzânia tem uma região degrandes lagos como o Vitória, o Tanganica e o Malauí. Grandes represas criaram lagosartificiais como o lago Volta, em Gana, que represa o rio do mesmo nome; o lago Nasser,formado com a construção da represa de Assuã, no Egito, que tem 500 quilômetros deextensão. Isso tudo sem falar no rio Nilo, berço da civilização do Egito, cuja bacia banhanove países, teve a primeira represa conhecida da história da humanidade e os primeiroscanais de irrigação. o seu curso é maior do que o do rio Amazonas.

Por outro lado, a África abriga populações que vivem em aldeias espalhadas pelaselva, como os pigmeus em Ruanda e no Burundi, enquanto no Egito a cidade do Cairo se

constitui em uma grande metrópole onde vivem mais de 9 milhões de habitantes, é umacidade mais populosa do que São Paulo, no Brasil.

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Históriada África

Entre os produtos agrícolas, cuja produção é voltada para a exportação,temos cacau, café, algodão,cana-de-açúcar e o amendoim, além do abacaxi,banana e caju. A pecuária é pouco desenvolvida em razão da pobreza daspastagens e da moléstia transmitida pela mosca tse-tsé, que ataca osrebanhos, inoculando-lhes o tripanossomo, causadores da doença do sono.Na África estão os maiores produtores de ouro e diamantes e o petróleo é

extraído em países da costa do Mediterrâneo como Líbia, Argélia e Egito, ena costa do Atlântico (Nigéria, Gabão, Camarões e Angola).

Em conseqüência desta diversidade, não é tarefa fácil dividir a África por regiõesdevido a sua heterogeneidade ao longo do continente. Porém, pode-se definir duas formasbásicas de classificação regional: as questões físicas (localização geográfica) e questõeshumanas (cultura/ocupação)

África: Cinco Regiões num Continente

Ao visualizar um mapa da África, pode-se ver que dividir o mesmo por regiões a partir da sualocalização espacial nos sentidos Norte, Sul, Leste eOeste é bem possível. Dessa forma, classifica-se ocontinente em cinco regiões distintas quanto a suaposição geográfica: Norte da África, Oeste da África, África Central, Leste da África e Sul da África.

Fonte: http://www.algosobre.com.br 

Divisão Sócio-Econômica da África

 Analisar a África destacando suas características culturais faz com que tenhamosuma divisão bem diferente da anterior. Ao observar o continente africano pela sua ocupaçãoao longo dos anos, classifica-se a África em duas regiões: África “branca” (cultura árabe) e África “negra” (culturas locais).

Isto é possível em virtude da influência que a região norte da África (árabe) sofreuda ocupação dos povos do Oriente Médio (Ásia) durante os tempos, tendo como resultadoum espaço totalmente adverso da África “negra”, sendo esta última caracterizada pelasculturas regionais provindas de milenares tribos africanas. Também é possível destacar a

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própria cor da pele dos africanos nessas duas regiões: os descendentes de árabes possuemuma tez clara, em grande parte, enquanto que os africanos relacionados com as culturastribais já têm uma cor mais negra.

Sendo assim, a África vem a ser o resultado de anos de ocupação e influência dasmais diversas culturas do mundo que remodelaram e transformaram seu continente num

espaço diversificado e muitas vezes carente de recursos econômicos, por outro lado, suasbelezas naturais são únicas e, por enquanto, estão permanentes em todo seu território.

Outras Formas de Divisão da África Usadas Recentemente:

O Magrebe, identificado geralmente com a parte ocidental da África do Norte,engloba a região deste continente a norte do deserto do Saara. Na época do império romano,era conhecido como África Menor.

 A palavra provém do vocábulo em língua árabe (Mahrib ou Maghrib) que significa“lugar onde se põe o sol”, ou seja, a região que, na altura em que o vocábulo teria surgido,estava mais a ocidente do mundo islâmico, opondo-se ao Iémen (que significa “direita”).

 Ao longo do mar Mediterrâneo, inclui, hoje em dia, Marrocos, Argélia e Tunísia. Algumas vezes, ao incluir-se a Mauritânia e a Líbia, se designa por Grande Magrebe.

O Magrebe está limitado pelo Mar Mediterrâneo a norte, pelo Oceano Atlântico aoeste, pelo Golfo de Gabés a leste e pelo deserto do Saara a sul. A grande cordilheira do Atlas, com as suas ramificações separadas por planaltos com cerca de 1000 metros dealtitude, estende-se na sua parte ocidental. É uma zona de clima mediterrânico, comprecipitações escassas, salvo em zonas montanhosas viradas para a zona litoral. Aliás,sem as condições proporcionadas pelo mediterrâneo (clima, agricultura, transportes)dificilmente se imaginariam as zonas mais povoadas: Orão, Bona, Argel e as planícies doGharb e do Sahel.Os habitantes do Magrebe são, basicamente, árabes e bérberes.

Corno de África (no Brasil, Chifre da África) é uma designação da região nordeste

do continente africano, que inclui a Somália e a parte leste da Etiópia (por vezes, considera-se também o Djibouti nesta designação). Este nome pode ter sido originado pela formapontiaguda daquela parte do continente ou provir da mitologia – ver a primeira linha dapágina principal do “Continente Negro”.

Fonte: http://www.algosobre.com.br 

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 Apesar da palavra corno ter, por vezes, conotações ambíguas oumesmo pejorativas – ver, por exemplo, as referências ao efeito afrodisíaco docorno de rinoceronte – para os africanos, o corno é um símbolo de poder,para além dum importante meio de comunicação: tradicionalmente, o anúnciopara as principais cerimónias tribais é feito soprando num corno de pala-palaou cudo, dois dos antílopes mais “nobres”.

Por essa razão – e embora os dois países que constituem o Corno de África teremuma história recente manchada por guerras e calamidades – a expressão é consideradaadequada, um sinal da grandeza do continente e dos seus povos e do seu destino, que seespera próspero.

A África Saariana ou África Branca compreende a região do continente africanoao norte do Saara. Inclui o Magrebe e o Egito e, segundo algumas definições, o Sudão.

O intercâmbio entre o Norte de Áfricae a África subsaariana limitou-se, durantemuito tempo, quase exclusivamente aocomércio entre as costas ocidental e orientaldo continente e a viagens ao longo do Nilo,devido à dificuldade em atravessar o deserto. Assim foi até a expansão árabe islâmica. Emtermos de aspecto físico, os norte-africanossão aproximadamente 80% caucasianos,sendo considerados africanos de raçabranca. A miscigenação com africanos deraça negra teve origem nas migrações para

o norte provocadas pela escravatura. Comraízes no Médio Oriente, a população do

Norte de África tem a sua cultura tambémmarcada por esta região. As línguasdominantes são o árabe e as línguasbérberes. A religião é, predominantemente,muçulmana, embora os povos do sul doEgito, Sudão e Etiópia sejam cristãos,principalmente da Igreja Copta. Algunspaíses norte africanos, em particular o Egitoe a Líbia são frequentemente incluídos nasdefinições de Médio Oriente, devido aocontacto continuado com esta região. Por seulado, a Península do Sinai, pertencente ao

Egito, está na Ásia, sendo, inquestionavel-mente, parte do Médio Oriente.

A África subsariana (em Portugal) ou África subsaariana (no Brasil), tambémconhecida por África Negra (ainda que muitos considerem esta forma politicamente incorretaou ofensiva) corresponde à região do continente africano a sul do Deserto do Saara, ouseja, aos países que não fazem parte do Norte da África.

 A palavra subsariana deriva da convenção eurocentrista, segundo a qual o Norteestá “acima” e o Sul está “abaixo” (daí o prefixo “sub”).

Efetivamente, o deserto do Saara, com os seus cerca de 9 milhões de quilômetrosquadrados, forma uma espécie de barreira natural que divide o continente africano em duaspartes muito distintas quanto ao quadro humano e econômico. Ao norte encontramos umaorganização sócio-econômica muito semelhante à do Oriente Médio, formando um mundoislamizado. Ao sul, temos a chamada África Negra, assim denominada pela predominâncianessa região de povos de pele escura.

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A Visão da Áfr ica pelos Colon izadores.

 A história da África é a narrativa da longa permanência dos seus diferentes povos, ahistória de como aos poucos eles foram se adaptando as condições naturais; a domesticaçãode animais, a seleção de vegetais que servem de alimento e remédio; a exploração dos

minerais; a história do desenvolvimento das tecnologias, das religiões e da cultura; a lutaentre os homens na disputa pelas áreas férteis e úmidas e pelas suas riquezas minerais.

 Algumas informações sobre a áfrica são bem interessantes e devem ser discutidase analisadas. Um grande número de grupos populacionais africanos chegou até o séculoXIX em condições bem semelhantes daquelas em que muitos sobreviveram na época dapré-história, quando a coleta de raízes, folhas e frutos, a caça e a pesca eram as fontesprincipais de alimentos da humanidade. A natureza oferece ao homem uma grande abun-dancia e diversidade de recursos naturais, permitindo ao homem viver sem muito esforçoem alguns ambientes e sem ter que transformar esses recursos para poder usufruir deles.

No sul do Saara, por exemplo, a domesticação de animais demorou muito para acon-tecer e ali, bois, cabras e ovelhas foram introduzidos tardiamente, tendo vindo de outras re-giões como a África do Norte, por seus contatos com a África e com a Ásia. Os pigmeus atéhoje adotam técnicas de caça semelhantes àquelas que eram usadas há milhares de anos.

Todas essas características facilita-ram a transmissão da idéia de que a Áfricaé um continente ocupado por povos primiti-vos. E também serviu de desculpa para que

os países imperialistas europeus ocupas-sem e explorassem a região no século XIX,usando como pretexto o “fardo do homembranco”, ou seja, invadir para levar a cultura,o progresso, a civilização e a verdadeira reli-gião, o Cristianismo. Na verdade isso deveser entendido como um processo de ocupa-ção e exploração dos recursos naturais deum território por vários países estrangeiros.

 A visão dessa África habitada por povos primitivos, e ela mesma primitiva eatrasada, foi criação a partir da “invenção”da África Atlântica pelos europeus. A Europaelaborou lentamente visões sobre o conti-nente africano, desde a Idade Média. Desdeo século XIV, textos de Marco pólo, Guillaume Adam e Étienne Raymond deixavam entrever paisagens e cenas da África Oriental. Infor-mações se segunda mão recolhidas por Marco Pólo, todavia, acres-centam pouco ao

que já sabiam comerciantes cristãos e muçul-manos sobre a bacia mediterrânea.

Nunca é demais lembrar que os euro-peus da bacia mediterrânea, antes das via-gens ultramarinas, se consideravam os habi-tantes do centro da Terra, imaginando o resto

do mundo a partir de esquemas mentaisherdados da Antiguidade grega e de textoslatinos e judaico-cristãs. Ao sul das margensconhecidas da humanidade, existia, paraeles, a África ou a Etiópia.

 A cor negra era geralmente associadaà escuridão e ao mal e remetia, no incon-sciente europeu, ao inferno e às criaturasdas sombras. O diabo, nos tratados dedemonologia, nos contos moralistas e nasvisões de feiticeiras perseguidas pelainquisição, era, coincidentemente, quasesempre negro. Não deve ser coincidênciaque as crianças no Brasil são embaladas aosom de “Boi, boi, boi da cara preta...” Énovamente a cor negra amedontrando,ameaçando, assustando.

Para a maior parte dos autores, adescrição física da zona meridional africana

se associava à idéia de intolerânciaclimática. No século XI, Vicente de Beauvais,

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Históriada África

dominicano, opunha o norte e o sul para explicar que o primeiro era seco efrio e o segundo, quente e úmido. Ao norte, os homens seriam sadios e belos,ao sul, frágeis, doentes e feios. Por culpa do clima quente, seus corpos negrose moles eram sujeitos a doenças como a gangrena, a epilepsia, a diarréia. Ao norte, os corpos eram isentos de doenças, teriam uma coloração rosada.

 Além de tudo isso, a palavra África representava para os autoresmedievais uma ligação profunda como o primeiro livro da Bíblia, o Gênesis. Era nele quebebia a cultura clerical européia e lá estava revelada a história de Cã. Segundo o LivroSagrado, Cã, o segundo filho de Noé, exibiu-se diante dos irmãos, gabando-se de ter vistoe sexo de seu pai quando ele estava bêbado. Para castigá-lo, o patriarca amaldiçoou Canaã,filho de Cã; ele e sua descendência se tornariam servidores de seus irmãos e sua descen-dência. Eles imigraram para o sul e para a cidade das sexualidades malditas: Sodoma.Depois, atingiram Gomorra. Lendas contam que os filhos dos filhos dos amaldiçoadosforam viver em terras iluminadas por um sol que os queimava, tornando-os negros.

Esse estereótipo podia, por assimdizer, justificar a escravidão, do ponto devista da Igreja Cristã. Aceitar que um homemfosse escravo de outro, em determinadascircunstâncias, parece ter sido uma posturacomum no interior do cristianismo. A conver-gência desta tradição com aquela relativa àimagem negativa dos negros justificará,durante muitos séculos, a brutal exploraçãodos povos africanos. Toda a economiaaçucareira do Brasil veio a ser sustentadapor braços escravos, introduzidos pelocolonizador com o beneplácito dos Reis deCastela e da Igreja Católica. Os escravos

eram todos vistos como mouros e, como tais“infiéis”, para os quais o Papa Eugênio IVautorizou o “direito” de cativar. Justificava aIgreja de então, através de seus teólogos,que sobre os africanos de todas as raçasrecaía o preceito bíblico que, descendendode Cã, estariam condenados à escravidão;como acentua o padre Manuel da Nóbrega:Nasceram com este destino “que lhes veio por maldição de seus avós, porque estes,cremos serem descendentes de Cã, filho de Noé, que descobriu as vergonhas de seu pai bêbado, e em maldição e por isso ficaram nus e têm outras mais misérias”.

 A leitura cuidadosa de testemunhos da época medieval, referentes ao Saara Ocidentale Serra Leoa, historiadores mostram como rapidamente o negro vai sendo penalizado pelopeso dos modelos europeus, mas, sobretudo, católico, que se tinha sobre a África. Suaescravização é percebida como um presente capaz de introduzi-los a uma cultura superior e à salvação de suas almas.Do ponto de vista do europeu, seu modo de viver é bestial eselvagem; seus códigos quanto ao vestir, ao comer, morar, o colocam no limiar da

animalidade. São idólatras, falta-lhes racionalidade. Sua vida nômade é sinônimo dedesorganização social; suas qualidades de coragem e força física não são percebidas;são chamados de gente pobre, rude e selvagem.

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TEXTO COMPLEMENTAR

Concluindo essa nossa discussão inicial, transcrevo aqui trechos de uma artigopublicado em revista de circulação nacional que discute a questão do ensino da história da África nos currículos das escolas brasileiras.Vejam como o texto é interessante e nos ajuda

a responder a alguns questionamentos e a criar outros.

Uma nova história para a África

Ensino da história do continente é obrigatório há um ano, mas o preconceitoainda prevalece.

É possível um ensino mais abrangente e menos eurocêntrico da história daÁfrica e dos afro-descendentes? Apesar do aumento de pesquisas sobre o chamadocontinente negro, ele ainda é vítima de uma abordagem escolar carregada deignorância e preconceito, da qual recebeu uma imagem estigmatizada, construída

por impressões sempre pejorativas e, muitas vezes, equivocadas. Para reverter essequadro, uma lei federal sancionada em 2003 tornou obrigatório o ensino da históriaafricana no currículo escolar brasileiro.

O objetivo da lei é desfazer estereótipos e recontar, a partir do olhar africano,a história do continente. Um ano após sua assinatura, instituições de ensino superiorpúblicas e privadas já começaram a investir na capacitação de profissionais, comcursos de extensão e especialização. No entanto, muito ainda deve ser feito.

Em um artigo publicado em 2003 na revista Estudos Afro-asiáticos, o histo-riador Anderson Oliva, da Universidade de Brasília (UnB), analisou o estudo da histó-ria da África no Brasil em 34 coleções didáticas e chegou a uma conclusão preocu-pante: a maioria dos livros didáticos apresenta uma visão eurocêntrica sobre a Áfricae quase sempre aborda com displicência e simplificações a história do continente.

“Para se ter uma idéia, até o ano 2000, somente três manuais brasileirosusados no ensino fundamental reservavam um capítulo especial para a história daÁfrica anterior ao século 19”, conta Anderson. “Todas as demais publicaçõestratavam o período exclusivamente a partir de considerações e acontecimentosreferentes à Europa e às Américas”.

O historiador chama a atenção para um problema que persiste à iniciativa dogoverno: como ensinar de maneira adequada o que não se conhece realmente? “Afalta de estudo aprofundado em escolas e universidades resultou na formação deprofessores despreparados e o problema tornou-se, assim, ainda mais grave”, avalia.

(...)Para ele, a lei é uma forma de o governo e a sociedade assumirem aresponsabilidade pela negação da ancestralidade africana na cultura brasileira, maso esforço pessoal dos professores é imprescindível para o ensino adequado dadisciplina.

  http://cienciahoje.uol.com.br/view/2066 

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1 .....Comente, através da elaboração de um texto dissertativo, utilizando as informaçõescontidas no Bloco 1 e a sua experiência pessoal, sobre cada uma das idéias abaixo:

 A influência do imaginário coletivo ocidental na sua representação de África.Etnocentrismo e dominação.

 Atividades Atividades Atividades Atividades AtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

 2 .....Lidar com as diferenças sem transformá-las em desigualdades é um desafio para osprofissionais da educação. Afinal, a escola é povoada de diferenças que precisam ser contextualizadas e trabalhadas pelos professores e professoras. Neste sentido, como a lei

10.639/03 pode contribuir para a inserção ou intensificação do debate sobre as relaçõesétnico-raciais nos múltiplos ambiente de aprendizagem?

“Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem”.

3 .....Explique como o ensino de história pode contribuir para que esse fato aconteça comrelação à inserção do ensino de História e Cultura da África e Afro-brasileira no currículo daeducação básica.

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4 .....De que modo a imagem da África e dos africanos que circulam em nossos meiosmidiáticos e acadêmicos ajudam a formação da identidade dos afro-descendentes?

5 .....Explique de que maneira as pesquisas realizadas por africanos e africanistas quetêm procurado desvendar e explicar o Continente pelas múltiplas óticas das reflexõeshistóricas auxiliam na desconstrução da imagem negativa relacionada a este.

ÁFRICA, BERÇO DA HUMANIDADE

O Berço Africano: a África Atlântica.

Formação, organização familiar, trabalho, vida “urbana”, relações com a natureza.

Formação

Quando nos perguntamos qual é o berço dos grupos que vieram para o Brasil comoescravos, a resposta é uma só: a África Atlântica. Essa região compreende a África Ocidentale Centro Ocidental e é rasgada por imensos rios e uma plataforma rígida formada por umasérie de planaltos.

Nessa região, que vai do Senegal a Angola, encontravam-se povos com amplos

conhecimentos de agricultura e do ferro. Pertenciam aos troncos nígero-congolês ou bantoe tiveram que lutar ferozmente contra a natureza hostil. A desertificação do Saara, odesflorestamento de áreas ao sul do deserto levava os grupos a se estabelecer em planíciesinundáveis e sobre pequenas colinas. A escolha destas regiões explica-se porque elas eramfacilmente defensáveis contra ataques de feras e de inimigos.

No século XI, o povo tollen se instalou no Mali para cultivar o planalto de Bandiagara. A partir do século XV, esse povo foi absorvido pelos dogons, que aproveitaram o cursointerior do rio Níger para plantar arroz de sequeiro.

 As campinas também abrigavam grupos variados. Dotados de população irregular e desigual cada grupo estendia ou diminuía suas fronteiras de acordo com variadassituações: guerras, aumento de população, secas, ameaças de feiticeiros. Tudo isso levava jovens do sexo masculino a sair de sua região primitiva e estabelecer-se em outros territórios.

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Históriada África

Essas migrações foram responsáveis pela multiplicação de famíliasou de pequenos grupos que podiam se instalar ao lado de pessoas de origemcompletamente diferente. Os dogons  eram grupos de tradições e línguas tãodiferentes que muitas vezes os vizinhos não se entendiam, mesmo morandotão próximos. Esta diversidade permitiu a criação de uma sociedade extre-mamente móvel, pronta a se deslocar todas as vezes que fosse necessário.

 À medida que esses indivíduos se adaptavam a diferentes ambientes, a cultura sediferenciava, formando vários grupos étnicos. Apesar do esforço de ocupação da terra, oshabitantes da África Atlântica tinham que lutar contra um mundo hostil, instável e agressivo. As doenças os atacavam e a maior parte delas era crônica, mesmo que não fosse fatal,pois as populações tiveram muito tempo para se adaptar aos parasitas. A malária era amais fatal das doenças, matando muitos recém-nascidos. O fato de ela não ter se dissemina-do nas altas terras dos camarões fez com que a região conhecesse uma intensa colonização.

Já as regiões ribeirinhas da África Central foram atacadas pela doença do sono e a

varíola. O contato constante com essas doenças desenvolveu as competências médicas. As práticas de cura guardavam estreita relação com o conhecimento de plantas. O consumode água imprópria provocava baixa de vitaminas e proteínas, hemorragias, dores de cabeça,febres, cólicas, dores de estômago.

Outra dificuldade encontrada para o crescimento das populações foi a fome. A tradiçãoassocia seu aparecimento à seca. Os arquivos portugueses revelam que durante o séculoXVI, Angola sofreu um período de fome a cada 60 anos. As epidemias, a varíola, a fome,mataram cerca de um terço da população. As tribos trocavam as crianças por comida, paisvendiam seus filhos, homens e mulheres se deixavam escravizar em troca de alimento, paranão morrer de fome. As crises de fome também eram provocadas pelos gafanhotos, fortesinundações, ventos, secas, guerras e abusos de poder.

 Alternando períodos de chuvas abundantes (anos de 300 a 1100) com períodos deseca (quatro séculos seguintes),a África Ocidental chegou ao século XVII. Entre 1639 e1643, as más colheitas do rio Níger tiveram duas conseqüências: o saque aos armazéns dosoberano de Jené e o prenúncio de séculos de uma seca excepcional, cujos marcos principaisforam:

1680 – grande fome na Senegâmbia1736 e 1756 – mais uma grande época de fomeEntre 1776 e 1866 – três períodos de fome mataram 40% da população

Vejamos, agora, as principais características de organização dessas comunidadesda áfrica Atlântica:

Formas de organização familiar

Os africanos ocidentais davam grande importância à sua descendência exatamentepor conta dos fatos que vimos anteriormente. A virilidade era um atributo fundamental paraa honra de um homem. A situação era mais severa ainda para as mulheres. Uma mulher 

fértil era muito respeitada, enquanto a estéril era desprezada pela sociedade. Ter filhos erafundamental para o status social dos pais. Filhos garantiam seu bem estar na velhice,asseguravam sua sobrevivência como ancestrais, determinavam a existência de gruposfamiliares em sociedades, por vezes, violentas.

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Não existem dados confiáveis que nos possam assegurar qual era a taxa demortalidade e natalidade africanas dos séculos XVI a XVIII, mas se presume que fossemaltas. Historiadores afirmam que a expectativa de vida era de 25 anos. Provavelmente,como também acontecia na Europa, 1/3 daqueles que nasciam morriam antes de completar um ano de vida. Um número elevado morria ate os cinco anos de idade por causa da malária,ausência de leite animal ou por conta de práticas medicinais ineficientes. Isso explica porque

as taxas de crescimento populacional eram moderadas.

O desejo de aumentar as populações e colonizar terras dotou a África Atlântica deestruturas familiares específicas e duradouras. Como a terra era um bem coletivo, era inútilconservá-la na família através de um casamento monogâmico. Cada chefe local passavaao pai de família um terreno para cultivar e este, por sua vez, passava a ser devedor ou obri-gado a pagar tributo em espécie ou trabalho ao chefe. Dessa forma, era mais inteligente ter várias mulheres e filhos que cultivassem o solo, gerando uma “economia da poligamia”.

Esse processo gerou uma intensa competição. Entre as mulheres, o espírito competi-

tivo se traduzia no desejo de muitos filhos; entre os homens, na esposa mais fecunda.Mesmo que a poligamia tenha desaparecido no reino de Cuba, entre os séculos XVIIe XVIII, em outras regiões a escravização de homens para trabalhar na América popularizouo costume. A competição por esposas gerou inúmeros conflitos nas sociedades poligâmicas

O trabalho

 As tarefas de sobrevivência eram geralmente semelhantes, mas os trabalhosfemininos na terra variavam de cultura para cultura. De uma maneira geral, os homens ficavamresponsáveis pelo desmatamento, enquanto a plantação e a retirada de ervas daninhaseram função das mulheres. Toda a comunidade participava das colheitas. Os gruposfamiliares raramente possuíam bens comuns, mas em alguns grupos da floresta e da partesul da savana as mulheres dominavam o pequeno comércio e possuíam uma autonomiapouco vista em outras culturas. As atribuições e atividades femininas também não eramhomogêneas, variando de acordo com as categorias. Em Bornu, um dos grandes reinos dasavana sudanesa, a posição elevada das mulheres do reis, contrastava com a submissãode jovens lavradoras, bem mais moças do que seus maridos, além da posição das escravas,que desempenhavam atividades pesadas.

Na maioria das regiões a organização social estava baseada numa casa grande

dirigida por um “homem grande’, cercado de esposas, filhos casados e solteiros, irmãosmenores, parentes pobres, dependentes e um grande número de crianças. Essas unidadeseram organizadas agrupando-se de dez a quarenta esposas e constituíam grupos decolonização essenciais na áfrica ocidental.

Os hauçás juntavam suas famílias e seus escravos num grupo só. A escravidão era asua fonte de comércio e de riqueza. Entre os escravos, os mais privilegiados eram osprisioneiros nobres, usados em atividades militares. Eles podiam participar da divisão dosespólios de guerra a até mesmo desejar possuir seus escravos. A seguir vinham os quetrabalhavam nas famílias de camponeses; estes podiam chamar o senhor de “pai” e trabalhar 

com seus filhos e filhas, freqüentar sua casa e desfrutavam um padrão de vida muitosemelhante ao de seu senhor. Os menos sortudos eram levados às fazendas de escravos,onde trabalhavam sob as ordens de um feitor e o máximo que podiam esperar era ter umaparcela de terra para trabalhar em proveito próprio.

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Com a passagem do tempo, a maior parte dos escravos adquiria, naprática, a maioria dos direitos dos livres: podiam ir e vir, receber heranças,acumular propriedades. Os que os distinguiam do senhor era pura e simples-mente a impossibilidade de casar com mulheres livres e a participação emassuntos políticos

.

A Vida “Urbana”

 As construções da África subsaariana eram de uma arquitetura simples, mas com-plexa na sua preparação. Na cidade ou no campo era comum se encontrarem construçõesnas quais se misturavam barro e dendê. Por causa do uso de materiais pouco resistentes,vários edifícios desapareceram sem deixar nenhuma marca. Os desastres naturais destruíramvárias cidades-estados e impérios, além do colonialismo que desfigurou várias cidades,imprimindo-lhes a marca dominadora européia. Mesmo assim, escavações arqueológicasrecentes vêm revelando grandes centros urbanos na região do Congo e Tchad, entre outros.

 Além da importância do comércio, a maior parte destas cidades estava estruturadasegundo um esquema arquitetônico que compreendia mercados, lugares de culto, praçaspara reunião, quarteirões especializados, casernas, portos, edifícios administrativos e, àsvezes, palácios reais. A vida urbana era regida por várias atividades lúdicas: cantos, jogos,danças, sem falar nas cerimônias religiosas tradicionais. Ela estava fundamentada naorganização familiar, na divisão de funções entre homens e mulheres, velhos e crianças. Olugar dos estrangeiros era sempre definido por convenções especiais.

 A educação ocupava um importante papel na vida urbana. Cadaaspecto da vida cotidiana permitia uma forma de aprendizado. A

formação da juventude seguia um programa preciso e cuidava daaquisição de virtudes morais, habilidades manuais, técnicas e guerreiras,atividades artesanais, comerciais ou místicas. Esse aprendizado incluíatambém o desenvolvimento corporal, a sociabilidade, a obediência àordem, o respeito à parentela, laços de sangue e autoridade. Aeducação se fazia oralmente ou através do exemplo, mesmo quealgumas populações conhecessem e utilizassem a escrita. Oobjetivo final era perpetuar a memória coletiva, fazendo com que aidentidade étnica fosse perpetuada.

 A ordem era mantida através de sanções legais que iam desde o exílio até mesmo ámorte. Magistrados cuidadosamente escolhidos aplicavam regras de conduta, códigos eprocedimentos judiciários, tribunais, o que garantia bem estar e segurança à comunidade.

No campo cultural, existia uma grande variedade que incluía dança, canto, poesia,astronomia, artes das vestimentas, arquitetura, pintura, escultura e jogos. Os povos da África Atlântica apresentavam um alto grau de desenvolvimento social, comprovado pelaorganização dos estados, a estrutura dos poderes e suas respectivas relações, os grausde refinamento de técnicas comerciais, financeiras e monetárias.

No campo da técnica destacavam-se pelo domínio da metalurgia do ferro, do cobre

e do ouro. Nas artes náuticas e da guerra, sobressaíam-se pela composição dos exércitose das armas, a prática da linguagem codificada, a utilização de abelhas e venenos especiaiscontra os inimigos, além de vários outros tipos de informações sobre a natureza, os seresvivos e o clima.

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É bom lembrar que:

“O conceito de África implica em...

...não conceber o Mar Oceano apenas como espaço vinculador, mas o deenglobá-lo. ... O sistema de exploração colonial português seria assim, no Atlântico

Sul, unificado, compreendendo, nos dois lados do mar, como se entre eles nãohouvesse interrupção, de um lado, o de cá, enclaves de produção – os engenhosde açúcar, as minas de ouro, os rebanhos bovinos – fundado no trabalho escravo e,no outro, o de lá, áreas nas quais se produzia e reproduzia a mão-de-obra servil.”

Fonte: COSTA E SILVA, Alberto. Discurso do acadêmico (Prêmio José Ermírio de Moraes). Revista Brasileira. 2001, n. 28 (VII), p. 105 

Como ent ender a Áfr ica a part ir do estudo dealguns dos seus reinos: Os Reinos do Vale do Níger

A cidade de Jene

Na década de setenta do século XX,arqueólogos americanos iniciaramescavações na região do delta interior do rio

Níger, numa grande planície situada hoje noMali, que é anualmente inundada. Trêsquilômetros ao sul da atual cidade de Jenefoi localizada uma antiga cidade completa-mente abandonada, que chegou a ocupar uma área de 33 hectares e era cercada por uma muralha de quase dois quilômetros deextensão, com mais de três metros de largurae mais de quatro metros de altura. As pesqui-sas feitas permitem estabelecer que ela era

uma grande cidade três séculos antes da eracristã, com uma população que trabalhava oferro e dedicava-se ao comér-cio. Vale lem-brar que, nesse tempo não havia em Portugal,na França ou na Alemanha nenhum lugar quemerecesse o nome de cidade. No período

do seu apogeu – entre os anos 750 e 1150da nossa era – ela chegou a contar com maisde vinte mil habitantes. A produção de

alimentos era especialmente rica em peixes,gado e cereais, com o destaque para o arroz.Ligava-se à cidade de Tombuctu (no atualMali), através de uma rede de 500 quilôme-tros de vias fluviais navegáveis. A produçãode alimentos e o artesanato foram osprincipais motivos do seu sucesso. Em tornodo ano de 1.400 d.C, a elite da populaçãoconverteu-se ao islamismo, a cidade muradafoi abandonada, sendo construída uma nova

capital em suas proximidades. A falta dedocumentos escritos e a perda da memóriaoral, por conta das migrações e das guerras,não nos permite hoje conhecer maisprofundamente a história da antiga cidadede Jene.

Reino do Ile-Ifé

 A cidade de Ilê-Ifé é considerada pelos yorubas o lugar de origem de suas primeirastribos. lfé é o berço de toda religião tradicional yoruba (a religião dos Orixás, o Candomblédo Brasil),é um lugar sagrado, onde os deuses, ao chegarem, criaram e povoaram o mundoe, depois, ensinaram aos mortais como os cultuarem, nos primórdios da civilização. Ilê-Iféé o “Berço da Terra”.

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No século XVII, o povo Fom divide-se em três reinos: Alada, Porto Novo e Dahomey,este último acabará absorvendo aos outros dois. No século XVIII ,o reino de Dahomey sofrea invasão dos iorubas procedentes do Níger, e isso propicia a intervenção dos Estadoseuropeus. Esta intervenção foi aproveitada para potenciar o comércio de escravos, chegandoa conhecer-se este território na segunda metade do século como a “Costa dos Escravos” -inclusive construiram-se fortes para assegurar este comércio. No interior, os reinos de Savalu,

Fitta, Bariba ou Savé viveram fugindo destas incursões escravistas e tiveram uma existênciamenos duradoura que o Reino de Dahomey.

Mesmo como um Estado vassalo, o Daomé continuou a expandir e florescer atravésdo comércio escravista e, mais tarde, através da exportação de azeite de dendê produzidoem grandes plantações. Pela estrutura econômica do reino, a terra pertencia ao rei, quedetinha o monopólio de todo o comércio.

Império do Mali

“Raramente os livros didáticos de História registram fatos relacionados coma História da África Negra e, quando o fazem, é quase sempre no prisma dadesqualificação e do preconceito. Uma das lacunas mais notórias é a relacionadacom os grandes impérios negros que surgiram na faixa do Sahel. A palavra Sahel éproveniente do árabe, significando Borda do Deserto, que no caso é a do Saara.

A área caracteriza-se pela presença de vastas extensões de savanas, sendoconhecida como Sudão. Esta enorme porção da África presenciou, particularmentena sua porção ocidental, o surgimento de grandes Impérios, caso do Ghana, Mali eSonghai. Destes, o Mali ocupou uma posição de destaque.”

Fonte: Prof. Maurício Waldman www.casadeculturadamulhernegra.org.br 

O Mali era governado pelos Mansas, isto é, imperadores. Seu surgimento relaciona-se com os feitos que cercam a memória do primeiro Mansa, Sundjata Keita. A vitória deSundjata sobre Suamoro Kantê, o Rei do Sosso, na Batalha de Kirina (1235 d.C.), foi omarco fundamental para a criação do Império, ampliado pelos seus sucessores, perdurandoaté o século XV.

O Mali tornou-se um poderoso Estado, configurando um respeitável arranjo territorial,alcançando o Atlântico e o curso médio do Níger no sentido Leste-Oeste, e o Saara e aFloresta Equatorial no sentido Norte-Sul.

 As realizações do reinado de Sundjata (1230 e 1255 d.C.), foram preservadas graçasao trabalho dos griots. O griot corresponde aos contadores de histórias que imemorialmentepercorrem a savana, na tarefa de transmitir ao povo os dados fundamentais da sua História.

O interesse pelo Império do Mali decorre, em particular, do fato deste Estado Africanoter constituído uma das mais notáveis construções políticas da História da Humanidade. OImpério, drenado pelo curso de grandes rios (Senegal e Níger), espalhava-se pela Savanae partes do Saara e da floresta pluvial. Com base nesta posição geográfica, o Mali controlouum emaranhado de rotas comerciais, na direção da Guiné, do Sudão Oriental, do Magreb edo Egito, todas de antiguidade no mínimo remota.

Na direção do Golfo da Guiné, estes caminhos decorriam do velho comérciotradicional que associava a savana à floresta tropical e ao baixo Níger. Quanto às rotas que

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cruzavam o Saara, igualmente eram muito antigas. Pinturas rupestresassinalam contatos pré-históricos entre o Mediterrâneo e a África Negra. Istoposto, temos que o deserto jamais constituiu uma verdadeira barreira e, quandomuito, exerceu apenas um papel de filtro.

No que diz respeito à vida urbana, a arqueologia comprova velha e

florescente urbanização. A cidade de Djenne-Djeno, situada no vale do Níger,remonta, por exemplo, ao Século III a.C. e seus mercadores já transitavam desde os séculosV e VI d.C. no espaço da savana sudanesa.

O Mali, compreendendo no apogeu uma vasta extensão territorial, aglutinava célulasespaciais ajustadas a diferentes frações do meio ambiente, formando algo como um mosaicode recursos complementares. Além da agricultura, da criação, da pesca, da caça, doartesanato e do comércio, ganhou destaque a mineração do ouro, retirado dos fabulososveios de Galam, do Burée e do Bambouk, suscitando no imaginário europeu a imagem deum Rei do Ouro: o Mansa do Mali.

Especialmente Mussa I, um sucessor de Sundjata, difundiu esta imagem pelo mundoárabe. Em sua peregrinação a Meca, Mussa I fez-se acompanhar de nada menos que 60.000carregadores e de 500 servidores, todos com vestimentas recamadas de ouro, segurandocada um deles uma bengala também de ouro. No trajeto, este rei distribuiu tanto ouro que opreço do metal declinou em todo o mundo conhecido durante mais de dez anos

Graças a sua prosperidade, o Mali alcançou uma população de 40/50 milhões dehabitantes, que, segundo todos os informes, desconhecia a carestia. Mesmo em termos deuma demografia contemporânea, este contingente populacional é uma cifra nada desprezível.O grande império fragmentou-se, depois, em cinco reinos, perdendo uma grande parte doterritório, ao ocidente, para o império Songaí em 1449. O império Songaí depois viria a seconverter num dos maiores império da África Ocidental que, por sua vez, veio a ser conquistado pelo reino do Marrocos, tendo grande parte da população escravizada e vendidaaos europeus para o trabalho no novo Mundo. Hoje, uma parte do povo malinque vive nospaíses denominados Mali e Burquina-Fasso.

A influência da religião islâmica na África

Por ser um continente extenso, diversas religiões manifestaram-se na África, ao longo

da história. Nas partes mais próximas à Europa e a Ásia, foi signifi-cativa a influência do judaísmo. Essa religião se espalhou por várias cidades do norte do continente africano, pelas rotas docomércio que saiam da Palestina, desde pelo menos o séc.V a.C. Em direção ao sul, os judeus chegaram à fronteiranorte do império Kush também por volta do século V a.C.Os judeus, no entanto, nunca tiveram a pretensão deconverter grandes massas populacionais.

Mais tarde, o cristianismo e o islamismo se fizeram presentes na África de forma

intensa. O cristianismo logo passou a ser a religião dominante no império de Axum. Aindaassim, o cristianismo só entrou na África de maneira mais definitiva depois do século XV.Já o império Islâmico conquistou no século VIII, todo o norte africano e a região do desertodo Saara, convertendo milhares de pessoas.

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Na África Ocidental, junto à costa do Atlântico, assim como na África meridional,outras religiões e crenças se desenvolveramao longo dos anos. Seus habitantes atribuíama elementos da natureza – vegetais, animais,rios ou fenômenos naturais – um caráter 

sagrado. Essas práticas – conhecidas comototemismo e animismo – visavam celebrar tais elementos e promover a união maisperfeita entre os seres humanos e a natureza.Essas práticas religiosas estão presentesaté os dias de hoje no continente.

 A diversidade religiosa da África, naatualidade, reflete uma série de fatos histó-ricos. Os africanos que vivem na região do

Sudão são quase todos muçulmanos, salvouma minoria egípcia de cristãos. Da mesmamaneira, a região do Corno da África e dacosta oriental africana tanto no sul como nonorte de Moçambique são islâmicas, apesar de no centro da Etiópia se encontrar estabe-lecida uma antiga igreja que mantém estrei-tos vínculos com a egípcia. A sul e a lestedestas zonas, quase totalmente islâmicas háregiões onde os muçulmanos estão em ma-ioria ou formam uma poderosa minoria. Nooeste da Nigéria e na Tanzânia há populaçõesrurais islamizadas e, nas cidades grandes epequenas de todo o continente, os muçulma-nos constituem uma importante minoria.

Generalizando-se, poderia dizer-seque o cristianismo e o islã são as religiõesdas cidades, apesar de haver muitasexceções. Em qualquer caso é difícil para oshomens e mulheres levarem consigo a suareligião tradicional – tão vinculada a uma

localidade, aos templos locais e à comu-nidade local – quando mudam de residência.Um dos pilares das duas religiões universaisfoi a sua capacidade para unir gentes dosmais diversos meios culturais. E assim, emmuitos lugares o cristianismo ou o islã torna-ram-se, com a passagem de poucas gera-ções, na religião popular de uma zona rural.

O islã, tal como o cristianismo, pene-

trou em África pouco depois do seu nas-cimento; já no ano de 640, oito anos após amorte de Maomé, alguns dos seus segui-dores iniciaram a conquista do Egito. Osprimeiros muçulmanos não chegaram comomissionários, mas como soldados e colonose devido ao opressivo governo do Bizâncio,muitas vezes foram acolhidos como liber-tadores. Apesar de alguns pensarem o con-trário, não impuseram sua religião à popula-ção local e mostraram-se particularmentetolerantes com os judeus e os cristãos, quenão eram idólatras. Mas com a passagemdos anos, como resultado de casamentos epara se libertarem em parte dos impos-tos,muitos cristãos tornaram-se muçulmanos.

Depois do Oriente Médio, do subcontinente indiano e do sudeste asiático, a Áfricase constitui numa quarta região que, apesar de menos importante no passado muçulmano,vem adquirindo cada vez mais relevância no contexto do chamado mundo islâmico. O númerode muçulmanos na África é, na atualidade, estimado em mais de 300 milhões, cerca de

27% do total dos seguidores da religião criada pelo profeta Maomé.

 A islamização no continente africano se difundiu muito mais pelo comércio e pelamigração do que por conquista militar. A expansão do islã na África seguiu três direções: donoroeste do continente (região do Magreb), ela avançou pelo Saara e alcançou a ÁfricaOcidental. A segunda direção foi aquela que, partindo do baixo para o alto vale do Nilo,chegou ao nordeste da África (península da Somália e arredores). Por fim, comerciantesoriginários da porção sul-sudoeste da Península Arábica e imigrantes do subcontinenteindiano, criaram assentamentos no litoral do Índico e, dali, difundiram a presença muçulmanapara o interior.

O islamismo fez sua entrada no continente a partir da África do Norte, do Egito aoMarrocos, sendo uma das primeiras regiões a ser conquistadas pela expansão inicial árabe-islâmica (séculos VII e VIII). Dos séculos X a XVI, mercadores muçulmanos contribuíram

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para o surgimento de importantes reinos na África Ocidental, que floresceramgraças ao comércio feito por caravanas que, atravessando o Saara, punhamem contato o mundo mediterrâneo ao das estepes e savanas do Sudão Ociden-tal e África centro-ocidental. A conversão de monarcas africanos fez não só oislã avançar, como criou uma florescente cultura. Assim, a cidade de Tumbuktu(no atual Máli) era, no séc. XIV, um núcleo urbano conhecido pelo alto nível de

suas escolas islâmicas, que atraíam muçulmanos de várias partes do mundo.

Na porção oriental do continente, comerciantes árabes conseguiram se fixar junto aolitoral do Índico, levando a gradual conversão de grupos africanos que viviam em áreas daatual Eritréia e do leste da Etiópia. Todavia, os reinos cristãos do alto vale do Nilo conseguirambloquear por séculos o avanço muçulmano, como foi o caso dos grupos etíopes, ocupantesdos altos planaltos da Etiópia. Nos séculos seguintes, a cultura árabe-muçulmana influenciariagrupos bantos que estavam em processo de expansão para a África oriental e meridional.

Paralelamente, comerciantes árabes cruzaram o Oceano Índico e criaram, do Corno

da África ao atual Moçambique, um conjunto de importantes cidades-Estado e fortalezas, junto ao litoral e nas ilhas, cujo comércio de ouro se manteve até o início da presençaportuguesa no século XVI. Às vésperas do início da colonização européia, o islã se constituíana principal presença “importada” no continente, presença esta que já estava fortementeintegrada às sociedades africanas.

Esquematicamente, podemos assim resumir as etapas da islamização da África:

I - etapa: depois da conquista árabe do Egito, o islã propagou-se lentamente entreos habitantes da costa e do interior do norte da África. Finalmente, deixando a parte oEgito, a África Setentrional islamizou-se profundamente no que diz respeito à religião, àcultura e ao direito. O islã foi adotado como religião estatal e assim continua na atualidade.

II - etapa: numa segunda fase, o islã difundiu-se através do Saara e penetrou noocidente africano e, subindo o Nilo, no Sudão. Os seus divulgadores durante este períodoeram comerciantes e homens de religião, que, muitas vezes, se estabeleciam nos arredoresda África Ocidental, onde abriam suas mesquitas e escolas e onde permaneciam um tantoafastados da população local. as classes dirigentes em geral adotaram a nova religião,enquanto as pessoas do campo ficaram à margem. O islã também se deslocou pela costaoriental, levado por navegantes árabes, alguns dos quais fundaram as cidades na costa ouse estabeleceram nelas. Houve também ali uma população local urbana que se tornou

muçulmana. Mas nesta época, na África oriental e ocidental, o islã manteve-se como religiãoparalela, mais do que como uma religião de substituição das crenças tradicionais africanas.

III - etapa: a partir de meados do século XVIII iniciou-se uma nova fase. Elacaracterizou-se da tariqa, irmandade religiosa fundada por reformadores carismáticos. Osmembros da tariqa têm suas próprias formas de devoção e praticam também as oraçõesobrigatórias. Outra inovação que se reconhece nessa fase foi um exclusivismo e umaagressividade renovadas; não eram tolerados as tradições e os costumes africanos.Osdirigentes desse grupo eram em muitos casos homens de religião, gente que havia estudadoe viajado pelo mundo islâmico. O seu propósito era limpar e purificar a religião dos seus

irmãos e atrair outros à fé, se necessário pela força, pondo em prática o conceito da guerrasanta. Nas regiões onde se produziram esses movimentos, a estrutura da sociedade ficouprofundamente islamizada e apesar de o Islã ter se tornado religião do Estado, um grandenúmero de pessoas permaneceu à margem da fé.

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IV etapa: essa nova fase iniciada em meados do século XVIII surge com a expansãoda influência ocidental e com a imposição de novos regimes coloniais. Nas cidades epovoações de toda a África, o Islã tornou-se uma forma de adaptação para o emigrante queentrava numa comunidade de adaptação para o emigrante que entrava numa comunidadetransétnica urbana. Ao contrário do cristianismo, o islã não gozava da vantagem de fazer propaganda através de suas escolas missionárias, apesar de também não ter a desvantagem

de ser ligada ao colonizador. Algumas comunidades rurais, ao final do século XIX, adotaramtambém o islã. No entanto, nas regiões pelas quais o islamismo se expandiu nessa fasetiveram que enfrentar uma competição com o cristianismo e com a religião tradicional.

TEXTO COMPLEMENTAR

O islã na África após 1800

No século XIX, o impacto colonial mudou profundamente o quadro existenteaté então. Colonialistas europeus - franceses e britânicos, além de belgas, italianose portugueses – criaram e consolidaram impérios concorrentes que puseram fimaos “Estados” islâmicos independentes. Os ingleses, que até o século anteriorhaviam sido os principais organizadores do tráfico negreiro, passaram a impor oseu fim e, onde foi possível, aboliram a escravidão. A diminuição do comércio deescravos trouxe conseqüências negativas para as elites escravistas muçulmanas,desestruturando as estruturas estatais existentes.

A Grã Bretanha concentrou suas energias colonizadoras no projetogeopolítico de manter um domínio territorial contínuo, “do Cairo (Egito) até a cidadedo Cabo (África do Sul)”, eliminando eventuais “Estados” muçulmanos que estavamno caminho. Por outro lado, em algumas áreas da África Oriental, os britânicospromoveram a vinda de trabalhadores rurais muçulmanos originários das Índiasbritânicas para regiões das atuais Uganda e África do Sul.

A evolução do colonialismo nas regiões da África muçulmana gerou umasituação paradoxal: ao mesmo tempo em que os muçulmanos perdiam poder político,o islamismo teve um crescimento sem precedentes. Tribos inteiras se converteram.Isso ocorreu no contexto das rápidas transformações socioeconômicas

engendradas pela colonização.A urbanização e o enfraquecimento das tradições familiares e sociais, basesfundamentais das culturas africanas, geraram um ambiente conturbado quebeneficiou o islã, religião que combina o universalismo de sua mensagem com umaideologia de clara oposição ao Ocidente imperialista. Aliás, é essa combinação queexplica, em grande medida, a condição do islamismo ser, na atualidade, a religiãocom o maior ritmo de crescimento em todo o mundo.

Fonte:http://www.clubemundo.com.br 

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Escravidão, tráfico e resistência

Adeus à hora da largada(Agostinho Neto) 

Minha Mãe

(todas as mães negrascujos filhos partiram)tu me ensinaste a esperarcomo esperaste nas horas difíceisMas a vidamatou em mim essa mística esperança

Eu já não esperosou aquele por quem se esperaSou eu minha Mãe

a esperança somos nósos teus filhospartidos para uma fé que alimenta a vida

Hojesomos as crianças nuas das senzalas do matoos garotos sem escola a jogar a bola de traposnos areais ao meio-diasomos nós mesmosos contratados a queimar vidas nos cafezaisos homens negros ignorantesque devem respeitar o homem brancoe temer o ricosomos os teus filhosdos bairros de pretosalém aonde não chega a luz elétricaos homens bêbedos a cairabandonados ao ritmo dum batuque de morteteus filhoscom fomecom sede

com vergonha de te chamarmos Mãecom medo de atravessar as ruascom medo dos homensnós mesmos

Amanhãentoaremos hinos à liberdadequando comemorarmosa data da abolição desta escravaturaNós vamos em busca de luz

os teus filhos Mãe(todas as mães negrascujos filhos partiram)Vão em busca de vida.

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A escravidão africana

Mesmo antes da chegada dos trafi-cantes de escravos europeus, os árabes, por meio de incursões armadas, já praticavam ocomércio negreiro, transportando escravos

para a Arábia e para os mercados do Mediter-râneo Oriental, para satisfazer as exigênciados sultões e dos xeques. As guerras tribaisafricanas, por sua vez, favoreciam esse tipode comércio, visto que a tribo derrotada eravendida aos mercadores. Os homens para ostrabalhos pesados, as mulheres para concubinas ou trabalhos domésticos e os eunucospara servirem como guarda dos haréns ou como funcionários reais.

O número de camponeses escravos era pequeno: eles trabalhavam nas terras do

imperador e das grandes famílias nobres. A maioria pertencia a tribos subjugadas no inícioda expansão imperial, que, por tradição, continuavam presas a essa condição. Para manter essa situação, os membros dessas tribos eram proibidos de casar com estrangeiros.

Outra forma de escravização consistia em uma prática antiga entre os africanos: osvencedores de uma guerra tinham o direito de levar parte dos derrotados para trabalhar emsua terra. Contudo, o escravo levava uma vida parecida com a dos homens livres: trabalhavalado a lado com eles, mantinha suas tradições e, muitas vezes, alcançava a liberdade aolutar junto dos guerreiros da tribo. Com a expansão dos impérios e o domínio de outrastribos inimigas, o número de escravos tendeu a aumentar, mas nunca se equiparou ao decamponeses livres. A maioria desses escravos permanecia nas cidades, executando tarefasdomésticas nas casas dos nobres ou grandes comerciantes. Apenas nos séculos XV eXVI, com a chegada dos europeus, a escravidão assumiu grandes proporções na África eao mesmo tempo tomou uma nova configuração.

 Entre os escravos da costa ocidental havia escravos obtidos por meio de dívidas, de

guerra ou de compra. Em geral, eles eram destinados aos trabalhos na agricultura ou nasminas. Assim, o dono dos escravos podia usá-los para abrir uma clareira na mata e aliestabelecer famílias que lhe seriam submissas. Com isso, esse proletário aumentava seuprestígio e obtinha mais homens para guerrear e conquistar novos territórios. os escravosgeralmente viviam junto ou próximo à família do proprietário. Seus filhos não podiam ser 

vendidos e, às vezes, tornavam-se parte da família.

Entretanto, a escravidão entre os negros da costa não era uma instituição regular nem de uso muito intenso. Ela era muito diferente da escravidão da era moderna: esta,criada na América pelo capitalismo mercantilista, transformara o escravo em objeto. Delese exigia uma intensa produção para exportação, a fim de satisfazer as necessidadescapitalistas de acumular lucro.

Com os portugueses o tráfico passou a ser também feito pelo Atlântico. Há notíciasde que já em 1455 o escudeiro do infante Dom Henrique levou 235 africanos escravizados

para Lisboa, recebendo como pagamento um quinto deles. Os africanos passaram atrabalhar na Europa, nas plantações de cana-de-açúcar nas Canárias espanholas e nascolônias portuguesas de Madeira, Açores e Cabo verde.

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Históriada África

Depois, com a colonização da América, esse tráfico cresceu de formanunca vista. Era uma atividade tão lucrativa que comerciantes formavamassociações para traficar escravos. Alguns reis europeus não se contentavamcom os impostos cobrados sobre esse comércio e participavam diretamentedo tráfico, no qual até religiosos se envolveram.

No século XVII, os holandeses entraram em guerra com os portugueses,na célebre “guerra do açúcar”, da qual resultaram as invasões holandesas ao Brasil. Por conta dela tomaram alguns pontos africanos de tráfico como a Costa do Ouro, São Jorgeda Mina e a costa de Angola. No século seguinte os ingleses superaram estes dois primeiros.Segundo o economista Roberto Simonsen, depois dos metais preciosos e do açúcar, otráfico negreiro era o negócio mais rentável da época.

Os escravos

 A fragmentação política é uma das chaves para entender a escravidão e o sucesso

do empreendimento europeu no continente africano. Frequentemente, os escravos eramprisioneiros de guerras entre estados e reinos rivais. Além disso, não se pode negar aexistência da escravidão já no período colonial, bem antes do desembarque dos europeusno continente.

É importante reconhecer as especificidades locais da escravidão. Na antiga África Atlântica, a escravidão era doméstica, ou de “linhagem” ou de “parentesco”. Essa definiçãoreconhece que o trabalho cativo só tornou-se comercial a partir da chegada dos colonoseuropeus, com o estabelecimento de fazendas monocultoras, voltadas para a exportação.

O tráfico internacional de escravos vai se apropriar dessa tradição e transformar a África Atlântica em fornecedora de mão-de-obra para lavouras e minas localizadas no outrolado do oceano. O resto do continente teve pouquíssima importância no comércio negreiropara a América. Moçambique e Madagascar, responsáveis por 10% do total de escravostraficados, teve 2/3 deles destinados ao mercado muçulmano.

 A eficácia e a abrangência do tráfico não teria sido alcançada se não houvesse acumplicidade das sociedades africanas. Nessas regiões, a escravidão não era apenaspara os prisioneiros de guerra. Era também para os endividados, dos criminosos, dos filhosilegítimos, das mulheres adúlteras ou acusadas de bruxaria. Esses cativos eram integradosao grupo familiar senhorial, em condições de subordinação e, ao cabo de algumas gerações,tornavam-se homens livres. Um homem podia aumentar o número de esposas comprandouma escrava e aumentando, assim, o numero de suas trabalhadoras agrícolas. O filho dessaunião era considerado como livre.

 Adquirir escravos era uma forma de aumentar a mão-de-obra familiar.. mesmo quehouvesse uma grande integração do escravo a esse grupo familiar, tenhamos em vista quemuita crueldade existia no trato deles. Alberto da Costa e Silva cita, por exemplo, os eunucos,freqüentes na administração dos palácios e dos haréns e cuja castração levava à morte de,no mínimo, 80% dos que eram submetidos a ela.

Outro tipo de escravos eram aqueles destinados ao sacrifício real. A matança deescravos era uma forma de ostentar riquezas, embora também fosse o meio mais práticode eliminar a rebeldia.

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 Apesar das mudanças ocorridas entre os séculos XV e XIX, a escravidão tradicionalna África Atlântica sobreviveu durante muito tempo. Seu caráter de integração fazia comque os escravos fossem encontrados em funções que não eram identificadas nas áreas doescravismo colonial. Senão, vejamos:

Em Mali e Kano, os escravos ocupavam altos cargos de estado;

Em Oió, eram cobradores de impostos;Em Mali, formavam a guarda pessoal do rei;Em Querma, Meroé, Axum e Gana constituíam a base do exército.

Obviamente, ser “escravo” nessas regiões não significava estar submetidos aosrigores de uma fazenda de engenho ou a uma mina de ouro na América colonial. Mesmoassim, não vamos esquecer que, graças à existência da escravidão pré-colonial na África Atlântica é que os navios negreiros puderam ser abastecidos rapidamente. Os europeusnão inventaram a escravidão, apenas a destinaram para um fim comercial.

 

Tráfico de escravos africanos

Estima-se que, dos africanos trazidos para a América entre 1500 e 1867, os EstadosUnidos e as Antilhas britânicas tenham recebido cerca de 35%; as Antilhas espanholas,holandesas, francesas, as Guianas e a América espanhola, 33%; e para o Brasil tenhamvindo 32%. O tráfico foi o principal responsável pelo vazio demográfico que acometeu a África no século XIX.

Os traficantes de escravos obtinham essa “mercadoria” diretamente de chefes tribaisafricanos ou de intermediários, chamados de “pombeiros”. Para conseguir prisioneiros,

que seriam transformados em escravos, os pombeiros estimulavam a guerra tribal, chegandoa organizar colunas militares formadas por europeus, mulatos e aliados negros para guerrear.

Entre os séculos XV e XIX, o contato entre osnavegantes europeus e o continente negro fazia comque a África fosse vista apenas como reserva demão-de-obra escrava. Traficantes de quase todasas nacionalidades montaram feitorias nas costas da África. As simples incursões piratas que visavam,inicialmente, atacar de surpresa o litoral e apresar omaior número possível de gente, foi dando lugar aum processo mais elaborado.

Com o crescimento da procura de mão-de-obra, motivada pela instalação de colônias agrícolasna América, os mercadores europeus associaram-se militar e financeiramente aos sobas e regulas africanos, que viviam nas costas marítimas, dando-lhes armas, pólvora e cavalos para que afirmassemsua autoridade na extensão maior possível. Osprisioneiros que eles conseguiam capturar eram

trazidos do interior do continente e, agrilhoados,ficavam encarcerados em “barracões”, em armazénscosteiros construídos nas feitorias de escravos, onde

aguardavam a chegada dos naviostumbeiros ou negreiros que oslevariam como carga humana, pelasrotas transatlânticas.

Os principais pontos de abas-tecimento de escravos , pelo menosentre os séculos XVII e XVIII,eram o

Senegal, Gâmbia, a Costa do ouro ea Costa dos escravos. O delta do Ní-ger, o Congo e Angola foram grandesexportadores nos séculos XVIII e IX.

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Resistência

 A quebra dos padrões tradicionais de escravidão gerou muitaresistência. Os cativos africanos jamais aceitaram o tráfico. Algumasresistências individuais devem ter existido, porém são as coletivas que maischamam a atenção, principalmente aquelas acontecidas nos locais de

embarque. Várias fugas de escravos formaram zonas de libertos nos arredoresdos portos de embarque. Rebeliões nos navios, antes de eles zarparem, foram várias. Ascrises políticas também facilitavam as fugas.

Outros fatos interessantes referem-se, por exemplo, aos estados muçulmanos, queprotegiam seus cidadãos da escravização. Os reis africanos resistiam ás exigênciaseuropéias aumentando os preços, interditando o tráfico por certo período. A maior partedas vezes, porém, os Estados africanos entravam em concorrência uns com os outros,produzindo guerras das quais os traficantes europeus se aproveitavam.

Numerosas foram as revoltas nos navios negreiros. Várias fontes históricas revelamdiferentes formas de suicídio ou tentativas de evasão. Participar de pirataria também erauma forma de resistência.

No final do século XVIII, apesar das dificuldades encontradas, as formas de resistênciados escravos africanos deram aos iluministas argumentos sobre os males do tráfico.

Concluindo, precisamos lembrar que nem todas as regiões da África sofreram domal do tráfico negreiro. A África Atlântica era um território específico. O tráfico marcoumanifestamente as sociedades do litoral, que dele tiravam sua sobrevivência.

É bom lembrar que:

“O conceito de escravidão pode ser assim definido:Dado fundamental do sistema escravista, a dessocialização, processo em que

o indivíduo é capturado e apartado de sua comunidade nativa, se completa com adespersonalização, na qual o cativo é convertido em mercadoria na seqüência dareificação, da coisificação, levada a efeito na sociedade escravista.”

Fonte; ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: Formação do brasil no Atlântico Sul. São Paulo. Companhia das Letras. 2000,p.144 

TEXTO COMPLEMENTAR

Rainha NZINGA

Nasceu no Ndongo Oriental (hoje Angola), em 1582. Embaixatriz em Luanda,durante o reinado do seu irmão, travou luta sem quartel durante trinta anos, contra

os portugueses, pela independência da sua gente e pela sobrevivência do seu reino.Com a morte do irmão, torna-se a rainha de Ndongo e, para enfrentar os portugueses,forma uma tríplice aliança com o Rei do Congo e os holandeses.

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Tendo um compromisso total com a libertação de Angola, Nzinga foi durantetoda a sua vida a personalidade mais importante desse país e é reverenciada comosendo uma das inspirações do nacionalismo angolano atual, não só pela resistênciaaos invasores, como pela sua habilidade diplomática e sua altivez.

Um episódio revela bem essas qualidades: quando se apresenta como em-

baixatriz em Luanda, o governador recebe-a numa sala onde havia apenas umacadeira e uma almofada. O governador oferece-lhe a almofada, o que Nzinga recusapor ofender a sua dignidade real e senta-se no corpo, ajoelhada, de um dos acom-panhantes da sua corte, eliminando a posição de inferioridade que sutilmente lheera oferecida pelo governador. Em seguida, discutiu um acordo de respeito àsoberania do seu reino, expressando-se na língua portuguesa com perfeição. Oefeito dessas atitudes causou um impacto psicológico que a levou a conseguir umavitória diplomática nessa ocasião.

Sempre foi muito respeitada pela estratégia que empregava e que se apro-ximava da moderna guerrilha. Essa tática de luta influenciou diretamente osquilombos de Palmares, já que os negros palmarinos eram foragidos dos Estadosde Pernambuco e Alagoas, região para onde foram trazidos os africanos de Angola.

Nzinga morreu em 1663, mas no Nordeste brasileiro sua imagem sobreviveno folclore negro, especialmente nos congos e congadas, onde ela é a Rainha Jinga(Ginga).

Fonte: Cartilha “Mulher Negra tem História” - Alzira Rufino, Nilza Iraci, Maria Rosa Pereira, 1987, Santos; 

Roy Glasgow - “Nzinga”- ed. Perspectiva, Col. Debates - 1982 - SP.

1 .....Caracterize as formas de organização familiar das sociedades ocidentais africanas.

 Atividades Atividades Atividades Atividades AtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

 2 .....Estabeleça uma comparação entre as práticas escravistas ocorridas na África e aintroduzida pelos europeus em suas colônias.

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3 .....Explique o papel desempenhado pela religiosidade africana enquantoestratégia de resistência à escravidão.

4 .....Identifique as principais formas de organização política encontradas na África antesda chegada dos europeus.

5 .....Comente os argumentos usados pelos europeus para justificar a escravidão dosafricanos.

SESSÃO DE CINEMA

Amor Sem Fronteiras (Beyond Borders, EUA/ING, 2003). Dirigido por Martin Campbell. Com: AngelinaJolie, Clive Owen, Noah Emmerich, Linus Roache, TeriPolo, Yorick van Wageningen, Timothy West, BurtKwouk.

Logo no início de Amor Sem Fronteiras, o mé-dico Nick Callahan, interpretado por Clive Owen, invadeuma festa beneficente com o objetivo de protestar contraa hipocrisia de seu organizador, que havia cancelado,por motivos políticos, a verba destinada à ajuda huma-nitária na Etiópia. O forte discurso de Callahan provocaum impacto visível na socialite Sarah Jordan (AngelinaJolie), que decide doar 40 mil libras em alimentos parao acampamento chefiado pelo médico – os quais elaresolve entregar pessoalmente, partindo para a Áfricasob os moderados protestos do marido. Lá, Sarah sedepara com uma realidade desesperadora e conhece atragédia da fome, que transforma seres humanos emesqueletos semi-vivos atormentados pela dor constante – e a aparência assustadora de uma criança à beira da

morte (numa recriação da premiada fotografia tirada noSudão por Kevin Carter, em 1993). Demonstra a coragemda produção em chocar o espectador com imagens ver-dadeiras, que parecem ter saído de um filme de terror.

Amistad (Amistad, EUA, 1997). Dirigidopor Steven Spielberg. Com Morgan Freeman, Anthony Hopkins, Matthew McConaughey, NigelHawthorne, Djmon Housou, David Paymer, AnnaPaquin; 162 min.

Em 1839 dezenas de africanos a bordo donavio negreiro espanhol La Amistad matam a maior parte da tripulação e obrigam os sobreviventes alevá-los de volta à África.

Enganados, desembarcam na costa lestedos Estados Unidos, onde, acusados de assas-sínios, são presos, iniciando um longo e polêmicoprocesso, num período onde as divergênciasinternas do país entre o norte abolicionista e o sulescravista, caracterizavam o prenúncio da Guerrade Secessão. O filme mostra o processo de julga-mento de negros nos Estados Unidos, 22 anosantes do início da Guerra Civil, num contexto

marcado pelo expansionismo em direção ao Oestee pelo acirramento das divergências do norteprotecionista, industrial e abolicionista, com o sullivre-cambista, agroexportador e escravista.

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 A história tradicional e oficial quando fala da África “desconhece” e jamais fala ou dá ênfase aos diversos reinos e Estados com fortes estruturaspolíticas, com forte sentimento nacionalista e aos seus líderes políticos que nadefesa do seu território e da soberania dos seus reinos como Prempeh I(Ashanti), El Haji Omar ben Said Tall (Tucolore), Atahiru Ahmed (fula-hauçá deSocotô) e a rainha-mâe Yaa Ashatewa (ashanti), esta um caso a mais, pois,

além de sofrer o preconceito por ser africana, sofre o preconceito e a dis-criminação por ser mulher, lutaram e chegaram a se sacrificar por este objetivo.

No entanto, é preciso observarmos efetiva-mente outros elementos, como escreve Alberto daCosta e Silva no seu artigo intitulado O Brasil, a África e o Atlântico no século XIX , até o final do citado séculoa influência européia ainda estava estabelecida de

maneira mais efetiva na região litorânea, ou seja, seo continente fosse uma maçã, os europeus aindaestariam tirando pedaços da casca. Então, o que levaa tal ocupação?

“Aceitai o fardo do homem branco,Enviai os melhores dos vossos filhos,Condenai vossos filhos ao exílio,Para que sejam os servidores de seus cativos.”

(Rudyard Kipling) 

É com o trecho do poema de Rudyard Kipling, onde ele fala conscientemente sobreo imperialismo britânico, da “missão” do homem branco e o “altruísmo” deste em se sacrificar para atender aos nativos africanos que inicio o texto que segue analisando o panoramaeuropeu no século XIX e o porquê da sua saída para o continente africano.

Como sabemos, o século XIX foi marcado por mudanças profundas nas suas bases.

O desenvolvimento tecnológico decorrente da Segunda Revolução Industrial causou umaumento significativo da produção e conseqüentemente dos lucros dos industriais. Emcontrapartida novas questões aparecem quase que imediatamente:

Onde reinvestir os lucros excedentes? Já que no processo de expansão industrialmuitos países estavam criando um grande número de barreiras protecionistas.

Como manter o nível de produção? Se em alguns Estados a matéria-prima, com oaumento da produção, começa a rarear.

O que fazer com o excesso populacional da Europa, que somente tendia a aumentar,

visto que o desenvolvimento atingia o segmento médico e sanitário? Na Europa osempregos começavam desde muito a rarear, criando uma massa de desempregadose miseráveis.

Asantehene Prempeh IKing Prempeh I of the Asante

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Essas são algumas das questões mais exploradas em sala de aula, na medida emque falamos do Imperialismo e Neocolonialismo e, conseqüentemente, da tomada e possedo continente africano pelos europeus. Tais argumentos sempre aparecem como justificativa,de que esta seria uma ação voltada única e exclusivamente para atender aos interessescomerciais das nações capitalistas. Observamos isto também nas palavras de Jules Ferry,Primeiro-Ministro francês em 1890.

“A política colonial é cria da Revolução Industrial. Para os países ricos onde ocapital abunda e acumula rapidamente, onde a indústria está se expandindo fir-memente, onde mesmo a agricultura se tornou mecanizada a fim de sobreviver, asexportações são essenciais para a prosperidade pública… O mercado de bens deconsumo está saturado; a menos que nós declararmos a sociedade moderna falidae nos prepararmos para sua liquidação pela revolução… mercados consumidoresnovos terão que ser criados em outras partes do mundo… A política colonial é umamanifestação internacional das leis eternas da competição.”

  (extraído e traduzido do site www.siue.edu/HISTORY/ 112B/NewImperialism.html) 

Neste ínterim entram em cena as pretensões britânicas e o seu plano colonialista decosta a costa, da África do Sul ao Egito (do Cabo ao Cairo). A Inglaterra desejava assumir uma posição de controle de mercado no continente sem guerras, sem exercer gastosfinanceiros e sem assumir responsabilidades coloniais. O seu poder naval garantiria apreponderância econômica nos litorais, nos rios e nos portos. O grande problema foi queneste mesmo momento a França já em 1830 em ação isolada invadiu a Argélia e o reiLeopoldo da Bélgica ocupou a região quase central da África, criando em 1876 o EstadoLivre do Congo, a partir de negociações com lideranças locais, Portugal também estavapresente e querendo implementar seu projeto de domínio costa a costa, no caso de Angolaa Moçambique.

 A Europa está prestes a explodir em conflito,quando Bismarck, muito mais belicista do quecolonialista, visando manter uma estrutura montadadentro do continente europeu e evitar a explosão do

barril de pólvora, assume em seu território para resolver as questões e criar regras para a ocupação e domínioa Conferência de Berlim.

Cecil Rhodes(1853-1902)Do Cabo ao Cairo

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A Conferência de Berl im eas Diferentes Formas de Ocupação da Áfri ca Colon ial

Você pode se perguntar, por que um tópico específico sobre a Confe-rência de Berlim? E talvez você mesmo responda que este é dispensável,pois todos sabem que a mesma foi responsável pela Partilha da África. Noentanto, o que proponho não é somente uma análise da conferência em si,

que pode mudar um pouco o modo de vislumbrarmos a conferência, mas também domomento pós-conferência quando as formas de dominação do continente foramverdadeiramente estabelecidas e fixaram-se até o século XX.

Conferência de Berlim sobre ÁfricaLa question du Congo Gravura, E. A.

Tilly In L’Illustration , Paris 1884, p. 388JE. 86 V.

Num primeiro momento quero voltar ao tópicoanterior. Lembre-se que falei da importância de Bismarcke das suas intenções em manter a paz na Europa. Vinha oEstado Alemão de uma Unificação muito dura, envolta emconflitos e oposições, com um grande inimigo querendo a

revanche que era a França, durante os anos que se segui-ram procurava este isolar o oponente de forma efetiva comuma evidente política de alianças e uma guerra àquela alturaseria o que de pior poderia acontecer para as suaspretensões. Então, o belicista Bismarck recebe em Berlimos diversos opositores e demais interessados numa formade equacionar os possíveis problemas no continenteafricano, na famosa e já dita Conferência de Berlim.

Entretanto, muitos falavam que aquela altura tal reunião já era tardia, visto que noperíodo de 15 anos que separava a conquista do Congo pela Bélgica, a Inglaterra já haviase lançado numa conquista desenfreada dominando a Rodésia, Nigéria, Costa do Ouro,Serra Leoa, África Oriental Inglesa e posteriormente da União Sul-Africana. A França, por sua vez, apoderava-se da Tunísia, África Equatorial Francesa, Mauritânia, Madagascar e a África Ocidental Francesa, além da Argélia. Portugal ficara com Moçambique, GuinéPortuguesa e Angola que já dominava desde o século XVI. Alemanha e Itália que fizeramuma Unificação Tardia não entraram na partilha das melhores regiões, restando para estes: África Oriental Alemã, Camarões, África Sudoeste Alemã, Líbia, Somália italiana e a Eritréia.Para a Espanha restou Marrocos Espanhol, Rio do Ouro e Rio Muni e por fim o Egito eSudão eram disputados pela França e Inglaterra, questão esta que somente será resolvidano início do século XX às portas da Primeira Guerra Mundial, observe os mapas de antes e

depois do processo de conquista do território africano.

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Então, se já estava tudo dividido por que uma conferência? Cabe colocar que esta,apesar de muito comentada e com um grande número de artigos e parágrafos, na buscatambém de determinar regras de convivência entre os países envolvidos na disputa colonial,evitando, assim, conflitos outrora temidos por Bismarck, observe alguns pontos desta:

Capítulo VI: Declaração referente às condições essenciais a serem preenchidas para

que as ocupações novas nas costas do continente africano sejamconsideradas efetivas.

 Artigo 34. A potência que de agora em diante tomar posse de um território nas costasdo continente africano situado fora de suas possessões atuais, ou que nãoos tendo tido até então, vier a adquirir algum e, no mesmo caso, a potênciaque assumir um protetorado, fará acompanhar a Ata respectiva de umanotificação dirigida às outras potências signatárias da presente Ata, a fimde lhes dar os meios de fazer valer, se for oportuno, suas reclamações.

 Artigo 35. As potências signatárias da presente Ata reconhecem a obrigação deassegurar, nos territórios ocupados por elas, nas costas do continenteafricano, a existência de uma autoridade capaz de fazer respeitar os direitosadquiridos e, eventualmente, a liberdade do comércio e do trânsito nascondições em que for estipulada.

  Ata da Conferência de Berlim. 26 de Fevereiro de 1885.

Esses dois artigos delineiam de forma bem clara o papel da Conferência. Além dadivisão de territórios estabeleceu também regras para a ocupação, formas de evitar possíveis problemas e também ajudar na manutenção de regras para livre-comércio. Destamaneira, muito mais do que dividir, partilhar a África entre os europeus, a Conferência foitambém a maneira encontrada para evitar conflitos na Europa e na própria África.

A administração colonial

 A administração variou de acordo com as condições demográficas, culturais eeconômicas das regiões ocupadas, podia ser esta direta, com funcionários da metrópolesubstituindo as autoridades locais, ou indireta, utilizando-se das autoridades locais

subordinadas a funcionários da metrópole.

Os ingleses, geralmente adeptos da administração indireta, conseguiram controlar populações enormes e diferenciadas entre si, aproveitando-se das instituições e daslideranças locais. Aqueles que não queriam colaborar eram substituídos.

Os franceses tiveram a pretensão de desenvolver uma política de “assimilação” doscolonos. Eles acreditavam que, através da instrução, os africanos e os asiáticos poderiamvir a adquirir a cidadania francesa, desde que tivessem profundo conhecimento da línguafrancesa, da religião cristã, bom nível de instrução e boa conduta. Entretanto, essa prática

não se tornou comum na administração colonial francesa, prevalecendo os aspectoseconômicos de exploração dos recursos minerais e agrícolas.

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Os demais povos colonizadores, tais como belgas, alemães,holandeses, portugueses e espanhóis, adotaram métodos que variavam entreo ideal de assimilação e as necessidades práticas de utilização das auto-ridades locais para extrair vantagens da comercialização da produção colonial.

De maneira geral, as colônias podem ser classificadas da forma:

A) colônias de exploração ou de enquadramentoEram países ou regiões administradas direta ou indiretamente por funcionários da

metrópole, e que se destinavam a exportar produtos exóticos, gêneros agrícolas ou matériasprimas minerais. Nesse caso, enquadram-se a Índia, a Indochina e a Indonésia, naçõesdensamente povoadas da Ásia, e grande parte da África. 0 território africano, do Saara atéo sul, possuía baixa densidade demográfica e organização predominantemente tribal. Acolonização européia afetou ou destruiu as instituições tradicionais (os clãs, as aldeiascomunitárias, a religião totêmica) e substituiu a economia de subsistência pela “plantation”(monocultura para exportação). As rivalidades intertribais foram mantidas e/ou aprofundadas

com o objetivo de favorecer a dominação estrangeira. Para obrigar as populações locais atrabalhar, o colonizador fixava impostos que somente poderiam ser pagos em dinheiro.Dessa maneira, os nativos tinham que cultivar as lavouras que interessavam aos europeus.Os endividados eram levados aos trabalhos forçados nos campos, à construção de estradas,portos e linhas férreas, observe o exemplo abaixo.

0 caso do Congo (Zaire)

“Provavelmente, em nenhuma outra colônia africana a exploração européia revestiu-se de características tão brutais quanto no Congo Belga. Em 1879, Leopoldo II, rei da Bélgica, enviou H. M. Stanley em missão à África Central. A serviço de uma 

companhia privada com finalidades lucrativas, dirigida pessoalmente por Leopoldo e alguns associados, Stanley criou uma rede de postos comerciais e, usando de astúcia,convenceu os chefes nativos a assinarem “tratados” autorizando o estabelecimento de um império comercial que abarcava cerca de 900 000 milhas quadradas. Leopoldo arvorou-se em autoridade soberana do Estado Independente do Congo e empreendeu a exploração dos recursos humanos e naturais da região em proveito de sua própria companhia. A exploração foi impiedosa. Trabalhando sob constante coação física,os nativos foram forçados nas florestas a extrair o látex com o qual faziam borracha e a caçar elefantes dos quais extraiam o marfim. Leopoldo confiscou todas as terras que não eram diretamente cultivadas pelas comunidades locais, transformando-as em “propriedade governamental”. As piores atrocidades foram cometidas para obrigar os nativos a se submeterem a um opressivo sistema fiscal, que incluía impostos pagáveis em borracha e em marfim e sob a forma de prestações de trabalho. No século XX, o Congo passou a fornecer outros recursos naturais: diamantes, urânio,cobre, algodão, azeite de coco, semente de coco e coco. Pode-se dizer que, de um modo geral, o Congo foi uma das mais lucrativas possessões imperialistas européias e também uma das mais escandalosas.” 

(TRANSCRITO DE: HUNT & SHERMAM. História do pensamento econômico, Petrópolis, ED.Vozes, 1990, p. 152.) 

B) as colônias de povoamento ou enraizamento

Nas regiões de clima temperado, estabeleceram-se colônias de povoamento, comampla migração de população “branca” européia (que havia dobrado do decorrer do séculoXIX), em busca de melhores condições de trabalho, de alimentação e de moradia. Foi o

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caso da colonização inglesa na Rodésia e no Cabo (África do Sul), na Austrália e na NovaZelândia (Oceania) e no Canadá (América do Norte); da colonização francesa na Argélia(África) e na Nova Caledônia (Oceania) e da colonização portuguesa em Angola e emMoçambique (África). Nesse tipo de colônia, as minorias européias ocupavam posiçõessociais, econômicas e administrativas dominantes. Os nativos foram expropriados de suasterras pelos europeus e excluídos até mesmo das mais simples funções burocráticas; em

qualquer atividade, os brancos recebiam salários mais elevados. Essa situação deu origema conflitos particularmente agudos, como a guerra civil pela independência da Argélia e apolítica do “apartheid” da África do Sul.

O caso da África do Sul

“A Inglaterra apoderou-se das regiões mais populosas e ricas da África. Desde o início do século ela ocupava a cidade do Cabo e também Natal. Em 1870, Cecil Rhodes embarcou para o Cabo, por motivo de saúde. Graças ao seu tino para os negócios e à habilidade com que açambarcou o mercado de diamantes, no curto espaço de dois anos, transformou-se em um milionário. Nos anos subseqüentes, a 

Companhia Britânica da África do Sul, dirigida por Rhodes, estendeu o domínio sobre toda a África do Sul. Embora fosse uma empresa privada, com finalidades lucrativas,estava investida de poderes comparáveis aos de um governo. Tinha, por exemplo,autoridade (concedida por carta patente em 1889) para “firmar tratados, promulgar leis, preservar a paz, manter uma força policial e adquirir novas concessões”.

A Política expansionista da Companhia Britânica da África do Sul culminouna Guerra dos Bôers (1899-1902). As repúblicas holandesas de Orange e doTransvaal foram esmagadas e a Inglaterra adquiriu o controle total sobre a África doSul. Mais tarde, seriam descobertas jazidas riquíssimas de minério, principal recursonatural da região. “O mais explosivo legado do imperialismo britânico e holandês

foram os mecanismos discriminatórios erguidos contra os negros que constituema maioria esmagadora da população”.(TRANSCRITO DE: HUNT & SHERMAM. História do pensamento econômico, Petrópolis, ED.

Vozes, 1990, p. 152/153.) 

Conquista Européia e Resistência Africana

Como já afirmado anteriormente, na historiografia européia foi negado o protagonismodo elemento africano. Através de trechos de Hegel e do próprio Eça de Queirós, nota-seclaramente o ideário eurocêntrico e a desvalorização recorrente do nativo do continente. Opanorama começa a ser modificado a partir da metade do século XX. Vários historiadoresda própria África começaram a questionar a visão do conquistador, mostrando que ocontinente tinha uma história e que o europeu quando chega ao continente não encontra, nolocal, somente com uma organização tribal, muitas vezes nômade e facilmente conquistável,presa fácil para as explicações baseadas no darwinismo social, via diplomática, ideal decristianização e outros elementos teóricos da época.

Contrapondo autores como Marc Bloch, esses primeiros historiadores começam atrabalhar colocando, lado a lado, as instituições dos Estados europeus e as instituições dosEstados africanos mostrando que os elementos estruturais encontrados na Europa, também

são encontrados na África: organização política, organização social, constituição e outroselementos, numa espécie de pirâmide invertida, visando acabar com o complexo deinferioridade existente.

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Com o avanço dos debates, novas gerações de historiadorescomeçaram a trabalhar o contexto da história africana, dentro do contexto dahistória global. Esses historiadores nos mostram que por volta de meados doséculo XIX, ou seja, na chegada do europeu, alguma coisa já começava amudar na África. Para eles este período é justamente um período de transição,de um conjunto de relações tribais para um contexto de formação de relações

supra-tribais; grandes reinos estavam aparecendo. É esse o panorama que oEuropeu encontra, portanto não é o Europeu que introduz mudanças, ele encontra ocontinente com estruturas em mutação e imerso em mudanças. Essas, por sua vez, bemdinâmicas. A população aumentava em decorrência de novas culturas introduzidas quemelhoravam a alimentação como o milho e a mandioca e, com o aumento populacionalevidentemente buscam-se novas terras sendo necessário organizar estruturas militaresdevido aos conflitos entre os grupos, mais tarde os africanos se organizam em grandesunidades políticas a fim de administrar todos esses elementos, portanto não seria o europeuresponsável por este processo, como podemos ver na citação a seguir:

“A crise moderna da África não foi aberta por este novo imperialismo. Emboraa invasão colonial tivesse aumentado a confusão, os invasores não tomaram partenas primeiras cenas do drama. Por volta de 1850, as estruturas ancestrais começarama ceder, embora não por toda a parte nem a mesma velocidade (...)

Estas tensões agravaram a crise cada vez mais profunda das estruturas.Precisamente, como as monarquias procuravam a solução numa maior centralizaçãodo poder. Muitas destas sociedades segmentárias – aquelas que nunca tinhamsentido necessidade de ter reis ou mesmo proto-reis – seguiram a mesma orientação.Povos de “governo mínimo” que viviam juntos aos caminhos das caravanas oudos exércitos concluíram que também para eles o novo vigor exigia uma novaunidade.”

(DAVIDSON, Basil. Os Africanos. Lisboa. Edições 70. p.248-250) 

O europeu na verdade chega em meio ao processo de mudança, existe uma históriaem andamento e talvez o mais importante a ser salientado é que existe uma resistência epor isso a chegada e consolidação deste elemento na África, deixa de ter uma vertentediplomática e passa a ter orientação de conquista militar, o trecho a seguir de Ki-zerbo, nosdá uma clara idéia do processo.

“Apoderarem-se da África, eis a grande preocupação dos europeus no últimoquartel do século XIX. Esgotada após séculos de tráfico negreiro, a África estava,no entanto, longe de se haver tornado uma terra colonizável sem resistência. E oséculo XIX vai ver surgir, imediatamente antes ou no momento preciso da conquistaeuropéia, chefes de envergadura excepcional que vão procurar virar o cursoimplacável do destino (mesmo quando disso não estavam explicitamenteconscientes)e criar de novo conjunto supra-tribais, tais como eles existiam duranteos “Grandes Séculos”. É este o sentido da epopéia de Chaka. Será esta a linha deuma plêiade de africanos que se manifestou em todas as regiões da África Negra.Chaka, Usman da Fódio, El-Hadji Omar, Samori, o madi e Menelique da Etiópia.

(KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra. Lisboa Europa-América.s/ed. V. II. P.5)

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do ponto de vista racial como social, logo as classes dirigentes locaisassumem essas novas posturas na tentativa de imitar e igualar o elementoeuropeu. Na economia percebemos que com a introdução do modo capitalistae, conseqüentemente, do trabalho assalariado e da propriedade privada daterra controlada por europeus ou pelas elites locais, ocorreu a desintegraçãoda produção coletiva da terra nas aldeias e também do artesanato urbano, os

meios tradicionais de subsistência foram diretamente afetados nesteprocesso. A criação de um proletariado miserável, principalmente concentrado nas cidadesfoi também um reflexo destas mudanças, causando também um dos maiores impactos daexpansão capitalista sobre os dominados: o empobrecimento e subdesenvolvimento.

Não é passível de informar que o imperialismo também trouxa a inovação tecnológica,modernas técnicas de cultivo e irrigação, ferrovias, portos, hospitais, escolas, universidadesentre outros tantos elementos modificadores da cultura, sociedade e da paisagem, no entantoeste também trouxe muitas vezes aliado a esse processo de modernização guerras coloniais,massacre total de populações nativas, desestruturação de reinos e comunidades tribais e

descaracterização cultural.

A Revolta do Colonizado

 A presença européia como já vimos, vai se utilizar não somente da dominação militar para controlar o continente africano, lembre-se que em alguns momentos a aliança com oslíderes locais ajudava de maneira afetiva o processo de dominação e também colaboroupara a criação de uma elite local, esta elite local em alguns casos era formada nas escolase na cultura européia, e, essa elite num determinado momento vai ser tornar o centro daresistência colonial, pois não aceitava mais uma posição subalterna. Elementos presentesno ideário europeu do século XIX e início do século XX, como a democracia, nacionalismo,marxismo difundidos nas colônias pelos imigrantes, funcionários, intelectuais, começam aser utilizados nas colônias para contestar a exploração econômica, o racismo, a falta deoportunidades, dando origem a movimentos nacionais pela libertação dos países africanos já na primeira metade do século XX e fortalecidos após a 2ª guerra mundial.

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Foi na revista “L’Etudiant Noir” que a palavra “negritude” foi empregadapor Césaire pela primeira vez, designando, primordialmente, a rejeição daassimilação cultural e de uma certa imagem do negro pacífico, incapaz deconstruir uma civilização. Sénghor defendia a idéia de que o termo era empre-gado visando o conceito em sua aceitação mais geral, englobando todos osmovimentos culturais lançados por uma personalização negra ou por um grupo

de negros em qualquer lugar do mundo; admitindo a negritude como fato, eassim cultura, bem como aceitação e projeção desse fato na história e na civilização negra.

 A Senghor são atribuídas as primeiras tentativas de definição do conceito de negritude:“Conjunto dos valores culturais do mundo negro”. Entre os quais podemos destacar:

O homem negro é essencialmente religioso e cultural, ritual e celebrante, porque paraele existe um ente supremo, o “sagrado”, que é o verdadeiro real;

O homem negro é simbólico, porque o seu mundo é o mundo das imagens e do concreto;todas as realidades materiais, visíveis e imediatas são anunciadoras e portadoras de

outras realidades;O homem negro é o homem de coração, porque, para além do corpo, da força vital, dahabilidade, do entendimento e de todas as outras qualidades humanas, é ainda pelocoração que o homem se define, que o homem vale e é julgado; para usar a categoriade um provérbio africano:”o coração do homem é o seu rei”.

O exame da produção discursiva dos escritores da negritude permite levantar trêsobjetivos principais: buscar o desafia cultural do mundo negro; protestar contra a ordemcolonial; lutar pela emancipação dos seus povos oprimidos e lançar o apelo de uma revisãodas relações entre os povos para que se chegasse a uma civilização universal não como aextensão de uma regional imposta pela força, mas uma civilização do universal, encontrode todas as outras, concretas e particulares.

TEXTO COMPLEMENTAR

Léopold Sédar SenghorPolítico e escritor senegales de reputacao internacional, nasceu em 1906 e

morreu em 2001. Em 1928 foi estudar em Paris e entrou para a Sorbonne entre 1935e 1939, tornando-se o primeiro africano a completar uma licenciatura nestauniversidade parisiense. Como escritor, desenvolveu a Negritude (movimento

literário que exaltava a identidade negra lamentando o impacto negativo que a culturaeuropeia teve junto das tradições africanas).

Nas suas obras, as mais engrandecidas são Chants d’ombre (1945), Hosties noires  (1948), Ethiopiques(1956), Nocturnes(1961) e Elegies majeures(1979). Durantea Segunda Guerra Mundial esteve preso por dois anos num campo de concentraçãonazi e só depois é que os seus ensaios e poemas seriam publicados.

Entre 1948 e 1958 foi deputado senegalês na Assembleia Nacional Francesa.Quando Senegal foi procalamado independente, em 1960, Senghor foi eleito porunanimidade presidente da nova Republica, vindo a desempenhar o cargo até finalde 1980, gracas a reeleicoes sucessivas. Defensor do socialismo aplicado a realidadeafricana, tentou desenvolver a agricultura, combater a corrupcao e manter umapolitica de cooperacao com a Franca.

Retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A9opold_S%C3%A9dar_Senghor 

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O Processo de Lutas de Libertação no Quadro daDescolonização e sua Importância no Século XX

O cenário em que o continente afri-cano está inserido na atualidade é resultantede processos históricos que se apro-fundaram no século XX. O neo-colonialismoaprimorou suas formas de exploração àscolônias africanas, resultado das disputasimperialistas entre europeus e o crescenteimperialismo norte-americano. As duasgrandes guerras que eclodiram, a reorga-nização e aceleração do capitalismo de umlado, a emergência de sociedades influ-enciadas pelo socialismo/comunismo deoutro, são exemplos desse contexto. Nesse

sentido, a descolonização da África, que seacentua no pós-45, é influenciada tanto pelointeresse dos conglomerados capitalistas,

em choque com as políticas dos impérioscoloniais, quanto pelos interesses das emer-gentes nações socialistas (URSS e China),num crescente clima de Guerra Fria. Jáinternamente, os processos de libertação na África estiveram associados à forte influênciadas elites locais estrangeiras, no sentido dedesvincular-se dos interesses metropolitanose tomar as rédeas da exploração local.Também estiveram caracterizados por fortecunho nacionalista dos próprios nativosempenhados em libertar-se do jugo colo-nialista (nacionalismo que se apresentou

difuso em conseqüência da diversidadepolítica, social e cultural em que as colôniasse apresentavam).

Mesmo com a eclo-são de movimentos re-volucionários, na maioriadas colônias, o processo dedescolonização proporcio-nou apenas processospolíticos de emancipação,não atingindo um patamar infraestrutural, pois a domi-nação e a subordinação

econômica permaneceramtravestidas em neocolonia-lismo, pressionadas pelocontexto da Guerra Fria.

Uma iniciativa importante para acelerar o processo de descolonização foi a realização,em 1958, da 1ª Conferência dos Povos da África, em Acra, capital de Gana. Na ocasião, ospaíses fecharam um acordo de ajuda mútua contra a Grã-Bretanha, França, Bélgica ePortugal. Àquela altura, a descolonização do continente já estava em andamento. Em 56,Marrocos e Tunísia, colônias da França, haviam conquistado a independência.

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A Guerra Fria na África 

A grande novidade é, sem dúvida, o fato de que o centro de gravidade desseimenso glacis neocolonial ter se deslocado da Europa e, interiorizando-se, residir,principalmente a partir de 1958 (na administração do premiê Hendrik Verwoerd, 1958-1966), na própria África do Sul. Com uma numerosa população – algo em torno de

40 milhões de habitantes, dos quais apenas 12% são brancos– e vastas reservasminerais como ouro, platina, diamantes, cobre e urânio, além de uma prósperaagricultura e uma poderosa indústria, a República Sul-Africana aproveitou-se doclima de Guerra Fria para construir uma poderosa panóplia militar, atingindo até ocontrole e a fabricação de armas nucleares, químicas e biológicas.

Com a divisão bipolar do mundo, entre Estados Unidos e URSS, a África doSul assumiu um novo papel geoestratégico central. A paralisia de qualquermovimento reformista e a conseqüente expansão dos movimentos de libertaçãonacional, em especial no sul do continente, muitos de cunho marxista, lançava osregimes autoritários e racistas em vigor no sul da África, diretamente no âmbito do

chamado Ocidente, contra uma pretensa e nova estratégia africana da URSS.Os regimes colonial português e racista na África do Sul, Rodésia e Namíbiamostraram-se absolutamente contrários a qualquer possibilidade de auto-reforma,recusando sistematicamente todas as recomendações das Nações Unidas e daOrganização da Unidade Africana (OUA).

A iniciativa de organizar os impérios coloniais sob uma forma mais leve edinâmica coube inicialmente aos ingleses, preocupados com o potencialindependista de suas coloniais consideradas “brancas” (Canadá, Nova Zelândia,Austrália e África do Sul), capazes de imitar o comportamento dos ex-súditos norte-americanos. Foi assim que surgiram as chamadas “conferências imperiais”, desde1911, e que culminam, em 1926, na criação da Comunidade Britânica das Nações.

O novo modelo organizativo do império deveria valer exclusivamente paraas colônias de povoamento europeu. Contudo, depois de 1945, o Partido Trabalhista,principal força organizativa da descolonização na Inglaterra, decidiu transformar aComunidade Britânica na ferramenta básica de manutenção dos laços econômicos,políticos e estratégicos do antigo império.

Os franceses, ao contrário, reagiram algumas vezes mais duramente, tentandomanter o império – tanto na Ásia quanto na África – por mais tempo, gerando conflitossangrentos na Indochina, Argélia e em Madagascar. Foi, contudo, na antiga ÁfricaOcidental Francesa e na África Equatorial que conseguiram os maiores sucessosem manter os antigos laços de dependência com as novas nações que emergiam

do processo de descolonização.

O Episódio Biafra 

Em alguns momentos, o processo de descolonização descambava clara-mente para crises de extrema gravidade, com a tentativa das potências ultracoloniaise racistas do sul da África em garantir pontos de apoio e manter uma presença maisatuante na África ocidental. Foi assim, através do apoio de Portugal e da África doSul à secessão dos ibos, cristãos e ocidentalizados, frente à maioria islâmica daNigéria, que a guerra civil no país, denominada Guerra de Biafra (1967-1970),

transforma-se numa terrível catástrofe humanitária do continente. Assim, a riquezapetrolífera do país ibo, a grande esperança de desenvolvimento de toda a Nigéria,gera dois campos de força opostos: França, Portugal, África do Sul e Rodésia apóiam

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Em algum momento, no final dos anos 1970, a URSS parece ter adquiridouma posição permanente e privilegiada na África, com pontos de apoio na Líbia, naEtiópia, por algum tempo na Somália, na Guiné, no Congo/Brazzaville, em Angola eMoçambique, além de grande simpatia em países da chamada “linha de frente” doenfrentamento à apartheid , como a Zâmbia e a Tanzânia.

A África e as Novas Ameaças 

Entretanto, a partir de 1985, com a crise geral do sistema soviético, iniciar-se-ia o começo da retirada soviética, com a retração da ação cubana, e o colapso devários regimes pró-soviéticos, sendo a Etiópia o melhor exemplo. O vazio estratégicocriado pela retirada dos soviéticos e cubanos acaba gerando dois movimentosopostos. Em alguns países, como a Etiópia e a Somália, abrem-se períodos de crise,instabilidade e guerra civil, culminando, no caso da Etiópia, na secessão da Eritréia.

No caso da Somália, bem mais complexo e dramático, chega-se ao completocolapso das estruturas estatais existentes, com a pulverização do Estado-Nação e

a hegemonia de “senhores da guerra” locais, muitas vezes apoiados pororganizações terroristas, como a Al-Qaeda e o Ansar-El-Islam. Já em outros países,como em Angola e Moçambique, a desaparição do clima de enfrentamento Ocidente/Oriente acaba por abrir caminho, não sem muita dor e destruição, a processos depaz, de frágil densidade. Contudo, a situação tornar-se-ia bem mais favorável àconsolidação de regimes estáveis e ao início da construção de estruturas do Estado-Nação.

Na Rodésia e na África do Sul, por sua vez, a conversão dos partidos deresistência, como o Congresso Nacional Africano, às normas da representatividade,ao lado da intensidade da resistência local e da condenação externa, acaba porlevar à auto-reforma dos regimes, em especial a partir de 1990, com a legalização doCNA, o fim da apartheid em 1991 e, enfim, a eleição de Nelson Mandela em 1994.

Mas outros países não tiveram a mesma sorte: o desmoronar das ditadurasque eram sustentadas por potências neocoloniais, como no Congo/Kinshasa, emRuanda, na Libéria, entre outros, acaba por gerar grande instabilidade política, umestado contínuo de guerra, perpassados por genocídios brutais, como em Ruandaem 1992 e 1994.

Paralelamente com a expansão das guerras locais e dos genocídios, a fomereaparece em vastas regiões avassaladas por tragédias climáticas, como no largocinturão do Sahel, do Niger ao Sudão, ou pela guerra permanente, como na Etiópiae na Somália. No sul da África, bem como na África Oriental, as epidemias de

tuberculose e AIDS atingem parcelas assustadoramente amplas da população local,enquanto na África Equatorial a malária, o dengue e o vírus Ebola são as razões daselevadas taxas de mortalidade.

No pós-Guerra Fria abriu-se um novo ciclo de expansão dos interessesocidentais na região, em especial uma nova expansão anglo-americana, tendo comopaíses-pivô na África Oriental e Austral a nova Uganda, pós-Idi Amim, e a nova Áfricado Sul. Os objetivos, neste momento, dirigem-se para a dominação do Congo/Kinsahasa, com suas riquezas minerais, com a eliminação da hegemonia francesalocal. Cabinda, com suas riquezas petrolíferas, é um alvo secundário, porém bastanteimportante.

Um segundo vetor da continuidade da expansão anglo-americana volta-separa países na África Ocidental: Serra Leoa/Libéria/Costa do Marfim/Gana, o querepresentaria a securitizaçao do Golfo da Guiné, com o controle das fontes petro-

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líferas da Nigéria até São Tomé e Príncipe, além das ricas jazidas deouro e diamantes da região.

A desestruturação das instituições estatais, depois de 1989, sobo impacto da redemocratização de vários regimes locais, além daimposição de um brutal receituário liberal e antiestado patrocinado peloFMI, acaba por dar um novo alento às soluções militares. O antigo ciclo

de ditaduras militares na África, entre 1961 e 1989, parece fazer seuretorno ao cenário político local a partir do golpe de Estado na Costa do Marfim, em1999, seguido de golpes e tentativas por toda a África Ocidental e Equatorial.

Da mesma forma, a norma férrea da intangibilidade das fronteiras parece tersido abandonada, com a fragmentação da Etiópia, da Somália, das ameaças naGâmbia e no Senegal, além da continuidade da guerra no Congo/Kinsahasa e noSudão.

Em suma, no alvorecer do século XXI, o continente africano é, ainda, maispobre, complexo e perpassado pelos flagelos da guerra, da fome e das doenças doque no início do processo de descolonização na década de 60 do século XX.

Fonte: http://agenciacartamaior.uol.com.br//agencia.asp?coluna=boletim&id=1617 

Alguns Casos Específicos: Ruanda, Congo,Colônias Portuguesas na África e África do Sul

Ruanda

Ao contrário dos seus vizinhos, Ruanda, que era um reino centralizado, não teve asua “sorte” decidida na Conferência de Berlim (de 1885) e só foi entregue à Alemanha(juntamente com o vizinho Burundi) em 1890, numa conferência em Bruxelas, em troca doUganda e da ilha de Heligoland. No entanto, as fronteiras desta colônia – que, na alturaincluíam também alguns pequenos reinos das margens do Lago Vitória – só foram definidasem 1900.

Depois da derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, o protetorado foientregue à Bélgica, por mandato da Liga das Nações. O domínio belga foi muito mais diretoe duro que o dos alemães e, utilizando a igreja católica, manipulou a classe alta dos tutsipara reprimir o resto da população - majoritariamente tutsis e hutus -, incluindo a cobrançade impostos e o trabalho forçado, criando um fosso social maior do que o que já existia.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o Ruanda tornou-se um território “protegido”pelas Nações Unidas, tendo a Bélgica como autoridade administrativa. Através duma sériede processos, incluindo várias reformas, o assassinato do rei Mutara III Charles, em 1959 ea fuga do último monarca do clã Nyiginya, o rei Kigeri V, para o Uganda, os hutus ganharammais poder e, na altura da independência, em 1962, os hutu eram os políticos dominantes.Em 25 de Setembro de 1960, a ONU organizou um referendo no qual os ruandeses decidiramtornar-se uma república. Depois das primeiras eleições, foi declarada a República doRuanda, com Grégoire Kayibanda como primeiro ministro.

 Após vários anos de instabilidade, em que o governo tomou várias medidas derepressão contra os tutsis, em 5 de Julho de 1973, o major general Juvénal Habyarimana,que era ministro da defesa, destituiu o seu primo Grégoire Kayibanda, dissolveu a

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 Assembleia Nacional e aboliu todas as actividades políticas. Em Dezembro de 1978 foramorganizadas eleições, nas quais foi aprovada uma nova constituição e confirmadoHabyarimana como presidente, que foi reeleito em 1983 e em 1988, como candidato únicomas, em resposta a pressões públicas por reformas políticas, Habyarimana anunciou emJulho de 1990 a intenção de transformar o Ruanda numa democracia multipartidária.

No entanto, nesse mesmo ano, uma série de problemas climáticos e econômicosgeraram conflitos internos e a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), dominada por tutsisrefugiados nos países vizinhos lançou ataques militares contra o governo hutu, a partir doUganda. O governo militar de Juvénal Habyarimana respondeu com programas genocidascontra os tutsis. Em 1992 foi assinado um cessar-fogo entre o governo e a RPF em Arusha,Tanzania.

Em 6 de Abril de 1994, Habyarimana e Cyprien Ntaryamira, o presidente do Burundi,foram assassinados quando o seu avião foi atingido por fogo quando aterrava em Kigali.Durante os três meses seguintes, os militares e milícianos mataram cerca de 800 000 tutsis

e hutus, naquilo que ficou conhecido como o Genocídio de Ruanda. Entretanto, a RPF, soba direção de Paul Kagame ocupou várias partes do país e, em 4 de Julho entrou na capitalKigali, enquanto tropas francesas de “manutenção da paz” ocupavam o sudoeste, durante a“Opération Turquoise”.

Paul Kagame ficou como vice-presidente e Pasteur Bizimungu como presidente mas,em 2000, os dois homens fortes entraram em conflito, Bizimungu renunciou à presidência eKagame ficou como presidente. Em 2003, Kagame foi finalmente eleito para o cargo, noque foram consideradas as primeiras eleições democráticas depois do Genocídio.Entretanto, cerca de 2 milhões de hutus refugiaram-se na República Democrática do Congo,com medo de retaliação pelos tutsis. Muitos regressaram, mas conservam-se ali milíciasque têm estado envolvidas na guerra civil daquele país.

Cronologia sobre os últimos anos da história de Ruanda

Outubro de 1990 — Rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (RPF), com base emUganda, invadem o país para exigir o retorno de milhares de refugiados, em sua maioriatutsis. A invasão é rechaçada e o líder dos rebeldes, Fred Rwigyema, morto.

4 de agosto de 1993 — O governo e a RPF assinam um acordo para colocar fimaos vários anos de guerra civil. O acordo permite a divisão de poder no país e o retorno dos

refugiados. Mas o presidente Juvenal Habyarimana atrasa a implementação dele.30 de dezembro de 1993 a 5 de abril de 1994 — O governo de transição não

consegue decolar. Cada lado acusa o outro de bloquear a formação dele.6 de abril de 1994 — Habyarimana e o então presidente de Burundi, Cyprien

Ntaryamira, são mortos em um ataque com foguete contra o avião deles. A morte dopresidente ruandês, pertencente à etnia hutu, provoca uma onda de violência. Mais de 800mil tutsis e hutus moderados são mortos por hutus extremistas. A RPF dá início a uma novaofensiva.

7 de abril de 1994 — Os guarda-costas da Presidência matam o primeiro-ministromoderado Agathe Uwilingiwiman, um hutu que tentava diminuir as tensões no país.

Julho de 1994 — A RPF assume o controle de Ruanda depois de levar o Exércitohutu de 40 mil integrantes e cerca de 2 milhões de civis hutus para o exílio em Burundi, naTanzânia e no ex-Zaire.

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fracassam as negociações franco-argelinas, por discordâncias em torno do aprovei-tamentodo petróleo descoberto em 1945. Em 1962 é acertado o Armistício de Evian, com oreconhecimento da independência argelina pela França em troca de garantias aos francesesna Argélia. A República Popular Democrática da Argélia é proclamada após eleições emque a FLN apresenta-se como partido único. Ben Bella torna-se presidente.

Guerra civilO presidente Abdelaziz Bouteflika obtém uma grande vitória, em janeiro de 2000,

com o anúncio do desmantelamento do Exército Islâmico de Salvação (EIS), braço armadoda Frente Islâmica de Salvação (FIS). A guerrilha fundamentalista fica restrita ao GrupoIslâmico Armado (GIA) e à facção Da´wa wal Jihad, menores que o EIS.

País mais afetado pelo fundamentalismo islâmico no norte da África, a Argéliamergulha na guerra civil em 1992, quando o governo anula as eleições parlamentaresvencidas pela FIS. Até 2000, mais de 80 mil pessoas são mortas em massacres e atentadospromovidos pela FIS, pelo GIA e pelas forças de repressão do governo argelino.

O presidente Bouteflika consegue 98,63% de votos favoráveis em plebiscito sobreseu plano de paz, em setembro de 1999. Mais de 1,5 mil guerrilheiros do EIS aceitam aanistia oferecida pelo governo, e que dura até janeiro de 2000. Os grupos rebeldesremanescentes prosseguem, porém, a campanha terrorista e cerca de 200 pessoas sãomortas durante o Ramadã, mês sagrado para os islâmicos, que termina em janeiro.

Congo

 Até 1908, o Congo era tratado como propriedade pessoal do rei Leopoldo. Sónaquele ano tornou-se uma colônia da Bélgica. Com tantas riquezas naturais à disposição,os belgas resistiram com uma forte repressão ao movimento de independência do Congo. A luta dos nacionalistas fez nascer um novo líder negro na África: Patrice Lumumba.

 A luta pela independência no Congo Belga ganhou intensidade em meados dos anos50. Em 1958, no Congresso Pan-africano, o líder nacionalista Patrice Lumumba faria umdiscurso anticolonialista que lhe daria prestígio e fortaleceria a causa de seu país. Osconfrontos entre nativos e colonos belgas se intensificaram até a conquista definitiva daindependência, em junho de 1960.

Conflitos entre o novo governo e províncias separatistas, no entanto, fizeramLumumba, já no cargo de primeiro-ministro, pedir a intervenção militar da ONU e da UniãoSoviética. Em setembro de 60, Lumumba foi afastado do cargo e preso, por ordem dopresidente Joseph Kasavubu. Em fevereiro de 61, o governo anunciou oficialmente suamorte. Patrice Lumumba recebeu homenagens da União Soviética, que batizou com o nomedele uma universidade em Moscou destinada a alunos estrangeiros. Iniciativas desse tipofaziam parte da luta ideológica da Guerra Fria.

Em 1971, sob o governo de Joseph Mobutu, o Congo Belga passou a se chamar Zaire. Todos os zairenses com nomes europeus foram obrigados a adotar nomes africanos.

O próprio presidente passou a Mobutu Sese Seko. Em 1997, após a queda do ditador Seko, o Zaire passaria a se chamar República Democrática do Congo.

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Históriada África

Colônias portuguesas na áfrica

Um a um, todos os Estados africanos conquistaram a independência, comexceção das colônias portuguesas Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. A África do Sul também constituía um caso à parte, em função do regime desegregação racial, o apartheid , que vigorava no país.

As possessões portuguesas estavam entre as mais antigas da África, eforam também as que duraram mais tempo. Os três Estados só chegaram àindependência nos anos 70, após a morte do ditador Antonio Salazar, quegovernou Portugal de 1932 a 1970.

MoçambiqueMoçambique, uma das nações mais pobres do planeta, foi a que permaneceu mais

tempo sob domínio colonial: de 1505, quando os portugueses se apossaram de seu litoral,até 1975. O movimento nacionalista surgiu na década de 50 e ganhou impulso em 1962,com a criação da Frente de Libertação de Moçambique, a Frelimo, de linha marxista, liderada

por Eduardo Mondlane. Através da tática de guerrilha, a Frelimo adquiriu em 64 o controlede todo o norte da colônia. Mondlane seria assassinado em 69, no exílio, e substituído por Samora Machel. Depois da morte de Salazar, em 1970, as derrotas de Portugal nas colôniasafricanas foram ampliando a insatisfação entre os militares portugueses. O processo políticoem Lisboa resultou na Revolução dos Cravos, em abril de 1974, que reinstaurou ademocracia no país.

Os novos governantes cumpriram a promessa de pôr fim aoimpério colonial português, em 1975. Moçambique passou a ser governado pelo líder da Frelimo, Samora Machel, que implantouum modelo socialista inspirado no leste europeu e na China de MaoTse-tung. Além das dificuldades econômicas, Machel precisouenfrentar as ações da Resistência Nacional Moçambicana, Renamo,um grupo anticomunista apoiado pela África do Sul.

Samora Machel morreu em 1986, num desastre aéreo, e foi sucedido pelo chanceler Joaquim Chissano. O novo governo reintroduziu a agricultura privada e se afastougradativamente dos países socialistas, a fim de obter ajuda econômica ocidental. Em 1990,sob o impacto da queda do Muro de Berlim, a Frelimo abandonou o marxismo. Mas a guerraentre o governo e a Renamo continuou, num país repleto de minas explosivas, terrascultiváveis afetadas pela devas-tação das batalhas e uma população vitimada pela fome,tifo e cólera.

AngolaOutro país que só conheceu a independência nos anos 70 foi Angola. Ali, a presença

de Portugal foi particularmente marcada pelo tráfico de escravos, a principal atividadecomercial até meados do século XIX. No total, cerca de 3 milhões de angolanos foramvendidos, a maioria para o Brasil. Somente no século XX é que Portugal passou a considerar  Angola uma colônia de povoamento. Quando o país conquistou a independência, em 1975,havia 350 mil colonos portugueses em Angola, ou 6% da população.

 A luta pela independência em Angola teve início na década de 60. A rebelião

anticolonial se expressava através de três grupos rivais. Os principais eram o MovimentoPopular de Libertação de Angola, MPLA, e a União Nacional para a Independência Total de Angola, UNITA. A rivalidade entre os grupos resultou em luta armada após a Revolução dosCravos. O apoio estrangeiro a cada facção em luta espelhava claramente a Guerra Fria na

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Em novembro de 75, Lisboa renunciou oficialmente ao controle da colônia e o MPLAproclamou a República Popular de Angola. Mas foi um difícil começo para a nova república:os colonos portugueses abandonaram o país, e com isso Angola perdeu praticamente todasua mão de obra qualificada. O novo governo tinha como presidente Agostinho Neto. Em76, o MPLA assumiria o controle da maior parte do território e conquistaria o reconhecimentointernacional. A Unita, liderada por Jonas Savimbi, prosseguiria a guerrilha com o apoiodos Estados Unidos. Em 1979, com a morte de Agostinho Neto, o novo presidente seria

José Eduardo dos Santos.

Em 1988, um acordo entre Angola, Cuba e África do Sul fixou prazos para aindependência da Namíbia, proclamada em março de 1990, e para a retirada das tropascubanas, em maio de 91. No mesmo mês, um novo acordo entre o governo e a Unitaestabeleceu a convocação de eleições democráticas, realizadas em setembro de 92. JoséEduardo dos Santos foi confirmado presidente nas urnas, mas a Unita não aceitou o resultadoe reiniciou a guerra civil. Os combates devastaram o país e provocaram a fome em grandeescala. Segundo dados da ONU, 1,5 milhão de angolanos estavam ameaçados de morrer de inanição em 1993. Naquele ano, os Estados Unidos reconheceram o governo do MPLAe retiraram o apoio à Unita.

África do SulEsse emaranhado de conflitos étnicos e geopolíticos está bem representado pela

história da África do Sul, iniciada ainda no século XVII, época da chegada dos holandesesà região. Os europeus chegaram à região sul africana em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias contornou o cabo da Boa Esperança. A partir do século XVII, osimigrantes holandeses, inicialmente interessados em explorar a rota comercial para a Índia,passaram a considerar a região como sua pátria.

Em 1806, os ingleses tomaram a cidade do Cabo e se instalaram no lugar, lutandocontra os nativos negros e contra os descendentes de holandeses, chamados de bôeres .Os choques atravessaram todo o século XIX, provocando movimentos migratórios dosbôeres para o nordeste do país, onde fundaram duas repúblicas, o Transvaal e o EstadoLivre de Orange.

Na passagem para o século XX, a Guerra dos Bôeres resultou na vitória dos ingleses.Os Estados bôeres foram anexados pela Coroa Britânica. Em 1910, juntaram-se às colôniasdo Cabo e de Natal para constituir a União Sul-Africana. Os negros, no entanto, eram aimensa maioria e constituíam uma ameaça ao domínio da minoria branca.

Ingleses e africâners, para minimizar a inferioridade numérica, fecharam em 1911 oprimeiro acordo para a aprovação de leis segregacionistas contra a população negra. Apolítica de segregação racial seria oficializada em 1948, com a chegada ao poder do Partido

 África. A Unita recebeu ajuda dos EstadosUnidos, da França e da África do Sul, en-quanto o MPLA teve o auxílio soviético ecubano. Em outubro de 75, a África do Sulenviou tropas para lutar em Angola, ao ladoda Unita. A ofensiva contra a capital Luanda

foi detida pela chegada de soldados cu-banos, a pedido do MPLA. O governo sul-

africano justificou o ataque alegando que Angola fornecia armas aos guerrilheiros davizinha Namíbia, um país pequeno mas ricoem ouro e outros minerais. Na verdade, a África do Sul queria deter o avanço de movi-mentos de esquerda no continente, avanço

que poderia estimular a luta contra oapartheid sul-africano.

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 As reformas de Frederik de Klerk foram apoiadas em plebiscito realizado em 92.Foi a última consulta popular restrita à população branca. Dois anos depois, em abril de 94,foram realizadas as primeiras eleições multirraciais da história da África do Sul. Eleiçõesvencidas por Nélson Mandela.

Com o fim da Guerra Fria, a África perdeu sua importância relativa. Nos anos 90, o

continente foi de novo entregue ao esquecimento. Os Estados africanos, artificialmentedivididos, ainda são cenário de guerras civis provocadas por ódios tribais. Muitas ditadurassão mantidas através das armas, e a doença, a fome e a seca continuam ceifando a vida demilhões de pessoas.

www.tvcultura.com.br/aloescola/historia/guerrafria/guerra10/terceiromundo-africa.htm 

TEXTO COMPLEMENTAR

“ Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele,ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisamaprender; e, se elas podem aprender a odiar, podem ser ensinadasa amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humanodo que o seu oposto.”

Nelson Mandela

Nelson Mandela – um guerreiro da África contemporânea 

Nelson Rolihlahla Mandela (Qunu, 18 de julho de 1918), advogado, foi um líder

rebelde e presidente da África do Sul de 1994 a 1999. Principal representante domovimento anti-apartheid, como ativista, sabotador e guerrilheiro. Considerado pelamaioria das pessoas um guerreiro em luta pela liberdade, era considerado pelogoverno sul-africano um terrorista. Passou a infância na região de Thembu, antesde seguir carreira em Direito.

Infância de Juventude De etnia Xhosa, Rolihlahla Mandela nasceu no pequeno vilarejo de Qunu,

distrito de Umtata, na região do Transkei. Seu pai era Gadla Henry Mphakanyiswa,prefeito do município de Mvezo, próximo ao Rio Mbashe. Aos sete anos Mandela

tornou-se o primeiro da família a frequentar a escola, onde lhe foi dado o nome inglês“Nelson”. Seu pai morreu logo depois, e Nelson seguiu para uma escola próximaao palácio do Regente. Seguindo as tradições Xhosa, ele foi iniciado na sociedadeaos dezesseis anos, seguindo para o Instituto Clarkebury, onde estudaria culturaocidental. Obteve seu diploma em dois anos, ao invés dos customeiros três anos.

Com 19 anos, em 1934, Mandelamudou-se para Fort Beaufort, cidade comescolas que recebiam a maior parte darealeza Thembu, e ali tomou interesse noboxe e nas corridas. Após se matricular,

ele começou o curso para se tornarbacharel em Direito na Universidade deFort Hare, onde conheceu Oliver Tamboe iniciou uma longa amizade.

Ao final do primeiro ano, Mandelase envolveu com o movimento estudan-til, num boicote contra as políticas uni-versitárias, sendo expulso de Fort Hare.Dali foi para Joanesburgo, onde terminou

sua graduação na Universidade da Áfricado Sul (UNISA) por correspondência.Continuou seus estudos de Direito naUniversidade de Witwatersrand.

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Atividade política Como jovem estudante do direito, Mandela se envolveu na

oposição ao regime do apartheid, que negava aos negros (maioria dapopulação) direitos políticos, sociais e econômicos. Uniu-se aoCongresso Nacional Africano (conhecido no Brasil pela siglaportuguesa, CNA, e em Portugal pela sigla inglesa, ANC) em 1942, e

dois anos depois fundou com Walter Sisulu e Oliver Tambo (entre outros)uma organização mais dinâmica, a Liga Jovem do ANC/CNA.

Depois da eleição de 1948 dar a vitória aos afrikaners (Partido Nacional),apoiantes da política de segregação racial, Mandela tornou-se ativo no CNA, tomandoparte do Congresso do Povo (1955) que divulgou a Carta da Liberdade - documentocontendo um programa fundamental para a causa anti-apartheid.

Comprometido de início apenas com atos não violentos, Mandela e seuscolegas aceitaram recorrer às armas após o massacre de Sharpeville (março de

1960), quando a polícia sul-africana atirou em manifestantes negros, desarmados,matando 69 pessoas e ferindo 180 - e a subsequente ilegalidade do CNA e outrosgrupos anti-apartheid.

Prisão Em 1961, ele se tornou comandan-

te do braço armado do CNA, o chamadoUmkhonto we Sizwe (“Lança da Nação”,ou MK), fundado por ele e outros. Mande-la cordenou uma campanha de sabota-gem contra alvos militares e do governo,fazendo também planos para uma possí-vel guerrilha se a sabotagem falhasse emacabar com o apartheid; também viajouem coleta de fundos para o MK, e crioucondições para um treinamento e atu-ação paramilitar do grupo. Em agosto de1962 Nelson Mandela foi preso apósinformes da CIA à polícia sul-africana,sendo sentenciado a 5 anos de prisão

por viajar ilegalmente ao exterior e incen-tivar greves. Em 12 de junho de 1964 foisentenciado novamente, dessa vez àprisão perpétua - apesar de ter escapadode uma pena de enforcamento), por pla-nejar ações armadas, em particular sabo-tagem (o que Mandela admite) e conspi-ração para ajudar outros países a invadira África do Sul (o que Mandela nega). Nodecorrer dos vinte e seis anos seguintes,Mandela se tornou de tal modo associadoà oposição ao apartheid que o clamor“Libertem Nelson Mandela” se tornoubandeira de todas as campanhas egrupos anti-apartheid ao redor do mundo.

Enquanto estava na prisão, Mandela enviou uma declaração para o CNA (eque viria a público em 10 de junho de 1980) em que dizia: “Unam-se! Mobilizem-se!Lutem! Entre a bigorna, que é a ação da massa unida; e o martelo, que é a lutaarmada devemos esmagar o apartheid!”

Recusando trocar uma liberdade condicional pela recusa em incentivar a lutaarmada (fevereiro de 1985), Mandela continuou na prisão até fevereiro de 1990,quando a campanha do CNA e a pressão internacional conseguiram que ele fosselibertado em 11 de fevereiro, por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk. O

CNA também foi tirado da ilegalidade.

Nelson Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da paz em 1993.

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Presídência do CNA e da África do Sul Como presidente do CNA (de julho de 1991 a dezembro de 1997) e primeiro

presidente negro da África do Sul (de maio de 1994 a junho de 1999), Mandelacomandou a transição do regime de minoria no comando, o apartheid, ganhandorespeito internacional por sua luta em prol da reconciliação interna e externa. Algunsradicais ficaram desapontados com os rumos de seu governo, entretanto;

particularmente na ineficácia do governo em contar a crise de disseminação da SIDA.

Mandela também foi criticado por sua amizade próxima para com líderes comoFidel Castro (Cuba) e Muammar Al Qadhafi (Líbia), a quem chamou de “irmãos dasarmas”. Sua decisão em invadir o Lesoto, para evitar um golpe de estado naquelepaís, também é motivo de controvérsia.

Ele se casou três vezes. A primeira esposa de Mandela foi Evelyn Ntoko Mase,da qual se divorciou em 1957 após 13 anos de casamento. Depois casou-se comWinie Madikizela, e com ela ficou 38 anos, divorciando-se em 1996, com divergências

políticas entre o casal vindo a público. No seu 80º aniversário, Mandela casou-secom Graça Machel, viúva de Samora Machel, antigo presidente moçambicano e aliadodo CNA.

Os recursos petrolíferos e mineirostêm acabado por consubstanciar paralela-mente um obstáculo ao controlo da violência,agravando os problemas econômicos;acresce o grave problema da Aids, com par-ticular incidência na África Austral.

Se, até agora, os dramas africanos

não tiveram impacto significativo sobre asegurança a nível mundial, será de recear que a implosão da África possa ter conse-quências nefastas para o equilíbrio mundial.

 A violência do continente poderáacabar por ser exportada, como tem aconte-cido no Oriente Médio, por via de movimentosterroristas já estabelecidos. O êxodo derefugiados em fuga das guerras e dasdoenças acelerará os movimentos depopulações em direção ao Norte. Dificilmente

estas catástrofes, afetando 800 milhões depessoas, deixarão de ter repercussõesexternas.

A comunidade internacional têm uma obrigação urgente, de forma a evitar que serepitam situações como as do genocídio no Ruanda em 1994, mas o desenvolvimento de África é uma tarefa de longo prazo, que pressupõe, por um lado, uma muito maior aberturados mercados dos países industrializados à produção de origem africana, essencialmenteagrícola (atualmente, condicionados pelas medidas protecionistas européias e americanas);

por outro lado, o investimento na escolaridade deverá ser uma prioridade máxima(constituindo a Tunísia um exemplo a seguir).

Analisando e Pensando uma nova África para o século XXI

O subdesenvolvimento estrutural africano tem sido sistematicamente acompanhadopor guerras e conflitos étnicos, desde a África Ocidental (Serra Leoa, Libéria e, ultimamente,

Costa do Marfim), à região dos Grandes Lagos (Ruanda, Burundi, o Congo e a R. D. Congo),passando pelo .Chifre da África. (Sudão, Somália, guerra entre a Etiópia e a Eritreia) e pela África Austral (Angola e Zimbabwe).

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O encontro de intelectuais, no contexto da Ciad, incentiva e contribui para aintegração da Diáspora com suas origens ancestrais;

O desenvolvimento da África será dinamizado por meio da contribuição daDiáspora Africana;

A 1ª e 2ª Ciad se apresentam como relevantes mecanismos para acompreensão global do Renascimento Africano.

Declaramos queA 2ª Ciad realça a necessidade de que o diálogo entre os intelectuais africanos

e da Diáspora seja mantido entre e após as reuniões;A União Africana deverá promover atividades da Diáspora como parte

importante de seu organograma e reforçar e apoiar o Departamento da SociedadeCivil e das Relações com a Diáspora (Cido), responsável pelos contatos com ascomunidades de origem africana em outros países;

As comunidades africanas e os países da Diáspora devem apoiar o trabalhodo Departamento, em particular, e da Iniciativa da União Africana para a Diáspora,em geral;

A União Africana deverá estabelecer o Comitê de Coordenação de Intelectuaispara auxiliar a Comissão da União Africana nos preparativos da 3ª Ciad.Na melhor tradição da investigação intelectual com responsabilidade social,

aspiramos a trabalhar juntamente com o Comitê de Coordenação para promover acooperação estratégica entre os intelectuais e autoridades governamentais na Áfricae na Diáspora, por meio de mecanismo organizados e sustentáveis. Tambémbuscaremos desenvolver modalidades para a coordenação da pesquisa, do ensinoe do diálogo, bem como outras atividades de interesse estratégico, para dinamizaro Renascimento Africano e integrar essas atividades com aquelas da União Africanae outras iniciativas multilaterais.

O Governo da República Federativa do Brasil, anfitrião da 2ª Ciad, e a UniãoAfricana deverão considerar a criação de um Centro Internacional da África e daDiáspora que, entre outras atribuições, funcionaria como um dos pontos de referênciapara ampliar a cooperação entre as organizações e instituições acadêmicas,intelectuais e artísticas africanas e da diáspora, promovendo reuniões setoriais,projetos científicos, seminários, manifestações artísticas e encontros de jovens, entreoutras atividades, a fim de adensar e encorajar um pensamento africano mundial.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura(Unesco) é convidada a incluir em seu programa e orçamento para o biênio 2008-2009, e para sua estratégia e médio prazo 2008-2013, o apoio a atividade de segui-mento da 2ª Ciad e outras iniciativas que promovam o estreitamento dos laços entre

a África e a Diáspora;A 2ª Ciad é um marco das estreitas relações entre os países africanos e os

países da Diáspora e testemunho da crescente importância da África no mundo;A concretização do Renascimento Africano é elemento essencial para que o

século XXI inicie uma era em que todos os povos e países tenham acesso à riquezae à cultura, em pleno respeito da dignidade, dos direitos e dos valores das crianças,mulheres, idosos e homens de todas as etnias e crenças.”

Salvador 15 de julho de 2006

Extraído de:http://www.ciranda.net/spip/article388.html 

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HOTEL RUANDA (Hotel Rwanda, EUA,2006). Dirigido por Terry George. Com Don Cheadle.

Baseado em trágicos fatos reais, aconteci-dos em Ruanda em 1994, Hotel Ruanda conseguedespertar sentimentos agudos, tais como revolta,desespero, agonia, entre outros menos óbvios. Comocinema, é um forte drama com interpretações muitosólidas e um roteiro bem firme, que tem a capacidadede abrir o coração dos espectadores para que estesse voltem à pobre África, o continente dos esqueci-dos. Há uma mensagem política bem direta, quefuncionaria até para os dias atuais, contra os paísesricos. Isso se, claro, estes se importassem. De qual-quer forma é um filme de alto valor: o documento estácriado, e qualquer um pode assistí-lo.

Hotel Ruanda é de enorme importância comodenúncia e documento histórico (com certeza muitosconhecerão essa história somente agora) e comocinema é um fi lme muito bom, com ótimasinterpretações e direção sólida (em nenhum momentoesta se destaca, mas é eficiente ao extremo paralidar com o conteúdo do filme). O filme foi indicado a

alguns poucos Oscars, mas não tinha força por ser pequeno demais para Hollywood, que preferiu dar oOscar de melhor ator para Jamie Foxx, pelo insossoRay, a escolher Don Cheadle. Tudo bem: hoje, maisde um ano depois, Ray está bem esquecido e HotelRuanda continua ganhando admiradores. A justiçatarda, mas não falha.

O JARDINEIRO FIEL - Após uma ativista ser assassinada no Quênia, seu marido parte em viagempara descobrir o que realmente aconteceu com ela,uma visita pelo continente africano, sua gente, suas

mazelas e como são tratados pelos grupos interna-cionais. Dirigido por Fernando Meirelles (Cidade deDeus) e com Ralph Fiennes, Rachel Weisz e PetePostlethwaite no elenco. Estados Unidos. 2005.

5 .....A África subsaariana conheceu, ao longo dos últimos quarenta anos, trinta etrês conflitos armados que fizeram no total mais de sete milhões de mortos. Muitosdesses conflitos foram provocados por motivos étnico-regionais, como os mas-sacres ocorridos em Ruanda e no Burundi.

Le Monde Diplomatique, maio/1993 - com adaptações.

Identifique as raízes históricas desses conflitos.

SESSÃO DE CINEMA

A BATALHA DO ARGEL - A Batalha de Argel descreve eventos decisivos da guerra pela indepen-dência da Argélia, marco do processo histórico delibertação das colônias européias na África. A açãoconcentra-se entre 1954 e 1957 [a guerra só terminariaem 1962], mostrando como agiam os dois lados doconflito: enquanto o exército francês recorria à políticade eliminação e à tortura, a Frente de LibertaçãoNacional [FLN] desenvolvia técnicas não convencio-nais de combate baseadas na guerrilha e no terro-rismo. Neste filme de imensa atualidade, o mestreitaliano Gillo Pontecorvo mudou a história do cinemapolítico ao construir uma narrativa de tirar o fôlego,em que mistura técnicas de documentário e de ficção.Produção Argélia/Itália. 1965

A PATRULHA DA ESPERANÇA - AnthonyQuinn (Sede de Viver) faz uma de suas melhores per-formances interpretando o coronel Pierre Raspeguy,um oficial durão determinado a virar herói a qualquer custo em sua saga de guerra. Depois de ter conduzidoo seu derrotado e humilhado exército francês para

fora da Indochina, Raspeguy descobre que perdeusua posição de comando. Ele tem uma nova chancede recuperar sua autoridade quando encontra e seapaixona por uma condessa francesa que consegueuma nova posição para ele na Argélia. Estando lá,Raspeguy convence dois velhos amigos de guerra acriar uma unidade de combate. Eventualmente, ele éforçado a enfrentar um terrorista árabe que quer osfranceses fora da Argélia. Agora, em sua tentativadesesperada de alcançar vitória, o coronel Rapeguylança uma batalha sangrenta contra as forçasterroristas. Produção EUA. 1966.

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Históriada África

SARAFINA – O SOM DA LIBERDADE - Em pleno Apartheid, numa escola deSoweto, em que o exercito patrulha de armas e as crianças gritam “Libertem Mandela”, umaprofessora ensina história de uma forma censurável fugindo ao currículo aprovado pelo regime.Sarafina é uma aluna negra, que relata a história sobre a forma de uma carta dirigida aNelson Mandela e que, co-mo tantos outros adolescentes, se sente revoltada face às injustiçasdo sistema. Um sistema que as incentiva a estudar para terem uma hipótese de vida masque nunca lhes explica declaradamente que nunca terão uma hipótese de igualdade social.

Estados Unidos. 1993.

SENHOR DAS ARMAS – Nicolas Cageassume o papel de um traficante de armas precisase manter um passo a frente de um agente da Interpol,seus concorrentes e até mesmo seus clientes. Nestefilme percebe-se como as guerras no continenteafricano e asiático mantém o mundo do tráficoclandestino de armas. Dirigido por Andrew Niccol(Gattaca - Experiência Genética) e com Nicolas Cage,Ethan Hawke, Ian Holm e Donald Sutherland noelenco. Estados Unidos. 2005.

UM GRITO DE LIBERDADE - Inesquecívelamizade entre dois homens inesquecíveis. A tensãoe o terror presentes atualmente na África do Sul sãovivamente retratados nesta arrebatadora históriadirigida por Richard Attenborough sobre o ativistanegro Stephen Biko (Denzel Washington) e um editor  jornalístico branco liberal que arrisca a própria vidapara levar a mensagem de Biko ao mundo. Depoisde travar contato com os verdadeiros horrores doapartheid através dos olhos de Biko, o editor DonaldWoods (Kevin Kline) descobre que o amigo foisilenciado pela polícia. Determinado a não deixar quea mensagem de Biko seja abafada, Woods empreendeuma perigosa fuga da África do Sul para tentar levar aincrível história de coragem de Biko para o mundo. Afascinante história real oferece um relato emocionantedo ser humano em seu lado mais nefasto e maisheróico. Estados Unidos. 1987.

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 AtividadeOrientada

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 1 

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa  2 

Com base no que foi estudado nos temas 1 e 2 na disciplina História da África,responda, elaborando um texto dissertativo, a seguinte questão:

 A Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabelece as diretrizes e as bases daeducação nacional para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade doensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currículos da Educação Básica.De que maneira a instituição dessa lei contribui para a valorização do negro e da sua culturana sociedade brasileira.

“Estudos acadêmicos qualitativos e quantitativos recentes realizados pelasinstituições de pesquisas respeitadíssimas como o IBGE e o IPEA não deixam dúvi-das sobre a gravidade gritante da exclusão do negro, isto é, pretos e mestiços nasociedade brasileira. Fazendo um cruzamento sistemático entre a pertencia racial eos indicadores econômicos de renda, emprego, escolaridade, classe social, escola-ridade, idade, situação familial e região ao longo de mais de 70 anos desde 1929,Ricardo Henriques (2001) chega à conclusão de que “no Brasil, a condição racialconstitui um fator de privilégio para brancos e de exclusão e desvantagem para osnão-brancos. Algumas cifras assustam quem tem preocupação social aguçada ecompromisso com a busca de igualdade e qualidade nas sociedades humanas”:

Do total dos universitários, 97% são brancos, 2% negros e 1% descendentes de orientais.Dos 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70% são negros.Sobre 53 milhões de brasileiros que vivem na pobreza, 63% são negros

Henriques, 2001Revista Espaço Acadêmico, Nº 22, Março de 2003 

 A partir do fragmento de texto acima e da sua experiência pessoal, analise, atravésde um texto argumentativo a Política Afirmativa de Cotas para afro-descendentes nas

instituições de ensino superior do Brasil.

Para a construção de um ambiente educacional saudável atento para com a eqüidadedos conteúdos apresentados aos alunos, o olhar crítico é fundamental para detectar muitasdas representações que possam ser fontes de preconceitos, estereotipias ou que geremdiscriminações. Escolha um dos estereotipos abaixo sobre o continente africano e crieuma situação didática que envolva a sua desconstrução.

1. A África não é uma selva tropical.

2. A África não é mais distante que os outros continentes.3. As populações Africanas não são isoladas e perdidos na selva.4. O europeu não chegou um dia na África trazendo civilização.5. A África tem história e também tinha escrita.

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 3 

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