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Trabalho de Pesquisa – Dossiê de Fontes Subdomínio 9.1. Apogeu e declínio da influência europeia 2 Subdomínio 9.2. As transformações políticas, económicas, sociais e culturais do após-guerra 7 Subdomínio 9.3. Portugal: da 1.ª República à Ditadura Militar 11 Subdomínio 10.1. Crise, ditaduras e democracia na década de 30 15 Subdomínio 10.2. A 2.ª Guerra Mundial: violência e reconstrução 19 Subdomínio 11.1. A Guerra Fria 24 Subdomínio 12.1. Estabilidade e instabilidade num mundo unipolar 27 Índice

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Trabalho de Pesquisa – Dossiê de FontesSubdomínio 9.1. Apogeu e declínio da influência europeia 2

Subdomínio 9.2. As transformações políticas, económicas, sociais e culturais do após-guerra 7

Subdomínio 9.3. Portugal: da 1.ª República à Ditadura Militar 11

Subdomínio 10.1. Crise, ditaduras e democracia na década de 30 15

Subdomínio 10.2. A 2.ª Guerra Mundial: violência e reconstrução 19

Subdomínio 11.1. A Guerra Fria 24

Subdomínio 12.1. Estabilidade e instabilidade num mundo unipolar 27

Índice

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Atividade de aprofundamento[pág. 24 do Manual]

Subdomínio 9.1. Apogeu e declínio da influência europeia

1. Faz uma pesquisa sobre a participação de Portugal na 1.ª Guerra Mundial, designadamente sobre a batalha de La Lys, França.

2. Elabora uma reportagem e apresenta-a à tua turma.

O posicionamento de Portugal face à guerra Nos anos de 1914 a 1916, as perspetivas dos grupos políticos existentes em Portugal podem ser agrupados em dois blocos: o grupo favorável à beligerância e o grupo que via na intervenção no conflito um perigo para o país e para o Estado.

A posição favorável à entrada na guerra encontrava-se sobretudo no Partido Democrático e no Partido Evolucionista e contava com o apoio político de figuras como Afonso Costa, João Chagas, José Norton de Matos e Bernardino Machado. Favoráveis à neutralidade encontravam-se outras forças partidárias (Partido Unionista, os socialistas, os monárquicos e os católicos) e figuras de grande prestígio como o ministro Alfredo Freire de Andrade, Sidónio Pais e Manuel de Brito Camacho. Contudo, a 23 de novembro de 1914, o Congresso da República autoriza Portugal a intervir ao lado dos Aliados. No momento da entrada de Portugal na guerra constitui-se um movimento de apoio à beligerância portuguesa que ficou conhecido por “União Sagrada” que reunia o Partido Democrático e o Evolucionista. O Unionista e os Monárquicos defenderam uma posição de abandono de Portugal da guerra.

191428 junho

Assassinato, em Sarajevo, do arquiduque Francisco Fernando.

23 julho

Ultimato da Áustria à Hungria.

28 julho

A Áustria declara guerra à Sérvia.

1 agosto

A Alemanha declara guerra à Rússia.

3 agosto

A Alemanha declara guerra à França.

4 agosto

A Alemanha invade a Bélgica.

5 agosto

Declaração de guerra da Grã-Bretanha à Alemanha e da Áustria à Rússia.

12 agosto

O Japão declara guerra à Alemanha. Portugal decide organizar uma expedição militar com destino a Angola e a Moçambique.

20 outubro

Movimentos revolucionários monárquicos em Mafra e Bragança. Declaram-se contra a participação de Portugal na guerra. O Partido Socialista promove uma manifestação de apoio aos Aliados.

23 novembro

Reunião extraordinária do Congresso da República em que o governo é autorizado a participar na guerra ao lado da Grã-Bretanha e a ceder armamento.

Cronologia

A imprensa portuguesa fazia eco das diferentes perspetivas, influenciando a opinião pública. A 6 de agosto de 1914, o jornal O Século, dando conta da entrada da Inglaterra na guerra afirmou que Portugal, dada a sua aliança diplomática multissecular, não se poderia manter neutral e deveria auxiliar esta potência, uma vez que a Inglaterra tinha potencial geoestratégico muito importante para salvaguarda dos interesses coloniais portugueses. A tese intervencionista é, também, sustentada na defesa do ideal da liberdade dos povos (Ferrão, Nuno Sotto Mayor, 2014).

(http://cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt/tag/1%C2%AA+guerra+mundial. Consultado em 9.09.2014)

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A Ilustração PortuguesaA Ilustração Portuguesa foi uma revista semanal editada pelo jornal O Século cuja publicação ocorreu entre 9 de novembro de 1913 e 1924.

A linha editorial da revista era claramente a favor da entrada de Portugal na guerra ao lado dos Aliados.

Todos os números podem ser consultados no sítio da Hemeroteca Municipal de Lisboa (hemerotecadigital.com-lisboa.pt)

191617 fevereiro

O governo português recebe um pedido do governo britânico, em nome da aliança, de requisição urgente de todos os barcos inimigos.

23 fevereiro

Portugal apreende todos os navios mercantes alemães fundeados nos portos portugueses.

9 março

A Alemanha declara guerra a Portugal.

9 junho

Afonso Costa, ministro das Finanças, e Augusto Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, partem para Paris, para participar na Conferência Económica dos Aliados.

15 junho

O governo britânico convida formalmente Portugal a tomar parte ativa nas operações militares dos Aliados.

22 julho

É constituído, em Tancos, sob o comando do general Norton de Matos, o Corpo Expedicionário Português (CEP), formado por 30 mil homens.

7 agosto

Parlamento português aceita a participação de Portugal na guerra de acordo com o convite formal do governo britânico de 15 de junho.

191730 janeiro

A 1.ª brigada do CEP, do comando do general Gomes da Costa, sai do rio Tejo a bordo de três vapores britânicos.

8 fevereiro

As tropas portuguesas concentram-se na Flandres francesa.

1 Capa da Ilustração Portugueza. II Série- N.º 529, Lisboa, 10 de abril de 1916

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A difícil mobilização para a guerra – Organização do CEP

A guerra e, acima de tudo, as sucessivas mobilizações quer para a Divisão Auxiliar, quer para a Divisão de Instrução e, depois, para o Corpo Expedicionário Português foram motivos para, entre agosto de 1914 e janeiro de 1917, levar alguns portugueses a faltar às obrigações militares ou mesmo a desertar.

Claro que uma análise cuidada dos elementos existentes sobre deserções permite que se possa concluir que alguns dos casos não estavam relacionados com a guerra e a mobilização para o conflito. Com efeito, foram muitos os mancebos que não compareceram às inspeções militares por se encontrarem em situações especiais, como os que haviam emigrado ainda jovens. Mas houve deserções bem determinadas, verdadeiras fugas ao serviço militar. Estas fugas verificaram-se em todos os postos, desde oficiais dos quadros permanentes […] até oficiais milicianos, sargentos, cabos e soldados.

No total ocorreram 3035 faltas ao serviço militar [antes dos embarques para França], tendo sido recuperados apenas 181 homens. […] Pode, então, afirmar-se que, realmente, as deserções foram da ordem dos 2400 o que não chega a ser 4,5% do total dos militares deslocados para França durante a guerra, o que dadas as circunstâncias, não é um número exagerado.

Fraga, Luís Alves (2013). In Afonso, A. e Gomes, Carlos de Matos (Coord.) Portugal e a Grande Guerra. 1914-1918, Vila do Conde: Autores e

Verso da História.

19174 abril

As primeiras tropas portuguesas entram nas trincheiras. É morto o primeiro soldado português em combate – António Gonçalves Curado.

9 abril

Os EUA declaram guerra à Alemanha.

11 outubro

Bernardino Machado, presidente da República, chega à zona de concentração do CEP em visita às tropas na frente. É acompanhado por Afonso Costa, presidente do Conselho e ministro das Finanças, e de Augusto Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros.

13 outubro

Cerimónia de entrega das primeiras Cruzes de Guerra ao CEP. Foram condecorados 10 oficiais, 8 sargentos e 27 cabos e soldados.

9 abril

A batalha de La Lys começa com uma prolongada barragem de artilharia alemã. A 2.ª divisão do CEP é destruída no decurso da batalha.

11 novembro

O armistício proposto pelos aliados é aceite pela Alemanha.

António Gonçalves Curado (1894-1917)Nasceu em Vila Nova da Barquinha a 29 de setembro de 1894 e morreu na Flandres em 4 de abril de 1917.

Mobilizado pelo regimento de Infantaria n.º 28, embarcou para França em 22 de fevereiro de 1917, tendo sido o primeiro militar português do CEP a morrer em combate, o que o retirou do anonimato e fez com que fosse alvo de homenagens. Os seus restos mortais, pela ação do Município da Barquinha, foram transladados para Portugal, onde chegaram em 31 de julho de 1929. Na Figueira da Foz – localidade onde estava sedeado o seu regimento – foi mandado erigir, pela comunidade francesa residente em Portugal, um monumento em sua memória.

2 Monumento em memória de Gonçalves Curado, na Figueira da Foz

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A preparação para a guerra

Com a vitória do fogo sobre o movimento e a consequente supremacia das trincheiras nos campos de batalha europeus, a organização do Corpo Expedicionário Português obedeceu ao princípio do reforço em meios de artilharia, morteiros e metralhadoras, associado à presença maciça de homens colados ao terreno.

Era certo que em Portugal não havia ainda a experiência da guerra nas trincheiras, mas já se conheciam os seus fundamentos essenciais. Esse terá sido o fator que, ligado à nova conceção de emprego da força, determinou que o CEP fosse inicialmente constituído por uma divisão reforçada com capacidades superiores ao quadro orgânico normal.

A ordem de batalha do CEP, tal qual foi formado para seguir para França nos primeiros dias de janeiro de 1917, reflete essas preocupações, assim como a disposição das unidades de origem, sinal claro do enorme esforço na sua constituição.

Ficou organizado com base em tropas mobilizadas de muitas unidades do continente, de Bragança a Portalegre. Estas eram unidades e formações que constituíam a organização de combate da divisão, ou seja, a ordem de batalha da grande unidade com que Portugal contribuía para o esforço de guerra. No entanto, para além destas, ainda se mandaram outras formações para se estabelecerem a Base, como primeiro depósito de reforços e de recompletamento da divisão. Nesta incluíam-se, também, formações sanitárias para convalescença de feridos e doentes que carecessem de maiores cuidados do que aqueles que podiam ser dispensados na frente de combate. A Base, organicamente, fazia parte integrante do CEP e tinha uma estrutura de apoio.

A divisão tinha o efetivo de 1180 oficiais e 32 700 sargentos e praças, que utilizavam 10 629 solípedes (entre cavalos e muares), 1745 viaturas hipomóveis e 392 viaturas automóveis. A Base era constituída por 371 oficiais e 5334 sargentos e praças que tinham ao seu serviço 1092 solípedes, 44 viaturas hipomóveis e 3 automóveis. Em suma, o CEP, embarcado para França nos primeiros dias de janeiro de 1917, totalizava 1551 oficiais e 38 034 sargentos e praças.

[…] Do ponto de vista do fardamento individual, por um quase total desconhecimento das condições de vida das tropas nas trincheiras, os soldados do CEP foram mal apetrechados para a Flandres. As botas não eram apropriadas ao uso em terrenos lamacentos, os agasalhos eram rudimentares (um capote de tecido de lã e duas mantas) tal como as mudas de roupa (cada praça possuía somente um par de todos os artigos singulares). Desconheceu-se, por completo, a existência de tecidos impermeáveis para proteger da chuva, constante naquela região da frente. Dado que o inverno de 1917 foi excecionalmente rigoroso no Norte da França, as tropas portuguesas começaram por passar muito e insuperável frio.

Fraga Luís Alves (2013). In Afonso, A. e Gomes, Carlos de Matos (Coord.), Ob. cit.

3 Oficiais portugueses antes do embarque para a Flandres

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191918 janeiro

Inicia-se a Conferência de Paz, em Versalhes, França. A delegação portuguesa foi chefiada por Egas Moniz. Em março é substituído por Afonso Costa.

28 junho É assinado, em Versalhes, o Tratado de Paz que pôs fim à 1.ª Guerra Mundial.

A Batalha de La LysA batalha de La Lys foi travada em 9 de abril de 1916, entre as forças da Alemanha e do Império Austro- -Húngaro, por um lado, e a coligação de países em que se destacavam a Inglaterra, a França e Portugal, por outro. A batalha decorreu numa planície pantanosa banhada pelo rio Lys e seus afluentes. A frente de combate distribuía-se por uma extensa linha de 55 Km, entre as localidades de Gravelle e de Armentière, guarnecida pelo 11.º Corpo Britânico, com cerca de 84 000 homens, entre os quais se compreendia a 2.ª Divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP), constituído por cerca de 20 000 homens, dos quais apenas cerca de 15 000 estavam nas primeiras linhas comandados pelo general Gomes da Costa. Esta linha viu-se impotente para sustentar o embate de oito divisões do 5.º Exército Alemão, com cerca de 55 000 homens comandados pelos general Ferdinand von Quast (1850-1934). Essa ofensiva alemã, montada por Eric Ludendorff, ficou conhecida por ofensiva “Georgette”. As tropas portuguesas perderam cerca de 7500 homens entre mortos, desaparecidos, feridos e prisioneiros, em apenas 4 horas de batalha. Constituiu a experiência mais traumática da participação do Corpo Expedicionário Português na 1.ª Guerra Mundial.

As cerimónias da comemoração do aniversário da batalha de La Lys têm lugar, anualmente, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória – Batalha (Leiria).

Um dos muitos nomes anónimos que ficaram associados a esta batalha foi o soldado Milhões, cujo nome verdadeiro era Aníbal Milhais, natural de Valongo, Murça. Encontrando-se sozinho na sua trincheira, apenas munido de uma metralhadora Lewis (conhecida entre os combatentes portugueses por Luísa) enfrentou sozinho as colunas alemãs que se atravessaram no seu caminho, permitindo a retirada de vários soldados portugueses e britânicos para as posições defensivas da retaguarda. Vagueando pelas trincheiras e campos, ora de ninguém ora ocupados pelos alemães, o soldado Milhões continuou ainda a fazer fogo esporádico. A heroicidade deste soldado manifestou-se, ainda, quando, quatro dias depois, salvou um militar escocês de se afogar num pântano. Foi este militar que deu as informações ao exército aliado dos feitos do soldado transmontano. Regressado a um acampamento português, um comandante saudou-o, dizendo a frase que ficaria na História de Portugal: “Tu és Milhais, mas vales Milhões!”

Foi o único soldado raso português da 1.ª Guerra Mundial a ser condecorado com o Colar da Ordem Militar da Torre e Espada, de Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração existente no país.

Outras leituras:1 Mota, Guilhermina (2006). Batalha de La Lys: um relato pessoal. In: Revista Portuguesa de História, t. XXXVIII,

pp. 77-107. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Filmes/Documentários:1 http//www.ensina.rtp.pt/artigo/batalha-de-la-lys-documentario/As Batalhas da Primeira Guerra Mundial

(particularmente o primeiro DVD. Focus Film

2 Nada de Novo no Front, direção de Lewis Milestone. Baseado na obra homónima de Eric Maria Remarque.

3 A Infantaria Ataca, de Eric Rommel. Biblioteca do Exército Editora.

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Atividade de aprofundamento[pág. 40 do Manual]

Subdomínio 9.2. As transformações políticas, económicas, sociais e culturais do após-guerra

1. Pesquisa informação sobre a Revolução Soviética (1917-1922).

2. Elabora um jornal de parede e afixa-o na tua sala de aula.

A Revolução de Outubro de 1917 é o ponto de partida de um movimento histórico cujas consequências chegam até nós e que ainda não esgotou todos os seus efeitos.A Revolução Soviética é, sob vários aspetos, largamente comparável à revolução de 1789, e numerosas observações inspiradas pelo processo da Revolução Francesa e pelas suas consequências poderiam aplicar- -se-lhe. O paralelo impõe-se tanto pela duração da experiência como pela extensão no espaço. À semelhança da revolução de 1789, a Revolução Soviética modificou um país, transformou-lhe as estruturas e estabeleceu uma nova ordem política e social. Como a revolução de 1789, também o alcance do acompanhamento ultrapassa de longe o quadro nacional, da França ou da Rússia. A mesma dualidade: significado nacional, dimensão internacional.As analogias estendem-se às relações diplomáticas entre o país que é berço da revolução e os seus vizinhos. Tal como a Revolução Francesa a partir de 1792, também a Revolução Soviética foi banida pela Europa civilizada. […]Assim como a Revolução Francesa despertara simpatias em todos os países da Europa, a revolução soviética divide os países estrangeiros, exerce uma influência duradoura em importantes frações das suas populações e nelas recruta adeptos. […]Dentro dos limites da Antiga Rússia – do Império dos czares, amputado em 1918-1922 –, que se tornou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a história da luta da jovem revolução contra as forças contrarrevolucionárias e dos seus esforços para construir um novo Estado, edificar uma sociedade, transformar a economia, é a história de uma experiência singular.[…] Com a Rússia soviética, os laços orgânicos com a III Internacional, o Komintern, a Internacional Sindical Revolucionária e outras tantas estruturas que estabelecem entre a União Soviética e os partidos irmãos uma rede de laços duradouros e fortes.

Rémond, René (2003). Introdução à História do Nosso Tempo. Lisboa: Gradiva.

1 Lenine a discursar perante os operários de uma fábrica, em 1917

O físico [de Lenine] não o dispunha para ser o ídolo da multidão, no entanto, foi amado e venerado como poucos chefes no decurso da História. Um estranho chefe popular; chefe só pela força de espírito. Sem brilho, sem humor, intransigente e distante, sem a menor particularidade pitoresca, mas com o poder de explicar ideias profundas em termos simples, de analisar concretamente as situações e da máxima audácia intelectual.

Reed, John (1976). Dez Dias que Abalaram o Mundo. Lisboa: Publicações Europa-América.

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Momentos da Revolução Soviética:Primeiro momento: Comunismo de Guerra – da Revolução de Outubro de 1917 ao fim do ano de 1921 (dura cerca de quatro anos).

Segundo momento: Período de aplicação da NEP e decorre entre 1922 e 1927-1928.

Terceiro momento: Dominado pela personalidade de Estaline e pela edificação do socialismo num só país.

Comunismo de Guerra

Esta fase é dominada pela guerra, interna e externa, uma guerra que os bolcheviques não quiseram, que lhes é imposta, que é em parte uma herança do regime derrubado. Ao invés, optaram pela paz: o Conselho dos comissários do povo decide fazer a paz com a Alemanha a qualquer preço: a paz é comprada a alto custo através do Tratado de Brest-Litovsky, no princípio de 1918. […]

A guerra dita os seus imperativos no plano interno. Depois de alguns meses de experiência relativamente liberal, a instituição do terror, que responde à ação contrarrevolucionária. O processo reproduz fielmente o de 1792-1793. Há uma espécie de lógica das revoluções. Quando tem de fazer a guerra, são constrangidas a renunciar às suas veleidades e a adotar medidas enérgicas. Estabelece-se um regime rigoroso em todos os domínios: coação económica, direção autoritária. Requisitam-se os produtos, destacamentos de operários armados vão para os campos e apoderam-se das colheitas que os camponeses recusam entregar. Os germes de anarquismo que a revolução de outubro comportava são abafados: a partir de então, a anarquia será a inimiga mortal da revolução comunista. É a ditadura do proletariado, uma ditadura que prepara o poder concentrado de Estaline e anuncia a era estalinista.

Em 1921, a guerra está praticamente ganha: os exércitos brancos foram banidos; os aliados desistem da luta e a União Soviética impõe aos vizinhos o seu reconhecimento e a delimitação das fronteiras. A revolução está salva, o essencial preservado.

Rémond, René (2003). Ob. cit.

2 Destacamento pronto a seguir para o campo, para requisição de cereais

3 Um banco nacionalizado

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Começa então um segundo período muito diferente do precedente: um período de desanuviamento da liberalização. Se procurarmos analogias, encontra-la-emos na convenção pós-termidoriana. Para a Rússia começa também o pós-guerra.

A situação exige um abrandamento das coações. Trata-se antes de mais de uma necessidade psicológica. A população está exausta ao sair de oito anos de guerras estrangeira e civil. A fome causou milhões de vítimas. A sociedade russa desmoronou-se, os seus quadros desagregaram-se. É indispensável fazer uma pausa. Um incidente chama a atenção de Lenine para esta necessidade: a sublevação dos marinheiros de Cronstadt, em março de 1921. Eles eram a ponta de lança da revolução; a sua intervenção tinha decidido a queda do governo, em outubro de 1917. Em 1921 revoltam-se. Lenine compreende o aviso.

A esta necessidade psicológica juntam-se as necessidades práticas, nomeadamente as da economia, que exigem uma certa liberalização. A produção é quase nula. […] É preciso fazer renascer a confiança, estimular a iniciativa, fazer apelo a motivações que sejam da ordem dos interesses e às possibilidades do momento. […]

É um regresso à liberdade económica: restituiu-se ao capitalismo privado um setor de atividade. A partir de então coexistem dois setores, um do Estado e o outro privado (o comércio interno, o artesanato). Recorre-se também aos capitalistas e técnicos estrangeiros.[…]

A produção recupera, o desemprego é reabsorvido, uma nova moeda é posta em circulação. A sociedade reconstitui-se aos poucos. A condição camponesa melhora. Sobre as ruínas da antiga sociedade edifica-se uma classe nova, uma burguesia de comerciantes, de artesãos, de proprietários endinheirados que são os principais beneficiários da destruição da sociedade tradicional. […]

Os resultados da NEP e as suas consequências sociais não são afetados pela rivalidade gerada pela sucessão de Lenine, falecido em janeiro de 1924. Há já vários meses que Lenine estava gravemente doente e com as capacidades diminuídas. Trava-se uma viva competição entre vários candidatos, dos quais emergem dois: Trotsky e Estaline.

Rémond, René (2003). Ob. cit.

4 Cartaz de propaganda à construção de centrais hidroelétricas

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Sugestões de filmes

O Couraçado PotemKinRealização: Sergei M. EisensteinInterpretação: Aleksandr Antonov, Grigory Aleksandrov, Vladimir BarskyArgumento: Nina AgadzhanovaData: 1925

Sinopse: Em 1905, na Rússia czarista, aconteceu um levantamento que pressagiou a Revolução de 1917. Tudo começou no navio de guerra Potemkin quando os marinheiros estavam cansados de serem maltratados e mal alimentados. Alguns marinheiros recusam comer a carne estragada, e, então, os oficiais do navio ordenam a sua execução. A tensão aumenta e, gradativamente, a situação fica cada vez mais descontrolada. Logo depois dos gatilhos serem apertados, Vakulinchuk (Aleksandr Antonov), um marinheiro, grita para os soldados e pede para eles pensarem e decidirem se estão com os oficiais ou com os marinheiros. Os soldados hesitam e, então, baixam as suas armas. Louco de ódio, um oficial tenta agarrar um dos rifles e provoca uma revolta no navio, na qual o marinheiro é morto. Assim, se inicia uma grande tragédia.

Sugestões de filmes

A Arca RussaRealização: Aleksandr SokurovInterpretação: Sergei Dontsov, Mariya Kuznetsova, David Giorgobiani, Leonid Mozgovoy, Mikhail Piotrovsky, Aleksandr ChabanData: 2002

Sinopse: Um realizador contemporâneo encontra-se, misteriosamente, no Museu Hermitage no início do século XVIII. É invisível para todos os que o rodeiam, exceto para um cínico diplomata francês do século XIX, que também não sabe como foi parar fora da sua época. Os dois empreendem uma extraordinária viagem pelo tempo, num filme que recompõe o conturbado passado russo, e que recria os maiores eventos históricos que tiveram lugar no Hermitage, onde várias gerações de Romanov viveram, amaram e morreram. Aleksandr Sokurov retrata todo o seu esplendor entre a guerra e a revolução, fundindo Arte e História numa viagem intemporal.Sokurov conta uma história que atravessa 300 anos de História da Rússia com mais de 3000 atores e figurantes, um guarda-roupa sumptuoso, cabeleiras de época e três orquestras ao vivo num dos maiores palácios do mundo, o Hermitage de São Petersburgo. Após três meses de preparação e ensaios, o filme foi feito num único dia: 23 de dezembro de 2001.

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Atividade de aprofundamento[pág. 68 do Manual]

Subdomínio 9.3. Portugal: da 1.ª República à Ditadura Militar

1. Faz uma pesquisa sobre as sufragistas portuguesas na 1.ª República.

2. Elabora um jornal de parede sobre a temática.

Carolina Beatriz Ângelo (1877-1911)Carolina Beatriz Ângelo, médica, militante feminista, ativista republicana, ficou célebre por ter sido a primeira mulher que votou em Portugal. Nasceu na cidade da Guarda, onde frequentou o Liceu. Posteriormente ingressou nas Escolas Politécnica e Médico-Cirúrgica em Lisboa, onde concluiu o curso de Medicina em 1902.

Em 1906 inicia a sua militância cívica, aderindo ao Comité Português da Associação francesa La Paix et le Désarmement pour les Femmes e, no ano seguinte, ao grupo português de estudos feministas, fundado por Ana de Castro Osório, e à Maçonaria, da qual se tornou Venerável da Loja Humanidade. Sufragista, destacou-se como militante da Liga Republicana das Mulheres, fundadora e presidente da Associação de Propaganda Feminista. A primeira lei eleitoral da República Portuguesa reconhecia o “direito de votar aos cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família”. Carolina Beatriz Ângelo, viúva e com uma filha menor a seu cargo, viu na lei uma oportunidade para invocar em tribunal o direito a votar. Tornou-se, assim, a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto. Todavia, para evitar que o exemplo se repetisse, a lei foi alterada no ano seguinte, com a especificação de que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam votar.

As mulheres portuguesas teriam de esperar pelo ano de 1931 para lhes ser concedido o direito de voto e, ainda assim, com restrições: apenas podiam votar as que tivessem cursos secundários ou superiores, enquanto para os homens continuava a bastar saber ler e escrever. A lei eleitoral de maio de 1946 alargou o direito de voto aos homens que, sendo analfabetos, pagassem ao Estado pelo menos 100 escudos de impostos e às mulheres chefes de família e às casadas que, sabendo ler e escrever, tivessem bens próprios e pagassem pelo menos 200 escudos de contribuição predial.

Carolina Beatriz Ângelo morre de síncope cardíaca em 3 de outubro de 1911. Grande admiradora de Afonso Costa e da sua política deixou duras críticas à República e aos republicanos.

1891 Matricula-se a 1.ª mulher na Universidade de Coimbra: Domitila Hormizinda Miranda de Carvalho. Licenciou-se em Filosofia.

1893 Publicação de decreto que regula o trabalho das mulheres e das crianças nas indústrias; a licença de parto e a criação de creches nas empresas.

1896 Reforma do ensino secundário de Jaime Moniz com a valorização da vertente humanista.

1905 Criação da Liga da Educação Nacional.

1906 Ditadura de João Franco e aumento da repressão.

1908 Regicídio.

Congresso Pedagógico de Instrução Primária e Popular.

Criação da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas.

Cronologia Protagonistas

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Ana de Castro Osório (1872-1935)

Ana de Castro Osório nasceu em Mangualde em 18 de junho de 1872 e morreu em Setúbal a 23 de março de 1935. Foi escritora, jornalista, pedagoga, feminista e ativista republicana. Pioneira em Portugal na luta pela igualdade de direitos entre homem e mulher escreve, em 1905, Mulheres Portuguesas, considerado o primeiro manifesto feminista português. Foi fundadora da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Na linha de atuação comum à maioria das mulheres republicanas, dirigiu várias publicações destinadas às mulheres e colaborou com inúmeros artigos na imprensa, privilegiando os temas da educação e a formação de uma opinião pública feminista esclarecida. Colaborou com o ministro da Justiça, Afonso Costa, na elaboração da Lei do Divórcio. Foi membro da obediência maçónica Grande Oriente Lusitano. Ana de Castro Osório é considerada a fundadora da literatura infantil em Portugal. Escreveu, entre outras obras, A Comédia de Lili (1903) e O Príncipe das Maçãs de Oiro (1935).

1915 Nova lei eleitoral que continua a excluir as mulheres. Maria Veleda funda a Associação Feminina de Propaganda Democrática.

Surge a revista A Semeadora, órgão da Associação de Propaganda Feminina.

1916 A Alemanha declara guerra a Portugal. Governo da União Sagrada. Fundação da Cruzada das Mulheres Portuguesas.

1917 Parte para a França o Corpo Expedicionário Português (CEP). Morre Manuel de Arriaga. Fundação da Revista Alma Feminina, que substituiu o Boletim Oficial do Conselho Nacional de Mulheres Portuguesas (CNMP). Ditadura militar de Sidónio Pais “República Nova”.

1918 Decretado o “sufrágio universal” (apenas para os cidadãos do sexo masculino). A Liga reclamou o sufrágio feminino ao Presidente da República.

1919 Fundação da Revista A ASA. Proclamação da Monarquia do Norte. Reorganização do ensino primário. Afonso Costa, em nome de Portugal, assina o Tratado de Versalhes.

1920 Portugal é representado por Afonso Costa na 1.ª Assembleia da Sociedade das Nações.

1920/ 1922

Paulina Luísi representa as feministas portuguesas nos Congressos Feministas internacionais de Genebra e Noruega.

Cronologia Protagonistas

Para saber mais…1 Garcia, Maria Antonieta (2009). Carolina Beatriz Ângelo: Guarda(dora) da Liberdade (1878-1911). Guarda: Câmara

Municipal da Guarda.2 Monteiro, Natividade. A liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Lisboa: Associação de Professores de

História (Artigo disponível em www.aph.pt/ex.assPropFemina2.php/).3 Lopes, António [et. al] (2010). Carolina Beatriz Ângelo: Interseções dos sentidos – palavras, atos e imagens. Guarda:

ICM/ Museu da Guarda.4 Silva, Maria Regina Tavares (2005). Carolina Beatriz Ângelo (1877-1911). Lisboa: Comissão para a Igualdade e

para os Direitos das Mulheres: Coleção Fio de Ariana.

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Domitila de Carvalho (1871-1966)Domitila Hormizinda Miranda de Carvalho nasce em Travanca da Feira (Aveiro) em 1871 e morre em Lisboa em 1966. Foi a primeira mulher a frequentar a Universidade de Coimbra onde se licenciou em Matemática, Filosofia e Medicina. A condição imposta pelo Reitor para ser admitida na Universidade foi a obrigação de trajar sempre de negro, com chapéu discreto e de um modo sóbrio de forma que não se evidenciasse entre os colegas masculinos, obrigatoriamente vestidos de capa e batina abotoada.

Exerceu clínica em Lisboa como médica na Assistência Nacional aos Tuberculosos, mas optou pela docência no Liceu de D. Maria Pia, a primeira

Escola Secundária criada em Portugal para o sexo feminino, tornando-se a primeira mulher portuguesa a ser professora da disciplina de Matemática. Tornou-se reitora do Liceu D. Maria Pia desde a sua fundação, em 23 de fevereiro de 1906, até novembro de 1912. Em 1917, Sidónio Pais elevou-o à categoria de liceu central com o nome de Liceu de Almeida Garrett e, mais tarde adotou o nome de Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho.

A sua notoriedade levou a que fosse eleita sócia correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e feita vogal do Conselho Superior de Instrução Pública. Foi, também, membro destacado da organização dos Médicos Católicos Portugueses e de várias organizações ligadas à Igreja Católica e aos movimentos de beneficência. Em 1936 foi nomeada vogal da direção da Obra das Mães pela Educação Nacional (OMEN).

Foi, juntamente com Maria Guardiola e Maria Cândida Parreira, uma das três primeiras mulheres eleitas em Portugal, integrando, em 1934, a lista dos deputados escolhidos pela União Nacional para a I Legislatura da Assembleia Nacional. Monárquica e conservadora, aderiu desde o início aos princípios político-ideológicos do Estado Novo, destacando-se no seio da elite feminina que apoiava o salazarismo nascente.

Na Assembleia Nacional interveio em temas como a mortalidade infantil e esteve na origem da introdução de cursos de frequência obrigatória de higiene geral e de puericultura nos liceus e escolas do Ensino Secundário femininos. Participou também na discussão sobre a reforma educativa liderada por Carneiro Pacheco (1936), pronunciando-se a favor da obrigatoriedade de afixação do crucifixo nas escolas primárias.

1921 Fundação da Revista O Futuro. Reforma do Ensino Secundário. Portugal subscreve, em Genebra, a Convenção Internacional contra o tráfico de mulheres e crianças.

1924 I Congresso Feminista e da Educação, promovido pelo Conselho Nacional de Mulheres Portuguesas.

1926 Golpe de Estado chefiado por Gomes da Costa. Instauração da Ditadura Militar e fim da 1.ª República. Congresso Abolicionista em Portugal.

Cronologia

Protagonistas

Para saber mais…1 Fundação Mário Soares – www.fnsoares.pt/aeb/crono/biografias

2 Monteiro, Natividade. A Associação de Propaganda Feminista e a Primeira Eleitora Portuguesa. Lisboa: APH (artigo disponível em http://www.aph.pt/ex.assPropFeminina1.php)

3 Monteiro, Natividade. As Mulheres e a Maçonaria. Lisboa: APH (artigo disponível em http://www.aph.pt/ex.assPropFeminina3.php)

4 Monteiro, Natividade. As origens da emancipação feminina em Portugal. (artigo disponível em http://www.aph.pt/ex.assPropFeminina4.php)

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Florbela Espanca

Na década de 1920 […] Florbela aproveitou-se de alguns dos direitos que as leis e os costumes tinham reconhecido às mulheres. Em 1918, abandonou o marido, com quem até então vivera no Algarve, e instalou-se em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Direito (1917- -1919). Embora nunca tivesse feito exames, conheceu muita gente, e adotou o ritmo boémio dos novos ricos. Nas suas cartas desta época, descreve-se a voltar de bailes às quatro da manhã, dos Estoris. Esta foi a época em que, embora não votassem nem governassem, as mulheres das classes médias apareceram a praticar desporto, a estudar e a trabalhar. A imprensa festejava as pioneiras, embora nunca deixasse de gozar o feminismo sufragista à inglesa (Ilustração Portuguesa, 1914, vol. I). Depois da guerra, desaguou nos escritórios e secretarias uma massa de datilógrafas, que fizeram da máquina de escrever um instrumento tão feminino como a máquina de costura (Campos, A Mãe). Em 1900, havia 219 mulheres na função pública; em 1930, eram 2399. Em nenhum lugar da correspondência de Florbela, porém, há a ideia de que as mulheres eram mais livres então do que dez ou vinte anos antes.

[…]

O mesmo se pode dizer do violento ritmo imprimido à mudança das modas de vestuário pelos grandes costureiros parisienses, aliás todos homens. Em certas das suas revoluções, a moda parisiense liquidou os mais complicados espartilhos, as armações das saias e cortou os cabelos às mulheres. A moda feminina tomava assim a direção puritana da moda masculina, que havia já algumas décadas impusera cores escuras e cortes austeros nos fatos, os cabelos curtos, e estava então a ameaçar os bigodes. Em pouco tempo, as cores garridas, os folhos e as saias múltiplas ficaram a caracterizar apenas os trajos dos ranchos folclóricos da província. Mas o objetivo da alta costura de Paris não era libertar a mulher. Pelo contrário. Os vestidos justos pediam uma silhueta esbelta e formas do corpo. Os anúncios dos jornais e revistas revelam uma enorme preocupação com o busto firme e bem proporcionado. Os cortes curtos de cabelo passaram a exigir muito mais frequência de cabeleireiros. O desenvolvimento da maquilhagem impôs uma nova servidão.

[…]

Em dezembro de 1930, aos 36 anos, Florbela suicidou-se com barbitúricos, depois de um par de tentativas falhadas […]. No ano seguinte, Batelli publicou uma antologia das suas cartas, espalhando assim a fama das suas “infelicidades”. A pouco e pouco, Florbela ficou reduzida a uma espécie de nova freira de Beja, um pouco mais picante. Isso privou-a de homenagens oficiais, mas tornou-a interessante para os “modernistas”, um dos quais, José Régio […]

Mattoso, José (cood.) (1994). História de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, vol. 6

Para saber mais…1 Carvalho, Margarida. Domitila de Carvalho (1871-1966). Um percurso singular. Lisboa: APH (artigo disponível

em http://www.aph.pt/ex_assPropFeminina).

2 Irene Flunser (2001). História das organizações femininas do Estado Novo. Lisboa: Temas e Debates.

3 Samara, Maria Alice. (2007). Operárias e Burguesas. As Mulheres no Tempo da República. Lisboa: Esfera dos Livros.

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Atividade de aprofundamento[pág. 98 do Manual]

Subdomínio 10.1. Crise, ditaduras e democracia na década de 30

1. Pesquisa sobre os divertimentos no período do Estado Novo.

2. Seleciona uma dessas diversões e elabora um folheto de divulgação.

As festas popularesO Estado Novo foi grande promotor do “espírito festivo” nos anos de 1930. António de Oliveira Salazar cria a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT) com a missão de “promover […] aproveitamento do tempo livre dos trabalhadores portugueses por forma a assegurar-lhes o maior desenvolvimento físico e a elevação do seu nível intelectual e moral”. Organizam-se, assim, desfiles, paradas, cortejos, exposições e eventos comemorativos que entretêm o povo, na expectativa que interiorize a mensagem política e ideológica do Estado Novo. Em Lisboa, criam-se as marchas populares por ocasião das festas populares em honra de Santo António. O seu criador, Leitão de Barros, idealizou um concurso de marchas populares entre os bairros da cidade, tornando-se rapidamente uma tradição. Os bailes, espaço de sociabilidade e de namoro, eram olhados com alguma desconfiança pela moral católica. Contudo, dançar ao som de música folclórica suscita menos críticas do que ao do tango, foxtrot ou do jazz. A festa carnavalesca surgiu no século XI, altura em que se implantou a Semana Santa pela Igreja Católica antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. A palavra “Carnaval” está, desse modo, relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne. O Carnaval tem a duração de três dias, os dias que antecedem a Quarta-Feira de Cinzas e, em contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação, estes dias são chamados “gordos”, em especial a terça-feira. O Carnaval da Antiguidade era marcado por grandes festas, onde se comia, bebia e participava de alegres celebrações e busca incessante dos prazeres. O Carnaval prolongava-se por sete dias nas ruas, praças e casas da Antiga Roma, de 17 a 23 de dezembro. Todas as atividades e negócios eram suspensos neste período, os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que quisessem e as restrições morais eram relaxadas. As pessoas trocavam presentes, um rei era eleito por brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas, e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia. No Renascimento, as festas de Carnaval incorporaram os bailes de máscaras, com fantasias e carros alegóricos.

Em Portugal existe uma grande tradição carnavalesca. Os mais importantes carnavais portugueses são o de Estarreja, da Madeira (de onde saíram os imigrantes que haveriam de levar a tradição do Carnaval para o Brasil), Ovar, Loures (remonta a 1934 e tem o maior grupo de Carnaval organizado do país, “Mastronças”), Podence, Loulé, Sesimbra, Sines, Elvas e Torres Vedras, que, juntamente com o Carnaval de Canas de Senhorim, é um dos mais antigos de Portugal. Na ilha Terceira, Açores, existe uma das formas mais peculiares do Carnaval em Portugal, as Danças e Bailinhos de Carnaval. Em Lazarim, concelho de Lamego, decorre anualmente o Carnaval mais genuinamente português, mantendo bem vivas tradições ancestrais que perduram ao longo dos tempos. O principal interesse são as suas famosas máscaras de madeira, esculpidas por artesãos da vila. No Estado Novo reanimam-se as festas carnavalescas há muito moribundas. Em muitas cidades do país esta tradição encontrava-se em decadência. Nos anos 30, as classes altas divertem-se dentro de portas e elegem os casinos para se divertirem: Casino do Estoril e Casino Peninsular da Figueira da Foz. Em algumas localidades do país tentou-se fazer desta quadra tradição local. Em 1939, na cidade do Porto, o Clube dos Fenianos ressuscita a tradição carnavalesca no espaço público, organizando um cortejo com 80 carros alegóricos.

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1 Carnaval na Escola Politécnica Revista Ilustração Portuguesa, n.º 52 de 18 de fevereiro de 1907 2 Desfile de carros alegóricos na

Avenida dos Aliados Revista Ilustração Portuguesa

No início da década de 1930, o cinema sonoro é introduzido em Portugal por Leitão de Barros. Foram várias as fitas com grande sucesso: A Severa, A Canção de Lisboa, Gado Bravo, entre outras.

O teatro clássico estava longe de possuir a vitalidade da Revista, não obstante o esforço de António Ferro junto de Oliveira Salazar para subsidiar esta área artística. Resiste a Companhia do Teatro Nacional dirigida a partir de 1929 por Robles Monteiro e Amélia Rey Colaço, a representar clássicos e modernos nacionais e estrangeiros. As grandes novidades: a criação do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) em 1938, sob a direção de Paulo Quintela e a construção do Éden Teatro, em Lisboa, por Cassiano Branco.

Para saber mais…1 Acciaiuoli, Margarida (2013). António Ferro. A vertigem da palavra. Lisboa: Bizâncio.

2 Loff, Manuel (2008). O nosso século é fascista! O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945). Porto: Campo das Letras.

3 Samara, Maria Alice; Henriques, Raquel Pereira (2013). Viver e Resistir no Tempo de Salazar. Histórias contadas na 1.ª pessoa. Lisboa: Verso da Kapa. (Livro recomendado pelo PNL para apoio a projetos relacionados com a História de Portugal no Ensino Secundário. Consideramos, contudo, que esta sugestão pode estender-se ao 3.º ciclo do Ensino Básico).

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António de Oliveira Salazar (1889-1970)

Estadista, político, professor da Universidade de Coimbra, chefe de Governo entre 1932 1968, fundador e principal ideólogo do Estado Novo, a mais longa ditadura da Europa Ocidental no século XX (1933 a 1974). Nasce a 28 de abril no Vimieiro, aldeia do Concelho de Santa Comba Dão, numa casa térrea e modesta à beira da estrada. O pai, António de Oliveira, ascendera a feitor agrícola dos Perestrelos, os proprietários mais ricos e influentes da região, e, nesse ano do nascimento do seu único filho varão, começou a receber hóspedes em casa e abrira um botequim de que se ocupava a mulher, Maria do Resgate. A mãe de Salazar, esse personagem central na sua vida, tinha instrução acima da média e trabalhava na casa e no campo. Personalidade forte, regia o lar modesto – cinco filhos a sustentar, ainda por cima um único rapaz – e a hospedaria com rigor e estrita poupança. Não havia escola no Vimieiro, e as primeiras letras aprende-as Salazar em lições particulares. Em 1899 faz o exame da 4.ª classe em Viseu, com 14 valores. Ouvido o cura da aldeia. António Nunes de Sousa, que o acha capaz de continuar os estudos, os pais resolvem mandá-lo para o seminário diocesano de Viseu. […]

Salazar contacta com o diretor de A Folha, bissemanário católico viseense, e torna-se, está a fazer 19 anos, seu colaborador. Nele inserirá vários artigos, escritos numa prosa mística e empolgada pelo fenómeno religioso, com grande aparato cultural (de Leão XIII a Aristóteles e S. Tomás de Aquino), onde, apesar de reconhecer não ser a religião incompatível com nenhuma forma de governo, não esconde a sua desconfiança face ao republicanismo. Mas publica, também, poemas que dedica à mãe e às flores. É tratado como padre na imprensa e no meio local, mas é novo demais para tomar ordens maiores. Decide, em 1909, tirar o curso dos liceus, pede equivalência e faz exame final do curso complementar do liceu Alves Martins, de Viseu, com a nota de 19 valores. […] Pronuncia aí a sua primeira conferência – “A Restauração”, onde, a propósito de pedagogia, fala em reformar o homem português. […] Nos finais de 1911 entra decididamente no combate político católico do Centro Académico de Democracia Cristã (CADC). Em novembro de 1914, com 25 anos, Salazar conclui o curso de direito com 19 valores. O seu nome é falado nos meios católicos como candidato a deputado. Mas a sua preocupação parece ser, de momento, o professorado, para o qual se começa a preparar. A 19 de abril [de 1917] toma posse como professor ordinário do grupo de ciências económicas, e a 10 de Maio de 1918 receberá o grau de Doutor pela Universidade de Coimbra. […] Quando, em março de 1928, a ditadura recusa as condições da SDN para caucionar o grande empréstimo “sineliano”, quando a ditadura fica sem finanças nem política financeira, à beira da rutura, todas as atenções se viram para o prestigioso professor de finanças de Coimbra, […], mais do que para o político, esperando dele o “milagre”.[…] A 5 de julho de 1932, Salazar é, finalmente, empossado como chefe do Governo […]

Rosas, Fernando; Brito, J. M. Brandão de (Dir.) (1996). Dicionário de História do Estado Novo. Lisboa: Círculo de Leitores, volume II

[…] A encenação propagandística do regime, a organização e execução da política de espírito, começa pelo mais simples, na sala de aula, passa pela organização dos tempos livres, informa a assistência a família, à ação corporativa rural, piscatória ou industrial e o enquadramento miliciano da juventude. Cada setor ou atividade com os seus organismos tutelares próprios direta ou indiretamente subordinados ao Estado: sindicatos nacionais, casas do povo, casas dos pescadores, Mocidade Portuguesa (MP); Organização das Mães Portuguesas para a Educação Nacional, Federação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), etc. Cada uma delas com a sua propaganda setorial própria, com o seu espetáculo próprio: boletins, paradas, confraternizações, excursões, missas, acampamentos, congressos, comícios, bodos aos pobres, etc. – um quotidiano que se aspira ver enquadrado, organizado e vivido no novo espírito do regime, de acordo com os seus paradigmas ideológicos disciplinadores, através de uma comunhão que se ensaia em cada gesto público. […] Era o “pão e o circo” populares (as marchas populares e os desfiles históricos de Leitão de Barros, as comédias filmatográficas despreocupadas e despreocupantes ou o “teatro para o povo” do SPN). Era a encenação do fomento harmonioso e equilibrado: as espaventosas inaugurações das novas

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“obras públicas”: Hospitais, estádios, barragens, bairros nacionais, palácios da justiça… Era a evocação da grandeza reencontrada do império e dos seus heróis, a reconstrução da História do país, cujo verdadeiro fio condutor o nacionalismo do Estado Novo permitira restaurar, após o “século das trevas” do liberalismo (e essa reivindicação da História enquanto instrumento legitimador do regime atravessa praticamente todas as suas manifestações artístico-culturais. Era a exteriorização da autoridade e da força militar ou paramilitar da nova ordem (os desfiles navais no Tejo, as paradas do Exército, os desfiles da Legião Portuguesa e da MP). Era a expressão oficial ou oficiosa da fé e da aliança legitimadora da Igreja católica (as concentrações fatimistas, as procissões solenes, as missas campais, os Te Deum em cerimónias oficiais, a bênção das tropas e das milícias…).

[…] É bem certo que o particular caldo cultural e social em que o regime mergulhava as suas raízes, o forte peso da ruralidade no viver e no pensar, filtravam, acomodavam, e até certo ponto minoravam quer a intensidade e o alcance do grande espetáculo mobilizador da propaganda oficial, quer a eficácia regeneradora da sua política das almas.

Por um lado, porque uma população esmagadoramente camponesa, sem hábitos de disciplina e mecanização fabril, com uma escolaridade diminuta e onde a ginástica ou o exercício desportivo eram quase desconhecidos, afeiçoava-se mal à uniformidade da farda, à parada, ao autoritarismo ritmado e sincronizado da cadência militar, à euforia da turba em marcha.

Mattoso, José (cood.) (1994). História de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, vol. 7

Para saber mais…1 Ó, Jorge Ramos do (1999). Os anos de Ferro. Lisboa: Editorial Estampa.

2 Pina, Luís de (1986). História do cinema português. Mem Martins: Publicações Europa-América.

3 Torgal, Luís Reis (coord.) (2001). O cinema sob o olhar de Salazar. Lisboa: Temas e Debates.

4 Vieira, Patrícia (2011). O cinema no Estado Novo. Encenação do Regime. Lisboa: Edições Colibri.

3 O Pátio das Cantigas 4 O Feitiço do Império

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Atividade de aprofundamento[pág. 120 do Manual]

Subdomínio 10.2. A 2.ª Guerra Mundial: violência e reconstrução

1. Recolhe informação sobre Adolf Hitler e a sua política genocidiária na 2.ª Guerra Mundial.

2. Imagina que podes entrevistar A. Hitler. Elabora o guião da entrevista.

Vítimas nos principais estados beligerantes

Países e população em 1939 (em milhões)

Perdas humanas(em milhões)

Militares Civis

Alemanha 67,8 3,25 3,81

Itália 43,8 0,31 0,09

Japão 72 1,7 0,36

Polónia 34,7 0,12 5,3

França 41,6 0,25 0,36

Grã-Bretanha 47,4 0,1 0,04

URSS 167,3 13,6 7,7

EUA 131 0,3 0

TOTAIS 605,6 19,63 17,66

General Beaufre, La Deuxième Guerre Mondiale, Tallandier

Vítimas judaicas

Países N.º de mortos

Polónia 3 000 000

URSS 1 000 000

Roménia 469 632

Países Bálticos 232 000

Checoslováquia 217 000

Hungria 200 000

Alemanha 160 000

Países Baixos 106 000

França 83 000

Grécia 76 343

Áustria 65 000

Jugoslávia 60 000

Bélgica 24 387

Itália 8000

TOTAL 5,5 a 6 milhões

M. Gilbert, Endlösung die Vertreibung und Vernichtung der Juden. Ein Atlas,

Rowohit Reinbek, 1982

Vítimas de bombardeamentos em algumas cidades (estimativa)

Cidades e datas

Aparelhos e bombas

Número de mortos

Dresden8-2-1945

A 800B 3000 135 000

Tóquio10-3-1945

A 279B 1700 83 000

Hiroxima6-8-1945

A 1B 1 70 000

Nagasáqui9-8-1945

A 1B 1 36 000

1939 Invasão da Polónia pela Alemanha. Declaração de guerra da Grã-Bretanha e da França à Alemanha.

1940 Alemanha invade a França, os Países Baixos e o Luxemburgo. Itália invade a França. Rendição de uma parte da França. Criação do governo colaboracionista em Vichy. A União Soviética anexa a Estónia, Letónia e Lituânia e conquista a região romena da Bessarábia. A Itália invade a Grécia.

As forças britânicas da Commonwealth iniciam ofensivas contra as forças italianas no Egito e na África Oriental.

1941 Churchill envia uma expedição militar para África para reforçar o exército grego. No Oriente Médio, as forças da Commonwealth anularam um golpe de Estado no Iraque, que tinha sido apoiado por aviões alemães a partir de bases dentro da Síria controlada pela França de Vichy. Com a ajuda da França livre invadiram a Síria e o Líbano.

Grande ofensiva soviética expulsa as forças alemãs da região de Leningrado, terminando com a guerra nessa frente.

Ofensivas Aliadas em Itália, libertando Roma.

Invasão da Normandia pelos Aliados em 6 de junho, episódio conhecido como Dia D.

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Hitler (1889-1945)Militar e político, líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), também conhecido por Partido Nazi, tornou-se chanceler e, posteriormente, ditador alemão. Era o quarto de seis filhos de uma família humilde (o pai era funcionário de alfândega de uma pequena cidade fronteiriça da Áustria com a Alemanha).

Adolf era um jovem inteligente, porém, mal-humorado. Foi no ensino secundário que começou a acalentar ideias pangermânicas, fortalecidas pelas leituras que o seu professor, Leopold Poetsch, um antissemita bastante admirado pelo jovem Hitler, lhe recomendou vivamente. Aos 19 anos parte para Viena,

acalentando a esperança de se tornar artista. Em 1907 fez exames de admissão à Academia de Belas- -Artes de Viena, sendo reprovado duas vezes seguidas. Nos anos seguintes permaneceu em Viena sem um emprego fixo, vivendo inicialmente do apoio financeiro de uma tia, de quem recebeu herança. Em maio de 1913, recebeu uma pequena herança do seu pai e mudou-se para Munique. Em agosto de 1914, quando a Alemanha entrou na Primeira Guerra Mundial, alistou-se imediatamente no exército. Durante a guerra, Hitler desenvolveu um sentimento de patriotismo alemão, apesar de não ser cidadão alemão. Ficou chocado pela capitulação da Alemanha em novembro de 1918, sustentando a ideia de que o exército alemão não tinha sido, de facto, derrotado.

Em 1923, tentou realizar um golpe de Estado em Munique. O fracasso desse acontecimento levou-o à cadeia, onde escreveu o livro Mein Kampf (Minha Luta, 1924), autobiografia e programa ideológico para a Alemanha com as suas teses racistas e antissemitas. Em 1933 tornou-se chanceler da Alemanha; remilitarizou o país, recuperou a economia e fez várias obras públicas. Em setembro de 1939, invadiu a Polónia, iniciando a Segunda Guerra Mundial.

Hitler perseguiu e aplicou a política da Solução Final, eliminando grupos minoritários, tais como Testemunhas de Jeová, eslavos, poloneses, ciganos, homossexuais, deficientes físicos e mentais e judeus, dando origem ao Holocausto. Alguns seres humanos foram ainda usados em experiências médicas.

Hitler sobreviveu sem ferimentos graves a 42 atentados contra a sua vida. O último atentado foi a 20 de julho de 1944, no qual uma bomba, preparada para simular o efeito de um explosivo britânico, explodiu a apenas dois metros do Führer. Suicidou-se no seu quartel-general, em Berlim, a 30 de abril de 1945, enquanto o exército soviético combatia as suas tropas que defendiam a capital alemã.

1945 O Reichstag foi capturado, simbolizando a derrota militar do Terceiro Reich.

Rendição da Itália assinada em 29 de abril.

Rendição da Alemanha em 7 de maio em Reims.

EUA lança duas bombas atómicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em agosto.

Rendição do Japão.

ProtagonistasCronologia

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aPara saber mais…1 Hitler, uma vida em imagens – http://www.dn.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=2176989

2 A vida de Hitler em imagens – http://jornalggn.com.br/noticia/a-vida-de-hitler-em-imagens

Filmes:1 A Rapariga que Roubava Livros. Direção Brian Percival. 2013

2 Guardiões do Céu. Direção de Chistopher-Lee dos Santos. 2013

3 Imperador. Direção de Peter Weber. 2012

4 Rumo à Liberdade. Direção de Peter Weir. 2010

5 O Discursos do Rei. Direção de Tom Hooper. 2010

6 Operação Valquíria. Direção de Bryan Singer. 2008

7 O Leitor. Direção de Stephen Daldry. 2008

8 Cartas de Iwo Jima. Direção de Clint Eastwood. 2006

9 O Grande Ditador, Direção de Charlie Chaplin, 1940

10 O Triunfo da Vontade, Direção de Leni Riefenstahl, 1935

Romances:1 Littell, Jonathan (2007). As Benevolentes. Lisboa: Dom Quixote.

2 Zimler, Richard (2009). Os Anagramas de Varsóvia. Alfragide: Oceanos

1 Destruição de Hiroxima 2 Bomba Atómica

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O período entre as duas guerras Todos os partidos na Alemanha, dos comunistas na extrema-esquerda aos nacionais socialistas de Hitler na extrema-direita, estavam de acordo em condenar o Tratado de Versalhes como injusto e inaceitável. Paradoxalmente, uma revolução alemã autêntica poderia ter produzido uma Alemanha menos explosiva no cenário internacional! Os dois países derrotados onde de facto houve revoluções, a Rússia e a Turquia, achavam-se demasiado preocupados com as suas próprias questões, incluindo a defesa das suas fronteiras, para desestabilizar a situação internacional. Eram forças a favor da estabilidade nos anos 30, e na verdade a Turquia permaneceu neutra na 2.ª Guerra Mundial. Contudo, tanto o Japão como a Itália, embora do lado vencedor da guerra, também se sentiam insatisfeitos, os japoneses com um realismo de certa forma maior que os italianos, cujos apetites de certa forma maior que os italianos, cujos apetites imperiais excediam muitíssimo o poder independente do seu Estado para os satisfazer. De qualquer modo, a Itália saíra da guerra com consideráveis ganhos territoriais nos Alpes, no Adriático e até mesmo no mar Egeu, embora não sendo toda a recompensa prometida ao Estado pelos Aliados, em troca da entrada ao lado deles em 1915. Contudo, o triunfo do fascismo, um movimento contrarrevolucionário e portanto ultranacionalista e imperialista, sublinhou a insatisfação italiana […]. Quanto ao Japão, a sua força militar e naval considerável tornava-o a mais formidável potência no Extremo Oriente, sobretudo desde que a Rússia estava fora do quadro […]. Temos como certo que a guerra moderna envolve todos os cidadãos e mobiliza a maioria; é travada com armamentos que exigem um desvio de toda a economia para a sua produção, e que são usados em quantidades inimagináveis, produz indizível destruição e domina e transforma absolutamente a vida dos países nela envolvidos. Contudo, estes fenómenos pertencem apenas às guerras do século XX. A guerra total que foi o monstro do século XX, não nasceu com as dimensões que viria a ter. Contudo, de 1914 em diante, as guerras foram inquestionavelmente guerras de massa. Mesmo na 1.ª Guerra Mundial, a Grã- -Bretanha mobilizou 12, 5% dos seus homens para as forças armadas, a Alemanha 15, 4%, e a França quase 17%. Na 2.ª Guerra Mundial, a percentagem de força humana total que foi para as Forças Armadas esteve, em geral, bastante perto de 20%. [As] guerras do século XX foram guerras em massa, no sentido em que usaram, e destruíram, quantidades até então inconcebíveis de produtos durante a luta.

Hobsbawn, Eric. (1998). A Era dos Extremos. Lisboa: Editorial Presença.

Relato da guerraOs cadáveres empilhavam-se num grande pátio empedrado, em pequenos montes desordenados, espalhados por aqui e por ali. Um imenso zumbido, obsidiante, ocupava o ar: milhares de pesadas moscas azuis esvoaçavam por cima dos corpos, dos charcos de sangue, das matérias fecais. As minhas botas pegavam-se ao empedrado do chão. Os mortos estavam já a inchar, contemplei a sua pele verde e amarela, os rostos informes, como os de um homem espancado. O cheiro era imundo; e este cheiro, eu sabia-o, era o principio e o fim de tudo, a própria significação da nossa existência. Este pensamento destroçava-me o coração. Pequenos grupos de soldados da Wehmacht munidos de máscaras de gás tentavam desfazer os amontoados a fim de alinharem os corpos; um deles puxava o braço de um corpo, o braço soltou-se e ficou--lhe nas mãos; ele atirou-o com um gesto de cansaço para cima de outra pilha de corpos. “são mais de mil”, disse-me o oficial da Abwehr, quase num murmúrio. “Todos os ucranianos e polacos que tinham prendido desde a invasão. Encontrámos mulheres, e até mesmo crianças”. […] No dia seguinte, o Sonderkommando pôs-se seriamente ao trabalho. Um pelotão, sob as ordens de Callsen e de Kürt Hans, fuzilou trezentos judeus e vinte saqueadores nos jardins do castelo. […] Na manhã seguinte fiquei no AOK; tinham-se apoderado de caixotes de documentos por ocasião da conquista da cidade, tratava-se para mim de passar em revista com um tradutor esses dossiers, nomeadamente os do NKVD, e decidir quais deveriam ser entregues ao sonderkommando para análise prioritária. Procurávamos muito especialmente listas de membros do Partido Comunista, do NKVD ou de outros órgãos; muitas dessas pessoas deviam ter ficado na cidade, confundindo-se com a população civil, para cometerem atos de espionagem ou de sabotagem, era urgente identificá-las.

Littell, Jonathan (2008). As Benevolentes. Lisboa: Dom Quixote

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O período entre as duas guerras

Tornar o mundo seguro contra o bolchevismo e recordar o mapa da Europa eram metas que se sobrepunham, pois a maneira mais imediata de tratar com a Rússia revolucionária, se por acaso ela viesse a sobreviver – o que não parecia de modo algum certo em 1919 – era isolá-la atrás de um “cinturão de quarentena” de estados anticomunistas. Como os territórios desses estados haviam sido em grande parte ou inteiramente seccionados de ex-terras russas, a sua hostilidade para com Moscovo era garantida. Do Norte para o Sul eram eles: a Finlândia, uma região autónoma que Lenine deixara separar-se; três novas pequenas repúblicas bálticas (Estónia, Letónia e Lituânia), para as quais não havia precedente histórico; a Polónia devolvida à condição de Estado independente após 120 anos; e uma Roménia muitíssimo ampliada, com o tamanho duplicado por cessões das partes húngara e austríaca do império Habsburgo e da ex-russa Bessarábia. […] A tentativa de prosseguir com esse cinturão de isolamento no Cáucaso fracassou, essencialmente, porque a Rússia revolucionária chegou a um acordo com a Turquia, não comunista mas revolucionária, e que não tinha simpatia pelos imperialistas britânicos e franceses.

A Áustria e a Hungria foram reduzidas a retaguardas alemã e magiar, a Sérvia foi expandida para uma grande e nova Jugoslávia pela fusão com a […] Eslovénia e a […] Croácia, e também com o (antes independente) pequeno reino tribal de pastores e assaltantes, o Montenegro, uma sombria massa de montanhas cujos habitantes reagiram à perda sem precedentes da sua soberania convertendo-se em massa ao comunismo […]

Impôs-se à Alemanha uma paz punitiva, justificada pelo argumento de que o Estado era o único responsável pela guerra e todas as suas consequências (a cláusula da “culpa de guerra”), para a manter permanentemente enfraquecida. Isso foi conseguido não tanto por perdas territoriais, embora a Alsácia- -Lorena voltasse à França e uma substancial região no Leste à Polónia restaurada (o “Corredor Polaco”, que separava a Prússia Oriental do resto da Alemanha), além de alguns ajustes menores nas fronteiras alemãs; essa paz punitiva foi, na realidade, assegurada privando a Alemanha de uma marinha e uma força aérea eficazes, limitando o seu exército a 100 mil homens, impondo “reparações” […] teoricamente infinitas; pela ocupação militar da parte da Alemanha de todas as suas antigas colónias no ultramar. […] Com exceção das cláusulas territoriais, nada restava do Tratado de Versalhes, em meados dos anos 30. […].

Não é necessário entrar em pormenores da história do entre guerras para ver que o acordo de Versalhes não podia ser a base de uma paz estável. Estava condenado desde o início e, portanto, era praticamente certa outra guerra. […] Os EUA retiraram-se quase imediatamente e num mundo não mais eurocentrado e eurodeterminado, nenhum acordo não endossado pelo que era agora uma grande potência mundial se podia manter. […] Duas grandes potências europeias, e na verdade mundiais, estavam temporariamente não apenas eliminadas do jogo internacional, mas tidas como não existindo como jogadores independentes – a Alemanha e a Rússia soviética. […] E, mais cedo ou mais tarde, a Alemanha ou a Rússia, ou as duas, reapareciam, inevitavelmente, como grandes jogadores.

Hobsbawn, Eric. (1998). Ob. cit.

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Atividade de aprofundamento[pág. 168 do Manual]

Subdomínio 11.1. A Guerra Fria

1. Pesquisa sobre a emigração portuguesa nos anos 60.

2. Elabora uma notícia de jornal sobre o assunto.

A “Salto” para França Calcula-se que quase 1,3 milhões de portugueses, por via legal ou clandestina, tenham saído do país

Na década de 1960, Portugal assistiu a um crescimento económico que se traduziu num aumento significativo do investimento e numa certa abertura à economia externa. Contudo, persistiam inegáveis dificuldades económicas resultantes, essencialmente, do acréscimo das despesas públicas. A Guerra Colonial era um sorvedouro dos dinheiros do Estado e uma das principais razões para uma problemática quebra da mão de obra agravada pela forte vaga de emigração, provocando o aumento salarial.

A emigração, não sendo um fenómeno exclusivo deste período, atingiu nesta década valores alarmantes, causando o despovoamento de campos e aldeias e o esvaziamento de oficinas e fábricas. As regiões do país mais penalizadas foram as zonas do interior, contribuindo para o envelhecimento da população rural.

Os fatores que contribuíram para este surto emigratório foram: a crise do setor agrícola, a total incapacidade dos outros setores económicos absorverem a população rural que abandonava os campos, a falta de mão de obra em muitos países da Europa e a fuga à Guerra Colonial e à repressão política. Alguns países da Europa, como a França, que no pós-guerra conheceram uma fase de prosperidade económica, atraíram milhares de portugueses, que aí procuraram melhores condições de vida.

A França é o principal destino dos emigrantes portugueses da década de 60. Segue-se o Brasil, os EUA, o Canadá e a Alemanha Ocidental. As colónias portuguesas em África são, também, destinos muito procurados. Paris torna-se, no final da década, a segunda cidade portuguesa em número de habitantes, logo a seguir a Lisboa. Nos arredores de Paris alastram os bidonvilles, bairros de lata onde os imigrantes se alojam nas mais penosas condições.

Nos anos 1960, a França foi o destino de cerca de 30% do total da emigração clandestina portuguesa. Um grande número de jovens e adultos, do sexo masculino, emigraram para fugir à incorporação militar obrigatória. A emigração legal atingiu o seu ponto mais alto em 1966. Entre os emigrantes legais que abandonaram Portugal entre 1960 e 1970, 4% eram mulheres, ocupando-se na capital francesa como porteiras, criadas e mulheres de limpeza.

Portugal era um país pobre, sem recursos suficientes para alimentar toda a população e, por conseguinte, o Estado Novo encarou a emigração como uma necessidade, tendo em conta o peso das remessas dos emigrantes na balança de pagamentos.

O regresso a Portugal, a construção de uma casa na terra de origem para aí viver a sua reforma, é uma perspetiva real para os emigrantes portugueses.

Os familiares que ficavam em Portugal veem o seu orçamento familiar aumentado pelo generoso contributo enviado do exterior. Daí recebem também fragmentos de cultura comportamental que introduzidas na sua rotina local, alteram a sua vivência social.

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1 A vida dos emigrantes portugueses nos bidonville, Paris, 1967. A – Condições de vida nos bidonville; B – Corte de cabelo; C – Uma família portuguesa Fotógrafo: Gerald Bloncourt. Sud-Express (In restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/04/emigracaoportuguesa-e-o-sud-express.html. Consultado em 15.11.2014)

A B

C

A emigração portuguesa do segundo pós-guerra conheceu, fundamentalmente, dois pontos altos. O primeiro, entre 1955-1956, tendo ainda o Brasil como principal destino. O segundo terá tido início em 1963-1964 e estende-se até 1973-1974, quando a crise económica europeia refreia a procura desenfreada de mão de obra não especializada dos países periféricos, iniciada cerca de 10 anos antes. Esta segunda leva teve a Europa como principal destino e revestiu-se de uma particularidade: o enorme peso das saídas clandestinas. […] Naturalmente, os emigrantes são indivíduos jovens, força de trabalho capaz de enfrentar os novos desafios. […] Mas tanto a emigração (através das remessas ou da nova experiência de vida dos emigrantes) como a migração para as cidades e o trabalho nas indústrias, o destino alternativo do êxodo rural, estão na origem de um outro tipo de mudanças decisivas: a adoção de novos padrões de comportamento e de consumo de hábitos, de novas mentalidades, igualmente sociabilizados pelo recuo (ainda que vagaroso) do analfabetismo e pela crescente facilitação do acesso aos meios de comunicação massiva que a televisão foi facultando a partir de finais dos anos 50.

Mattoso, José (dir.) Ob. cit.

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[…] As remessas dos emigrantes vão ter importantes consequências na vida económica e social do País. Desde logo, possibilitando a subsistência de desequilíbrios estruturais graves e criando condições para o adiamento indefinido das respetivas políticas corretivas: os réditos da emigração, contribuindo decisivamente para equilibrar a balança de pagamentos, permitem o arrastamento do défice comercial crónico e das suas causas no sistema produtivo; depois, insuflando meios financeiros nas pequenas economias agrárias, ajudam a perpetuar, sobretudo no Centro e Norte do país rural (no Sul, o êxodo rural contribuirá para certa modernização/mecanização de produção agrícola), a subsistência de empresas agrícolas realmente inviáveis e subprodutivas, que tendem a sobreviver como explorações complementares, resistindo duradouramente […] a todos os esforços de redimensionamento e emparcelamento advogado pelo reformismo agrário.

Mattoso, José (1994) Ob. cit.

Ei-los que partem. A História da emigração portuguesa

4.º Episódio - A “Sangria da Pátria” realizado por Fernanda Bizarro.

Sinopse: “A Sangria da Pátria” é a história dos emigrantes portugueses que nos anos 60 abandonam os campos e partem para a Europa. A seguir à 2.ª Guerra Mundial a reconstrução Europeia faz-se com base em políticas de recrutamento ativo de trabalhadores do Sul da Europa e as portas abrem-se à emigração.

O atraso secular de Portugal, os entraves à modernização da agricultura, o início da guerra colonial e o endurecimento político do regime, empurram para fora do país os camponeses, sem perspetivas e cansados de uma vida de miséria. Em apenas 10 anos mais de um milhão e meio de pessoas sai de Portugal. Dessas, perto de um milhão vai para a França. A “salto”, clandestinamente, atravessam a Espanha e os Pirenéus e instalam-se aos milhares nos bairros de lata à volta da cintura de Paris, na chamada Ile de France.

O programa retrata a situação social, política e económica da época e traça o percurso até aos dias de hoje desses homens e mulheres a que o jornal francês Le Monde chamou “les soutiers de l’ Europe” – (os homens do porão da Europa) – e que em pouco tempo ascendem a um nível social e económico.

(In http://www. youtube.com/watch. Consultado em 11.10.2014)

Para saber mais…1 Jornal Público de 29.11.2011: “A menina da fotografia cresceu e chama-se Maria da Conceição Tina”. Esta

criança portuguesa vivia num bidonville em Paris e foi fotografada por Gérald Bloncourt nos anos de 1960. Já adulta, Tina reconhece-se na fotografia e foi conhecer o fotógrafo, descobrindo-se a si própria (www.publico.pt/temas/jornal/a-menina-da-fotografia-cresceu-e-chamase-maria-da-conceicao-tina-23378783)

2 Gérard Bloncourt (www.bloncourt.net/pictures/temps -passe/diapo_0/html. Consultado em 21.09.2014)

3 Santos, Vanda (2004). “O discurso oficial do Estado Novo sobre a Emigração dos anos 60 a 80 e imigração dos anos 90 à atualidade”. In: Carneiro, Roberto (Coord.). Observatório da Imigração. Porto: Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME).

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Atividade de aprofundamento[pág. 196 do Manual]

Subdomínio 12.1. Estabilidade e instabilidade num mundo unipolar

1. Faz uma pesquisa em jornais e revistas sobre conflitos mundiais na atualidade.

2. Organiza um debate na aula de História.

Curdos pedem ajuda ao mundo para evitar um genocídio no Norte da Síria

Joana Amado, 21.09.2014. Jornal Público (www.publico.pt/mundo.notícias)

Ucrânia: as três dimensões do conflitoJorge Almeida Fernandes. Jornal Público, 23.02.2014 (www. publico.pt/mundo.noticias)

Moscovo considera maior autonomia para o leste da Ucrânia “um passo na direção certa”

David Santiago, Jornal de Negócios, 18 setembro 2014 (www.jornaldenegocios.pt/economia/mundo)

TSF Notícias – Sobre o conflito israelo-palestiniano

(www.tsf.pt/multimedia/galeria/Default.asp? Contente)

No passado recente…

À solta, Ariel Sharon revela exuberantemente aquilo que é: um verdadeiro terrorista. Para abandonar meia dúzia de colonatos em Gaza – que não representam nada para Israel, mas cujo abandono ele apresentará como “grande concessão” – faz questão de deixar a terra queimada para trás. Invocando o eterno argumento da “segurança”, dedica-se a destruir, antes mesmos dos colonatos a abandonar, as casas dos palestinianos que lá vivem, na sua maioria refugiados da guerra. A ideia é deixar virtualmente inabitável um território que já de si só oferece condições de sobrevivência miseráveis.

Sufragado pelas sondagens, autorizado pelo Supremo Tribunal de Justiça de Israel, o exército de Telavive cumpre a nobre missão de saquear e destruir casas de civis palestinianos. E quando estes, sem mais nada puderem fazer, se juntam aos milhares numa manifestação pacífica e desarmada em Gaza, Israel bombardeia a manifestação com tanques e aviões, deixando um mar de sangue e corpos de crianças esventradas no chão, culpadas do crime de protestarem contra a destruição das suas casas. Mas, como disse Bush, “Israel tem o direito de se defender do terrorismo”. Terrorismo? Mas o que é isto senão terrorismo de Estado?

[…] Por que razão o terrorismo é apenas a bomba palestiniana que mata civis indiscriminadamente num café de Jerusalém e não igualmente o míssil disparado de um avião israelita contra uma manifestação de civis palestinianos?

Tavares, Miguel Sousa. Público, 21 de maio de 2004

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1 Ocupação da Cisjordânia e de Gaza

2 Israel em 2001M A R

M O RTO

MARMEDITERRÂNEO

Tulkarem

Jénine

Nablus

Kalkilya

Belém

Hébron

Ramallah Jericó

Jerusalém-LesteJerusalém-Oeste

ISRAEL

CISJORDÂNIA

GAZA

ISRAEL

EG

ITO

JOR

NIA

ZONA A: 3% do território e20 % da população

ZONA B: 27% do território ea quase totalidade das aldeiaspalestinianas

ZONA C: mais de 70% doterritório

Autonomia palestiniana(Oslo I e II)

Controlo misto

Controlo israelita(Oslo II)Colónias judaicas,militares e civis, aindaobjeto de negociaçõesLimites demunicipalidadede JerusalémA zona de Jerusalém--leste, anexada porIsrael em 1967, éexcluída dos acordoprovisórios

0 10 km

0 10 km

Jordão

Al Arish

Suez

Eilat

Telavive

Haifa

Amã

HebronJerusalém

CISJORDÂNIA(ocupado)

LÍBANOSÍRIA

SINAI(EGITO)

ARÁBIASAUDITA

JORDÂNIA

GAZA(ocupado)

GOLAN(anexado)

M A R M E D I T E R R Â N E O

M A RM O R T O

0 100 km

O processo de paz, na sua essência, tem consistido simplesmente na participação da liderança palestiniana na aprovação dos termos ditados pelos israelenses. Houve uma ligeira reorganização das forças militares israelitas. Os colonatos continuam. Jerusalém continua sob a soberania israelita, ocupada por israelitas. As fronteiras e a água são controladas por Israel. As saídas e entradas são controladas por Israel […] A segurança é controlada por Israel. O que os americanos e os israelitas quiseram fazer foi obter o consentimento palestiniano nesta operação de cosmética da ocupação. Apresenta-se o processo ao público como se fosse uma caminhada para a paz, quando na realidade se trata de uma fraude gigantesca […].

Barsamian, David (2004). Cultura e Resistência. Porto: Campo das Letras. (Jornalista norte-americano).

Os conflitos mundiais no após-Guerra Fria

No início dos anos 90, com o fim da bipolarização política […] as guerras por procuração terminaram, embora algumas delas subsistissem por conta própria sem o patrocínio das superpotências. A intervenção externa tornou-se menos arriscada, dado já não haver a ameaça da retaliação por parte da superpotência patrocinadora. Em muitos casos, as motivações ideológicas dos conflitos diminuíram, sendo substituídas, muitas vezes, por aspetos ligados à identidade religiosa, étnica, nacional, racial, ciência, linguística ou geográfica. Muitos destes conflitos eram sustentados pelos interesses económicos de uma ou de várias partes em confronto. […]

Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). A situação dos refugiados no mundo, cinquenta anos de ação humanitária (2000). Genebra

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O fundamentalismo no século XXI

Pergunta – Será o crescimento do fundamentalismo religioso em todo o Mundo uma consequência direta do embate de civilizações? Resposta – O crescimento do fundamentalismo religioso é, antes de mais nada, um resultado dos processos de modernização social e económica que estão a processar-se em todo o Mundo. Isto tem gerado movimentos fundamentalistas em praticamente todas as religiões mais importantes. As pessoas que participaram nesses movimentos são as que mudaram para as cidades, arranjaram novos empregos e estão a viver num ambiente urbano radicalmente diferente do ambiente rural onde nasceram. Quando adquirem instrução, tornam-se fundamentalistas, quer se trate do fundamentalismo protestante, do fundamentalismo hindu ou do fundamentalismo muçulmano. O aumento do fundamentalismo religioso origina problemas e conflitos. Um dos desafios que se colocam aos Estados do Mundo é o de tentar solucionar esses conflitos. […] Neste novo Mundo, os mais persistentes, importantes e perigosos conflitos não serão entre classes sociais, ricos e pobres […], mas entre povos pertencentes a diferentes entidades culturais. Acontecerão dentro de civilizações guerras tribais e conflitos étnicos. A violência entre Estados e grupos de diferentes civilizações tem em si o potencial para uma escalada, por outros Estados e grupos destas civilizações ocorrerem em ajuda dos países da mesma família.

Entrevista a Samuel Huntington. In Público de 1 de março de 1999

As migrações atuais

Traduzindo o sofrimento de populações atingidas pelos conflitos políticos que agitam o seu país, os motivos políticos alimentam uma parte crescente das migrações. Trata-se, frequentemente, de êxodos maciços de “refugiados”. […]Hoje em dia, os países do Terceiro Mundo são os principais fornecedores de refugiados. A Europa deve ser também considerada, mas numa menor dimensão. […]Mas a maior parte dos refugiados provém de África, da Ásia e da América Latina. O continente africano foi particularmente atingido: um refugiado em cada três é africano. O contexto presta-se a isso: os Estados são frágeis, existem numerosos conflitos fronteiriços frequentemente saídos das partilhas coloniais, sem relação com as realidades geográficas e culturais dos países, as economias não conseguem “descolar”, existem fortes restrições climáticas, etc. […] No Médio Oriente, os contenciosos territoriais e as rivalidades étnicas e religiosas estiveram frequentemente na origem de dramáticos desenraizamentos (problema palestiniano, questão curda, minorias libanesas). Na Ásia, o Estado a sofrer o êxodo mais maciço foi o Afeganistão […]. Outro exemplo asiático particularmente impressionante: o dos boat people fugindo do Vietname, a partir de 1975. […]A América Latina não foi também poupada. Estimam-se em três milhões (dado de 1992) o número de refugiados provenientes da América Central e das Caraíbas […]. Verdadeira tradição política, a ditadura alimentou no Haiti um êxodo impressionante […]. Os movimentos de refugiados traduzem assim as violações dos direitos do Homem e a multiplicação dos conflitos locais no Mundo.

Boniface, Pascal (dir.) (2009). Atlas das Relações Internacionais. Lisboa: Edições Técnicas

Acrônimo ACNUR, UNHCR

Comando António Guterres

Fundação 1950

Website unhcr.org

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados foi criado pela Resolução n.º 428 da Assembleia das Nações Unidas, em 14 de dezembro de 1950. Tem como missão dar apoio e proteção a refugiados de todo o Mundo.Tem sede em Genebra, Suíça, e a sua missão é proteger os refugiados e encontrar soluções duradouras para os seus problemas. Em julho de 2001, foi feita uma publicação para comemorar os 50 anos de existência da ACNUR.

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Poema de Leopoldo Senghor1

MULHER NEGRA

Mulher nua, mulher negraVestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!Cresci à tua sombra; a doçura de tuas mãos acariciou os meus olhos.E eis que, no auge do verão, em pleno Sul, eu te descubro, Terra prometida, do cimo de alto desfiladeiro calcinado,E tua beleza me atinge em pleno coração, como o golpe certeirode uma águia.Fêmea nua, fêmea escura.Fruto sazonado de carne vigorosa, êxtase escuro de vinho negro,boca que faz lírica a minha bocasavana de horizontes puros, savana que freme com as carícias ardentes do vento Leste.Tam-tam escultural, tenso tambor que murmura sob os dedosdo vencedorTua voz grave de contralto é o canto espiritual da Amada.Fêmea nua, fêmea negra,Lençol de óleo que nenhum sopro enruga, óleo calmo nos flancos do atleta,nos flancos dos príncipes do Mali. Gazela de adornos celestes, as pérolas são estrelas sobre a noite da tua pele.Delícia do espírito, as cintilações de ouro sobre tua pele que ondulaà sombra de tua cabeleira. Dissipa-se minha angústia, ante o sol dos teus olhos. Mulher nua, fêmea negra,Eu te canto a beleza passageira para fixá-la eternamente,antes que o zelo do destino te reduza a cinzas paraalimentar as raízes da vida.

Tradução de Guilherme de Souza Castro (In http://www.quilombhoje.com.br/ensaio/ieda/senghor.html. Consultado em 16.11.2014)

1 Foi um político e escritor senegalês. Governou o país de 1960 a 1980. Entre as duas guerras mundiais foi o ideólogo do conceito de negritude.

O problema das migrações

Traduzindo o sofrimento de populações atingidas pelos conflitos políticos que agitam o seu país, os motivos políticos alimentam uma parte crescente das migrações. Trata-se, frequentemente, de êxodos maciços de “refugiados”. […] No Médio Oriente, os contenciosos territoriais e as rivalidades étnicas e religiosas estiveram frequentemente na origem de dramáticos desenraizamentos (problema palestiniano, questão curda, minorias libanesas). […] Os movimentos de refugiados traduzem assim as violações dos direitos do Homem e a multiplicação dos conflitos locais no Mundo.

Boniface, Pascal (dir.) (2000). Atlas das Relações Internacionais. Lisboa: Plátano Edições Técnicas

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1 O maior campo de refugiados do Mundo, no Quênia. Na foto: Secretário-Geral Ban Ki-Moon, visita os hospitais e famílias que vivem no local. Foto: Evan Schneider/ UN

Os nossos pais fundadores tinham compreendido que, aceitando o exercício da soberania, os estados poderiam encarar melhor os problemas do que qualquer um deles o poderia fazer sozinho. Se estas verdades pareciam já claras em 1945, não deveriam sê-lo ainda mais, hoje, na era da mundialização? […]

Mesmo os países mais poderosos sabem que têm necessidade de colaborar com os outros, no quadro de instituições multilaterais, se desejam os seus fins.

A ação multilateral constitui o único meio de garantir que a abertura dos mercados arraste benefícios e perspetivas novas para todos.

A ação multilateral é a nossa única esperança de dar às populações dos países menos desenvolvidos a possibilidade de escapar aos horrores da pobreza, da ignorância e da doença. […]

E esta realidade torna-se ainda mais verdadeira no quadro da prevenção do terrorismo. Um estado pode reagir investindo sobre o grupo terrorista que o atacou ou sobre o país que o abriga […]

Kofi Annan, secretário-geral da ONU. Discurso de abertura da 57.ª Assembleia Geral, 12 de setembro de 2002.

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Jovens jihadistas ocidentais

O Reino Unido quer aplicar medidas mais duras para os britânicos suspeitos de atividades terroristas na Síria e que queiram regressar ao país. O primeiro-ministro, David Cameron, revelou os planos do Governo britânico na noite de quinta-feira [13.11.14], enquanto discursava no Parlamento australiano, em Camberra. […]O plano do Reino Unido prevê impedir o regresso dos jihadistas durante dois anos, a menos que concordem com uma série de mecanismos de controlo, que vão desde julgamentos a apresentações periódicas junto das autoridades. Os serviços secretos britânicos estimam que 500 cidadãos, na sua maioria jovens entre os 16 e os 21 anos, tenham viajado para a Síria para se juntar ao Estado Islâmico e que metade esteja em vias de regressar ao país.“Temos de lidar com a ameaça de combatentes estrangeiros que planeiam atacar o nosso povo”, disse Cameron na Austrália, onde se encontra para participar na cimeira do G20, que decorre durante este fim de semana em Brisbane.Segundo o plano de Downing Street, os cidadãos suspeitos de pertencerem ao Estado Islâmico só podem regressar ao Reino Unido caso se entreguem às autoridades fronteiriças. Se não o fizerem, os seus passaportes são revogados e o seu nome passa a constar numa lista de proibição. O Governo britânico garante, porém, que estas medidas não vão colocar nenhum cidadão britânico em situação de apátrida – o que é ilegal à luz das convenções internacionais de que o Reino Unido é signatário.De acordo com a lei em vigor, apenas a ministra do Interior, Theresa May, tem o poder de impedir cidadãos britânicos de viajar, através da chamada “prerrogativa real”. A ideia agora é permitir que um polícia graduado partilhe essa prerrogativa, bastando uma “suspeita razoável” sobre as atividades de alguém para que possa ser acionada.O executivo britânico pretende apresentar os pormenores da nova Lei Antiterrorismo até ao final do mês – para a qual já conta com o apoio dos parceiros de coligação Liberais Democratas, segundo o The Guardian. O plano é que entre em vigor em Janeiro [2015].Para poder voltar a entrar em solo britânico, os suspeitos têm de concordar com a monitorização das autoridades, o que pode passar por contactos regulares com a polícia, notificação de mudança de morada e integração em atividades de contraterrorismo. O indivíduo terá também de concordar com a possibilidade de poder ir a julgamento, com base naquilo que for apurado durante as investigações.“Estamos a colocar condições sobre as possibilidades de [os suspeitos] viajarem”, explicou à BBC um dirigente do Governo britânico. “Isto iria fortalecer significativamente a nossa proteção e estaríamos entre os mais duros no Mundo no que respeita à repressão dos combatentes estrangeiros.”Apesar das garantias dadas pelo executivo de que nenhum britânico perderá a nacionalidade, há quem veja atropelos aos direitos humanos nas novas medidas. "É errado, por princípio, e errado por questões de segurança despejar os seus cidadãos como se fossem lixo tóxico na comunidade internacional", criticou a diretora da organização de defesa de direitos Liberty, Shami Chakrabarti. As novas medidas podem também dar origem a situações que vão além daquilo que é a competência das autoridades britânicas. É o caso de um suspeito que, querendo regressar ao Reino Unido, se veja impedido de o fazer e permaneça num terceiro país, causando óbvios constrangimentos diplomáticos. Para a oposição, é necessário fazer “muito mais” no que toca à prevenção da radicalização entre os britânicos. “Iremos olhar cuidadosamente para quaisquer propostas que o primeiro-ministro apresente, embora tendo já regressado metade dos combatentes que foram à Síria, o Governo deveria introduzir programas de 'desradicalização' obrigatórios como prioridade”, afirmou a ministra do Interior do “governo sombra” do Partido Trabalhista.O Presidente francês, François Hollande, e o primeiro-ministro belga, Charles Michel, estiveram reunidos no Palácio do Eliseu, onde discutiram os contornos desta parceria. O encontro ocorreu no mesmo dia em que foi julgado o primeiro jihadista francês, condenado a uma pena de sete anos de prisão. Flavien Moreau, um jovem de 28 anos de origem sul-coreana, foi julgado por um tribunal de Paris, depois de ter sido detido pelos serviços antiterrorismo franceses quando se preparava para regressar à Síria.[…]

João Ruela Ribeiro. Artigo de jornal Público de 14.12.2014. In http://www.publico.pt/mundo/noticia/

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