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ANO-2, N.º 3 – JULHO-DEZEMBRO/2004 – ISSN: 1679-9321 03

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AHiléia – Revista de Direito Ambiental da Amazônia, se constitui em espaço destinado à apresentação e divulgação

das reflexões produzidas no processo de construção do conhecimento humano, jurídico e humanístico-jurídico-

ambiental, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do

Amazonas.

Os contextos diversos e complexos do mundo contemporâneo, em relação constante e paradoxal, com o acirrado

processo de globalização econômica e cultural, implicam em transformações sociais, jurídicas, econômicas e políticas,

gerando novos problemas e conflitos, especialmente no que concerne ao direito e ao seu estudo. A verticalidade do

discurso global que busca legitimar os processos de universalização da cultura do mercado quer seja na vertente única

da produção e do consumo capitalistas, transformando tudo em mercadoria, ou, na imposição de modelos de

normatividade supostamente eficazes para proporcionar o desenvolvimento, provocam uma certa idéia de que não existe

solução fora desses parâmetros, favorecendo um renovado processo econômico neocolonial.

Nesse sentido, refletir desde os contextos da existência, significa proporcionar e criar os espaços de lutas. Lutas pelo

conhecimento, pelo direito, pela vida e dignidade humana. Assim, este periódico científico que se consolida como

espaço para divulgação e reflexão do direito ambiental, tem no contexto amazônico e brasileiro e, em sentido mais

ampliado, em trocas geopolíticas e cognoscitivas mais iguais na correlação sul-norte/norte-sul, espiralando a seara da

complexidade do mundo sóciobiodiverso. Almeja-se, portanto, constituir-se, pelo diálogo, em âmbito plural e

heterogêneo para convergências de conhecimentos e alternativas, com perspectivas transdisciplinares nas abordagens

e conteúdos, assim como interinstitucional e translocal nos sujeitos.Revista de DireitoAm

biental da Amazônia

ANO-2, N.º 3 – JULHO-DEZEMBRO/2004 – ISSN: 1679-9321

ANO-2JUL-DEZ

2004

03 03

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GOVERNADOR DO AMAZONAS

Eduardo Braga

VICE-GOVERNADOR DO AMAZONAS

Omar Aziz

SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA

Robério Braga

SECRETÁRIA DE ESTADO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Marilene Corrêa

REITOR DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

Lourenço dos Santos Pereira Braga

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ANO-2, N.º 3

MANAUS, JULHO-DEZEMBRO, 2004

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Copyright © 2006Governo do Estado do Amazonas

Secretaria de Estado da CulturaUniversidade do Estado do Amazonas – UEA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

Reitor Lourenço dos Santos Pereira BragaVice-Reitor Carlos Eduardo Gonçalves

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

Pró-Reitor Walmir de Albuquerque Barbosa

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Diretor Randolpho de Souza Bittencourt

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL

Coordenador Fernando Antonio de Carvalho Dantas

Solicita-se permuta

Solicitase canje

Exchange desired

On demande l’échange

Vogliamo cambio

Wir bitten um Austausch

UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE DDOO EESSTTAADDOO DDOO AAMMAAZZOONNAASS –– UUEEAAPrograma de Pós-Graduação em Direito Ambiental

Rua Leonardo Malcher, n.º 1728, 5.º andar,Centro, CEP: 69010-170

Manaus – Amazonas – BrasilTel./Fax. 55 92 3627-2725

COORDENADORES(AS)Profa. Cristiane DeraniProf. Sérgio Rodrigo Martinez

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Prof. Fernando Antonio de Carvalho Dantas

CONSELHO EDITORIAL

Prof. Fernando Antonio de Carvalho DantasProf. Luiz Edson FachinProf. David Sánchez RubioProf. Ozório José de Menezes FonsecaProfa. Cristiane DeraniProf. Sérgio Rodrigo MartinezProfa. Solange Teles da Silva

PROJETO GRÁFICO

Kintaw Design

REVISÃO

Edições Kintaw

FICHA CATALOGRÁFICA

Ycaro Verçosa dos Santos– CRB-11 287

Hiléia: Revista de Direito Ambiental daAmazônia. ano 2, n.º 3. Manaus: EdiçõesGoverno do Estado do Amazonas / Secretaria deEstado da Cultura / Universidade do Estado doAmazonas, 2006.

284 p. ISSN: 1679-9321 (Semestral)

1. Direito Ambiental – Amazônia I.Universidade do Estado do Amazonas

CDD: 344.046811CDU 344 (811)

E-mail: [email protected]: www.pos.uea.edu.br/direitoambiental/

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SUMÁRIO

AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..00 99

PPAARRTTEE II

LOS MOVIMIENTOS SOCIALES Y LA CONSTRUCCIÓN DE UN NUEVOSUJETO HISTÓRICOFFrraannççooiiss HHoouuttaarr tt .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..11 33

UN MUNDO QUE SE HUNDE: LOS COLAPSOS ECOSOCIALES,ONTOLÓGICOS Y GLOBALESEEdduuaarrddoo SSaaxxee--FFeerrnnáánnddeezz .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..22 55

TRÊS MEDIÇÕES, UMA REGIÃO TROPICAL DE FRONTEIRA, E APENAS UM ACHADO:DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA, 1953-1996JJoosséé AAuugguussttoo DDrruummmmoonndd .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..77 55

EL DERECHO AMBIENTAL EN ARGENTINACCaarr llooss BBoottaassssii .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..99 55

MODERNIDADE: NASCIMENTO DO SUJEITO E SUBJETIVIDADE JURÍDICA MMaarr iiaa ddee FFáátt iimmaa SS.. WWoollkkmmeerr .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..112211

POLÍTICA INDIGENISTA DO AMAZONAS: PERSPECTIVAS ETENDÊNCIAS NO SÉCULO XXIMMaarrccooss AAnnttoonniioo BBrraaggaa ddee FFrreeii ttaass .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..114499

PPAARRTTEE II II

CONSIDERAÇÕES JURÍDICAS SOBRE O MANEJO COMUNITÁRIO DE ESTOQUESPESQUEIROS: O EXEMPLO DA AMAZÔNIA BRASILEIRASSeerrgguueeii AAii llyy FFrraannccoo ddee CCaammaarrggooAAnnaa CCaarrooll iinnaa SSuurrggiikk .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..116655

REFLEXÃO DO DIREITO DAS “COMUNIDADES TRADICIONAIS”A PARTIR DAS DECLARAÇÕES E CONVENÇÕES INTERNACIONAISJJooaaqquuiimm SShhii rraaiisshhii NNeettoo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..117777

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PPAARRTTEE II II II

A FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTALCOMO NOVO PARADIGMA DA PROPRIEDADE CONTEMPORÂNEAAAllaaiimm GGiioovvaannii FFoorr tteess SStteeffaanneell lloo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..119999

ANÁLISE DA CULPABILIDADE E DA RESPONSABILIDADE DO DANO AMBIENTAL:REFLEXÕES A PARTIR DE UMA MISSÃO DE FISCALIZAÇÃO DO IBAMA NO INTERIORDO ESTADO DO PARÁDDaanniieell AAbbrraahhããoo ddoo NNaasscciimmeennttoo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..221177

SOCIEDADE CIVIL RESÍDUOS SÓLIDOS E CONSCIENTIZAÇÃOMMaarr iiaa RRoossaallvvaa ddee OOll iivveeii rraa SSii llvvaa .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..223399

PPAARRTTEE IIVV

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÕÕEESS DDEE MMEESSTTRRAADDOO ((jjuullhhoo--ddeezzeemmbbrroo//22000044)) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..225511

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CONTENTS

PPRREESSEENNTTAATTIIOONN .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..00 99

PPAARRTT II

SOCIAL MOVEMENTS AND THE CONSTRUCTION OF A NEWHISTORICAL SUBJECTFFrraannççooiiss HHoouuttaarr tt .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..11 33

A WORLD THAT SINKS: ECO-SOCIAL, ONTOLOGICALAND GLOBAL COLLAPSESEEdduuaarrddoo SSaaxxee--FFeerrnnáánnddeezz .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..22 55

THREE MEASUREMENTS, ONE BORDER TROPICAL REGION AND ONE FINDING: SOCIO-ECONOMIC DEVELOPMENTIN THE BRAZILIAN AMAZONJJoosséé AAuugguussttoo DDrruummmmoonndd .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..77 55

ENVIRONMENTAL LAW IN ARGENTINACCaarr llooss BBoottaassssii .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..99 55

MODERNITY: BIRTH OF THE SUBJECT AND LEGAL SUBJECTIVITYMMaarr iiaa ddee FFáátt iimmaa SS.. WWoollkkmmeerr .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..112211

INDIGENIST POLICY IN THE STATE OF AMAZONAS:PERSPECTIVES AND TRENDSMMaarrccooss AAnnttoonniioo BBrraaggaa ddee FFrreeii ttaass .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..114499

PPAARRTT II II

LEGAL CONSIDERATIONS ON COMMUNITY-BASEDMANAGEMENT OF FISH STOCKS: THE EXAMPLE OF BRAZILIAN AMAZONSSeerrgguueeii AAii llyy FFrraannccoo ddee CCaammaarrggooAAnnaa CCaarrooll iinnaa SSuurrggiikk .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..116655

REFLECTIONS ON THE RIGHTS OF “TRADITIONAL COMMUNITIES” FROM THEPERSPECTIVE OF INTERNATIONAL DECLARATIONS AND CONVENTIONSJJooaaqquuiimm SShhii rraaiisshhii NNeettoo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..117777

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PPAARRTT II II II

SOCIO-ENVIRONMENTAL FUNCTION AS ANEW PARADIGM OF CONTEMPORARY PROPERTYAAllaaiimm GGiioovvaannii FFoorr tteess SStteeffaanneell lloo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..119999

ANALYSES OF CULPABILITY AND RESPONSIBILITY OF ENVIRONMENTAL CRIME: REFLECTIONS FROM THE PERSPECTIVEOF AN INSPECTION MISSION IN THE STATE OF PARÁDDaanniieell AAbbrraahhããoo ddoo NNaasscciimmeennttoo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..221177

CIVIL SOCIETY, SOLID RESIDUES AND AWARENESSMMaarr iiaa RRoossaallvvaa ddee OOll iivveeii rraa SSii llvvaa .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..223399

PPAARRTT II II II

MMAASSTTEERR DDEEGGRREEEE DDIISSSSEERRTTAATTIIOONNSS ((22000044)) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..225511

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APRESENTAÇÃO

AHiléia, Revista de Direito Ambiental da Amazônia, configura espaçopara publicação das reflexões construídas no âmbito do Programa de

Pós-graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonasao passo em que para si convergem as contribuições de pesquisadores externosem cujo pensar manifestam a imprescindível relação do conhecimento com arealidade.

O número três que ora encaminhamos a comunidade científica congrega– como nas edições anteriores – o esforço compartilhado de professores epesquisadores do Direito, do Direito Ambiental e de áreas afins em construirum conhecimento jurídico permeado pelo diálogo inter e transdisciplinar, paraa compreensão e explicação do complexo espaço amazônico.

Neste sentido, da defesa da função sócio-ambiental como novoparadigma da propriedade contemporânea, como postura crítica de AlaimGiovani Fortes Stefanello ao novo sujeito histórico de François Houtart, asabordagens cingem-se do compromisso com o futuro, nas densas reflexõessobre o presente, como nos mostra Eduardo Saxe-Fernández ao diagnosticar oscolapsos eco-sociais, ontológicos e globais, e José Augusto Drummond aoabordar o desenvolvimento socioeconômico da Amazônia, entre outros queintegram o presente volume da Hiléia.

Agradecemos aos colaboradores, ao Magnífico Reitor da Universidadedo Estado do Amazonas, professor Lourenço dos Santos Pereira Braga, peloincansável apoio ao PPGDA, ao mestrando Alaim Giovani Fortes Stefanello,representante discente do mestrado e presidente do Centro de Estudos emDireito Ambiental da Amazônia, ao professor Sérgio Rodrigo Martinez eRafael Calixto pela elaboração e revisão dos resumos em língua estrangeira e,finalmente, ao patrocínio da Caixa Econômica Federal, contribuiçãoinestimável para a cultura jurídica no Amazonas.

Fernando Antônio de Carvalho DantasPresidente do Conselho Editorial

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004 99

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PARTE ILOS MOVIMIENTOS SOCIALES Y LA CONSTRUCCIÓN DE UN NUEVO SUJETO HISTÓRICOFFrraannççooiiss HHoouuttaarr tt .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..11 33

1. Por que un nuevo sujeto histórico? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .142. Los movimientos sociales . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .173. Como construir el nuevo sujeto histórico? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20

UN MUNDO QUE SE HUNDE: LOS COLAPSOS ECOSOCIALES, ONTOLÓGICOS Y GLOBALESEEdduuaarrddoo SSaaxxee--FFeerrnnáánnddeezz .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..22 55

Introducción . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .261. Los colapsos ontológicos ecosociales . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .332. El colapso social mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .433. El colapso ecológico mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58Conclusiones . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .70

TRÊS MEDIÇÕES, UMA REGIÃO TROPICAL DE FRONTEIRA,E APENAS UM ACHADO:DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA, 1953-1996.JJoosséé AAuugguussttoo DDrruummmmoonndd .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..77 55

Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .761. Contexto analítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .762. Medição n.º 1 - Haller e colaboradores testando diretamente a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79

hipótese de Bunker com dados macro-regionais válidos para 1970 e 19803. Medição n.º 2 - FJP, FIBGE e IPEA constróem uma base de dados original . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .824. Medição n.º 3 – mudanças anuais no Amapá, 1953-1996 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87Sintese e Conclusões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .90

EL DERECHO AMBIENTAL EN ARGENTINACCaarr llooss BBoottaassssii .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..99 55

1. Ambiente y Derecho Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .962. Los Principios Generales del Derecho Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .993. Las Relaciones Internacionales . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1024. Los Artículos 41 y 43 de La Constitución Nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1035. Reparación Del Daño Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1106. Legislación Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1167. Protección Administrativa y Judicial del Medio Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .117Síntesis Final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .119

MODERNIDADE: NASCIMENTO DO SUJEITO E SUBJETIVIDADE JURÍDICA MMaarr iiaa ddee FFáátt iimmaa SS.. WWoollkkmmeerr .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..112211

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1221. Modernidade e Nascimento do Sujeito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1222. A Questão do Direito na Modernidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .141Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .146

POLÍTICA INDIGENISTA DO AMAZONAS: PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS NO SÉCULO XXIMMaarrccooss AAnnttoonniioo BBrraaggaa ddee FFrreeii ttaass .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..114499

1. Breve contextualização da política indigenista no cenário nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1502. A Política Indigenista do Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1513. Princípios norteadores da política indigenista no Estado do Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1544. Política indigenista e o movimento indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .156Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .159

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LOS MOVIMIENTOS SOCIALES Y LACONSTRUCCIÓN DE UN NUEVO

SUJETO HISTÓRICO

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004 11 33

Resumo: Este artigo trata da temática dosmovimentos sociais em face da construção deum novo sujeito histórico. Na sua primeiraparte, o artigo busca explicar o porquê danecessidade de um novo sujeito histórico. Paratanto, é estabelecida uma evolução históricana qual se destaca o papel do Capitalismo naestruturação da divisão entre capital etrabalho. Ao se demonstrar como o modelocapitalista busca a acumulação de riquezas,verifica-se o estabelecimento das contradiçõesdo modelo, ao passo em que impõe suadominação sobre povos e populações, cujoalcance atualmente é global. Nesse sentido,observa a necessidade da construção de umnovo sujeito histórico popular, plural edemocrático, capaz de atuar sobre essarealidade existente. Na sua segunda parte, oartigo trata dos movimentos sociais, nascidosdas contradições do modelo capitalista.Demonstra suas dificuldades e sugere comotais movimentos devem proceder para atuaremenquanto sujeitos históricos responsáveis pelatransformação do modelo atual. Na sua partefinal, o artigo procura demonstrar que aconstrução de um novo sujeito históricoperpassa pela criação de uma consciênciacoletiva ética e analítica da realidade. Paratanto, alguns exemplos são apresentados deatores coletivos, cujas contribuiçõesdemonstram a possibilidade do surgimento deum novo sujeito histórico.

Palavras-chave: Movimentos Sociais; SujeitoHistórico; Sociedade.

Abstract: This article deals with the thematicof the social movements in face of theconstruction of a new historical subject. In itsfirst part, the article explains the reason whythe new historical subject is requested. Inorder to do that, it is established a historicalevolution in which the role of Capitalism inthe arrangement of the division betweencapital and work. It demonstrates thecontradictions of the model, while it imposesits domination on peoples and populations,whose currently reach is global. In this sense,it observes the necessity of the construction ofa new popular historical subject, plural anddemocratic, capable of acting on this existingreality. In its second part, the article deals withthe social movements, born from thecontradictions of the capitalist model. Itdemonstrates its difficulties and it suggestshow such movements must proceed to actwhile responsible historical subjects for thetransformation of the current model. In itslatter part, the article seeks to demonstrate thatthe construction of a new historical subjectgoes by the creation of an ethical andanalytical collective conscience of the reality.As to that, some examples of collective actorsare presented, whose contributions demons-trate the possibility of a new historical subject.

Key-words: Social Movements; HistoricalSubject; Society.

* Doutor em Sociologia. Professor da Universidade de Louvain-la-Neuve, Bélgica. Diretor da Revista Alternatives Sud. Diretordo Centro Tricontinental – CETRI. Presidente do Fórum Mundial de Alternativas

François Houtart*

Sumário: 1. Por que un nuevo sujeto histórico? 2. Los movimientos sociales; 3. Como construirel nuevo sujeto histórico?

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Este encuentro: “No al ALCA - Otra América es posible”, se hizotradición y forma parte de manera estratégica del pacto del Nuevo SujetoHistórico. Podemos situar este proceso al final de los años 80, 25 años despuésdel Consenso de Washington y 10 años después de la caída del muro de Berlín.

Un tal paso fue preparado por varias iniciativas: el PPXXI (People’sPower twenty one) en Asia, el encuentro “intergaláctico” de los Zapatistas enChiapas, el Otro Davos que reunió al principio de 1999, varios movimientossociales de 4 continentes en Zúrich y en Davos, la misma semana que el ForoEconómico Mundial.

Todo eso desembocó por una parte en la cadena de protestas sistemáticascontra los centros de poder global: OMC, Banco Mundial, FMI, G8, CumbreEuropea, Cumbre de las Américas y por otra parte sobre los Foros Socialesmundiales, continentales, nacionales y temáticos, lugares de convergencia demovimientos y organizaciones luchando contra el neoliberalismo. Losmovimientos sociales jugaron un papel central en este proceso. Se trata ahorade esbozar un cuadro general de reflexión sobre la marcha de los eventos.

1. POR QUE UN NUEVO SUJETO HISTÓRICO?

La historia de la humanidad se caracteriza por una multiplicidad desujetos colectivos, portadores de valores de justicia, de igualdad, de derechosy protagonistas de protestas y luchas. Recordamos por ejemplo, la revuelta delos esclavos, las resistencias contra las invasiones en África y Asia, las luchascampesinas de la Edad Media en Europa, las numerosas resistencias de lospueblos autóctonos de América, los movimientos religiosos de protesta socialen Brasil, Sudan, China.

Un salto histórico se da cuando el capitalismo construye, después de 4siglos de existencia, las bases materiales de su reproducción que son la divisióndel trabajo y la industrialización. Nace el proletariado como sujeto potencial, apartir de la contradicción entre capital y trabajo. Los trabajadores estánsometidos al capital dentro del proceso mismo de la producción haciendo quela clase obrera sea totalmente absorbida al igual que constituida por el capital.Es lo que Carlos Marx llamó la subsumpción real del trabajo por el capital.

La nueva clase se transformó en sujeto histórico cuando se construyó enel seno mismo de las luchas, pasando del estatuto de “una clase en sí a unaclase para sí”. No era el único sujeto, pero sí, el sujeto histórico, es decir el

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instrumento privilegiado de la lucha de emancipación de la humanidad, enfunción del papel jugado por el capitalismo. Este último no se situabasolamente en el plan de la economía, sino también orientaba la configuracióndel Estado-Nación, las conquistas coloniales, las guerras mundiales, sin hablarde su papel como vehículo privilegiado de la modernidad. Evidentemente lahistoria de la clase obrera como sujeto histórico no fue lineal. Hubo el paso demovimiento a partido político y del plan nacional al plan internacional, perotambién éxitos y fracasos, victorias y recuperaciones.

Hoy día, el sujeto social se amplifica. El capitalismo realiza un nuevosalto. Las nuevas tecnologías extienden la base material de su reproducción: lainformática y la comunicación, que le dan una dimensión realmente global. Elcapital necesita una acumulación acelerada para responder al tamaño de lasinversiones en tecnologías cada vez más sofisticadas, para cubrir los gastos deuna concentración creciente y encontrar las exigencias del capital financieroque después de la flotación del dolar en 1971 se transformó masivamente encapital especulativo.

Por estas razones, el conjunto de los actores del sistema capitalistacombatieron tanto el keynesianismo y sus pactos sociales entre capital, trabajoy Estado, el desarrollo nacional del Sur (el modelo de Bandung, según SamirAmin) como el desarrollismo cepalino (en América Latina) y los regímenessocialistas. Empezó la fase neoliberal del desarrollo del capitalismo llamadatambién el Consenso de Washington. Esta estrategia se tradujo en una dobleofensiva, contra el trabajo (disminución del salario real, deregulación,deslocalización) y contra el Estado (privatizaciones). Hoy asistimos también auna búsqueda de nuevas fronteras de acumulación, frente a las crisis tanto delcapital productivo como del capital financiero: la agricultura campesina quetiene que convertirse en una agricultura productivista capitalista, los serviciospúblicos que deben pasar al sector privado y la biodiversidad, como base denuevas fuentes de energía y de materia prima.

El resultado es que ahora todos los grupos humanos sin excepción estánsometidos a la ley del valor, no solamente la clase obrera asalariada(subsumpción real), sino los pueblos autóctonos, las mujeres, los sectoresinformales, los pequeños campesinos, bajo otros mecanismos, financieros(precio de las materias primas o de los productos agrícolas, servicio de la deudaexterna, paraísos fiscales, etc) o jurídicos (las normas del FMI, del BancoMundial de la OMC), todo eso significando una subsumpción formal.

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Otro resultado es el hecho que el carácter destructor del capitalismo(según la expresión de Schumpeter) toma el paso sobre su carácter creador (debienes y servicios). Más que nunca, el capitalismo destruye, como lo notabahace casi más de un siglo y medio, Carlos Marx, las dos fuentes de su riqueza:la naturaleza y los seres humanos. En verdad, la destrucción ambiental afectaa todos y la ley del valor incluye hoy a todos. La mercantilización domina lacasi totalidad de las relaciones sociales, en campos cada vez más numerososcomo el de la salud, la educación, la cultura, el deporte o la religión.

Además, la lógica capitalista tiene su institucionalidad. Recordemosprimero que se trata de una lógica y no de un complot de algunos actoreseconómicos (sino bastaría convertirlos y corregir abusos y excesos). Meacuerdo de un empresario de Santo Domingo, testigo de Jehová, que decía apropósito de sus obreros, que amaba de un amor muy cristiano: “llamo mistrabajadores, magos, porque no sé como pueden vivir con el salario que lesdoy”. El cambio exige una acción estructural, hoy globalizada, de actoresdeterminados con agendas precisas.

El capitalismo globalizado tiene sus instituciones: la OMC, el BancoMundial, el FMI, los bancos regionales y también sus aparatos ideológicos:medios de comunicación social, cada vez más concentrados en pocas manos.Finalmente, goza del poder de un imperio, los Estados Unidos. El dolar de estepaís es la moneda internacional. Los Estados Unidos tienen el único derechode veto en el Banco Mundial y en el FMI, y un veto compartido en el Consejode Seguridad. Este país conserva casi un monopolio en el campo militar, conla alta mano sobre la OTAN y la capacidad de empezar guerras preventivas. Noduda a intervenir militarmente en Irak o Afganistán para controlar las fuentesde energía. Sus bases militares se extienden en el mundo entero y el gobiernose atribuye la misión de reprimir las resistencias en el mundo entero, sin dudaren utilizar la tortura y el terrorismo. Sin embargo, el imperio tiene susdebilidades. La naturaleza se venga, la oposición antiimperialista hoy esmundial. Otras señales de debilidad permiten a Imanuel Wallenstein de pensaren lo que él llama “el largo siglo XX”, dominado por el capitalismo podríaencontrar su fin en la mitad de este siglo.

Por todas estas razones, el nuevo sujeto histórico se extiende al conjuntode los grupos sociales sometidos, tanto los de la sumisión real (representadospor los llamados “antiguos movimientos sociales”) que los de la sumisiónformal (“nuevos movimientos sociales”).

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El nuevo sujeto histórico a construir será popular y plural, es decirconstituido por una multiplicidad de actores y no por la “multitud “ de la cuálhablan Hardt y Negri. Un tal concepto es vago y peligroso porquedesmovilizador. La clase obrera guardará un papel importante, perocompartido. Este sujeto será democrático, no solamente por su meta, sino porel proceso mismo de su construcción. El será multipolar, en los varioscontinentes y en las diversas regiones del mundo. Se tratará de un sujeto en elsentido pleno de la palabra, incluyendo la subjetividad redescubierta,abarcando todos los seres humanos, constituyendo la humanidad como sujetoreal (Franz Hinkelammert en su libro El Sujeto y la Ley, coronado por ElPremio Libertador). El sujeto histórico nuevo debe ser capaz de actuar sobre larealidad a la vez múltiple y global, con el sentido de emergencia exigido por elgenocidio y el ecocidio contemporáneo.

2. LOS MOVIMIENTOS SOCIALES

Los movimientos sociales son el fruto de contradicciones, hoy díaglobalizadas. Para ser verdaderos actores colectivos suponen, según AlainTouraine, un carácter de historicidad (situarse en el tiempo), una visión de latotalidad del campo dentro del cual se inscriben, una definición clara deladversario y una organización. Son más que una simple revuelta (las“jacqueries” campesinas) más que un grupo de intereses (cámara de comercio),más que una iniciativa autónoma del Estado (ONG).

Los movimientos nacen de la percepción de objetivos como metas deacción, pero para existir en el tiempo necesitan un proceso deinstitucionalización. Se crean roles indispensables para su reproducción social.Así nace una permanente dialéctica entre metas y organización, con el peligrode dominación de la lógica de la reproducción sobre las exigencias de losobjetivos. Hay un infinito número de ejemplos de esta dialéctica en la historia.

Así, el cristianismo nació, como lo dice el teólogo argentino Ruben Dri,como “el movimiento de Jesús”, expresión religiosa de protesta social,peligrosa para el imperio romano y reprimida por este último. Se transformópor su inserción en la sociedad romana en una institución eclesiástica,siguiendo el modelo de la organización política, centralizada, vertical y amenudo aliada con los poderes de opresión. El peso institucional no mató elespíritu, pero introdujo una contradicción permanente. El Concilio Vaticano II

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constituyó un esfuerzo de restablecer el predominio de los valores del mensajeevangélico sobre el carácter institucional, pero en los años siguientes, él fuebastante recuperado por una corriente de restauración.

Otro ejemplo es el caso de muchos sindicatos obreros y partidos deizquierda. Fueron iniciativas de los trabajadores o de los medios populares enlucha. Con el tiempo se transformaron en burocracias definiendo sus tareas entérminos solamente defensivos, es decir en función de la agenda del adversarioy no del proyecto de transformación radical del sistema. En el caso particularde los partidos políticos, es la lógica electoral que predomina sobre el objetivooriginal y que define las prácticas, lo que significa una lógica de reproduccióny no una perspectiva de cambio profundo (revolucionario). Eso no impide lapresencia de muchos militantes auténticos en estas organizaciones, perosignifica que están encerrados en una lógica que los sobrepasa.

Sin embargo la realidad social no está predeterminada y se puede actuarsobre los procesos colectivos. Para que los movimientos sociales estén enposición de construir el nuevo sujeto social hay dos condiciones preliminares.En primer lugar tener la capacidad de una crítica interna con el fin deinstitucionalizar los cambios y asegurar una referencia permanente a losobjetivos. En segundo lugar, captar los desafíos de la globalización, que a lavez son generales y específicos al campo de cada movimiento: obrero,campesino, de mujeres, populares, de pueblos autóctonos, de juventud, enbreve de todos los que son las víctimas del neoliberalismo globalizado.

Pero existen también otras exigencias. Los movimientos sociales que sedefinen como la sociedad civil tienen que precisar que se trata de la sociedad civilde abajo, recuperando así el concepto de Gramsci que la considera como el lugarde las luchas sociales. Eso impide de caer en la trampa de la ofensiva semánticade los grupos dominantes, como el Banco Mundial, para los cuales ampliar elespacio de la sociedad civil significa restringir el lugar del Estado, o también enla ingenuidad de muchas ONGs para las cuales la sociedad civil es el conjuntode todos los que quieren el bien de la humanidad. En el plan global, la sociedadcivil de arriba se reúne en Davos y la sociedad civil de abajo en Porto Alegre.

Otra exigencia para construir el nuevo sujeto histórico es construir elvínculo con un campo político renovado. En los primeros tiempos de los ForosSociales había un real miedo hacia los órganos de la política, en parte porrazones justas: repudio de la instrumentalización por necesidades electorales ocomo simple herramienta de partidos en el poder, y en parte por una actitud deprincipio anti-estatal, especialmente en ciertas ONGs. De ahí, el éxito de las

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tesis de John Holloway que se pregunta como cambiar las sociedades sin tomarel poder. Si se trata de afirmar que la transformación social exige mucho másque la toma del poder político formal, ejecutivo o legislativo, esta perspectivaes plenamente aceptable, pero si significa que cambios fundamentales comouna reforma agraria o una campaña de alfabetización se pueden realizar sin elejercicio del poder, es una total ilusión..

Así, los movimientos sociales deben contribuir a la renovación delcampo político, como lo indica muy bien Isabel Rauber en su libro Sujetospolíticos. La pérdida de credibilidad de los partidos políticos es una realidadmundial y es urgente de encontrar la manera de realizar una reconstrucción delcampo. Un ejemplo interesante es el la República Democrática del Congo(Kinshasa), donde los movimientos y organizaciones de base se movilizaronpara la organización de las elecciones de julio 2006. Después de 40 anos dedictadura y de guerras (en los últimos 5 años hubo más de 3 millones devíctimas), las fuerzas populares de la base de la población, a pesar de todos losesfuerzos de fragmentación del país para controlar más fácilmente los recursosnaturales, afirmaron la necesidad de defender la integridad de la nación ysalvaron esta última de su desmantelamiento. Por otra parte, ellas estáninventando formas de democracia participativa, conjuntamente con lademocracia representativa. Miles de organizaciones locales, de mujeres, decampesinos, de pequeños comerciantes, de jóvenes, de comunidades cristianascatólicas y protestantes, se movilizaron para presentar candidatos, ligados porpacto a las comunidades (portavoces y no representantes como lo dice la ley deconsejos comunales de Venezuela), al nivel local y provincial, con algunos anivel nacional, pero sin candidato a la presidencia, porque estiman que primerodebe consolidarse el proceso desde abajo. Es una verdadera reconstrucción deun campo político, casi completamente destruido por las prácticas (corrupcióny tribalismo) de los partidos existentes.

Finalmente, será muy importante para las convergencias de losmovimientos sociales encontrar la manera de aglutinar las numerosasiniciativas populares locales que no se transforman en movimientosorganizados, a pesar del hecho que representan una parte importante de lasresistencias (a nivel de pueblos o de regiones, contra una represa, contra laprivatización del agua, la electricidad, la salud, contra la entrega de selvas aempresas transnacionales, etc.). Existen ejemplos, como en Sri Lanka,MONLAR, la organización que lucha para la reforma agraria y que reagrupamás de 100 iniciativas locales, además de ser un movimiento campesino

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nacional. Realizaron una acumulación de fuerzas capaces de actuar al nivel delpaís, como órgano de protesta (manifestaciones nacionales) y también dediálogo y de confrontación con el Gobierno y con el Banco Mundial.

3. COMO CONSTRUIR EL NUEVO SUJETO HISTÓRICO ?

Varios pasos son necesarios para producir el nuevo sujeto histórico. Laprimera condición es de elaborar una consciencia colectiva basada sobre unanálisis de la realidad y sobre una ética.

En cuanto al análisis se trata de utilizar instrumentos capaces de estudiarlos mecanismos de funcionamiento de la sociedad y de entender sus lógicas,con criterios que permitan distinguir efectos y causas, discursos y prácticas. Nose trata de cualquier tipo de análisis, sino del aparato teórico crítico lo másadecuado para responder al grito de los de abajo. Exige un rigor metodológicoalto y una apertura a todas las hipótesis útiles para este fin. La opción en favorde los oprimidos es un paso precientífico e ideológico, que va a guiar laelección del tipo de análisis, sin embargo este último pertenece al ordencientífico sin concesión posible. Es un saber nuevo que ayudará a crear laconciencia colectiva.

Tomamos un ejemplo contemporáneo. Se habla mucho de los objetivosdel Milenio, decididos por los jefes de Estado en Nueva York en el año 2000.¿Quién podría estar en contra de la eliminación de la pobreza y de la miseria(pobreza absoluta) y en favor del desarrollo? Por eso hubo unanimidad.Además del hecho que el objetivo para el año 2015 es solo reducir de la mitadla extrema pobreza, lo que significa que en este año todavía el mundo seencontrará con más de 800 millones de pobres (ya una vergüenza), todo indicaque será muy difícil lograr los objetivos previstos. La razón es que no se criticóla lógica fundamental del tipo de desarrollo que favorece a los 20 % de lapoblación de los países del Sur. Esta minoría crece de manera espectacular,formando una base de consumo apreciable para el capital y acentuando lavisibilidad de una cierta riqueza. Al mismo tiempo, las distancias socialesaumentan. Para entender esta contradicción se debe criticar el concepto mismodel desarrollo, del cual dependen los criterios adoptados para definir losobjetivos del Milenio. No entran en su definición elementos cualitativos comeel bienestar, la igualdad, la soberanía alimentaria y otros más. Es por eso queMarta Harnecker en el Centro Miranda de Caracas, trabaja sobre la creación de

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herramientas analíticas para medir los criterios del desarrollo. De hecho, losconceptos utilizados por las Naciones Unidas son los del mercado y no los dela vida de los seres humanos.

El segundo elemento que contribuye a la construcción de una concienciacolectiva es la ética. No se trata de una serie de normas elaboradas en abstracto,sino de una construcción constante por el conjunto de los actores sociales enreferencia a la dignidad humana y al bien de todos. Las definiciones concretaspueden cambiar según los lugares y las épocas y cuando se trata de la realidadglobalizada, la perspectiva ética tendrá que ser elaborada por el conjunto de lastradiciones culturales: eso es el concepto real de los derechos humanos. Laética en este sentido no es una imposición dogmática, sino una obra colectivaque tiene sus referencias en la defensa de la humanidad.

Podemos decir que el logro principal de los Foros Sociales, comoconvergencias de movimientos y de organizaciones populares, ha sido laelaboración progresiva de una conciencia colectiva, con varios niveles deanálisis y de comprensión y con una ética a la vez de protesta contra todo tipode injusticia y desigualdad, y de construcción social democrática de “un otromundo posible”. La existencia de los Foros es en si mismo un hecho político,además de los muchos otros logros, como la constitución de redes, elintercambio de alternativas, el funcionamiento en su seno de la Asamblea delos movimientos sociales y la contribución de intelectuales comprometidos.

Después de la elaboración de una conciencia colectiva, el segundo pasonecesario es la movilización de los actores plurales, populares, democráticos ymultipolares. Aquí nos encontramos con el aspecto subjetivo de la acción. Losactores humanos son seres completos y no actúan solamente en función de laracionalidad de las lógicas sociales. El compromiso es un acto socialcaracterizado por un elemento afectivo fuerte y aún central. De ahí, laimportancia de la cultura como conjunto de las representaciones de la realidady también de los innumerables canales de su difusión: el arte, la música, elteatro, la poesía, la literatura, la danza. La cultura es una meta, pero también unmedio de emancipación humana.

Lo mismo se puede decir papel potencial de las religiones, donde seencuentran referencias existenciales humanas fundamentales: la vida, lamuerte, en referencia con una fe que se puede compartir o no, pero que no sepuede ignorar. Eso fue un error grave de un cierto tipo de socialismo. Elpotencial religioso libertador es real. Además las religiones pueden aportar una

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espiritualidad y una ética colectiva y personal indispensables para lareconstrucción social.

El tercer elemento esta constituido por las estrategias para lograr los tresniveles de alternativas. El primero es la utopía, en el sentido de lo que no existehoy, pero que puede ser realidad mañana, es decir una utopía no ilusoria, sinonecesaria como decía el filósofo francés Paul Riqueur. ¿Que tipo de sociedadqueremos? ¿Cómo definir el postcapitalismo o el socialismo? La utopiatambién es una construcción colectiva y permanente, no una cosa que viene delcielo. Necesita para su cumplimiento una acción a largo plazo: cambiar unmodo de producción no se hace con una revolución política, aún si ella puedesignificar el inicio de un proceso. El capitalismo tomo cuatro siglos paraconstruir las bases materiales de su reproducción: la división del trabajo y laindustrialización. Los cambios culturales que son parte esencial del procesotienen un ritmo diferente de las transformaciones políticas y económicas.

Los otros dos niveles, el medio y el corto plazo, dependen de lascoyunturas, pero deben ser el objeto de estrategias concertadas y realizadas enconvergencia, entre actores sociales diversos. Son el lugar de las alianzas. Sinembargo, no es la simple suma de alternativas en los sectores económicos,sociales, culturales, ecológicos, políticos que permitirá a un sujeto histórico nuevode salir adelante. Se necesita una coherencia. Esta última también sera obracolectiva y no el resultado de un monopolio del saber y del conocimiento por unavanguardia depositaria de la verdad. Será un proceso constante y no un dogma.

Desde este punto de vista es importante subrayar el carácter indispensablede algunos actos colectivos estratégicos, aún parciales, pero que reagrupan unconjunto de actores sociales diversos en una iniciativa significante en relacióncon la dimensión utópica del proyecto global. Felizmente existen variosejemplos en este sentido, de los cuales recordamos dos.

La campaña contra el ALCA reunió muchos movimientos sociales,desde los sindicatos hasta los campesinos, pasando por las mujeres y losindígenas. ONGs de diversos índoles se juntaron a la iniciativa. En algunospaíses Iglesias tomaron posición contra el tratado. Se utilizó métodos muyvariados de acción, hasta referéndums populares que recogieron millones defirmas. Otro ejemplo es el plan alternativo popular de reconstrucción despuésdel tsunami en Sri Lanka. El plan oficial administrado por el Banco Mundialpreveía esencialmente el desarrollo del turismo internacional y no respondía alas necesidades de base de la población mayoritaria. Era la manera de acelerarla política neoliberal de alcance mundial. Por eso se constituyó una alianza

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amplia de movimientos y organizaciones sociales, incluidas institucionesbudistas y cristianas, para oponerse al plan gubernamental y proponersoluciones alternativas.

Frente a la necesitad de una perspectiva de acción al nivel mundial, dosiniciativas complementarias se tomaron la red “En Defensa e la Humanidad”,fundada en México bajo la impulsión de Pablo González Casanova y que tienecapítulos de varios países, especialmente latinoamericanos y el “Llamamiento deBamako” promovido por el Foro Mundial de Alternativas (iniciado en Lovaina-la-Nueva en 1996 en ocasión al 20° aniversario del Centro Tricontinental yfundado oficialmente en El Cairo el año siguiente), el Foro del Tercer Mundo(Dakar), Enda (una ONG africana) y el Foro Social de Mali. En Defensa de laHumanidad propuso la constitución de una promotora destinada a reunir yproponer acciones comunes y el Llamamiento de Bamako definió 10 áreas parapensar y proponer actores colectivos y estrategias, inspirándose en gran parte delManifiesto de Porto Alegre elaborado por un grupo de intelectuales durante elForo Social Mundial de 2005. Estas dos iniciativas complementan el trabajo dela Asamblea de Movimientos que dentro de cada Foro elabora un documento ypropone campañas (como la manifestación contra la guerra en Irak, que en 2003,reunió más de 15 millones de personas en 600 ciudades del mundo).

Finalmente dentro de la perspectiva general se necesitan victoriasparciales pero significantes. Mantener la acción, entretener la motivación,exige resultados. No se trata de cualquier logro, sino de los que movilizaronvarios actores sociales en una acción común, sobre objetivos relacionados auna visión de conjunto y de dimensión global. Hay también en este aspectovarios ejemplos importantes. De nuevo se puede citar la campañalatinoamericana contra al el Alca. En Europa, el no al tratado constitucionalelaborado en una orientación neoliberal y con una sumisión a los EstadosUnidos en el campo militar, es otro ejemplo. El rechazo con éxito del contratode primer empleo en Francia y el abandono de la base naval de los EstadosUnidos de Vieques en Puerto Rico, después de una larga movilización popularson otros casos de ejemplos. Y en el ámbito político, la elección del primerpresidente indígena en Bolivia tiene también un sentido muy amplio de victoriaen los planes culturales, sociales, y económicos.

En conclusión podemos decir que ya esta trazado el camino para pasarde la elaboración de una conciencia colectiva a la construcción de actorescolectivos y que todo eso anuncia el amanecer del sujeto histórico nuevo.

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UN MUNDO QUE SE HUNDE: LOSCOLAPSOS ECOSOCIALES,

ONTOLÓGICOS Y GLOBALES

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Resumo: Este artigo trata da temática de criseatual mundial, em seus aspectos globais,ecológicos, sociais e existenciais. Em suaprimeira parte, procura demonstrar como ahistória da humanidade é cercada de conflitose destruições sociais e ambientais. O artigo fazum aporte sobre a questão dos conflitos, cujasconseqüências em esfera global provocamdestruição. Na segunda parte do artigo éobservada a análise sobre os colapsosontológicos ecosociais. Nessa parte, o artigoprocurar elucidar os conceitos básicos sobre atemática e estabelecer sua evolução, até oentendimento da idéia de colapso mundial, oqual é apresentado como decorrência do atualmodelo de crescimento econômico e consumodos recursos naturais. Socialmente, trata dosefeitos atuais do modelo econômico mundial,sobre a concentração de renda, oempobrecimento da população mundial e osefeitos sobre a crise na qualidade de vida dapopulação mundial. Ao seu final, destacacomo o modelo capitalista, manipulador danatureza, ao sustentar uma visão patriarcal emilitarista do mundo, proporciona aocorrência do colapso global.

Palavras-chave: Colapsos Sociais; Ecologia;Globalização.

Abstract: This article deals with the thematicof world-wide current crisis, in its ecological,global and social aspects. In its first part, itaims to demonstrate how the historical part ofthe humanity is surrounded by conflicts,whose effects are social and environmentaldestructions. The article deals with thequestion of the conflicts, whose consequencescause destruction in global sphere. In thesecond part of the article, the analysis of eco-social ontological collapses is observed. Inthis part, the article aims to elucidate the basicconcepts of thematic and to establish itsevolution, until the understanding of theworld-wide collapse idea, which is presentedas result of the current model of economicgrowth and consumption of the naturalresources. Socially, it deals with the currenteffect of world-wide economic model, withthe income concentration, with theimpoverishment and the effect on the crisis inthe quality of life of the world-widepopulation. At its end, it highlights how thecapitalist model, manipulator by nature, whensupporting a patriarchal vision of the world,provides the occurrence of the global collapse.

Key-words: Social Collapses; Ecology;Globalization.

* Professor Titular da Escola de Relações Internacionais da Universidad Nacional da Costa Rica.

Eduardo Saxe-Fernández*

Sumário: Introducción; 1. Los colapsos ontológicos ecosociales; 2. El colapso social mundial;3. El colapso ecológico mundial; Conclusiones.

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INTRODUCCIÓN

Durante la mayor parte de su historia, la humanidad ha sobrevivido y hasucumbido en conflictos y destrucciones sociales y ambientales. Muchos grupos,pueblos, naciones, parajes, regiones y continentes se autodestruyeron, o fuerondestruidos, en guerras (muerte y esclavitud) o provocando (o sufriendo) cataclismosecológicos; o ambos. La humanidad sobrevivió, creció y se extendió por casi todos loscontinentes durante los últimos cuatro millones de años, pese a esas destrucciones. EnAmérica, la megafauna del Pleistoceno fue destruida por los cambios climáticos queconducían al Holoceno, así como por la acción de predadores humanos. Las grandescivilizaciones históricas antiguas, sin embargo, florecieron hace no mucho tiempo, porejemplo los sumerios vivieron apenas hace unos cinco o seis mil años.1 Con ellasempezó a crecer la capacidad humana para alterar la naturaleza y para matar ( animalesy, sobre todo, otros seres humanos). Luego, con la expansión europea (cristianismocapitalista) a todo el planeta desde hace apenas unos seiscientos años y sobre todo apartir del siglo XIX, las dimensiones de los procesos destructivos militares,económicos, sociales, políticos, y ambientales, no han cesado de magnificarse, comoregla básica de supervivencia de esa civilización (Cf. Leakey & Lewin, 1997).

Durante el siglo XX esa capacidad de muerte mundial llegó a significar,disponer de armas capaces de matar al menos 500 veces a cada persona viva enel plantea. En el siglo XXI el capitalismo del patriarcado tardío profundiza ladestructividad y autodestructividad humanas, centrando la “humanidad” en elhiperegoísmo posesivo agresivo. Instila esa violencia universalmentehacia/desde cada persona (sujeto de pro-terror y contra-terror), conforme lanaturaleza holocénica y la sociedad humana colapsan.

Hoy día, militarmente, EE.UU. y Rusia y estados sucesores de la URSSmantienen capacidades para destruir unas 300 veces a cada ser humano vivo enel planeta, solamente empleando armas termonucleares y sin contarconvencionales, bioquímicas y otras. Francia, Inglaterra, Israel, la RP China, laIndia, y Pakistán, también poseen capacidades militares termonucleares parainfligir graves daños al mundo y la humanidad.

Social y económicamente, a principios del siglo XXI cristiano, unos 600millones de personas controlan más del 75% de la riqueza mundial, mientrasque otros 5.400 millones de personas deben compartir el 25% restante; y 1.200

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1 Véase el clásico de S.N.Kramer (1962), sobre los grandes aportes sumerios a las civilizaciones, incluyendo la escritura.

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millones de las personas tratan de sobrevivir con algo más del 2% de la riquezamundial. Al mismo tiempo, los aparatos militares del mundo cuestan casi 1billón de euros (un millón de millones) al año; se gastan decenas de millonesde dólares en el consumo superfluo (incluyendo decenas de miles de millonesde euros para las mascotas domésticas, por ejemplo), o para realizarexploraciones espaciales. El derrumbe moral de esta contradicción señaladapor Marcuse, lanza a la humanidad por la senda de la violencia. Para que nonos hastiemos de la violencia (como preveía Kant), se la hace el centro delindividuo que a su vez es centro ideológico, y se la salpica con mucha pimientasexual, desarrollando patologías psicosociales que se expresan en éticasnihilistas y tanásicas.

Si los recursos no fueran despercidiados de esa manera, en menos de unlustro los centenares de millones de pobres podrían solucionar sus problemasde vivienda, salud, educación y de fuentes de trabajo. Esos recursos seríantambién suficientes para implementar nuevas fuentes y formas de organizacióndel espacio y la vida, energéticas y productivas, de las que ya tenemossuficiente conocimiento científico y concreción tecnológica. Con lareconstrucción social mundial, además, la muy vapuleada y devastadanaturaleza podría empezar a reconstituirse. Un resultado similar se puedeobtener, en solo un año, imponiendo un impuesto del uno por ciento (1%) a las200 corporaciones más grandes del mundo.

Ecológicamente, observamos que los procesos destructivos tienden aencadenarse, provocando sinergias devastadoras entre diferentes ecosistemas ocomponentes de los mismos. Las características de cruciales procesosecológicos mundiales se van extremando, agudizándose sus características(más frío y más calor, más lluvia y más sequía; “rupturas” repentinas de laatmósfera o de montañas y laderas, o la creciente extensión de zonasdesoxigenadas en el mar – donde sucumbe la vida). No sabemos cuándo esassinergias provocarán un “salto”, un colapso, un cataclismo, como por ejemplonuevas y mayores rupturas o desagregaciones de la atmósfera mundial.

El capitalismo global, triunfante y guerrero ha sido y es excluyente, nosolo de todo otro sistema (social político económico y militar), sinoespecialmente de la mayoría de lo/as seres humanos; y es excluyente de lanaturaleza, porque solo se relaciona con ella destruyéndola o sustituyéndola.En el siglo XXI, el capitalismo “equivale” a un cáncer en metástasis, que atacala humanidad y el planeta, pues su crecimiento destruye al ser que le da origenpero que no constituye su sentido.

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El continuado centramiento en el petróleo como fuente estratégicaenergética y la articulación del aparato militar de EE.UU. y las otras grandespotencias alrededor de este “régimen internacional”, son el principal foco deproblemas ambientales y político militares del planeta. Continuar basando elrégimen energético/económico en el consumo de petróleo, es la apuestairresponsable de quienes dirigen ahora EE.UU. (dueños de empresaspetroleras, e institucionalmente ubicados en el sector de seguridad y militar).Para garantizarse el control mundial de este recurso estratégico que empieza aescasear cada vez más, y como componente central de su aspiraciónhegemónica, EE.UU. primeramente se apoderó de Afganistán y másrecientemente de Irak. Así, según Oliver Roy, la rápida expansión de lostalibanes afganos y la toma de Kabul el 26 de setiembre de 1996, “...no puedencomprenderse sin el apoyo directo de los servicios paquistaníes, con el acuerdode Estados Unidos y Arabia Saudita, en el marco de un gran proyecto queapunta a la exportación de los hidrocarburos de Asia central por Afganistán yPakistán, en detrimento de Irán y Rusia.”(1999: 221).

Más bien, es de prever que EE.UU. tendrá que retirar tropas de Europay del Asia del Pacífico, para concentrarse en las zonas petrolíferas mesoorientales, lo cual ofrecerá más margen de maniobra a la UE y a las emergentesgrandes potencias asiáticas (China, Japón, India, Corea).

Respecto de Irak, tanto Clinton como Bush II. lo han atacado utilizandoargumentos falsos, de acuerdo con planificaciones realizadas por los militaresde EE.UU. Así por ejemplo, durante la administración Clinton, mientras el jefede inspectores de la ONU, Richard Butler, “adobaba” los informes sobreposesión de armas de destrucción masiva, siguiendo indicaciones delPentágono, un observador menos comprometido con la agresión de EE.UU. aIrak sostenía que “...un arma está siempre constituida por dos elementos, lacarga y el lanzador; una y otro faltan en Bagdad... Excepto seis misiles Scudque se sepa, Irak no tiene ya lanzadores aptos para bombardear a sus vecinos.No es, pues, capaz de dispersar sobre ellos cargas químicas obacteriológicas”(Gresh: 1999: 93). Más recientemente, en el mes de noviembrede 2003 venció el plazo que diera el Congreso de EE.UU. a sus militares, paraque presentaran pruebas sobre la posesión de armas de destrucción masiva porparte del Irak de Sadam Hussein, pero esas pruebas siguen sin aparecer.

La “política de los hechos cumplidos” que aplicaba la dirigencia nazialemana es ahora también utilizada por Washington, característicamente en unaguerrra civilsocial mundial que cada día más opone a EE.UU. al resto del

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mundo, y a quienes poseen riqueza y poder, en general, frente a quienes cadavez están más excluidos de una vida humana digna. Similarmente, la guerracivilsocial mundial (Guerra contra el Terrorismo) implica la instauración de laguerra como “institución nacional/internacional” para enfrentar y resolverproblemas y conflictos. Implica también la profundización y aceleración de ladestrucción de la naturaleza. Así, los “peligros” de destrucción masiva, socialy ecológica, adquieren ahora dimensión de “colapsos mundiales”.

Las guerras por los recursos, y el recurso a la guerra que caracterizaronel imperialismo clásico decimonónico y que fueran esgrimidos por el régimennazi alemán (con mayor propiedad jurídica que hoy EE.UU. -Cf. González,2005), reaparecen con el intento de hegemonía emprendido por el gobierno deWashington, que también se autoconcibe como imperial si no ya comoimperialista.

(Su dificultad estriba en implantar o mantener una hegemonía encondiciones de rechazo generalizado de la población (que se convierte, todaella, en “potenciales terroristas” para la doctrina oficial; población que estratada consecuentemente, por ejemplo por protestar contra la política dementiras para justificar la guerra), pero además, en un contexto mundial decolapsos ecosociales, empleando medios que aceleran y agudizan ladestrucción del planeta (capitalismo mafioso de guerra estructural). Y,particularmente, sus dificultades estratégicas aumentan si “debe hacerlomilitarmente, por haber sido atacado”, ya que la sobrerreacción y laprepotencia en que incurre EE.UU., en el fondo ocultan debilidad estratégica:a principios del siglo XXI no le es posible mantener la hegemoníaproductivamente como entre 1945-1967, pero tampoco es posible mantenerlafinancieramente como hasta el estallido de la burbuja electrónica a finales dela ´decada de 1990 y la paralela salida a mercado del euro retador. Lahegemonía ideológica se ha venido derrumbando, conforme el patrioterismo deguerra evolucionó hacia formas neo fascistas: rechazo y desprecio del derechoy los tratados internacionales y sobre todo humanitarios, y discursos y políticacínicos (por ejemplo, Bush II burlándose, en una escena filmada para latelevisión en su despacho, porque no han aparecido las “armas de destrucciónmasiva” de Sadam Hussein), que después de las experiencias históricas delsiglo XX en el fascismo euroasiático y en el posterior epígono periférico(articulado por EE.UU.), ya no engañan a toda la gente, incapaces de ocultarlas torturas, las masacres, el desconocimiento de las leyes nacionales einternacionales, el carácter ilegal e inhumano de tal régimen).

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El instrumento más a mano y aparentemente cada vez más necesario,para la oligarquía de EE.UU. y mundial es el militar. Apuestan por la guerra deagresión, eufemísticamente llamada “guerra preventiva”. EE.UU. solovislumbra una salida de crisis exitosa, mediante la guerra, esto es, mediante lageneración de anarquía sistémica para, en esas turbulentas aguas (“guerramundial contra el terrorismo”), aprovechar el diferencial de poder militar (quees el decisivo en tales coyunturas –obviamente creen en el Pentágono y la CasaBlanca), y así recuperar/reafirmar el control del planeta.

Se trata claramente de un hegemón en crisis, actuando como retador desí mismo, en tanto “heredero” del sistema internacional westfaliano que buscadestrozar. Como señala Carlos Eduardo Martins, durante

...(l)as confrontaciones que se establecieron en los períodos decaos sistémico, los Estados que vieron frustrados sus proyectos dedominación desarrollaron características fuertemente imperialesde intervención... En el nuevo período histórico que se avecina,los proyectos para mantener el capitalismo histórico buscaránarticular, desde el hegemón, un conjunto de fuerzas oligárquicasbajo formas cada vez más fascistas. Esto se observa nítidamenteen las reacciones del gobierno Bush al atentado del 11 desetiembre (2002: 36-37).

Martins aquí asume a EE.UU. como hegemón, pero hay que señalar quelo es solamente en dimensiones militares (y no políticas ni económicas niideológicas) y ello con crecientes dificultades, conforme la carreraarmamentística creada por su doctrina de guerra preventiva, hace que otrosestados y sujetos internacionales desarrollen medios para contrarrestar (a vecescon soluciones muy baratas) las costosas iniciativas militares y de espionaje deEE.UU.

El costo del aparato policíaco militar en regímenes fascistoides siempreha sido superior al que pueda proporcionar una economía moderna(similarmente con el socialismo burocrático estalinista), por lo que se tornanecesario apoderarse de riquezas o recursos adicionales, mediante la fuerza(“raids” de saqueo). Para lograr esto, es necesario que la economía estéhiperconcentrada en inmensos oligopolios mundiales, y en sistemas políticosociales articulados hobbesianamente, con un Leviatán de leviatanes (el estadode EE.UU. y los grupos, camarillas y mafias asociadas en todo el mundo). Se

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trata, hoy, de un capitalismo rapaz como nunca antes (porque se acaban losrecursos; porque la “gente” puede ser tratada “peor que animales; comoenemigos”), inestable y cada vez más apoyado en las fuerzas armadas y deseguridad, que discriminan entre “humanos” y “no humanos” (judíos,comunistas, homosexuales para Hitler o Pinochet; “terroristasfundamentalistas islámicos” o toda persona que no esté de acuerdo con BushII. hoy). Tales aventuras, históricamente tienden a terminar en tragedias ygenocidios de grandes proporciones. Esta vez, se trata de la destrucción delmundo y de la humanidad.

Consecuentemente, no solo avanza el planeta de manera irreversible enlos procesos de destrucción ambiental y social, sino que para los estrategas delgrupo en el poder en EE.UU., esa destrucción y la consecuente inseguridadontológica, necesariamente (“!por dicha y suerte!” – pensarían lo/as asíinteresado/as) van acompañadas por una creciente (“e imparable”) demandapor seguridad, lo cual resultará en un buen negocio para ello/as (comoabanderado/as del aparato militar industrial universitario), además degarantizarles la continuidad al frente del estado washingtoniano. Esta es ladimensión “placentera” del dilema de la seguridad. La dolorosa es que laamenaza no cesa de crecer y consecuentemente el pánico de los tiranos –por nomencionar el dolor de la vida humana y la naturaleza destruidas, que noincumbe a esos personajes.

Mientras continue la guerra mundial contra el terrorismo, el grupo Bushespera allegar recursos tales, que los coloquen como uno de los más ricos en elplaneta. A su vez, tal riqueza se acumula recibiendo contratos del Pentágono enIrak y aprovechándose de los elevados precios del petróleo. Se centra en lossistemas militares y de seguridad. Y, con estos dos instrumentos, petróleo ypoder militar, pretenden mantenerse en el poder indefinidamente o ser parte yvoz líderes, de él. Esto que quieren hacer o que están tratando de hacer, separecería a la guerra emprendida por Julio César contra las Galias, cuandomató millones de galos para apoderarse de sus riquezas y posesiones, y vendiócomo esclavos a otros millones. Con esas bases financieras pudo sostener susejércitos y, con ellos, se lanzó a buscar la dictadura en la Roma aúnrepublicana. Ahora a principios del siglo XXI, ese grupo en EE.UU. (y otros enotros lados –Berlusconi o Putin vienen a la mente) busca un primer momentode “principado”, dentro de esquemas oligárquicos (se mantiene poder delsenado-congreso, pero ya sería secundario) imperiales digitales.

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La tendencia generalizada de este capitalismo de guerra finalpermanente, apunta a la corporatización de las principales institucionessociales, destruyéndose o tergiversándose el “estado” en sentido hegeliano, entanto “algo” que lograba escapar a la dura tenaza corporativa – la jerarquía dela dominación/explotación económico social –. El “estado” era una instanciaen la que las personas no sufrían esa jerarquía autoritaria de la familia, laempresa o la corporación mercantil o artesanal, la iglesia y el ejército. En elsiglo XXI, estas corporaciones recapturan, “reforman”, adaptan y achican alEstado, para que las proteja y para que las establezca como los espacios de lapersona, eliminando el espacio de la libertad (individual, grupal o social) queel antiguo “estado” creaba. Renacen las oligarquías y las dictaduras (porejemplo en Rusia o Indonesia). La “democracia” se articula ahora mediante“referendos”, que se deciden en campañas publicitarias lavacerebros. Así, losgrupos ricos y poderosos que acaparan el poder, también son dueños de losmedios de información, y llevan a cabo la conducción política mediantesucesivos referendos/elecciones que “venden” figuras (Swarzenegger enCalifornia o Arias en Costa Rica) o propuestas. La “democracia por referendo”se hace posible por la situación de terror o pánico a la que se induce a lapoblación, sea por violencia social (criminalidad) o por violencia política(guerra civil, terrorismo oficial y opositor). Así se consolida el gobierno delaparato de seguridad y los medios de comunicación.

La apuesta (literalmente) que hace EE.UU. busca una hegemoníaimposible (por el impacto de las destrucciones social ecológicas), y el esfuerzoque dedica a ella precipita al mundo (incluyendo a EE.UU. mismo) en colapsosmilitares, económicos, sociales y ecológicos, en la locura del frenesí asesino (elasesinato es el centro de la estética actual), para pretender, ilusamente, que losricos sobrevivan un poco más que los demás (morituri), entre ruinas que creceny en una orgía de sangre inocente.

En síntesis, el mercado capitalista es un componente del ecosistemamundial que viene creciendo incesantemente, engullendo cada vez másrecursos del planeta y sujetando a sus leyes de hierro a la humanidad entera, lamitad de la cual sobrevive mala e indignamente. Ese mercado es el mercado delos ricos que participan y se benefician, los demás sirven en él para apenassobrevivir, o son marginados funcionales (megaparo estructural). Ese(“mítico”) “mercado” ha desbordado la capacidad y los límites del ecosistemamundial y de la biosfera, los “peligros” de destrucción social y ecológica(“ecosocial”) alcanzan dimensiones (por ejemplo, escasez de petróleo a corto

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plazo) de colapso, que inducen, entre los mismos dueños del capital, respuestasy soluciones de guerra, militarización y fascistización universales. Esteextremismo se tiñe de fundamentalismo cristiano, y representa el últimorecurso de EE.UU. y sus asociados, para intentar ser quienes sobrevivan en lascatástrofes sociales y ecológicas que azotarán el planeta en los próximoslustros, provocadas por ellos mismos en sus afanes egoístas posesivos.

En el resto del presente artículo, discuto la noción de “colapsosontológicos ecosociales”, en sus dos dimensiones, la social y la ecológica.Busco mostrar justamente el carácter terminal y de derrumbe que adquierencada vez más estos procesos a escala mundial.

El paralelo colapso mundial resultante de las tendencias que enfatizan ycentran la política y la sociedad en la guerra (el colapso militar), es el temaindirecto de este trabajo (los ataques terroristas son respuestas, inhumanas, alos ataques y políticas imperialistas, también inhumanos).

1. LOS COLAPSOS ONTOLÓGICOS ECOSOCIALES

1.1 La noción de “colapso”

Para alguien o alguno/as, una “amenaza” significa la existencia demuchas o crecientes probabilidades de que a cierto plazo (generalmente nomuy lejano) se padezca humillación, injuria, enfermedad, daño, destrucción,muerte. Generalmente se reconocen dos acepciones: una social personal,cuando alguien o alguno/as dan a entender con actos o palabras que se quierehacer algún mal a otro/a u otro/as; y la otra acepción, que es “impersonal” oreferida a lo no humano en general, incluyendo lo natural, tiene tres fases: (1)anunciar, (2) presagiar o (3) ser inminente algún daño. La inminencia es laúltima fase de la amenaza, y se confunde casi con el “peligro”. Pues la amenazapuede aumentar, con lo que las probabilidades de daño también crecen,mientras que los plazos para que eso suceda tienden a reducirse.Correspondientemente, un “peligro” aparece cuando la amenaza deja de serinminente y empieza a cumplirse y realizarse. La destrucción que trae esecreciente peligro puede ampliarse hasta afectar los componentes y relacionesbásicos de las personas o entidades perjudicadas, dañadas. En el siguientemomento, la destrucción continúa aumentando y alcanza una magnitud y/ointensidad tales que producen el “colapso” de esa o esas personas o

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entidadespersonas. Tanto el peligro como el colapso implican “destrucción”,pero en el caso del colapso se trata de encadenamientos de destruccioneslocales o singulares, que alcanzan dimensiones cada véz más generales. En loscolapsos, tiende además a reducirse el gradualismo de los procesos, yaumentan “caídas”, “desplomes”, “derrumbes”, “extinciones en masa”,“bombardeos, hambrunas o genocidios en cada vez más países”, etc., decarácter repentino, súbito. El colapso significa la última fase de vida de esosseres vivos, o de la existencia – en determinadas condiciones y formas –, deobjetos o cosas.

No resulta problemático emplear la noción de “colapso” paracomprender los procesos internacionales y mundiales. Por ejemplo, esfácilmente comprensible para referirse a una parte cada vez más significativade especies animales, incluyendo no solamente mamíferos sino muchosreptiles, aves, peces e insectos, que desaparecen para siempre cada día.Tampoco es difícil aplicar la noción a la sociedad humana: cada vez más hemossufrido, o hemos venido contemplando con horror, “en directo o en losimaginarios”, el asesinato de humanos como base de la vida cotidiana; hemosvisto sociedades devastadas o simplemente desaparecidas.

Aparte de nosotro/as mismo/as, podemos observar cómo otros seresvivos, y también inanimados (paisajes y comarcas), padecen amenazas opeligros, o colapsan. En particular, es posible señalar niveles de amenazas,peligros y colapsos, en sociedades y en ecosistemas o componentes de ellos.

1.2 La dimensión ontológica

La ontología es una rama de la filosofìa que estudia lo que es y lo queno es, en cuanto tales, y por consiguiente es considerada como la dimensiónfundante de lo que se piense sea “real” e “irreal”. “Ser” y “no ser” constituyenel predicado más general que se puede dar a (o que “puede tener”) cualquierser o cosa. Un equivalente del ámbito “vital” es “vida” y “muerte”. Laontología estudia las formas y características de lo que es y/o no es, de lo“vivo” y de lo “muerto”, “en general”. Ahora bien, si dentro de la ontologíadestacamos alguna entidad específica de la totalidad de lo que es, o biendestacamos a la totalidad misma, como “creadora”, “ordenadora”, “productorade sentido”, o “copresente”, entonces abandonamos la ontología y nosubicamos en otra rama de la filosofìa, la metafisica.

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Para este caso basta con la la dimensión ontológica, que puedeconsiderarse análoga a predicar, respecto de la humanidad (plural e individual):“su existencia y sentido, implicando la posibilidad de expresar al máximo lasmismas capacidades humanas” (Cf. Herrera Flores, 2001; Sánchez Rubio,1999; 2003).

En el caso de la dimensión social, el “punto de referencia” para realizarla comparación que permita determinar ese “ser humano” como “ser social”,por definición se da y no se da históricamente, aunque en la historia podamosencontrar ejemplos de aspectos y tendencias. Se ha ubicado en un desideratumpara nuestras vidas hoy y mañana, y para las vidas de quienes vivirán despuésque nosotros ya no lo hagamos. Los genocidios, las masacres, los asesinatos,las torturas, las enfermedades, el hambre, los secuestros, los encarcelamientos,las persecusiones, el odio y la venganza, la prepotencia y el exclusivismo, elamor a la violencia (cultura del asesinato), la extinción del grupo social, ladesaparición de costumbres, de lenguajes, de imaginarios, la represiónpsicosocial y particularmente sexual, y la agresión contra seres vivos einanimados, todo acompañado de un culto a la Violencia, alcanzan nivelesdelirantes a principios del siglo XXI, y son los “constituyentes” de ese “puntode referencia” de definición de “lo humano”, en los pensamientos y losdiscursos oficiales.

Para al menos un tercio de la humanidad, hoy su situación es de colapsototal, mientras un grupo cada vez más pequeño concentra riquezas inenarrablesy poderes dictatoriales, y el conjunto enloquece en la ansiedad insaciable deconciencias engolosinadas con el adrenalinazo orgásmico de la muerte del/a“otro/a”...

Respecto de la naturaleza del planeta (incluye humanos, pero se refieresobre todo a animales, plantas y minerales), la “dimensiòn ontológica”, entanto desideratum se refiere a las características que mostraba este planeta aprincipios del Holoceno (hace unos 13.000/10.000 años). Es decir, tomamos alHoloceno como punto de referencia o comparación en la historia de lanaturaleza de la Tierra (Cf. Leakey & Lewin, 1997). La comparación se hace,entre esa época y las situaciones y las tendencias históricas y actuales, decreciente impacto negativo (destrucción) que la humanidad inflinge a (contra)la naturaleza.

Durante la década de 1960 empieza a emerger una conciencia socialsobre la destrucción de la naturaleza, haciéndose eco de anteriores voces queadvertían sobre la destrucción de especies animales y vegetales, sobre los

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impactos nocivos de las contaminaciones atmosféricas, terrestres y acuáticaspor productos o desechos industriales o militares (químicos o radioactivos, porejemplo). En los siguientes diez años, esa preocupación daría a paso alsurgimiento de iniciativas y explicaciones donde se planteaba que la relaciónhumanidad naturaleza era contradictoria o dualista en las consecuencias de lacivilización “occidental-capitalista-cristiana”, pero que no necesariamentedebía de ser así. Hacia la década de 1980 la conciencia del peligro dedestrucción generalizada (ontológica) de la naturaleza ya lo planteaba comogravísimo y evidente.

Durante la década de 1990 se hicieron buenos propósitos que no secumplieron y continuó la destrucción ecológica (Fracaso de la conferencia deRío de Janeiro sobre el medio ambiente, no ratificación del Protocolo de Kioto,por ejemplo); de manera que a partir de 2001, cuando la administracion BushII emprende una nueva Guerra Mundial y el planeta se recentra alrededor de laviolencia institucionalizada (militar, policial) para garantizar a los ricos laexclusividad de la propiedad de todo la “propiedad-mundo”, entonces esospeligros ecológicos se transforman en colapsos.

Es decir, establecemos una especie de “definiciòn” o “medida” de lohumano (social, grupal, individual), y también de lo natural, que exprese esasdimensiones, no necesariamente en su plenitud ideal, pero sí en plenitud deposibilidad real de existencia, justicia e igualdad, así como en la expresión norepresiva de nuestra humanidad y de la naturaleza del planeta. Lo “social” entanto “humanidad”, y la “humanidad” en cuanto bondad-belleza-justicia (porejemplo), tienden a colapsar y desaparecer en un desenfreno imparable,ideológico y práxico, de sangre y violencia. Por su parte, la destrucción de lanaturaleza del Holoceno, es una especie de “daño colateral” que resulta de esatendencia social ontocida. Podemos establecer entonces “parámetros” o“paradigmas heurísticos” de humanidad y de naturaleza, e intentar “medir” ladistancia que se establezca entre la “situación” (no la “realidad”) de lahumanidad y la naturaleza en determinado momento, respecto de esosparámetros o paradigmas.

Notamos así un proceso histórico de expansión de la civilización,primero cristiana y luego capitalista (siempre patriarcal), euro-americana, aescala mundial. También notamos que desde del siglo XIX hasta hoy (2005),esa civilización entra en una etapa de economía industrial fundada en energíasaltamente contaminantes como el carbón, el petróleo y la fisión nuclear, y queimplica utilizar todos los recursos sociales y naturales del planeta, a una escala

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cada vez mayor. Se trata de un sistema socio económico y político ideológicoque tiene por bandera “el progreso”, “el crecimiento del capital” comocondición de supervivencia del capital, es decir, el crecimiento ilimitado de “laproducción y la productividad”. El capitalismo cristiano, sin embargo, esexcluyente en tanto la riqueza y el poder se concentran cada vez más en menospersonas, y en tanto se autodefinen como el único “sistema” (económico oreligioso) posible. Notamos que a partir del siglo XVIII, la situaciòn del restode las civilizaciones y regiones del planeta se ha venido deteriorando, mientrasque la civilizaciòn del capitalismo cristiano ha aumentado sin cesar suparticipación en la renta mundial.

La diversidad social se ha deteriorado y muchas naciones desaparecenen el anonimato empobrecido o bombardeado de los suburbios o los camposdesolados de África, América Latina y Asia, en países devastados comoAngola, Ruanda, Nicaragua, Haití, Afganistán, Irak (para solamente citar dosde cada continente). Los otros países de estas regiones muestran “islas dedesarrollo”, pero que se ven rodeadas por crecientes devastaciones sociales yecológicas y, por tanto, las sociedades y en particular los ricos, se esconden yparapetan cada vez más, tras fuertes barreras protectoras de carácter militar ypolicíaco. Mientras tanto, decenas de millones mueren de hambre yenfermedades curables, al menos un tercio de la humanidad vive encondiciones de “pobreza absoluta”, según la definía el mismo RobertMacNamara (uno de sus responsables al frente del FMI), como: “condicionesde vida tan limitadas por la desnutrición, el analfabetismo, la enfermedad, lamiseria ambiental, el alto ìndice de mortalidad infantil y la reducida esperanzade vida, que están muy por debajo de cualquier definición razonable dedecencia humana” (MacNamara, 1994).

Similarmente, la diversidad biológica se reduce sin tregua: día a día seagregan muchos nombres a la inmensa lista de especies vegetales yanimales que desaparecen para siempre. El clima está alterándose,calentándose por el llamado efecto invernadero que provocan nuestros “gases”,haciendo a la atmósfera más lluviosa y tormentosa conforme el calor derrite loshielos y el agua agregada se distribuye en los océanos y la atmósfera.Empeoran todas las condiciones ambientales para que continuemos viviendo;estamos en medio de una gran extinción de vida de la que somos responsablesy culpables.

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1.3 Evolución del concepto

He desarrollado el concepto de “colapsos ontológicos ecosociales”(E.Saxe Fernández, 1996, 1999, 2003), a partir de la noción de “peligros”ontológicos ecosociales, que conviene precisar.

La noción de “peligro ontológico” fue planteada originalmente, aunquede forma parcial, por el filósofo alemán Günther Anders en su ensayo “Tesispara la Era Atómica” (Anders, 1975). Llamaba la atención sobre la existenciade una amenaza real, a cargo de un arma con un potencial destructorinimaginable, capaz ciertamente de provocar la muerte de la inmensa mayoríade la población humana, y de causar daños ambientales (elevados niveles deradiación a escala mundial durante muchos años), acaso fatales para el resto delos organismos vertebrados, de muchos invertebrados y de la mayoría de lasplantas. El peligro termonuclear es ontológico, en el sentido de significar“prácticamente” la destrucción de la especie humana y gran parte de lanaturaleza, en una Hiroshima Universal. Según Anders, ese “peligrotermonuclear” (la capacidad de EE.UU. y la URSS a partir de la década de1970, de destruirse recíprocamente cientos de veces con bombastermonucleares), se nos torna invisible, aunque siga siendo constitutivo, puesresulta “supraliminal”. Se trata de algo tan grande que no lo podemos “ver”, yes el opuesto correspondiente de la dimension “subliminal”, la cual se refiere aestímulos visuales (por ejemplo), tan pequeños que escapan a la conciencia dequien “ve” (anuncios minúsculos en pantallas de cine; contenidos ideológicos–como una bandera- en el trasfondo esfuminado de una escena fílmica otelevisiva). El peligro termonuclear es tan gigantesco, que escapa a lapercepción, el razonamiento y el juicio, por las dificultades que tenemos paraprocesarlo en nuestro cerebro:

No solamente la imaginación ha dejado de estar al lado de laproducción, sino que también el sentimiento ha dejado de estar ala par de la responsabilidad. Todavía podría ser posible imaginaro arrepentirse por el asesinato de un semejante, o aun decompartir la responsabilidad por ello. Pero figurarse laeliminación de cien mil semejantes definitivamente sobrepasanuestro poder imaginativo. Entre más grande sea el efecto posiblede nuestras acciones, tanto menos capaces somos derepresentárnoslo, de arrepentirnos o de sentir responsabilidad

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por él. Entre más ancho es el abismo, tanto más débil es elmecanismo de frenado. Eliminar cien mil personas apretando unbotón es algo incomparablemente más fácil que destazar a unindividuo. Lo “subliminal”, el estímulo demasiado pequeño comopara generar una reacción, ya ha sido reconocido en lapsicología. Más significativo, sin embargo, aunque no haya sidovisto ni mucho menos analizado, es lo “supraliminal”, el estímulodemasiado grande como para generar una reacción, o paraactivar algún mecanismo de frenaje (1975: 94).

Hacia mediados de la década de 1990, junto con C. Brugger, propusimosentender por “peligro”:

...algo que efectivamente tiene la capacidad y la tendencia aamenazar la existencia de determinado ente... para poner enjaque mate la continuidad de nuestra especie y la mismaorganización de la naturaleza en su forma cuaternaria (E.Saxe-Fernández & C. Brugger, 1996: 52).

Este peligro termonuclear de Anders, entonces, lo he definido en primerlugar como peligro “ontológico”, por su significación (alcance): se refiere a ladestrucción de la sociedad humana y de la naturaleza (del Holoceno; desdecirca 8.000 adne). Además, se trata de un peligro ontológico “metafísico”,pero en un sentido particular, en tanto algo que ha sido inminente desde 1945y sobre todo desde la década de 1970 (y no ha cesado con el fin de la GuerraFría), pero que no ha tenido lugar. El peligro termonuclear es una amenazatotal permanente para los humanos desde Hiroshima y Nagasaki, y sobre todoa partir del empleo del espacio circundante como nuevo “océano” mundial enel que operan los sistemas militares. Pero es invisible porque está más allá delazul del cielo y oculto bajo las olas del mar o en silos y túneles... Es invisibleporque no hemos tenido una guerra total termonuclear (y con todas las demásarmas) entre EE. UU. y la URSS, lo cual facilitaba el ocultamiento y lainvisibilización del peligro, como señala Anders, convirtiéndolo entonces enalgo “meta- físico”.

En segundo lugar, a partir de la noción de “peligro ontológicotermonuclear” es posible concebir un “peligro ontológico militar” en general,que incluya tanto las armas termonucleares como las convencionales, las

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bioquímicas y otras. En este caso, el carácter “metafísico” o invisibilización sediluye (relativamente). Sin embargo, permanece oculto a la inmensa mayoríade la población e incluso a los políticos, el carácter central que adquiere elaparato militar y de seguridad durante todo el siglo XX y hoy con mayorintensidad y tamaño.

En tercer lugar, a partir de las nociones de “peligro ontológicotermonuclear” y de “peligro ontológico militar”, es posible construir lasnociones de “peligro ontológico social” y de “peligro ontológico ecológico”.Con ellas hacemos referencia a procesos destructivos terminales, en losámbitos psicosociales y naturales, y que durante las últimas dos décadas delsiglo XX alcanzan una dimensión de “inminencia”, señalada por esacalificación como “peligros”. Al final del siglo XX y especialmente a partir del11 de setiembre de 2001, esos “peligros” tienden a convertirse en colapsos.

Es que la noción de “peligro” o “inminencia” de catástrófe parecíaadecuada aún en 1992, y muchos en esa década de los años 1990 seentusiasmaban creyendo que el neoliberalismo institucionalista globalista, y laausencia de “guerra mundial” (fin de la Guerra Fría), servirían para enfrentar ysuperar esos peligros ontológicos. Ahora se podrían dedicar los esfuerzos adetener la destrucción social y natural, la guerra finalmente ya no haría falta ypoco a poco desaparecería, en un sueño post histórico de eternidad globalistacomercial.

Sin embargo, el mismo globalismo neoliberal ha sido violento,fraudulento, mafioso, rapaz. Las admiinistraciones de William Clintonnavegaron la cresta de una ola especulativa mafiosa que institucionalizó elsaqueo (por ejemplo de América Latina desde la década de 1980, de la antiguaURSS y los “tigres” asiáticos durante la de 1990). Luego, el retorno al poderen EE. UU. del grupo Bush mediante el fraude electoral, a partir de setiembrede 2001 ha quedado signado por la nueva Guerra Mundial “contra elterrorismo”. El grupo en el poder ejecutivo está lidereado por Bush I, e incluyemiembros de varias administraciones republicanas, desde Nixon (R.Perle y H.Kissinger, por ejemplo). El vicepresidente, la consejera de seguridad nacional,los ministros de guerra y de exteriores, junto con el presidente y otros altosfuncionarios, bajo la batuta (“oculta”) de Bush I, han venido preparando unplan de gobierno desde al menos finales de la década de los noventa, quefacilite la centralidad del aparato militar y de seguridad en la política, “parasiempre jamás”, articulando la vida del planeta en enfrentar crecientes riesgosa la seguridad, y guerras permanentes contra los levantamientos de los pobres,

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los excluídos, los “infieles”, por el control de los (cada vez más escasos)recursos del planeta, y bajo la ideología totalitaria de la “guerra mundial contrael terrorismo”. Los atentados del 11 de setiembre de 2001 “activaron” esosplanes, que se han puesto en marcha con rapidez – una de las condiciones desu éxito es seguir la política de los “faits accomplis” (hechos cumplidos), esdecir, actuar y luego negociar lo que convenga. Esta práctica se habíadesterrado en las relaciones entre las grandes potencias y las superpotencias, apartir del fin de los regímenes nazi fascistas en Europa y Japón. La llamadadoctrina de guerra preventiva y la toma de los principales recursos petrolerosdel planeta por este grupo (para su control político estratégico por EE.UU.;para su control económico estratégico por el grupo en el poder), caracterizan lapolítica de esta potencia. Adicionalmente, pero de manera crucial, se trata deun grupo compuesto por miembros de las agencias de “inteligencia” (nuevonombre que recibe el espionaje), policíacas, y militares. Están en el poder, porlo demás, ya desde que Bush I asumiera la conducción de la fase final de laguerra contra la URSS, igualmente dirigida por los aparatos de seguridad yespionaje (Andropov) – característica que se continua en la figura de Putin.

En Costa Rica, por ejemplo, también, los dos vicepresidentes de laadministración Pacheco provienen del área policíaca, y hay tendencias hacia laconformación de un “bloque” mediático-policial-cristiano, para eventualmentesustituir a los partidos políticos, siguiendo los modelos de pseudo democracia“conservadora activa” representados por Berlusconi en Italia, Collor de Melloy Fujimori (“Fujicolor”) en Brasil y Perú, y por Reagan, Bush I, Bush II ySzwarzenegger en EE.UU.

La dirección político militar de EE.UU., en campaña por adueñarse delplaneta lo más rápido y extensamente posible (pero en situación de colapsosecosociales; con unas fuerzas armadas capaces de destruir enemigos perocarentes de organizaciones o entidades capaces de reconstruir los países quedevasta; padeciendo de “percepciones incoherentes” y de “irresponsabilidadorganizada”), actúa como principal depredador del sistema mundial. Puesopera a nivel local y nacional tanto como internacional, mediante la amenaza,la intimidación, la coerción, la coopción, la guerra psicológica y clandestina, elembargo y el boicot, el asesinato y la agresión militar directa. En esto, lapolítica del grupo Bush II está basada en la de Sharon en Israel: respecto a lapercepción y definición de los “enemigos”, y respecto a los “métodos” paraatacarles. Desde la experiencia y la perspectiva que tenemos en AméricaLatina, África, Asia, y Europa, sobre gobiernos estructurados alrededor de la

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“lucha contra el terrorismo”, de las “doctrinas de seguridad nacional” y de“enemigos religiosos de la nación”, notamos grandes similitudes con ladinámica política en EE.UU. Resulta fatal para la humanidad y el planeta, quela dirigencia policíaco militar de EE.UU. muestre y tienda a desarrollar rasgossimilares a los que encontráramos en el pasado reciente en nuestra región, enlos gobiernos de Pinochet, de Videla, o de los generales brasileños oguatemaltecos.

La situación actual es de “degradación ontológica”, por el tipo de guerraque tiene lugar. Se trata de una “guerra mundial interna”, civil y social(“civilsocial”), que adquiere prioridad sobre cualquier otra actividad, y queresulta un fardo adicional demasiado pesado para la persona humana, lasociedad y la economía. Los gastos de un billón de euros (un millón demillones) en actividades militares a nivel mundial son inmorales, porqueextienden el “desprecio” por un prójimo definido como “excluido”, “nohumano”; y porque afianzan la creencia – la definición de situación – en lanecesidad del asesinato. Esos gastos son además improcedentes, es decir, nosolamente resultan “improductivos” sino sobre todo “agravantes” o “dañinos”para enfrentar los actuales colapsos ontológicos ecosociales (y por supuestoincluyendo la misma amenaza termonuclear-militar). Sin embargo, la salida decrisis propuesta por el grupo Bush se basa en fortalecer y establecer a la muertecomo eje central de la vida.

Las predicciones hobbesianas de analistas como Robert Heilbroneradquieren entonces nuevo significado. En 1991 se preguntaba si habíaesperanza para el “hombre” (Sic), y respondía:

La perspectiva para el hombre es dolorosa, desesperada, y laesperanza que se pueda tener por su futuro parece ciertamentemuy escasa”(1991:20).

Agregaba que:

Cuando los hombres pueden aceptar, e incluso deleitarse, con ladestrucción de sus contemporáneos vivos, cuando pueden mirarcon indiferencia o irritación el destino de quienes viven entugurios, se pudren en prisión, o mueren de hambre en tierras quesolamente tienen sentido en tanto lugares de vacaciones, ¿por quéhabría que esperar que realizaran acciones dolorosas, requeridas

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para prevenir la destrucción de generaciones futuras cuyosrostros nunca vivirán ellos para contemplar? Pero aún más, ¿Nomaldecirán a esas generaciones futuras, cuyos derechos a la vidasolamente pueden honrarse sacrificando el disfrute presente; y, sise llegara a tener que escoger, no las condenarán a la noexistencia, al escoger el presente antes que el futuro? (1991:169).

Advierte sobre el surgimiento de “gobiernos de hierro” que practicarán“coerción gubernamental”.

Hoy se hace evidente que la “salida de la crisis” que lleva adelante elgobierno de EE.UU. agrava dramáticamente la crisis mundial, pues ahora lasituación es otra vez una guerra mundial, incluyendo paralelamente elrechazo al derecho y los tratados internacionales y humanitarios, desdén ymenosprecio por las medidas de protección o promoción humana, social oambiental, en organizaciones o institucionalizaciones multilaterales y ennegociaciones equitativas, tanto como el rechazo a que sus ciudadanos, enparticular los miembros de sus fuerzas armadas, puedan verse sometidos aprocesos jurídicos en la Corte Penal Internacional. Al mismo tiempo, se tratade una política de engaño y mentiras (Irak no tenía “armas de destrucciónmasiva”), y de una estrategia militar de terrorismo de estado (eliminación delibertades civiles en EE.UU.; tratamiento criminal a enemigos y prisioneros).

De manera que, a partir del 11 de setiembre de 2001, oficialmente, lasoriginales “amenazas” ontológicos pasan, de estar en una situación de peligro,a una nueva situación de tendencias crecientes a los colapsos.

La precipitación de colapsos tiende a darse cuando un subsistema (porejemplo un país como Afganistán) se derrumba, y en poco tiempo estoscolapsos particulares se encadenan y provocan colapsos regionales omundiales, como señalaremos en la siguiente sección.

2. EL COLAPSO SOCIAL MUNDIAL

La paradoja del desarrollo es que el tremendo éxito de lacivilización industrial moderna será la causa de su colapso yruina (Lewis: 1998: 45-46; énfasis ESF).

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La economía política del capitalismo mundial implica que “el mercado”tiende a crecer indefinidamente, como característica derivada de lacompetencia y como estrategia para aumentar las ganancias. El subsistemaeconómico es un componente del ecosistema mundial, que crece hasta llegar asustituir y absorber todo el ecosistema del planeta. Ya la economía ha sustituidoa la ecología en cada vez más ámbitos de la vida social humana (hasta laeducación es articulada ahora desde perspectivas mercantilistas). Actualmente,los grupos y sectores dominantes en los mercados oligopólicos internacionales,se disponen a adueñarse de la naturaleza “virgen”, es decir, prácticamente detodas las plantas y los animales, y de paso acabar con las últimas sociedadesarticuladas en torno a la agricultura. Similarmente, con esos y otrosconocimientos se disponen a ofrecer, a quien pueda pagar, terapias ymedicamentos que pronto llegarían a extender la duración de la vida humana –con buena salud física y mental – hasta 150 o 200 años.

El determinismo tecnológico es un supuesto ideológico que ha tendido areemplazar a la noción de “progreso”, otrora dominante en el sistema desupuestos sociales del capitalismo cristiano. Representa el “mecanismo”mental y social, justificador y significativo de que la “actual” o pasadadistribución y organización del poder y la riqueza, podrán perpetuarse adaeternum, gracias a los “milagros tecnológicos”. Pues tanto los etnocidios ymasacres, y los ecocidios necesarios para “evitar que los pobres se apoderen detodo”, así como el necesario “aislamiento” y “privacidad” de lo/as dueño/as delplaneta, solamente pueden garantizarse por medio de la fuerza más brutalposible – en lo que conocemos de la historia de la vida. Entonces, losconocimientos y tecnologías militares o “de seguridad”, tienden a convertirseen el centro de las actividades de investigación científica y desarrollotecnológico. Representan una creciente carga para la sociedad y el fisco, sobretodo de EE.UU., lo cual limita a este Leviatán.

La historia de la vida en el planeta y la de la humanidad durante el sigloXX ha venido avanzando y sobrepasando umbrales de destrucción, inéditosdesde hace unos 65 millones de años; pues “los dueños del mundo” creen quedestruyendo la vida planetaria lograrán alcanzar su felicidad y libertadsupremas. Los mayores riesgos los corren esos “dueños” y la mismahumanidad. Pero, ciertamente, muchísimas personas consideran que susituación personal y social es “especial” o excepcional, por riqueza o poder, opor ubicación en el planeta – supuestamente lejos de crisis económicas,sociales, ecológicas, políticas o militares. Esta creencia es muy errada, pues las

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magnitudes de la intervención contra la naturaleza son de alcance planetario, yla exclusión social alcanza límites intolerables y características degradantes ydegradadas, explosivas social, política y éticamente, tanto en el edificio delPentágono como en los palacios de Saddam Hussein.

Pero sobre todo es muy errado creerse inmune a las dimensiones socialesdel colapso ontológico mundial (crisis, desastres y catástrofes), porque talescreencias tienen como base una ética nihilista que se nutre del cinismo, elengaño y la indiferencia. La “salvación” o el “bienestar” individual o grupal acorto plazo, garantizadas por riqueza y poder, facilitan “no ver” o “no darleimportancia” o “significado” al sufrimiento de al menos un tercio de la“humanidad” que no vive “humanamente” y que más bien malmuere en vida.El cinismo nihilista entonces facilita considerar esa inhumanidad “compatible”con la abundancia violenta, prepotente, glotona y tacaña. La actual “ética” dequienes tienen poder y riqueza, que por tanto aparece en las institucionessociales y culturales dominantes, y que se sustenta tanto en el neoliberalismocomo en el ethos de la guerra, considera culpable y por tanto inmoral o noético, al/a pobre y excluido/a. Su supuesta “falta de iniciativa” es causa de susmales. Para la ética oficial, nadie más que esas mismas personas sonresponsables de su “condición”. Pero, como se trata de la mayoría de lapoblación del mundo, entonces es necesario invertir el argumento, señalandoque la minoría posesiva y violenta es la responsable de los problemas detodo/as.

2.1 Socialmente

Desde el fin de la Segunda Guerra Mundial (1939-1945), disponemos deinformación más exacta o completa, sobre cómo la mayoría de la humanidadviene sufriendo un proceso de creciente empobrecimiento económico,marginación social y exclusión política e ideológica. Al mismo tiempo, unaminoría ha venido aumentando sostenidamente su participación en el controldel poder y la riqueza del planeta. A partir del neoliberalismo globalistainstitucionalista del último tercio del siglo XX, se magnifican sin embargo lastendencias sociales parasitarias y corruptas, incluyendo la mafización yoligarquización de la política y la economía, por la concentración de ladirección económica en la especulación financiera y la sobreexplotación oganancia extraordinaria que se obtenga en coyunturas internacionales creadasad hoc, incluyendo el saqueo, desmantelamiento y destrucción de los bienes

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públicos (transporte, energía, comunicación, finanzas), mediante laprivatización, en numerosos países de América Latina, Africa y Asia, perotambién en el mismo corazón metropolitano, donde los escándalos financieroshan arrastrado por los suelos las reputaciones de las firmas bancarias yfinancieras más importantes del mundo, y donde también avanzan eldesempleo, la pobreza y la violencia.

Las nuevas oligarquías (son las “clases globalistas” de Petras yVeltmeyer, 2002) que toman el poder en el mundo a partir de la década de1970, se sustentan en dos pilares, el control de los medios de comunicación yel uso cada vez más intenso y extenso de los medios de control y represiónjurídicos, policíacos y militares. El caso de Berlusconi en Italia esparadigmático en este sentido, ya que controla toda la televisión privada y,desde el gobierno, también la televisión pública. Adicionalmente, los grupos enel poder, como en el caso de EE.UU., también son grupos relativamenteinterconectados de empresas, que prosperan rápidamente gracias a lasconcesiones y contratos adjudicados por funcionarios que no se sonrojan porlos conflictos de intereses, y aceptados por rivales y público mediantecampañas y engaños propagandísticos, o violencia jurídica, policíaca y militar.Las nuevas oligarquías metropolitanas ejercen su poder económico al frente deconglomerados transnacionales financieros, industriales y comerciales. Unpuñado de mega corporaciones y un puñado de áreas metropolitanas controlany utilizan la inmensa mayoría de la riqueza del mundo. Según Escobar (1995:212), las naciones industrializadas (o centros metropolitanos) del mundorepresentan el 26 por ciento de la población, pero producen el 78 por ciento delPNB mundial, y significan el 81 por ciento del consumo de energía, el 70 porciento de los fertilizantes químicos, y el 87 por ciento de los armamentosmundiales. De acuerdo con los informes del Programa de las Naciones Unidaspara el Desarrollo (PNUD) para 1996 y 1997:

• Entre 1970 y 1985 el número de pobres creció un 17 por ciento, pesea que la producción auménto un 40 por ciento.

• En 1996, 800 millones de personas pasaban hambre y 500 millonessufrían de malnutrición crónica.

• Cada año morían alrededor de 17 millones de personas, a causa deenfermedades curables como la diarrea, el paludismo o latuberculosis.

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• Entre 1987 y 1993 (8 años), el número de personas con ingresosdiarios inferiores a un dólar de EE.UU., aumentó en 100 millones.

• En más de cien países el ingreso por habitante en 1996 era inferior alde 15 años antes. Es decir, en 1996 casi 1.600 millones de personasvivían peor que al inicio de la década de 1980.

• Ciento treinta millones de niño/as no asistían a la escuela primaria, y275 millones a la secundaria. (En Costa Rica, la matrícula desecundaria excluye a más del 30 por ciento de la población en edad).

• En los países más desarrollados la población casi no crece, pero elnúmero de desempleados llegó a casi 40 millones antes de la crisis de2001, más de tres veces el número de desempleados de principios dela década de 1970. Adicionalmente, 100 millones de personas enestos países ricos, tienen ingresos que son la mitad o menos de losingresos individuales medios del país corrrespondiente. En EE.UU.casi 50 millones de personas no tienen seguridad social, y enLondres, una de las grandes megalópolis del capital, 400.000personas no tienen hogar.

• En los países de la antigua URSS, el número de pobres pasó, del 4por ciento en 1988, al 32 por ciento en 1994.

Por su parte, los economistas españoles Berzosa, Bustello y De la Iglesia(2001), señalan que:

La diferencia entre el ingreso de los países ricos y el de los paísesmás pobres era de alrededor 3 a 1 en 1820, de 35 a 1 en 1950, de44 a 1 en 1973, y de 72 a 1 en 1992... la distancia entre laspersonas ricas y pobres se eleva a 140 a 1. El 20 por ciento másrico supone el 81.2 por ciento del comercio mundial, el 94.6 porciento de los préstamos, el 80.6 por ciento del ahorro interno, y el80.5 por ciento de la inversión interna. Mientras que el 20 porciento más pobre sólo participa con el 1.0 por ciento en elcomercio mundial, con el 0.2 por ciento de los préstamoscomerciales, con el 1.0 por ciento en el ahorro interno, y el 1.3por ciento de la inversión interna (pp.27-28). Según las últimasestimaciones del Banco Mundial, nuestro mundo se caracterizapor una gran pobreza en medio de la abundancia. De un total de6.000 millones de habitantes, 2.800 – casi la mitad – viven con

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menos de dos dólares diarios, y 1.200 – una quinta parte – conmenos de un dólar al día (p.35).

Adicionalmente, las Corporaciones Trans Nacionales (CTNs), lainmensa mayoría de las cuales tiene su base nacional territorial en EE.UU.,la UE y Japón, “llevan a cabo el 70 por ciento del comercio internacional y el80 por ciento de la inversión extranjera”. Además, las CTNs controlan el 80 porciento de la tierra sembrada con productos de exportación, y 20 CTNscontrolan el 90 por ciento de las ventas de pesticidas (Chatterjee & Finger,1994: 112, 106).

El poderío político de estas oligarquías incluye el control de losgobiernos de las grandes potencias, las instituciones financieras internacionales(IFIs) y hasta la misma ONU.

Ya no es posible dejar sin considerar el carácter cada vez más rapaz delas nuevas oligarquías que controlan las gigantescas corporacionestransnacionales y los gobiernos centrales. No solamente es el caso en AméricaLatina, como hemos señalado (1999), sino también en EE.UU. Un ejemplo deesto ha salido a la luz pública, aunque muchísimos otros, y la tendencia, siguentan campantes:

Enron, cuya quiebra en 2001 fue la mayor de la historia mundial,ha sido un ejemplo de cómo los sistemas económico y político deEstados Unidos favorecen tendenciosamente a los ricos endetrimento de los pobres. Cuando Enron se desplomó, se estimaque tanto sus trabajadores como el accionista medio perdieronentre 25.000 y 50.000 millones de dólares en la cotización de susfondos de pensiones y de sus acciones porque ni la compañía nisus auditores, la firma Arthur Andersen, dijeron la verdad acercade la peligrosa situación de la compañía. Los ejecutivos de laempresa, sin embargo, cobraron sus beneficios por adelantado yhuyeron con cientos de millones de dólares. Enron robó otros50.000 millones de dólares manipulando el mercado de energíaeléctrica de California: provocó una escasez artificial deelectricidad e hizo subir los precios. También estafó a loscontribuyentes de todo el país: como la desregulación de la eraClinton hizo posible la transferencia de fondos a paraísos fiscalesen el extranjero, Enron no pagó ningún impuesto federal sobre la

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renta en cuatro de los cinco años previos a su bancarrota...(Hertsgaard, 2003: 158-159).

Más abajo, este autor agrega que:

...la desigualdad tiene todos los visos de hacerse màs profunda enlos años venideros, porque la administración Bush y el Congresocontinúan favoreciendo a los más ricos en sus políticas fiscal y degasto, y porque la economía de Estados Unidos ya no generasuficientes empleos bien pagados como para sostener a una clasemedia estable.

Los colapsos sociales tienden a generalizarse sobre todo en AméricaLatina, África y Asia. Entre la guerra de EE.UU. contra Vietnam (a partir de1962) y su guerra contra Irak (2004), muchos países y regiones han acabadodevastados por hambrunas, sequías o inundaciones, y guerras. SegúnO´Connor (1994:17), a mediados de la década de 1990, estos subcontinentes yapodían considerarse “una zona de desastre económico, social, y ecológico”. Enellos, como indicador, cada día mueren más de 35.000 (treinta y cinco mil)niños, víctimas de enfermedades surgidas de no comer y por vivirconstantemente hambrientos (FAO, 2001).

Y el desempleo, la pobreza y la exclusión también crecen en los centrosmetropolitanos. Frank (2000), destaca que, durante el boom especulativo de ladécada de 1990, el 89 por ciento del capital transado en esos medios estaba enmanos del 10 por ciento de los hogares más ricos. Bill Gates, por ejemplo,posee más riqueza que el 40 por ciento más pobre de la población total deEE.UU. (más de 100 millones de personas). El número de personas sin segurosocial, o pobres, en EE.UU., ha aumentado desde que tomó posesión laadministración Bush II, según informaciones dadas a conocer por la oficina decensos del gobierno a finales de setiembre de 2003. Y, entre 2003 y 2004, otromillón y medio de personas pasó a situación de pobreza.

El capitalismo ya no puede pretender ser bueno “para todo/as”,abiertamente reconoce que hay “perdedores”, aunque no es capaz decomprender el significado político, social, ético y ontológico de que esosmorituri sean la inmensa mayoría de la humanidad. Pues a ese“reconocimiento” de fracaso universal no le pueden ofrecer más explicaciónque “la falta de iniciativa individual”. Las consecuencias destructivas y

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genocidas del capitalismo, son consideradas como una “limitación inevitable”de la sociedad humana frente a algo más allá de nuestro “control” (en el sigloXIX construían un “ídolo” de la “Naturaleza hostil o indomable”; a principiosdel siglo XXI se trata de los inexplicables designios del ídolo del “Mercado”).

Los tejidos y entretejidos sociales (para emplear la conocida metáfora)de todas la sociedades, durante la Guerra Fría crecieron y se tensarondesmesuradamente y empezaron a mostrar fracturas, conforme crecían lospeligros ontológicos militares y ecosociales, característicos de aquella “carrerasin fin de militarización”. Durante la actual fase de “colapso”, es cada día másevidente como las fibras sociales sobrepasan la tensión y se deshilachan, sesueltan, se separan, se rasgan, se rompen, se deshacen, se pudren. Las formasde operación de quienes tienen poder y riqueza, se fundamentan en la rapiña,el robo, el engaño, y se articulan en estructuras mafiosas. Se trata de nuevasoligarquía mafiosas, muy violentas y ávidas de poder, obtusas, dogmáticas eintolerantes, sin capacidad de liderazgo social o político. Quienes tienen podery riqueza se parapetan detrás de tecnologías y cegueras, cada vez másprepotentes y también cada vez más impotentes para “detener” – o al menos“no ver” – los derrumbes sociales, el hundimiento de los grupos, sectores,clases, contendientes, de ambos o de todos los bandos: “ganadore/as yperdedore/as” pierden. Se trata de una situación en la que nadie gana, aunqueesos expertos en “hacer dinero”, no lo lleguen a entender.

2.2 Económicamente

La expansión mundial del capitalismo, y sus repetidos reacomodosimperialistas desde que se industrializaran y desarrollaran los mercadosmetropolitanos, no solamente vienen causando devastaciones y crecientescolapsos ecológicos. También han tenido como consecuencia un proceso deconcentración de la riqueza, que prácticamente empieza con las sucesivasexpansiones europeas (Griega, Romana, Cristiana) y de EE.UU., y que hoyalcanza dimensiones extremas.

En estos primeros años del siglo XXI, al ampliar el número de“excluidos” del mercado capitalista globalizado, por extraordinariosincrementos en la composición orgánica del capital, la economía entra en unaserie de recesiones que dan paso a crisis deflacionarias en las que resultaimposible vender la grandísima y variadísima producción de mercaderías,porque sus precios resultan inaccesibles para la inmensa mayoría de la

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población, gran parte de la cual está desempleada y sobrevive en las economíasinformales, marginales, o de beneficencia.

La teoría marxista de la crisis del régimen del capital sostiene que:

...la economía capitalista no tiene como finalidad la satisfacciónde necesidades, sino la obtención de ganancias. Y la ganancia estanto más alta cuanto más alta es la tasa de plusvalor y cuantomás grande es el capital, en igualdad de circunstancias. Además,solo las empresas que cuentan con una alta concentración decapital son capaces de racionalizar la producción, de aplicartécnicas modernas, de reducir al mínimo los costos, de alcanzarun alto rendimiento. Por estas razones, el capital trata decomprimir el salario y de acumular la parte más grande posiblede ganancia. A través de este mecanismo, se reduce la capacidadde consumo y se fuerza la capacidad productiva. El consumo dela población, cuyos miembros son en su mayor parte asalariadosy trabajadores a sueldo, no crece al mismo tiempo que laproducción social. La divergencia entre la producción y elconsumo efectivo de la sociedad, aumenta con el progreso técnico(Moszkoskowa, 1978: 21-22).

Esta tendencia se vería agravada justamente con la aceleración delprogreso técnico y la eliminación de empleos. Los estancamientos ocrecimientos lentos en las economías, así como simplemente la necesidad deaumentar las ganancias, multiplican las presiones para reducir las plantillas deobrero/as y empleado/as, sustituyendo personal con nuevos equipos ytecnologías. Esto además permite negociar desde posiciones de fuerza con losrepresentantes laborales, amenazándoles con mayores despidos y exigiendoreducciones de salarios, de feriados, de prestaciones sociales y sanitarias, etc.Estos procedimientos aumentan efectivamente las ganancias al corto plazo,pero las desinflan al largo o estructural plazo. Pues sus acciones reducen lacapacidad de compra de los mercados, y de ahí que las ventas crezcan poco deaño en año.

Dos breves descripciones de la crisis (que se pueden considerar como desubconsumo o como de sobreproducción) que afectara al capitalismo mundiala finales de la década de 1920 y principios de la de 1930, pueden ilustrar unaserie de similitudes entre aquella coyuntura y las tendencias actuales:

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El análisis del Institut für Konjunkturforschung de Berlín, realizado en1931, que enfatiza el aspecto del subconsumo:

La observación empírica señala, con toda precisión, una doblecircunstancia que precedió la actual crisis económica mundial enel campo de las mercancías y que la provocó. Por una parte estála sobreproducción agrícola y por otra la industrial... La crisisdel año 1929 aparece como la consecuencia lógica de unadesproporción entre la producción y la capacidad de consumo. Elingreso monetario de las grandes masas no basta para alcanzarel ritmo de la producción... En todas las etapas del capitalismoavanzado... podían observarse ya desde 1929 tensiones entre laesfera del ingreso y la del capital... Tensiones que en esta ocasiónconstituyen la “causa principal” de la crisis. Con esto, la teoríadel subconsumo se ha llevado la palma, en esta ocasión(Wagemann, 1931: pp. 333-341).

El análisis de la crisis mundial de 1929 por Bahamonte Magro,catedrático de economía en Madrid, realizado en 1998, que enfatiza el aspectode la sobreproducción:

La producción, globalmente considerada, ha superado... lasnecesidades reales, condicionadas por una distribuciónsumamente desigual de la renta. El contexto se agrava por elmantenimiento de precios de monopolio gracias a los acuerdosinternacionales tipo cartel – que unifican precios y repartenmercados –, provocando una acumulación de stocks sin vender.Sobre este esquema actúa la crisis financiera que, al dislocar losacuerdos, provoca desajustes que desembocan en una bruscaafluencia de stocks al mercado, y la consiguiente caída inmediatade los precios... (L)as tensiones de la sobreproducción arrancandel desfase pronunciado entre unos precios agrícolas cuyoaumento es menos rápido que el de los productosmanufacturados, disminuyendo la capacidad de compra delsector agrario. Por otra parte, la existencia de elevadas tasas deparo... también restringe la capacidad de consumo... (La

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producción mundial se disparó) por encima de los nivelessociales de absorción (1998: 11-12).

En el debate que siguió a la gran crisis económica de finales de la décadade 1920 y principios de la de 1930 se pueden distinguir entre, explicaciones“endogenistas” que consideraban que la estructura económica interna de laeconomía genera fluctuaciones que alteran los equilibrios, y las explicaciones“exogenistas”, que consideraban que fuerzas externas a la estructuraeconómica eran responsables de tales fluctuaciones. Natalie Moszkowska,ubicada en la corriente endogenista (que es la que en este momento más nosinteresa), en un trabajo publicado en 1936 (Ed. en español de 1978), parte deconsiderar que las empresas típicas del capitalismo tardío son grandesmonopolios o carteles y elevada concentración del capital, en condiciones deracionalizar la producción, de aplicar técnicas avanzadas, de reducir los costosal mínimo y de lograr elevadas tasas de rentabilidad. Es así que el capitalismodel siglo XX ha llegado a desarrollar fenómenos teóricamente ajenos a él y másbien propios de otro sistema económico. Lo cual no quiere decir que losfenómenos que aparecen sean “socialistas”, sino, como los denominaMoszkowska, son fenómenos económicos del “capitalismo tardío”(Spätkapitalismus). Este capitalismo tardío se caracteriza por breves períodosde prosperidad y largos períodos de depresión: el empobrecimiento relativo setorna absoluto.

La autora concentra el análisis en la relación que se da entre innovacióntécnica y disminución del salario real, porque el progreso técnico desvalorizala fuerza de trabajo. Todo aumento de la productividad por introducción denuevos medios productivos, hace que los salarios nominales disminuyan. Se daentonces una desproporción entre producción y consumo, y entre ahorro eingresos, generándose una crisis de subconsumo que se agudiza conformeaumenta el crecimiento desproporcionado de la composición técnica delcapital. La postura de la autora es relevante hoy, en tanto discute a partir deldesencanto generado por la derrota de la revolución en Alemania a finales dela Primera Guerra Mundial. Por eso afirma que hay una desproporción “total”entre el poder contractual obrero y el patronal, por lo cual es imposible unaconfrontación favorable a los obreros. Esta no es solamente la condicióngeneral en el sistema capitalista, sino que se ve profundizada en el capitalismotardío. La condición de debilidad permanente de cada trabajador hacia elpatrón. Por eso la autora considera a la fuerza de trabajo como una variable

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dependiente (y no independiente como corresponde más con el marxismo), conlo que enfatiza los impactos depresivos de un capitalismo ampliamentedominado por las corporaciones transnacionales, que realizan gran parte de susnegocios entre ellas y con grandes consumidores públicos o estatales, y quesupuestamente no pierden mucho con la ausencia de los sectores trabajadoresen los mercados de consumo.

La limitación del trabajo de la referida autora, reside en que no consideralas dimensiones políticas y militares que enmarcan las actividades económicas,y que pueden agravar o aliviar las tensiones derivadas de las crisis, mediantealgún tipo de intervención – tanto liberales como estatistas (por ejemploKeynesianos) asignan tareas (regulatorias, directivas, etc.) a los sistemaspolíticos. En el capitalismo tardío, además, un rasgo peculiar es elrelativamente importante papel que cumplen los sistemas militares en laseconomías de las potencias capitalistas, de forma sistemática (o integrada) apartir de la Segunda Guerra Mundial, con el desarrollo de “complejos militaresindustriales universitarios”, especialmente en EE.UU., Inglaterra, Francia y laURSS.

El capitalismo del siglo XXI padece una crisis de sobreproducción. Es elabismo cada vez más ancho que existe, entre las capacidades y necesidadesproductivas, que se ahonda gracias a nuevos conocimientos científicos ytecnologías, por una parte, y la reducción cada vez mayor del consumo de lapoblación, sobre todo por el crecimiento del desempleo estructural, incluyendolos sectores “informalizados”, los “marginalizados” y los “excluidos, en primerlugar quienes no tienen cómo trabajar. Susan George (2001) plantea estolúcidamente:

El futuro del libre mercado depende... de quién recibe losbeneficios del crecimiento. Si la recompensa va a parar a la mitadinferior de la población, la inmensa mayoría de estas personasrelativamente pobres utilizarán su dinero para el consumo ymantendrán la demanda boyante. Si, por el contrario, larecompensa va destinada al tramo superior de la escala social,los receptores colocarán sumas aún mayores en los mercadosfinancieros en lugar de adquirir bienes y servicios. Comoconsecuencia, la demanda caerá, trayendo consigo el aumento delas existencias, la superproducción y el estancamiento” (p.20).“Cada empresa gigante intenta ganar una ventaja temporal

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realizando inversiones en tecnología de vanguardia con unaaportación mínima de mano de obra. Como consecuencia, haydemasiadas fábricas notablemente eficientes que producendemasiados bienes para demasiados pocos compradoressolventes. Las empresas, al mismo tiempo que despiden a sustrabajadores, reducen la plantilla de sus clientes. No se haencontrado nada que sustituya la sabiduría de Henry Ford: pagaa tus trabajadores lo suficiente como para que puedan comprartus coches. Dado que es matemáticamente imposible vender todoslos automóviles (y muchos otros productos) que se producenactualmente, es obligado que se produzcan reorganizacionesimportantes, pese a lo cual las empresas siguen cerrandomodernas fábricas para construir otras aún más modernas enotro lugar, generalmente contratando a menos trabajadores a losque pagan también menos... La saturación crónica fue uno de losfactores que provocaron la Gran Depresión de los años treinta;ahora se dan la mayoría de elementos necesarios para que seproduzca otra (pp.46-47; Énfasis ESF).

Los citados Berzosa, Bustello y De la Iglesia (2001: 167), opinanjustamente que el desempleo tecnológico de principios del siglo XXI se debe ala presencia de tres tendencias:

• Crecimiento de la oferta de trabajo;• Mejoras en la productividad; y• Débil crecimiento de la demanda real.

El ataque neoliberal contra los salarios, le ha permitido al capitaltransnacional apoderarse de la política y la ideología. Esto ha reducido lacapacidad política no solamente de quienes trabajan, sino sobre todo tambiénde quienes no trabajan “oficialmente”, ya que realizan actividades eneconomías informales o domésticas. Las nuevas “libertades” del capitalconducen a la rápida concentración de los recursos, por la capacidad para“comprimir” los salarios y en general los ingresos de quienes no son dueñosdel capital. El ataque neoliberal contra los salarios es entonces decisivo paraexplicar la debilidad “estructural” de la demanda mundial. La actual crisis de

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sobreproducción y/o subconsumo tiende a profundizarse y a no encontrarsolución, por tres motivos al menos:

PRIMERO. Precipita el agotamiento y la devastación de los recursos ylos entornos naturales planetarios, y por tanto dispone cada vez menos de losrecursos adicionales o nuevos, necesarios para relanzar la produccion y/o paramantener el status quo ambiental. A principios del siglo XXI, señalabaS.George (2001):

... la escala de la actividad económica ejercerá una presiónextrema sobre los límites de la biosfera e incluso sobre lacapacidad del planeta para sostener la vida... Varias señalesindican que el competitivo sistema de mercado ya está haciendoque se sobrepasen ciertos umbrales naturales, incluidos algunosque quizá no reconozcan las autoridades políticas hasta que seademasiado tarde... Las tensiones ecológicas... se traducirán enuna mayor inestabilidad política y en el aumento de los conflictosarmados” (p. 26). “Ni las empresas gigantes ni las comunidadesni las personas acaudaladas pueden, con independencia de losbienes que posean, librarse de las consecuencias de ladegradación ecológica. Incluso ellas parecen impotentes paradetener el proceso, y son un ejemplo de la paradoja de unosbeneficiarios que son incapaces de proteger el sistema que lesbeneficia.

SEGUNDO. La crisis general se enmarca en una dinámica centrada enel sector financiero especulativo, como señalan diversos autores, por ejemploSader:

A pesar de los avances tecnológicos del período (especialmentelos vinculados a la informática), la mayoría de los capitalescircula en el mundo dentro del circuito financiero, gran parte delos cuales están directamente vinculados con la especulación. Elpropio financiamiento del “boom” de las empresas informáticasse dio a través de capitales volátiles que, una vez en regresión,arrastran con ellos también a ese sector que, según los ideólogosde la “nueva economía”, estarían exentos de crisis (2001: 93).

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La crisis económica recurrente y con tendencias a convertirse enpermanente, tiene como expresión significativa el colapso del régimenfinanciero internacional que Duncan (2003) denomina “el patrón dólar” (“thedollar standard”). Desde que la administración Nixon-Kissinger desligara elvalor de la moneda nacional de EE.UU. del valor del oro a principios de ladécada de 1970, este país ha podido endeudarse y mantener grandes déficits decuenta corriente, vendiendo (sobre todo a extranjeros y socios comerciales)instrumentos de la deuda nacional del banco central. El valor del dólar hacolapsado ya varias veces antes (administraciones Nixon y Carter), y ha estadoperdiendo terreno recientemente, ahora frente a un competidor capaz deconvertirse en moneda de reserva por el volumen de su producción y de sucomercio. (Cf. también Arnold, 2002).

Las oligarquías mafiosas del capital financiero internacional encuentranun apoyo valiosísimo en las instituciones financieras internacionales“multilaterales” o “públicas” (FMI, Banco Mundial, BID, por ejemplo). Deconsuno, corporaciones transnacionales, bancos privados, e institucionesfinancieras internacionales, actúan para que esos agentes privados se hagandueños de los principales activos de muchos países, o para realizar grandesrobos mediante la especulación con las monedas. Así, por ejemplo J. Saxe-Fernández y G. C. Delgado Ramos (2004), han mostrado cómo el BancoMundial viene siendo un agente crucial en la privatización o destrucción de lasprincipales empresas y servicios de México. M. Chossudovsky (1999), por suparte, ha mostrado cómo capitales especulativos, conjuntamente con el BancoMundial, saquearon Brasil entre finales de 1998 y primeros meses de 1999,apoderándose de unos 40.000 millones de dólares, especulando con papelesestatales de Brasilia y con los valores del Real y de la moneda de EE.UU. yhaciendo, al mismo tiempo, que el estado brasileño aumentara su deuda externaen un monto similar. Es decir, el dinero empleado por el banco central de Brasilpara “sostener” el Real y pagar a quienes poseían papeles estatales, pasó, delBanco Mundial (articulador de un conjunto de agentes estatales y privados), através del Banco Central de Brasil, a manos de los especuladores (incluyendoagentes privados que habían aportado parte del dinero “prestado” a Brasil).

El carácter financiero especulativo de la crisis tiende a ser compatiblecon climas de guerras, subiendo y bajando las acciones bursátiles según lamarcha de las confrontaciones por apoderarse de recursos económicas claves;guerras entre las grandes potencias y también de las grandes potencias contra

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países pobres hasta hace poco “independientes” y hasta aliados de EE.UU. o laUE (Irak o Afganistán, por ejemplo).

Guerras convencionales y no convencionales. Guerras internas, guerraspolicìacas, guerras secretas, guerras clandestinas, guerras sucias, incluyendo“limpiezas étnicas” o “nacionales” como las que lleva a cabo Israel contra elpueblo Palestino (y que EE.UU. imita en Irak).

TERCERO. La actual crisis de subconsumo o sobreproducción afectanegativamente la incorporación de nuevos conocimientos y tecnologías,excepto en las esferas militar y policíaca. Lo cual resulta en que la ampliaciónde los mercados, necesaria para una eventual recuperación, se dirige asubmercados especializados: elites y oligarquías metropolitanas ydependientes, y sistemas militar policíacos.

Cualquier análisis del colapso social mundial debe también referirse a laforma en que se enfrentan y tratan de resolver los problemas y dilemas,señalando destacadamente la recurrencia a la intimidación, la violencia (demuchos tipos) y la guerra. El siglo XX ha sido el más monstruoso de toda lahistoria, centenares de millones de personas perdieron la vida en varias guerrasmundiales (Ia, IIa, “Fría” y “Norte-Sur”), muchísimas más sufrieron heridas,quedaron lisiadas y psicosocialmente traumatizadas, perdieron sus entornosontológicos definicionales (redes interpersonales y sociales, casas/habitaciones,barrios, pueblos, ciudades, empresas, instituciones, naciones, paisajes, recursosy medio ambiente naturales). La capacidad para destruir se multiplicó pormillones de veces desde 1900, en ella se funda la ética y la moralidad de laspersonas, grupos y países que ostentan el poder y riqueza y que pese a todas lasatrocidades continúan proclamándose y auto definiéndose como “humanistas”,“demócratas”, “respetuosos de los derechos humanos”, etc.

3. EL COLAPSO ECOLÓGICO MUNDIAL

Dos componentes estrechamente vinculados vienen precipitando alplaneta hacia una “sexta extinciòn” (Leakey & Lewin, 1997): la destrucciòncada vez mayor de los ecosistemas del planeta, y la privatización violenta detodos los ecosistemas y recursos naturales por parte de los ejércitos (locales yde las potencias) y las corporaciones transnacionales de las grandes potencias.Primero consideraré los procesos de destrucción de la naturaleza, y luego losde su apropiación. Este artículo se complementa con el siguiente, en el que se

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discute la imbricación del petróleo como recurso energético principal, con lacrisis mundial y con su actual militarización.

La ecología adquiere cada vez mayor relevancia como áreainterdisciplinaria de estudios a partir de la década de 1970, cuando cambia superfil epistemológico, reorganizando la discusiòn sobre las relaciones de losorganismos vivos respecto del ambiente que los rodea, para considerarla desdey para sus dimensiones políticas.

En 1972 se celebró en Estocolmo una primera Conferencia de lasNaciones Unidas sobre el Medio Ambiente. Para ese momento, el llamadoClub de Roma ya había presentado su conocido informe Los límites delcrecimiento, que se publica en medio de la crisis petrolera de mediados de esadécada (1973). El informe sostenìa que el “desarrollo” tal como se llevaba acabo conducía a la catástrofe ecológica, y la crisis energética venía a confirmaresta aseveración. En las potencias capitalistas de entonces se generó unmovimiento “ecologista”, que significaba un estadio superior de laspreocupaciones y la organización política sobre la naturaleza, y que planteabala necesidad de transformar la mentalidad, y los estilos de vida y de“desarrollo” de la humanidad (sobre todo de los ricos), como única forma paraevitar un colapso ecológico generalizado.

En algo más de 30 años el “movimiento ecologista” ha crecidoimpetuosamente por todo el planeta, en cada persona cada dìa hay màsconciencia de la destrucciòn ambiental. Durante la década de 1980, elmovimiento ecologista creció mucho, pero al mismo tiempo su agenda se viocooptada por los organismos financieros internacionales (OFIs) (el FondoMonetario Internacional, el Banco Mundial, el Banco Interamericano deDesarrollo, y otros). En esta década, los países pobres o del “Sur” pierdenmuchas conquistas políticas y económicas (tanto internas comointernacionales) frente a un emergente neo imperialismo del “Norte”, queutiliza el control financiero y la deuda externa de los países pobres, paraobligarles a realizar procesos en los que sus economías son forzadas a“ajustarse” para contribuir con el bienestar de gobiernos y empresas de lasgrandes potencias (acreedores). Hay un retroceso en las políticas energéticas,sobre todo en EE.UU., que desestimulan la exploración de alternativas y queenfatizan el petróleo, el gas, el carbón y la energía nuclear.

A nivel epistemológico, es de destacar cómo el movimientoambientalista se ve penetrado por los paradigmas economicistas neoliberalesque predominan a partir de los gobiernos de Reagan en EE.UU., de Thatcher

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en Inglaterra, y de su precursor, amigo y protegido, Pinochet, en Chile. Estosparadigmas adquirieron carácter oficial cuando la Academia de Ciencias deSuecia ofrece el Premio Nóbel a Milton Friedman, arquitecto del experimentochileno e inspiraciòn del neoliberalismo.

Por su parte, la ecología introduce el paradigma economicista neoliberalinintencionadamente y más bien como una paradoja cruel. Pues lo que buscabael movimiento ecologista (Informe de la Comisión Brutland, por ejemplo) eracuestionar las ideas, las políticas y las prácticas económicas y de desarrollo,responsables por la creciente destrucción social y ecológica. El resultado, sinembargo, conduce a postular y a tomar como supuesto para el análisis, que nodebería existir incompatibilidad entre desarrollo económico y salud ecológica.De aquí obtenemos una “conciliación entre mercado y naturaleza”, que se va aarticular conceptualmente en la noción de “desarrollo sostenible” o“sustentable”. Los OFIs, los gobiernos de las potencias y sus empresastransnacionales, así como las ONGs que se financian en gran medida porsubsidios de esos estados y empresas, y finalmente también gobiernos,empresarios, académicos y activistas ecologistas del “Sur”, acabaron poraceptar, y asumir en sus discusiones y análisis, esa noción de “desarrollosostenible”. Y, sobre esta base, durante la década de 1990 y durante losprimeros años del siglo XXI, se han organizado nuevas instituciones yprogramas, que conforman un marco ideológico, jurídico, e institucional, elcual sirve para que las grandes potencias y sus empresas se apropien de todoslos ecosistemas y recursos naturales del planeta.

Del 3 al 14 de junio de 1992 se celebró en Rio de Janeiro la Conferenciade las Naciones Unidas sobre Medio Ambiente y Desarrollo (CNUMAD),conocida como “Cumbre de la Tierra”, en la que se plantearon importantesaspiraciones y metas para la década de 1990, que se consideraba “crucial” paraestabilizar y empezar a regenerar el deteriorado planeta. Al mismo tiempo, enla Declaración correspondiente encontramos elementos del “desarrollosostenible” que abren las puertas a las corporaciones transnacionales:

Principio 12: Los Estados deberían cooperar en la promoción deun sistema económico internacional favorable y abierto queconduzca al crecimiento económico y al desarrollo sostenible detodos los países, a fin de abordar en mejor forma los problemasde la degradación ambiental. Las medidas de política comercialcon fines ambientales no deberían constituir un medio de

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discriminación arbitraria o injustificable, ni una restricciónvelada al comercio internacional. Se deberían evitar medidasunilaterales para solucionar problemas ambientales que seproducen fuera de la jurisdicción del país importador. Lasmedidas destinadas a tratar los problemas ambientalestransfronterizos o mundiales deberían, en la medida de lo posible,basarse en un consenso internacional (Consejo de la Tierra,2002:58) (Énfasis ESF).

Principio 16: Las autoridades nacionales deberían procurarfomentar la internalización de los costos ambientales y el uso deinstrumentos económicos, teniendo en cuenta el criterio de que, elque contamina debe, en principio, cargar con los costos de lacontaminación, teniendo debidamente en cuenta el interés públicoy sin distorsionar el comercio ni las inversiones internacionales.(Ibid, p. 59). (Énfasis ESF).

Por su parte, la llamada Agenda 21 es más clara y explícita respecto delpapel que jugarán las corporaciones transnacionales, aunque sin mencionarlasen cuanto tales. El primer apartado de esa Agenda, sobre cooperacióninternacional, empieza con el “comercio y desarrollo sostenible”, que busca“detener el proteccionismo y expandir el comercio mundial”, y que exige delos países que se dediquen a “Facilitar la integración de todos los países en laeconomía mundial y en el sistema comercial internacional” (2002: 69).Adicionalmente, se indica que:

Los gobiernos deberán alentar al GATT, a la UNCTAD y otrasinstituciones para realizar las siguientes actividades: – Tratarque las normas y reglamentaciones ambientales no constituyanrestricciones al comercio... Ubicar las políticas ambientalesdentro de un marco jurídico-institucional que respondaadecuadamente a los cambios productivos y comerciales (Idem, p.70).

La última de las tres principales políticas económicas que recomiendaesta Agenda pide:

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Aumentar la capacidad de ajustes de las economías mediante laaplicación de políticas macroeconómicas y estructurales” (Loc.Cit.). Igualmente, se recomienda que los “países en desarrollo”procedan a “Estimular el sector privado, fomentar la actividadempresarial y eliminar obstáculos institucionales (Idem.).

Sin embargo, otros documentos de la Cumbre de la Tierra, como elTratado de las ONGs, Declaraciones sobre Medio Ambiente y Desarrollo, sonmás críticos de las corporaciones transnacionales de las potencias. Por esto ypor la agenda política de los sectores conservadores en EE.UU., el compromisode este país, crucial para hacer avanzar la agenda, al final quedò estancado porla división entre el ejecutivo a favor del tratado y la oposiciòn conservadora delcongreso – que anteponía a cualquier consideración ambientalista o humanista,el beneficio económico de las empresas de EE.UU. y la ventaja político militarde ese estado.

Así como en la doctrina económica vigente durante esa década de 1990,también en las dimensiones ambientales, el “internacionalismo neoliberalglobalista” miraba con optimismo un futuro sin guerras ni confrontaciones. Asípor ejemplo, el Worldwatch Institute indicaba en su propuesta para talConferencia, que, en 1992:

... el mundo se encuentra en mejor situación para adoptarmedidas eficaces... la guerra fría ha concluido y, por primera vezen varios decenios, Este y Oeste colaboran. Por otra parte, losdebates ideológicos entre el Norte y el Sur son ya mucho menosdestemplados, al aceptar varias naciones ricas la responsabilidadde aplicarse a la solución de los problemas medioambientales dela Tierra, y comprender los países pobres que la degradación delmedio ambienta amenaza su bienestar. En Río, se encontrarán enun terreno común: el de la necesidad de acometer un esfuerzomundial para salvar el planeta (Brown, 1992)

El problema del internacionalismo neoliberal globalista, en este casocomo en otros (sus “costos sociales”, por ejemplo), fue que la doctrina y lapolítica más bien estimularon, protegieron y organizaron, una profundizaciónsin precedentes en el crecimiento de las disparidades sociales a nivel mundial,y de destrucción natural. Por eso no es de extrañar que, según esa ONG citada,

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entre 1972 y 1992, los esfuerzos por detener la destrucción de la naturaleza,“sólo han visto alguno que otro éxito suelto... A escala planetaria, casi todos losindicios son negativos.” (1992:17).

A continuación advierte que: ...la salud del mundo se ha menoscabadoa un ritmo inaudito (Idem., p.18) (Énfasis ESF).

Doscientos millones de hectáreas de bosques se cortaron en ese lapso de20 años, una superficie equivalente a casi la mitad del territorio de EE.UU. En1980 se talaban 11 millones de hectáreas de bosques vírgenes, y en 1989 setalaron 17 millones de hectáreas. En otro estudio, Myers estima que hace unos8.000 años aproximadamente, al comienzo de la actual época del holoceno, elplaneta disponía de unas 6.000.000.000 (seis mil millones) de hectáreas debosques, equivalentes al 40% de todos los territorios mundiales. Al año 1988,unos 2.400.000.000 ha de bosques ya habían sido talados (Myers, 1988). Entre1972 y 1992, los desiertos aumentaron en el mundo en unos 120 millones dehectáreas; y se perdieron unas 480 millones de toneladas de la capa de suelosuperior, que sirve para la agricultura. Para este autor, “La contaminaciónatmosfèrica es un problema persistente en cientos de grandes urbes y eninfinidad de zonas rurales de todo el mundo” (p.23). Después de presentarcasos de destrucción ecológica atmosférica y del recurso hídrico, señala que:“A escala planetaria, los síntomas de deterioro son incluso más inquietantes, ylos procesos en curso, más difìciles de cambiar” (p.25).

Respecto a la acelerada destrucción de la capa de ozono por emisionesde cloro fluro carbonos (CFC), Worldwatch Institute señalaba que:

...aunque la producción de CFC se interrumpierainmediatamente, el desgaste de la capa de ozono continuarádurante dos o tres décadas y es muy probable que las capassuperiores de la atmósfera tardasen varios decenios enrecuperarse (Loc. Cit).

Adicionalmente, la cantidad de carbono que entra en la atmósfera comoresultado de quemar combustibles (sobre todo petróleo y carbón), representaba6.000.000.000 (seis mil millones) de toneladas en 1990, es decir, casi unatonelada per cápita. Kluger estima que, entre 1950 y 2001, la atmósferaterrestre recibió cerca de 500.000.000.000 (quinientos mil millones) detoneladas métricas de bióxido de carbono (Kluger, 2001).

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Por estos motivos, en el movimiento mundial ecologista que se articulópara la reunión de Rio de Janeiro en 1992, pese a grandes y a veces insalvablesdiferencias, una gran mayoría de participantes consideraba que la década de1990 iba a ser decisiva para salvar o perder gran parte de la naturaleza, eincluso arriesgar inminentemente graves colapsos generales (planetarios).

Las expectativas no se han cumplido, pues el neoliberalismoinstitucionalista globalista ha tenido mucho éxito en profundizar, agravar yprecipitar crisis económicas, sociales y ambientales. Así, por ejemplo, en elInforme Anual del World Watch Institute para 1995, se señala que “El consumode granos excedió nuevamente a la producción en 1994, reduciendo los acopiosmundiales de grano por segundo año consecutivo...” (1995: 18). “Si laelevación en las temperaturas que prevaleciera desde finales de la década de1970 hasta 1990 continùa, se escalará el riesgo de reducción climática de lascosechas, a causa de intenso calor y sequías...” (Idem.). “Conforme la décadade 1990 se desarrolla, los asuntos ambientales adquieren centralidad. Losgobiernos que no estabilicen las poblaciones de sus países antes que de lasdemandas superen la producción sostenible de sus sistemas locales de apoyo-a-la-vida, corren el riesgo de verse sobrepasados y abrumados por lasconsecuencias de sus fallos” (Idem.: 20).

En el Informe Anual del Worldwatch Institute sobre Medio Ambiente yDesarrollo, La situación del mundo 2000, ya se plantean claramente lassituaciones de colapso ecológico. Su director, L. R. Brown observa sietetendencias destructoras de la naturaleza: el crecimiento de la población, lasubida de las temperaturas, el descenso de la capa freática, la disminución dela tierra cultivable per cápita, el colapso de las pesquerías, la disminución delos bosques y la pérdida de especies animales y vegetales (Brown, 2001). Deentre estas siete tendencias destructoras, destaquemos dos.

Durante las primeras fases de la Revolución Industrial, en el siglo XVIII,la concentración de CO2 en la atmósfera se estimaba en 280 partículas pormillón (ppm). En 1959, ya con instrumental moderno se midieron 316 ppm, yen 1998, 367ppm, un incremento del 39 por ciento en esos 40 años. Otraestimación, del Hadley Centre for Climate Prediction and Research, estima queen el año 2.020 habrán 441 ppm de CO2 en la atmósfera, y para 2.080 llegaríaa 731ppm. (Citado en Delgado, 2002: 82).

Por otra parte, el porcentaje de mamíferos, aves y peces “vulnerables oen inminente peligro de extinción”, al año 2.000 se estimaba en: “...el 11 porciento de las 8.615 especies de aves, el 25 por ciento de las 4.355 especies de

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mamíferos, y se estima que un 34 por ciento de todas las especies de peces”(p.31). En los océanos han empezado a desarrollarse crecientes “zonasmuertas” en las que la falta de oxígeno simplemente impide la vida. En otrapublicación, L. R. Brown estima que, sumando plantas y animales, hacia 1999desaparecían unas 10.000 (diez mil) especies cada año (Brown, 1999). Elresultado sinergístico de estas tendencias destructoras es que:

...el número de especies con las que compartimos el planetadisminuye. Según van desapareciendo cada vez más especies, losecosistemas locales comienzan a colapsar; y llegará un momentoen que nos enfrentemos a un colapso total de los ecosistemas(2000:32) (énfasis ESF).

Los referidos Leakey y Lewin (1997) han sintetizado el deslizamiento dela crisis ontológica ecológica, desde un nivel de “peligro” hasta el de“colapso”. Señalan que, estudiando la historia natural desde perspectivas neoevolucionistas, nuestro planeta ha vivido cinco grandes extinciones de vida,desde el Cámbrico hasta hoy; que grandes cambios en la historia natural hansucedido abruptamente y no gradualmente como creía Darwin; y que lasespecies que sobreviven lo hacen no por selección natural sino en importantemedida por la suerte. Autores como Bright señalan cómo los colapsosparticulares de algún segmento de algún sistema ecológico, tienden y puedenprecipitarse en cascadas de efectos destructores. Así por ejemplo, C. Bright(2000) destaca tres tipos de “sorpresas ambientales” y cuatro de “causasimportantes de discontinuidades y sinergismos”. Los tipos de sorpresa son: (1)“Una discontinuidad.. un cambio abrupto en una tendencia o en un estadopreviamente estable. La discontinuidad no es necesariamente evidente en unaescala humana; lo que cuenta es la escala temporal de los procesosinvolucrados”; (2) “Un sinergismo es un cambio en el cual varios fenómenosse combinan para producir un efecto mucho mayor del que cabría esperar de lasuma de los efectos tomados separadamente”; (3) “Una tendencia inadvertida,aun cuando no produzca ninguna discontinuidad o sinergismos, puede producirun importante daño antes de ser descubierta”(2000: 56).

Las cuatro causas importantes de discontinuidades y sinergismos queseñala este autor son: (1) “Un sinergismo puede producir una discontinuidad”;(2) “Una discontinuidad puede producir un sinergismo”; (3) “Una reacciónpositiva puede producir una discontinuidad (una reacción positiva es un ciclo

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de cambios que se amplifican)”; (4) “Una cascada de efectos puede llevar amúltiples discontinuidades y sinergismos. (Una cascada de efectos se producecuando un cambio en uno de los componentes de un sistema produce cambiosen otro componente, que a su vez provoca el cambio de otro, y asísucesivamente” (2000:58).

Por su parte, Gowdy (1998) destaca que:

Desde muchas perspectivas es claro que estamos llevando loslímites de la habilidad del mundo biofísico para sostener lacontinua expansión del empleo de los recursos naturales y de lacapacidad asimiladora del medio ambiente. (p.66).

Según estos autores, los humanos somos una casualidad de la historia dela vida, pero ciertamente somos la especie dominante hoy. Estamos equipadoscon la capacidad de devastar la diversidad dondequiera que vayamos. Nuestraracionalidad y nuestro conocimiento han servido para explotar colectivamentelos recursos de la Tierra en proporciones incomparables:

El homo sapiens está maduro para ser el destructor más colosalde la historia, sólo superado por el asteroide gigante que chocócontra la Tierra hace sesenta y cinco millones de años, barriendoen un instante geológico la mitad de las especies de entonces (p-260);

Dominante como ninguna otra especie en la historia de la vida enla Tierra, el Homo sapiens está a punto de causar una gran crisisbiológica, una extinción en masa, el sexto acontecimiento de estascaracterísticas que habrá ocurrido en los últimos quinientosmillones de años. Y nosotros, el Homo sapiens, podríamos estartambién entre los muertos en vida (p.264-265).

Lamentablemente, más que “estar a punto de causar” el colapsoecosocial generalizado, el ser humano ya lo está causando. Como señala elcitado Brown: “Los ecosistema locales empiezan a colapsar; y llegará unmomento en que nos enfrentemos a un colapso total de losecosistemas”(Brown, 2000:32) (Énfasis ESF).

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Concurrentemente con la destrucción ambiental se viene intensificandola privatización de los ecosistemas y los recursos naturales de todo el planeta.Este proceso es conducido ideológica, política y financieramente por el BancoMundial, con el apoyo de su principal dueño, los EE.UU. (Cf. Anexo I). Elprograma de privatizaciones auspiciado por el BM respecto de los ecosistemasy los recursos naturales se articula en una alianza con la Global EnvironmentalFacility (GEF) (llamada en español Fondo Mundial para la Naturaleza), y laInternational Finance Corporation (IFC). La IFC ha estado involucrada en losprocesos de privatización que han llevado adelante los OFIs por ejemplo enAmérica Latina y, para este caso, también participa el Banco Interamericano deDesarrollo (BID). La IFC “... busca financiar proyectos del sector privado enpaíses en desarrollo, ayudar a multinacionales del primer mundo a movilizarcapital en los mercados internacionales y proveer asesoría y asistencia técnicaa empresas y gobiernos” (Cf. www.ifc.org ).

El Banco Mundial, en su papel como agencia ejecutora de laGEF, debería jugar el papel primordial para asegurarse eldesarrollo y administración de proyectos de inversión... El BancoMundial recurre a la experiencia inversionista de su afiliada, laInternational Finance Corporation (IFC)... para promover lasoportunidades de inversión y para movilizar los recursos delsector privado (Idem).

Mencionemos dos casos: primero, el Plan Puebla Panamá (PPP), elCorredor Biológico Mesoamericano (CBM) y el Corredor CoralinoMesoamericano (CCM); y segundo, los programas para privatizar el agua afavor de las CTNs.

El PPP pretende “desarrollar” la vertiente caribeña de Mesoamerica,históricamente menos “desarrollada” y poblada que la vertiente del Pacífico, porrazones climáticas sobre todo. Se trata de “abrir” y de “intercomunicar” regionesy países, en ejes que se dirigen básicamente de sur a norte, en una especie dereproducción a la inversa de los procesos de construcción de ferrocarriles enMéxico durante el siglo XIX, todos ellos dirigidos desde el centro de Méxicohacia diferentes puntos de la frontera con EE.UU. La red vial y decomunicaciones del PPP similarmente, permitirá la integración territorial directade Mesoamérica con México y con EE.UU. Con esto, la región centroamericanaserá objeto de compra por parte de intereses privados sobre todo de EE.UU., que

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explotarán sus recursos y poblaciones. El PPP promueve la bioprospección paraque las CTNs se apropien los abundantes recursos naturales biogenéticos de laregión, incluyendo recursos forestales, fibras, chicle, biodiversidad endémica yagrícola, plantas ornamentales, resinas, agua y otros.

Simultáneamente con el PPP, los OFIs plantean desarrollar los corredoresmesoamericanos, biológico y coralino (CBM, CCM). La GEF aportó 67 de los90 millones iniciales necesarios. El BM y la GEF prevén invertir de sus recursoscasi 900 millones de dólares en estos proyectos, y otros 4.500 provendrían deCTNs – algunas a través de ONGs como INBIO en Costa Rica –.

La bioprospección ha sido destacada desde las primeras etapas de estosproyectos. La bioprospección incluye la investigación sobre plantasmedicinales y demás biodiversidad con potencial comercial, incluyendoactividades de clasificación y definición de especies, inventarios, descripciónde componentes de sustancias activas, establecimiento de métodos para suextracción, procesamiento, certificación y acceso al mercado. En tantoexploración de la biodiversidad para encontrar recursos comercialmentevaliosos para la genética y la bioquímica, como reconoce el BM, esta actividades calificada correctamente como biopiratería por algunos autores (Money,2000; Delgado, 2003).

A partir de la bioprospección, otras posibilidades comerciales sevisualizan para los ecosistemas y los recursos mesoamericanos. La“armonización” del PPP y de la CBM y CCM, implica la subordinación delambiente a su apropiación por las CTNs. El BM señala al respecto que,

...será necesario cuantificar el valor económico de todos losbienes y servicios que suministrarán las áreas silvestres de laregión, como el agua, ecoturismo, plantas medicinales, etc.(Véase el Anexo I, sobre el Banco Mundial; y J.Saxe-Fernández2003 y 2004).

Respecto al agua, ya en 1998 la CEPAL anunciaba la privatizacion delrecurso en América Latina:

...casi todos los gobiernos de América Latina y el Caribe hananunciado una política de aumento de la participación privada enlos servicios públicos relacionados con el agua... solamente enalgunos países se ha traspasado al sector privado la función de

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administrar los servicios de abastecimiento de agua ysaneamiento, si bien otras funciones dentro de esos servicios, decarácter más técnico, efectivamente se han traspasado en muchospaíses... (E)n América Latina son únicamente cuatro los paóisesen que las principales atribuciones de gestión de los serviciospúblicos relacionados con el agua se han transferido al sectorprivado. Sólo en uno de los cuatro, a saber en la Argentina, se haencomendado a empresas privadas la gestión de importantessistemas de abastecimiento de agua y saneamiento (CEPAL,1998).

Esta tendencia ha creado muchas “oportunidades de inversión”, de lascuales,

...la más interesante quizá sea la posibilidad de hacerse cargo delservicio, ya sea mediante una compra directa o un arreglo deconcesión, pero las oportunidades no se paran ahí. Los contratosde gestión también pueden brindar oportunidades apreciables...(CEPAL, 1998).

En el diseño del PPP también encontramos claramente una propuestapara privatizar el agua mesoamericana. Se prevee “la preparación de planesestratégicos para el desarrollo de los servicios hidrometeorológicos nacionales(incluyendo evaluaciones del marco institucional y legal, financiamente,recursos humanos y comercialización de sus servicios); y... la creación demarcos legales y administrativos para la comercialización de los servicios yproductos meteorológicos con valor agregado... Los Gobiernos a través de lasautoridades pertinentes se comprometen a... presentar un plan estratégico parael desarrollo de los servicios meteorológicos e hídricos nacionales, basado enun diagnóstico de los marcos legal e institucional de los servicios nacionales yun estudio del mercado para productos hidrometeorológicos comerciales”.

Delgado (2003) nos ofrece un último ejemplo de la privatización delrecurso, describiendo el proyecto del Acuífero Guaraní, una de las megareservasde agua dulce del mundo, que cubre una superficie de 1.2 millones dekilómetros cuadrados entre Brasil, Argentina, Uruguay y Paraguay, más de dosveces el área de Centroamérica. El desarrollo del proyecto del acuífero Guaranínos muestra cómo procede típicamente el Banco Mundial, que,

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...en este tipo de proyectos, devela su interés, primero, porreconfigurar el manejo de cuencas y, segundo, por latransferencia de recursos hídricos hacia el sector privado. Esdecir, por un lado, impulsa una concentración del manejo decuencas hídricas en manos de “selectos actores”; y, una vezconsolidados, busca, por el otro lado, colocar a lasmultinacionales de los acreedores en el centro de la gestión yusufructo del agua dulce (es decir, en los negocios de servicioshídricos de almacenaje, distribución, potabilización, generaciónde termo e hidroelectricidad, etc). (Delgado 2003).

Entre las empresas que se aprestan a operar, tanto en Mesoamérica comoen la cuenca del Guaraní, encontramos a Monsanto y Bechtel, esta última muyvinculada con varios miembros del poder ejecutivo de EE.UU. y querecientemente ha recibido jugosos contratos en Iraq.

La combinación sinergística de devastación y privatización-comercialización de la naturaleza aceleran el colapso ecológico mundial.

CONCLUSIONES

La sociedad humana organizada en el patriarcado tardío capitalista (Cf.E. Saxe Fernández, 1997), ha desarrollado una determinada “intervención” o“manipulación” sobre la naturaleza y sobre sí misma, que reduce o elimina laforma natural y busca reemplazarla por una forma “patriarcal” – según algunasteóricas feministas como G. Finn, se trata del deseo patriarcal de tener lacapacidad de procrear en el sentido que solamente tienen las mujeres. Ladiversidad de formas materiales y mentales (máquinas o mentalidades), seconciben, diseñan y emplean para posibilitar la mayor apropiación posible (porparte de pequeños grupos en la sociedad humana), de riquezas materiales y depoder político (con aspectos sociales e ideológicos incluídos). Esos pequeñosgrupos están compuestos por un total de personas que podría oscilar entre 50 y100 millones. Acumulan la mayor parte de la riqueza y el poder mundiales,regionales, nacionales, locales y familiares. Por eso, esta forma de apropiacióny de intervención sobre la naturaleza y la misma sociedad, necesariamentedebe excluir del poder y la riqueza al “resto”, es decir, a la mayor parte (esa“inmensa mayoría” excluida) de lo/as miembro/as de la sociedad mundial.

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También debe intervenir en la naturaleza de forma excluyente, es decirviolenta, con la utilización de procedimientos que acaban por destruir elrecurso natural, tanto el renovable como el no renovable. Este proceso se havenido repitiendo ya por lo menos desde el cataclismo ecológico provocadopor el imperio romano en la cuenca del Mediterráneo, pero se acentuó con elfanatismo político, religioso y racista que emplearon las potencias europeas yluego EE.UU., Japón y Rusia para “conquistar” y apropiarse del planeta, entrelos siglos XV y XIX. Durante los siglos XIX y XX el proceso se va acelerando,adquiriendo una intensidad inusitada a partir de la llamada Segunda GuerraMundial (1939-1945) y durante todo el resto del siglo XX. A partir de la décadade 1980 y sobre todo en la de 1990, la devastación ecosocial adquiereproporciones incontrolables y cada vez más amplias. No hay “reconstrucción”de los países que EE.UU. o la OTAN o la ONU “devastan” para “garantizar lalibertad” política y económica; no hay “humanidad” para los excluídos pues lasguerras “humanitarias” matan a esos mismos excluídos – de la misma maneraque la “lucha contra la pobreza” tiende a convertirse en una “guerra contra lospobres” (Cf. Techer, 2001).

Sin embargo, a partir de los atentados contra el Pentágono y el CentroMundial de Comercio en setiembre de 2001, los señores de la guerra ya nonecesitan pretextos pseudo humanitaristas, porque la “guerra contra el terror”necesariamente es una guerra entre contendientes que deben y tienden asustentar ideologías y políticas “extremistas”, como corresponde a la necesidadde acciones y pensamientos que promueven espirales donde se vanmagnificando el terror y el similarmente terrorista contra terror.

La precipitación hacia abismos apocalípticos es entonces necesidad yurgencia del patriarcado tardío capitalista. Los colapsos ecosocialesconstituyen el ácido y explosivo fundamento de la locura característica de losgrupos minoritarios que concentran el poder y la riqueza mundiales. “Locura”porque las acciones y pensamientos que emprenden para mantener susprerrogativas, incrementan las amenazas y la crisis de esas prerrogativas, ysolamente pueden responder con nuevas acciones y pensamientos que“solucionan” algunos de los problemas, pero con el resultado de crear otrosnuevos y más difíciles y grandes problemas; los cuales, al final de cuentas enrealidad no son entonces dos tipos de problemas, sino la profundización(incluso “profundización desviada”) de la devastación social y ecológicauniversal.

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En una guerra contra el “terrorismo”, el dilema de la seguridad llega a suclímax. La guerra contra el terrorismo precipita a las naciones al caos, ladegradación moral, el despotismo sanguinario, el fanatismo (de carácternotablemente religioso por la percatación, consciente o no, de la inminencia y lavivencia de cataclismos social ecológicos), la miseria y el cinismo máximos.Toda la sociedad, los bandos contendientes así como los espectadores, losopositores y las víctimas, tienden a ser presa de ese fatal círculo de vertiginosavorágine de decadencia en la que entran determinadas estructuras sociales,políticas, económicas y militares; sociedades y civilizaciones como China,Roma, la Rusia zarista y la URSS brezhneviana, Filipinas e Indonesia, Argentina,Brasil y Chile durante las dictaduras militares de las décadas de 1960 y 1970, asícomo Irlanda, España y otros países. El modelo de modelos de estado antiterrorista es Israel, particularmente bajo el gobierno de Sharon, que concibe ytrata a los palestinos como terroristas. Del ejemplo israelí se nutre laadministración de Bush II, asesorada por el ejército israelí para enfrentar laguerra de guerrillas de la resistencia a la ocupación en Iraq, por ejemplo. Launiversalización de esta tendencia se orienta a presentar, a los ciudadanos y a losestados de EE.UU. y otros 27 países “de primera categoría”, como el centro anti-terrorista, y al resto de la población del mundo, y de países, como al menosimplícita o potencialmente terroristas, como el “centro terrorista”. El centro anti-terrorista sería USA, que en el símil es Israel; y el centro terrorista serían lospaíses del “sur” y los pueblos “no blancos”, que en el símil son los palestinos.

Algunos autores hablan de “guerras por los recursos”, emprendidas porEE.UU. y otras potencias para acaparar o apoderarse de las fuentes de“recursos vitales” para sus economías, sociedades y aparatos militares (Klare,2001; Heinberg, 2003). Esta orientación es característica del período posterioral fin de la Guerra Fría, aparece notoriamente ya durante la administraciónClinton. Por supuesto, el primer recurso estratégico por el que EE.UU. y otraspotencias están dispuestas a guerrear es el petróleo. Este tipo de estrategiatampoco es nuevo, sino más bien característico de la misma expansióncapitalista desde al menos el siglo XV: el control de materias primas y los“recursos” humanos, provocó enfrentamientos entre las principales potencias.Actualmente, sin embargo, su intensidad y características son mucho másacentuadas, por las condiciones que imponen los colapsos ecológicos ysociales. Así, el mismo Klare, para explicar las causas de este nuevo tipo deguerras recurre a planteamientos neo o cuasi malthusianos, que establecen unarelación directamente proporcional entre el tamaño de la población y el

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consumo de recursos naturales. Según este autor, estas guerras por los recursostienen su origen en las demandas planteadas por una población que crecerápidamente, por recursos cada vez más escasos. La noción de escasez esnuevamente central, en torno a ella ha girado un debate sobre las existencias dereservas petroleras, por ejemplo, en la que las empresas, los gobiernos y lamisma Agencia Internacional de Energía no preveen ningún problema,mientras que numerosos críticos sostienen lo contrario, que el petróleo estápronto a su agotamiento. Otro motivo de estas guerras de recursos, sostieneKlare, es que esos recursos se encuentran en países “inestables” – o más bienque tienen problemas con que EE.UU. les controle, agregamos nosotros.Aparte del petróleo y el gas natural, el otro recurso que Klare y muchos otrosseñalan como de máxima prioridad estratégica es el agua – tema muyimportante para todas las regiones que tienen mucha cantidad de ella. Esaescasez creciente de recursos estratégicos pone a soñar a los asesores de BushII, quienes esperan encontrar en Marte (of all places), abundande petróleoproducto del pasado orgánico de ese planeta, así como suficiente agua comopara obtener oxígeno para respirar, e hidrógeno para propulsar los navíos detransporte y otros. Mientras tanto, las prioridades están en controlar las áreasprincipales de petróleo, entre las que Klare cita el Medio Oriente y el AsiaCentral. Sobre el agua se refiere a los casos ya conocidos del Cercano y MedioOriente, así como al Nilo, y a otros ríos multinacionales de interés estratégicopara las potencias – incluyendo el Amazonas, por ejemplo y, como señalanotros autores (Delgado 2002), también hasta las cuencas de los fronterizosmesoamericanos como el Usumacinta o el San Juan.

A principios de 2004 nos hemos enterado que el gobierno de EE.UU. haestado ocultando información disponible, que señala el rápido agravamientodel deterioro atmosférico planetario. La noticia ha causado hondapreocupaciòn y molestia entre “el público extranjero”, por ejemplo en Francia,donde las temperaturas veraniegas del 2003 llegaron a los 50 grados celsius,provocando la muerte de al menos 15.000 anciano/as. En febrero de 2004,sesenta distinguidos cientìficos de EE.UU., incluyendo 20 que recibieranpremios Nobel, denunciaron públicamente la campaña de desinformación delEjecutivo del gobierno. La acelerada militarización de la crisis mundial quelleva adelante y que desata la administración de Bush II, constituye su políticapara hacer frente al colapso ecosocial en marcha.

El colapso ontológico social incluye componentes múltiples: colapsoseconómicos (crisis, concentración, dilapidación de riqueza); colapsos

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antropolóticos, psicológicos, sociológicos y políticos (guerras, hambrunas,pestes, mafización, descomposición étnico nacional,); colapsos ideo culturales(hiper egoísmo, nihilismo, cinismo, autoritarismo, agresivismo genocida yontocida). Encontramos cada vez más “roces” y “choques” entre elementos,partes y procesos sociales, de todo tipo y características. Se coordinandimensiones individuales, grupales, sectoriales, locales, regionales, nacionales,internacionales, institucionales, ideacionales, lógicas, imaginarias, lúdicas yeróticas. Pero se trata de coordinaciones cada vez más difíciles, cada vez másentorpecidas por sí mismas y por todas las demás. Así como el trabajador nopropietario tiene que intensificar el número de horas laborales y su rendimientodurante ese tiempo, para apenas sostener un un puesto con un salario nominalque sin embargo cada vez tiene menos capacidad de compra, así también en elconjunto de instituciones sociales, se requiere cada vez más esfuerzo para“mantener” los “status quo”; aunque no pueda evitarse que en los bordes tantocomo en los centros ocurran también descomposiciones, derrumbes,desapariciones, exterminios. Se mantiene todo aquello que se puede sostener,hasta donde sea posible. Pero la degradación social general continúa, y tiendea explotar en “cadenas sinergísticas” que pueden conducir a mayores colapsosdel status quo, o a tendencias reorganizativas alternativas.

El proceso social histórico ha tenido resultados devastadores sobre elentorno planetario de la naturaleza holocénica. Se ha acelerado con y desde laexpansión y dominación de la civilización cristiana y el sistema socioeconómico capitalista. Alcanza dimensiones inmanejables para los ecosistemastanto como por las mismas instituciones sociales en las que surgieron y sedesarrollaron. Se dan así otras sinergias entre los colapsos sociales y losnaturales, que a su vez alimentan o subtienen el “marco ontológico” en el queoperan los diferentes actores.

La prueba de esta tendencia reside claramente en que las potenciashegemónicas, EE.UU. en primer lugar, definen la situación político militarmundial como “guerra contra el terrorismo” (que enmarcaran o acompañan las)“guerras de recursos”. Es decir, la civilización mundial cristiana capitalistaactual se caracteriza por: desarrollar procesos de militarización definidos enfunción de un creciente dilema de seguridad – generado por los colapsosontológicos ecosociales. La militarización y el creciente dilema deseguridad inciden a su vez muy fuertemente, en sentido destructivo,amplificando esos colapsos.

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TRÊS MEDIÇÕES, UMA REGIÃOTROPICAL DE FRONTEIRA, E APENAS

UM ACHADO: DESENVOLVIMENTOSOCIOECONÔMICO DA REGIÃO

AMAZÔNICA BRASILEIRA, 1953-1996.1

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Resumo: Descreve e discute três mediçõesindependentes das condições socioeconômicasdos habitantes da Amazônia Legal e do Estadodo Amapá, válidas para diferentes anos ouperíodos entre 1953 e 1996. Usando métodos ebases de dados distintos e adotando diferentesintervalos cronológicos, as três mediçõesrevelam que na Amazônia Legal e no Amapáhouve um notável grau de melhoria dasprincipais variáveis socioeconômicas para asquais existem dados. Este achado recorrentequestiona o pressuposto mais adotado e aprincipal hipótese implícita ou explícita noconjunto da literatura, que postula a ocorrênciade uma débâcle social de escala macro-regionalna Amazônia brasileira nas últimas décadas.Argumenta-se que existe a necessidade derealizar mais estudos de variados escopos eempiricamente fundamentados sobre a enormeregião, capazes de relativizar ou superar omarco catastrofista de uma literatura quedispensa comprovações empíricas e/ouextrapola de maneiras duvidosas achados locaispara o conjunto da região.

Palavras-chave: Amazônia Legal; Amapá;Desenvolvimento socioeconômico; Medição;Fronteiras; IDH

Abstract: It describes and discusses threeindependent measurements of the socioe-conomic conditions of the inhabitants of theLegal Amazon and the State of Amapá, validfor different years or periods between 1953 and1996. Using methods and distinct databasesand adopting different chronological intervals,the three measurements disclose that in theLegal Amazon and in the State of Amapá it hada notable degree of improvement of the mainsocioeconomics variables for which there aredata. This recurrent finding questions the mostadopted presupposition and the main implicitor explicit hypothesis in the set of theliterature, which claims the occurrence of asocial debacle of macro-regional scale in theBrazilian Amazon in the last few decades. It isargued that the necessity to carry through morevaried purposed and empirically based studieson the enormous region exists, capable torelativize or to surpass the catastrophistlandmark of a literature that need no empiricalevidences and/or surpasses in doubtful waysthe local findings for the set of the region.

Key-words: Legal Amazon; Amapá;Socioeconomic development; Measurements;Boarders; IDH.

* Doutor em Land Resources. Professor Adjunto do CDS da Universidade de Brasília.

1 Adaptado de um paper com o mesmo título apresentado no XXIII International Congress da LASA, Washington D. C.,September 6-8, 2001. Parcialmente baseado em pesquisas realizadas para a minha tese de Ph. D., Environment, Society andDevelopment: An Assessment of the Natural Resource Economy of the State of Amapá (Brazil) (Madison, Wisconsin, 1999).Agradecimentos a Archibald Haller, Alberto Carlos Almeida, Danielle Cyreno Fernandes, Marcos Chor Maio e NeylaVaserstein por leituras críticas e sugestões. Produzido em parte com apoio da CAPES e do CNPq.

José Augusto Drummond*

Sumário: Introdução. 1. Contexto analítico; 2. Medição n.º 1 – Haller e colaboradores – testandodiretamente a hipótese de Bunker com dados macro-regionais válidos para 1970 e 1980; 3.Medição n.º 2 – FJP, FIBGE e IPEA constroem uma base de dados original; 4. Medição n.º 3 –mudanças anuais no Amapá, 1953-1996; Sintese e Conclusões.

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INTRODUÇÃO

Este texto descreve e discute três exercícios independentes de mediçãodas condições socioeconômicas dos habitantes da Amazônia Legal e do Estadodo Amapá, válidas para diferentes anos ou períodos entre os anos de 1953 e1996.2 O foco recai sobre as metodologias e bases de dados usadas, mas o textodiscute também o grau em que os seus achados contraditam o postulado e/ou ahipótese principal da literatura.3

Primeiro, examino o contexto analítico da literatura sobre o desen-volvimento da Amazônia e o seu postulado/hipótese do desastre social eambiental. Em seguida, trato de cada uma das medições e destaco como elascontraditam a literatura. Concluo com a afirmação da necessidade de revisãodo postulado/hipótese principal. Espera-se que este texto chame a atenção paraa necessidade de medições minimamente consensuais, para que os debates emtorno do presente e do futuro da Amazônia superem um marco meramenteadjetivo ou opinativo. Além disso, pretende-se que os estudiosos sefamiliarizem com as bases de dados existentes ou de montagem viável, as quaispermitem tais medições, indispensáveis para um debate científico sobre umaregião tão grande e complexa.

1. CONTEXTO ANALÍTICO

Nos últimos 20 anos, aproximadamente, surgiu uma extensa literaturasobre mudanças sociais, econômicas e ambientais na bacia amazônica, com

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2 Os textos que trazem essas medições são Archibald O. Haller et al, ‘The socioeconomic development levels of the people ofAmazonian Brazil — 1970 and 1980’, Journal of Developing Areas, 30 (April 1996), pp. 293-316 (versão revista deste artigofoi publicada como Haller, A. O.; Torrecilha, R.; Haller, M. C. Del P. e Tourinho, M. M., “Os níveis de desenvolvimentosocioeconômico da população da Amazônia brasileira — 1970 e 1980”. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol. VI(suplemento), julho 2000, p. 941-973); Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento et al, DesenvolvimentoHumano e Condições de Vida: Indicadores Brasileiros. Brasília, 1998; e Drummond, J. A., Environment, Society andDevelopment, Capítulo 7. Um resumo dos achados e das implicações analíticas deste terceiro texto foi publicado como“Investimentos Privados, Impactos Ambientais e Qualidade de Vida num Empreendimento Mineral Amazônico – o caso daMina de Manganês de Serra do Navio (Amapá)”, Manguinhos, VI (Suplemento), setembro 2000, p. 753-792.

3 O estado do Amapá mereceu atenção especial neste artigo por ter sediado o mais antigo, duradouro e bem-sucedido dos“grandes projetos” da Amazônia contemporânea, a mina de manganês de Serra do Navio. Se algum desses “grandesprojetos” foi capaz de causar impactos – positivos e negativos – no desenvolvimento local, Serra do Navio teve a localização,a escala, a duração e o sucesso comercial para tanto. No entanto, as abordagens aqui revistas permitem recortar e dar atençãoespecial a qualquer sub-unidade da Amazônia Legal que se deseje examinar (estados, grupos de municípios ou municípiosisolados). A literatura bem que precisa de estudos empiricamente bem fundamentados e comparáveis com essas diferentesescalas.

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ênfase para a região Amazônica brasileira.4 Dezenas de livros e coletâneas,centenas de artigos e teses, dúzias de relatórios de consultoria e planos, alémde outros tipos de documentos produzidos por ativistas, ONGs e viajantes,fizeram essa literatura crescer para além da possibilidade de ser acompanhadapor qualquer estudioso individual. No entanto, é fácil perceber nela um quaseconsenso em torno do que eu chamo de “catástrofe social e ambiental”, umcolapso geral dos sistemas sociais e ambientais que estaria ocorrendo naAmazônia.5 Por vezes, com base em evidências nulas ou escassas, o colapso énarrado como fato consumado, ou tendência irreversível. A angustiantepreocupação com a possível destruição das ricas biodiversidade esóciodiversidade da região é o móvel principal desses estudos, mas, ela nãojustifica abordagens falhas. Nesta perspectiva, nada funciona ou podefuncionar na região, a não ser que seja “tradicional”. Os amazônidas sãoretratados equivocadamente como os mais pobres entre os brasileiros. Asmigrações e o aumento populacional causam pânico, como se a região sótivesse sido habiada ou ocupada nas últimas décadas. Situações locais sãoextrapoladas para toda a região sem qualquer fundamentação. A inferêncianormativa lógica dessa perspectiva é que nada de “moderno” deve ser tentadona região, a não ser com um grau de cuidado nunca registrado na históriamundial, moderna ou antiga.

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4 Drummond, J. A., em “Recursos Naturais, Meio Ambiente e Desenvolvimento na Amazônia Brasileira: Um Debate Multi-Dimensional – Ensaio Bibliográfico”, Manguinhos, VI (Suplemento), setembro 2000, p. 1135-1177, comenta uma partedessa literatura.

5 Exemplos destacados são Anthony Hall, Amazônia: Desenvolvimento para Quem? – Desmatamento e Conflito Social noPrograma Grande Carajás (Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1991); Susanna B. Hecht and Alexander Cockburn, The Fateof the Forest: Developers, Destroyers and Defenders of the Amazon (London, Verso, 1989); Marianne Schmink and CharlesWood, Contested Frontiers in Amazonia (New York, Columbia University Press, 1992); Stephen G. Bunker, Underdevelopingthe Amazon (Chicago, University of Chicago Press, 1986); Emilio F. Moran, Developing the Amazon (Bloomington, IndianaUniversity Press, 1981); Philip M. Fearnside, Human Carrying Capacity of the Brazilian Rainforest (New York, ColumbiaUniversity Press, 1986); Joe Foweraker, The Struggle for Land: A Political Economy of the Pioneer Frontier in Brazil, 1930 tothe present day (Cambridge, Cambridge University Press, 1981); Jean Hebette, ed., O Cerco está se Fechando: O Impactodo Grande Capital na Amazônia (Petrópolis, Vozes; Rio de Janeiro, FASE; Belém, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, UFPa,1991); José M. M. da Costa, Os Grandes Projetos da Amazônia: Impactos e Perspectivas (Belém, Universidade Federal doPará - NAEA, 1987). Juan de Onis, em The Green Cathedral (New York, Oxford University Press, 1992), em abordagem não-acadêmica, tem cuidado com generalizações e previsões de catástrofes macro-regionais. Para abordagens acadêmicasequilibradas, ver Anna Luiza Osorio de Almeida, The Colonization of the Amazon (Austin, University of Texas Press, 1992);Anthony Anderson, ed., Alternatives to Deforestation – Steps towards Sustainable Use of the Amazon Rainforest (New York,Columbia University Press, 1990); Paulo Choji Kitamura, A Amazônia e o Desenvolvimento Sustentável (Brasília, EMBRAPA,1994); Dennis Mahar, Frontier Development Policy in Brazil: A Study of the Amazon Experience (New York, Praeger, 1979);and Nigel J. H. Smith, The Amazon River Forest – A Natural History of Plants, Animals and People (New York and Oxford,Oxford University Press, 1999).

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Stephen Bunker escreveu um dos mais influentes textos desta perspectiva,6

o qual usarei como representativo. Ao estudar diversos grandesempreendimentos produtivos e de infra-estrutura na Amazônia brasileira e emoutros lugares, ele concluiu que eles causam prejuízos sociais e ambientaispermanentes e, mais, integram um processo irreversível de subsdesenvolvimentoregional. Na verdade, isso seria apenas uma instância de sua hipótese maisabrangente do atraso necessário das regiões extrativistas de todo o planeta. Elesustenta que empreendimentos extrativos modernos, intensivos de capital,danificam o ambiente natural e desmontam estruturas sociais e atividadesprodutivas tradicionais. Embora Bunker use instrumentos conceituais e analíticosperspicazes e úteis, entendo que as suas inferências não são apoiadasadequadamente pelos dados que apresenta.

A Amazônia é para ele emblemática, pois é “uma das áreas mais pobresdo mundo”, apesar de – ou por causa de – séculos de extrativismo e exportaçãode produtos in natura. Para ele, a iniciativa privada (local, nacional ouinternacional) e as próprias políticas do estado desenvolvimentista agravaramindistintamente as condições de vida das populações locais, pois ambastrataram a Amazônia como uma “fronteira vazia”. Assim, Bunker não esperasequer que uma racionalidade estatal “salve” a região do seu destino.

Concordo com Bunker em que as perspectivas desenvolvimentistas dasregiões extrativistas contemporâneas são muito fracas7, mas isso não significanecessariamente miséria absoluta ou debacles sociais. É claro que ocorremmuitos fatos sociais normativamente lamentáveis em regiões de fronteira, masconcordo com Haller e associados (ver abaixo) em que tais fatos são parteintrínseca da própria condição de “fronteira”. Além do mais, eles por si nãoprovam a ocorrência de debacles sociais, mesmo porque eles também ocorremem regiões agropecuárias e urbanas. Acima de tudo, faltam nas análises deBunker e de muitos outros estudiosos evidências de que o conjunto dapopulação amazônica tenha hoje condições de vida inferiores às de, digamos,

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6 Bunker, Underdeveloping the Amazon. Ver também, do mesmo autor, “Modes of Extraction, Unequal Exchange, and theProgressive Underdevelopment of an Extreme Periphery: The Brazilian Amazon, 1600-1980,” American Journal of Sociology,89(5): 1017-1064 (1984); “Staples, Links and Poles in the Construction of Regional Development Theories,” SociologicalForum, 4(4) (1989); e “Natural Resource Extraction and Power Differentials in a Global Economy,” em Sutti Oritz and SusanLees, eds. Understanding Economic Process. Monographs in Economic Anthropology, 10. (1992). Ver ainda o capítulo 1de Bradford Barham, Stephen G. Bunker and Dennis O’Hearn, eds., States, Firms and Raw Materials (Madison, The Universityof Wisconsin Press, 1994).

7 Desenvolvo essa questão, com base inclusive nas formulações de Bunker, em “Natureza rica, povos pobres? – questõesconceituais e analíticas sobre o papel dos recursos naturais na prosperidade contemporânea” (aceito em Ambiente eSociedade, no prelo).

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30 anos atrás, pois quase sempre faltam medições minimanente consensuaisdas condições sociais. Daí a relevância das três medições discutidas a seguir,que contraditam frontalmente a hipótese central de Bunker e do conjunto daliteratura.

2. MEDIÇÃO N.º 1 - HALLER E COLABORADORES – TESTANDODIRETAMENTE A HIPÓTESE DE BUNKER COM DADOSMACRO-REGIONAIS VÁLIDOS PARA 1970 E 1980

A. O. Haller e colaboradores publicaram em 1996 o primeiro testedeliberado da hipótese de Bunker sobre o desenvolvimento na Amazônia.8

Além do teste, fizeram uma discussão teórica relevante sobre o significadosociológico das áreas de fronteira e sobre a incidência de anomia em tais áreas.O seu conceito de fronteira é o seguinte:

Em termos gerais, uma fronteira pode ser vista como uma áreageográfica esparsamente habitada, dotada de instituiçõesrelativamente fracas e fragmentárias, de estruturas sociais epopulações imperfeitamente integradas à sociedade mais amplada qual a área faz parte. Repentinamente, organizaçõesgovernamenais e/ou econômicas externas de grande escalacomeçam a investir grandes quantidades de capital nessa área, oque atrai números crescentes de pessoas interessadas em altossalários, ou em fontes de riqueza recentemente descobertas ouapenas entrevistas, ainda sem dono.

A tipologia de fronteiras inclui as “de investimento concentrado” (emtorno de grandes empreendimentos), as “móveis clássicas” (ocupadas a partirde regiões vizinhas), as “pára-quedas” (isoladas) e as “de linha” (ao longo deestradas e rios).

Os autores recuperam, de uma maneira original na literatura sobrefronteiras, o clássico conceito de anomia. Sustentam que as normas e sançõessociais que funcionam em áreas “ocupadas” de uma sociedade tendem a sersubvertidas em áreas de fronteira. Isso ocorre porque um grande número de

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8 Archibald O. Haller et al, ‘The socioeconomic development levels…”.

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pessoas, sem relações entre si, com passados distintos, se desloca para umlugar desconhecido e remoto em busca de melhores condições de vida econvencidas de que existem meios “sem dono” de enriquecimento fácil –tipicamente, recursos naturais (solos, minérios, árvores) com direitos depropriedade indefinidos. Surgem assim situações anômicas, com “extremaconfusão normativa”, propícias a “suicídio, assassinato, roubo, inquietacãosocial e violência organizada”. Comportamentos e expectativas contraditóriosentram em choque, e normas e sanções flutuam sem previsibilidade.

Os autores concordam que ocorre anomia na Amazônia, mas sustentamque “não existe inconsistência lógica entre níveis médios ascendentes dedesenvolvimento socioeconômico e níveis ascendentes de violência. (…) Pelocontrário, devemos esperar uma correlação positiva entre desenvolvimentosocioeconômico acelerado e a incidência de comportamentos anômicos” [grifono original]. Portanto, eles propõem que a medição do primeiro não seja“contaminado” pelo registro de comportamentos anômicos típicos dasfronteiras. Ou seja, sustentam que o desenvolvimento socioeconômico – ou afalta dele – em áreas de fronteira pode e deve ser estudado e medidoindependente da alta incidência de comportamentos anômicos que captamtanta atenção – e indignação – da maioria dos estudiosos da fronteiraamazônica. Melhorias socioeconômicas significativas podem, portanto,conviver com violência, assassinatos, desagregação de famílias e outros fatosanômicos. Fatos desenvolvimentistas são independentes de fatos anômicos eassim devem ser abordados.

Vejamos agora como a medição feita por Haller e colaboradorescontradita frontalmente a hipótese predominante da debacle social amazônica.Entre 1970 e 1980, apesar dos investimentos maciços ocorridos na AmazôniaLegal no período, a maioria esmagadora dos municípios amazônicos tevemelhoras socioeconômicas. Este achado, publicado em 1996, ainda não foicontestado na literatura. Até 1998, ninguém reunira uma base de dadoscomparável, e quando isso foi feito (para o cálculo do IDH no Brasil, discutidoabaixo), os achados de Haller e co-autores foram amplamente confirmados.Entre 1993 e 1995, os autores reuniram uma grande base de dados (em escalamunicipal), comparáveis em escala macro-regional, selecionaram variáveiscomponentes e aplicaram métodos de análise fatorial. Para cada municípioforam calculados dois escores (um para 1970 e um para 1980) de DSE/kmu

(Desenvolvimento Socioeconômico per capita por município), recalculadosnuma escala de 0 a 100.

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As variáveis usadas foram: número de trabalhadores industriais pornúmero de pessoas empregadas, volume de transações comerciais per capita, oinverso do número de trabalhadores agrícolas per capita, acesso per capita ageladeira, televisão, rádio e automóvel, número de matrículas escolares noprimário per capita, número de alfabetizados per capita, número de residênciasligadas à rede elétrica per capita e consumo residencial de eletricidade percapita. Esses dados foram recolhidos “artesanalmente” nos recenseamentosnacionais e em bases de dados do setor elétrico e educacional. As variáveisforam escolhidas de acordo com uma literatura internacional sobre adistribuição de renda e o bem-estar doméstico. Algumas variáveis foramdescartadas por falta de disponibilidade em e/ou de comparabilidade para todosos municípios da Amazônia Legal. Os escores obtidos são comparáveis paracada município nos dois anos (1970 e 1980), para todos os municípios em cadaano, e para conjuntos de municípios em cada ano e nos dois anos.

Eis um sumário dos achados. 325 de 327 municípios estudados (mais de99%) tiveram escores maiores em 1980 do que em 1970. Dois outrosmunicípios foram descartados por causa de problemas nos dados. O escoremédio mais do que triplicou de 1970 para 1980: de 4,96 para 17,70. As cidadesmaiores (como Cuiabá, Belém, Manaus e outras capitais estaduais) alcançaramos maiores escores. No entanto, vários municípios menores também exibiramescores consideravelmente maiores em 1980, quase todos eles localizados nasimediações de “grandes projetos” – usinas hidrelétricas, minas, estradas, áreasde colonização privada e pública.9 Os autores concluem que a hipótese deBunker foi refutada para o período em questão. De fato, não se poderia esperar,à base da hipótese, tal quadro macro-regional de melhoras sociais eeconômicas. Não ocorreu um desenvolvimento na forma de diversificação dabase produtiva local, mas ocorreu generalizada melhora das condições sociaise econômicas medidas. Trata-se, evidentemente, de uma diferençasociologicamente significativa que não deve ficar soterrada sob pressupostos ehipóteses falhos.

Como o resto do presente texto focaliza medições sobre o Amapá,vejamos os escores dos seus municípios no teste de Haller e colaboradores. Osdados relevantes estão na Tabela I.

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9 A relação completa de escores para 1970 e 1980 consta da versão em português do artigo, acima citada, publicada emManguinhos.

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TTAABBEELLAA II :: EESSCCOORREESS DDEE DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO SSOOCCIIOOEECCOONNÔÔMMIICCOO PPEERR CCAAPPIITTAA DDOOSS MMUUNNIICCÍÍPPIIOOSS DDOOAAMMAAPPÁÁ,, 11997700 EE 11998800,, CCAALLCCUULLAADDOOSS PPOORR HHAALLLLEERR EE CCOOLLAABBOORRAADDOORREESS

aannoo eessccoorree eessccoorree %% ccrreesscciimmeennttoommuunniiccííppiioo 11997700 11998800 11998800//11997700

Amapá 6,83 15,55 127,67

Calçoene 6,25 25,44 307,04

Macapá 26,89 69,04 156,74

Mazagão 7,17 19,77 175,73

Oiapoque 18,46 28,49 54,33

Fonte: Haller, A. O.; Torrecilha, R.; Haller, M. C. Del P. e Tourinho, M. M.. “Os níveis de desenvolvimento socioeconômico dapopulação da Amazônia brasileira – 1970 e 1980”. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, vol. VI (suplemento), julho 2000,Apêndice.

Todos os municípios do Amapá melhoraram os seus escores. O escorerelativamente alto de Macapá (diretamente afetado pela atividade mineradorade Serra do Navio) para 1970 ainda cresceu consideravelmente em 1980.Percentualmente, porém, os escores de Calçoene e Mazagão (fora da área deinfluência direta da mina) cresceram ainda mais. Os escores do Amapá e deOiapoque também cresceram.

Em suma, os municípios amapaenses não sofreram um colapso nos seusníveis de desenvolvimento socioeconômico, como a hipótese da debacle noslevaria a esperar quanto ao estado amazônico que hospedou o primeiro e maisduradouro “grande projeto” da região.

3. MEDIÇÃO N.º 2 – FJP, FIBGE E IPEA CONSTRÓEM UMA BASEDE DADOS ORIGINAL

A segunda medição a ser discutida não é exatamente um estudo, mas umabase de dados feita pela Fundação João Pinheiro, pelo Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística e pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas paracomputar o Índice de Desenvolvimento Humano brasileiro, publicada noformato de um CD-ROM acompanhado de um livro.10 A equipe usou dados dosrecensamentos nacionais em diferentes níveis de agregação (país, região, estadoe município). O IDH é composto de variáveis ligadas à longevidade, à renda e

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10 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento et al, Desenvolvimento Humano e Condições de Vida….

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à escolaridade, o que lhe dá uma sobreposição parcial com as variáveis do índiceconstruído por Haller e colaboradores, parcialmente baseado em variáveis deescolaridade e renda. Ambos usam os recensamentos nacionais como fonteprincipal, mas as duas medições foram feitas de forma independente.

Não há ênfase especial na Amazônia, mas os índices do IDH revelamnotáveis diferenças regionais de padrão de vida no Brasil. Entre muitos outrospontos, fica evidente que a Amazônia não é a região brasileira mais pobre,título que cabe ao Nordeste (do Maranhão à Bahia), fato de que sequer sedesconfia ao ler apenas a literatura catastrófica sobre a Amazônia.

Vejamos algumas comparações entre o Amapá e o contexto regional enacional, com base no IDH. O ranking regional do Amapá é um primeirocruzamento relevante. Por hospedar a mina de Serra do Navio por mais de 40anos, seria de se esperar, a partir da hipótese da debacle, que o Amapá ocupasseo pior lugar no ranking regional e talvez até nacional. No entanto, os dados daTabela II mostram que os escores do estado cresceram significativamente aolongo de 26 anos (com exceção de 1996) e que ele não caiu no ranking – sendo,ao contrário, um líder regional no IDH.

TTAABBEELLAA II II:: OO IIDDHH NNOO BBRRAASSIILL –– EESSCCOORREESS EE RRAANNKKIINNGGSS DDOO AAMMAAPPÁÁ EENNTTRREE OOSS EESSTTAADDOOSSAAMMAAZZÔÔNNIICCOOSS,, 11997700,, 11998800,, 11999911,, 11999955AANNDD 11999966 ((**))

aannoo eessccoorreess ddee rraannkk iinngg ddoo AAmmaappáá eenntt rreeIIDDHH ddoo AAmmaappáá ooss eessttaaddooss aammaazzôônniiccooss

1970 .509 1 / 8

1980 .614 3 / 8

1991 .767 1 / 9

1995 .797 1 / 9

1996 .786 3 / 9

* A tabela inclui para todos os anos os estados da região Norte (Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia. Roraima), maisMato Grosso e Maranhão. Para 1991, 1995 e 1996, a tabela inclui Tocantins.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento et al, Desenvolvimento Humano e Condições de Vida:Indicadores Brasileiros. Brasília, 1998, Tabela 2.3.

A Tabela III compara os escores de IDH do Amapá com os escoresmédios dos estados da Região Norte e com os escores do Brasil. Vemos que oAmapá sempre puxou as médias regionais para cima e que os seus escoressempre alcançaram ao menos 83% dos índices nacionais, também

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contraditando a hipótese da debacle. Na verdade, em 1970 o Amapá foi um deapenas seis estados brasileiros que alcançaram o nível “médio” de IDH (entre0,500 e 0,800), chegando em 1995 e 1996 bem próximo ao nível “alto” (acimade 0,800), alcançado por apenas um punhado de estados brasileiros.

TTAABBEELLAA II II II:: OO IIDDHH NNOO BBRRAASSIILL –– EESSCCOORREESS DDOO AAMMAAPPÁÁ CCOOMMPPAARRAADDOOSS AAOOSS EESSCCOORREESS MMÉÉDDIIOOSS DDAARREEGGIIÃÃOO NNOORRTTEE EE AAOOSS EESSCCOORREESS DDOO BBRRAASSIILL,, 11997700,, 11998800,, 11999911,, 11999955 AANNDD 11999966..

aannoo eessccoorreess ddoo eessccoorreess mmééddiiooss eessccoorreess ddoo BBrraassii llAAmmaappáá nnoo IIDDHH ddaa rreeggiiããoo NNoorr ttee nnoo IIDDHH nnoo IIDDHH

1970 0,509 0,425 0,494

1980 0,614 0,595 0,734

1991 0,767 0,676 0,787

1995 0,797 0,720 0,814

1996 0,786 0,727 0,830

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento et al, Desenvolvimento Humano e Condições de Vida:Indicadores Brasileiros. Brasília, 1998, Tabela 2.3.

O ranking nacional do Amapá em termos do IDH mostra outros fatosque contraditam a hipótese da debacle. Segundo os dados da Tabela IV, vemosque, depois do notável sexto lugar em 1970, o estado caiu para um pálidodécimo-terceiro em 1980, para voltar a nono em 1991 e 1995 e cair de novopara décimo-segundo em 1996 (ano em que o seu IDH caiu em termosabsolutos). A posição do Amapá oscilou mais no panorama nacional do que noregional, mas ele nunca ficou no piso inferior do ranking nacional. O queocorreu é que outros estados não-amazônicos (ver abaixo) entraram e sefirmaram nas posições mais altas do ranking nacional.

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TTAABBEELLAA II VV:: OO IIDDHH NNOO BBRRAASSIILL –– NNÚÚMMEERROO DDEE EESSTTAADDOOSS CCOOLLOOCCAADDOOSS AACCIIMMAA EE AABBAAIIXXOO DDOORRAANNKKIINNGG DDOO AAMMAAPPÁÁ,, 11997700,, 11998800,, 11999911,, 11999955 AANNDD 11999966 ((**))

aannoo nnúúmmeerroo ddee eessttaaddooss ccoomm eessccoorreess ddee nnúúmmeerroo ddee eessttaaddooss ccoomm eessccoorreessIIDDHH ssuuppeerr iioorreess aaoo ddoo AAmmaappáá ddee IIDDHH iinnffeerr iioorreess aaoo ddoo AAmmaappáá

1970 5 19

1980 12 13

1991 8 18

1995 8 18

1996 (**) 11 15

* Em 1970 o Brasil tinha 24 estados e territórios e o Distrito Federal. Em 1980 tinha 25 estados e territórios, e o DistritoFederal. Desde 1988 tem 26 estados, e o Distrito Federal..

** Em 1996 o escore do Amapá foi igual ao de Goiás.Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento et al, Desenvolvimento Humano e Condições de Vida:

Indicadores Brasileiros. Brasília, 1998, Tabela 2.3.

Na verdade, o Amapá sempre esteve mais próximo dos estadosbrasileiros mais desenvolvidos, conforme se vê a partir dos dados da Tabela V.Em 1970, o Amapá, SP, DF, RS, SC e RJ foram os únicos estados com IDH“médio”. MG e PR, por exemplo, estavam abaixo do Amapá. Em 1980 oAmapá caiu para décimo-terceiro, embora o seu escore crescesse bastante. Osmesmos cinco estados líderes de 1970 continuaram no topo em 1980 e nos anossubsequentes, apenas trocando de lugar entre si. O que ocorreu em 1980 é queo Amapá foi ultrapassado por sete estados – MG, PR, MS, ES, AM, RR e GO.Destes, PR, MS e ES se juntaram aos cinco líderes de 1970 e 1980 e formaramum fechado “clube dos 8 mais desenvolvidos” nos anos posteriores.

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TTAABBEELLAA VV:: OO IIDDHH NNOO BBRRAASSIILL –– NNOOMMEESS,, EESSCCOORREESS EE RRAANNKKIINNGGSS DDEE TTOODDOOSS OOSS EESSTTAADDOOSSBBRRAASSIILLEEIIRROOSS CCOOMM EESSCCOORREESS SSUUPPEERRIIOORREESS AAOOSS DDOO AAMMAAPPÁÁ,, 11997700,, 11998800,, 11999911,, 11999955 EE 11999966

aannoorraannkk iinngg 11997700 11998800 11999911 11999955 11999966

primeiro São Paulo Distrito Federal São Paulo São Paulo Distrito Federal

0,710 0,819 0,848 0,867 0,869

segundo Distrito Federal São Paulo Distrito Federal Distrito Federal Rio G. do Sul

0,666 0,811 0,847 0,864 0,869

terceiro Rio de Janeiro Rio G. do Sul Rio G. do Sul Rio G. do Sul São Paulo

0,657 0,808 0,845 0,863 0,868

quarto Rio G. do Sul Rio de Janeiro Santa Catarina Santa Catarina Santa Catarina

0,631 0,804 0,827 0,857 0,863

quinto Santa Catarina Santa Catarina Rio de Janeiro Mato G. do Sul Mato G. do Sul

0,560 0,796 0,824 0,844 0,848

sexto AAmmaappáá Mato G. do Sul Paraná Paraná Paraná

00,,550099 0,725 0,811 0,844 0,847

sétimo Paraná Mato G. do Sul Rio de Janeiro Rio de Janeiro

0,723 0,784 0,842 0,844

oitavo - Espírito Santo Espírito Santo Espírito Santo Espírito Santo

0,715 0,782 0,819 0,836

nono - Minas Gerais AAmmaappáá AAmmaappáá Minas Gerais

0,695 00,,776677 00,,779977 0,823

décimo - Amazonas Rondônia

0,696 - - 0,820

décimo-primeiro - Goiás Roraima

0,636 - - 0,818

décimo-segundo - Roraima AAmmaappáá

0,619 - - 00,,778866

décimo-terceiro - AAmmaappáá

00,,661144 - - -

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento et al, Desenvolvimento Humano e Condições de Vida:Indicadores Brasileiros. Brasília, 1998, Tabela 2.3.

Assim, é notável que o Amapá tenha ocupado o nono lugar em 1991,superando MG, GO, AM e RR e encostando no “clube dos 8 maisdesenvolvidos”. Em 1995 a situação foi a mesma: Amapá em nono, encostadono “clube”. Em 1996, ao perder 11 pontos decimais em seu escore, o Amapá

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caiu para décimo-segundo lugar e foi superado por MG, RO e RR, empatandocom GO.11 Assim, o Amapá tem feito parte de – ou liderado – um “segundopelotão” de estados brasileiros no ranking do IDH, obtendo escores muitosuperiores aos dos estados brasileiros mais pobres, os do Nordeste. Essedesempenho não seria previsto a partir da hipótese do debacle amazônico.12

4. MEDIÇÃO N.º 3 – MUDANÇAS ANUAIS NO AMAPÁ, 1953-1996

No contexto de um estudo sobre os efeitos socioeconômicos eambientais da mineração de Serra do Navio, fiz uma medição das mudançassocioeconômicas ocorridas no Amapá entre 1953 e 1993.13 A disponibilidade dedados permitiu computar escores de desenvolvimento socioeconômico, deâmbito estadual, para esses 41 anos seguidos. Os escores foram compostos de32 variáveis, algumas similares ou relacionadas com as usadas por Haller ecolaboradores e pelo IDH, outras distintas. A minha medição teve as seguintesparticularidades: (1) foi feita ano a ano, diferente dos dois anos (1970 e 1980)e dos cinco anos (1970, 1980, 1991, 1995 e 1996) das medições discutidasacima; (2) boa parte dos dados brutos foi colhida nos Anuários Estatísticos doAmapá;14 e (3) incluiu diversas variáveis não usadas nas duas outras medições.Pude, assim, comparar o Amapá consigo mesmo, examinando as tendências de32 séries de variáveis ao longo de 41 anos, 37 deles dentro da fase operacionalda mina de Serra do Navio.

Na verdade, fiz um teste direto da hipótese da debacle. A minha perguntaprincipal de pesquisa foi: Serra do Navio ajudou na deterioração dos padrõesde vida dos amapaenses em geral? Construí a minha resposta sem referência a

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11 Destaque-se que estados fortes como o Rio de Janeiro e Minas Gerais também sofreram quedas significativas no ranking,conforme se pode ver na mesma Tabela V. Em 26 anos o Rio de Janeiro caiu de terceiro para sétimo lugar. Minas Geraisoscilou ainda mais fortemente e, apesar de chegar ao nono lugar em 1996, estava praticamente empatado com Amazonas eRondônia.

12 A mesma equipe que computou o IDH brasileiro criou e computou um outro índice, o ICV (Índice de Condições de Vida),composto por 20 variáveis. De novo os escores da Amazônia e do Amapá desmentem a hipótese da debacle. Ver Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento et al, Desenvolvimento Humano e Condições de Vida...

13 Drummond, J. A., Environment, Society and Development…, capítulo 7, contém a versão integral do teste e a análise dosseus achados, resumidos em língua portuguesa em Drummond, “Investimentos Privados, Impactos Ambientais…

14 Governo do Território Federal do Amapá ou Governo do Estado do Amapá. Anuários Estatísticos do Amapá (Macapá, 1953-1994). No Apêndice II de Drummond, Society, Environment and Development, discuto a qualidade e a consistência dosdados retirados dessa série.

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medições anteriores, pois nenhum estudo sobre a mina incluíra uma mediçãoprecisa dos seus efeitos. Reuni e organizei dados para 49 variáveissocioeconômicas, devidamente “per capitalizadas” pela população residenteou estimada para cada ano. Ficou claro que a maioria das variáveis sofreumudanças significativas, para pior ou melhor. Numa primeira medição, crieiuma escala ordinal e classifiquei cada variável sob as chancelas de “mudançapositiva forte” (17 variáveis), “mudança positiva moderada” (12), “semmudança” (5), “mudança negativa moderada” (4) e “mudança negativa forte”(11). Como 29 das 49 variáveis experimentaram mudança positiva, os dadosindicavam um grau sifnificativo de mudança, e que a ela fora para melhor.

Em seguida concebi um método de medir o resultado líquido dasmudanças de todas essas variáveis. Para tanto, (a) descartei 17 variáveis paraas quais faltavam mais de 25% dos dados, (b) estimei dados ausentes de outrasvariáveis, usando médias ou modas, e (c) defini o período 1953-1993,descartando dados coletados para anos posteriores e anteriores. Tratei os dadoscom uma metodologia que não explicarei aqui.15 Algumas variáveis diferentesdas usadas nas duas medições analisadas acima foram, entre outras: númerosde linhas telefônicas e de chamadas talefônicas, disponibilidade deprofissionais de saúde, tamanho de rebanhos de animais domésticos e númerode alvarás de construção. Variáveis iguais ou relacionadas às dos dois testesforam, entre outras: números de domicílios conectados com rede de água,esgoto e eletricidade, número de veículos auto-motores emplacados, consumode energia etc. Não houve, portanto, escassez de dados, mesmo usando umafonte local de um jovem território/estado amazônico.

Compus uma matriz 32 x 41 – 32 variáveis (percapitalizadas etransformadas em escores z normalizados) versus 41 anos. O escore de cadaano foi obtido pela soma dos 32 escores z normalizados, dividida por 32. Nãodei pesos diferenciados às variáveis, mas algumas entraram com sinalnegativo, por indicarem mudanças para pior (como mortalidade infantil enúmero de casos registrados de doenças transmissíveis). Finalmente, osescores brutos foram ajustados para caber numa escala de 0 a 100 – 0 sendo opior ano registrado, 100 o melhor. Cada escore representa, assim, ascontribuições líquidas das 32 variáveis, combinando mudanças positivas,negativas e neutras. Chamei-os de escores de DesenvolvimentoSocioeconômico per capita (DSE/k) do Amapá. Estão expostos na Tabela VI.

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15 Os procedimentos são discutidos detalhadamente em Drummond, Environment, Society and Development…, Apêndice IV.

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TTaabbeellaa VVII:: EESSCCOORREESS DDEE DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO SSOOCCIIOOEECCOONNÔÔMMIICCOO PPEERR CCAAPPIITTAADDOO EESSTTAADDOO DDOO AAMMAAPPÁÁ,, 11995533--11999933 ((**))

aannoo eessccoorree DDSSEE//kk aannoo eessccoorree DDSSEE//kk

1953 33.33 1974 42.31

1954 38.46 1975 44.87

1955 48.72 1976 47.44

1956 38.46 1977 46.15

1957 51.28 1978 41.03

1958 91.03 1979 34.62

1959 44.87 1980 41.03

1960 00.00 1981 76.92

1961 51.28 1982 76.92

1962 48.72 1983 76.92

1963 50.00 1984 75.64

1964 52.56 1985 64.10

1965 47.44 1986 88.46

1966 29.49 1987 96.15

1967 25.64 1988 98.72

1968 02.56 1989 94.87

1969 12.82 1990 75.64

1970 37.18 1991 94.87

1971 20.51 1992 83.33

1972 26.92 1993 100.00

1973 58.97

(*) Escores z normalizados, calculados de acordo com procedimentos detalhados no Apêndice IV de Drummond,Environment, Society and Development.

Fontes dos dados originais: Anuários Estatísticos do Amapá, 1953-1994.

A distirbuição desses escores contradita a expectativa de Bunker e outrosquanto à ocorrência de uma progressiva deterioração das condições sociais eeconômicas em regiões extrativistas sujeitas a investimentos “modernos” e degrande escala. A tendência do período como um todo foi a de crescimentosubstancial do índice. O escore médio dos últimos 13 anos (78,99), porexemplo, é 1,72 superior ao escore médio dos primeiros 13 anos (45,85). Naverdade, as condições sociais e econômicas médias do Amapá melhoraramprogressivamente. É bom destacar que isso não significa que a atividademinerária foi responsável por isso, e nem era a minha intenção descobrir ou

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provar isso.16 Para efeitos de teste da hipótese de Bunker, no entanto, bastoumostrar que ocorreram mudanças socioeconômicas positivas na área deinfluência direta de um “grande projeto” amazônico. Ninguém deteriorou oAmapá, pois o Amapá não deteriorou – nem em escala regional, nem em escalanacional.

SÍNTESE E CONCLUSÕES

Examinamos dados e métodos de três medições independentes edistintas de mudanças socioeconômicas na Amazônia brasileira. Destacamoscomo os seus achados apontam melhoras socioeconômicas significativas emtoda a região e como isso contradita a hipótese predominante na literatura.

As conclusões são que (a) essa hipótese precisa ser revista por outra,mais flexível, (b) novos estudos e medições devem ser feitos à luz de bases dedados de validade mais do que local, (c) não é aconselhável misturar o registrode fatos anômicos com as medições de mudança socioeconômica. Esses novosestudos, para comporem um novo marco, devem ainda ter uma sólidafundamentação empírica, seja em escala macro-regional ou local, para permitircomparações, ao longo do tempo e em várias escalas, das melhorias oudeteriorações das condições materiais de vida dos amazônidas.

Brasília, março de 2002agosto de 2004

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16 Em Drummond, “Investimentos Privados, Impactos Ambientais”, discute-se detalhadamente o significado desses escores ea sua possível relacão com o desempenho da mina de Serra do Navio.

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EL DERECHO AMBIENTALEN ARGENTINA

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Resumo: Este artigo trata da temática doDireito Ambiental na Argentina. Primeira-mente procura-se destacar os conceitos geraissobre a temática. Na segunda parte sãoanalisados os princípios aplicáveis à temática.Em terceiro plano são observadas as tratativasinternacionais sobre o assunto. Depois sãoanalisados artigos da Constituição Federal daArgentina, cuja decorrência será a observaçãoda responsabilidade para reparação dos danoscausados. Na última parte é analisada alegislação infraconstitucional sobre o meioambiental argentino.

Palavras-chave: Direito Ambiental;Argentina; Ordem Jurídica.

Abstract: This article deals with Enviro-nmental Law in Argentina. First it is intendedto highlight the general concepts about thetheme. The principles which can be applied tothe theme are analyzed in the second part. Thethird part deals with the international treatieson the subject. The articles of the ArgentineanFederal Constitution are then analyzed, whichwill have as a result the observation of theresponsibility for the compensation of thedamaged caused. The infra-constitutionallegislation about Argentinean environment isanalyzed in the final part.

Key-words: Environmental Law; Argentina;Legal order.

* Universidad Nacional de La Plata, Argentina.

Carlos Botassi*

Sumário: 1. Ambiente y Derecho Ambiental; 2. Los Principios Generales del DerechoAmbiental; 3. Las Relaciones Internacionales; 4. Los Artículos 41 y 43 de La ConstituciónNacional; 5. Reparación Del Daño Ambiental; 6. Legislación Ambiental; 7. ProtecciónAdministrativa y Judicial del Medio Ambiente; Síntesis Final.

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1. AMBIENTE Y DERECHO AMBIENTAL

Si el objeto de estudio del Derecho Ambiental es el “ambiente” resultainsoslayable intentar su definición. En rigor cabe reconocer que se hanensayado tantos conceptos de “ambiente” como autores se han ocupado delasunto, su mera enunciación excedería el espacio del que disponemos. Diremossí que la doctrina argentina ha vinculado la palabra “ambiente” con realidadesbien disímiles como son la naturaleza y los recursos que provee, el mediourbano, la biodiversidad y el clima. En Italia la palabra ambiente fue definidapor primera vez en términos jurídicos por Massimo Severo Giannini en sutrabajo “Ambiente: saggio sui diversi suoi aspetti Giuridici, publicado en elaño 1973 en la Rivista trimestrale di diritto pubblico: 1) ambiente relacionadocon el paisaje (aqui el Derecho Ambiental tendría una finalidadconservacionista); 2) ambiente vinculado con la defensa del suelo, el aire y elagua (la legislación establece un sistema de control sobre las actividades quepueden dañarlos); 3) ambiente considerado en las normas y estudios deurbanismo (destinados a impulsar una actividad administrativa deplanificación del uso del territorio).1

Ni la Constitución Nacional Argentina ni las leyes federales que másadelante comentaremos contienen una definición del vocablo “ambiente”. Sí laposee la Ley Marco-Ambiental nº 11.723 (1995) de la Provincia de BuenosAires, al describirlo como un “sistema constituido por factores naturales,culturales y sociales, interrelacionados entre sí, que condicionan la vida delhombre a la vez que constantemente son modificados y condicionados poréste”. (Anexo I, “Glosario”, palabras “ambiente”, “medio”, “entorno” y“medio ambiente”que dicha Ley emplea como sinónimos).

En la década del ’80 el Consejo Federal de Inversiones de la Naciónconsideró que los recursos naturales necesarios para atender las necesidadesvitales del hombre eran los siguientes:

1.º El suelo, es decir la capa de humus que recubre la corteza terrestre;2.º Los yacimientos minerales sólidos, líquidos y gaseosos, entre los que

se destacan los hidrocarburos;

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1 Pastorino, Leonardo: El daño al ambiente como instituto típico del Derecho Ambiental, Lexis Nexis, Buenos Aires, 2005, págs.38 y 313; Crosetti, Alessandro; Ferrara, Rosario; Fracchia, Fabrizio; Olivetti Rason, Nino: Diritto dell’ambiente, Laterza, Roma-Bari, 2002, pág. 46.

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3.º Los recursos hidráulicos, es decir las aguas en sus diversos estados:superficiales, subterráneas, nubes, lluvia, nieve;

4.º Flora silvestre;5.º Fauna silvestre;6.º El espacio aéreo; 7.º Lugares panorámicos o escénicos, que sirven para recreación y

turismo;8.º Energía, que puede ser hidráulica, eólica, mareomotriz, térmica y

nuclear.

Como se ve estos “recursos naturales” no se diferencian de los bienesque tutela el Derecho Ambiental. Sin embargo, mientras el Derecho de losRecursos Naturales profundiza los aspectos económicos, amparando a aquellosbienes debido a en que son considerados útiles para satisfacer necesidadescolectivas vinculadas con la propiedad y las transacciones comerciales, elDerecho Ambiental atiende a su preservación en el marco de un desarrollosostenible (también denominado “ecodesarrollo”), entendido como lacapacidad de extraer de la naturaleza lo necesario para mejorar la calidad devida de la actual población sin depredar el entorno inutilizándolo para lasgeneraciones futuras. Este último enfoque constituye la respuesta a un reclamoético: postergar el empleo puramente utilitarista de las riquezas de la Tierra ypropiciar el uso racional de los recursos, para obtener su goce intergeneracionalen términos de calidad de vida. De manera que no existe diferencia ontológicaentre los recursos naturales y los recursos ambientales, se trata siempre de losmismos elementos. Varía, en cambio, el criterio axiológico ya que ahora esosrecursos ya no son exclusivamente considerados con fines de apropiación oeconómicos sino que aparecen valorados en forma holística, como bienes deuso y disfrute, desde una óptica más o menos novedosa, “ecocéntrica” o“biocéntrica”.

Como ha ocurrido en el resto del Mundo el surgimiento del DerechoAmbiental argentino resultó coincidente, y naturalmente influenciado, por losresultados de la Primera Conferencia de las Naciones Unidas sobre el MedioHumano (Estocolmo, 1972). Las cuestiones ambientales cuya protecciónconstituía “un deseo urgente de los pueblos y un deber de los gobiernos”,según se declaró entonces, no son otras que aquellas que tres décadas más tardecontinúan afligiéndonos: concentración de la población urbana, con su secuelade ruidos enfermantes e insuficiencia de viviendas y servicios esenciales;

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desertificación y tala de bosques; contaminación del suelo, del aire y del agua;residuos domiciliarios, industriales y peligrosos; extinción de especiesvegetales y animales; deterioro del paisaje; pérdida de patrimonio histórico ycultural; etc. Un cambio significativo producido desde entonces – como ya seha dicho – ha sido el terminológico: los “recursos naturales” han devenido en“recursos ambientales” sumando a la enumeración primigenia de hondocontenido economicista las cuestiones del clima, la biodiversidad y laprotección del patrimonio histórico, artístico y cultural de profundo sentidohumanista.

En la República Argentina la pésima distribución de la riqueza entre loshabitantes se refleja en los asentamientos urbanos, haciendo que compartan elterritorio nacional imponentes áreas de riqueza (como los “countrys” y losbarrios cerrados) junto a oprobiosas muestras de pobreza (villas de emergenciay asentamientos precarios de todo tipo)2. Esa misma disparidadsocioeconómica impacta en el ambiente haciendo que – según la región – sepresenten tanto los males que aquejan a los países desarrollados(contaminación industrial, elevado nivel de ruidos, desechos nobiodegradables) como los padecimientos que soportan los estadossubdesarrollados (viviendas y transportes inadecuados, pésima atención de lasalud pública, ausencia o mala prestación de servicios esenciales comodesagües cloacales y provisión de agua potable).

Existen numerosas definiciones doctrinarias del Derecho Ambiental. Engeneral todas participan de notas comunes en tanto lo consideran un conjuntode principios y normas destinados a la protección y uso racional del medioambiente, incluyendo la prevención de daños y el objetivo de lograr elmantenimiento del equilibrio natural, cuya finalidad es resguardar los interesessobre bienes de uso y goce colectivos.3 Sus antecedentes inmediatos serelacionan con el Derecho de los Recursos Naturales, con el Derecho Agrarioy con el Derecho de Minería y Energía.

En cuanto a su naturaleza algunos autores entienden que estamos frentea una verdadera “rama” del Derecho y otros, en cambio, opinan que el Derecho

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2 El Principio 5.º de la Declaración de Río de Janeiro de 1992 sobre Medio Ambiente y desarrollo establece que “todos losEstados y todas las personas deberán cooperar en la tarea esencial de erradicar la pobreza como requisito indispensable deldesarrollo sostenible, a fin de reducir las disparidades en los niveles de vida y responder mejor a las necesidades de lamayoría de los pueblos del mundo”. En rigor de verdad, más de una década después, nada ha cambiado en la materia y, antesbien, la miseria y la desigualdad se han incrementado no solo en Argentina sino también en la totalidad de los países delllamado Tercer Mundo.

3 Cafferatta, Néstor: Introducción al Derecho Ambiental, Instituto Nacional de Ecología, México, 2004, pág. 19.

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Ambiental constituye una “especialización” jurídica que atraviesa transversal-mente a las ramas clásicas (Derecho Civil, Derecho Penal, DerechoAdministrativo, Derecho Laboral, etc.). Existe coincidencia en señalar queconstituye un sector de la ciencia jurídica “que estudia los recursos naturales,la economía, el ambiente y el obrar humanos, considerados comoestrechamente vinculados, interdependientes y ordenados de acuerdo a lasleyes de la naturaleza, los procesos económicos y las demandas sociales, conuna concepción holística, sistémica y transdisciplinaria, con el objeto dereglar las conductas y actividades individuales y colectivas de la comunidad,para la preservación, conservación, racionalidad, protección, explotación,industrialización, impulso y aprovechamiento sustentable de los mismos, asícomo para el mejoramiento de la calidad de vida del planeta”.4

Asimismo se destaca que el Derecho Ambiental se encuentra en unproceso de plena formación y también se reconoce que su desarrollo interesatanto a las relaciones de Derecho Privado (individual) como a lascomprendidas en el Derecho Público (colectivo), por ello cuando se enunciansus fuentes se comprenden tanto a las Constituciones Nacional y provincialescomo a los Códigos de Fondo y a las normativas específicas de cada recursoambiental en particular (suelo, aire, agua, energía, bosques, bienes culturales,paisajes, etc.).

Con algunas variantes terminológicas que no llegan a incidir en lossignificados se enuncian como caracteres propios del Derecho Ambiental lossiguientes: interdisciplinario; sistemático; supranacional; énfasis preventivo;rigurosa regulación científica; primacía de intereses colectivos; participaciónpública; coordinación de actuaciones; abordaje interdisciplinario.

2. LOS PRINCIPIOS GENERALES DEL DERECHO AMBIENTAL

Desde un punto de vista teórico se considera que los principios jurídicosson conceptos o nociones aportadas por conocimientos, actitudes y creenciascientíficas que constituyen las notas fundamentales de una disciplina. Losprincipios poseen una utilidad de tipo funcional: proveen soluciones para laredacción de las futuras normas positivas, colaboran con su interpretación y, encaso de ausencia de disposiciones concretas, actúan como fuente de derecho.

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4 Bellorio Clabot, Dino: Tratado de Derecho Ambiental, Edit. Ad-Hoc, Buenos Aires, 1997, t. I pág. 40.

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Los principios de nuestra materia resultan específicos en la medida en queposeen un objeto de estudio peculiar (el ambiente) y desde el momento en quereviste originalidad el tipo de relación jurídica que se genera entre las personasy el medio (objeto de tutela o bien jurídicamente protegido).

La Ley General del Ambiente nº 25.675 (publicada en el Boletín Oficialde la Nación el 28 de noviembre de 2002), en su artículo 5 dispone que lasautoridades, de cualquier naturaleza, integrarán en todas sus decisiones yactividades previsiones de carácter ambiental, cuidando de asegurar el respetode los principios que, bajo el título “Principios de la política ambiental”,enuncia en su artículo 4, de la manera siguiente:

La interpretación y aplicación de la presente ley, y de toda otranorma a través de la cual se ejecute la política ambiental, estaránsujetas al cumplimiento de los siguientes principios:

Principio de congruencia: La legislación provincial y municipalreferida a lo ambiental deberá ser adecuada a los principios ynormas fijadas en la presente ley; en caso de que así no fuere, estaprevalecerá sobre toda otra norma que se le oponga.

Principio de prevención: Las causas y las fuentes de losproblemas ambientales se atenderán en forma prioritaria eintegrada, tratando de prevenir los efectos negativos que sobre elambiente se pueden producir.

Principio precautorio: Cuando haya peligro de daño grave oirreversible la ausencia de información o certeza científica nodeberá utilizarse como razón para postergar la adopción demedidas eficaces, en función de los costos, para impedir ladegradación del medio ambiente.

Principio de equidad intergeneracional: Los responsables de laprotección ambiental deberán velar por el uso y goce apropiadodel ambiente por parte de las generaciones presentes y futuras.

Principio de progresividad: Los objetivos ambientales deberánser logrados en forma gradual, a través de metas interinas y

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finales, proyectadas en un cronograma temporal que facilite laadecuación correspondiente a las actividades relacionadas conesos objetivos.

Principio de responsabilidad: El generador de efectosdegradantes del ambiente, actuales o futuros, es responsable delos costos de las acciones preventivas y correctivas derecomposición, sin perjuicio de la vigencia de los sistemas deresponsabilidad ambiental que correspondan.

Principio de subsidiariedad: El Estado Nacional, a través de lasdistintas instancias de la Administración Pública, tiene laobligación de colaborar y, de ser necesario, participar en formacomplementaria en el accionar de los particulares en lapreservación y protección ambientales.

Principio de sustentabilidad: El desarrollo económico y social yel aprovechamiento de los recursos naturales deberán realizarsea través de una gestión apropiada del ambiente, de manera talque no comprometa las posibilidades de las generacionespresentes y futuras.

Principio de solidaridad: La Nación y los Estados provincialesserán responsables de la prevención y mitigación de los efectosambientales transfronterizos adversos de su propio accionar, asícomo de la minimización de los riesgos ambientales sobre lossistemas ecológicos compartidos.

Principio de cooperación: Los recursos naturales y los sistemasecológicos compartidos serán utilizados en forma equitativa yracional. El tratamiento y mitigación de las emergenciasambientales de efectos transfronterizos serán desarrollados enforma conjunta”.

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3. LAS RELACIONES INTERNACIONALES:

Luego del tema de la paz y de la cooperación entre las naciones ningúnasunto interesa más a la comunidad internacional como el relativo a lapreservación del medio ambiente. Ya en el año 1910, el médico y filósofoargentino José Ingenieros advirtió que, desde una perspectiva totalizadora,nuestro sistema solar no es otra cosa que un punto en el Universo y en élnuestro Planeta Tierra apenas un detalle donde todo lo que acontece en susuperficie no es más que un transitorio equilibrio químico,5 donde loscomponentes del ecosistema – fundamentalmente el agua y el aire – circulanen forma permanente sin reconocer fronteras de ninguna especie. La temáticadel Derecho Ambiental Internacional ha sido dividida en cuatro categorías: 1.º)Recursos ambientales de la humanidad (alta mar y su lecho); 2.º) Recursoscompartidos (cuencas hídricas, yacimientos no delimitados de gas y petróleo);3.º) Efectos extraterritoriales provocados por el uso de recursos nacionales y4.º) Alteraciones climáticas.6

Desde hace mucho tiempo – y más allá de haber sido signataria de laDeclaración de Estocolmo de 1972, de Río de Janeiro de 1992, de Kyoto de1997 y de otros instrumentos fundamentales de la comunidad internacional –la República Argentina ha celebrado numerosos tratados bilaterales ymultilaterales que, en forma directa o indirecta, poseen contenido ambiental. Atítulo de ejemplo pueden citarse los siguientes acuerdos: Caza de Ballenas(Washington, 1946), Protección de Bienes Culturales (La Haya, 1954),Protección de Bosques (Santiago de Chile, 1961), Prohibición de ArmasNucleares en América Latina y el Caribe (Tlatelco, México, 1967),Contaminación de Aguas Marítimas (Bruselas, 1969), Transporte Marítimo deMateriales Nucleares (Bruselas, 1971), Vertimiento de Desechos en el Mar(Londres, 1972), Prohibición de Armas Biológicas (Londres, 1972), Proteccióndel Patrimonio Mundial (París, 1972), Tratado del Río de La Plata(Montevideo, 1973), Uso de Energía Nuclear (Santiago de Chile, 1976),Protección Fitosanitaria (Roma, 1979), Protección de Especies Migratorias(Bonn, 1979), Aguas Continentales (Buenos Aires, 1980), Convención de N.U. sobre Derecho del Mar (Montego Bay, Jamaica, 1982), Protección de la

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5 Ingenieros, José: El hombre mediocre, Siglo Veinte, Buenos Aires, 1979, pág. 11.

6 Cano, Guillermo: Derecho, política y administración ambientales, Depalma, Buenos Aires, 1978, págs. 18, 85 y 318. Idem:Problemática jurídico política de los recursos naturales internacionales, La Ley 151-982.

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Capa de Ozono (Viena, 1985), Accidentes Nucleares (Viena, 1986), Transportede Residuos Peligrosos (Basilea, 1989), Contaminación por Hidrocarburos(Londres, 1990), Recursos Hídricos Compartidos (Buenos Aires, 1991),Cooperación en Materia Ambiental con Chile (Buenos Aires, 1991), SanidadAnimal (Viña del Mar, Chile, 1991), Protección Ambiental en la Antártida(Madrid, 1991), Transporte Fluvial (Las Leñas, Argentina, 1992), Convenciónde N. U. sobre Cambio Climático (Nueva York, 1992), Cambio Global(Montevideo, 1992), Diversidad Biológica (Río de Janeiro, 1992), Luchacontra la Desertificación (París, 1994), Cooperación en Materia Ambiental conBolivia (Buenos Aires, 1994), Seguridad Nuclear (Viena, 1994), Cooperaciónen Materia Ambiental con Brasil (Buenos Aires, 1996), (DesechosRadioactivos (Viena, 1997) y Acuerdo Marco sobre Medio Ambiente delMercosur (Asunción del Paraguay, 2001).

4. LOS ARTÍCULOS 41 Y 43 DE LA CONSTITUCIÓN NACIONAL:

Tal como aconteciera en Italia,7 la carencia de normas constitucionalesantes de la década de 1980 en las provincias y de 1990 en la Nación, no fueobstáculo para el desarrollo teórico y normativo del Derecho Ambiental.

Las primeras referencias ambientales de nivel constitucional aparecieronen las Cartas provinciales sancionadas una vez finalizado el período degobierno militar 1976-1983. Así las constituciones de La Rioja y San Juan de1986, establecieron el deber estatal de preservar el medio ambiente, mientrasla Constitución de Santiago del Estero, del mismo año, colocó a cargo de lasautoridades locales la “la protección del ecosistema” y del “equilibrioecológico”. Más tarde todas las provincias argentinas, al igual que la CiudadAutónoma de Buenos Aires, incorporaron disposiciones de este tipo a susnormas fundamentales.

En al ámbito Nacional cabe recordar que la Constitución de 1853, en suredacción originaria, no poseía disposiciones ambientales, aunque era posibleinferir normas tutitivas del entorno humano y de la calidad de vida de algunas

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7 Se considera, incluso, que la ausencia de una norma directa en la Constitución Italiana motivó una intensa actividadnormativa tendiente a llenar ese vacío, sin dejar de reconocer que el artículo 9 de aquella (protección a la cultura, al arte, ala investigación, al patrimonio histórico-cultural y al paisaje) proporcionó el fundamento constitucional de la tutela de lanaturaleza (Crosetti, Alessandro; Ferrara, Rosario; Fracchia, Fabrizio y Olivetti Rason, Nino: Diritto dell’ambiente, Laterza,Roma-Bari, 2002, págs. 45 y 46). También posee vinculación con nuestra materia el art. 32 de la Constitución Italiana de1948 al disponer que “la República tutela la salud como derecho fundamental del individuo y en interés de la colectividad...”.

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de sus normas y principios fundantes. Así por ejemplo, surge del Preámbuloque los representantes provinciales a la Asamblea Constituyente de 1853consolidaban la unión nacional con el objeto de “promover el bienestargeneral”, enumerándose entre las facultades del Poder Legislativo “proveer loconducente a la prosperidad del país, al adelanto y bienestar de lasprovincias”. El artículo 14 bis de la Constitución Nacional, incorporado en elaño 1957, asegura al trabajador “condiciones dignas y equitativas de labor”.En las “Primeras Jornadas Argentinas de Derecho y AdministraciónAmbientales (Buenos Aires, abril de 1974), se había recomendado que cuandola Constitución Nacional fuera reformada se agregara una norma indicando que“los habitantes, las autoridades públicas y las personas jurídicas, tienen eldeber de cumplir y de no omitir los actos conducentes a la preservación delentorno y la calidad de vida, o a la corrección del deterioro ya sufrido porestos”. Algún tiempo después, el “Primer Congreso Argentino del Ambiente”(Buenos Aires, agosto de 1981), recomendó “el reconocimiento expreso, anivel constitucional, de un derecho subjetivo a vivir en un medio ambientedigno”. Asimismo se había destacado la necesidad de incorporar normasambientales a la Constitución Nacional en el “Seminario Internacional sobreprotección jurisdiccional de intereses ambientales” (Mendoza, 1985) y en el“Dictamen Preliminar del Consejo para la Consolidación de la Democracia”(octubre de 1986).

Si bien no resulta imprescindible colocar el Derecho Ambiental en elnivel constitucional8 – o en todo caso se encuentra implícito en el elementalreconocimiento del derecho a la vida y a la salud propio de toda CartaFundamental, parece conveniente hacerlo para resaltar su trascendencia y paradotar de sustento a la legislación inferior.

En Argentina, finalmente, la reforma de agosto de 1994, introdujo lassiguientes normas que aportan el fundamento constitucional del DerechoAmbiental:

Artículo 41: Todos los habitantes gozan del derecho a unambiente sano, equilibrado, apto para el desarrollo humano ypara que las actividades productivas satisfagan las necesidadespresentes sin comprometer las de las generaciones futuras; tienen

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8 Italia aún no lo ha hecho y sin embargo ha sido pionera, con su Ley de 1986, en el tratamiento de un capítulo esencial denuestra materia como es la responsabilidad por daño ambiental. La Ley Constitucional de Francia nº 205 data de marzo de2005 aunque la doctrina y la jurisprudencia se ocupa del tema ambiental desde hace décadas.

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el deber de preservarlo. El daño ambiental generaráprioritariamente la obligación de recomponer, según loestablezca la ley. Las autoridades proveerán a la protección deeste derecho, a la utilización racional de los recursos naturales, ala preservación del patrimonio natural, cultural y de ladiversidad biológica, y a la información y educación ambientales.Corresponde a la Nación dictar las normas que contengan lospresupuestos mínimos de protección, y a las provincias, lasnecesarias para complementarlas, sin que aquéllas alteren lasjurisdicciones locales. Se prohíbe el ingreso al territorio nacionalde residuos actual o potencialmente peligrosos, y de losradioactivos.

Artículo 43: Toda persona puede interponer acción expedita yrápida de amparo... Podrán interponer esta acción... en lorelativo a los derechos que protegen al ambiente, así como a losderechos de incidencia colectiva en general, el afectado, eldefensor del pueblo y las asociaciones que propendan a esosfines, registradas conforme a la ley, la que determinará losrequisitos y formas de su organización.

El tratamiento puntual de los contenidos de los artículos 41 y 43 de laCarta Magna es tan variado como significativo y su breve glosa permiteexponer un panorama bastante completo del desarrollo del Derecho Ambientalargentino:

4.1 Derecho a un desarrollo sustentable o sostenible

La Constitución reconoce el derecho de todo habitante del territorioargentino para exigir que su salud y su calidad de vida no resulten agredidas ypara que se adopten las medidas administrativas y judiciales tendientes amantener un determinado nivel de equilibrio entre las necesidades deldesarrollo y el cuidado del entorno, posibilitando el tránsito desde la etapaagroganadera de la economía a un desarrollo industrial, iniciado a mediadosdel siglo pasado pero que registra un ritmo extremadamente lento. LaArgentina necesita urgentemente recuperar el nivel socio-económico que supo

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tener hasta mediados del siglo XX. Solo de esta manera podrá lograr la plenaocupación de sus recursos humanos, ya que el elevado índice de desempleo –que se mantiene en dos dígitos a pesar de los esfuerzos gubernamentales encontrario – genera pobreza extrema e impone el aprovechamiento de losimportantes recursos naturales que provee la agricultura, la ganadería, laminería y la extracción de hidrocarburos. Sin embargo todas las actividadescreadoras de puestos de trabajo y riqueza social, fundamentalmente lasindustriales y proveedoras de servicios, deben llevarse a cabo evitando elagotamiento de aquellos recursos.

De igual manera, la armonía entre la actividad humana y la naturalezaimpone el cuidado de las especies en peligro de extinción, la conservación dela biodiversidad, de los suelos y de los bosques. El derecho de todo ciudadanoa ver satisfechas sus necesidades presentes encuentra como límite la obligaciónde reconocer y garantizar ese mismo derecho a las generaciones futuras. Elprincipio constitucional del desarrollo sustentable condiciona la evolucióneconómica (la creación de bienes y servicios, necesarios y suntuarios) a laobtención del menor sacrificio posible del entorno. Aún cuando poseanapariencia de bienes eternamente renovables, el suelo, el aire y el agua sonfinitos y pueden agotarse definitivamente y, con ellos, la vida misma. Por esarazón, frente al casi inevitable daño ambiental, el principal deber de lahumanidad será “recomponer” el recurso ambiental afectado, es decir,restituirlo al nivel de calidad anterior y solamente en el caso en que ello no seaposible reemplazar la recomposición por una indemnización pecuniaria

La idea de abogar por un desarrollo sustentable, en el sentido depropiciar la evolución de la economía con un adecuado nivel de tolerancia porparte de los recursos ambientales ya aparece en la Declaración de Estocolmosobre el Medio Humano de 1972 (Principios 2.º, 8.º, 10.º y 13.º) y fue ratificaday potenciada veinte años más tarde en la Declaración de Río de Janeiro sobreMedio Ambiente y Desarrollo, al afirmarse en forma categórica que “elderecho al desarrollo debe ejercerse en forma tal que respondaequitativamente a las necesidades de desarrollo y ambientales de lasgeneraciones presentes y futuras” (Principio 3º), aclarándose que “a fin dealcanzar el desarrollo sostenible, la protección del medio ambiente deberáconstituir parte integrante del proceso de desarrollo y no podrá considerarseen forma aislada” (Principio 4.º). A su turno la Convención de las NacionesUnidas sobre Cambio Climático (Protocolo de Kyoto de 1997), dispone lareducción en la emisión de gases de efecto invernadero como una manera de

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evitar los cambios climáticos y promover el desarrollo sostenible de lasactividades agrícolas (art. 2). Finalmente cabe recordar que el Tratado de laConstitución de la Unión Europea (Roma, 2004) expresa que

en las políticas de la Unión se integrarán y garantizarán,conforme al principio de desarrollo sostenible, un nivel elevadode protección del medio ambiente y la mejora de su calidad (art.II, 97).

4.2 Deber de toda persona

El derecho de todos configura también el deber de todos. No se tolera nila acción ni la omisión que pueda degradar el ambiente. La obligación legal derealizar estudios de impacto ambiental cualquiera sea el tipo de actividad querealicen los particulares (industrial, comercial y de servicios) y la atribuciónestatal de otorgar (o negar) certificados de aptitud ambiental, apunta al controlde cumplimiento de este deber esencial.

4.3 Obligación de las autoridades

La protección del entorno constituye una obligación esencial del Estadonacional, provincial y municipal. Se ratifica así – constitucionalmente – laexistencia previa de una compleja organización ambiental (ministerios,secretarías de Estado, áreas comunales) con competencia específica eirrenunciable. Las autoridades deben organizar actividades de fomentotendientes a preservar el medio (exenciones impositivas, educación ambiental,créditos para inversiones en industrias “limpias”) y obtener la utilizaciónracional de los recursos naturales, la preservación del patrimonio natural ycultural y la diversidad biológica.

4.4 Poder de policía ambiental

La complejidad de la cuestión ambiental y la cada vez más insidiosaactividad del hombre hacen que el fomento estatal no sea suficiente. Paraimplementar un adecuado control de las actividades potencialmente perjudicialespara el entorno las normas nacionales, provinciales y municipales organizansistemas más o menos complejos de evaluación de impacto ambiental, conforme

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lo establecido en el Principio 17.º de la Declaración de Río de Janeiro,9 al igualque mecanismos de fiscalización y sanción de los infractores a las normas deprotección del entorno.10 Una condición previa y necesaria para llevar a cabo esalabor de fiscalización es contar con leyes que establezcan los niveles o estándaresde tolerancia de las actividades perjudiciales para el entorno y, debido al sistemafederal de gobierno que rige en la organización política argentina, establecer siserá el Congreso Nacional o las legislaturas locales quienes deberán dictar lapertinente legislación. Cabe recordar en este sentido que el poder de policíaambiental aparece compartido entre la Nación y las provincias, generandocomplejos problemas de distribución de competencias o, si se prefiere, deatribución de potestades. Como es de imaginar cada ámbito estatal reclama parasí más y mayores incumbencias.

En el tema que nos ocupa, por efecto del artículo 41 bajo examen,corresponde al Poder Legislativo Federal fijar los presupuestos mínimos deprotección, sancionando las pertinentes leyes-marcos que seráncomplementadas por las legislaturas locales. Debido a que la aplicaciónconcreta (procedimiento administrativo y proceso judicial) de todas las leyesnacionales corresponde a los gobiernos locales (con excepción de los asuntosen que sea parte el Estado Nacional) y al imprescindible resguardo de laefectividad de la gestión (como respuesta a la necesaria inmediación frente alos causantes del deterioro ambiental), en todos los casos la autoridad deaplicación será la organización administrativa ambiental provincial ymunicipal.

La señalada distribución de competencias entre el Estado Federal y losEstados locales aparece inspirada por el artículo 149.1.23 de la Constitucióndel Reino de España de 1978 (a su vez consecuencia de la aplicación delprincipio de subsidiariedad en la distribución de competencias entre la UE y lospaíses que la componen) donde se establece que el Estado Central español tienecompetencia exclusiva respecto de “la legislación básica sobre protección delmedio ambiente, sin perjuicio de las facultades de las comunidades autónomasde establecer normas adicionales de protección”.

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9 “Deberá emprenderse una evaluación del impacto ambiental, en calidad de instrumento nacional, respecto de cualquieractividad propuesta que probablemente haya de producir un impacto negativo considerable en el medio ambiente y que estésujeta a la decisión de una autoridad nacional competente”.

10 Las sanciones típicas el poder de policía ambiental, que podrán ser acumulativas, son las siguientes: apercibimiento, multa,clausura temporaria o definitiva del establecimiento, suspensión de la actividad, cancelación de la autorización parafuncionar.

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En el texto de la Constitución Argentina “legislación básica” ha sidoreemplazada por “presupuestos mínimos de protección”; “comunidadesautónomas” por “provincias” y “normas adicionales” por “normas necesariaspara complementarlas”

Ocho años después de efectuada la reforma constitucional, en medio deun debate doctrinario sobre el alcance a otorgar a la expresión “presupuestosmínimos de protección”, el Congreso Nacional intentó –sin éxito- cerrar ladisputa sancionando la Ley General del Ambiente nº 25.675 (2002), cuyoartículo 6 dispone:

Se entiende por presupuesto mínimo, establecido en el artículo 41de la Constitución Nacional, a toda norma que concede una tutelaambiental uniforme o común para todo el territorio nacional, ytiene por objeto imponer condiciones necesarias para asegurar laprotección ambiental. En su contenido, debe prever las condicionesnecesarias para garantizar la dinámica de los sistemas ecológicos,mantener su capacidad de carga y, en general, asegurar lapreservación ambiental y el desarrollo sustentable.

A pesar de la transcripta definición legal, la referencia a los“presupuestos mínimos de protección” de la Constitución Argentina, posee lasuficiente imprecisión como para generar dudas respecto de su alcance ensituaciones concretas, y sigue provocando conflictos de competencia entre lasautoridades federales y las provinciales ya que estas conservan para sí todas lasatribuciones que expresamente no hayan sido colocadas a cargo del GobiernoNacional por la propia Carta Magna.11 Así por ejemplo cabe preguntarse cuálserá la solución al latente conflicto entre la Ley Nacional 24.051 (1991) queconsiente y regula el tránsito interprovincial de residuos peligrosos (arts. 1, 4,23, 26 y 30) y el artículo 28 de la Constitución de la Provincia de Buenos Airesque, lisa y llanamente, prohíbe el ingreso al territorio bonaerense (así seatemporario o en tránsito) de ese tipo de desechos.

Sin perjuicio de estas situaciones precisas que deberá dilucidarpaulatinamente la jurisprudencia, parece claro que la expresión “presupuestosmínimos” aluden a un nivel de protección ambiental “de piso”, por debajo del

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11 Esta es una diferencia esencial con el sistema constitucional español donde el Estado Nacional se reserva para sí aquellasatribuciones que no hayan sido asignadas expresamente a las comunidades autónomas (art. 149.3).

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cual no le es dado ubicarse a las legislaciones locales que, en cambio, puedenregular condiciones (o estándares) de tutela ambiental más exigentes, sin entrarpor ello en colisión con la legislación federal.

4.5 Residuos peligrosos y radioactivos

La prohibición del ingreso a territorio argentino de residuos peligrosos yradioactivos, correlaciona con el convenio internacional de control demovimiento de residuos peligrosos suscripto en Basilea en 1986, donde sereconoce a todo Estado “el derecho soberano de prohibir la entrada o laeliminación de desechos peligrosos y de otros desechos ajenos en su territorio”.

5. REPARACIÓN DEL DAÑO AMBIENTAL

La responsabilidad de los particulares y del Estado por los perjuicios quese ocasionen al medio es uno de los aspectos más desarrollados del DerechoAmbiental argentino. De allí que lo tratemos con algún detenimiento.

5.1 Concepto de daño ambiental

Prácticamente todas las actividades humanas afectan en mayor o enmenor medida al ambiente natural ¿Cuando corresponde considerar queestamos frente a un supuesto de daño que pone en marcha la responsabilidaddel agente? El Principio n.º 6 de la “Declaración de Estocolmo de 1972 sobreMedio Humano”, reclama que se ponga fin a ciertas actividades nocivas “paraque no se causen daños graves irreparables a los ecosistemas”. La magnituddel daño deberá medirse en relación a las circunstancias de cada caso enparticular. El artículo 2618 del Código Civil argentino (reformado en 1968),claramente influenciado por el artículo 844 del Código Civil italiano,12

establece que “las molestias que ocasionen el humo, calor, olores,luminosidad, ruidos, vibraciones o daños similares por el ejercicio de

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12 Cód. Civil italiano, art. 844: “El propietario de un inmueble no puede impedir las emanaciones de humo o de calor, lasexhalaciones, los ruidos, las vibraciones o similares propagaciones derivadas del inmueble vecino, ss ii nnoo ssuuppeerraann llaannoorrmmaall ttoolleerraanncciiaa,, tteenniieennddoo aassiimmiissmmoo eenn ccuueennttaa llaass ccoonnddiicc iioonneess ddeell lluuggaarr”. Este artículo ha servido defundamento para los particulares que han reclamado indemnizaciones por daños ocasionados al ambiente y a sus propiosderechos subjetivos (Fracchia, Fabrizio: L’inquinamiento acústico, CEDAM, Milán, 2001, pág. 139).

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actividades en inmuebles vecinos, no deben exceder la normal toleranciateniendo en cuenta las condiciones del lugar y aunque mediare autorizaciónadministrativa”. Este criterio, instaurado para reglar las relaciones particularesente vecinos, trasladado al terreno del daño colectivo ambiental (daño público),ha hecho que solamente se admita que existe responsabilidad cuando elperjuicio a los recursos ambientales reviste una gravedad que excede loslímites o estandares considerados normales o tolerables. La cuestión remite auna delicada casuística y será el juez, en cada caso, quien deberá determinar lanormal tolerancia y el agravio excesivo. Nótese que el corte de un árbol –salvocircunstancias muy excepcionales- puede considerarse un acto humanoindiferente para el medio pero la tala clandestina de todo un bosque configura,sin duda, un daño ambiental indemnizable. Uno de los primeros amparosambientales prosperó para evitar la captura de unos pocos mamíferos marinosque habitaban en la enorme la plataforma continental del Atlántico Sur y pararesolver afirmativamente el pedido de un particular preocupado por lasituación el juez interviniente tuvo en cuenta que se trataba de una especieanimal en extinción.13

En esa dirección la Ley General del Ambiente nº 25.675 (2002) defineal daño ambiental “colectivo” o “público” (es decir aquel que excede el merointerés de una o más víctimas identificables) “como toda alteración relevanteque modifique negativamente al ambiente, sus recursos, el equilibrio de losecosistemas, o los bienes o valores colectivos” (art. 27). Por su parte la Ley deResiduos Industriales n.º 25.612 (2002) ratifica este enfoque cuando mandaque las plantas de tratamiento de ese tipo de desechos operen “bajo normas dehigiene y seguridad ambientales que no pongan en riesgo ni afecten la calidadde vida de la población, en forma significativa”(art. 29).

5.2 Factor de imputación

El Principio 13.º de la Declaración de Río sobre Medio Ambiente yDesarrollo (1992) establece que

los estados deberán desarrollar la legislación nacional relativa a laresponsabilidad y la indemnización respecto de las víctimas de la

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13 En el año 1983 la Justicia argentina revocó la autorización oficial otorgada a una empresa de acuarios japoneses para capturar14 delfines o toninas (Causa Kattan c/ Secretaría de Intereses Marítimos, Revista La Ley 1983-D-575).

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contaminación y otros daños ambientales. Los Estados deberáncooperar asimismo de manera expedita y más decidida en laelaboración de nuevas leyes internacionales sobre responsabilidade indemnización por los efectos adversos de los daños ambientalescausados por las actividades realizadas dentro de su jurisdicción,o bajo su control en zonas situadas fuera de su jurisdicción.

En el pasado la responsabilidad por daño ambiental en la Argentina seapoyaba en dos instituciones jurídicas propias del Derecho Civil: la teoría delriesgo creado por el mal uso o el vicio atribuible a una cosa14 y las molestiassufridas por las relaciones de vecindad, contempladas en el antes transcriptoartículo 2618 del Código Civil.15 En este último caso, cuando las molestiasexceden el nivel “normal” los jueces fijan una indemnización compensatoriadel agravio a la calidad de vida y, naturalmente, pueden ordenar el cese de laactividad dañosa. Actualmente se reconoce que la responsabilidad por dañoambiental posee una particularidad que la diferencia de la responsabilidad civilen su formulación primigenia: su carácter objetivo, ajeno a todo reproche deíndole subjetivo hacia el agente causante del perjuicio.16

El simple nexo causal entre la conducta del particular o del Estado y elperjuicio obliga a restituir el nivel de calidad ambiental y/o a indemnizar losperjuicios ocasionados, sin necesidad de acreditar dolo o negligencia. Resultan,en este sentido, “objetivamente” indemnizables los daños ocasionados porescapes de humos tóxicos, rotura de diques o embalses, derrames dehidrocarburos o sustancias contaminantes en cursos de agua, etc.17 El propio

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14 Código Civil, art. 1113: “La obligación del que ha causado un daño se extiende a los daños que causaren ... las cosas de quese sirve, o que tiene a su cuidado”.

15 Código Civil, art. 2618: “Las molestias que ocasionen el humo, calor, olores, luminosidad, ruidos, vibraciones o dañossimilares por el ejercicio de actividades en inmuebles vecinos, no deben exceder la normal tolerancia teniendo en cuenta lascondiciones del lugar y aunque mediare autorización administrativa para aquellas. Según las circunstancias del caso, losjueces pueden disponer la indemnización de los daños o la cesación de tales molestias. En la aplicación de esta disposiciónel juez debe contemporizar las exigencias de la producción y el respeto debido al uso regular de la propiedad; asimismo tendráen cuenta la prioridad en el uso. El juicio tramitará sumariamente”.

16 Se presenta así una diferencia sustancial con el régimen italiano, en tanto la Ley 349/86 di istituzione del Ministerodell’ambiente y norme in materia de danno ambientale establece la obligación de indemnizar los perjuicios ocasionados por“cualquier hecho doloso o culposo en violación de disposiciones legales o reglamentarias”, colocándose en el terreno de laresponsabilidad “subjetiva”.

17 Convención de Viena sobre Responsabilidad Civil por Daños Nucleares, art. IV, inc. 1.º Ley de la Nación Argentina n.º 24.051sobre Residuos Peligrosos, art. 45. Esta última norma lleva la responsabilidad objetiva al extremo de disponer que “el dueñoo guardián de un residuo peligroso no se exime de responsabilidad por demostrar la culpa de un tercero de quien no deberesponder, ccuuyyaa aacccciióónn ppuuddoo sseerr eevvii ttaaddaa ccoonn eell eemmpplleeoo ddeell ddeebbiiddoo ccuuiiddaaddoo yy aatteennddiieennddoo aa llaassccii rrccuunnssttaanncciiaass ddeell ccaassoo” (Art. 47).

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examen de la prueba tendiente a acreditar el nexo causal se ha vistoinfluenciado por el carácter tuitivo del Derecho Ambiental y las complejidadestécnicas de la materia, resolviéndose en ese sentido que, “verificado el dañoambiental por contaminación no puede discutirse que existe un daño a la saludindemnizable en los vecinos cercanos a la planta industrial de la empresacontaminante”.18

El precedente criterio jurisprudencial fue consagrado en el artículo 28 dela Ley 25.675:

El que cause el daño ambiental será objetivamente responsablede su restablecimiento al estado anterior a su producción. Encaso de que no sea técnicamente factible, la indemnizaciónsustitutiva que determine la justicia ordinaria intervinientedeberá depositarse en el Fondo de Compensación Ambiental quese crea por la presente, el cual será administrado por laautoridad de aplicación, sin perjuicio de otras acciones judicialesque pudieran corresponder.

Expresamente se aclara que

la exención de responsabilidad solo se producirá acreditandoque, a pesar de haberse adoptado todas las medidas destinadas aevitarlo y sin mediar culpa concurrente del responsable, losdaños se produjeron por culpa exclusiva de la víctima o de untercero por quien no debe responder (art. 29).

5.3 Legitimación judicial activa y pasiva. Acciones de restitución eindemnización:

La legitimatio ad causan no es otra cosa que la facultad de acudir ante losjueces y requerir el dictado de una sentencia favorable. La Suprema Corte deJusticia de la Provincia de Buenos Aires sostuvo que la legitimación vienedeterminada por la posición del actor respecto de la pretensión procesal.19

Conviene recordar en este punto que el artículo 41 de la Constitución Nacional

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18 Cámara Federal de La Plata, Sala I, Maceroni vs. Dirección Gral. de Fabricaciones Militares.

19 Pérez c/ Artola, 6.9.94, J.A. 1995-I-556.

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establece que “el daño ambiental generará prioritariamente la obligación derecomponer”20 y que el artículo 28 de la Ley 25.675 impone el“restablecimiento al estado anterior a su producción”. En lógico correlato suartículo 30 dispone que “producido el daño ambiental colectivo, tendránlegitimación para obtener la recomposición del ambiente dañado, el afectado,el Defensor del Pueblo y las asociaciones no gubernamentales de defensaambiental, conforme lo prevé el artículo 43 de la Constitución Nacional, y elEstado Nacional, provincial o municipal; asimismo quedará legitimado para laacción de recomposición o de indemnización pertinente, la personadirectamente damnificada por el hecho dañoso acaecido en su jurisdicción”(art. 30).

Aparecen así consideradas las dos acciones ambientales posibles (accióncolectiva de recomposición del entorno al estado anterior al hecho dañoso yacción individual de cobro de la indemnización de los daños y perjuiciossufridos por una o más personas) y su correlativo vinculo con la legitimaciónprocesal activa. Cuando el agravio ha sido inferido a la colectividad en suconjunto, supuesto en el cual se ha perjudicado al entorno globalmenteconsiderado (daño colectivo), podrá accionar cualquier persona (“el afectado”en la terminología del transcripto art. 30), el ombudsman y las asociacionesciviles ambientales, con el objeto de obtener la recomposición del mediodañado. Si la restauración del entorno no es posible se establece el monto delperjuicio y la suma resultante debe ser depositada por el responsable en elFondo de Compensación que será administrado por la repartición estatalcompetente. En cambio si mediante una conducta ambientalmente nociva se hadañado la salud, el patrimonio o la calidad de vida de una persona determinada(daño individual) aparecerá legitimada la víctima concreta del siniestro, quiendeberá demostrar cabalmente esa condición y percibirá la correspondienteindemnización dineraria.

Retornando al análisis de la expresión “afectado”, consideramos que lostérminos amplios de los artículos 41 y 43 de la Constitución Nacional permitenconcluir que todo daño ambiental afecta el derecho colectivo, social o difuso avivir en un medio equilibrado y sano del que goza toda persona. Frente a laagresión del entorno, consumada mediante la violación del deber de no

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20 Es también la solución de la reciente Ley Constitucional de Francia 2005-205, al establecer que “toda persona debecontribuir a la rreeppaarraacc iióónn de los daños que ella cause al ambiente, en las condiciones definidas por la ley” (art. 4)

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dañarlo, existe una facultad de reacción procesal que legitima a toda personapor el solo hecho de habitar en el territorio argentino.21 Ratifica este criterioamplio la previsión del art. 32 de la ley bajo análisis en tanto dispone que “elacceso a la jurisdicción por cuestiones ambientales no admitirá restriccionesde ningún tipo o especie”.

Respecto del sujeto legitimado para percibir la indemnización en loscasos de daños colectivos no susceptibles de reparación en especie o restituciónde la calidad ambiental dañada, en circunstancias muy precisas, tal comoacontece en Italia,22 la jurisprudencia argentina había considerado acreedor a unente estatal, por considerar que son las personas públicas ideales quienes, alrepresentar el interés de la sociedad en su conjunto, deben percibir lacorrespondiente indemnización para invertirla en la atención de asuntos deinterés general. Actualmente –como se verá seguidamente- cuando no existeuna víctima concreta e identificable del siniestro, descartada la posibilidad derestitución del entorno al estado primigenio, los jueces establecen unaindemnización pecuniaria que debe ser depositada en el Fondo deCompensación Ambiental reglado por la Ley 25.675.

5.4 Efectos de la sentencia

La parte final del art. 33 de la Ley 25.675 establece que “la sentenciahará cosa juzgada y tendrá efecto erga omnes, a excepción de que la acciónsea rechazada, aunque sea parcialmente, por cuestiones probatorias”.

De manera que si la demanda no prospera debido a que el actor no halogrado probar algunos de los extremos fácticos vinculados con la procedenciade la responsabilidad por el daño ambiental, el proceso podrá ser reiniciado. Encambio si la demanda por daño colectivo es acogida, en cuyo caso el juezsiempre deberá decretar el cese de la actividad dañosa, los efectos de esteaspecto de la sentencia –como es lógico- no se limitan a las partes actora ydemanda sino que se proyectan sobre los terceros.

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21 Ratificamos así nuestro criterio amplio en materia de legitimación que ya expusieramos en Botassi Carlos: DerechoAdministrativo Ambiental, Edit. Platense, La Plata, 1997, pág. 111.

22 Carlesi, Francesca: La prevenzione e la riparazione del danno ambientale como oggetto di funcione amministrativa: riflessionialla luce della Direttiva 2004/35/CE, comunicazione al Convegno “L’ambiente e l’attività amministrativa”, Teramo, 29-30 aprile2005, AIDU-Università di Teramo.

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5.5 Seguro Ambiental y Fondo de Restauración:

De acuerdo a lo establecido en el artículo 22 de la Ley 25.675,

toda persona física o jurídica, pública o privada, que realiceactividades riesgosas para el ambiente, los ecosistemas y suselementos constitutivos, deberá contratar un seguro de coberturacon entidad suficiente para garantizar el financiamiento de larecomposición del daño que en su tipo pudiere producir;asimismo, según el caso y las posibilidades, podrá integrar unfondo de restauración ambiental que posibilite la instrumentaciónde acciones de reparación.

5.6 Fondo de Compensación Ambiental:

La Ley bajo análisis dispone la creación de un Fondo de Compensaciónambiental, “que será administrado por la autoridad competente de cadajurisdicción y estará destinado a garantizar la calidad ambiental, laprevención y mitigación de efectos nocivos o peligrosos sobre el ambiente, laatención de emergencias ambientales; asimismo, a la protección,preservación, conservación o compensación de los sistemas ecológicos y elambiente” (art. 34).

Como antes se dijo, en este Fondo se depositan las indemnizaciones porlos daños y perjuicios irrogados al ambiente en general sin que exista unavíctima identificable (art. 28).

6 LEGISLACIÓN AMBIENTAL

No existe en la Argentina un Código del Ambiente, entendiendo por tal aun cuerpo normativo que acumule la totalidad o el mayor número posible dedisposiciones vigentes sobre una materia dada. Están vigentes, empero, unacantidad muy significativa de disposiciones de nivel nacional, provincial ymunicipal e importantes “leyes-marcos” que enuncian los principios generalesde la materia y establecen criterios rectores para la legislación específica queaborda el tratamiento de cada uno de los recursos ambientales en particular.

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También resulta frecuente la presencia de disposiciones claramente ambientalesen leyes destinadas a la regulación de los recursos naturales, como es el caso delos códigos rurales provinciales o el Código de Minería de la Nación.

Las principales leyes ambientales sancionadas por el Congreso Nacionalson las siguientes:

Ley 24.051 (1991) de generación, transporte y tratamiento de residuospeligrosos. Fue reglamentada por el Decreto del Poder Ejecutivo n.º 831/1993.

Decreto del Poder Ejecutivo nº 999/1992. Marco regulatorio para laprestación de los servicios de provisión de agua potable y desagües cloacales.

Ley 25.612 (2002) de gestión integral de residuos industriales.Ley 25.670 (2002) de eliminación del uso de policlorobifenilos (PCBs).Ley 25.675 (2002). Ley General del Ambiente. Determina el bien

jurídicamente protegido, los principios de la política ambiental, el concepto de“presupuesto mínimo”, los métodos de evaluación del impacto ambiental, laresponsabilidad por daño ambiental, la competencia judicial en la materia, laeducación e información ambientales, el Seguro Ambiental, el Fondo deRestauración y el Fondo de Compensación Ambiental. Está considerada lanorma reglamentaria por excelencia del artículo 41 de la ConstituciónNacional.

7 PROTECCIÓN ADMINISTRATIVA Y JUDICIAL DEL MEDIOAMBIENTE

Como hemos visto, tanto la Constitución Nacional, como lasconstituciones provinciales y las leyes en general, reconocen el derecho detodo ciudadano a vivir en un medio apto para el desarrollo humano y consagrancorrelativamente el deber del Estado de proteger ese derecho. Con estafinalidad existen variados medios a los cuales puede ocurrir cualquier personareclamando en sede administrativa o demandando en la instancia judicial paraobtener el dictado de un acto administrativo o de una sentencia en defensa delmedio ambiente.

Cualquier habitante puede impugnar ante la autoridad administrativacompetente la calidad de un proyecto de obra, servicio o actividad en general,denunciando que se trata de un emprendimiento perjudicial para el entorno.Para que este control social resulte efectivo las oficinas estatales deben hacerpúblicos los listados de los estudios de impacto ambiental presentados para su

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evaluación23 y eventual aprobación. Cuando la autoridad ambiental loconsidere oportuno convocará a una audiencia pública a fin de discutir entreempresarios y ciudadanos el impacto ambiental del proyecto. El organismocompetente no podrá expedirse avalando la obra o actividad hasta tantoproporcione una respuesta fundada a las objeciones recibidas.

En cuanto respecta a los emprendimientos en marcha, diversas oficinasestatales llevan a cabo diligencias de inspección y vigilancia para verificar elacatamiento a las normas ambientales. Las infracciones son calificadas comomuy leves, leves, graves y muy graves y, según su magnitud, desembocan enla aplicación de sanciones cada vez más severas: apercibimiento, multas,suspensión total o parcial de la concesión, licencia o autorización oficialmenteotorgada, caducidad de la misma, clausura temporaria o definitiva, parcial ototal, del establecimiento.24

Sin necesidad de acudir previamente a la vía administrativa – excepto enel caso en que se impugne la legalidad de un acto administrativo deautorización para funcionar o el certificado de aptitud ambiental otorgado poruna autoridad pública- cualquier persona puede demandar judicialmente y enforma directa el cese de una conducta nociva para el entorno. El denominado“proceso ambiental federal”, que se desarrolla ante los jueces federales concompetencia civil ya que no existe un fuero especializado y que emplea comobase del trámite el Código Procesal Civil y Comercial de la Nación modificadopor algunas pocas disposiciones procesales de la Ley General del Ambiente n.º25.675 (art. 7 sobre competencia judicial; art. 32 sobre acceso a la jurisdiccióny facultades del juez), es considerado un proceso “de derecho público” en lamedida en que apunte a la recomposición de un recurso ambiental y no al cobrode una indemnización por parte de un particular.25

Hace algunos años los jueces aplicaban un criterio restrictivo en materiade legitimación y, salvo honrosas excepciones, exigían la presencia de underecho subjetivo vulnerado en cabeza del accionante. Más tarde, consolidada

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23 Ley de la Prov. de Buenos Aires 11.723, arts. 10, 11, 16 y 17.

24 Ley de la Prov. de Buenos Aires 11.723, arts. 69 y 70.

25 Se trata de una nota trascendente ya que el carácter “público” del proceso impone al juez dotarlo de celeridad, le permite porsu propia iniciativa ordenar medidas cautelares urgentes inaudita parte y veda la declaración de la caducidad de instancia porinactividad de la parte actora (Cámara Federal de La Plata, Sala II, Di Dio Cardalana, Edgardo c/ Aguas Argentinas S.A.” “ElDerecho Ambiental” del 25.7.05, pág. 1, con comentario crítico de Bec, R. Eugenia y Franco, Horacio J.). Las facultadesinstructorias del juez en los procesos ambientales se explican porque no se trata de un juez “desinteresado” sino de un juez“parte, porque le interesa que el agua que bebe siga siendo fresca, cristalina, pura; porque le interesa que el aire que respiramantenga esa condición” (Pigretti, Eduardo A.: Derecho Ambiental Profundizado, La Ley, Buenos Aires, 2003, pág. 10).

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la idea de que el mantenimiento de un ambiente sano constituye un derechocolectivo o de incidencia colectiva o difuso (compartido entre todos loshabitantes), se consolidó paulatinamente un criterio amplio en materia delegitimación, admitiéndose la promoción de demandas por parte de personasque no invocaban un agravio personal diferente al que resulta de su condiciónde habitantes que consideran que la calidad del entorno está siendo agredidapor la acción u omisión de terceros o del propio Estado.

SÍNTESIS FINAL

Todo lo hasta aquí expuesto permite arribar a algunas conclusionesfinales respecto de la situación del Derecho Ambiental en la Argentina en losprimeros años del Siglo XXI:

Soporte normativo e institucional

La materia ambiental posee intenso desarrollo constitucional y legal,tanto en el ámbito federal como en el plano provincial. Asimismo existenministerios, secretarias de Estado, tratados internacionales e interprovinciales,normas comunitarias, atribuciones comunales y una serie de herramientasnormativas de aplicación que permiten reconocer la presencia de una“organización ambiental” compleja.

Cuestiones de competencia

Las constantes dificultades existentes antes de 1994 para distribuir lacompetencia legislativa entre el Estado Nacional y las provincias haencontrado un comienzo de solución atribuyendo al primero la potestad de fijarlos “presupuestos mínimos de protección” y a las segundas la facultad de dictarleyes complementarias en sus respectivos distritos.

Poder de policía ambiental

Apoyados en la variada normativa vigente, los numerosos organismosadministrativos ambientales de todo tipo y nivel tienen a su cargo el ejerciciodel “poder de policía ambiental”. Sin embargo la contaminación de los

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recursos ambientales (sobre todo el agua y el aire), el empleo de sustanciascancerígenas como aceites refrigeradores de transformadores eléctricos, elnivel de ruido urbano, la deforestación y tala de bosques siguen presentes en lavida cotidiana. Un párrafo especial merece el tema de la pobreza extrema, sinduda el agravio principal a un mínimo nivel de calidad de vida que conmuevea la población y compromete a las autoridades.

Es evidente que ha faltado “eficacia”, en el sentido de existencia decorrelato entre el derecho positivo y la realidad. Si bien no es posible afirmarque estemos ante un mero “derecho simbólico”, y es mucho lo que se haavanzado hacia el mejoramiento de la situación global, no es menos cierto quela cuestión ambiental está muy lejos de ser resuelta en plenitud.

Principios ambientales

La Ley General del Ambiente n.º 25.675 enuncia y define los siguientes:congruencia, prevención, precautorio, equidad intergeneracional,progresividad, responsabilidad, subsidiariedad, sustentabilidad, solidaridad ycooperación.

Daño ambiental

La responsabilidad es de tipo objetivo y genera, prioritariamente, laobligación de recomponer el perjuicio causado. El daño colectivo cuenta conun régimen de legitimación amplio, aunque se discute si comprende a cualquierhabitante o solamente a quien logre demostrar algún tipo de interés directo oinmediato en el asunto.

Control judicial

Ante la falta de respuesta de la organización administrativa ambiental seacude cada vez más a los jueces en demanda de un mayor control de laactividad privada ambientalmente crítica y de limitación de la discrecionalidadtécnica en la valoración administrativa de los hechos. El ensanche de lalegitimación y de las facultades de los jueces, unido a los efectos erga omnesde las sentencias ambientales, reserva al Poder Judicial un rol esencial ennuestra materia.

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MODERNIDADE: NASCIMENTO DOSUJEITO E SUBJETIVIDADE JURÍDICA

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Resumo: O artigo “Modernidade: Nascimentodo Sujeito e Subjetividade Jurídica” procurademonstrar que a trajetória do pensamentomoderno buscou nos seus primórdios aafirmação e emancipação da humanidade apartir da Razão. Nesse sentido, alçou o Sujeitoà condição de centro indubitável da reflexãofilosófica, da política, da cultura e do Direito.

Palavras-chaves: Modernidade, Sujeito, Sub-jetividade Jurídica, Razão, Individualismo,Universalismo, Racionalismo Moderno,Niilismo, Autonomia.

Abstract: The article “Modernity: Birth of theSubject and Legal Subjectivity” aims todemonstrate that the trajectory of the modernthought looked for the affirmation andemancipation of humanity from Reason in itsorigin. In this sense, it raised the Subject to thecondition of doubtless center of the philosophicalreflection, of politics, of culture and of Law.

Key-words: Modernity, Subject, Legal Sub-jectivity, Reason, Individualism, Univer-salism, Modern Rationalism, Nihilism,Autonomy.

* Mestra e Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialista em Direito Político pela UNISINOS-RS. Profa. de “Introdução ao Estudo do Direito” na IES – da Grande Florianópolis. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direito da UNIPLAC-SC.

Maria de Fátima S. Wolkmer*

Sumário: Introdução; 1. Modernidade e Nascimento do Sujeito; 2. A Questão do Direito naModernidade; Conclusão.

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INTRODUÇÃO

A subjetividade é o tema central da Modernidade. Nela, a subjetividadeexpressa valores, como a liberdade e igualdade. Nesse sentido, foi a afirmaçãode que o homem é o que ele faz desprendido das crenças e culturas tradicionais.O Direito, nesse âmbito, decorre das exigências da razão humana. O quadro dareflexão jurídica altera-se de uma visão da necessidade de produzir uma ordemigual ao cosmos – como em Aristóteles ou Platão, onde o critério do justoestabelecia uma ordem hierárquica com cada um ocupando um lugar pré-determinado e desigual – para uma visão onde a igualdade é o critério do justo.A partir das teorias do Contrato Social, a lei passa a fundar-se sobre a vontadedos homens, forjando-se, com este regime da autonomia, as bases para umanova normatividade ética, jurídica e política que caracterizaria a Modernidade.Assim, no presente texto serão traçadas algumas linhas desse pensamento.

1. MODERNIDADE E NASCIMENTO DO SUJEITO

Um olhar histórico sobre a Modernidade envia-nos ao projeto sócio-cultural que emergiu na Europa, a partir do século XVII, que provocoumudanças nos diversos setores da vida social, tendo como objetivo principal aafirmação e a emancipação da humanidade.

Como assinala Fonseca,1 a construção filosófica da Modernidade tinhacomo pressuposto que todos os homens possuíam uma estrutura passional euma razão uniforme, e que, apesar de todas as variações espaço-temporais,tornava possível a afirmação como regras gerais das descobertas, tanto darazão teórica como da razão prática.

A existência, desde então, seria conduzida a partir da razão, com oconseqüente desencantamento do mundo, ou seja, a ciência substitui Deus e aModernidade transfere as crenças religiosas para a vida privada. Nesse sentido,escreve Sérgio Rouanet, o racionalismo “implicava a fé na razão, em suacapacidade de fundar uma ordem racional, e na ciência, como instânciahabilitada a sacudir o jogo do obscurantismo e a transformar a natureza parasatisfazer as necessidades materiais dos homens”.2 Assim, emancipar,

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1 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 79.

2 ROUANET, Sérgio. Mal-estar na modernidade. p. 97, 120 e ss.

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significava, por um lado, libertar a consciência tutelada pelo mito e, por outro,usar a ciência, para tornar mais eficazes as instituições econômicas, sociais epolíticas, no intuito de aumentar a liberdade do homem.

Todo o percurso do pensamento moderno está assentado numpensamento filosófico que tem na subjetividade a sua principal identificação.A subjetividade passa, então, a ser a referência:

da política, da sociedade, do conhecimento e também do direito.A organização do poder, a forma de encarar a sociedade, o modode fundamentar as reflexões e a forma de regulamentar a vidasocial, tudo isso terá como referência mediata ou imediata (deacordo com as diversas fases históricas particulares) a figura dosujeito. Poderá se privilegiar nestes âmbitos um sujeito tomadode uma maneira monádica e egoística (como nas concepçõesmais radicais do liberalismo) ou poderá se enquadrar o sujeitonum modo coletivista e social (como, no limite, o fizeram certasleituras do socialismo). Mas, no processo de formação damodernidade, será progressivamente o sujeito a referência básicada análise e o substrato do sistema político, social, científico ejurídico. A modernidade é, por excelência, a época dasubjetividade.3

A subjetividade expressa-se através de algumas abstrações que lhe sãofundamentais e que, de acordo com Rouanet, podem ser consideradas asseguintes características: universalidade, autonomia e individualidade.4

Pela universalidade, o ser humano é visto independentemente dosprivilégios que o Ancien Regime compreendia como inerentes a certos grupossociais, sendo considerado sem barreiras nacionais, étnicas ou culturais. É umavisão anti-hierárquica, com valores universais que trazem consigo uma forçapermanente de liberação dos preconceitos e das vinculações comunitárias eopõem-nos às sociedades que se encerram, voluntária e totalmente, na procurade suas diferenças, nos seus particularismos que os condena à cegueira e àparalisia.5

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3 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 79.

4 Cf. ROUANET, Sérgio. Mal-estar na modernidade. p. 9 e 14.

5 Cf. TOURAINE, Alain. Crítica na modernidade. p. 335.

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O status que define o lugar que o indivíduo ocupava na sociedade foisubstituído pelo contrato, como alicerce jurídico da sociedade.

A universalidade quer significar, num primeiro momento, que a naturezahumana não se define dentro das fronteiras nacionais, condenando todos osnacionalismos e outros particularismos, considerados como provincianos. Nodizer de Fonseca,

para o Iluminismo há o reconhecimento do princípio liberal daauto-determinação dos povos e o repúdio a todas as formas deimperialismos. Aceita a idéia de que entre a enorme variedadedas culturas humanas existe uma uniformidade fundamental, aunidade da natureza humana – e, tendo-se que todas as formas dehierarquias (como aquelas das sociedades tradicionais) sãorejeitadas por serem arbitrárias, todas as pessoas devem sertratadas como iguais.6

O individualismo é a afirmação do indivíduo enquanto princípio e valor,e é mediante essa afirmação que todo aparato cultural, intelectual e filosóficoda Modernidade pode caracterizar-se e comandar um novo imaginário.

A idéia de modernidade, foi especialmente, a afirmação de que o homemé fruto da sua vontade, devendo existir uma correspondência cada vez maiorentre a produção, “tornada mais eficaz pela ciência, pela tecnologia ou pelaadministração, e a organização da sociedade, regulada pela lei e a vida pessoal,animada pelo interesse, mas também pela vontade de se liberar de todas asopressões.”7

O individualismo constitui um elemento essencial da subjetividademoderna, e um dos aspectos mais libertadores da modernidade. Vale dizer:

o indivíduo, em determinado momento histórico, emerge de suacomunidade, de sua cultura e de sua religião para ser tomado emsi mesmo, a partir de suas exigências próprias e seus direitosintransferíveis a felicidade e a auto-realização. Nas palavras deRouanet, o Iluminismo ‘questiona sistematicamente o estatutoimposto a cada um pelas circunstâncias do seu nascimento’ e o

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6 FONSECA. Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 81.

7 BEDIN, Gilmar. Os direitos do homem... p. 25.

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seu ideal ‘é o da auto-formação, da Bildung Individual, o quepressupõe a apropriação da cultura pré-existente, mas pressupõetambém a possibilidade de romper modelos e normas destacultura’, precisamente a partir do indivíduo. Em suma, o sujeitoé tomado em sua singular existência, como dotado das mesmasprerrogativas que seus pares (tomados como seus iguais).8

Por fim, a autonomia tem, na leitura de Rouanet, dois sentidos diversos:a liberdade (que se refere aos direitos de cada um) e a capacidade (que dizrespeito ao poder efetivo de exercer os direitos). O conceito de autonomiacinde-se, também, em várias dimensões específicas: a autonomia intelectualque deve fazer com que as pessoas adquiram sua maioridade cultural e recusemtoda a forma de tutela. A razão deve ser o guia (o único guia) nodesvendamento do mundo, devendo ser recusadas todas as crenças e opiniõesque não sejam rigorosamente guiadas por ela. Autonomia intelectual significarejeitar as trevas em prol da luz da razão, a qual, além de tirar os homens doobscurantismo e da ignorância, também pode guiá-los em direção a umaemancipação nas esferas da vida social e política. Daí, vem a segundadimensão de autonomia: a autonomia política, que significa a superação detoda forma de despotismo, na valorização da liberdade civil (entendida como acapacidade de o homem agir no espaço privado sem interferência ilegítima) eda liberdade política (entendida como a capacidade de o homem agir no espaçopúblico). Há, finalmente, a autonomia econômica para poder produzir,consumir e fazer circular bens e serviços.9

Em seus trabalhos de antropologia comparada, Louis Dumont insistiu,com rigor, que as sociedades tradicionais, independentemente de se tratarem desociedades primitivas ou sociedades medievais, são caracterizadas pelaheteronomia. É necessário ressaltar que, nessas sociedades, a tradição deve seracatada pelo indivíduo mesmo contra sua vontade. “É-lhe imposta de fora, sobforma de transcendência radical à qual os homens obedecem como às leis danatureza.” Isso faz com que a existência das pessoas esteja subordinada àtradição.10

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8 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 81-82.

9 Cf. ROUANET, Sergio Paulo. Mal-estar na modernidade. p. 11.

10 Cf. RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 28.

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Por oposição, a dinâmica moderna será, ao contrário, a da erosãoprogressiva desses conteúdos tradicionais, minados aos poucos pela idéia deauto-instituição, que a Revolução fará aflorar com particular vigor. Herdadadas teorias do contrato social, seu princípio consiste em fundar a lei sobre avontade dos homens, subtraindo-a, tanto quanto possível, à autoridade dastradições.11

O indivíduo, na Modernidade, afirma-se enquanto valor e princípio:

enquanto valor, à medida que, na lógica da igualdade, um homemvale tanto quanto outro, fazendo com que a universalização dodireito de voto seja a tradução política mais completa de talvalor;

enquanto princípio, à medida que, na lógica da liberdade, ape-nas o homem pode ser por si mesmo, a fonte de suas normas eleis, fazendo com que, contra a heteronomia da tradição, anormatividade ética, jurídica e política dos modernos se filia aoregime da autonomia.12

Esse processo redimensionou as relações interpessoais da cultura,criando novos sistemas de representação, um novo imaginário social,estabelecendo, na dimensão político-jurídica, a mediação do direito entre oindivíduo e o Estado, e, na dimensão econômica, a dissolução das antigasformas produtivas do feudalismo, com o surgimento de uma nova classe social:a burguesia.

Com a diferenciação das esferas de valor, cada dimensão vai adquirindouma racionalidade, uma lógica própria, à medida que a nova visão de mundovai se emancipando da visão tradicional. Como aponta Rouanet, aracionalização cultural envolve a dessacralização das visões tradicionais e adiferenciação em esferas de valores, até então embutidas na religião: a ciência,a moral, o direito e a arte.13

De acordo com Luiz Bicca, “é possível afirmar que somente quando aliberdade consegue se firmar como pressuposto filosófico, em bases sólidas

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11 Cf. RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 30.

12 Idem.

13 ROUANET, Sérgio P. O mal-estar na modernidade. p. 121.

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não-naturalistas, como critério ou ponto de vista fundamental para se pensar asubjetividade”,14 pode a auto-conservação humana ser analisada comoprincípio da ação independente de seus aspectos naturais fixos.15

A história da apreensão da investigação filosófica, diz Bicca, na qual seinsere a filosofia moderna de modo geral (a epistemologia ou teoria doconhecimento), está dividida entre racionalismo e empirismo. De forma breve,“é possível descrever a vertente empirista por meio da tese de que a origemfundamental de todo conhecimento localiza-se na observação” enquanto, aocontrário, “insistiam os racionalistas encontrar-se tal origem nos atos deapreensão do puro intelecto, as idéias claras e distintas. Para o racionalismomoderno (...) encontrar a verdade é algo que depende de um apelo à razão.”16

Com o racionalismo, confiava-se que a razão humana, poderia elaborarpor si mesma, ou melhor, a partir de si mesma, explicações suficientes.

Como salienta Bicca,

O racionalismo é assim, desde seus primórdios, (...), uma posturaintelectual otimista: em seu centro está a crença de que a verdadeé evidente, de que ela se revela – se não espontaneamente, aomenos por nosso intermédio (...). O conceito central naperspectiva do racionalismo é o da consciência de si, jásecundário, por sua natureza e significado intelectualizante, naótica do empirismo.17

A questão, conforme o autor, é que enquanto “os empiristas privilegiama objetivação do EU”, os racionalistas claramente ressaltam a subjetivação doEu, “fazendo da autoconsciência, como a certeza de si ou saber imediato de si,o fundamento de todos os saberes, a base da consciência, ou seja, do sabersobre algum outro, sobre as coisas, e sobre o mundo em geral.”18

Segundo Tugendhat, na história da filosofia da consciência, pode-sedistinguir três momentos:

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14 Cf. BICCA, Luiz. Racionalidade moderna e subjetividade. p. 179.

15 Idem.

16 BICCA, Luiz. Racionalidade moderna e subjetividade. p. 146.

17 BICCA, Luiz. Racionalidade moderna e subjetividade. p. 152-155.

18 Cf. BICCA, Luiz. Racionalidade moderna e subjetividade. p. 155.

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primeiramente, a etapa do cartesianismo, início histórico daguinada da ontologia para uma reflexão em torno da consciência,por meio da primazia que passa a ser concedida ao problema dafundamentação e da comprovação no conhecimento – que éconcebido sempre, como conhecimento de cada indivíduo.Comprovar é neutralizar qualquer dúvida, estabelecendo, assim,a certeza. Duvidar, bem como, ter certeza, remete ao próprioindivíduo. Assim, uma primeira definição de consciência é osaber indubitável do indivíduo de que ele se encontra numa sériede estados: sentir, desejar, querer etc. Consciência é um domíniointerior, ao qual o indivíduo tem acesso imediato.19

a etapa seguinte, a kantiana, é aquela na qual o problema doacesso afeta as próprias questões ontológicas, ao contrário daetapa cartesiana, que teria deixada intocada a ontologia em simesma.20

A análise ontológica dá lugar a uma reflexão da possibilidade daexperiência e do problema da constituição de algo como objeto.A reflexão sobre a consciência promove um alargamento dodomínio temático sobre a ontologia pré-moderna. Kant chamaatenção para modalidades de consciência que não podem sercompreendidas como consciência do objeto – por exemplo, aconsciência de mundo, isto é, da totalidade do que se podeexperimentar que, enquanto tal, não é um objeto. Em Kant, todaexperiência encerraria sempre uma referência ao mundo ou, ditode outro modo, o mundo está sempre pressuposto. Ademais, paraKant, é uma modalidade não objetiva (ou não-reificável) deconsciência que constitui a consciência de objetos.21

a terceira e última fase, a heideggeriana (Ser e Tempo), “émarcada pelo abandono do termo ‘consciência’ em favor daqueleoutro de ‘abertura’ (...) no qual ‘mundo’, que permanece um

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19 In: BICCA, Luiz. Racionalidade moderna e subjetividade. p. 189.

20 In: BICCA, Luiz. Racionalidade moderna e subjetividade. p. 189-190.

21 In: BICCA, Luiz. Racionalidade moderna e subjetividade. p. 190.

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pressuposto (...), não é um substituto para a totalidade de objetose sim a totalidade de um contexto de sentido no qual um homemse compreende.”22

Reconhece-se em René Descartes (1596-1650) o fundador dasubjetividade e do racionalismo moderno. Devido a sua distinção entre corpoe alma, e, tomando-a como pressuposto, Descartes elaborou a certeza docogito. Na sua concepção, o lugar do “eu penso” é o do sujeito que é, sendoindependente do “eu sou”. Descartes foi o filósofo que ultrapassou “oparadigma do ser em direção ao paradigma da consciência, ou seja, é aqueleque substitui a busca do fundamento da filosofia num substrato material (comoos gregos) ou teológico (como os teólogos medievais) para situá-la na própriaconsciência do homem: a partir de agora, é a razão que passa a ser o ponto departida para o filosofar e o guia para desvelar o mundo.”23

Partindo da premissa de que é necessário colocar tudo em dúvidametodicamente, escrevem Strauss e Cropsey que,

Descartes coloca em cheque toda a tradição cultural, todos ossaberes que foram transmitidos, como também todas as crençasque são adquiridas pelos sentidos: é necessário duvidar de tudopara a partir daí reconstruir, pela razão, o caminho que leva àscertezas. Descartes hiperboliza as dúvidas, pois o único caminhoseguro para superá-las é enfrentando-as e atravessando-as(jamais evitando-as). É somente à medida que todas as idéias sãocolocadas em dúvida – até mesmo aquelas mais claras, que oespírito considera em princípio evidentes – é que ela permiteextrair um núcleo de certeza, que cresce à medida que ele seradicaliza.24

Descartes se opõe à finalidade do pensamento filosófico que oprecedera, pois sua abordagem abandona as especulações, em favor doconhecimento útil. Para o autor, só um método rigoroso pode superar opredomínio da paixão diante da razão, à medida que “os prejuízos causados por

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22 BICCA, Luiz. Racionalidade moderna e subjetividade. p. 190.

23 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 64.

24 STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 403-404.

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nossos apetites ou paixões, desde a infância, governam nossas percepçõessensoriais e não podem ser corrigidos por um tipo de razão que, serve a ditaspaixões.” Sendo assim, todo pensamento filosófico, que o precedeu, que tinhacomo ponto de partida a percepção sensorial estava eivado de erros, pois nãodispunha de um método. “O método pode sanar os defeitos naturais ou asdesproporções da natureza do homem, tomando como modelo a matemática,que, sendo exata, não deve nada aos sentidos nem ao corpo.”25

Assim, a primeira regra do método será o abandono de todas asopiniões que não são claras e distintas ou a mudança daquelas opiniões poucoconfiáveis que são os fundamentos de nossa própria vida.26

Nesse sentido, a dúvida é o procedimento elaborado por Descartes pararelativizar nossa confiança nos sentidos e nas imagens que deles provêm, queformam aquilo que chama “os ensinamentos da natureza” e que ele considerauma atitude natural.27

Descartes foi atingido pela profunda dúvida que se seguiu aodeslocamento de Deus do centro do universo, mas colocou-o como o impul-sionador, o primeiro movimento de toda criação; daí em diante, ele explicou oresto do mundo inteiramente em termos mecânicos e matemáticos.28

Para isso, Descartes centrou-se em duas substâncias distintas:

a substância espacial (matéria) e a substância pensante (mente).Ele focalizou, assim, aquele grande dualismo entre a ‘mente’ e a‘matéria’ que tem afligido a Filosofia desde então. As coisasdevem ser explicadas, ele acreditava, por uma redução aos seuselementos essenciais à quantidade mínima de elementos e, emúltima análise, aos seus elementos irredutíveis. No centro da‘mente’, ele colocou o sujeito individual, constituído por suacapacidade para raciocinar e pensar ‘cogito ergo sum’ que era apalavra de ordem de Descartes: penso, logo existo. Desde então,esta concepção do sujeito racional, pensante e consciente,situado no centro do conhecimento, tem sido conhecida como osujeito cartesiano.29

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25 STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 403-404.

26 Cf. STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 404.

27 Cf. STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 408.

28 Cf. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. p. 26-27.

29 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. p. 27.

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Como escreve Ricardo Fonseca, o autor, através do “penso, logo existo”e da “dúvida metódica”, chega a um “ponto fixo”, inquestionável, ou seja, “aconsciência que duvida e, por conseqüência, que pensa, é o limite; por outrolado, esta consciência, enquanto ser pensante localizado, à medida que pensa(e duvida) não pode ter sua existência colocada em dúvida.”30

Para Descartes, de acordo com Ricardo Fonseca, todo o resto pode sercolocado em dúvida, menos a existência do pensamento que duvida. “Emoutras palavras, se eu duvido, eu mesmo, enquanto pensamento, me afirmoenquanto tal no próprio exercício da dúvida.” Se a dúvida existe, “então opensamento, do qual a dúvida é uma modalidade, existe, e eu mesmo, queduvido, logo penso, existo necessariamente, ao menos como ser pensante.”31

Sendo assim, pode-se dizer que ao identificar-se o núcleo irredutível doconhecimento (a dúvida metódica), que Descartes menciona nas suasMeditações “atinge-se a certeza do pensamento da dúvida e, portanto, daexistência do pensamento. Se duvido, penso; se penso, existo.”32 Constrói-se,então, o pensamento e, conseqüentemente, a noção de consciência, como pontode partida básico da busca da verdade. Ainda, na assertiva de Fonseca,

O homem não encontra mais em si a verdade divina, masdescobre a auto-evidência da verdade. Não existem mais formasou essências transcendentes iluminando o mundo sensível e oprocesso de conhecimento, já que a verdade não se dá no céu dasidéias inteligíveis mas na imanência do pensamento. E é adescoberta deste eu pensante em sua interioridade reflexiva quese constitui no princípio inaugural da filosofia moderna.33

Assim, com Descartes, inicia-se uma filosofia que brota da razão e naqual a consciência de si é o momento fundante da verdade. Certamente, comDescartes inaugura-se “a cultura dos tempos modernos, o pensamento damoderna filosofia. Nesse novo período, o princípio geral que regula e governatudo no mundo é o pensamento que parte de si próprio.” Esse ponto de partida,“que é para si, essa cúpula mais pura da interioridade se afirma e se fortifica

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30 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 66-68.

31 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 65-66.

32 Cf. FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 66.

33 Idem.

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como tal, relegando para o segundo plano e rechaçando como ilegítima aexterioridade morta da autoridade.”34

A virada dada por Descartes, como se pode notar, é decisiva em todacultura ocidental, e inaugura um novo modo de pensar que definirá oargumento filosófico, a partir de então. Pode-se dizer, de um modo geral, quetoda a reflexão jusnaturalista e contratualista, de certo modo, parte dospressupostos do cartesianismo. A filosofia da Modernidade, enquanto filosofiada razão e da consciência, tem o seu ponto de inflexão precisamente nessaconcepção de subjetividade, é definida a partir dos seus fundamentos.

No segundo momento, a profunda reflexão de Kant, por sua vez,manifesta-se, sobretudo, através de suas três obras fundamentais: A Crítica daRazão Pura, A Crítica da Razão Prática e a Crítica do Juízo.35

Kant, em sua Crítica da Razão Pura, admite que o conhecimentocomeça com a experiência, porém, nem todo conhecimento procede daexperiência. É necessário perguntar-se, pois, como é possível a experiência,quer dizer, encontrar a possibilidade de toda experiência. Nesse sentido, osjuízos a priori seriam as formulações independentes da experiência; os juízosa posteriori são os derivados da experiência.36

Kant lança, assim, o tema que irá transformar a filosofia e a estrutura depensamento da era moderna: a existência dos juízos sintéticos a priori, que nãoderivam de nenhuma experiência e que seriam idéias puras ou categorias purasdo conhecimento.37

Na sua filosofia transcendental, a investigação ocupa-se menos dosobjetos, preocupando-se com o modo de os conhecer. E, “é aqui (no problemade como conhecer o mundo), que ele opera uma verdadeira ‘revoluçãocoperniana’ na filosofia, moldando a idéia da subjetividade cognitiva.” Dessemodo, se Copérnico reformulou o paradigma do cosmo tradicional, “segundoo qual o Sol girava em torno da Terra, Kant aduziu que não é o sujeito que seorienta pelo objeto, mas é o objeto que é determinado pelo sujeito, ou dito deoutro modo, ao invés de a faculdade de conhecer ser regulada pelo objeto, é,na verdade, o objeto que é regulado pela faculdade de conhecer.”38

Como bem assinala Fonseca, para Kant, a filosofia,

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34 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 67.

35 Cf. CALDERA, Alejandro S. El doble rostro de la post modernidad. p. 29.

36 CALDERA, Alejandro S. El doble rostro de la post modernidad. p. 30.

37 Idem.

38 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 69.

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deveria se ocupar com os princípios, (...) a priori que seriamresponsáveis pelas sínteses dos dados empíricos. Tais princípios,por sua vez, demonstram que todo conhecimento é constituído porsínteses de dados ordenados pela intuição sensível espaço-temporal, mediante as categorias apriorísticas do entendimento.São rejeitadas as noções de intuição intelectual (existentes nametafísica tradicional), já que a intuição é sempre sensível, é omodo como os objetos se apresentam a nós no espaço e no tempo,é a condição de possibilidades para que sejam objetos. Assim, oque conhecemos não é o real ou a ‘coisa em si’, mas sempre o realem relação com o sujeito do conhecimento.39

Kant considera que há uma identidade entre a natureza de nossasensibilidade e a das sensações que emanam do mundo real. Portanto, trata-sede um processo de complementação de um mesmo elemento radicado nomundo real e no ser sensível.40 No entanto, ele salienta que “aquilo que captaos nossos sentidos não é o mundo físico senão suas emanações. Kant denominasensações as emanações do mundo físico.” Essas são captadas pela nossasensibilidade à medida que ambas são da mesma natureza. As sensações queKant identifica “como emanações da natureza realizam uma dupla função: porum lado, entram em contato com nossos sentidos que as captam e, por outro,recobrem o mundo físico de tal forma que fica impossível ao ser humano entrarem comunicação com ele.”41

De acordo com essa formulação de Kant, nós só somos capazes deconhecer o fenômeno, porém não a substância. A ciência, portanto, éfenomênica.42

Kant não vê a possibilidade de conhecermos a substância ou a realidadedo mundo físico por meio da ciência, porém, não nega que tal substânciaexista.43

A razão que contém “os juízos sintéticos a priori realiza uma duplafunção: por um lado, organiza harmonizando as sensações de sons e de corese, por outro, deduz os conceitos universais, como causa, ordem, uniformidade,

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39 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 69-70.

40 Cf. CALDERA, Alejandro. El doble rostro de la postmodernidad. p. 32.

41 Idem.

42 Cf. CALDERA, Alejandro. El doble rostro de la postmodernidad. p. 32.

43 Idem.

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substância, que permitem fundar a ciência sobre a base de leis, relação decasualidade etc.”44

De acordo com Caldera,

Quanto à primeira função de ordenamento sensorial, a razão sóconhece o que pode ordenar e organizar e, só é capaz de ordenaro que pode conhecer. Neste caso, a organização em conceitos dassensações que foram captadas pelos nossos sentidos equivalemao ato cognitivo devido a que existe uma mesma natureza dassensações do mundo físico, do sentido e da razão.

Quanto à segunda função, que consiste em supor a existência dasubstância sob as sensações, a razão as realiza mediante os juízossintéticos a priori que radicam em nosso eu, porém não no eusubjetivo, porém, no eu especial que Kant denomina de eutranscendental.45

Como descreve, ainda, Caldera,

os juízos sintéticos a priori, não provêm da experiência, sãouniversais, têm uma necessidade em si mesmo, existem em nossarazão e mais exatamente em nosso eu transcendental, permitemencadear logicamente os conceitos, estabelecer as relações decausalidade, generalizar as proposições, formular leis, ampliar oconceitos ao integrar o predicado no sujeito e, em conseqüência,fazem possível a existência da ciência. Diferentemente das idéiasempíricas que se apoiam na experiência, existem idéias puras quenão derivam de nenhuma experiência e por isso mesmo sãonecessárias e universais.46

Como a razão teórica inscreve-se “no campo do conhecimento (dando-se a resposta à pergunta: ‘como é possível conhecer?’), é necessário avançar ebuscar a dimensão prática da razão, que determina o seu objeto mediante a

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44 CALDERA, Alejandro. El doble rostro de la postmodernidad. p. 33.

45 Idem.

46 CALDERA, Alejandro. El doble rostro de la postmodernidad. p. 34.

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ação. Passa-se, pois à tentativa de responder à indagação: o que devo fazer?Será na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785) e na Crítica daRazão Prática (1788) que Kant enfrentará a questão, na busca de respostas.”47

Na esfera da razão prática, conserva-se a crença em Deus, liberdade eimortalidade. Essas idéias formulam-se como postulados da razão prática e,portanto, estão inseridas na existência humana, pois, “é a razão no seu usomoral. Uma das noções centrais de tal crítica é a da boa vontade. Kant elaboraa crítica da chamada ética dos bens, pois esta não pode proporcionar normas deação absoluta.” Assim, delimita como morais, “os atos que fundamentam-se naboa vontade sem restrições. Por isso, nas divisões dos imperativos morais emhipotéticos e categóricos, só a estes últimos compete a moralidade absoluta.”48

Por outro lado, a vontade humana é o campo dos valores morais, isto é,o valor moral relaciona-se unicamente com a vontade humana, ou seja, aradicalização do bem na boa vontade. É de fato com Kant que a autonomiadefine-se como essência da subjetividade. Como assinala Fonseca,

cabe destacar a centralidade de noção de autonomia de vontadena elaboração desta fundamentação para a ação. A autonomiadeve ser entendida como a faculdade de dar leis a si mesmo – e avontade moral será por isso vontade autônoma por excelência. Épor isso que, (...), a ação é o terreno da liberdade – e esta está porsua vez calcada na vontade autônoma. O imperativo categóricoafirma a autonomia da vontade como o único princípio de todasas leis morais e essa autonomia consiste na independência emrelação a toda matéria da lei e na determinação do livre arbítriomediante a simples forma legislativa universal de que umamáxima deve ser capaz.49

No entanto, o conceito de liberdade em Kant deve ser entendido comoobediência a uma lei autoprescrita.

Por outro lado, para Kant, precisamente por ser a pessoa humana ocentro dos valores morais, ela é um fim em si mesma. A partir da apreciação decada homem ser um fim com valor absoluto, surge o reino dos fins. “Isto é

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47 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 70.

48 Cf. MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. p. 1843.

49 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição... p. 71-72.

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possível, porque todos os homens estão sujeitos à lei de que cada um devetratar-se a si mesmo e tratar todos os outros, nunca como simples meio, massempre, ao mesmo tempo, como fim em si mesmo.” Trata-se, no entanto, deum critério formal, pois de acordo com o imperativo categórico, “toda açãoexige a antecipação de um fim, isto é, o ser humano deve agir como se este fimfosse realizável. Não se estabelece o que deve ou não se deve fazer, mas tão-somente um critério instrumental e procedimental para a ação. Trata-se,portanto, de um critério formal, e não material de conduta (como os critériosreligiosos, por exemplo, o são).”50

Por último, na contemporaneidade, cabe resgatar Martin Heidegger,como o primeiro filósofo que, desde Platão e Aristóteles, considerouprioritariamente a questão do Ser. A mais profunda importância de seupensamento brota de sua preocupação com o niilismo que tem um significadometafísico e (um significado) moral.

Heidegger enfrenta a questão do Ser em sua obra “Ser e Tempo”.Preocupou-se, nessa obra, em “tematizar a significação do Ser (Sein), medianteuma análise do Ser humano (Dasein) em função da sua temporalidade,chegando a um entendimento do Ser e do Tempo, examinando como se unemo homem e o ser histórico.”51

Para Strauss e Cropsey, a questão do Ser em Heidegger “é a fonte e ofundamento de todas as ontologias e os ordenamentos dos seres e, portanto, detodo entendimento humano.” Ao afastar essa questão, o homem perde a fontede seu próprio conhecimento e “a capacidade de questionar de maneira maisradical, que é essencial para o pensamento autêntico e, por sua vez, para aliberdade autêntica.”52

Para Heidegger, dizem-nos Strauss e Cropsey, o homem “se reduz a essabesta calculadora, preocupada tão-só com sua sobrevivência e prazer, um‘último homem’, na terminologia de Nietzche, para quem a beleza, a sabedoriae a grandeza não são mais que palavras.”53

Para enfrentar esse niilismo, segundo Heidegger, é necessário, apontamos autores, superar o esquecimento do Ser. Nesse contexto, a questão do Serfica de lado, porque este é tido como evidente, “como o mais universal porém

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50 GIALDI, Silvestre. Ética. Uma reflaxão da filosofia moral. p. 35.

51 Cf. STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 836.

52 Cf. STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 836.

53 Idem, ibidem.

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o mais vazio de todos os conceitos.” Isso, de acordo com Heidegger, deve-se auma atribuição errada ao Ser de uma essência independente do Tempo, ou seja,“é resultado de uma interpretação errônea da relação do Ser e do Tempo.” Naverdade, desde Platão,

(...) o Ser tem sido interpretado em oposição às coisas reais, oucomo aquilo que está além do tempo e que não muda. Emoposição ao âmbito imutável do Ser, as coisas reais existem noâmbito do devenir, ou do Tempo. No entanto, o que se tornouevidente nos tempos modernos é que esta distinção, que seencontra no núcleo das categorias de nosso conhecimento, nosimpede de captar adequadamente nossa realidade históricaconcreta, o que Heidegger chama a facticidade da existênciahumana.54

Isso significa que não há natureza humana. O homem primeiro existe edepois se define. Nesse sentido, o homem é o “único ente que tem seu próprioSer como pergunta, quer dizer, o homem é o único ente que se preocupa peloque significa Ser, acerca do seu futuro, de suas possibilidades de Ser.”55

Para Heidegger, o homem é o que ele próprio se faz, isto é, como ele sedeseja após o impulso da existência. O homem é um projeto concebidosubjetivamente,56 ou seja, “o homem, na sua opinião, não tem um fimdeterminado. Seu fim, e portanto seu futuro, sempre será uma incógnita paraele. Nesse sentido, o homem é o único ente em verdade histórico, dedicado aplanejar e forjar o próprio futuro. Heidegger crê que o homem pode servircomo entrada na questão do Ser mesmo”57, e a considera a partir dacompreensão do Ser humano no que tange às estruturas básicas da existênciahumana, “mostrando não o que é o homem senão como existe, como é noTempo e através do Tempo.” Sua análise existencial nasce do cotidiano, dodeslocamento da questão do ser e da verdade para o âmbito da finitude.58

Heidegger inicia

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54 Idem, ibidem.

55 STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 837.

56 HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos filosóficos. Os Pensadores. p. 10.

57 STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 837.

58 HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos filosóficos. Os Pensadores. p. 207.

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com uma análise da existência cotidiana, enfocando o fato de queo homem, sempre se encontra enquadrado num mundo que secaracteriza por uma particular ontologia e ordem das coisas. Ohomem como Ser humano é, assim, o que Heidegger, chama ‘Ser-no-mundo’. Por conseguinte, o homem se encontra para as coisase com os outros, quer dizer, dentro de uma estrutura particularque determina as relações entre todas as coisas, que define seuspropósitos e, portanto, suas atividades, determinando como é ohomem e tudo o mais.59

Na maioria das vezes, o homem é absorvido pela ordem prevalecente,aceitando as coisas como são, sem questionar a existência. No entanto, essasituação é alterada quando a existência humana é confrontada com a questãoda morte. À medida que o “Ser questiona o futuro, preocupando-se com o quevai ocorrer, o homem inevitavelmente encontra a questão da morte. Heideggerdescobre a possibilidade de compreender autenticamente a morte no fenômenoda angústia”, sobretudo quando a consciência é interpelada pelaspossibilidades futuras do Ser. “Esta experiência da morte na angústia, libera ohomem da ordem prevalecente do Ser. É o reconhecimento da finitude donosso próprio Ser, e abre a possibilidade para a experiência da questão dopróprio Ser.”60

Segundo Heidegger, diz-nos Ferry, a Modernidade caracteriza-se pelasubjetividade. Se Deus não existe, o homem está condenado a ser livre.Condenado, porque não determinou sua existência e, no entanto, livre, porque,uma vez no mundo, é responsável por tudo o que fizer.

Isso significa que

o homem é que serve como medida e fundamento de toda verdade.Assim, a Modernidade também é a esfera da liberdade, pois, opredomínio da subjetividade libera o homem da estruturateocêntrica da sociedade cristã tradicional e o estabelece consigomesmo. A fonte desse novo conceito é a interpretação dada porDescartes ao homem como consciência de si mesmo, queestabelece sua absoluta independência como medida de todas as

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59 FERRY, Luc. Filosofia política II. p. 77.

60 FERRY, Luc. Filosofia política II. p. 78.

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coisas. Daí em diante, só conta aquilo que pode passar diante dotribunal da consciência, quer dizer, só o que pode ser percebido eavaliado.61

Por outro lado, como advertem Strauss e Cropsey, para Heidegger, aoperder seu lugar fixo, que a tradição ou a religião lhe davam, o homemmoderno é lançado na alienação e, portanto, na busca da segurança. O homemdiante de si, na Modernidade, passa a ser confrontado com a natureza que nãolhe fornece mais orientações pré-determinadas para o agir. Assim,

a natureza já não oferece os delineamentos para a ação humana,agora é uma ordem incerta, e portanto perigosa, que o homemdeve dominar. Está submetido, no nível intelectual, pela ciênciamoderna, que desenvolve um quadro ou modelo matemático domundo, reduzindo, assim, o mundo à categoria predizível e, porisso, controlável. Heidegger chama de objetivação a esteprocesso.62

Esse aspecto é essencial, à medida que define o conflito fundamental daModernidade, relativizando outros, tais como, os decorrentes “da paixão, daparcialidade humana, da vontade de poder, do antagonismo de classe oudisputas pela natureza da justiça.”63 O conflito determinante, na Modernidade,segundo Heidegger, e como observam os autores Strauss e Cropsey seria:

o resultado de tentar conseguir a liberdade humana no mundonatural por meio da tecnologia. Por conseguinte, o conflitotambém é inevitável, já que, o que significa ser ‘ser humano’ nomundo Moderno é medir, dominar e domesticar a natureza, querdizer, ser tecnológico. Heidegger segue esse desenvolvimento apartir de Descartes, passando por Leibniz, Kant, Hegel, Schellinge Nietzsche, indo até a tecnologia universal do século XX. É ahistória do crescente niilismo do pensamento moderno na viagemdo homem como sujeito, desde a autoconsciência cartesiana até a

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61 Idem, ibidem.

62 Cf. STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 841-842.

63 Cf. STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 844.

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vontade de poder nietzscheano, na qual se encontra o miolo datecnologia mundial.64

Seria a história de degeneração do homem que culminou na formação dohomem massa. O desfecho da Modernidade, para Heidegger, dá-se com o totalesquecimento do Ser e na desumanização do homem convertido em peça de umaparato tecnológico que tem como objetivo o seu próprio desenvolvimento.65

Desse modo, Heidegger volta-se “contra a tradição da Ilustração pararevelar o caráter sombrio da modernidade. Porém, não chama nossa atenção emrelação a este niilismo para provocar desespero ou repugnância, senão porqueacredita vislumbrar na sua profundidade a luz inicial de uma nova revelação doSer.”66

Evidenciar isso é demonstrar a ligação implícita que existe entre o Ser eo nada. “O niilismo pode ser interpretado como a afirmação de que não há umsó fundamento para os entes e, portanto, não há uma norma ou ordemimutável.” 67 O fundamento deve apresentar-se como algo separado do ente, oque pode ser traduzido como o Ser em seu sentido primordial, ou seja, comocaos ou abismo.

Ainda que o homem não possa, de acordo com Heidegger, superar oniilismo, está aberta a possibilidade de construir um novo projeto queestabeleça as condições de apreensão de uma nova revelação.

Sendo assim, o projeto de Heidegger, que é essa preparação, inclui:

1. libertar o homem de todas as categorias e normas metafísicas,mediante uma reinterpretação destrutiva fundamental da história dopensamento ocidental;

2. fomentar uma autêntica experiência do niilismo contemporâneo,chamando o homem para confrontar-se com o absurdo e a morte;

3. convencer o homem para que aceite seu destino particular dentro dodestino de seu povo ou sua geração, que se manifestou-se narevelação do Ser.68

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64 Idem, ibidem.

65 Idem, ibidem.

66 Idem, ibidem.

67 Cf. STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 867.

68 Cf. STRAUSS, Leo; CROPSEY, Joseph. História de la filosofía política. p. 868.

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Apesar de tudo, concluem Strauss e Cropsey, Heidegger não podegarantir que, com o seu projeto, ao induzir o Ser às circunstâncias mencio-nadas, este se revelará em sua essência existencial, promovendo, a partir daforça que essa revelação implica, a formação do pensamento autêntico.69

2. A QUESTÃO DO DIREITO NA MODERNIDADE

Na Modernidade, a subjetividade jurídica será o reconhecimento dosdireitos naturais do indivíduo, entendidos como poderes ou liberdades queexpressam condições para o pleno desenvolvimento de cada um e de todasociedade. Assim, “reconhecer que o homem tem direitos naturais para opinarlivremente, expressar seu pensamento etc., equivale a reconhecer-lhe um certonúmero de poderes que poderá eventualmente fazer valer contra o podermesmo, e sem os quais não seria um ser humano, quer dizer, um sujeito emoposição aos objetos.”70 Com a afirmação do indivíduo, como já vimos,valoriza-se o homem independente de religião e de raça, a partir de suadignidade que passa a ser o fundamento e centro do mundo e, também, fontedos valores que o Direito deverá reconhecer.

Para a doutrina do Direito natural racional, as leis seriam válidas à luzda razão e de normas intemporalmente válidas, anteriores à lei positiva eindependentes dela.71

Na época moderna, o fundamento na natureza ou em Deus, éabandonado e substituído pela natureza do homem. Quando sefala no direito natural moderno (ou jusracionalismo) fala-setambém num direito que se assenta na natural razão humana eseus atributos (...) seu traço distintivo (...) é que, agora, o direitoestá ligado ao indivíduo, à qualidade específica do homem,tornando-se a emanação deste, a expressão de suaspossibilidades inalienáveis e eternas. O fundamento do direito,portanto, aparece, como sendo outro: o homem a suaracionalidade.72

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69 Idem, ibidem.

70 RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 47.

71 ROUANET, Sergio. O mal-estar na modernidade. p. 128.

72 FONSECA, Ricardo M. Do sujeito de direito à sujeição jurídica... p. 53-54.

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Como Boaventura de S. Santos muito bem acentua, o direito naturalracional parte da idéia de fundação de uma nova boa ordem, segundo a lei danatureza, a qual se atinge através do exercício da razão e da observação. É umaracionalidade secular e, como tal, assenta-se numa ética social secular que seemancipou da teologia moral. Essas novas condições propiciam à novaracionalidade um caráter universal e universalmente aplicável.73

A partir da visão racionalizadora do pensamento ilustrado, com oprocesso de secularização e a crescente diferenciação das esferas de valor, oDireito, distintamente das formas pré-modernas e pré-capitalistas dominadaspela legitimidade carismática ou tradicional, buscará sua legitimidade noEstado Moderno, marcado pela despersonalização do poder e pela racionali-zação dos procedimentos normativos.74

As hipóteses jusnaturalistas relacionadas à origem da sociedade tinhamuma função, no essencial, de crítica acerca dos conceitos tradicionais daautoridade. Se esses conceitos tiveram um alcance revolucionário, é porquetinham como objetivo minar os fundamentos das grandes teorias do poderpolítico que estiveram em vigor durante o Antigo Regime. Nesse sentido,instauraram um verdadeiro corte nas teorias tradicionais da soberania queestabeleciam a origem da autoridade política, tanto em Deus como no poderpaterno. Essas teorias, como se sabe, fundaram a legitimidade do poder numainstância que se supunha transcendente em relação à subjeti-vidade – anatureza, no caso do poder paterno, e a divindade, no caso das doutrinas doDireito divino. Os teóricos do Direito natural, quando afirmam o caráterpuramente convencional do poder legítimo, introduzem, ao contrário, a idéiade que o fundamento verdadeiro (quer dizer, justo) da autoridade somente podeencontrar-se na livre vontade do povo.75

O ambiente filosófico-político que permitiu o florescimento das idéiasjusnaturalistas, reuniu duas condições essenciais.

A primeira, como aponta Renaut, seria o deslocamento do homem parao centro do universo sendo considerado o único sujeito de direito. Nessesentido, natureza

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73 Cf, SANTOS, Boaventura de S. Crítica da razão indolente. p. 124.

74 Cf. WOLKMER, Antonio C. Pluralismo jurídico. p. 48.

75 RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 54 e ss.

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no pensamento moderno assume o estatuto de objeto jurídicosempre com referência ao homem. O surgimento da subjetividadejurídica (dos ‘direitos subjetivos’), cuja origem cristã se reconhe-cerá sem dúvida, mas cujo alcance político ocorre com a escolajusnaturalista, tem em Hobbes a ruptura com o aristotelismo e odireito passa a ser considerado definitivamente como atributo doindivíduo.76

Com as teorias de contrato social e do estado de natureza, vinculam-seas noções de legitimidade e de subjetividade: “só é legítima a autoridade que éou foi, objeto de um contrato por parte dos sujeitos que, de alguma maneira lheestão submetidos. A subjetividade (adesão voluntária) fica assim estabelecidacomo origem ideal de toda legitimidade, efetuando-se o enlace entre a idéia dosdireitos subjetivos (fundados por e para os sujeitos) e as condições de seuscimentos políticos.”77 Nesse contexto, a referência a Rousseau é obrigatóriapara que se possa compreender, segundo Renaut, “essa primeira possibilidadedos direitos do homem, porque o Contrato Social, e particularmente, a teoriada vontade geral são, seguramente, os que levam a concluir a reflexão políticajusnaturalista, elucidando as condições, a partir das quais pode o povo serconsiderado soberano, quer dizer, como sujeito verdadeiro (autor) de todalegitimidade política.”78

A segunda condição, para Renaut, traz a questão da relação Sociedade-Estado. Procura enfocar a contraposição dos direitos-liberdades e dos direitos-créditos. Nesse sentido, “os direitos-liberdades implicam os limites do Estado,enquanto os direitos-créditos, ao contrário, implicam a intervenção e ocrescimento do Estado.”79

A lógica da Modernidade é a do individualismo e, sendo assim, pensa-se a política a partir daquilo que constitui a essência do individualismo, ou seja,a liberdade é concebida como a faculdade de autodeterminação. AssinalaRenaut: “tudo aquilo que representa um obstáculo a esta autodeterminação, eportanto à liberdade, é visto como intolerável moralmente, porque destrói a

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76 Idem, ibidem.

77 RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 54 e ss.

78 RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 55-56.

79 Idem.

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individualidade e aquilo que se considera o fundamento e o fim último de todaordem social.”80

A dificuldade de tal princípio é passar dessa concepção individual daliberdade para a coletiva, ou seja, a passagem da moral para a política. Deacordo com Rousseau, é necessário que se pense o povo, em seu conjunto,como um indivíduo, quer dizer, como uma entidade suscetível de conduzir-selivremente.81 Para o autor, segundo Renaut, duas características sãoindispensáveis na constituição do povo como subjetividade:

a soberania deverá ser o exercício da vontade geral, jamaispoderá ser alienada e nem tampouco dividida. Quando Rousseauafirma a inalienabilidade e a indivisibilidade da soberania,contrapõe-se aos autores que consideram a liberdade de decidirum bem que pode transferir-se a outro legitimamente, com aúnica condição de que esta transferência se efetue de formavoluntária. Para Rousseau, pelo contrário, essa transferêncianão só é ilegítima, senão que carece de sentido: a liberdade e,como conseqüência, a soberania não são bens dos quais o homempossa dispor a seu gosto, o homem é um ser livre por natureza;renunciando livremente a esta liberdade, estaria renunciando a simesmo, e delegar sua liberdade para decidir equivaleria a umsuicídio.82

Rousseau considera a soberania indivisível, pois não é senão o exercícioda vontade geral. Assim, assevera Renaut que, “a definição de povo ou decorpo político como subjetividade livre, se realiza plenamente, pela primeiravez na história da filosofia política, na teoria da vontade geral.”83

Em Rousseau, o contrato representa um ato de atribuição de poder quese reproduz no corpo político que o cria. Daí, duas características – na unidadedo povo, como subjetividade – na soberania, a de ser inalienável e indivisível.84

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80 RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 58.

81 Idem.

82 RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 59.

83 Idem.

84 Cf. FERRY, Luc. Filosofia política III. p. 58-59.

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Assim, conclui Rousseau que, em sendo a soberania inalienável eindivisível, o Direito só pode ser auto-prescrito. É em razão disso que ocidadão “não obedece senão a si próprio e não pode ser forçado a nada senãoa ser livre.”85

A problemática que Rousseau enfrenta é a da essência, uma definiçãorigorosa do povo como individualidade livre. Já, a teoria política do séculoXIX não será, como recorda Alain Renaut, teoria das essências, mas tambémuma reflexão sobre as divisões reais (povo/governo, Estado/sociedade) que oContrato Social considera uma contradição com os pressupostos da liberdade.86

Com o advento do positivismo e a formação do Estado de Direito liberalburguês, inicia-se um segundo momento na formação da doutrina jurídica daModernidade, em função da ascensão de uma nova epistemologia, quesubstituía a razão abstrata pela experiência, desqualificando as idéias inatas.87

Ao afastar-se do jusracionalismo, e com o fortalecimento do paradigmacientífico, o Direito ficou reduzido a uma questão de poder e as garantiasfundamentais ficaram desprovidas de seu referente axiológico para constituir-se num fim em si mesmo.88

Naturalmente, como aponta Boaventura de Sousa Santos, com

o aparecimento do positivismo na epistemologia da ciênciamoderna e do positivismo jurídico no direito e na dogmáticajurídica podem considerar-se em ambos os casos, construçõesideológicas destinadas a reduzir o progresso societal aodesenvolvimento capitalista, bem como a imunizar a raciona-lidade contra a contaminação de qualquer irracionalidade nãocapitalista, quer ela fosse Deus, a religião ou tradição, ametafísica ou a ética, ou ainda as utopias ou os ideaisemancipatórios.89

Se o Direito natural partia da idéia de fundação de uma nova ordem,segundo a lei da natureza, através da razão e da observação, com o positivismoo Direito separar-se-ia dos princípios éticos e tornar-se-ia “um instrumento

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85 RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 62-63.

86 Cf. RENAUT, Alain. Filosofia política III. p. 62-63.

87 ROUANET, Sérgio. O mal-estar na modernidade. p. 129.

88 CAMPUZANO, Alfonso de J. Para que algo câmbio en la teoria jurídica. p. 172.

89 SANTOS, Boaventura de S. Crítica da razão indolente. p. 124.

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dócil na construção institucional e na regulação do mercado, a boa ordemtransforma-se na ordem ‘tout court’.”90

O direito natural moderno, como se constatou, ao romper com aAntigüidade, nos proporcionou o fundamento filosófico da noção geral dosdireitos do homem, ou seja, a individualidade livre como fundamento e limiteda autoridade.

A partir daí, começa a fortalecer-se a idéia de que a sociedade civil teriafundamentação própria, e o pensamento liberal promove a separação modernado social e do estatal. Efetua-se a passagem do direito natural, como elaboraçãosobre a legitimidade, e a soberania para a teoria política, como reflexão sobreas relações entre a sociedade e o Estado.

O advento do positivismo marca uma inflexão na evolução do Direito, eo Estado, por sua vez, neste novo contexto, passaria a ajustar-se à novaracionalidade e às necessidades regulatórias do capitalismo liberal.

CONCLUSÃO

Com a Modernidade, o Direito passa a ser atributo do indivíduo,buscando-se consenso através do contrato social, cuja adesão voluntária será abase da legitimidade na formação do Estado.

A subjetividade, como adesão voluntária (como ato de vontade),estabelece os parâmetros que possibilitam a origem ideal de toda formaçãopolítica, fundamentando-se, assim, a vinculação entre os direitos subjetivosoriginados no indivíduo e a possibilidade de legitimidade política a partir daconsagração e proteção daqueles.

Nesse sentido é que a subjetividade jurídica será o reconhecimento dosdireitos naturais, entendidos como poderes ou liberdades que expressamcondições para o pleno desenvolvimento de cada um e do conjunto dasociedade.

Na segunda etapa da modernidade houve uma inflexão na evolução dodireito e da subjetividade jurídica. À medida que o positivismo funda uma novaforma de racionalidade jurídica, a questão da legitimidade deixa de ser umapreocupação do Direito (enquanto norma), e este passa a preocupar-secientificamente com a questão da legalidade intra-sistêmica.

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90 SANTOS, Boaventura de S. Crítica da razão indolente. p. 124-141.

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Todo esse conjunto de idéias, que fazem parte da Modernidade, vemsofrendo uma série de críticas e, no que se refere à subjetividade aponta-se que,à medida que o conceito de subjetividade ou de sujeito que se impõe desdeDescartes tentou fazer do mundo o seu império, submetendo a realidade ao seudomínio e fazendo dela um objeto de posse, tem-se como conseqüências: umavontade de poder totalitária e uma falsa concepção autônoma da subjetividade,da consciência como sendo acessível diretamente por um sujeito estável queatravés da razão pode estabelecer um conhecimento sobre si mesmo e omundo. Sugere-se, nesse sentido, que as formações sócio-culturais exercem umpapel fundante na formação da auto-consciência.

Assim, como pensar o sujeito hoje? A crise da concepção moderna daverdade, dos valores e do sujeito, deve-se, de um lado, à ênfase na liberdadecomo desenvolvimento pessoal e à crescente preocupação com a performancee com êxito individual a qualquer custo e, por outro lado, a viver-se nummundo sem referências universais, sem valores absolutos ou constantes, com aconseqüente perda da unidade e de fundamentos. Ao dizer que “Deus estámorto” iniciou-se a morte da subjetividade humana como centro e princípio daverdade e valores que eram próprios da civilização moderna e do Direito.

No entanto, somente o sujeito, que não se confunde com o indivíduo,num contexto de intersubjetividade, em diálogo com o outro pode fundarvalores e um projeto ético-político capaz de construir uma sociedade mais justa.

REFERÊNCIAS

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POLÍTICA INDIGENISTA DO AMAZONAS:PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS NO

SÉCULO XXI

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004 114499

Resumo: Este ensaio se propõe a perceber oprocesso de construção da política indigenista,no estado do Amazonas, compreendendo ofinal do século XX e início do XXI. Procuraentender como se dá essa política indigenista apartir de ações pontuais, sejam elasinicialmente no campo da educação e,posteriormente para as áreas de capacitação delideranças indígenas e, até ser instituciona-lizada com a criação de órgãos governa-mentais na própria estrutura organizacional dogoverno do Amazonas para tratar de assuntosindígenas. Portanto, a análise inicial éconstruir uma etnografia das ações do governoem atenção aos povos indígenas no âmbitoestadual e, perceber até que ponto está sendoimplementado uma política indigenista,visando a garantia dos diversos gruposindígenas do Amazonas, bem como avalorização étnico-cultural dessas populações.

Palavras-chave: Política Indigenista;Amazônia; Etnografia.

Abstract: This essay aims to perceive theprocess of construction of the Indigenistpolicy, in the state of Amazonas, from the endof the 20th century to the beginning of the 21st.It seeks to understand how this Indigenistpolicy happens from prompt actions, whetherthey being initially in the field of educationand, or later on the areas of qualification ofindigenous leaderships and, up to when it isinstitutionalized with the creation ofgovernmental bodies in the proper organiza-tional structure of the government ofAmazonas to deal with indigenous subjects.Therefore, the initial analysis aims to constructa ethnography of the government’s actions inattention to the indigenous peoples in statesphere and to perceive how far an Indigenistpolicy is being implemented, aiming at theguarantee of the diverse indigenous groups ofAmazonas, as well as the ethnic-culturalvaluation of these populations.

Key-Words: Indigenist Policy; Amazon;Ethnography.

* Professor do Núcleo Insikiran de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Mestre emSociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: [email protected].

Marcos Antonio Braga de Freitas*

Sumário: 1. Breve Contextualização da Política Indigenista no Cenário Nacional; 2. A PolíticaIndigenista do Amazonas; 3. Princípios Norteadores da Política Indigenista no Estado doAmazonas; 4. Política Indigenista e o Movimento Indígena; Considerações finais; Referências.

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1. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA POLÍTICA INDIGENISTA NOCENÁRIO NACIONAL

Pensar a política indigenista do Amazonas, requer necessariamente,conhecer como foi construída a política em atenção aos índios no planonacional. O Estado Brasileiro ao longo do século XX formulou uma ação degoverno por meio do Serviço de Proteção ao Índio e Localização deTrabalhadores Nacionais – SPILTN (1910), convencionado na historiografia deSPI e, depois pela Fundação Nacional do Índio – FUNAI (1967) centrada naideologia integracionista e assimilacionista dos povos indígenas à comunhãonacional, influenciada pelas teorias do Positivismo e do Evolucionismo doséculo XIX.

Nesse sentido, o demarcador dessa nova relação do Estado junto aospovos indígenas se deu através da Constituição Federal de 1988 que reconhecea diversidade cultural dos distintos povos indígenas que vivem no Brasil,podendo usar suas línguas e costumes, reconhecendo a tradicionalidade dosterritórios ocupados pelos seus antepassados, bem como de usufrutopermanente para a sua sobrevivência física e cultural, conforme determina oartigo 231 da referida Carta Magna.

Sabe-se que houve certos avanços, mas ainda há muito a ser feito,conforme afirmam (ARAÚJO; LEITÃO, 2002: 23):

A Constituição de 1988 trouxe uma série de inovações aotratamento da questão indígena, indicando novos parâmetrospara a relação do Estado e da sociedade brasileira com os índios.Embora de lá para cá tenha havido avanços significativos naproteção e no reconhecimento dos direitos dos povos indígenas nopaís, há ainda uma série de pendências que reclamamprovidências e cuja solução é motivo de intenso debate entre osatores da chamada cena indigenista.

Destacar o texto constitucional em relação ao reconhecimentosociocultural dos povos indígenas no cenário brasileiro, como uma conquistade luta do movimento indígena; faz-se necessário é porque em razão de essaspopulações, historicamente terem sido expropriadas, perseguidas, massacradaspela ação colonialista na tentativa de impor uma ideologia de “abranquea-mento” da sociedade nacional, resquícios de um “modelo de ocidentalização”

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difundido pelo processo colonizatório europeu para o resto do mundo, a partirdo século XV.

Ao longo dos 500 anos de contato que marcou a relação de índios comnão-índios, é preciso repensar a nova prática da política indigenista que oEstado Brasileiro pensa em implantar e/ou implementar em atenção aos povosindígenas e, nesse aspecto, é necessário notar que o Estatuto do Índio (Lei n.º6.001/73) ainda está em vigor, haja vista que tramita no Congresso Nacional aelaboração de um novo Estatuto das Sociedades Indígenas1 e até o prezadomomento não foi aprovado pela falta de prioridade na agenda social dogoverno brasileiro.

Nesse sentido, o que vivenciamos é uma nova conjuntura na relação comos indígenas que se mobilizaram e assumiram a discussão de sua autonomia emque o próprio movimento indígena vem a público reivindicar o que énecessário para seu povo ou não, por exemplo, a COIAB (Coordenação dasOrganizações Indígenas da Amazônia Brasileira) criada em 1989 com o lema“unir para organizar, fortalecer para conquistar”, isso é o resultado concretodesse movimento que surgiu no final dos anos 70 do século XX e se fortaleceunos anos 80.

Entretanto, não podemos esquecer que nesse processo de articulação eexpansão do movimento indígena o apoio que teve do CIMI (ConselhoIndigenista Missionário), criado em 1972, órgão ligado à CNBB (ConferênciaNacional dos Bispos do Brasil) para oferecer uma outra ação da Igreja Católicadiferente daquela descrita e conhecida pela historiografia (evangelização ecatequização) segundo a qual não é preciso maiores detalhes acerca dessaquestão. Além de ONGs, de setores específicos de universidades brasileiras, daAssociação Brasileira de Antropologia – ABA como agentes externos e aliadosà causa indígena.

2. A POLÍTICA INDIGENISTA DO AMAZONAS

Em se tratando do contexto amazônico que concentra a maiordiversidade etno-cultural e populacional dos povos indígenas do Brasil, é

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1 Desde 1991 tramita no Congresso Nacional a reformulação do Estatuto das Sociedades Indígenas, recebendo parecer em1994. Sendo tirado da gaveta no ano 2000 por conta do 500 anos do Brasil, mas que até o momento sem votação, porquenão integra a agenda social do governo brasileiro. Vale destacar que Interesses econômicos e políticos dos parlamentaresbrasileiros impedem os avanços na votação e sua regulamentação.

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preciso refletir como o estado do Amazonas vem tratando a temática indígenano contexto de uma ação de governo, visando uma política de valorização erespeito à diversidade cultural, como também propiciar o seuetnodesenvolvimento.

Com relação ao conceito de etnodesenvolvimento, este emergiu nodebate latino-americano de forma mais consistente em 1981, na cidade de SãoJosé da Costa Rica, conforme discussão que Ricardo Verdum vem fazendo arespeito da questão do fomento de políticas públicas para os índios. (Cf.SOUZA LIMA, Antonio Carlos de; BARROSO-HOFFMANN, Maria (Orgs).Etnodesenvolvimento e políticas públicas, 2002, p. 87).

Nesse contexto de formulação de políticas públicas que visam oetnodesenvolvimento das comunidades e organizações indígenas, aintervenção do Governo Estadual é notório, pois no final dos anos 90 do séculoXX e início do XXI surgiu a proposta de se implementar uma política voltadaaos povos indígenas do estado do Amazonas, que por meio do Decreto n.º20.825 de 04/04/2000, foi criado um Departamento na estrutura organizacionaldo Poder Executivo, ligado à Secretaria de Estado de Governo para tratar dasquestões indígenas no âmbito governamental. Em 2001, o referidodepartamento foi transformado em Fundação Estadual de Política Indigenista– FEPI/AM, através da Lei n.º 2.650 de 04/06/2001 para dar andamento aoprojeto de implantação de uma política indigenista para os povos indígenas.

Durante o curto período que marcou o processo de intervenção dogoverno do Amazonas junto aos povos indígenas, algumas atividades foramexecutadas, tanto em Manaus quanto no interior (priorizando o Alto Solimões,Baixo Amazonas e Alto Madeira), sendo preciso necessária análise econhecimento do processo de construção dessa política estadual.

Diante dessa realidade, algumas ações pontuais nas áreas de educação,cultura e produção foram realizadas, na tentativa de traçar um panorama e dar“visibilidade” a essa política indigenista, em construção no âmbito do poderexecutivo estadual. Podemos destacar as seguintes:

• I Seminário de Educação Escolar Indígena – “Cultura, Terra e Escola:educação escolar indígena diferenciada”, no período de 11 a14/5/1998. Foi neste seminário que foi criado o Conselho Estadual deEducação Escolar Indígena do Amazonas – CEEI/AM;

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• II Seminário de Educação Escolar Indígena no Estado do Amazonas– “Educação Escolar Indígena: um direito, uma conquista”, 18 e19/09/2000;

• I Semana dos Povos Indígenas – Encontro de Culturas, 15 a22/04/2001 (este evento nasceu da iniciativa das organizações einstituições governamentais de apoio ao índio, com o objetivo depromover a unidade nas ações, respeitando a autonomia de cadainstituição e a cultura dos diferentes povos indígenas que habitam oAmazonas);

• I Feira Cultural Indígena – Sustentabilidade às ComunidadesIndígenas (artesanato, gastronomia, literatura, música, dança,shows), 13 a 15/12/2001;

• Semana dos Povos Indígenas – Direitos e Cidadania, 15 a19/04/2002;

• 1.ª Conferência de Pajés – Biodiversidade e Direito de PropriedadeIntelectual: proteção e garantia do conhecimento tradicional, 22 a25/08/2002 (é importante destacar que neste evento foi elaborado aCarta de Manaus – a idéia é reunir pajés e especialistas num espaçoonde possam ser discutidas e formuladas políticas públicas devalorização do conhecimento tradicional desses povos [indígenas]como valor estratégico ao desenvolvimento sustentável do país);

• Semanas dos Povos Indígenas – Lutando e Conquistando Espaços, 14a 19/04/2003;

• Semana dos Povos Indígenas do Amazonas 2004 – Povos Indígenasno Brasil de Todos, 02 a 19/4/2004.

Essas ações pontuais, de uma certa forma, vêm corroborar para aformulação da política indigenista estadual, porque estes eventos envolvemórgãos governamentais e organizações indígenas, com suas experiências eolhares analíticos sobre a problemática da questão indígena. E assim, estãodireta e indiretamente contribuindo para o aperfeiçoamento de uma proposta depolítica indigenista que está sendo gestada por meio dessas atividades;refletindo um momento ímpar para a história, ou seja, uma forma diferente deintervenção do Estado na relação com os indígenas, sem preconizar a priori um“neocolonialismo”.

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3. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA POLÍTICA INDIGENISTA NOESTADO DO AMAZONAS

Com o intuito de implantar e solidificar uma política indigenista ematenção aos povos indígenas do Amazonas, foi que o governo estadualelaborou uma proposta inicial tornando-a uma Declaração de Princípios, sendoratificada na reunião do Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena doAmazonas, realizada no município de Barcelos, região do Médio Rio Negro,como parte integrante de reuniões itinerantes para envolver os atores sociaisdiretamente interessados na construção dessa política oficial. Todo esteprocesso mostra a construção de um novo modelo de indigenismo para oAmazonas. Vejamos na íntegra essa proposta que contém os princípiosnorteadores para a base de formulação da política indigenista estadual:

Declaração de Princípios entre Governo do Amazonas e Povos IndígenasNovos Parâmetros para a Política Indigenista

A Fundação Estadual de Política Indigenista do Amazonas (FEPI-AM)2

e os Povos Indígenas que vivem no Amazonas celebraram, em Manaus,no dia 17 de setembro de 2001, esta Declaração de Princípios, sendo amesma aprovada pelo Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena(CEEI-AM), em reunião ordinária do dia 21 de setembro de 2001, como objetivo de instituir Novos Parâmetros para a Política Indigenista doAmazonas, nos seguintes termos:

1. Ampliar espaços, promover discussões e articular as instituiçõesgovernamentais com as comunidades indígenas para garantir osdireitos constitucionais desses povos, no contexto das políticaspúblicas;

2. Analisar as políticas públicas promovidas pelo Governo e aspropostas das Organizações Indígenas, quanto à eficácia de suasações, à qualidade dos serviços prestados e ao uso adequado dosrecursos naturais, em benefício das comunidades indígenas;

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2 Hoje a FEPI está ligada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS). Em 2004 passa-sea chamar Fundação Estadual dos Povos Indígenas – FEPI, elaborando o Programa Amazonas Indígena para dar“sustentabilidade” aos povos indígenas do estado por meio de ações como saúde, segurança alimentar, proteção territoriale ambiental, cursos e projetos econômicos e produtivos.

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3. Promover intercâmbio entre as comunidades indígenas e osformuladores de políticas públicas, no que diz respeito àvalorização das formas de saber e à apropriação de novastecnologias, promotoras do etnodesenvolvimento;

4. Promover a participação efetiva das mulheres indígenas nasdecisões das políticas públicas, fortalecendo suas organizaçõessociais;

5. Implementar programas interinstitucionais do Governo do Estado,com o objetivo de combater a violência, o preconceito, adiscriminação étnica e a exclusão social das comunidadesindígenas;

6. Criar um Fórum permanente entre o Governo, OrganizaçõesIndígenas e Organizações Não Governamentais (ONGs), paradiscussão de propostas e de estratégias que promovam oetnodesenvolvimento;

7. Desenvolver programas em parceria com as ComunidadesIndígenas e Organizações Não Governamentais, garantindo oacesso da criança indígena às ações de política pública;

8. Assessorar as Comunidades Indígenas quanto aos seus direitos depropriedade intelectual, acompanhando e promovendo pesquisascientíficas;

9. Fortalecer as Organizações Indígenas, avaliando e ampliando aspolíticas públicas quanto à continuidade de suas ações;

10. Promover o etnodesenvolvimento, tendo como base a EducaçãoEscolar Indígena Diferenciada, implementando ações quegarantam a demarcação de suas terras, a autonomia dos povosindígenas e a valorização da participação comunitária, assegu-rando a reprodução física e cultural dos povos indígenas.

11. Respeitar as culturas indígenas, reconhecendo suas crenças, seuscostumes e suas tradições garantidos na Constituição Federal.

Estes princípios vêm oferecer o parâmetro inicial para discutir a realpolítica que se pretende criar para os povos indígenas no âmbito do poderexecutivo do Amazonas. Para uma análise, estes precisam ser revistos ediscutidos criticamente com as comunidades e organizações indígenas paraconcretizar ao final uma versão que esteja contemplando no bojo dessesprincípios norteadores; as necessidades de auto-sustentabilidade e autonomia

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que o próprio movimento indígena defende e preconiza em sua bandeira de lutae defesa de suas terras e direitos sociais e culturais.

4. POLÍTICA INDIGENISTA E O MOVIMENTO INDÍGENA

Dando continuidade a essa política indigenista, é que o atual governoestadual nomeou para diretor-presidente da FEPI, uma liderança indígena3 paraassumir a gestão do referido órgão. Portanto, um aspecto inovador nessas“relações alternativas” de um modelo diferente de pensar a política indigenistaque está sendo pensada no cenário nacional, sem a pretensão de umcolonialismo resultado de uma visão etnocêntrica de tratar o outro – o diferentecomo um ser culturalmente inferior.

É visível que, a cada ano, se passa à construção de um novo modelo depolítica indigenista por parte dos governantes ao formular uma ação degoverno a partir do envolvimento dos indígenas na participação das decisõesgovernamentais para legitimar tal política. E isso só é possível quandoconsegue materializar, não só através de eventos específicos, mas acima detudo com a participação efetiva dos próprios indígenas nas instânciasdeliberativas do governo.

Neste caso específico, de uma liderança indígena à frente do órgãoestadual, criado com a finalidade de instaurar uma ação de governo voltada aospovos indígenas, nada mais coerente e legítimo que colocar nos quadros dopoder administrativo do Estado esses atores como pessoas interessadas namelhoria de suas comunidades e terras indígenas. Vejamos como o indígenaBonifácio Baniwa destaca esse reconhecimento:

Houve um avanço na nossa luta. A criação da Fepi e do Conselhode Educação da Escola Indígena foram conquistas do movimentoindígena, que vinha lutando ao longo desses anos, e o Governopassado reconheceu isso. No entanto, não sendo dirigido pelospróprios índios diretamente envolvidos no movimento indígena.

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3 Fato curioso, que essa liderança, vem da região que apresenta a maior diversidade de povos indígenas do Amazonas, a baciado rio Negro, que abrange os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro e Novo Airão,historicamente tendo um movimento indígena atuante, como exemplo a criação da FOIRN – Federação das OrganizaçõesIndígenas do Rio Negro, em 1987, bem antes da própria COIAB, que é de 1989. Terá sido essa atitude uma estratégia políticado governo estadual ou uma forma de reconhecimento desse movimento e o papel do mesmo para implementar uma políticaindigenista no estado?

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Já o atual Governo reconhece isso através da nossa presença,fazendo parte do Governo dele, (Jornal A Crítica, p. 3, 19/4/2003).

Nesse processo de inserção de indígenas na administração pública dogoverno estadual acabam sendo contratados pelo estado, estes assumem opapel de interlocutores no âmbito do governo ao discutir e formular políticasindigenistas. Quanto a este aspecto, Antônio Brand (2002: 35) conclui

Nessa ‘nova postura do Estado’, adquire relevância o crescentenúmero de representantes indígenas contratados como funcioná-rios nos diversos níveis da burocracia, fazendo co quem o próprioíndio passe a ser o interlocutor do Estado nas questões referenteà política indigenista.

Isso vale em nível estadual, no caso aqui em análise em que o Governodo Amazonas coloca à frente do órgão indigenista uma liderança indígena parafazer a gestão da política oficial, mostrando talvez que esteja construindo umnovo diálogo com os povos indígenas. Ao envolver lideranças indígenas naesfera administrativa pretende-se mostrar a sociedade em geral que temrespeitado e acatado aos interesses dos índios.

Além da participação direta dos indígenas no poder público, é precisodestacar as experiências de autonomia que o próprio movimento indígena vemvivenciando nos últimos anos, tendo em vista a sustentabilidade econômica esocial. Neste caso, pode-se destacar: a Associação das Mulheres Indígenas doAlto Rio Negro (AMARN), quer dizer (NUMIA KURÁ, na língua Tukano“grupo de mulheres”), a Associação de Produção e Cultura – Yakinõ (na línguaHixkaryana significa “trabalho coletivo”), como também os eventos de grandeporte como o I Encontro dos Indígenas da Cidade de Manaus, 01 a03/03/2002, saindo um manifesto para buscar soluções aos problemas queafetam os índios”, que vivem no contexto urbano. Também foi realizado o IEncontro das Mulheres Indígenas da Amazônia, entre os dias 26 a 29/06/2002,em Manaus, para discutir o papel da mulher indígena no movimento da regiãoamazônica e em nível nacional.

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Além da política indígena, é importante lembrar a experiência do PDPI/ MMA,4 sendo um projeto que apóia atividades nas comunidades indígenas daAmazônia Legal, financiado pelo Governo Federal/GTZ-República Federativada Alemanha, por meio de ações que contemplem:

• Fortalecimento do modo de vida de cada povo indígena, sua cultura,sua organização social e política e os conhecimentos que têm danatureza;

• Desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis, melho-rando, assim, as condições de vida dos povos indígenas da AmazôniaLegal e garantindo o uso exclusivo dos recursos naturais em suasterras;

• Proteção dos territórios indígenas da Amazônia Legal.

A ação de fortalecimento da identidade cultural é exemplificada com aedição do CD de músicas indígenas (União dos Povos, envolvendo Tikuna,Tukano e Sateré), lançado em Manaus, no ano de 2003, resultado dacooperação entre COIAB e PDPI/MMA.

Esse momento, mostra-se como algo “positivo”, a relação do Estadocom os Povos Indígenas merece uma discussão, pois as diretrizes domovimento indígena são assumidas por meio de políticas públicas estápresente no discurso das lideranças indígenas, pode-se destacar o pensamentodo ex-dirigente da COIAB, a liderança indígena Euclides Pereira,5 do povoMacuxi, de Roraima ao afirmar:

Vejo com otimismo a situação indígena [no Brasil]. Durantemuito tempo, chegamos a pensar que a nossa cultura não tinhanenhum valor. Hoje não é mais assim. Como todo grupo étnico,temos os nossos problemas, e a nossa evolução. Durante essetempo, também fomos evoluindo, como qualquer outro povo, masdo nosso jeito. Valorizando a nossa cultura, mostramos quetambém temos as nossas descobertas e que podemos muitocontribuir para a sociedade brasileira. Temos nossa medicina

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4 Cf. Projeto Demonstrativos dos Povos Indígenas – PDPI. Informações Básicas e Formulário para a Apresentação de Projetos.Brasília: MMA, s/d.

5 É aluno regularmente matriculado no Curso de Licenciatura Intercultural, do Núcleo Insikiran de Formação Superior Indígenada UFRR.

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tradicional, nossa arte, nossa música. Fazemos parte do povobrasileiro. (Revista Amazônia Vinte Um. 2000:9).

Nesse contexto, as organizações indígenas têm papéis imprescindíveisna construção dessa política indigenista e os eventos também refletem oamadurecimento político de sua autonomia e alteridade cultural nas questõesque são pertinentes ao seu povo. Portanto, os governos precisam ouvir aslideranças e comunidades na criação de uma ação governamental, cabendo aosgestores públicos conhecer a política do movimento indígena para formular suaproposta de intervenção – assim consolidando a efetiva participação deindígenas nas ações de políticas públicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desse contexto, através dessas ações pontuais que foramrealizadas para os povos indígenas é possível perceber que o estado doAmazonas está formulando uma nova relação com essas populações, quandodá um passo diferente no sentido de propor um diálogo intercultural.

Além deste provável diálogo, é preciso que o governo elabore umapolítica que realmente atenda as reais necessidades das populações indígenas,visto que os próprios atores sociais são sujeitos partícipes do novo processoinstaurado como desafiador tanto para os povos indígenas como para o própriogoverno estadual.

Nesse sentido, essas ações mostram algumas das perspectivas que omovimento indígena formula como sua política e, ao mesmo tempo vislumbraprováveis tendências que estão sendo criadas e/ou pensadas em atenção aosíndios do Amazonas, no âmbito do poder executivo.

É preciso ressaltar que a própria história vai mostrar se os resultadosserão satisfatórios ou não, com o objetivo de ir ao encontro doetnodesenvolvimento reivindicado pelos povos indígenas ou apenas o governoestadual se utiliza dessas ações para construir um diálogo de aliança políticacom os índios para afirmar que tem uma política indigenista definida econcreta, assumindo uma perspectiva de valorização e garantia dos direitosindígenas.

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REFERÊNCIAS

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PARTE IICONSIDERAÇÕES JURÍDICAS SOBRE O MANEJO COMUNITÁRIO DE ESTOQUESPESQUEIROS: O EXEMPLO DA AMAZÔNIA BRASILEIRASSeerrgguueeii AAii llyy FFrraannccoo ddee CCaammaarrggooAAnnaa CCaarrooll iinnaa SSuurrggiikk .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..116655

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1661. Manejo comunitário de estoques pesqueiros na Amazônia brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .168Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .173Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .174

REFLEXÃO DO DIREITO DAS “COMUNIDADES TRADICIONAIS”A PARTIR DAS DECLARAÇÕES E CONVENÇÕES INTERNACIONAISJJooaaqquuiimm SShhii rraaiisshhii NNeettoo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..117777

Introdução: delineamento de um campo jurídico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1781. As Declarações e Convenções no Ordenamento Jurídico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1832. O Lugar Jurídico das Declarações e Convenções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1843. A Convenção n.º 169 da OIT: a consciência de si . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .188Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .192

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CONSIDERAÇÕES JURÍDICAS SOBRE OMANEJO COMUNITÁRIO DE ESTOQUES

PESQUEIROS: O EXEMPLO DAAMAZÔNIA BRASILEIRA

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Resumo: No final dos anos 80 teve início umapreocupação internacional com o manejosustentável dos estoques pesqueiros marinhos.Este movimento ganhou força e orientou acriação do Código de Conduta para a PescaResponsável da FAO em 1995. Este Códigoadota aspectos precaucionários. É umdocumento global e não-mandatário, queestabelece princípios e padrões aplicáveis àconservação, manejo e desenvolvimento dapesca. No Brasil, o Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis passou a desenvolver projetos decooperação técnica internacional ainda nadécada de 90. Estes projetos visam àorganização comunitária e a multiplicação deiniciativas pré-existentes de manejo comu-nitário e sustentável de estoques pesqueiros naregião amazônica. A partir destas experiên-cias, foram identificados o contexto jurídicoque envolve o manejo comunitário de esto-ques pesqueiros e as formas de relação entreusuários e poder público. Os resultados destaanálise revelaram as principais dificuldades efacilidades deste novo paradigma de sistemade manejo de recursos naturais renováveis.

Palavra-chave: Região Amazônica; ManejoComunitário de Estoques Pesqueiros; DireitoAmbiental.

Abstract: During the end of the 80’s it wasobserved the beginning of an internationalconcerning about the management of marinefish stocks. This movement became politicallystrong, influencing the creation of the Code ofConduct for Responsible Fisheries, by FAO in1995. This Code adopts precautionary aspects.It is a global and non-mandatory document,which establishes the principles and standardsrelated to conservation, management anddevelopment of fisheries. Since the 90’s inBrazil, the Brazilian Federal EnvironmentalAgency (IBAMA) has been developinginternational cooperation projects. Theseprojects aimed at the communitarianorganization and the multiplication of pre-existent initiatives of community-basedmanagement of fish stocks in the AmazonRegion. From these experiences, it wereidentified the legal context that involves thecommunity-based management of fish stocksand the ways of interaction between resourceusers and Brazilian State. The results of thisanalysis revealed the main facilities andobstacles of this new juridical frame of naturalresources management.

Key-words: Brazilian Amazon; Community-Based Management of Fish Stocks; Environ-mental Law.

* Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

** Programa de Pós-Graduação em Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA – Departamento deEcologia.

Serguei Aily Franco de Camargo* Ana Carolina Surgik**

Sumário: Introdução; 1. Manejo comunitário de estoques pesqueiros na Amazônia brasileira;Considerações finais; Agradecimentos

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INTRODUÇÃO

A atividade pesqueira é praticada há aproximadamente 100.000 anos.Concomitantemente ao aparecimento do Homo sapiens na Europa (50.000anos atrás), alguns estudos indicam a existência de aparelhos simplesdestinados à pesca. Nesta época, os Aurignac foram os primeiros europeus afazer uso regular de recursos pesqueiros em rios (Sahrage & Lundbeck, 1992).

Atualmente, os peixes são os últimos animais explotados em grandeescala. As pescarias mundiais aumentaram depois da Segunda Guerra Mundial.Durante a década de 60, se intensificaram ainda mais devido ao aumento doesforço pesqueiro no Atlântico Norte e Pacífico Norte, aliado à abertura depescarias no Hemisfério Sul (Watson & Pauly, 2001). Em 2001, o desembarquemundial de pescado foi 91.300.000t, das quais 8.800.000t provieram da águadoce (FAO, 2002).

Em nível internacional, a partir dos anos 70, o panorama das pescariastambém sofreu influência do sistema de Zonas Econômicas Exclusivas (ZEEs)e da Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, que forneceramnovos modelos de manejo de recursos marinhos. É importante mencionar queas ZEEs concentram cerca de 90% dos recursos pesqueiros sob influênciadireta do Direito de cada Estado costeiro (FAO, 1995).

As pescarias recentes assumiram um caráter orientado pelo mercado,que direcionou a indústria e os investimentos no setor. No final dos anos 80ficou claro que os estoques pesqueiros não poderiam sustentar uma explotaçãodescontrolada e crescente, ensejando o desenvolvimento de novas formas demanejo. A situação foi agravada pelo descontrole das pescarias em alto mar,principalmente sobre estoques de peixes altamente migratórios (FAO, 1995).

Nesse contexto, o Comitê de Pesca (COFI) tratou do desenvolvimentode novos conceitos sobre manejo pesqueiro, conduzindo à idéia de pescaresponsável e sustentável (FAO, 1995). A Declaração de Cancun –México/1992 foi uma importante contribuição para a Conferência das NaçõesUnidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) de 1992, emparticular para a Agenda 21. Na seqüência, a Conferência das Nações Unidassobre Estoques Pesqueiros Migratórios e Altamente Migratórios contou comimportante apoio técnico da FAO, antecedendo o acordo internacional firmadopela mesma agência sobre medidas de manejo pesqueiro em alto mar. Emconseqüência da Conferência de Cancun, a FAO foi incumbida de formular um“Código de Conduta para a Pesca Responsável” (CCPR), documento de caráter

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global e não-mandatário, que estabelece princípios e padrões aplicáveis àconservação, manejo e desenvolvimento da pesca. O CCPR foi adotado em 31de outubro de 1995 pela Conferência da FAO e fornece modelos de manejonacionais e internacionais com o escopo de direcionar a explotação sustentáveldos recursos aquáticos em harmonia com o meio ambiente. Desde então, aFAO se comprometeu a auxiliar os Estados Membros, principalmente os paísesem desenvolvimento, para a eficiente implementação do mencionado CCPR,reportando periodicamente às Nações Unidas os progressos alcançados.

A produção brasileira de pescado em 1999 foi de 655.000t, das quais175.000t provenientes de água doce. Porém, as informações são imprecisas. Osdados de captura e esforço pesqueiro em geral são descontínuos e sempadronização (Petrere, 2001).

Os desembarques pesqueiros da Amazônia foram estimados por diversosautores (Bayley & Petrere, 1989; Isaac & Barthem, 1995), utilizandometodologias diferentes, porém com resultados próximos a 200.000t/ano paratoda a bacia amazônica. De acordo com Ruffino & Isaac (1994), ao seconsiderar o valor de primeira venda em US$1,00/kg de pescado, o movimentofinanceiro bruto proveniente das pescarias amazônicas seria da ordem de US$200.000.000,00/ano.

O pescado representa importante fonte de proteína para o homem daregião. O consumo per capita, nas cidades de Manaus e Itacoatiara foi estimadoentre 360 e 500g/dia (Cerdeira et al., 1997).

Esses dados revelam a importância do setor pesqueiro para a sociedadee para o governo. Desde o início dos anos 90, o governo brasileiro, através doInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis(IBAMA), tem desenvolvido projetos de cooperação técnica internacional,visando à implementação e a multiplicação de iniciativas de manejocomunitário de estoques pesqueiros. São exemplos o IARA (Administraçãodos Recursos Pesqueiros do Médio Amazonas: Estados do Pará e Amazonas –financiado pelo IBAMA e GTZ), o PAPEC (Projeto de Aproveitamento dosAçudes Públicos do Estado do Ceará – financiado pelo IBAMA e GTZ) e oProVárzea (Projeto Manejo dos Recursos Naturais de Várzea – financiado peloIBAMA, DfID, GTZ, KfW e WB-PPG7). Em todos estes casos, o IBAMAcoordenou as atividades desenvolvidas pelos usuários/comunitários com oobjetivo de manejar os estoques pesqueiros com responsabilidadescompartilhadas e descentralizar as rotinas administrativas. O IBAMAdesenvolveu mecanismos administrativos internos, permitindo a recepção dos

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acordos comunitários locais que continuam fundamentando a edição deportarias sobre manejo de estoques pesqueiros (Fischer & Mitlewski, 2005).Assim, o objetivo deste trabalho é analisar o contexto jurídico das práticas demanejo comunitário de estoques pesqueiros e suas interfaces com o poderpúblico. O texto se apresenta de forma seqüencial, tratando em princípio dasquestões jurídicas internacionais e federais, para no final abordar aspectosadministrativos e de ecologia humana.

1. MANEJO COMUNITÁRIO DE ESTOQUES PESQUEIROS NAAMAZÔNIA BRASILEIRA

Diferentes níveis administrativos interagem no modelo brasileiro demanejo participativo de estoques pesqueiros. O IBAMA (órgão federal) érepresentado através de suas superintendências estaduais. No caso doAmazonas, o órgão ambiental estadual é o Instituto de Proteção Ambiental doAmazonas – IPAAM. Os usuários são representados por organizações não-governamentais, como colônias de pescadores profissionais, associações ecooperativas.

A articulação entre Estado e ONGs parte de mecanismos coletivos detomada de decisões, visando o manejo direto pelos usuários. Estes fórunsregionais para formação de consenso produzem acordos comunitários de pesca,comumente observados em reservatórios do nordeste brasileiro (Christensen etal., 1995; Barbosa & Hartmann, 1997) e em lagos amazônicos (e.g. PortariaIBAMA 1 de 2002; McGrath et al., 1993).

Qual o contexto legal que permite o manejo comunitário de estoquespesqueiros e suas interfaces com o poder público brasileiro?

As principais disposições aplicáveis à matéria encontram-se naConstituição Federal de 1988 (art. 225) referindo-se ao meio ambienteecologicamente equilibrado como direito fundamental para as presentes efuturas gerações (Derani, 2002), no Código de Pesca (Decreto 221/1967),recepcionado pela atual Constituição e, no Código Civil (Lei 10.406/2002, art.1.228, § 1.º). São importantes também: a Lei de Política Nacional de RecursosHídricos (Lei 9.433/1997); o Decreto 5.382/2005, que aprova o VI PlanoSetorial para os Recursos do Mar (VI PSRM), onde são expressamentereconhecidos os preceitos do CCPR de 1995; o Decreto 4.756/2003, queaprova a Estrutura Regimental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

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Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e; o Decreto 4.281/2002, regulamen-tador da Lei n.º 9.795/1999, que institui a Política Nacional de EducaçãoAmbiental.

O Decreto 5.382/2005 representou um importante passo para a gestão derecursos pesqueiros no Brasil. Quando se condiciona ao CCPR/1995, orientajuridicamente o papel do Estado e dos usuários em um sistema de gestãointegrada que se pauta principalmente pela aplicação do Princípio daPrecaução.

O Princípio 6.4 do CCPR menciona que as medidas de conservação e asdecisões sobre o manejo pesqueiro devem ser embasadas nas melhoresevidências científicas disponíveis, também se levando em consideração osconhecimentos tradicionais das comunidades sobre a utilização dos recursosem seu habitat, além de fatores ambientais, econômicos e sociais relevantes. OsPrincípios 6.5 e 7.5.1 dispõem que o manejo pesqueiro em seus diversos níveisdeve seguir orientações precaucionárias, visando à conservação dos estoques.Também é mencionado que a ausência de informações científicas não deve serusada para adiar ou inviabilizar medidas para conservação de espécies-alvoe/ou do sistema ecológico como um todo.

Em conjunto, o contexto legal que permite o manejo comunitário e agestão participativa de estoques pesqueiros no Brasil deve ser interpretado, emsua essência, como precaucionário. A Constituição, ao dispor que aconservação do meio ambiente é dever de todos, abre a possibilidade/dever departicipação das comunidades tradicionais usuárias de recursos pesqueiros nosistema de gestão em seus diversos níveis. Esta participação, entretanto, deveser feita de forma organizada e representativa, nos moldes de atuação doterceiro setor. Nesse sentido, o Decreto 221/1967 que regulamenta a pesca,favorece a organização comunitária em colônias de pescadores e/oucooperativas.

A Lei de Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/1997)menciona que a ictiofauna (como parte integrante dos recursos hídricos) deveser manejada sob uma perspectiva de bacia hidrográfica (em pequena ougrande escala). Neste caso, as prioridades de manejo sustentável são definidaspelos Comitês de Bacia, considerando a disponibilidade desses recursosnaturais e as necessidades e características sociais. As opiniões dacomunidade/usuários devem ser consideradas nas decisões administrativas dosComitês de Bacia. Considerando o manejo de recursos naturais no Brasil,decisões privadas não podem prevalecer sobre o interesse público. O manejo

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deve contemplar os direitos constitucionais das gerações atuais e futuras, comomencionado no art. 225 caput da CF/88, como forma de evitar a Tragédia dosComuns e contribuir para o desenvolvimento sustentável.

Conflitos pelo uso/apropriação dos recursos existem. De acordo comCamargo (1999) e Machado (2005), os estoques pesqueiros são bens dedomínio público e uso comum. Assim, uma vez retirado de seu ambiente, oanimal passa a pertencer àquele que o pescou. Isto confere um caráter desubtrabilidade ao recurso, ou seja, o animal capturado por um usuário não émais passível de apropriação por outro. Esta característica pode acirrarconflitos em situações de escassez, dificultando práticas de manejo eficientes.Por este motivo, os usuários capacitados devem participar dos sistemas degestão em parceria com o Estado, representado neste caso pelo IBAMA(Decreto 4.281/2002 c/c Decreto 4.756/2003).

O pescador, proprietário de um animal capturado, tem direitos de usar,gozar e dispor do bem conforme dispõe o Código Civil. Interessante observarque apesar da visão holística atual da legislação ambiental, a compreensão dosdireitos de propriedade continua sofrendo forte influência privatista. Isto seobserva na jurisprudência, que reforça o caráter privatista da propriedade emdetrimento de sua função sócio-ambiental, preconizada constitucionalmente(Castilho, 2003). Nesse sentido o art. 1.228 do Código Civil vem de encontroao entendimento tradicional do direito de propriedade, enquanto seu § 1º impõelimites econômicos, sociais e ambientais ao seu exercício (nesta ordem). Emuma análise sistêmica, poder-se-ia argumentar que as práticas de manejopesqueiro deveriam visar precipuamente o bem estar humano, priorizando osaspectos econômicos, em seguida os sociais e por último os ambientais. Estaordem de prioridades não deve existir no contexto sócio-ambiental e holísticodo Direito Ambiental atual. A utilização dos conhecimentos tradicionaisassociados aos recursos pesqueiros (mencionado no CCPR) como fonte deDireito Administrativo serve para reequilibrar as correntes de interpretaçãoprivatista e sócio-ambiental, na elaboração e implementação de planos e açõesde manejo pesqueiro.

Apesar de não se constituírem em normas legais, alguns Projetos de Lei(PL) sobre pesca tramitaram no Congresso Nacional, fomentando amplasdiscussões sobre o assunto. Assim, a explotação e apropriação dos estoquespesqueiros foram, por muito tempo, objetos do PL-1273/1995 no CongressoNacional. Este documento previa possibilidades e tipos de manejo, entretanto,em maio de 2005 a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados determinou o seu

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arquivamento. Atualmente, encontra-se em discussão outro PL, encaminhado àPresidência da República, em conjunto pelo Ministério de Estado da Defesa epela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da Repúblicaatravés do E.M. INTERMINISTERIAL N.º 00425/MD/SEAP-PR, de 17 deagosto de 2004.

É importante mencionar que mesmo os estoques pesqueiros sendo bens dedomínio público e uso comum, estes podem ser afetados na prática por restriçõesadministrativas de uso (e.g. limitação de equipamentos de pesca, defeso emépocas de reprodução), restrições administrativas locacionais (e.g. lagos demanutenção/subsistência) e/ou restrições administrativas temporais (e.g.proibição temporária da pesca de uma determinada espécie para recuperação doestoque). Em outros casos, o IBAMA pode limitar o número de barcospesqueiros em uma determinada área (e. g. na pesca da lagosta) durante a fase delicenciamento administrativo da explotação desses recursos naturais. Todas estashipóteses devem necessariamente ter como fundamento o interesse público.

A Resolução CONAMA 003/88 regulamenta a criação de mutirõesambientais. Desde então, o IBAMA vem capacitando comunitários comoagentes ambientais voluntários, inclusive dentro dos mencionados projetos decooperação técnica internacional. Os projetos IARA e ProVárzea contribuíramcom a capacitação de muitos comunitários para atuarem como agentesambientais voluntários, conforme se observa no próprio texto original dosmencionados projetos (IBAMA, 1995; IBAMA, 2002), consolidando umanova cultura institucional do IBAMA, pautada na participação dos usuários nagestão dos recursos. A maior contribuição destes projetos, principalmente doComponente Monitoramento e Controle do ProVárzea, foi a edição daInstrução Normativa IBAMA 29/2002. Esta Instrução institui procedimentospara a implementação de acordos comunitários de pesca (que podem ter regrasde controle de acesso) e sua transformação em portarias.

O emprego de pescadores profissionais, enquanto membros/associados acolônias de pescadores, associações e cooperativas, pode motivar aparticipação da sociedade civil organizada nos processos governamentais detomada de decisões. Serve também como instrumento de educação ambiental,auxiliando na formação da consciência de cidadania. Fischer & Mitlewski(2005) anteciparam, no final da década de 90, estas práticas como instrumentosnecessários ao manejo pesqueiro eficiente no Brasil.

O art. 33 do Decreto 221/67 define que a pesca pode ser praticada emtodo o território nacional. O texto legal estabelece o máximo da abrangência da

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prática da atividade, mas não a limita a determinada área (e.g. bacia, sub-bacia,lago). A limitação de acesso aos estoques pesqueiros pode ser feita através derestrições no licenciamento. Esta prática precaucionária visa à proteção dafauna aquática e a manutenção das populações tradicionais que dela depende.Estas restrições podem ser estabelecidas em relação à área de exercício daatividade pesqueira, ou ao número máximo de licenças permitidas porpescador. Este entendimento está perfeitamente de acordo com o contexto legalexaminado, principalmente em nível constitucional, respaldando-se também naaplicação prática do Princípio da Precaução.

Os procedimentos exigidos na Instrução Normativa IBAMA 29/2002não são realizáveis em curto prazo. Resultados positivos puderam serobservados em Santarém (PA) durante a execução do Projeto IARA (IBAMA,1999; Castro, 2000; Begossi, 2002), e na Portaria IBAMA 01/2002, sobrepesca de lagosta no Estado do Ceará, que foi decidida durante uma negociaçãoque envolveu diversos grupos de interesse.

Por outro lado, um problema freqüente relacionado aos acordoscomunitários é a falta de enforçabilidade das regras estabelecidas. Em muitascomunidades pesqueiras do Brasil, a territorialidade é um requisito para omanejo local, e está ligada à aceitação pública das regras estabelecidas pelosgrupos de interesse durante os procedimentos participativos descritos naInstrução Normativa/IBAMA 29/2002. Áreas comuns são usualmentedeterminadas por laços de amizade e parentesco (Begossi, 1996). As regras demanejo pesqueiro são constituídas por uma combinação da cultura local e daestrutura social. As regras da comunidade regulam como a pesca deve serpraticada, determinam os locais permitidos, as épocas do ano, os tamanhosmínimos das espécies-alvo e a tecnologia (equipamentos de pesca) a serempregada (Acheson & Wilson 1996). Neste contexto, o principal propósito domanejo comunitário de estoques pesqueiros é suportar uma atividade pesqueirasustentável, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das famílias dospescadores, assim como de suas comunidades.

Em última análise, é esperado que estas práticas de manejo contribuampara se evitar a Tragédia dos Comuns (Hardin, 1968). Berkes (1985) alerta quesociedades não industriais são capazes de sobre-explotar um recurso e que nãohaveria grandes estoques pesqueiros em situações e locais de livre acesso.Assim, os mecanismos presentes em sistemas de manejo comunitário, sãovulneráveis a estresses que incluem (Berkes, 1985):

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• A perda do controle comunitário sobre o recurso, causando a falênciado sistema de propriedade usual, conduzindo ao livre acesso;

• Comercialização, como conseqüência de flutuações ou modificaçõesda demanda de mercado, podem motivar a sobre-pesca de algunsestoques;

• Rápido crescimento populacional, colocando grande pressão sobre osestoques (c.f. Petrere 1986a and 1986b; Camargo & Petrere, 2004);

• Rápidas mudanças tecnológicas.

Em síntese, o manejo comunitário de estoques pesqueiros obterámelhores resultados em sistema fechados, considerando o contexto social e acultura da comunidade. A gestão desta atividade, no entanto, deve seguir ospressupostos de integração com os demais recursos naturais, tendo por base abacia hidrográfica (Lei 9.433/97).

A demanda de mercado pelo pescado sempre deve ser considerada pelosgestores ambientais. As relações externas da comunidade com outros centrosde comercialização podem motivar a sobre-pesca. A análise de risco aplicadaao manejo pesqueiro em Tucuruí, PA, exemplifica o processo de tomada dedecisões administrativas, subsidiando medidas precaucionárias na regiãoamazônica (Camargo & Petrere, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O setor pesqueiro no Brasil tem avançado no desenvolvimento eimplementação de sistemas participativos de manejo de estoques. Neste caso,as principais linhas políticas para a pesca artesanal devem considerar osseguintes pontos:

i) o manejo comunitário de estoques pesqueiros pressupõedescentralização administrativa e recepção de usos e costumes peloIBAMA;

ii) o interesse público ao meio ambiente ecologicamente equilibradodemanda controle de acesso aos estoques pesqueiros;

O manejo comunitário de estoques pesqueiros deve ser analisado comoexemplo. Os procedimentos para se obter um acordo de pesca (Instrução

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Normativa/IBAMA 29/2002), devem ser estendidos para outros recursosnaturais renováveis. O manejo de estoques pesqueiros possui umaparticularidade: a incerteza determinada pela dinâmica populacional dasespécies-alvo e outros fatores ecológicos. Este tipo de obstáculo é ausente emsituações onde os estoques podem ser medidos precisamente (e.g. recursosflorestais), facilitando a implementação de sistemas participativos de gestão.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Programa de Pós-Graduação em DireitoAmbiental da Universidade do Estado do Amazonas, à Fundação de Amparo àPesquisa do Estado do Amazonas, ao Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia e ao CNPq.

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REFLEXÃO DO DIREITO DAS“COMUNIDADES TRADICIONAIS”A PARTIR DAS DECLARAÇÕES ECONVENÇÕES INTERNACIONAIS

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Resumo: Vários povos e grupos sociaisorganizados em movimentos sociais passarama reivindicar direitos, que sempre lhes foramnegados pelo Estado brasileiro. Emborativessem participado da maioria dasdiscussões, ampliando os espaços e canais departicipação política, não lograram políticaspúblicas efetivas. No contexto desse processo,deve-se observar a importância da ratificaçãode diversos dispositivos internacionais peloBrasil, que reafirmaram o reconhecimentodesses povos e grupos sociais, enquantosujeitos portadores de identidade étnica oucoletiva. Este artigo pretende analisar aimportância desses dispositivos internacionaisno contexto de mobilização e organizaçãodesses povos e grupos sociais.

Palavras chave: comunidades tradicionais,movimentos sociais, dispositivos interna-cionais

Abstract: Several organized peoples andsocial groups in social movements had startedto demand rights, which had been alwaysdenied to them by the Brazilian State.Although they had participated in the majorityof the quarrels, extending the spaces and canalsof political participation, they had not achievedeffective public policies. In the context of thisprocess, the importance of the ratification ofseveral international devices by Brazil must beobserved, which had reaffirmed therecognition of these peoples and social groups,while citizens entitled of ethnic or collectiveidentity. This article intends to analyze theimportance of these international devices in thecontext of mobilization and social organizationof these peoples and groups.

Key-words: Traditional communities; Socialmovements; International devices.

* Advogado. Professor do Programa de Pós-graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas (PPGDA/UEA). Coordenador do Grupo de Pesquisa: Direito, Comunidades Tradicionais e Movimentos Sociais. Pesquisador do Projetode Pesquisa “Nova Cartografia Social na Amazônia” (PPGSCA/ UFAM/ Fundação Ford).

Joaquim Shiraishi Neto*

Sumário: Introdução: delineamento de um campo jurídico; 1. As Declarações e Convenções noOrdenamento Jurídico; 2. O Lugar Jurídico das Declarações e Convenções; 3. A Convençãon.169 da OIT: a consciência de si; Referências

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INTRODUÇÃO: DELINEAMENTO DE UM CAMPO JURÍDICO

Uma reflexão acerca da importância dos diversos dispositivos jurídicosinternacionais que foram “acordados”, “assinados” e “ratificados” ou não pelosdiversos países e, em especial, pelo Brasil, nas últimas décadas, e que seencontram referidos de forma direta ou indireta às “comunidades tradicionais”1

tal como são designados os diversos povos e grupos sociais portadores deidentidade étnica ou coletiva no país, é de extrema relevância para o processoem curso, de reconhecimento pleno desses, enquanto grupos sociais, distintose autônomos, organizados e mobilizados em torno das garantias ereivindicações de seus direitos.

Nesse sentido, o intenso processo vivenciado pelos povos indígenas,povos quilombolas, seringueiros, castanheiros, quebradeiras de cocobabaçu, faxinalenses e comunidades de fundo de pasto2 dentre outrosrelevam o grau de complexidade do que está ocorrendo no Brasil e sua relaçãodireta com outros países, onde se tem verificado situações análogas àsapresentadas, sobretudo no que diz respeito à relação e à forma jurídica de lidarcom essas questões, as quais vem sendo tratadas de formas diferenciadas pelosEstados, ora se ocupando em reconhecer e ampliar os direitos,3 ora adotando

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1 Em 24 de dezembro de 2004, por meio de um Decreto Federal, foi criado a Comissão Nacional de DesenvolvimentoSustentável das Comunidades Tradicionais. Entre vários, ela tem como objetivo principal “estabelecer a Política Nacional deDesenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais” (inciso I do referido Decreto).

2 Almeida vem sistematizando as diversas situações vivenciadas por esses povos e grupos sociais no país. A propósito, ler :ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Terras de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livres”, “castanhais livres”, faxinais efundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. Manaus: PPGSCA-UFAM, 2006.

3 É possível listar uma série de países, sobretudo na América Latina, que vivenciam situações consideradas análogas as das“comunidades tradicionais” do Brasil. A maioria desses países alteraram seus dispositivos jurídicos constitucionais e infra-constitucionais para reconhecer o caráter “pluricultural” e “multiétnico” de suas sociedades e assim para poder atender asdemandas desses “povos” e “grupos sociais”, que se encontram no interior dos Estados nacionais, as quais são múltiplase complexas (TOMEI, Manuela; SEWPSTON, Lee. Povos indígenas e tribais: guia para a aplicação da Convenção n.169 daOIT. 1. ed. Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 1999).

De outro lado, diversos países de democracia liberal têm sentido a necessidade de debater a reformulação dos seusdispositivos jurídicos e do próprio Estado para acomodação dos diversos grupos sociais portadores de identidade. No caso,o debate intelectual de fundo tem se dado entre o “liberalismo político” e o “pluralismo cultural”. Em alguns países comoo Canadá, Bélgica e Espanha, o debate tem ocorrido em torno da reorganização política do Estado pela “assimetria federal’,já que os grupos sociais constituem unidades políticas territoriais que coexistem no interior do Estado. Para uma leitura aesse respeito, ver: FOSSAS, Enric; REQUEJO, Ferran. Asimetría Federal y Estado Plurinacional. El debate sobre laacomodación de la diversidad en Canadá, Bélgica y España. Madrid: Editorial Trotta, 1999.

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medidas de cunho nitidamente discriminatórias4 em relação a eles, afastando-os de qualquer possibilidade de serem reconhecidos enquanto “sujeitos dedireito”.

Tem-se, ainda, para os chamados “operadores do direito”5 uma pos-sibilidade impar de ir consolidando a constituição do que poderia ser de umcampo jurídico do “direito étnico”6 e, portanto, de uma forma própria de refletiro direito, a partir das situações vivenciadas por esses povos e grupos sociais,porquanto é possível observar que essa dinâmica tem provocado no âmbitointerno do direito, pelo menos, três movimentos que podem ser assimdelineados:

a) o deslocamento de disciplinas tidas como “tradicionais”, a saber: odireito civil, o direito agrário e o próprio direito ambiental;

b) a relativização e reorganização hierárquica de determinadas normas eregras consagradas pelos interpretes; e

c) a reafirmação e ampliação de dispositivos jurídicos internacionais deproteção de direitos humanos.

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4 Sobre a reformulação de dispositivos jurídicos de cunho discriminatório em países de democracia liberal, ver as discussõese as mobilizações em torno da política de imigração Norte Americana, que impôs uma série de medidas legais com objetivode impedir a imigração e o processo de reconhecimento de direitos dos imigrantes já residentes (Folha de São Paulo, 2 demaio de 2006. p. A 9). Ao que parece essas medidas legais de caráter discriminatório tem se espraiado por outros países,como é caso da Lei que foi aprovada recentemente na França, que impõe restrições a imigração, estabelecendo critériosseletivos ao imigrante como o da maior escolaridade e do padrão econômico (Folha de São Paulo, 18 de junho de 2006. p.A15). No Japão, há uma discussão em torno da política migratória que afetará de forma direta os diversos brasileiros, oschamados “dekasseguis”. Ela tem a intenção de acabar com o visto especial para descendentes de japoneses e de exigir oconhecimento da língua local a todos que solicitarem visto para trabalharem no país (Jornal Nippo Brasil . São Paulo, 21 a27 de junho de 2006; p. 4 Brasil no Japão).

A despeito do Brasil ser o destino de muitos imigrantes (Folha de São Paulo, 18 de junho de 2006), essa discussão não vemsendo enfrentada .

Contrariando essas políticas que vêm sendo adotadas indistintamente pelos mais variados países, o Relatório doDesenvolvimento Humano 2004 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) além de rejeitar que asdiferenças seriam fontes de discórdia e de “conflitos culturais”, reafirma a sua importância como princípio dodesenvolvimento humano.

5 Essa noção de “operadores do direito” tomada no texto é indistinta, servindo para referir tanto aos professores dos cursos dedireito, como os demais profissionais: advogados, juízes, promotores, procuradores...

6 Não entendo que o direito possa ser compreendido de forma fragmentada, tal como é ensinado nos cursos jurídicos. Asquestões são por demais complexas para serem compreendidas a partir de uma única disciplina do direito, além do mais,não se pode esquecer que este tipo de especialidade, que enseja uma “carreira jurídica”, sempre está a sujeitar-se aospadrões determinados pela própria disciplina, acabando por restringir as possibilidades de interpretação e análise , isto é:“Para ser um especialista, você tem de ser credenciado pelas autoridades competentes; elas ensinam a falar a linguagemcorreta, a citar as autoridades corretas, a sujeitar ao território correto” (SAID, 2005: p. 81).

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Tal movimento que se verifica no interior do direito, decorre deprofundas transformações que está ocorrendo na órbita nacional einternacional, e ocorre pelo fato do direito não vir conseguindo responder deforma plena e satisfatória as demandas e reivindicações dos movimentossociais, que afetam de forma direta e indireta a vida dos “povos” e “grupossociais”. Em outras palavras, o “desrespeito” às diferenças existentes entre osdistintos sujeitos, materializado numa política de universalização dos direitos,vem provocando um aprofundamento dos problemas.

Tem-se observado enormes dificuldades jurídicas operacionais,sobretudo, em face da total impossibilidade de se “enquadrar” as situaçõesvivenciadas aos modelos jurídicos preexistentes, os quais têm norteado eestruturado todo ordenamento jurídico; mesmo que esses modelos possamestar referidos de alguma forma as essas situações sociais, como é o caso dosdispositivos referidos ao direito ambiental.

Os resultados mais visíveis da aplicação desses dispositivos podem serobservados nas unidades de conservação de uso direto, que, inicialmente,foram incorporadas como instrumentos de defesa de direitos pelos movimentossociais e, que, hoje em dia , têm sido visto com certa cautela pelos própriosmovimentos, principalmente pelos problemas que tem gerado em torno de suaimplantação,7 constituindo muitas vezes um empecilho a reprodução física ecultural desses povos e grupos sociais.

Para efeito desse entendimento de que os direitos devem ser plenos,trata-se de garantir a esses povos e grupos sociais a sua reprodução física esocial, consubstanciada numa determinada “prática social”,8 que se relaciona a

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7 O modelo de reserva extrativista que se desenvolveu a partir da experiência dos seringueiros do Acre, é um bom exemplodesses problemas as quais estou me referindo, sobretudo às reservas extrativistas de babaçu, que, a despeito de terem sidocriadas em 1992, têm sérias dificuldades de se implementar, pois esse modelo tem como ponto de partida as práticasextrativas dos seringueiros, que em muito se diferem das chamadas quebradeiras de coco babaçu. A respeito dessasquestões, ver: SHIRAISHI NETO, Joaquim. Babaçu Livre: conflito entre a legislação extrativa e práticas camponesas.ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de; SHIRAISHI NETO, Joaquim; MESQUITA, Benjamin Alvino de. A Economia do Babaçu:levantamento preliminar de dados. 2º ed. São Luís: MIQCB/ Typographia Balaios, 2001. pp. 57-64.

Com relação às dificuldades entre a realidade e aplicação da Lei, para as reservas de desenvolvimento sustentável (RDS), verBENTES, Genise de Melo. Desenvolvimento Sustentável: da realidade à legislação no Estado do Amazonas. Manaus:Programa de Pós-graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas, 2006. (Dissertação deMestrado).

8 No interior dessa “prática social” , observa-se uma série de “práticas jurídicas” que se relacionam, sobretudo, as formas deacesso e uso comum dos recursos naturais e da terra. No entanto, essas não podem ser confundidas com o direitoconsuetudinário, já que há entendimento prevalente no direito de que o costume é regra que do uso decorre, sendo que porisso mesmo os doutrinadores têm se esforçado em identificar os seus requisitos que envolvem uma prática reiterada,constante e uniforme de determinado ato que é produzido pela vontade geral de todos (BATALHA, Wilson de Souza Campos.Lei de Introdução ao Código Civil. Fontes e Interpretação do Direito. São Paulo: Max Limonad, Vol.1. pp. 259-329).

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um modo de “criar”, de “fazer” e de “viver”. Essa forma própria de viver a vidaestá garantida no inciso II do art. 216 da Constituição Federal de 1988, bemcomo do que pode ser extraído da Convenção de n.º 169 da OIT, que trata sobreos “povos indígenas e tribais”.9

Observa-se que em determinados momentos, o direito tal comotradicionalmente formulado, tem servido mais como “obstáculo” às pretensõesdesses povos e grupos sociais, evidenciando assim o grau de disputas internas nocampo jurídico, em que se coloca em questão a própria forma de dizer o direito.

Convém enfatizar que para além das reivindicações dos povos e grupossociais se está diante de uma luta interna no campo jurídico, onde há umenfrentamento dos “operadores do direito” do direito em dizer o direito.10

A referida disputa identificada inicialmente no plano dos operadoresstrictu sensu, não pode se desgatar ou mesmo se paralizar em torno dasdiscussões dos procedimentos operacionais formais para efetivação de direitosjá consagrados nos textos e que reconhecem a existência social desses povos egrupos sociais. Sublinha-se que os direitos os quais se está referindo seencontra no bojo dos direitos fundamentais e, portanto, de aplicação imediata,conforme determina o texto constitucional.11

Já não se trata, com efeito, de simplesmente se utilizar dos mecanismosjurídicos cirúrgicos para determinar a validade ou não dos dispositivos legais,decepando aquelas normas tidas como inconstitucionais, mas de admitir acoexistência dos diversos instrumentos disponíveis para a efetivação dessesdireitos. Trata-se de reafirmar as suas respectivas fontes,12 que além de seremmúltiplas e complexas, estão profundamente enraizadas em situaçõeslocalizadas, ampliando as possibilidades de interpretação e de efetivação dedireitos, os quais devem ser plenos.

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9 Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n.º 5.051, de 19 de abril de 2004.

10 Para P. Bourdieu “o campo jurídico é o lugar de concorrência pelo monopólio do direito dizer o direito, quer dizer a boadistribuição (nomos) ou a boa ordem , na qual se defrontam agentes investidos de competência ao mesmo social e técnicaque consiste essencialmente na capacidade reconhecida de interpretar (de maneira mais ou menos livre ou autorizada) umcorpus de textos que consagram a visão legitima, justa do mundo social.” BOURDIEU, Pierre. A força do direito. Elementospara uma sociologia do campo jurídico. O Poder Simbólico; trad. Fernando de Tomaz. Rio de Janeiro: Editora Bertrand BrasilS.A , 1989. pp. 209-254.

11 §1º, do art.5º. “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.”

12 André Jean Arnaud e Maria José Fariñas Dulce vêm atualizando as discussões sobre os sistemas jurídicos. Para eles, com aglobalização, o direito tem se apresentado cada vez menos como se fosse de uma única fonte. Há uma multiplicidade defontes do direito e esse fenômeno é designado como “policentricidade”, que exclui a pirâmide de Kelsen, organizando outrasestruturas , que podem ser assemelhar a um sistema de “circularidade” ou de “rede”. ARNAUD, André-Jean; DULCE, MariaJosé Farinas. Introdução à Análise Sociológica dos Sistemas Jurídicos; trad. Eduardo Pellew Wilson. Rio de Janeiro: Renovar,2000. pp. 381-405.

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A dinâmica vivenciada por esses povos e grupos sociais na busca pelodireito de viver a diferença, joga luz no direito, pois esse se vê obrigado areconhecer outras “práticas jurídicas”, que se encontram coadunado com outrasformas de saber, mais localizados, situados nas experiências de cada gruposocial. Contudo, não se pode ignorar que essa forma de “saber” sempre estevesujeitado aos sistemas formais.13

Por isso, trata-se de refletir sobre os esquemas de pensamento jurídicodominante, cuja implicação primeira é de rever determinadas noções eprincípios profundamente cristalizados e que se encontram “inculcados” nos“operadores do direito”, a fim de reorganizá-los esquematicamente em nossopensamento, inclusive, hierarquicamente, no interior do sistema jurídico. Oque se propõe é submeter as “práticas jurídicas” a um exercício de reflexãocrítica, no sentido da sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu, colocando em“suspenso” as noções e os princípios que são tomados indistintamente como“naturais”, no sentido de “afastarmos” de qualquer possibilidade que possaservir como restrição de direitos.

No caso das situações sociais que envolvem esses povos e grupossociais, entendo que se trata de atribuir ao “princípio da pluralidade” o mesmovalor que é atribuído ao “princípio da dignidade humana”, que de formacriteriosa tem orientado a elaboração de toda dogmática crítica do direito.

O deslocamento do “princípio da dignidade humana” no interior dosistema jurídico, favorecendo o princípio da pluralidade, que o equiparahierarquicamente na estrutura jurídica, provoca uma necessidade inicial dereleitura dessa dogmática crítica, que, com razão, tem afirmado esse princípiocomo supremo.

Nesse sentido, aquele esquema esboçado por Kelsen de que o direitopoderia ser apresentado como se fosse uma pirâmide e que tanto teminfluenciado os esquemas de pensamento jurídico ocidental, inclusive, aorganização do sistema hierárquico de valores – tão caro aos interpretes dodireito. Os valores que sinalizam a produção e interpretação das normasacabam cedendo lugar a outras estruturas, talvez menos geométrico e, portantomais livres desses esquemas, que aprisionam o pensamento jurídico.

O significado mais visível dessa leitura dinâmica do direito é que elepossa ir “recuperando” e “atualizando” seus significados, no interior da

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13 A respeito, ver FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade; trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999.pp. 3-26.

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“sociedade plural”, que se encontra em processo de profunda transformação.Há necessidade, também, de se afastar no âmbito das disputas jurídicas, do quese tem identificado como “crise do direito”, pelo fato de que esse esquemacientífico interpretativo do direito vir se apresentado como permanente, estávele duradouro, reforçando a idéia de que mais tem servido para alimentar odiscurso jurídico dominante.

1. AS DECLARAÇÕES E CONVENÇÕES NO ORDENAMENTOJURÍDICO

Até bem pouco tempo atrás sequer poderíamos imaginar, em função dograu de “universalização” e “abstração” do direito, que os instrumentosinternacionais das Declarações e das Convenções aqui utilizados pudessemestar referidos as situações diretamente vivenciadas por povos e grupos sociais.Em outras palavras, a utilização efetiva dos instrumentos internacionais paraamparar legalmente as situações, que se encontram na maioria das vezescircunscritas a uma determinada unidade de espaço e de tempo. Não se podeesquecer que o próprio direito sempre viveu como sendo “universal”,“abstrato” e, portanto, a – histórico. Para além dessas noções, que se encontramprofundamente enraizadas num direito estatal, o direito tem reivindicado uma“homogeneidade universal”, compromissada com um “projeto global desociedade”.14

Em muitos países, o fato do direito vir se apresentando como se fosseúnico,15 mais tem servido para justificar a sua total indiferença e o seu desprezoàs noções de “local”, de “realidade” e de “pluralidade”.

Uma decorrência de tudo isso foi à criação de “ficções jurídicas”, comoa do “sujeito de direito”, que se encontra destituído de suas raízes profundas.A primazia da forma em detrimento do conteúdo tem levado os “sujeitos dedireito” a uma espécie de “invisibilidade”, destituindo esses sujeitos dequaisquer elementos que possam qualificá-los, perdendo as suasespecificidades enquanto tal, como parte de determinado povo ou grupo social.

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14 Para Bourdieu há um intenso movimento que tem a pretensão de criar uma “homogeneização jurídica”, a fim de que possaatender os propósitos de determinados grupos econômicos dominantes que atuam em toda parte. BOURDIEU, Pierre.Contrafogos 2: para um movimento social europeu; trad. André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. p. 107.

15 RANCIÈRE, Jacques. O Desentendimento; trad. Ângela Leite Lopes. São Paulo: Editora 34, 1996. p. 110.

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Ao incorporar essas “novas” dimensões e conteúdos explicitadas nosdispositivos internacionais, mesmo sabendo que esses representam formas dedominação aqui tomando a noção de Michel Focault sobre o significado dedispositivo, é possível vislumbrar uma dimensão do direito, que extrapola asnoções pré-determinadas, obrigando-nos a um mergulho em um “novo” modusoperandi, cuja força motriz faz com que se reflita acerca das estruturas e o seumodo de funcionamento.

Os dispositivos internacionais dos direitos humanos são igualmenteuniversais e, por isso, passíveis das críticas ora formuladas. Contudo, aexistência desses instrumentos de proteção dos indivíduos revela, inicialmente,um dado importante destacado pela maioria dos interpretes do direitointernacional, de que os indivíduos, não são meros objetos, mas sim, “sujeitosde direito”; corroborando uma leitura que relativiza a soberania absoluta dosEstados, na medida em que é possível a intervenção para proteção desses“sujeitos de direito”, que são mais importantes que os próprios Estados.

Os recentes dispositivos internacionais “acordados”, “assinados” e“ratificados”, ou não, pelo Brasil, deram ênfase a outros elementosconstitutivos da noção de sujeito de direito, permitindo um alargamento e umamelhor qualificação do sujeito, que além da dimensão individual,16 inscrita emvários desses dispositivos internacionais de proteção dos direitos humanos,incorpora uma outra dimensão de sentido coletivo e que se refere à noção depovos e grupos sociais.

Portanto, o exercício que ora se propõe é tomar os dispositivosinternacionais ratificados ou não pelo Brasil e analisá-los à luz do contextobrasileiro.

2. O LUGAR JURÍDICO DAS DECLARAÇÕES E CONVENÇÕES

O primeiro passo para a nossa reflexão é de explicitar a força da forma,situando essas Declarações e Convenções no interior do sistema jurídicobrasileiro. Trata-se de guardar o papel das Declarações, cujo conteúdo servecomo “princípios jurídicos” orientadores dos demais instrumentos e ações,

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16 Importa assinalar que outros dispositivos internacionais já se referiam a uma noção de coletivo, como a Convenção doGenocídio que foi aprovada pelo Brasil por meio da Lei n.º 2.889, de 01 de outubro de 1956, que “define e pune o crime degenocídio”.

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bem como das Convenções, que por serem tratados,17 vinculam os países naórbita internacional, impondo todo tipo de sanções, sobretudo aquelas denatureza comercial, cujos resultados podem ser mais imediatos.

Para a análise, serão tomadas preferencialmente as Declarações às quaiso Brasil é signatário, especialmente: a “Declaração Universal dos DireitosHumanos” de 1948, a “Declaração de Durban” e a “Declaração Universalsobre a Diversidade Cultural”, ambas de 2001. Além das Declarações, asConvenções já ratificadas: a “Convenção Relativa à Proteção do PatrimônioMundial, Cultural e Natural” de 1972,18 a “Convenção sobre a DiversidadeBiológica”19 e a Convenção n.º 169 da OIT.

Neste contexto, deve-se assinalar que a “Convenção Relativa à Proteçãodo Patrimônio Mundial, Cultural e Natural” representou um “marco jurídico”desse processo, pois além de permitir a realização da distinção entre opatrimônio cultural e o natural, enfatizou a importância desses bens para odesenvolvimento da humanidade.

A despeito de não ter sido ratificada pelo Brasil, a “Convenção sobre aProteção e a Promoção da Diversidade de Expressões Culturais” faz partedesse repertório de instrumentos internacionais e, desta forma, serve pararefletir as situações vivenciadas pelos povos e grupos sociais no Brasil.

É o §2.º, do art. 5.º, da Constituição Federal de 1988, que garante apossibilidade de recepção dos direitos enunciados nesses dispositivos,conferindo aos tratados que versam sobre questões relacionadas aos direitosfundamentais, em particular, natureza hierárquica de norma constitucional e deaplicação imediata,20 tal como preceitua o §1.º, do art. 5.º, da CF de 1988, queassegura aplicação imediata de normas definidoras de direitos e garantiasfundamentais.

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17 A incorporação de tratados internacionais no sistema jurídico nacional é matéria reservada aos Estados, por isso, asexigências podem variam de Estado para Estado. Em geral, o processo de formação dos tratados tem início com os atos denegociação. A simples assinatura do tratado, não irradia efeitos jurídicos. No Brasil, após a negociação e assinatura que éde competência do Poder Executivo (inc. VIII, art.84 da CF), é encaminhado ao Poder Legislativo para aprovação por meio deDecreto Legislativo (inc. I , art. 49 da CF). Na seqüência desse processo há o ato de ratificação, que é realizado pelo PoderExecutivo por meio de Decreto e somente após a sua ratificação é que o tratado passa a ter valor e produzir efeitos jurídicos.Como etapa final, esse instrumento há de ser depositado em um órgão que assuma a sua custódia para produzir efeitosinternos e externos. Uma decorrência de seu descumprimento é a responsabilização do Estado violador.

18 Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n.º 80.978, de 12 de dezembro de 1977.

19 Promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n.º 2.519, de 16 de março de 1998.

20 A propósito dessa temática da hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos, conferir: PIOVESAN, Flávia. DireitosHumanos e o Direito Constitucional Internacional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. pp. 51-103.

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2.1 O Reconhecimento das Diferenças nas Declarações eConvenções

A Convenção n.º 169 foi adotada pelo Organização Internacional doTrabalho (OIT) em 1989. Entrou em vigor em 1991 após ter sido ratificada pordois Estados-membros, revogando a Convenção n.º 107, de caráter“integracionista” ou “assimilacionista”, cujo objetivo era integrar esses povose grupos a sociedade nacional. Ela partia de modelos explicativos quepressupunham uma espécie de irreversibilidade do processo de “integração” oude “assimilação”. Essa posição foi revista pela Convenção n.º 169, a qualincluiu a noção de que a vida dos “povos indígenas e tribais” é permanente eperdurável, fazendo com que diversos Estados passassem a se reconhecercomo “multiétnicos” ou “pluriculturais”.

Na última década, diversos Estados reformularam suas Constituições epassaram a reconhecer que se trata de Estados com uma diversidade cultural, aexemplo do próprio Brasil, que em 1988, outorgou uma Carta reconhecendo adiversidade social e cultural do país, como consta do Preâmbulo:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em AssembléiaNacional Constituinte para instituir um Estado democrático,destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais eindividuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, odesenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremosde uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,fundada na harmonia social e comprometida , na ordem interna einternacional, com a solução pacífica das controvérsias,promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição daRepública Federativa do Brasil. (G.N.). (Preâmbulo daConstituição Federal de 1988).

Este posicionamento foi co-extensivo aos Estados membros que, aoelaborarem a suas Constituições Estaduais a partir de 1989, reconheceram deforma explícita as diversas situações envolvendo povos e grupos sociaisdistintos.

Como se não bastasse, as Constituições federal e estaduais deramtratamento específico as questões culturais, que também são tidas como direitofundamental, em decorrência das declarações internacionais e regionais de

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direitos humanos (“Declaração Universal de Direitos Humanos” e “DeclaraçãoAmericana dos Direitos e Deveres do Homem”). Para esses instrumentos , acultura não se trata somente de criação e de produção artística e intelectual,mas inclui também uma forma própria, que serve para a realização existencialdas pessoas enquanto pessoas.

Nesse sentido, os textos das Constituições Estaduais acabaram indo aoencontro com o disposto na Constituição Federal de 1988, cujo entendimentoé de que a cultura se relaciona a uma forma de “criar”, de “fazer” e de “viver”dos povos e grupos sociais (inciso II do art. 216). Sentido esse reafirmado na“Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural”, onde se lê já nasconsiderações iniciais o que se segue:

Reafirmando que a cultura deve ser considerada como conjuntodos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais eafetivos, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social eque abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, asmaneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e ascrenças.21 (G.N).

Explicitamente essa “Declaração Universal sobre a DiversidadeCultural” afirma que:

A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético,inseparável do respeito à dignidade humana. Ela implica ocompromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdadesfundamentais, em particular os direitos das pessoas quepertencem as minorias e os dos povos autóctones. Ninguém podeinvocar a diversidade cultural para violar os direitos humanosgarantidos pelo direito internacional, nem para limitar seualcance. (G.N.) (art.4.º).

Além disso, a diversidade cultural seria também uma das fontes dodesenvolvimento entendido num sentido amplo (art.3.º). Já para a “Convençãosobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais”, a

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21 Ela se dá conforme as conclusões da Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais (MONDIACULT), que ocorreu em 1982,no México; da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento (Nossa Diversidade Criadora) de 1995; e da ConferênciaIntergovernamental sobre Políticas Culturais para o Desenvolvimento , que aconteceu em 1998, em Estocolmo.

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diversidade cultural é tratada explicitamente como princípio para odesenvolvimento sustentável:

A diversidade cultural é uma grande riqueza para as pessoas e associedades. A proteção, a promoção e a manutenção dadiversidade cultural é uma condição essencial para odesenvolvimento sustentável em benefícios das gerações aturais efuturas. (G.N.) (item 6 do art. 2 da Convenção).

Observa-se que está havendo uma tendência em aliar a defesa dadiversidade cultural e da cultura ao desenvolvimento humano, equiparando anoção de desenvolvimento sustentável, tão caro ao direito ambiental. Essemovimento muito se assemelha ao da preservação e da conservação danatureza, cuja intensidade se verificou, sobretudo na década de 1990,influenciando diversos instrumentos normativos e desencadeando um conjuntode políticas públicas e de ações, como a própria Constituição Federal de 1988,que tem um Capítulo sobre o Meio Ambiente (art. 225).

3. A CONVENÇÃO N.º 169 DA OIT: A CONSCIÊNCIA DE SI

Sobre a Convenção n.º 169 da OIT é importante afirmar que além de serum tratado, tem uma especificidade por tratar-se de matéria relacionada aosdireitos dos “povos indígenas ou tribais”, que são tidos como fundamentais,cujas implicações é a sua aplicação imediata (§1.º do art. 5º) e oreconhecimento de que esse dispositivo se situa no mesmo plano hierárquicoda CF de 1988, a exemplo de todos os direitos fundamentais.

Contudo, determinados autores têm enfatizado duas omissõesimportantes22 da Convenção n.º 169: o fato de não ter tratado sobre apropriedade intelectual; e que não prevê formas de controle da sua aplicação.Em relação a essa primeira omissão, trata-se de ler essa com a “Convençãosobre Diversidade Biológica”, no sentido de qualificar os sujeitos portadoresdos conhecimentos tradicionais.

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22 A esse respeito, ler: CHAMBERS, Ian. El Convenio 169 de la OIT: avance y perspectivas. GÓMEZ, Magdalena (coord.).Derecho Indígena

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A leitura conjunta dessas Convenções tem uma enorme conseqüência noplano jurídico, sobretudo no sentido de equiparar as relações que sãorigorosamente formais e fechadas às realidades sociais. Ela é realizadapropositalmente, uma vez que permite reafirmar a presença dos povos e grupossociais nessa arena de disputas.

Uma conseqüência em deixar de fazê-lo, seria tratar indistintamentetodo conhecimento como passível de ser apropriado ou mesmo, pensá-lo porsua utilidade e necessidade, tal como se estrutura o pensamento jurídicodominante, que tem como pressuposto o aperfeiçoamento das relaçõesmercantis entre sujeitos, tidos como iguais. Atenta-se o fato de que a essa“Convenção sobre a Diversidade Biológica” designa “comunidades locais” e“populações indígenas” ao invés de “povos indígenas e tribais” como faz aConvenção n.º 169.

Os interpretes da Convenção n.º 169 da OIT tem dividido esseinstrumento em três seções principais e cada uma delas em várias partes. Aprimeira diz respeito à política geral; a segunda, a vários temas substantivos; ea terceira, assuntos gerais e administrativos.

Em relação à Convenção n.º 169, vale repassar alguns artigos, que sãoimportantes para a nossa reflexão jurídica. Ela fala dos “povos indígenas” e“tribais”, não fazendo nenhuma distinção de tratamento em relação a essesgrupos sociais. Ambos têm o mesmo peso diante da Convenção.

As situações vivenciadas por esses povos e grupos sociais não sevinculam necessariamente a um período temporal ou a um determinado lugar.O que deve ser considerado no processo de identificação é a forma de “criar”,de “fazer” e de “viver”, independentemente do tempo e do local, importandoassinalar que referido critério distintivo da noção de “povo” não é o mesmo dodireito internacional (item 3 do art. 1º da Convenção n.º 169).

Ressalta-se que essa noção de povo desloca-se da noção de população,de caráter “integracionista” ou “assimilacionista”, como pode ser observado noitem 2 do art. 1.º:

A consciência de sua identidade indígena ou tribal deverá serconsiderada como critério fundamental para determinar osgrupos aos que se aplicam as disposições da presente Convenção.(G.N.).

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Para a Convenção, o critério para distinguir os sujeitos é o daconsciência, em outras palavras, é o da auto-definição... é o que os sujeitosdizem ser por estarem referidos a algum povo ou grupo social e, por issomesmo, tem provocado e promovido de forma deliberada uma verdadeiraruptura no mundo jurídico, que sempre esteve vinculado aos interpretesautorizados da Lei. Para Pierre Bourdieu, o campo jurídico se constitui numuniverso social autônomo e específico, organizado único e exclusivamentepelos “operadores do direito”, que por meio de um mandato, “usurpam”qualquer forma de participação.

No Brasil, não há “povos tribais” no sentido estrito em que há em outrospaíses, mas existem povos e grupos sociais distintos que vivem em sociedadee essa distintividade é que aproxima da noção de “povos tribais”.

Desde que os povos e grupos sociais se definam enquanto tal devem ser“amparados” pela Convenção. A Convenção não define a priori quem são esses“povos indígenas e tribais”, apenas dá instrumentos para que o próprio sujeitose defina diante de seu grupo, como o da “consciência de sua identidade”,sendo que compete a cada país a decisão sobre quais povos e grupos sociaisrecaí a aplicação dessa Convenção. Neste caso, ela faz acertadamente, pois sedefinisse de antemão, excluiria uma infinidade de povos e grupos sociais desseprecioso dispositivo.

Entendo que a Constituição Federal dá um tratamento especial a essassituações reafirmando os critérios de identidade, uma vez que essas noçõespodem ser retiradas de uma leitura criteriosa do art. 3, quando ele afirma que aresolução dos problemas regionais (inc. III do art.) passa pela construção deuma “sociedade livre”, “justa” e “solidária” (inc. I do art.), sem qualquer tipode discriminação (inc. IV).

Um aspecto diretamente relacionado ao da identidade , é o da ocupaçãoe uso das terras, do território. De acordo com o item 1 do art.14 da Convenção:Dever-se-á reconhecer aos povos interessados os direitos de propriedade e deposse sobre as terras que tradicionalmente ocupam... (G.N.).

Essa noção de terra, que compreende o conceito de território, incluiuuma totalidade que diz respeito: as formas de ocupação e uso da terra e dosrecursos naturais (item 2 do art.13); às culturas e os valores vinculados a essaterra ou territórios (item 1 do art.13); ao direito sobre os recursos naturaisexistentes. Ele abrange também o de “...participarem da utilização,administração e conservação dos recursos mencionados.” (item 1 do art.15).

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Na possibilidade dos recursos pertencerem ao Estado, mesmo assimdeverão ser consultados com procedimentos apropriados, participar dosbenefícios e receber indenização eqüitativa (item 2 do art.15).

Além de tudo isso, o item 1 do art. 14, resguarda a possibilidade dessespovos e grupos sociais utilizarem as terras não ocupadas, mas que venhamsendo utilizadas de forma tradicional. Trata-se de reconhecer o instituto daservidão, que foi utilizado em situações que se assemelham as da presente, talcomo os chamados “castanhais do povo” no Estado do Pará, onde por meio deDecreto, o Estado assegurava aos castanheiros, o livre acesso e uso doscastanhais. Para essas situações, fica condicionado ao Estado adotar medidaspara salvaguardar esse direito desses povos e grupos sociais.

Em relação à Convenção n. 169, dois aspectos ainda são merecedores denotas, pois se encontram diretamente referidos ao a auto-definição. Eles dizemrespeito ao processo de participação e de consulta envolvendo os povos egrupos sociais.

Segundo o art. 6º, os governos devem estabelecer os meios para que ospovos e grupos sociais interessados possam participar das decisões em todos osníveis no âmbito legislativo e administrativo (letra a e b do item 1 do art. 6.º).Os meios, segundo a letra c, implicam em criar condições próprias para quepossam participar efetivamente (inclusive alocando recursos, investindo naformação e capacitação e no fortalecimento institucional dos grupos...).

Pelo visto, há uma mudança radical de por fim a qualquer forma queenseje algum tipo de tutela, sempre presente nos dispositivos jurídicos, quenotadamente vêem esses povos e grupos sociais como sujeitos inferiorizados,incapazes de discernirem sobre seus próprios atos. No caso, o “princípio daigualdade” deve ser o pressuposto e não o objetivo a ser alcançado, pois aemancipação decorre do reconhecimento da existência da diversidade e dasdiferenças de cultura, que envolucram distintos sujeitos que conhecemperfeitamente as suas necessidades mais imediatas e mediatas.

Mais do que isto, entendo que o Estado deverá condicionar as suaspolíticas e programas as ações dos grupos sociais; deverá, ainda, se estruturarde forma diferenciada para atendimento das demandas que são múltiplas ecomplexas, determinado “novas” maneiras de pensá-las. Isso tudo implicanuma mudança do Estado na forma de organizar e operacionalizar suas ações,que não pode ficar restrita as competências administrativas firmadaspreviamente.

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A importância desse instrumento, assim como dos outros referidos, saltaaos olhos. Ele permite refletir uma série de políticas, programas e ações. Aaplicação efetiva desses dispositivos jurídicos internacionais pode e devesignificar uma mudança nas estruturas do Estado, que sempre foram esboçadase operacionalizadas de forma universal, sem deixar margem para o tratamentodas diferenças sempre existentes.

Convém destacar um outro artigo que também se encontra diretamenterelacionado à afirmação das identidades e ao direito de participação dessespovos e grupos sociais, é a previsão contida no item 1 do art. 7.º:

Os povos interessados deverão ter direito de escolher suasprioridades no que diz respeito ao processo de desenvolvimento,na medida em que ele afete as suas vidas, crenças, instituições ebem estar espiritual, bem como as terras que ocupam e utilizamde alguma forma, e de controlar, na medida do possível, o seupróprio desenvolvimento econômico, social e cultural. Alémdisso, esses povos deverão participar da formulação, aplicação eavaliação dos planos e programas de desenvolvimento nacional eregional suscetíveis de afeta-los diretamente. (G.N).

identifica-se aqui pelo menos dois pontos importantes: o direito dogrupo definir o que quer, o que quer para si, de definir suas prioridadesquaisquer que sejam; e o direito de participar de todas discussões que possamlhe afetar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como visto, os dispositivos jurídicos internacionais apresentam umaatualidade em face das situações vivenciadas pelos povos e grupos sociais noBrasil. O fato de garantir que os sujeitos se definam a partir de sua própriaconsciência, rompe com uma maneira de pensar o direito, alargando acompreensão das “práticas jurídicas”, que se encontram referidas ao campojurídico.

Ademais, uma leitura das Declarações e das Convenções internacionaispossibilita o deslocamento do poder de dizer o direito, na medida em que“inverte os papéis”, atribuindo aos “operadores do direito” um papel menos

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“ativo” e mais “passivo” nesse processo, sobretudo porque cabe ao “operador”reconhecer o que foi expressamente definido pelos sujeitos. Além disso, esseprocedimento que garante o reconhecimento das diferenças faz com que ocorraum revigoramento dos povos e grupos sociais, que se mobiliza no sentido degarantir o reconhecimento de suas especificidades, tidas como imprescindíveispara o desenvolvimento da sociedade.

Vale ressaltar que a despeito desse processo desenhado no campojurídico, tem-se a necessidade de, a exemplo do que ocorre em outros países, aconstrução de uma política jurídica de caráter étnico, a fim de atender egarantir a reprodução física e social desses povos e grupos sociais, o que vaiimplicar numa “nova maneira” de se pensar as relações e as estruturas doEstado brasileiro.

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PARTE IIIA FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTALCOMO NOVO PARADIGMA DA PROPRIEDADE CONTEMPORÂNEAAAllaaiimm GGiioovvaannii FFoorr tteess SStteeffaanneell lloo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..119999

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2001. As diferentes percepções de propriedade privada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2012. A contribuição do Direito Romano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2013. A diferenciação no período medieval: o feudalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2024. A Revolução Francesa como marco do Direito Moderno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2035. A visão de alguns pensadores católicos sobre a propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2046. A Propriedade na visão privatista tradicional e na visão constitucional contemporânea . . . . . . . . . . . .2057. A função sócio-ambiental da propriedade como novo paradigma biocêntrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . .207Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .212

ANÁLISE DA CULPABILIDADE E DA RESPONSABILIDADE DO DANO AMBIENTAL:REFLEXÕES A PARTIR DE UMA MISSÃO DE FISCALIZAÇÃO DO IBAMA NO INTERIOR DO ESTADO DO PARÁDDaanniieell AAbbrraahhããoo ddoo NNaasscciimmeennttoo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..221177

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2181. Desenvolvimento: Conhecendo o cenário e o começo dos “crimes” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2192. A Insuficiência do aparelho estatal e o legado de um modelo de desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . .2223. A culpabilidade e a responsabilidade do dano ambiental Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . .227Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .235

SOCIEDADE CIVIL RESÍDUOS SÓLIDOS E CONSCIENTIZAÇÃOMMaarr iiaa RRoossaallvvaa ddee OOll iivveeii rraa SSii llvvaa .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..223399

1. Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2402. Competência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2413. Classificação dos Resíduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2424. A Problemática do Lixo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2435. Sociedade Civil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2466. Conscientização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .249

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A FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTALCOMO NOVO PARADIGMA DA

PROPRIEDADE CONTEMPORÂNEA

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004 119999

Resumo: O instituto da propriedade tem seconsolidado dentro de uma concepçãoindividualista desde a época do direitoromano. A Declaração dos Direitos do Homeme do Cidadão, de 1789, serviu como marcohistórico moderno da propriedade comodireito absoluto. Esse modelo, baseado noEstado Liberal, foi sendo reproduzido peloensino jurídico de forma a não permitirreflexões críticas acerca da necessidade do seureexame com base numa visão social. Mesmocom a inserção da função social dapropriedade na Constituição Federal de 1988,o inconsciente coletivo continuava areproduzir o modelo anterior, que se esgotoupor não contemplar os interesses dacoletividade. Surge espaço para o crescimentodas diferentes noções de propriedadecontemporânea, baseada na função sócio-ambiental como novo paradigma biocêntrico.

Palavras-chave: Direito Ambiental; DireitoConstitucional; Propriedade; Função Social;

Abstract: The institute of property has beenconsolidated within an individualisticconception since the time of the Roman law.The Declaration of the Rights of the Man andthe Citizen, of 1789, served as modernhistorical landmark of property as an absoluteright. This model, based on the Liberal State,had been reproduced by the legal education inorder to not allow critical reflectionsconcerning the necessity of its reexaminationbased on a social vision. Even with theinsertion of the social function of property inthe Federal Constitution of 1988, the collectiveunconscious continued to reproduce theprevious model, which has been depleted fornot contemplating the interests of thecollectiveness. Space for the growth of thedifferent notions of contemporary propertyappears, based on the socio-environmentalfunction as a new biocentric paradigm.

Key-words: Environmental Law; Cons-titutional Law; Property; Social Function;

* Advogado da Caixa Econômica Federal em Manaus – Gerente Jurídico Regional. Mestrando em Direito Ambiental pelaUniversidade do Estado do Amazonas – UEA/AM. Pós Graduado em Direito Civil e Processo Civil pela FADIVALE-MG.Conselheiro Editorial da Revista de Direito da ADVOCEF. Presidente do CEDAM – Centro de Estudos em Direito Ambiental daAmazônia.

Alaim Giovani Fortes Stefanello*

Sumário: Introdução; 1. As diferentes percepções de propriedade privada; 2. A contribuição doDireito Romano; 3. A diferenciação no período medieval: o feudalismo; 4. A Revolução Francesacomo marco do Direito Moderno; 5. A visão de alguns pensadores católicos sobre a propriedade;6. A Propriedade na visão privatista tradicional e na visão constitucional contemporânea; 7. Afunção sócio-ambiental da propriedade como novo paradigma biocêntrico; Conclusão.

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INTRODUÇÃO

O estudo que se pretende apresentar no presente artigo terá como escopoa propriedade no contexto contemporâneo, já relativizada pela função social eambiental insertas na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil de 2002.Trata-se de um novo paradigma da propriedade que rompe com o absolutismodo Direito Privado tradicional, o qual está baseado no poder total do donosobre o bem apropriado.

Embora não se tenha a intenção de limitar o tema apenas sob o enfoqueda propriedade imóvel e privada, este aspecto será explorado neste artigo naparte que trata da evolução histórica das noções propriedade, para demonstrarque as concepções criadas ao longo do tempo, principalmente acerca dapropriedade rural, influenciaram nas demais formas de apropriação de benspelo homem. Contudo, também será analisada a propriedade de bens imateriaise ambientais.

Antes disso, porém, faz-se necessário contextualizar o assunto. Paratanto, é preciso entender como as concepções do Estado Liberal foram sendofirmadas ao longo do tempo e reproduzidas com base no sistema jurídicoromano de propriedade. Tais concepções sofreram poucas alterações econsolidaram-se na Revolução Francesa, que influenciou boa parte dosCódigos Civis ocidentais.

A reprodução deste modelo de propriedade ocorreu por meio de umensino jurídico que, via de regra, apenas reproduz conceitos dentro de umaconcepção monista e positivista, sem se preocupar em analisar de forma críticao sistema legal vigente, o qual gera desigualdade social e exclusão, tendo porbase a concentração de propriedade.

Esse ensino jurídico conservador, lastreado no inconsciente coletivo dosalunos, vai fazendo com que algumas importantes mudanças no ordenamentojurídico demorem muito para terem eficácia social. A função sócio-ambiental dapropriedade é um exemplo disso.

Foi essa modalidade de ensino jurídico que reproduziu as concepçõesliberais de propriedade, originadas do Código Civil Francês, dentro de umametodologia de “mera transmissão do conhecimento”,1 ou de simplestransferência de informação, sem qualquer preocupação pedagógica,

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1 MARTINEZ, Sérgio Rodrigo. Manual da Educação Jurídica. Curitiba: Juruá, 2004, p. 32.

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perpetuando o discurso hegemônico liberal do “ensino jurídico dapropriedade”,2 como ensina Erouths Cortiano Junior.

Aos poucos, porém, uma nova realidade começa a ser construída noscursos jurídicos. A didática, as noções de pedagogia, a educação transdisciplinarque se preocupa em fazer com que o direito dialogue com as demais ciências,contribui para que os meros reprodutores de informações comecem a dar lugaràqueles que ensinam a pensar e a criar, fazendo com que a teoria jurídica interajacom a realidade social na busca de alternativas emancipatórias.

1. AS DIFERENTES PERCEPÇÕES DE PROPRIEDADE PRIVADA

Não se pretende no presente trabalho analisar todos os tipos depropriedade e as diferentes concepções formuladas por diversos teóricos desdeos mais remotos tempos. Far-se-á um breve estudo contextualizado sobrealgumas percepções de propriedade ao longo da história, que permita construirum cenário que servirá de palco para desenvolver o tema principal, analisandoa propriedade contemporânea dentro de um novo paradigma social e ambiental.

2. A CONTRIBUIÇÃO DO DIREITO ROMANO

Para Orlando Gomes,3 na evolução histórica da propriedade interessarelembrar a noção deste instituto para os romanos, pois é o modelo que“predomina no regime capitalista” até hoje. Segundo o autor, a propriedaderomana passou por longo processo de individualização, conferindo poderesexagerados e exaltando a concepção individualista do proprietário.

Fernanda de Salles Cavedon,4 por sua vez, afirma que o Direito Romanoinfluenciou os principais sistemas jurídicos ocidentais, em especial no âmbito doDireito Privado. Para a autora, a noção de propriedade para os romanos foi sofrendoalterações, deixando de ser exclusivamente individualista quando começou arestringir as formas de uso que trouxessem prejuízo à propriedade alheia.

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2 JUNIOR, Eroulths Cortiano. O Discurso Jurídico da Propriedade e suas Rupturas. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2002.

3 GOMES, Orlando. Direitos Reais. 19.ª ed. Atualizada por Luiz Edson Fachin. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2005, p. 115.

4 CAVEDON, Fernanda de Salles. Função Social e Ambiental da Propriedade. Florianópolis: Editora Momento Atual, 2003, p. 8.

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De qualquer forma, independente dos contornos restritivos que o uso dapropriedade romana possa ter tido, a concepção mais marcante deste período éo direito de usar, fruir e dispor da propriedade, possuindo o proprietário umdireito absoluto oponível erga omnes que influenciou o Direito Civil ocidental.Neste sentido, Roberto Senise Lisboa5 afirma que “no decorrer da história doimpério romano, podem ser constatadas etapas em que a propriedadeindividual possuiu maior ou menor importância. Entretanto, é inegável que oindividualismo, de forma geral, prevaleceu”.

3. A DIFERENCIAÇÃO NO PERÍODO MEDIEVAL: O FEUDALISMO

Já no período medieval a propriedade diferencia-se no que tange àexclusividade, “tendo como traço dominante a multiplicidade e odesmembramento do domínio, representado pelo regime feudal”.6 ParaOrlando Gomes7 é a “quebra desse conceito unitário”, havendo concorrênciade proprietários sobre o mesmo bem.

O período feudal caracteriza-se, pois, por uma mudança no domínio euso da terra, fruto da desigualdade social e das “invasões das propriedadesprivadas”8 que estavam ocorrendo. O individualismo e o poder absoluto sãorelativizados, dando lugar ao compartilhamento da terra entre o senhor feudale o vassalo, em que pese haverem obrigações recíprocas, não consideradaseqüitativas.

Cabe destacar, mesmo assim, o encontro de interesses daqueles que nãopossuíam terras, mas desejavam e precisam plantar para sobreviver, comaqueles que possuíam propriedades improdutivas e nelas não queriamtrabalhar. Essa relação, porém, por ser excessivamente onerosa para o vassalo,aos poucos vai gerando o esgotamento deste modelo, diminuindo os direitos dosenhor feudal. Novamente, aos poucos a propriedade volta a adquirir contornosindividualistas que se consolidariam, posteriormente, com a RevoluçãoFrancesa de 1789.

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5 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil. Volume 4: Direitos Reais e Direitos Intelectuais. São Paulo: 3.ª ed., revistae atualizada. Editora Revista dos Tribunais, 2005, p. 163.

6 CAVEDON, Fernanda de Salles. Op. cit., p. 13.

7 GOMES, Orlando. Op. cit., p. 115.

8 BLANC, Priscila Ferreira. Plano Diretor Urbano e Função Social da Propriedade. Curitiba: Editora Juruá, 2004, p. 27.

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4. A REVOLUÇÃO FRANCESA COMO MARCO DO DIREITOMODERNO

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, oriunda daRevolução Francesa, concebe a propriedade como um direito sagrado einviolável. Trata-se do marco histórico e ideológico do Direito Moderno,baseado nos ideários de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução.

Todavia, esta concepção de liberdade foi assegurada como um direito doproprietário usar de qualquer forma seus bens, agindo sem precisar se preocuparcom a coletividade, dando origem ao Liberalismo que projetava a propriedaderestrita ao aspecto individualista. “Só homens livres podem ser proprietários,podem adquirir propriedade, porque faz parte da idéia da propriedade apossibilidade de adquiri-la e transferi-la livremente”.9 Retorna-se, pois, aomodelo ideológico de propriedade semelhante ao conceito que os romanosadotavam, de usar, fruir e dispor de maneira absoluta dos seus bens.

Essa concepção de propriedade foi defendida pelo modelo dogmáticopositivista desde a Revolução Francesa. De acordo com Plauto Faraco deAzevedo, este ainda é o arquétipo dominante na atualidade, apesar de estarsendo combatido nas últimas décadas. Segundo o autor, “este modelo pode sercompreendido com a ascensão da burguesia ao poder político, após aRevolução Francesa. Com o Código Civil Francês, o Código de Napoleão,surge a Escola da Exegese, que proíbe a interpretação do direito”.10

Porém, ao contrário do que se possa imaginar, a transformação de terrasem propriedade privada na concepção atual, não é um fenômeno universal,“nem histórica nem geograficamente”, conforme afirma Carlos FredericoMarés de Souza Filho.11 De acordo com o autor, trata-se de uma construçãohumana recente, como vimos acima, construída com base no mercantilismodos séculos XVI, XVII e XVIII, bem como nos confrontos, violência e guerrasdos séculos XIX e XX, o que ocasionou o “esgotamento teórico e prático” 12

deste modelo.

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9. SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés. A função social da terra. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris. Editor, 2003, p. 18.

10. AZEVEDO, Plauto Faraco de. Ecocivilização: ambiente e direito no limiar da vida. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,2005, p. 37.

11. SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés. Op. cit., p. 17.

12. Ibidem, p. 18.

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5. A VISÃO DE ALGUNS PENSADORES CATÓLICOS SOBRE APROPRIEDADE

A Igreja Católica teve um papel relevante na defesa de uma propriedademais voltada aos interesses coletivos. Neste aspecto, Carlos Marés,13 citandoEduardo Rubianes, lembra São Basílio, que por volta do século V teria indagado:

Quem é ladrão? Quem é avaro? Avaro é aquele que não secontenta com o suficiente. E, se chamamos de ladrão aquele dedesnuda quem está vestido, terá outro nome aquele que não vestequem está desnudo, podendo fazê-lo? O pão que guardas, é dofaminto; os vestidos que conservas no guarda-roupa, é dodesnudo; o dinheiro que guardas enterrado, é do necessitado.

De forma semelhante, Santo Tomas de Aquino também pregou que apropriedade não poderia “se opor ao bem comum ou a necessidade alheia”.14

Essa tendência vai “desde Santo Ambrósio, propugnando por uma sociedademais justa com a propriedade comum, ou Santo Agostinho, condenando oabuso do homem em relação aos bens dados por Deus”.15

Como se observa, as posições acima são totalmente opostas àpropriedade no sentido individual, pregando que cada um deveria possuirapenas o suficiente para sua sobrevivência e necessidade, devendocompartilhar todos os bens que não sejam necessários com aqueles que não ospossuem. Não haveria, na concepção destes pensadores, acúmulo de bens.

Todavia, essa concepção de socializar os bens não teve espaçosignificativo para crescer ao longo da história, predominando a visãocapitalista do acúmulo de propriedade como símbolo de poder na sociedade.

Esse é o pensamento que permanece até hoje. Trata-se do predomínio do“ter”, em detrimento do “ser”; ou seja, na sociedade contemporânea valoriza-se o acúmulo de riquezas (propriedades no sentido geral), menosprezando-seos demais valores humanos. Para Carlos Marés,16 esta é a lógica da

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13 Ibidem, p. 20, tradução livre. Citado por Eduardo Rubianes em seu livro El domínio de los bienes segun la doctrina de laIglesia, publicada em Quito, pela PUC- Ecuador, em 1993.

14 Ibidem, p. 21.

15 MALUF, Carlos Alberto Dabus. Limitações ao Direito de Propriedade. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005, p. 73.

16 SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés. Introdução ao Direito Socioambiental. In, O Direito para o Brasil Socioambiental.LIMA, André. (org.). Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2002, p. 29.

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modernidade, lastreada num sistema onde todos têm direito a seremproprietários, por isso, já não são mais chamados de cidadãos, mas sim deconsumidores ou usuários.

Ou seja, na sociedade atual valorizam-se aqueles que podem consumir eadquirir propriedades. Esses bens materiais passaram a ser mais relevantes doque valores imateriais como ética, respeito, dignidade e paz. Nesta lógica, apessoa só será sujeito de direito se for proprietário.

6. A PROPRIEDADE NA VISÃO PRIVATISTA TRADICIONAL E NAVISÃO CONSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEA

O objetivo deste estudo não é estabelecer definições e conceitos deforma absoluta, mas sim fazer uma análise crítica descritiva das diferentesvisões acerca do tema propriedade. Optar-se-á por esta metodologia porentendermos que o direito precisa ser visto e praticado de uma forma dinâmicaque permita ir além de conceitos prontos e acabados, buscando auxiliar naconstrução de viabilidades jurídicas que contribuam para uma sociedade maisplural e eqüitativa.

Neste sentido, temos a visão contemporânea do direito de propriedade,onde já não prevalece, apesar de ainda existir, “aquele absolutismo perniciosoque imperava no conceito do direito de propriedade, conferindo ao titular dessedireito prerrogativas excepcionais [...] em detrimento dos interesses que seriamos mais caros da coletividade”.17

José Afonso da Silva18 explica que:

o direito de propriedade fora, com efeito, concebido como umarelação entre uma pessoa e uma coisa, de caráter absoluto,natural e imprescritível. Verificou-se, mais tarde, o absurdo dessateoria, porque entre uma pessoa e uma coisa não pode haverrelação jurídica, que só se opera entre pessoas... Demais, ocaráter absoluto do direito de propriedade, na concepção daDeclaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 foisendo superado pela evolução, desde a aplicação da teoria do

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17 MALUF, Carlos Alberto Dabus. Op. cit., p. 17.

18 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 12.ª edição revista. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 263.

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abuso do direito, do sistema de limitações negativas e depoistambém de imposições positivas, deveres e ônus, até chegar-se àconcepção da propriedade como função social, e ainda àconcepção da propriedade socialista, hoje em crise.

Importante destacar a opinião acima, vista sob a ótica constitucionalista,mostrando a superação privatista do conceito de propriedade pelas normas dodireito público. Para o autor, o conjunto de normas constitucionais sobrepropriedade faz com ela não seja mais considerada como instituição de DireitoPrivado, uma vez que a perspectiva civilista não “alcança a complexidade dotema, que é resultante de um complexo de normas jurídicas de Direito Públicoe de Direito Privado”.19

Para Gustavo Tepedino20 a Constituição Federal de 1988 introduziuprofundas transformações na disciplina da propriedade, sendo que “oscivilistas, à época, não se deram conta de tais modificações em toda a suaamplitude, mantendo-se condicionados à disciplina da propriedade pré-vigente”. O autor afirma que:

a propriedade, portanto, não seria mais aquela atribuição depoder tendencialmente plena, cujos confins são definidosexternamente, ou, de qualquer modo, em caráter predo-minantemente negativo, de tal modo que, até uma certademarcação, o proprietário teria espaço livre para suasatividades e para a emanação de sua senhoria sobre o bem. Adeterminação do conteúdo da propriedade, ao contrário,dependerá de centros de interesses extraproprietários, os quaisvão ser regulados no âmbito da relação jurídica de propriedade.21

Observa-se, pois, a mudança de concepção de propriedade,principalmente após a Constituição Federal de 1988 que lhe atribuiu umafunção social. Logo, vista sob as lentes constitucionais, a propriedade só serágarantida, nos termos do artigo 5.º, XXII, desde que atenda a sua função social,conforme estabelece o artigo 5.º, inciso XXIII.

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19 Ibidem, mesma página.

20 TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 3.ª edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 304.

21 Ibidem, p. 317.

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Carlos Frederico Marés de Souza Filho comenta que a propriedade e suafunção social foi um dos temas mais polêmicos no processo constituinte de1988, pois de um lado estava a questão social propugnando por umapropriedade relativizada. De outro lado, a “velha propriedade do século XIX,absoluta, protegida a qualquer preço, como coisa sacrossanta, intocável, comose fosse o supremo direito de cada um e o paradigma único de liberdade”.22

Neste mesmo sentido o novo Código Civil de 2002, em seu artigo 1.228reconheceu que o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,mas que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com assuas finalidades econômicas e sociais, preservando a flora, a fauna, as belezasnaturais, o equilíbrio ecológico, o patrimônio histórico e artístico, evitando apoluição do ar e das águas.

O disposto no artigo 1.228 do Código Civil explicita uma outra funçãoque a propriedade deve atender, que é a função ambiental. Para Juliana Santilli,“o novo ordenamento constitucional obrigou o estatuto civil a redimensionar odireito de propriedade, dando-lhe nova estrutura e novos contornosconceituais”.23

Na verdade, tal artigo está em consonância com o disposto na ConstituiçãoFederal, no seu artigo 225, que trata do meio ambiente como bem de uso comumdo povo. De igual forma no inciso II do artigo 186 da Constituição, que trata dapropriedade rural e vincula a função social à preservação do meio ambiente.Ainda, a título ilustrativo, no artigo 170 da Constituição, nos princípios gerais daatividade econômica aparecem a propriedade privada, a função social dapropriedade e a defesa do meio ambiente.

7. A FUNÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DA PROPRIEDADE COMONOVO PARADIGMA BIOCÊNTRICO

Na evolução histórica da propriedade observamos que para os Romanosdestacava-se a prerrogativa de usar, fruir e dispor sobre os seus bens. Nofeudalismo ocorreu o compartilhamento da propriedade rural, possibilitando

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22 SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés. Introdução ao Direito Socioambiental. Op. cit., p. 22 e 23.

23 SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos. São Paulo: Peirópolis. IEB – Instituto Internacional de Educação doBrasil e ISA – Instituto Socioambiental. 2000, p. 89.

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que mais pessoas tivessem acesso a terra. A Revolução Francesa apresentou apropriedade como um direito sagrado e inviolável, que foi sendo reproduzidopelo capitalismo, estando ainda hoje presente no inconsciente coletivoreproduzido pelo ensino jurídico liberal, baseado na dogmática positivista.

Importante destacar a Constituição de Weimar, ou Constituição doImpério Alemão de 11 de agosto de 1919, em seu artigo 153; bem como aConstituição Mexicana de 31 de agosto de 1917, em seu artigo 27. Para CarlosMarés, ambas Constituições “adotam como fundamento do direito o conceitode que a propriedade, para mais de ser um direito é um dever: ‘A propriedadeobriga’, define a Constituição de Weimar; ‘a nação terá sempre o direito deimpor à propriedade privada as regras que dite o interesse público’, arremata aConstituição Mexicana”.24 Trata-se de uma importante evolução parachegarmos à propriedade nos moldes hoje conhecido.

A propriedade contemporânea enseja novas observações que indaguemse os bens apropriados atendem à função social e ambiental preconizadas pelaConstituição Federal e pelo novo Código Civil. Logo, nesta fase, deve-se voltaros olhos para os tipos de propriedade onde residem interesses da coletividade,a exemplo da propriedade ambiental.

Essa função sócio-ambiental da propriedade se mostra importante para opresente trabalho, na medida em que se compreende melhor a transformaçãodos bens oriundos da natureza em propriedade privada. Ou, na visão de JuanAntonio Senent de Frutos, la naturaleza como propriedad común del génerohumano a su apropriación privativa.25

Na perspectiva de uma reflexão crítica sobre apropriação do meioambiente, observar-se-á como ocorre a transferência de um bem ambiental dacoletividade para a esfera patrimonial individual, por meio do acesso às suasinformações genéticas, o que Cristiane Derani denomina como direito deacesso como terceira dimensão da apropriação. Neste sentido:

Este direito de apropriação do novo século é chamado de direitode acesso, numa síntese do direito de acessar informaçõescontidas em um bem. Assim, é possível que este direito de acessogere direitos de propriedade individualizado, podendo, sem risco

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004220088

24 SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. O Renascer dos Povos Indígenas para o Direito. Curitiba: Juruá Editora, 2005, p.173.

25 FRUTOS, Juan Antonio Senent de.Sociedad del conocimento, biotecnologia y biodiversidad. Revista de Direito Ambiental daAmazônia – HILÉIA. Manaus: Ano 2, nº 2, 2004, p. 119.

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de conflito ou sobreposição, falar-se em direitos privados depropriedade sobre um bem, tutelado pelo Código Civil e direitosprivados de propriedade às informações contidas naquele bem,tutelado pela propriedade intelectual pertencentes a titularesdistintos.26

A conseqüência do acesso à informação genética contida numa planta,por exemplo, como visto acima, constitui-se numa forma de apropriação, queirá gerar uma propriedade privada oriunda da biodiversidade. Faz-se necessárioavaliar esta complexa relação da apropriação de bens ambientais cujo interessediz respeito à coletividade, (nos termos do artigo 225 da Constituição),relacionando-o com a função social da propriedade. Para Cristiane Derani,“esse tratamento da relação de propriedade marca a diferença entre Estadoliberal e Estado social. Enquanto o primeiro garante a propriedade privadacontra terceiros, o segundo preocupa-se com a melhoria da vida social a partirdessa apropriação privada de bens”.27

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5.º, expressa essas duasvertentes aparentemente antagônicas, quando garante o direito de propriedadeno inciso XXII, mas estabelece que ela atenderá a sua função social no artigoXXIII. Ou seja, a antinomia aparente entre os dois incisos citados resulta dadiferença de percepção ideológica do Estado Liberal e do Estado Social.

Portanto, essa é a análise efetuada no presente artigo, de onde infere-seque toda propriedade, seja pública ou privada, móvel ou imóvel, corpórea ouincorpórea, deve atender e cumprir sua função sócio-ambiental. Neste sentido,Paulo Luiz Neto Lobo esclarece:

A concepção de propriedade, que desprende da Constituição, émais ampla que o tradicional domínio sobre coisas corpóreas,principalmente imóveis, que os códigos civis ainda alimentam.Coenvolve a própria atividade econômica, abrangendo o controleempresarial, o domínio sobre ativos mobiliários, a propriedadede marcas, patentes, franquias, biotecnologias e outraspropriedades intelectuais. Os direitos autorais de software

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26 DERANI, Cristiane. Tutela Jurídica da Apropriação do Meio Ambiente e as Três Dimensões da Propriedade. Revista de DireitoAmbiental da Amazônia – HILÉIA. Manaus: Ano 1, nº 1, 2003, p.71.

27 DERANI, Cristiane. A Propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da “função social”. Revista de Direito Ambiental. SãoPaulo: Editora Revista dos Tribunais. Ano 7, nº 27, 2002, p.59.

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transformaram seus titulares em megamilionários. As riquezassão transferidas em rápidas transações de bolsas de valores,transitando de país a país, em investimentos voláteis. Todas essasdimensões de propriedade estão sujeitas ao mandamentoconstitucional da função social (grifamos).28

Como se percebe, a função social incide sobre várias formas depropriedade, principalmente se nelas recair algum interesse da coletividade.Logo, as informações genéticas oriundas da biodiversidade, por exemplo,quando apropriados e transformados em propriedade privada, estão sujeitas,também, ao princípio da função social e ambiental previstos no ordenamentojurídico pátrio.

Neste aspecto, Paulo Luiz Neto Lobo ressalta que o meio ambiente ébem de uso comum do povo e “prevalece sobre qualquer direito individual depropriedade, não podendo ser afastado até mesmo quando se deparar comexigências de desenvolvimento econômico (salvo quando ecologicamentesustentável)”.29

Trata-se, pois, de um novo paradigma da propriedade, sob forteinfluência das regras constitucionais ambientais. É o que José Robson daSilva30 denominou de “Paradigma Biocêntrico: do Patrimônio Privado aoPatrimônio Ambiental”.

Com esse novo “Paradigma Biocêntrico que se detecta no sistemaconstitucional brasileiro”,31 percebe-se que a influência do discurso dapropriedade vista de forma absoluta, reproduzida pelo ensino jurídico porséculos, finalmente começa a ceder espaço para uma nova concepção baseada nafunção social e ambiental da propriedade. Neste sentido, Juliana Santilli afirma:

Os manuais de Direito Ambiental costumam incluir a funçãosócio-ambiental da propriedade entre os princípios desse novoramo autônomo do Direito, com base numa releitura ‘ambiental’da função social da propriedade. Consideramos que a função

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28 LOBO, Paulo Luiz Neto. Constitucionalização do Direito Civil. Revista de Informação Legislativa, Brasília, n. 141, p. 99-109,jan./mar. 1999, p. 107.

29 Ibidem, p. 106.

30 SILVA, José Robson da. Paradigma Biocêntrico: do Patrimônio Privado ao Patrimônio Ambiental. Rio de Janeiro: EditoraRenovar, 2002.

31 Ibidem, p. 375.

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sócio-ambiental da propriedade é muito mais do que um princípioespecífico do Direito Ambiental: é um princípio orientador detodo o sistema constitucional que irradia os seus efeitos sobrediversos institutos jurídicos. A função sócio-ambiental dapropriedade permeia a proteção constitucional à cultura, ao meioambiente, aos povos indígenas e aos quilombolas.32

Essa concepção contemporânea de propriedade busca cumprir suafunção sócio-ambiental, não se aplicando apenas para bens imóveis ecorpóreos, incidindo, por exemplo, em bens do patrimônio cultural, do meioambiente, do patrimônio genético e da propriedade intelectual. Trata-se de umreordenamento do sistema jurídico que inseriu obrigações aos proprietários emrelação à coletividade, ocasionando o deslocamento do instituto da propriedadedo Direito Privado para o Direito Público.

Para Carlos Frederico Marés de Souza Filho, “deve ficar claro que o queinteressa ao Direito Socioambiental é o caráter coletivo destes direitos e nãosua realização individual”.33 Esse interesse coletivo se constitui na essência dafunção social da propriedade. Exemplo disso é o direito de todos ao meioambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo,competindo à coletividade e ao Poder Público, nos termos do artigo 225 daConstituição Federal de 1988, defendê-lo e preservá-lo para as presentes efuturas gerações.

A incidência deste direito da coletividade sobre os bens ambientais sesobrepõe ao direito individual. Neste aspecto, Juliana Santilli destaca que“independentemente do domínio público ou privado, o interesse coletivocondiciona e restringe a utilização que o proprietário público ou particular façados bens sócio-ambientais”.34 Ou seja, a função sócio-ambiental da propriedadealtera a própria essência do instituto da propriedade.

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32 SANTILLI, Juliana. Op. cit., p. 86.

33 SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés. Introdução ao Direito Socioambiental. In, O Direito para o Brasil Sócio-ambiental.LIMA, André. (org.). Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2002, p. 32.

34 SANTILLI, Juliana. Op. cit., p. 89.

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CONCLUSÃO

Como foi afirmado anteriormente, a intenção deste artigo não é buscarconceitos e definições que tenham a pretensão de estabelecer verdadesabsolutas. Tão pouco o espaço disponível para o trabalho nos permite esgotaro tema, até mesmo por não ser esse o propósito.

O que se almejou foi demonstrar uma percepção sobre o instituto dapropriedade dentro de uma visão contemporânea, onde concluímos existir umnovo paradigma biocêntrico que ultrapassa as fronteiras do Direito Privadopara encontrar abrigo no Direito Público.

Esse fenômeno, também chamado de constitucionalização do direitocivil, retirou da propriedade seu caráter individualista, fazendo-a cumprir suafunção social e ambiental. “A propriedade tornou-se um tema de direitopúblico, isto é, de interesse público e como tal passou a ser tratada pelaConstituição”.35

De qualquer forma, na concepção trabalhada neste artigo, buscou-sedemonstrar a necessidade de construirmos um ensino jurídico crítico,reflexivo, criativo, transdisciplinar e voltado para a realidade social comoforma de melhor compreender os novos paradigmas da propriedade, focadonos interesses da coletividade, afastando-se da dogmática positivista. Nesteaspecto, Plauto Faraco de Azevedo afirma:

o positivismo exegético, explicável, à sua época, hoje constitui umóbice à formação e ao raciocínio jurídicos, estiolando opensamento e concorrendo à formação da ‘mão-de-obra semcabeça’, contribuindo à submissão de número ponderável dejuristas ao status quo, seja ele qual for – hoje o neoliberal.36

Sérgio Rodrigues Martinez37 explica como foi sendo consolidado estearquétipo liberal nos cursos jurídicos nacionais, oriundos da Faculdade deDireito de Coimbra do século XIX, cuja base teórica fundava-se no discursocientífico jus-racional do liberalismo positivista. O autor registra que noprimeiro centenário da criação dos cursos de Direito no Brasil, em 1927,

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35 SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés. Introdução ao Direito Socioambiental... op. cit., p. 23.

36 AZEVEDO, Plauto Faraco de.Ecocivilização: ambiente e direito no limiar da vida. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,2005, p. 38.

37 MARTINEZ, Sérgio Rodrigo. MMaannuuaall ddaa EEdduuccaaççããoo JJuurr ííddiiccaa.. Curitiba: Juruá, 2004, p. 25..

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surgiam as primeiras críticas às aberturas indiscriminadas de Faculdades deDireito, surgindo o termo “fábrica de bacharéis” em alusão ao “modelofordista”38 de produção de automóveis.

Esse arquétipo liberal ainda se faz presente em parte dos cursos deDireito e no inconsciente coletivo de muitos alunos. Pode-se entender porinconsciente coletivo os padrões automatizados que vão sendo repetidos deforma geral, quase sempre instintivamente e por impulsos, praticamente deforma mecânica, consolidando-se no senso comum e reproduzindo-se sublimi-narmente.

No inconsciente coletivo predomina o entendimento que o bomprofessor continua sendo aquele que tem uma boa oratória, com uma retóricabaseada em palavras difíceis que impressione seus alunos, independente depreocupar-se com a qualidade do conteúdo que se está ensinando. Ou, ainda,muitas vezes pensa-se que o bom professor será aquele que atingiu êxitoprofissional na sociedade onde vive, sendo que na maioria das vezes esseentendimento costuma ser confundido com sucesso financeiro. Nem sempre,porém, um bom profissional da área jurídica será um bom professor de direito,assim como o inverso também é verdadeiro.

As mudanças no modelo de ensino jurídico tradicional, aos poucos têmcontribuído para modificar as concepções de propriedade, permitindo que afunção sócio-ambiental insculpida na Constituição Federal seja difundida paraalém da propriedade imóvel e aumente sua eficácia social.

Exemplo disso são os direitos de propriedade intelectual, vistos numprimeiro momento como direitos exclusivamente individuais, que hojecomeçam a ser rediscutidos em alguns casos como direitos coletivos depropriedade intelectual.

Essa vertente ganha mais força quando se trata de propriedadeintelectual oriunda de bens ambientais, principalmente por meio dabiotecnologia, onde muitas vezes para fabricar novos produtos para o mercado,as empresas se utilizam de conhecimentos dos Povos Indígenas e daspopulações que sobrevivem da floresta.

Fica evidenciada a incidência da função social da propriedade sobreestes bens oriundos da natureza, uma vez que pertencem à coletividade, nãopodendo perder esta característica quando são apropriados por meio de um

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38 Ibidem, p. 30

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registro de patente, principalmente se esta apropriação não respeitar os direitosdos povos detentores dos saberes tradicionais sobre a natureza.

Disso decorre a necessidade de se fazer uma nova leitura da Lei 9.279de 14 de maio de 1996, a Lei de Propriedade Industrial, levando-se em conta oprincípio constitucional da função sócio-ambiental da propriedade incidindosobre os direitos de propriedade intelectual.

Logo, resta a certeza de que o ensino do direito deve alargar seushorizontes, debruçando-se sobre o estudo da função sócio-ambiental dapropriedade intelectual como um fator de desenvolvimento tecnológico ecientífico, respeitando o direito dos povos e das gerações presentes e futuras aomeio ambiente equilibrado como base de uma sadia qualidade de vida, nostermos almejados pelo legislador constituinte.

Conclui-se, pois, que a propriedade contemporânea, seja móvel ouimóvel, não pode mais ser vista numa concepção individualista dissociada dosinteresses da coletividade e da preservação do meio ambiente.

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ANÁLISE DA CULPABILIDADE E DARESPONSABILIDADE DO DANO

AMBIENTAL: REFLEXÕES A PARTIR DEUMA MISSÃO DE FISCALIZAÇÃO DO

IBAMA NO INTERIOR DO ESTADO DO PARÁ

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Resumo: O artigo é uma análise daculpabilidade nos crimes ambientais. Procura-se fazer seu estudo com base no aspecto social-antropológico da população. A temáticacentraliza-se na discussão da culpabilidadecriminal no projeto de assentamento de Placas-PA. Demonstra a desatenção dos órgãosestatais com os problemas locais. Procurarelacionar o descaso estatal com a exploraçãodos trabalhadores do projeto por parte dasmadeireiras. Demonstra como o INCRA éomisso ao não fiscalizar as áreas em queconcede permissão para assentamentos. Oserros dos projetos de assentamento resultamna degradação do meio-ambiente, em face dascarências dos habitantes locais. Desse fato,decorre que várias famílias são assentadas emáreas de preservação permanente, o que éconsiderado crime. Por meio de uma análisepenal, aborda o autor a relação “culpado e/ouvítima”. Observa a necessidade da equiparaçãode valores culturais e sociais para a imputaçãodos crimes ambientes. Reflete sobre anecessidade da utilização do meio ambienteequilibrado na melhoria da qualidade de vida.Sustenta que a proteção ao meio ambiente énecessária para a garantia desse predicado.Assim, sintetiza a problemática do direito depunir do Estado de acordo com o grau deculpabilidade dos indivíduos.

Palavras-chave: Crime Ambiental; Fisca-lização do IBAMA; Culpabilidade.

Abstract: The article is an analysis ofculpability in environmental crimes. It isintended to accomplish this study based on thesocial-anthropological aspect of the popula-tion. The thematic is directed to the discussionof criminal culpability in the settlement projectof Placas-PA. It demonstrates the inattention ofState organs towards the local problems. Itseeks to relate the State negligence to theexploitation of workers from the project by theLumber Companies. It demonstrates negligentINCRA is when it does not control the areas inwhich it concedes permission for settlements.The mistakes of the settlement projects resultin the degradation of the environment, inrelation to the local inhabitants’ needs. Manyfamilies are settled in permanent preservationareas due to that, which is considered a crime.By means of penal analysis, the authorapproaches the relation “guilty and/or victim”.He observes the necessity of equalization ofcultural and social values for the imputation ofenvironmental crimes. He also reflects aboutthe necessity of the utilization of a balancedenvironment for improvement of quality oflife. It is sustained that the environmentprotection is necessary to guarantee thispredicate. Thus, it summarizes the State’s rightto punish according to the subjects’ culpability.

Key-words: Environmental Crime, IBAMA’sInspection, Culpability.

* Engenheiro Agrônomo, Advogado, Analista Ambiental do IBAMA, Mestrando do Programa de Pós-graduação em DireitoAmbiental da Universidade do Estado do Amazonas e Bolsista do Programa BECA-IEB/Fundação MOORE

Daniel Abrahão do Nascimento*Sumário: Introdução; 1. Desenvolvimento: Conhecendo o cenário e o começo dos “crimes”; 2.A Insuficiência do aparelho estatal e o legado de um modelo de desenvolvimento; 3. Aculpabilidade e a responsabilidade do dano ambiental Considerações Finais; Referências.

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INTRODUÇÃO

A partir da antropologia, analisando os conceitos de etnocentrismo,relativização, diferença, identidade, alteridade, e também com fundamento nostexto de Pierre Clastres,1 Neide Esterci2 e José Helder Benatti,3 buscar-se-árealizar uma reflexão sobre fatos ocorridos em uma missão fiscalizatória doIBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis) do Plano DESMATE4 e sobre a aplicação do direito ambiental aessa realidade.

Trata-se, notadamente da situação dos lotes dos agricultores assentadosdo Projeto de Assentamento Placas, no Município de Placas no Pará e suasautorizações de desmatamentos,5 bem como das autuações diante da apuraçãode irregularidades principalmente, no que tange a desmatamentos em áreas depreservação permanente.

Em um cenário de crime ambientais, busca-se analisar a culpabilidadedos atores envolvidos, o desencadeamento da responsabilização adminis-trativa, civil e penal do dano ambiental, partindo de uma visão antropológica,sociológica da realidade. Ao demonstrar as repercussão jurídicas, propõem asformas de responsabilização e composição para a defesa e recuperação do meioambiente.

Assim, em um primeiro momento será realizado o relato da missão defiscalização do IBAMA no Projeto de Assentamento Placas, no Município dePlacas no Pará. No segundo momento, pretende-se analisar e avaliar,respectivamente, o papel do estado e o modelo de desenvolvimento econômicoimplantado na região, onde ocorreu a referida missão fiscalizatória, paraidentificar a causa da prática dos danos ambientais apurados e fazer umareflexão sobre a culpabilidade e a responsabilização dos infratores. Por fim, aodemonstrar a repercussão no direito ambiental passa a propor as formas decomposição na defesa e na recuperação do meio ambiente.

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1 CLASTRES, Pierre. “A Sociedade contra o Estado” In: A Sociedade contra o Estado – pesquisas de antropologia política. SãoPaulo: Cosac & Naify, 2003.

2 ESTERCI, Neide. “Conflitos Ambientais e Processos Classificatórios na Amazônia Brasileira” In: Boletim Rede Amazônia ano1n.°1, 2002, pp. 51 a 62.

3 BENATTI, José Helder. “A Titularidade da Propriedade Coletiva e o Manejo Comunitário”. In: Boletim Museu Paraense EmílioGoeldi, série antropologia, 18 (2), 2002, pp. 127-165.

4 Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, por ordem e iniciativa de decisão política do governo federal,que a finalidade era apurar os desmatamentos detectados por imagens de satélites e fazer as fiscalizações de rotina.

5 Ato administrativo que autoriza a conversão do uso do solo, os procedimentos deste ato, nos imóveis e propriedades ruraisda Amazônia Legal, são definidos pela Instrução Normativa n.°3 de 04/03/2002 do Ministério do Meio Ambiente.

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1 CONHECENDO O CENÁRIO E O COMEÇO DOS “CRIMES”

A equipe do IBAMA dirigiu-se ao município de Placas,6 ao Projeto deAssentamento do INCRA, e constatou in loco que quase todos os lotes desteprojeto se localizavam em áreas de preservação permanente,7 Alguns dosassentados já haviam desmatado uma parte dos seus lotes, para o usoalternativo do solo, ou seja, para plantarem cacau, mogno e algumas lavourastemporárias (mandioca, amendoim etc.). Alguns agricultores assentadosalegaram que não sabiam da proibição de se desmatar áreas de preservaçãopermanente, nem mesmo sabiam o que significava o termo APP (Área dePreservação Permanente). E como haviam recebido o crédito para o plantio docacau através do PRONAF,8 tiveram que “abrir áreas para o plantio” e “hoje,vem o Ibama e nos proíbe de usar as áreas e quer nos multar”, afirmou um dosassentados.

Foi observado que havia dentro do Assentamento várias estradas e sinaisde exploração ilegal de madeira. A equipe do IBAMA em busca dos responsáveispela exploração ilegal de madeira, encontrou na saída do Assentamento umaempresa madeireira totalmente irregular onde foram feitas as medições eapreensões das madeiras, os equipamentos foram lacrados e a atividadeembargada. Vale destacar que o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambientee dos Recursos Naturais Renováveis, é uma autarquia federal, foi criado pela Lei7735/89, de 22 de fevereiro de 1989. Ele está vinculado ao Ministério do MeioAmbiente – MMA sendo o responsável pela execução da Política Nacional doMeio Ambiente e desenvolve diversas atividades para a preservação econservação do patrimônio natural, exercendo com poder de políciaadministrativa, o controle e a fiscalização sobre o uso dos recursos naturais.

Destaque-se ainda que ao realizar o levantamento de informações sobreo comércio da madeira na região, constatou-se que: os madeireiros compram

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6 Município do Oeste do Pará, com população de 13.394 habitantes (Censo de 2000) e área territorial de 7.173,15 km2 fonte:BNDES. Acesso - http://www.federativo.bndes.gov.br/destaques/bdg/bdg_mun.asp?idgeo=150565

7 Área protegida nos termos dos arts. 2.º e 3.º do Código Florestal, coberta ou não por vegetação nativa, com a funçãoambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de faunae flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

8 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. O Pronaf tem duas linhas de crédito específicas para osassentados. Um deles, o chamado Pronaf A, é destinado àquelas famílias que acabaram de receber a terra e precisam montartoda a infra-estrutura básica para iniciar a produção. O outro, conhecido como Pronaf A/C destina-se aos produtores queestão em uma fase de transição de assentados para agricultores familiares. Ou seja, eles já receberam os investimentos dogrupo A e agora precisam de novos recursos para dar continuidade à produção.

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desses agricultores a madeira por um preço irrisório (R$ 25,00/m2) e vendem,para exportação, a um preço absurdamente superior (US$ 800,00); osassentados, através das autorizações do IBAMA, só podem explorar 3,0hectares por ano, ou seja, 60 m2/ano, perfazendo um valor anual apurado de R$1500,00 (menos do que metade de um salário mínimo/mês).9 Os madeireirospara garantir ainda mais a “exploração”, fazem o pagamento adiantado,“ajudam” na construção de estradas dentro do próprio assentamento eprovidenciam as formas de obtenção, oficial e oficiosa, dos recursos naturais,contratando profissionais para elaboração de projetos de manejo florestal eautorizações de desmatamentos, oferecendo assistências técnica aos“detentores” dos recursos naturais dos lotes.

Na ocasião dessa missão, a equipe foi convidada a comparecer à CâmaraMunicipal do Município de Placas para dar satisfação à comunidade dapresença no município. Na realidade, a presença do IBAMA provocou umamobilização das pessoas, que assustadas procuraram à prefeitura pedindoexplicações, os representantes do comércio, das madeireiras, enfim dossegmentos sociais, solicitaram explicações ao governo municipal do ocorrido.Uma reunião foi marcada na prefeitura e outra na Câmara Municipal, para oIbama explicar sua atuação na região.

O coordenador da equipe de fiscalização e em nome da instituiçãoagradeceu e elogiou a iniciativa popular de ser convidado a dar explicação eressaltou que essa preocupação e iniciativa deveriam ocorrer, não só com apresença do IBAMA na região, mas sempre que houvesse seção, porque o quese trata na Câmara Municipal é do interesse do povo. Disse que uma, dentre astarefas mais importantes da fiscalização ambiental é, sobretudo, prevenir odano ambiental, sendo muito mais importante do que punir, porque muitas dasvezes o dano ambiental é difícil e irreversível de ser sanado ou recuperado. Eprevenir só se consegue com informação e com educação ambiental e por issodisse que se encontrava à disposição para prestar qualquer informação ecumprir o objetivo maior da presença da equipe no município.

Com muita propriedade um dos representantes do comércio local fezuma breve análise histórica da colonização do município, dizendo da época em

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9 Levantamento de informações feito pela equipe de fiscalização do IBAMA, coordenada pelo autor do presente artigo, realizadona ocasião da “Operação Zoraide” no período de 07 de julho a 06 de agosto de 2005; para promover ações fiscalizatóriasreferentes ao Plano de Prevenção e Combate do Desmatamento na Amazônia – Plano Desmate, nos municípios de Placas,Rurópolis e Uruará; conforme Ordem de Fiscalização n.º 047/2005; priorizando os casos de desmatamentos recentes e emandamento.

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que o projeto de governo Médice era promover a ocupação da Amazônia, ondese incentivava a derrubada da mata para a agricultura e pecuária para promovero “desenvolvimento” e ocupação do local, o lema era “ocupar para nãoentregar”. Principalmente, no eixo da Transamazônica,10 para onde diversaspessoas provenientes de toda parte do Brasil, vieram viver e desenvolver olugar. Hoje, apesar de Placas ser um município pequeno (zona urbana), vive daextração da madeira, da agricultura e da pecuária.

Além disso, diversos foram os questionamentos referentes ao papel doIBAMA e dos órgãos públicos no município. Muitos cidadãos alegaram que sefechassem as madeireiras, muitas pessoas iriam morrer de fome, pois sãosustentados através do trabalho nessa atividade. Outros reclamaram do Incra,outros chegaram a falar e questionar sobre a demora do Zoneamento EcológicoEconômico11 para a região.

Em resposta as indagações, sustentou-se que, apesar dos inúmerosproblemas de ordem burocrática por parte dos órgãos do governo,principalmente do Ibama, o que não se pode admitir é o fato de algumasmadeireiras trabalharem legalmente e outras trabalharem ilegalmente,instalando-se uma verdadeira concorrência desleal. Quanto ao Ibama fecharuma madeireira que está trabalhando ilegalmente, tal ação ocorre justamentepara aplicar a legislação, com isso se estabelecer um controle.

A equipe do Ibama marcou outra reunião com todas as organizações deassentados da área, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Placas, Incra,Secretaria Municipal de Agricultura, alguns vereadores e demais segmentos domunicípio. Foram esclarecidas as dúvidas das exigências da legislaçãoambiental em vigor, as alternativas de exploração das áreas de floresta eorientações para o Manejo Florestal. Na reunião o Incra reconheceu o equivoco

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10 Ao tomar posse como presidente do país, o general Emílio Garrastazu Médici (ditador de 1969 a 1974) prometeu conduziro Brasil “à plena democracia”. O conduziu rapidamente, com punho de aço, para aqueles que foram chamados de “anos dechumbo” de repressão brutal. Diz uma adocicada história oficial que, no dia 6 de junho de 1970, o presidente foi ao semi-árido nordestino e emocionou-se diante do drama da seca. Dentro do avião que o trazia de volta a Brasília decidiu pelaconstrução da Transamazônica, para convidar “os homens sem terra do Brasil a ocuparem as terras sem homens daAmazônia”. Ao longo do trecho, o plano previa a construção de “agrovilas” (conjuntos de lotes com casas instaladas noespaço de 100 ha, que deveriam contar com uma escola de 1.º grau, uma igreja ecumênica e um posto médico), de“agrópolis” (reunião de agrovilas fornecidas com serviços bancários, correios, telefones e escola de 2.º grau) e de“rurópolis” um conjunto de agrópolis. Na prática, foram implantadas poucas agrovilas e apenas uma agrópolis (Brasil Novo)e uma rurópolis (Presidente Médici). O custo da construção da Transamazônica, que nunca foi acabada, foi de US$ 1,5bilhão. Fonte: http://www.comciencia.br

11 Zoneamento Ecológico-Econômico da área de influência da BR-163, um instrumento de ordenamento e regulação do usoracional do território. http://www.ufpa.br/portalufpa/imprensa/

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da falta de estudos prévios na área, e se dispôs a fazer um estudo para retiraras pessoas das áreas de preservação permanente, reassentá-las em outras áreas.

Finalmente, diversos foram os esclarecimentos e as advertências, noSindicato dos Trabalhadores Rurais com a presença dos representantes dosAssentamentos, com a obrigação de dar publicidade e divulgar para todos osseus representados. Foi comunicada a gerência do IBAMA a necessidade daimediata composição de uma nova equipe com a finalidade específica deretornar ao assentamento para apurar os crimes (devido à quantidade de lotes aserem vistoriados necessitaria de uma equipe maior e com disponibilidade defazer todo o procedimento), suspender as autorizações de desmatamento ouemissão de qualquer ATPF (Autorização de Transporte Florestal). Enfim, estefoi o cenário.

2. A INSUFICIÊNCIA DO APARELHO ESTATAL E O LEGADO DEUM MODELO DE DESENVOLVIMENTO

Observa-se, no relato do caso, uma primeira falha nas ações do Estado,particularmente através do INCRA (Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária), que assentou famílias em áreas de preservação permanente,consequentemente demonstra a falta de um estudo prévio de impactoambiental. A resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)Nº. 289, de 25 de outubro de 2001 prevê Licenciamento Ambiental para osAssentamentos de Reforma Agrária, como medida de precaução, como bemexplica a sua introdução:

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA,tendo em vista as competências que lhe foram conferidas pela Leinº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreton.º 99.274, de 6 de julho de 1990, e tendo em vista o disposto nasResoluções CONAMA nºs 237, de 19 de dezembro de 1997 e 001,de 23 de janeiro de 1986 e em seu Regimento Interno, e

Considerando a necessidade de uma regulamentação específicapara o licenciamento ambiental de projetos de assentamento dereforma agrária, tendo em vista a relevância social do ProgramaNacional de Reforma Agrária;

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Considerando a necessidade de solucionar a injustiça social e osgraves conflitos pela posse da terra, ocorrentes em quase todas asregiões do território nacional, impedindo que a tensão social levea episódios que ponham em risco a vida humana e o meioambiente;

Considerando que a redução das desigualdades sociais pelaampliação do acesso à terra constitui-se em objetivo fundamentaldo Pais nos termos da Constituição Federal, em prioridade ecompromisso nacional constantes da Carta do Rio, da Agenda 21e de demais documentos decorrentes da Rio-92; e

Considerando a importância de se estabelecer diretrizes eprocedimentos de controle e gestão ambiental para orientar edisciplinar o uso e a exploração dos recursos naturais,assegurada a efetiva proteção do meio ambiente, de formasustentável nos projetos de assentamento de reforma agrária;

Considerando que a função principal do licenciamento ambientalé evitar riscos e danos ao ser humano e ao meio ambiente sobreas bases do princípio da precaução, resolve:

Art. 1.º Os procedimentos e prazos estabelecidos nesta Resoluçãoaplicam-se, em qualquer nível de competência, ao licenciamentoambiental de projetos de assentamento de reforma agrária. [...]12

A previsão legal encontra, no presente caso, uma perfeita aplicação,todavia, na época da criação do projeto de assentamento de Placas, não foraaplicada. Hoje, através desta resolução do CONAMA, se vislumbra aimportância da unidade substancial entre as normas de Direito Agrário e deDireito Ambiental para aliar e interagir a atividade agrária à preservação dosrecursos naturais (Benatti, 2002). Ou seja, se houvesse, através da resoluçãocitada, a aplicação de uma análise prévia da possibilidade da efetivação de umprojeto de assentamento para fins agrários sem prejudicar o meio ambiente,estaria se aplicando o princípio da precaução. Enfim, somente através do

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12 Resolução CONAMA n.º 289, de 25 de outubro de 2001.

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licenciamento ambiental, os órgãos competentes do Estado (INCRA eIBAMA) teriam procedimentos e controles articulados na efetivação de umprojeto de assentamento aliado à preservação do seu meio ambiente.Aplicando-se os procedimentos preconizados para o licenciamento ambiental,vislumbrariam as possibilidades de implantação do projeto de assentamento eo seu respectivo impacto no meio ambiente.

A falta da aplicação de um licenciamento ambiental e de um estudo deaptidão agrícola teve conseqüências desastrosas tanto para a natureza quanto paraos próprios beneficiários dos lotes de Reforma Agrária. As pessoas são assentadasem uma área imprópria, insistem em um modelo econômico convencional por nãoterem uma efetiva assistência técnica por parte do aparelho estatal, com isso, nãoencontram opções mais adequadas que as tirem dessa situação desubdesenvolvimento e ficando vulneráveis as explorações de um sistemaopressor, representado no caso, pelos madeireiros intermediários e ilegais.

Os agricultores assentados são obrigados, para suprirem suasnecessidades imediatas, a buscar na natureza, a qualquer preço, suasobrevivência e passam a ser alvos dos “oportunistas” compradores demadeiras. Mais uma vez o Estado é substituído pelo a força de um sistemaopressor que cresce na sua ausência.

E em detrimento, de uma Reforma Agrária que busca aos objetivospropostos de um projeto social, econômico e sustentável, ficaram-se ospassivos desastrosos (ambientais, sociais e econômicos). Com referência aobra de Pierre Clastres, onde a antropologia política demonstra que as formasde acumulação do capital influenciado pelo Estado na sociedade primitivaeram muito prejudiciais, podendo se concluir que melhor seria se não houvesseesse Estado. Como na sociedade primitiva, que pelo menos não haveria apossibilidade dessa concorrência desigual, como afirma Clastres:13

Na sociedade primitiva, sociedade essencialmente igualitária, oshomens são senhores de sua atividade, senhores da circulaçãodos produtos dessa atividade: eles só agem para si próprios,mesmo se a lei de troca dos bens mediatiza a relação direta dohomem com seu produto [...] .

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13 CLASTRES, Pierre. ““AA SSoocciieeddaaddee ccoonntt rraa oo EEssttaaddoo”” In: A Sociedade contra o Estado – pesquisas de antropologiapolítica. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. p. 215.

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O modelo econômico ora implantado desde sua colonização e até hojeutilizado, não tem trazido benefício, do ponto de vista econômico e social, deforma eqüitativa para o povo da Amazônia. Como demonstra Fearnside:14

Nas décadas de 60 e 70 os Planos de Desenvolvimento daAmazônia foram direcionados para favorecer a implantação dos“Grandes Projetos”, através de subsídios e incentivos fiscaisgovernamentais e do acesso facilitado a terras para grandesgrupos privados, que causaram profundas transformaçõeseconômicas e sociais nas áreas atingidas. Dentre as gravesconseqüências e contradições do modelo implantado, citam-se:aumento da concentração fundiária e conflito no campo,aceleração do desmatamento, desorganização do espaço social ecultural das comunidades locais, alagamento de florestas e áreashabitadas por populações tradicionais e desequilíbriosecológicos, causados pelas hidroelétricas, poluição dos rios pormercúrio, falta de integração territorial e econômica dos projetosna região e exclusão da produção familiar, pauperização dapopulação rural e inchaço das cidades.

Constata-se que o passivo ambiental é enorme neste tipo de modelo,porque o nível de degradação ambiental é visto sem nenhuma dificuldade.Derrubar a floresta para fazer plantios, seja para agricultura ou para pecuária,e até mesmo para a exploração irracional de madeiras, não é e nunca vai ser aopção mais viável e sustentável. Os estudos mostram que a floresta dá muitomais lucro “em pé” do que derrubada, através da exploração de óleos,essências, frutos e folhagens, um exemplo é o que mostra o texto a “rendainvisível”15:

A floresta oferece remédios, comidas, fibra e caça para seusmoradores. Para medir a importância da floresta na economiadoméstica, 30 famílias da comunidade de Quiandeua, no RioCapim, em 1994, pesaram todos os produtos florestais que elas

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14 Fearnside, P.M. 1998. Agrosilvicultura na política de desenvolvimento na Amazônia Brasileira: A importância e os limites deseu uso em áreas degradadas. Pp.293-312 In: C.Gascon & P. Moutinho (eds.) Floresta Amazônica: Dinâmica, Regeneraçãoe Manejo. Instituto nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus. 373 pp.

15 SHANLEY, Patrícia Frutíferas e Plantas Úteis na Vida Amazônica. Belém: CIFOR, Imazon, 2005.

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extraíram. Os resultados mostram que, durante um ano, os cipós,a caça, as frutas, que uma família média consumiu foi oequivalente a 25% da renda de um agricultor da comunidade.Bons caçadores ganharam mais que a metade de sua renda comas caçadas, se eles tivessem que comprar esses produtos gastariatempo, transporte e dinheiro. Da floresta fechada, no Quiandeua,foram extraídos 85% dos cipós, 87% das frutas e 82% da caçaconsumidos pelas famílias. É importante fazer esses cálculosquando queremos vender madeira ou terra. Devemos lembrar queé possível negociar e guardar partes de nossa floresta ondeexistem árvores úteis. Com planejamento, é possível manejar afloresta e extrair tanto produtos madeireiros como frutas, cipós,óleos e caça.

É fundamental a apropriação dos recursos naturais pelo povo daAmazônia, estimulando-o a ter um sentimento de pertencimento dos recursosdo meio ambiente, de forma que impedisse que essa riqueza fosse minada porapenas “meia dúzia” de pessoas. Como foi citado anteriormente, o valor damadeira comprada nos assentamentos e vendida para exportação, indica que opovo continua sendo explorado e o meio ambiente degradado.

Foi dito, oportunamente, em discussão na Câmara Municipal de Placas,que o modelo econômico adotado, apesar de muitos sobreviverem por ele, nãoé o mais interessante para o povo, precisando urgentemente e de forma gradualser substituído por um mais igualitário e beneficente para a maioria. Não édifícil chegar à conclusão ao olhar em volta e ver as condições de vida do povoe a infra-estrutura básica do local. O município de Placas, bem como osmunicípios vizinhos, não apresenta saneamento básico, nenhum m2 de asfalto,sem falar na precariedade dos serviços básicos em contraste com as riquezasque saem desses lugares em termos de madeira extraída.16

A partir desse evento pode-se chegar a algumas conclusões, as pessoasobtêm, de certa forma, informações deturpadas sobre seus direitos e deverescomo cidadãos, da função dos órgãos públicos e das oportunidades que osrecursos naturais poderiam lhes proporcionar, porque estão a serviço damanipulação de um modelo econômico desigual, explorador e opressor comsuas formas de perpetuação. A omissão do aparelho estatal é uma das formas

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16 Informações levantadas e observadas na ocasião da fiscalização nos municípios da Transamazônica.

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de se deixar estabelecer essas informações errôneas (muitos confundem comdesinformação), no sentido da ausência dos serviços de extensão e educação.Em suma, conseqüências de um modelo desenvolvimentista evasivo desustentabilidade, deixando um legado de degradação e de desordenamento euma falta de eficácia do aparelho estatal no estudo, planejamento e execuçãodos projetos capazes de buscar soluções para este legado.

Nestes contextos de ausências, de misérias, os assentados dessa regiãolutam pela sobrevivência e são expostos a atitudes e comportamentos quecertamente vão extrapolar para o mundo jurídico, onde o crime ambiental setorna uma conseqüência de uma opção de sustento. Como culpar o indivíduonesta situação, onde ele é vítima e/ou criminoso?

3. A CULPABILIDADE E A RESPONSABILIZAÇÃO DO DANOAMBIENTAL

Para se iniciar o exame e a reflexão da culpabilidade e responsabilidadedo dano ambiental, dentro do contexto explicitado, são necessárias as devidasreferências legais. A começar pela carta magna (CF/88) que através do § 3.º doseu artigo 225 reza: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meioambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penaise administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danoscausados”. Verifica-se no referido dispositivo que no dano ambiental ocorre àcoexistência das responsabilidades penal, administrativa e civil, bem como apossibilidade na delimitação dos responsáveis como sendo pessoas físicas ejurídicas. Diante disto, é fundamental aplicar a norma ao fato e demonstrar quea presente análise é dividida pelas esferas distintas das responsabilidades(penal, civil e administrativa) em relação à culpabilidade:

3.1 Culpabilidade e responsabilidade penal

A Lei nº. 9.605/98 é aonde se encontra a disciplina básica daresponsabilidade penal ambiental. Através da leitura do seu artigo 2.º revelaque foi adotada a teoria monista no que concerne ao concurso de agentes, poisestabelece que: “quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimesprevistos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da suaculpabilidade”. Verificando que a responsabilidade penal por delitos

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ambientais está baseada na culpabilidade e há previsão de responsabilidade dapessoa jurídica e, como no Código Penal, estabelece esta culpabilidade comocoeficiente para aplicação da pena.

É fundamental, para a continuidade da análise, ter conhecimento dealguns conceitos jurídicos em matéria criminal:

Culpabilidade:

Conforme a Teoria finalista da ação, a culpabilidade não éelemento do crime. É a possibilidade de declarar culpado o autorde um fato típico e ilícito; é um pressuposto para a imposição dapena.

Integram a culpabilidade a imputabilidade, a potencialconsciência de ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. Nafalta de qualquer um desses elementos, o fato não deixa de sertípico, mas passa a ser inculpado o agente, merecendo sentençaabsolutória.17

Imputabilidade Penal: “É a capacidade de entender o caráter ilícito dofato e determinar-se de acordo com esse entendimento. Em regra, todo o agenteé imputável, a não ser que ocorra causa excludente de imputabilidade” .18

Potencial Conhecimento da ilicitude:

Trata-se de elemento intelectual da culpabilidade, ou seja, dapossibilidade de o agente conhecer o caráter ilícito da conduta.Para que se opere a exclusão, não basta que o agente ignoreformalmente a lei, mas, sim, que não saiba e nem possa saber queseu comportamento contraria o ordenamento jurídico. O erro daproibição afasta o potencial conhecimento da ilicitude. Seinevitável, excluía culpabilidade, isentando a pena o réu. Seráevitável o erro quando se verificar ser possível ao agente diantedas circunstâncias, atingir a consciência da ilicitude do fato.

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17 ESCOBAR, Fernanda Maria Zichia. Resumão Jurídico – Direito Penal - Parte Geral. São Paulo: BF&A 2004

18 ESCOBAR, Fernanda Maria Zichia, op. cit. p. 3.

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Nesse caso, haverá responsabilização penal, mas a pena serádiminuída de um sexto a um terço. 19

Exigibilidade de conduta diversa como causa de exclusão daculpabilidade, funda-se no princípio de que só podem ser punidas as condutasque poderiam ser evitadas. No caso, a inevitabilidade não tem força de excluira vontade, que subsiste como força propulsora da conduta, mas certamente avicia de modo a tornar incabível qualquer censura ao agente. A exigibilidadede conduta diversa pode ser excluída por duas causas: a coação e a obediênciahierárquica (ESCOBAR, 2003).

Diante dessas afirmativas e conceitos, como decidir a situação dessesagricultores do assentamento de Placas em relação a sua culpabilidade do danoambiental? E a concorrência no crime por parte do INCRA, como pessoajurídica de direito público (no papel de Estado) na culpabilidade, através doassentamento em área de preservação permanente e da omissão dolicenciamento ambiental?

De fato ocorreram os crimes previstos nos artigos 38 e 39 da lei 9.605/98e de fato houve os autores. Observe a análise da adequação tipificada dosreferidos artigos feita de forma bem apropriada por Marinho: 20

[...]Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada depreservação permanente, mesmo que em formação, ou utiliza-lacom infringência das normas de proteção:

Pena – detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penascumulativamente.

Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida àmetade.

Elementos descritivos objetivos:

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19 Ibid, mesma página.

20 MARINHO, Vânia Maria do P. Socorro. “Tutela Penal da Cobertura Vegetal de Preservação Permanente”. In: Hiléia: Revista deDireito Ambiental. V. 1, n.º 1. Manaus: Edições Governo do Estado do Amazonas/Secretaria de Cultura/Universidade do Estadodo Amazonas, 2003. pp. 170-172

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Bem jurídico tutelado: o meio ambiente, a preservação dopatrimônio natural, especialmente a conservação das florestas depreservação permanente. Trata-se de crime material.

Núcleo do tipo: São três os verbos núcleos do tipo em análise,quais sejam destruir, danificar ou utilizar. Cuida-se de crime demúltipla ação (várias condutas); não importa se o agentepraticou uma única ou várias condutas ao mesmo tempo descritasno tipo penal: responderá por um só delito. É um crimecomissivo, exigindo uma ação por parte do agente.

Resultado: Trata-se de crime de dano, pois o efeito lesivo concretiza-se com a exteriorização das ações destacadas no tipo. Consuma-se odelito com a prática de qualquer das ações incriminadas.

Sujeito ativo. Qualquer pessoa imputável (física ou jurídica).Sujeito passivo. A coletividade.

Objeto material. É a floresta considerada de preservaçãopermanente, mesmo que em formação.

Elemento normativo:

Exige-se a autorização para eventual destruição da floresta parafins de utilidade pública. É, portanto, um elemento normativo comreferência à ilicitude. Há também o elemento normativo de índolejurídica, quando qualifica “considerada de preservaçãopermanente”.

Elemento pessoal:

Dolo genérico. Aqui, admite-se o crime na modalidade culposa.

Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservaçãopermanente, sem permissão da autoridade competente: Pena –detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penascumulativamente.

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Elementos descritivos objetivos:

Bem jurídico tutelado: o meio ambiente, a preservação dopatrimônio natural, especialmente a conservação das florestas depreservação permanente. Trata-se de crime material, a exemplodo artigo anterior.

Núcleo do tipo: O verbo núcleo do tipo em análise é cortar,separar uma parte do todo, sem a prévia autorização daautoridade competente. Trata-se de crime comissivo, exigindouma ação por parte do agente.

Resultado: Trata-se de crime de dano, pois o efeito lesivoconcretiza-se com a exteriorização das ações destacadas no tipo.Consuma-se o delito com o corte da árvore, entendendo adoutrina que o crime se consuma ainda que tenha o corte de umaúnica árvore.

Sujeito ativo. Qualquer pessoa imputável (física ou jurídica).

Sujeito passivo. A coletividade.

Objeto material. É a árvore localizada em floresta considerada depreservação permanente.

Elemento normativo:

Exige-se a permissão da autoridade competente para o eventualcorte da árvore em floresta de preservação permanente. Hátambém o elemento normativo de índole jurídica, quandoqualifica “considerada de preservação permanente”.

Elemento pessoal:

Dolo não se admitindo o crime na modalidade culposa.

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Como agir nestas situações, onde há as evidências: o flagrante e a cenado crime, mas os agentes diretos, no caso os assentados não possuíam certaculpabilidade por não terem a potencial consciência da ilicitude do fato (comodescrito: “não sabiam nem o que significava área de preservação permanente -APP”) e por ocorrer inexigibilidade de conduta diversa (foram assentados naAPP e receberam crédito do próprio Estado para plantar)? Com o caso, oINCRA se for responsabilizado (assentar em APP e tendo o direito real sobre aárea) como pessoa jurídica de direito público, configura uma hipótese de autopunição do Estado, confundindo-se a pessoa do réu a do Juiz. 21

Nos artigos acima analisados, por possuírem pena mínima de um ano,será possível a aplicação do instituto da suspensão condicional do processo ouo chamado sursis processual, previsto no art. 89 da Lei 9.099/95 e no art. 28da Lei 9.605/98. Conforme a descrição dos conteúdos poderá ser proposta acondição de reparação do dano ambiental por parte do responsável peloAssentamento. E o Ministério Público pode deixar de denunciar, excluindo apunibilidade dos Assentados pelo estado de necessidade que foram submetidos.

3.2 Culpabilidade e responsabilidade civil

Em relação à responsabilidade civil, não há de se falar em culpa noDireito Ambiental, devido o instituto da responsabilidade civil objetiva, masespecificamente, que de forma majoritária, se adere à teoria do risco integral,(uma das justificadoras da responsabilidade objetiva), pela qual quem exercedeterminada atividade deve suportar os riscos advindos desta, de sorte que nemmesmo a inexistência do nexo causal desobriga o dever de indenizar. Tal teoriavem ganhando espaço no campo da responsabilidade por danos ao ambiente. Emesmo que a conduta do agente causador do dano ao meio ambiente seja lícita,autorizada pelo poder competente e obedecendo aos padrões técnicos para oexercício de sua atividade. Porém deve-se levar em consideração outras teoriase o próprio nexo de causalidade, como afirma Solange Teles da Silva,22 citandoKRELL (1998):

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21 MEZZOMO, Marcelo Colombelli. RReessppoonnssaabb ii ll ii ddaaddee aammbbii eenn tt aa ll. Site do Curso de Direito daUFSM.SantaMariaRS.p09.Disponívelem:http://www.ufsm.br/direito/artigos/ambiental/responsabilidade_ambiental.htm>.Acesso em: 16 out. 2006

22 SILVA, Solange Teles da. “Capítulo 13 – Responsabilidade Civil Ambiental” IN PHILIPPI JR., A., ALVES, A.C..CursoInterdisciplinar de Direito Ambiental. São Paulo: Manole, 2005, p 440

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[...] A conseqüência da adoção da teoria do risco-proveito é apossibilidade de admitir fatores capazes de excluir ou de diminuira responsabilidade. Dentre estes fatores citem-se o caso fortuito ea força maior, o fato criado pela própria vítima ou ainda aintervenção de terceiro.

KRELL (1998) indaga sobre a possibilidade da responsabilidadecivil objetiva ambiental no ordenamento brasileiro ter comofundamento a teoria do risco-proveito, admitindo-se em certoscasos as excludentes de responsabilidade, já que com a adoção dateoria do risco integral “não é possível levar em consideração[por exemplo,] a participação do próprio prejudicado naparticipação do dano” (p. 27). Alega o autor que há casos em que“o Estado falha em preencher essa função e emite licenças quepermitem impactos ambientais nocivos, não é justo repassar aresponsabilidade ao particular, especialmente nos casos em queele podia ser confiante na certidão da autorização e naregularidade e licitude de sua atuação. O primeiro guardião dosinteresses da coletividade como do bem difuso meio ambienteainda é o Estado e não o cidadão” (p. 31). [...]

Torna evidente que a referida teoria do risco-proveito se enquadramelhor no fato, onde o INCRA falhou em assentar as pessoas em áreas depreservação permanente (APP) e ainda beneficiou com crédito para plantio(uso alternativo do solo) das áreas e o IBAMA emitiu as autorizações dedesmatamento sem vistoria prévia, porque no caso de assentamentos éfacultativo por ser menos de 3,0 ha,23 passa a apurar o crime e pune os“responsáveis”. Assim, o próprio Estado age com co-responsabilidade e depoisvem repassar a responsabilidade somente para os assentados – não é justo!Adiante, nas conclusões se verificará a proposta para esse impasse.

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23 Conforme previsto no Art. 10 da Instrução Normativa do Ministério do Meio Ambiente n.° 3 de 4 de março de 2002: “Paraconcessão da autorização de desmatamento acima de três hectares/ano, é indispensável à realização de vistoria técnicaprévia nas respectivas áreas”.

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3.3 Culpabilidade e responsabilidade administrativa

Diante dessas reflexões de culpabilidade nas esferas penal e civil, resta aanálise na esfera administrativa. Sendo na prática realizada em primeiro plano, ouseja, desencadeada pelo responsável da apuração do dano e a responsabilizaçãosurge pelo seu devido processamento administrativo no órgão ambiental. Dianteda realidade analisada em primeiro plano pelo próprio fiscal da apuração, tendo aconsciência da culpabilidade do Estado e dos infratores/vítimas no casoapresentado, torna-se uma tarefa um tanto que complicada. Mas na prática comoagir, quando se presenta o Estado, e tem consciência da sua parcela de culpa?Como deve agir um funcionário do órgão ambiental, com o poder de policia noqual é investido e passivo de responsabilização da própria legislação, no caso deomissão? A lei 9605/98 é clara, quando afirma:

Art. 68 – Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual defazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:Pena – detenção de um a três anos, e multa. E mais no Art. 70 § 3.º– A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infraçãoambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata,mediante processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade.

Certamente não poderá trazer a responsabilidade para si e piorar aindamais a situação, deve apurar e ser o mais transparente possível, contribuindocom os julgadores para a compreensão mais lúcida dessa complexa realidade.

É difícil querer ser justo na ilegalidade, como é difícil ser legal nainjustiça. É uma questão de escolhas, é saber discernir o direito posto do direitopressuposto (GRAU 2000) e procurar fazer justiça. Cabe a indagação: comopunir com multa pessoas que mal conseguem se sustentar, que lutam paraconseguir o que comer? A multa certamente nunca será paga, apenas servirá parabanalizar o poder coercitivo do Estado. Mas também, sem descambar para oextremo, querer, em nome de práticas costumeiras de uma realidade injusta,“encobrir” mais injustiças. Por isso, a contráriosensu não se deve permitir, emnome de um possível bom senso, que essas pessoas continuem praticando crimesambientais. Como bem salienta Benatti,24 em relação ao direito consuetudinário:

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24 BENATTI, José Helder. “A Titularidade da Propriedade Coletiva e o Manejo Comunitário”. In: Boletim Museu Paraense EmílioGoeldi, série antropologia, 18 (2), 2002, p. 160.

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Assim, desde que o direito consuetudinário não seja contra legeele tem plena vigência na propriedade comum. Em outraspalavras, não se sustenta o costume que pode levar à extinção afauna e a flora, ou praticas de desmatamentos em área depreservação permanente do imóvel rural.

Sendo assim a defesa do meio ambiente deve ser feita, a qualquer custo,mas muito mais que isso é a defesa do direito á vida, no qual está intrínseco odireito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante o exposto, como encontrar a melhor forma para evitar ser injustoou ilegal? Esta é a reflexão: um fato, como o descrito, permite a possívelconfusão da noção do justo (fazer justiça) e a do legal (cumprir puramente alei). Torna-se uma ousadia determinar ou julgar, sem refletir e sem ter umretrato holístico da realidade. Quem é vítima ou criminoso numa realidade tãocomplexa que é a Amazônia? É uma tarefa difícil, mas segue as seguintesproposições para dirimir o conflito, defender e recuperar o meio ambiente:

O IBAMA, através do fiscal e como o órgão ambiental deve apurar ocrime, dimensionar os danos e proceder às autuações,25 com as seguintesressalvas: se o projeto de assentamento já se emancipou, ou seja, se osassentados já têm o título definitivo da terra, as autuações têm que ser em nomedestes; se não for o caso, o INCRA deverá ser autuado e os assentados punidospor envolvimento no crime. De qualquer forma a área deverá ser embargadapara sua regeneração natural. Cabendo os infratores a apresentação da defesaem 20 (vinte) dias corridos, a partir do dia seguinte da lavratura do auto deinfração, para pagar a multa ou apresentar a defesa dirigida à autoridadecompetente do IBAMA. Será aberto o processo administrativo em que oautuado terá amplo direito para dar vistas ao processo, se defender e será feitaa comunicação de crime ao Ministério Público. Há a possibilidade dasuspensão da exigibilidade de cobrança da multa através de Termo de

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25 Artigos 38,39 e 70 da Lei 9.605/1998 c/c artigos 1.°, 25 e 26 do Decreto 3.179/1999.

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Compromisso de reparação do dano ambiental, aprovada pela autoridadecompetente, conforme a legislação vigente,26 sendo esta, a forma mais justa erazoável de solucionar o conflito para este caso. É de suma importância norelatório da fiscalização do IBAMA, mencionar apuração dos indícios deexclusão de ilicitude devido o estado de necessidade dos assentados.

Em relação ao INCRA, como proposta de reparação do dano ambiental,deve proceder a retirada urgente dos assentados das áreas de preservaçãopermanente e assentá-los em uma área ambientalmente e tecnicamenteadequada. Contribuindo para a regeneração natural das áreas degradadas.Evitando assim, eventuais proposituras de ações coletivas tais como: AçãoCivil Pública27 para reparação imediata do dano por parte do IBAMA ouMinistério Público Federal ou Associação dos Assentados (com mais de umano de constituição); ou a propositura de Mandado de Segurança Coletivo28 porparte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais ou Associação dos Assentados; ouAção Popular29 por qualquer cidadão.

Quanto à atuação do Ministério Público Federal deverá, como fiscal dalei, reconhecer a exclusão da ilicitude dos assentados, conforme explicadoacima, não oferecendo a denúncia pelo o estado de necessidade dos mesmos.Podendo também agir para a reparação do dano ambiental, se for o caso,através de propositura da Ação Civil Pública ou mesmo na exigência e nacomposição de Termos de Ajustamento de Conduta30 ou no próprio Termo deCompromisso de reparação do dano ambiental.

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26 Art. 17 da Lei 9.605/1998 c/c Art. 79-A do Decreto 3.179/1999.

27 Art. 5.° da Lei 7.347 de 24 de julho de 1985.

28 Art. 5.° LXX, “b” da CRFB/88.

29 Art. 5.° LXXIII CRFB/88.

30 Art. 5.° § 6.° da Lei 7.347/85.

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________. Lei 6938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacionaldo Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dáoutras providências. In: Software Codex Ambiental, Licenciado para IbamaAM, fevereiro, 2005;

________. Lei 7.347 de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública deresponsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bense direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (vetado)e dá outras providências. In: Software Codex Ambiental, Licenciado paraIbama AM, fevereiro, 2005;

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SOCIEDADE CIVIL RESÍDUOSSÓLIDOS E CONSCIENTIZAÇÃO

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Resumo: O artigo trata dos problemas dapoluição ocasionados por resíduos sólidos.Abarca conceitos sobre sociedade civil e seupoder de conscientização. Classifica os resíduosem grupos com o fim de esclarecer suaspeculiaridades. Dispõe ainda sobre as compe-tências de cada esfera do Poder Público em facedos problemas estudados. Demonstra que aconscientização da população é valorosa, tendoem vista a onerosidade da recuperação do meio-ambiente. Por isso, a responsabilidade social éum grande passo para a amenização do problema.Tal premissa é perfeitamente observada medianteo fato da população não fazer o uso devido dolixo. Muitas vezes não conhece o destino corretode cada grupo de resíduos. É neste contexto queas entidades da sociedade civil se revestem devalor. As mesmas têm a finalidade de transmitir oconhecimento necessário para um melhoraproveitamento do lixo. A difusão das informa-ções trará melhorias na qualidade de vida,diminuição dos gastos públicos e o apro-veitamento racional de recursos.

Palavras-chave: Sociedade civil; ResíduosSólidos; Conscientização.

Abstract: The article deals with the pollutionproblems caused by solid residues. It includesconcepts about civil society and its power ofawareness. It classifies the residues in groupsin order to enlighten their peculiarities. It takesaccount of the competences of each sphere ofthe Public Power in relation to the problemsanalyzed. It demonstrates that the awarenessof the populations is valuable, due to therecovery of the environment being so onerous.That is why the social responsibility is such agreat step towards the softening of theproblem. This premise is perfectly observedonce the population does not make the properuse of garbage. They many times do not knowthe correct value of each group of residues. Itis due to this situation that the civil society’sentities are revested in value. Their goal is totransmit the necessary knowledge for a betterutilization of the garbage. The diffusion ofinformation will bring improvement in lifequality, reduction of public expenditure andrational utilization of resources.

Key-words: Civil Society; Solid Residues;Awareness.

* Advogada, mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas, assessora jurídica do Tribunal de Justiçado Estado do Amazonas, professora de Direito Municipal da Universidade Federal do Amazonas e de Direito Processual Civilda Escola Superior Batista do Amazonas).

Maria Rosalva de Oliveira Silva*

Sumário: 1. Conceitos; 2. Competência; 3. Classificação dos Resíduos; 4. A Problemática doLixo; 5. Sociedade Civil; 6. Conscientização.

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1. CONCEITOS

Por meio dos conceitos aqui estabelecidos, pretende-se desenvolver umtexto que permita o exato alcance da atuação do segmento nominado comosociedade civil organizada, no que concerne à conscientização da Sociedade edo Poder Público para com os resíduos sólidos lançados no solo ou nosrecursos hídricos.

À sociedade civil, pode-se atribuir o conceito de segmentos personi-ficados ou não, que atuam no seio da sociedade e em seu benefício, seja pelareunião de pessoas que se associam para a realização de objetivos (gerais ouespecíficos), seja pela formação de um patrimônio suficiente também paraalcançar os fins estabelecidos no instrumento de sua constituição (estatutosocial).

Assim, esse segmento, quando formalmente constituído, apresenta-se naforma, ora de associação,1 ora de fundação,2 e, em qualquer delas, não visam afins lucrativos.

Segundo Roberto Senise Lisboa, pode-se definir associação como “aentidade de direito privado sem fins econômicos que se constitui formalmenteda convergência de vontades de duas ou mais pessoas, inserida em umdocumento escrito denominado ata constitutiva, cujo regime jurídico é adotadona forma de estatuto”3 inclusive pode ter por objetivo a proteção e apreservação ambiental. Já as fundações, segundo o autor, podem serconceituadas como:

Entidade de direito privado, constituída por ato de dotaçãopatrimonial, inter vivos ou mortis causa, para determinadafinalidade não econômica.

[...]

Opera-se a constituição da fundação tão-somente com a dotaçãode bens livres, que passam a se tornar inalienáveis, exceção feitaà deliberação judicial que autorize a venda .4

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1 Art. 53 do Código Civil Brasileiro.

2 Art. 62 do Código Civil Brasileiro.

3 LISBOA, Roberto Senise. MMaannuuaall ddee DDii rreeii ttoo CCiivvii ll .. 3.ª ed. vol. I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 374.

4 IIddeemm,, 2003, p. 383-384.

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O segmento também pode manifestar-se por meio de grupos desprovidosde personalidade jurídica, podendo ser citados, entre eles, os movimentos, osforuns, os conselhos e as redes.5

Resíduo sólido “é qualquer material resultante de atividades humanasdescartado ou rejeitado por ser considerado inútil ou sem valor”.6 Para aAgenda 21, resíduos sólidos são “todos os restos domésticos e resíduos não-perigosos, tais como os resíduos comerciais e institucionais, o lixo da rua e osentulhos de construção”.7

Depreende-se, portanto, que os resíduos sólidos são uma produçãohumana e, que dependendo do tipo do material descartado, podem inclusive,além de poluir o solo e as águas, causar danos à fauna e à saúde do homem.

2. COMPETÊNCIA

Os resíduos sólidos recebem a denominação popular de “lixo” e alimpeza pública, coleta, tratamento e destinação deste, por expressa disposiçãoconstitucional, são da competência dos municípios,8 que podem delegá-lamediante processo licitatório. O que é indelegável é a organização,administração, fiscalização e gestão do sistema municipal de limpeza pública.9

Os resíduos industrias não-compreendidos pela Associação Brasileira deNormas Técnicas – ABNT 10.00410 podem ser coletados como lixo domésticoscabendo ao Município proceder à coleta e à adequada destinação deste. Em setratando de resíduo industrial perigoso, este só poderá ser disposto no meioambiente quando se transforma em resíduo comum depois de tratado e, paraisso, deverá assegurar:

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5 Alianças coletivas, cujo objetivo é o fortalecimento do segmento, mediante capacitação para intercâmbio de experiências einformações - SILVA, Maria Rosalva de Oliveira. A Atuação do Conselho Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente eda Sociedade Civil Organizada na Política Ambiental do Município de Manaus. Manaus: Universidade do Estado do Amazonas- UEA, 2004 Dissertação (Mestrado em Direito Ambiental). p. 139.

6 TRIGUEIRO, André (coordenação). Meio Ambiente no Século 21. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. p. 361. O art. 1.º, I, daResolução CONAMA n. 5, de 5 de agosto de 1993, também define resíduos sólidos.

7 Capítulo 21 (21.3).

8 Art. 30, I, da Constituição Federal, e art. 302, da Lei Orgânica dos Municípios (LOMAN).

9 Parágrafo único do art. 302, da LOMAN.

10 ABNT NBR 10.004, de setembro de 1987 – Classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meioambiente e à saúde pública, para que estes resíduos possam ter manuseio e destinação adequados.

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a) a eliminação das características de periculosidade do resíduo; b) a preservação dos recursos naturais; ec) o atendimento aos padrões de qualidade ambiental e de saúde

pública.11

A Lei Orgânica do Município de Manaus – LOMAN também proíbeexpressamente a instalação de fábrica de processamento de lixo e ponto dedepósito terminal da coleta no limite do centro urbano da cidade, estandotambém incluídas nessa vedação as áreas de interesse científico ou ecológico (art.308). Contudo essa proibição não foi observada, visto que o Aterro Sanitário deManaus se encontra localizado dentro do perímetro urbano12 da Cidade.

O Plano Diretor Urbano e Ambiental do Município de Manaus13 prevêexpressamente a elaboração de um Plano de Gerenciamento dos ResíduosSólidos contendo a estratégia geral do Poder Executivo Municipal para agestão desse material, de modo a proteger a saúde humana e o meio ambiente.Deverá ainda, especificar medidas que incentivem a conservação e arecuperação de resíduos naturais, além de oferecer as condições para adestinação final adequada dos resíduos.

Ao Estado, coube o controle das atividades industriais que ocasionampoluição em qualquer de suas formas,14 principalmente aquelas que sejamrealizadas em áreas próximas de cursos d’água (artigo 230, XI, da Constituiçãodo Estado).

3. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS

Segundo Patrícia Mousinho há diversas formas de classificação dosresíduos sólidos entre elas, aponta: quanto à composição química (orgânico ouinorgânico), quanto à fonte geradora (residencial, comercial, industrial,agrícola, de serviço de saúde etc.) e quanto aos riscos (perigosos, inertes e não-inertes).15

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11 Art. 10 da Resolução CONAMA n.º 5/1993.

12 Lei Municipal n.º 644, de 8 de março de 2002.

13 Art. 117, da Lei Municipal n.º 671, de 4 de novembro de 2002.

14 Art. 2? da Resolução CONAMA n.º 6, de 15 de junho de 1988.

15 TRIGUEIRO, André (coordenação). Meio Ambiente no Século 21. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. p. 361. Cf., ResoluçãoCONAMA n.º 23, de 12 de dezembro de 1996.

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A NBR 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, apresentatrês classes de resíduos sólidos: Classe I – resíduos perigosos; Classe II –resíduos não-inertes e, Classe III – resíduos inertes.

O Projeto de Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos optou poradotar uma outra classificação para as fontes geradoras de resíduos, sendo elas:a) resíduo domiciliar, b) resíduo público, c) resíduo industrial, d) resíduo deserviço de saúde, e) resíduo de serviço de transporte, f) resíduo de mineração,g) resíduo de estabelecimento rural.16

Comumente, os resíduos de saúde provenientes de hospitais, clínicas epostos de saúde são denominados de resíduos hospitalares e requeremtratamento, coleta e disposição diferenciados. Ocorre, entretanto, que se estáesquecendo de não serem esses resíduos exclusivos dos ambientesanteriormente citados, porque podem ser encontrados no denominado lixodoméstico, pois, onde houver um doente, por certo haverá resíduo de saúde, daípor que esta denominação parece ser mais apropriada.

4. A PROBLEMÁTICA DO LIXO

Manaus não é diferente de outras cidades do Brasil,17 onde o lixo setornou um problema sério, não só pela quantidade produzida18 – isso revelaapenas um custo elevado para coleta e depósito arcado pelo Poder Público e,consequentemente, pela sociedade – como também pelo fato de que o depósitoinadequado do lixo pode acarretar doenças19 à população.

A Prefeitura Municipal de Manaus no Projeto SOS Igarapés (1999)20 –desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Limpeza e ServiçosPúblicos (SEMULSP), Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) eSecretaria Municipal de Educação (SEMED) – retira os resíduos dos igarapés deManaus e mobiliza as comunidades mediante a coleta seletiva e educação ambiental.

O Projeto retira diariamente dos igarapés de Manaus trinta toneladas delixo aproximadamente,21 e assim, o custo operacional para manutenção do

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16 Art. 5.º Projeto de Lei n.º 203/1991.

17 SISKIS, Alfredo. Ecologia Urbana e Poder Local. Rio de Janeiro: Fundação Onda Azul, 1999. p. 111.

18 No 1.º semestre de 2005, foram recolhidas 391.460,716 toneladas de lixo em Manaus.

19 Ex. Hepatite, parasitores intestinais, leptospirose.

20 Cf., SILVA, Maria. op. cit. p. 161.

21 Fonte: Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (SEMULSP). 2004.

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Projeto onera toda a sociedade e revela que a população de Manaus precisaestar consciente de sua responsabilidade para com o meio ambiente, pois suaproteção e defesa é dever de todos (Poder Público e coletividade).22

CCOOMMPPOOSSIIÇÇÃÃOO DDEE CCUUSSTTOOSS

EEQQUUIIPPAAMMEENNTTOOSS,, SSEERRVVIIÇÇOOSS EE MMAATTEERRIIAAIISS..

DDEESSCCRRIIÇÇÃÃOO .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..RR$$ // tt

Locação de balsa com rebocador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16,00

Locação de escavadeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23,20

Remoção mecânica dos resíduos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19,13

Bote com motor de 30HP (2) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .0,26

Ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .0,25

Combustível e lubrificante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2,40

SSUUBBTTOOTTAALL ((11)) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ....6611,,2244

CCUUSSTTOO CCOOMM PPEESSSSOOAALL

DDEESSCCRRIIÇÇÃÃOO .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..RR$$ // tt

Salários e vantagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30,09

Fardamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .0,16

Roupa de mergulho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1,20

Equipamentos de proteção individual (EPI) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .0,20

SSUUBBTTOOTTAALL ((22)) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..3311,,6655

CCUUSSTTOO AADDMMIINNIISSTTRRAATTIIVVOO

DDEESSCCRRIIÇÇÃÃOO .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..RR$$ // tt

Transporte de pessoal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3,14

Transporte de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3,44

Refeição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1,16

Fiscalização e apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1,05

SSUUBBTTOOTTAALL ((33)) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..88 ,,7799

TTOOTTAALL GGEERRAALL ((11))++((22))++((33)) .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..110011,,668823

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004224444

22 Artigo 225 da Constituição Federal de 1988.

23 Fonte: Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (SEMULSP), 2004.

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Em face da Concorrência Pública n.º 001/2003, duas empresas realizama coleta de lixo em Manaus: LIMPEL e TUMPEX. Pelo contrato assinado entrea Prefeitura de Manaus, essas empresas estão obrigadas a ter um grupocomposto por doze pessoas que devem atuar na educação ambiental,coordenadas por uma assistente social e um engenheiro ambiental. Mesmoassim, essas empresas, juntas, coletaram, no 1.º semestre de 2005, 346.868,710toneladas (88,61%) do lixo recolhido em Manaus. Terceiros (supermercados,indústrias, e outros) representam apenas 11,39%, que perfaz o montante de44.592,007 toneladas24

O custo disso para a Prefeitura de Manaus apenas do 1.º semestre foi deR$ 13.503.065,89 (treze milhões, quinhentos e três mil, sessenta e cinco reaise oitenta e nove centavos). A sociedade assume esse custo pelo pagamento daTaxa de Lixo (art. 145, II, da CF/88). Não há dados disponíveis do montantereciclado em Manaus, o que deixa um questionamento: Quanto desse lixo estásendo colocado no lixo sem a devida reciclagem ou reutilização?

TTAABBEELLAA II -- CCOOLLEETTAA PPOORR EESSPPÉÉCCIIEE DDEE RREESSÍÍDDUUOO

Quantidade de lixo coletado, em toneladas, no Primeiro Semestre de 2005

SERVIÇOS 1.º Semestre Janeiro de Fevereiro de Março de Abril de Maio de Junho dede 2005 de 2005 de 2005 de 2005 de 2005 de 2005 de 2005

Coleta Total 391.460,716 61.613,000 54.513,459 76.233,312 78.638,243 64.452,933 56.009,759

Coleta Domiciliar 178.968,286 33.077,000 27.143,940 31.771,848 32.843,900 27.918,998 26.212,600

Coleta Hospitalar 1.314,064 226,000 200,330 250,844 246,840 224,650 165,400

Remoção Mecânica 141.357,303 18.401,000 15.881,336 31.417,585 31.743,269 24.951,669 17.972,345

Remoção Manual 23.485,351 2.737,000 1.967,620 2.758,211 5.356,450 5.310,429 5.355,641

Coleta de Poda 1.548,520 18,000 299,661 394,472 200,706 310,381 325,280

Coleta Seletiva 185,185 - 22,633 48,684 43,716 25,022 45.130

Terceiros 44.592,007 7.154,000 7.997,929 9.591,589 8.203,362 5.711,784 5.933,363

FONTE: Relatório semestral da Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (SEMULSP), 2005.

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004 224455

24 Fonte: Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (SEMULSP), relatório 1.º semestre de 2005.

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Segundo Renato Nalini, “o Brasil desperdiça 85 milhões de toneladas deentulhos por ano. É o que deixa de ser reciclado e que seria suficiente parapavimentar 3.500 quilômetros de estradas”.25

Faz-se necessário um combate ao desperdício, ao consumismoexagerado e a economia da transitoriedade apresentada por Alvin Toffler emsua obra O Choque do Futuro,26 que, de forma sintética, pode ser traduzidacomo o planejamento da curta durabilidade dos produtos, podendo aqui serincluído até o avanço tecnológico visto que produtos como celulares ecomputadores, em brevíssimo espaço de tempo restem defasados e poluam omeio ambiente.

5. SOCIEDADE CIVIL

Vários atores que compõem esse segmento vêm atuando em parceriacom o Poder Público Municipal e/ou com as comunidades em projetos dereciclagem, coleta seletiva e educação ambiental.

TTAABBEELLAA II II -- OORRGGAANNIIZZAAÇÇÕÕEESS NNÃÃOO--GGOOVVEERRNNAAMMEENNTTAAIISS ((OONNGGSS)27

EENNTTIIDDAADDEESS NNAATTUURREEZZAA ÁÁRREEAA DDEE AATTUUAAÇÇÃÃOO

Amigos da Amazônia (Ada) Associação - Ambientalista Reciclagem de Lixo e Coleta Seletiva

Associação Florestal paraConservaçào do Ecossistema Amazônico Associação - Ambientalista Educação Ambiental

Associação Mata Viva – Amav Associação - Ambientalista Reciclagem de Lixo,Coleta Seletiva e Educação Ambiental

Associação Selva Amazônica Associação - Ambientalista Educação Ambiental

Instituto Ambiental Amigos Da Natureza - Iaan Associação - Ambientalista Educação Ambiental

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004224466

25 NALINI, Renato. Ética Ambiental. 2.ª ed. Campinas: Millennium, 2003. p. 134-135.

26 TOFFER, Alvin. O Choque do Futuro. 5.ª ed. Rio de Janeiro: Artenova, 1973. p. 44.

27 Termo usado pela Organização das Nações Unidas em 1946, significando toda organização não-estabelecida por acordointergovernamental, conforme relata DAGNINO, Evelina. Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 2002. p. 106.

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Instituto de Educação Profissional,Ambiental e Desenvolvimento Cooperativo Reciclagem de Lixo eda Amazônia – Iepadecam Associação – Ambientalista Educação Ambiental

Instituto de Preservação do Meio Ambiente Reciclagem de Lixo ee dos Recursos Naturais da Amazônia – Ipram Associação – Ambientalista Educação Ambiental

Movimento Socioambiental Institucional Coleta Seletiva, Reciclagem deCidadão da Água – Mosaica Movimento – Ambientalista Resíduos e Educação Ambiental

Organização Cívica da Amazônia - Oca Associação – Ambientalista Educação Ambiental

Sociedades dos Amigos Educação Ambiental e Capacitaçãodo Lixo Urbano Profissional em Reciclagem ee Turismo Harmonioso – Salutarma Associação – Ambientalista Reutilização

Ong Mais Associação – Ambientalista Reciclagem de Resíduose Educação Ambiental

Associaçào Uga-Uga de Comunicação Associação – Objetivos Diversos Informação Ambiental

Associação Brasil Sei-Bsgi (Soka Gakai) Associação – Objetivos Diversos Educação Ambiental

Associação para o desenvolvimentoCoersivo da Amazônia – Adcam Associação – Objetivos Diversos Educação Ambiental

Associação Para O DesenvolvimentoIntegrado E Sustentável – Adeis Associação – Objetivos Diversos Educação Ambiental

Caritas Arquidiocesana De Manaus Associação – Objetivos Diversos Educação Ambiental

Coordenação das Organizações Indígenas Educação e Informaçãoda Amazônia Brasileira – Coiab Associação – Objetivos Diversos Ambiental Indígena

Fundação Amazônica Fundaçào – Objetivos Diversos Educação Indígena

Fundação Rede Amazônica Fundaçào – Objetivos Diversos Educaçào Ambiental e Coleta de Lixo

Dentre as, aproximadamente, duzentas e quarenta e nove Associações deBairros existentes em Manaus,28 alguns projetos desenvolvidos por Órgãosmunicipais, registram a participação comunitária em áreas relativas à educaçãoambiental, reciclagem e coleta seletiva de resíduos.

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004 224477

28 Números fornecidos pela Federação Amazonense de Comunidades - FAC e pela Central Única de Comunidades (CUC).

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TABELA III: Atuação das Associações Comunitárias – Projetos

* Fonte: Secretário Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente, Fernando de Melo Carvalho (2004). **Fonte: Divisão de EnsinoFundamental – Educação Ambiental da SEMED e Coordenador do Projeto Bodozal, João Batista dos Santos.

PPRROOJJEETTOO //EESSPPAAÇÇOO

GGEEOOGGRRÁÁFFIICCOOAANNOO

*ProgramaUNIAMBIENTE 29

Local: Manaus Ano: 1999

** Projeto BodozalLocal: CompensaAno: 1998

Projeto SOSIgarapésLocal: Toda Manaus:IgarapésAno: 1999

RREECCUURRSSOO

FFIINNAANNCCEEIIRROO

2003:R$ 190.000,002004: R$210.000,00

A SEMED informouque não existe umadotação específicapara o Projeto,somente dotaçãogeral paraProgramas eProjetosPedagógicos e deEducaçãoAmbiental.

SEMULSP:Custo OperacionalUnitário: R$ 101,68.

SEMMA E SEMED:Não possuem umadotação específica.

EENNVVOOLLVVIIDDOOSSMMUUNNIICCÍÍPPIIOO//

CCOOMMUUNNIIDDAADDEE

PPooddeerr PPúúbbll iiccoo:10 pessoas e umcoordenador.

CCoommuunniiddaaddee: 34gruposcomunitários.

PPooddeerr PPúúbbll iiccoo::SEMED: 15 pessoasSEMMA:Palestrantes(depende daatividade).

CCoommuunniiddaaddee::Associação dosMoradores daCompensa II -1.000 pessoas

PPooddeerr PPúúbbll iiccoo::SEMULSP: 31pessoas

SEMED e SEMMA:Equipe de EducaçãoAmbiental:

CCoommuunniiddaaddee: Presidentes deAssociações

OOBBJJEETTIIVVOO

Realizar cursos eoficinas de trabalhoem matériaambiental.

Desenvolvimentode atividadessocioeducativas,políticas públicaspara a sensibilização da questãoambiental.

Tem por objetivo aatuação do PoderPúblico na retiradade lixo e amobilização dacomunidade naeducação ambientale coleta seletiva.

RREESSUULLTTAADDOOSS

Realizou 7 cursos eoficinas, atendeu 34grupos comunitáriose distribuiu 390apostilas.

Finalista do PrêmioSuper Ecologia(2001).Finalista do PrêmioItaú-Unicef (2001).

Entre 1998-2000, aSEMED avalia quehouve melhoria doambiente: 20,72%nas ruas do bairro;22,04% no bairro;16,76% no igarapé;18,76% na escola e21,69% nas casas.

No 1.º momento, acomunidade eraagente passivo daoperação. Hoje, oslíderes comunitáriosdesenvolvem açõesambientais próprias.

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004224488

29 Universidade do Meio Ambiente.

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Embora os projetos das ONGs e Associações Comunitárias promovam areciclagem do lixo mediante a coleta seletiva, devem ser colocadas sobavaliação três situações complexas. A primeira, relativa à situação de risco doscatadores de lixo,30 que trabalham em locais insalubres e desprovidos deequipamentos adequados. A segunda, relacionada com a primeira, pois, emalguns casos, essa atividade é a única fonte de renda familiar; e a terceira, aausência de políticas públicas que incentivem a cultura da separação do lixodomiciliar.

6. CONSCIENTIZAÇÃO

A Constituição Federal, em seu art. 225, é clara em afirmar que competeao Poder Público e à coletividade o direito/dever de preservar e defender omeio ambiente para as presentes e futuras gerações (solidariedadeintergeracional).31

Em uma análise superficial do artigo, poder-se-ia inferir que essa defesaseria judicial. Para que a preservação ambiental seja efetiva, mais do quereprimir condutas ambientais lesivas, é necessário evitá-las, por meio deinstrumentos preventivos, notadamente a informação32 e a educaçãoambiental,33 que subsidiam a sociedade na formação de uma conscientizaçãoambiental.

Informar vai além de simplesmente divulgar dados e indicadoresambientais. Pressupõe dar condições à população para que ela possa fazer, comconsciência, as suas escolhas no desenvolvimento das cidades.

Dessa conscientização, evolui-se para uma mobilização social, em queas ONGs e as Associações Comunitárias têm um papel importante, pois,através delas arregimentam-se pessoas que irão atuar como multiplicadores deconhecimento e auxiliar em projetos ambientais, que visem a diminuir odesperdício (reduzir) por meio da reciclagem e da reutilização.

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004 224499

30 MARQUES. José Roberto. Meio Ambiente Urbano. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 123.

31 Cf., WOLKMER, Antonio Carlos; LEITE, José Rubens Morato (orgs.). Os Novos Direitos no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2003.p. 241- 253.

32 Lei Federal n.º 10.650, de 16 de abril de 2003, dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes nosÓrgãos e Entidades integrantes do SISNAMA.

33 Lei Federal n.º 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, regulamentada peloDecreto Federal n.º 4.281, de 25 de junho de 2002.

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Sem dúvida, nesse primeiro momento, o grande chamariz da reciclagemé ser ela uma fonte de renda, que pode auxiliar na melhoria da qualidade devida das comunidades mais carentes, a fim de que possam usufruir dos direitosmínimos garantidos no artigo 6.º da Norma Fundamental.

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004225500

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PARTE IV – RESUMOSA INCIDÊNCIA DE MALÁRIA NAS OCUPAÇÕES DESORDENADAS DO MUNICÍPIO DE MANAUS,NO PERÍODO 1999 – 2003, COMO CONSEQÜÊNCIA DE VIOLAÇÕES AOS DIREITOS À HABITAÇÃO, SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .253

A COMPETÊNCIA DOS ESTADOS-MEMBROS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA EM MATÉRIA DEPOLICIAMENTO JUDICIÁRIO AMBIENTAL: O CASO DO AMAZONAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .254

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO DE VALORIZAÇÃO CULTURAL PARA A CONSERVAÇÃODO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DAS COMUNIDADES LOCAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .256

CONHECIMENTOS TRADICIONAIS ASSOCIADOS AO PATRIMÔNIO GENÉTICO E DIREITOINTELECTUAL: UMA ABORDAGEM JURÍDICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .257

A EFICÁCIA DA NORMA AMBIENTAL NA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .258

ASPECTOS E PERSPECTIVAS SÓCIO-JURÍDICAS SOBRE O TRATAMENTO DA POLUIÇÃO PORRESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NA CIDADE DE MANAUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .259

A REPARAÇÃO DO DANO ECOLÓGICO: A AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMO MEIOPARA A DEFESA AMBIENTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .260

PATRIMÔNIO CULTURAL – O TOMBAMENTO COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .261

MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA E A QUALIDADE DEVIDA DO TRABALHADOR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .262

O MANEJO DE JACARÉS PELAS POPULAÇÕES DO INTERIOR DO ESTADO DO AMAZONAS ESUAS IMPLICAÇÕES JURÍDICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .263

ANÁLISE JURÍDICO-AMBIENTAL DA POLUIÇÃO DO IGARAPÉ DO ALVORADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .264

ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS: A REGULAÇÃO JURÍDICA DASRESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .265

ORDENAÇÃO DAS CIDADES E O PAPEL DO DIREITO URBANÍSTICO: O LICENCIAMENTOURBANÍSTICO NO MUNICÍPIO DE MANAUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .266

RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE MANAUS: RESPONSABILIDADECIVIL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DOS ESTABELECIMENTOS GERADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .267

A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE ENQUADRAMENTO DAS EMPRESAS ÀSNORMAS DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .268

RESPONSABILIDADE CIVIL AO PATRIMÔNIONATURAL POR EMPRESASDE MANAUS: CASOS JULGADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .269

A LEI DO SILÊNCIO:POLUIÇÃO SONORA POR EQUIPAMENTOS DE SOM NA CIDADE DE MANAUS . . . . . . . . . . . . .271

A ATUAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE EDA SOCIEDADE CIVIL ORGANIZADA NA POLÍTICA AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE MANAUS . . . . . . . . . . . . . . . . .272

REGULAÇÃO JURÍDICA DO ACESSO AOSCOMPONENTES DA BIODIVERSIDADE:ITULARIDADES COMPLEXAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .273

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A DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA NA LICENÇA AMBIENTAL BRASILEIRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .275

O PRINCÍPIO POLUIDOR-PAGADOR E USUÁRIO PAGADOR NA GESTÃO DE RECURSOSHÍDRICOS NO AMAZONAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .276

O ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EPIA)COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃOAO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .277

A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS FRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .278

O PODER PÚBLICO E A GESTÃO DOS BENS DE USO COMUM DO POVO AS PRAÇAS DE MANAUS . . . . . . . . . . . .279

ANÁLISE DA EFETIVIDADE DA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DEMANAUS (JANEIRO/1998 A JULHO/2003) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .281

POLUIÇÃO TRANSFRONTEIRIÇA: SUA PROTEÇÃO JURÍDICA EM FACE DA SOBERANIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .282

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A INCIDÊNCIA DE MALÁRIA NAS OCUPAÇÕESDESORDENADAS DO MUNICÍPIO DE MANAUS, NO PERÍODO

1999 – 2003, COMO CONSEQÜÊNCIA DE VIOLAÇÕES AOSDIREITOS À HABITAÇÃO, SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE

ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

Mestranda: Alcinéia da Silva Rodrigues

Banca Examinadora: Profa. Dra. Clarice Seixas Duarte (Orientadora)Prof. Dr. Wanderlei Pedro Tadei (INPA)Profa. Dra. Solange Teles da Silva (UEA)

Resumo: Este estudo analisa a alta incidência de malária nas ocupaçõesdesordenadas do município de Manaus, nos últimos cinco anos, comoconseqüência de violação ao direito ao meio ambiente ecologicamenteequilibrado expresso no art. 225 da Constituição Federal de 1988, que dispõe:todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de usocomum do povo e essencial á sadia qualidade de vida, impondo-se ao PoderPúblico e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, para as presentese futuras gerações. Para consecução dos objetivos, referida análise articulou oproblema apresentado com os demais direitos sociais, econômicos e culturais,com ênfase no direito à moradia e à saúde, considerando a interface dessesdireitos que se integram na medida em não se postula apenas o direito à merasobrevivência, mas o direito à vida com dignidade. A problemática do temaenvolve questões como: a existência de um expressivo déficit habitacional nomunicípio, a influência do processo cultural da população acerca da defesa epreservação dos bens ambientais, a oferta deficiente e insuficiente de serviçospúblicos e de equipamentos básicos sociais, e a omissão do Poder Público pelonão cumprimento de direitos fundamentais constitucionalmente positivados,no sentido de prover prestações positivas, materializadas nas políticas públicas.

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A COMPETÊNCIA DOS ESTADOS-MEMBROS DA FEDERAÇÃOBRASILEIRA EM MATÉRIA DE POLICIAMENTO JUDICIÁRIO

AMBIENTAL: O CASO DO AMAZONAS

Mestrando: Aluísio Celso Affonso Caldas

Banca Examinadora: Profa. Dra. Clarice Seixas Duarte (Orientadora)Profa. Dra. Maria Paula Dallari Bucci (UNISANTOS)Prof. Dr. Ozório Jose de Menezes Fonseca (UEA)

Resumo: A estrutura política do Estado brasileiro se desenvolveu ao longo deum processo histórico, onde a descentralização do poder se verifica de formacíclica. A forma unitária do Estado monárquico demonstra a gênese de umatradição política centralizadora, a cuja influência se renderam todas asiniciativas de descentralização, dentre as quais a adoção da forma federal, nofinal do século XIX, que desde então tem revelado uma cultura federalistacentralizadora, distante da realidade política esperada de um Estado federal.Esse fato se contrapõe às expectativas de desenvolvimento na dimensãoterritorial do Brasil, onde se verificam múltiplas realidades sócio-culturais, aomesmo tempo em que desafia a visão antropocêntrica da ordem jurídico-ambiental dessa federação. A discussão perpassa, inevitavelmente, peladistribuição constitucional de competências em matéria de meio ambiente, comrelevância ao policiamento judiciário ambiental no contexto das políticaspúblicas que concorrem para a realização e manutenção do conceito da sadiaqualidade de vida, em cujo contexto se questiona a competência e o grau deautonomia dos estados-membros para a realização dessa política, considerandoas características do federalismo cooperativo e utilizando o Estado doAmazonas como estudo de caso, numa abordagem qualitativa do tema a partirde uma leitura crítica das fontes consultadas. Procura-se, assim, demonstrarque as competências para as ações estatais em matéria ambiental sãoconstitucionalmente conferidas como deveres a todos os entes federados, umavez que são comuns as responsabilidades, conforme art. 23 da Constituiçãobrasileira. Além disso, evidencia-se o fato de que, nos diferentes contextos eníveis culturais das populações que habitam o território do Estado doAmazonas, a eficácia na realização do policiamento judiciário ambiental estávinculada à existência de uma cultura social mínima, o que se manifesta no

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discernimento dessas populações sobre a importância do bem ambiental paraas suas próprias vidas, ou seja, se não houver uma clara noção ou mesmorelevância dos valores ambientais na consciência popular, o policiamentojudiciário ambiental se manifestará incompatível com o perfil democrático darealidade brasileira. Impõe-se ao Estado-membro, portanto, a adoção de açõesestruturantes dessa política, quer quanto ao aparelhamento, quer quanto àcapacitação de recursos humanos para a persecução penal e para a formação deuma consciência ambiental institucional, sendo necessário considerar as sócio-diversidades dos povos da floresta, ou, em outras palavras, as diversidadesculturais das populações tradicionais que integram o conjunto socialamazonense. Dessa forma, diante das peculiaridades verificadas na realidadede cada estado-membro da federação brasileira, demonstra-se que opoliciamento judiciário para a proteção e defesa do patrimônio ambiental, dadoo interesse difuso que lhe acomete, não poderia jamais ser da competênciaexclusiva de um único membro da federação, mas antes se afirma como deverdo poder público estadual e direito de todos.

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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PROCESSO DE VALORIZAÇÃOCULTURAL PARA A CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIOCULTURAL IMATERIAL DAS COMUNIDADES LOCAIS

Mestranda: Carla Brum Carvalho

Banca Examinadora: Profa. Dra. Cristiane Derani (Orientadora)Profa. Dra. Ana Virgínia Moreira Gomes (UNISANTOS)Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas (UEA)

Resumo: A conservação do patrimônio cultural imaterial brasileiro é, semdúvida, um dos grandes desafios a serem enfrentados pelos cidadãos, asociedade civil e o Estado neste século que se inicia. Ainda que um tantoquanto tardiamente, emerge a consciência de que o avanço da sociedade nãopode se concretizar às custas da dizimação da biodiversidade natural e daherança construída pelas comunidades humanas ao longo dos séculos e, nestesentido, a presente dissertação tem como principal objetivo colocar emdiscussão o aspecto de educação ambiental, que representa a principalpossibilidade de reversão do atual cenário de ameaça, não apenas à fauna eflora – já tão gravemente afetadas pelo avanço do chamado “progresso” dacivilização – mas, também, à existência futura de inúmeras comunidades locaisestabelecidas em todo o país. Mas para que uma realidade mais otimista possasurgir no médio prazo, é importante que se desenvolva uma comunicação maisfluente entre os chamados “especialistas”, que muitas vezes, possuem idéiasantagônicas a respeito do que, idealmente, deveria ser realizado no sentido doBrasil vir a se tornar um país que possa, não apenas oferecer condições dignasde vida a seus habitantes mas, além disso, estimular a preservação e ofortalecimento da diversidade natural e cultural, que, a cada dia, vem-setornado um bem mais escasso no planeta.

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CONHECIMENTOS TRADICIONAIS ASSOCIADOS AOPATRIMÔNIO GENÉTICO E DIREITO INTELECTUAL:

UMA ABORDAGEM JURÍDICA

Mestrando: Edson de Oliveira

Banca Examinadora: Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas (Orientador)Prof. Dr. Eroulths Cortiano Junior (UFPR)Prof. Dr. Ozório Jose de Menezes Fonseca (UEA)

Resumo: O objetivo geral deste trabalho consiste em identificar a regulaçãointernacional e nacional referentes a conhecimentos tradicionais associados àbiodiversidade assim como identificar a regulação nacional e estadual referenteao acesso ao patrimônio genético e a conhecimentos tradicionais. A pesquisabaseou-se nos conteúdos de documentos, sobretudo legislativos, como leisfederais, leis estaduais, projetos de leis federais e projetos de leis estaduais quedispõem sobre o acesso a recursos genéticos e seus produtos derivados assimcomo à proteção ao conhecimento tradicional a eles associados. Além dessesdocumentos legislativos, basicamente oriundos do Congresso Nacional e deAssembléias Legislativas, foram também coletados textos de várias entidadesque atuam e possuem interesse no problema da pesquisa, bem comolevantamento de artigos em revistas. Foram também visitados órgãosenvolvidos com o problema em estudo, tais como a representação do INPI,Universidade Federal do Amazonas etc. A pesquisa faz uma análise daConvenção sobre Diversidade Biológica na parte referente a medidas deconservação e uso sustentável da biodiversidade assim como questões deacesso aos recursos biológicos. Tendo como referência esse material depesquisa o problema em questão foi analisado sob o aspecto jurídico sejaquanto à definição de conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade,seja quanto o aspecto legal do acesso a esses conhecimentos tradicionaisassociados. Faz o trabalho uma abordagem do acesso a conhecimentostradicionais e patrimônio genético em terras indígenas. Por fim, a pesquisaexamina a questão do direito intelectual ligado à conhecimentos tradicionais epatrimônio genético, discutindo um sistema sui generis de proteção deconhecimentos tradicionais.

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A EFICÁCIA DA NORMA AMBIENTALNA PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Mestranda: Ezelaide Viegas da Costa Almeida

Banca Examinadora: Prof. Dr. Edson Saleme (Orientador)Prof. Dr. Ana Virgínia Moreira Gomes (UNISANTOS)Prof. Dr. Sandro Nahmias Melo

Resumo: A preocupação com a proteção do meio ambiente não recente eatualmente ultrapassa fronteiras nacionais. Em todos os relatórios e estudos atéhoje editados sobre meio ambiente, observa-se que é responsabilidade de todosa preservação do mesmo para que se tenha o equilíbrio ecológico. Identificadocomo um bem jurídico fundamental, o meio ambiente possui instrumentosadministrativos e jurídicos para protegê-lo de transgressões das mais variadasespécies. Normas constitucionais e infraconstitucionais servem ao propósito dapreservação desse bem inestimável. Existem normas que inclusive prevêemsanção na hipótese de violação. Tais normas são fruto do avanço normativo emmatéria ambiental e pode-se dizer que as Convenções Internacionais trouxeramas principais recomendações em termos de meio ambiente. A eficácia da normaambiental na proteção do meio ambiente, utilizando análise doutrinária, é vistacomo resultante de normas jurídicas auto-executáveis, muitas não necessitandocomplementação para produzirem efeitos. Observa-se, contudo, que a proteçãodo meio ambiente para ser efetivada não necessita apenas de normas jurídicas.Depende, sobretudo de fiscalização dos órgãos encarregados de gerir a PolíticaNacional de Meio Ambiente e conscientização, por meio de políticaseducacionais, de todos os cidadãos no sentido de se proteger os recursosesgotáveis, tal como observado no Relatório Brutland e na Agenda 21.

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ASPECTOS E PERSPECTIVAS SÓCIO-JURÍDICAS SOBRE OTRATAMENTO DA POLUIÇÃO POR RESÍDUOS SÓLIDOS

URBANOS NA CIDADE DE MANAUS

Mestrando: Fábio Pacó de Matos

Banca Examinadora: Prof. Dr. Sérgio Rodrigo Martinez (Orientador)Prof. Dr. Zulmar Antonio Fachin (PUC/PR)Profa. Dra. Clarice Seixas Duarte (UEA)

Resumo: Nas últimas décadas, o lixo urbano, por ser oriundo de uma fonteinesgotável estimulada pela massificação do consumo, vem tornando-se um sérioproblema para as autoridades e órgãos públicos responsáveis pela limpezaurbana, pois diariamente grandes volumes de resíduos de toda natureza sãodescartados nos centros e nas periferias das grandes cidades, necessitando umdestino final adequado. Apesar dos esforços das autoridades competentes nosentido de ordenar a disposição destes resíduos em conformidade com o queprevê a legislação existente, fatores tais como, a escassez de recursos técnicos,informacionais e financeiros vêm limitando estas iniciativas, e por conseqüênciaos resíduos sólidos urbanos terminam por serem lançados diretamente no solo,no ar e nos corpos d’água existentes no entorno dos centros urbanos. Isso acarretaa poluição do meio ambiente e reduz a qualidade de vida da população. Diantedesse quadro, pretendemos prestar um esclarecimento mais específico sobre aproblemática dos resíduos sólidos urbanos, privilegiando a análise dos aspectossócio-culturais e sócio-jurídicos, assim como a inter-relação dos hábitos deconsumo da sociedade moderna com a excessiva geração de resíduos. Destaca-se, ao final, algumas alternativas de intervenção neste problema, fundamentadas,em primeiro lugar, na Educação Ambiental, contemplada como um primeiropasso para se tentar reverter o quadro de poluição por resíduos sólidos urbanos;e em segundo lugar, apoiado no conceito de Gestão Comunitária do Lixo, arealização de uma ação conjunta através da articulação entre o Poder Público, aUniversidade do Estado do Amazonas – UEA, e toda a sociedade amazonense, aqual incluirá, uma ampla campanha de sensubilização e educação ambientalestimulando a prática da coleta seletiva no interior de lares, escolas, empresas eoutros setores da sociedade. Visualiza-se ainda, o ensino de técnicas simples decompostagem e aterramento sanitário dos rejeitos em local apropriado.

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A REPARAÇÃO DO DANO ECOLÓGICO: A AÇÃO CIVILPÚBLICA COMO MEIO PARA A DEFESA AMBIENTAL

Mestranda: Gláucia Maria de Araújo Ribeiro

Banca Examinadora: Prof. Dr. José Augusto Fontoura Costa (Orientador)Profa. Dra. Adriana Diaféria (PUC/SP)Prof. Dr. Ozório Jose de Menezes Fonseca (UEA)

Resumo: Sob a preocupação de que preservar a diversidade e a integridade dopatrimônio natural implica em meio ambiente ecologicamente equilibrado, balizadocomo pressuposto para o atendimento de outro valor fundamental – o direito à vida– prescreve a Constituição de 1988 garantias e mecanismos capazes de assegurar àcidadania os meios de tutela judicial desse bem: dentre outros, a ação civil pública.Embora a Lei da Ação Civil Pública não tenha sido a precursora, foi a partir do seuadvento que, a doutrina processual brasileira passou a estudar a defesa em juízodessa modalidade de interesses. E, com a promulgação da Constituição Federal de1988, elevou-se à categoria de garantias constitucionais determinados valorestutelados pelas demandas coletivas, recepcionando-a integralmente, aprimorando-a,um imenso campo de incidência. A pesquisa irá se arregimentar nos preceitos legaisvigentes e na legislação específica para aplicação da referida garantia constitucionalna manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente comopatrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido. A Carta Magna elegislação infraconstitucional dotaram a pessoa, seja física ou jurídica, deinstrumentos processuais eficazes para apuração e punição ao dano ambiental.Assim, ação civil pública tornou-se imprescindível na complementação do estudoda responsabilidade civil por dano ecológico. E é o que observaremos no CapítuloI deste trabalho, uma vez que a referida ação é dotada de instrumentos processuaiscapazes de efetivar a conservação e a reparação do meio ambiente. O Capítulo II terápor objetivo discorrer sobre o dano ambiental, seu conceito e suas características afim de demonstrar que sua repercussão influencia drasticamente na impetração daação civil pública. A ação civil pública é a via processual adequada para impedir ereprimir danos aos bens coletivamente tutelados, encontrando-se disciplinada pelaLei n.º 7.347, de 24.07.1985. A efetivação do dano traz o dever de legal de suareparação, em sua integralidade, seja de forma natural ou em pecúnia. É o queveremos no decorrer desta dissertação, disposto, também, em nosso Capítulo III.

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PATRIMÔNIO CULTURAL – O TOMBAMENTO COMOINSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO

Mestranda: Heloysa Simonetti Teixeira

Banca Examinadora: Prof. Dr. Edson Ricardo Saleme (Orientador)Profa. Dra. Ana Virgínia Moreira Gomes (UNISANTOS)Profa. Dra. Andréa Borghi Moreira Jacinto (UEA)

Resumo: Preservar o meio ambiente é preservar a vida do planeta. Este é umtema sempre presente, relevante que é para as atuais e futuras gerações.Quando se refere ao meio ambiente é imprescindível se ter em mente que estenão é apenas o natural, muito mais enfatizado, mas também o cultural.Preservar a cultura é manter viva a memória coletiva de uma sociedade, épermitir o conhecimento, de geração em geração, da história, das raízes de seusurgimento. Portanto, o patrimônio cultural possui, hoje, acepção bastanteabrangente, que inclui todas as formas de expressão da cultura de um povo. Éimprescindível, para preservar os traços culturais da sociedade brasileira, autilização de meios adequados de proteção dos bens culturais, a exemplo dotombamento, instituído pelo Decreto-lei 25/1937. Reconhece-se, contudo, quenão são suficientes os instrumentos de proteção para atuação do poder público,necessita-se, também, do envolvimento da sociedade, além da implementaçãode políticas fiscalizadoras, a permitir a conservação desses bens e evitar asinvestidas danosas contra o patrimônio cultural.

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MEIO AMBIENTE DO TRABALHO: PREVIDÊNCIA SOCIALBRASILEIRA E A QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR

Mestranda: Iza Amélia de Castro Albuquerque

Banca Examinadora: Prof. Dr. Sandro Nahmias Melo (Orientador)Prof. Dr. Georgenor de Sousa Franco Filho (UNAMA/PA)Prof. Dr. José dos Santos Pereira Braga (UFAM)

Resumo: Pretende-se, neste trabalho, realizar um estudo sobre o meioambiente do trabalho, um dos aspectos do meio ambiente geral, compreendidocomo pressuposto para que o trabalhador possa gozar de vida digna. Destaforma, este estudo foi estruturado em quatro partes. Inicialmente, vencidos osmeandros conceituais do meio ambiente do trabalho, aborda-se a questão datutela jurídica do meio ambiente do trabalho sob a ótica do Direito Ambiental,do Direito do Trabalho e do Direito da Seguridade Social. Em seguidaenfrenta-se a questão dos riscos ocupacionais no ambiente do trabalho, ao seconsiderar que o desafio maior, na atualidade, a ser enfrentado pelo Estado,como também pela sociedade, trata-se do elevado índice de acidentes dotrabalho, causando lesões e ceifando a vida de milhares de trabalhadores,acidentes estes que podem ser evitados com a devida prevenção. Aborda-se,também, sobre a proteção previdenciária, considerando que não há como falarsobre a qualidade de vida do trabalhador, sem mencionar a Seguridade Social,que se constitui na espinha dorsal de um Estado de Direito. Por fim, há que seabordar os reflexos acidentários na vida dos trabalhadores, assim como aeficácia do direito ao meio ambiente do trabalho equilibrado.

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O MANEJO DE JACARÉS PELAS POPULAÇÕES DO INTERIORDO ESTADO DO AMAZONAS E SUAS IMPLICAÇÕES

JURÍDICAS

Autor: João Ferreira de Santana Neto

Banca Examinadora: Prof. Dr. Sérgio Rodrigo Martinez (Orientador)Prof. Dr. Zulmar Antonio Fachin (PUC/PR)Profa. Dra. Andréa Borghi Moreira Jacinto (UEA)

Resumo: A pesquisa realizada propõe uma reflexão acerca da persistência deimpedimentos legais, que porventura possam obstar a adoção de planos demanejo extensivo de jacarés pelas populações do interior do Amazonas. Areferida atividade extrativa animal é responsável, há décadas, pelamovimentação de recursos obtidos através do tráfico de animais silvestres e deseus produtos, sem que isso tenha, nas mesmas proporções, resultado numamelhoria das condições de vida daquelas populações. Para tanto, fez-senecessária a revisão bibliográfica acessível acerca do tema discorrido, que secaracteriza pela inter-relação de várias disciplinas e campos do conhecimentohumano comuns à matéria ambiental. Assim, adotou-se o método dedutivo,tendo em vista a imprescindível inserção das experiências de outros países e deoutros estados da Federação sobre o uso sustentável desse recurso da fauna,bem como sobre a evolução do direito brasileiro pertinente à fauna silvestre.Outrossim, analisou-se a importância social e econômica da utilização dojacaré como um recurso natural e de sua importância para a melhoria daqualidade de vida do amazonense do interior, adequando-a às suas práticastradicionais e fortalecendo a necessidade de se preservar não só a espécieutilizada, mas também, proteger as áreas em que se encontram, assegurando odesejado desenvolvimento sustentável.

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ANÁLISE JURÍDICO-AMBIENTAL DA POLUIÇÃODO IGARAPÉ DO ALVORADA

Mestrando: João Francisco Wanderley da Costa

Banca Examinadora: Profa. Dra. Andréa Borghi Moreira Jacinto (Orientadora)Prof. Dr. Joaquim Shiraishi Neto (UFPR)Prof. Dr. Ozório Jose de Menezes Fonseca (UEA)

Resumo: O estado de degradação dos igarapés que integram as micro-baciashídricas do perímetro urbano de Manaus vem ensejando, nos últimos anos,uma considerável discussão acadêmico-científica, em que são polarizadoscomo vetores do dano ambiental, de um lado a ação das populações queocupam irregularmente os espaços urbanos marginais e adjacentes aos cursosd’água e, de outro, as intervenções e/ou omissões do Poder Público frente aessa realidade. A agressão ao meio ambiente é real e extremamente graves assuas conseqüências em relação aos ecossistemas envolvidos. Às variáveis decaráter sócio-ambientais e público-administrativas que sedimentam oconhecimento científico acerca da degradação dos igarapés de Manaus, seacrescentará no presente trabalho a análise das competências eresponsabilidades do Poder Público, e da violação ao ordenamento jurídico,pertinentes ao tema. No primeiro capítulo serão analisadas a ocupação urbanae a degradação hídrico-ambiental de Manaus; a dinâmica da demografiahumana e o contexto demográfico brasileiro; a expansão demográfica, o espaçoe o planejamento urbanos, a malha hidrográfica e a poluição hídrica emManaus. No segundo capítulo serão tratados os temas meio ambiente,legislação, competências e intervenções do Poder Público; meio ambiente e suaanálise conceitual; degradação ambiental; desenvolvimento sustentável; PoderPúblico e a desordenada ocupação de áreas de igarapés; regime jurídico dosrecursos hídricos; intervenções públicas e Estatuto da Cidade. No terceiro eúltimo capítulo, que constitui o Estudo de Caso acerca da poluição do Igarapédo Alvorada, serão abordados a contextualização da área de estudo, osprocessos de ocupação e degradação desse curso d’água e os resultados dapesquisa de campo ali empreendida.

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ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS: AREGULAÇÃO JURÍDICA DAS RESERVAS PARTICULARES DO

PATRIMÔNIO NATURAL

Orientado: Júlio Cezar Lima Brandão

Banca Examinadora: Prof. Dr. Fernando Antônio de Carvalho Dantas (Orientador)Profa. Dra. Maria Paula Dallari Bucci (UFPR)Profa. Dra. Andréa Borghi Moreira Jacinto (UEA)

Resumo: Trata-se de pesquisa que versa sobre os espaços territoriaisespecialmente protegidos com ênfase na regulação jurídica das reservasparticulares do patrimônio natural. A investigação se inicia com umaabordagem, em nível mundial, acerca das áreas protegidas, e se desenvolvecom a identificação dos principais instrumentos normativos existentes noordenamento jurídico brasileiro, a partir de sua regulação constitucional, como propósito de demonstrar que a criação dessas áreas constitui-se emimportante estratégia de proteção da diversidade biológica brasileira. Emseguida, os estudos são dedicados especificamente as reservas particulares dopatrimônio natural, ocasião em que são abordadas relevantes questõesjurídicas envolvendo a criação, alteração, supressão dessas áreas. Logo depois,a pesquisa é dedicada à análise da proteção penal desses espaços territoriais,culminando com a discussão acerca da competência jurisdicional paraprocessar e julgar os crimes ambientais praticados nessas unidades deconservação. Finalmente é realizada investigação a propósito dacompatibilidade jurídica das reservas particulares com os demais espaçosterritoriais especialmente protegidos existentes no ordenamento jurídicobrasileiro.

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ORDENAÇÃO DAS CIDADES E O PAPEL DO DIREITOURBANÍSTICO: O LICENCIAMENTO URBANÍSTICO NO

MUNICÍPIO DE MANAUS

Mestranda: Jussara Maria Pordeus e Silva

Banca Examinadora: Prof. Dr. Edson Ricardo Saleme (Orientador) Prof. Dr. José Cretella Netto (UNIP/SP)Profa. Dra. Andréa Borghi Moreira Jacinto ( UEA)

Resumo: O licenciamento urbanístico, focalizando-se a cidade de Manaus,constitui o objeto de estudo desse trabalho, cujo principal objetivo foisistematizar o conjunto de normas urbanísticas referentes ao licenciamento edas ações do Poder Publico Municipal, buscando sugerir novas formas decontrole preventivo, concomitantemente e repressivo, para o controleurbanístico, em decorrência do visível desordenamento urbano dessa cidade.Para alcançar seus objetivos, esse trabalho comporta uma abordagem históricado surgimento das cidades e das regras urbanísticas e particularmente dasnormas específicas do licenciamento, assim como os princípios que regem amatéria. Também foi objeto de analise a política implementada pelo PoderMunicipal, como o principal ator nessa matéria do direito. Para complementaro estudo bibliográfico, foram realizadas entrevistas, com o intuito de avaliar apercepção dos operadores das instituições governamentais sobre oordenamento de ações pertinentes aos novos paradigmas constitucionais,representados pela função social da propriedade, assim como da própriacidade.

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RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DEMANAUS: RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA E DOS ESTABELECIMENTOS GERADORES

Mestranda: Lúcia Maria Corrêa Viana

Banca Examinadora: Profa. Dra. Solange Teles da Silva (Orientadora) Prof. Dr. José dos Santos Pereira Braga ( UFAM)Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas (UEA)

Resumo: Para tratar da problemática dos resíduos de serviços de saúde parte-se da análise dos riscos que estes geram à saúde e ao meio ambiente.Apresenta-se a classificação teórica e legal desses resíduos, com relevância aosaspectos do manuseio, acondicionamento, separação, coleta, armazenamento etransporte nas principais fontes geradoras de resíduos de serviços de saúde noMunicípio de Manaus, observando-se os riscos de tais atividades para a saúdehumana. Os procedimentos e legislação referentes ao tratamento e disposiçãofinal dos resíduos de serviços de saúde também constituem parte dessa análise.Destaca-se nesse estudo a questão da responsabilidade civil da AdministraçãoPública e dos geradores de resíduos de serviços de saúde. A título de ilustraçãoda problemática, dois estudos de casos são relevantes: o do processo delicenciamento do aterro controlado do Município de Manaus, e a ação civilpública de responsabilidade por danos ambientais tendo como objeto omencionado aterro controlado desse município.

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A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DEENQUADRAMENTO DAS EMPRESAS ÀS NORMAS DE

PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

Mestrando: Marco Antonio da Cunha Evangelista

Banca Examinadora: Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (Orientador)Prof. Dr. José Cláudio Monteiro Britto Filho (UFPA)Prof. Dr. Sandro Nahmias Melo (UEA)

Resumo: O Meio Ambiente se apresenta como alvo de preocupação da atualgeração, visando sua proteção como fator garantido da própria existênciahumana; É evidente que as empresas tem se aparelhado para minimizar oimpacto da suas atividades no meio ambiente. Mas não basta estarecologicamente correto: Faz-se necessário demonstrar ao público tal conduta.Dentre tantas formas de demonstrar as atitudes empresariais para a proteção aomeio ambiente, a contabilidade se mostra como um meio sem igual paraembasar tal demonstração; não apenas pelo fato de ser a contabilidade a ciênciado patrimônio por excelência, já detendo em seu método as ferramentas decontrole das decisões empresariais, mas especialmente por proporcionar aopúblico e usuários de informações empresariais um retrato do comportamentoeconômico da empresa. Tomando essa utilidade da ciência contábil, pode-seutilizá-la para dar efetividade ao cumprimento do Princípio Ambiental deInformação que, através de um relatório contábil denominado “BalançoSocial”, poderá tornar público quanto (e se) a empresa investe em ações quebeneficiem e protejam o meio ambiente.

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RESPONSABILIDADE CIVIL AO PATRIMÔNIONATURAL POR EMPRESAS DE MANAUS:

CASOS JULGADOS

Mestranda: Maria da Conceição Leal

Banca Examinadora: Prof. Dr. José Augusto Fontoura Costa (Orientador)Profa. Dra. Adriana Diaféria (PUC/SP)Profa. Dra. Andréa Borghi Moreira Jacinto (UEA)

Resumo: O presente trabalho tem como cerne a verificação da efetividade dasdecisões judiciais proferidas pela Vara do Meio Ambiente e Questões Agrárias,em decorrência de danos ambientais perpetrados por pessoa jurídica de direitoprivado na Cidade de Manaus. Dentre os danos provocados ao ambientenatural tomou-se a poluição hídrica como objeto de estudo em razão daunicidade e fonte geradora do dano, o derramamento de óleo por empresasfornecedoras de energia elétrica. Além da pesquisa doutrinária essencial para oentendimento e solução das questões tratadas voltou-se para a pesquisadocumental, objetivando a comprovação dos fatos, a elucidação da lide e abusca pela efetividade das decisões prolatadas pela Vara Especializada do MeioAmbiente e Questões Agrárias. Buscou-se caracterizar o meio ambiente e otratamento a este dispensado pela Constituição de 1988, como um bem difuso,atribuindo a todos direito de fruição, mas também dever de sua reparação pelosdanos causados. Essa responsabilidade pode ser administrativa, civil ou penal,tanto das pessoas físicas quanto jurídicas, inclusive com a aplicação dadesconsideração da personalidade jurídica nos casos de uso indevido ou deabuso de poder por seus representantes. A responsabilidade ambiental foienfatizada como conseqüência do dano ambiental, voltada inicialmente para arecomposição ou recuperação, trazendo o ambiente o mais próximo possível doseu status quo ante e, se comprovada essa impossibilidade, voltar-se para areparação pecuniária, com gerenciamento pelos fundos e aplicação primordialnos locais atingidos pela degradação. Entretanto, não basta que as decisõespossuam eficácia e possibilidade de virem a ser cumpridas. É necessário quehaja efetividade, que sejam executadas. Caso contrário, além de se criardescrença no judiciário, gera expectativa de impunidade. Assim, buscou-secomprovar a adimplência das decisões prolatadas com relação à poluição

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hídrica praticada por pessoas jurídicas no período 1997, ano de criação da VaraEspecializada do Meio Ambiente e Questões Agrárias, até 2003. Procurou-sedemonstrar a necessidade de se priorizar nas decisões judiciais a práticaeducacional além da imposição de elementos sancionadores, ensejando, aolado de seu cumprimento, a inibição para a prática delituosa e, emconseqüência, a preservação ambiental.

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A LEI DO SILÊNCIO:POLUIÇÃO SONORA POR EQUIPAMENTOS

DE SOM NA CIDADE DE MANAUS

Mestranda: Maria do Perpétuo Socorro Puga Ferreira

Banca Examinadora: Profa. Dra. Solange Teles da Silva (Orientadora)Prof. Dr. José dos Santos Pereira Braga (UFAM)Profa. Dra. Andréa Borghi Moreira Jacinto (UEA)

Resumo: A cidade de Manaus enfrenta ruídos gerados pelas várias atividadeseconômicas, aeroportos, casas de diversão, templos religiosos, residências, aosquais se somam os ruídos decorrentes da própria vida social urbana,constituindo-se a poluição sonora um dos mais graves problemas, causador dedanos físicos, mentais e sociais, além de privar os manauaras do sagrado direitoao sossego. Assim, o presente trabalho teve como objetivo conhecer adimensão da problemática da poluição sonora por equipamentos de som e aação efetiva do Poder Público na proteção dos interesses difusos da populaçãoao sossego, à saúde e melhor qualidade de vida. Abordou-se o processo deocupação e urbanização da cidade de Manaus, a fase áurea da borracha (1890-1911), seguida de uma fase de estagnação da economia regional e depois suatransformação num importante pólo de industrialização, com a implantação daZona Franca de Manaus, a partir de 1967, comparando-se os sons da Manausantiga com os sons da Manaus moderna. Foram enfocados os aspectos técnico-científicos e jurídicos da poluição sonora, as principais fontes poluidoras e aação compartilhada dos órgãos ambientais na defesa e proteção dos interessesdifusos além da atuação ainda embrionária da Sociedade Civil. A título deilustração dessa problemática, foram apresentados casos de poluição sonorajulgados pela Vara do Meio Ambiente e Questões Agrárias (VEMAQA),demonstrando a atuação do Judiciário e também do Ministério Publico notratamento dessas questões.

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A ATUAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DEDESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE E DA SOCIEDADE

CIVIL ORGANIZADA NA POLÍTICA AMBIENTAL DOMUNICÍPIO DE MANAUS

Mestranda: Maria Rosalva de Oliveira Silva

Banca Examinadora: Profa. Dra. Solange Teles da Silva (Orientadora) Profa. Dra. Adriana Diaféria (PUC/SP)Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (UEA)

Resumo: A maioria dos problemas ambientais no Município de Manaus estáconcentrada no espaço urbano, cabendo ao Poder Público e à coletividadecombater a poluição e preservar o meio ambiente. Para isso, é necessário quea sociedade civil possa participar efetivamente da tomada de decisões, sejaatravés da formulação de políticas públicas seja pela sua execução, quer dizer,é preciso implementar mecanismos de participação, assegurando o exercício dacidadania ambiental. Tornar efetiva a participação da sociedade civil podeocorrer de maneiras diversas, e este estudo analisa a forma plural da atuação doConselho Municipal de Desenvolvimento e Meio Ambiente (COMDEMA) eda Sociedade Civil organizada na política ambiental do Município de Manaus.

Para tanto é realizado um diagnóstico da composição e atuação doCOMDEMA e da Sociedade Civil organizada, destacando-se que emboraembrionária, a participação desse segundo segmento é fundamental para aformulação e execução de políticas públicas ambientais e assim para apreservação e conservação da sócio e biodiversidade.

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REGULAÇÃO JURÍDICA DO ACESSO AOSCOMPONENTES DA BIODIVERSIDADE:

TITULARIDADES COMPLEXAS

Mestrando: Raimundo Sérvulo Lourido BarretoBanca Examinadora: Prof. Dr. Fernando Antônio de Carvalho Dantas (Orientador)

Prof. Dr. José Antonio Peres Gediel (UFPR)Profa. Dra. Cristiane Derani (UEA)

Resumo: A presente Dissertação objetivou a análise da regulação jurídica doacesso aos componentes da biodiversidade, aqui entendidos como patrimôniogenético e conhecimento tradicional associado, os quais em função daimportância estratégica que representam no cenário da economia globalizada,despertam o interesse das empresas transnacionais de biotecnologia emcontraposição aos interesses das populações indígenas e tradicionais.Primeiramente, procurou-se situar o bem ambiental na Constituição, bemmerecedor de tutela por constituir-se como pressuposto para o exercício dodireito à vida e à dignidade da pessoa humana. Em seguida, demonstrou-se queos componentes da biodiversidade não se apresentam como categoriasisoláveis, em função da estreita interdependência na relação existente entre aspopulações tradicionais com a biodiversidade, sempre através da cultura.Discutiu-se a evolução do conceito de propriedade, o surgimento e evolução doprincípio da função social da propriedade e sua relação com o meio ambiente.Assim, o ordenamento jurídico vigente condiciona o exercício do direito depropriedade a uma função social. Evoluindo para a questão da regulaçãojurídica do acesso aos componentes da biodiversidade, constatou-se que adinâmica da apropriação e os direitos de propriedade são diretamenteinfluenciados por fatores políticos, sociais e econômicos, daí porque uma dasquestões centrais envolvendo a regulação do acesso a biodiversidade éjustamente o regime de propriedade sobre a mesma, por isso sua titularidade écomplexa. A ausência de clareza na regulação do tema dificulta o debate. Sepor um lado, como decorrência do dinamismo tecnológico verifica-se umavanço nas formas de apropriação e controle dos componentes dabiodiversidade que, inclusive, passa a ser reconhecida pelo próprio Estado. Poroutro, os mecanismos tradicionais de proteção não se apresentam adequadose/ou suficientemente flexíveis para proteger a biodiversidade, o que acaba por

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desequilibrar a troca que há entre a salvaguarda de direitos e o interessepúblico. Verificou-se ainda que, a abrangência dos acordos internacionais,como o Acordo TRIP’s são uma imposição unilateral dos países desenvolvidoscom vistas a criar um sistema de proteção intelectual uniforme no cenário dasrelações comerciais internacionais. Por fim, constatou-se a lacuna entre aprevisão normativa constitucional e infraconstitucional e a realidade daregulação do acesso aos componentes da biodiversidade, o que está a exigir dopoder público e da sociedade políticas públicas que garantam a efetividade dosdireitos das populações indígenas e tradicionais, no qual a releitura do direitode propriedade, seja material ou imaterial, torna-se imprescindível.

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A DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVANA LICENÇA AMBIENTAL BRASILEIRA

Mestrando: Ruy Marcelo Alencar De Mendonça

Banca Examinadora: Prof. Dr. Edson Ricardo Saleme (UEA)Prof. Dr. José Cretella Neto (UNIP/SP)Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (UEA)

Resumo: A presente pesquisa versa sobre a licença ambiental, instrumento detutela administrativa do meio ambiente no Brasil. Aborda, em específico, afenomenologia da discricionariedade da Administração Pública Brasileira noato de outorga da licença de atividades e empreendimentos potencialmentelesivos ao meio ambiente. A investigação objetiva o discernimento dascaracterísticas, extensão e profundidade da liberdade volitiva do órgão queexpede a licença ambiental de modo a contribuir para os operadores do direitodelinearem o verdadeiro papel da Administração no processo decisório relativoao controle prévio das atividades danosas ao meio ambiente, contribuindo paraa aferição das possibilidades de revisão e controle judicial da atuaçãoadministrativa.

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O PRINCÍPIO POLUIDOR-PAGADOR E USUÁRIOPAGADOR NA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS

NO AMAZONAS

Mestrando: Sebastião Marcelice Gomes

Banca Examinadora: Prof. Dr. Ozório Jose de Menezes Fonseca (Orientador)Prof. Dr. Andréa Viviana Weichman (UFAM)Prof. Dr. Solange Teles da Silva (UEA)

Resumo: A água, fluido que dá vida a todos os sistemas ecológicos do planeta,sejam naturais ou artificiais é um bem público, é também um bem de uso comumdo povo, podendo ser utilizada por pessoa física ou jurídica, de direito público ouprivado, desde que observado o direito de fruição da coletividade. Este trabalhoexamina os aspectos jurídicos e institucionais da gestão dos recursos hídricos noBrasil focalizando sua aplicabilidade no Estado do Amazonas, especialmente noque se refere à utilização dos princípios usuário-pagador e poluidor-pagador. Aquestão começa a ser avaliada pela descrição das características, propriedades edistribuição no Mundo, no Brasil e na Amazônia, para em um segundo momentose proceder à análise do regime jurídico das águas nas constituições brasileiras,na legislação federal, na Constituição e legislação infraconstitucional do Estadodo Amazonas buscando, fundamentalmente, compreender a problemática do usoracional da água. Nesse sentido aborda-se o tratamento legal da gestão dosrecursos hídricos dado pela Lei federal n.º 9.433/97 e pela Lei n.º 2.712/2001 doEstado do Amazonas. Destaca-se em seguida conceitos, características, função eimplementação do princípio poluidor-pagador e usuário-pagador na gestão dosrecursos hídricos, analisando-se a cobrança pelo uso dos recursos hídricos comomecanismos para a implementação desses princípios. Discute-se a natureza dacobrança pelo uso da água e conclui-se que se trata de preço público. Observa-se que a implementação do princípio poluidor-pagador e do princípio usuário-pagador associado à educação ambiental pode se constituir em um instrumentoeficaz para a utilização racional da água. Todavia, no Estado do Amazonas porfalta de regulamentação da Lei n.º 2.701/2001, que disciplina a Política deRecursos Hídricos e estabelece o Sistema de Gerenciamento dos RecursosHídricos ainda não foi implementada a cobrança pelo uso de recursos hídricosnos rios de domínio do Estado e por falta de regulamentação pela União, tambémnão foi implementada a cobrança nos rios federais que situam-se em territórioamazonense.

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O ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EPIA)COMO INSTRUMENTO DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

DO TRABALHO

Mestrando: Sérgio Cláudio Menezes Ferreira

Banca Examinadora: Prof. Dr. Sandro Nahmias Melo (Orientador)Prof. Dr. José Cláudio Monteiro Britto Filho (UFPA)Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (UEA)

Resumo: Tem como cerne esta pesquisa o estudo do meio ambiente dotrabalho, direito fundamental previsto no art. 225 c/c inciso VIII, do art. 200 daConstituição Federal de 1988, seus meandros e peculiaridades, tendo comoênfase à indicação de um mecanismo, constitucionalmente previsto, comomeio de conferir efetividade ao referido direito. Este instrumento, o estudoprévio de impacto ambiental tem sido utilizado de maneira equivocada quandose presta apenas a defesa do aspecto natural do meio ambiente. No nossoordenamento jurídico, o referido estudo está inserido como ato formal atreladoao processo de licenciamento ambiental razão pela qual buscamos mostrar queo mesmo deve ser utilizado obrigatoriamente – tendo como referencial o meioambiente como uno e indivisível – como instrumento de proteção ao meioambiente do trabalho. A nova perspectiva da sociedade – e não do indivíduo –ao influir na decisão final de projetos materializa-se também pela participaçãonas audiências públicas, atuação de índole democrática como uma novapedagogia, na gestão das políticas públicas pressionadas por organizaçõesinternacionais, a exemplo da OIT e CNUED. Identifica-se da necessidade deimpor limites para alterabilidade do meio do trabalho, que não comprometamde modo irreversível a saúde do trabalhador.

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A PROTEÇÃO JURÍDICA DOSFRAGMENTOS FLORESTAIS URBANOS

Mestranda: Silma Pacheco Ramos

Banca Examinadora: Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (Orientador)Prof. Dr. José Helder Benatti (UFPA)Prof. Dr. Ozorio Jose de Menezes Fonseca (UEA)

Resumo: O objetivo desta dissertação é analisar os aspectos da legislaçãoambiental e urbanística brasileira aplicáveis à proteção de fragmentos florestaisurbanos. A interpretação das normas foi realizada com base na literaturajurídica nacional. Envolve também o estudo das tutelas administrativa, civil epenal dos fragmentos florestais urbanos e dos aspectos referentes ao DireitoUrbanístico aplicáveis ao tema. No estudo da tutela administrativa utilizou-secomo base o Código Ambiental de Manaus, lei municipal que representa aatuação legislativa do Município na defesa do meio ambiente urbano e oDecreto Federal n.º 3.179/99. O estudo da tutela penal envolveu a análise dedispositivos da Lei de Crimes Ambientais, em especial dos crimes contra aflora. A tutela civil foi abordada a partir da responsabilidade civil objetiva doinfrator ambiental, com base em normas gerais, expressas no art. 225 §3.º daConstituição Federal e no art. 14 §1.º da Lei da Política Nacional do MeioAmbiente. Neste contexto, buscou-se realizar uma abordagem sistemática eintegrada dos vários dispositivos legais visando demonstrar a existência, noordenamento jurídico brasileiro, de importantes instrumentos protetivos dosfragmentos florestais urbanos. No mesmo sentido, foi possível inferir sobre aexistência de uma ampla possibilidade dos entes federativos atuarem nacriação de outras normas de proteção e na execução das leis existentes. Oconhecimento do arcabouço jurídico apresentado reveste-se, portanto, deimportância substancial na defesa da qualidade de vida nos centros urbanos.

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O PODER PÚBLICO E A GESTÃO DOS BENSDE USO COMUM DO POVO AS PRAÇAS DE MANAUS

Mestrando: Sócrates Mesquita Batista Filho

Banca Examinadora: Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas (Orientador)Prof. Dr. Joaquim Shiraishi Neto (UFPR)Profa. Dra. Andréa Borghi Moreira Jacinto (UEA)

Resumo: Este trabalho é um estudo das praças de Manaus sob o ângulo dagestão de um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.A pesquisa mostra que o surgimento das praças, no Ocidente, remonta a IdadeMédia, como um espaço da espontaneidade e liberdade. Tornou-se umlogradouro público por excelência, com relevantes funções sociais eambientais. Em Manaus, elas despontam com a cidade, e, a princípio,ocupavam um espaço considerável. Desde sempre, sua administração estevesob a responsabilidade do Poder Público, que acumulava as prerrogativas detitular e gestor, outorgando-se todos os elementos inerentes à propriedade,amparado pela sistematização feita pelo Direito Civil, em relação aos bens. Sobesse império, as praças de Manaus, bem de uso comum do povo, foram criadas,reformadas, descaracterizadas e alienadas pela só vontade do Estado. Motivadapelo próprio ordenamento legal, a Administração não consultava a populaçãoe nem patrocinava qualquer ato de desafetação. Os bens do domínio público doEstado recebiam o mesmo tratamento dos bens chamados do domínio privadodo Estado. Estudos realizados com o advento da Constituição Federal de 1988,demonstram que os bens de uso comum do povo adquiriram nova estrutura,novo conteúdo jurídico. Principalmente, mudaram de proprietário eascenderam ao status de bem ambiental, situação diferente daquela anteriorestabelecida pelo direito civil, e adotada pelo direito administrativo. Osresultados revelam que, como conseqüência, as responsabilidades serepartiram: à coletividade coube a titularidade das praças, sua fiscalização edefesa, e ao Município a sua gestão, com limites. Essa administração deixou deser exclusiva do ente municipal. Dispõe, agora, de regras claras: passa a serdemocrática e participativa, em oposição à democrática representativa. Tantoum como outro têm, portanto, direitos e obrigações na administração, que não

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se exaurem no presente, uma vez que esses bens devem, também, serresguardados para as futuras gerações. Com esta perspectiva, conclui-se queem caso de alienação, em situações especiais, os titulares terão,obrigatoriamente, que ser consultados para se manifestarem sobre adesafetação. O ato deixa de ser discricionário. Na mesma esteira, restringe-seo uso especial desses logradouros públicos, para que não se desvirtue a suafinalidade.

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ANÁLISE DA EFETIVIDADE DA LEI DE CRIMES AMBIENTAISNO MUNICÍPIO DE MANAUS (JANEIRO/1998 A JULHO/2003)

Autora: Vânia Maria do Perpétuo Socorro Marques Marinho

Banca Examinadora: Profa. Dra. Solange Teles da Silva (Orientadora)Prof. Dr. José Heder Benatti (UFPA)Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas (UEA)

Resumo: A análise da efetividade da Lei de Crimes Ambientais na proteção aomeio ambiente ecologicamente equilibrado é realizada no presente trabalho, apartir dos casos ajuizados e julgados na Vara Especializada de Meio Ambientee Questões Agrárias, no período de janeiro de 1998 a julho de 2003. Nessesentido, este estudo destaca particularmente a importância da opção pelajustiça consensual em sede de tutela ambiental, enfatizando-se os institutosdespenalizadores da transação penal e da suspensão condicional do processo.Tais institutos, introduzidos no sistema normativo pátrio pela Lei no 9.099 de26.12.1995, foram adotados com características próprias inerentes àespecificidade do bem jurídico tutelado, o meio ambiente e os bens ambientaisque o integram, a partir da entrada em vigor da Lei no 9.605 de 12.02.1998,pedra angular da sistematização das sanções penais ambientais. Busca-se assimauferir a efetividade da aplicação da norma penal na proteção ambiental emface das situações jurídicas concretas trazidas a Juízo no município de Manaus,identificando-se os obstáculos a efetividade dessa tutela e apresentando-sesugestões que possibilitem a concretização no plano fático dos princípiosinformadores da tutela ambiental: a prevenção do dano ambiental e, naimpossibilidade desta, a reparação específica do bem ambiental lesionado demodo a restabelecer-se o equilíbrio ecológico necessário à garantia da sadiaqualidade de vida das presentes e futuras gerações.

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POLUIÇÃO TRANSFRONTEIRIÇA:SUA PROTEÇÃO JURÍDICA EM FACE DA SOBERANIA

Mestrando: Vitor Hugo Mota De Menezes

Banca Examinadora: Prof. Dr. José Augusto Fontoura Costa (Orientador)Prof. Dr. Joaquim Shiraishi Neto (UFPR)Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (UEA)

Resumo: Trata-se de um estudo aliado a um possível caso de poluiçãotransfronteiriça, a ser detectada em igarapé ou pequeno rio de água doce,denominado Santo Antônio, que corta duas cidades localizadas na regiãoamazônica: do lado brasileiro (Tabatinga) e do lado colombiano (Letícia). Essapoluição foi causada principalmente pelo estabelecimento de uma usinatermoelétrica na cidade de Letícia (Colômbia), que utilizava esse pequeno riopara o descarte de água resultante do resfriamento dos geradores. Ocorre que,após esse escoamento, o pequeno rio Santo Antônio passa pela cidadebrasileira (Tabatinga) e deságua no rio Solimões, um bem natural defundamental importância para todos na região. O principal objetivo destetrabalho, entretanto, foi o de organizar procedimentos metodológicos cabíveis,especificamente para prevenir ou tutelar esse bem ambiental em casos depoluição transfronteiriça, quais sejam águas doces, visto ser matéria pertinenteao Direito Internacional Público do Meio Ambiente (DIPMA), um dos maisrecentes ramos do Direito Internacional Público, que ainda se encontra em fasede consolidação. Ao atingir esse principal objetivo, este trabalho poderá vir acolaborar para o ordenamento do DIPMA, em casos específicos de poluiçãotransfronteiriça em águas doces.

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8) Os trabalhos deverão ser entregues em disquete oucomo anexo de e-mail, digitados com fonte TimesNew Roman, tamanho 12, com espaçamento entrelinhas de 1,5, margens superior e esquerda de 3 cm emargens inferior e direita de 2 cm, em editorcompatível com o Word, comportando entre 15 a 20laudas para artigos e ensaios e entre 5 a 10 laudaspara resenha, incluídas as referências.

9) Para deliberação quanto à aprovação dos artigos comindicação para publicação, o Conselho Editorialadotará os seguintes critérios:

• Interesse acadêmico – serão priorizados os trabalhoscuja reflexão mantenham pertinência com as linhas depesquisa do Programa, quais sejam: CCoonnsseerrvvaaççããooddooss rreeccuurrssooss nnaattuurraaiiss ee ddeesseennvvoollvviimmeennttoossuusstteennttáávveell, que engloba: tutela jurídica do meioambiente; unidades de Conservação; Ecoturismo;educação ambiental; espaço urbano; recursosnaturais; mecanismos de resolução de conflitos;desenvolvimento sustentável; direito ao desenvol-vimento; políticas públicas e DDii rreeii ttooss ddaa ssóócciioo eebbiiooddiivveerrss iiddaaddee,, que engloba: biodiversidade;biossegurança; bioética; direito dos povos, povosindígenas e populações tradicionais; agriculturasustentável; direito ambiental econômico eempresarial; meio ambiente do trabalho.

• Relevância e atualidade jurídica – os textos deverãotrazer para o debate questões cuja abordagem jurídicaensejem o diálogo interdisciplinar entre o direito, odireito ambiental e as demais áreas do conhecimento.

• Rigor acadêmico – os textos deverão seguir,rigorosamente, a metodologia científica, oportuni-zando o debate acerca do conhecimento jurídico.

10) Artigos, ensaios ou resenhas recebidos e nãopublicados no número correspondente à chamadaeditalícia do envio, integrarão banco de trabalhos epoderão ser publicados posteriormente, em númerosubseqüente, mediante comunicação econsentimento prévio do autor.

Hiléia – Revista de Direito Ambietal da Amazônia, n.o 3 | jul-dez | 2004 228833

NORMAS EDITORIAIS

As normas editoriais da HHii llééiiaa -- RReevviissttaa ddee DDii rreeii ttoo AAmmbbiieennttaall ddaa AAmmaazzôônniiaa são as seguintes:

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Page 285: 00 hileia3 inicio - Universidade do Estado do Amazonas · 2013-02-22 · LOS MOVIMIENTOS SOCIALES Y LA CONSTRUCCIÓN DE UN NUEVO SUJETO HISTÓRICO Hiléia – Revista de Direito Ambietal

Esta obra foi composta em Manaus pelaKintaw Design, em Times 11/14.

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Page 286: 00 hileia3 inicio - Universidade do Estado do Amazonas · 2013-02-22 · LOS MOVIMIENTOS SOCIALES Y LA CONSTRUCCIÓN DE UN NUEVO SUJETO HISTÓRICO Hiléia – Revista de Direito Ambietal

AHiléia – Revista de Direito Ambiental da Amazônia, se constitui em espaço destinado à apresentação e divulgação

das reflexões produzidas no processo de construção do conhecimento humano, jurídico e humanístico-jurídico-

ambiental, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Direito Ambiental da Universidade do Estado do

Amazonas.

Os contextos diversos e complexos do mundo contemporâneo, em relação constante e paradoxal, com o acirrado

processo de globalização econômica e cultural, implicam em transformações sociais, jurídicas, econômicas e políticas,

gerando novos problemas e conflitos, especialmente no que concerne ao direito e ao seu estudo. A verticalidade do

discurso global que busca legitimar os processos de universalização da cultura do mercado quer seja na vertente única

da produção e do consumo capitalistas, transformando tudo em mercadoria, ou, na imposição de modelos de

normatividade supostamente eficazes para proporcionar o desenvolvimento, provocam uma certa idéia de que não existe

solução fora desses parâmetros, favorecendo um renovado processo econômico neocolonial.

Nesse sentido, refletir desde os contextos da existência, significa proporcionar e criar os espaços de lutas. Lutas pelo

conhecimento, pelo direito, pela vida e dignidade humana. Assim, este periódico científico que se consolida como

espaço para divulgação e reflexão do direito ambiental, tem no contexto amazônico e brasileiro e, em sentido mais

ampliado, em trocas geopolíticas e cognoscitivas mais iguais na correlação sul-norte/norte-sul, espiralando a seara da

complexidade do mundo sóciobiodiverso. Almeja-se, portanto, constituir-se, pelo diálogo, em âmbito plural e

heterogêneo para convergências de conhecimentos e alternativas, com perspectivas transdisciplinares nas abordagens

e conteúdos, assim como interinstitucional e translocal nos sujeitos.

Revista de DireitoAm

biental da Amazônia

ANO-2, N.º 3 – JULHO-DEZEMBRO/2004 – ISSN: 1679-9321

ANO-2JUL-DEZ

2004

03 03

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