0 universidade estadual de londrina - uel.br · 1 as leis de parcelamento do solo e a aÇÃo do...

81
Universidade Estadual de Londrina THAMY BÁRBARA GIOIA AS LEIS DE PARCELAMENTO DO SOLO E A AÇÃO DO ESTADO NO ESPAÇO URBANO DE LONDRINA-PR: O CASO DOS LOTEAMENTOS VALE VERDE E JARDIM PRIMAVERA. LONDRINA 2009 THAMY BÁRBARA GIOIA

Upload: dinhthuy

Post on 06-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

0

Universidade Estadual de Londrina

THAMY BÁRBARA GIOIA

AS LEIS DE PARCELAMENTO DO SOLO E A AÇÃO DO ESTADO NO ESPAÇO URBANO DE LONDRINA-PR: O CASO DOS LOTEAMENTOS VALE VERDE E JARDIM

PRIMAVERA.

LONDRINA 2009

THAMY BÁRBARA GIOIA

1

AS LEIS DE PARCELAMENTO DO SOLO E A AÇÃO DO ESTADO NO ESPAÇO URBANO DE LONDRINA-PR: O CASO DOS LOTEAMENTOS VALE VERDE E JARDIM

PRIMAVERA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina como requisito à obtenção do titulo de bacharel em geografia. Orientadora: Prof. Dra. Tânia Maria Fresca

LONDRINA 2009

0

THAMY BÁRBARA GIOIA

AS LEIS DE PARCELAMENTO DO SOLO E A AÇÃO DO ESTADO NO ESPAÇO URBANO DE LONDRINA-PR: OS CASOS DOS LOTEAMENTOS VALE VERDE E JARDIM

PRIMAVERA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina como requisito à obtenção do titulo de bacharel em geografia.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________ Profa. Orientadora: Tânia Maria Fresca

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Profº. Cleuber Moraes Brito

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Profa. Dra.Ideni Terezinha Antonello Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 14 de Dezembro de 2009.

0

Dedico este trabalho, conclusão de quatro anos

de estudo e dedicação a todos aqueles que de

alguma forma me ajudaram e me apoiaram nos

momentos de fraqueza e angustia. Me lembro

de cada um. Obrigada!

0

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por nos momentos de cansaço e

impaciência ter me dado a oportunidade de vivenciar momentos que me levassem a

ter persistência.

Agradeço o apoio incondicionavel da minha familia, minha mãe

Maria Antonia Benysek Gioia e meu irmão Thayson Bruno Gioia.

Agradeço a minha orientadora, professora Tânia Maria Fresca que

contribui sempre de forma enriquecedora tanto em suas orientações como em suas

aulas.

Agradeço ainda ao amigo e companheiro de trabalho Rigoberto

Prieto Cainzos, ao Engenheiro Daniel Fermino e ao Geólogo Cleuber Moraes Brito

pela disponibilidade em me auxiliar tirando dúvidas e indicando referências de leitura

que foram muito úteis na elaboração deste trabalho.

Por fim, agradeço aos meus amigos que estiveram sempre comigo

me apoiando durante esses quatro anos.

0

“As cidades são como as pessoas:

Pertencem à espécie urbana, mas possuem personalidade própria.

A resposta ao desafio urbano deve levar em consideração a singularidade

das diversas configurações naturais,culturais, sociopolíticas, históricas e da tradição de cada

cidade.”

Ignacy Sanchs

0

GIOIA, Thamy Bárbara. As leis de parcelamento do solo e a ação do Estado no espaço urbano de Londrina-PR: O Caso dos loteamentos Vale Verde e Jardim Primavera. 2009.81p. Monografia (Bacharelado em Geografia)–Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009.

RESUMO Nas cidades brasileiras, a ocupação pela população em locais impróprios como as áreas de preservação ambiental são cada vez mais freqüentes devido a diversos fatores tanto de condições sociais como de negligência do poder público. O objetivo principal deste trabalho foi analisar a ação do Estado na cidade de Londrina através das leis de parcelamento de uso do solo. Tais leis têm por objetivo a orientação para execução de projetos para fins habitacionais, comerciais ou industriais. Delimitou-se como bases para esta análise a lei 133 de 1951 e a lei 7.482 de 1998 além de observações e levantamentos de dados em campo no loteamento Vale Verde localizado na zona leste de Londrina e liberado pela prefeitura em 1980, e no Jardim Primavera,localizado na zona norte, liberado em 1998. Estes loteamentos apresentam problemas similares, pois ambos localizam-se em áreas inadequadas para habitação. Tais irregularidades se dão dentre outros motivos, por se tratar de áreas de preservação permanente e de nascentes, o que acarretaram além da degradação ambiental, problemas quanto o bem-estar e a segurança da população. Pôde-se concluir que mesmo tratando-se de loteamentos liberandos em períodos e sob leis distintas, os problemas sociais e ambientais verificados foram os mesmos e remetem à negligência do poder público quanto às diretrizes estabelecidas nas leis. Espera-se através desta análise, contribuir para algumas reflexões sobre esta problemática urbana. Palavras-chave: Espaço Urbano, Lei de Parcelamento do solo, Conjuntos Habitacionais, Londrina.

10

GIOIA, Thamy Bárbara. The laws of soil parceling and the action of the state in the urban space of londrina – Pr: The case of Vale Verde and Jardim Primaveira division. 2009. 81p. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009. ABSTRACT

In Brazilian cities, the occupation by the people in inappropriate places such as environmental preservation areas are becoming more frequent due to several factors both social conditions and the negligence of the government. The objective of this study was to analyze the state action in Londrina through the laws of fragmentation of land use. Such laws are intended to guide the implementation of projects for residential, commercial or industrial. Was delimited as the basis for this analysis the law 133 of 1951 and the law 7482 of 1998 in addition to observations and survey data in the field in Vale Verde subdivision located in east of Londrina and released by the city in 1980, and Jardim Primavera, located in the north, released in 1998. These blends have similar problems, because both are located in areas unsuitable for habitation. Such irregularities are given among other reasons, because it is permanent preservation areas and springs, which also led to environmental degradation, problems regarding the welfare and safety of the population. It was concluded that even in the case of blends released in periods and under different laws, the social and environmental problems observed were the same and refer to the neglect of the public as to the guidelines established in the laws. It is hoped through this analysis; contribute to some reflections on the urban problems. Key words: Urban space, Law of soil parceling, housing, Londrina.

11

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. Localização de Londrina. Destaque para os Conjuntos Habitacionais Vale Verde e Jardim Primavera. .............................................................................................................. 14

FIGURA 2. (a) Carta de uso do solo em Londrina. (b) – Mapa pedológico de Londrina. ..... 46

FIGURA 3. Localização do Conjunto Vale Verde (a). Localização do Jardim Primavera e subdivisão das áreas loteadas (b).. ....................................................................................... 47

FIGURA 4. Conjunto Vale Verde. Destaque para as áreas fotografadas e para o Córrego Inhambu. ............................................................................................................................... 50

FIGURA 5. Rua Rosa Morales Rodrigues – Conjunto Vale Verde. Destaque para os afloramentos de água. .......................................................................................................... 52

FIGURA 6. Rua Rosa Morales Rodrigues – Vale Verde. Destaque para o curso d’água ao lado da residência e saída de resíduos líquido direto da casa para o córrego. ................... 53

FIGURA 7. Rua Joaquim X. de Lima – Vale Verde. Destaque para nascente do córrego Inhambu................................................................................................................................. 54

FIGURA 8. Jardim Primavera. Destaque para as áreas fotografadas e para o córrego Sem Dúvida. .................................................................................................................................. 60

FIGURA 9. Jardim Primavera. Destaque para os taludes desprovidos de vegetação formados a partir da remoção do solo e focos erosivos. . ..................................................... 61

FIGURA 10. Rua Zephiro Modenute – Jardim Primavera. Destaque: Casa construída primeiramente pela Construtora Marine e concluída pela COHAB.. ..................................... 62

FIGURA 11. Morador conserta telhado devido a chuva do dia anterior................................ 63

FIGURA 12. Localização de nascente e áreas entorno. . ..................................................... 64

FIGURA 13. Esgoto a Céu aberto sendo lançado no córrego Sem Dúvida. . ....................... 65

12

LISTA DE TABELAS

TABELA 1.Relação de possíveis impactos mediante negligência de artigos contidos na lei 133 de 1951.....................................................................................................37 TABELA 2. Relação de possíveis impactos mediante negligência de artigos contidos na lei 7.483 de 1998..................................................................................................42 TABELA 3. Lotes embargados para construção e lotes em área de preservação permanente no loteamento Vale Verde.....................................................................55

13

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10 2. A AÇÃO DO ESTADO NA PRODUÇÃO DA CIDADE ..................................................... 15 2.1.O poder público municipal. .............................................................................................. 19 2.2 .O Planejamento Urbano ................................................................................................. 23 2.2.1. O poder público e os instrumentos de planejamento urbano ...................................... 30 2.2.2 As leis de Parcelamento do Solo em Londrina............................................................. 32 3.OS LOTEAMENTOS VALE VERDE E JARDIM PRIMAVERA EM LONDRINA-PR: impasses e descompassos mediante legislação urbana ................................................ 44 3.1. Apresentação e dados gerais dos Conjuntos habitacionais ........................................... 44 3.1.1. Conjunto Vale Verde.................................................................................................... 48 3.1.2.Jardim Primavera.......................................................................................................... 57 4.ANÁLISE DA PROBLEMÁTICA URBANA EM LONDRINA A PARTIR DA AÇÃO DO ESTADO................................................................................................................................ 67 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 73 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 75

10

1 INTRODUÇÃO

Nestes quatro anos de faculdade, desenvolvendo as atividades das

diversas disciplinas que compõem o currículo do curso de bacharelado em geografia

e agora já na fase de finalização, entendo que o espaço urbano é rico como objeto

de estudo, pois o processo de evolução do sistema capitalista se materializa nas

contradições que a cidade expressa dia a dia.

Uma grande cidade atrai muitas pessoas. Umas para investir e lucrar

ainda mais com o sucesso de suas atividades e outras em busca de trabalho por

não poderem mais viver da pequena produção agrícola ou ainda por buscarem

melhor acesso aos serviços coletivos e infra estrutura.

Esta é Londrina, uma cidade que cresceu de uma forma rápida e junto

com o seu desenvolvimento, conheceu também rapidamente os problemas e

contradições das cidades capitalistas.

Acontece que morar implica em muitas coisas. É fato que nem todas as

áreas da cidade são adequadas para se viver. E não adequadas por justamente a

cidade ter sido criada em um sitio que naturalmente possui características físicas de

relevo e geologia pertinentes a uma evolução natural.

Nem toda superfície da cidade é plana, distantes de córregos e das

áreas de mata ciliar. A evolução e o desenvolvimento das técnicas em construção

permitem que hoje muitas áreas consideradas impróprias para residência, tornam-se

bairros residenciais, se dispostos de recursos financeiros para tais investimentos.

A ocupação desordenada de Londrina, desprovida de uma gestão

adequada, permitiu que a evolução da cidade ocorresse de forma à produzi-la

segregadamente. Boa parte da população que não dispunha de condições

financeiras ocuparam os espaços vazios urbanos periféricos e de fundos de vale,

sem que o poder público desse a devida atenção as conseqüências futuras desse

tipo de produção da cidade.

11

A primeira lei referente ao ordenamento do espaço urbano de Londrina

foi a de 7 de dezembro de 1951. As leis referentes produção das cidades possuem

um caráter de instrumento para o planejamento urbano, pois nela estão contidas as

principais diretrizes, obrigações e direitos da população no que diz respeito ao lugar

onde moram.

O interessante em se analisar estas leis, primeiramente é entender e

observar quem as formulam. Para muitos autores que analisam o espaço urbano,

trata-se de um dos agentes que mais produzem este espaço – o Estado. Este

Estado pode ser aqui entendido pelo poder público que administra a cidade

mediante a autorização da sociedade, dada pelo voto.

Entretanto, estes prefeitos e vereadores que recebem e fazem uso do

poder adquirido democraticamente, em função de atender as necessidades da

sociedade de forma completa e sem diferenciações econômico-sociais, não o fazem,

pois passam a ter seus próprios interesses e é neste ponto que se faz pertinente

este trabalho.

Várias são as formas de agir do Estado e poder-se-ia ainda analisar as

várias leis pertinentes ao uso do solo urbano, mas procura-se delimitar neste estudo

como se dá a ação do Estado no espaço urbano de Londrina mediante as leis de

parcelamento do solo urbano, por se tratar de uma lei que delimita os parâmetros

necessários para a liberação do parcelamento do solo para fins de habitação.

O poder público tem por dever zelar pela qualidade de vida e

segurança da sociedade e nenhum lugar é mais importante para uma população que

sua habitação, pois ela remete exatamente à segurança e a qualidade de vida.

As questões de impacto social, e pode-se dizer que muitas delas

ligadas a impactos ambientais, ocorrem justamente pela negligência quanto a

aplicação efetiva destas leis.

12

É o que ocorreu com o loteamento Vale Verde, zona leste de Londrina,

criado em 1980 e onde ainda é visível diversos problemas bem como no Jardim

Primavera, zona norte de Londrina.

No período de liberação do loteamento Vale Verde estava em vigência

a lei nº. 133 referente a liberação do Jardim Primavera é a lei nº.7.483 de 1998. Com

base na análise destas leis e levantamentos em campo, pode-se perceber que

pouquíssimo do que consta nestas legislações foram realmente aplicados, causando

diversos problemas sociais e ambientais nestas áreas.

O objetivo deste trabalho, portanto, foi analisar a ação do Estado no

espaço urbano através das leis de parcelamento do uso do solo para fins de moradia

no Jardim Primavera e no Conjunto Vale Verde em Londrina-PR. Especificamente

buscou-se analisar as principais funções do Estado quanto ao controle e regulação

do uso do solo urbano de Londrina bem como as principais etapas para

regularização fundiária da ocupação do Jardim Primavera e do loteamento Vale

Verde.

Londrina esta localizada na porção norte do Estado do Paraná sob as

seguintes coordenadas: latitude 23º 08’ 47’’ e 23º 55’ 46’’S e entre as longitudes 50º

52’ 23’’ e 51º 19’ 11’’ O de Greenwich. De acordo com o Guia Perfil de Londrina

(2007) elaborado pela prefeitura municipal, Londrina ocupa cerca de 1% da área

total do Estado do Paraná (Figura 1).

Por se tratar de uma problemática pertinente ao espaço urbano e ter o

tema diretamente relacionado a políticas públicas e as leis de parcelamento do solo,

foram necessários os levantamentos das principais leis da cidade de Londrina: lei nº.

133 de 7 de dezembro de 1951 vigente ao período de implantação do loteamento

Vale Verde e da lei nº. 7.482 de 20 de julho de 1998; a legislação ambiental local e

federal, como também das bibliografias de abordagem da temática urbana.

Além do referencial bibliográfico de livros e artigos acadêmicos, artigos

de jornais locais, por retratarem acontecimentos importantes pertinentes aos

loteamentos analisados e ao poder público local.

13

Em seguida foram feitas as seleções das principais referências e a

síntese das principais informações para a análise com foco nos locais de estudo.

Em um segundo momento foram realizados levantamentos de campo

no Vale Verde e no Jardim Primavera, para verificação das informações obtidas

previamente e para entrevistas informais junto a população local, as informações

obtidas junto aos moradores não possuem caráter balizador de conclusões, serviram

apenas para obtenção de informações quanto ao cotidiano dessas pessoas que

estão diretamente expostas aos problemas verificados.

Essas duas áreas foram escolhidas por se tratarem de loteamentos

liberados mesmo sem a observância de lotes delimitados em áreas de preservação

permanente e em áreas onde o solo raso não permite o esgotamento sanitário em

fossa comum, além de permitir o afloramento de água, principalmente em períodos

de chuvas constantes, portanto, uma inobservância as diretrizes contidas nas leis

133/1951 e na lei 7.482/1998.

Assim, no segundo capítulo serão apresentadas algumas reflexões

quanto aos principais conceitos de Espaço urbano, da produção da cidade por

intermédio da ação do Estado através dos principais instrumentos disponibilizados

para esta atuação, além dos artigos contidos nas leis 133/1951 e na lei 7.482/1998

pertinentes à análise proposta.

No capítulo três, discorre-se sobre as condições atuais dos

loteamentos Vale Verde e do Jardim Primavera através de levantamentos de campo

e entrevistas com a população local. Por fim, no capítulo quatro, uma breve análise

das possíveis causas da ineficiência da aplicação dos instrumentos de planejamento

urbano em Londrina.

Espera-se com este trabalho contribuir para futuras análises do espaço

urbano de Londrina e como base para análises diversas em outras cidades.

14

FIGURA 1. Localização de Londrina. Destaque para os Conjuntos Habitacionais Vale Verde e Jardim Primavera. Fonte: Atlas urbano de Londrina, 2008 ; Mapa do Paraná : disponível em: <http://200.189.113.52/ftp/Mapas/MUNICIPIOS.pdf> e Imagens Google Earth, 2009.

Jardim Primavera – Zona Norte

Conjunto Vale Verde – Zona Leste

23º 20’ 20,60’’S 51º 7’ 34,63’’ W

23º14’ 47,40’’S 51º 8’ 11,14’’ W

23º14’ 32,14’’S 51º 8’ 12,95’’ W

15

2. A AÇÃO DO ESTADO NA PRODUÇÃO DA CIDADE

Tratar do espaço urbano é tarefa de suma importância. A sociedade

capitalista brasileira no período atual enfrenta cada vez mais a falta de infra estrutura

necessária, violência, poluição ambiental. Isto são problemas que interessam a

todos, pois as conseqüências negativas dessas afetam toda a população, algumas

pessoas de forma mais direta e outras de forma indireta.

Para melhor entender este espaço, pode-se iniciar pelos conceitos de

espaço urbano. Um dos mais utilizados como base para estudos relacionados a área

urbana, trata-se do elaborado por Corrêa (1994).

Para este autor espaço urbano é o:

[...] conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de concentração das atividades comerciais, de serviços e gestão, áreas industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo social, de lazer e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão. [...] Eis o que é espaço urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas (CORRÊA, 1994, p.7-9).

Para o autor trata-se, portanto, de um espaço urbanizado,

caracterizado por diferentes tipos de uso do solo, mas que não se baseia apenas em

delimitações e na paisagem concreta, mas trata-se também de um espaço que

reflete e condiciona a sociedade; uma área onde as diferenças e os conflitos sociais

são mais evidentes.

Para Souza (2004, p.52) a cidade é o:

[...] produto dos processos sócio-espaciais que refletem a interação entre várias escalas geográficas, deve aparecer não como uma massa passivamente modelável ou como uma máquina perfeitamente controlável pelo Estado [...] mas como um fenômeno gerado pela interação complexa, jamais plenamente previsível ou manipulável [..]

16

Neste trecho de Souza (2004) como também no entendimento de

Côrrea (1994) é evidente a importância das relações sociais na formação e na

condução dos processos de produção da cidade. E isto é exemplificável quando

percorre-se a cidade de Londrina e encontra-se lugares caracteristicamente tão

distintos como os condomínios fechados e as casas às margens do Lago Igapó,os

Conjuntos habitacionais populares e assentamentos irregulares nas áreas mais

periféricas da cidade. O que constrói essa segregação e essas diferenças tão

visíveis?

Para Corrêa (1994) trata-se da produção da cidade pela ação de

diferentes agentes sociais: os proprietários fundiários, as imobiliárias e as grandes

construtoras, os grupos sociais excluídos e o Estado, o poder público. A interação e

ações intermediadas pelos diferentes agentes constroem a cidade da economia

capitalista brasileira no momento atual.

Seguindo esta mesma linha pode-se considerar que as posturas e

ações de cada agente são diferentes. Almeida (1982, p.18-20) trabalha com os

seguintes agentes modeladores do espaço:

1-O morador (proprietário ou inquilino) que tem pequena influência nas decisões sobre alterações no uso e valor do solo urbano.

2- O proprietário do solo que preocupa-se em exercer barganha com o solo urbano, com o objetivo precípuo da maximização da renda da terra, sem se interessar com o uso que lhe será dado, realizando operações de especulação imobiliária.

3- A promoção imobiliária, representada por pessoas ou firmas que transacionam com terrenos ou edificações, tentam organizar e controlar o mercado de solo urbano em função de seus interesses imediatos objetivando a obtenção de lucro.

4- A indústria da construção civil, cuja função é a criação de novos valores de uso para os consumidores com o objetivo de criar valores de troca em seu beneficio. Suas relações com os promotores imobiliários são extremamente fortes, a ponto de se confundir um com o outro.

5- Os proprietários industriais, que têm como objetivo básico a otimização de sua localização visando maximizar lucros. [..]

17

Além destes produtores do espaço urbano Almeida (1982) destaca

ainda a ação do poder público/Estado que é sem dúvida um dos agentes mais

controvertidos, pois este possui o poder gestor do solo urbano; o papel de executor

de políticas publicas voltadas para o planejamento do espaço urbano e delimitador

das áreas onde serão despendidos recursos financeiros para disponibilização de

infra estruturas.

Portanto, pode-se dizer que o espaço urbano é “contradição concreta”

(LEFEBVRE, 1999, p.46) cujas condições de desenvolvimento do espaço urbano

capitalista já remetem a este entendimento, pois a [...] “estrutura espacial de uma

cidade é determinada pelas condições econômicas e sociais de seus habitantes, ou

seja, a segregação espacial existente nas cidades é o resultado das diferenças de

classes “(RODRIGUES, 1992, p.72).

A cidade é uma construção somada de natureza, mais as atividades

humanas, podendo-se dizer, que o espaço urbano de hoje é conseqüência de um

processo histórico, onde devem ser considerados todos os fatores sejam eles

econômicos, políticos, ambientais e sociais que favoreceram para alterar ou criar

situações que caracterizam a cidade de hoje (MENDONÇA, 2004, p.185).

Coelho (2001) ao discutir a questão dos impactos ambientais na área

urbana trata a realidade do espaço urbano como representação histórica dos

movimentos de mudanças sociais e ecológicas, que em conjunto modificam

permanentemente o espaço urbano.

Considerar tal conceituação é importante para que se possa entender

as condições de vida de uma determinada população e pensando em menor escala,

a comunidade de um bairro. Na maior parte das vezes, esta deficiência quanto a

condição de vida esta intimamente ligada as questões ambientais, portanto, uma

relação entre o ambiental e o social.

O espaço urbano capitalista é excludente e segregador. A parcela da

população de baixa renda, muitas vezes, não possuindo de condições econômicas

para a habitação em áreas consideradas adequadas, ocupam outras áreas menos

18

favorecidas e de não interesse pelos agentes imobiliários, como muitas vezes áreas

de fundos de vale ou de declividades acentuadas.

Este tipo de ocupação, irregular com vista às legislações ambientais e

urbanas, além de negligenciar a necessidade de preservação dos córregos urbanos,

e áreas de declividades acentuadas que necessitam de correções técnicas oriundas

de custos econômicos inviáveis para população de baixa renda, colocando tais

moradias em área de extremo risco quanto a habitabilidade, segurança e saúde.

As condições para erosão dos solos são diversas. Podem ser

causadas pelas águas das chuvas que ainda dependem de outros fatores como

propriedades naturais do solo,características das encostas, cobertura vegetal, tipo

de ocupação do solo, dentre outros (GUERRA; CUNHA, 2006).

Pode-se dizer que [...] “enquanto a classe alta dispõe de grandes áreas

que lhe permitem manter a vegetação e preservar o solo, a classe pobre se

aglomera e, ao aumentar a densidade populacional, altera a capacidade de suporte

do solo” (COELHO, 2001, p. 28).

Esta condição é mantida pela estrutura publica local que define os

lugares onde deverão ou não ser aplicados os recursos públicos, ou devido a própria

manipulação das legislações pertinentes ao uso e ocupação do solo, o parcelamento

do solo urbano como também do zoneamento.

A decisão de como e onde disponibilizar certa infraestrura caracteriza

de acordo com Souza (2004), a possibilidade de usar os tributos de arrecadação

como um dos instrumentos de planejamento utilizados pelo poder público. Os

tributos têm por objetivo [..] “o desestímulo de práticas que atentem contra o

interesse coletivo” [...] a “promoção de redistribuição indireta da renda [..] “ e o

disciplinamento da expansão urbana” [..] (SOUZA, 2004,p.226).

Entretanto, sabe-se que na realidade das cidades brasileiras, poucos

são os tributos devidamente aplicados na perspectiva das questões sociais. Na

verdade, esses tributos são facilmente manipuláveis por intermédio do Estado,

19

beneficiando a parcela da sociedade já financeiramente mais favorecida. Um dos

exemplos é o IPTU progressivo no tempo. “Ele é como poucos, capaz de colaborar

decisivamente para a tarefa de imprimir maior justiça social a cidades

caracterizadas, simultaneamente, por fortíssimas disparidades sócio-espaciais e

uma especulação imobiliária desenfreada” (SOUZA, 2004, p.226).

O espaço urbano não é, portanto, apenas construções materiais que

caracterizam as cidades, suas obras arquitetônicas e de infra-estrutura, mas o

reflexo de uma dinâmica que é social cujas conseqüências refletem e muito, as

condições de como e a que custo desenvolveu-se esta cidade. Para entender esta

dinâmica basta observar os diferentes fragmentos de uso do solo da cidade, os

conjuntos habitacionais que podem ou não ser providos de infra-estrutura adequada,

as áreas de grande atividade comercial ou industrial. As diferenças não são apenas

paisagísticas, mas de ordem e questões sociais, condições socioeconômicas da

cidade capitalista.

A cidade faz parte da riqueza socialmente produzida, no entanto, esta riqueza não está disponível a toda população, já que os investimentos públicos em infra-estrutura e serviços estão presentes nas áreas mais centrais da cidade permanecendo as periferias desprovidas e destituídas deste direito (MARTINS, 2007, p. 22-23).

Para que a cidade seja construída e se diversifiquem os usos do solo

urbano, existem legislações pertinentes e diretrizes de referência que conduzem

cada ação. A legislação desde que efetivamente aplicada pode vir a garantir a

qualidade de vida e a segurança da população e é neste momento que vemos a

atuação de um dos agentes que mais influenciam e produzem a cidade: o Estado.

2.1 O poder público municipal.

As primeiras intervenções do Estado nas cidades remetem ao período

colonial, quando eram definidos pelo poder público o local de construção das

cidades como também a organização interna das mesmas.

20

No século XVII as preocupações quanto a estrutura das cidades diziam

respeito às ruas, a conservação e limpeza das praças e dos prédios públicos. Cabia

a cidade neste período, apenas a limpeza e conservação de poços e nascentes,

questões como o abastecimento de água não eram de suas responsabilidades

cabendo aos “interessados” (detentores de condições financeiras) buscarem essa

disponibilização.

No início do século XVIII com o maior crescimento dos centros

urbanos, a questão do abastecimento de água passa a ser de responsabilidade do

poder público e é neste período que se vê as primeiras participações das câmaras

nas questões de caráter urbanístico e de planejamento urbano.

A partir da segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do

século XX é que se iniciam os planos com ênfase no saneamento e nas vias de

expansão das cidades. Os primeiros planos diretores são do início do século XX,

mas os primeiros configuravam-se de forma simples, apenas para planos de

saneamento básico e de sistemas viários como o Plano de Avenidas de 1930 em

São Paulo.

A partir da década de 1950 com a acentuação do crescimento

demográfico, os planos diretores passaram a ampliar seus objetivos, incluindo

preocupações quanto ao uso e ocupação do solo, distribuição de equipamentos

dentro da cidade, das condições de trabalho e moradia para a população, um

exemplo é o plano de Passo Fundo- RS de 1953. De acordo com Nigaard (2005) a

pretensão era a de constituir um instrumento abrangente que permitisse ao Estado

enfrentar o crescente caos e desordem que ocorria nas áreas urbanas das cidades.

Nas palavras de Moraes et al (2005, p. 43):

O grande agente da produção do espaço é o Estado, por meio de suas políticas territoriais. É ele o dotador dos grandes equipamentos e das infra-estruturas, o construtor dos grandes sistemas de engenharia, o guardião do patrimônio natural e o gestor dos fundos territoriais. Por estas atuações, o Estado é também o grande indutor da ocupação do território, um mediador essencial, no mundo moderno, das relações sociedade-espaço e sociedade-natureza.

21

O Estado tem presença marcante na produção e distribuição dos

equipamentos de consumo coletivos que são necessários no dia-a-dia. Dentre ele

destacam-se o abastecimento de água, telefone, redes de sistema viário, de

transporte coletivo e dos equipamentos e serviços de lazer como esporte, saúde e

habitação popular. “Quando o Estado assume a provisão de um destes valores de

uso, está canalizando através de impostos e taxas –diretos e indiretos – parte do

trabalho global da sociedade” (RODRIGUES, 1989, p. 20). Cada capital deseja

receber vantagens da urbanização, mas desde que sejam custeados por outros.

Esta atuação dependerá de diversos fatores desde a lógica de uso e rentabilidade,

necessidade, existência de recursos até aos interesses políticos e econômicos

(RODRIGUES, 1989, p. 20).

O Estado pode interferir na cidade como industrial ao implantar uma

indústria ou uma refinaria de petróleo, como o promotor imobiliário, proprietário

fundiário ao dispor de terras para negociação com outros agentes ou ao promover a

construção de conjuntos habitacionais populares e readequação de áreas de

assentamentos irregulares. Além de ser o agente regulador do solo urbano através

da elaboração de leis para o uso e ocupação do solo (CORRÊA, 1994).

Sendo então o Estado o grande responsável pelo provimento dos

serviços públicos como de infra-estrutura, este desempenha importante papel na

determinação dos preços de cada área inserida dentro do espaço urbano, na sua

valorização e “consequentemente no deslocamento dos moradores mais antigos e

pobres que não podem mais pagar pelo preço do solo (PASSOS, 2007, p.27).

Vale ressaltar que o poder público funciona em três níveis político-

administrativos: o federal, o estadual e o municipal. No nível municipal é que fica

mais evidente esta atuação:

[...] a legislação garante à municipalidade muitos poderes sobre o espaço urbano, poderes que advém, ao que parece, de uma longa tradição reforçada pelo fato de que, numa economia cada vez mais monopolista, os setores fundiário e imobiliário, menos concentrados, constituem-se em fértil campo de atuação de elites locais.

22

A atuação do Estado se faz, fundamentalmente e em última análise, visando criar condições de realização e reprodução da sociedade capitalista, isto é, condições que viabilizem o processo de acumulação e a reprodução das classes sociais e suas frações (CORREA,1994, p. 26).

Anteriormente à Corrêa, Harvey em 1980 realiza a critica à ação do

Estado no planejamento urbano e consequentemente nas formas de uso do solo

urbano. De acordo com Harvey (1980, p,142):

O governo também impõe e administra uma variedade de restrições institucionais na operação do mercado de moradia (o zoneamento e os controles de planejamento do uso do solo sendo os mais conspícuos). Tanto quanto o governo aloca muitos serviços, facilidades e vias de acesso, ele também contribui indiretamente para o valor de uso da moradia modificando o meio circundante.

Este poder público representa então o domínio de uma determinada

classe em detrimento de outras. O Estado não é controlado apenas por uma classe,

mas por grupos de uma classe que detém o maior poder (ANDRADE, 1984, p.17).

A ação do poder público contribui para que a cidade mantenha as

características evidentes de segregação:

O poder público revela uma postura que, por incapacidade, inépcia e formas variadas de corrupção, evidencia a subversão da máxima que coloca no Estado e nos governos a responsabilidade pela condução e organização da sociedade sobre os territórios; desta maneira, ele se exime de sua finalidade principal que é a de garantir boas e seguras condições a toda a sociedade , revelando-se numa estrutura elitista que beneficia somente a uma muito pequena parcela da população (MENDONÇA, 2004, p. 191-192).

Desta forma as políticas públicas de organização territorial e

desenvolvimento urbano, acabam sendo ineficientes ou inexistentes onde poucas

vezes se chegam as questões fundamentais dos problemas socioambientais

presentes nas cidades.

No caso de Londrina, a exemplo da produção e reprodução de espaço

urbano por intermédio da ação do Estado/poder público local, pode-se destacar a

construção do Jardim Quebec, à oeste do centro de Londrina. Neste caso , a área é

23

constituída de casas de alto padrão, onde sua construção teve a participação efetiva

do poder público que destinou a este local pessoas que tivessem poder aquisitivo

suficiente para arcar com os altos valores dos impostos como o do IPTU1 (Imposto

Predial Territorial Urbano). O IPTU “ é uma das formas de interferência que o Estado

tem de consolidar-se diante dessas regras, que muitas vezes geram redundantes

segregações sociais [..]” (SIQUEIRA,2004, p.23).

Na contra partida, temos uma classe de pessoas que permanecem

então, segregadas devido a ausência de atuação do poder público em área menos

favorecidas, ou devido a uma atuação imediatista que não contempla todas as

necessidades pertinentes a determinados locais destinados à construção de casas

mais populares, como é o caso do Jardim Primavera.

Com base no exposto pode-se citar vários instrumentos de ação do

Estado no espaço urbano, dentre eles e o de maior importância neste trabalho, a

formulação e efetivação de leis de uso e ocupação do solo, além das diretrizes de

zoneamento e sua autoridade para modificações nestes zoneamentos previamente

planejados durante a elaboração dos planos diretores. Os instrumentos como as leis

de uso do solo, plano diretor e leis de parcelamento do solo urbano formam um

conjunto, um plano de gerenciamento cujo planejamento da cidade é um dos

instrumentos de produção do espaço urbano por intermédio do Estado.

2.2 O Planejamento Urbano

Dentre os instrumentos que permeiam as ações do Estado na escala

local, podemos considerar que o ato de planejar permite uma inserção efetiva deste

agente no espaço urbano.

1 A sociedade dividida por classes caracteriza-se em grupos de maior ou menor poder aquisitivo. Ao se determinar o valor de um IPTU, determina-se conseqüentemente quem poderá ou não adquirir um lote em uma dada área dentro da cidade.

24

O reconhecimento da necessidade do planejamento remonta ao século

XIX:

O reconhecimento da necessidade do planejamento urbano surgiu nos fins do século XIX e inícios do XX no Reino Unido, Europa e América do Norte, como uma resposta aos problemas percebidos na cidade industrial. [...] a concentração das carências nos bairros pobres da cidade tornou visível a pobreza e as doenças e, surgindo como ameaças às classes médias e altas, fez com que essas condições fossem definidas como um problema básico para a sociedade (CLARCK, 1982 p.228-229).

As primeiras iniciativas de planejamento estavam direcionadas a

planos que considerassem a qualidade de vida da população. Inicialmente formulada

por estudiosos de cunho socialistas e muitas vezes de caráter utópico, dificultava-se

a implementação efetiva dos projetos de planejamento.

O planejamento então foi voltado principalmente para a área da saúde,

considerado assunto de caráter público e que deveria ser parte integrante da

atenção do governo. A intervenção do estado nas políticas públicas e no

planejamento urbano já eram vistas desde o século XIX como necessárias por se

tratarem de questões de importância geral e coletiva da sociedade.

No Brasil pode-se dizer que foi após a 1º Guerra Mundial que o

planejamento foi posto em prática, caracterizando-se por uma abordagem

racionalista durante as décadas de 1920 até o início da década de 1940, com bases

rígidas das funções urbanas e zoneamentos. Em meados da década de 1960 surge

uma outra abordagem espacial para o planejamento. Os instrumentos analíticos

passam a considerar não mais o espaço urbano, mas as áreas denominadas

“metropolitanas”, um planejamento voltado então para o território (VICENTINI; DINIZ

FILHO, 2004, p. 129-131).

A partir de 1980 [...] “ao invés de planos baseados no zoneamento

funcional de diferentes atividades, tornam-se importantes os temas específicos do

lugar e as localizações especiais da nova economia de serviços na cidade”

(VICENTINI; DINIZ FILHO, 2004, p. 129-131).

25

Ocorre que planejar remete intuitivamente em pensar no futuro e

gestão administrar o presente:

[...] planejar significa tentar prever a evolução de um fenômeno ou, para dizê-lo de modo menos comprometido com o pensamento convencional, tentar simular desdobramentos de um processo, com o objetivo de melhor precaver-se [...] gestão remete ao presente: gerir significa administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos presentes disponíveis [...] (SOUZA, 2004, p.46).

Um dos desafios presentes no ato de planejar é fazer o esforço de se

imaginar situações futuras, considerando um processo histórico de realidades e

principalmente do momento atual. O desafio é o de planejar de forma não-

racionalista e flexível entendendo a mistura complexa de diferentes situações que

marcam o planejamento e a gestão no urbano (SOUZA, 2004, p.51).

O planejamento pode ser entendido como um percurso que representa

a aplicação racional do conhecimento humano ao processo de tomada de decisões

e serve de base para toda ação humana (BUSTELO; BROMLEY, 1982, p.134). O

planejamento ainda pode ser entendido como:

[...] uma atividade complexa e contínua, com diferentes funções, tarefas e etapas que se desenvolvem com o tempo. Representa um conjunto de atos que configuram um processo singular dentro de outro processo mais geral, o das decisões do poder político. A atividade planejadora do Estado, sua formulação e execução pressupõe e exigem uma decisão política permanente (KAPLAN, 1982, p. 84).

Para Clarck (1982, p.262): [...] “O planejamento é uma intervenção do

Estado na cidade. Existe para alterar e dirigir a cidade na forma considerada pela

sociedade como sendo necessária e desejável.” O planejamento tem mesmo por

objetivo (em teoria) buscar a melhor forma de adequar e readequar o espaço

urbano, de forma a atender as necessidades da população. Entretanto, a atuação do

poder público diferencia-se e acaba por segregar as áreas diversas da cidade, nem

sempre considerando as necessidades de toda população.

26

Do ponto de vista da legislação brasileira em vigor,a Constituição

Federal de 1988 em seu artigo 182 coloca-se que:

A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. §1º - O Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana [...] (BRASIL, 1988).

O Plano Diretor caracteriza-se, ao menos teoricamente, por ser uma

ferramenta que estabelece com base na realidade local, as principais diretrizes e leis

que conduzam a um bom desenvolvimento da cidade. Um planejamento que deve

tratar no seu conteúdo questões relacionadas aos aspectos físico da cidade, a

ordenação do solo urbano; do aspecto social relacionada à qualidade de vida da

população,do aspecto administrativo e da atuação municipal (GASPARINI, 2002,

p.204).

A lei regulamentadora dos arts. 182 e 183 da Constituição Federal e

que estabelece as diretrizes gerais de política urbana é a lei 10.257 de 10 de julho

de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade.

De acordo com o art. 2 da lei 10.257 de 2001 as principais diretrizes

que devem ordenar uma política urbana são:

[...] VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivo ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como pólos geradores de tráfegos, sem previsão da infra-estrutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; f) deterioração das áreas urbanizadas; g) poluição e a degradação ambiental (BRASIL,2001).

27

Portanto, o objetivo principal dessa lei e das diretrizes acima é

assegurar que a disposição de construções sejam elas habitacionais ou de serviços

e industriais estejam em locais adequados de forma a não impactar de forma

negativa a estrutura da cidade, as infraestruturas, suas condições físico ambientais e

a população.

O capítulo III da referida lei dispõe sobre o Plano Diretor:

Art. 40. O Plano Diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico para o desenvolvimento e expansão urbana. I – O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, sendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual deve incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas. O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo. A lei que institui o Plano Diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos. [...] Art. 42. O Plano Diretor deverá conter no mínimo: a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de infra-estrutura e de demanda para utilização, na forma do art. 5º desta Lei; Disposições requeridas pelos arts. 25,28,29,32 e 35 desta Lei; Sistema de acompanhamento e controle (BRASIL, 2001).

A delimitação de que se trata o inciso I do artigo 42 refere-se de forma

aplicada, as leis de uso e ocupação do solo na zona urbana e de expansão urbana e

das leis de parcelamento do solo para fins urbanos.

Vale ressaltar que por se tratar de um plano desenvolvido em escala

local e que se pontua nas necessidades urbanas locais, não só de infra-estrutura,

mais também das necessidades da população, nada mais interessante que permitir

que esta população também faça parte das tomadas de decisões referente ao

espaço em que vivem, pois estes são os que mais conhecem os problemas

presentes em seu bairro, comunidade, da sua cidade:

28

No processo de elaboração do plano diretor, prescreve o § 4º do art.40 do Estatuto da cidade, o Legislativo e o Executivo garantirão: ‘ I- a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidas; III- o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos; ’ [...] (BRASIL,2001)

Ao estabelecer as principais leis quanto ao uso do solo o poder público

local acaba atuando em favor de setores específicos. Para Fernandes (2004) o

Direito tem papel fundamental no que concerne o espaço urbano, principalmente

aqueles que são os “operadores do Direito”, pois estes nem sempre desenvolvem o

papel devido, omitindo-se de leis e políticas urbanísticas. Muitas dessas políticas

urbanísticas, pouco condizem com a realidade socioeconômica e ambiental local. O

autor continua dizendo que : Também devem ser mencionados o poder segregador das leis urbanísticas que reservam as melhores áreas urbanizadas (á custa da ação estatal, isto é, dos cofres públicos) para grupos mais favorecidos, assim determinando diretamente valores fundiários, e sobretudo o papel determinante de ação conservadora, individualista e absolutista do direito de propriedade imobiliária urbana que a reduz á mera condição de mercadoria (FERNANDES, 2004, p. 116)

Para Souza (2004, p.314) alguns obstáculos são, evidentes e impedem

uma gestão efetiva e adequada com base nos planos diretores e nas leis elaboradas

destacam-se: [...] (o) conservadorismo das elites [...] Esse obstáculo se revela em vários momentos, o que pode tornar a aprovação de um plano diretor politicamente avançado uma verdadeira via crucis, pois, além de ser preciso contar com um Executivo local comprometido com esses princípios, é necessários que a Câmara Municipal seja, na sua maior parte, permeável e simpática à proposta, uma vez que, se compete ao Executivo a responsabilidade de elaborar (ou mandar elaborar) o plano, cabe à Câmara aprecia-lo e vota-lo, podendo veta-lo no todo ou em parte. A bem da verdade, ‘conservadorismo’ até que soa, perante muitas situações, como eufemismo. O que ocorre frequentemente, não é um mero conservadorismo de princípios, mais sim um conservadorismo corrupto [...]

29

Além destas questões, outras devem ser destacadas. Como dito

anteriormente os grupos de elite local influenciam diretamente a ação do poder

público local, principalmente no que diz respeito ao uso do solo urbano:

A ação dos lobbies e grupos de pressão de setores da elite local constitui outro obstáculo. [...] em um país como o Brasil, onde o nível de transparência e accountability da dinâmica decisória no interior do Estado é comparativamente pequeno, e onde o nível de corrupção é comparativamente grande, é lógico que a ação de lobbies – como os empresários do setor de transportes, os da construção civil etc. – mostrar-se-á especialmente danosa, tendente a reduzir o Estado a pouco mais que um ‘balcão’ a serviço dos interesses de grupos dominantes (SOUZA, 2004,p. 315-316).

Pode-se incluir ainda neste grupo, os agentes imobiliários e os grandes

industriais que influenciam e muito as ações quanto ao planejamento do uso do solo

e das leis urbanísticas, pois: [...] “O estado tende a produzir, como vetor resultante

em termos de ações, intervenções conforme os interesses dos grupos e classes

dominantes, que dispõem de mais recursos e maior capacidade de influência”

(SOUZA, 2004, p.326).

Barbosa e Nascimento Junior (2008, p.102-103) com base na análise

do Plano Diretor da cidade de Bauru – SP, verificaram que :

A política de ocupação e uso do solo bem como a de seu parcelamento ao promover a expansão urbana de forma desordenada dificultou a sinergia necessária para a redução dos impactos causados ao ambiente e à ecologia da cidade [...] Além disso, não é somente uma dificuldade de demanda por melhores moradias ou, mesmo, de se deslocar este contingente para outro lugar, preservando as áreas de mananciais, mas sim, de se reverter às práticas das políticas públicas e do capital privado imobiliário ao se apropriarem de determinados lugares, deixando para que o poder público resolva as ocupações irregulares por parte das pessoas de menor poder econômico ou quase sem renda alguma [...] É notável a tolerância que o Estado (entenda-se o poder público de Bauru) tem demonstrado em relação à expansão das ocupações irregulares em terra urbana sendo que é de competência constitucional do órgão público em controlar e fiscalizar a ocupação do solo.

Portanto, ao mesmo tempo em que se entende a importância que

remete o ato de planejar e toda evolução já existente quanto aos instrumentos e as

bases doutrinárias para efetivação dos mesmos, a gestão urbana enfrenta sérias

dificuldades e obstáculos impostos pelo próprio sistema capitalista, onde as parcelas

30

da população que detém do poder econômico produzem a cidade e alteram as

formas originais da elaboração destes instrumentos, como as leis, em favor de

manter seus lucros com a permissão do poder Público.

O planejamento então, originalmente destinado a atender as

necessidades sociais em geral, mesmo mantendo ainda tais características em seus

planos e leis, continuam subjetivamente favorecendo a parcela da população já

provida de recursos financeiros em detrimento das demais segregadas, sendo na

verdade, um instrumento para ação do poder publico na produção das cidades.

2.2.1. O poder público e os instrumentos de planejamento urbano

Com base nas perspectivas teóricas analisadas pode-se concluir que

os instrumentos de Planejamento Urbano como a lei de parcelamento do solo

urbano e as próprias diretrizes contidas nos planos diretores são os meios legais de

atuação do Estado/poder público no espaço urbano.

Os instrumentos de planejamento juntamente com o zoneamento para

uso e ocupação do solo são parâmetros que regulam a densidade e a forma de

ocupação do espaço, dentre eles a taxa de afastamento, índices de permeabilidade,

gabaritos entre outros. Os instrumentos de que podem servi-se os planejadores e

gestores do urbano [...] “admitem aproximadamente, em cinco grupos gerais, no que

tange ao seu potencial de influenciar as atividades dos agentes modeladores do

espaço urbano: os instrumentos informativos, estimuladores, inibidores coercitivos e

outros” (SOUZA, 2004, p.218).

Os instrumentos coercitivos “[...] expressam uma proibição e

estabelecem limites legais precisos para atividades dos agentes modeladores”

(SOUZA, 2004.p.218). Os típicos instrumentos coercitivos são aqueles relativos a

determinações quanto ao uso do solo, manejo ambiental, como os planos de manejo

e os zoneamentos.

Através das leis complementares dos planos diretores como as de uso

do solo e de zoneamento, a cidade é definida e redefinida com base em critérios de

31

importância estipuladas pelo poder público. Decisões que na maioria das vezes

desconsideram os estudos elaborados pelos técnicos responsáveis pelo

planejamento urbano ou nem se pautam em estudos técnicos prévios.

O primeiro plano diretor de Londrina é de 1969, sendo que sua vigência

deu-se a partir 1974. Neste período os planos diretores eram caracteristicamente

técnicos e positivistas. Destaca-se para este período a atuação do SERFHAU –

Serviço Federal de Habitação e Urbanismo “[...] que nasceu como instrumento de

investigação do Governo Federal no setor de habitação, ao lado do BNH, das Caixas

Econômicas Federais, do IPASE, etc” (NYGAARD, 2005, p. 96).

De acordo com Takeda (2004, p.107) o Plano de Desenvolvimento

Urbano (PDU) promoveu:

[..] uma proposta de macrozoneamento da cidade, estabelecendo áreas residenciais, industriais e comerciais. Nesta proposta, as industrias foram alocadas em áreas periféricas ao norte da cidade, deixando de vez as proximidades da área central. Com relação as áreas residenciais, este plano, acabou por perpetuar a constituição de espaços segregados socialmente, mantendo os bairros populares na periferia e privilegiando os bairros de alto padrão nos setores de melhor infra estrutura e, nas proximidades dos principais serviços coletivos urbanos.

No contexto de atuação do Estado, deve-se considerar que além da

equipe responsável pelo planejamento e gestão do município, que no caso de

Londrina fica a cargo do IPPUL (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de

Londrina.) tem-se a atuação do poder legislativo, as câmaras de vereadores da

cidade. Dentre as atribuições e responsabilidades dos vereadores está a elaboração

das leis, aprovação de projetos de empreendimentos na área urbana, dentre outros.

Os vereadores possuem uma forte responsabilidade perante a

sociedade, pois são seus representantes para as tomadas de decisões pertinentes a

cidade. Além desta atuação regulatória, o poder público também tem por dever gerir

os pedidos de alvará para uso do solo urbano, como nos casos de loteamentos

habitacionais. Ficam pré-estabelecidas por lei as documentações necessárias para o

pedido do alvará e após análise interna é deferido ou não o pedido protocolado.

32

2.2.2 As leis de Parcelamento do Solo em Londrina

A primeira lei de uso do solo de Londrina é de 1951. É importante que

se aborde e analise esta lei, pois além de estar em vigência no período de liberação

do loteamento Vale Verde, umas das áreas de estudo aqui proposta, permite-se uma

comparação com a legislação vigente.

Há de se destacar que neste período não havia para a cidade de

Londrina Plano Diretor vigente. Considerando que Londrina foi fundada em 1930, a

elaboração de uma lei destinada a regularização do uso do solo urbano em 1951 já

remete a busca pela modernização característica do período. A lei de uso e

ocupação do solo determina os diferentes tipos de uso, como as áreas para fins

residenciais, industriais, comerciais, de uso especial, entre outros que possam ser

distinguidos.

Além dos diferentes tipos de uso, cabe a esta lei estabelecer as

diretrizes quanto a espacialidade deste zoneamento na cidade bem como as ruas

que delimitam cada zona. Na lei de uso e ocupação do solo constam também os

conceitos pertinentes para o entendimento da lei e os parâmetros técnicos

urbanísticos que devem ser seguidos para cada zona.

Vale ressaltar que alem desta lei existe também as leis que dispõe

sobre o parcelamento do solo urbano, onde são como consta na lei nº. 7.483 de 20

de julho de 1998 a lei que “estabelece normas [...] para todo e qualquer

parcelamento do solo para fins urbanos”. Sendo que para “fins urbanos” consideram-

se quaisquer parcelamentos para fins que não sejam de exploração agropecuária ou

extrativista. Portanto, parcelamentos para fins de construções habitacionais,

comerciais e industriais.

Ambas as leis de uso e ocupação do solo, de parcelamento do solo

urbano mais as leis de Preservação do Patrimônio Cultural, do Sistema Viário, o

Código de Obras e Edificações, o Código de Posturas e o Código Ambiental são

complementares a Lei do Plano Diretor, importantes, pois são mais especificas e

direcionadas a estes setores.

33

Vale ressaltar que mesmo tendo sido elaborada a lei 1.444/1968

referente a aprovação do 1º plano diretor de Londrina continuou-se em vigência

como lei complementar para parcelamento do solo, a lei 133/1951,tendo sofrido

apenas algumas alterações ate a sua nova redação em 1998, pela lei 7.483.

Entretanto tais alterações não fizeram menção a solicitação de novos documentos

ou estudos para a liberação de loteamentos.

Como dito anteriormente a lei 133/1951 foi a primeira lei destinada às

diretrizes de parcelamento do solo urbano. Cabe destacar inicialmente que neste

tópico serão abordados os artigos principais para o entendimento das

irregularidades cabíveis nas áreas de estudo desta monografia, sendo a legislação,

em sua totalidade podendo ser consultada diretamente no site da Prefeitura de

Londrina (ver em referências).

De acordo com esta lei que estava em vigor no período de liberação da

construção do Conjunto Vale Verde, os proprietários que desejassem solicitar o

parcelamento do solo urbano, deveriam apresentar à prefeitura os seguintes

documentos:

Art. 5º Os proprietários que pretenderem abrir vias de comunicação no Município, salvo a exceção prevista no § 1º do art. 2º, deverão requerê-lo à Prefeitura, satisfazendo as seguintes condições preliminares: I - Apresentação de título de propriedade da área, provando do domínio pleno ou suficiente para o objetivo, inclusive para doação das porções a serem municipalizadas; II - Havendo hipotéca, juntar autorização expressa do credor hipotecário; III - Prova de não serem réus em qualquer ação judicial que tenha por objetivo a área em apreço e possa interferir com o arruamento, loteamento e doação; IV - Certidão negativa referente à tributação do fisco municipal e estadual; V - Junção de planta do terreno, em 3 (três) vias, firmada por engenheiro ou agrimensor legalmente habilitado, na escala 1:1.000, com curvas de nível de metro em metro, e indicação clara e completa dos acidentes, acessos, divisas e vias públicas circunvizinhas: a) da planta, atualizada, deverão constar: construções existentes, caminhos, nascentes e cursos d'água, linhas de escoamento pluvial, brejos, matas, árvores excepcionalmente vistosas, pedreiras, cercas

34

e muros principais, faixas sujeitas inundação ou enxurradas. As curvas de nível devem se referir à base altimétrica adotada ou indicada pela Prefeitura; b) a Prefeitura poderá tolerar, na primeira fase do processo, planta com outra referência altimétrica, desde que na fase definitiva o projéto apresente as curvas de acordo com a base oficial; c) a Prefeitura poderá exigir escala 1:500, no caso de terreno pequeno e ponto importante; IV - Sumária explicação do objetivo, da espécie do arruamento e loteamento pretendido e do andamento previsto, podendo ser ilustrada com esboço aproximativo, em quarta via da planta. § 1º À vista da planta e esboço informativo, a Prefeitura enunciará a orientação geral a ser observada no projeto, traçará sôbre as plantas as principais artérias ou logradouros e especificará as feituras que mais interessarem. Constarão, em especial, indicações técnicas e de ordem zonística. Todas essas indicações e exigências, precisas ou aproximativas, gráficas ou escritas, constituirão as ''diretrizes'' do plano, a que deverão ater-se proprietário e projetista. Uma via da planta, com as respectivas diretrizes, será devolvida ao requerente. § 2º Ao estabelecer as diretrizes, a Prefeitura deixará ainda certa liberdade de projeto ao requerente, no que não prejudicar à estrutura e concepção geral da Cidade (LONDRINA, Lei 133/1951)

Após a entrega preliminar destes documentos à prefeitura, os mesmos

seriam analisados e em cima do projeto proposto seriam enunciadas orientações de

correção ou de complementação que deveriam ser seguidas como requisitos para

obtenção do alvará. Munido de tais diretrizes o proprietário das terras urbanas

loteadas teria de apresentar o projeto final como consta no artigo 6º. da lei:

Art. 6º De posse das ''diretrizes'', o interessado elaborará e submeterá o plano definitivo à aprovação da Prefeitura. O plano definitivo compor-se-á de: I - Planta geral, na escala 1:1.000 (excepcionalmente 1:500, quando a Prefeitura o houver solicitado na primeira fase do processo), com curvas de nível de metro em metro. Na planta figurarão todas as ruas, espaços livres e áreas de destino especial; eixos, alinhamentos de propriedades e guias, marcos de alinhamento e nivelamento. Em exemplares separados figurarão, ainda, os traçados de jardins, o sistema de escoamento pluvial, as canalizações gerais de esgôto e d'água, as linhas elétricas, a iluminação e arborização: a) a Prefeitura poderá conceder prazo para apresentação dos projetos completos e precisos destas obras complementares, quando a sua execução ficar ao cargo do proprietário-arruador e não for imediata; b) os sistema pluvial, considera-se sempre imediato. II - Perfís longitudinais, pelo eixo, de todas as ruas e praças, nas

35

escalas H 1:1.000 e V 1:100; III - Seções transversais típicas e suficientes, de todas as ruas e praças. Escala 1:200; IV - Divisão em lotes. O retalhamento é parte integrante dos planos de arruamento e, uma vez aprovado, só poderá ser alterado mediante nova apresentação à Prefeitura; V - Memorial descritivo e explicativo, dístingüindo o que irá ser executado e o que figura apenas a título de esclarecimento e previsão. § 1º As plantas gerais serão apresentadas em 4 (quatro) vias. Uma via, em tela transparente, não dobrada, com traços a tinta opaca; e as três outras, em cópias heliográficas nítidas, sôbre papel claro. Os traços de alinhamento, guias, divisas de lotes, canalizações, contorno de zonas, etc., obedecerão a convenções tais, que se distingam em cópias monocromáticas, sem exigir superposição de traços a cores ou aquarela. A Prefeitura fornecerá ao projetista, com as diretrizes, as convenções a empregar. As indicações de zoneamento, todavia, poderão ser faixas aquareladas. § 2º O projéto detalhará os elementos e pontos que o merecerem: obras de arte, cruzamentos difíceis, pormenores típicos. § 3º O plano incluirá os projétos de consolidação, drenagem ou saneamento dos terrenos, quando necessários, assim como o calçamento, quando a sua execução ficar a cargo do proprietário (LONDRINA, Lei 133/1951).

Considerando o dispositivo da lei, determina-se no artigo 14 que os

planos de arruamento deveriam garantir o escoamento das águas permanentes e

pluviais, além de resguardar os fundos de vale.

Além desta determinação o artigo 22, pede que os arruamentos ao

longo de cursos d’água e nascentes sejam regularizados previamente. “A faixa

marginal não poderá ser inferior a 30m podendo, contudo ser compensada em 50%

como área verde.”

Art.23. Nos arruamentos marginais, será em regra, disposta em cada margem uma rua de categoria 6º. (sexta) ou superior. § 1º Sempre que possível, será acrescentada, acima da linha de enchentes máximas, uma faixa verde, destinada a ajardinamento, arborização ou serviço. § 2º A prefeitura fixará largura mínima livre, a deixar ao rio, para garantia da sua vazão e regime, e para obras de regularização acaso cabíveis. § 3º A Prefeitura determinará as cotas mínimas para o arruamento, acima das enchentes máximas, sem prejuízo da responsabilidade do arruador perante terceiros, compradores e edificadores, que venham a ser eventualmente atingidos. Nenhum loteamento poderá fazer-se

36

a menos de 0,60m (sessenta centímetros) (sic.), acima das enchentes previstas ou normalmente previsíveis. § 4º O arruador apresentará, para efeito das determinações deste artigo, estudos suficientes do rio. [..] (LONDRINA, Lei 133/1951).

Além destas especificidades vale ressaltar que como consta no artigo

24 “não serão permitidas construções urbanas por cima de cursos d’água, salvo

casos industriais e outros, sendo estes, dependentes de aprovação especial, além

disto, no caso de filetes insignificantes nascidos no próprio lote serão tolerados o

escoamento e faixa “non aedificandi”, ou seja área onde não se pode construir ou

impermeabilizar o solo.

Quanto à fiscalização esta seria efetuada apenas para observação das

obras de arruamento como consta no artigo 28, ficando a fiscalização a cargo de um

engenheiro.

Fica claro que a participação da prefeitura na análise dos projetos de

parcelamento do solo, restringiam-se a informações apresentadas pelo loteador,

sem uma fiscalização prévia, sendo esta, efetuada apenas para fiscalização das

obras de arruamento.

Mesmo sendo uma lei de caráter extremamente urbanístico fortemente

ligadas ao urbanismo modernista (NYGAARD, 2005) e mais preocupado com o

paisagismo mediante a preservação das características naturais do que realmente

com a conservação, há de se ressaltar que a lei 133/1951 era um grande avanço

para uma cidade de apenas 20 anos localizada em uma área do Brasil ate então

pouco povoada, tendo ainda em vista que a única lei federal ambiental vigente no

período era o Código das Águas de 1934.

Partindo das diretrizes contidas nesta lei, observam-se os impactos que

poderiam ser gerados mediante o não cumprimento dos artigos da lei 133/1951 na

Tabela 1 a baixo:

37

TABELA 1. Relação de possíveis impactos mediante negligência de artigos contidos na lei 133 de 19512.

Possíveis Impactos Artigo

Ambientais Sociais

Assoreamento de nascentes Doenças de vinculação hídrica;

Poluição de cursos d’água Disseminação de animais como cobras e aranhas

Art. 5 – V – a

Art. 22

Art. 23

Art.24 § 1 Desmatamento de área de mata ciliar

Subsidência, solapamento de superfície e rachaduras nas construções;

FONTE: Londrina – Lei 133/1951. Org. Thamy Bárbara Gioia.

Em 1998 foi instituído o novo plano diretor de Londrina, pela lei 7.482

dentre as leis complementares destaca-se a lei nº. 7.483 de 20 de julho de 1998,

que dispõe sobre o parcelamento do solo para fins urbanos no Município de

Londrina tendo por fundamentos a lei Federal 6.766 de 1979.

A Lei nº. 6.766/1979 é federal e dispõe sobre o Parcelamento do solo

urbanos e deixa a cargo dos Estados e municípios decretar lei complementares

considerando aspectos específicos de cada localidade:

Art. 1º - O parcelamento do solo para fins urbanos será regido por esta Lei.

Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão estabelecer normas complementares relativas ao parcelamento do solo municipal para adequar o previsto nesta Lei às peculiaridades regionais e locais (BRASIL, 1979).

Além disto, vale destacar que um dos principais fundamentos da lei

6.766 de 1979 era o de repassar a responsabilidade quanto a infra estrutura dos

loteamentos ao próprio loteador, isentando, portanto, esta responsabilidade do poder

público local.

Como pode ser observado na Lei federal citada, suas primeiras

considerações tem-se por objetivo a prevenção de instalações e/ou expansão de

2 Os impactos contidos nas tabelas 1 e 2 referem-se aqueles quanto as características naturais e da população residentes nos conjuntos habitacionais.

38

ocupação urbana em áreas inadequadas, desprovidas de condições para o

desempenho das atividades urbana além de assegurar a existência de padrões

urbanísticos e ambientais de interesse das comunidades.

Tais objetivos aproximam-se muito das considerações iniciais contidas

no Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001):

Art. 2º. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: [...] VI – ordenação e controle do uso do solo de forma a evitar: a) utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; [..]

O capítulo II da Lei 7.483 discorre sobre as normas e procedimentos

para aprovação de projetos. Sendo importante ressaltar os seguintes artigos

pertinentes nesta análise: Art. 7º- O poder Público somente procederá à aprovação de projetos de parcelamento do solo para fins urbanos (loteamento, desmembramentos, desdobros) e remembramentos depois de cumpridas pelos interessados as seguintes etapas: I – apresentação de Consulta prévia de Viabilidade Técnica atestando parecer favorável do órgão competente sobre a possibilidade de aprovação de parcelamento ou remembramento na gleba ou no lote; II – apresentação de planta com as diretrizes expedidas oficialmente pelo órgão competente; III - apresentação de plantas devidamente elaboradas nos termos da presente lei; IV – juntada de documentos, de conformidade com as instruções da presente lei. Art. 8º Para obter a Consulta prévia de Viabilidade Técnica com finalidade de parcelamento do solo para fins urbanos, o interessado deverá protocolar requerimento ao Poder Público anexando os seguintes documentos: [..] II – mapa ou croqui identificando a presença de formações rochosas, áreas alagadiças, vegetação notável, redes de alta tensão, cercas, construções, caminhos e congêneres na área objeto do parcelamento (LONDRINA, Lei 7.483/1998,p 14, grifo nosso).

39

Após a apresentação destes documentos o setor público responsável

analisará o pedido de consulta prévia de Viabilidade Técnica onde serão

considerados os seguintes aspectos de:

Art. 9. [..] I – existência de elementos, no entorno ou na área objeto do pedido de aprovação de parcelamento, que representem riscos à segurança de pessoas e ao ambiente; [...](LONDRINA, Lei 7.483/1998,p.14).

O setor responsável para análise de Viabilidade técnica na Prefeitura

de Londrina é o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL),

ficando sob sua responsabilidade:

Art.11. [..] I – expedir a consulta, com informações da viabilidade de se parcelar a gleba; II – informar: O zoneamento; A densidade populacional; O uso do solo; A taxa de ocupação; O coeficiente de aproveitamento; Os recuos; O número máximo de pavimentos; A largura das vias de circulação; As áreas de preservação permanente; A infra-estrutura urbana exigida; Indicação aproximada, em croqui, do sistema viário previsto; III – apresentar a relação de outros órgãos públicos que deverão ser ouvidos antes da expedição das diretrizes. [...](LONDRINA, Lei 7.483/1998, p. 16)

Após o recebimento do resultado da viabilização técnica a empresa

interessada deverá solicitar junto ao IPPUL as diretrizes básicas urbanísticas para o

loteamento devendo apresentar planta do imóvel na escala 1:1. 000 indicando:

I-divisas do imóvel; II-benfeitorias existentes; III-árvores, bosques e áreas de preservação permanente, IV-nascentes e corpos d’água [...] XII- teste de sondagem e percolação onde estejam expressos os vários tipos de solos, com as respectivas profundidades e detecção de resíduos sólidos ou em decomposição, orgânicos ou não; XIII- locação de eventuais formações rochosas (LONDRINA, Lei 7.483/1998,p.16).

40

Quanto à aprovação do projeto segue pelo art. 13 desta lei os

documentos que deverão ser apresentados para análise final. Estes documentos

são caracterizados principalmente pelas especificações necessárias de

infraestrutura.

De acordo com a Lei 6.766 /1979 entende-se por infraestrutura:

§ 5o A infra-estrutura básica dos parcelamentos é constituída pelos equipamentos urbanos de escoamento das águas pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação (BRASIL, 1979).

Quanto a fiscalização efetiva do poder público, observa-se que a

aprovação do projeto desde o principio é feito com base em documentos entregues

pelo empreendedor. No art. 15 o poder público se isenta da responsabilidade por

eventuais irregularidades constantes nos documentos apresentados:

Os dados fornecidos em plantas, memoriais,certidões, escrituras e demais documentos apresentados pelo loteador são aceitos como verdadeiros, não cabendo ao Poder Público qualquer ônus que possa recair sobre atos firmados com base nesses documentos apresentados (LONDRINA, Lei 7.483/1998, p. 19).

A fiscalização em campo (na área onde será o loteamento) se dá

apenas quando necessária a execução de obras e serviços de infraestrutura urbana.

(art.26). A partir das informações prévias apresentadas pelo loteador e com base em

um banco de dados já existentes sobre a cidade, a prefeitura deixa, portanto, à

cargo total do empreendedor a responsabilidade de quaisquer irregularidades que

possam vir a surgir quanto às informações apresentadas.

Quantos aos requisitos técnicos, urbanísticos, sanitários e ambientais

vale ressaltar que: Art. 29. As áreas ao longo das margens dos corpos d’água, numa largura mínima de 30m (trinta metros), acrescidas de faixas de proteção ambiental permanente, as nascentes num raio de 50m (cinqüenta metros), os grotões e terrenos onde houve exploração mineral e as áreas de deposição de substâncias tóxicas ou nocivas à vida animal e vegetal não serão admitidas para loteamento e deverão

41

ser municipalizadas por ocasião do parcelamento do restante da gleba, conforme mapeamento do Zoneamento ambiental [...] (LONDRINA, Lei 7.483/1998, p. 23).

Para finalização desta análise o art.52 considera que:

IV- os taludes resultantes dos movimentos de terra deverão obedecer aos seguintes requisitos mínimos [...] III - revestimento apropriado para retenção do solo, preferivelmente formado por vegetação, podendo este ser dispensado, a critério do Poder Público (LONDRINA, Lei 7.483/1998, p. 27).

Tendo em vista as análises das leis 133/1951 e 7.483/1998 podemos

destacar alguns avanços quanto a estrutura administrativa do setor de planejamento

urbano de Londrina e quanto as documentações exigidas para parcelamento do

solo:

• Criação do IPPUL (Instituto de Planejamento Urbano de Londrina) pela Lei nº.

5.495 em 1993 como órgão ligado a Prefeitura tendo por objetivo formar um

equipe direcionada para pesquisas e análises para melhor organização e

crescimento do município.

• Solicitação de testes de sondagens e de percolação;

• Projeto de proteção das áreas sujeitas a erosão e de manejo da cobertura

vegetal durante execução de obras e serviços. (art.13 – VII);

• Melhoria quanto aos padrões de delimitação das áreas de preservação

permanente (art.29), incluindo ainda a não permissão de edificação em terrenos

onde em momento anterior tenha sido área de extração mineral e de deposição

de substâncias tóxicas e nocivas a vida animal e vegetal;

• Disposição do art.30 onde são proibidas edificações e parcelamento do solo

em áreas com declividade igual ou superior a 30%;

• O repasse para responsabilidade do loteador a execução do replantio de

árvores nos fundos de vale;

• Para prevenção de erosão e de inundação a obrigatoriedade de dispositivos

de dissipação de energia, armazenamento por retenção e poços de infiltração de

águas pluviais. (art.50 – VIII – §1º) .

42

• Art. 50 – os taludes resultados da movimentação de terra deverão ser

revestidos de forma apropriada para se evitar desmoronamento do solo,

preferivelmente revestido por vegetação, podendo esta ação, ser dispensada

pelo poder público;

• Os movimentos de terra e as obras de arruamento não poderão prejudicar o

escoamento das águas nas respectivas bacias hidrográficas;

Além dessas disposições acima mencionadas, outras de caráter mais

técnico de parâmetros urbanísticos também foram melhoradas na lei 7.483 de 1998.

Com base nos principais artigos mencionados e tendo por base a importância das

verificações das condições geotécnicas e ambientais do terreno para a segurança

da população, segue principais impactos que podem ser gerados mediante

negligência da lei de 1998 para parcelamento do solo para fins urbanos de Londrina.

(Tabela 2).

TABELA 2.Relação de possíveis impactos mediante negligência de artigos contidos na lei 7.483 de 1998.

Impactos gerados

Artigo Ambientais Sociais

Art.8 - I e II

Art.9 – I

Art.12 - XII e XIII

Retirada de vegetação de áreas de APP.

• Incompatibilidade de usos do solo;

• Profundidade de solo insuficiente para esgotamento sanitário;

• Inundações;

Art.12- III/IV/VII

Art.50 - VIII

• Degradação de área de APP;

• Assoreamento de nascentes;

• Poluição de cursos hídricos;

Disseminação de doenças;

Art.30 Subsidência, solapamento de superfície e rachaduras nas construções;

Art.26

Art.29

Art.52 - III Erosão Carregamento de partículas em períodos de chuva

FONTE: Londrina, Lei 7.482/1998. Org. Thamy Bárbara Gioia.

43

A Lei de Parcelamento do solo Urbano de Londrina ainda vigente trata-

se da Lei 7.483/1998. O Plano Diretor de Londrina que como consta no Estatuto da

Cidade, deve ser atualizado de 10 em 10 anos, já possui nova redação dada pela

Lei 10.637/2008, entretanto, as Leis complementares como é o caso das Leis de

Parcelamento do solo, do Uso e Ocupação do solo, do Perímetro da Zona Urbana,

do Sistema Viário e de Expansão e adequação Viária, ainda não foram atualizadas,

estando em vigência, portanto, as leis complementares de 1998.

Tanto as especificações contidas na lei nº. 133/1951 como na lei

7.483/1998 apresentam condições prévias para o parcelamento do solo urbano,

objetivando o disciplinamento da produção da cidade, pautando-se em

preocupações pertinentes ao melhor ordenamento do espaço urbano. Mesmo se

tratando de uma lei de bases urbanísticas e paisagísticas, a lei 133/1951 apresenta-

se como uma grande inovação para o período, considerando a formação ate então

recente da cidade de Londrina.

Quanto ao plano diretor vigente, considera-se que muitas discussões

introduzidas no meio cientifico quanto a importância de planos mais participativos e

com bases em desenvolvimento mais sustentáveis vêm fazendo parte das redações

contidas nas leis complementares, entretanto entende-se que a participação do

poder público ainda não é suficiente e apresenta-se de forma contraditória e

excludente. Ao isentar-se da responsabilidade quanto a possíveis irregularidades

(art.15), acaba-se por isentar-se de sua função maior que é administrar o espaço

urbano de forma a atender as necessidades de toda a população.

44

3. OS LOTEAMENTOS VALE VERDE E JARDIM PRIMAVERA EM LONDRINA-PR: impasses e descompassos mediante legislação urbana

Na busca de se verificar as condições habitacionais dos diversos

bairros de Londrina, utilizou-se como principal fonte de informação. reportagens de

jornais locais. Dentre os artigos pesquisados, tendo por foco conjuntos que

apresentassem problemas diversos que confrontasse a legislação de parcelamento

de uso do solo vigente para o período de liberação dos mesmos, verificou-se que

vários dos artigos pesquisados tratavam especificadamente de três conjuntos

habitacionais: o Lorys Sayum e o Vale Verde localizados na zona leste de Londrina,

e o Jardim Primavera localizado na zona norte.

Optou-se a principio por utilizar como estudos de caso o Conjunto

habitacional Vale Verde por este ter seu processo de liberação no ano de 1980,

portanto, anterior ao Estatuto da Cidade e no período de vigência da Lei 133 de

1951 e o Jardim Primavera, localizado na zona norte cujo processo de autorização

pela prefeitura data o ano de 1998, período de vigência da Lei de parcelamento do

solo nº. 7.483 de 1998.

O objetivo principal desta pesquisa empírica foi constatar as condições

de habitação nesses bairros confrontando-as com as disposições contidas nas leis.

Para alcançar tal objetivo foram feitos registros fotográficos e anotação de

informações por meio da observação das áreas e de entrevistas com moradores. As

entrevistas foram feitas de forma qualitativa, com o intuito de reconhecer o local

visitado e a situação de moradia da população a partir da opinião dos próprios

moradores.

3.1 Apresentação e dados gerais dos Conjuntos habitacionais

O loteamento Vale Verde está localizado na zona leste de Londrina,

próximo ao aeroporto da cidade. As altitudes na região variam de 550m, nas

proximidades do aeroporto até 400m já no fundo de vale do Córrego Inhambu

(Figura 2). São no total 145 lotes de 250m2 a 300m2 onde de acordo com parecer

técnico 24/2007 – SEMA, 88 apresentam-se em área de preservação permanente.

45

Em pesquisa de campo efetuada no dia 30 de julho de 2009 junto a

Prefeitura de Londrina, verificou-se que o projeto do loteamento apresentando pela

Urbanizadora Nacional S/C LTDA foi aprovado em 09 de setembro de 1980.

O Jardim Primavera está localizado na zona norte de Londrina e

inserido na Sub-Bacia Hidrográfica do Ribeirão Jacuntiga as altitudes variam entre

520m a 430m nas proximidades do Córrego Sem Dúvida (Figura 2).

Podemos dividi-lo em três partes distintas. A primeira que corresponde

aos lotes particulares adquiridos pelo Sr. Jorge Takahashi onde as casas foram

construídas pela construtora SENA entre 1997 e 1998. (Área 1) e a segunda parte

que corresponde à construção das casas para fins de desocupação do fundo de vale

no Córrego Sem Dúvida, um dos tributários da sub-bacia do Jacutinga. Mediante os

referenciais de base e entrevistas junto aos moradores constatou-se em campo que

algumas casas, mais próximos ao córrego Sem Dúvida foram construídas pela

Construtora Marina (área 2). A área 3, portanto, faz parte de um projeto entre a

COHAB e o Projeto Habitar Brasil, hoje PAC (Programa de Aceleração do

Crescimento) onde estão previstas a construção total de 257 casas (Figura 3).

O tamanho dos lotes variam, mais as atuais construções, pertinentes

ao projeto de regularização da COHAB não passam dos 120m2. Alguns dos lotes

mais antigos, como os da Construtora Marina, mais próximos ao fundo de vale

apresentam lotes maiores aproximadamente 200m2. Algumas das pessoas que hoje

estão cadastradas no projeto de desocupação do fundo de vale já ocupavam a área

há mais de 10 anos, tratando-se de dois grupos distintos o Vale do Sol e o Vale da

Lua. De acordo com moradores, não se sabe ao certo qual o primeiro grupo que

chegou ao local, as pessoas vinham de outras áreas irregulares de Londrina, de

cidades próximas e da zona rural.

46

FIGURA 2 .(a) Carta de uso do solo em Londrina. (b) – Mapa pedológico de Londrina. Fonte: Atlas Ambiental de Londrina, 2008.

Jardim Primavera

Vale Verde

a b

47

FIGURA 3. Localização do Conjunto Vale Verde (a). Localização do Jardim Primavera e subdivisão das áreas loteadas (b). Fonte: Imagem Google Earth, 2009.

Área 1

Área 3

Área 2

Vale Verde Loris Sayhum

Jardim Primavera

a

b

23º20’20.60’’S 51º7’34,63’’ W

23º 14’ 32,14’’S 51º8’ 12,95’’ W

48

3.1.1 Conjunto Vale Verde

Dentre os fundadores da Urbanizadora Nacional LTDA estão:

Francisco Simeão Rodrigues Neto, João Batista Bertolotti (ex presidente do IPPUL),

Jose Richa, prefeito de Londrina entre 1973 e 1977, Wilson Moreira, prefeito no

período de 1983 e 1988, dentre outros (Londrix.com,2007).

Em 1986, todos os integrantes desta sociedade retiraram suas cotas e

posteriormente venderam-as para João Dib Abussafi, vereador de Londrina no

mandato de 2005-2008. O ex vereador atua ainda no setor imobiliário com loteadora

e construtora com sede em Londrina e com filiais no Mato Grosso e São Paulo.

Em 2007, uma reportagem publicada em jornal local descreve as

condições de habitação do loteamento Vale Verde:

Documentos que integram o Procedimento do Grupo de Direito Ambiental (GDA) da Ong MAE sobre o Conjunto Vale Verde, região leste da cidade, onde mais de 100 casas estão sobre nascentes e minas em área de preservação permanente [...] Quase 30 anos depois, a área é inabitável: as nascentes afloram dentro das casas dos moradores, o esgoto é dirigido ao córrego Inhambu, e a saúde e segurança da população estão em risco [...] (Londrix.com,2007)

De acordo com artigo publicado em 27 de novembro de 2008 no site

Londrix.com estaria em trâmite na Câmara um projeto de lei onde a prefeitura de

Londrina isentaria os moradores das residências consideradas “inedificaveis”, do

pagamento do IPTU e taxas agregadas.

49

A ONG londrinense Meio Ambiente Equilibrado (MAE) denuncia uma “manobra” na Câmara de Londrina que poderá beneficiar o vereador e imobiliarista João Abussafi (PPS). Ele propõe o projeto de lei 237/2008 que seria favorável aos negócios de sua família, proprietária da loteadora Abussafi. Segundo o projeto, que esta em pauta da sessão desta quinta-feira, o vereador que a Prefeitura isente do pagamento do IPTU e taxas agregadas proprietários de imóveis considerados “inedificaveis”. Documentos obtidos pela Ong Meio Ambiente Equilibrando (MAE) na investigação do loteamento irregular do Conjunto Vale Verde – onde 121 terrenos estão embargados sob risco em área alagada de preservação ambiental – confirmam que em 1986 a família Abussafi adquiriu as cotas da Loteadora Nacional, fundada pelo atual presidente do IPPUL João Batista Bortolotti e que criou o loteamento no começo da década de 80. [..] o drama dos moradores não é novo: com casas feitas sob minas d’água e em áreas de alagamento do Córrego Inhambu, há infiltrações e rachaduras, com risco de desabamento permanentes. Os moradores não conseguem construir fossas porque as rochas são superficiais e é impossível um rede de coleta de esgoto subterrânea. [..] em 18 de abril de 2000, o prefeito Nedson Micheleti declarou 23 terrenos do Vale Verde como de utilidade pública, para integração ao patrimônio do município. O decreto, porém, perdeu validade porque nada mais foi feito (Londrix.com, 2007).

Como pode ser observado na Figura 4, boa parte das áreas de

preservação permanente estão ocupadas por residências.

50

FIGURA 4. Conjunto Vale Verde. Destaque para as áreas fotografadas e para o Córrego Inhambu. Fonte: Google Earth, 2009.

a b

c

Córrego Inhambu

Vale Verde

Loris Sayhum

A b, c – Localização das imagens registradas.

Córrego Inhambu

51

Em campo realizado no dia 10 de outubro de 2009 algumas descrições

contidas na reportagem acima mencionada, puderam ser comprovadas.

Como pode ser observado na Figura 5 em uma das casas onde os

moradores foram entrevistados, existe um afloramento de água. São 3 casas

construídas em um mesmo terreno, onde moram no total 7 pessoas; face aos

problemas, em períodos de chuva, um dos moradores “canalizou” de forma simplória

com canos de PVC a água, direcionando-a direto para bueiro. Entretanto, outro

aspecto foi levantado pelo morador:

“A residência vizinha, que também não possui ligação para tratamento

de esgoto, possui uma canalização direta para sua residência. Portanto, além da

nascente localizada dentro de seu terreno, este morador recebe o esgoto

proveniente desta casa vizinha, sendo um transtorno ainda maior durante as chuvas

constatando-se além da irregularidade da residência na área de nascente, a

poluição hídrica direta da mesma” (Levantamento de campo, nov. 2009).

De acordo com outra moradora residente na primeira casa deste

terreno, as autoridades públicas foram procuradas, como também as redes de

comunicação como jornais e a televisão, mas por enquanto a situação continua a

mesma.

52

FIGURA 5. Rua Rosa Morales Rodrigues – Conjunto Vale Verde. Destaque para os afloramentos de água. Fotos: Thamy B. Gioia. Fonte: Levantamento de campo, 2009.

Esgoto

Saída direta para o bueiro

a

53

Em entrevista com outro morador da mesma rua os mesmos problemas

foram levantados. Como pode ser observado na Figura 6 a residência está

localizada ao lado de um curso d’água, o Córrego Inhambu.

FIGURA 6. Rua Rosa Morales Rodrigues – Vale Verde. Destaque para o curso d’água ao lado da residência e saída de resíduos líquido direto da casa para o córrego. Fotos: Thamy B. Gioia. Fonte: Levantamento de Campo, 2009.

Além de estar localizada ao lado do curso d’água é importante destacar

que a residência possui uma canalização direta para o córrego da área interna da

residência onde ficam a garagem e um jardim, comprometendo a qualidade da água.

A nascente deste córrego localiza-se bem próxima a residência, onde

pode-se constatar que este curso d’água além de não possuir sua área de

preservação permanente está comprometida já no inicio de seu curso natural.

b

54

FIGURA 7. Rua Joaquim X. de Lima – Vale Verde. Destaque para nascente do córrego Inhambu. Foto: Thamy B. Gioia

De acordo com dados obtidos junto a Prefeitura de Londrina, com base

em documentos contidos nos arquivos destes loteamentos, atualmente os lotes do

Vale Verde encontram-se na seguinte situação:

Nascente

Nascente

c

55

TABELA 3 – Lotes embargados para construção e lotes em área de preservação permanente no loteamento Vale Verde.

Situação Quadra Lote

3 34,36,37,38

11 2

4 1,5,6,10

5 1,2,3,5,6,7,8,9,10

5ª 3,4,5,6,8,10

6 12,20

7 2,10,12,13,15,18,20,22,24,25,29

Embargado para construção

8 7,16

3 35

4 11,7,8,9

5 4

5ª 1,2,7,9

6 4,5,6,7,8,9,10,11,13,14,15,16,17,18,22,23,24,25

,26,27,28,29,30

7 7,8,9,11,14,15,16,17,19,21,30

8 9,10,11,12,13,14

Construções em área de

preservação permanente

Fonte: Prefeitura de Londrina. Laudo SEMA 24/2007.

Mesmo com legislação pertinente, comprometida com a preservação

dos mananciais urbanos e com a qualidade de vida população (como consta na Lei

133 de 1951 descrita acima), a inadequação da área para fins de habitação passou

“despercebida’’ aos olhos do poder público. Após 30 anos nesta situação, a

população permanece sem o apoio da prefeitura, e sem soluções definitivas.3

Fica clara a atuação (ou falta de) do Estado (poder público). Desde a

análise do projeto e da área, fiscalização e agora com o levantamento dos

problemas mencionados, o Estado tem participação direta no que diz respeito a este

3 Segue em tramite atualmente a análise pela SEMA - Secretaria do Meio Ambiente de Londrina, de outro laudo elaborado por profissional contratado a pedido da loteadora responsável pelo conjunto Loris Sayum, que localiza-se ao lado do Conjunto Vale Verde. Este laudo questiona a veracidade das informações contidas no laudo elaborado pela SEMA em 2007.

56

processo por se tratar de uma necessidade visível de realocação desta população

ou ressarcimento pelo valor despendido na compra dos lotes e nas construções.

Retira-se do morador, o direito de construir. Além desta infração

perante a lei, tem-se a infração perante a legislação municipal e federal referente a

preservação dos cursos d’água e das área de preservação ambiental.

Neste caso trata-se mesmo de uma questão de segurança e saúde

pública. Pois é inadmissível a permanência de moradores em meio ao esgoto,

devido às diversas doenças possivelmente transmissíveis e devido a fragilidade das

construções que podem vir a ceder por se tratar de áreas de nascentes.

Dentre os impactos socioambientais observados na área destacam-se

a:

• Degradação do Córrego Inhambu;

A proximidade de residências junto ao curso d’água acarreta a degradação

do córrego através da contaminação por esgoto doméstico e resíduos

diversos, principalmente em épocas de chuva (Figura 6).

• Ausência de vegetação nas áreas de preservação permanente : As

alterações topográficas sofridas com a construção das residências,

provocaram erosões, carregamento de sedimentos e o assoreamento do

córrego(Figuras 4,6 e 7).

• Residências localizadas em área de inundação, constantes transtornos

em períodos de chuva e susceptibilidade da população à doenças de

vinculação hídrica4 (Figura 6).

• Devido a proximidade das casas junto ao curso d’água, em períodos de

muita chuva, a água atinge limites dos leitos maiores inundando as casas e

4 Sugere-se fazer levantamentos mais específicos através de registros nas UBS - unidades básicas de saúde próxima ao bairro.

57

causando transtornos para os moradores, além da área ser propícia para

disseminação de vetores causadores de doenças.

3.1.2 Jardim Primavera

Mesmo diante das leis que consideram a importância da

regulamentação e gestão adequada do uso do solo, passado mais de 20 anos ainda

encontra-se velhos problemas na liberação de conjuntos Habitacionais e

loteamentos em locais inadequados na cidade de Londrina. Para melhor expor a

realidade local segue trecho de um artigo de jornal de circulação regional expondo a

situação do bairro Neman Sayhun (zona leste de Londrina), construído em área de

preservação permanente:

Moradores do conjunto Neman Sayhun fizeram um protesto nesta manhã de segunda-feira (19) no Centro Cívico de Londrina cobrando providências das autoridades do Executivo e do Judiciário para o embargo dos lotes de suas moradias, construídas pela loteadora Pavibrás em área de preservação ambiental. [...] O Executivo e o IAP também são alvos da ação porque deram sinal verde para o loteamento irregular. A Prefeitura emitiu ‘habita-se’ aos proprietários” (Londrix.com,2007).

Mesmo com essas denúncias no ano seguinte um novo problema

envolvendo um conjunto habitacional repercutiu nos jornais locais:

Mesmo com estudos que indicaram a falta de profundidade do solo em parte do loteamento Jardim Primavera (zona norte) os órgãos públicos por onde passou o processo de loteamento não conseguiram impedir a construção de casas em desacordo com as especificações técnicas exigidas pelos próprios órgãos. O loteamento foi autorizado pela Secretaria de Obras em 1997. Na edição de ontem, o JL mostrou que, devido à presença de uma ‘laje’ (parede rochosa próxima à superfície que impede a infiltração da água no solo), pelo menos 28 casas do Jardim Primavera, construídas por Jorge Kazuo Takahashi e financiadas pela Caixa Econômica, apresentam problemas de infiltração, rachaduras nas paredes, umidade e fossas rasas (JORNAL DE LONDRINA, 2008).

58

Construídas sobre rocha, casas começam a apresentar defeitos

em Londrina.

As más condições de moradia e saneamento básico enfrentadas por pelo menos 28 famílias do Jardim Primavera (zona norte de Londrina, Norte do Paraná) têm sua origem escondida debaixo da terra. As casas, construídas há no máximo três anos, estão sobre uma laje – formação de placa rochosa que beira a superfície do solo – e apresentam problemas de infiltração, rachaduras e umidade nas paredes. Não há rede coletora de esgoto e algumas das fossas tem pouco mais de meio metro de profundidade [..] As casas que apresentam problemas foram erguidas pelo construtor Jorge Takahashi e correspondem à quadra 2 do loteamento [..] Ossamu Kaminagakura, diretor de loteamentos da Secretaria Municipal de Obras, não descarta a possibilidade de ter ocorrido erro técnico no teste de sondagem e, segundo ele, a responsabilidade pela falha seria da loteadora. ‘Uma vez apresentado o teste de sondagem, acatamos o documento apresentado. É como se fosse uma receita médica: o farmacêutico vende o remédio sem questionar o médico”, comparou.’ [...] A promotora do Meio Ambiente, Solange Vicentin, destacou a necessidade de avaliar o teste de sondagem de profundidade de solo, que tem de ser apresentado como requisito para aprovação do loteamento. O teste deveria ter indicado a presença de rochas e mostrado a inviabilidade da construção de fossas. Porém, o documento não foi encontrado no processo de autorização do loteamento junto ao Instituto de Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL), nem na secretaria de obras. Procurada pela reportagem do JL, a loteadora Sena Construções também negou ter o documento. O diretor da empresa, Max Lobato Sales, confirma a existência do afloramento de rochas na região, mas disse que ‘fazer casa em cima de pedra não é problema’, já que a ‘ técnica de engenharia resolve em cima da rocha ou em cima da terra.’ [..] Pelo menos 28 famílias do Jardim Primavera decidiram se unir e reivindicam uma solução para os problemas recorrentes do loteamento. ‘Em fevereiro deste ano, eu estava grávida e a minha casa ficou completamente alagada’, conta indignada Marina Silva, moradora de uma das casas. ‘Meu filho mais velho piorou da bronquite com a umidade da parede’, completa. [..] O ‘jeitinho’ encontrado para evitar, inutilmente, o esgotamento das fossas rasas, agravou ainda mais a situação ambiental do Jardim Primavera. As casas da Rua João Esteves, que estão entre as moradias com problema, apresentam ligação irregular de encanamento da cozinha, tanque e chuveiro às galerias pluviais, que deveriam apenas direcionar a água da chuva (JORNAL DE LONDRINA, 03 nov. 2008).

59

A desocupação do fundo de vale do Córrego Sem Dúvida trata-se de

um instrumento corretivo do poder público, considerando que de acordo com a lei nº.

7.483 de 20 de julho de 1998 que dispõe sobre o parcelamento do solo para fins

urbanos no Município de Londrina, já descrita acima, não permite-se que áreas ao

longo de corpos d’água numa faixa e 30m ou no caso de nascentes em um raio de

50m, sejam ocupadas para qualquer fim.

Alem da legislação local, vale ressaltar as legislações ambientais, que

neste caso cabe ao código florestal, Lei federal 4.771 de 15 de setembro de 1965:

Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) Ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura 3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura 4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura.[..] c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura; [..]

Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo. (BRASIL,1965)

A Figura 8 a baixo traz a vista geral da área que compreende o Jardim

Primavera, os principais pontos onde foram registradas imagens do bairro, além da

localização do fundo de vale do córrego Sem Dúvida.

60

FIGURA 8. Jardim Primavera. Destaque para as áreas fotografadas e para o córrego Sem Dúvida. Fonte: Google Earth, 2010.

a

b

c

d

e

Córrego Sem Dúvida a,b,c,d,e – Localização das imagens registradas.

Córrego Sem Dúvida

f

61

Em vários pontos foram observados focos erosivos e taludes

decorrentes da remoção de solo não revestidos por vegetação, o que se torna um

grande problema para a população em períodos de chuva. Grande quantidade de

partículas e sedimentos do solo são carregados para as áreas mais abaixo no local.

(Figura 9).

FIGURA 9. Jardim Primavera. Destaque para os taludes desprovidos de vegetação formados a partir da remoção do solo e focos erosivos. Fotos: Thamy B. Gioia. Fonte: Levantamento de campo, 2009.

Nas entrevistas feitas junto aos moradores do Primavera, pode-se

perceber certo descontentamento quanto ao projeto desenvolvido pela Prefeitura

junto a COHAB e a construtora Marina para regularização da área e remoção da

população do fundo de vale. Dentre os pontos negativos destacados cita-se as

rachaduras nas casas, a falta de forros e a lama que em períodos de chuvas

causam um transtorno maior. De acordo com uma das moradoras entrevistadas

“Quando chove, a lama desce para a minha casa, inunda tudo devido à péssima

qualidade dos telhados. Levantamos um muro para conter o barro em dias de chuva,

a

62

mas mesmo assim é difícil.” Nesta residência moram seis pessoas e a família fazia

parte da ocupação Vale do Sol. A casa onde moram hoje foi construída pela COHAB

(Figura 10).

FIGURA 10. Rua Zephiro Modenute – Jardim Primavera. Destaque: Casa construída primeiramente pela Construtora Marine e concluída pela COHAB. Foto: Thamy B. Gioia. Fonte: Levantamento de campo, 2009.

Em uma outra residência, como pode ser observado na Figura 12,

moradores concertam os telhados da casa. A família faziam parte da ocupação Vale

da Lua e antes de virem para a área moravam no União da Vitória, extremo sul da

cidade de Londrina, outra área de ocupação irregular que já se encontra em fase de

regularização.

A casa também apresenta os mesmos problemas descritos pela

primeira entrevistada: rachaduras nas paredes e como diz o próprio morador

b

63

“quando chove a casa inunda” devido à má qualidade dos telhados. Nesta área as

casas possuem um padrão diferente das construções mais recentes, são maiores,

construídas pela construtora Marina (Figura 11).

FIGURA 11. Morador conserta telhado devido a chuva do dia anterior. Foto: Thamy B. Gioia. Fonte: Levantamento de campo, 2009.

Já em uma área mais acima, na rua Manzutti, uma das moradoras mais

integradas com os problemas da comunidade constatou que sua casa também

apresenta rachaduras e como não foram colocados forros, quando chove a casa

“inunda” causando muitos transtornos aos moradores. De acordo com a Senhora

Maria Lina, a comunidade buscou ajuda em diversos órgãos: Prefeitura Municipal, a

COHAB-Londrina, ao projeto Habitar Brasil, à Câmara de Vereadores e na secretaria

de obras, mas nenhuma atenção foi dada à situação exposta pelos moradores

(Levantamento de Campo, out. 2009).

Além dessas irregularidades particulares da engenharia e arquitetura,

outras foram levantadas com a ajuda dos próprios moradores. Como conta Dona

Maria Lina há 12 anos, havia 5 nascentes em uma área acima de sua casa. Para a

construção de algumas casas 4 das nascentes foram soterradas.

Como pode ser observado na Figura a baixo (12) a nascente realmente

existe e sem a proteção e preservação adequada. Próxima a área localiza-se duas

residências, quando chove e aumenta o fluxo da água o solo é removido com

bc

c

64

facilidade causando alem de impactos ambientais, risco quanto a segurança da

população residente no entorno.

FIGURA 12. Localização de nascente e áreas entorno. Foto: Thamy B. Gioia. Fonte: Levantamento de campo, 2009.

Em uma outra área já próximo ao Conjunto Habitacional Aquiles

Stenguel outra irregularidade pode ser observada. Devido a chuva de dias

anteriores, o esgoto “jorra” a céu aberto, percorrendo pela rua e caindo direto no

Córrego Sem Dúvida, onde deveriam apenas chegar as águas pluviais (Figura 13).

d

65

FIGURA 13. Esgoto a Céu aberto sendo lançado no córrego Sem Dúvida. Fotos: Thamy B. Gioia e Ricardo M. Venturelli. Fonte: Levantamento de campo, 2009.

Principais Impactos socioambientais levantados:

• Soterramento de nascentes;

Neste caso os assoreamentos das nascentes foram ocasionados pela ação

antrópica tendo por intuito a utilização das áreas para construção de casas

(Figura 12).

• Poluição hídrica por esgoto doméstico;

Algumas áreas do Jardim Primavera apresentam espessura de solo

insuficiente para esgotamento sanitário. Nestes locais principalmente em

períodos de chuva, evidencia-se o transborde desses resíduos (Figura 13).

e

66

• Erosão e carregamento de partículas

Devido a ausência de vegetação e a proteção das áreas de maior declive

verifica-se erosões em algumas áreas e o carregamento do solo para as áreas

de fundo de vale, o que compromete a qualidade da água no Córrego Inhambu

(Figura 14).

FIGURA 14. Fundo de vale do Córrego Sem Dúvida. Fotos: Ricardo M. Venturelli e Thamy B. Gioia. Fonte: Levantamento de campo, 2009.

• Infiltração, rachadura e umidade nas paredes das casas em períodos de

chuva. Estas inadequações provem principalmente do material de má

qualidade do material utilizado para a construção das residências. 5

Fica claro que um dos principais objetivos do projeto de readequação

da área não está sendo efetuado. Boa parte da área de mata ciliar está

desprovida de vegetação, além da poluição hídrica pelo despejo de esgoto direto

no Córrego Sem Dúvida; Quanto a melhoria da qualidade de vida e segurança da

população pouco se vê de efetivo. As casas não foram construídas de forma a

atender realmente as necessidades básicas;

5 Não foi autorizada a reprodução de imagens dos interiores das residências.

f

67

4 ANÁLISE DA PROBLEMÁTICA URBANA EM LONDRINA A PARTIR DA AÇÃO DO ESTADO.

Após todas essas considerações mediante análises e observações

efetuadas em campo em loteamentos irregulares6 em Londrina e baseando-se nas

legislações pertinentes, podem-se levantar alguns pontos centrais para o

entendimento da ineficiência do gerenciamento urbano em Londrina. Dentre elas a

negligência administrativa dos responsáveis por recebimento e análise dos projetos

de habitação, a falta de critérios e termos mais específicos referente a alguns dos

documentos e estudos obrigatórios pela lei, a falta de uma fiscalização mais ativa

além da própria corrupção.

Hoje na cidade de Londrina para se obter a licença final para instalação

de loteamentos para fins habitacionais segue-se um longo percurso. O

empreendedor que desejar solicitar o “habite-se” deverá cumprir obrigações perante

a Prefeitura municipal protocolando documentos já citados acima (Lei 7.483/1998)

além de ter por dever solicitar as respectivas Licenças Ambientais junto ao IAP

(Instituto Ambiental do Paraná).

Vários são os documentos e relatórios técnicos exigidos, muitos deles

essenciais do ponto de vista do planejamento, como o caso dos Estudos de Impacto

Ambiental (EIA), Estudos de Impacto de Vizinhança (EIV), dentre outros relatórios

mais simplificados.

Pergunta-se então: porque há tantos empreendimentos licenciados em

áreas inadequadas perante a própria legislação?

Talvez a resposta estenda-se por duas vertentes: a da negligência

perante a análise adequada dos documentos e relatórios apresentados e a

corrupção tão “impregnada” na política do país. Tanto o Vale Verde como o Jardim

6 Considera-se que esses Conjuntos habitacionais estão irregulares por localizarem-se em área impróprias com base nos regulamentos das leis 133/1951 e 7.483/1998.

68

Primavera não estão irregulares por ausência de documentos ou de alvará expedido

pela prefeitura. Os moradores possuem documentação que comprovam a

autenticidade desta regularidade. Entretanto, do ponto de vista das legislações

vigentes para os períodos de instalação dos mesmos, estes, encontram-se

irregulares.

A negligência pode partir de um simples ato de descaso de poucas

cobranças quanto às funções e atividades desempenhadas por alguns dos cargos

públicos7, ou pelo ato da corrupção, onde decisões de caráter e importância pública

ganham valores em dinheiro para o benefício de alguns que detém o poder das

decisões públicas.

De fato o poder público corruptível torna-se um empecilho gravíssimo

para o desenvolvimento adequado tanto do País, como dos Estados e dos

municípios.

Infelizmente, Londrina também se tornou palco dos escândalos da

corrupção. Várias são as notícias publicadas em jornal regional questionando as

ações da câmara de vereadores em aprovar projetos de construção em locais

impróprios mediante as leis de uso e ocupação do solo.

No ano de 2008, o Ministério Público Estadual, publicou o seguinte

protocolo:

Ministério Público denuncia vereador Orlando Bonilha.

Fruto de investigação conjunta entre o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e a promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público de Londrina, o Ministério Público da comarca protocolou nesta segunda-feira (25) denúncia contra o vereador Orlando Bonilha Soares Proença, ex-presidente da Câmara Municipal, por concussão (em razão da função pública que ocupa, exigir, para si ou para outro, direta ou indiretamente, vantagem indevida). [..] A denuncia relata fato que teria ocorrido em dezembro de 2003, quando o então presidente da Câmara teria exigido R$ 12 mil do

7 É importante que fique claro que autor não critica de forma generalizada a todos os funcionários públicos, pois entende que muitos cumprem com as obrigações de suas funções.

69

dono de um lote de mais de 6 mil m2. Sob pena de não colar em votação projeto de lei que alteraria o zoneamento de parte de uma rua da cidade onde estava o terreno, de ZR-2 para ZC-6. A alteração do zoneamento permitiria que a propriedade fosse vendida a um empresário, para que nela fosse instalada uma cervejaria. Temendo a inviabilização de negócio, pela não inclusão do projeto na pauta de votação e a conseqüente não aprovação dele, o dono do terreno teria voltado ao gabinete de Bonilha e entregue a quantia exigida, em espécie (JORNALE, 25 fev.2008).

A importância de um zoneamento adequado está em não permitir que o

crescimento da cidade seja feito de forma desordenada e de forma a implicar na

qualidade de vida e na segurança da população.

Neste caso liberar uma das ruas até então sob a categoria de ZR-2 ou

Zona Residencial 2, para passar a atender os requisitos de ZC-6 ou zona comercial

6 não implicaria a grandes modificações ou impactos locais. Entretanto, a

importância deste caso está no poder que tal vereador utilizou para manipular a lei

em beneficio próprio e como conseqüência beneficiar também, o futuro comerciante.

Ainda em junho de 2008 as investigações apontavam outras ações do

vereador Orlando Bonilha em Londrina:

Orlando Bonilha confirma recebimento de propina para aprovar lei.

O ex-vereador de Londrina (Norte) Orlando Bonilha (PR) prestou um novo depoimento, na manhã desta quarta-feira (11) no fórum da cidade. Perante a juíza da 3 Vara Criminal, Zilda Romero, Bonilha reafirmou as denúncias sobre o pagamento de propina para a Câmara aprovar o projeto de doação de um terreno público em Londrina. [..] O processo investiga a suposta cobrança de propina contra o empresário Marcelo Caldarelli em troca de aprovação de uma lei doando uma área pública de 3,2 mil metros quadrados localizada no Jardim Bela Suiça. [..] O ex-vereador Orlando Bonilha é acusado de comandar um esquema de cobrança de propinas a empresários da cidade, para que projetos de Lei fossem aprovados na Câmara. O ex-vereador ficou três dias presos. O fato de contribuir com a justiça ajudou Bonilha a conseguir a liberdade (PORTAL RPC, 11 jun.2008).

70

Mesmo após o escândalo do vereador Orlando Bonilha, recentemente

encontra-se em investigação o caso do vereador Rodrigo Gouvea. Ele é acusado de

cobrar propina de um engenheiro para aprovação de alteração do Projeto “Minha

Casa, Minha Vida” 8.

Cobrar propina é escárnio contra a população, diz sociólogo.

Foi com surpresa e indignação que os leitores do Bonde reagiram a noticia de que um vereador recém- eleito – Rodrigo Gouvea (PRP) – está envolvido em denúncia de extorsão contra um empresário da cidade. A situação chama a atenção porque a maioria dos vereadores da legislatura passada citados como participantes de um esquema de cobrança de propina para a aprovação de leis municipais foi rejeitada pela população e acabou não reeleita. [..] A denuncia envolvendo o vereador Rodrigo Gouvea se tornou pública na quinta-feira da semana passada (3). O empresário, em depoimento ao Ministério Público teria confirmado a tentativa de extorsão, que teria ocorrido no prédio do legislativo. Gouvea teria pedido dinheiro para votar favoravelmente ao projeto de lei do Executivo que estabeleceu normas para o programa ‘Minha casa, minha vida’ em Londrina. Mauricio Costa é engenheiro e proprietário da Construtora Bonora & Costa, que atualmente executa contrato firmado com a Caixa Econômica Federal para edificar casas na zona norte. [..] Em 2008, o escândalo envolvendo a investigação sobre o esquema de cobrança de propina na Câmara dominou o cenário político. Apontada por muitos como o pior momento da do Legislativo Londrinense, a crise ética fez com que um vereador fosse cassado – Orlando Bonilha – e um renunciasse para fugir da cassação – Henrique Barros. As investigações começaram quando Barros foi flagrado pela Policia Civil e agentes do Ministério Público com R$ 9,9 mil, que teria acabado de receber de empresários, a título de propina. [..] A partir da confissão e das acusações contra outros vereadores, os promotores descobriram que muitos parlamentares participaram do esquema. Doze dos então 18 vereadores foram investigados e quase todos chegaram a ser afastados do cargo, incluindo o então presidente da Câmara, Sidney de Souza (PTB). (O BONDE, 06 set.2009).

8 Trata-se de um projeto do Governo Federal que viabiliza a Construção de casas para famílias que recebem até 10 salários mínimos. Mais informações podem ser obtidas no site http://www.minhacasaminhavida.gov.br/.

71

Rodrigo Gouvêa estava preso no Centro de Detenção e

Ressocialização (CDR), mas por decisão judicial recebeu habeas corpus e

recentemente foi preso novamente.

Além dessas questões vale ressaltar a necessidade de padrões

técnicos mais específicos como no caso das sondagens. Consta na lei 7.483 apenas

a exigência dos resultados dos boletins de sondagem, mas não são especificados os

métodos que devem ser utilizados. Quanto maior o número de sondagens maiores

as informações obtidas e a autenticidade do relatório elaborado.

De acordo com Brito (2009) geólogo da empresa CMB Consultoria em

Mineração e Meio Ambiente em entrevista no dia 29 de outubro de 2009, a

importância de se fazer sondagens está no levantamento da espessura da camada

de solo que interfere nas condições de saneamento para esgotamento sanitário e no

levantamento das características física do solo (porosidade, compactação, absorção,

etc), dados que permitem a análise das condições de permeabilidade do solo.

A partir desses levantamentos é possível evitar impactos para

população como das condições impróprias do solo para esgotamento sanitário que

podem causar sérios danos para a saúde da população além de questões de

segurança, pois condições geotécnicas inadequadas interferem diretamente na

construção das residências. A inadequação da área pode causar subsidência,

solapamento e rachaduras nas construções.

Para Brito (2009), as áreas de várzea, banhados ou veredas, próximos

dos córregos e nascente são área de saturação, descarga de água das áreas mais

altas (área de recarga). Quando chove, é natural que essas áreas fiquem inundadas.

É a combinação da declividade e da espessura do solo. Essa é a combinação que

causam os principais impactos vistos no Conjunto Vale Verde (zona leste). Já as

inobservâncias das condições geotécnicas de um determinado terreno causam os

impactos vistos no Jardim Primavera (zona norte).

72

De acordo com a norma ABNT/NBR 6484 que dispõe sobre o método

de execução de sondagem simples que cabe para aplicações como a determinação

dos tipos de solo e suas propriedades, a posição do nível do lençol freático e os

índices de resistência à penetração especifica, a exigência é de um ponto de

sondagem a cada metro, entretanto a lei 7.483/1998 não tem esta especificidade. O

que torna os laudos apresentados de uma veracidade subjetiva, pois ficando os

padrões e métodos a cargo do técnico, este pode, mediante seus interesses ou até

mesmo pela falta de experiência e conhecimento, não levantar pontos importantes

de uma área onde os padrões são inadequados para a liberação de construções.

A fiscalização também é um item muito importante, mesmo que esta

fiscalização seja destinada apenas para verificações quanto a infraestrutura

implantada em determinado conjunto habitacional, muitas irregularidades podem ser

levantadas em uma observação geral. Como no caso de nascentes e das áreas de

APP. São necessários, além dos profissionais que atuam na fiscalização, um que

seja responsável por tal observação, comparando dados disponibilizados no projeto

inicial junto ao andamento das obras.

73

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das pesquisas pertinentes a cidade de Londrina e a ação do

Estado no espaço urbano tendo por base as Leis de Parcelamento do Solo Urbano

desde 1951, pode-se concluir que nos casos do Jardim Primavera, zona norte de

Londrina e no Conjunto Vale Verde zona leste, pouco do que realmente é estipulado

pela lei e pelas regulamentações é efetivo.

No caso do Conjunto Vale Verde liberado desde 1980 em área de

sérias restrições ambientais a negligência ainda persiste, considerando que a

população ainda vive em locais onde afloram o esgoto, nascentes que podem vir a

causar a desestruturação de suas residências, além do transtorno em períodos de

chuva, quando as residências próximas ao curso do Córrego Inhambu, são

atingidas.

Já no caso do Jardim Primavera, o intuito de correção e readequação

de uma área de fundo de vale, até então ocupada irregularmente, observa-se que o

projeto em si não foi efetivado considerando que a revegetalização da área de

preservação não foi devidamente concluída e cuidada, além do fato de que algumas

das casas do Conjunto Habitacional possuem ligação de esgoto direto para o

Córrego Sem Dúvida. As casas não foram construídas de forma a atender as

necessidades de segurança da população, tendo por conseqüência a criação de

novas irregularidades.

As leis formuladas com o intuito de instrumento de Planejamento e

mesmo gestão do Espaço urbano são importantes, pois é através da aplicação

efetiva destas leis que a cidade pode encontrar uma forma correta de ordenação,

buscando o desenvolvimento e o conseqüente aumento no padrão quanto a

qualidade de vida de sua população.

Mesmo sendo de dever do poder público zelar pela aplicação destas

leis o que se vê não só em Londrina, mas em várias cidades do País, é a utilização

das mesmas para favores particulares. Ao mesmo tempo em que setores

econômicos poderosos da cidade lucram alterando os padrões de zoneamento

74

urbano intermediado por acordos ilícitos junto a representantes públicos, boa parcela

da população de baixa renda fica a mercê da negligência.

Vê-se de extrema necessidade, que os padrões e as características de

avaliação para parcelamento do solo para fins de habitação sejam revistos, pois os

padrões atuais não atendem a todas necessidades para que se garanta a segurança

da população, como nos casos dos padrões de sondagens e da fiscalização mais

comprometida com as características físico-naturais das áreas.

É necessário também que a população esteja atenta a estes padrões e

aos seus direitos buscando que tais negligências não ocorram. E é também dever

dos cientistas humanos dedicados ao estudo do Espaço Urbano, desenvolverem

mais trabalhos direcionados a irregularidades de ocupação do solo urbano,

buscando denunciar de forma técnica e científica tais questões.

De nada adianta a formulação de leis socialmente democráticas

voltadas para um planejamento urbano participativo se efetivamente tais leis não são

aplicadas ou aplicadas de forma não totalitária pela falta de fiscalização de um poder

público que representa e deve trabalhar pelo bem estar da população.

Um planejamento efetivo e adequado, de forma a atender as

necessidades da população e buscando o desenvolvimento sustentável tão

almejado deve simplesmente aplicar suas leis, formuladas por profissionais

dedicados e especializados no estudo das características técnicas do espaço

urbano, mas também considerando a importância da participação da população, pois

é esta população que mais ira se beneficiar ou se prejudicar com a falta da aplicação

destas leis.É importante também que pesquisadores estejam atentos e possam

auxiliar perante o surgimento de novas ilegalidades.

Portanto, o não atendimento as legislações 133/1951 e 7.483/1998

geram problemas como os citados neste trabalho.

75

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT – Associação Brasileira de normas técnicas. NBR 6484/2001 Solo – Sondagens de simples reconhecimento com SPT. Disponível em: http://www.abms.com.br/normas/NBR11682_03-08-06.doc. Acesso em 10.Nov.2009. ALMEIDA, Roberto S. de. Atuação recente da incorporação imobiliária no município do Rio de Janeiro.1982. Dissertação. (Mestrado em geografia). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. ANDRADE, Manuel Correia de. Poder Político e Produção do Espaço. Recife: Massangana, 1984, 129p. Assessoria de Imprensa.Ministério Público do Paraná. LONDRINA - MP-PR denuncia ex-presidente da Câmara por exigir vantagem indevida para aprovação de projeto. Disponível em: http://celepar7cta.pr.gov.br/. Acesso em 15 Set.2009. ATLAS AMBIENTAL DE LONDRINA. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/atlasambiental/. Acesso em 10.Out.2009. BARBOSA, Valter Luis e NASCIMENTO JUNIOR, Antonio F. O Plano Diretor e as situações ambiental e urbana em Bauru-SP. Geografia - Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, v.7, n.2,p.87-109, jul-dez, 2008. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Resolução nº 01, de 23 de Janeiro de 1.986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiano1.cfm?codlegitipo=3&ano=1986>. Acesso em: 06 nov. 2009.

______. Lei Federal nº. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 10 jul. 2001.

______. Código Florestal lei nº. 4.771 de 1965. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 15 Out. 2008. ______. Lei nº. 6.766 de 1979 dispõe sobre o parcelamento do solo urbano. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L6766.htm>. Acesso em 10. out.2009. BRASIL, Ministério das Cidades. Plano Diretor Participativo: Guia para elaboração pelos municípios e cidadãos. Disponível em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/doutrinaparcel_32.pdf. Acesso em 18. Ago.2009.

76

BROMLEY, R; BUSTELO, E.S (Orgs).Política x técnica no planejamento. SP:Brasiliense, 1982.251p. CARLOS, Ana Fanni Alessandri. A Cidade. São Paulo: Contexto, 2002. CAZOTI, Jose Augusto. A declividade como elemento de análise ambiental nos projetos de implantação de loteamentos destinados a habitação social.2004. Monografia (Especialização em Análise Ambiental em ciências da Terra) Universidade Estadual de Londrina, Londrina. CLARK, David. Introdução à Geografia Urbana. 2ed. Bertrand Brasil: São Paulo, 1982. p. 286 Cobrar Propina é escárnio contra população, diz sociólogo. O Bonde, Londrina, Set.2009. Disponível em: <http://www.bonde.com.br/bonde.php?id_bonde=1-3--126-20090906. Acesso em 06. Set.2009 COELHO, Maria C.N. Impactos Ambientais em áreas urbanas – teorias,conceitos e métodos de pesquisa. In: GUERRA, Antonio J. T. e CUNHA, Sandra B. da (orgs). Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,2001 CORRÊA. Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 1994. ______. . Região e Organização espacial. 6ed. São Paulo: Ática, 1998. p93. FERNANDES, Edésio. Impacto socioambiental em áreas urbanas sob a perspectiva jurídica. In: MENDONÇA, Francisco (org). Impactos socioambientais urbanos. Curitiba: Ed. UFPR, 2004. p. 99- 125. FERREIRA, Erica. O poder público na produção do espaço urbano em cidades pequenas: o caso do programa de desfavelamento em Paraguaçu Paulista – São Paulo.In: Simpósio sobre Pequenas Cidades e Desenvolvimento Local,I/Semana de Geografia, XVII,2008, Londrina. Anais...Londrina:UEL,2008. GASPARINI, Diógenes. Plano Diretor. In _____:O Estatuto da Cidade. São Paulo: NDJ, 2002, p. 195-204. GUERRA, Antonio José Teixeira e CUNHA, Sandra Baptista da (orgs). Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. 4ºed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, 416.p. HARVEY, David. A justiça social e a cidade. São Paulo: Hucitec, 1980, 291p. JACOBI, Pedro. Impactos socioambientais urbanos – do risco à busca de sustentabilidade. In: MENDONÇA, Francisco (org). Impactos socioambientais urbanos. Curitiba: Ed. UFPR, 2004.p. 169-184.

77

KAPLAN, Marcos. Aspectos políticos do Planejamento na América Latina. In: BROLEY, R;BUSTELO, E.S (orgs). Política x técnica no planejamento. São Paulo: Brasiliense, 1982, p.84-122. KOTSAN, Adriano.Orlando Bonilha confirma recebimento de propina para aprovar lei. Jornal de Londrina, Londrina, jun.2008. Disponível em: < http://www.portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vodapublica/conteudo.phtml?id=775320>. Acesso em 17. Set.2009. LEFEBRVE, Henry. O direito a cidade. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2001, 145p. ______. A Revolução Urbana. (trad. Sérgio Martins). Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 1999. LONDRINA. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina – IPPUL. Histórico. Disponível em <http://www.londrina.pr.gov.br/ippul/historico.php#historico>. Acesso em: 06 nov. 2009.

LONDRINA, Perfil 2008-2007. Disponível em: http://home.londrina.pr.gov.br/homenovo.php?opcao=home&item=perfil. Acesso em 08. Ago.2008.

LONDRINA. Lei nº. 7.482, de 20 de julho de 1998. Institui o Plano Diretor do Município de Londrina e dá outras providências. Jornal Oficial do Município de Londrina. Londrina, 28 jul. 1998, ano III, nº 104. Disponível em <http://home.londrina.pr.gov.br/jornal_oficial/arquivos/jornal_0104.php3>. Acesso em: 07 nov. 2009.

______. Lei nº. 7.483, de 20 de julho de 1998. Dispõe sobre o parcelamento do solo para fins urbanos no Município de Londrina e dá outras providências. Jornal Oficial do Município de Londrina. Londrina, 28 jul. 1998, ano III, nº 104. Disponível em <http://home.londrina.pr.gov.br/jornal_oficial/arquivos/jornal_0104.php3>. Acesso em: 07 nov. 2009.

______. Lei nº. 9.869, de 20 de dezembro de 2005. Dispõe sobre novos empreendimentos considerados pólos geradores de tráfego e ruídos que ofereçam risco ambiental e demandem adequações na infra-estrutura urbana a serem implantadas no perímetro definido nesta. Jornal Oficial do Município de Londrina. Londrina, 20 dez. 2005, ano VIII, nº 708, p. 17. Disponível em: <http://home.londrina.pr.gov.br/jornal_oficial/index.php?pg=5>. Acesso em: 07 nov. 2009.

______. Lei nº. 10.637, de 24 de dezembro de 2008. Institui as diretrizes do Plano Diretor Participativo do Município de Londrina - PDPML Disponível em<http://home.londrina.pr.gov.br/plano_diretor/lei10637_08.pdf >. Acesso em: 07 nov. 2009.

78

______. Lei nº. 133, de 07 de dezembro de 1951. Dispõe sobre a execução de arruamentos e loteamentos em qualquer zona do Município. Disponível em: http://www2.cml.pr.gov.br/lnd/lnd/index.html. Acesso em: 30 out. 2009.

______. Proposta Plano Diretor 2008. Disponível em: http://home.londrina.pr.gov.br/hom. php?opcao=home&item=plano_diretor. Acesso em: 30 out. 2009.

MARQUES, Eduardo Cesar e BICHIR, Renata Mirandola. Estado e espaço Urbano - revisitando criticamente as explicações correntes sobre as políticas estatais urbanas. Disponível em: http:// www.centrodametropole.org.br/pdf/curitiba_marques_bichir.pdf. Acesso em 10. Set. 2009. MARTINS, Victor Hugo Teixeira. HABITAÇÃO, INFRA-ESTRUTURA E SERVIÇOS PÚBLICOS: Conjuntos Habitacionais e suas temporalidades em Londrina-PR. 2007.Dissertação (Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina. MENDONÇA, Francisco. S.A.U – Sistema Ambiental Urbano: uma abordagem dos problemas socioambientais da cidade. In:______. Teorias socioambientais urbanas.Curitiba: Ed. UFPR,2004. p. 191-192 MENECHIO, Laila. Mapa de loteamento apontava falta de profundidade do solo.Jornal de Londrina. Disponível em : <http://portal.rpc.com.br/jl/edicaododia/conteudo.phtml?id=824469>. Acesso em : 20 out.2009.

Ministério Público denuncia vereador Orlando Bonilha. Jornale Curitiba. Disponível em:<http://jornale.com.br/zebeto/2008/02/25/ministerio-publico-denuncia-vereador-orlando-bonilha/>. Acesso em 09. Set.2009. MORAES, A. C. R; SANTOS, T. C; COSTA,W. M . Políticas Concretas em bases movediças: como ordenar? In: Ministério da Integração Nacional, anais da Oficina sobre a política nacional de ordenamento territorial. Brasilia,2005,p.41-59. Moradores do Neman Sahyun protestam no Centro Cívico. Londrix.com, Londrina 19 set 2007. Disponível em: <http://www.londrix.com.br/noticias.php?id=41921>. Acesso em : 30 Mar. 2009.

NYGAARD, Paulo Dieter. Planos Diretores de cidades: discutindo sua base doutrinária. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2005, p.25-119. Ong identifica responsáveis por loteamento irregular do Vale Verde. Londrix.com, Londrina, fev.2007. Disponível em: < http://www.londrix.com.br/noticias.php?id=32815>. Acesso em; 30. Mar.2009.

79

PASSOS, Viviane Rodrigues de Lima. A verticalização de Londrina 1970/2000 - A ação dos promotores imobiliários. 2007. Dissertação (Mestrado em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina. PRANDINI, Neyde. Aspectos da Geografia Urbana de Londrina. In: FRESCA, Tania Maria e CARVALHO, Marcia Siqueira. Geografia e Norte do Paraná: um resgate histórico – v. 2. Londrina: Edição humanidades, 2007. p. 87-113. RODRIGUES, Arlete Moyses. Moradia nas cidades brasileiras. 2º ed. São Paulo: Contexto, 1989. 72p. ______. Os movimentos sociais urbanos e a questão da moradia. Boletim de Geografia Teorética.Rio Claro, v.22, n.43-44, p.173-176,1992. SANCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos,2008 SACHS, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI. In: BURSZTYN, M. (Orgs). Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1994. 22 p. SANTOS, Milton. O Espaço Dividido: Os Dois Circuitos da Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2004. p.440 SILVA, William Ribeiro da. Fragmentação do Espaço Urbano de Londrina.Geografia-Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, Londrina, v.10, n.1, p.5-14,Jan./Jun.2001. SIQUEIRA, Ademir Rodrigues. As condições sócio-ambientais e espaço urbano em Londrina –PR: Estudo de caso do Conjunto de Moradias Cabo Frio.2004. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina. SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade: uma introdução Crítica ao Planejamento e à Gestão Urbanos. 3ºed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004, 556p. TAKEDA, Marcos. As transformações da área central de Londrina: uma outra centralidade. 2004. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina. Vereador propõe projeto em beneficio própria, acusa ONG. Londrix.com, Londrina, Nov.2008. Disponível em: < http://www.londrix.com.br/noticias.php?id=52864.> Acesso em 14.Out.2009. VICENTINI, Yara e DINIZ FILHO, Luis Lopes. Teorias espaciais contemporâneas: o conceito de competitividade sistêmica e o paradigma da sustentabilidade ambiental. In: MENDONÇA, Francisco. Teorias socioambientais urbanas. Curitiba: Ed. UFPR, 2004.p; 129-147.