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V O ZES EM DEFESA DA FEC A D E R N O
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0 losacrucianismo no Brasil
PUBLICAÇÃO DO SECRETARIADO NACIONAL DE D E F E S A DA F É
O ROSACRUCIANISMO NO BRASIL
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VOZES EM DEFESA DA FÉ
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FREI BOAVENTURA, O. F. M.
O Rosacrucianismo no Brasil
PUBLICAÇÃO DOSECRETARIADO NACIONAL DE DEFÇSA DA FE’
ED1TÔRA VOZES LIMITADA 1959
I M P R I M A T U R POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR. DOM MANUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA, BISPO DE PE- TRÓPOLIS. FREI DESIDÉRIO KALVER- KAMP, O. F. M. PETRÓPOLIS, 2-III-1959.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
1) Origens Históricas
No ano de 1610 começou a circular na Alemanha um curioso manuscrito anônimo intitulado Fama Fraternitatis Rosae Crucis e que foi impresso quatro anos depois, em Cassei. Já no ano seguinte, em 1615, saía a quarta edição, juntamente com a Confessio Fraternitatis Rosae Crucis ad eruditos Europae, também anônima. Neste acréscimo publicou-se também um apêndice, no qual era narrada a fabulosa história de um certo C h r i s t i a n R o s e n k r e u t z , que feria sido o fundador da referida fraternidade e que também lhe teria dado o nome. Pois “Rosenkreutz” significa Rosa-Cruz. Êle teria nascido em 1378, na Alemanha. Internado num mosteiro, Christian teria feito aí seus estudos e aprendido o grego e o latim. Com 16 anos teria abandonado o convento e iniciado suas viagens pelo Oriente e pelo norte da África, onde teria travado relações com os filósofos e magos mais afamados da época. Com êstes novos conhecimentos teria resolvido fundar uma fraternidade para reformar o mundo. Teria morrido em 1482, com a avançada idade de 106 anos (por causa do Elixir da vida, por êle descoberto) no fundo duma caverna, onde teria passado seus últimos anos. Convertida em tumba, esta morada devia permanecer ignorada até 1604, época por êle determinada. E foi então que a fraternidade começou ,a ser conhecida, com a divulgação da Fama Fraternitatis, que foi enviada a to
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dos os estudiosos da Europa, com o pedido de apoio do projeto e de ingresso na fraternidade por parte das almas escolhidas. Esta proclamação encontrou eco favorável na sociedade da época, muito propensa a interessar-se pelas coisas esotéricas, mágicas e misteriosas. Surgiu assim uma vasta literatura de apaixonadas controvérsias sobre a conveniência de apoiar ou não aquela original sociedade. Os escritos da época nos apresentam a organização como uma sociedade secreta e misteriosa, composta de amigos fiéis, que se reuniam apenas em número de oito numa capela do “Espírito Santo”. Aí discutiam as propostas para a admissão de novos candidatos, as condições e as provas a que deviam ser submetidos, exigindo solene juramento de inviolável fidelidade, de guardar eternamente o segrêdo dos irmãos e de observar a mais rigorosa castidade. Dedicavam-se à alquimia e à aplicação da cabala e da ciência dos números ao descobrimento dos segredos mais ocultos. Diziam-se dotados de faculdades tão sobrenaturais que não estavam sujeitos a nenhuma necessidade dos homens em geral. Não sentiam nem fome nem sêde, não envelheciam nem estavam expostos a enfermidades. Do fundo de seus esconderijos percebiam clara e distintamente tudo quanto acontecia no mundo. Favorecidos pela revelação divina, conheciam perfeita- mente o interior dos homens, o que lhes permitia negar a entrada em sua instituição de homens que não fossem verdadeiramente dignos. Asseguravam também que entre os muitos livros misteriosos de suas bibliotecas possuíam um tão extraordinário que nele se encontrava o saber contido em todos os livros escritos no passado ou que se haveríam de escrever no futuro. Também tinham um idioma especial mediante o qual podiam exprimir a natureza de todas as
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coisas. Possuíam ainda poderes especiais para mandar sobre o demônio e os espíritos mais poderosos. A fôrça de seus cantos era tão poderosa que atraía as pérolas e as pedras mais preciosas... Ao mesmo tempo permanecia tão escondida a sociedade, que ninguém podia indicar sequer um só de seus membros.
No livro de A n d r i e n B a i 1 í e t, Vie de Monsieur Descartes, editado pela primeira vez em 1691, damos com uma interessante descrição da situação que êstes boatos em torno dos Rosacruzes criaram inclusive em espíritos tão esclarecidos como Descartes. Aliás, esta mesma notícia serve para desmascarar certa propaganda que os Rosacruzes estão fazendo atualmente aqui no Brasil: em jornais e revistas encontramos anúncios com desenho de Descartes e a misteriosa pergunta: “Por que foi famoso êste homem?” E a resposta vem logo: “— era Rosacruz!” Mas a realidade histórica, contada pelo contemporâneo Baillet, foi diferente. Leia-se o trecho, embora um tanto longo, que se encontra às pp. 39 da edição de 1946, feita em Paris pela La Table Ronde: “Sua solidão durante êste inverno [refere-se a 1619, nos dias que se seguiram ao dia 10 de novembro, quando descobriu seu Método] era sempre muito intensa, mormente em relação às pessoas incapazes de contribuir para o seu assunto. Mas esta solidão não excluía de seu quarto os curiosos, que sabiam discorrer sôbre ciência ou novidades literárias. Foi conversando com êstes últimos que [Descartes] ouviu falar de uma organização de sábios, radicada há algum tempo na Alemanha sob o nome de Irmãos da Rosa- Cruz. Foram-lhe sobremodo elogiados. Fizeram-lhe ver tratar-se de homens que sabiam tudo e que prometiam aos homens uma nova sabedoria, isto é, a verdadeira ciência que ainda não tinha sido descoberta. Preocupando-se com as novidades que lhe traziam e pelo barulho que esta organização propagava em tôda a Alemanha, sentiu-se abalado, ainda mais por encontrar-se no momento do grande impasse sôbre os meios a escolher na procura da verdade. Julgou não dever ficar indiferente em relação a êsses Rosacruzes, porque (como dizia seu amigo Musée) se se tratasse de impostores não seria justo deixá-los desfrutar duma fama mal adquirida, à custa da boa fé do povo; e caso trouxesse algo de novo ao mundo, que valesse a pena ser conhecido, seria desonesto de sua parte querer
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desprezar tôdas as ciências, entre as quais poderia encontrar uma cujos fundamentos êle ignorava. Sentiu-se então na obrigação de procurar algum dêsses sábios, a fim de os conhecer pessoalmente e de conferenciar com êles. Mas como um de seus estatutos era não parecer tais quais eram, de se não distinguirem dos demais homens, nem pelo traje, nem pelo modo de viver, e de não se darem a conhecer em suas conversas, não nos devemos admirar que tôda a sua curiosidade e tôda a sua solicitude foram em vão. Não foi possível descobrir um só homem que se declarasse membro desta organização ou deixasse suspeitar de o ser. Pouco faltou para arrolar a sociedade ao campo das quimeras. Mas foi impedido pelo barulho que faziam os numerosos escritos apologéticos em favor dos Rosacruzes, tanto em latim como em alemão. Não acreditou, todavia, dever recorrer a todos êsses escritos, seja porque se sentia inclinado a tomar os novos sábios como impostores, seja porque, tendo renunciado, aos livros, queria acostumar-se a nada julgar que à base da própria experiência. Eis por que não teve dificuldade nenhuma em declarar, alguns anos depois, que nada sabia dos Rosacruzes; e ficou surpreendido com seus amigos de Paris, quando regressou a esta cidade, em 1623, ouvindo que sua estadia na Alemanha lhe tinha alcançado a reputação de ser da confraria dos Rosacruzes,\
A obra inicial, como vimos, aparecera anônima. Descobriu-se depois que tôdas estas fantasias foram urdidas provàvelmente por um teólogo luterano de Würtenberg, João Valentim A n d r e a e (1586-1654), que quis assim satirizar a então predominante mania pelo oculto maravilhoso e ridicularizar o alquimismo ocultistà e os desvarios dos reformadores do mundo. Sucedeu, entretanto, exatamente o contrário. Pois a ficção foi por muitos recebida como uma realidade e saíram, como Descartes, à busca da fraternidade, desejosos de serem nela iniciados. Entretanto, como não conseguiram encontrar em parte alguma a misteriosa sede, alguns admiradores mais hábeis tentaram organizar, êles mesmos, e nos moldes indicados naquelas obras anônimas, sociedades secretas Rosa-
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cruzes. Principalmente na Renânia surgiram assim numerosos Capítulos de Irmãos Rosacruz. Foi então que J. V. Andreae abandonou o anonimato e declarou que tudo não passara de um simples passatempo e ridícula farsa. Mas já era tarde. Agora as Fraternidades Rosacruz aí estavam na realidade. Em 1662 transferiram a sede principal para La Haya, onde começou a propagar-se rapidamente, instalando-se Fraternidades em Hamburgo, Nuremberga, Dantzig, Veneza e Mântua. Também na Inglaterra alguns físicos, matemáticos e médicos (Ashmole, Lilly, War- ton, Harwitt, Pearson) fundaram em 1646 uma nova Ordem Rosa-Cruz com tendências ocultistas e finalidades éticas e humanitárias. Em 1777 fundou-se na Alemanha a Ordem Rosacruz de Ouro (também denominada Ordem de Jesus) que se tornou logo muito poderosa. Apresentaram-se como os legítimos ro- sacruzes e superiores à Maçonaria, com a qual apresentavam muita afinidade. A esta poderosa instituição pertenceram, entre outros, o conde St. Germain (m. em 1780), Cagliostro (m. em 1795) e WõIIner, famoso ministro prussiano de cultos de 1788-1798. Em 1781 iniciou-se também o'rei Frederico Guilherme II.
Passemos agora aos vários movimentos rosacruzes que atualmente trabalham entre nós, no Brasil.2) A Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis (AMORC)
O movimento da AA40RC, que anos atrás se apresentava em discretos anúncios vindos de San José, da Califórnia (U. S. A.), instalou sua “Grande Loja do Brasil”, no Rio de Janeiro e faz agora vistosos anúncios em nossas principais publicações periódicas. Só nos Estados Unidos a AMORC gasta anualmente meio milhão de dólares em anúncios e folhetos de propaganda e mais 145.000 dólares para remeter 6 milhões de unidades postais.
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Os anúncios são de vários tipos. Publicam, por exemplo, a figura de Descartes, Bacon, Franklin, Newton (nos Estados Unidos também já apareceu S. Francisco de Assis) e escrevem discretamente por cima: “Êsíes grandes pensadores eram Rosacruzes.. Depois vem a pergunta em grandes letras: “Que poder secreto possuíram?” E logo segue a importante revelação: “Benjamim Franklin, estadista e inventor... Isaac Newton, descobridor da Lei da Gravidade... Francis Bacon, filósofo e cientista... da mesma forma que muitos outros sábios e grandes homens e mulheres... eram Rosacruzes. Os Rosacruzes (Organização NÂO religiosa) têm existido através dos séculos. Hoje, a sede dos Rosacruzes faz mais de sete milhões de despachos postais anualmente, para tôdas as partes do mundo”. O leitor é então convidado a escrever para o Escriba Z. I. L. e pedir grátis o livreto O Domínio da Vida que lhe vai explicar como irá aprender á usar suas faculdades e poderes mentais. — Ou, então, anunciam apresentando a fotografia de um homem sorridente. Por que está êle tão satisfeito? O segrêdo de sua felicidade estava aí: “Escrevi para os Rosacruzes, fraternidade universal de homens e mulheres progressistas, que me ofereceram enviar, sem compromisso, o livreto intitulado O Dominio da Vida. Êste liv.reto descortinou-me um novo mund o . . . ” E vai outra vez a recomendação de escrever logo ao Escriba B. O. W. e pedir o tal livreto que lhe provará “o que a sua mente poderá demonstrar” . . .
Mas o tão anunciado O Dominio da Vida não passa dum livreto de propaganda da AMORC. Aí ficará o leitor sabendo que a Ordem Rosacruz é a mais antiga das sociedades humanitárias; que ela teve seu nascimento no antigo Egito, durante a XVIII Dinastia, no reinado de Faraó Amenhotep IV, cêrca de 1350 antes de Cristo; que o Rei Salomão também já era Rosacruz; que a Fama Fraternitatis R. C., tão misteriosamente aparecida em 1610, foi escrita pelo ilustre filósofo inglês Francisco Bacon; que a Ordem Rosacruz não é absolutamente uma seita religiosa (e nisso se insiste muito); que é aí que todos os investigadores corajosos poderão encontrar o poder pessoal e o domínio da vida; que normalmente os ho-
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mens usam apenas dez por cento de seus poderes mentais, mas que o uso regular dos outros noventa por cento lhe será revelado pela AMORC; que as grandes verdades descobertas nos séculos passados pelos mais destemidos pensadores tiveram que permanecer ocultas e bem guardadas na era das trevas, mas são, agora, trazidas à luz pelos Rosacruzes; que o sobrenatural não existe, porquanto a AMORC descobriu que tudo acontece devido à lei Cósmica natural que eles irão agora revelar; que eles não se envolvem em controvérsias religiosas, mas combatem continuamente a superstição, a ignorância e o medo como os maiores inimigos do homem; que a AMORC é a única legítima organização rosacruz na América; que é muito fácil iniciar-se nesta grandiosa e utilissima organização mundial; que eles não vendem por dinheiro seus ensinamentos, mas que seus cursos são dados gratuitamente, sem despesas ou cotas de qualquer espécie, coisa que não é encontrada em qualque outra organização fraternal; que, para receber a pr; meira lição, é preciso pagar 350 mais 150 cruzeiro como donativo voluntário à Fundação Rosacruz; que a mensalidade é de Cr$ 150,00, pagável no primeiro dia de cada mês; que as lições e instruções gratuitas serão enviadas regularmente ao sócio enquanto êle continuar a remessa mensal do donativo voluntário; que antes de receber a primeira lição, o neófito deve submeter-se ao antigo juramento de “conservar confidencial todo material de estudo, lições e discursos a mim enviados. . que então o iniciado solucionará seus problemas sem dificuldades, poderá ver sem necessidade de olhos, viverá mil vidas em uma só, viajará a um outro mundo sem sair dêste, transformará sua personalidade e será um indivíduo distinto, investigará o desconhecido e chegará a saber
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se existe ou não outra vida depois da morte, se os animais têm almas, se há reencarnação, se se podem recordar as vidas passadas e qual é sua verdadeira missão nesta existência...
Examinemos, entretanto, a AMORC tal como se apresenta no Manual Rosacruz, preparado sob a direção do Dr. S p e n c e r Le wi s , primeiro Imperator da Ordem Rosacruz para as duas Américas, editado na Suprema Grande Loja da AMORC, San José, Califórnia, U. S. A., num çlegante volume de 225 páginas.
a) Organização
Deixando de lado as incontroláveis fantasias ocul- tistas, parece certo que a AMORC foi fundada no ano de 1915, em Nova York, pelo Sr. Harve Spencer Lewis (1883-1939), que foi também seu primeiro Imperator. Seguiu-lhe como segundo Imperator, em 1939, seu filho Ralph M. Lewis. Em 1934 reuniram-se na Bélgica os representantes de 14 organizações “místicas, arcanas e metafísicas” e constituíram a FUDOSI ( “Fédération Universelle des Ordres et Sociétés Ini- tiatiques”), e neste conclave resolveu-se declarar que “a AMORC é a única organização Rosacruz autêntica e reconhecida para tôda a América, conforme foi decretado por decisão unânime dos Imperatores e Grandes Mestres dos 17 grupos místicos antigos reunidos em convenção...” Baseado neste documento a AMORC declara e repete com insistência ser ela “a única verdadeira Ordem Rosacruz na América”. Entretanto, veremos adiante que há outras organizações rosacruzes não menos antigas, com não menores pretensões à autenticidade e exclusividade.
Segundo o exemplar das Constituições que temos em mão, os assuntos doutrinários e ritualísticos (“incluindo a autoridade hierárquica e todo o poder esoté
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rico”) estão nas mãos do Imperator, que pode ser auxiliado pelo Soberano Grão Mestre, pelo Grande Secretário, etc. O controle administrativo pertence à Junta de Diretores da Suprema Grande Loja, que pode também criar Grandes Lojas Regionais nas duas Américas. E assim foi criada agora a Grande Loja do Brasil. Todavia, os decretos, editos, ordens, anúncios, instruções e proclamações oficiais das Grandes Lojas Regionais devem ser prèviamente aprovados pela Suprema Grande Loja. Os Grandes Mestres Regionais são nomeados pelo Imperator. A secção 146 das Constituições determina: “Nenhum corpo subordinado à Suprema Grande Loja poderá editar ou fazer editar ou tolerar a edição ou divulgação de nenhum livro, panfleto, tratado, conferência, exposição ou interpretação concernentes à Ordem ou aos seus ideais, princípios, leis, rituais, doutrinas, símbolos, estatutos ou a qualquer outro aspecto de seu trabalho, a não ser que o trabalho projetado tenha sido submetido à aprovação da Suprema Grande Loja. Todo qualquer escrito, publicação ou matéria de propaganda deverá levar em seu frontispício a mensão de que foi editado sob a autoridade da Suprema Grande Loja da AMORC”. — Exige-se, portanto, uma censura prévia incomparàvelmente mais rigorosa que na Igreja Católica. E pensar que, como se lê na p. 17 do li- vreto de propaganda O Dominio da Vida, a AMORC quer a “liberdade de pensamento e da palavra e o direito de buscar a verdade onde quer que possa ser encon trada ...” Aliás, o supracitado Manual Rosacruz, p. 44, informa que todas as Lojas recebem monografias exatamente iguais e “nenhum Mestre, de nenhuma das lojas subordinadas ao Capítulo, está autorizado a acrescentar ou interpolar no trabalho ou nos ensinos qualquer opinião pessoal”.
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b) Membros
Homens e mulheres podem ingressar na Ordem, caso forem convidados a fazer o pedido de admissão e caso o pedido for aprovado. A AMORC distingue dois tipos de membros:
1) Membros por correspondência, chamados Membros do Sanctum da Grande Loja. Os que, por qualquer motivo, não podem assistir às reuniões (por exemplo: não existe loja na região), recebem instruções por correspondência, em forma de monografias ou lições semanais. Durante as primeiras seis semanas recebem comunicações privadas e pessoais de um Mestre. Se depois destas semanas estiver suficientemente preparado, será iniciado no Primeiro Grau. Êste, como os graus seguintes, tem o seu ritual próprio, que o membro deverá executar no seu Sanctum doméstico e diante de seu próprio altar.
Para dar uma idéia destas cerimônias de iniciação, tomemos a “Iniciação Rosacruz” para o Neófito ou o Primeiro Portal. Esta revelação que agora iremos fazer é aliás rigorosamente proibida. Pois logo na capa do folheto que contém estas cerimônias se anuncia o seguinte: “O conteúdo des
ta monografia é cedido, por empréstimo, para informação única e exclusiva do Membro que a recebe e para nenhum outro fim. Qualquer outro uso ou tentativa de uso tornará sem efeito, ipso facto, todos os privilégios do Membro e constitui uma violação dos Estatutos desta Ordem”. Convém lembrar que coisa semelhante é prescrita para tôdas as outras monografias ou lições que o Membro vai recebendo pelo correio pelos 150 cruzeiros mensais. Pois antes de receber a primeira remessa deve o Neófito assinar uma declaração na qual, entre outras promessas, está também esta: “Um dos privilégios da filiação Rosacruz é o recebimento de quatro monografias, todos os meses, as quais contêm os estudos exotéricos e esotéricos da filosofia Rosacruz. Elas me são emprestadas pela Ordem enquanto me conservar como Membro ativo e, caso deixe, por qualquer razão, ou em qualquer época, de manter filiação ativa, compreen-
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do que essas monografias devem ser devolvidas à Ordem Rosacruz (AMORC) uma vez que elas são sua propriedade legal”. Vejamos, porém, alguns pontos essenciais da iniciação no Sanctum particular do Neófito Rosacruz. A cerimônia deve ser realizada estritamente a sós, no quarto, diante duma pequena mesa sobre a qual estará um grande espelho e duas velas apagadas. Deve ser feita de noite, às escuras. Depois de imaginar uma breve alocução do Mestre da Loja (que, naturalmente, está ausente), o Neófito acende a vela à esquerda, fita o espelho e diz: “Abençoada Luz, símbolo da Luz Maior, derrama teus raios nas trevas e ilumina minha Senda!” Depois acende a outra vela e diz: “À luz foi adicionada mais Luz, para que suas radiações combinadas possam suavizar as sombras e contornos e simbolizar o alívio das dores e aflições, como o faria a chegada da Luz Maior”. Em seguida assenta-se e mira no espelho, com o rosto iluminado pelas velas, e recita estas palavras: “Antes que possa eu cruzar o Umbral, devo enfrentar os terrores de minha vida. O Terror no Umbral aguar- da-me e necessito, neste momento, das Forças Divinas que estão no meu interior”. Continua a olhar um minuto para o espelho. Depois levanta-se e traça com o indicador da mão direita uma cruz na superfície do espelho. O óleo natura1 do dedo deixará uma marca indistinta no mesmo. Fita en tão a cruz e diz: “Salve, ó Símbolo Sagrado da Vida, Amor < Ressurreição! No centro do teu sagrado corpo virá a Rosa, a Alma do Ser do Homem e tu serás meu Símbolo! Salve, Rosa Cruz!” Continua a fixar três minutos sobre a cruz apagada do espelho até que apareça mais distintamente. Coloca então a ponta do indicador esquerdo na testa, dizendo: “Paz!” Seguem mais algumas cerimônias neste estilo. E então, surpreendentemente, declara o ritual: “Agora estaispronto para despojar-vos de quaisquer falsas concepções que vos possam impedir de receber admissão plena na Ordem.. . ”
Seguem depois mais dois graus. Em mais ou menos um ano poderá percorrer estes três graus preliminares. Nestes meses terá recebido instruções por correspondência sobre esoterismo, curandeirismo, magnetismo e um fantástico mentalismo. Temos em mão exemplares destas instruções “secretas”. Alcançando o terceiro grau, o sócio, se fôr para isso convidado,
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poderá ou unir-se a qualquer Loja de sua vizinhança e receber aí as instruções para mais doze graus, chamados do Templo, com uma iniciação em cerimonial egípcio; ou continuar a receber por correspondência os ensinamentos e as monografias “do Templo”, se fôr esta a vontade do Imperator, mas feito prèviamente o juramento de lealdade e segrêdo. Receberão numerosas monografias com doutrinas ocultas sobre Gosmologia (l.° grau), Psicologia (2.° grau), Mentalismo, aliás fantástico (3.° grau), biologia (4.° grau), história (5.° grau), curandeirismo (6.° grau), espécie de Teosofia (7.° grau), Reencar- nação (8.° grau) relação do homem com Deus (9.° grau). As instruções dos três últimos graus (10.°, 11.° e 12.°) são, como se anuncia, de tão elevada mística e conferem poderes tão fora do comum, que não podem ser expressas em palavras e por isso elas são transmitidas “psiquicamente” e os (pouquíssimos) que nelas forem iniciados são os Illuminati, que constituirão “a organização superior da Ordem”, diretamente sob a direção do Imperator e dos Mestres Cósmicos.1 Ninguém tem o direito de pedir a admissão aos Illuminati; para isso é preciso ser chamado...
*) Para compreender esta alusão aos "Mestres Cósmicos” é preciso considerar o que diz o Manual Rosacruz na p. 147, onde fala da Santa Assembléia do Cosmos, onde se reúnem Mentes Magistrais e Mestres Cósmicos. Na p. 16 o Manual oferece inclusive o retrato de um destes Mestres: o Mestre Kut-Hu-Mi, o Ilustre, também conhecido como Mestre K-H-M. Êle é "Deputado Grão Mestre da Grande Loja Branca da Grande Irmandade Branca”. Sic! Antigamente já foi uma vez o Thutmosis III do Egito. Passou por muitas reencarnações e foi também muitas vêzes pessoa importante na terra, tendo não poucas vêzes alcançado a veneranda idade de *140 anos. Presentemente está encarnado e vive num mosteiro e templo secreto perto de Kichingargha, no Tibet. Tudo isso é afirmado com absoluta seriedade na indicada página do Manual. Informa-se também que há outros muitos Mestres semelhantes, dos quais alguns estão no pla
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2) Membros de Lojas Regionais são os que assistem às reuniões nas lojas regulares e nelas se lhes administram os ensinamentos superiores. Não recebem instrução por correspondência, a não ser que sejam ao mesmo tempo “membros do Sanctum”. No mais, os mesmos graus antes mencionados valem também para estes.
c) Finalidade da AMORC
Informa o Manual Rosacruz, p. 27, que a Ordem “é principalmente um movimento humanitário, com a finalidade de conseguir a maior saúde, felicidade e paz na vida terrena de todo o gênero humano”. E o Manual precisa: “Note-se particularmente que dizemos na vida terrena de todos os homens, porque nada temos a fazer com doutrinas consagradas aos in- terêsses de indivíduos que vivam nalguma condição futura e desconhecida. O trabalho do rosacruz é para ser feito aqui agora...
Outra finalidade é “capacitar a todos, homens e mulheres, a levar vidas puras, normais e naturais, segundo os propósitos da Natureza; e desfrutar de todos os privilégios, dons e benefícios que esta tem reservado para o gênero humano; e libertá-los das cadeias da superstição, das limitações, da ignorância e dos sofrimentos do karma evitável”.
O trabalho da Ordem “consiste em ensinar, estudar e provar as leis de Deus e da Natureza”. Assim a
no Cósmico, outros aqui na terra, encarnados, desempenhando os cargos de Imperatores, Magos e Hierofantes nas várias organizações da Grande Irmandade Branca, “da qual a Ordem Rosacruz é a mais alia” . . . Na p. 155 s. é revelado que “os Mestres da Grande Loja Branca sempre sabem o que alguém fará no futuro, como o que fêz no passado, e por isso não iniciarão os que poderão ser capazes de perder a g ra ç a ...”
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Ordem pode apresentar-se como Escola, Colégio e ' Fraternidade.
d) A disciplina do segrêdo
Em sua organização disciplinar a AMORC apresenta evidentes semelhanças com a Maçonaria. Usam da palavra de passe, toques, sinais c saudações, diferentes em cada grau; as várias cerimônias secretas para a iniciação nos respectivos graus; o juramento de nada revelar; o rigor na fiscalização dos que querem entrar na loja; as próprias palavras “loja”, “grande loja”, “mestre”, “grão mestre”, “supremo conselho”, etc. Na entrada da loja, por exemplo, o guardião “não sòmente deverá exigir de cada solici- tante de admissão a palavra de passe correta e a carteira de filiação, mas ocasionalmente o sujeitará a provas”. E a palavra de passe sempre deve ser tomada em voz baixa. O Manual Rosacruz, p. 48, lembra “as coisas que todo membro está obrigado sob juramento a manter em segrêdo, e que são: as características de cada cerimônia de iniciação, inclusive o que é dito pelo Mestre ou por cada um dos oficiais, como também pelo membro, na cerimônia do Templo; também tudo quanto é executado pelos Mestres, oficiais e membros antes da cerimônia, durante ela e depois; o que inclui os métodos de começar ou terminar de tais cerimônias, os termos, palavras, frases, sinais, etc., usados no Templo, na Loja ou nas Câmaras Exteriores na noite ou no dia de tais iniciações, assim como também os toques, palavras de passes, saudações e sinais de reconhecimento. Tudo isso deverá ser mantido pelos membros em “sagrado segrêdo”. O primeiro juramento, prestado por todo candidato antes de iniciar-se e assinar seu nome todo no Li
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vro Negro Oficial de cada Loja, é o seguinte: “Diante do Sinal da Cruz, prometo por minha honra não revelar a ninguém, que não seja conhecido Frater ou Soror desta Ordem, os sinais secretos ou palavras que aprender antes, durante ou depois de ter passado pelo Primeiro Grau”. Por ter sido prestado este juramento antes da filiação, considera-se que obriga ao membro para todos os graus. Mas cada grau tem seu próprio juramento, substancialmente semelhante ao anterior, no que se refere ao segrêdo dos sinais, palavras e símbolos.
e) A doutrina da AMORC
Do ponto de vista crítico que aqui tomamos não nos interessam as fantásticas doutrinas de esoterismo, magnetismo, curandeirismo, mentalismo, cosmologia, psicologia, biologia, química, física, alquimia, etc., que a Ordem Rosacruz envia regularmente a todos os estudantes que com regularidade pagam suas mensalidades. Interessam-nos apenas as doutrinas que diretamente incidem sobre o campo religioso. Pois a propaganda rosacruz repete constantemente que se trata de uma “organização não religiosa”, que a AMORC “não é uma religião”, que “cada membro pode seguir os ditames da sua própria consciência em assuntos religiosos”, que “nos ensinos rosacruzes não se encontra nada que se oponha às convicções religiosas do indivíduo”, etc. Em vista disso, basta- nos salientar dois princípios fundamentais da filosofia rosacruz e que se opõem frontalmente às doutrinas básicas da mensagem cristã:
1) P a n t e í s m o : São inúmeras as passagens em que se prega a identificação substancial entre Deus e o Universo. Escolheremos como exemplo expressivo
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a explicação rosacruciana da alma, porque neste passo nos é revelado também o cerne da antropologia da AMORC. O texto está na p. 162 do Manual Rosacruz, os grifos são nossos:
“Erroneamente falamos da alma no homem ou da alma do homem, como se cada ser humano ou cada organismo consciente tivesse dentro de seu corpo, neste plano terreal, algo separado e distinto que denominamos alma; e, portanto, emcem sêres havería cem almas. Isto não é verdade, não está certo. Não existe senão uma só alma no Universo, a alma de Deus, a consciência vivente e vital de Deus. Dentro de cada ser vivente há um segmento não separado desta alma universal, e êste segmento é o que constitui a alma do homem. Ela jamais cessa de ser parte da alma universal, assim como a eletricidade cm uma série de lâmpadas elétri- tricas de um círculo não é uma porção separada ou desconexa da corrente que flui por tôdas as lâmpadas. A alma que está no homem è Deus que está nêle, o qual faz que tôda a humanidade seja parte de Deus, Irmãos e Irmãs sob sua paternidade”. — Na p. 171 vem isso mais precisamente formulado nestes têrmos: “O homem é Deus e filho de Deus, e não existe outro Deus / senão o Homem”.
Na p. 168 s. é explicado o que os Rosacruzes entendem pela expressão “Consciência Cósmica”, tantas vêzes por êles usada: “E’ a consciência que irradia de Deus e enche o espaço e tôdas as coisas. Tem vitalidade, mente, poder construtivo, Inteligência Divina. Nesta consciência projetam-se as consciências psíquicas de todos os Mestres, e todos os Adeptos podem harmonizar-se com ela. A Consciência Cósmica sabe tudo, o passado, o presente e o futuro, porque ela é tudo”.
2) R e e n c a r n a ç ã o : E’ absolutamente básica a idéia da pluralidade das vidas terrestres na filosofia da AMORC. Riscando êste princípio, todo o resto torna-se imcompreensível. Nem precisamos citar textos comprovantes. Veja no fim a nota sobre a Reencarnação.
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f) O aspecto pseudo-religioso
As repisadas afirmações da propaganda rosacrucia- na de que a AMORC é uma “organização não religiosa”, “não sectária”, etc., são solenemente desmentidas pelo Manual Rosacruz, no qual encontramos minuciosas descrições do templo, do altar, do Sanctum sagrado, “o lugar onde mora a Presença de Deus”, das orações e bênçãos, das cerimônias e dos ritos, das pessoas consagradas ao culto no templo rosacruciano, etc., tudo isso dando um aspecto nitidamente religioso às reuniões dos membros da loja. Se é verdade — e não o pomos em dúvida — que a AMORC persegue uma finalidade puramente natural, excluindo mesmo positivamente o sobrenatural; se é verdade ainda que ela de fato não quer ser um movimento religioso, como iteradas vezes repete, então é verdade também que ela é realmente o mais acabado tipo de uma verdadeira pseu- do-religião. Pois atenda-se às seguintes determinações do Manual:
1) No conjunto da loja há numerosos lugares sagrados: Aí temos a “câmara do templo”, lugar reservado para as iniciações e que jamais pode ser “profanada”, mas deve ser custodiada “com reverência”, pois que é a “câmara da cruz”, o “lugar onde residem a vida e a morte”, a “tumba do silêncio” e o “lugar do terror”. Lá está o “umbral do templo”, que é o “portal para a luz e a sabedoria” ; “quem atravessar o umbral deve parar, olhar para o interior da loja e fazer o sinal da cruz”. Aí temos o próprio “templo”, lugar “dedicado à adoração de Deus”, que deve, pois, ser considerado e respeitado assim. Aí está a loja, a “alma do templo”. Aí está o “altar do mestre”, que deve ser “sagrado e santo”. Aí está o “shekinah”, o “triângulo sagrado”, o lugar simbó
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lico que representa “a presença de Deus no meio de nós” ; deve estar sempre iluminado durante as convocações. Aí está o “Sanctum”, entre o shekinah e o altar, e reservado exclusivamente para certas cerimônias sagradas e sobretudo para os juramentos sagrados. Adverte o Manual, na p. 35, que cruzar o Sanctum (isto é: passar entre o altar e o shekinah) “é um sério e gravíssimo êrro que atrairá sôbre a loja, e especialmente sôbre o infrator, uma severa lição do Cósmico” . . .
2) Além do Mui Venerável Soberano Grão Mestre (título dado ao cidadão que dirige as cerimônias desta pseudo-religião), temos ainda a curiosa figura da “Madre”, “mãe dos filhos de cada Loja”. Qual a sua função? O Manual esclarece, na p. 36: “A ela devem confiar-se aqueles problemas íntimos e pessoais da vida que só uma mãe pode compreender. Depois ela, por sua vez, secretamente e em estrita confidência, poderá solicitar a ajuda do Mestre da Loja e daqueles Fratres e Sorores que possam prestar-lhe a necessária ajuda material ou espiritual. Quantas vêzes surgem pequenos problemas, íntimos e delicados assuntos que pesam sôbre nossos corações e debilitam nossos maiores esforços para solucioná-los. E quantos dêstes problemas se tornam insignificâncias ou se anulam quando os confiamos à Madre!” E logo o Manual dá a recomendação: “Mantenhamos sempre doce e sagrado o nome, o espírito e o propósito divino da Madre; e jamais sejamos demasiado orgulhosos para nos ajoelharmos diante do coração acolhedor e o afetuoso sorriso de nossa Madre. . . ” — Portanto, nada mais e nada menos que uma autêntica confissão.
3) As Vestais são môças entre 13-18 anos, eleitas para êste cargo, devendo prestar serviço até aos
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21 anos de idade, e não podendo casar neste tempo. Chamam-se também Columbas e são as “noivas da Ordem”. Devem cuidar da “luz azul” e do incenso. Em todas as convocações, cerimônias, conferências, audiências ou discussões, a Vestal terá precedência sobre todos os demais, exceto o Mestre, quando se trata de exprimir um sentimento ou dirigir qualquer ato de cerimônia ou rito. “Quando fala a Columba, todos devem guardar silêncio”.
4) Há ainda outras numerosas cerimônias com aspecto evidentemente religioso. Assim, por exemplo, têm êles também uma espécie de batismo, ou cerimônia para dar um nome à criança. Nesta oportunidade exige-se dos pais a solene promessa de que a criança receberá uma educação “em escolas não sectárias” e que, quando tiver a idade necessária, será encaminhada à AMORC (cf. Manual Rosacruz, p. 184).
g) Crítica
A serena exposição dos pontos principais da AMORC já deixa manifesto que ela não é uma simples organização com fins puramente humanitários e científicos. Resumiremos nossas considerações criticas nos seguintes itens:
1) A AMORC é uma sociedade secreta. Ela não o nega. Vale, pois, também aqui, para os católicos, a admoestação do cân. 684 do Direito Canônico: “Os fiéis fujam das associações secretas, condenadas, suspeitas òu das que procuram subtrair-se à vigilância legítima da autoridade eclesiástica”.
2) A propaganda da AMORC não é sincera quando apresenta a Ordem como uma “organização não religiosa”. O próprio Manual Rosacruz é o mais categórico desmentido. A AMORC é o mais acabado tipo de uma pseudo-religião.
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3) Do ponto de vista científico, as lições por correspondência fornecidas pela AMORC são totalmente reprováveis por 'seu exagerado mentaiismo, por seu fantástico Mundo Cósmico e por fomentar um perigoso curandeirismo. Sob êste aspecto a AMORC não difere essencialmente do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento.
4) Do ponto de vista religioso a AMORC apresenta um falso e declarado naturalismo e pratica um ri- tualismo oco e arbitrário.
5) Do ponto de vista cristão a AMORC pode ser acusada de se opor frontalmente às verdades fundamentais da revelação cristã por causa de sua filosofia panteísta e sua antropologia reencarnacionista.
E’ por isso que o verdadeiro cristão, o verdadeiro religioso, o verdadeiro cientista e o verdadeiro cidadão não procurará iniciar-se nesta pomposa “Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis”. Pois como cidadão fugirá das sociedades secretas; como cientista estudará nas universidades e combaterá o curandeirismo; como religioso não se sujeitará às cerimônias sem fundamento, nem contestará a priori o sobrenatural; como cristão dobrará seu joelho perante o Pai, o Filho e o Espírito Santo e agradecerá ao “Verbo que se fêz carne e habitou entre nós” os superabundan- tes benefícios da Redenção por sua paixão e morte e que tornam inúteis quaisquer fantasias reencarna- cionistas e de auto-redenção.
3) A Fraternidade Rosacruz (de Max Heindel)
“The Rosicrucian Fellowship” foi fundado também na América do Norte, por um teósofo alemão chamado M ax H e i n d e l e tem sua sede central em Oceanside, Califórnia, U. S. A. Caracteriza-se uma
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vez por seu antiorientalismo e outra vez pela fachada cristã com que se apresenta.
Max Heindel, já falecido em 1919, é autor de numerosos livros, que temos em tradução espanhola: Concepto Rosacruz det Cosmos (é a obra fundamental para a “Fraternidade Rosacruz”), nosso volume tem 459 densas páginas; Filosofia Rosacruz en Preguntas y Respuestas (é o livro que com mais facilidade nos dá o autentico pensamento do autor); El Velo dei Destino (pertence à literatura propriamente ocultista); Los Mistérios de las Grandes Óperas; Recolec- ciones de un Místico; Masoneria y Catolicismo; Astrologia Cientifica Simplificada; El Mensaje de las Estreitas. — Segundo Maz Heindel, em Concepto Rosacruz dei Cosmos, Buenos Aires 1947, pp. 429 ss., a Fraternidade Rosacruz foi realmente fundada por Christian Rosenkreuíz (do qual já falamos no início). Textualmente, e com absoluta seriedade escreve êle: “Seu nascimento, como Christian Rosen- kreutz, marcou o início de uma nova época de vida espiritual no mundo ocidental. Depois disso, êsse Ego particular estêve em contínuas existências físicas em um outro país europeu. Tomava um corpo novo sempre que seus sucessivos veículos perdiam sua vitalidade ou quando as circunstâncias impunham a mudança de campo de suas atividades. Mais, hoje em dia está encarnado, sendo um Iniciado de grau superior, potente e ativo fator nos assuntos do Ocidente, embora desconhecido para o mundo. Trabalhou com os alquimistas durante vários séculos, antes do advento da ciência moderna. Foi êle que, por um intermediário, inspirou as obras agora mutiladas de Bacon, Jacob Boehme e outros, e dêle receberam a inspiração que iluminou suas obras tão espiriiualmente. Nas obras do imortal Goethe e nas do maestro Wagner, encontramos a mesma iqfluência.. . ” — No mais, as concepções de Max Heindel, sobretudo em sua obra principal, Çoncepto Rosacruz dei Cosmos, são extrema e estranhamente parecidas com as idéias do antropo- sofista alemão Rudolf S t e i n e r (cf. sua obra A Ciência Oculta). A obra de Heindel apareceu em primeira edição em 1909, dedicada a R. Steiner (nas edições posteriores a dedicação desapareceu) e a de Steiner apareceu em 1910. Ambos se inspiraram certamente na Doutrina Secreta de H. B l a v a t s k y , deixando de lado apenas os têrmos com apa
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rências demasiadamente orientais. Depoi6 da morte de Max Heindel (1919), sua esposa continuou a direção do movimento do “Rosicrucian Fellowsliip”.
a) No Brasil
A Fraternidade de Max Heindel se apresenta em três organizações independentes:
1) Na Avenida Tijuca, 1000, Rio de Janeiro, sob a direção de uma senhora uruguaia, Irene Ruggiero. Reúnem-se aos sábados, cantam e promovem conferências sôbre teosofia e ocultismo. Têm sócios por correspondência, mais ou menos no estilo da AMORC. Dizem-se autorizados pela sede central de Oceansi- de, Califórnia, mas não o são.
2) Na Rua Asdrúbal do Nascimento, 196, São Paulo, sob a direção de Francisco Phelipp Preus. Esta é a sede central do Brasil, reconhecida pela sede dos Estados Unidos. Mantém também cursos por corrès- pondência e dirige outros grupos locais, no Centro, Lapa, Penha e Santo André.
3) “Fraternidade Rosacruciana São Paulo”, com sede em São Paulo (Rua 24 de Maio, 53, 7.° andar). Nasceu em 1930 como “Tattwa São Paulo”, sob os auspícios do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. Em 1941 substituiu-se a denominação “Tattwa” por “Fraternidade Rosacruciana”. Em suas publicações gostam de citar Max Heindel. Mas na realidade continua a pender mais para o Esoterismo. Também não são reconhecidos pela sede central de Califórnia.
b) Etapas
São sete as etapas que os discípulos de Max Heindel e da Sra. Augusta Foss de Heindel devem percorrer para alcançar a meta final:
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1) Curso preliminar de filosofia rosacruz: Consta de doze lições dadas por correspondência. O livro de texto é “O Conceito Rosacruz do Cosmos”.
2) Estudante Regular: durante êste período, que dura ao menos dois anos, o estudante recebe cada mês uma carta e uma lição.
3) Probacionista: Recebe instruções especiais mediante cartas e lições mensais, “também durante o sonho” (sic!), que duram pelo menos cinco anos. Êle é iniciado nos segredos dos “mundos suprafísicos”.
4) Discípulo: é preparado sistemática e regularmente para a iniciação sob a direção dos Irmãos Maiores da Ordem, que lhes darão instruções individuais e absolutamente secretas. — Aqui no Brasil, quanto sabemos, até hoje ninguém chegou até estas alturas.
5) Irmão Leigo: Êstes vivem em diferentes partes do mundo ocidental e receberam uma ou mais iniciações em Escolas de Mistérios Menores. “São capazes de abandonar seu corpo físico conscientemente, assistir aos serviços e participar nos trabalhos espirituais no Templo dos Irmãos da Ordem Rosacruz”.
6) Adepto: São os graduados de uma das Escolas de Mistérios Menores e passaram pela primeira das quatro grandes iniciações. “Um Adepto pode construir um novo corpo físico para si, sem ter necessidade de renascer como criança”.
7) Irmão Maior: São os graduados das Escolas de Mistérios Menores e Maiores.
c) Fantasias de Max Heindel
Veja o paciente leitor se é capaz de nos acompanhar nestes malabarismos rosacrucianos: Devemos distinguir sete períodos: o de Saturno, o Solar, o Lu
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nar, o Terreste, o de Júpiter, o de Vênus e o de Vulcano. Cada período se subdivide em sete revoluções; cada revolução em sete globos; cada globo em sete épocas. A humanidade já viveu os períodos de Saturno, o Solar e o Lunar e três e meia revoluções de período Terrestre. As sete épocas do período Terrestre se chamam: Polar, Hiperbórea, Lemúrica, Atlântica, Ária, Nova Galiléia e Reino de Deus. Vivemos agora na quinta época do quarto globo da quarta revolução do quarto período, que é a época chamada Ária. Os homens que viveram no primeiro período, o de Saturno, chamam-se Senhores da Mente; os que viveram no período Solar chamam-se Arcanjos; os que viveram no período Lunar chamam-se Anjos. O maior iniciado do período de Saturno era o Pai; o maior iniciado do período Solar era o Senhor Cristo; o maior iniciado do período Lunar era o Espírito Santo, ou Jeová. Jesus foi um grande iniciado neste atual período Terrestre e na hora do batismo encarnou-se nêle a natureza arcangélica do Senhor C risto ... — E assim continuam as arbitrárias e fantásticas afirmações.
d) O Cristianismo da Fraternidade Rosacruz
Têm grande empenho os seguidores desta Irmandade de propalar que ela é essencialmente cristã, embora não seja sectária. “Non-sectarian church”. Recebem mesmo recomendações de extraordinário rigor. Eis, para amostra, algumas ordens da Fraternidade Rosacruciana “São Paulo” : Procurem os Irmãos uma aparência modesta e simples; abstenham-se de danças; evitem excessos em comidas; evite-se a carne quanto possível; abstenham-se por completo de bebidas alcoólicas; façam-se nos dias de luas cheias e luas novas práticas de jejum: os que não precisa-
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rem fazer serviços pesados farão um dia inteiro de jejum, os outros passarão a pão, água, leite e frutas; todas as noites façam completo exame de consciência; cedo, reservem tempo para a meditação; etc. — Não sabemos se de fato os rosacruzes vivem de acordo com estas determinações; mas tudo isso ainda não é sinal certo de cristianismo. Entretanto, não descobrimos naquelas ordens nenhuma das determinações especificamente cristãs. E nas obras de Max Heindel anotamos inúmeros desvios e erros doutrinários. Alguns exemplos:
1) Já vimos antes as fantasias em torno de Jesus e de Cristo. No Concepto Rosacruz dei Cosmos, pp. 305-319, encontramos na verdade a mais singular, a mais extravagante, a mais estrambótica e estapafúrdia Cristologia que já foi imaginada.
2) Quanto à natureza de Deus e da alma, encontramos aqui mais ou menos os mesmos conceitos que já vimos na filosofia da AMORC. Em Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas resume Max Heindel seu pensamento nestes termos: “A doutrina rosacruz é que cada alma é uma parte integral de Deus, que se esforça por obter experiências mediante repetidas encarnações em corpos de sempre maior perfeição e que, por conseguinte, morre e nasce muitas vezes. Em cada vida ela consegue um pouco mais experiência e progride assim paulatinamente da necedade à onisciência, da fraqueza à onipotência” (resposta à pergunta n. 177).
3) Pergunta-lhe um estudante se os rosacruzes aceitam a Bíblia como palavra de Deus (pergunta n. 78), e Max Heindel responde: “Certamente não; e muito menos a estrita interpretação de alguns que pensam que o livro que agora possuímos é o único genuíno que foi dado à humanidade. No máximo poderia ser
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um dos livros de Deus, porque existem muitas outras sagradas escrituras, que também precisam ser reconhecidas. . — Ora, convenhamos, tudo isso não c muito apto a nos convencer da pureza e da sinceridade do Cristianismo desta ilustre Fraternidade.
e) Superstição e Curandeirismo
O próprio Max Heindel é autor de vários livros de Astrologia: “Astrologia Científica Simplificada” e “A Mensagem das Estrelas”. Também a quiroman- cia é recomendada em suas obras. A Fraternidade distribui anualmente para seus sócios um cartão especial, indicando os dias mais favoráveis para as curas. Para o ano de 1957, por exemplo, foi distribuído o seguinte aviso:
“Cada semana, quando a Lua está em um signo Cardeal, nos reunimos com o propósito de gerar por meio de fervorosa oração e concentração a força curativa, a qual pode ser canalizada pelos Irmãos Maiores e aquêles que trabalham sob a sua direção, para curar os enfêrmos e confortar os aflitos. Que a nossa mais fervorosa gratidão se eleve até o Grande Médico pelas curas e bênçãos que nos foram concedidas. Nas datas que se seguem abaixo, às 6,30 da tarde, segundo seu relógio, retire-se a um lugar tranqüilo, cerre os olhos, imagine mentalmente a Rosa Branca e Pura no centro do emblema Rosacruz, no muro dêste Templo em Oceanside; concentre-se com toda a intensidade de sentimento de que seja capaz sobre o Amor Divino Curativo. Assim você poderá converter-se em um canal vivo do Poder Curativo Divino, que nos chega diretamente do Pai Celestial.
Datas de Curas em 1957:
Janeiro . . 7 - 14 - 20-27 Fevereiro . 3 - 10 - 16-23 Março . . 3 - 10 - 16 - 22-30 Abril . . . 6 - 12 - 19-26
' Maio . . . 3 - 10 - 16 - 24-31 Junho . . 6 - 13 - 20-27
Julho . . 3 - 10- 17- 24-30 Agosto . . 6 - 14- 21-27 Setembro . 2 - 10- 17- 23-30 Outubro . 7 - 14- 21-27 Novembro . 3 - 11- 17-23 Dezembro . 1 - 8 - 14- 21-28
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4) Fraternitas Rosae Crucis (FRC)
No ano de 1939 foi apresentada ao Poder Legislativo dos Estados Unidos e lida em sessão plena por um senador americano a Secunda Fama Fraternitatis. Formou-se então a “Federação Universal de Ordens, Fraternidades e Sociedades de Iniciados”, unindo num grupo só as irmandades “genuínas, legalmente constituídas e legitimamente existentes” nos Estados Unidos, na França, Bélgica, Suíça, Holanda, Inglaterra, Polônia, Mcxico e Madagascar, sob a alta e geral direção do Supremo Grão Mestre R. Svvinburne C I y m e r.
O solene documento, do qual temos um exemplar em mão, declara que esta Confederação tem as seguintes finalidades: “Impulsionar, dirigir, ajudar, instruir os filhos e as filhas dos homens, no desenvolvimento de suas naturezas espirituais e de suas mais altas faculdades; iniciar os postulantes e neófitos nas amplas vias da compreensão consciente; exaltá-los aos mais elevados planos do ser e iluminar suas almas com a sagrada Luz da Sabedoria, até que cheguem a ser verdadeiros Iniciados e Filhos da Luz e de Deus”.
Na parte da declaração de princípios básicos lemos: “Cremos no Ser Supremo... de quem todos somos partes, e de quem, todo aquele que o deseja e o quer, pode participar livre e abundantemente...; sustentamos que a Lei atua por Involução e Evolução, mediante a Lei da Reencarnação e Karma, ou princípios de causa e efeito;... situamos nossa origem nas antiquissimas idades dos Mestres Antigos da Sabedoria e nas Grandes Escolas Ocultas das idades remotas, e possuímos ensinamentos originais, verdadeiramente esotéricos e ocultos, dos Filhos da Luz
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ou Filhos de Deus. A Sagrada Doutrina e os ensinos das Antigas Escolas Esotéricas, preservados e a nós entregues na filosofia essencial, ética e ensinamentos da Fraternidade Hermética e da Ordem original da Rosa Áurea e da Cruz Rosada, são declarados como fundamentais para esta Confederação. Abraçamos e reconhecemos todos os credos religiosos sãos, e, sem condenar a nenhum, os reconciliamos a todos” (sic!).
Seguem depois alguns itens, sob o título Nosso Credo e Cânones Éticos, dos quais destacamos os seguintes:
“1) Não pertencemos a seitas nem estamos confinados em nenhum credo. Nosso lar é no mundo e nossos irmãos, a humanidade.
8) Concedemos tôda a nossa simpatia e estímulo àqueles que conscientemente buscam a Pedra Filosofal e o Elixir da Vida e lhes Sugerimos emulação e persistência, re- cordando-lhes que, no uso do Solvente Universal para a prática da Arte de Transmutações e o conhecimento do Grande Segrêdo do Poder Criador-Regenerador, não há dificuldades para quem desejar, e verdadeiramente o queira. A êstes dizemos: Experimentai! Atrevei-vos sem desíale- cimento.
11) Acreditamos que a Chispa Celestial e Inefável da Divindade reside na Alma do homem, e que o homem é uno com o Todo-Pai-Mãe e que, por conseguinte, as possibilidades de todos os homens e mulheres são in fin itas...”
Com cândida singeleza êstes senhores ainda acrescentam: "Para a gloriosa Era Egípcia, nasceram Osiris e seu Sa; cerdócio; para a segunda, Jesus, o Cristo e a Religião Cristã com sua Mística; e para a terceira e final desta Trindade, nasceu a Confederação de Iniciados, herdeiros de tôdas as idades, iniciadores do presente e do futuro”.
Eis algo daquilo que se leu no paciente Senado dos democráticos e livres Estados Unidos...
Quanto à FRC em particular, que aderiu plenamente a tal Confederação de Iniciados, e que desde 1905 é dirigida pelo Dr. Clymer, vale a seguinte informação oficial, dada por seu Supremo Mestre:
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“A Ordem R. C. é uma escola estritamente secreta e espiritual, dedicada ao ensinamento de verdades religiosas, filosóficas e científicas... A Ordem está livre de dogmas (— já se viu! —). Membros de qualquer religião podem chegar a ser e são Aspirantes desta Escola... Não é sectária, c mantém o direito do homem de pertencer à igreja que queira escolher. E’ fundameníalmente religiosa, porque ensina a imortalidade da alma e a paternidade de Deus. E’ científica, porquanto ensina as leis que dão saúde ao corpo e fortalecem a menle. Trabalha incansavelmente peio bem- estar de todos os homens. Não promete poderes divinos ou sobrenaturais a seus filiados, porque cada um deve evocá-los e criá-los por si mesmo, mas assegura com firmeza que seus membros internos estão familiarizados desde há séculos com as forças psíquicas e leis Ocultas da Natureza e são peritos em seu manejo” (cf. a revista Gnose, Rio, 1952, p. 125). No final de uma das obras do Sr. R. S. C 1 y m e r (La Filosofia dei Fuego, p. 299) lemos a seguinte informação, contraditória em si, mas clara no conteúdo: “Conquanto a Ordem não tenha credo nem dogma aos quais deva o neóflto aderir, existem contudo certos princípios aceitos por todos os Membros, tais como a Lei da Justiça exata e a Reencar- nação como consequência desta L e i...”
No Brasil a FRC foi introduzida em 1942 pelo Sr. Joaquim Soares de Oliveira e tem sua sede ou Colégio Capitular Central na Rua Sabóia Lima, 77, Rio de Janeiro (funciona no andar térreo do edifício). Tem filiais em São Paulo, Santos Dumont, Rezende e Niterói. Esta de Niterói, chamada Colégio Capitular Saint Germain, foi dirigida durante anos pelo famoso anarquista Prof. José Oiticica, agora falecido. Houve bastante confusão e desentendimento entre êles, aqui no Brasil, principalmente depois da morte do Sr. Soares de Oliveira, que fora fundar na Argentina esta mesma FRC.
5) Fraternitas Rosicruciana Antiqua (FRA)
No mesmo prédio da Rua Sabóia Lima, 77, Rio, mas na parte subterrânea, funciona a Aula Lucis Cen
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trai da FRA, fundada aí em 1933 por Giuseppe C a- gliostro Cambareri e dirigida atualmente pelo médico homeopata Dr. Duval Ernâni de Paula e pelo general Parga Rodrigues. E’ denominada também “Igreja Gnóstica”. Também Minas (Santos Dumont) e Mato Grosso (Cuiabá) possuem filiais, chamadas “Aula Lucis”, desta Rosacruz Antiqua.
Também esta Fraternidade resolveu fazer parte da “Confederação Universal dos Iniciados” e homologou seus princípios. Desta vez, entretanto, o produto não é americano: vem do alemão Arnoldo K r u m m - H e 11 e r, que se escondeu sob o nome iniciático de “Huiracocha” e se intitulava Soberano Comendador.
Codificou o Dr. Krumm-Heller suas idéias num livro intitulado: A Igreja Gnóstica, do qual possuímos um exemplar. O livro é apresentado com as seguintes pomposas palavras:
"Nós, Arcebispos e Bispos da Santa Igreja Gnóstica, reunidos em Concilio Plenário com a devida autorização do Patriarca da Suprema Hierarquia da Igreja e com pleno poder da Fraternidade Branca, à qual pertencemos, enviamos nossa Bênção Apostólica a todos os Irmãos sem distinção de sexo, castas, raça ou cor, desejando que a Roda Evolutiva dêste Ciclo de Vida acelere seu passo, para que a Fraternidade Universal se faça carne entre todos os Filhos do Pai e o Logos divino faça florescer a Rosa bendita da Espiritualidade sôbre a gigantesca Cruz da nossa Terra. Nós, com os poderes que nos foram conferidos, autorizamos o Arcebispo de nossa Santa Igreja, Frater Huiracocha, para que dê à publicidade êste livro, no qual se faz uma exposição doutrinária sôbre o número e o significado de nossos Mistérios, já que chegou o momento que a Primitiva e Verdadeira Igreja Cristã saia ao encontro da Humanidade nesta Era precedente ao Nascimento do Aquário”.
Por esta amostra já se pode avaliar o resto. Naturalmente, não se fica sabendo quem são êstes Arcebispos e Bispos, quem é o Patriarca da Suprema Hierarquia, quando e onde se reuniu o tal Concilio
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Plenário, o que é a Fraternidade Branca, etc. Tudo isso não passa, seguramente, de fantasia. Depois da apresentação vem o convite:
“Vinde, pois, bebei desta Fonte. A Igreja Gnóstica não é uma Igreja mas um novo Ideal Religioso inventado a propósito dos tempos. E’ a Igreja de Cristo, a que Jesus pregou, o divino Rabbi da Galiléia, com todos os seus Sagrados Mistérios Iniciáticos. E’ a Igreja da Redenção, a Primitiva Igreja Cristã, que sofreu todos os embates do Sectarismo Católico.. . ”
Huiracocha, isto é, o Sr. Krumm-Heller, começa então sua exposição. Revela primeiramente que também êles possuem um livro sagrado: a Pistis Sophia, que se encontra apenas fragmentàriamente em alguns antigos manuscritos e somente em versões, não no original grego, tal como foi publicado em 1851 por Schwartz e Petermann. Mas, insiste, tudo isso é muito incompleto, “o Livro íntegro, intacto, o verdadeirí original grego, tal como foi escrito e com toda a su. pureza de ensino, está em poder de nossa Santa Igre ja, como relíquia esotérica, que se dá a conhecer somente aos que estão em condições de receber suas profundas e claras V erdades...” — E assim êle vai colocar-se num terreno incontrolável, desimpedido e livre para apresentar as criações de sua própria fantasia. Explica que pistis não quer dizer “fé”, mas “força mágica” e, portanto, pistis sofia é a ciência da força mágica ou teurgia ou magia branca, “cuja chave, naturalmente, não se pode dar neste livro, mas ela é fornecida mediante cursos secretos que podem ser dados pelo Autor com o prévio pagamento dos direitos” . . . Hinc illae lacrimae! — Passa depois a estudar, sempre a seu modo “esotérico”, os gnósticos dos primeiros séculos, exalta Simão o Mago, os Va- lentinianos, Basílides, Saturnino de Antioquia, Mar- cião do Ponto, Carpócrates, os Albigenses, etc. E ao
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mesmo tempo, em numerosíssimas páginas, manifesta um verdadeiro e entranhado ódio à Igreja Católica.
6) A Igreja Expectante
Esta curiosa associação, intimamente aparentada com a Ordem Kabbalística da Rosa-Cruz de “Mestre” Papus, foi fundada em 1919, em Buenos Aires pelo Sr. Albert Raymond Costet de AAascheville (nome iniciático: “Cedaior”), que foi também seu primeiro Patriarca. Morreu em 1943 e sucedeu-lhe como segundo Patriarca seu filho Léo Álvarez Costet de Mascheville (nome iniciático: “Sri S e v a n a n d a Swami”). Êste transferiu em 1953 a sede internacional para o Brasil e dirige atualmente em Rezende, R. J., uma espécie de mosteiro iogue denominado “Amo-Pax”.
a) Temos diante de nós um livreto mimeografado intitulado: Igreja Expectante, Bas^s e Rituais, que se apresenta como um documento oficial dêste estranho movimento. O art. 2 das “Bases” assinala para a Igreja Expectante as seguintes finalidades:
“1) Evangelizar, no sentido mais amplo do têrmo, isto é, pregar e praticar os Evangelhos e os Ensinamentos de todos os grandes Reveladores, Profetas, Santos e Iluminados Pensadores, do Oriente e do Ocidente, pondo em evidência a Unidade de Religião, sob as formas múltiplas de cultos, credos e ritos.
2) Promover por todos os meios legais e legítimos, morais e honestos, o acercamento de todos os devotos, crentes e místicos.
3) Estimular o aspecto “Expectante”, isto é, a espera amorosa que a humanidade deve cultivar, para sair do materia- lismo, causante da crise moral mundial”.
A “Cruzada das Religiões Irmanadas” da “Legião da Boa Vontade” do Sr. Alziro Zarur recebeu seu primeiro e decisivo impulso do Sr. “Sevananda”.
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b) A Igreja Expectante é dirigida por seu Patriarca, isto é, pelo Sr. Sevananda e isso de um modo absolutamente totalitário, como se vê pelos artigos 3 e 4 das “Bases” :
Art. 3: A Direção da Igreja Expectante cabe, total e unicamente, ao Patriarca, em todos os aspectos: civil, econômico, cultural bem como espiritualmente.
Art. 4: O Patriarca delegará caso por caso, função por função, as parcelas de tais aspectos de sua autoridade, como melhor entender fazê-lo e, posteriormente, modificá-lo ou anulá-lo”.
Êle, o Patriarca, e somente ele poderá mudar as “Bases” ou interpretá-las, quando bem entender (art.8); êle também designará seu sucessor (art. 10).
c) Além do plenipotenciário Patriarca, a Igreja conhece as seguintes categorias de membros.
1) Sacerdotes: Podem ser homens ou mulheres, mas sejam vegetarianos, com votos de não possessi- vidade, humildade e pureza. Devem fazer estudos especiais. São sagrados pelo Patriarca. Podem casar.
2) Monges e monjas: Devem ser vegetarianos, não violentos, renunciar à vida mundana, viver em comunidade monástica, dedicados a trabalhos agrícolas, manuais e intelectuais, com atividade contemplativa e mística. Usam os métodos yogas.
3) Ungidos e ungidas: Não menores de 22 anos, exercem o “sacerdócio menor de urgência” : sacramentos de nascimento, casamento e morte.
4) Noviços e noviças: Homens e mulheres que desejam receber orientação e preparação religiosa da Igreja Expectante, para ingressar depois numa das três categorias antes mencionadas.
d) Muita importância têm entre êles as cerimônias. Possuímos um exemplar dos vários rituais: o Ritual de Batismo Expectante, o Ritual da Consagração Expectante, o Ritual da Bênção Dominical, o Ritual da
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Comunhão Expectante, o Ritual da Bênção Matrimonial, o Ritual da Bênção de Despedida (antes da morte) e o Ritual da Bênção post-Mortem e de Inuma- ção. Daremos a conhecer o essencial do Batismo e da Comunhão:
1) Distinguem o Batismo Infantil (do 0-7 anos), o Batismo Juvenil (de 7-14 anos) e o Batismo de Adulto. “O Sacramento do Batismo, na Igreja Expectante, é considerado, fundamentalmente, como uma cerimônia que tem o efeito real de colocar na alma do ser potências de três ordens vibratórias, estimulantes da vida psíquica”. Mas podemos adiantar que, do ponto de vista cristão, o batismo dêles é certamente inválido e nulo.
A fórmula essencial no Batismo Infantil é esta: O ministro diz: “Eu represento, neste momento, os Anjos que protegeram a alma desta criança, quando desceu no claustro materno. Represento os Anjos que protegerão os esforços dela por crescer, ver, ouvir, falar, andar, aprender e orar. E invoco a êsses Anjos para que, usando do poder do meu coração de homem, da minha alma de sacerdote, a protejam neste mundo sensível, onde a recebo. E tu (nome), meu filho espiritual, recebe neste instante os eflúvios desta Água Sagrada (projeta partículas) que te unem à vibração Maternal dos Anjos Providenciais”. — No Batismo do adulto ainda se diz: “E porque vieste, livre e espontâneamente, buscar a Proteção e Inspiração dos Anjos desta Igreja e o ministério de seus Ungidos e Sacerdotes; e, porque aceitaste conviver com seus fiéis e trabalhar com êles pelo Mundo Melhor de Amanhã, e pela Raça que surgirá dos esforços começados antes de Krishna, continuados por Confúcio e Buda, e iluminados pelo amor de Cristo, eu te receberei, para que possas comungar, na Terra e no Céu, com todos os Expectantes”.
2) O sacrílego ritual da Comunhão Expectante consta de: a) predicação preparatória fixa (pequena alocução de três minutos, um texto prescrito, sobre o significado do pão e do vinho que vão ser utilizados
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para a Comunhão); b) dedicação das espécies (atenda-se ao uso do termo “espécies” . . . ) ; c) consagração pelos anjos: d) consagração pelo sacerdote; e) comunhão do sacerdote; f) comunhão dos fiéis (o sacerdote dá aos fiéis o pão e o vinho, traçando sobre cada cabeça a Cruz Expectante...). Vejamos a parte essencial da “consagração pelo Sacerdote” :
Abençoando o pão: O Pão tiosso de cada dia, dai-nos também hoje: Matéria para o corpo, Experiência para a mente e Amor para nos querer bem e adorar o Supremo! Neste espírito, Te abençoo, o Pão de Saúde, de Paz e de União!...
Abençoando o vinho: O Vinho de cada dia, dai-nos também hoje: Sutileza para preferir o Espírito à Matéria, Pureza para nos manter conscientes de nossa natureza espiritual, Percepção íntima para conhecer a Realidade...
Abençoando ambas as Espécies: Que êste Pão de Experiência e Vinho de Pureza nos unam em comunhão de Paz, de Amor e de Percepção.
7) O Cavaleiro Rosa-Cruz dos Maçons
E’ sabido que a Maçonaria trabalha em vários Ritos e que cada Rito é subdividido em numerosos graus. Assim o Rito Escocês Antigo e Aceito (que é usado em 95% das lojas maçônicas do Brasil) possui 33 graus e o 18.° grau (um dos mais importantes, aliás) chama-se: Cavaleiro Rosa-Cruz; o Rito Adonhirami- ta (hoje pouco usado entre nós) tem 13 graus, sendo o 12.° o Cavaleiro Rosa-Cruz; o Rito Moderno ou Francês (motivo de muita discórdia entre os nossos maçons) trabalha em 7 graus, sendo o último dos Cavaleiros Rosa-Cruz.
Pergunta-se agora: qual é a rèlação entre estes Cavaleiros Rosa-Cruz dos maçons e o rosacrucianis- mo que vínhamos estudando? — Respondemos: a relação é puramente extrínseca, de mera denominação.
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0 Cavaleiro Rosa-Cruz de qualquer rito maçon não pertence necessàriamente a nenhuma das organizações rosacrucianas acima elencadas; e o membro de alguma destas organizações não é necessàriamente um maçon grau 18. Existe, porém, evidente parentesco entre a sociedade secreta dos tnaçons e as organizações secretas dos rosacrucianos. A AMORC, como vimos, possui uma organização nitidamente ma- çônica; mas como organização é independente da clássica “Maçonaria”. E’, entretanto, bem possível que um maçon (mesmo o Cavaleiro Rosa-Cruz) seja ao mesmo tempo sócio da AMORC, ou de outra qualquer Fraternidade Rosacruciana. No mais, não queremos agora entrar em considerações críticas sobre a Maçonaria: já o fizemos amplamente em nosso livro A Maçonaria no Brasil (Editora Vozes).
8) Considerações Críticas Gerais
a) Fanatismo por “Mestres”
Nunca compreendemos tão bem a palavra do Apóstolo: “Virá tempo em que acharão insuportável a sã doutrina; antes, levados pelo prurido de ouvir, acrescentarão mestres sobre mestres, a seu capricho e ta- lante, apartando os ouvidos da verdade, e voltando- se para as fábulas” (2 Tim 4, 3-4). Homens ilustres, médicos, advogados, generais, que se julgam evoluídos e superiores, independentes e livres-pensadores, que de modo algum suportam o Magistério da Igreja, apegam-se fanàticamente a “mestres”, “imperatores”, “patriarcas”, “arcebispos” e não sabemos que outros “supremos grão-mestres”, “hierofantes”, ou “magos”. Spencer Lewis, Max Heindel, Clymer, Krumm- Heller, M. J. Soares de Oliveira, Dario Vellozo, Irene Ruggiero, José Oiticica, Cambareri, ou, então, “Hui-
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racocha”, “Ilmrizar”, “Ccclaior”, “Sevananda”, etc., são nomes que exigem submissão, respeito e observância. Podem mandar e desmandar à vontade. Vimos, por exemplo, como domina o Imperator da AMORC e como é totalitário o Patriarca da Igreja Expectante. O mesmo culto dos mestres se verifica nas lojas teosóficas, nos tattwas esotéricos, nos centros espíritas e nos terreiros umbandistas. “Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis: mas venha qualquer outro em seu próprio nome, e logo o recebereis” (Jo 5, 43). Em nome da razão negam-se a aceitar a augusta e santíssima Trindade anunciada por Cristo, mas aceitam as fantasias mais absurdas em torno dó “Irmão Maior”, da “Consciência Universal”, da “Consciência Cósmica”, da “Santa Assembléia Cósmica”, da “Grande Irmandade Branca”, da “Grande Loja Branca”, da “Alma Universal”, etc. Não admitem a doutrina de Cristo acêrca do Céu e do Inferno, mas falam com ingênua segurança da Atlântida e da Lemuria. Não se afanam na busca da graça santificante, mas em pleno século vinte correm atrás da pedra filosofal e do elixir da longa vida. “Embora conhecessem a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças; antes se ocuparam com pensamentos fúteis; obscureceu-se-lhes o coração insensato; pretenderam ser sábios, e tornaram-se estultos” (Rom 1, 21-22). Oh!, exclamou alguém, êsses livres-pen- sadores, conheço-os: não são nem livres, nem pensadores...
Para ilustrar mais concretamente êsse fanatismo pelo "mestre”, abramos o regulamento particular do Colégio Capitular Saint Germain, de Niterói, da FRC, publicado em 1948 sob o título Tuas Regras. A 3* Regra determina: “Uma vez recebido como Discípulo, será sempre Discípulo. Igualmente: uma vez que haja aceito um Mestre, este terá de ser sempre o mesmo, suceda o que suceder; a menos que o Dis
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cípulo manifeste, de maneira categórica, seu desinteresse e renuncie em tal sentido: Fique, porém, desde já avisado de que essa falta é sempre motivo de terríveis conseqüências, pois que, como individuo, guarda sempre em si, como direito sagrado, a faculdade de determinar aquilo que prefere. Daí, o negar o Mestre é a maior falta que se pode cometer na v id a .. .” — Depois, na 5* Regra: “O Discípulo deve submissão absoluta ao seu Mestre, no qual jamais poderá encontrar defeitos ou sôbre o mesmo formular maus pensamentos. Isto porque o Mestre é mais que um bom amigo, melhor que um excelente Pai, pois que é a representação do Supremo e a encarnação dos Princípios que ensina. Ai daquele que falte ao respeito, manifeste rancor ou venha a tornar-se iníquo para seu Mestre! A maldição dos deuses (Devas) cairá sôbre êle, porque o Mestre é um grande agraciado e mimado dos mesmos, por ser servidor incondicional dos mais altos Princípios...” — E pensar que o conhecido anarquista José Oiticica foi “mestre”, durante anos, precisamente dês- te Colégio Capitular Saint Germain...
b) Intoxicação Intelectual
Sentimos sinceramente o esforço e o tempo perdido pelos “estudantes”, vítimas da hábil e insinuante propaganda rosacruciana. Incomparavelmente mais lamentável é, entretanto, a falsa convicção que êstes estudantes criaram em relação ao que os rosacruzes depreciativamente chamam de “ciência oficial” e “religião oficial”. Êles “sabem” agora muito mais! Sen- tem-se superiores, “iniciados” nos verdadeiros segredos da natureza, do mundo, do “cosmos” e da religião. Um simples mortal ou “profano”, aquele que cursou apenas a Universidade “científica” e não sabe mais do que a “ciência ou religião oficial”, êste sente-se pequeno, inexperiente, atrasado, ignorante diante do Iniciado. Pois o estudante da Fraternidade Rosacruz de Max Heindel sabe e está imperturbà- velmente convencido que “do Ser Supremo procedem os Sete Grandes Logos do primeiro Plano Cósmico”;
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que “o mundo mais elevado do sétimo Plano Cósmico é habitado por Deus” ; que “o senhor Cristo era o maior Iniciado do Período Solar” ; que nós vivemos agora “na quinta época do quarto globo da quarta revolução do quarto período” ; e que esta época é a Ária, e depois virá a época da Nova Galiléia... Tudo isso é coisa sabida e certa para estes felizes iniciados nos mistérios rosacruzes; e para nós outros, infelizes profanos, continua tudo envolto no mais es- pêsso véu do mistério... Não há possibilidade de conversa séria e científica com um desses iniciados: já sabem tudo melhor e com precisão incomparàvel- mente superior.
Tomemos, para amostra, a primeira lição dum dêsses “cursos por correspondência” da Fraternidade Rosacruz da Av. Tijuca, 1000. As duas primeiras perguntas, e às quais o estudante deve dar resposta por escrito, são as seguintes:
1) Como se denominam os sete Mundos em que se divide o Universo?
2) Como se denominam as sete Regiões do Mundo Físico, e quais são as duas divisões gerais destas sete Regiões?
Portanto, já na primeira lição nosso “estudante” fica sabendo que o Universo se divide em sete Mundos, a saber: 1) Mundo Físico, 2) Mundo do Desejo, 3) Mundo Mental, 4) Mundo do Espírito de Vida, 5) Mundo do Espírito Divino, 6) Mundo dos Espíritos Virginais, 7) Mundo de Deus. Por esta primeira lição já saberá também que o Mundo Físico se divide em sete Regiões, e que são: 1) Sólidos, 2) Líquidos, 3) Gases, 4) Éter Químico, 5) Éter de Vida, 6) Éter Luminoso, 7) Éter Refletor. — Saberá também que o Éter Químico se manifesta duplamente, de modo positivo e negativo; pelo pólo positivo trabalha sôbre a assimilação dos elementos apropriados para o sustento das plantas, dos animais e dos homens; pelo negativo elimina os elementos inúteis. Saberá que tudo o que fazemos e pensamos fica impresso no Éter Refletor, temporàriamente, mas que a Memória indelével da Natureza está num plano mais elevado, onde um clarividente voluntário não pode equivocar-se...
Tudo isso e muito mais — coisas sôbre o Éter de Vida e o Éter Luminoso — se aprende logo na primei
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ra lição e por alguns cruzeiros. E assim continuam as lições com suas fantásticas iniciações e doutrinações arbitrárias. Quem convencerá depois a êsses iniciados que o Éter Refletor e o Mundo Mental não passam de puras fantasias de cérebros doentios? Tivemos o caso de um aluno nosso, estudante universitário, mas já sabido, já iniciado, cheio destas extravagâncias esotéricas: não havia remédio, sua inteligência já estava intoxicada.
A intoxicação intelectual e o embotamento do sentimento religioso (do qual falaremos logo mais) são, por exemplo, manifestos numa carta que recebemos em maio último e da qual, com o perdão do autor, transcreveremos alguns trechos: ‘Tui católico romano praticante em tôda a minha infância e meu sonho era ser sacerdote. As dificuldades e incompreensões impediram-me. Ainda muito jovem dediquei- me por curiosidade aos estudos dos fenômenos psíquicos e tornei-me um meio crente no Espiritismo; digo meio, porque, não podendo negar a evidência dos fatos que escapavam à minha capacidade de análise, a dúvida se apoderou de mim e com ela tomei a disposição de estudar tudo que me surgisse pela frente até o último instante de minha vida. Tendo-me lançado ao estudo de tôdas as fontes que me são possíveis, a respeito das religiões e suas origens, perdi totalmente a possibilidade de me confinar a uma. Sou católico, no sentido de que sou eclético. Tenho fé absoluta em Deus, que para mim não tem personalidade, é, para mim, um Espírito, inatingível pela mente humana, indefinível mas sempre presente. Creio em Cristo, sinto a sua presença nos meus sublimes momentos de introspecção e devoção; mas não creio na existência histórica de Jesus, o que considero uma evolução dos tótens. Creio na Virgem Santíssima, a quem entrego todos os atos de minha vida e na solidão derramo lágrimas no êxtase de sua contemplação; mas não creio na mulher, virgem esposa de José e suposta mãe de Jesus. A Bíblia é para mim um livro profundamente simbólico, de cunho psicológico, que até hoje não houve quem a entendesse a não ser o seu autor”. — Continua a carta neste estilo. Percebe-se que seu infeliz autor está emaranhado num cipoal sem saída. E' a intoxicação intelectual e o embotamento do sentido religioso. Psicològicamente será difícil, senão
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impossível, ajudá-lo e reconduzi-lo a um caminho que êle esteja disposto a aceitar. Leu e estudou tudo, as mais extravagantes fantasias ocultistas e mentalistas, mas não dispunha de formação científica, filosófica e teológica suficiente para discernir a verdade do ôrro, a realidade da fantasia. Acabou no ponto em que só podia terminar com sua inteligência: na dúvida e ceticismo. "Duvido, escreve-mais adiante, duvido da sabedoria de todos os séculos; e, sobretudo, duvido de mim mesmo”.
c) Embotamento do Sentido Religioso
“A AMORC não é uma religião”; “a Fraternidade Rosacruz é uma igreja não sectária” ; “na FRC cada um segue os ditames de sua própria consciência”; “na Igreja Expectante cada um reza a seu modo”; “nas nossas reuniões é expressamente proibido atacar qualquer religião” ; “respeitamos todas as religiões e não interferimos nas convicções religiosas do indivíduo” ; — eis os chavões comuns da propaganda rosacruciana, esotérica, maçônica, teosófica, espírita e umbandista. Algumas palavras do Evangejho, mais o nome de Cristo, colocado ao lado de Buda, Crisna ou outro “mestre” de preferência, servem para abafar qualquer suspeita de eventuais sentimentos anticris- tãos. Não são sectários; pelo contrário: “Queremos pregar e praticar os Evangelhos e os Ensinamentos de todos os grandes Reveladores, Profetas, Santos e Iluminados Pensadores, do Oriente e do O cidente...” A generosidade do coração é incomparàvelmente mais ampla que as exigências da razão. Alegam não ter dogmas; mas todos êles, absolutamente todos, pregam unânimemente a reencarnação e o panteísmo. Não vêem, ou não querem ver, que desta forma êles se opõem diretamente às verdades fundamentais da Revelação Cristã. Cristianismo, para êles, quer dizer escolher dos Evangelhos algumas frases que nos fa-
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Iam de amor e caridade; o resto fica por conta do atraso daqueles tempos, ou então é corrupção intencionalmente introduzida pela Igreja Católica. Do mesmo modo procedem com o Budismo: selecionam umas frases que concordam com os próprios caprichos. E assim com as demais religiões. Na verdade não são nem cristãos, nem budistas, nem induístas. O lema deles, explicitamente citado aliás, são as palavras do Apóstolo: “Examinai tudo; escolhei o melhor”. Palavras arrancadas do contexto e violentadas em seu sentido original. Assim, pouco a pouco, o sentimento religioso fica totalmente pervertido. e embotado. Acabam por não crer em coisa nenhuma. E a religião é substituída por um vago moralismo, sem entusiasmo nem. vigor, que a muito custo consegue manter uma fachada aceitável. “Mas por dentro estão cheios de toda a sorte de podridão” (Mt 23, 27).
d) Esoterismo Suspeito
Os movimentos rosacrucianos não diferem, em sua essência, do nosso Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. Valem, por isso, também para os ro- sacruzes as observações críticas que no folheto n.° 9 desta Coleção fizemos sobre o Círculo Esotérico, a saber:
a) Mentalismo exagerado.b) Naturalismo exclusivo.c) Indiferentismo religioso positivo.d) Esoterismo suspeito e condenado pela Igreja.e) Afinidade com o Espiritismo.f) Favorece e propaga superstições.g) Cria o curandeirismo.h) Prega o panteísmo.
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i) Propaga a filosofia da reencarnação.j) Leva à apostasia de Cristo.
Por tudo isso o católico não pode afiliar-se a nenhuma das organizações rosacrucianas. Quem volun- tàriamente resolver tornar-se rosacruz deixa de ser cristão e perdeu os direitos de católico.
Tenhamos sempre presente a admoestação do Apóstolo: “Vivei, pois, em Cristo Jesus, o Senhor, assim como o recebestes, arraigados e fundados n’Êle, apoiados sôbre a fé segundo a doutrina que aprendestes. Cuidai de que ninguém vos leve de novo à escravidão, com filosofias falazes e vãs, fundadas em tradições humanas, nos elementos do mundo e não em Cristo” (Col 2, 6-8).
Nota sôbre a Reencarnação
Como vimos ao analisar as várias organizações ro- sacruzes, todas elas aceitam como doutrina fundamental a idéia da pluralidade das existências, ou a filosofia da Reencarnação. Esta é a razão principal por que tôdas elas também se opõem frontalmente à mensagem cristã e por que os rosacruzes deixaram de ser cristãos. Seria por isso interessante e útil abrir aqui um capítulo especial com considerações sôbre a Reencarnação. Entretanto, como também os espíritas, esoteristas e teósofos são reencarnacionistas, resolvemos estudar a questão da pluralidade das existências em folheto especial. E’ o folheto n.° 8 desta mesma coleção de Defesa da Fé e tem êste título: A Reencarnação. Exposição e Crítica, com 133 páginas. Se tiver dúvidas sôbre esta questão, peça a brochura na Editôra Vozes, Caixa Postal 23, Petrópolis, R. J.
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Í N D I C E
1) Origens históricas ............................................................. 52) A antiga e mística Ordem Rosae Crucis ...................... 9
a) O rganização.................... 13b) Membros . ................................................................ 14c) Finalidade da AMORC.............................................. 1?d) A disciplina do segrêdo ......................................... 18e) A doutrina da AMORC ........................................... 19f) O aspecto pseudo-religioso ................................... 21g) Crítica ......................................................................... 23
3) Fraternidade Rosacruz (de M. Heindel) ...................... 24a) No Brasil . . . ........................................................ 20b) Etapas ........................................................................ 26c) Fantasias de M. Heindel ......................................... 27d) O cristianismo da Fraternidade Rosacruz .......... 28e) Superstição e curandeirismo .................................. 30
4) Fraternitas Rosae Crucis (FRC) ................................... 315) Fraternitas Rosicruciana Antiqua (FRA) ...................... 336) Igreja Expectante ............................................................. 367) O Cavaleiro Rosa-Cruz dos Maçons ............................. 398) Considerações críticas ..................................................... 40
a) Fanatismo por “Mestres” ....................................... 40b) Intoxicação intelectual ............................................. 42c) Embotamento do sentido religioso ......................... 45d) Esoterismo su s p e ito ................................... 46
Nota sôbre a reencarnação ..................1.............................. 47