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Ricardo Jorge Moreira Teixeira
Fatores pessoais e contextuais associados ao desenvolvimento da excelência: Estudo exploratório com atletas nacionais
outubro de 2014
Ricardo Jorge Moreira Teixeira
Fatores pessoais e contextuais associados ao desenvolvimento da excelência desportiva: Estudo exploratório com atletas nacionais
Dissertação de Mestrado
Mestrado Integrado em Psicologia
Trabalho realizado sob a orientação do
Professor Doutor José Fernando Cruz
outubro de 2014
Nome: Ricardo Jorge Moreira Teixeira
Endereço eletrónico: [email protected]
Nº cartão de cidadão: 13760914 Validade:26/05/2015
Título dissertação de Mestrado:
Fatores pessoais e contextuais associados ao desenvolvimento da excelência: Jovens Atletas
Orientador:
Professor Doutor José Fernando Cruz
Ano de conclusão: 2014
Designação do Mestrado:
Mestrado Integrado em Psicologia
É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA TESE/TRABALHO, APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.
Universidade do Minho, / /__
Assinatura: ____________________________________________________________
ÍNDICE
Agradecimentos..........................................................................................................................v
Resumo......................................................................................................................................vi
Abstract.....................................................................................................................................vii
Introdução...................................................................................................................................1
Método........................................................................................................................................5
Participantes............................................................................................................................5
Medidas...................................................................................................................................7
Procedimentos.......................................................................................................................10
Análise de Dados...................................................................................................................11
Resultados.................................................................................................................................11
Discussão e Conclusão..............................................................................................................18
Referências Bibliográficas........................................................................................................21
iv
Agradecimentos
Gostaria de agradecer ao meu orientador, Professor Doutor José Cruz, por toda a
disponibilidade, feedback e tempo despendido no auxílio da progressão da minha
aprendizagem, assim como a todo o restante grupo de investigação. Deixo também um
agradecimento a todos os clubes e atletas que permitiram a realização desta dissertação.
Agradeço à minha família, por tudo o que fizeram por mim. Em especial aos meus
pais, que ao longo dos cinco anos foram eles que estiveram sempre prontos a ajudar-me a
ultrapassar todos os obstáculos. Claramente sem o seu apoio e suporte nunca conseguiria
realizar o curso. Mantiveram-me sempre no caminho certo e antes de este sucesso me
pertencer, pertence primeiramente a eles. Agradeço-lhes por tudo do fundo do coração e sei
que ao alcançar mais esta etapa na minha vida estou a contribuir para o aumento da sua
felicidade. Sei de todo o esforço que fizeram, fazem e farão pelo meu bem e portanto espero
congratular sempre esse esforço.
Gostaria também de agradecer à minha namorada Débora Monteiro, porque também
sem ela não conseguiria concluir o curso. A ela agradeço-lhe por todo o apoio quer a nível
pessoal quer a nível profissional, pois além de ter de me aguentar a nível pessoal tem ainda de
me auxiliar na realização de tarefas decorrentes do curso. Agradeço-lhe por tudo,
nomeadamente pelos sacrifícios que faz pelo meu bem, que não são poucos. Também em
relação a ela espero continuar a retribuir todo este amor da melhor forma que conseguir.
v
Fatores Pessoais e Contextuais Associados ao Desenvolvimento de Excelência: Estudo
Exploratório com Atletas Nacionais
Resumo
O presente estudo procurou explorar a importância de um conjunto de características
pessoais e contextuais que contribuem para o desenvolvimento da excelência atletas. Para
além disso, procurou também contribuir para a validação do “Psychological Characteristics of
Developing Excellence Questionnaire” (MacNamara & Collins, 2011) para a população
portuguesa. Para o efeito, participaram neste estudo 109 atletas dos escalões juvenil/júnior e
sénior, sendo 88 (80.7%) do sexo masculino e 21 (19.3%) do sexo feminino, com idades
compreendidas entre os 14 e os 36 anos (M = 20.77; DP = 4.91). Os participantes pertenciam
a oito clubes nacionais reconhecidos nas respetivas modalidades pela qualidade dos seus
praticantes e que competiam nas divisões principais dos respetivos escalões. Os resultados
apontam um conjunto de variáveis pessoais (e.g., positividade, coping ativo) e contextuais
(e.g., qualidade da relação treinador-atleta) como estando positivamente correlacionadas com
as caraterísticas psicológicas para o desenvolvimento da excelência, ressalvando a
importância que cada um destes fatores assume na compreensão do desenvolvimento e
manutenção de desempenhos de alto nível no desporto.
Palavras-chave: excelência, fatores pessoais, fatores contextuais.
vi
Personal and contextual factors associated with the development of excellence:
Exploratory study with national Portuguese athletes
Abstract
This study aims to explore the importance of a set of personal and contextual
characteristics that contribute to the development of excellence in young athletes. In addition,
a contribution for the adaptation and validation of the "Psychological Characteristics of
Developing Excellence Questionnaire" (MacNamara & Collins, 2011) in the Portuguese
population was also intended. Toward this end, 109 athletes participated in this study of youth
/ junior and senior levels, 88 (80.7%) were male and 21 (19.3%) were female, aged between
14 and 36 years (M = 20.77, SD = 4.91). Participants were from eight national recognized
clubs in the respective modalities for the quality of its practitioners and competing in major
divisions of the respective groups. The results identify a number of personal variables (eg,
positivity, active coping) and contextual (eg, coach-athlete relationship quality) as being
positively correlated with psychological characteristics to the development of excellence,
underlying the importance that each of these factors assumes understanding the development
and maintenance high level of performance in sport.
Keywords: excellence, personal factors, contextual factors.
vii
viii
Fatores Pessoais e Contextuais Associados ao Desenvolvimento de Excelência: Estudo
Exploratório com Atletas Nacionais
Ao longo da última década intensificou-se o interesse pelo estudo da excelência em
vários contextos de realização (e.g., desporto e música). Apesar de subsistirem várias
definições, não existe uma definição consensual do conceito de excelência, uma vez que a
investigação tem sido realizada com recurso a uma diversidade de constructos referentes à
temática (e.g., elite, expertise, talento), tendo subjacentes diferentes abordagens teóricas e
metodológicas. No entanto, como refere Matos (2011) esta multiplicidade que tanto
complexifica a definição deste conceito, é a mesma que contribui para a progressão da
compreensão do mesmo. Regra geral, todas as operacionalizações têm subentendida a
conceção de excelência como uma performance eminente e sólida num determinado domínio
(Matos, Cruz, & Almeida, 2011). Salvaguarda-se que dentro de todas as abordagens, “mais do
que conhecer o que fazem os excelentes, importa sobretudo compreender como fazem, ou
como são esses indivíduos” (Araújo, Cruz & Almeida, 2011, p. 256).
Para além disso, a excelência tem sido entendida como um processo complexo, que
depende da combinação de fatores inatos e ambientais. Desse modo, existem habilidades que
fazem parte de cada um à nascença e outras que vão sendo desenvolvidas e reforçadas ao
longo do desenvolvimento (Mills, Butt, Maynard, & Harwood, 2012). Porém, apesar de
possuírem por vezes capacidades inatas, os indivíduos apenas conseguirão atingir os níveis de
excelência se materializarem as oportunidades, que provêm de uma orientação adequada
(Abbott & Collins, 2002). A questão central não se traduz assim no debate sobre qual dos dois
é o principal, mas sim “what kind of interaction occurs between the two, and how this
influences development” (Mönks & Mason, 2000, p. 141).
Para além do esforço em operacionalizar o conceito, são muitos os autores que tentam
delinear o caminho para a excelência, como Ericsson, Krampe e Tesch-Romer (1993) que
num estudo com músicos ressalvam a necessidade de 10 anos ou 10 mil horas de prática
deliberada, para o alcance de níveis de excelência. Entendendo-se prática deliberada como as
atividades que têm como propósito melhorar os níveis de desempenho (Holt & Dunn, 2004;
Barreiros, Côté, & Fonseca, 2013). O objetivo do desenvolvimento de talento deve ser o de
1
identificar e desenvolver as capacidades dos atletas para o desempenho futuro (Abbott &
Collins, 2004). O percurso para a excelência não é uniforme, pelo contrário, cada fase de
desenvolvimento tem as suas próprias características e consequentemente as suas exigências
específicas (MacNamara & Collins, 2011).
Este entendimento é corroborado pelo Modelo de Desenvolvimento da Participação
Desportiva (MDPD; Côté, 1999) onde o desenvolvimento da “excelência” ocorre de acordo
com três fases. A primeira fase corresponde à diversificação, isto é, manifesta-se na prática de
diversos desportos que tem como finalidade extrair satisfação da sua participação, não sendo
necessárias grandes condições para a sua realização. A segunda fase equivale à fase da
especialização, nesta fase os atletas começam a entregar-se exclusivamente a um desporto,
diminuindo presumivelmente o número de desportos praticados precedentemente, e
aumentando o tempo de prática deliberada. Emergindo à última fase denominada fase de
investimento, em que os atletas se aplicam de modo a atingir níveis de excelência no desporto
elegido na fase anterior. Esta fase caracteriza-se por elevado tempo de prática deliberada, com
o intuito de alcançar a elite (Barreiros, Côté, & Fonseca, 2013).
Interessa referir, que em termos de prevalência, de acordo com a teoria “do pouco-
espaço-no-topo” (Gagné, 2007), do conjunto dos indivíduos que ambicionam alcançar a
excelência, apenas 10% conseguem atingir essa mesma meta. Durante esse percurso para a
excelência, as estratégias utilizadas pelos atletas são determinantes para o seu alcance.
Lazarus e Folkman (1984) consideraram estas estratégias, denominadas estratégias de coping,
como um conjunto de esforços cognitivos, comportamentais e afetivos, empregados para lidar
com exigências particulares. Sendo que Lazarus (1991) definiu dois tipos de coping: o coping
focado nas emoções, que se traduz no empenho para ajustar as respostas emocionais, e o
coping focado no problema, que subsiste na tentativa de agir sobre o problema em questão
(Folkman & Moskowitz, 2004; Cruz, 1996). Lazarus (2000) evidencia ainda que a utilização
de coping adequado poderá influenciar os atletas a estarem mais motivados, levando-os a
estarem mais centralizados para atingirem os seus padrões de excelência. Pensgaard e Duda
(2003) num estudo com atletas olímpicos descrevem que o uso de estratégias de coping
eficazes se traduz na vivência de emoções positivas por parte destes. No estudo de van
Yperen (2009) foi reportado que os indivíduos bem-sucedidos recorriam regularmente a
estratégias de coping focadas no problema, em oposição aos malsucedidos.
2
No estudo da excelência importa ainda realçar um conjunto de fatores que têm sido
encontrados para o seu desenvolvimento e manutenção, sendo estes de carácter contextual e
pessoal. Mais recentemente, os estudos efetuados têm dado ênfase a uma interação dinâmica
entre diversos fatores sociais, ambientais e psicológicos no caminho para a concretização do
potencial (Ceci, Barnett, & Kanaya, 2003 cit in MacNamara, Holmes, & Collins, 2008).
Especificamente em relação aos fatores contextuais, a literatura tem estudado diversos
fatores como estando associados ao desenvolvimento e manutenção da excelência: relação
treinador-atleta, apoio de outros significativos, qualidade do treino, clima motivacional, entre
outros. Quanto ao apoio recebido pelos atletas, Yperen (2009) menciona que os indivíduos
bem-sucedidos procuram mais frequentemente apoio social (i.e., Taylor (2007) define-o como
experiências onde se é prezado e enaltecido pelos outros), quando se deparam com algum tipo
de contradição no seu caminho. Esse apoio muitas vezes é procurado junto das famílias e do
treinador, dado que estas estimulam o interesse do atleta num determinado desporto,
proporcionando apoio moral e financeiro. Contudo, a preponderância da família tende a
atenuar à medida que os atletas vão crescendo (Bloom, 1985). Relativamente ao clima
motivacional, Seligman, Steen, Park, e Peterson, (2005) sugerem que é importante promover
climas difíceis e sustentáveis, que melhorem o desenvolvimento das habilidades psico-
comportamentais.
De um modo geral, no que se refere às características psicológicas, estas são
reconhecidas como centrais nos desempenhos excecionais, (Durand-Bush & Salmela, 2002;
Gould, Dieffenbach, & Moffett, 2002), particularmente Tkachuck, Toogood e Martín (2003)
numa revisão da literatura, nomearam alguns fatores psicológicos ligados à excelência no
desporto, sendo estes o comprometimento, o estabelecimento de objetivos, a motivação, o
planeamento de treinos e competições, entre outros. A literatura sugere que os atletas bem-
sucedidos contêm características psicológicas, como autoconfiança, habilidade para lidar com
a ansiedade e as adversidades, motivação intrínseca, capacidade de estabelecer objetivos e
capacidade de desatender a distrações (Gould, Dieffenbach, & Moffett, 2002). Assim sendo,
os atletas que conquistam sucesso empregam as capacidades psicológicas de forma a otimizar
a aprendizagem e lutar com os desafios inevitáveis do desenvolvimento (MacNamara &
Collins, 2013).
No estudo da relação entre caraterísticas psicológicas e o desenvolvimento da
excelência em contextos desportivos, merece destaque o trabalho desenvolvido por
3
Macnamara e Collins (2011) que desenvolveram o “Psychological Characteristics of
Developing Excellence Questionnaire” (PCDEQ), instrumento esse utilizado neste estudo,
procurando-se deste modo dar contributos para a validação do mesmo. Este questionário foi
desenhado para avaliar a “posse” e implementação de várias caraterísticas psicológicas (e.g.,
estabelecimento de metas, uso da visualização mental) no desenvolvimento da excelência
desportiva, permitindo aos atletas receberem feedback e identificarem áreas que necessitem
de ser melhoradas ou mantidas. Para além disso, pode auxiliar na orientação de programas de
treino, através dessa identificação de aspetos a melhorar, incorporando formação no trabalho
desses campos menos desenvolvidos. Ao longo do desenvolvimento dos atletas este
questionário torna-se relevante para os treinadores, na medida em que usufruem de um
instrumento que lhes possibilita monitorizar o desenvolvimento e promover estas
características psicológicas. Destaca-se que o questionário é sensível à variação do
estabelecimento de características psicológicas de desenvolvimento da excelência, ao longo
da progressão dos atletas (MacNamara & Collins, 2011).
O PCDEQ mede seis fatores ou processos psico-comportamentais presentes no
desenvolvimento desportivo. O primeiro fator, “Apoio para o sucesso a longo prazo” está
relacionado com o uso de características psicológicas, como o controlo da distração para
atingir o sucesso a longo prazo. O segundo fator, “Uso da visualização mental durante o
treino e competição”, menciona a relevância da imaginação como uma estratégia que otimiza
a aprendizagem, bem como o desempenho. O terceiro fator, “Coping com as pressões de
rendimento e de desenvolvimento”, caracteriza-se pela necessidade dos atletas lidarem com as
pressões de desenvolvimento e desempenho. O quarto fator, “Capacidade de organização e
envolvimento em treino de qualidade” consiste na importância da prática de qualidade durante
o desenvolvimento dos atletas. O quinto fator, “Avaliação do rendimento e o trabalho nos
pontos fracos”, este fator destaca a necessidade dos jovens atletas avaliarem justamente as
suas performances, bem como progredir nos aspetos menos desenvolvidos. Por fim, o sexto
fator, “Apoio dos outros para competir ao nível do potencial pessoal”, caracteriza-se pelo
estímulo recebido por parte dos outros, de modo a sustentar a progressão do atleta. De
salientar que os fatores um e seis compreendem itens associados com a forma como os outros
significativos promovem e reforçam as características psicológicas do desenvolvimento da
excelência, enquanto os restantes quatro fatores refletem a inserção independente de
características psicológicas do desenvolvimento da excelência (MacNamara & Collins, 2011,
2012).
4
No entanto, tendo em conta que a maioria dos estudos realizados sobre o
desenvolvimento da excelência recorreu a designs retrospetivos e de natureza descritiva e
transversal (Gould, Dieffenbach, & Moffett, 2002), torna-se necessária a realização de estudos
com jovens atletas, de modo a conhecer melhor as etapas iniciais e a progressão no
desenvolvimento de talentos (Durand-Bush & Salmela, 2001). Estes estudos são então
essenciais na identificação e posterior amplificação dos fatores associados ao sucesso
(Durand-Bush & Salmela, 2001). Assim, o presente estudo transversal tem como objetivo
principal explorar quais os fatores pessoais e fatores contextuais que contribuem para o
desenvolvimento da excelência nos atletas e analisar o padrão de relações das características
da excelência em desenvolvimento com outros constructos teoricamente relevantes.
Paralelamente, procurou-se verificar a possível existência de diferenças em função do escalão
competitivo. Adicionalmente, atendendo à ausência de dados suficientes de validação do
questionário “Psychological Characteristics of Developing Excellence Questionnaire”
(MacNamara & Collins, 2011) para a população portuguesa, este estudo passa ainda por
contribuir para a adaptação e validação desta medida específica do domínio (contextos
desportivos), junto da população desportiva nacional, deste instrumento específico do
domínio desportivo, aumentando assim o leque de medidas válidas disponíveis para o estudo
do desenvolvimento da excelência desportiva no nosso país.
Método
Participantes
Este estudo recorreu a uma amostra de conveniência, sendo que participaram neste
estudo 109 atletas, 88 (80.7%) do sexo masculino e 21 (19.3%) do sexo feminino, com idades
compreendidas entre os 14 e os 36 anos (M = 20.77; DP = 4.91). Atletas esses que pertencem
a oito clubes nacionais que competiam nas divisões principais dos respetivos escalões. Na
tabela 1 encontram-se descritas as caraterísticas demográficas dos participantes, bem como a
modalidade, escalão e nível competitivo, enquanto na tabela 2 encontram-se as informações
relativas à prática da modalidade.
Tabela 1
Características dos Participantes
Amostra total
5
N = 51 %Género Masculino 88 80.7 Feminino 21 19.3Idade 14-18 anos 39 35.8 19-24 anos 48 44.0 25-36 anos 22 20.2Habilitações 6ºano 2 3.9 9ºano 6 11.8 12ºano 29 56.9 Licenciatura 10 19.6 Mestrado 4 7.8Modalidade Voleibol 31 28.4 Basquetebol 12 11.0 Kickboxing 8 7.3 Atletismo 3 2.8 Futebol 21 19.3 Canoagem 20 18.3 Andebol 14 12.8Escalão Competitivo Júnior/Juvenil 38 34.9 Sénior 71 65.1Nível Competitivo Regional 3 4.1 Nacional 53 71.6 Profissional 18 24.3
Tabela 2
Caraterísticas da prática da modalidade
Amostra total
Mínimo Máximo M (DP)Idade de início da prática 4 28 11.86 (3.92)Nº anos de prática federada 1 25 10.03 (5.13)Nº de internalizações 0 100 12.61 (22.05)Nº médio de horas de treino por semana 2 28 11.19 (5.24)
Nº médio de provas oficiais por ano Competições nacionais 0 40 14.92 (14.72) Competições internacionais 0 50 1.67 (7.20)Nº títulos nacionais/internacionais conquistados nos últimos 5 anos 0 6 1.91 (1.94)
6
Medidas
Questionário Sociodemográfico (Cruz, 2014). Este questionário teve como objetivo
recolher informação acerca da identificação do participante (idade, género, altura, peso,
estado civil e grau de escolaridade) e informação desportiva (clube, divisão/liga, modalidade,
especialidade, escalão competitivo, nível competitivo, idade de inicio da prática da
modalidade, número de anos da prática federada da modalidade, número médio de horas de
treino por semana, número médio de provas oficias por ano em competições nacionais e
competições internacionais e títulos nacionais e/ou internacionais conquistados).
Questionário das Características Psicológicas para Desenvolver a Excelência
(Psychological Characteristics of Developing Excellence Questionnaire) (PCDEQ;
MacNamara & Collins, 2011). Este questionário tem como intuito avaliar a posse e
implementação de caraterísticas psicológicas no desenvolvimento da excelência. É constituído
por 59 itens (tanto negativos, como positivos, de modo a minimizar o viés aquiescente)
usando uma escala tipo likert de 6 pontos (1=não se aplica nada a mim; 6=aplica-se muito a
mim). Mede ainda 6 categorias de características psicocomportamentais que influenciam o
desenvolvimento eficaz no desporto. No presente estudo, foram obtidos os seguintes valores
do Alpha de Chrobach nas seguintes subescalas: “apoio para o sucesso a longo prazo” .95;
“uso da visualização mental durante treino e competição” .88; “coping com pressões de
rendimento e desenvolvimentais” .83; “capacidade de organização e envolvimento em treino
de qualidade” .78; “avaliação do rendimento e trabalho nos pontos fracos” .80; “apoio dos
outros para competir ao nível do potencial pessoal” .87.
Escala Breve de Auto-Controlo (EAC; Tangney, Baumeister, & Boone, 2004).
Recorreu-se à versão preliminar para investigação traduzida e adaptada para o português por
Cruz (2008). Esta escala de autorrelato avalia as diferenças ao nível individual no traço de
autocontrolo. Utilizando uma escala tipo likert de 5 pontos (1=de maneira nenhuma; 5=
mesmo muito) são respondidos 13 itens (e.g., “eu sou bom a resistir tentações”, “as pessoas
diriam que eu tenho uma autodisciplina forte” e “tenho dificuldades em concentrar-me”). O
score total, obtido através da soma dos itens, pode variar entre 13 e 65, sendo que pontuações
mais elevadas indicam uma maior capacidade de autocontrolo. No presente estudo, foi obtido
um coeficiente Alpha de Cronbach de .76.
Escala da Positividade (EP; Caprara, Alessandri, Eisenberg, Kupfer, Steca, Caprara,
Yamaguchi, Fukuzawa, & Abela 2012). Recorreu-se à versão para investigação autorizada,
7
traduzida e adaptada por Cruz (2012). Questionário que avalia a orientação positiva dos
indivíduos e que tem como objetivo avaliar o traço disposicional “positividade” e que tem
subjacente a avaliação “partilhada ou combinada” de três construtos teóricos relacionados
(autoestima, satisfação com a vida e otimismo). É composto por oito itens (e.g., “estou
satisfeito com a minha vida”) respondidos através de uma escala tipo likert de 5 pontos
(1=Discordo totalmente; 5=Concordo totalmente), podendo os scores totais (média do
somatório dos itens) variar entre 1 e 5. Os dados psicométricos iniciais (Cruz & Ferreira,
2012) sugerem uma boa validade para a versão portuguesa. Nesta investigação, foi obtido um
coeficiente Alpha de Cronbach de .72.
Inventário Abreviado de Estilos de Coping (Carver, 1997). Consiste num inventário
sucinto de respostas de coping e é uma medida dispocional dos estilos de coping dos
indivíduos em situações de stress. Tem uma versão traduzida e adaptada à língua portuguesa
por Cruz (2003) na sua versão para contextos desportivos, e de seguida validada por Dias,
Cruz, e Fonseca (2012; 2013). É composto por 28 itens distribuídos por 14 subescalas, com
dois itens por escala: aceitação, coping ativo, desligamento comportamental, negação, humor,
planeamento, reavaliação positiva, religião, auto culpabilização, auto distração, uso de
substâncias, uso de apoio emocional, uso de apoio instrumental e ventilação de emoções. Os
itens são respondidos numa escala tipo likert de 4 pontos (1=“nunca utilizo”; 4=“utilizo
muitas vezes”). Os scores em cada subescala são calculados através da soma dos respetivos
itens e variam assim entre 1 (mínimo) a 4 (máximo), em cada subescala. Neste estudo, foi
encontrado um valor de .83 para o coeficiente Alpha de Cronbach.
Escala de Perfeccionismo Durante o Treino e a Competição (EPDTC-VP; Stoeber,
Stoll, Pescheck, & Otto, 2008). Recorreu-se à medida traduzida e adaptada para português
(Cruz, 2008) do “Inventário Multidimensional de Perfeccionismo no Desporto” (Stoeber,
Stoll, Pescheck, & Otto, 2008), incluindo um total de 18 itens que avaliam quatro dimensões:
a luta pela perfeição, reações negativas à imperfeição, pressão percebida do treinador, e
pressão parental percebida. No presente estudo apenas se fez uso de 2 das subescalas,
prescindindo-se das dimensões “pressão parental” e “pressão dos treinadores”. Os itens
são respondidos numa escala do tipo likert de 6 pontos (1= “Nunca”; 6=“Sempre”). Sendo
que, para cada escala, a scores mais elevados, correspondem a elevados níveis de
perfecionismo na dada dimensão. Neste estudo, para a subescala “luta pela perfeição” foi
conseguido um Alpha de Cronbach de .79, enquanto a subescala “reações negativas à
imperfeição” foi conseguido .85.
8
Escala de Satisfação com a Vida (ESV; Diener, Emmons, Larsen & Griffin,
1985). Recorreu-se à versão traduzida e validada, de forma consistente, para a língua
Portuguesa por Neto (1993, 1999). O questionário é constituído por 5 itens (e.g., “as minhas
condições de vida são muito boas”) e é respondido numa escala do tipo likert de 5 pontos
(1=“Discordo muito”; 5=“Concordo muito”). O “score” final é calculado através da média do
somatório dos itens, podendo variar entre um mínimo de 1 (=baixa satisfação) e um máximo
de 5 (=alta satisfação com a vida). Foi obtido neste estudo um Alpha de Cronbach de .78.
Questionário da Relação Treinador-Atleta (CART-Q; Jowett & Ntoumanis, 2004).
Questionário que avalia as perceções de qualidade de relação entre atletas e treinadores. É
constituída por 11 itens medindo perceções de proximidade, compromisso e
complementaridade na relação treinador-atleta, por exemplo, nos atletas, “eu como o meu
treinador” (proximidade), “sinto-me comprometido com o meu treinador” (compromisso), e
“quando estou a ser treinado pelo meu treinador, estou pronto para fazer o meu melhor'”
(complementaridade). É usada uma escala de likert de sete pontos que vai desde 1 “discordo
totalmente”, até 7 “concordo totalmente”, sendo que os scores mais altos representam
perceções relacionais mais positivos. Neste estudo, foi obtido um coeficiente de fidelidade
(Alpha de Cronbach) de .81 para a subescala “proximidade”, .84 para a subescala
“compromisso” e .80 para a subescala “complementaridade”.
Escala de Avaliação Cognitiva da Competição Desportiva – Perceção de Ameaça
e Perceção de Desafio (EACCD-PA-PD; Lazarus (1991); Lazarus & Folkman, 1984).
Recorreu-se ao instrumento desenvolvido por Cruz (2009) derivado de um instrumento
destinado a avaliar a perceção de ameaça, a Escala de Avaliação Cognitiva da Competição
Desportiva – Perceção de Ameaça (Cruz, 1994, 1996, Dias, Cruz & Fonseca, 2009),
juntamente com uma nova subescala de perceção de desafio, dado o cariz avaliativo da
competição desportiva como desafio (Jones, Meijen, McCarthy, & Shefield, 2009; Lazarus,
1991, 2000). Assim, este instrumento visa medir a avaliação cognitiva primária e inclui um
total de 15 itens distribuídos em duas subescalas: Perceção de Ameaça (PA) e Perceção de
Desafio (PD). Os itens são respondidos numa escala tipo likert de 5 pontos (1=“Não se
aplica”; 5=“Aplica-se muito”). Na presente investigação, para a subescala “perceção de
ameaça” foi obtido um Alpha de Cronbach de .83, enquanto a subescala “perceção de desafio”
obteve .77.
9
Inventário da Qualidade do Treino (IQT; Woodman,, Zourbanos, Hardy, Beattie,, &
McQuillan, 2010). Questionário de autorrelato que avalia a qualidade do treino. É constituído
por 13 itens, à quais são respondidos através de uma escala tipo likert de 9 pontos (1=discordo
totalmente; 9=concordo totalmente). composto por três subescalas: a) distratibilidade
(conceptualizado como a propensão para se distrair no treino – 5 itens); b) coping com a
adversidade (conceptualizado como a capacidade para lidar eficazmente quando o treino não
está a correr como planeado – 4 itens); c) qualidade da preparação (conceptualizado a partir
das estratégias e objetivos que são praticados no treino para o uso nas competições posteriores
– 4 itens). Na presente investigação, para a subescala “distratibilidade” foi obtido o valor de
coeficiente Alpha de Cronbach .73, na subescala “lidar com a adversidade” .70 e na subescala
“qualidade da preparação” .74.
Autoavaliação do Rendimento Subjetivo (A-AREND; Cruz, 2008). A medida
subjetiva do rendimento dos atletas foi obtida recorrendo a 6 itens, teórica e empiricamente
formulados, refletindo diferentes critérios e índices usados para avaliação subjectiva e
percebida do desempenho individual (e.g., sucesso na concretização de objetivos,
desempenho comparativamente a épocas anteriores, grau de esforço e energia colocados no
processo de rendimento, qualidade geral do rendimento ao longo da época). Esta medida,
originalmente desenvolvida por Cruz (2008) baseou-se e recorreu a índices similares de
perceção subjectiva de rendimento utilizadas por outros investigadores (e.g., Levy, Nicholls,
& Polman, 2011; Mamassis, & Dogamis, 2004; Stravou, Jackson, & Zervas, 2007; Stravou,
Jackson, & Zervas, 2007). O nível percebido de cada um dos critérios (itens) é respondido
numa escala tipo likert que varia de 1 (nível mínimo) a 7 (nível máximo). No presente estudo
foi obtido um Alpha de Cronbach de .91, para esta medida de qualidade geral do rendimento,
superior ao obtido num estudo recente com jovens futebolistas (Ribeiro, Cruz, Cruz, Fonseca,
2014).
Procedimentos
Para a passagem dos questionários, todos os treinadores foram contactados através de
intermediários próximos dos mesmos, de modo a garantir a devida autorização. Os
questionários foram preenchidos nas próprias instalações de cada clube, num espaço calmo e
privado, sem a presença dos treinadores na recolha de dados. Foram transmitidos a todos os
10
participantes os objetivos do projeto de investigação e informação relativa à confidencialidade
dos dados recolhidos, bem como o anonimato dos dados identificados.
Análise de Dados
Recorreu-se ao software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS; 22ª
Versão) para a análise de dados. Foram calculadas as estatísticas descritivas das variáveis em
estudo, permitindo a descrição dos mínimos, máximos, tendência central e de dispersão do
conjunto de valores obtidos (Howell, 2010). De modo a testar a direção (positiva ou negativa)
e magnitude (entre +1 e -1) das correlações entre as seis caraterísticas/qualidades da
excelência avaliadas pelo QPCDE e as variáveis pessoais, bem como e as variáveis
contextuais, calculou-se o Coeficiente de Correlação de Pearson (Martins, 2011). E com o
objetivo de avaliar possíveis diferenças entre as médias das qualidades/caraterísticas da
excelência nos dois escalões competitivos em comparação, foram realizados Testes t para
Amostras Independentes (Martins, 2011).
Resultados
Na tabela 3 estão presentes as estatísticas descritivas das variáveis em estudo, de modo
a conhecer os scores mínimos, máximos, médias e desvios-padrões. Sendo que a partir da sua
interpretação, pudemos verificar que das 6 caraterísticas/qualidades da excelência, “coping
com pressões de rendimento e desenvolvimentais” foi a menos reportada junto dos atletas.
Para além disso, verifica-se ainda que os estilos de coping mais adaptativos (“aceitação”,
“coping ativo”, “planeamento”, “reavaliação positiva”, “uso de apoio instrumental” e “uso de
apoio emocional) são as mais utilizadas pelos atletas, em oposto aos estilos de coping mais
desadaptativos (“uso de substâncias”, “desinvestimento comportamental” e “negação”) (Dias,
Cruz, & Fonseca, 2012).
11
Tabela 3
Estatística descritiva das variáveis em estudo
Variáveis em estudo Mínimo Máximo M DP
Apoio para sucesso a longo prazo 1.88 6.00 4.56 .90Uso da visualização mental durante o treino e a competição
2.00 6.00 4.58 .73
Coping com pressões de rendimento e desenvolvimentais
2.09 6.00 4.47 .78
Capacidade para organizar e envolvimento em treino de qualidade
3.29 6.00 4.67 .66
Avaliação do rendimento e trabalho dos “pontos fracos”
3.00 6.00 4.98 .71
Apoio de outros para competir ao nível do potencial pessoal
2.00 6.00 4.80 .82
Autocontrolo 29.00 62.00 48.50 7.08
Positividade 2.88 5.00 3.98 .48
Luta pela perfeição 2.40 6.00 4.58 .85
Reações negativas à imperfeição 1.60 6.00 3.68 1.13
Perceção de ameaça 1.80 3.80 2.89 .63
Perceção de desafio 1.40 5.00 4.23 .62
Distratibilidade 1.00 8.00 3.90 1.48Lidar com adversidade 3.50 7.25 5.92 .80Qualidade da preparação 2.50 8.75 6.27 1.36
Proximidade 3.00 7.00 5.81 1.04Compromisso 2.67 7.00 5.94 1.09Complementaridade 3.25 7.00 6.17 .00
Autoavaliação do rendimento subjetivo 14.00 42.00 29.20 5.92
Aceitação 1.50 4.00 3.19 .72Coping ativo 2.00 4.00 3.36 .60Desinvestimento comportamental 1.00 4.00 1.70 .81Negação 1.00 4.00 1.94 .79Humor 1.50 4.00 2.80 .73Planeamento 2.00 4.00 3.29 .54Reavaliação positiva 1.50 4.00 3.19 .66Religião 1.00 4.00 2.10 1.00Auto-culpabilização 1.00 4.00 2.70 .81Auto-distração 1.00 4.00 2.93 .72Uso de substâncias 1.00 4.00 1.34 .73Uso de apoio emocional 1.00 4.00 3.09 .65Uso de apoio instrumental 1.00 4.00 3.18 .67
12
Ventilação de emoções 1.00 4.00 2.90 .74
Numa primeira análise da tabela 4 pode-se concluir que as características psicológicas
do desenvolvimento da excelência se correlacionam significativamente com os fatores
contextuais em estudo, à exceção do “Coping com pressões de rendimento e
desenvolvimentais”, que não se correlaciona com nenhum desses fatores, excetuando a
distratibilidade. Para além das características psicológicas se correlacionarem positivamente
entre si, é de notar que também os fatores contextuais se correlacionam entre eles. De
salientar ainda que a característica “Capacidade para organizar e envolvimento em treino de
qualidade” é a única que se correlaciona significativamente com todos os fatores contextuais,
sendo que com o fator “distratibilidade” se correlaciona negativamente.
13
Tabela 4
Correlações entre as variáveis da excelência e as variáveis contextuais em estudo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1. Apoio para sucesso a longo prazo - .79*** .06 .65*** .52*** .87*** -.07 .25 .51*** .85*** .78*** .61***
2. Uso da visualização mental durante o
treino e a competição - .12 .76*** .67*** .80*** -.22 .53*** .72*** .69*** .66*** .55***
3. Coping com pressões de rendimento
e desenvolvimentais - .21* .15 .22* -.33* .23 .13 .07 .04 .17
4. Capacidade para organizar e
envolvimento em treino de qualidade - .76*** .68*** -.44** .54*** .70*** .57*** .63*** .60***
5. Avaliação do rendimento e trabalho
dos “pontos fracos” - .55*** -.23 .42** .65*** .43* .56*** .57***
6. Apoio de outros para competir ao
nível do potencial pessoal - -.10 .29* .53*** .74*** .70*** .52***
Variáveis contextuais:
7. Distratibilidade- -.31* -.36** -.15 -.26 -.35**
8. Lidar com adversidade- .66*** -.02 .37** .47***
9. Qualidade da preparação
- .60* .53*** .46***
10. Proximidade- .80*** .68***
11. Compromisso- .74***
12. Complementaridade-
Nota. N = 109
13
*p < .05. **p < .01. ***p < .001.Tabela 5
Correlações entre as variáveis da excelência e as variáveis pessoais em estudo
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 271. Apoio para sucesso
a longo prazo - .79*** .06 .65*
**.52***
.87*** .02 .30*
* .22 -.01 .31 .45** .26 .40*
* -.23 -.03 -.23 .04 .35* -.01 -.09 .22 -.10 .22 .29 .08 .48***
2. Uso da visualização
mental durante o treino
e a competição- .12 .76*
**.67***
.80*** .15 .47*
** .31* .05 -.23 .71*** .37* .49*
* -.19 .19 -.21 .29 41** .11 .06 .33* -.06 .26 .34* .14 .51*
**
3. Coping com
pressões de rendimento
e desenvolvimentais- .21* .15 .22* .66*
**.27*
* .14 -.38** -.54 .13 .04 .13 -.43
**-.41** -.07 .16 .26 -.11 -.13 -.22 -.42
** -.25 .00 -.14 .16
4. Capacidade para
organizar e
envolvimento em
treino de qualidade
- .76***
.68***
.34**
.51***
.41** .15 -.12 .65*
** .27 .58*** -.12 .20 -.07 .38* .29 .02 -.00 .53*
** -.14 .11 .33* .49**
.60***
5. Avaliação do
rendimento e trabalho
dos “pontos fracos”- .55*
**.26*
*.31*
*.45*** .28* -.22 .38*
* .40* .53*** -.26 .26 -.11 .28 .37* .07 .10 .47*
* -.14 .23 .38* .33* .46***
6. Apoio de outros para
competir ao nível do
potencial pessoal
Variáveis pessoais:
- .15 .38*** .24 -.01 -.29 .59*
** .23 .56***
-.35* -.12 -.20 .08 .39* .04 -.11 .21 -.19 .18 .48*
* .08 .38**
7. Autocontrolo - .20 .21 -.14
-.43 .28 .22 .27 -.4
4**-.41**
-.22 .30 .24 -.0
8 .43 -.11
-.37* .00 .13 -.0
6 .13
8. Positividade - -.10 -.27*
-.46
.56*** .19 .88 .02 .02 .00 -.0
6 .12 .23 -.21
-.20 .04 .07 .17 -.0
3 .10
9. Luta pela perfeição - .57*** .38 .41 .18 .14 -.2
4-.02
-.00 .22 .09 -.1
4.43**
-.24 .10 .11 .11 .31
* .29
10. Reações negativas
à imperfeição - .35 .16 .06 .09 .01 .16 -.04 .10 -.1
6-.03
.51*** .51 .10 .10 .14 .41
**-.02
14
11. Perceção de
ameaça - .39 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
12. Perceção de desafio - 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
13. Aceitação - .48**
-.11 .14 .28 .38
**.57*** .05 .41
** .14 .01 .51***
.42** .14 .27
14. Coping ativo - -.43** .17 .06 .44
**.64***
-.06 .15 .18 -.1
9 .28 .59*** .16 .33
*15. Desinvestimento
comportamental - .46**
.35*
-.31
-.29 .19 .01 .09 .79
***-.14
-.24 .16 .04
16. Negação - .35* .01 .02 .38
* .21 .57***
.51*** .09 .06 .28 -.0
117. Humor - .03 .25 .27 .29 .20 .20 .03 .04 .27 -.0
218. Planeamento - .30 .00 .29 .19 -.3
0 .24 .25 .25 .34*
19. Reavaliação
positiva - .23 .11 -.02
-.16
.44**
.50***
-.05 .14
20. Religião - .01 .16 .31 .16 .19 -.16
-.27
21. Autoculpabilização - .29 .08 .26 .16 .43**
-.08
22. Autodistração - .1 .10 .11 .60*** .00
23. Uso de substâncias - -.05
-.19 .08 -.1
724. Uso de apoio
emocional - .66*** .13 -.1
4
25. Uso de apoio
instrumental - .20 .23
26. Ventilação de
emoções - .05
27. Autoavaliação
rendimento subjetivo -
Nota. N = 109*p < .05. **p < .01. ***p < .001.
15
Após a análise das correlações das características psicológicas do desenvolvimento da
excelência com os fatores contextuais, na transição para a análise com os fatores pessoais
denota-se visivelmente um menor número de correlações entre os fatores pessoais e as
características psicológicas. Para além disso, ao contrário dos fatores contextuais, os fatores
pessoais também possuem um número consideravelmente menor de correlações entre si.
Numa análise mais pormenorizada é possível detetar que a característica psicológica
“Avaliação do rendimento e trabalho dos pontos fracos” é a que constitui um maior número
de correlações com os fatores pessoais (ver tabela 5).
A tabela 6 apresenta as diferenças entre os escalões competitivos relativamente às
caraterísticas/qualidades da excelência. Os resultados do Testes t para Amostras
Independentes apontam diferenças significativas entre o escalão competitivo júnior/juvenil e o
sénior ao nível de três caraterísticas da excelência: a) apoio para sucesso a longo prazo, t
(101) = -3.40, p = .001, sendo que os juniores/juvenis relatam maior apoio; b) uso da
visualização mental durante o treino e a competição, t (101) = -2.88, p = .005, sendo que os
séniores relatam menor uso da visualização mental; c) capacidade para organizar e
envolvimento em treino de qualidade, t (103) = -2.02, p = .046, assim como os
juniores/juvenis relatam uma maior capacidade e envolvimento em treino de qualidade.
Tabela 6
Diferenças no grupo júnior/juvenil vs sénior ao nível das 6 caraterísticas/qualidades da
excelência
Júnior/Juvenil
(n = 38)
M (DP)
Sénior
(n = 71)
M (DP)
t
Apoio para sucesso a longo prazo 4.95 (.83) 4.35 (.87) -3.40**
Uso da visualização mental durante o treino e a 4.86 (.73) 4.44 (.71) -2.88**
16
competição
Coping com pressões de rendimento e
desenvolvimentais4.23 (.89) 4.57 (.70) 1.80+
Capacidade para organizar e envolvimento em treino
de qualidade4.85 (.70) 4.58 (.63) -2.02*
Avaliação do rendimento e trabalho dos “pontos
fracos”5.08 (.73) 4.92 (.70) -1.11
Apoio de outros para competir ao nível do potencial
pessoal5.01 (.76) 4.69 (.83) -1.96+
Nota. +p < .10. * p < .05. ** p < .01.
De modo a comprovar a pesquisa efetuada nesta investigação, no gráfico 1 são
apresentados os valores médios comparativos dos estudos de MacNamara & Collins (2013) e
Castro (2013) com os do presente estudo.
Gráfico 1
Valores médios comparativos entre os três estudos
Apoio para suce
sso a lo
ngo prazo
Uso da vi
sualiz
ação m
ental durante o tr
eino e a competiçã
o
Coping com pressõ
es de re
ndimento e dese
nvolvi
mentais
Capacidade para organiza
r e envo
lvimento em tr
eino de qualidade
Avalia
ção do re
ndimento e tr
abalho dos “pontos f
racos”
Apoio de outros p
ara competir a
o nível d
o potencial p
essoal
0
1
2
3
4
5
6
MacNamara & Collins (2013) Castro (2013) Presente estudo
17
A partir da leitura do gráfico, é possível reter que os scores médios das 6
caraterísticas/qualidades da excelência foram semelhantes para os três estudos, com exceção
do fator “coping com pressões de rendimento e desenvolvimentais” presente no estudo de
Castro (2013). Esta diferença justifica-se na medida em que este autor codifica este fator
através de uma visão de défice, quando no presente estudo o respetivo fator é conotado
através de uma visão de competência. Os dados do presente estudo revelam uma semelhança
na amostra vivente nesta investigação, quando comparada aos outros dois estudos.
Discussão e Conclusão
Dado que a maioria dos estudos realizados acerca do desenvolvimento da excelência
recorre ao uso de relatos retrospetivos, este estudo representa uma oportunidade de explorar
junto de jovens atletas, quais os fatores pessoais e contextuais que estão associados ao
desenvolvimento da excelência e analisar padrão de relações das características da excelência
em desenvolvimento com outros constructos teoricamente relevantes. Para além disso,
verificou a possível existência de diferenças em função do escalão competitivo. Por fim, dada
a ausência de dados suficientes de validação do questionário “Psychological Characteristics of
Developing Excellence Questionnaire” (MacNamara & Collins, 2011) para a população
portuguesa, este estudo passou ainda por contribuir para a adaptação e validação desta medida
específica do domínio (contextos desportivos).
Quanto ao primeiro objetivo proposto, constatamos que as características psicológicas
presentes no questionário da excelência apresentam um maior número de correlações
significativas com as variáveis contextuais em estudo, quando comparadas com as correlações
referentes às variáveis pessoais. Especificamente em relação aos fatores contextuais,
verificou-se que as caraterísticas psicológicas para o desenvolvimento da excelência estão
correlacionadas de forma significativa com vários fatores contextuais. Quanto à variável
contextual distratibilidade, verificou-se que quanto menor a propensão dos atletas para se
distrair no treino, maior a capacidade para organizar e envolver-se num treino de qualidade,
caraterística essa presente no desenvolvimento da excelência. Resultado esse que está de
acordo com Gould et al., (2002), onde indicam que os atletas de elite possuem a capacidade
de bloquear as distrações. Relativamente à qualidade da preparação, qualidade essa
conceptualizada a partir das estratégias e objetivos que são praticados no treino para o uso nas
18
competições posteriores, esta foi correlacionada com várias caraterísticas psicológicas,
destacando-se o uso da visualização mental durante o treino e competição. Sendo que
MacNamara, Button & Collins já em 2010 identificaram a visualização mental como uma das
caraterísticas psicológicas para desenvolver a excelência. Quanto aos fatores compromisso e
lidar com a adversidade, verificaram-se correlações positivas e estatisticamente significativas
com várias caraterísticas psicológicas no desenvolvimento do talento, confirmando os
resultados obtidos por Ericsson (1993), Howe (1999) e Gould et al., (2002) em que destacam
que para o alcance do sucesso é necessário compromisso, determinação e a capacidade de
perseverança face às dificuldades.
Já em relação aos fatores pessoais, verificou-se que as caraterísticas psicológicas para
o desenvolvimento da excelência estão correlacionadas de forma significativa com diversos
fatores pessoais. De todos os fatores pessoais, destaca-se a variável positividade, dado que se
correlaciona de forma positiva e estatisticamente significativa com as seis caraterísticas
psicológicas para o desenvolvimento do talento. Estes resultados estão de acordo com Gould e
colaboradores (2002), em que indicam que elevados níveis de confiança, discurso interno e
uma elava orientação para o positivismo são variáveis centrais para a caraterização dos atletas
excecionais. Para além da positividade, dentro dos fatores pessoais, destaca-se ainda a
variável coping ativo como estando correlacionada positivamente com várias caraterísticas
psicológicas presentes na excelência. Os resultados vão assim ao encontro daquilo que era
esperado, pois tal como indicou van Yperen (2009), os indivíduos bem-sucedidos recorrem
ativamente a estratégias de coping focadas no problema, em oposição aos malsucedidos.
Quanto ao segundo objetivo, verificar possíveis diferenças entre os escalões
competitivos relativamente às caraterísticas/qualidades da excelência, os resultados apontaram
diferenças significativas entre o escalão competitivo júnior/juvenil e o sénior ao nível de três
caraterísticas da excelência: apoio para sucesso a longo prazo (maior apoio nos juniores), uso
da visualização mental durante o treino e a competição (seniores usam menos) e capacidade
para organizar e envolvimento em treino de qualidade (maior nos juniores). Estas diferenças
entre juniores e seniores poderão ser explicadas através do maior apoio recebido pelos atletas
mais novos, nomeadamente apoio parental, ou poderá ser explicado pelo treino, uma vez que
recebe esse maior apoio o que poderá ter influência no atleta.
Relativamente ao terceiro objetivo deste estudo, contribuir para a adaptação e
validação do questionário “Psychological Characteristics of Developing Excellence
19
Questionnaire” (MacNamara & Collins, 2011), através da comparação dos scores obtidos em
cada um dos seis fatores com os obtidos nos estudos de MacNamara & Collins (2013) e
Castro (2013), pudemos constatar a semelhança entre os três estudos.
O presente estudo não está isento de limitações. A primeira limitação refere-se ao
tamanho da amostra, uma vez que esta poderá ter impacto na generalização dos resultados.
Para além disso, uma vez que estamos perante uma amostra tão heterogénea, tal não nos
permite avaliar diferenças quer ao nível do género, uma vez que o sexo masculino é
constituído por um número de participantes consideravelmente maior, quer ao nível do tipo de
modalidade, visto que existem várias modalidades com grandes quantidades de atletas, e
outras modalidades com um número reduzido dos mesmos.
Por fim, tal como o próprio estudo tenta conhecer melhor as etapas iniciais do
desenvolvimento de talentos, trabalhando com jovens atletas, é recomendado que
investigações futuras também procedam do mesmo modo, permitindo assim identificar e
trabalhar nos fatores associados ao sucesso, numa idade precoce do desenvolvimento. Por
outro lado, poderá tornar-se interessante realizar um estudo com um número maior e mais
equilibrado de participantes de diferentes géneros e tipos de modalidade, de forma a perceber
quais as diferenças entre estes.
Na prática, este estudo permite avaliar a implementação de caraterísticas psicológicas
durante o desenvolvimento dos atletas, ajudando a perceber que as características psicológicas
alteram de importância ao longo da progressão dos atletas. Por sua vez, a contribuição para a
validação do questionário em questão, permite que aos atletas receberem feedback, de modo a
melhorar pontos menos fortes. Pode ainda colaborar na orientação de programas de treino,
tornando-se relevante para os treinadores.
Em termos de conclusão, os resultados apontam um conjunto de variáveis pessoais e
contextuais como estando positivamente correlacionadas com as caraterísticas psicológicas
para o desenvolvimento da excelência, ressalvando a importância que cada um destes fatores
assume na compreensão do desenvolvimento e manutenção de desempenhos de alto nível no
desporto. Restritamente, a ideia de que o caminho para a elite passa exclusivamente pelas
qualidades físicas dos atletas é plenamente errónea, destacando-se variáveis psicológicas,
pessoais e contextuais com mais poder.
20
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