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Rede Globo de Televisão Central Globo de Produção VALE TUDO Capítulo 160 Novela de GILBERTO BRAGA/AGUINALDO SILVA/LEONOR BASSERES Personagens deste capítulo AFONSO ALDEÍDE BARTOLOMEU BRUNO CÉSAR CELINA CONSUELO EUGÊNIO EUNICE FREITAS FÁTIMA FERNANDA GILDO HELENA IVAN JARBAS LUCIANO LEILA MARCO AURÉLIO MÁRIO SÉRGIO MARIA JOSÉ MARINA ODETE RENATO RAQUEL SARDINHA SOLANGE TIAGO Participação Especial FLÁVIA OLAVO QUEIROZ

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Rede Globo de Televisão Central Globo de Produção

VALE TUDO

Capítulo 160

Novela deGILBERTO BRAGA/AGUINALDO SILVA/LEONOR BASSERES

Personagens deste capítulo

AFONSOALDEÍDE

BARTOLOMEUBRUNOCÉSARCELINA

CONSUELOEUGÊNIOEUNICEFREITASFÁTIMA

FERNANDAGILDOHELENA

IVANJARBASLUCIANOLEILA

MARCO AURÉLIOMÁRIO SÉRGIOMARIA JOSÉ

MARINAODETERENATORAQUEL

SARDINHASOLANGETIAGO

Participação Especial

FLÁVIAOLAVO

QUEIROZ

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VALE TUDO 160/1

CENA 1. APAR-HOTEL DE CÉSAR. INTERIOR. DIA. Afonso e César em luta corporal, continuação imediata do capítulo precedente. Durante a luta, Fátima vai tentar pegar um objeto pesado pra ferir Afonso mas Sardinha vai impedi-la de ajudar César. Muita confusão, todos falando ao mesmo tempo. Muito ritmo.

Afonso — (a César) Eu não sei onde é que eu tava com a cabeça pra deixar vocês dois me enrolarem esse tempo todo!

Fátima — Deixa eu explicar, Afonso!Afonso — Vem, seu filho da mãe! Vem, não é

homem não?César — Eu não transo violência! Eu acho que

a gente deve tentar conversar feito pessoas civilizadas...

Afonso — (dando soco) Pois toma aqui a última descoberta da civilização ocidental! (César voa longe)

Fátima — Você tá tirando conclusões precipitadas, Afonso!

Afonso — (batendo em César) Toma!Fátima — Deixa eu explicar!Afonso — (a Fátima) Cala essa boca que já vai

chegar a tua vez, sua vagabunda!Fátima — (a Sardinha) As aparências enganam

muito, Sardinha, eu posso explicar! Não é nada disso que o Afonso tá pensando!

Sardinha — Eu até que era capaz de me sentar só pra ouvir que mentira louca você era capaz de inventar, Maria de Fátima!

Afonso — (batendo em César) Mostra agora que é homem! Não transa violência? Pois toma aqui!

Aqui Sardinha impede Fátima de ajudar César. Nas próximas falas, Fátima vai fugir.

Afonso — (batendo em César) Eu devia te dar mas era um tiro na cara, seu cafajeste!

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VALE TUDO 160/2

César — Eu vou acabar perdendo a paciência!Afonso — Perde! Eu não tô querendo outra

coisa! Revida! Eu só tô precisando dum estímulo pra cobrir essa cara de porrada!

Sardinha — (a Afonso) Ela tá se mandando, Afonso! Quer que eu dê um tranco aí no elevador?

Afonso — (muita raiva) Deixa se mandar, porque galinha de casa não se corre atrás. Tá achando que essa infeliz pode ir pra onde? Primeiro eu tenho o meu assunto pra resolver aqui com o garoto bonito, gigolô descarado!

César — A gente pode explicar, para com isso! Me ouve, rapaz!

Afonso dá um último soco bem violento em César.Corta rápido pra:

CENA 2. APARTAMENTO DE RAQUEL. INTERIOR. DIA. Aldeíde pronta para sair com Raquel de roupas caseiras. Depois Bartolomeu.

Raquel — (triste) Você vai sair?Aldeíde — Tô com muita pena de não te fazer

companhia, Raquel... Se eu soubesse que você não ia trabalhar, não tinha marcado dentista...

Raquel — Que bobagem, Aldeíde... Vai tranqüila, eu tô muito bem...

Aldeíde dá um beijinho em Raquel e sai. Tempo com Raquel pensativa. Toca a campainha da porta e ela vai abrir. Entra Bartolomeu.

Bartolomeu — (preocupado) Como é que você tá?Raquel — (triste) Sobrevivendo...Bartolomeu — Você acha que vai conseguir manter

esse teatro, minha filha? O Ivan tá desesperado.

Raquel — Eu sei, Bartolomeu, eu também tô... Mas numa hora dessas o que a gente tá sentindo ou deixando de sentir/ (corta-se) A única coisa que eu posso

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VALE TUDO 160/3

fazer por ele é esse teatro... E ele vai acabar acreditando sim.

Corta pra:

CENA 3. QUARTO DE IVAN E HELENA. INTERIOR. DIA. Ivan terminando de se vestir pra sair. Helena, mortificada, tomando café na cama.

Ivan — (casual) Se você tiver tempo, por favor providencia o presente de casamento do filho do Antunes... Ah, ia me esquecendo, sua amiga Ligia telefonou ontem à noite... eu disse que você tava dormindo...

Helena — Me desculpa, Ivan... eu não devia ter bebido tanto..

Ivan — Um pileque a mais, outro a menos...Helena — Eu não tenho nem coragem de prometer

nada mas eu vou tentar não beber hoje, Ivan...

Ivan — (saindo) Se você conseguisse, era uma boa. Tô falando no seu fígado... Será que ele agüenta essa carga de álcool por muito tempo ainda? (tempo) Até logo mais...

Ivan sai. Tempo com Helena triste.Corta pra:

CENA 4. SALA DE RENATO NA REVISTA. INTERIOR. DIA. Aldeíde e Renato.

Aldeíde — A Raquel tá com um problema pessoal muito sério, Renato. Eu não sei o que é porque ela não comentou nada comigo e se falou com o Audálio, pediu segredo...

Renato — Quando ela teve aquela crise de choro comigo, eu fiquei alarmado... Mas ontem, no jantar me pareceu quase recuperada, conversamos normalmente...

Aldeíde — Porque você tava lá! Ela se dá bem com você, aprecia a sua companhia... Por favor, Renato, dá uma forcinha pra

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VALE TUDO 160/4

Raquel, eu te juro que ela tá precisando.

CAM fecha em Renato pensativo.Corta pra:

CENA 5. SALA DE SOLANGE NA REVISTA. INTERIOR. DIA. Renato e Mário Sérgio.

Renato — Só faltou me pedir pra paquerar a Raquel.

Mário Sérgio — (sorrindo) Então não te pediu uma coisa tão difícil assim... Não é o que você tá louco pra fazer?

Renato — E você acha que eu tenho a menor chance? Eu não quero me meter em novas complicações amorosas não.

Mário Sérgio — Então começa não complicando... Procura a Raquel... Se abre com ela... fala tudo o que você tá sentindo... Se a Aldeíde tiver enganada e ela não quiser nada com você... melhor ficar sabendo de uma vez, né?

Renato — Eu vou pensar... Outra grande decepção eu não tô a fim não...

Corta pra:

CENA 6. SALA DE MARCO AURÉLIO NA TCA. INTERIOR. DIA. Abre em Marco Aurélio falando ao telefone muito animado. Freitas por perto arrumando alguma coisa. É muito importante a fala de Marco Aurélio ao telefone.

Marco Aurélio — (tel) Não me diga! Como é que você soube disso? (tempo) Não... eu não tô duvidando, eu conheço os seus contatos no exterior... mas prever uma subida dessas no preço do ouro... (tempo) Eu sei, Aloísio, que você é a maior autoridade em commodities no Brasil... não sabia é que você é tão bem informado sobre a bolsa de Tóquio... (t) Tem razão... é uma tentação muito grande... (t) Pode deixar que eu não vou espalhar não... Boquinha só pros

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VALE TUDO 160/5

amigos, né, Aloísio? Tchau. Vamos almoçar um dia desses...

Marco Aurélio desliga e fica pensativo, tentado. Aproxima-se Freitas.

Freitas — Eu tenho um pedido a lhe fazer, dr. Marco Aurélio... Claro que se o senhor estiver muito ocupado agora eu/

Marco Aurélio — (corta, de bom humor) Não tô ocupado não. Tô só pensando... fazendo uns cálculos aqui, mas pode falar...

Freitas — (humilde) Eu tô precisando de dez milhões pra dar a entrada num apartamento fantástico na Barra... Uma oportunidade única na vida de um homem... e o senhor sabe que a minha mãe adora a Barra. Se eu tivesse esse dinheiro eu/

Marco Aurélio — (corta) Dez milhões de cruzados, né? Claro que eu te arrumo... Se essa informação de cocheira que eu acabei de receber for confirmada, eu vou ganhar uma nota preta... Manda a Consuelo me fazer uma ligação pro dr. Queiroz. Eu preciso falar com a maior urgência.

Freitas sai da sala. Tempo com Marco Aurélio pensando em milhões de dólares. Corta pra:

CENA 7. SALA DE SOLANGE NA REVISTA. INTERIOR. DIA. Mário Sérgio trabalhando. Entra Sardinha todo afobado.

Mário Sérgio — Você saiu tão cedo e só tá chegando uma hora dessas, Sardinha? Onde é que você foi?

Sardinha — (disfarçando) Umas encrencas aí que eu me meti... Mas eu vou recuperar o atraso porque as locações já tão escolhidas e só falta/

Mário Sérgio — (corta) O que é que o Afonso Roitman tanto queria com você ontem?

Sardinha — O Afonso? Não tô lembrado não...

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Mário Sérgio — Sem essa, Sardinha... Cê mente com a sutileza de um elefante... A Suzana comentou comigo que ele teve aqui duas vezes ontem...

Sardinha — É... veio desabafar, sabe? Eu acho que ele não tá confiando mais tão cegamente na safada da Fátima... Já pensou se eles se separam? (saindo) O caminho ficava aberto pra Solange...

Sardinha sai. Tempo com Mário Sérgio pensativo.Corta pra:

CENA 8. SALAS DE CELINA. INTERIOR. DIA. Fátima entrando super nervosa. É interpelada por Celina. Entra Eugênio no meio da fala de Celina. Por último Afonso.

Celina — Fátima! Já está de volta? Foi curta a matinée!

Fátima — (desesperada) Olha, Celina... eu não quero papo não... me deixa em paz, tá?

Fátima sobe.Eugênio — Acossada...Celina — O que?Eugênio — “A Bout de Souffle”... Tá igualzinha

ao filme de Godard...Celina — Quer dizer que você também reparou?

O que será que aconteceu, hein, Eugênio?

Afonso já entrou, Eugênio sai discretamente.Celina — Afonso! A Fátima acabou de chegar e

me pareceu completamente transtornada...

Afonso — (já subindo as escadas) Transtornado tô eu, ela tá perdida!

Celina — Eu posso saber o que foi que aconteceu?

Celina vai subindo atrás.Afonso — Me traiu, tia Celina, desde o

primeiro dia em que nós nos conhecemos, essa vagabunda me fez de

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VALE TUDO 160/7

idiota, ela tinha um amante, vem comigo!

Corta rápido pra:

CENA 9. QUARTO DE AFONSO E FÁTIMA. INTERIOR. DIA. Fátima diante de Afonso, que está fora de si. Celina discreta.

Fátima — Eu explico...Afonso — Isso eu quero ver!Fátima — Você tá... tirando conclusão

precipitada, Afonso, porque/Afonso — (corta) Você tá achando que vai

conseguir me enganar pelo resto da vida, Maria de Fátima? Tá achando que eu sou capaz de ser ainda mais imbecil do que eu já fui? (em fúria) Fala! (a Celina) Peguei em flagrante, com testemunha! (a Fátima) Fala, porque eu quero ver até onde a tua cara de pau pode chegar!

Close de Fátima, acuada.Corta pra:

1º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 10. QUARTO DE AFONSO E FÁTIMA. INTERIOR. DIA. Fátima, Afonso e Celina, continuação imediata da cena precedente. Quando Afonso humilha bastante, reações de júbilo de Celina.

Fátima — Eu... eu sei que as aparências tão contra mim... mas a verdade é que... o César Ribeiro me chamou ao apartamento... porque queria fazer chantagem...

Afonso — E aí você tirou a roupa?Fátima não sabe o que dizer. Fica desarmada.

Afonso — E a fotografia dele com a Solange, que você roubou na Tomorrow pra plantar no álbum? (reação dela) E o moleque que você pagou no estacionamento do shopping pra fingir que tinha visto os dois juntos? E o

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flagrante que vocês dois armaram, aquela ridicularia toda pra eu pensar que o seu gigolozinho tinha um caso com a coitada da Solange?

Close de Fátima. Sente que perdeu.Afonso — (a Celina) Eu não sei como eu pude

ser tão cego, tia Celina. Ela nunca teve um instante de sinceridade desde o dia em que a gente se conheceu. Ela armou preu me separar da Solange! Conseguiu que eu pedisse em casamento, me fazendo de palhaço... Ela é amante desse cafajeste do César Ribeiro desde que saiu lá de Foz do Iguaçu! (a Fátima) Diz que eu tô mentindo! Quero ver! Fala na minha cara que eu tô mentindo! Olha, Fátima, se você ousar falar mais uma mentira que seja na minha frente você vai apanhar tanto que quem vai sair dessa casa aqui não vai ser você não, vai ser o seu cadáver! (tempo) Fala! Porque foi que você se casou comigo?

Fátima — (por baixo, sincera, frágil) Por dinheiro...

Afonso — De quem é esse filho que você tá esperando?

Fátima — Pode ser seu... pode ser do César...Afonso — (a Celina) Isso que tá aí na sua

frente não é um ser humano, tia Celina! Essa mulher é a própria imagem do/

Celina — (corta) Calma, Afonso! Fica calmo! Violência não. Tá provado que ela não merece o teu amor, eu tô começando a achar que ela não merece nem a tua raiva!

Fátima — (muito sincera e frágil) Pra vocês é muito fácil porque vocês sempre tiveram tudo! Me joga pedra! Que outra opção você tá achando que tem uma

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VALE TUDO 160/9

mulher ambiciosa que nasceu pobre nessa porcaria de país?

Afonso — (muita raiva) Você... tá tendo a ousadia de... de tentar se justificar?

Fátima — Eu só tô falando a verdade. Me casei por dinheiro sim, mas esse tempo todo, dentro das minhas possibilidades, eu fiz o maior esforço pra te fazer feliz! E em parte consegui, porque você só descobriu agora! (suplicante) Eu... não mereço sair dessa sem uma recompensa, Afonso. Eu ia te contar a verdade. Eu só tava esperando... mais três meses, porque por aquela porcaria de pacto antenupcial que vocês me fizeram assinar eu só tenho direito a uma recompensa depois de completar dois anos de casada...

Celina — (indignada) Você... está achando que depois de tudo... o Afonso vai lhe dar de mão beijada dois milhões de dólares?

Fátima — (suplicante, a Afonso) Por favor... Afonso... eu preciso demais desse dinheiro... eu fiz por merecer... Pra você não é nada! Deixa se passarem só mais três meses preu poder sair daqui dessa casa com/

Afonso — (corta) Você vai sair dessa casa agora com a roupa do corpo e a rua pra andar! Pode fazer a sua mala! Não vai levar uma peça de roupa que eu tenha dado! Só pode levar a roupa que já tinha antes do casamento! E mala, se não encontrar mais aí a que você trouxe de Foz do Iguaçu, faz uma trouxa com papel da lavadeira!

Fátima — (com raiva) Você acha que é isso que eu mereço por ter aturado você nessa cama por quase dois anos?

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Afonso dá um tapa violento na cara de Fátima. Sai do quarto, seguido de Celina, que tenta acalmá-lo, enquanto Fátima entrega-se a uma forte e longa crise de choro.Corta pra:

CENA 11. QUARTO DE HELENA E IVAN. INTERIOR. DIA. Helena e Eugênio.

Helena — Mas o que é que tá acontecendo, Eugênio? Eu ouvi gritos... O Afonso em casa a uma hora dessas?

Eugênio — (discretíssimo) Eu não sei de nada não, d. Heleninha... Não vi nada... não ouvi nada...

Corta pra:

CENA 12. COZINHA DE CELINA. INTERIOR. DIA. Marina fofocando com Jarbas. Depois Eugênio.

Jarbas — Claro que eu sei o que é que tá acontecendo...

Marina — Que eles tão brigando, qualquer um saca... mas por que será?

Jarbas — Eu tava lá fora quando o Dr. Afonso chegou... Pela cara dele eu já vi tudo... Dor de corno ninguém disfarça não...

Entra Eugênio.Eugênio — Eu não admito fofoca! A conversa

ainda não chegou na cozinha... Faça o favor de ir lá pra fora, viu, seu Jarbas?

Jarbas sai. Gozando Eugênio pelas costas.Corta pra:

CENA 13. QUARTO DE IVAN E HELENA. INTERIOR. DIA. Afonso quase chorando com Helena. Já lhe contou tudo.

Afonso — Eu não entendo, Heleninha... Por mais que eu tente, eu não consigo compreender como é que um ser humano pode ser tão falso, tão baixo...

Helena faz carinho no irmão. Não há o que dizer.

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Afonso — Eu me entreguei esse tempo todo... eu botei num pedestal uma mulher... que não existia... uma mulher que ela inventou pra mim... eu fui casado pro quase dois anos... com uma ficção...

Helena com muita pena do irmão.Corta pra:

CENA 14. PISCINA DO CLUBE. EXTERIOR. DIA. Abre em Marco Aurélio conversando com Queiroz. André na piscina. Fernanda e Flávia.

Queiroz — Mas como é que você soube disso?Marco Aurélio — Um amigo meu que costuma estar por

dentro das coisas... Mas eu queria confirmar com você.

Queiroz — Esse seu amigo sabe das coisas. A notícia não podia ser mais quente. Eu também tenho amigos em funções estratégicas em Brasília: o ouro vai dar uma subida significativa na bolsa de Tóquio... Tudo indica que os africanos estão retendo o produto pra forçar a alta...

Reação de Marco Aurélio animado. Corta pra André saindo da piscina. Fernanda e Flávia passam e cumprimentam André mas não param pra falar com ele.Corta pra Marco Aurélio e Queiroz. Marco vê Fernanda.

Marco Aurélio — Com licença, Queiroz. Eu vou dar uma palavrinha à namorada do Tiago...

Marco se aproxima de Fernanda.Marco Aurélio — Tudo bem, gatinhas? Vieram pra

aula de natação?Fernanda — Não. A gente só veio tomar um

solzinho... Vamos correndo pra aula...Marco Aurélio — Me faz um favor, Fernanda, diz pro

Tiago pintar lá em casa. Ele anda tão sumido, eu tô com saudades...

Fernanda — (disfarçando) pode deixar... eu dou o seu recado sim... Té logo...

Marco Aurélio volta pra perto de Queiroz. Fernanda vai se afastando com Flávia.

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Flávia — Mas o Tiago não te procurou mais não, né?

Fernanda — (triste) Não ligou mais não... Acho que me descurtiu mesmo, sabe, Flávia?

Corta pra:

CENA 15. QUARTO DE HELENA E IVAN. INTERIOR. DIA. Helena está no quarto pensativa. Tiago chega da rua.

Tiago — Oi, mãe, tudo bem?Helena — Tudo.Tiago — O Eugênio me disse que hoje você nem

saiu do quarto... Você e o Ivan brigaram?

Helena — Brigar? Eu e o Ivan? Não, meu filho, nem isso...

Tiago — O que é que você tá querendo dizer?Helena — Eu nem sei... Nem eu tô entendendo

direito... Mas uma coisa aqui dentro me diz que o Ivan mudou... que aconteceu alguma coisa com ele... Só que eu ainda não pude descobrir o que foi... De qualquer forma, perto do problema que o Afonso tá enfrentando...

Corta pra:

CENA 16. APARTAMENTO DE RAQUEL. INTERIOR. DIA. Raquel e Renato.

Raquel — Eu não sei o que foi que andaram te dizendo, Renato... Eu tô muito bem, não precisa se preocupar comigo não...

Renato — (desabafando) Como é que eu posso deixar de me preocupar com a mulher que eu amo?

Reação de Raquel muito surpresa.Renato — Claro que eu preferia me declarar a

você em outro lugar... com outro clima... Mas eu sei que você tá precisando de mim agora... Como só agora eu percebi que sinto por você muito mais do que uma simples amizade.

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Raquel — Não, Renato, por favor não confunda os sentimentos. Eu gosto tanto de você, você é um dos meus maiores amigos... e vai ser sempre assim... amigos... só isso.. por favor...

Renato — Você me deixa pelo menos tentar te fazer mudar de idéia?

Raquel — (firme) Não. Eu não vou mudar de idéia nunca! Vamos deixar as coisas como estão porque eu preciso muito dessa sua simples amizade.

CAM fecha em Renato triste. Corta pra:

CENA 17. QUARTO DE FÁTIMA E AFONSO. INTERIOR. DIA. Fátima parada no closet, olhando os vestidos enfileirados. Um tempo. Ela pega num deles, pensativa. Depois, num ímpeto, tira vários, leva-os até a cama, joga-os perto de uma mala grande, aberta. Fátima pega um dos vestidos que jogou sobre a cama, visivelmente o mais caro. Vai guardar na mala. A porta se abre entra Celina.

Celina — Tô vendo que você seguiu à risca as ordens do Afonso, já tá arrumando a trouxa...

Fátima — Isso te deixa muito feliz, não é, Celina?

Celina — Você nem imagina quanto... ainda mais porque, logo depois de suportar em silêncio seus golpes sujos, sua chantagem... eu não tive que mover um dedo pra provocar a sua desgraça. Você, Fátima, caiu sozinha. Caiu, não: despencou. Implodiu...

Fátima — Se eu disse a você que tô satisfeita com tudo isso é claro que eu vou tar mentindo, eu adoro mordomia, e o que eu aproveitei da sua hospitalidade enquanto eu tava aqui... (ela fala sempre com o vestido caríssimo nas mãos) Mas tem um lado bom nessa história toda. Sabe qual é? É que eu

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agora vou ficar livre do bolha do seu sobrinho... meu Deus do céu, você não vai nunca conseguir imaginar o sacrifício que eu tive de fazer esse tempo todo pra agüentar aquele pão duro...

Celina — Ah, mas eu aposto que só o preço desse vestido aí que o pão duro comprou pra você em Paris já paga o seu sacrifício... (ela arrebata o vestido das mãos de Fátima. Examina-o) Quanto custou, hem, Fátima? Cinco mil dólares? pois fique sabendo que eu prefiro dar esse vestido pruma mendiga ali na esquina a deixar que você o leve... O Afonso foi muito claro!

Fátima — Mas Celina, esse vestido/Celina — (corta) Nem esse, nem nenhum dos

outros! É como o Afonso disse: você só me sai dessa casa levando o que tinha antes de casar!

Celina pega todos os vestidos que estão sobre a cama, e sai, levando-os. Um tempo no rosto de Fátima.Corta pra:

CENA 18. JARDINS DE CELINA. EXTERIOR. DIA. CAM abre no rosto de Afonso. Ele está sentado numa cadeira, arrasado. Celina chega, põe a mão no ombro dele.

Celina — Eu sei que a Fátima merecia ouvir tudo o que você disse e muito mais... mas gora, pensando bem... jogar a moça naquele estado no olho da rua... você não acha que tá sendo muito... radical?

Afonso — Que é isso, Celina, radical? Diante do que a maioria dos maridos costuma fazer numa... situação dessas... eu fui até muito delicado.

Celina — Sim, mas o filho que ela tá esperando/

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Afonso — (corta) Pode ser meu. E se não for?Celina — Bom... Isso a gente vai saber

quando/Ela se corta porque vê Odete entrando.

Celina — É melhor disfarçar, porque a sua mãe tá chagando. (a Odete) Oi, lindinha...

Odete — Olá! Não vou ficar jogando conversa fora aí com vocês, não, podem continuar cochichando à vontade...

Celina — (depois que ela passa) Eu tinha té esquecido, meu Deus: a Odete! O que é que nós vamos fazer com ela?

Afonso — Contar tudo o que aconteceu. E já!Corta pra:

CENA 19. SALAS DE CELINA. INTERIOR. DIA. Odete já na expectativa diante dos dois.

Odete — Mas que caras são essas, me digam? O que é que vocês têm pra me contar de tão terrível, será que a Heleninha/

Celina — (corta) Não tem nada a ver com a Helena/

Afonso — (corta) É da Fátima que a gente vai falar, quer dizer: eu vou falar.

Odete — Meu Deus... Será que a Fátima... aconteceu alguma coisa com a criança, ela teve algum acidente, ou então/

Afonso — (corta) Eu acabei de expulsar a Fátima dessa casa, nesse momento ela tá lá no quarto arrumando a trouxa pra ir embora!

Reação de Odete.Corta pra:

2º INTERVALO PARA COMERCIAIS

CENA 20. SALAS DE CELINA. INTERIOR. DIA. Odete abaladíssima com o que acabou de ouvir. Celina e Afonso diante dela.

Odete — Meu Deus, aquela menina em quem eu apostei tanto, a quem eu confiei até/

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VALE TUDO 160/16

(se corta) Mas esse amante da Fátima, quem é ele, é alguém que eu conheça?

Celina — É um sujeito que/Afonso — (corta) Nem vale a pena dizer o nome

dele dentro dessa casa, porque vai sujar as paredes, Celina... (a Odete) É só um cafajeste, um desclassificado que ela vinha mantendo às nossas custas desde os tempos do noivado... só de pensar me dá vontade de... de vomitar...

Odete — É tão difícil de acreditar...Afonso — Você não ia dizer isso se tivesse

visto a Fátima na cama dele, como eu vi!

Odete — Eu... não sei o que dizer, eu... (gesto) Por favor, vocês me deixem sozinha, eu preciso pensar...

Celina e Afonso saem. Um tempo no rosto da Odete.Corta pra:

CENA 21. CASA DE BARTOLOMEU. INTERIOR. DIA. Bruno conversa com Gildo. Maria José à parte. Eunice vai entrar trazendo um envelope, depois Fernanda, que chega da rua.

Bruno — Esse concurso vai ser o maior barato, Gildo. Pode até ganhar um carro... ou então uma jóia em forma de laranjinha...

Gildo — Essa jóia aí eu queria ganhar. Ia dar de presente pruma pessoa...

Maria José — (animada) Será que era pra mim?Gildo — Você merece, Zezé, mas eu ia dar era

pra Raquel... era um jeito de agradecer tudo o que ela fez por mim, né?

Eunice entra cm o envelope.Eunice — Taí o envelope, Gildo. O Bartolomeu

anda tão esquecido...

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VALE TUDO 160/17

Gildo — E tem coisa importante aí dentro, viu? Porque ele me pediu pra vir buscar correndo...

Fernanda vai entrando nesse instante. O telefone toca.Fernanda — Deixa que eu atendo! (corre até o

telefone, atende cheia de expectativas) Alô!

Eunice — (baixo) Tomara que seja o Tiago...Fernanda — (decepcionada) Tá, sim. (a Eunice) É

pra você...Bruno — (a Gildo) E aí, vai entrar no

concurso comigo ou não?Corta pra:

CENA 22. SALA DE MARCO AURÉLIO E LEILA. INTERIOR. DIA. Marco Aurélio e Leila se beijando.

Leila — Agora deu pra aparecer em casa de repente, na hora em que devia tar no escritório... Tá desconfiando de mim, é?

Marco Aurélio — Não, é saudade mesmo: vontade de te ver. Além disso eu queria te contar uma novidade: talvez eu tenha que fazer uma viagem pro exterior nos próximos dias... (beija) quando eu voltar... a gente vai tar com uma bela duma grana!

Leila — (beija) Mas que interessante... e de onde vai vir essa grana?

Marco Aurélio — Ouro... Já pensou no que o homem foi capaz de fazer... desde que o mundo é mundo... por causa dessa palavrinha?

Leila — (beija) Já pensou no que a gente seria capaz de fazer agora?

Eles se beijam.Corta pra:

CENA 23. CASA DE BARTOLOMEU. INTERIOR. DIA. Bruno e Gildo falando do concurso. Maria José, Fernanda e Eunice à parte.

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Bruno — Tem só que fazer uma quadrinha, arrumar umas rimas... já pensou, a gente aparecer num programa de televisão?

Gildo — Pra você que vive lendo, deve ser moleza. É... A gente pensando junto, quem sabe? Olha, esse negócio de rimas... de tanto ouvir o pessoal fazendo samba-enredo lá no Santa Marta... eu acho que tenho até umas idéias. Quer ouvir?

Bruno — Depois. Primeiro deixa eu te explicar como é o tal do Patinetang...

O toque do telefone. Fernanda levanta de um pulo, corre pra atender.

Eunice — (baixo, a Zezé) Tadinha, Zezé, ainda não se mancou que o Tiago não quer mais papo...

Fernanda — (pega o telefone, atende) Alô! (seu rosto se ilumina) Oi, Tiago!

Eunice e Zezé trocam um sorriso cúmplice.Fernanda — Não, tudo bem... É claro que a gente

pode se encontrar...Corta pra:

CENA 24. QUARTO DE AFONSO E FÁTIMA. INTERIOR. DIA. Fátima com uma caixa - ou porta-jóias - diante de Eugênio.

Fátima — Foi o Afonso quem mandou buscar a caixa de jóias, Eugênio?

Eugênio — Não, dona Fátima, foi a dona Odete. (discreto) Provavelmente ela está querendo mandar algumas jóias pra fazer limpeza...

Fátima — É, deve ser. Faz tempo que ela chegou?

Eugênio — A dona Odete teve uma longa conversa com a dona Celina e o dr. Afonso a portas fechadas... Agora está sozinha... pediu pra não ser incomodada por ninguém. (ele pega a

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caixa nas mãos de Fátima) Com a sua licença...

Ele sai levando a caixa. Frustração de Fátima.Corta pra:

CENA 25. PISCINA DO CLUBE. EXTERIOR. DIA. Renato e Queiroz passeiam na área em torno da piscina enquanto conversam.

Renato — Acho que agora virou uma... espécie de maldição, Queiroz... Será possível que toda mulher de quem eu realmente gosto vai me dar fora... Ou então dizer que deseja apenas ser minha amiga?

Queiroz — Mas você tá gostando tanto assim da Raquel Acioli?

Renato — Eu acho que sempre gostei, viu, Queiroz?

Queiroz — Então, meu caro, dê tempo ao tempo... se você tá gostando tanto da Raquel, e se ela aceitou em princípio ser sua amiga... eu acho que vale a pena ser paciente: esperar.

Corta pra:

CENA 26. SALA DE IVAN NA TCA. INTERIOR. DIA. Ivan já contou tudo pra Luciano, que arruma alguns papéis numa pasta, por que vai sair.

Ivan — Eu não me conformo, Luciano, de jeito nenhum! Deve ter acontecido alguma coisa pra Raquel agir assim. Depois de tantas dificuldades que a gente enfrentou, de repente ela chega e diz que deixou de me amar?...

Luciano — Pode ser uma crise, Ivan, a gente nunca sabe muito bem o que se passa na cabeça das mulheres... dá um tempo, tem um pouco de paciência... quem sabe ela não volta atrás?

Ele sai. Na porta, cruza com Consuelo, que vem trazendo alguns papéis pra Ivan assinar. Ela vai colocando os papéis diante dele, Ivan vai assinando.

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Consuelo — Escuta, Ivan... eu soube que a Raquel ontem tava na maior depressão... a Lucimar contou lá na vila que ela chorou muito... tava numa tristeza... você sabe se aconteceu alguma coisa com ela?

Ivan — (aceso) Tava triste, é? (disfarça) não, Consuelo, não sei de nada, não...

Consuelo sai.Um tempo no rosto de Ivan.Corta pra:

CENA 27. QUARTO DE SOLANGE. INTERIOR. DIA. Solange arrumando alguma coisa n armário, ar de convalescente, usa robe de toalha, talvez tenha acabado de tomar banho. Mário Sérgio entra, vindo da rua.

Mário Sérgio — Oi...Solange — Aconteceu alguma coisa?Mário Sérgio — Não... eu... só dei um pulo aqui

em casa pra pegar uma matéria que eu... (corta-se) Mentira, Solange, desculpa besta.

Reação de Solange.Mário Sérgio — Eu quero te falar uma coisa tão

simples e no entanto... Pôxa, porque será que o ser humano complica tanto as coisas?

Solange — Fala, Mário Sérgio. Já que você tá se tocando é mais uma razão pra não continuar a complicar. Você voltou em casa porque?

Mário Sérgio — Será que ainda não deu pra você sacar?

Solange — Porque que você voltou, se não tinha artigo nenhum pra apanhar?

Mário Sérgio — (muito romântico) Solange... me fala a verdade... Quem é o pai do teu filho?

Solange — Ih, Mário, será que vocês ainda não entenderam que isso não tem a menor importância?

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Mário Sérgio — Pra mim é um pouco difícil.Solange — Podia ter sido você, Mário! Só não

foi porque você não quis, ficou todo chocado, quando eu pedi, assim como vários outros amigos...

Mário Sérgio — Então... o pai mesmo... como é que foi?

Solange — Eu já tava cansada de ser honesta, de me abrir e só ouvir não como resposta... de repente, pintou um clima com um cara legal com quem eu já tinha tido uma relação... eu perdi o caráter. Transei só pra tentar engravidar e fiquei na minha.

Mário Sérgio — E nunca mais voltou a ver o sujeito?

Solange — Não tô dizendo que não? Esse tempo todo, morando aqui, será que não dá pra perceber que eu não vejo ninguém, Mário Sérgio?

Mário Sérgio — Você... pretende mesmo criar essa criança sozinha?

Solange — Deus do céu, vocês todos falam como se eu fosse ser a primeira mulher na história da humanidade a criar um filho sem o pai!

Mário Sérgio — Você vai ser a primeira mulher da história da humanidade por quem eu tô apaixonado a tentar criar um filho sozinha sim.

Solange — Você tá dizendo que... (para)Mário Sérgio — O que você ouviu muito bem. Quando

você me fez a proposta, eu não quis porque... achei uma idéia muito esquisita, continuo até achando, mas... de lá pra cá... mudou muita coisa porque... porque eu tô vendo as coisas bem claras, Sô... eu tô gostando de você...

Solange — (de pé atrás) Porque você tá com peninha de mim, porque eu vou ser mãe

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solteira?Mário Sérgio — Não. Porque eu tô com peninha de

mim, de tar sempre aqui do teu lado... te olhando... sem ter coragem de me aproximar... porque... eu adoro você, Solange.

Mário beija Solange apaixonadamente. Solange se deixa beijar. (os beijos que se seguirão, pra Solange, não devem ser muito totais, porque ela está carente mas ama Afonso).Corta pra:

CENA 28. QUARTO DE IVAN E HELENA. INTERIOR. DIA. Odete com Helena. Odete está muito chocada.

Odete — O que mais me choca nessa história toda é que... eu dei todo o apoio à Maria de Fátima! Essa garota... tinha um amante por todo esse tempo... eu dei todo o apoio, eu fui uma grande amiga, ajudei a Fátima a (corta-se). Não foi só o Afonso que ela traiu duma forma desprezível não, Heleninha, foi a mim também!

Helena — (com uma ponta de sarcasmo) Isso pra você é ainda mais grave do que enganar um homem apaixonado, não é, mamãe?

Odete — (sem ouvir) O que foi que você disse?

Helena — Nada. Eu... eu não sei o que dizer... Se você precisar de alguma coisa, eu tô lá no atelier...

Helena sai. Odete anda um pouco, completamente desarvorada. Senta-se. Fica um tempo pensativa.Close de Odete.Corta pra:

CENA 29. APART-HOTEL DE CÉSAR. INTERIOR. DIA. Olavo acabando de fazer curativo nos hematomas de César que deve estar bastante machucado.

Olavo — Ih, cara, pensei que você fosse melhor de briga... Tá todo amassado...

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César — Ele me pegou desprevenido... O susto foi tanto quando eu vi o Afonso na minha frente que/

Olavo — (corta) Levou a maior surra da paróquia... E agora, hein, malandro? Dançou de vez, né? Pode ir se despedindo dessas mordomias aqui... porque eu acho que você vai sair dessa história só com uma trouxinha maior do que a que você tinha quando entrou...

César — (desolado) Quase dois anos da minha vida. Empatei quase dois anos da minha vida, Olavo, na minha idade, e o que foi que eu ganhei?

Olavo — (rindo) Ganhou experiência, cara... e, lógico, algumas ruguinhas a mais...

César — O que é que eu vou fazer agora, Olavo, me diz? Vou pegar meus bagulhos e me mudar pra debaixo da ponte?

CAM fecha em César arrasado.Corta pra:

CENA 30. QUARTO DE AFONSO E FÁTIMA. INTERIOR. DIA. Fátima está colocando na mala um porta retratos de prata e uma caixinha idem. Entra Marina. Vai direta à mala e pega as duas coisas.

Fátima — O que é que você está fazendo?Marina — Pegando isso aqui que a d. Celina

mandou. Não quer que a senhora leve não que foi presente dela pro dr. Afonso...

Fátima — E taí fora, feito uma bruxa, contando as coisas que manda tirar de mim?

Marina — A d. Celina? Que nada... Me deu essa ordem e saiu pra rua com a d. Heleninha. Aliás, em casa, fora “você” e os criados só tem mesmo a d. Odete...

Fátima — (se animando) A Odete está sozinha em casa?

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Marina — Se não saiu também... Tava aí no quarto da d. Heleninha...

Corta pra:

CENA 31. QUARTO DE HELENA E IVAN. INTERIOR. DIA. Odete sozinha, pensativa. Fátima entra, agora forte. As duas se olham longamente.

Odete — Eu estava justamente pensando, Maria de Fátima, como foi que você teve a audácia de (para de falar)

Fátima — De não me conformar com um destino medíocre que traçaram pra mim e ir à luta?

Odete — Se é assim que você vê as coisas...Fátima — É, Odete, é assim que eu vejo as

coisas sim.Odete — Quer dizer que... você não se

arrepende de coisa alguma?Fátima — Me arrependo muito. De ter dado

tanta bandeira. Porque se eu não tivesse dado a bandeira que eu dei... (corta-se) Só faltavam três meses preu sair desse casamento com um mínimo de recompensa.

Odete — Pois eu acho que o Afonso tem toda a razão em não lhe dar rigorosamente nada!

Fátima — Direito seu de achar. Mas o Afonso não pode continuar cantando de galo do jeito que ele tá cantando não. Porque você vai me ajudar.

Odete — (indignada) Eu? Ajudar uma mulher que traiu o meu filho? Que me traiu?

Fátima — Entre nós não precisa vir com esse tipo de ladainha não, tá Odete? Eu quero a grana a que eu tenho direito e você vai me ajudar. Porque se não ajudar eu vou agorinha lá no atelier procurar a Helena e contar direitinho pra ela o que você me obrigou a fazer pra separar a minha mãe do Ivan. Já

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pensou, quando a Helena souber que o casamento dela não passou de um dos seus arranjos? Que de certa forma o Ivan foi comprado?

Corta pra:

CENA 32. SALA DO APARTAMENTO. INTERIOR. DIA. Raquel muito triste ao telefone.

Raquel — (tel) Jantar fora? (tempo) Não, Renato, muito obrigada, mas eu não tô com vontade de sair não, eu não tô com vontade de ver ninguém... (tempo) Obrigada por ter ligado, outro dia a gente se vê, mas eu tô precisando muito é ficar sozinha, eu te juro que tá tudo bem.

Raquel desliga. Tempo. Tristeza.Toca a campainha. Ela abre a porta. Entra Ivan. Reação. Closes alternados dos dois.Corta.

FIM