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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCT CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA Polímeros Condutores Ana Paula Martins Debora Mariano Jessica Hüller Trabalho apresentado para a disciplina OQP0001 – Química de Polímeros, Profa. Carla Dalmolin 1

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESCCENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCTCURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA

Polímeros Condutores

Ana Paula MartinsDebora Mariano

Jessica Hüller

Trabalho apresentado para a disciplina OQP0001 – Química de Polímeros, Profa. Carla Dalmolin

JOINVILLE, 2014

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Polímeros Condutores

1. Introdução

Nos últimos anos, o desenvolvimento da tecnologia de síntese e

caracterização dos polímeros, tornou-se um dos assuntos mais importantes.

Foi a partir da Segunda Guerra Mundial que houve uma ampla popularização

do uso de polímeros pela sociedade, onde surgiram diversos grupos de

pesquisas em todo o mundo que buscavam solucionar questões importantes

sobre a estrutura, composição e durabilidade desses novos materiais. 1

O estudo de polímeros condutores vem atraindo muitos pesquisadores.

Esses materiais combinam propriedades típicas de plásticos com propriedades

ópticas e elétricas de metais e de semicondutores inorgânicos. Outra classe de

materiais condutores são os polímeros intrinsecamente condutores, que são

considerados como uma nova classe de materiais chamados de “metais

sintéticos”. 2

Um dos importantes usos dos polímeros intrinsecamente condutores que

foi relatado recentemente por cientistas da Universidade do Texas, foi o uso de

um novo biomaterial, um polímero condutor aditivado com açúcar. Este material

foi usado para acelerar o crescimento e reparação de nervos danificados, com

bons resultados. Até recentemente, este biomaterial só havia sido testado em

células de tecidos de ratos. Se for bem sucedido em humanos, ele poderá ser

muito útil na recuperação de pacientes com danos severos em nervos das

pernas ou braços, rompidos em acidentes. 3

2. História

Durante muito tempo, estudiosos tentaram obter um polímero condutor.

Foi somente no início da década de 70 que uma classe de polímeros foi

produzida com grande capacidade de conduzir eletricidade, embora a ideia de

que sólidos orgânicos apresentassem alta condutividade elétrica, comparável à

dos metais, tenha sido proposta há mais de meio século. 4

2

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A descoberta dos polímeros intrinsecamente condutores (PICs) ocorreu acidentalmente em Tóquio, no laboratório de Hideki Shirakawa no ano

de 1976, onde um dos alunos de Shirakawa, na tentativa de sintetizar o

poliacetileno (um pó preto), produziu um lustroso filme prateado, parecido com

uma folha de alumínio. 4

Foi no ano de 1977 que Shirakawa verificou que após a dopagem do

poliacetileno com iodo, o filme prateado flexível, que foi produzido pelo seu

aluno, tornou-se uma folha metálica dourada, onde sua condutividade elétrica

era sensivelmente aumentada. 4

A descoberta do poliacetileno condutor mostrou que não havia nenhuma

razão para que um polímero orgânico não pudesse ser um bom condutor de

eletricidade. Então, outros polímeros condutores foram preparados. 4

3. Condução elétrica de Polímeros Condutores

Os polímeros condutores são formados por cadeias contendo duplas

ligações insaturadas conjugadas, permitindo assim o fluxo de elétrons em

condições específicas. Os orbitais π podem facilmente reduzir (receber

elétrons) ou oxidar (doar elétrons) formando assim um íon. 2

Os polímeros condutores não apresentam nenhuma condutividade no

estado neutro. Sua condutividade intrínseca resulta da oxidação, redução ou

dopagem da cadeia polimérica. Os agentes de carga que efetuam a redução

ou a oxidação do polímero, tornando-o, de isolante para condutor são

chamados de dopantes, em analogia à dopagem em semicondutores. Na

Tabela 1 são apresentados alguns polímeros condutores e suas condutividades

máximas e o tipo de dopagem. 2

Tabela 1: Polímeros condutores e suas condutividades máximas e o tipo de

dopagem. 2

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A dopagem é o processo pelo qual o polímero passa do estado isolante

para condutor. A dopagem ocorre através de métodos químicos de exposição direta do polímero a agentes de transferência de carga (dopantes), em fase gasosa ou em solução, ou ainda por oxidação ou redução eletroquímica. Na dopagem de um polímero, ao contrário de um semicondutor, as impurezas não são introduzidas nas cadeias, mas sim nas suas “vizinhanças” e a interação impureza-cadeia gera os chamados “defeitos carregados” localizados (polarons e bipolarons), responsáveis pelo aumento da condutividade. 3

Entre os polímeros condutores mais conhecidos destacam-se o

poliacetileno, o polipirrol, o politiofeno e a polianilina cujas estruturas estão

representadas na Figura 1. 2

Figura 1: Estrutura de alguns polímeros condutores. 8

A consequência da ocorrência de reações de oxidação ou redução na

cadeia polimérica é a formação de cargas deslocalizadas que podem ser

positivas ou negativas, as quais são balanceadas pela incorporação de contra-

íons (ânions ou cátions) denominados de dopantes. 6

O modelo de bandas foi o primeiro modelo usado para explicar a

condutividade dos polímeros condutores assumindo que os elétrons oriundos

na dopagem, eram removidos da banda de valência e adicionados à banda de

4

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condução.6 Os níveis ocupados de mais alta energia constituem a banda de

condução (BC), e os níveis eletrônicos vazios de mais baixa energia constituem

a banda de valência (BV). Estes dois níveis de energia estão separados por

uma faixa de energia proibida, a qual é chamada de gap. A largura do gap

determina as propriedades elétricas intrínsecas do material. Na figura 2 é

apresentado um esquema de bandas para materiais isolantes, semicondutores

e condutores. 3

Figura 2: Esquema de bandas para materiais isolantes, semicondutores

e condutores.3

A condutividade dos polímeros, pelo modelo de bandas, se dá pela

movimentação de elétrons na banda de condução (dopagem do tipo “n”, ou

redução do polímero) ou pela movimentação de vacâncias na banda de

valência (dopagem do tipo “p”, ou oxidação do polímero). Não há condução

quando as bandas estão completamente cheias ou vazias. 3

Quando um elétron é removido por oxidação da banda de valência, nos

polímeros conjugados, é gerado um cátion-radical. A densidade de carga

localizada que surge no polímero é chamada de polaron, e faz com que ocorra

uma deslocalização parcial sobre algumas unidades monoméricas, causando

uma distorção estrutural local, formando bandas de energia localizadas no

meio do gap. 3 No processo de formação do polaron, a banda de valência

permanece cheia e a banda de condução vazia, e não há o aparecimento do

caráter metálico, uma vez que o nível parcialmente ocupado está localizado no

band-gap. 5

Ao remover um segundo elétron por oxidação, ou este elétron pode ser

retirado de um segmento diferente da cadeia dando origem a mais um polaron,

ou o elétron é retirado de um nível polarônico já existente, levando assim à

5

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formação de um dicátion radical ou bipolaron. 3 A formação de um “bipolaron”

leva a uma diminuição da energia de ionização do polímero, motivo pelo qual

um “bipolaron” é termodinamicamente mais estável que dois “polarons”. 1

Quando um polaron como também um bipolaron são expostos a um

campo elétrico, os mesmos podem mover-se ao longo da cadeia polimérica

através de um rearranjo das ligações duplas e simples que ocorre em um

sistema conjugado, e é esta movimentação que gera a condutividade elétrica

dos polímeros condutores (Figura 3). 3

Figura 3: Modelo esquemático para a PAni de um polaron e um bipolaron.1

A condutividade ocorre devido ao salto dos portadores de carga que são

os polarons e os bipolarons entre as cadeias poliméricas. Três elementos

contribuiriam para a mobilidade dos portadores, neste caso: o transporte ao

longo da cadeia do polímero, o transporte entre duas cadeias adjacentes e o

salto dos portadores entre duas partículas do polímero. 7

Assim como nos semicondutores inorgânicos, os polímeros condutores

devem ser dopados para apresentar maior condutividade. O processo de

dopagem para a maioria dos polímeros condutores, como polipirrol e

politiofeno, ocorre simultaneamente com a oxidação da cadeia. Os elétrons são

retirados da cadeia durante a oxidação e é inserido contraíons (dopantes) para

balancear a carga. 5

Os mais conhecidos aceptores e doadores de elétrons, incluindo-se

agentes fortes e fracos, são: AsF5, I2, Br2, BF3, HF, Li, Na e K, respectivamente.

Como descrito anteriormente, o processo de dopagem pode ser realizado por

métodos químicos ou apenas pela exposição dos polímeros condutores aos

vapores dos agentes de transferência de carga. 5

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4. Aplicações dos polímeros condutores

Devido à alta aplicabilidade dos polímeros condutores, há um grande

interesse em estudá-los. O que deu o inicio a esse desenvolvimento foi a

descoberta que o poliacetileno podia funcionar como eletrodo ativo em uma

bateria secundária. Além de baterias, os polímeros condutores são

apresentados como materiais potenciais para a fabricação de dispositivos

eletrocrômicos, coberturas antiestáticas, eletrocatalisadores, dispositivos

eletrônicos, sensores e etc. Os polímeros condutores podem ser utilizados em

muitas aplicações. Os polímeros condutores só conseguem entrar no mercado

quando oferecerem “algo mais” que os compostos já existentes. Na Tabela 2

são apresentados algumas aplicações dos polímeros condutores, seus

fenômenos e usos. 8

Tabela 2: Aplicações dos Polímeros condutores. 5

Seria interessante mostrar por que os polímeros condutores podem ser usados nessas aplicações. Quais as reações / propriedades que garantem essas aplicações

5. Vantagens dos polímeros condutores

Os polímeros condutores podem ser utilizados em um vasto número de

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aplicações que nos trazem vantagens nos ramos tecnológicos, sociais e

ambientais, porém em contrapartida algumas desvantagens e dificuldades são

encontradas na utilização desses polímeros.

A corrosão metálica é um grave problema tecnológico que causa

grandes despesas anuais no mundo todo. Atualmente, o mundo não está

preocupado unicamente com gastos financeiros para manutenção de materiais

metálicos, pois está havendo uma excessiva preocupação quanto aos métodos

de recobrimento empregados para proteção anticorrosiva principalmente a

cromatação. Cromatos e dicromatos são extremamente prejudiciais ao meio

ambiente e podem provocar tumores carcinogênicos aos seres humanos. Por

isso, revestimentos estratégicos de polímeros intrinsecamente condutores

eletrônicos para a proteção à corrosão metálica têm-se destacado.9

Outra vantagem em relação aos polímeros condutores é que estes

inclusos na composição de produtos de pequena escala e alto valor agregado,

podendo destacar nesse caso os filmes eletrocrômicos que servem para

controlar a luminosidade e a troca de calor com o ambiente externo. Várias

aplicações têm sido propostas para os dispositivos eletrocrômicos, sendo que

as mais visadas estão na área de arquitetura como, claraboias decorativas,

vidros privativos ou de divisórias, com resultados bem mais eficientes do que

os vidros “fumados” ou espelhados, capazes de isolar a luz, mas não o calor.10

Estes também podem ser utilizados na produção de supercapacitores,

na qual são condensadores eletroquímicos quem tem uma extraordinária

capacidade de armazenamento de energia quando comparado a capacitores

comuns de grande aplicação em aparelhos e veículos elétricos, em proteção de

memória de computadores e aparelhos de comunicação. Os supercapacitores

feitos com polímeros condutores custariam muito menos e teriam a mesmo

desempenho dos supercapacitores comerciais, utilizados em componentes

eletrônicos.11

Na área de fontes alternativas de energias, os polímeros condutores

estão sendo estudados para uso como componentes ativos de células

fotovoltaicas. Eles substituiriam o silício, normalmente utilizado nestes

dispositivos, cuja função é transformar energia luminosa em corrente elétrica.

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Neste caso a eficiência de conversão dos polímeros seria inferior a do silício,

porém custo financeiro e energético seria muito menor.12

O principal problema enfrentado por estes polímeros em aplicações

comerciais é a dificuldade de se conciliar boa estabilidade química, alta

condutividade elétrica e resistência mecânica em um mesmo material. Porém

com o uso das técnicas de síntese e manipulação orgânica desenvolvida,

acredita-se que boa parte destes problemas possa ser resolvida. Vários

dispositivos eletrônicos têm sido desenvolvidos em laboratório ou encontrados

uso em escala comercial, como é o caso das baterias de polianilina, que

possuem uma alta densidade de energia elétrica acumulada e são mais leves

que as baterias metálicas. Outro fator é o fato de que os polímeros condutores

ainda não serem largamente explorados comercialmente e poucos são os

exemplos de sua utilização comercial.12

Existem também desvantagens específicas em relação aos vários tipos

de polímeros condutores, uma desvantagem, por exemplo, é em relação ao

poliacetileno, que embora tenha sido o primeiro polímero condutor sintetizado

apresenta algumas limitações como a baixa estabilidade ambiental, pois oxida

facilmente a presença de ar, o baixo grau de ordenamento ou cristalinidade e a

alta densidade de portadores e baixa mobilidade de portadores, porém esse

problema pode ser resolvido caso se obtenha o poliacetileno orientado e caso

as cadeias sejam orientadas depois da polimerização.13

6. Polianilina (PAni)

O termo polianilina se refere a uma classe de polímeros consistindo de

1000 ou mais unidades repetitivas. Devido as suas propriedades singulares

como, por exemplo, baixo custo do monômero, facilidade de polimerização,

estabilidade química de sua forma condutora em condição ambiente, dopagem

e alto rendimento, a polianilina, também conhecida como PAni, é o polímero

condutor mais estudado nos últimos 100 anos. A formula geral não dopada da

polianilina está representada na Figura 4, possuindo y e (1-y) unidades

repetitivas das espécies reduzidas e oxidadas, respectivamente. As

propriedades dos polímeros descritos por esta fórmula podem variar

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dependendo de dois fatores: grau de oxidação e grau de protonação do

polímero. 3

Figura 4: Fórmula geral não dopada da polianilina. 3

Em princípio, o estado de oxidação da polianilina pode ser variado

continuamente desde o valor de y=1, para um polímero totalmente reduzido,

contendo somente nitrogênios amina, até o valor de y=0 no caso do polímero

totalmente oxidado, contendo somente nitrogênios imina. Existe ainda alem

desses estados de oxidação, um estado intermediário conhecido

correspondente ao valor de y=0,5. Estes três estados de oxidação são bem

definidos e possuem propriedades físicas e químicas bem distintas, sendo

conhecidos como leucoesmeraldina (y=1), esmeraldina (y=0,5) e pernigranilina

(y=0). 3 Na Tabela 3 é apresentado os diferentes estados de oxidação da

polianilina, sendo a forma base esmeraldina a mais estável.

Tabela 3: Estados de oxidação da polianilina e suas cores. 5

A forma base esmeraldina reage com ácidos fornecendo a forma

condutora sal esmeraldina. Dentre todas as formas possíveis de estado de oxidação e protonação da polianilina, somente é condutora a forma oxidada e protonada, conhecida como sal esmeraldina. 3 Além

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da alta condutividade elétrica a polianilina possui outra propriedade

interessante que é a variação da cor em função do potencial e do pH. 2

A polianilina é o único polímero condutor que pode ter suas propriedades

elétricas reversivelmente controladas e alteradas, ocorrendo tanto por alteração

no estado de oxidação, quanto pelo grau de dopagem ou protonação. 3 A

polianilina dopada é formada por cátions radicais, chamados de

poli(semiquinona), que originam uma banda de condução polaronica. Na figura

5 é apresentado o mecanismo de condução via polaron na polianilina. 1

Figura 5: Mecanismo de condução polaronica da PAni. 1

No mecanismo de condução polaronica da PAni (Figura 5), os íons H+

em solução interagem com um átomo de nitrogênio, Figura 5.(a), retirando 1

elétron, e formando uma carga positiva e um nitrogênio quinoide (Imina), como

mostrado na Figura 5.(b). Então, por ressonância, o elétron restante, localizado

na ligação dupla irá migrar pelo anel benzênico, atraindo um elétron de outro

nitrogênio da cadeia polimérica (Figura 5.(c)), levando a uma transferência de

cargas que ocorre através das duplas ligações da cadeia polimérica da

polianilina (Figura 5.(d)). 1

A polianilina pode ser considerada não somente como uma base de

Brönsted, mas também como uma base de Lewis e pode ser dopada com

ácidos de Lewis. Portanto, a Pani, quando dopada com metais de transição,

doa elétrons para o grupo metálico. Isto pode acontecer tanto nos grupos

iminas ou aminas na estrutura da polianilina. 1

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6.1 Síntese

Existem três métodos de polimerização que podem ser utilizados para

sintetizar os polímeros condutores: química, eletroquímica e fotoeletroquímica.

Dentre estes métodos, a síntese química é a mais utilizada e industrialmente é

a mais vantajosa por possibilitar a produção de grandes quantidades de

material. 5

A polianilina foi um dos primeiros polímeros condutores a ser

sintetizados. 1 Os métodos mais utilizados para sintetizar a polianilina são por:

polimerização química ou eletroquímica. Porém há outros métodos para

sintetizar a PAni como: fotoinduzida ou catalisada por enzimas. 3

A polianilina pode ser sintetizada tanto na forma de pó, empregando um

oxidante químico apropriado, ou na forma de filmes, que ocorre pela oxidação

eletroquímica do monômero (anilina), sobre eletrodos de materiais inertes. 1

Algumas das vantagens que a síntese eletroquímica possui sobre a

síntese química convencional, é que a mesma não necessita de agente

oxidante e catalisador, é de fácil caracterização por técnicas espectroscópicas

e é obtido diretamente na forma de filmes finos com um polímero com maior grau de pureza. No entanto, a síntese química convencional tem sido

a mais utilizada no estudo das propriedades físicas e aplicações tecnológicas. 1

A síntese da polianilina por oxidação eletroquímica é realizada em meio

ácido contendo altas concentrações de anilina e pode ser feita mediante um

potencial estático, em geral com um valor entre 0,7 V e 1,2 V ou por voltametria

cíclica, com o potencial sendo ciclado entre -0,2 V e 1,2 V com velocidades de

varredura variando entre 10 e 100 mV/s.3

A síntese da polianilina pela síntese química convencional ocorre também em meio ácido sob a ação de um agente oxidante, ocorrendo

precipitação do polímero na forma de um pó verde, dopado com o ácido

utilizado na síntese. A vantagem de utilizar esse método é a produção de um

polímero de alto peso molecular e em grandes quantidades. 3

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Podem ser utilizados uma variedade de agentes oxidantes e ácidos

dopantes, sendo os compostos de persulfato de amônio ou cloreto férrico como

agentes oxidantes e soluções de ácidos inorgânicos (HCl,H2SO4, HClO4) como

dopantes os mais utilizados. O grupo funcional presente no ácido dopante, seja

ele inorgânico, orgânico ou poliácido, tem grande influência sobre a

solubilidade, dispersão, condutividade elétrica, etc. da polianilina sintetizada. 3

A polianilina pode ser preparada para apresentar determinadas

características, por conta da diversidade e facilidade dos métodos de síntese,

dependendo do dopante e das condições de síntese utilizadas. 3 Devido a

variados métodos existentes para a síntese química da polianilina a natureza e

propriedades dos produtos podem diferir de maneira drástica. O mecanismo

mais aceito para polimerização da polianilina está esquematizado na Figura 6. 1

Figura 6: Mecanismo proposto para a polimerização da polianilina. 1

É possível observar na primeira etapa da reação a oxidação da anilina a

um cátion radical, levando a formação de um dímero. Este dímero é oxidado

rapidamente, formando os íons diimina. O monômero anilina sofre um ataque

eletrofílico, tanto por íons nitrênio como por íons diimina, iniciando assim o

crescimento do polímero. A reação prossegue, chegando rapidamente ao

produto final. 1

O rendimento da reação de polimerização, como também a obtenção de

polímeros com maior valor de condutividade, é influenciado diretamente pela

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relação monômero/oxidante. O parâmetro K (razão molar monômero/oxidante) da Equação 1 possui uma relação importante na

polimerização, pois tanto o rendimento quanto as propriedades do polímero final são afetados diretamente pelo mesmo. 3

(1)

nan: número de mols de anilina.

nox: número de mols do oxidante.

ne: número de elétrons envolvidos na redução do oxidante.

Obs: A constante 2,5 é o valor médio de elétrons perdidos por mol de anilina.

Estudos realizados demonstraram que quanto maior o valor de K, maior

a condutividade da polianilina, e menor o rendimento da reação. Além disto, um

excesso de oxidante pode resultar em degradação do polímero resultante.3

7. Referências Bibliográficas

1. FORNAZIER, F, Y. Síntese, Dopagem e caracterização da Polianilina com sais de (II) e Fe (III), 2009, 18p. Tese ( Mestrado na área de concentração Síntese e Caracterização de Materiais) – Universidade Federal do Espírito Santo - Centro de Ciências exatas, Vitória.

2. AUGUSTO, T. Introdução a Polímeros Condutores: Síntese e Caracterização Eletroquímica da Polianilina. 2009, 2p. Trabalho de conclusão - Universidade de São Paulo - Instituto de Química, São Paulo.

http://www2.iq.usp.br/pos-graduacao/images/documentos_pae/1sem2009/quimica_organica/quimica_analitica/tatiana.pdf

3. HANSEN, B. Metodologia para produção de biossensores amperométricos enzimáticos utilizando polímeros condutores: Caso Polianilina. 2011. Tese (Mestrado em Ciências e Tecnologias dos Materiais) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais – PPGEM, Porto Alegre.

4. ROCHA, F, C, R. Polímeros condutores: Descoberta e aplicações, 2000.Química Nova na Escola. n. 12, p. 11 -12, 2000. Disponível em:

http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc12/v12a03.pdf acesso em: 19 de setembro 2014.

5. FAEZ, R.; REIS, C.; SCANDIUCCI, F. P; KOSIMA, K, O; RUGGERI, G; PAOLI, M. Polímeros Condutores, 2000.

6. MEDEIROS, E, S; OLIVEIRA, J, E; CONSOLIN, F, N; PATERNO, L, G; MATTOSO, L, H, C. Uso de Polímeros Condutores em Sensores, p. 65-66, 2012. Disponível em:

http://cct.ufcg.edu.br/revista/index.php/REMAP/article/viewFile/310/250 acesso em: 19 de setembro 2014.

7. MATVEEVA, E. S. Residual Water as a Factor Influence the Electrical Properties of Polyaniline: The Role of Hydrogen Bonding of the Polymer With Solvent Molecules in

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the Formation of a Conductive Polymeric Network. Synthetic Metals, 79 (1996) 127-139.

8. ZOPPI, A.R.; PAOLI, A.M. Aplicações tecnológicas de polímeros intrinsecamente condutores: Perspectivas atuais. p. 560 -561,1993. Disponível em:

http://submission.quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/1993/vol16n6/v16_n6_%20(11).pdf acesso em: 03 de outubro 2014.

9. TORRESI, R. M.; TORRESI, S. I. C. Proteção à Corrosão Utilizando Blendas de Polímeros Condutores Eletrônicos. Iq Usp. Disponível em:

http://www.iq.usp.br/rtorresi/portugues/interesse/protecao.htm Acesso em: 02 de outubro de 2014.

10. RIOS, E. C. Dispositivo Eletrocrômico Baseado No Poli(3-Metiltiofeno). 2007. Dissertação de Pós-Graduação - Universidade Federal do Paraná – Setor de Ciências Exatas, Curitiba.

11. CAPUCCI, H. G. Investigação da Influência de 2,5-Dimercapto-1,3,4-Tiadiazolnas Propriedades Eletroquímicas de Polipirrol e Nanotubos de Carbono. 2012. Dissertação de Pós-Graduação – Universidade Federal de Uberlândia – Uberlândia.

12. SANTOS, F. L. Polímeros Condutores. Unicap. Disponível em:

http://www.unicap.br/Chico/polimeros1.htm. Acesso em: 05 de outubro de 2014.

13. MAIA, D. J.; Paoli M.A.; ALVES, O. L. Conductive Polymer Synthesis in Solid Host Matrices. Química Nova, p.206, 1999. Disponível em:

http://www.lqes.iqm.unicamp.br/images/pontos_vista_artigo_revisao_daltamir.pdf Acesso: 24 de setembro de 2014.

A conclusão é antes das Referências Bibliográficas!

8. Conclusão:

Não há o que negar quanta presença de polímeros no cotidiano. Eles

estão presentes nos mais diversos ramos da indústria. As aplicações vão

desde o uso doméstico até desenvolvimento de peças para os mais diversos

ramos da indústria.

Desde a suposição de que seria possível sintetizar polímeros

condutores, até de fato sua síntese, muito se avançou, mas apesar dos

estudos e de apresentar diversas vantagens quanto ao seu uso, há ainda muito

a ser estudado e melhorado. A possibilidade de modelar esse tipo de material,

além de ser descartável e em certos casos até reciclável permite a

aplicabilidade em diferentes ramos, como foi apresentado na tabela 3.

15