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REFORMA AGRÁRIA :'.' grande debate/ i/

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publicação do gea junho-juího 85 no34

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Chrrwo& fauÈpí

IV Congresso nacional dos trabalhadores rurais Realizou-se de 25 a 30 de maio o

49 Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, em Brasília. Contou com a pre- sença de 4.455 delegados representando' os 2.600 sindicatos da categoria legal- mente Constituídos no Brasil, e as " 22 Federações estaduais. A maior delegação foi a de Minas Gerais, com 440 delega-' dos, seguida pela do Rio Grande do Sul, com 415 participantes.

Temas polêmicos, num momento na- cional polemico, estiveram em pauta, co mo oda Reforma Agrária. Não houve di- vergência quanto a necessidade de Refor^ ma Agraria, mas sim, em relação ã sua concepção e sua direção. A diversidade' existente no meio rural, os diferentes estágios de desenvolvimento sócio-econÔ micos existentes no pais, somados as dT vergências, por vezes contraditórias,de ideologias representadas por correntes sindicais, por partidos políticos e por grupos que se autodenominam de indepen- dentes, conformaram uma dimensão de com plexidade dos interesses presentes no Congresso.

Tais divergências afloraram mais nitidamente no interior das seis comis- sões que discutiram temas relevantes, ' quais sejam: sindicalismo, previdência social, questões agrárias, política a- grTcola, questões trabalhistas e ques- tões nacionais. A comissão mais numero- sa foi a que discutiu a Reforma Agraria que teve 800 inscritos. Ai houve discus soes acaloradas no sentido de clarear e

avançar uma postura de classe em rela- ção ao problema e em torno de questões' especificas, como a forma de liberarter ras para fins de Reforma Agrária e so- bre o instrumento legal para executá-la. 0 Estatuto da Terra foi posto em dúvida como instrumento dos trabalhadores, po- sicionando-se o Congresso no sentido de usá-lo de forma seletiva e somente en- quanto não for feita uma nova legisla- ção, via Constituinte.

Foi, porém, na exigência de que os trabalhadores rurais participem efe- tivamente a nível de controle do proces^ so de Reforma Agrária, que parece ter havido avanço significativo em relação' ao Congresso anterior (1979).

No geral, o Congresso propiciou' um importante momento político de conta to com a realidade rural brasileira e de ampliação da consciência no movimen- to sindical dos trabalhadores rurais.Em termos objetivos significou uma atuali- zação, e neste sentido mostrou-se coin servador, por não criar alternativas no vas de projeção do movimento sindical 'r

no sentido de orientar e direcionar a luta. Talvez, desmotivados pelas poucas perspectivas de que seja possível reali zar as transformações sÕcio-econÔmicas"r

que permitem democratizar os meios de produção, ou seja, a riqueza produzida* socialmente.

IjuT, junho de 1985.

Ivaldo Gehlen

Nova Palma. 7 de julho de 1985

Prezados companheiros

Ao receber a sua correspondência parece que ficou mais fácil a renovação da assinatura do Terragente. Eu não tinha renovado porque estava ten- tando mais umas assinaturas e assim fazer um bolo só para mandar.

Queria lhes diz^r que o Terragente é muito importante. Os assuntos que ele traz sempre informam a gente sobre coisas que nós aqui tambim estamos vi- vendo.

Em algumas palavras queria contar alguns fa tos que estamos vivendo em nosso município que nao são diferentes de tantos.

Começando pelas barragens, parece que a coisa começou a feder de novo. Estão querendo inicl ar as obras da barragem de Dona Francisca, e isso a tingirá mais de 70 famílias do nosso município

Com referência a terras,só o grande pode comprar. Está cada vez mais distante o grande do pe- queno, e esse ainda sofreu uma grande queda cora o

baixo preço do fumo, que é um dos produtos base do pequeno produtor.

Queria dizer que faço parte de uma equipe da Pastoral Rural que Junto cora o Sindicato estamos nos empenhando com esses problemas, problemas dos jovens, política agrícola, terras e, agora, com o da barragem (e neste mês com o dia do colono e outros que sao comuns). Por isso é muito importante, repito, este jornalzinho, para nós colonos que trabalhamos com o povo.

Quandonós tivermos algum resultado com re 1ação ã construção e como vai ser a desapropriação das famílias atingidas pela barragem, nós ou o sindi^ cato vamos mandar noticias para'serem divulgadas no Terragente.

Sabendo que os nossos trabalhos têm um mes roo objetivo que é a transformação da sociedade em outra mais humana e justa, envio votos de bom traba 1ho e um abração a esses companheiros daí.

Carmelinho Piovesan

terragente 2*

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IrM W A Um k Pis, n )pféiH*

BIBLIOTECA opinião do gea

iSbnãf^ I A Nova República ainda não definiu

o seu rumo nao sabe qual santo vestir e nem para quem acender velas.

Samey tenta ficar em cima do muro, fazer um meio de campo que nao tem nenhum futuro. Conseguiu se adaptar a um discur- so mais progressista mas, no entanto, os fatos estão mostrando que ê so discurso . Seu governo está ã deriva numa grande tem pestade, onde quem sofre o impacto das on das ê o povo, que cada vez mais vê murcha rem as suas esperanças de mudanças concrê tas.

0 país vive de blefes.

0 governo blefa quando faz um gran de barulho para lançar o 1? Plano NadonáT de Reforma Agraria, mas tem diarréia quan do os latifundiários e seus aliados (quê estão dentro do próprio governo) mostram as garras. Fazem desmentidos, adiam as da tas. Para os trabalhadores dizem uma coi- sa e para os latifundiários dizem outra.

Blefa também quando faz a convoca- ção de uma Constituinte de forma inteira- mente viciada, tentando manter tudo quan- to pode da ordem estabelecida e fazendo o máximo para que não haja participação popular^ Em primeiro lugar não será uma Assembléia Constituinte, será um Congres- so Constituinte (veja matéria neste TERRA GENTE). Em segundo lugar, articula umã Comissão de "Notáveis", homens do direito e das letras, que terão a incumbência de fazer um "pacotao" para que este Congres- so Constituinte mude algumas coisas secun darias mas aprove as fundamentais.

Sarney blefa ainda quando vai para a televisão e faz um discurso nacionalis- ta mas nao enfrenta o FMI. 0 país continua vivendo sob os ditames deste órgão e o governo não se envergonha de dizer que pagará dólar a dólar desta escandalosa dí

vida externa que sufoca o crescimento eco nômico e que desvia para os cofres dos banqueiros internacionais o suor e o san- gue de nossa gente.

De outra parte, a extrema direita começa a se articular com bastante destre za. E o ridículo PUR - Pacto de Unidade e Resposta Rural - dos latifundiários gauchob. F a mais que reacionária TFP-Tira diçao. Família e Propriedade - que percor re todo o interior do estado numa cruzada contra a Reforma Agrária. São setores do próprio governo, haja visto as recentes declarações do ministro Antônio Carlos Ma galhaes, dizendo que há "esquerdistas" de mais na esfera publica.

A raiz dos blefes e das indefini- ções ^é uma so: nao há cano conciliar o que é irreconciliável. Ou é feita uma Re- forma Agrária (o que interessa aos traba- lhadores) ou não e feita (o que interessa aos latifundiários). JXi faz-se uma Consti tuinte Livre, Democrática, Soberana e Ex- clusiva, ou monta-se um circo onde a bur- guesia, a peso de ouro, patrocinará o es- petáculo. Ou se tem uma política de inde- pendência frente ao IMI e ao que ele re- presenta, negando-se pagar esta dívida externa que não foi feita por n5si ou se segue sugando os trabalhadores até a mor- te.

A burguesia não abre mão de um mi- límetro dt seus privilégios e os trabalha dores não têm mais como apertar o cinto.

A Nova República vai ter que se de finir. Vai ter que dizer o que veio faza:.

De nada adianta tentar um namorico com os trabalhadores se está casada de pa pel passado com os burgueses.

"0 BLEFE E A MENTIRA TEM AS PERNAS CURTAS E NSD ENGANAM POR MJITO TEMPO."

tertügeUte uma publicação do GRUPO DE ESTUDOS E

ASSESSOR/A AGRAR/A r&daçõo « odícdo: Equipo do GEA datilografia: Paulo Bockor diagramaçào: Vera Junqueira improsaõo: HoKnho == ENDEREÇO PSCORRESPONDÈNCIA: =—^=

rua gasp^martins 470» 2? ondar-caUa postal 10.507 cep90000 porto alegre-rs fone (0512)250787

terr agente 3

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a/rrwatf-JÈMjfer

Nova República Contribuição ao debate

0 encaminhamento das soluções dos proble- mas mais urgentes herdados e encarados pela Nova Re- publica há de passar pela mobilização da sociedade . de todos os seus segmentos patrióticos, no sentido da retomada da soberania nacional, desde ha muito combalida^ Algo neste plano já se vem vislumbrando com posições gue estão sendo tomadas, tanto na rene- gociação da divida externa, quanto na reorientajiò da filosofia do Itamaratl, que passa a assumir posições de apoio e de solidariedade para com interesses in- clusive de respeito a soberanias nacionais e de plu- ralismo ideológico dos irmãos latino-americanos, cu- ja Organização dos Estados Americanos (OEA) tem se mostrado inútil, porque manipulada pelos Americanos do Norte.

A rejeição, também por parte do brasileiro, aoboicote econômico proposto Reagan ã Nicarágua, há de ser o inicio do dos cabrestos que nos tim mantido na submi tica e na dependência cultural, financeira gica, raízes geradoras dos piores vícios e brios que afetam a sociedade como um todo, degradação corruptora que medra em todos o e hierarquias, ao estapafúrdio modo de o

Governo por Ronald rompimento ssão polT- e tecnoló desequilT desde a

s escalões rganização

e estruturação da sociedade.

A Constituinte, que não deve ser realizada ja, mas preparada a médio prazo, e com a participa- ção ativa de todos os segmentos sociais, ha de pro- porcionar a mais ampla discussão de todas as ques- tões internas, a partir do direito de uso e posse da terra, que necessita passar gor profundas modifica - çoes ou revolucionamento, ate as diferenças de nT - vèis salariais, que na Alemanha Ocidental variam de UM para SEIS, e na Rússia, de UM para DEZ SALÁRIOS MÍNIMOS; bem como de linhas diplomáticas que nos co- loquem em posição de maioridade no relacionamento com todas as nações. Inclusive no trato solidário e conjunto de problemas comuns aos países do Terceiro Mundo, submetidos ainda ao sistema bilateral de rela ções Internacionais, que tem proporcionado ã metrópo le imperialista barganhar sempre a favor de seus gro prios interesses, criando antagonismos e dispersões entre governos e países que lhes são dependentes,sub metidos. —

Para o jornal Terragente

Serafim R. Pasche

IjuT, 28 de junho de 1985

Recebi o recado de renovação do Terragente e propaganda de seu 69 aniversário. Me emocionei pois ajudei a formar, vi nascer e até, por um acaso, es- colhi o nome do 19 jornal com característica popular voltado para o melo rural depois da ditadura, no RS Fico feliz que ele continue. Mais amadurecido, mas sempre conservando sua intenção original. Como pre- sente estou enviando o n9 0 e o 2 ( os n9s 1 e 3 não os possuo). 0 n9 0 mostra as intenções do Terragente: 0 n9 4 inovou o estilo do titulo que se mantém até hoje.

Lena, anexo um pequeno texto que escrevi sobre o 39 Congresso...

No mais, um grande abraço do

Ivaldo

Vereador Antônio Hohlfeldt Partido dos Trabalhadores

Porto Alegre, 7 de julho de 1985

Prezados companheiros,

recebi o número 33 da publicação Terragen- te, que muito me agradou, motivo pelo qual, consultan do a tabela, envio o cheque respectivo, esperando passar a receber, de maneira permanente, essa publi- cação.

Com minhas melhores PT Saudações,

Antônio Hohlfeldt

ATE DEZEMBRO DE 1985

AGRICULTORES

Para quem faz em:

Julho/Agosto Setembro/Outubro Novembro/Dezembro

OUTROS

Para quem faz em:

iW e o/Mm terragente ATE DEZEMBRO DE 1986

Recebe: Paga:

3 jornais Cr$ 5.100 2 " Cr$ 4.100 1 " Cr$ 2.450

Julho/Agosto Setembro/Outubro Novembro/Dezembro

Recebe: Paga:

3 jornais Cr$ 7.000 2 " Cr$ 5.500 1 " Cr$ 3.300

AGRICULTORES

Para quem faz em:

Julho/Agosto Setembro/Outubro Novembro/Dezembro

OUTROS

Para quem faz em:

Julho/Agosto Setembro/Outubro Novembro/Dezembro

Recebe: Paga:

9 jornais Cr$ 18.100 8 " Cr$ 17.000 7 " Cr$ 15.500

Recebe: Paga:

9jornais Cr$ 27.000 8 " Cr$ 25.500 7 " Cr$ 25.300

Envie Cheque Nominal, Vale Postal ou Ordem de Pagamento para o Grupo de Estudos e Assessona Agraria, Caixa Postal 10.507 - CEP 90.000 - Porto Alegre - RS oudeposite na conta nQ 06.018174.0-9 do Banco do Estado do Rio Grande do Sul! Agencia Floresta. '

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sindicalismo!

IV CONGRESSO

DOS TRABALHADORES RURAIS

De 25 a 30 de maio, com a particl- -pação dê 4.100 Delegados, aconteceu em Brasília o 49 Congresso Nacional dos Tra- balhadores Rurais. A realização deste Con grosso coincidiu com um momento político muito importante para a nação: a "Nova Re pública" estava apenas se instalando, e por isto o Congresso poderia servir como uma importante tomada de posição dos tra- balhadores rurais frente ãs novas Autori- dades .

Concretamente, o que estava em jo- go era a aceitação da trégua ou "pacto so ciai" proposto pelo governo, ou, ao con~ trário. a definição de propostas que de fato representassem as necessidades -mais urgentes dos trabalhadores rurais. Hás não só propostas. Seria necessário defi- nir formas de luta que na prática garantis sem o atendimento das reivindicações.

Sobre este pano àe fundo, defronta ram-se as correntes presentes ao Congres~ so. De um lado, o grupo majoritário, puxa do pela CONTAG, e de outro, os Sindicalis tas independentes e os ligados ã CUT.

os objetivos do contog

Segundo avaliação dos Sindicalistas identificados com a CUT, participantes do 49 Congresso, a CDNTAG tinha a intenção de utilizar este Congresso para "costurar" um pacto de colaboração entre o Sindicalismo dos trabalhadores rurais e a "Nova Repúbü ca". Esta avaliação fundamenta-se não apê nas pelo conteúdo das propostas defendi~ das pelo bloco ligado ã CPNTAG, pelas ma- nobras para aprová-las, pe.^ falta de pro postas de lutas concretas, mas também pe~ Io enorme espaço que as autoridades do Go verno tiveram para falar aos partic-ipan" tes do Congresso. De fato, entre os dis- cursos do Presidente da República, dos cinco Ministros que tiveram a oportunida- de de fazer palestras e do Presidente da

Câmara Federal, consumiu-se nada mais na- da menos que uma terça parte do tempo do Congresso. A participação das autoridades além disto não obedeceu ã ordem em que os temas estavam sendo discutidos e delibera dos, impedindo assim a cobrança de um efe tivo comprometimento das autoridades com as decisões aprovadas pelos trabalhadores.

No entanto, não pode-se dizer que no conjunto das propostas aprovadas a CONTAG tenha atingido plenamente seus ob- jetivos. A presença do bloco de Sindicalis tas identificados com a .CUT, com uma atua ção relativamente articulada, insistindo em propostas que resguardavam a independên cia do movimento sindical .frente ao gover no, teve grande contribuição para isto. Ai sim é que a grande maioria das reivindica ções e propostas aprovadas realmente in~ teressam aos trabalhadores rurais. Mas, e aí está a maior vitória da CONTAG, não fo ram debatidas e deliberadas formas de lIT tas concretas que pudessem de fato garan- tir o atendimento destas reivindicações . Desta forma, os trabalhadores rurais saí- ram do 49 Congresso sabendo muito bem o que querem, mas não discutiram o que fa- zer para que suas reivindicações sejam a- tendidas de fato. Por isto, conforme as palavras de um Sindicalista presente ao Congresso, "o atendimento das reivindica- ções dos trabalhadores rurais vai conti- nuar dependendo da capacidade de mobiliza ção e luta daqueles Sindicatos que são de fato comprometidos com os trabalhadores e não da CONTAG e FETAGs".

os pontos polêmicos

Os participantes do Congresso fo- ram divididos em 6 comissões para, duran- te dois dias, discutirem os temas do Con- gresso. Após isto, foram realizadas plena rias para a aprovação, das conclusões úê cada comissão.

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sindicalismo A maior polêmica ficou por conta

do tema Sindicalismo, particularmente na discussão da CONVENÇÃO 87 da OIT (ver ma- téria no Terragente n° 33, páginas 6 e 7] e das eleições para as Federações e Confe derações. Surpreendentemente, quando todõ^ o movimento sindical reivindica liberdade e autonomia Sindical, que Justamente se- ria garantida pela ratificação pelo gover no brasileiro da Convenção 87 da OIT, a posição do 4° Congresso foi contra a sua ratificação. A justificativa para isto se ria a necessidade de manter a "unidade e unicidade do movimento sindical". Parece que os sindicalistas ligados à CONTAG es- tão com medo de que, uma vez que exista liberdade de organização de Sindicatos, possam surgir Sindicatos específicos de trabalhadores "assalariados rurais" e "Sem-terra". Não lembraram, neste caso, qüe a maior garantia de que estes trabalhado- res não venham a desejar SINOICATOS PRÓ- PRIOS é justamente dar-lhes apoio e esti- mular sua organização em comissões a par- tir dos Sindicatos existentes, respeitan- do sua autonomia e integrando-os de fato na luta sindical.

Quanto às eleições para as Federa- ções e Confederações, existiam duas posi- ções. Uma defendia eleições diretas, onde todos os trabalhadores sindicalizados te- riam^direito a votar, e outra defendia e-, leição em Congresso. Venceu a eleição em Congresso, tendo direito de voto para as Federações os três Oiretores do Sindicato e mais 1 delegado de base para cada 1.000 sócios quites com o Sindicato. Para a Con federação (CONTAG], terão direito a voto os membros da Diretoria de cada Federação e mais um diretor de cada Sindicato. Nes- te ponto, apesar de não aprovada a elei- ção Direta, houve um avanço importante pa ra a Democratização das Eleições para es~ tas entidades.

enormes dificuldades para realizar a Re- forma Agrária, pelos seus compromissos com a classe dominante e pela composição do Governo e Congresso Nacional, onde grande parte dos Ministros, Deputados e Senadores são latifundiários, a começar inclusive pe Io Presidente da República.

Foi exigido que a Reforma Agrária atinja todos os latifúndios e não apenas os improdutivos, que seja fixado um limi- te para o tamanho das propriedades ru- rais, que o assentamento dos 7,1 milhões de trabalhadores seja feito num prazo de cinco anos e não em 15 como prevê o plano. Quanto ã indenização das terras desapro - priadas, a decisão do Congresso foi no sentido de que seu valor seja o declarado ao INCRA para efeito de ITR e não o valor de mercado.

Foram exigidas ainda medidas de a- poio efetivo aos reassentados, através de uma Política Agrícola que favoreça a pe- quena propriedade, e ainda o apoio às for mas coletivas de exploração da terra. Foi recomendado ainda que todos os Sindicatos apoiem a luta pela conquista da terra. Neste particular, parece que a CONTAG e FEDERAÇÕES acordaram para o fato de que a luta pela terra está acontecendo, ape- sar da sua omissão, e o novimento dos Sem-terra é a expressão mais concreta des ta luta.

participação das mulheres

apoio b

reforma agrária Durante o Congresso, foi feito o

lançamento da "Proposta do Plano Nacional de Reforma Agrária". 0 Congresso posicio- nou-se favoravelmente "em princípio" ao plano, até como forma de contrapor-se às pressões contrárias que, já naquele momen to, sabia-se que viriam dos latifundiária os. Ficou claro, no entanto, para os tra- balhadores rurais, que este governo terá

Numericamente a participação das mulheres foi pequena, refletindo a ainda pequena participação das mulheres no Sin- dicalismo Rural. A sua condição de depen- dente do marido e a discriminação secular que vem sofrendo são certamente as causas desta fraca participação. Por isto, uma das maiores lutas que as mulheres trava- ram no Congresso foi pela aprovação de uma resolução exigindo o reconhecimento da mulher como trabalhadora rural, com direi tos iguais ao homem tanto na parte da pre vidência, quanto para se associar no Sin- dicato e concorrer a cargos na Direção des tas entidades. A resolução foi aprovada ~ e agora as mulheres têm que partir pra lu ta, forçar sua Sindicalização e participar mais na vida Sindical.

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sindicalismo

a futa 0 meio rural encontra-se hoje fren

te a dois grandes problemas. De um ladoT temos no Brasil 12,5_milhões de Sem-terra, cuja luta principal é a conquista de um pedaço de chão que possa lhes garantir a ^sobrevivência. De outro lado. temos um grande número de pequenos proprietários que, devido aos altos juros, à falta de uma política de preços mínimos realista, ao alto custo dos insumos, estão a 'ponto de perderem suas terras, ou então estão sem condições de plantar. Levantamentos feitos por Sindicatos de trabalhadores ru rais mostram que a grande maioria dos pe~ quenos proprietários ou estão com dívidas junto aos bancos, ou então precisam de recursos de custeio para a próxima safra. Mas a grande dúvida é como pagar os em- préstimos bancários, com as taxas de ju- ros que estão sendo cobradas, ainda mais quando se sabe que não existe a garantia de preços mínimos reais.

Afora isto, permanece ainda o éter no problema da Previdincia, para o quaT as autoridades da Nova República, a exem- plo do anterior Regime Militar, não tem sido^capazes de propor soluções no mínimo razoáveis.

•Por isto, o dia 25 de julho serviu este ano, da mesma forma que em anos an- teriores, como um dia de reflexão eobre a realidade dos trabalhadores rurais e de organização para a luta.Sõ que com uma diferença significativa. Parece que este ano, o movimento Sindical dos Trabalhado res Rurais não vai ficar apenas na refle" xão e na organização. No dia 25, em gran- de número de Sindicatos, foram discutidas formas de lutas concretas, que serão leva das à Assembléia da Fetag no dia 07 de a~ gosto, quando então deverá acontecer uma decisão final.

as propostas As reivindicações dos trabalhado

res rurais concentram-se em tris temasT Reforma Agrária, Política Agrícola volta- da aos interesses dos pequenos, e atendi- mento Previdenciário gratuito.

A grande questão é o que fazer pa- ra que estas reivindicações sejam atendi- das. Ficar sem fazer nada resolve? é cer- to que não. Mas então o que fazer?

Recentemente tivemos aqui no Esta- do a greve dos Professores. Foi um moviien to que durou mais de 40 dias. Os professo res não ficaram simplesmente paralisados. Além da greve, encontraram múltiplas for- mas de pressão. Vigília em frente ao Pira tini, assembléias municipais, contatos e pressões sobre políticos, envolvimento de outros setores da sociedade e principalmen te firmeza quanto aos objetivos. Foi uma luta longa. Exigiu grandes sacrifícios de professores, alunos e pais. Mas, qual é o trabalhador que consegue algo sem sacri fícios?

Pois bem, esta luta dos Professo- res serve de exemplo. Os trabalhadores ru rais também precisam encontrar múltiplasT formas de pressão. E, se necessário, pre- cisam estar dispostos a uma longa luta.

Estão surgindo propostas de um a- campamento em frente ao INAMPS ou ao Pala cio Piratini, como forma de protesto, ate que as reivindicações sejam atendidas. Pa ralelo a isto, seriam ocupados os posto¥ do Inamps e Funrural, nas cidades do inte rior. Também seria exigido dos PrefeitosT Vereadores e Deputados um claro apoio às reivindicações dos trabalhadores rurais.

Estas e outras propostas serão ava liadas na Assembléia da Fet^g em 07 de a~ gosto. 0 primeiro passo será vencer a tra dicional indiferença da Fetag frente 㥠dificuldades do homem do campo. E após, cr ganizar um movimento que seja de todo ~ã Estado, com diversas alternativas de luta, até que as reivindicações sejam atendidas.

Está ficando cada vez mais clara para os trabalhadores rurais a necessidade de que desta vez seja feito um movimento forte, porque da mesma forma que não re- solve não fazer nada, um movimento fraco, sem continuidade, também não vai resolver.

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sindicalismo lUbHBRES

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SWB mmmmmm^SSÍ

Já faz algum tempo que as mu lheres trabalhadoras rurais vim se reunindo para discutir seus pro blemas. Isto está acontecendo em muitos municípios onde. Junto aos sindicatos ou na Pastoral, as mu- lheres começam a discutir sobre seus direitos e sua participação' nas lutas da classe. Também têm ja contecido pequenos encontros re- gionais ou estaduais, onde se põe em comum as experiências que se tem.

Agora está sendo organizado um grande Encontro Estadual, que se realizará no- dia 17 de outubro, na Assembléia Legislativa de Po£ to Alegre (cartaz ao lado).

0 objetivo deste Encontro é que um grande número de mulheres se reúna para discutir os proble- mas e suas experiências, é o pon- to de partida para despertar a consciência de classe e o espíri- to de luta da mulher trabalhadora rural. £ um momento importante na luta pelo seu reconhecimento como trabalhadora e pelos direitos de- correntes disso, é também uma for ma de começar a ampliar seus espa iços de participação na sociedade em geral e, principalmente, no sindicato - que é o órgão de de- fesa e de luta da classe ã qual "as mulheres pertencem como traba- lhadoras que são.

V ENCLAT Nos dias 16, 17 e 18 de agosto se

realizará em Porto Alegre o V9 ENCLAT- En contro Estadual das Classes Trabalhadoras.

Este ENCLAT ê convocado pela CCU - Comissão Coordenadora Unitária - que fci eleita no ENCLAT do ano passado. Esta Co- missão Coordenadora ê composta por sindi- calistas ligados â CUT, a GONCLAT e tam- bém por vários dirigentes de Federações (a maioria reconhecidamente acomodados e carreiristas).

A discussão central neste V9 EN- CLAT será a da Constituinte, que vai ser analisada sob diferentes aspectos.

Nas articulações preliminares nos bastidores, estava sendo intensamente de- batida uma proposta de que o ENCLAT deve-

ria lançar uma lista de 30 candidatos sin dicalistas ã Constituinte, independente dõ

partido político a que estes candidatos vi essem a se filiar.

Entretanto, esta proposta já está praticamente descartada, visto que seria extremamente equivocado referendar nomes sem ter um programa e sem ter uma discus- são aprofundada nas bases.

Por outro lado, ê também um certo absurdo referendar um candidato que de- pois, por exemplo, se candidate.pelo PDS, como foi o caso de Edir Inácio da Silva (presidente da Federação dos Trabalhadoies do Vestuário e membro da CCU) que em 82 foi candidato derrotado do PDS ã Prefeitu ra do município de Sapiranga.

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economia

o crise do rio gronde do sul

Está se tornando bastante comum ou virmos os falatórios sobre a crise por que passa o Rio Grande do Sul. De fato, o rom bo é dos grandes e o próprio Jair Soares ja admitiu que o estado encerrará este a- no com um "furo de caixa de 400 miíbões de dólares, ou seja, 4 trilhões de cruzeiros?

Para ver melhor a extensão desta crise, pesquisamos alguns dados que de- monstram muito claramente a situação do estado.

Para começar a FEE [Fundação Esta- dual de Economia e Estatísticas), encer- rando a tabulaçáo dos dados referentes ao ano de 1984, concluiu:

1 RENDA PER CAPITA a renda por cada pessoa

Entre 1980 e 1984 a renda per capi ta brasileira caiu 9,15% enquanto que ¥ do Rio Grande do Sul caiu em 10,49%. Caiu mais, portanto, que a média brasileira. Só do ano de 83 para o ano de 84, a renda per capita brasileira, mesmo com toda a reces são, conseguiu subir em 1,65%, mas a dõ RS, no entanto, decresceu em 0,89%.

AGRICULTURA

2 A FEE concluiu que a agriculturB " ga

úcha regrediu 0,83% em 84, repetindo so~ mente o mesmo desempenho que teve em 1980. Para se ter uma idéia do desempenho do se tor agropecuário, basta ver que a prodU ção de leite, que em 83 foi de 524 Ihóes de litros, em 84 baixou para milhões de litros, o que significa mil litros de leite a menos por dia.

Em termos de produção e produtivi- dade a agricultura gaúcha permanece esta- cionada há vários anos.

mi- 464 120

3 PIB - PRODUTO INTERNO BRUTO

o soma de toda a renda gerada No ano de 84 o PIB médio de todo

Brasil cresceu 4,1%. No RS, entretanto, e le cresceu somente ã base de 0,4%, ou se- ja, a economia gaúcha teve um desempenho bem abaixo do conjunto da economia nacio- nal.

4 EXPORTAÇÕES

Segundo a publicação ANO EDDNGfUCO, o RS foi o estado da Região Sul (RS, SC e PR) que registrou o menor índice de cres- cimento de suas exportações.

Enquanto as exportações de Santa Catarina cresceram 30,3% e as do Paraná 19,9%, o RS só conseguiu exportar 9,4% a mais do que em 83.

5 DÍVIDA Jair Soares, quando assumiu o go-

verno, encontrou o estado dom uma dívida de curto prazo que correspondia a 22% da Receita Total. Em apenas um ano esta dívi da de curto prazo já atingia' o equivalen- te a 47,5% da Receita Total do estado.

Em 1984, só de serviço da dívida o RS pagou 53% da sua receita de ICJ1 [Impos- to Sobre Circulação de Mercadorias).

Como bem vemos, o caso é sério e está se agravando bastante. Jair • Soares está provando que nunca fez e que nunca fará. Seu governo está sendo considerado como um dos piores que o RS já teve. 0 grande projeto de seu governo é o medío- cre Bolão do ICh, que-nada mais é que uma espécie de Baú da Felicidade do Silvio San tos, e só serve para fazer propaganda (hia informações que colocam que o Bolão do ICM é quem mais gasta dinheiro em propa- ganda em todo o estado).

terr agente 9

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economia

No meio de toda esta crisei, não são poucos os que apelam emocionadamente' para a união dos gaúchos. São apelos dra- máticos. Alguns até tiram o facão para fo ra (uma boa forma de ser macho) e ameaçam com movimentos de independincia em rela- ção ao resto do Brasil. Isto é a maior asneira que se pode ouvir, pois o RS hoje não tem as mínimas condições de sobrevi-' ver fora das asas do poder central, haja visto o caso dos Bancos Sulbrasileiro e Habitasul que o empresariado gaúcho não se sentiu seguro para meter a mão.

Estes apelos, neste ano do Sesqui- centenário da Revolução Farroupilha, de- monstram muito claramente que os governan tes, sem perspectivas para o futuro, ten~ tam jogar o povo no passado, tentando re- novar sentimentos completamente ultrapas- sados e mais do que isto, tentando manipu lar estes sentimentos em nome dos intere¥ ses da classe dominante.

Existe uma campanha orquestrada pa' ra tentar ço.locar por cima de todas as dT ferenças Sociais, econômicas e políticas, o manto do gaúchismo.

0 dono da estância e o peão por a- caso são iguais443or serem ambos gaúchos?'

Ora, temos que ter claro que, embo ra todos sejamos nascidos no Rio Grande, isto na verdade não quer dizer muita coi- sa.

0 latifundiário que é gaúcho pensará a mesma coisa sobre Reforma Agrária que o colono sem terra que também é gaúcho? D empresário gaúcho explora menos os.seus o perários gaúchos do que os paulistas, ca- riocas, mineiros, etc?

É conversa corrente também que os gaúchos devem se unir contra a "evasão de recursos do RS". 0 interessante é que dos trabalhadores sempre houve esta "evasão ' de recursos" e até hoje ninguém se preocu pou em contê-la. Agora quando o bolso dos "graúdos" começa a ser mexida então eles fazem conclamações e apelos como se esti- vessem defendendo os interesses da comuni dade em geral e não os seus exclusivamen- te.

Com esta campanha, os governantes. políticos, empresários e tantos outros i- ludidos tentam, no fundo, esconder que na sociedade o que existe, na verdade, são os explorados e os exploradores indepen- dente de serem paranaenses, brasileiros," argentinos, canadenses ou gaúchos.

terragente IO1

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a luta pela terra

pós™ guE TENTE ALTE^S

EES?A

A ITZçZ Z%^iZliTe^Z^.QUAL0UER PR£ Mas o que tem de novo o atual PNRA?

Na verdade o plano nao traz nenhuma gran- de alteração em relação â lei jâ existen- te (Estatuto da Terra). Porém há algumas mudanças gerais de orientação em relação aos governos anteriores que são inportan- tes. Vamos ver:

19 - Os governos anteriores se utili zavam de uma política de colonização nas áreas de fronteira agrícola como meio de "efetuar a Reforma Agrária". 0 atual Pla- no distingue Reforma Agrária e Coloniza- ção: "A colonização se aplicará em áreas de terras publicas geralmente situadas em regiões de desbravamento e ocupação,0 que pressupõem grandes inversões oficiais em infra-estrutura, procedimentos de planeja mento e operações mais complexas e lentas7 características estas que restringem sua amplitude.

^ "A reforma Agrária, por outro lado, será realizada em áreas de domínio priva- do, situadas em regiões já ocupadas, do- tadas de infra-estrutura, com densidade demográfica apreciável, onde prevalecem graves distorções da estrutura agrária e tensão social, tendo por base procedimen- tos operativos simples, que assegurem ocu paçoes rurais produtivas de baixo custo-" com agilidade e amplitude. Esta é a prin- cipal diferença entre os dois processos distintos de intervenção governamental. A seguir o PNRA do governo continua afirman do: "No âmbito do processo brasileiro dê desenvolvimento econômico, ambas as polí-

ticas (Reforma Agrária e Colonização) têm o seu lugar. Trata-se agora, no entanto, de uma opção frente ao imperativo de aten dimento as demandas socialmente existen- tes. Propõe-se a partir de agora decisiva prioridade ã inplementação da Reforma A- graria."

29 - Todos os governos militares pós 04 realizaram a titulação de terras ja o- cupadas ( regularização de situações já e xistentes defato), inplantaram projetos de colonização e tributaram as terras a- gricolas através do ITR, utilizando estes mecanismos como forma prioritária - e uni ca, na verdade - de "implantar" a Refomvã Agraria no Brasil.

0 atual plano do governo prioriza a "desapropriação de terras por interesse so ciai" como o principal meio de implanta" çao da Reforma Agraria.

Na verdade,estas alterações signifi- cam um reconhecimento, por um segmento do atual governo, de que a política de colo- nizações foi um grande fracasso e de que será necessário '^mexer" na estrutura de progriedade da terra. E é neste ponto que esta una das fraquezas do atual Plano:po liticamente ele é mais avançado do que ã maioria dos conçonentes da "aliança deno- cratica" poderia aceitar. E é por isto que o PNRA sofre ataques fortíssimos dos seto res mais reacionários e não é defendido nem sequer por grande parte do próprio go verno, que e conpranetida com os latifun- diários.

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a luta pela terra OS OBJETIVOS E

PROPOSTAS DO GOVERNO

DOS SEM TERRA E

DOS LATIFUNDIÁRIOS Segundo os dados cadastrais do INCRA,

existem 10,6 milhões de "beneficiários po tenciais da Reforma Agrária". Destes, o governo "calcula",não se sabe como, que 3,5 milhões de agricultores serão "reti- dos em seus empregos pela dinâmica da a- gricultura empresarial brasileira..." e por isto estes deixam de ser "candidatos" a um pedaço de terra. "Desta forma", con- tinua o Plano, "os^beneficiários potenci- ais da Reforma Agrária seriam cerca de 7,1 milhões de trabalhadores rurais."

Metas do 1? PNRA da Nova Republi- ca para o período 1985/2000

Quadriênio/Triênio Beneficiários (milhões)

1985-1989 1989-199S 1993-1997 1997^2000

1,4 2,0 2.0 1.7

TOTAL 7,1

Metas do PNRA da Nova República pa ra o quadriênio 1985/1989

Quadriênio Beneficiários (mil)

1985-1986 1986-1987 1987-1988 1988-1989

100 300 450 550

TOTAL 1.400

Sobre a possibilidade de que durante a efetivação do tal Plano surjam novos

contingentes de agricultores sem terra, o governo se limita a dizer: "O contingente de novos trabalhadores rurais sem terra que poderão futuramente surgir será con- templado no próprio processo de reajusta- mente periódico das metas estabelecidas."

já o Movimento dos Trabalhadores Ru- rais Sem Terra do RS apresentou a seguin- te proposta e acréscimos ao Plano do go- verno:

Conclusões do Movimento dos Sem Terra do RS sobre o Plano Nacional de

Reforma Agrária

1. 0 que deve ser mudado:

a) 0 cronograma geral e o número de famílias assentadas, que deve ser triplicado e què, no período de 1985 para 1986, devem ser assenta das 200.000 famílias, ficando assim:

1985-86 200 mil famílias 1986-87 1.050 milhão de famílias 1987-88 1.800 milhão de famílias 1988-89 2.750 milhões de famílias

No caso específico do RS: o período de assentamento deve ser de agosto a outu bro, e em 1985 deve ficar assim:

Agosto Setembro Outubro

4.000 famílias 4.000 famílias 2.000 famílias

b) Cobrar ITR de todos os devedores.

c) Acabar com todos os Projetos de Colonização.

d) Em 1986, o assentamento deverá ser efetuado até o mês de julho.

2. O que acrescentamos:

a) Não permitir aumento do valor da terra acima da inflação para fins de ITR, evitando a aceleração do preço da terra.

b) Rever o cadastro dás empresas ru^ rais e impedir a criação de novas.

c) Encaminhar mudanças quanto ã pro- posta de assentamento e n? de as- sentados.

d) Desapropriação das áreas que no total somem mais de 500 hectares.

e) Desapropriação de áreas de pes- soas que exerçam outras profis- sões.

f) Desapropriação das áreas nas mãos de multinacionais, transnacionais e nas mãos estrangeiras.

terr agente 12;

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g) Que os advogados a serem contrata dos tenham a indicação do Movimen to dos Sem Terra.

h) Cumprimento das decisões do Encon tro Nacional dos Assentados.

i) Lista dos devedores do ITR até 20 de julho, com cobrança imediata.

j) Recursos Humanos indicados pelos agricultores.

k) Na política de apoio, garantir cré dito subsidiado e juros com 2 a- nos de carência e fixos em 35%.

1) Assentamento até 1988 de todos os participantes do Movimento dos Sem Terra.

m) Aumento progressivo dos Impostos das Terras Arrendadas acima de 3 módulos mínimos, até a desapropri ação- _

Por fim, o objetivo dos latifundiãri os: impedir, por todos os meios disponíve is, a aplicação de qualquer plano ou pro^ posta que tenha como intuito realizar uma Reforma Agrária que democratize a posse e o uso da terra.

OS RECURSOS

FINANCEIROS

PREVISTOS

NO PLANO

Neste aspecto o PNRA chega a ser ri- dículo. Veja o que diz e pressupõe o pla- no: "Definindo-se a meta de propiciar a- cesso à terra a 100.000 famílias no exer- cício de 1985-86, e considerando un custo unitário de aproximadamente Gr$ 16.500.000, o montante total de recursos requeridos se ria da ordem de Cr$ 1.650 bilhões (em cru zeiros de maio de 85) assim distribuidosT

TTWs..... Cr$ 1.125 bilhões Em moeda corrente Cr$ 525 bilhões

Tais valores foram estimados tendo por base a expectativa de que as terras seriam obtidas primordialmente via desa- propriação de latifúndio, com o seu valor

a luta pela terra = representando cerca de 601 da cotação do mercado (média). Esta porcentagem do atual valor de mercado das terras se apoia em duas premissas básicas:

- Arevisão do entendimento da expres são "justa indenização" pelo Poder Judiciário de forma que ela se cons titua em sanção do Estado ao naõ cumprimento constitucional da fun- ção social da terra, apoiada na firme atuação e na constante pre- sença dos procuradores do INCRAnas ações ajuizadas;

- Tendência a queda relativa dos atu ais preços de mercado, elevados pe Ia ação especuladora e pela impuni dade do processo concentrador, tãõ logo sejam iniciadas a Reforma, a eliminação dos privilégios e a co- brança dos débitos fiscais."

Fontes de Recursos Internos para o Financiamento do 19 PNRA da Nova

Republica, 1985/86

(estimativa em Cr$ de maio de 1985)

ORIGEM Cr$ bilhões

Finsocial PIN-Proterra Tesouro Nacional

262 131 132

TOTAL 525

Como se sabe, a atual Lei de Desapro priação diz <jue as terras podem ser pagas com TDA's (Títulos da Dívida Agrária do Governo) e que as benfeitorias desapropri adas DEVEM ser pagas em dinheiro vivo.Mes mo sem entrar na discussão sobre a "iusta" indenização ou nao (veja no TERRAGENTE an terior matéria sobre Estatuto da Terra) e qual a forma de pagamento, õs recursos pa ra o assentamento dos agricultores sem terra são muito baixos.

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=a luta pela terra Além disso, sabe-se que não existem

recursos ASSEGURADOS para que o PNRA seja implantado. Mas isto não será um grande problemase realmente houver uma firme de terminação de realizar a Reforma Agrária, e nem se houverem fortes pressões por par te do Movimento dos Sem Terra e demais eií tidades que lutam pela tal Reforma AgrârT

Fim do latifúndio

0 LATIFÚNDIO

ESPERNEIA

Certamente mais importante que o Pia no em si, foi a reação que ele causou. Os latifundiários de todo o país se "acorda- ram" de sua "sésta costumeira" e sentiram que se não se mobilizassem poderiam botar suas terras e novilhas a perder. E quando se "acordaram", espernearam para valer. Mas neste esperneio barulhento, levanta- ram argumentos contra a Reforma Agrária , que devem ser bem analisados:

19) A REFORMA AGRARIA DEVERIA COME- ÇAR PELAS TERRAS DO ESTADO.

"Os maiores latifundiários deste pa- is são o governo, que deveria começar a distribuição de suas terras, e entidades religiosas, que defendem o Projeto..." (Ari Marimom, presidente da FARSUL, Fed. da Agricultura do RS.)

CAMPANHA NACIONAL PELA

RETORMA mm Sem duvida, este argumento pode pare

cer que tem algum fundamento, mas ele não

resiste a uma análise mais profunda. Des- de que o Estatuto da Terra "virou" lei,u- ma das únicas coisas que o governo fez pe Ia "Reforma Agrária" foi promover proje- tos de colonização em terras públicas.En- tre 1970 e 1983 o governo instalou inúme- ros projetos que distribuíram 12.189.400 hectares de terras públicas a pequencs pro prietarios. Isso sem contar as terras pfã ticamente dadas a grandes grupos naciona" is ou estrangeiros durante todo esse tem- po • Mas mesmo com esses projetos a situa ção não mudou. Pelo contrário, a "ocupa- ção" das terras públicas so aumentou os conflitos pela terra, pois a maioria das áreas colonizadas já era ocupada por ín- dios, posseiros, etc.

Mas, e se pensarmos mais um pouqui- nho, como ê que surgiu o primeiro propri- etário de terras no Brasil? De quem o tri savo dos atuais latifundiários herdou as suas terras? Quem estudou a historia sabe. As terras começaram a ser divididas com as Capitanias Hereditárias. Naquela época era o governo português que dava as ter- ras ajjroprietários particulares. Então, qual e o inconveniente em que o governo, que sempre distribuiu as terras do país' faça uma nova redistribuição?

29) A REFORMA AGRARIA FERE O DIREITO A PROPRIEDADE

"É uma proprosta socialista e comu- nista para mudar o regime" (documento de 150 fazendeiros de Araçatuba, São Paulo). "Existe por trás do Plano de Refoma Agra ria um complo contra a agricultura brasi~ leira, do qual participam a Igreja, os co munistas e os Estados Unidos." (SérgioCar doso de Almeida, ex-deputado pela ARENA-

Este é o argisnento mais ideológico de todos. Os latifundiários procuram jogar com o_"fantasma do comunismo", da desapro priação "na marra", etc. Mas este argumen to é totalmente descabido porque a todo o instante o ministro da Reforma Agrária, a Igreja e o próprio presidente Samey de- claram que a Reforma Agrária do governo não é socializante; pelo contrário, ela visa aumentar o número de proprietários particulares^ Alan disso, o governo já de clarou que só áreas inaproveitadas serão desapropriadas para fins da Refoma Agrá- ria.

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a luta pela terra 39) A REFORMA AGRÁRIA VAI PREJUDICAR A PRODUÇÃO DE ALIMENTIOS

"A Reforma Agrária e um lobisoman ca- gio c- de Almeida, ex-deputado já citado),

paz de fazer com que falte comida já no Este e, sem sombra de dúvidas, o pior próximo ano. Vai desarticular o sistema argumento dos latifundiários. Veja os da- produtivo da agricultura nacional." (Ser- ^ dos a seguir:

TAMANHO DAS % DA ÁREA PROPRIEDADES DE TERRAS

% DO NCMERO DE PROPRIEDADES

Até 100 ha 19,8

+ de 1.000 ha 45,8

89,6%

0,9%

FONTE CENSO AGROPECUÁRIO - IBGE - 1980

VALOR DA ÁREA DE N9 DE ANIMAIS DE PRODUÇÃO PASTAGEM GRANDE E MÉDIO (19801 PORTE

50,7%

16,01

15,9%

84,1

19,7%

17,7%

Como dá para se ver, os números falam por si mesmo, com apenas 19,8% da área to tal, as propriedades cem até 100 ha produ zem 50,7% de todo o valor arrendado na a- gricultura. Nos produtos de subsistência, as propriedades com até 100 ha produzem SEMPRE muito mais do que as grandes pro- priedades que possuem mais de 1.000 ha.E, para surpresa da maioria, na produção de a nimais de grande e médio porte as proprie dades de até 100 ha 'são responsáveis por 10,7% do valor total, usando uma área de 15,9% do total das pastagens. Enquanto is so, o latifúndio, utilizando 84;1% do to- tal das ar-ias de pastagens produz apenas 17,7%jio t )tal do valor produzido com a criação de animais. Em resumo, as grandes propriedades com uma área de pastagens CINCO vezes maior que as pequenas propri- edades produzem apenas 7% a mais.ISso sig nifica que a produção animal por hectaréj nas grandes propriedades, é, em média, 4 vezes MENOR do que nas pequenas. Pra en- curtar a conversa, o Projeto da Reforma A grária ê um lobisomem somente para os la- tifundiários porque se estes parassem de "produzir" hoje, talvez a população de to do o país nem notasse.

4?) O PNRA ESTÁ FOMENTANDO CONFLITOS NO CAMPO

"Em vez de terminar com a violência,o

Plano age como insuflador do ato crimino- so". (Flávio Teles de Menezes, Presidente da SRB - Sociedade Rural Brasileira.)

"A guerra agora é para valer." (Ar- mando Falcão, ex-ministro da "justiça".)

"Se tivéssemos tirado a relho aque- les colonos acampados em Ronda Alta, hoje eles não estariam organizados." (Valy Al- brecht, Presidente do Sindicato Rural de Carazinho e líder do PUR.)

Na verdade, esta é outra grande men tira usada pelos latifundiários, gois a violência na luta pela terra não é algo recente (Veja o quadro abaixo). Como se vê pelas frases acima, quem está insuflan do a violência no meio rural são os fazen deiros. Aqui no sul, os grandes proprieta rios organizam o PUR (Pacto de Unidade ê Resposta Rural), no Norte e Nordeste ver- dadeiros esquadrões de pistoleiros e ja- gunços formam "patrulhas rurais", no nor- te do Paraná foi criada a Pastoral da Pro priedade. Tudo para defender a concentra- ção da terra. Ao mesmo tempo, um senador do PMDB do Mato Grosso do Sul "pede que os fazendeiros se armem para preservar su as terras." Em resumo, o latifúndio esta "botando fogo no circo" e ainda quer pas- sar por "bombeiro".

A resposta do Movimento dos Agricul- tores Sem Terra até agora tem sido exem- plar - não está aceitando provocações,não está recuando em suas propostas e ainda por cima, lançou um lema que simboliza o pensamento de todos os agricultores sem terra: "QUEREMOS TERRA, NA0 GUERRA".

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a luta pela terra * violência no campo

ANOS REGIÕES 1971 1976 1980 1981

!

1982 1983

NORTE 32 247 47 41 NORDESTE 319 324 54 101 SUDESTE 34 129 17 35 CENraO-OESTE 50 144 47 57 SUL 32 52 8 12 TOTAL 467 896 173 246

5?) A POLÍTICA AGRÍCOLA É QUE É IMPORTANTE

"O PNRA toma como gênero o que ê es- pécie (Reforma Agrária) e como complemen-^

tar o que e essencial (a política agríco- la)." (Documento do Congresso da CNA-Con federação Nacional da Agricultura.)

"...e um plano intervencionista, co^ letivista, burocratizante e que não prevê uma política efetiva para o setor agríco- la." (Fábio Meireles, presidente da FAESP - Federação da Agricultura de São Paulo.)

Talvez este seja o único argumento dos latifundiários com o qual, em parte, os pequenos agricultores e san terra^ po- dem concordar. Afinal, se alguém está sen do duramente castigado pela atual políti- ca agrícola são os pequenos proprietários e aqueles que não puderam manter suas pro priedades devido a ação do governo. Mas vamos ver alguns dados sobre a atual poli tica agrícola:

TAMANHO DA PROPRIEDADE

VALOR DA PRODUCK) (EM BIIH5ES DE CR$)

VALOR DO FINANCIAMENTO (EM BILHÕES DE CR$)

% FINANCIADA SOBRE 0 TOTAL PRODUZIDO

Até 100 ha

+ de 1000 ha

780,9

246,8 121,7

81,6

15,5%

33,061

PONTE: CENSO AGROPECUÁRIO - 1980 - IBGE

Da primeira tabela conclui-se. que de cada Cr$ 6,40 produzidos, as propriedades de até 100 lia recebem Cr$ 1,00 de financia mento. Ao mesmo tempo, de cada Cr$ 3,02pro duzidos, os proprietários com mais de 100Ü ha recebem Cr$ 1,00 de financiamento. Ou seja, os grandes proprietários recebem o DOMO do financiamento em relação aos pe- quenos agricultores. Já o gráfico da dis- tribuição de crédio por produto revela os maciços investimentos .que o governo vem fa zendo em produtos de exportação em detri- mento dos produtos de consumo interno.

Mais una vez fica claro para quem qui zer ver que, se a política agrícola é im-

portante e precisa ser mudada, ela terá de ser alterada em favor dos pequenos propri etários e em favor dos produtos de consu" mo interno. E, se essas modificações ocor ressem, o "espernear" do latifundiário so iria aumentar.

Mas na nossa análise o que interessa é que esta "conversa fiada" de que mais importante do que a Reforma Agraria é a política agrícola, não tem fundamento. Es te argumento serve apenas como mais um des piste para o real problema: tanto as ter- ras como o crédito estão concentrados nas mãos de quem não produz, isto é, os lati- fundiários.

69) A "VDCACSO" OU APTIDÃO fO USO DA TERRA

"A questão da terra deve ser o últi- mo item. Primeiro temos <jue tratar da edu cação dos homens, prepara-los para. que fx quem no campo." (Hélio Garcia, governador de Minas Gerais.)

"A agricultura é uma vocação, por is so dar terras a agricultores desprepara- dos e desinteressados é um grave erro". (Darli Alves, presidente da Federação da Agricultura do RJ.)

A questão da "vocação" ao uso da ter ra, mais do que um argumento é uma brinca

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deira de mau gosto que os latifundiários levantaram para combater a Refoma Agrari a. So assim é que pode se explicar este argumento sem sentido. Mas depois de ana- lisarmos tantos dados e estatísticas pode mos chegar â conclusão de que realmente e xistem pessoas com maior ou menor "apti- dão" para produzir. E se alguém jã demons trou que tem uma grande "vocação" ao tra- balho agrícola, este, sem dúvida, ê o pe- queno agricultor. Afinal, é no minifúndio que se produzem as maiores quantidades de arroz, feijão, milho, mandioca etc.

parece que quem não tem gran ou interesse em produzir ê o

Pois é de "vocação' latifundiário. Quem sabe lhes'falta "edu- cação" ou "preparo", como argumentava o governador peemedebista de Minas Gerais.

sera que sai desta vez ?

Esta pergunta deve estar sendo feita por todos aqueles que defendem a proposta da Reforma Agrária. Pelo que está se ven- do , a tal de Reforma não vai ser feita sem que haja muita briga (em todos os senti- dos). Os latifundiários estão "jogando pe sado" e já obtiveram uma vitória, pois õ MIRAD (Ministério da Reforma e Desenvolvi mento Agrário) que iria dar início ã Re-

a luta pela terra= forma Agrária nos primeiros dias do segun do semestre já adiou a implantação do PNRA para depois do dia 20 de setembro.

O governo parece estar jogando o Pia no para adiante, esperando que talvez,quem sabe, com a Constituinte as leis sobre in denização sejam alteradas, possibilitando o que hoje parece estar complicado, ou se ja, botar o PNRA em prática.

Por outro lado, os agricultores sem terra já têm uma estrutura constituída e cabe agora aumentar a organização e "en- grossar" o movimento porque o problema da terra ê grave e não pode ser adiada a sua solução. Mas o movimento sem terra já não pode mais^ser o único a defender uma Re- forma^Agrária. E necessário que se formem comitês estaduais, regionais e municipais pro-Reforma Agrária para que, em todas as cidades seja discutida e divulgada a luta pela terra. Alem disso os comitês terão um papel fundamental de localizar áreas, fazer sugestões etc., contrabalançando as sim a reação dos latifundiários.

Em resumo, com o fortalecimento do Movimento dos Agricultores Sem Terra e com a participação de entidades civis, religi osas, partidos políticos, entidades de as sessoria etc. é que poderemos acreditar que a tal Reforma Agraria desta vez saia do papel.

y^if Lançado o Comilê Gaúcho 4f^w Pro-Reforma Agrária

O Ola do Agricultor tsva ssta a no uma Importante manifestação tam bem na capital do estado. 0 25 de Julho foi escolhido como data para o lançamento do Comitê Gaúcho pela Reforma Agrária.

0 ato de lançamento do Comitê ' contou com a participação de mais de 40 entidades entre as quais a ABRA (Associação Brasileira de Re- forma Agrária). FETAG, Movimento ' dos Agricultores Sem Terra, CNBB. Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, CUT, OAB, CPERGS, FRACAB, GEA, AGAPAN, Sindl cato dos Jorialistas, Sociedade de Agronomia. Sindicato dos Engenhei- ros e dezenas de outras entidades.

0 Comitê Saúcho pela Reforma A- grária surge num momento muito im- portante. Ele ã uma resposta de várias entidades da sociedade tan- to do melo rural quanto urbano ã ' campanha de provocação e intimida- ção que estão desenvolvendo os la- tifundiários através de sua entida da. a FARSUL.

Assim, a partir do lançamento ' do Comitê estadual, a luta pela Re forma Agrária vai ter uma nova for

ma de expansão e divulgação das relvindicacõas dos agricultores' sem terra, ao mesmo tempo em. que servirá de elo de ligação entre os trabalhadores do campo e da ci- dade .

A MANIFESTAÇÃO

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Q barro, a chuva e a falta da condições não foram suficientes pa ra deter o ímpeto dos agricultore¥ que colocaram o representante do ' MIRAD CMinistêrio do Oesenvolvlmen to e Reforma Agrária) contra a pa~ rede, concedendo um prazo até 20 de setembro deste ano ao governo a fim de que este iniciasse o reas- sentamento das famílias de uma vez por todas. Caso o governo continue com suas vacilações após a data es tipulada, os sem terra prometeram' acabar com a "trégua" e partir pa- ra outras formas de luta, retornan do às ocupações de terra.

Esta demonstração de força a organização dos sem terra veio põr fim è pantomima realizada pelos Ia tifundiãrios e pela TFP (Organiza- ção direitista "Tradição, Famíla a Propriedade"), que tentaram esbo- çar uma reação através da imprensa. Ficou mais do que provado que este "movimento" não tam base social na nhuma, como ficou demonstrado pala presença de inúmeras entidades que compareceram no último dia do even to - através do Comitê Gaúchl pela Reforma Agrária - para prestar a- poio aos Sem Terra.

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ecologia

novos rumos para

a sociedade industrial Questionando a prática da agricultura ba-

seada na monocUtura, que exige cada vez mais aplica cão de agrotõxi;os, envenenando o solo, os alimento? e o homem, e qh; também não tem resolvido as necessi dades de alimentação do povo brasileiro, porque pro~ duz para a exportação e especulação, surge no inicio da década de 70 a AGAPAN -Associação Gaúcha de Pro- teção ao Ambiente Natural. Entresias preocupações ma- is importantes estão a poluição industrial, a destrui ção das áreas naturais, os problemas da urbanização e a questão do modelo agrícola que traz consigo todo o problema fundiário e o envenenamento causado pela aplicação de agrotõxicos. 0 trabalho desenvolvido pe Ia AGAPAN faz dessa associação ecológica uma das ma- is famosas e atuantes no pais nos últimos anos. As lutas contra a poda das árvores nas cidades, a BORRE GARD (hoje Riocell), o pólo petroquímico, o uso do? agrotõxicos, a devastação das últimas florestas nati vas no Estado e também de inúmeras áreas naturais", mostraram com o decorrer dos anos que com a sua com- batividade e tenacidade.a AGAPAN tem incomodado mui ta gente, especialmente ãgueles poderosos que na prÃ' cura de lucros fáceis e rápidos devastam e destroein tudo o que encontram pela frente. Logo os ecologis- tas perceberam que a exploração e destruição da natu reza está intimamente ligada ã exploração existente-

entre os homens, e que para resolver os problemas ara bientais terá que se transformar radicalmente esta sociedade que aí está. Porém, não basta destruir os mecanismos de exploração de uns poucos homens sobre a maioria da população. E necessário paralelamente a isso alterar também os valores culturais e filosófi- cos sobre os quais se assenta a nossa sociedade, que são os valores da "moderna sociedade industrial".

0 conceito ultrapassado de "progresso" que postula a predação consumista de recursos naturais e humanospara satisfazer pseudo-necessidades criadas pela própria indústria, que tenta incentivar por to- dos os meios o consumo desenfreado ao estilo da so- ciedade americana, está na raiz da questão cultural dos grandes problemas ambientais que hoje enfrenta- mos no Brasil. A concentração de riqueza e capital, acompanhadas pela aplicação de tecnologias altamente destrutivas e inadequadas ã nossa realidade ecológi- ca e cultural, estão na raiz da questão econômica dos problemas ambientais brasileiros. Os mecanismos gera dos^por essa mesma economia, tecnologia e aspecto? políticos que transcendem as fronteiras nacionais.são responsáveis pela constante centralização do poder nas mãos de uns poucos, fator também muito importan- te na destruição ambiental verificada nos últimos a- nos, especialmente aqueles anos do "milagre brasilei ro". A luta em defesa da natureza caminha ao lad? das lutas pela democracia e liberdades democráticas, infelizmente ainda longe de estarem ao alcance da ma ioria dos brasileiros. A prática da mais ampla demo"

cracia é fundamental para a defesa da natureza, pois possibilita que o próprio cidadão possa decidir que uso deverá ter o ambiente em que vive, seja na cida- de ou no campo, no bairro, no Estado ou no pais. Os grandes projetos faraônicos implementados nos últi- mos anos pelos governos passados sao a negação da de mocracia porque jamais consultaram as populações se desejavam ou não a sua efetivação, ao mesmo tempo que causaram os maiores estragos ambientais jamais vistos neste pais. E o caso de Itáipú, TucuruT,Trans amazônica. Carajás, Usinas Nucleares, etc, etc. ... cujosestragos ecológicos são irreversíveis e jamais poderão ser recuperados.

0 projeto de civilização que os eoologistas tira em mente não é passadista, isto e, não propõe u- ma volta ao passado, ã idade média, ou coisa semetian te, mas pressupõe uma ordem política que possibilite o controle_social sobre os meios de produção, o exce dente econômico, a informação, a tecnologia, o Esta- do, o mercado, o espaço, a energia, o tempo útil e de lazer, a natalidade e outras formas de interação entre homem-homem e homem-natureza. Jã o projeto so- cial que está ai nada mais é do que a proposta de continuidade nos atuais rumos de progresso e desen- volvimento, assentados em cima dos conceitos prega- dos pela classe dominante da nossa "sociedade indus- trial moderna". Essa mesma classe dominante até me_s mo se privilegia com a poluição causada pelas suas indústrias, porque vender filtros e "recuperar" rios também pode ser altamente lucrativo, ao mesmo tempo que vende a imagem de "proteger o meio-ambiente", nu ma farsa ecológica, aliando civismo ã mais refinada demagogia. Os poderosos exploradores da nossa socie- dade jamais estarão verdadeiramente interessados em proteger o meio-ambiente, pois Isso é contraditório com os próprios mecanismos econômicos e políticos que os sustentam. Os ecologistas de todo o mundo já per- ceberam que devem se aliar aos setores sociais opri- midos e explorados, pois são os únicos setores so- ciais que, conscientes disso ou não, estão de fato interessados em transformar esta sociedade, a mais anti-ecológica que jã existiu na face da Terra. A AGAPAN conclama todas as pessoas interessadas em construir esse novo projeto de civilização ecológica, único capaz de sustentar a humanidade na Terra a lon go prazo, a se juntarem ãs suas lutas em defesa da natureza e do homem. Escreva para Cx. Postal 1996, CEP 90.000, Porto Alegre, e participe das reuniões de segundas-feiras na R. Senhor dos Passos, 202, P, Alegre, ãs 20:30 horas, reuniões que são abertas ao público em geral. Fone: 25-6867.

Saudações ecológicas

GERT SCHINKE Diretoria da AGAPAN

çt/em festa os agrotõxicos que consumimos ?

Voce sabe se os venenos que aplica em sua lavoura são testados quanto a sua toxidez ou seus efeitos em geral? Pois bem, antes de receber a liberação de re- gistro dos agrotõxicos que serão oroduzi-

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dos, as indústrias devem ( ou deveriam ) submeter estes produtos a uma série de testes oara verificar o seu grau de toxi- dez. Mas a maioria dos princípios ativos que compõe os agrotõxicos não são submeti

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ecologia dos aos exames que seriam necessários. Se gundo a agrônoma Maria José Guazzelli "em 1983 apenas quatro de mais de 600 ingredi^ entes ativos, foram registrados com todos os testes requeridos". S'tem um detalhe: estes números de testes são dos Estados U nidos onde o padrão dos exames é conside- rado dos mais elevados e exigentes do mun do. Imagina só o que não acontece nestes' exames quando são feitos por aqui, não é mesmo?

Situações como esta descrita acima BBO apenas um dos motivos pelo qual gran- de parte da sociedade está se organizando para combater a utilização de agrotóxicos em geral. E, aproveitando o Dia Mundial ' do Meio Ambiente, entidades ecológicas de aproximadamente 40 países lançaram uma campanha contra a chamada "dúzia suja".

conheça de perto a "dúzia suja" Mas o que é a "dúzia suja"? São a-

grotóxicos que, pelo seu alto grau de to- xidez ou por ação prolongada ou por seus efeitos sobre os organismos vivos etc, es tão sendo combatidos quanto ã sua aplica- ção na lavoura ou na conservação de produ tos agrícolas. Vamos ver quem são os inte grantes da "dúzia syja":

* DDT - É um inseticida clorado. Mo- deradamente tóxico, mas é cumulativo Cvai sendo "guardado" dentro da gente a cada vez que é ingerido). Pode causar câncer.' Entre ps -fabricantes deste veneno encon- tram-se a Ciba-Geigy. Este agrotóxieo já foi proibido na Alemanha, Finlândia, Hun- gria, Japão, Noruega, Suíça e União Sovié tica.

* üs agrotóxicos terminados em DRI1M- Aldrin, Dieldrin, Endrin - São altamente' tóxicos e também são.cumulativos. Provo- cam câncer no fígado, deformações em ge- ral e intoxicoam o feto de gestantes. En- tre os seus fabricantes encontra-se a Shell, üs DRIN já foram proibidos na Ale- manha, Finlândia, Hungria, Japão, Noruega Tailândia, Turquia, Filipinas e União So- viética.

* CLORDANE e HEPTACLDRD - São modera damente tóxicos, mas são cumulativos. Pro vocam alterações no sangue, câncer no fí^ gado e na tireóide (uma glândula) e prodjJ zem deformações no corpo de bebis quando' a mãe tiver entrado em contato prolongado com este veneno. São produzidos pela Vel- sicol e ICI, entre outras. Algumas marcas destes venenos são: Unexam, Adolclor e 0c tacloro. Estes produtos estão proibidos ' em vários países da Europa, no Japão, Tur quia e outros.

* LINDANE e BHC - São inseticidas de toxidez alta e moderada. Também são cumu-

lativos, provocam câncer e prejudicam o sistema nervoso. Irritam a pele e os o-, lhos, alteram a formação dos fetos em ges tantes, atacam o fígado e os rins. Algu^ mas marcas comerciais são: Perfecton e Pó de-Gafanhoto. Estão proibidos na Alemanha Argentina, Hungria e Japão.

* PARATHION - É um inseticida extre- mamente tóxico. A maior parte dos envene- namentos diretos ocorridos na América Cen trai são causados por este inseticida. PcT de prejudicar o sistema nervoso. É fabri~ cado pela Bayer, ICI e Monsanto entre ou- tras. A marca mais conhecida é Folidol.Já foi proibido nas Filipinas, Hungria, Ja- pão, Noruega, África do Sul, Turquia e U- nião Soviética. ' .

* MONDCROTOFÚS - É altamente tóxico. Produzido pela Shell, Ciba-Geigy. Algumas marcas comerciais corihecidas são Azodrin, Monocron e Nuvacron.

* ALDICARB - Também é altamente tóxi co. A recuperação após a intoxicação ¥ lenta. Fabricado pela Union Carbide (lem- bram de Bhopal?). Uma marca conhecida é a Temik.

* CLOROinEFON - É comprovadamente ca cerígeno. Fabricado pela Ciba-Geigy e She ring. Algumas marcas conhecidas são Gale~ cron e Fundai. Está proibido na Suíça.

* 2,4,5-T - Herbicida moderadamente' tóxico, é cancerígeno e possibilita defor ções no organismo. Fabricado pela Dow Che mical e Union Carbide. Foi proibido na Ar- gentina, Colômbia, Dinamarca, Noruega. FT lipinas, Holanda, Itália, Suíça, Japão.

* EDB e DBCP - D EDB é altamente tó- xico. Pode causar câncer além de produzir fortes depressões no sistema nervoso, é irritante de pelB e olhos, ocasiona pro- blemas no fígado e rins. 0 DBCP produz es^ terilidade em homens. Estes produtos são fabricados pela Dow Chemical entre outras fábricas. D EDB não é proibido em nenhum' país, porém o DBCP já foi proibido em 11 países entre os quais a Colômbia.

* PARAOUAT - Herbicida altamente tó- xico. Prejudica o pulmão eos rins. Conhe- cido pela marca Gramoxone.

* FUNGICIDAS MERCURIAIS - Intoxicam' os nervos e podem ficar nas plantas e ani mais por uma grande quantidade de tempo "r

sem perder o seu poder de intoxicação. Fa bricados pela Merck Ltda, entre outras in dústrias. Alguns fungicidas mercuriais ejj tão proibidos na Colômbia, Alemanha e Tai lândia enquanto que outro não pode circu- lar na Turquia.

Pois bem, com dá para sentir, quem realmente "testa" os agrotóxicos para as indústrias somos nós que os usamos e inge rimos. Mas nós podemos deixar de .servir" mos de cobaia combatendo a "dúzia suja".' Não esqueça os nomes e. fique atento.

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política agrícola

LEiTB MAGRO NOSSO

DÉCADA DIA Hj ú + ' -*£

OS ROUBOS DE EMPRESAS COMPRADORAS CONTRA OS PRODUTORES DE LEITE HA MUITOS ANOS VÊM SENDO DENUNCIADOS PELOS PRÚPRIOS LEITEIROS. SEMPRE OS GOVER- NOS DO ESTADO OU FEDERAL FIZERAM QUE NAD OUVIRAM OS RECLAMES.

AGORA UM EX-GERENTE DA ESTATAL CORLAC FAZ UM CARNAVAL DE CIAS APONTANDO AS VIGARICES DA EMPRESA. MOSTRANDO A RECEITA DO ROUBO.

DENUN-

DEIA. É UM TlPICO CASO DE POLICIA. MAS POR ENQUANTO NINGUÉM FOI PRA CA-

É QUE O LADRÃO é DE COLARINHO BRANCO. NAD 6 "NOVA REPÚBLICA"?

Adroaldo Moraes foi gerente do se- tor de produção da CORLAC - Companhia Ri£ grandense de Laticínios e Correlates - du rante mais de dois anos. Seu conflito com as fraudes praticadas pela empresa nas plataformas de recepção, contra os produ- tores, vem do fato que ele também é lei- teiro (grande produtor).

Naturalmente sentiu seu próprio boi so lesado e esse foi um dos motivos da de núncia.

Começou tentando resolver a ques- tão internamente com a diretoria. Não ten do sido ouvido percorreu outros caminhos da burocracia do governo, o que tambén rão adiantou. Finalmente chegou ã assessoria direta do Jair Soares, que respondeu-lhe com sua própria demissão.

Graças ã burrice do Governador (pois se fosse mais esperto ouviria as denúncias e tomaria medidas internas sem alardes), o senhor Moraes foi pra impren sa e fez uma alaúsa. No caso, o que mais interessa é que documentos capazes de sus tentar provas foram tornados públicos.

Mas quais foram as denúncias?

No fundo nenhuma novidade. Mas vejamos quais:

- Permanente redução no teor de gordura do leite testado na plataforma de recebimento.

- Permanente manipulação na litra- gem do leite tipo indústria e tipo consu- mo, em descarado descumprimento às porta- rias da SUNAB que regulam a questão, sem- pre lesando a remuneração do produtor.

- Cobrança indevida do frete de se gundo percurso (que em si já é um absurda).

- Adulteração da composição do lei te "in natura" através da adição de subs- tâncias químicas visando prolongar sua conservação.

- Fraudes contra o fisco (sonegaçãi de impostos).

- Falcatruas em benefício próprio por parte dos diretores da empresa.

- Etc, etc, etc

Todas estas fraudes foram apontadas por Adroaldo como sendo praticadas pela CORLAC. Quem vende leite para esta empre- sa, confirma suas suspeitas ou mesmo cer- tezas.

Quem entrega para empresas particu lares ou cooperativas, poderá tirar suas próprias conclusões.

Mas as denúncias em si não causam nenhum espanto. Apenas confirmam certas "desconfianças" dos produtores...

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política agrícola ^ 0 que chega aos limites do intole-

rável é a atitude do governo do Sr. Jair Soares, especialista em "panos quentes" e "olho grosso" e particularmente o "faz-de -conta que não vi" da diretoria da FETAG.

Cá entre nós. não poucas diretori-

as da Federação tiveram um prato tão ché io para desencadear um processo criminal contra uma empresa que comprovadamente es tá roubando do colono, podendo até cobrar indenização dos prejuízos causados a mi lhares de leiteiros.

Poderia inclusive atacar em duas frentes: uma, tratando como caso de polí- cia que é; e outra, tratando como uma questão política, voltando a mobilizar os produtores para arrancarem do Sr. Pedro Simon uma definição imediata de política leiteira, onde o produtor fosse o princi- pal fiscal das usinas de processamento de leite, entre outras medidas de real alcan ce, capazes de recuperar a dignidade rou- bada do produtor e o direito líquido e certo do consumidor de ter acesso a um produto de boa qualidade e indispensável como o leite.

Mais uma vez o pagamento da safra de uva aos agricultores da serra está viran- do uma "novela". Desta vez porém, 237 a- gricultores de Bento Gonçalves estão numa situação difícil, pois entregaram sua pro dução à Indústria e Vinhedos Mônaco, quê além de não pagar pelo produto ainda pe- diu concordata preventiva.

0 pedido de concordata significa que a Mônaco poderia pagar suas dívidas - in- clusive a compra da uva - em dois anos e com juros de 1% ao mês, sem correção mone tária. Para muitos dos 237 agricultores T

de Bento Gonçalves isto poderia signifi- car falência ou grandes dificuldades pois segundo um levantamento feito pelo Sindi- cato dos Trabalhadores Rurais "um terço ' (33%) das 237 famílias comercializaram to da a sua produção com a Mônaco e 34% dos agricultores não são proprietários de ter ras." No caso destes últimos a situação ê ra ainda mais grave porque eles nem ti~ nham do que se desfazer para pagar suas contas.

Com a organização dos agricultores a través do STR de Bento Gonçalves foi pos~

sível fazer uma forte pressão sobre a vi- nícola, parlamentares, o juiz que conce-' deu a concordata e ainda sobre o governo federal revertendo, em parte, a difícil ' situação existente. Assim os agricultores após várias manifestações e passeatas,' conseguiram uma vitória parcial. 0 gover- no "pagou" metade da dívida do Mônaco pa- ra com os agricultores através de EGF^ ' (Empréstimo do Governo Federal). 0 proble ma é que a maior parte deste "pagamento"' já ficou no próprio banco, pois a maioria dos agricultores tinham financiamento pa- ra serem pagos ao próprio governo.

Mesmo após esta If vitória, os agri- cultores da serra continuam mobilizados ' porque eles ainda tem em haver metade da safra entregue ã Mônaco. Isto eqüivale a Cr$ 1,3 bilhões e os colonos sabem que se o pagamento demorar demais, eles perdem ' porque este dinheiro não tem correção mo- netária. Assim a luta deve continuar até que todos os agricultores recebam pelo produto entregue, mesmo perdendo boa par- te do dinheiro que é "comido" pela infla- ção.

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ABERTA AO GOVERNO DA CARTA

NOVA REPÚBUCA E X POPULAÇÃO

A.R.S.TRO.S.R.

Neste número do TERRAGENTE vamos re- produzir na íntegra, uma "Carta Aberta ao governo da "Nova República" e a popula- ção" que foi lançada pela Associação Regi onal dos Sindicatos de Trabalhadores Ru~ rais da Grande Santa Rosa. Nesta Carta A- berta que as lideranças sindicais lança- ram há uma série de reivindicações que ho je tem uma grande importância e atualida" de. Os problemas da política agrícola (es pecialmente a SOJA, neste momento), da põ lítica previdenciária e da política agra^ ria continuam se agravando. Isto é senti- do com maior intensidade em regiões onde há grandes concentrações de minifúndios ' como é o caso da Grande Santa Rosa e de todo o Alto Uruguai.

Então, salientamos a importância de que este documento seja analisado, debati do e, principalmente, que sejam encaminha das atitudes concretas para reverter a sT tuação hoje existente.

As lideranças sindicais dos Traba- lhadores Rurais da região da Grande Santa Rosa sentem-se na obrigação de esclarecer o que segue:

T? - Os Trabalhadores Rurais não concordam com as reivindicações feitas pa ra solucionar os problemas dos agriculto- res, especialmente os sojicultores, quan- do se pede o mesmo benefício, ou seja, o pre-AGF de 10 sacos por hectare e também os 1001 do VBC com juros subsidiados a to dos os agricultores. —

29 - As reivindicações acima somen te trariam benefícios aos grandes produto res, provocando o aumento da concentração da propriedade da terra, contrariando a proposta do governo de realizar a reforma agrária.

_ 3? - Os Trabalhadores Rurais, em reunião da Comissão de Política Agrícola da FETAG/RS, no dia 17 de maio último, dei xaram bem claras as suas propostas, resu- midas nos seguintes itens:

a) Aprovação e execussão imediata do Projeto CONTAG de Previdência Social.

b) Preço mínimo para os produtos a gropecuarios de acordo com o custo de prõ dução mais os 30% de lucratividade previs tos no Estatuto da Terra.

c) Correção mensal dos preços mini mos dos produtos agropecuários confoime a" variação da inflação.

d) Financiamentos com ;juros subsi- diados aos trabalhadores rurais, variando estes subsídios de acordo com o valor do financiamento até o limite de 2.000 ORTN, ou a área de terra até o máximo de 50 ha, acima dos quais incidiriam juros e corre- ção monetária plenos.

e) Liberação de uma "VERBA DE EMER GÊNCIA" aos Trabalhadores Rurais no valor do preço mínimo da soja em um volume máxi mo de até 100 sacos, para os que possuírem menos de 100 ha de terra, verba esta a ser reposta em produto físico, no prazo de três anos.

tj Eliminação total do subsídio ã importação de trigo e incentivo ao consu- mo de farinha de outros produtos resultan tes da produção interna. ~

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g) Garantia do direito de continu- ar participando^na discussão e elaboração da Política Agrícola, permanentemente.

Entendemos, outrossim, que estas propostas estão enquadradas na realidade e promessas da "Nova República", pois não envolvem grande soma de recursos, visto que os pequenos produtores utilizam um mi nusculo volume do percentual de crédito rural disponível para o setor, resguardan do, por outro lado, o sentido social do planejamento agrícola.

Esperamos que os Órgãos Competen - tes sejam sensíveis "as aspirações dos Tra balhadores Rurais e da população brasileT ra. —

Ainda, o não atendimento destas reivindicações ate a data de 25 de julho próximo, farã com que seja desencadeada um grande e impetuoso movimento dos trabalha dores rurais para garantir os seus direi"

política agrícola= tos e a justiça Social.

Santa Rosa (RS), 24 de junho de 85

Associação Regional dos S.T.R. da Grande Santa Rosa

0 documento, como vimos, falava num "grande e impetuoso movimento dos traba- lhadores rurais para garantir os seus di- reitos e a justiça social". Este movimen- to já começou a ser encaminhado na Assem- bléia que a reuniu todos os STR's do esta do no dia 07.08. Neste dia foi decidido ~ realizar um grande acampamento de traba- lhadores rurais em Porto Alegre, que vai pressionar por modificações urgentes nas" políticas agrícola, agrária e previdenci- ária, 0 importante é que este movimento ' vai ser unificado na capital para ter mai or força de pressão contra o governo e os órgãos competentes. Assim os agricultores começam a dar uma resposta convincente de monstrando que a sua situação deve mudarT e já:

OOR^l/lE - qfu&r&m f/qu/cfar

com os agr/ou/tor&s

Da situação de falência da CQOPAVE todo mundo já sabe. 0 que talvez não seja do conhecimento público é que a atual li- quidante da C00FAVE quer agora encaminhar a cobrança dos "débitos" que os agriculto res assumiram com a cooperativa.

0 tal "débito" dos agricultores foi uma enrolação aplicada em 1044 associados da cooperativa que foram convencidos a as sinarem documentos, autorizando a COOPAVE a aumentar seu capital. Este aumento de capital seria para "tapar o rombo" da coo perativa e o associado que assinava a "pã pelada" garantia, atarvés da hipoteca de" suas terras, a possibilidade da COQPAVE continuar em funcionamento.

Para "convencer" os agricultores da "solidez" a COOPAVE fazia uma intensa pu- blicidade na imprensa da região, além de contratar "eficientes" advogados. Assim.i ludidos com muita conversa bonita. essalT centena de pequenos agricultores hipoteca ram suas terras para salvar o que não ti~ nha mais salvação.

Além de toda corrupção (o que não é mais novidade) algo interessante de ser a

nalisado é o funcionamento da justiça.Des de 1982 a Polícia Federal sabe quem são oi principais culpados pela falência da COO- PAVE. mas os primeiros que realmente são ameaçados com a perda de todos os seus bens são os pequenos agricultores associa doa ã ex-cooperativa.

Somente em julho deste ano é que deu entrada na justiça de Lajeado uma a- çao de indenização contra os ex-diretores e funcionários envolvidos com a fraude.En quanto isso, desde janeiro deste ano. o¥ pequenos agricultores associados são cha- mados a saldarem as suas dívidas, que ho- je já passam de 20 milhões de cruzeiros. Para que se tenha uma idéia, a dívida cor responderia a quase 400.000 sacos de sújZ (Cotação de Cr$ 63.000/saco.)

Sem dúvida, além de um grave preju izo econômico há também uma questão polf^ tica muito importante. Neste momento é que deveria haver um sindicalismo mais forte e combativo em Lajeado e na região para que os agricultores tivessem condições de se mobilizarem e resistirem contra 3 amea ça de sua possibilidade de continuar pro~ duzindo e sobrevivendo.

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SOJA: o pequeno agricultor

dependendo do mundo

Os preços pagos pela soja nesse ano foram os mais baixos já observados desde' 1973, quando ocorreu o chamado "boom da soja" no Brasil. Este fato tem provocado' manifestações de desagrado entre o conjun to dos produtores e de suas organizaçõesT Nesse quadro de descontentamento algumas' indagações são levantadas: por que os pre ços foram tao baixos? Essa baixa e momen" tânea ou duradoura? 0 que fazer daqui pa- ra a frente?

Responder essas perguntas não e fá- cil, em todo o caso no presente artigo ' pretendemos apenas levantar algumas idéi- as para discussão sem ter a ilusão de tra zer respostas definitivas. Essa discussão deve continuar a ser feita nas cooperati- vas, nos sindicatos, nas comunidades e na casa de cada agricultor.

Comportamento dos

preços da soja Os preços da soja nos últimos anos '

tem sido bastante irregular. Em alguns mo

mentos observam-se preços altos e noutros preços baixos. Esse comportamento pode ' ser observado no gráfico abaixo:

Observando-se o gráfico, percebe-se' que os preços da soja tiveram três picos de alta que foram no final de 1980, no i- nTcio de 29 semestre de 1983 e no final ' do 19 semestre de 1984. Nesses períodos os preços no mercado estiveram próximo a 350 dólares a tonelada, o que daria ao produtor um valor de aproximadamente Cr$ 100.000 por saco, na atual cotação do dó- lar (em 07.08.85). Por outro lado, em ma- io de 1980, no final de 1982 e a partir ' de março desse ano tivemos três picos de baixa nos preços, chegando a aproximada-' mente 200 dólares a tonelada, o que repre senta um preço de, aproximadamente, CrT 58.000 por saco, para o produtor.

A partir do gráfico pode-se concluir que o comportamento dos preços da soja ' são muito irregulares, oscilando numa faj^ xa que vai de 200 a 350 dólares a tonela- da. Quem produzir soja está permanentemeji te correndo o risco de obter preços bons ou ruins conforme determina o mercado.

Preço da soja em grão.

Fechamentos máximo e

mínimo ocorridos na

Bolsa de Chicago. A-

gosto/79 a inarço/85.

Em dólares por tone-

lada métrica.

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política agrícola =

Porque os baixos preços da soja?

Atualmente os preços estão baixos ' por diversos motivos. 0 primeiro deles e a produção mundial desse grão. Na safra 84/85 a produção de soja foi de aproxima- damente 89 milhões de toneladas, tendo co mo principais produtores os Estados [)ni~ dos com mais de 50 milhões de toneladas,o Brasil com aproximadamente 17 milhões de toneladas, a Chinacom 11 milhões e a Ar- gentina com 7 milhões de toneladas. A pre visão de produção para a safra 85/86 é dê 92 milhões de toneladas, devendo ocorrer' um aumento no produção americana e argen- tina e uma pequena redução na safra brasi leira. Os maiores picos que a soja obteve foi quando houveram quedas na produção, ' principalmente a americana. A produção da safra passada foi a mais alta já observa- da, o que contribui para a queda dos pre- ços no mercado internacional.

Alem da produção, também interfere ' nos preços da soja o seu consumo. Grande parte da produção americana, brasileira e argentina destinam-se ã exportação, prin- cipalmente para a Europa Na safra passa- da os Estados Unidos exportaram aproxima- damente 26 milhões de toneladas do comple xo soja (grão + farelo + õleo). 0 Brasif exportou cerca de 12_milhões de toneladas e a Argentina 5 milhões de toneladas. A produção daChina dirige-se ao consumo in terno do próprio pais. —

Os USA (EstadosJJnidos) e Argentina exportaram mais o grão, enquanto que o Brasil exporta principalmente o farelo.Da soja brasileira é extraído o õleo (18%) e

o farelo (75%). 0 õleo destina-se ao mer- cado interno. 0 farelo é exportado princj palmentepara a Europa onde é usado na a- limentaçao animal. Os preços da soja no Brasil dependem, em boa parte, dos preços do Õleo e do farelo.

No caso do Õleo que destina-se ao mercado interno temos preços relativamen- te baixos em vista do baixo poder aquisi- tivo da população brasileira, principal-' mente da classe trabalhadora. 0 baixo po- der aquisitivo decorre da política de ar rocho salarial adotada durante os 20 anos de ditadura militar. A "nova República" a te agora alterou pouco essa política.

Em relação ao farelo que é exportado a situação também não é boa. Com a crise econômica mundial todos os países tem ado tado uma política de exportar o máximo ê importar o mTnimo. Essa política tem afe- tado os preços do farelo de soja na medi- da em que os países importadores tem bus- cado desenvolver culturas que substituam o farelo de soja. Algumas destas alterna- tivas seriam a colza, o girassol, o amen doim, a ervilha, etc.

Cerca de 70% do farelo exportado pe Io Brasil dirige-se ao mercado europeu, dos quais mais de 30% é comprado pela França, que representa 72% de todo o fare Io importado por este pais. Tomemos o ca- so da França para verificar o que está o- correndo com o mercado consumidor do fare Io.

A partir de 1980 a França adotou uma política para substituir o farelo importa do. A opção começou a recair sobre a col za, o girassol, a fava e a própria soja.u resultado dessa política já começa a se manifestar. No ano passado a França produ ziu 1,2 milhões de toneladas de colza, " 900 mil toneladas de girassol, 600 mil to neladas de ervilha e 250 nnl toneladas dê fava. Além disso, a produção de cereais ' (trigo, centeio, etc) tem crescido muito nosúltimos anos e esses grãos também po- derão substituir o farelo brasileiro.

De outro lado a crise econõmi_a tam- bém provocou uma redução no consumo de leite, e uma estagnação no consumo de car ne. Esses fatos provocaram uma redução do rebanho bovino francês provocando um au- mentemos estoques de carne e leite em pó Este ultimo produto - o leite em pó - tem sido usado inclusive na produção de ra- ções para bezerros.

0 aumento da produção de grãos redução do rebanho bovino não ocorre

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e a so-

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= política agrícola mente na França. Deve ser uma tendência ' generalizada na maioria dos países euro- peus,, que são os principais consumidores do farelo brasileiro.

Outro fato que poderá dificultar a exportação do farelo brasileiro, é a dis- posição do governojiorte-americano em sub sidiar as exportações da soja através dê um programa de 1 bilhão de dólares. E uma repetição da antiga Aliança para o Pro- gresso dos anos 60. No fundo os objetivos desse programa são de eliminar com os com petidores dos grãos norte-americanos.

Perspectivas para a soja

Fazer uma previsão do que poderá a- contecer com os preços da soja nos próxi- mos anos é muito difícil. Apesar disto, ' vamos levantar algumas idéias do que pode ra ocorrer.

Antes de mais nada convém dizer que o farelo continuará tendo um grande consu mo nos próximos anos. Porém este consumo^ tende a estagnar-se ou até reduzir-se.

Os preços atuais da soja são dos ma- is baixos já observados, encontrando-se ' em níveis que quase nao remuneram nem os produtores norte-americanos que tem os ma is baixos custos de produção. A persisti- rem esses preços o que poderá ocorrer é u ma redução na área plantada e na produção podendo, neste caso ocorrer uma elevação' dos preços. Isto dificilmente ocorrerá no próximo ano uma vez que a produção mundi- al jieverã ficar um pouco acima de 90 mi- lhões de toneladas, a não ser que ocorra' qualquer adversidade com a lavoura morte- americana, que encontra-se em fase de fio ração. As previsões sao de que a produção americana venha ser um pouco superior ã produção do ano passado.

Do lado do mercado de consumo, tudo indica que dificilmente ele se ampliará ' tanto no caso doÓleo quanto no caso do farelo pelas razões que anteriormente co- locamos.

Em relação ã produção, o que tem se observado nos últimos anos é um crescimen to de aproximadamente 5% ao ano. Essa ten dência e uma força que puxa os preços pa- ra baixo, a não ser que o consumo venha a crescer numa proporção maior do que a pro dução. De outra parte, se os preços perma necerem baixos como_estao poderão provo- car uma redução de área e de produção, em reflexos positivos nos preços.

Qual é a saída ?

Não e de hoje que se fala do fim do ciclo da soja, mas ela ainda continua sen do plantada talvez por que ainda seja um bom negócio. Nós não somos contra que se plante soja porem achamos que o pequeno a gricultor nao deve plantar somente soja-1" em sua propriedade, por que ficará depen- dente de um só produto e quando os pre- ços deste caTrem no mercado poderá não suportá-los e ter que vender suas terras' para pagar as dividas.

Como alternativa ã soja tem sido a- pontada a diversificação de culturas. En- tretanto deve-se ter presente que a diver sificaçao sÓ será uma alternativa sólida"1" quando houver umaelevação do poder de compra da população brasileira, especial- mente da classe trabalhadora. Enquanto is to naoocorrer, aumentos expressivos na"1" produção do miVno, feijão, leite, mandio- ca, etc, poderão grovocãr um excedente de produção em relação ao mercado real, com reflexos negativos sobre os preços como' já ocorreu em 1983 com o milho.

Parece-nos que os pequenos produto- resdeverão montar uma estratégia de pro- dução que garanta sua subsistência enquan to agricultores. Nessa estratégia deverão procurar produzir tudo aquilo que necessi^ tam para o consumo da família, aproveitar ao máximo os recursos existentes na pro- priedade para diminuir sua dependência do mercado de insumos e aumentar a produtivi dade de suas culturas. Deverão também ter diversos produtos para o mercado, para' que quando os preços de um produto este- jam baixos os de outros produtos passem a compensar esses baixos preços. Por último os pequenos agricultores deverão buscar sua independência dos bancos, procurando' criar condições de fazer a lavoura por ' conta própria.

Com isto dificilmente ficarão ricos, mas reduz-se a possibilidade de virem a perder suas terras, como já ocorreu com muitos que quiseram dar passos maiores do que suas pernas permitiam.

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política

constituinte: QVas? mnguem mais tem duvidas sobre a importância e a necessida-

de de uma Constituinte. Ela tem sido defendida tanto pela classe trabalhadora e suas organizações como pela classe dominante e o governo

coisa? Mas será que classes com interesses tão opostos querem a mesma

MU nrníoi-n A l ^^ SUS não! A burguesia e seu "novo" governo ji apresentaram dl vi? n - Constituinte que, segundo eles, e o que falta para "democratizar"

E os trabalhadores? ,

M.^4. iPa,ra no^' a coisa nao ê tã'0 simPles. Para avançarmos nesta luta prec samos esclarecer bem que interesses n5s temos na Constituinte, e para isso prec samos refletir sobre o PODER na sociedade, não apenas na forma jurídica de ■ei u Lonstituiçao), mas principalmente na pratica: quem e que manda na socieda ae, em nome de quem, contra quem, porque e para quê. ~

- E s° tendo isso claro que poderemos responder que Constituinte nos queremos, para elaborar que tipo de Constituição, para construir que tipo ae democracia. E assim mostrar a diferença que existe entre o projeto da burgue- sia e do governo e o projeto da classe trabalhadora.

/. CONSTITUINTE E PODER

A política brasileira, ao longo de ' sua história tem sido dirigida pela classe dominante. Para garantir seu poder políti co, ela tem as leis ao seu lado, além das possibilidades do uso da violência e da repressão quando se sente ameaçada.

Para a classe trabalhadora, o espaço de participação política sempre foi es- treito: os sindicatos atrelados ao Estado os movimentos reprimidos, os partidos po- líticos comprometidos com o poder.

A ditadura militar de 64 apenas apro dundou, de forma dramática, a opressão ¥ a violência que sempre existiram sobre os setores populares, diminuindo ainda mais' suas oportunidades de participação.

Mas depois dos últimos 20 anos todos concordamos que o Brasil mudou muito. Pas sada estas duas décadas o movimento dos " trabalhadores se reorganizou como nunca em sua história. Hoje está mais maduro. ' tem suas reivindicações mais claras e,aos poucos, caminha na construção de sua inde pendência de classe.

A crise geral que vivemos traz a ne-

cessidade de reorganização política da so ciedade. E a burguesia, para manter seu' poder, se apressa em promover a mudança ' da sua dominação de classe para outra, ma is adequada aos novos tempos. 0 poder mu da de FORMA (era ditadura militar, agora" é "Nova República) mas sua ESSÊNCIA (o miolo) é a mesma.

Por isto a tática agora, além do dis- curso "democrático", é fazer algumas con- cessões e atender algumas reivindicações* para cooptar setores populares para o bar co da "Nova República". É uma tática para dividir e enfraquecer a classe trabalhado ra e assim desviar a atenção do nó do prõ blema: quem é que realmente manda nesta T

historia, quem é que dá a direção pro bar co, quem é que tem o PODER na mão.

Antes era a dominação "nua e crua" da ditadura, agora eles tentam um consenso, um pacto: querem nos fazer aceitar pacifi camente nossa subordinação aos seus inte~ resses de classe. E para isto a Constitu- inte é uma peça fundamental.

Para os trabalhadores, ao contrário,'

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política a Constituinte é importante porque além' de garantir na lei algumas conquistas já feitas, pode contribuir com o avanço na consciência de classe do povo trabalha- dor.

Somente a existência do pov/o como su-

jeito da história, política e socialmente organizado torna possível que a sociedade se democratize de fato. E a Constituinte' só e importante para os trabalhadores na medida em que possa contribuir para isto.

2. CONSTITUINTE DA NWA REPÚBLICA':

Falsa Constituinte da falsa democracia

0 governo já encaminhou ao Congresso' o seu projeto de convocação da Cosntituin te. Por este projeto nas eleições de no~ vembro de 66 o congresso receberá ao mes- mo tempo os mandatos de Constituinte e de senador e deputado. Com isto, não teremos uma Assembléia Constituinte para elaborar a Constituição. Teremos um Congresso que, durante um ano, será Constituinte, o que e muito diferente como veremos mais adian te. —

0 que ainda não está resolvido na pro posta do governo é se os eleitos vão exer cer ao mesmo tempo as duas funções (con~ gressista e constituinte) ou se o mandato normal só começará depois de encerrados ' os trabalhos da Constituinte.

Caso fique estabelecido que, durante' um ano. os eleitos só cuidarão da Consti- tuinte, o presidente Sarney durante este tempo governará sozinho, na base de decre tos-lei, acumulando os poderes executivo'5' e legislativo, no feitio das ditaduras mi litares. —

Caso se estabeleça o contrário, o pa- ís terá um legislativo que funcionará du- rante parte do tempo decidindo com metade dos votos (maioria simples) e o resto do

tempo, decidindo com 2/3 (dois terços dos votos, maioria absoluta).

Outro ponto importante é que o proje to do governo não considera o caso dos 23 senadores (4% dos votos) eleitos em 1982, cujos mandatos vão até 1990. Estes senado res não foram eleitos com poderes para fazer uma constituição e sua participação significaria uma deturpação ainda maior ' da Constituinte. 0 governo deixou que o Congresso mesmo decida e este, certamente vai decidir em causa própria.

Além do projeto Sarney convocando a Constituinte, outra "invenção da Nova Re- pública" é a comissão prê-Constituinte, a ser formada por juristas, estudiosos, po- líticos e outras figuras importantes esco

Ihidas pelo próprio governo. 0 responsa-' vel pela tal de Comissão, o jurista Afon- so Arinos, é um conservador que apoiava a ditadura militar. Esta comissão fará, a partir de janeiro de 86. um projeto de Constituição para ser apreciado pelo Con- gresso eleito no fim do ano que vem. A' Cosntituição será praticamente feita por essa Comissão,.sobrando para o Congresso' Constituinte apenas acrescentar alguma ' coisa, garantindo com isto que a vida po- lítica do país continue nos "trilhos",sem muita mudança-

0 projeto apresentado pelo governo ' mostra o desejo da "nova" república de controlar a Constituinte mantendo-a em ré

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deas firmes e com vida curta, cumprindo o importante papel de "mudar um pouco para ficar tudo como está", Para isto a burgue sia Ja está tomando algumas providinciasT como a "caixinha" dos empresários que vão juntar 15 trilhões de cruzeiros, pois que rem eleger 300 constituintes.

Do lado do governo, Sarney busca con trolar a Constituinte com medo de que.com um debate mais acirrado e democrático, a

política Assembléia Constituinte poderia se tornar um poder soberano (quer dizer: o maior po der) na sociedade vindo inclusive apres" sar a eleição direta para presidente.

Por essas e por outras, vemos que mu danças importantes que a sociedade está "*' querendo não virão desta Constituinte pro posta pela "nova república", que certamen te vai seguir o trilho das outras.

3. A PROPOSTA DOS TRABALHADORES E OUTRA

Que Constituinte queremos P

Soberana

Democrática

Muitas, vezes ouvimos falar que a Constituinte que interessa ao trabalhador deve ser LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA e EXCLUSIVA.

Mas o que isto significa?

LIVRE;

A Constituinte deve garantir,a todos oe partidos e candidatos, o mesmo a cesso ao radio e ã televisão, permitindo" que todos tenham igualdade de condições ' para se expressar politicamente. E não co mo acontece hoje, que quem tem o poder e~ conômico monopoliza a propaganda política. Outro ponto importante é terminar com a ' legislação repressiva ã participação poli tica. principalmente a lei de greve e a ' Lei de Segurança Nacional.

SOBBWNA: Assembléia Constituinte é mui-

to diferente de Congresso com poderes constituintes, ao contrário do que o go- verno nos quer fazer crer.

0 Congresso está submetido a leis às quais a Assembléia Constituinte não deve se submeter pois quem vai pensar todas as leis do país não pôde estar subordinado ã nenhuma lei. A Constituinte deve ser o po der maior no país enquanto ela existir. ^ Em resumo, deve ser SOBERANA.

Além disso a eleição para o Congres- so envolve grandes somas de dinheiro e es quemas de interesses e de poder já vicia~ dos que a Constituinte não poderia ter. 0 parlamento é viciado pois se baseia no po

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política der econômico e não no movimonto real dos diversos grupos sociais. Por isto a pro- posta do governo - de Congresso Constitu- inte em vez de Assembléia Constituinte - não interessa para os trabalhadores pois vai causar cc ifusão e não vai resolver na da. ■_

DEnOCRATICA: A Constituinte tem que ter o

voto dos analfabetos e dos soldados. Ho- mens que contribuem com o seu trabalho, ' que respondem pelos seus atos frente ã lei como quaisquer outrcs, que pagam im- postos, são proibidos de elegerem seus re presentantes porque não têm instrução oü porque não pertencem aos escalões mais ai tos das forças armadas (sempre mais afei~ tos ã elite no poder).

Para uma Constituinte ser democráti- ca, também tem que ter livre organização' parLidária. As corrente políticas mais ' progi ■assistas e de esquerda que sempre fo ram proibidas de se organizar pela "léi"T devem ter seus. interesses representados.

Assegurar a todas as forças políti- cas o direito de representação é o mínimo em qualquer país que quer ser democrático. Existo apenas começa a acontecer entre ' nós.

Outro ponto importante para que a Constituinte seja democrática é que o nú- mero de representantes eleitos deve ser proporcional ao número de eleltorespor Es tado, isto é, que cada deputado constitu" inte represente o mesmo número de pessoas e não como é hoje (e como é na proposta ' de Congresso Constituinte) que um deputa- do do Acre precisa de apenas 25 mil votos para se eleger enquanto um paulista preci sa de 460 mil votos.

EXCLUSIVA: A Assembléia Constituinte deve

ser eleita apenas com o objetivo de elabo rar uma nova constituição, dissolvendo-se no fim deste trabalho. Isto é bem diferen te do Congresso Constituinte onde o elei~ to continua no Congresso, como um parla-' mentar qualquer. Sendo exclusiva, ela não corre o risco de ter representantes inte- ressados em outras coisas que não fosse e laborar a Constituição.

Além destes quatro pontos, para que durante a constituinte haja mudança e crescimento político do movimento é neces sario que ela se torne uma grande campa~ nha popular. Que o processo de discussão, mobilização e organização popular se ini- cie já, atingindo o maior número possível de setores sociais e todos os temas que ' façam parte da luta pela democratização ' da sociedade.

Para fazer que

constituiçâoP

Ao lado de discutir como deve funcio nar a Constituinte, também temos que ver de perto como deve ser a Constituição, e quais os assuntos que devem ser tratados' para garantir os direitos que já conquis- tamos e outros que reivindicamos. Só as- sim seria possível ultrapassar os limites impostos pela burguesia ao avanço demoerá tico dos movimentos populares.

Uma Constituição é o conjunto de le- is que regulamenta a forma como as clas- ses sociais se relacionam numa sociedade, de acordo com o PODER que elas tenham: o seu nível de consciência e participação ' política, seus interesses econômicos e so ciais e sua força organizada. Mas deve ser mais do que o simples reconhecimento' destes fatos, deve ser também a previsão' e o desejo de que as coisas evoluam neste ou naquele sentido.

Por isso, a Constituição não pode ser obra de jurista p «soecialistas iso- lados e nem vai se iniciar apenas no mo mento em que os representantes se reúnem^ para fazê-la. Na verdade, ela começou a ser escrita com a luta pela democracia no país, passando pela campanha das diretas' e chegando até hoje quando a classe traba lhadora tem claras as suas reivindicações.

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política = Já temos o exemplo das Constituintes

anteriores e não dá para cair outra vez na conversa da burguesia "embarcando" no pacto social da "nova" república. Para que desta vez realmente seja diferente ' das outras, as condições de vida e de tra balho dos setores populares devem ser re- almente consideradas. Nosssos direitos ' não podem mais serem tratados com discur- so que só serve para disfarçar a domina- ção de classe.

* Reforma Agrária sob o controle dos' traoalhadores. estabilidade e garantia no emprego, seguro desemprego, redução da jornada de trabalho para 40 horas semana- is sem redução do salário, equiparação en tre o trabalhador urbano e rural numa pre vidôncia e assistência medica justas e en sino público, livre e gratuito para todos; são reivindicações que devem sair do papel •iara acontecer de fato.

0 direito de representação dos traba lhadores em todos os órgãos ligados às su as condições de vida e de trabalho, como por exemplo, a previdência, a política a- grícola, a política salarial, etc é outra reivindicação importante.

lllilfTOlilítfTO Outro ponto que não pode ser esqueci

do é que a sociedade tem que ter espaço ' para se manifestar livremente na luta pe- la construção de melhores condiçõe de vida e de trabalho sem que isso s j;nifl que problema de "segurança nacional e se ja motivo para repressão e wiolênci por parte de setores que ainda não deso upa-' ram o poder e nem perderam a força

As nossas Constituições têm reafirma do a Declaração dos Direitos Humanos fei- ta pela ONU em 1948, mas isto é só no pa- pel. No Brasil perdeu-se a noção de que a polícia deve existir para proteção e segu rança, para evitar a violência. Na nossa tradição, a classe trabalhadora tem sido tratada como perigosa e os problemas so- ciais como caso de polícia.

Com a ditadura militar esta situa- ção piorou bastante. Foram desenvolvidos" órgãos especializados na repressão políti ca, com uso de tortura (que foram ampla-' mente denunciados, mas que continuam exis tindo e impunes).

Hoje, alguns deles servem para "tra- tar" dos crimes comuns - no que se mos-' tram ineficientes pois a criminalidade ' (aumentada pela concentração brutal da renda, êxodo rural, desemprego, etc] tem crescido cada vez mais.

Para um povo tão castrado em sua par ticipação política esta violência passa ' desapercebida, faz parte do dia-a-dia. ' nas nossos desejos de construir a democra cia não podem conviver com estas práticas e nem aceitar que, enquanto se fazem dis- cursos de liberdade e participação, estes pontos tão importantes passem em "brancas nuvens" pela Constituinte e que esta situ ação continue.

Por isso, o desmantelamento dos ór- gãos de repressão e da legislação repres- siva - em particular o SNI (Serviço Nacio nal de Informações] instituição símbolo ' da ditadura, que conta com a antipatia ge ral pelo papel de infiltração e reuressão aos movimentos populares - é uma reivindi cação que não pode ser deixada de lado.

A classe trabalhadora tem que exigir instrumentos de defesa legal (na Constitu ição] para garantir seus direitos iclíti- cos. Tem que lutar por uma Constit ição ' que respeite a autonomia popular f -ente ' ao governo, ^ue não fique nos imites que a burguesia estabelece, mas qu> seja essencialmente democrática, fias is o não astá previsto no projeto da "nova" repu-' blica nem vaj ser dado de graça: e uma lu ta política

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= memória das lutas

GUERRA DOS FARRAPOS

REVOLTA OU REVOLUÇÃO

A Revolução Farroupilha ê um dos a contecimentos mais decantados da história do Rio Grande do Sul. Este evento sempre foi utilizado como exemplo da bravura e destemer do homem gaúcho. Desde cedo, jâ nas escolas, aprendemos (ou decoramos) no mes, datas e lugares importantes da "Guer ra dos Farrapos". Bento Gonçalves, DavT Canabarro, Garibaldi, dentre muitos ou- tros, sao ate hoje nomes de ruas, praças e cidades de nosso Estado. Junto com tudo isso, sempre se procurou introduzir a i- déia de igualdade e liberdade que moviam os revoltosos gaúchos contra a opressão do Império. A ausência de diferenciações sociais, ou pelo menos o convívio e a ca- maradagem que haveria entre os estanciei ros e peões, são mitos até hoje propalados, em defesa dos quais os gaúchos teriam lu- tado naquela época.

Na verdade, muita coisa foi distor

cida com o passar dos anos.

É certo que houve um grande confli to atmado em nosso estado que durou dê 1835 a 1845. Esse conflito de fato abran- geu grande parte da sociedade gaúcha con- tra os representantes da monarquia recém instalada no Brasil. Entretanto, os prin- cipais líderes, incentivadores e ideólo- gos do movimento farroupilha, eram oriun- dos da oligarquia agraria gaúcha - gran- des senhores de terra e de gado - que se sentia prejudicada pela política elabora- da pelo Império, que buscava proteger os interesses dos cafeicultores do centro do país era detrimento dos grupos dominantes das demais regiões.

_ Mas para que se possa falar em Re- volução Farroupilha é preciso antes de mais nada localizarmos direitinho o que acontecia na época e como foi que tildo chegou a acontecer.

rio grande do sul-o começo da ocupação 0 nosso estado entrou muito tardia

mente na colonização. A distância dos gran des centros, a ausência de metais precio- sos, a falta de portos (ancoradouros) na- turais, a não adaptação a culturas tipica mente tropicais (cana-de-açúcar, café, cã caui etc), fez com que, por muito tanpo7 os únicos habitantes deste estado fossem os índios que por aqui houvesse.

Somente a partir do século XVII (1600-1700) é que os interesses estratégi cos da Coroa Portuguesa, visando a expan~ são e manutenção de fronteiras, acrescicbs do interesse pela prata que vinha dos An-

des e que escoava pelo Rio da Prata, fize ram cem que houvesse o deslocamento dí aT guns destacamentos do exército para a re~ gião (ver mapa).

Por outro lado, os jesuítas espa- nhóis expulsos de São Paulo pelos bandei- rantes vieram-se estabelecer pela bacia do Rio Jacuí por volta de 1626.

No período da invasão holandesa em Pernambuco (1580-1640), o trafico de es- cravos ficou dificultado pois os holande- ses ocuparam também a região da África que fornecia escravos para o Brasil. Este fa- to fez com que os bandeirantes aumentassem

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memoYia das lutas suas incursões cada vez mais para o sul, buscando índios para substituir os escra- vos negros. Obviamente os bandeirantes, co mo jâ tinham feito em São Paulo, procura- vam os^índios das reduções jesuiticas pois eles já se encontravam mais "domesticados" para as lides nas grandes lavouras para as quais eram levados.

Isto fez com que os jesuítas nova- mente se retirassem para a outra margem do Uruguai, abandonando tudo, inclusive o gado que haviam introduzido no Rio Grande do Sul. Este gado ficou muito tempo pela região vagando a esmo, dando origem a um enorme rebanho semi-selvagem, e fez cara que esta região ficasse conhecida como "Vacaria dei Mar".

Ainda com interesse najprata que era monopolizada pelos espanhóis, os por- tugueses fundaram a colônia de Sacramento, em 1680, na margem norte do Rio da Prata. Esta colônia, que fica no sul do atual U- ruguai, servia como base para o saque dos navios espanhóis carregados de prata que por alipassavam. É lógico que os espa- nhóis nao gostaram nem um pouco da idéia, e passaram a atacar a colônia, tornando-a e perdendo-a diversas vezes.

Assim foi que os portugueses conhe ceram a região de Vacaria dei Mar e passa ram a "caçar" o gado, tirando-lhe apenas o couro que era exportado para a Europa.

Muitos outros grupos tragaram co- nhecimento destes rebanhos e passaram a fazer a mesma coisa. Eram eles: colonos espanhóis; índios guaranis (mandados pelos jesuítas que haviam novamente se estabele cido no Rio Grande do Sul na região dos Sete Povos das Missões) ; ingleses, que também operavam no Rio da Prata; contra- bandistas em geral, etc. Todos estes gru- pos apenas abatiam o gado, tiravam-lhe o couro e deixavam a carne apodrecendo no campo, usando pouca coisa para a sua pró- pria alimentação.

Dessa forma deu-se a ocupação ini- cial do nosso estado, baseada nestes fato res: interesses da coroa portuguesa na expansão da fronteira e no contrabando da prata; busca de índios para a escravizaçã^ e, posteriormente, abate do gado "xucro" para a exportação do couro.

É interessante observar-se que a o cupaçao do território riograndense deu-se por motivos diferentes do resto do país, cuja ocupação foi feita principalmente em tomo da agricultura de exportação. Este fato fez com que só muito mais tarde o Rio Grande do Sul viesse a se integrar de fato na econonia brasileira. Essa integra çao, como se verá mais adiante, deu-se sempre de maneira subordinada aos princi- pais setores da nossa economia (cana-de-a çúcar, mineração, café, etc).

rio grande do sul - a integração econômica

No final do século XVII ( 1600 1700) e início do século XVIII ( 1700

a 1800), iniciou-se o ciclo da mineração no a Brasil, o que deslocou o eixo principal da

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memória das lutas economia, que antes era a cana-de- açúcar (Nordeste), mais para o Sul (Minas Gerais).

Isso fez com que o gado da região de Vacaria dei Mar passasse a ser vendido ainda em pé para a região da mineraçaD. Foi nesta época que surgiu a figura do tropei ro, que fazia este transporte. Os tropeT ros andavam sempre armados e viviam ein disputa com índios e castelhanos, que tam bem vinham a procura de gado.

^Com o passar dos anos, os rebanhos diminuíram tanto - pois ninguém se preocu pava com a reprodução dos animais - que

os tropeiros começaram a criar o gado pa- ra poder continuar no negocio. A coroa portuguesa, interessada em manter as ter- ras em mãos portuguesas, viu nisto, tam- bém, um ótimo negocio para ela e passou a distribuir sesmarias entre os tropeiros melhor sucedidos ou ainda para os milita- res que davam baixa em Sacramento ( onde o exercito português mantinha sempre uma guamiçao para saquear a prata dos espa- nhóis). Estas doações incluíam enormes extensões de terra que nem chegavam a ser cercadas. Assim, o antigo tropeiro com o seu bando passou a ser o novo estancieiro com seus peões.

o charque Foi gor esta época mais ou menos

(final do século XVIII) que começa a en- trar em voga um novo produto na economia gaúcha: o charque. 0 charque, que consis- te em carne salgada visando sua maior con servação, passou a ser utilizado pelos f| zendeirosdo centro do país como base dã alimentação de seus escravos. Dessa for- ma, mesmo com o declínio da mineração, a economia gaúcha continuou a florescer nas grandes charqueadas.

Estas charqueadas exigiam uma mai or quantidade de capital para a sua insta

lação. 0 sal, por exemplo, era todo impor tado e a mão-de-obra utilizada era forma- da por escravos (que custavam caro). - As- sim, por trãs de uma charqueada estava ge ralmente um grande comerciante.

Foi desta forma que o charque, jun tamente com o trigo trazido e introduzido aqui no estado pelos açorianos, passou a ser o principal produto da economia gaú- cha, criando um mercado regional para o gado (que passou a ser comprado pelos charqueadores).

rio grande do sul -um grande acampamento militar

No início do século XIX (1800-1900) a sociedade gaúcha jã tinha seus contor- nos bem definidos. E esses contornos, por mais que os historiadores oficiais façam força para provar o contrario, não eram nem um pouco igualitários. A estrutura so ciai do Rio Grande do Sul tinha uma cama- da dominante caracterizada pelos senhores de terras, de charqueadas, de gado e de escravos; e uma outra camada que nada pos suía, que eram os próprios escravos das charqueadas e os peões das estâncias. A situação de fronteira dava ainda uma ou- tra característica para esta sociedaie,que era a militarização. Os problemas com os castelhanos ocorriam a toda hora e eram principalmente os estancieiros e seus

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memória das lutas peões os qioe mais efetivamente serviam nestes momentos. Isto poupava a Coroa Por tuguesa, e mais tarde, após a Independên- cia, à Mon.irquia, enormes gastos com o e- x:ercito. bste caráter de exército semi- permanente foi muito utilizado na barganln junto ao poder central, mesmo no final da Revolução Farroupilha.

E foi esta sociedade, com esta es- trutura, que entrou na Revolução Farroupi lha. i ' ~

Como se pode ver, a economia gaú- cha dependia do centro do país para ven- der o charque que produzia. Quer dizer , os gaúchos, em termos econômicos, não ocu payam um papel de muita importância no país: produziam comida para os escravos dos grandes fazendeiros.

^Por outro lado, o governo central atribuía uma grande importância a preser- vação ou expansão das fronteiras, coisa que os estancieiros, juntamente com seus grupos de peões armados, sempre fizeram muito bem. A nnportância destes grupos ar mados vinha do fato de que a fronteira gã úcha ainda nao tinha sido definida, sendo que o Rio Irande do Sul sofreu três inva soes pelos espanhóis, nasquais os estan- cieiros ju ito com seus peões foram de grande vaita. Isso sem falar na dizimação dos "Sete Povos das Missões", que foi fei

ta através de uma aliança entre os exerci tos português e espanhol.

Obviamente que o interesse dos es-

tancieiros não tinha nada a ver coma "de- fesa da pátria" ou coisa que o valha. E- les estavam mesmo interessados nas terras que eram distribuídas apôs cada conquista militar.

os primeiros choques No meio dessa confusão toda, os es

tancieiros e charqueadores continuaram en riquecendo. A Coroa Portuguesa fazia vis- ta grossa aos abusos e roubos por causa da importância militar dos estancieiros.

Mas nem tudo corria tão bem como os fazendeiros e charqueadores queriam. Co meçou a surgir, no Uruguai, a figura dõ charqueador - lá chamado de "SaladeroV Es ses Saladeros cassaram a vender charque para outros países, inclusive o Brasil, a brindo concorrência com as charqueadas gã úchas. 0 governo espanhol procurou incen^ tivar de todas as formas este canercio, fa cilitando a importação do sal e a exgortã çao do charque para outros países. Ja nõ Brasil, os charqueadores não gozavam das mesmas regalias.

Estes fatos todos serviram para in dispor os grupos dominantes do Rio Grande do Sul (charqueadores, comerciantes e fa- zendeiros) para com a Coroa Portuguesa.

A coisa até já poderia ter estoura do un pouco antes não fosse o próprio Uru guai eArgentina entrarem em guerra de ín dependência contra a Coroa Espanhola, fa- to este que desorganizou completamente a produção de charque dos uruguaios. Esta guerra teve diversos desdobramentos (mais tarde os grupos Uruguaios entraram em cho que com os Argentinos) e chegou a tal pon to que os próprios portugueses interferi" ram, invadindo o Uruguai e anexando-o ao Brasil.

Foi assim que, no período 1820- 1828 (pouco antes da eclosão da Revolução Farroupilha), o comércio de charque no Rio Grande do Sul passou por um grande crescimento. Todo o gado uruguaio foi des viado para as charqueadas gaúchas que agõ ra operavam quase som concorrência.

Esta situação, entretanto, não du- rou muito tempo, pois logo em seguida (em 1828) os uruguaios fizeram sua independên cia, acabando com a dominação brasileiraT

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no declínio das charqueadas, • #

o inicio da revolta Com a independência uruguaia, a pro

duçao e o comércio de charque deste país

voltaram a concorrer com o produto giucho. Os charqueadores gaúchos, além de ganharan um novo concorrente, perderam o gado uru- guaio e ainda por cima tiveram seriamente abalado o seu prestígio militar, pois os uruguaios tinham-lhes imposto uma séria derrota com sua independência.

Enquanto isso o Brasil, que ha pouco tempo tinha proclamado sua indepen- dência, vinha sofrendo uma série de rear- ranjos internos na sua economia que culmi naram com a supremacia dos produtores dê café. Esta supremacia foi conquistada com a abdicação de D. Pedro I e com a instala çao da Regência. Com isso, os cafeiculto- res do centro do país conquistavam cada vez mais regalias para o seu produto.

Desta forma, o charque estrangeiro era importado sem nenhuma tributação, pois aos produtores de café interessava um pre ço baixo para o charque para baratear õ custo da alimentação de seus escravos. Já o sal, que era todo importado, sofria uma grande tributação. Estes fatosprejudica- vam muito aos charqueadores gaúchos, pois alem de pagarem altos preços pelo 'sal - que era utilizado em grande quantidade na produção do charque - sofriam a concorrên cia direta dos charqueadores estangeirosT

A administração do centro do país aindamantinha uma série de outras discri minaçoes em relação aos grupos dominantes locais. Era o caso da distribuição dos im postos recolhidos nas regiões, cuja maior parte ia direto para a Corte.

Assim sendo, os charqueadores e es tancieiros locais não tinham formas dê modificar a política ditada pelo centro do pais pela via institucional. Os conse- lhos provinciais sobre os quais eles exer ciam controle não tinham poder legislati- vo, mas apenas reivindicativo. Quer dizer, os estancieiros e charqueadores podiam a- penas "abrir o berro" contra o poder cen- tral, mas na pratica, a sua influência e- ra muito limitada.

Diante disso, os senhores de gado e escravos, que tinham enriquecido rápida mente na época em que o Uruguai estava a- nexado ao Brasil, começaram a ver os seus lucros escoarem-se rapidamente. Não tendo como "virar a mesa" pela via legal, os es tancieiros^apelaram para as armas. 0 cen^" tro do Império, vendo que a coisa estava ficando preta, ainda tentou contornar a situação, concedendo poderes legislativos aos Conselhos Provinciais. Mas isso aí, so, nao bastou para acalmar os ânimos, e um a no após esta concessão, em 20 de setembro de 1835, os farroupilhas, sob o comando de Bento Gonçalves, invadem Porto Alegre e depõe o presidente da província.

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revolta ou revolução Desde aí, a briga se prolongou du-

rante dez anos (até 1845), com avanços e recuos de ambas as partes, ate o acordo de paz de Ponche Verde, a 28 de fevereiro de 1845.

Geralmente os historiadores ofici- ais detêm-se somente nos lances das bata- lhas travadas entre os farroupilhas e o exercito imperial, sem se preocuparem nem com o conteúdo das reivindicações dos re- voltosos, nem-com os interesses que esta- vam sendo defendidos nesta guerra.

Durante toda a guerra as reclama- ções dos farroupilhas contra os abusos do governo imperial nunca foram além dos in- teresses dos charqueadores e estancieiros. Os rebeldes exigiam a tributação do char- que uruguaio e o direito de eleger o pre- sidente da província (equivalente ã elei- ção para governador do estado). Mas essa eleição reivindicada pelos farroupilhas nao incluía nenhuma forma de representação popular. So poderiam ser eleitos aqueles que possuíssem uma determinada renda, os escravos e os analfabetos nem podiam pen- sar em qualquer direito a voto.

Nunca os líderes do movimento fala ram em libertação dos escravos. A Refonriã

Agrária não foi sequer comentada. Não se falou nunca em educação para a população, assistência aos pequenos proprietários , etc., etc. Para a elite que comandava a revolução, o mais importante era obter di reitos de ocupar cargos militares e polí- ticos na região, pois esses cargos eram sempre ocupados pelos protegidos da corte. Em suma, o grugo rebelde queria ter o "di reito" de também ser protegido.

Talvez o que mais deixe clara essa intenção sejam os; termos do acordo de paz assinado entre os farroupilhas e o Duque de Caxias (que comandava o exército impe- rial). Nesse acordo o governo central con cede "aos estancieiros gaúchos o direito de escolherem seuj^residente de província; as dívidas da Republica Riograndense se- riam pagas pelo governo central; os gene- rais farrapos poderiam, se o quissessem , passar para ò exército brasileiro com os mesmos postos que ocupavam nas forças re- beldes; o governo central garantia o di- reito de propriedade e segurança indivicüaL de todos os revolucionários; ; seria e- levada em 2S% a taxa alfandegária sobre a entrada do charque platino no mercado brasileiro; " (Sandra Pesavento:"A Revo lução Farroupilha" pg. 64-65).

A paz, como se pode ver, foi decre tada com uma série de concessões que pri^

vilegiavam principalmente os estancieiros e os charqueadores gaúchos. Essas conces-

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memoYia das lutas soes todas foram dadas porque haviam res- surgido os conflitos no Uruguai e na Ar- gentina, e o governo brasileiro tinha in- teresse no apoio militar e econômico dos grupos domimintes gaúchos. Nenhuma refor- made cunho mais social foi obtida. Os peões e os escravos continuaram na mesma. Mesmo assim, os dirigentes farroupilhas ficaram tão contentes cora o acordo que nomearam o próprio Caxias (que era o che- fe das tropas contra as quais eles haviam

lutado!) como presidente da província.

Isso tudo deixa bem claro que a tão decantada "Revolução Farroupilha" não passou, na verdade, de uma revolta dos grupos dominantes gaúchos daquela época (estancieiros, grandes comerciantes, char queadores), que se viam prejudicados pela política econômica ditada pelo poder cen- tral do Império, contra esse mesmo Impé- rio.

conclusão Hoje, passados 150 anos do início

da rebelião, o governo do estado investe somas e mais somas de dinheiro em propagan da e publicações, buscando resgatar a me- mória da Revolução Farroupilha.

Depois desse tempo todo a economia de nosso estado jã mudou bastante. Ha mui to que os estancieiros perderam grande parte de seu poder para a nova burguesia urbano-industrial que comanda nosso esta- do. 0 charque ia nao tem mais nenhuma im- portância econômica.

Mas ajíerda do poder econômico da burguesia gaúcha para o centro do pais con tinua acontecendo. E, agora, novamente e- les apelam para todo o povo gaúcho para que, em nome dos "valores de 1835", os ga uchos se unam contra a "espoliação" do nosso estado pelo centro do país.

Essa historia jâ ê velha. Em 1935, o general Flores da Cunha, governador do estado nessa época, realizou uma grande exposição com o mesmo espírito "gauchis- ta", para comemorar o "Centenário da Re- volução Farroupilha".

Resta aos agricultores e trabalha- dores gaúchos mostrar que o tempo de mano brar os trabalhadores pela causa de ou- tros jâ terminou.

Hoje, aqueles que não puderam fa- lar em 1835, aqueles que morreram para de fender o lucro dos estancieiros e dos charqueadores, estão falando pela voz dos agricultores sem-terra na luta pela Refor ma Agraria, pela voz dos trabalhadores dã cidade e do campo na luta por melhores con dições de vida para todos, e não so para os burgueses e latifundiários.

.^Bibliografia consultada:

GOLIN, Tao. Bento Gonçalves, o herói drão. (s.e.J 1983, Santa Maria.

la-

SPAIDING, Walter. Farrapos. Sulina. 2? ed

PESAVENTO, Sandra J. A revolução farroupi lha. Ed. Brasiliense.Coleção 'Tudo e História", n? 101, 1985, São Paulo.

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