À turma 2005 – 5º curso de gestÃo da aviaÇÃo civil€¦ · operaÇÕes de pouso ou decolagem...
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM TRANSPORTES
ANÁLISE DE RISCO DE INCIDENTES DE AERONAVES EM SOLO DURANTE
OPERAÇÕES DE POUSO OU DECOLAGEM
ROBERTA DAVID DE AQUINO SANTOS
ORIENTADOR: JOSÉ ALEX SANT’ANNA, PhD
MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DA AVIAÇÃO CIVIL
PUBLICAÇÃO: E-TA-005A/2009
BRASÍLIA/DF: OUTUBRO/2009
ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM TRANSPORTES
ANÁLISE DE RISCO DE INCIDENTES DE AERONAVES EM SOLO DURANTE OPERAÇÕES DE POUSO OU DECOLAGEM
ROBERTA DAVID DE AQUINO SANTOS
MONOGRAFIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO SUBMETIDA AO CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM TRANSPORTES DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM GESTÃO DA AVIAÇÃO CIVIL.
APROVADA POR:
___________________________________________
JOSÉ ALEX SANT’ANNA, PhD (UnB)
(Orientador) __________________________ ADYR DA SILVA, PhD (UnB)
(Examinador)
__________________________ ANDERSON RIBEIRO CORREIA, PhD (ITA)
(Examinador)
__________________________ JOSÉ MATSUO SHIMOISHI, PhD (UnB)
(Examinador)
BRASÍLIA/DF, OUTUBRO DE 2009
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
SANTOS, ROBERTA DAVID DE AQUINO Análise de risco de incidentes de aeronaves em solo durante operações de pouso ou
decolagem
xii, 70p., 210x297mm (CEFTRU/UnB, Especialista, Gestão da Aviação Civil, 2009)
Monografia de Especialização - Universidade de Brasília, Centro de Formação de
Recursos Humanos em Transportes.
1. Infraestrutura Aeroportuária 2. Segurança Operacional 3. Estudo Aeronáutico 4. Análise de Risco I. CEFTRU/UnB II. Título (série)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SANTOS, R. D. A., (2009). Análise de risco de incidentes de aeronaves em solo durante operações de pouso ou decolagem, Monografia de Especialização, Publicação E-TA-005A/09, Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 82p.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Roberta David de Aquino Santos
TÍTULO DA MONOGRAFIA: Análise de risco de incidentes de aeronaves em solo durante
operações de pouso ou decolagem
GRAU/ANO: Especialista / 2009
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta monografia de especialização e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta monografia de especialização, pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.
_______________________________________ Roberta David de Aquino Santos
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus.
À minha família, principalmente meu marido, Leonardo, por todo o apoio, carinho e
incentivo.
Ao Cel Manuel Ayres, oficial da reserva da Aeronáutica, e investigador principal do modelo
de análise de risco do ACRP Report 3, que teve uma participação fundamental na elaboração
deste trabalho.
À CEFTRU/UnB e a todos os professores, pela preocupação em transmitir da melhor forma
possível os ensinamentos que certamente serão extremamente úteis em minha vida
profissional.
A todos os amigos do curso que me acompanharam, ajudaram e torceram muito durante este
ano.
Por fim, um agradecimento especial à Agência Nacional de Aviação Civil, pela oportunidade
que foi dada.
v
RESUMO
ANÁLISE DE RISCO DE INCIDENTES DE AERONAVES EM SOLO DURANTE
OPERAÇÕES DE POUSO OU DECOLAGEM
Neste trabalho foram apresentadas pesquisas sobre análise de risco, referentes a incidentes de
aeronaves em solo durante operações de pouso e decolagem em aeródromos, sendo elaborado
um comparativo entre os modelos de análise de risco de Eddowes et al. e do ACRP Report 3.
Tendo em vista que tais modelos se baseiam em dados estatísticos colhidos de aeródromos de
várias partes do mundo, foram analisadas as considerações presentes em cada modelo, com o
objetivo principal de verificar a aplicabilidade em aeródromos brasileiros.
Foi verificada uma variação significativa entre os resultados obtidos pelos dois modelos,
principalmente quando considerada a presença de fatores adversos nas operações do
aeródromo.
Concluiu-se que o modelo apresentado pelo ACRP Report 3 é mais adequado para análise da
probabilidade de incidentes em solo durante operações de pouso e decolagem em aeródromos
brasileiros, por considerar os fatores operacionais presentes no aeródromo avaliado.
vi
ABSTRACT
RISK ANALYSIS OF AIRCRAFT INCIDENTS ON THE GROUND DURING
LANDING OR TAKE-OFF OPERATIONS
This document presents risk analysis research about aircraft incidents on the ground at
airports during landing or take-off operations, comparing the risk analysis models of Eddowes
et al. and ACRP Report 3.
Considering that such models are based on statistical data collected from airports in many
parts of the world, the considerations present in each model were analyzed, with the main
purpose of checking the applicability in Brasilians airports.
A significant variation between the results obtained by the models was verified, mainly when
considering the presence of adverse factors in airport operations.
It was concluded that the ACRP Report 3 model is more adequate on analysis of the
probability of incidents at Brasilian airports during landing or take-off operations, since it
considers operational factors present in the airport being evaluated.
vii
SUMÁRIO
Capítulo Página
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 APRESENTAÇÃO 1
1.2 PROBLEMA 2
1.3 HIPÓTESE 2
1.4 OBJETIVO 2
1.5 JUSTIFICATIVA 2
1.6 METODOLOGIA 3
1.7 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 4
1.8 ESTRUTURA DO DOCUMENTO 4
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 6
2.1 INTRODUÇÃO 6
2.2 SEGURANÇA OPERACIONAL / PERIGO / RISCO 6
2.3 NÍVEL ACEITÁVEL DE SEGURANÇA 7
2.4 REQUISITOS DE PROJETO DE AERÓDROMOS 13
2.5 ESTUDO AERONÁUTICO DE AERÓDROMOS 15
2.6 ANÁLISE DE RISCO DE INCIDENTES EM AERÓDROMOS 15
2.7 ESTUDOS RELATIVOS À ANÁLISE DE RISCO DE
INCIDENTES EM AERÓDROMOS
18
2.7.1 Diretrizes da OACI para Elaboração de Estudo Aeronáutico
(2005)
18
2.7.2 Modelo de Análise de Risco do ACRP Report 3 (2008) 19
2.7.3 Modelo de Análise de Risco de Eddowes Et Al. 29
2.7.3.1 Modelo de Análise de Risco de Overrun 29
2.7.3.2 Modelo de Análise de Risco de Undershoot 37
2.7.3.3 Modelo de Análise de Risco de Veer-Off 43
2.8 CONCLUSÃO 47
3 COMPARATIVO ENTRE OS MODELOS DE ANÁLISE DE 49
viii
RISCO DO ACRP REPORT 3 E DE EDDOWES ET AL.
3.1 INTRODUÇÃO 49
3.2 IDENTIFICAÇÃO DOS CENÁRIOS 49
3.3 ANÁLISE 51
3.3.1 Modelo de Eddowes Et Al. 52
3.3.1.1 Cenários 1 e 2 52
3.3.1.2 Cenário 3 52
3.3.2 Modelo do ACRP Report 3 53
3.3.2.1 Cenário 1 53
3.3.2.2 Cenários 2 e 3 55
3.4 CONCLUSÃO 56
4 ANÁLISE DA APLICABILIDADE DOS MODELOS
APRESENTADOS EM AERÓDROMOS BRASILEIROS
59
4.1 INTRODUÇÃO 59
4.2 QUANTIFICAÇÃO DO RISCO - MODELO DE EDDOWES ET
AL.
59
4.3 QUANTIFICAÇÃO DO RISCO - MODELO DO ACRP REPORT
3
60
4.4 NÍVEL ACEITÁVEL DE SEGURANÇA 60
4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 62
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 64
GLOSSÁRIO 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela Página
Tabela 2.1 Escalas de risco (Eddowes et al., 2001) 9
Tabela 2.2 Definições do FAA referentes à gravidade (ACRP Report 3,
2008)
11
Tabela 2.3 Níveis de probabilidade apresentados pelo FAA (ACRP Report
3, 2008)
12
Tabela 2.4 Determinação da variável "b" de acordo com o modelo do
ACRP Report 3
24
Tabela 2.5 Tabela de referência para a determinação da variável "b"
(ACRP Report 3, 2008)
28
Tabela 2.6 Risco residual de overrun (por milhão de movimentos) associado
com especificações do Anexo 14 da OACI (Eddowes et al., 2001)
31
Tabela 2.7 Risco residual de overrun (por milhão de movimentos) associado
com diferentes comprimentos de faixa de pista/RESA (Eddowes
et al., 2001)
33
Tabela 2.8 Proporção de incidentes contidos dentro de uma determinada
distância de faixa de pista/RESA (Eddowes et al., 2001)
34
Tabela 2.9 Risco residual de undershoot (por milhão de movimentos)
associado com os comprimentos de segurança especificados pelo
Anexo 14 da OACI (Eddowes et al., 2001)
40
Tabela 2.10 Risco residual de undershoot (por milhão de movimentos)
associado com diferentes comprimentos de faixa de pista/RESA
42
Tabela 2.11 Risco residual de veer-off associado com diferentes dimensões de
faixa de pista (Eddowes et al., 2001)
46
Tabela 3.1 Características consideradas para operações de pouso e
decolagem em ambas as cabeceiras do aeródromo hipotético,
referentes ao cenário 1 (ACRP Report 3, 2008)
50
Tabela 3.2 Características consideradas para operações de pouso e
decolagem em ambas as cabeceiras do aeródromo hipotético,
referentes aos cenários 2 e 3
51
x
Tabela 3.3 Probabilidade de overrun e undershoot para operações de pouso
e decolagem para os cenários 1 e 2, calculado a partir do modelo
de Eddowes et al.
52
Tabela 3.4 Probabilidade de overrun e undershoot em operações de pouso e
decolagem para o cenário 3, calculado a partir do modelo de
Eddowes et al.
53
Tabela 3.5 Cálculo da variável "b" para o cenário 1 53
Tabela 3.6 Probabilidade de ocorrer um evento de overrun e undershoot
para o cenário 1, a partir do modelo do ACRP Report 3
54
Tabela 3.7 Cálculo da probabilidade de localização, a partir do modelo do
ACRP Report 3
54
Tabela 3.8 Probabilidade de aeronave alcançar 90 m da cabeceira para o
cenário 1, calculado a partir do modelo do ACRP Report 3
54
Tabela 3.9 Valores de "b" para os cenários 2 e 3 55
Tabela 3.10 Probabilidade de ocorrer um evento de overrun e undershoot
para os cenários 2 e 3, calculado a partir do modelo do ACRP
Report 3
55
Tabela 3.11 Probabilidade de aeronave alcançar 90 m da cabeceira para os
cenários 2 e 3, calculado a partir do modelo do ACRP Report 3
56
Tabela 3.12 Resumo dos resultados obtidos pelos modelos de Eddowes et al.
e do ACRP Report 3, para os cenários 1, 2 e 3
56
Tabela 3.13 Relação entre os resultados obtidos pelo modelo do ACRP
Report 3 e de Eddowes et al.
56
Tabela 3.14 Relação entre os resultados obtidos para os diferentes cenários
de operação
57
Tabela 4.1 Nível aceitável de segurança recomendados para incidentes de
overrun, undershoot e veer-off
62
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura Página
Figura 2.1 Matriz risco de Eddowes (Eddowes et al., 2001) 10
Figura 2.2 Matriz de risco do FAA (FAA, 1988;2006) 13
Figura 2.3 Anomalias mais frequentes em incidentes de overrun em
operações de pouso (ACRP Report 3, 2008)
22
Figura 2.4 Anomalias mais frequentes em incidentes de undershoot em
operações de pouso (ACRP Report 3, 2008)
22
Figura 2.5 Anomalias mais frequentes em incidentes de overrun em
operações de decolagem (ACRP Report 3, 2008)
23
Figura 3.1 Obstáculo localizado na RESA de um aeródromo hipotético
49
xii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ACRP Airport Cooperative Research Program
ANAC Agência Nacional de Aviação Civil
ASDA Distância disponível de aceleração e parada
ASDR Distância requerida de aceleração e parada
CAA U.K. Civil Aviation Authority
CRM Modelo de Risco de Colisão
EMAS Engeneered Materials Arresting System
FAA Federal Aviation Administration
IAC Instrução de Aviação Civil
ICAO AWOP All Weather Operations Panel da OACI
ICAO OCP Obstacle Clearance Panel da OACI
ICRP International Commission on Radiological Protections
LDOR Overrun em operação de pouso
LDA Distância de pouso disponível
LDR Distância de pouso requerida
LDUS Undershoot em operação de pouso
MTOW Peso máximo de decolagem
NOD Operações normais de voo
OACI Organização de Aviação Civil Internacional
OFZ Zona Livre de Obstáculos
RBAC Regulamento Brasileiro de Aviação Civil
RESA Área de Segurança de Fim de Pista
TOOR Overrun em operação de decolagem
TRB Transportation Research Board
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
Os padrões e práticas recomendadas preconizadas pela OACI em seu Anexo 14 (Aeródromos)
estabelecem um conjunto de dimensões e requisitos do aeródromo que visam garantir um
nível adequado de segurança operacional e, essencialmente, proporcionar um espaço livre de
obstáculos a fim de evitar colisões e/ou mitigar danos às aeronaves e passageiros em caso de
acidentes.
Contudo, durante os processos de certificação ou inspeções aeroportuárias são identificadas,
invariavelmente, não-conformidades em características físicas de aeródromos, dentre as quais:
− Relevo, edificações ou outras implantações e objetos ultrapassando as
superfícies limitadoras de obstáculos, constantes do Plano Básico ou Específico
de Zona de Proteção de Aeródromos ou de auxílios à navegação aérea;
− Faixa de Pista ou Área de Segurança de Fim de Pista (RESA) insuficiente
(dimensões e/ou qualidade) em relação ao estabelecido em regulamentação;
− Afastamento entre pista de pouso e pista de táxi paralela insuficiente em
relação ao estabelecido em regulamentação; e
− Falta ou implantação incorreta de auxílios visuais ou auxílios à navegação
aérea.
Considerando que a solução para tais não-conformidades pode ser impossível ou inviável, faz-
se necessário o desenvolvimento de um Estudo Aeronáutico para avaliar se o nível de
segurança operacional nestes aeródromos é adequado.
Nesse sentido, o Estudo Aeronáutico tem por objetivo avaliar o impacto das não-
conformidades em relação aos padrões estabelecidos em regulamentação, quantificando os
riscos associados (análise de risco) e estabelecendo soluções alternativas, visando manter a
segurança operacional sem reduzir de forma significativa a capacidade operacional dos
aeródromos.
2
No que consiste ao transporte aéreo, o foco principal desse tipo de análise são as colisões de
aeronaves, em situações de vôo, em operações de pouso ou decolagem, ou em operações no
solo (IAC 154-1001, 2004).
Assim, esta monografia aborda especificamente análises de risco em aeródromos, referentes a
incidentes em solo durante operações de pouso ou decolagem.
1.2 PROBLEMA
Como garantir um nível adequado de segurança operacional em aeródromos brasileiros com
não-conformidades em faixa de pista, sem reduzir sua capacidade operacional, utilizando um
modelo de análise de risco baseado em dados de aeródromos estrangeiros?
1.3 HIPÓTESE
Considera-se não ser adequado estimar o nível de segurança operacional de um aeródromo
brasileiro, através de modelos de análise de risco baseados em dados históricos de incidentes
ocorridos em aeródromos estrangeiros, que consideram fatores contribuintes, como gelo e
neve, não presentes no território nacional.
1.4 OBJETIVO
O objetivo principal deste estudo é pesquisar os modelos de análise de risco existentes,
referentes a incidentes em solo durante operações de pouso e decolagem, e comparar seus
resultados, a fim de verificar a aplicabilidade de tais modelos em aeródromos brasileiros, bem
como visando contribuir para a elaboração de novos modelos.
1.5 JUSTIFICATIVA
O não atendimento, pelas administrações aeroportuárias, das normas preconizadas em
regulamentação conduz à degradação da segurança operacional de um aeródromo.
3
Para a eliminação de tais não-conformidades, de forma a garantir um nível adequado de
segurança operacional, devem ser adotadas medidas que podem reduzir significativamente a
capacidade operacional de aeródromos.
Nesse sentido, o desenvolvimento de um Estudo Aeronáutico é visto como uma solução para
a avaliação do impacto das não-conformidades em relação aos padrões estabelecidos,
quantificando os riscos associados e estabelecendo soluções alternativas que não degradem a
segurança operacional nem reduzam de modo significativo a capacidade operacional de
aeródromos.
Tendo em vista que os estudos existentes sobre análise de risco em aeródromos se baseiam em
dados estatísticos colhidos de aeródromos de outros países, verificou-se a necessidade de
analisar as considerações presentes em tais modelos, a fim de verificar a aplicabilidade dos
mesmos em aeródromos nacionais.
1.6 METODOLOGIA
A metodologia adotada foi a hipotético-dedutiva, por meio do qual se formulam hipóteses
utilizando-se do processo de inferência dedutiva.
A metodologia abrangerá a seguinte sequência de atividades:
1- Revisão bibliográfica: tópicos sobre segurança operacional, requisitos de projeto
de aeródromos, estudo aeronáutico e análise de risco de incidentes em
aeródromos; bem como apresentação de alguns dos principais estudos de risco
existentes referentes a incidentes de aeronaves em solo em operações de pouso
ou decolagem;
2- Comparativo entre os modelos de análise de risco do ACRP Report 3 e de
Eddowes et al.;
4
3- Verificação da aplicabilidade dos modelos existentes de análise de risco em
aeródromos brasileiros;
4 – Conclusões e Recomendações para futuros trabalhos.
1.7 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A base teórica utilizada neste trabalho foi obtida através de compêndios, livros e
documentações que versam sobre análise de risco, tais como:
− Manual de Projeto de Aeródromos (DOC 9157-AN/901) - Parte 2 - Taxiways,
Aprons and Holding Bays, 2005, Organização de Aviação Civil Internacional;
− Safety Management Manual – SMM (DOC 9859-AN/474) – 2ª edição, 2009,
Organização de Aviação Civil Internacional;
− IAC 154-1001 – Termo de Referência para Estudo Aeronáutico, Nov/2004,
Departamento de Aviação Civil - DAC/COMAER;
− Final Report on the Risk Analysis in Support of Aerodrome Design Rules,
Dez/2001, Norwegian Civil Aviation Authority;
− Airport Cooperative Research Program (ACRP) Report 3 – Analysis of
Aircraft Overruns and Undershoots for Runway Safety Areas, 2008,
Transportation Research Board – TRB;
− Cir 301 -AN/174 - New Larger Aeroplanes - Infringement of the Obstacle Free
Zone: Operational Measures and Aeronautical Study, Dez/2005, Organização
de Aviação Civil Internacional.
1.8 ESTRUTURA DO DOCUMENTO
No capítulo 2 deste trabalho são apresentados, de forma resumida, conceitos referentes a
segurança operacional, a requisitos de projeto de aeródromos, a estudo aeronáutico e a análise
de risco de incidentes em aeródromos, bem como são apresentados alguns dos principais
estudos de risco existentes referentes a incidentes de aeronaves em solo em operações de
pouso ou decolagem.
5
É realizado, no capítulo 3 desta monografia, um comparativo entre os modelos de análise de
risco do ACRP Report 3 e de Eddowes et al.
No capítulo 4 é realizada uma análise da aplicabilidade dos estudos existentes sobre análise de
risco em aeródromos brasileiros.
As conclusões gerais do trabalho e algumas recomendações para futuros estudos estão
apresentadas no capítulo 5.
6
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo são abordados, de maneira resumida, conceitos referentes a segurança
operacional, a requisitos de projeto de aeródromos, a estudo aeronáutico e a análise de risco
de incidentes em aeródromos, bem como são apresentados alguns dos principais estudos de
risco existentes referentes a incidentes de aeronaves em solo em operações de pouso ou
decolagem.
2.2 SEGURANÇA OPERACIONAL / PERIGO / RISCO
A OACI, em seu DOC 9859 AN/474, define segurança operacional como o estado no qual o
risco de lesão a pessoas ou dano a propriedades é mantido em, ou abaixo de, um nível
aceitável, mediante um contínuo processo de identificação de perigos e gerenciamento de
riscos.
Perigo é definido como uma condição ou objeto que potencialmente pode causar lesões a
pessoal, danos a equipamentos ou estruturas, perda material, ou redução da habilidade de
desempenhar uma função determinada. (OACI, 2009)
A existência do perigo implica, portanto, a possibilidade de efeitos adversos, sendo tal
possibilidade definida como risco e medida em termos de gravidade e probabilidade. Ou seja,
risco é a possibilidade que algo possa ocorrer e suas conseqüências se ocorrer, sendo,
portanto, bi-dimensional.
Desta forma, a avaliação da aceitabilidade de um determinado risco associado a um perigo
particular deve levar em conta a probabilidade de ocorrência do perigo, e a gravidade de suas
consequências potenciais.
7
Se o risco não estiver dentro dos critérios predeterminados de aceitabilidade, uma tentativa
deve ser realizada a fim de reduzi-lo a um nível que seja aceitável, usando procedimentos de
mitigação apropriados.
Para um eficaz gerenciamento da segurança operacional deve ser realizado, de acordo com o
FAA, em sua AC 150/5200-37, um programa oficial de avaliação de risco, que identifique e
documente os perigos existentes em um aeroporto, de forma a:
− Determinar o(s) risco(s) associado(s);
− Identificar a gravidade e a probabilidade de ocorrência do(s) risco(s);
− Desenvolver estratégias de mitigação, conforme apropriado;
− Aplicar e acompanhar as estratégias de mitigação;
− Avaliar e alterar as estratégias conforme necessário.
O risco relativo na área de movimento de um aeródromo (expresso em termos de
probabilidade de uma colisão ocorrer), de acordo com o DOC 9157 – Parte 2 da OACI, é
geralmente considerado como mais elevado quando o aeródromo apresentar baixo cadastro de
acidentes/incidentes; aumento de densidade de veículos e objetos; e aumento de condições
que contribuam para a distração, confusão ou falha na interpretação do piloto da aeronave.
Verifica-se, assim, que os conceitos de perigo, risco e segurança operacional estão
severamente relacionados entre si.
2.3 NÍVEL ACEITÁVEL DE SEGURANÇA
O termo “nível aceitável de segurança” é utilizado pela Organização de Aviação Civil
Internacional para expressar o grau mínimo de segurança que deve ser garantido por um
sistema (DOC 9859, 2009).
Para se estabelecer o nível aceitável de segurança operacional é necessário considerar alguns
fatores, como o nível de risco envolvido, o custo/benefício das melhorias para o sistema e as
expectativas dos usuários relativas à segurança da indústria da aviação.
8
Logo, o nível aceitável de segurança se torna a referência através da qual a autoridade e a
indústria de aviação podem determinar o desempenho de segurança operacional do sistema de
aviação (Costa, 2007).
O Anexo 14, em sua seção 2.1.2, estabelece níveis de segurança para o gerenciamento de
“dados aeronáuticos”, devendo, os estados contratantes da Convenção de Chicago, assegurar a
integridade destes dados de acordo com os seguintes níveis:
− Dados críticos, nível de integridade: 1 × 10-8;
− Dados essenciais, nível de integridade: 1 × 10-5;
− Dados rotineiros, nível de integridade: 1 × 10-3.
Além disso, de acordo com a IAC 154-1001, vários grupos de trabalho da OACI empregam
critérios quantitativos como base para o desenvolvimento de normas. O All Weather
Operations Panel (ICAO AWOP), com relação aos acidentes ocorridos na aproximação e no
pouso, e também o Obstacle Clearance Panel (ICAO OCP), em relação às colisões com
obstáculos, identificam os seguintes critérios de segurança, estabelecidos a partir das taxas
históricas de acidentes:
− Risco de perda da fuselagem durante todas as fases e devido a qualquer causa:
1 x 10-7 por hora de vôo ou 1,5 x 10-7 por missão (ICAO AWOP);
− Risco de acidente na aproximação e no pouso, por qualquer causa: 1 x 10-8 por
missão (ICAO AWOP); e
− Risco de colisão com obstáculo causado por desvio da aeronave, lateralmente
ou abaixo, em relação à trajetória de vôo prevista: 1 x 10-7 por operação de
aproximação (ICAO OCP).
A autoridade de aviação civil do Reino Unido (CAA) estabelece também níveis de segurança
com relação a eventos em que aeronaves ultrapassam a cabeceira da pista (overrun), fixando
os valores de 5 x 10-7 por operação, como a taxa de referência de overrun, e 1 x 10-7 por
operação, como a taxa de referência de overrun com conseqüências graves. (Eddowes et al.,
2001)
9
Além disso, o guia de gestão de risco do Reino Unido identifica a necessidade de um padrão
mais elevado de segurança para novas instalações, se comparado com instalações existentes.
O ICRP estabelece também uma distinção entre normas aplicáveis em situações de
planejamento e em intervenções reais (Eddowes et al., 2001).
Eddowes et al. apresenta em seu estudo a tabela abaixo que estabelece cinco escalas de risco:
desprezível (N), baixo (L), médio (M), alto (H) e catastrófico (C), tanto para a probabilidade
de ocorrência de um acidente quanto para a gravidade das suas conseqüências. Através de
exame da matriz risco/conseqüência, os riscos globais são avaliados dentro de três grandes
faixas: alto, médio e baixo, conforme a figura abaixo.
Tabela 2.1 - Escalas de risco (Eddowes et al., 2001)
Classificação Probabilidade Consequência
C Frequente > 10-3 − Perda da aeronave − Múltiplas mortes
H Razoavelmente provável 10-5 a 10-3
− Grande redução nas margens de segurança
− Tripulação não pode agir completamente
M Remoto 10-7 a 10-5
− Redução significante nas margens de segurança
− Tripulação não pode agir em condições adversas
− Prejuízo aos ocupantes
L Extremamente remoto 10-9 a 10-7 − Perturbação
− Limitações de operação
N Extremamente improvável < 10-9 − Efeitos não significantes
C
H
Prob
abili
dade
M
L
N
N L M H C
ALTO
MÉDIO
BAIXO
10
Consequências
Figura 2.1 - Matriz risco de Eddowes (Eddowes et al., 2001)
O estudo original de Eddowes et al. foi adaptado de forma a refletir as definições
estabelecidas pelo FAA quanto a gravidade e probabilidade, conforme apresentado nas tabelas
2.2 e 2.3 e na figura 2.2.
11
Tabela 2.2 – Definições do FAA referentes à gravidade (ACRP Report 3, 2008)
Classificação da gravidade de um Perigo
Sem efeito quanto à
segurança 5
Menor 4
Maior 3
Perigoso 2
Catastrófico 1
− Sem efeito na tripulação
− Sem efeito na segurança
− Inconveniência
− Leve aumento na carga de trabalho da tripulação
− Leve redução na margem de segurança ou capacidade funcional
− Desconforto físico dos ocupantes
− Significante aumento na carga de trabalho da tripulação
− Significante redução na margem de segurança ou capacidade funcional
− Perigo físico possivelmente incluindo ferimentos
− Grande redução na margem de segurança ou capacidade funcional
− Ferimentos graves ou fatais a um número pequeno de ocupantes ou tripulação
− Perigo físico /carga de trabalho excessiva
− Perda da fuselagem
− Múltiplas fatalidades
12
Tabela 2.3 – Níveis de probabilidade apresentados pelo FAA (ACRP Report 3, 2008)
NAS Operacional Qualitativa Quantitativa Item / Sistema
Individual Serviço ATC / Sistema NAS
Procedimentos
em voo Por
facilidade NAS - geral
Freq
uent
e
A
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é igual a ou maior que
1x10-3
Esperado de ocorrer
frequentemente para um item
Continuamente experimentado
no sistema
Esperado de ocorrer
mais de uma vez
por semana
Esperado de ocorrer a cada 1-2
dias
Prov
ável
B
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é menor que 1x10-3, mas igual a ou maior que
1x10-5
Esperado de ocorrer varias vezes na vida de um item
Esperado de ocorrer
frequentemente no sistema
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é igual a ou maior que
1x10-5
Esperado de ocorrer cerca de uma vez por mês
Esperado de ocorrer
várias vezes por
mês
Rem
oto
C
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é menor que 1x10-5, mas igual a ou maior que
1x10-7
Esperado de ocorrer
algumas vezes no ciclo de vida de um
item
Esperado de ocorrer varias vezes no ciclo de vida de um
sistema
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é menor que 1x10-5 mas igual a ou maior que
1x10-7
Esperado de ocorrer cerca de
uma vez a cada 1-10
anos
Esperado de ocorrer cerca de uma vez
em poucos meses
Ext
rem
amen
te
rem
oto
D
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é menor que 1x10-7, mas igual a ou maior que
1x10-9
Improvável, mas possível de ocorrer no ciclo de vida de um item
Improvável, mas aceitável de ocorrer no ciclo de vida
de um sistema
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é menor que 1x10-7 mas igual a ou maior que
1x10-9
Esperado de ocorrer cerca de
uma vez a cada 10-100 anos
Esperado de ocorrer cerca de
uma vez a cada 3 anos
Ext
rem
amen
te
impr
ováv
el
E
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é menor que
1x10-9
Tão improvável, que pode ser assumido que não irá ocorrer
no ciclo de vida de um
item
Improvável de ocorrer, mas possível no
ciclo de vida do sistema
Probabilidade de uma
ocorrência por operação é menor que
1x10-9
Esperado de ocorrer menos de uma vez a cada 100
anos
Esperado de ocorrer menos de uma vez a cada 30
anos
Nota: Ocorrência é definida por operação (usado para eventos distintos tal como pouso, decolagem, etc.)
gravidade
probabilidade
Sem efeito
quanto à segurança
5
Menor 4
Maior 3
Perigoso2
Catastrófico 1
Frequente A
Provável B
Remoto C
Extremamente remoto
D
Extremamente improvável
E *
* Inaceitável em falhas relacionadas a causas simples
Alto risco Risco médio Baixo risco
Figura 2.2 – Matriz de risco do FAA (FAA, 1988;2006)
2.4 REQUISITOS DE PROJETO DE AERÓDROMOS
A regulamentação brasileira que estabelece os critérios de projeto de aeródromos,
Regulamento Brasileiro de Aviação Civil – RBAC nº 154 e Portaria 1.141/GM5, de
08/12/1987, têm como base as normas e práticas recomendadas preconizadas pela OACI em
seu Anexo 14.
Tais documentos identificam um conjunto de dimensões e requisitos do aeródromo que têm
por objetivo, essencialmente, fornecer um espaço livre de obstáculos, de forma a evitar
colisões e/ou mitigar danos às aeronaves e passageiros por ocasião de acidentes.
13
14
Em geral, podem ser identificados dois tipos de exigências:
− Aquelas relacionadas às dimensões físicas dos aeródromos, associadas com a
proteção da aeronave durante as operações no solo (estabelecidas no RBAC
154); e
− Superfícies limitadoras de obstáculos, que visam à proteção da aeronave no ar
(definidas através da Portaria 1.141/GM5).
Com relação às características físicas de um aeródromo, descritas no RBAC nº 154, podem-se
identificar recomendações de distâncias e dimensões, entre outras, para as seguintes situações
específicas:
− Larguras das pistas de pouso e decolagem e de táxi, bem como afastamentos
entre uma pista de pouso e decolagem e uma pista de táxi paralela, entre duas
pistas de táxi paralelas, e entre uma pista de táxi ou de pouso e decolagem e
um objeto.
− Largura da faixa de pista ao longo da pista de pouso e decolagem, que tem por
finalidade mitigar os danos às aeronaves que porventura saiam da área
pavimentada, ou proteger aeronaves sobrevoando essa faixa durante as
decolagens e pousos.
− Comprimento da faixa de pista após as cabeceiras e área de segurança de fim
de pista (RESA), cuja finalidade, em relação à segurança operacional, é reduzir
o risco de danos à aeronave que realiza o toque antes da cabeceira (undershoot)
ou venha a parar após o fim da pista (overrun).
Os requisitos contidos no RBAC nº 154 e na Portaria 1.141/GM5 fornecem, portanto, um
instrumento para a realização de projetos de aeródromos que garantam um nível adequado de
segurança às operações aéreas.
15
2.5 ESTUDO AERONÁUTICO DE AERÓDROMOS
Segundo o Manual de Projeto de Aeródromos – Parte 2 da OACI, não é intenção que o Anexo
14 da OACI seja utilizado para regular a operação de aeronaves, sendo permitida a operação
em aeródromos existentes com afastamentos menores que os especificados naquele
documento, caso um Estudo Aeronáutico indique que tal afastamento não afeta a segurança
operacional nem a regularidade das operações das aeronaves.
O RBAC 154 prevê também que poderá ser concedida autorização para a operação de um
aeródromo com qualquer não-conformidade associada às suas normas, mediante a
apresentação de um Estudo Aeronáutico, providenciado pelo responsável do aeródromo, de
forma a analisar os riscos envolvidos com a não-conformidade e demonstrar que um nível
satisfatório de segurança operacional pode ser alcançado.
Um Estudo Aeronáutico de aeródromo é elaborado, portanto, para avaliar o impacto de não-
conformidades em relação aos padrões estabelecidos em regulamentação, analisando os riscos
associados, implicações operacionais e custos associados às suas correções, bem como
estabelecendo soluções alternativas que garantam que o nível de segurança operacional seja
equivalente ao assegurado pelas normas e procedimentos em vigor.
Em outras palavras, o Estudo Aeronáutico é necessário quando uma não-conformidade não
pode ser corrigida de imediato e, portanto, uma análise deve verificar se o risco é aceitável e,
caso contrário, propor medidas mitigadoras do risco.
Desta forma, uma das etapas que compõe o Estudo Aeronáutico de um aeródromo é a análise
quantitativa ou qualitativa do risco associado à não-conformidade.
2.6 ANÁLISE DE RISCO DE INCIDENTES EM AERÓDROMOS
A análise de risco envolve a estimativa do nível de risco existente, calculado a partir das
possibilidades de perigo elencadas numa fase preliminar, e a comparação desse nível com
critérios previamente estabelecidos, com a finalidade de verificar se os riscos são aceitáveis.
16
De acordo com Bellini (2008), inicialmente técnicas de análise de risco eram mais utilizadas
nas áreas militar e aeroespacial, até que, a partir de 1970, outras aplicações de gerenciamento
de riscos foram desenvolvidas.
Atualmente a gerência de riscos têm se tornado um assunto de suma importância no meio
empresarial, pois a conscientização da administração dos riscos potenciais é uma questão de
competitividade e sobrevivência. (Brasiliano et al., 2005)
Segundo Souza (1995) a análise de risco tem por objetivo responder a uma ou mais de uma
das seguintes questões:
− Quais os riscos presentes, e o que pode acontecer de errado?
− Qual a probabilidade de ocorrência de acidentes devido aos riscos presentes?
− Quais os efeitos e as conseqüências destes acidentes?
− Como poderiam ser eliminados ou reduzidos estes riscos?
Na aviação, as avaliações de risco são utilizadas em diversas áreas, da concepção de
aeronaves à definição de padrões operacionais e regras de controle de tráfego aéreo (ACRP
Report 3, 2008).
Nas questões relacionadas ao transporte aéreo, o foco principal das análises de risco são
colisões de aeronaves, em situações de vôo, em operações de pouso ou decolagem, ou em
operações no solo (IAC 154-1001, 2004).
Sendo confirmada a presença de um perigo, é necessária alguma forma de análise do potencial
de prejuízo, sendo que, normalmente, essa avaliação envolve três aspectos (OACI, 2006):
− A probabilidade de o perigo acelerar um evento perigoso (isto é, a
probabilidade de condições adversas, se as condições subjacentes de
insegurança persistirem);
− A gravidade das potenciais conseqüências adversas ou o resultado de um
evento perigoso; e
17
− O índice de exposição aos perigos. A probabilidade de conseqüências adversas
cresce com o aumento da exposição às condições perigosas. Logo, a exposição
deve ser considerada outra dimensão da probabilidade.
Modelos de avaliação de riscos podem ser utilizados no auxílio à definição de diretrizes a
serem seguidas no que tange às características físicas de aeródromos, visando um nível
adequado de segurança, como por exemplo (Eddowes et al.,2001):
− Modelo de risco para definir regras de projeto quanto à largura de pista;
− Modelo de risco para definir regras de projeto quanto à largura da faixa
preparada da pista;
− Modelo de risco para definir regras de projeto quanto à largura da faixa de
pista; e
− Modelo de risco para definir regras de projeto quanto a afastamentos entre pista
de pouso e decolagem / pista de táxi.
Modelos de análise de risco são utilizados também na definição de padrões referentes às
dimensões e características das Superfícies Limitadoras de Obstáculos, com o objetivo de
garantir a segurança das operações.
A OACI descreve, em seu documento Cir 301-AN/174, a utilização de análise de risco para
verificação da aceitabilidade da operação de aeronaves de grande porte (código F), em
procedimentos de aproximação por instrumento precisão, em aeródromos existentes
projetados para acomodar operação de aeronaves código E. O estudo utilizou o auxílio de
simuladores de vôo, visando conhecer a trajetória de aeronaves durante eventos de
aproximação, a fim de avaliar as dimensões necessárias da Zona Livre de Obstáculos (OFZ).
O Modelo de Risco de Colisão (CRM), desenvolvido pela OACI e descrito em seu DOC
9274, verifica a probabilidade de colisão em operações de aproximação por instrumento
precisão, com presença de obstáculos com localização e dimensões conhecidas. O modelo é
utilizado como uma ferramenta para tomada de decisão no desenvolvimento de procedimentos
de aproximação seguros e no planejamento aeroportuário (ACRP Report 3, 2008).
18
2.7 ESTUDOS RELATIVOS À ANÁLISE DE RISCO DE INCIDENTES EM
AERÓDROMOS
Abaixo são apresentados sucintamente alguns estudos sobre análise de risco de incidentes de
aeronaves em solo em aeródromos.
2.7.1 Diretrizes da OACI Para Elaboração de Estudo Aeronáutico (2005)
O Manual de Projeto de Aeródromos da OACI (DOC 9157) Parte 2 - Taxiways, Aprons and
Holding Bays auxilia na condução de um Estudo Aeronáutico, definindo critérios para
verificação da adequação de pistas de taxi com afastamentos menores que aqueles
especificados em seu Anexo 14.
No entanto, a OACI não define a natureza dos Estudos Aeronáuticos ou os critérios de
quantificação dos riscos, porém exige a comprovação de que um nível de segurança adequado
seja obtido, dentro das condições específicas do aeródromo.
De acordo com o referido documento, a experiência operacional com aeronaves de grande
porte, em aeródromos que não foram projetados conforme as exigências especificadas para
tais aeronaves, demonstra que a operação regular e com segurança é viável, ainda que
possíveis restrições operacionais específicas tenham que ser adotadas (exemplo: utilização de
rotas de táxi selecionadas, seleção de pistas de táxi de estacionamento compatíveis com a
aeronave, etc.). Isto é viável em razão da existência de uma série de fatores adversos que não
são necessariamente considerados em condições operacionais de um aeródromo específico.
A avaliação do risco total deve ser composta pelos seguintes fatores:
− O risco de saída lateral; e
− A exposição ao risco de colisão.
O documento apresenta as seguintes conclusões quanto ao risco de saída lateral de aeronave
em pista de táxi:
19
1) O risco de saída lateral de pista de aeronave é maior quando o aeródromo apresenta
baixas condições de atrito superficial e ocorrências de ventos fortes laterais, bem como
onde a velocidade de taxiamento é relativamente alta, especialmente em trechos de
curvas.
2) A exposição ao risco de colisão aumenta à medida que a aeronave afasta-se da pista e
aproxima-se do pátio devido ao aumento na quantidade/densidade de objetos (fixos e
móveis), ao aumento da complexidade do layout e à diminuição dos afastamentos
requeridos.
3) Os auxílios visuais e as condições superficiais de atrito da pista são considerados
essenciais para um elevado nível de acurácia nas operações de taxiamento de aeronaves.
4) Em trechos retos de pistas de táxi de aeródromos com condições favoráveis de operação,
pode ser aceitável a redução das áreas de segurança de pista, considerada com base em
um Estudo Aeronáutico.
5) Em curvas de pistas de táxi, a análise deve ser mais detalhada, considerando o
deslocamento natural da aeronave para a porção interna da curva.
2.7.2 Modelo de Análise de Risco do ACRP - Report 3 (2008)
O estudo do ACRP Report 3, patrocinado pelo FAA (Federal Aviation Administration),
desenvolveu um modelo quantitativo e qualitativo de análise de risco de eventos de aeronaves
tocando a pista antes da cabeceira em operações de pouso (undershoot) ou ultrapassando o
final da pista em operações de pouso ou decolagem (overrun).
Foram considerados na avaliação de riscos fatores que contribuem para tais eventos, como
condições meteorológicas, condições da superfície da pista, presença de obstáculos e
dimensões da Área de Segurança de Fim de Pista (RESA) existente.
20
Com base em informações obtidas a partir de relatórios de acidentes e incidentes de overrun e
undershoot, foram desenvolvidos modelos de risco, que consideram fatores operacionais, para
avaliar a probabilidade, a localização e as possíveis consequências destes acidentes ocorrerem
em uma pista sujeita a condições específicas de tráfego e operação.
Os fatores operacionais frequentemente detectados em eventos de overrun em operações de
pouso (LDOR), overrun em operações de decolagem (TOOR) e undershoot em operações de
pouso (LDUS) foram os seguintes:
− Falha em sistema da aeronave;
− Chuva;
− Baixa visibilidade;
− Vento de cauda;
− Vento de través;
− Rajada de vento;
− Planejamento inadequado do voo;
− Superfície molhada da pista;
− Superfície da pista contaminada (borracha, gelo);
− Longa aterrissagem; e
− Aproximação em alta velocidade.
O estudo apresentou graficamente a porcentagem de incidentes e acidentes de overrun e
undershoot relacionados com tais anomalias, conforme apresentado nas figuras 2.3, 2.4 e 2.5.
Uma das principais melhorias oferecidas por esta modelagem de frequência de acidentes é o
uso de dados em operações normais de voo (NOD), ou seja, operações sem ocorrência de
acidentes ou incidentes, de modo que a razão de risco possa ser gerada e a importância dos
fatores de risco quantificada.
Para tanto, deve ser tomada uma amostra representativa das operações de pouso e decolagem
realizadas na pista de pouso e decolagem analisada, preferencialmente cobrindo um período
de no mínimo um ano de operações. Pode não ser necessário, porém, obter dados de cada mês
21
deste período, sendo suficiente considerar uma amostra compreendendo pelo menos quatro
meses de operações, que caracterize o ano inteiro (por exemplo: janeiro, abril, julho e
outubro).
Outra melhoria é a utilização de técnicas de normalização para converter distâncias de
overrun e undershoot a um aeroporto padrão (quanto a temperatura, altitude, inclinação, tipo
terreno, distância disponível de pouso/decolagem e performance de aeronave), tornando
possível comparar dados para diferentes condições de operação, criando assim um conjunto
maior de informações relevantes.
Com base em dados históricos de incidentes, o estudo desenvolveu três modelos de análise:
modelo de probabilidade de acidentes; modelo de localização de acidente e modelo de
conseqüências.
A determinação da probabilidade de ocorrer um incidente de overrun e undershoot considera
os fatores adversos presentes nos aeródromos, através da utilização de variáveis
independentes definidas de acordo com teto, condições de visibilidade, vento de través,
chuva, neve, gelo, tipo de aeronave (tamanho/peso), temperatura, terreno, tipo de aeroporto
(hub) e tipo de voo (internacional/doméstico), conforme visto na equação 2.1.
P (LDOR) = 1/(1 + e -b) (2.1)
Sendo que o valor de “b” é determinado de acordo com as variáveis relacionadas com os
fatores contribuintes presentes no aeródromo, conforme tabela 2.4.
Figura 2.3 - Anomalias mais frequentes em incidentes de overrun em operações de pouso
(ACRP Report 3, 2008)
Figura 2.4 - Anomalias mais frequentes em incidentes de undershoot em operações de pouso (ACRP Report 3, 2008)
22
Figura 2.5 - Anomalias mais frequentes em incidentes de overrun em operações de
decolagem (ACRP Report 3, 2008)
23
24
Tabela 2.4 - Determinação da variável "b" de acordo com o modelo do ACRP Report 3
Tipo de
incidente Variável “b”
Overrun em
operação de
pouso
b = – 15,456 + 0,551(aeronave pesada) – 2,113(aeronave commuter) –
1,064(aeronave média) – 0,876(aeronave pequena) + 0,445(aeronave
turbo hélice) – 0,857(Origem/Destino Internacional) + 1,832(Nível do
Teto < 1000 pés) + 1,639(Nível do Teto 1001 – 2500 pés) +
2,428(Visibilidade < 2SM) + 1,186(Visibilidade 2 - 4SM) +
1,741(Visibilidade 4 - 6SM) + 0,322(Visibilidade 6 - 8SM) –
0,532(Vento través 2 – 5 knots) + 1,566(Vento través 5 – 12 knots) +
1,518(Vento través > 12 knots) + 0,986(Tempestade elétrica) +
1,926(Condições de gelo) + 1,499(Neve) – 1,009(Temperatura < 5C) –
0,631(Temperatura 5 – 15C) + 0,265(Temperatura > 25C) +
1,006(aeródromo não-hub) + 0,924(Terreno significante)
Overrun em
operação de
decolagem
b = – 16,6515 + 0,721(aeronave pesada) – 0,619(aeronave commuter)
– 0,009(aeronave média) + 1,669(aeronave pequena) + 1,336(Classe de
utilização 1) + 1,052 (Classe de utilização 2) + 1,225(Nível do Teto <
1000 pés) + 1,497(Nível do Teto 1001 – 2500 pés) + 0,201(Visibilidade
< 2SM) – 1,941(Visibilidade 2 - 4SM) – 0,366(Visibilidade 4 - 6SM) +
0,317(Visibilidade 6 - 8SM) + 1,660(nevoeiro) – 0,292(Vento través 2 –
5 knots) + 1,598(Vento través 5 – 12 knots) + 1,781(Vento través > 12
knots) – 0,536(Temperatura < 5C) – 0,507(Temperatura 5 – 15C) +
0,502(Temperatura > 25C) + 1,805(Condições de gelo) + 2,567(Neve)
Undershoot
b = – 14,9642+ 0,036(aeronave pesada) – 1,699(aeronave commuter) –
0,427(aeronave média) + 1,760(aeronave pequena) + 0,288(Classe de
utilização 1) + 0,908 (Classe de utilização 2) –1,042(Origem/Destino
Internacional) + 0,199(Nível do Teto < 1000 pés) + 1,463(Nível do Teto
1001 – 2500 pés) + 2,074(Visibilidade < 2SM) + 0,069(Visibilidade 2 -
4SM) – 0,185(Visibilidade 4 - 6SM) – 0,295(Visibilidade 6 - 8SM) +
1,830(nevoeiro) – 1,705(Chuva) – 0,505(Temperatura < 5C) –
0,874(Temperatura 5 – 15C) – 0,446(Temperatura > 25C) +
2,815(Condições de gelo) + 2,412(Neve)
25
Com relação ao eixo longitudinal da pista, a probabilidade de localização de incidentes
através de dados normalizados é calculada pelas funções 2.2, 2.3 e 2.4 apresentadas a seguir,
sendo considerado o valor de x em pés.
P (d>x) overrun em pouso = exp(-0,004692 x 0,824513) (2.2)
P (d>x) overrun em decolagem = exp(-0,003364 x 0,807138) (2.3)
P (d>x) undershoot = exp(-0,022078 x 0,585959) (2.4)
Através de dados brutos, ou seja, dados não-normalizados, a probabilidade de localização de
incidentes com relação ao eixo longitudinal da pista é determinada utilizando as equações 2.5,
2.6 e 2.7, sendo considerado o valor de x em pés.
P (d>x) overrun em pouso = exp(-0,003871 x 0,955175) (2.5)
P (d>x) overrun em decolagem = exp(-0,001033 x 1,065025) (2.6)
P (d>x) undershoot = exp(-0,024445 x 0,643232) (2.7)
Quanto ao eixo transversal da pista, a probabilidade de localização de incidentes é
determinada através das funções 2.8, 2.9 e 2.10 (dados normalizados) e 2.11, 2.12 e 2.13
(dados não-normalizados), sendo o valor de y em pés.
P (d>y) overrun em pouso = exp(-0,243692 y 0.388726) (2.8)
P (d>y) overrun em decolagem = exp(-0,181046 y 0.406544) (2.9)
P (d>y) undershoot = exp(-0,19539 y 0.433399) (2.10)
P (d>y) overrun em pouso = exp(-0,20174 y 0.489009) (2.11)
P (d>y) overrun em decolagem = exp(-0,182098 y 0.448346) (2.12)
26
P (d>y) undershoot = exp(-0,409268 y 0.351851) (2.13)
A probabilidade da ocorrência de um incidente a uma certa distância da cabeceira é
determinada, assim, através da multiplicação da probabilidade de ocorrer um incidente e da
probabilidade de localização do incidente, conforme demonstrado abaixo pelas equações 2.14
e 2.15.
P(incidente > x) = P (incidente) x P (d > x) (2.14)
P(incidente > y) = P (incidente) x P (d > y) (2.15)
O modelo de consequências apresentado pelo ACRP consiste de uma avaliação qualitativa da
gravidade de um incidente, com base no modelo de localização e nas características existentes
da pista, considerando dimensões das áreas de segurança, peso da aeronave, tipo, localização
e tamanho de obstáculos, bem como a topografia do terreno circundante.
Basicamente, estima-se a probabilidade de uma aeronave em alta velocidade (com energia
elevada) atingir um obstáculo, resultando, assim, em graves consequências.
O estudo do ACRP desenvolveu, ainda, um software que auxilia na avaliação dos riscos
associados com incidentes de overrun e undershoot. A entrada de dados inclui informações
referentes ao aeroporto, ao nível desejável de segurança, às características da faixa de pista /
RESA (incluindo dimensões e tipo de terreno) e aos dados históricos de operações. A saída de
dados inclui a frequência de distribuição de riscos para cada tipo de acidente e a porcentagem
de voos sujeita a um risco acima do desejável.
Foram obtidas as seguintes conclusões a partir deste estudo:
1) Os fatores contribuintes para eventos do tipo undershoot e overrun mais identificados
em operações de pouso estão relacionados com condição meteorológica, condição da
pista, erro humano e procedimento de aproximação por instrumentos.
27
2) Os fatores detectados com maior frequência em eventos do tipo overrun em operações
de pouso foram pistas contaminadas e molhadas. Em alguns casos, estas anomalias
ocorreram em combinação (por exemplo, uma pista molhada contaminada com
borracha). Para pistas contaminadas, o gelo foi o contaminante predominante nos
acidentes e incidentes avaliados. Três fatores adicionais com alta incidência em eventos
de overrun em pouso foram: longas aterrissagens, alta velocidade durante a
aproximação e presença de chuva.
3) As anomalias com maiores incidências, para eventos do tipo undershoot, foram baixa
visibilidade e chuva. As ocorrências de rajadas de vento apresentam também alta
incidência nestes tipos de acidentes, seguido de falha no procedimento de aproximação.
4) O principal fator contribuinte para eventos de overrun em operações de decolagem foi
falha no procedimento de decolagem. Neste caso as anomalias mais freqüentes foram:
interrupção de operação de decolagem em alta velocidade e planejamento incorreto da
operação (como: sobrepeso de aeronave, pouca distância disponível de decolagem, e
distribuição incorreta de carga da aeronave).
28
Tabela 2.5 - Tabela de referência para a determinação da variável "b" (ACRP Report 3,
2008) Classe de Equipamento Grandes jatos de MTOW 41k – 255k lb (B737, A 320 etc.)
Aeronave Pesada Aeronaves pesadas com MTOW > 255 lb
Aeronave “Commuter “ Grandes aeronaves “commuter” com MTOW 41k – 255k lb
(pequenos RJs, ATR42, etc.)
Aeronaves Médias Aeronaves médias com MTOW 12,5k – 41k lb (Embraer 120,
Learjet 35, etc.)
Aeronaves Pequenas Aeronaves pequenas com MTOW < 12,5k (Cessna, Caravan, etc.)
Classe de Utilização C = Comercial
Classe de Utilização 1 F = Cargueira
Classe de Utilização 2 GA = Aviação Geral
Origem/Destino Internacional Origem/Destino Internacional (sim/não) – Ref.: Doméstico
Nível do Teto Ref.: > 2500 pés
Nível do Teto < 1000 pés < 1000 pés
Nível do Teto 1001 - 2500pés 1001 - 2500pés
Visibilidade Ref.: 8 – 10 SM
Visibilidade < 2 SM < 2 SM
Visibilidade 2 – 4 SM 2 – 4 SM
Visibilidade 4 – 6 SM 4 – 6 SM
Visibilidade 6 – 8 SM 6 – 8 SM
Vento de Través Ref.: < 2knots
Vento de Través 2 – 5 knots 2 – 5 knots
Vento de Través 5 – 12 knots 5 – 12 knots
Vento de Través > 12 knots > 12 knots
Tempestade Elétrica Tempestade Elétrica (sim/não) – Ref.: não
Condições de Gelo Condições de Gelo (sim/não) – Ref.: não
Neve Neve (sim/não) – Ref.: não
Temperatura do ar Ref.: 15 – 25 º C
Temperatura < 5 º C < 5 º C
Temperatura 5 - 15º C 5 - 15º C
Temperatura > 25 º C > 25 º C
Aeroporto não-hub Aeroporto não-hub (sim/não) – Ref.: aeroporto hub
Terreno Significante Terreno Significante (sim/não) – Ref.: não
Notas:
Ref.: Indica a categoria de referência contra a qual as taxas existentes devem ser interpretadas
Aeroporto não-hub: aeroporto com menos de 0,05% do embarque anual de passageiros
Terreno significativo: terreno dentro do plano de vista do aeroporto que excede 4.000 pés acima da
elevação do aeroporto, ou se o terreno dentro de um raio de 6,0 milhas náuticas do Ponto de Referência
do aeroporto sobe a pelo menos 2000 pés acima da elevação aeroporto
29
2.7.3 Modelo de Análise de Risco de Rddowes Et Al.
Neste estudo, patrocinado pela autoridade de aviação civil da Noruega, foram desenvolvidos
modelos quantitativos de análise de risco que contemplam as seguintes situações de perigo:
− Saída de pista com parada da aeronave após o término da pista de pouso
(overrun)
− Toque da aeronave antes da cabeceira, em operações de pouso (undershoot)
− Saída lateral da aeronave durante operações de pouso e decolagem (veer-off)
− Desvio lateral durante o taxiamento da aeronave
− Desvio da aeronave, lateralmente ou abaixo, em relação à trajetória de vôo
prevista
Os modelos de risco foram desenvolvidos principalmente por referência a dados empíricos
provenientes de medições durante operações ou de análise de histórico de incidente/acidente.
São apresentados a seguir os modelos referentes a incidentes em solo em procedimentos de
pouso ou decolagem, ou seja, os modelos de overrun, de undershoot e de veer-off.
2.7.3.1 Modelo de Análise de Risco de Overrun
Foi desenvolvido um modelo de risco genérico baseado no seguinte:
− Na frequência de ocorrência de incidentes de overrun;
− Em uma função de probabilidade de distribuição acumulada, que descreve a
distância percorrida em caso de ocorrência de um evento de overrun;
− Na gravidade das consequências do incidente, sendo presumido que qualquer
aeronave que atinja distâncias além da RESA pode potencialmente estar em
colisão com um obstáculo, sofrendo consequências catastróficas (perda total de
fuselagem e/ou mortes).
30
As seguintes taxas de incidentes de overrun foram identificadas neste estudo, para os
diferentes tipos de operação:
− Overrun em decolagem: 0,33 por milhão de movimentos;
− Overrun em aproximação precisão: 0,6 por milhão de movimentos;
− Overrun em aproximação não-precisão/visual: 4,68 por milhão de movimentos.
Verificou-se, ainda, que a provável distância percorrida por uma aeronave para além do final
da pista, em caso de um evento de overrun, pode ser representada por uma função de
probabilidade de distribuição acumulada, descrevendo a fração de incidentes (N) que atingem
uma determinada distância (x): N (x) = exp (- a xn) (onde a e n são constantes).
Combinando tal função com as taxas de incidentes identificadas acima, estimou-se a
freqüência com que ocorrem eventos de overrun que ultrapassam uma determinada distância
“x”:
P(overrun > x) para aproximação precisão = 0,6 x 10-6 exp (-0,0081 x)
(2.16)
P(overrun > x) para aproximação não-precisão/visual = 4,68 x 10-6 exp (-0,0081 x)
(2.17)
P(overrun > x) para decolagem = 0,33 x 10-6 exp (-0,0058 x)
(2.18)
O risco residual para os três tipos de operação mencionados acima (decolagem, aproximação
precisão e aproximação não-precisão/visual) foi calculado, para os comprimentos de faixa de
pista e RESA especificados no Anexo 14 da OACI, estando apresentados na Tabela 2.6.
31
Tabela 2.6 - Risco residual de overrun (por milhão de movimentos) associado com especificações do Anexo 14 da OACI (Eddowes et al., 2001)
Σ compr. faixa
de pista e RESA
(m)
Decolagem Aprox. precisão
Aprox.
não-
precisão/visual
Código da
pista
Padrão Recom. Padrão Recom. Padrão Recom. Padrão Recom.
1 não
instrumento 30 150 0,277 0,138 - - 3,670 1,389
2 não
instrumento 60 180 0,233 0,166 - - 2,879 1,089
1/2
instrumento 150 180 0,138 0,166 0,178 0,140 1,389 1,089
¾ 150 300 0,138 0,058 0,178 0,053 1,389 0,412
O risco residual identificado refere-se à média de movimentos com excesso de pista disponível. Quando não houver excesso de pista disponível, em operações de pouso e decolagem, os riscos serão quase dez vezes maiores que estes apresentados na tabela.
A Tabela 2.7 apresenta um resumo do risco residual para diferentes comprimentos de faixa
de pista e RESA.
Da mesma forma, o modelo determinou o comprimento de faixa de pista e RESA necessário
para cumprir um nível de segurança de 10-7 por movimento, sendo verificados os seguintes
valores:
− Para operação de decolagem: 206 m;
− Para operação de decolagem sem excesso pista: 603 m;
− Para operação de aproximação precisão: 221 m;
− Para operação de aproximação precisão sem excesso de pista: 505 m;
− Para operação de aproximação não-precisão/visual: 475 m.
Dada a natureza exponencial da função de distribuição, observa-se que o benefício de
segurança prestado por qualquer incremento no comprimento de faixa de pista e RESA reduz
progressivamente com o aumento desta distância. Esta proporção é apresentada na tabela 2.8
32
(em conjunto com os resultados obtidos a partir da análise de undershoot descrita no item
seguinte).
Da Tabela 2.8, verifica-se que cerca de 90% dos incidentes estão contidos nos primeiros 300
m após a cabeceira, que representa a prática recomendada no anexo 14 da OACI para pistas
com código de referência 3 e 4, e que uma pequena porcentagem (5% ou menos) atingem
distâncias maiores que 500 m. Isto evidencia a diminuição do benefício da segurança
associado com o aumento do comprimento da faixa de pista/RESA. Cerca de 90% dos
incidentes seriam contidos dentro de um comprimento de segurança de 300 m, aumentando
para cerca de 95 a 98%, caso o comprimento fosse de 500m.
33
Tabela 2.7 - Risco residual de overrun (por milhão de movimentos) associado com diferentes comprimentos de faixa de pista/RESA (Eddowes et al., 2001)
Overrun
Distância Decolagem Aproximação Precisão
Aproximação Não-
precisão/visual 0 0,330 0,600 4,680
10 0,311 0,553 4,316 20 0,294 0,510 3,980 30 0,277 0,471 3,670 40 0,262 0,434 3,385 50 0,247 0,400 3,121 60 0,233 0,369 2,879 70 0,220 0,340 2,655 80 0,207 0,314 2,448 90 0,196 0,289 2,258 100 0,185 0,267 2,082 110 0,174 0,246 1,920 120 0,165 0,227 1,771 130 0,155 0,209 1,633 140 0,147 0,193 1,506 150 0,138 0,178 1,389 160 0,130 0,164 1,281 170 0,123 0,151 1,181 180 0,116 0,140 1,089 190 0,110 0,129 1,004 200 0,103 0,119 0,926 210 0,098 0,110 0,854 220 0,092 0,101 0,788 230 0,087 0,093 0,726 240 0,082 0,086 0,670 250 0,077 0,079 0,618 260 0,073 0,073 0,570 270 0,069 0,067 0,525 280 0,065 0,062 0,484 290 0,061 0,057 0,447 300 0,058 0,053 0,412 310 0,055 0,049 0,380 320 0,052 0,045 0,350 330 0,049 0,041 0,323 340 0,046 0,038 0,298 350 0,043 0,035 0,275 360 0,041 0,032 0,253 370 0,039 0,030 0,234 380 0,036 0,028 0,216 390 0,034 0,025 0,199 400 0,032 0,023 0,183 410 0,031 0,022 0,169 420 0,029 0,020 0,156 430 0,027 0,018 0,144 440 0,026 0,017 0,133 450 0,024 0,016 0,122
34
Tabela 2.8 - Proporção de incidentes contidos dentro de uma determinada distância de faixa de pista/RESA (Eddowes et al.)
Distância (m) Fração de eventos de
overrun em decolagem contidos
Fração de eventos de overrun em pouso
contidos
Fração de eventos de undershoot contidos
0 0 0 0 50 0,252 0,333 0,543
100 0,439 0,555 0,693 150 0,582 0,703 0,777 200 0,688 0,802 0,831 250 0,767 0,868 0,869 300 0,824 0,912 0,896 350 0,870 0,941 0,916 400 0,903 0,961 0,932 450 0,927 0,974 0,944 500 0,945 0,983 0,953
Os principais resultados deste modelo foram:
1) Existe uma clara distinção entre o risco de overrun em operações de pouso e em
operações de decolagem, tanto em termos de probabilidade de ocorrer um incidente
quanto com relação à provável distância percorrida para fora do final da pista. Este tipo
de incidente é menos provável em operações de decolagem do que em operações de
pouso, mas eventos de overrun em decolagem normalmente atingem distâncias maiores
além da pista;
2) Não há distinção aparente entre o risco de overrun em pistas com código de referência 1
e 2 e o risco em pistas com código 3 e 4 que justifique, com base em risco, uma
diferença nos requisitos de projeto referentes à RESA e ao comprimento da faixa de
pista, o que ocorre atualmente pelo Anexo 14 da OACI. Para alcançar um determinado
nível de segurança seria necessária a mesma regra para todos os códigos de pista;
3) Para eventos de overrun em pouso, a taxa de incidentes parece variar significativamente
de acordo com a disponibilidade ou a ausência de auxílios a aproximação precisão.
Aproximações não-precisão/visual apresentam uma taxa de overrun cerca de oito vezes
maior que em aproximações precisão. Não existe, portanto, uma justificativa baseada
em risco para uma menor exigência no comprimento de faixa de pista e RESA em pistas
35
não-instrumento em comparação com pistas instrumento, tal como ocorre atualmente no
Anexo 14 da OACI;
4) Dada a dependência do risco residual sobre os parâmetros operacionais, que diferem
significativamente entre aeródromos, pode não ser prático definir requisitos de projeto
para atender a um mesmo nível de segurança em todos os casos. Especificamente, as
questões a serem abordadas são a crítica dependência do risco de overrun sobre o
"excesso" de pista disponível e a disponibilidade de auxílios à aproximação precisão. As
estatísticas de incidentes sobre a qual a base de referência de nível de segurança de 10-7
por movimento é derivada são dominadas por movimentos em grandes aeródromos onde
auxílios a aproximação precisão estão normalmente disponíveis e onde há, muitas vezes,
"excesso" do comprimento de pista. Este nível de segurança não pode ser facilmente
alcançado por uma maior RESA em pequenos aeródromos onde auxílios à aproximação
precisão são escassos e há pouco ou nenhum "excesso" de pista em movimentos típicos;
5) Uma questão fundamental na avaliação da exigência de RESA é o benefício de
segurança que qualquer dado incremento no comprimento da RESA proporciona. Este
benefício de segurança diminui significativamente a grandes distâncias a partir do final
da pista, colocando um limite prático sobre o comprimento da RESA em torno da atual
recomendação para pistas de códigos 3 e 4;
6) A taxa média de eventos de overrun é dominada pelos movimentos onde há um
"excesso" significativo de pista além do mínimo requerido pela aeronave;
7) A probabilidade de overrun varia consideravelmente de acordo com a quantidade de
pista disponível além do que é requerido pela aeronave. No caso de incidentes em pouso
onde a distância de pouso requerida (LDR) é igual à distância de pouso disponível
(LDA), a probabilidade de overrun é estimada em pelo menos dez vezes a taxa média
histórica. Para incidentes em decolagem em que a distância requerida de aceleração e
parada (ASDR) é igual à distância disponível de aceleração e parada (ASDA), a
probabilidade de overrun é ligeiramente inferior a dez vezes a taxa média;
36
8) O potencial de dependência entre a distância atingida pela aeronave em um evento de
overrun e o tipo de aeronave (turbo-hélice/jato, tamanho da aeronave) foi analisado,
porém não pode ser identificada clara dependência;
9) Outros fatores operacionais foram identificados como determinantes ao risco de
overrun, mas estes não puderam ser facilmente integrados em um modelo de risco
quantitativo. No entanto, é instrutivo considerar os fatores contribuintes identificados no
estudo para incidentes de overrun, estando apresentados a seguir:
a) De 32 incidentes em decolagem registrados, em 17 casos é expressamente declarada
a ocorrência de decolagem abortada e em vários outros casos existem indícios desse
fator. Uma variedade de fatores contribuintes para a decolagem abortada foram
identificados, incluindo falhas de motor (4 casos), falhas de trem de pouso (5 casos),
pássaros (2 casos), falsos avisos (2 casos) e falha do piloto (2 casos). O uso incorreto
da pista foi identificado como causa em 3 casos de incidentes. Falhas ou
configuração incorreta de controle de superfícies foram identificadas em vários casos
e em um caso é identificado erro de cálculo do peso da aeronave. Em 3 casos, a pista
molhada foi identificada como contribuinte para o overrun e em 2 casos problemas
de frenagem foram identificados.
b) Uma ampla variedade de fatores que contribuem para o overrun em pouso são
identificados e, em muitos casos, são identificados múltiplos fatores. Fatores
identificados incluem os seguintes: Longo pouso; Excesso de velocidade; Falha na
aproximação; Vento de cauda; Vento de través adverso; Pista molhada ou com gelo;
Falha do sistema de freio; Falha em sistemas gerais; Falha de planejamento da
operação; Pouca visibilidade.
c) Em 93 registros de incidentes em operações de pouso são identificados 38
acontecimentos em que pista molhada ou pista com gelo foram fatores contributivos,
mas em apenas 9 dos casos são esses os únicos fatores identificados. Pouso longo,
falha na aproximação e excesso de velocidade (ou uma combinação desses fatores)
são identificados como fatores relevantes, em 46 casos. Falhas em aeronaves foram
37
identificadas em 21 incidentes, incluindo 16 casos de defeito do sistema de freio, 1
caso de falha do trem de pouso e 4 casos de falha mais geral do sistema da aeronave
(falta de alimentação de combustível, falha do sistema elétrico). Seleção incorreta da
pista foi identificada em 6 casos.
d) No caso de overrun em operações de decolagem e pouso, puderam ser identificados
um número limitado de fatores que podem ser considerados falhas ou erros mais
grosseiros (por exemplo, a seleção incorreta de pista) que não pode ser tão
facilmente evitados pelas características físicas do aeródromo. Estes incidentes
tendem a ser associados com aeronaves que percorrem longas distâncias a partir do
final da pista.
2.7.3.2 Modelo de Análise de Risco de Undershoot
O estudo desenvolveu um modelo quantitativo de risco que inclui:
− A probabilidade de ocorrência de um acidente de undershoot em operação de
pouso;
− A provável distância que a aeronave toca o solo antes da cabeceira da pista
quando ocorrer um evento de undershoot.
Observou-se que a taxa média de undershoot é de 0,25 por milhão de movimentos, sendo que
a probabilidade de ocorrer um incidente de undershoot é, em média, ligeiramente inferior que
um incidente de overrun, bem como é cerca de quatro vezes menos provável que um evento
de overrun em pouso.
Foi verificada uma correlação significativa da taxa de undershoot com a disponibilidade ou a
ausência de auxílios à aproximação precisão, sendo cerca de seis vezes mais provável em
movimentos onde há ausência de auxílios a aproximação precisão. Nesta base, os resultados
das taxas de undershoot foram os seguintes:
38
− Taxa de undershoot para aproximação precisão: 0,17 por milhão de
movimentos;
− Taxa de undershoot para aproximação não-precisão/visual: 1,08 por milhão de
movimentos.
Verificou-se, ainda, que a localização de um evento de undershoot pode ser representada por
uma função de probabilidade de distribuição acumulada, descrevendo a fração de incidentes
em que a aeronave toca o solo a uma determinada distância a partir da cabeceira: N (x) = exp
(- a xn).
Combinando tal função com as taxas de incidentes identificadas acima, estimou-se a
frequência com que ocorrem eventos de undershoot:
P(undershoot > x) para aproximação precisão = 0,17 x 10-6 exp (-0,0769 x 0,593)
(2.19)
P(undershoot > x) para aproximação não-precisão/visual = 1,08 x 10-6 exp (-0,0769 x 0,593)
(2.20)
O risco residual para os dois tipos de operação (aproximação precisão e aproximação não-
precisão/visual) foi calculado, para diferentes comprimentos de faixa de pista e RESA
especificados no Anexo 14, estando apresentados na Tabela 2.9.
A Tabela 2.10 apresenta um resumo do risco residual para diferentes comprimentos de faixa
de pista e RESA.
Da mesma forma, o modelo determinou o comprimento de faixa de pista e RESA necessário
para atingir um determinado nível de segurança de 10-7 por movimento:
− Para operação de aproximação precisão: 24 m;
− Para operação de aproximação não-precisão/visual: 330 m.
39
Dada a natureza exponencial da função de distribuição, observa-se que o benefício de
segurança prestado por qualquer incremento no comprimento de faixa de pista e RESA reduz
progressivamente com o aumento desta distância. Esta proporção é apresentada na tabela 2.8
(em conjunto com os resultados obtidos a partir da análise de overrun descrita no item
anterior).
Pode ser visto que, da mesma maneira que em eventos de overrun, a grande maioria dos
incidentes (90%) está contida dentro dos primeiros 300 m antes da cabeceira.
40
Tabela 2.9 - Risco residual de undershoot (por milhão de movimentos) associado com os comprimentos de segurança especificados pelo Anexo 14 da OACI (Eddowes et al., 2001)
Σ compr. faixa de
pista e RESA (m) Aprox. precisão
Aprox.
não-precisão/visual Código da pista
Padrão Recom. Padrão Recom. Padrão Recom.
1 não instrumento 30 150 - - 0,606 0,241
2 não instrumento 60 180 - - 0,451 0,203
1/2 instrumento 150 180 0,038 0,320 0,241 * 0,203
3/4 150 300 0,038 0,018 0,241 * 0,112
* valor revisado devido a engano na tabela apresentada por Eddowes et al.
As principais conclusões da análise foram as seguintes:
1) Não existe uma aparente distinção entre o risco de undershoot em pistas com código de
referência 1 e 2 e o risco em pistas com código 3 e 4, que justifique, com base em risco,
uma diferença nos requisitos de projeto referentes ao comprimento de faixa de pista e
RESA, o que ocorre atualmente no Anexo 14 da OACI;
2) Não foi identificada justificativa baseada em risco para uma menor exigência no
comprimento de faixa de pista e RESA em pistas não instrumento em comparação com
pistas instrumento, tal como ocorre atualmente no Anexo 14 da OACI. O risco em pistas
não instrumento é identificado como maior do que em pistas instrumento precisão,
justificando, quando muito, uma maior exigência no caso de pistas não-instrumento;
3) Dada a dependência do risco residual sobre os parâmetros operacionais, especificamente
a disponibilidade ou a ausência de auxílios à aproximação precisão, pode não ser prático
definir requisitos de projeto visando cumprir a um mesmo nível de segurança em todos
os casos;
4) A diminuição do benefício de segurança a grandes distâncias a partir do final da pista é
uma questão fundamental na avaliação da exigência de RESA e coloca um limite prático
41
sobre o comprimento da RESA, em torno da recomendação atual para pistas códigos 3 e
4;
5) Não foi identificada clara dependência entre o risco de undershoot e o tamanho ou tipo
da aeronave (jato / turboélice);
6) Foi verificada uma menor taxa de incidentes e um rápido declínio na função de
probabilidade de distribuição acumulada em eventos de undershoot comparado com
eventos de overrun, sendo, portanto, constatado que eventos de undershoot representam
um risco menor do que eventos de overrun. Desta forma, o comprimento necessário de
RESA para satisfazer um determinado nível de segurança em relação a eventos de
undershoot é normalmente inferior do que em relação a eventos de overrun.
42
Tabela 2.10 - Risco Residual de undershoot (por milhão de movimentos) associado com
diferentes comprimentos de faixa de pista/RESA Undershoot
Distância Aproximação Precisão
Aproximação Não-
precisão/visual 0 0,170 1,080
10 0,126 0,799 20 0,108 0,686 30 0,095 0,606 40 0,086 0,544 50 0,078 0,494 60 0,071 0,452 70 0,065 0,416 80 0,060 0,384 90 0,056 0,356
100 0,052 0,332 110 0,049 0,310 120 0,046 0,290 130 0,043 0,272 140 0,040 0,256 150 0,038 0,241 160 0,036 0,227 170 0,034 0,214 180 0,032 0,203 190 0,030 0,192 200 0,029 0,182 210 0,027 0,173 220 0,026 0,164 230 0,025 0,156 240 0,023 0,149 250 0,022 0,142 260 0,021 0,135 270 0,020 0,129 280 0,019 0,123 290 0,018 0,117 300 0,018 0,112 310 0,017 0,107 320 0,016 0,103 330 0,016 0,098 340 0,015 0,094 350 0,014 0,090 360 0,014 0,087 370 0,013 0,083 380 0,013 0,080 390 0,012 0,077 400 0,012 0,074 410 0,011 0,071 420 0,011 0,068 430 0,010 0,065 440 0,010 0,063 450 0,009 0,061
43
2.7.3.3 Modelo de Análise de Risco de Veer-Off
Tal como os modelos de análise de risco de overrun e undershoot descritos anteriormente, a
abordagem da análise de risco de veer-off baseou-se na estimativa da probabilidade de um
evento de veer-off ocorrer e da sua provável extensão de desvio com relação ao eixo da pista.
Neste caso, no entanto, torna-se necessário considerar a largura da aeronave, ou seja, sua
envergadura, e a largura do trem de pouso principal.
O estudo apresenta as seguintes taxas médias de eventos de veer-off, em função do número de
incidentes identificados:
− veer-off para operações de decolagem: 0,19 por milhão de movimentos;
− veer-off para operações de pouso: 0,56 por milhão de movimentos.
Foi constatado que eventos de veer-off em operações de pouso são significativamente mais
frequentes (cerca de sete vezes mais frequentes) em movimentos onde não são
disponibilizados auxílios à aproximação precisão, sendo obtidas as seguintes taxas:
− veer-off para aproximações precisão: 0,364 por milhão de movimentos;
− veer-off para aproximações não-precisão/visual: 2,58 por milhão de
movimentos.
Verificou-se, ainda, que a distância de desvio lateral a partir do eixo da pista pode ser
representada por uma função de probabilidade de distribuição acumulada do tipo, N (x) = exp
(- a xn), sendo que o desvio identificado pelo modelo refere-se ao ponto médio da aeronave, e
a aeronave é assumida como alinhada com o eixo principal da pista, devendo ser considerada
esta simplificação ao aplicar o modelo e interpretar os resultados.
Combinando tal função com as taxas de incidentes identificadas acima, é possível estimar a
frequência com que ocorrem eventos de veer-off:
44
P (veer-off > x) para aproximação precisão = 3,46 x 10-7 exp (-0,0236 x)
(2.21)
P (veer-off > x) para aproximação não-precisão /visual = 2,58 x 10-6 exp (-0,0236 x)
(2.22)
P (veer-off > x) para decolagem = 1,9 x 10-7 exp (-0,0158 x)
(2.23)
A Tabela 2.11 apresenta um resumo do risco residual para diferentes dimensões de faixa de
pista.
As conclusões gerais do modelo de análise de risco de veer-off foram as seguintes:
1) Eventos de veer-off são mais freqüentes em operações de pouso do que em operações
de decolagem e os desvios laterais são, em média, maiores em operações de decolagem
do que em operações de pouso;
2) Eventos de veer-off em operações de pouso são significativamente mais freqüentes
(cerca de sete vezes mais frequentes) em operações onde não são disponibilizados
auxílios à aproximação precisão;
3) Os dados disponíveis para incidentes de menor escala são limitados e,
consequentemente, o resultado do modelo é menos confiável nestes casos;
4) Não foi identificada clara dependência entre a distância do desvio lateral e o tipo de
aeronave;
5) Não foi identificada justificativa baseada em risco para a variação da largura da faixa
de pista de acordo com o número do código de referência da pista, tal como ocorre
atualmente no Anexo 14 da OACI;
45
6) Dada a dependência do risco residual sobre os parâmetros operacionais,
especificamente a disponibilidade ou a ausência de auxílios à aproximação precisão,
pode não ser prático definir requisitos de projeto que atendam a um único nível de
segurança em todos os casos.
46
Tabela 2.11 - Risco residual de veer-off associado com diferentes dimensões de faixa de pista (Eddowes et al.)
Veer-off
Distância Decolagem Aproximação Precisão
Aproximação Não-
precisão/visual 30 1,18 x 10-7 1,79 x 10-7 1,27 x 10-6 40 1,01 x 10-7 1,42 x 10-7 1,00 x 10-6 50 8,62 x 10-8 1,12 x 10-7 7,92 x 10-7 60 7,36 x 10-8 8,83 x 10-8 6,25 x 10-7 70 6,29 x 10-8 6,98 x 10-8 4,94 x 10-7 80 5,37 x 10-8 5,51 x 10-8 3,90 x 10-7 90 4,58 x 10-8 4,35 x 10-8 3,08 x 10-7 100 3,91 x 10-8 3,44 x 10-8 2,43 x 10-7 110 3,34 x 10-8 2,71 x 10-8 1,92 x 10-7 120 2,85 x 10-8 2,14 x 10-8 1,52 x 10-7 130 2,44 x 10-8 1,69 x 10-8 1,20 x 10-7 140 2,08 x 10-8 1,34 x 10-8 9,46 x 10-8 150 1,78 x 10-8 1,06 x 10-8 7,47 x 10-8 160 1,52 x 10-8 8,34 x 10-9 5,90 x 10-8 170 1,29 x 10-8 6,59 x 10-9 4,66 x 10-8 180 1,11 x 10-8 5,20 x 10-9 3,68 x 10-8 190 9,44 x 10-9 4,11 x 10-9 2,91 x 10-8 200 8,06 x 10-9 3,25 x 10-9 2,30 x 10-8
47
2.8 CONCLUSÃO
A regulamentação brasileira que estabelece os critérios de projeto de aeródromos,
Regulamento Brasileiro de Aviação Civil – RBAC nº 154 e Portaria 1.141/GM5, de
08/12/1987, baseia-se nas normas e práticas recomendadas preconizadas pela OACI em seu
Anexo 14, que têm como principal objetivo fornecer um instrumento para a realização de
projetos de aeródromos que assegurem as operações de aeronaves.
A OACI e a ANAC aceitam que aeródromos existentes apresentem afastamentos menores que
os especificados no Anexo 14, caso um Estudo Aeronáutico indique que tal afastamento não
afeta a segurança operacional nem a regularidade das operações das aeronaves.
Portanto, um Estudo Aeronáutico pode ser elaborado para avaliar o impacto de não-
conformidades em um aeródromo em relação aos padrões estabelecidos em regulamentação,
analisando os riscos associados, implicações operacionais e custos associados às suas
correções, bem como estabelecendo soluções alternativas que mantenham o nível de
segurança operacional dentro de limites aceitáveis.
Desta forma, uma das etapas que compõe um Estudo Aeronáutico é a análise quantitativa ou
qualitativa do risco associado à não-conformidade, que envolve a estimativa do nível de risco
existente, calculado a partir das possibilidades de perigo elencadas numa fase preliminar, e a
comparação desse nível com critérios previamente estabelecidos, com a finalidade de verificar
se o risco é aceitável.
Foi apresentado neste capítulo um resumo de alguns estudos sobre análise de risco de
incidentes de aeronaves em solo durante operações de pouso e decolagem, sendo verificados
fatores contribuintes para a ocorrência de tais eventos, como: tipo de operação (decolagem,
aproximação visual/não-precisão; aproximação precisão); condições meteorológicas (chuva,
vento través, vento de cauda, baixa visibilidade, entre outros); condições do pavimento; erro
humano.
48
Apesar de afirmar a relação entre a presença de fatores adversos e a probabilidade de
ocorrência de incidentes em aeródromos, o modelo de quantificação do risco apresentado por
Eddowes et al. não considera em suas equações tais variáveis.
O modelo do ACRP Report 3, no entanto, considera tais fatores adversos na determinação da
probabilidade de ocorrência de incidentes de overrun e undershoot, através da utilização de
variáveis independentes definidas de acordo com a presença de chuva, neve ou gelo, com as
condições de teto, visibilidade, temperatura e vento de través, bem como conforme o tipo de
terreno, de aeroporto (hub), de voo (internacional/doméstico) e de aeronave (tamanho/peso
máximo de decolagem).
Ao contrário do modelo do ACRP Report 3, que considera o tipo de aeronave na
determinação da probabilidade de incidentes de overrun e undershoot, de acordo com o
estudo de Eddowes et al. não há clara dependência entre a ocorrência de incidentes de
overrun, undershoot e veer-off e o tipo de aeronave, não havendo justificativa baseada em
risco para a variação das áreas de segurança de pista com o seu número de código de
referência, tal como ocorre atualmente no Anexo 14 da OACI.
O estudo de Eddowes et al. não identificou, ainda, justificativa baseada em risco para uma
menor exigência nas áreas de segurança (faixa de pista e RESA) em pistas não instrumento
em comparação com pistas instrumento, tal como ocorre atualmente no Anexo 14 da OACI,
sendo identificado o risco em pistas não instrumento como maior do que em pistas
instrumento precisão, justificando, quando muito, uma maior exigência no caso de pistas não-
instrumento.
O estudo do ACRP Report 3, entretanto, não considera o tipo de aproximação da aeronave
(instrumento precisão/não-precisão e visual) no cálculo da probabilidade de incidentes de
overrun e undershoot.
3 COMPARATIVO ENTRE OS MODELOS DE ANÁLISE DE RISCO DO
ACRP REPORT 3 E DE EDDOWES ET AL.
3.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo será calculada a probabilidade de ocorrer um incidente em um aeródromo
hipotético, em condições específicas de operação, através da utilização dos modelos de
análise do ACRP Report 3 e de Eddowes et al., apresentados no capítulo 2 deste trabalho,
com o propósito de se fazer uma comparação entre os resultados obtidos em cada
metodologia.
Considera-se que o aeródromo hipotético apresenta um obstáculo não-frangível localizado na
Área de Segurança de Fim de Pista (RESA), a 90 metros da cabeceira 25, conforme ilustrado
na figura 3.1. A seguir serão analisadas as probabilidades de uma aeronave, operando em três
condições distintas (cenários 1, 2 e 3), atingir tal obstáculo em operações de pouso e
decolagem.
Figura 3.1 - Obstáculo localizado na RESA de um aeródromo hipotético
3.2 IDENTIFICAÇÃO DOS CENÁRIOS
O cenário 1 considera operações de pouso e decolagem, em ambas as cabeceiras da pista,
com a presença de diversos fatores adversos, como teto, visibilidade e vento de través,
estando tais parâmetros operacionais apresentados na tabela 3.1, bem como considera que as
aproximações, em ambas as cabeceiras, são realizadas através do auxílio de instrumentos
não-precisão.
49
50
O cenário 2 contempla operações de pouso e decolagem, em ambas as cabeceiras da pista,
sem a presença de fatores adversos, estando os parâmetros operacionais apresentados na
tabela 3.2, bem como considera que as aproximações, em ambas as cabeceiras, são realizadas
através do auxílio de instrumentos não-precisão.
Para o cenário 3 são consideradas operações de pouso e decolagem, em ambas as cabeceiras
da pista, sem a presença de fatores adversos, estando os parâmetros operacionais
apresentados na tabela 3.2, bem como considera que as aproximações, em ambas as
cabeceiras, são realizadas através do auxílio de instrumentos precisão.
Tabela 3.1 - Características consideradas para operações de pouso e decolagem em ambas as cabeceiras do aeródromo hipotético, referentes ao cenário 1 (ACRP Report 3)
Parâmetros Valores Nota
Aeronave B738 Boeing 737-800
Classe do equipamento N Grande Jato
Classe de Utilização C Comercial
Tipo de equipamento J Jato
Direção do Vento 340
Velocidade do Vento
knots 13
Teto pés 500
Visibilidade SM 1.0
Temperatura C 30
Nevoeiro 1 Nevoeiro presente
Gelo 0 Não há gelo
Tempestade Elétrica 0 Não há tempestade
elétrica
Precipitação congelada 0 Não há precipitação
congelada
Neve 0 Não há neve
Vento de Través knots 13 Calculado
Chuva 0 Não há chuva
Origem/Destino
Internacional 0 Doméstico
Terreno Significante 0 Terreno não significante
51
Tabela 3.2 - Características consideradas para operações de pouso e decolagem em ambas as cabeceiras do aeródromo hipotético, referentes aos cenários 2 e 3
Parâmetros Valores Nota
Aeronave B738 Boeing 737-800
Classe do equipamento N Grande Jato
Classe de Utilização C Comercial
Tipo de equipamento J Jato
Direção do Vento 340
Velocidade do Vento
knots 13
Teto pés 2600
Visibilidade SM 10.0
Temperatura C 20
Nevoeiro 0 Ausência de Nevoeiro
Gelo 0 Não há gelo
Tempestade Elétrica 0 Não há tempestade
elétrica
Precipitação congelada 0 Não há precipitação
congelada
Neve 0 Não há neve
Vento de Través knots 1 Calculado
Chuva 0 Não há chuva
Origem/Destino
Internacional 0 Doméstico
Terreno Significante 0 Terreno não significante
3.3 ANÁLISE
Para avaliação da probabilidade de uma aeronave, operando de acordo com os parâmetros
apresentados acima, atingir o obstáculo localizado na RESA do aeródromo hipotético, deve-
se avaliar a probabilidade de um evento de overrun em decolagens e pousos pela cabeceira
07, bem como eventos de undershoot em pousos pela cabeceira 25.
52
3.3.1 Modelo de Eddowes Et Al.
3.3.1.1 Cenários 1 e 2
Como o modelo de Eddowes et al. não considera os fatores adversos presentes no aeródromo,
como visibilidade, vento e teto, os resultados para os cenários 1 e 2 são idênticos, estando
descritos abaixo.
Através da utilização das equações 2.17, 2.18 e 2.20, considerando o valor de “x” como
sendo de 90 metros, são obtidos os valores referentes à probabilidade de ocorrer um evento
de overrun em procedimentos de pouso não-precisão e decolagem pela cabeceira 07, bem
como um evento de undershoot em procedimento de pouso não-precisão pela cabeceira 25, a
fim de obter a probabilidade de uma aeronave, sob tais condições de operação, atingir o
obstáculo contido na área da RESA.
Tabela 3.3 - Probabilidade de overrun e undershoot para operações de pouso e decolagem para os cenários 1 e 2, calculado a partir do modelo de Eddowes et al.
Probabilidade de overrun atingir 90m Probabilidade de undershoot a 90m Cabe-
ceira Não-precisão P(LDOR>90)=4,68x10-6exp(-0,0081x)
Decolagem P(TOOR>90)=0,33x10-6exp(-0,0058x)
Não-precisão P(LDUS>90)= 1,08x10-6exp(-0,0769 x 0,593)
07 2,258 x 10-6 0,196 x 10-6 -
25 - - 0,356 x 10-6
3.3.1.2 Cenário 3
Através da utilização das equações 2.16, 2.18 e 2.19, considerando o valor de “x” como
sendo de 90 metros, são obtidos os valores referentes à probabilidade de ocorrer um evento
de overrun em procedimentos de pouso precisão e decolagem pela cabeceira 07, bem como
um evento de undershoot em procedimento de pouso precisão pela cabeceira 25, a fim de
obter a probabilidade de uma aeronave, sob tais condições de operação, atingir o obstáculo
contido na área da RESA.
53
Tabela 3.4 - Probabilidade de overrun e undershoot em operações de pouso e decolagem para o cenário 3, calculado a partir do modelo de Eddowes et al.
Probabilidade de overrun atingir 90m Probabilidade de undershoot a 90m Cabe-
ceira Precisão P(LDOR>90)=0,6x10-6exp(-0,0081x)
Decolagem P(TOOR>90)=0,33x10-6exp(-0,0058x)
Precisão P(LDUS>90)= 0,17x10-6exp(-0,0769x0,593)
07 0,289 x 10-6 0,196 x 10-6 -
25 - - 0,056 x 10-6
3.3.2 Modelo do ACRP Report 3
Como o modelo do ACRP Report 3 considera os fatores adversos presentes nas operações de
pouso e decolagem, como visibilidade, vento e teto, os resultados para os cenários 1 e 2 estão
apresentados separadamente, sendo os resultados para o cenário 3 idênticos a aqueles obtidos
para o cenário 2, pois tal modelo não considera o tipo de aproximação realizada pela
aeronave (aproximação precisão / aproximação não-precisão).
3.3.2.1 Cenário 1
O modelo de análise de risco apresentado pelo ACRP Report 3 utiliza variáveis
independentes definidas de acordo com os fatores contribuintes a incidentes, identificados na
tabela 3.1, sendo determinado, assim, o valor da variável “b”, conforme demonstrado na
tabela 3.5, para eventos de overrun e undershoot de acordo com o tipo de operação.
Tabela 3.5 - Cálculo da variável "b" para o cenário 1
Tipo de incidente Variável “b”
Overrun em operação
de pouso
b = – 15,456 + 0,551(0) – 2,113(0) – 1,064(0) – 0,876(0) + 0,445(0) – 0,857(0) + 1,832(1) + 1,639(0) +
2,428(1) + 1,186(0) + 1,741(0) + 0,322(0) – 0,532(0) + 1,566(0) + 1,518(1) + 0,986(0) + 1,926(0) +
1,499(0) – 1,009(0) – 0,631(0) + 0,265(1) + 1,006(0) + 0,924(0) = – 9,413 Overrun em operação
de decolagem
b = – 16,6515 + 0,721(0) – 0,619(0) – 0,009(0) + 1,669(0) + 1,336(0) + 1,052 (0) + 1,225(1) + 1,497(0) +
0,201(1) – 1,941(0) – 0,366(0) + 0,317(0) + 1,660(1) – 0,292(0) + 1,598(0) + 1,781(1) – 0,536(0) –
0,507(0) + 0,502(1) + 1,805(0) + 2,567(0) = – 11,282
Undershoot b = – 14,9642+ 0,036(0) – 1,699(0) – 0,427(0) + 1,760(0) + 0,288(0) + 0,908 (0) -1,042(0) + 0,199(1) +
1,463(0) + 2,074(1) + 0,069(0) – 0,185(0) – 0,295(0) + 1,830(1 ) – 1,705(0) – 0,505(0) – 0,874(0) –
0,446(1) + 2,815(0) + 2,412(0) = – 11,307
54
Através da variável “b”, determinada para incidentes de overrun em pouso e decolagem e
para incidentes de undershoot, é possível determinar, para a condição específica de operação
apresentada na tabela 3.1, a probabilidade de ocorrer um incidente (tabela 3.6), a
probabilidade de localização de incidente (tabela 3.7), e a probabilidade de uma aeronave
atingir o obstáculo a 90 metros da cabeceira em eventos de overrun e undershoot (tabela 3.8).
Tabela 3.6 – Probabilidade de ocorrer um evento de overrun e undershoot para o cenário 1, a partir do modelo do ACRP Report 3
Probabilidade de overrun Cabe-
ceira Pouso
P (LDOR) = 1/(1 + e -b)
Decolagem
P (TOOR) = 1/(1 + e -b)
Probabilidade de undershoot
P (LDUS) = 1/(1 + e -b)
07 8,165 x 10-5 1,260 x 10-5 -
25 - - 1,229 x 10-5
Tabela 3.7 - Cálculo da probabilidade de localização, a partir do modelo do ACRP Report 3
Probabilidade de localização * Cabe-
ceira Overrun em pouso P (d>90) = exp(-0,004692 x 0,824513)
Overrun em decolagem P (d>90) = exp(-0,003364 x 0,807138)
Undershoot P (d>90) = exp(-0,022078 x 0,585959)
07 60 % 72 % -
25 - - 54 % * valor de x em pés
Tabela 3.8 - Probabilidade de aeronave alcançar 90 m da cabeceira para o cenário 1, calculado a partir do modelo do ACRP Report 3
Probabilidade de incidente Cabe-
ceira Overrun em pouso
P (LDOR) x P (d>90)
Overrun em decolagem
P (TOOR) x P (d>90)
Undershoot
P (LDUS) x P (d>90)
07 4,899 x 10-5 0,907 x 10-5 -
25 - - 0,664 x 10-5
55
3.3.2.2 Cenários 2 e 3
As tabelas abaixo apresentam os resultados referentes à probabilidade de incidentes calculada
pelo modelo do ACRP Report 3, para a condição específica de operação apresentada na
tabela 3.2 (cenários 2 e 3).
Tabela 3.9 – Valores de "b" para os cenários 2 e 3
Tipo de incidente Variável “b”
Overrun em operação
de pouso
b = – 15,456 + 0,551(0) – 2,113(0) – 1,064(0) – 0,876(0) + 0,445(0) – 0,857(0) + 1,832(0) + 1,639(0) +
2,428(0) + 1,186(0) + 1,741(0) + 0,322(0) – 0,532(0) + 1,566(0) + 1,518(0) + 0,986(0) + 1,926(0) +
1,499(0) – 1,009(0) – 0,631(0) + 0,265(0) + 1,006(0) + 0,924(0) = – 15,456
Overrun em operação
de decolagem
b = – 16,6515 + 0,721(0) – 0,619(0) – 0,009(0) + 1,669(0) + 1,336(0) + 1,052 (0) + 1,225(0) + 1,497(0) +
0,201(0) – 1,941(0) – 0,366(0) + 0,317(0) + 1,660(0) – 0,292(0) + 1,598(0) + 1,781(0) – 0,536(0) –
0,507(0) + 0,502(0) + 1,805(0) + 2,567(0) = – 16,6515
Undershoot b = – 14,9642+ 0,036(0) – 1,699(0) – 0,427(0) + 1,760(0) + 0,288(0) + 0,908 (0) -1,042(0) + 0,199(0) +
1,463(0) + 2,074(0) + 0,069(0) – 0,185(0) – 0,295(0) + 1,830(0) – 1,705(0) – 0,505(0) – 0,874(0) –
0,446(0) + 2,815(0) + 2,412(0) = – 14,9642
Tabela 3.10 – Probabilidade de ocorrer um evento de overrun e undershoot para os cenários 2 e 3, calculado a partir do modelo do ACRP Report 3
Probabilidade de overrun Cabe-
ceira Pouso
P (LDOR) = 1/(1 + e -b)
Decolagem
P (TOOR) = 1/(1 + e -b)
Probabilidade de undershoot
P (LDUS) = 1/(1 + e -b)
07 1,939 x 10-7 0,587 x 10-7 -
25 - - 3,171 x 10-7
Tendo em vista que o cálculo da probabilidade de localização depende somente da distância
do obstáculo com relação à cabeceira, tais valores para os cenários 2 e 3 são os mesmos
apresentados para o cenário 1 (Tabela 3.7). Desta forma, a probabilidade de uma aeronave
atingir 90 metros da cabeceira em eventos de overrun e undershoot é apresentada na tabela
3.11.
56
Tabela 3.11 - Probabilidade de aeronave alcançar 90 m da cabeceira para os cenários 2 e 3, calculado a partir do modelo do ACRP Report 3
Probabilidade de incidente Cabe-
ceira Overrun em pouso
P (LDOR) x P (d>90)
Overrun em decolagem
P (TOOR) x P (d>90)
Undershoot
P (LDUS) x P (d>90)
07 1,163x 10-7 0,423 x 10-7 -
25 - - 1,712 x 10-7
3.4 CONCLUSÃO
A tabela 3.12 apresenta o resumo dos resultados obtidos pelos modelos de Eddowes et al. e
do ACRP Report 3 para os três cenários distintos.
Tabela 3.12 - Resumo dos resultados obtidos pelos modelos de Eddowes et al. e do ACRP Report 3, para os cenários 1, 2 e 3
Eddowes et al. ACRP Report 3 Cenário
LDOR TOOR LDUS LDOR TOOR LDUS
1 2,258 x10-6 0,196x10-6 0,356x10-6 48,99 x10-6 9,07x10-6 6,64x10-6
2 2,258 x10-6 0,196x10-6 0,356x10-6 0,116 x10-6 0,042x10-6 0,171x10-6
3 0,289x10-6 0,196x10-6 0,056x10-6 0,116 x10-6 0,042x10-6 0,171x10-6
Tabela 3.13 – Relação entre os resultados obtidos pelo modelo do ACRP Report 3 e de Eddowes et al.
Relação ACRP Report 3/Eddowes et al. Cenário
LDOR TOOR LDUS
1 21,7 46,3 18,6
2 0,05 0,21 0,48
3 0,4 0,21 3,1
57
Tabela 3.14 – Relação entre os resultados obtidos para os diferentes cenários de operação
Eddowes et al. ACRP Report 3 Relação entre
cenários LDOR TOOR LDUS LDOR TOOR LDUS
½ 1 1 1 422 216 38,8
1/3 7,8 1 6,4 422 216 38,8
2/3 7,8 1 6,4 1 1 1
Para o exemplo proposto neste capítulo, verifica-se que a probabilidade de incidente
determinada através do modelo do ACRP Report 3 varia significativamente ao considerar a
presença dos fatores adversos no aeródromo, como condições de teto, visibilidade, vento e
temperatura, além de chuva e nevoeiro. Tais variações atingem cerca de 400 vezes em
incidentes de overrun em pousos, cerca de 200 vezes em incidentes de overrun em
decolagens e cerca de 40 vezes em incidentes de undershoot.
Se os parâmetros operacionais relativos ao cenário 1 apresentassem além dos fatores
considerados no exemplo proposto, mencionados na tabela 3.1, ainda outros fatores
agravantes, como peso e classe de utilização da aeronave (cargueira, aviação geral), a
variação dos resultados determinados pelo modelo do ACRP Report 3 seria ainda maior.
Verifica-se, ainda, que os resultados determinados através do modelo de Eddowes et al.
variam cerca de 7 vezes conforme o tipo de aproximação em procedimentos de pouso (não-
precisão / precisão).
Comparando-se os resultados obtidos pelos dois modelos de cálculo, ou seja ACRP Report 3
e Eddowes et al., foram verificadas também diferenças significativas, sendo para o cenário 1
de operação, uma variação de cerca de 46 vezes para incidentes de overrun em decolagens.
Para o cenário 2, a variação máxima foi para eventos de overrun em pousos, apresentando
uma variação de 20 vezes (1 / 0,05) entre os resultados de Eddowes e do ACRP Report 3.
Com relação ao cenário 3, a variação máxima foi de cerca de 5 vezes (1 / 0,21), em
incidentes de overrun em decolagem, conforme tabela 3.13.
58
Verifica-se, portanto, que os resultados que mais se aproximaram, ao se comparar os dois
modelos de cálculo de probabilidade de incidente, foram aqueles obtidos para o cenário 3, ou
seja, sem a presença de fatores operacionais adversos e considerando aproximações por
instrumento precisão.
Além disso, verifica-se que, para os três cenários de operação, o tipo de incidente com menor
variabilidade nos resultados, comparando-se os dois modelos de cálculo, foi incidente do tipo
undershoot.
59
4 ANÁLISE DA APLICABILIDADE DOS MODELOS APRESENTADOS EM
AERÓDROMOS BRASILEIROS
4.1 INTRODUÇÃO
Tendo em vista que os modelos de análise de risco de Eddowes et al. e do ACRP Report 3 se
baseiam em dados estatísticos colhidos de aeródromos estrangeiros, torna-se necessária a
análise das considerações presentes em tais modelos, a fim de verificar a aplicabilidade em
aeródromos nacionais.
4.2 QUANTIFICAÇÃO DO RISCO - MODELO DE EDDOWES ET AL.
O modelo de Eddowes et al. utilizou dados históricos de incidentes e acidentes em
aeródromos europeus e americanos para a determinação das suas equações de verificação de
probabilidade de incidentes. Logo, a base de dados utilizada no referido modelo contempla
incidentes em aeródromos com presença de neve ou gelo, fenômenos que não estão presentes
em aeródromos do Brasil.
Além disso, o modelo destaca a importância de serem considerados certos fatores que
contribuem para a ocorrência de incidentes, como condições meteorológicas (vento de cauda,
vento través, visibilidade e chuva) e condições de atrito do pavimento, na determinação da
probabilidade de incidente em um aeródromo, apesar de não considerar tais fatores em seu
modelo quantitativo de análise de risco.
O referido modelo considera apenas que o risco de ocorrência de incidentes em um
aeródromo varia em operações de pouso, de acordo com o tipo de aproximação realizada pela
aeronave (precisão, não precisão e visual).
Verifica-se, assim, que o modelo apresenta um erro embutido significativo, devido à base de
dados utilizada e aos fatores contribuintes não considerados, presumindo-se que seja menos
adequado para utilização em aeródromos brasileiros.
60
4.3 QUANTIFICAÇÃO DO RISCO - MODELO DO ACRP REPORT 3
A base de dados utilizada pelo modelo do ACRP Report 3 baseia-se no histórico de
incidentes e acidentes ocorridos em aeródromos de várias partes do mundo, como Estados
Unidos, Canadá, Reino Unido, França e Austrália, contemplando, portanto, fenômenos, como
gelo e neve, não presentes em aeródromos brasileiros.
No entanto, a probabilidade de incidente determinada através do modelo do ACRP Report 3
considera os fatores presentes no aeródromo avaliado que contribuem para a ocorrência de
incidentes, através da utilização de variáveis independentes definidas de acordo com:
condições de teto, visibilidade, vento de través, chuva, neve, gelo, tipo de aeronave (tamanho
e peso máximo de decolagem), temperatura, terreno, tipo de aeroporto (hub) e tipo de voo
(internacional/doméstico).
Tais variáveis são, pois, quantificadas de acordo com as características de uma amostra das
operações realizadas no aeródromo avaliado, considerando tipo de aeronave e condições
meteorológicas, sendo possível desconsiderar fenômenos como neve e gelo, por exemplo,
bem como qualquer outro fenômeno não presente com frequência no aeródromo analisado.
Desta forma, tendo em vista sua maior amplitude, julga-se que tal modelo de análise de risco
seja mais aplicável para aeródromos brasileiros.
A utilização deste modelo em aeródromos brasileiros necessita, preliminarmente, de uma
pesquisa das informações requeridas, relativas aos voos típicos no aeródromo (através de
dados dos planos de voo) e as suas condições meteorológicas (através de dados de estações
meteorológicas), relacionando tais informações, a fim de obter a amostra representativa das
operações de pouso e decolagem realizadas no aeródromo analisado.
4.4 NÍVEL ACEITÁVEL DE SEGURANÇA
O nível de risco das operações de um aeródromo varia de acordo com a probabilidade de
ocorrer um incidente, e com as possíveis consequências, caso um incidente ocorra.
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Portanto, quando são detectadas em um aeródromo não-conformidades referentes às suas
áreas de segurança, como por exemplo presença de obstáculos não-frangíveis ou terreno
irregular, pode-se assumir que caso ocorra um incidente do tipo overrun, undershoot ou veer-
off, suas consequências podem vir a ser mais graves e, portanto o risco é mais elevado.
Sendo assim, o nível aceitável de segurança de uma determinada operação em um aeródromo
deve ser estabelecido de acordo com a gravidade das consequências de um possível incidente,
podendo ser utilizadas as tabelas apresentadas por Eddowes et al. (tabela 2.1) e pelo ACRP
Report 3 (tabela 2.2) para classificá-la.
Neste sentido, considera-se que um incidente de overrun em um aeródromo que apresente um
obstáculo não-frangível de porte significativo em sua RESA, tenha como possíveis
consequências múltiplas fatalidades, e, desta forma, deva ser considerado como um incidente
com consequências catastróficas.
Para uma avaliação mais criteriosa, pode ser utilizado o modelo de consequências
apresentado no ACRP Report 3 para avaliação qualitativa da gravidade de um incidente, com
base na sua localização e nas características da pista (considerando dimensões das áreas de
segurança, peso da aeronave, tipo, localização e tamanho de obstáculos e topografia do
terreno circundante), estimando a probabilidade de uma aeronave em alta velocidade atingir
um obstáculo, resultando, desta forma, em graves consequências.
Através de uma análise deste tipo, ou seja, através da classificação da gravidade das
consequências de um possível incidente, é estabelecido o nível aceitável de segurança das
operações de pouso e decolagem quanto a incidentes de overrun, undershoot e veer-off no
aeródromo avaliado, através da utilização da matriz de risco apresentada por Eddowes et al.
(Figura 2.1) e pelo ACRP Report 3 (Figura 2.2).
Verifica-se que a matriz de risco apresentada pelo ACRP Report 3 é mais conservadora que a
matriz apresentada no estudo de Eddowes et al., pois no primeiro é estabelecido o valor de
10-9 para a probabilidade máxima de ocorrer um incidente com consequências catastróficas,
enquanto que o segundo estabelece, para o mesmo caso, o valor de 10-7.
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Tabela 4.1 - Nível aceitável de segurança recomendados para incidentes de overrun, undershoot e veer-off
Nível aceitável de
segurança Consequência
Eddowes
et al.
ACRP
Report 3
Catastrófica 10-7 10-9
Alta/Perigosa 10-5 10-7
Cabe ressaltar ainda que para a definição do nível aceitável de segurança operacional é
necessário considerar além do nível de risco envolvido, medido em termos de gravidade e
probabilidade, outros fatores como custo/benefício das melhorias para o sistema e
expectativas dos usuários com relação à segurança.
Como exemplo, pode-se mencionar aeroportos em regiões com presença constante de neve e
gelo. Se for adotado um nível de segurança neste tipo de aeroporto equivalente ao nível de
segurança utilizado em aeroportos com condições meteorológicas moderadas, a operação
poderia se tornar inviável.
Portanto o risco, o custo/benefício das melhorias e as expectativas dos usuários de cada
aeroporto são diferentes e, consequentemente, o nível de proteção também é variado.
4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi verificado que o modelo de Eddowes et al. apresenta um erro embutido significativo,
devido à base de dados utilizada e aos fatores contribuintes não considerados na metodologia,
presumindo-se que seja menos adequado para utilização em aeródromos brasileiros.
Por outro lado, verificou-se que o modelo do ACRP Report 3 utiliza dados históricos de
incidentes ocorridos em aeródromos com diferentes características operacionais, contudo tal
modelo permite que seja considerada a presença ou ausência de fatores contribuintes a
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incidentes, de forma a ajustar os resultados para a situação específica do aeródromo em
análise.
Portanto, presume-se que seja possível estimar de maneira razoável o nível de segurança
operacional das operações em um aeródromo do Brasil, através do modelo de análise de risco
apresentado pelo ACRP Report 3.
Ademais, verificou-se que os modelos de análise de risco de Eddowes et al. e do ACRP
Report 3 não consideram em suas fórmulas as condições de atrito do pavimento da pista de
pouso e decolagem. No entanto, é notório que tais condições podem contribuir para a
ocorrência de hidroplanagem ou perda de tração inaceitável da aeronave, resultando em
frenagem deficiente, com possibilidade de perda de controle de direção pelo piloto.
Portanto, o desempenho de frenagem nas pistas de pouso e decolagem de aeroportos,
particularmente quando molhadas, torna-se um item cada vez mais crítico para a segurança
das operações.
Presume-se, desta forma, que a probabilidade de incidente calculada pelos referidos modelos
considera que as condições de atrito do pavimento da pista de pouso e decolagem atendem
aos requisitos mínimos de segurança, que em aeródromos nacionais são estabelecidos pela
Instrução de Aviação Civil (IAC) 4302 - “Requisitos de resistência à derrapagem para pistas
de pouso e decolagem” e pela Resolução 88 de 11/05/2009, da Agência Nacional de Aviação
Civil.
Deve-se considerar, ainda, que o pavimento está livre de qualquer elemento (como borracha,
gelo ou neve) que reduza o atrito entre os pneus e a sua superfície. Portanto, aeródromos que
apresentem maiores riscos de incidentes de overrun, undershoot e veer-off devem aumentar
suas ações contra tais elementos, através de constante manutenção.
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5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Este trabalho teve como principal objetivo a verificação da aplicabilidade de modelos de
análise de risco em aeródromos brasileiros.
Foi realizado no capítulo 3 um comparativo entre os modelos de Eddowes et al. e do ACRP
Report 3, sendo verificada uma variação significativa entre os resultados obtidos através das
duas metodologias, principalmente para o cenário 1 de operação, que considera a presença de
fatores adversos.
Constatou-se ainda que os resultados obtidos pelo ACRP Report 3 variaram
significativamente conforme os cenários operacionais adotados, ou seja, considerando a
presença ou ausência de fatores adversos nas operações.
Além disso, foi verificado que o modelo de Eddowes et al. apresenta um erro embutido
significativo, presumindo-se que seja menos adequado para utilização em aeródromos
brasileiros.
No entanto entende-se que é possível estimar de maneira eficiente o nível de segurança das
operações em aeródromos brasileiros através do modelo de análise de risco apresentado pelo
ACRP Report 3, que considera os parâmetros operacionais frequentemente observados no
aeródromo a ser avaliado.
Desta forma, conclui-se que a hipótese apresentada no início deste trabalho deva ser rejeitada,
pois julga-se que o modelo do ACRP Report 3 possa ser aplicado para análise da
probabilidade de incidentes em solo durante operações de pouso e decolagem em aeródromos
brasileiros.
Este estudo verificou, ainda, que os modelos de análise de risco apresentados não consideram
em suas fórmulas as condições de atrito do pavimento da pista de pouso e decolagem, sendo,
no entanto, notório que tais condições podem contribuir para a ocorrência de incidentes,
devendo, portanto, serem observadas na elaboração de um Estudo Aeronáutico.
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É essencial continuar pesquisas nesta área, para que se consiga obter mais dados para um
melhor entendimento do assunto. São sugeridos os seguintes tópicos:
− Elaboração de modelo de análise de risco de incidentes de veer-off que
considere fatores operacionais contribuintes a incidentes, como condições
meteorológicas e condições do pavimento, de forma similar ao modelo do
ACRP Report 3;
− Elaboração de modelo de análise de risco que considere a relação entre a
distância de pouso disponível (LDA) e a distância de pouso requerida (LDR),
bem como a relação entre a distância disponível de aceleração e parada
(ASDA) e a distância requerida de aceleração e parada (ASDR); e
− Elaboração de modelo de análise de risco que considere EMAS (Engeneered
Materials Arresting System).
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GLOSSÁRIO
A seguir são apresentadas definições de termos empregados neste trabalho:
− Aeródromo: Área definida sobre a terra ou água destinada à chegada, partida e
movimentação de aeronaves.
− Aeroporto: Todo aeródromo público dotado de instalações e facilidades para apoio a
aeronaves e ao embarque e desembarque de pessoas e cargas.
− Área de Segurança de Fim de Pista (Runway End Safety Área - RESA): Área
simétrica ao longo do prolongamento do eixo da pista de pouso e decolagem e adjacente ao
fim da faixa de pista, utilizada primordialmente para reduzir o risco de danos a aeronaves que
realizem o toque antes de alcançar a cabeceira (Undershoot) ou que ultrapassem
acidentalmente o fim da pista de pouso e decolagem (Overrun).
− Código de Referência do Aeródromo: Código alfanumérico determinado para o
aeródromo para fins de planejamento, com base nas características físicas e operacionais da
aeronave crítica para ele estabelecida.
− Faixa de Pista: Área definida no aeródromo, que inclui a pista de pouso e as zonas de
parada, se disponíveis, destinada a proteger a aeronave durante as operações de pouso e
decolagem e a reduzir o risco de danos à aeronave, em caso desta sair dos limites da pista.
− Faixa Preparada: Porção de uma faixa de pista de pouso e decolagem nivelada e
construída com capacidade de suporte adequada de forma a minimizar os riscos no caso de
uma aeronave sair acidentalmente da pista.
− Overrun: Saída de pista com parada da aeronave após o término da pista, em operação
de pouso ou decolagem.
− Pista de Pouso e Decolagem: Área retangular, definida em um aeródromo em terra,
preparada para pousos e decolagens de aeronaves.
− Pista de Táxi: Trajetória definida em um aeródromo em terra, estabelecida para táxi de
aeronaves e com a função de oferecer uma ligação entre as partes do aeródromo, incluindo:
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− Pista de Táxi de Acesso ao Estacionamento de Aeronaves: Parcela de um pátio de
aeronaves designada como uma pista de táxi e com o propósito único de oferecer acesso às
posições de estacionamento de aeronaves.
− Pista de Táxi de Pátio: Parcela de um sistema de pistas de táxi localizada em um pátio
de aeronaves com a função de oferecer uma circulação completa de táxi através do pátio de
aeronaves.
− Pista de Aproximação de Não-Precisão: Pista para operação por instrumento provida
de auxílios visuais e não-visuais à navegação, que fornecem, no mínimo, orientação direcional
adequada para a aproximação direta.
− Pista de Aproximação de Precisão, Categoria I: Pista para operação por instrumento
provida de ILS e/ou MLS e auxílios visuais para operações com uma altitude de decisão
(ponto crítico) não inferior a 60 m (200 ft) e com visibilidade não inferior a 800 m ou alcance
visual de pista não inferior a 550 m.
− Pista de Aproximação de Precisão, Categoria II: Pista para operação por instrumento
provida de ILS e/ou MLS e auxílios visuais para operações com uma altitude de decisão
(ponto crítico) inferior a 60 m (200 ft) mas não inferior a 30 m (100 ft) e alcance visual de
pista não inferior a 350 m.
− Pista de Aproximação de Precisão, Categoria III: Pista para operação por instrumento
provida de ILS e/ou MLS para a superfície e ao longo da superfície da pista e:
A – prevista para operações com altitude de decisão não inferior a 30 m (100 ft),
ou sem altitude de decisão, e com um alcance visual de pista não inferior a 200 m.
B – prevista para operações com altitude de decisão inferior a 15 m (50 ft), ou sem
altitude de decisão, e com um alcance visual de pista inferior a 200 m, mas não
inferior a 50 m.
C – prevista para operações sem altitude de decisão e sem limitações de alcance
visual de pista.
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− Pista para Operação Visual: Pista de pouso e decolagem para a operação de aeronaves
utilizando procedimentos de aproximação visual.
− Posição de Estacionamento de Aeronave: Área designada em um pátio de aeronaves
com o propósito de ser utilizada para estacionar uma aeronave.
− Sinalização Horizontal: Informação aeronáutica, que compõe os auxílios visuais à
navegação aérea, por meio de pintura na pista de pouso e decolagem, na pista de táxi, no pátio
de aeronaves ou em outra área do aeródromo, destinada a orientar ou prestar informações aos
pilotos de aeronaves e motoristas que trafegam nas vias de serviços.
− Sinalização Luminosa: Informação aeronáutica que compõe os auxílios visuais à
navegação aérea composta por todas as luzes de pista de pouso e decolagem, de pista de táxi e
de pátio de aeronaves.
− Sinalização Vertical: Informação aeronáutica que compõe os auxílios visuais à
navegação aérea composta por placas ou painéis destinados a fornecer mensagens.
− Superfícies Limitadoras de Obstáculos: Superfícies que definem um volume de espaço
aéreo no aeródromo e ao seu redor, que deve ser mantido livre de obstáculos, de modo a
permitir que as operações das aeronaves sejam conduzidas de forma segura, evitando a
interdição ou restrições às operações do aeródromo.
− Undershoot: Toque da aeronave, em operação de pouso, antes da cabeceira.
− Vento de Través: Componente de vento de superfície em ângulos retos ao eixo da
pista.
− Veer-off: Saída lateral da aeronave durante operação de pouso ou decolagem.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL (ANAC). Regulamento Brasileiro de Aviação Civil – RBAC 154, Projeto de Aeródromos. Brasil: ANAC, 2009. AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL (ANAC). Resolução 88 de 11/05/2009, Revoga o item 3.1 do capítulo 3 da IAC 4302-0501, estabelece parâmetros em testes de calibração e de monitoramento de atrito em pistas de pouso e decolagem e dá outras providências. Brasil: ANAC, 2009. BELLINI, L. Redução de Riscos Operacionais nos Pátios dos Aeroportos Brasileiros. Brasília: Universidade de Brasília, Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes, 2008. BIENIEK, J., MIGUEL, R. Reestruturação do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. Universidade de Brasília, Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes, 2001. BRASILIANO, Antônio Celso. Análise de risco corporativo. Local: Sicurezza, 2006. COMANDO DA AERONÁUTICA (COMAER). Portaria 1.141/GM5, de 09/12/1987, Dispõe sobre Zonas de Proteção e aprova o Plano Básico de Zona de Proteção de Aeródromos, o Plano Básico de Zoneamento do Ruído, o Plano Básico de Zona de Proteção de Helipontos e o Plano de Zona de Proteção de Auxílios à Navegação Aérea e dá outras providências.Rio de Janeiro: COMAER, 1987. COSTA, D. Certificação Operacional de Aeroportos – Notas de aula do Curso de Formação para Especialistas em Regulação de Aviação Civil da ANAC. Brasília: NCE/UFRJ, 2007. DEPARTAMENTO DE AVIAÇÃO CIVIL (DAC/COMAER). Instrução de Aviação Civil - IAC 154-1001, Termo de Referência para Estudo Aeronáutico. Rio de Janeiro: DAC, 2004. DEPARTAMENTO DE AVIAÇÃO CIVIL (DAC/COMAER). Instrução de Aviação Civil - IAC 4302-0501, Requisitos de resistência à derrapagem para pistas de pouso e decolagem. Rio de Janeiro: DAC, 2001. EDDOWES, M., HANCOX, J., MACINNES, A. Final Report on the Risk Analysis in Support of Aerodrome Design Rules, Report AEAT/RAIR/RD02325/R/002, desenvolvido para a NORWEGIAN CIVIL AVIATION AUTHORITY. AEA Technology, 2001. FEDERAL AVIATION ADMINISTRATION (FAA). AC 150/5200-37, Introduction to Safety Management Systems (SMS) for Airport Operators. EUA: 2007. ORGANIZAÇÃO DE AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL (OACI). DOC 9859-AN/474, Safety Management Manual, 2ª edição, Canadá: OACI, 2009.
70
ORGANIZAÇÃO DE AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL (OACI). DOC 9157-AN/901, Manual de Projeto de Aeródromos - Parte 2 - Taxiways, Aprons and Holding Bays. Canadá: OACI, 2005. ORGANIZAÇÃO DE AVIAÇÃO CIVIL INTERNACIONAL (OACI). Cir 301 -AN/174, New Larger Aeroplanes - Infringement of the Obstacle Free Zone: Operational Measures and Aeronautical Study. Canadá: OACI, 2005. PENHA, G. Análise de Risco de Ocorrência de Atos Ilícitos em Aeroportos Brasileiros. Brasília: Universidade de Brasília, Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes, 2008. SOUZA, Evandro Abreu. O Treinamento Industrial e a Gerência de Riscos - Uma proposta de instrução programada. 1995. 114f. Tese de Mestrado. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1995. TRANSPORTATION RESEARCH BOARD (TRB). Airport Cooperative Research Program (ACRP) Report 3, Analysis of Aircraft Overruns and Undershoots for Runway Safety Areas. EUA: TRB, 2008.